DISCIPLINA: Redação
PROFESSORA: Sheilla Diniz
DATA:
VALOR: 20,0
NOTA:
SÉRIE: 6º ano
TURMA: B (somente para o turno
da tarde – Unidade Funcionários)
17/12/15
ASSUNTO: Trabalho de recuperação final
NOME COMPLETO:
I
N
S
T
R
U
Ç
Õ
E
S
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Nº:
Este trabalho contém 20 questões, sendo 5 fechadas e 15 questões discursivas. Verifique se o seu exemplar está completo.
Leia sempre - e atentamente - cada questão antes de responder a ela.
Nas questões de múltipla escolha, marque, a caneta, apenas uma alternativa. Não são permitidas rasuras.
Dê respostas completas às questões discursivas.
LEMBRE-SE DE QUE VOCÊ SERÁ AVALIADO PELO QUE ESCREVEU E NÃO PELO QUE ‘’PENSOU’’ EM ESCREVER; ATENTE,
POIS, À FORMULAÇÃO DE SUAS RESPOSTAS.
Para uma possível revisão, é necessário que todas as instruções acima tenham sido seguidas.
Bom trabalho!
TEXTO I
UM GAROTO REBELDE
Luiz Galdino
Minha mãe diz que eu sou um menino desmiolado e que tenho um parafuso
a menos. Ela vive repetindo isso desde o tempo em que eu era mesmo um menino.
Uma vez, perguntei-lhe o significado, como se não soubesse.
__ Desmiolado é quem não tem miolos! – definiu ela.
__ Minha cabeça é oca?
__ Só pode ser! Ou tem água de coco dentro!
Eu sabia que miolo era um negócio igual cérebro, que a gente tem dentro da
cabeça. E banquei o sabido pra cima dela.
__ Então, como é que eu penso?
Ela me olhou admirada, mas rebateu logo:
__ Você só pensa bobagem!
__ Se não tivesse miolo, não pensaria nem bobagem!
Sem saída, ela mudou de rumo:
__ Muito bem, você tem miolo. Só que deve ser igual de galinha.
__ De galinha? Por que de galinha?
Ela me devolveu a pergunta:
__ Você já viu galinha?
__ Já.
__ E reparou no tamanho da cabecinha?
Eu entendi aonde ela queria chegar e calei-me. Deixei pensar que me preocupava com a história. Preocupava
nada. Às vezes, chego à conclusão que a desmiolada é ela. Eu sei que não devia pensar essas coisas de minha
própria mãe, mas penso sem querer. Quando percebo, já pensei.
Essa história de menino, por exemplo. Não suporto mais. É menino pra cá, menino pra lá, menino faça isso,
menino não faça aquilo. Quem é que aguenta? É por isso que eu acabo imaginando um monte de bobagens. Outro
dia, imaginei que eu era um homem de quarenta anos e que ela continuava a me chamar de menino. Ela não
percebe que não sou mais um menino.
Outras vezes, justamente por causa dessas ideias, concluo que ela tem razão. E que, em vez de um, devo ter
uma dúzia de parafusos a menos. Onde já se viu ficar imaginando que sou um homem de quarenta anos, com
grossos bigodes, quase careca, pai de uma fileira de pimpolhos? Eu penso e me confundo.
Besteira! Eu não ficarei velho, nem terei filhos. Pra quê? Para trabalhar o dia inteiro e à noite brigar com a
Lucimar? Ou ficar implicando com os filhos: menino, faça isso, menino, faça aquilo, o que você andou fazendo,
menino, por onde andou, menino?
Eu não gosto muito de crianças. Aliás, não gosto nem um pouco. As crianças são chatas, mexem nas nossas
coisas e choram até quando queremos agradá-las.
