42