__ Você também já foi criança! – posso até adivinhar ela me repreendendo.
Conclusão: se não gosto de crianças, agora, gostarei menos ainda quando tiver quarenta anos. Eu chegaria do
escritório cansado e esbravejando contra o patrão. Não é assim que meu pai faz? Pego o pimpolho no colo, ele
urina no meu terno de linho, que eu vou comprar antes de completar quarenta anos. Passo o mijão para o colo da
Lucimar e, quando chego no quarto, descubro que ele rasgou os meus papéis.
__ Quem mexeu nas minhas coisas? Quem rasgou meus papéis? Esta casa está um pandemônio – sei que
repetirei as palavras de meu pai.
Nem gosto de pensar. Era capaz de ficar nervoso, sacudi-lo e socá-lo. Porém, tem o outro lado: o pimpolho
também ficaria doido com minhas manias. Quando eu começasse a lhe dizer menino, faça isso, menino, não faça
aquilo, por onde você andou, menino, ele sentiria vontade de me responder mal. E não poderia porque ele seria
apenas um menino e eu o seu pai.
Então, por que crescer, casar, ter filhos? Eu serei um pai resmungão e o pimpolho será um menino revoltado.
Ei, espera aí! Poxa, que besteira! Se não crescer, não me caso com a Lucimar. E se a Lucimar quiser ter um monte
de filhos?
__ Está falando sozinho?
Nem pensar eu posso. Quando penso muito numa coisa, me exalto e acabo falando. Tem nada demais. Sei
que estou falando comigo mesmo porque falar com os outros não adianta. Porém, minha mãe vê razão para queixa.
(...)
__ O que você pensa da vida, menino? – ela interroga, freqüentemente.
Se respondo, é mais para contestar.
__ O que eu penso é que todos os garotos andam pela rua, jogam futebol, nadam no rio, só eu não!
__ Se todo mundo botasse a mão no fogo, você botaria também?
__ Não sou besta!
__ Está vendo como tenho razão?
Ela ri, vitoriosa. Eu não cedo facilmente.
__ Razão tem a mãe do Lico, que deixa ele ir pra onde quiser!
__ Um dia, você vai me agradecer por fazê-lo estudar e andar na linha. E, agora, vai cuidar de seus
irmãozinhos! (...)
Uma vez, tentei argumentar:
__ As crianças são suas, por que eu devo cuidar?
__ Eu não cuido de você? Por que você não pode cuidar deles só um pouquinho?
Estranhei muito.
__ Cuidar de mim? Eu não preciso que ninguém me leve ao banheiro, nem que assoe meu nariz!
Ela tinha a resposta na ponta da língua.
__ Ah, é? Quem cozinha sua comida? Quem lava e passa suas roupas? Quem...
Empoleirei-me no abacateiro e fiquei ruminando. Talvez, ela tivesse razão. Como é que nunca havia pensado
naquilo? (...)
E o pai? Ele interfere menos porque não pára em casa. Sai cedinho, vem para o almoço e volta para o
trabalho. Se ficasse o dia inteiro em casa, não agüentaria. Se um é duro, imagine os dois! Em vez de desmiolado,
ficava doido varrido.
Comprei um pião, ele escondeu. Eu poderia errar a pontaria e acertar a cabeça de alguém. Troquei meu
papagaio de estimação por um estilingue, ele cortou os elásticos. Inutilmente, tentei convencê-lo de que meu alvo
não eram os passarinhos.
Enfim, desconfio que as pessoas se tornam ranzinzas e ruins porque crescem e se tornam adultas. Minha mãe
mesmo diz que eu era um garotinho bonzinho e que agora estou me tornando um menino mau. Então, é bem
possível que acabe ficando como eles, se crescer, se chegar aos quarenta anos.
O pai do Zezé é diferente? É nada! O Zezé não faz nem metade do que faço. Vai toda tarde aprender ofício
na oficina. E, apesar disso, vive de castigo. E o Tininho? Nem pai tem, mas a mãe bate pelos dois. É por isso que
me revolto.
__ Quando completar catorze anos, vou fugir de casa! Vou-me embora para São Paulo!
Minha mãe não leva a sério.
__ Vai! Vá viver sozinho pra ver o que é bom!
Ela duvida, pensa que falo por falar. Mas eu vou. Aí quero ver o que ela vai dizer. Aliás, o que eu penso da
vida, mas não digo, é isso.
Uma coisa é que vou pra São Paulo, quando tiver idade pra trabalhar. Outra é que não ficarei velho, nem
terei filhos. Pra quê? Eles acabarão fazendo más-criações, eu terei de castigá-los, e eles crescerão revoltados,
esperando completar catorze anos para fugir de casa.
Rio abaixo, vida acima. São Paulo, FTD. 1989.
QUESTÃO 01 – Valor: 1,0
Investigue no dicionário o significado das palavras abaixo:
A) Repreender: ____________________________________________________________________________
B) Pimpolho: ___________________________________________________________________________
C) Pandemônio: ______________________________________________________________________________
D) exaltar: _______________________________________________________________________________
E) contestar: _____________________________________________________________________________
F) ranzinza: _______________________________________________________________________________
QUESTÃO 02 – Valor: 1,0
Explique a expressão abaixo destacada:
“Minha mãe diz que eu sou um menino desmiolado e que tenho um parafuso a menos.”
____________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________
QUESTÃO 03 – Valor: 1,0
O garoto associa a sua vida futura ao presente que ele vivencia. Transcreva a passagem do texto que comprove essa
afirmativa.
____________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________
QUESTÃO 04 – Valor: 1,0
“... ele sentiria vontade de me responder mal. E não poderia porque ele
seria apenas um menino e eu o seu pai.”
Nesse trecho só não há ideia de:
A)
B)
C)
D)
E)
Respeito
Autoridade
Espontaneidade
Superioridade
Certeza
QUESTÃO 05 – Valor: 1,0
Leia:
O que há de comum entre o garoto do texto “Um garoto rebelde” e o da tirinha?
____________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________
TEXTO II
QUAL DESTES É O SEU PAI?
Moacir Scliar
Lamento dizer, meu filho, mas não sou nenhum desses.
Não sou, por exemplo, o Superman. Não consigo sair por aí voando,
embora muitas vezes tenha vontade de fazê-lo; tenho de me mover no atrapalhado
trânsito desta cidade num modesto Gol, com a esperança de não chamar a atenção
dos assaltantes nem de ficar na rua com um pneu furado. Também não tenho,
como o Superman, a visão de Raios X; mal consigo ler, com muita dificuldade e
incredulidade, as notícias que aparecem diariamente nos jornais e que nos falam
de um mundo convulsionado e de um país perplexo.
Não sou o Homem invisível. Não consigo passar despercebido; tenho de
ocupar meu lugar na sociedade, goste dele ou não.
Não sou o He-Man. Não tenho a Força; pelo menos não aquela Força.
Tenho uma pequena força, o suficiente para garantir o pão nosso de cada dia, e
mesmo alguma manteiga, o que não é pouco, neste país em que muita gente morre
de fome.
Não sou o Rambo; não tenho aquela formidável musculatura, nem as
armas incríveis, nem o feroz ódio contra os inimigos (aliás, quem são os inimigos?). Não sou o Tio Patinhas,
não sou um Transformer, não sou o Príncipe Valente. Não sou o Rei Arthur, nem Merlin, o Mago, nem Fred
Astaire. O que sou, então?
Sou o que são todos os pais. Homens absolutamente comuns, a quem um filho transforma de repente
(porque os pais são criados pelos filhos, assim como os filhos são criados pelos pais: a criança é o pai do
homem). Homens comuns que levantam de manhã e vão trabalhar. Homens que se angustiam com as
prestações a pagar, com os preços do supermercado, com as coisas que estão sempre estragando em casa.
Homens que de vez em quando jogam futebol, que às vezes fazem churrasco, que ocasionalmente vão a um
teatro ou a um concerto. Destes homens é que são feitos os pais.
Quando os filhos precisam, estes homens se transformam. Se o filho está doente, se o filho tem
fome, se o filho precisa de roupa – estes homens adquirem a força do He-Man, a velocidade do Superman, os
poderes mágicos de Merlin. Mas a verdade é que isto não dura sempre, e também nem sempre resolve. A
inflação, por exemplo, nocauteia qualquer pai.
Não, filhos, não somos os seres poderosos que vocês gostariam que fôssemos. Mas somos os pais de
vocês, que um dia serão pais como nós. Os heróis são eternos. Os pais não. E é nisso que está a sua força.
In: Um país chamado infância. São Paulo, Ática, p. 76-7.
QUESTÃO 06 – Valor: 1,0
Observe a seguinte passagem:
“Lamento dizer, meu filho, mas não sou nenhum desses.”
Agora, responda:
A) Quem é o locutor do texto? _________________________________________________________________
B) E o receptor? ____________________________________________________________________________
QUESTÃO 07 – Valor: 1,0
A interpretação da passagem não está adequada em:
A) “Não sou o Homem Invisível. Não consigo passar despercebido, tenho de ocupar meu lugar na sociedade,
goste dele ou não.
 Os pais assumem papéis que nem sempre lhes agradam.
B) “Não sou o He-Man. Não tenho a Força, pelo menos aquela Força. Tenho uma pequena força...”
 A força referente ao herói está com letra maiúscula para sugerir que é maior que a do pai.
C) “... o suficiente para garantir o pão nosso de cada dia, e mesmo alguma manteiga, o que não é pouco, neste
país em que muita gente morre de fome.”
 O acréscimo da manteiga ao pão põe o pai e o filho em posição diferenciada frente a grande parte da
população do país.
D) “Quando os filhos precisam, estes homens se transformam.”
 Todos os pais têm capacidade para serem eternos heróis, mas não têm conhecimento disso.
E) “A inflação, por exemplo, nocauteia qualquer pai.”
 A economia é uma das lutas enfrentadas pelos pais.
QUESTÃO 08 – Valor: 1,0
Leia:
“... porque os pais são criados pelos filhos, assim como os filhos são criados pelos
pais: a criança é o pai do homem.”
Em um pequeno parágrafo bem estruturado, explique o que você entende por:
A) “... os filhos são criados pelos pais.”
__________________________________________________________________________________________
B) “... os pais são criados pelos filhos.”
__________________________________________________________________________________________
QUESTÃO 09 – Valor: 1,0
“Sou o que são todos os pais. Homens absolutamente comuns...”
Sobre a passagem acima, só é incorreto afirmar que há:
A)
B)
C)
D)
E)
contradição
confissão
lucidez
generalização
constatação
TEXTO III
OS CRAQUES DO FUTURO
Moacyr Scliar
Todo pai de classe média tem um de dois sonhos: ou quer que o filho seja doutor, ou
jogador de futebol. O primeiro sonho é mais antigo, e vem da época em que um diploma era
tudo, mas hoje, com tanto profissional desempregado e com os jogadores de futebol
ganhando fortunas, o sonho mudou. De qualquer modo, ser jogador de futebol exige esforço.
Porque já se foi a época em que um garoto se tornava craque nas peladas de rua; as ruas hoje
são perigosas. Além disto, futebol agora se aprende – nas escolinhas. (Por enquanto é
escolinha. Logo será faculdade, mestrado, doutorado. Já imaginaram um PhD em futebol
teorizando antes de fazer um passe? Chegaremos lá.)
É com a maior emoção que um pai matricula seu filho na escolinha de futebol. E é
com emoção ainda maior que ele aguarda o resultado da primeira aula. Agarra o professor
ansioso:
__ Então? Já posso fazer um contrato com os italianos?
O professor responde de maneira reticente: sim, o guri tem futuro, mas... O pai não quer saber de
ponderações: o seu rebento é o sucessor de Pelé e Garrincha e estamos conversados. Tudo o que o professor tem a
fazer é desenvolver este talento inato.
E em casa ele mesmo faz o teste decisivo: pega uma bola e vai para o pátio ou para o playground do edifício.
E, de fato, o garoto é bom; tem um notável controle da pelota, corre, dribla, chuta forte. O pai é derrotado
fragorosamente, para sua imensa satisfação: eu não dizia que meu filho é um gênio do futebol? Janta e vai para a
cama, feliz, pensando nas manchetes dos jornais do futuro: Surge um novo astro no futebol brasileiro. De repente
lhe ocorre que ganhar numa pelada de um pai classe média, sedentário, meio barrigudo, não coisa tão difícil e que
talvez seu filho seja apenas um menino como todos os outros meninos brasileiros que gostam de futebol e que bem
ou mal chutam sua bolinha. Mas este pensamento incômodo não chega a perturbá-lo; não, seu filho não é igual aos
outros; seu filho é um grande jogador de futebol, o tempo o demonstrará. Adormece feliz, e nos sonhos recebe do
filho, diante das câmeras de TV, a Taça Jules Timet: justa homenagem a um pai que acreditou no talento de seu
garoto e que soube, pelo menos, sonhar.
QUESTÃO 10 – Valor: 1,0
Investigue no dicionário o significado das palavras abaixo:
G) Fragorosamente: ___________________________________________________________________________
H) Reticente: ___________________________________________________________________________
I) Sedentário: ______________________________________________________________________________
J) exaltar: _______________________________________________________________________________
K) contestar: _____________________________________________________________________________
L) ranzinza: _______________________________________________________________________________
QUESTÃO 11 – Valor: 1,0
Analise esta situação no texto:
“O pai é derrotado fragorosamente, para sua imensa satisfação...”
Agora responda: Por que a derrota do pai lhe despertou imensa satisfação?
____________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________
QUESTÃO 12 – Valor: 1,0
A possibilidade de o filho vir a ser um craque de futebol, no estilo antigo, foi descartada porque:
A) as peladas de rua não despertam mais interesse nos meninos.
B) as crianças de hoje possuem uma agenda cheia de atividades.
C) faltam condições para a prática do futebol nas ruas.
D) as ruas oferecem outros atrativos para as crianças.
E) os pais não têm tempo de incentivar e acompanhar os filhos nas atividades esportivas.
QUESTÃO 13 – Valor: 1,0
Leve em consideração o contexto em que foi tirado o trecho abaixo:
“Chegaremos lá.”
Agora, complete: A palavra grifada tem o sentido de _______________________________________________
____________________________________________________________________________________________
QUESTÃO 14 – Valor: 1,0
No decorrer do texto, vê-se um pai que acredita num sonho. Existe, porém, um momento em que ele vive a
realidade. Por que essa realidade não o perturba?
____________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________
QUESTÃO 15 – Valor: 1,0
A palavra sonho, no texto, possui significados diferentes. Apresente seu sentido em:
A) “O sonho mudou.”
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B) “Adormece feliz e nos sonhos recebe do filho...”
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TEXTO IV
TERROR
Luís Fernando Veríssimo
O pai volta para a cama.
– Que imaginação tem esse guri...
– O que foi desta vez? – perguntou a mulher, sonolenta.
– Ele queria ir ao banheiro fazer xixi, mas tinha medo do polvo.
– Polvo?
– Ele diz que tem um polvo embaixo da cama.
Assim que ele bota o pé no chão, o polvo pega a perna dele com um tentáculo. Até me descreveu como é o
tentáculo. Frio pegajoso, gosmento...
– Esse menino...
– Fiz ele olhar embaixo da cama para ver que não tinha
polvo nenhum. Mesmo assim, quando voltou do banheiro
ele deu um pulo do meio do quarto para cima da cama.
Senão o polvo pegava o pé dele. Mas acho que esta noite
ele não vai incomodar mais.
– Você bateu nele? Olha o que disse a psicóloga...
– Não bati. Só disse que se ele não ficasse quieto, o Bicho
Papão vinha pegar.
– O quê?! Um menino com a imaginação dele e você
ainda fala em Bicho Papão! A psicóloga disse
claramente...
– Pois eu fui criado ouvindo histórias do Bicho Papão. Me
ameaçavam com o homem do saco se eu não comesse
tudo, com o boi da cara preta se eu não dormisse cedo... E
aqui estou eu, um homem normal, sem traumas. Aliás, no
meu tempo nem existia a palavra trauma.
Do quarto do guri vem uma voz chorosa.
– Mãe...
– Não responde que ele desiste.
– Mãe-ê...
– A psicóloga disse que era para atender sempre que ele chamasse.
– Então vai você. Ele está chamando “mãe”.
– Vai você.
– Desta cama eu não desço.
– Está com medo do polvo?
– Não seja boba. Eu...
O guri entra correndo no quarto. Está apavorado.
– O BICHO PAPÃO QUER ME PEGAR!
– Volte já para a sua cama! – diz a mãe. Mas o guri já mergulhou entre os dois. Só bota a cabeça para fora
das cobertas para descrever o monstro...
– Ele é enorme. Cabeludo. Tem dois olhos grandes e um buraco vermelho e molhado no meio da cara. Arrasta
os pés no chão.
– Viu o que você fez? – diz a mulher para o marido.
Mas o marido não a ouve. Está com a atenção voltada para o corredor. E os seus olhos se arregalam. A
mulher também pára de falar quando escuta o que o marido está escutando. O ruído de pés se arrastando no
chão. Pés cabeludos.
– Fecha a porta depressa! – grita a mulher.
– Ele quer me pegar! – grita o filho.
O Bicho Papão aparece na porta. Tem o tamanho de um gorila. Os olhos grandes e injetados. Em vez de
boca, um buraco carnudo no meio da cara com duas fileiras de dentes afiados em cima e duas embaixo.
Aproxima-se lentamente da cama, arrastando os pés. A mãe desmaia. O pai ergue-se na cama e achata-se
contra a parede. Não consegue gritar.
O Bicho Papão arranca a criança debaixo das cobertas e a engole, com pijama e tudo.
Depois sai, pesadamente, pela porta.
Meia hora depois a mãe recobra os sentidos. O marido está sentado na beira da cama, mas os pés estão
recolhidos sob o corpo. Sacode a cabeça e não pára de repetir: “Eu avisei... Eu avisei...”
A mãe só tem uma preocupação:
– O que é que eu vou dizer para a psicóloga?
Ed Mort e outras histórias. Porto Alegre: L&PM, 1985.
QUESTÃO 16 – Valor: 1,0
Leia:
“O que foi desta vez?”
Através dessa passagem, percebe-se tudo isto, EXCETO:
A)
B)
C)
D)
E)
a mãe não imaginou que poderia haver monstros perturbando o filho.
o filho gostava de inventar histórias.
a mãe contou com a possibilidade de ter uma noite mal dormida.
o filho não sabia o que estava dizendo.
A mãe não ignora o chamado do filho.
QUESTÃO 17 – Valor: 1,0
“Mas acho que esta noite ele não vai incomodar mais.”
Explique de forma clara e completa por que o pai teve essa certeza.
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QUESTÃO 18 – Valor: 1,0
“E aqui estou eu, um homem normal, sem traumas.”
Após ter lido todo o texto, você concorda com essa afirmação? Justifique.
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QUESTÃO 19 – Valor: 1,0
Leia:
“Eu avisei... Eu avisei...”
Agora complete a fala do pai.
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QUESTÃO 20 – Valor: 1,0
O humor do texto está na quebra da expectativa. Como isso acontece no texto?
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TEXTO I UM GAROTO REBELDE Luiz Galdino Minha mãe diz que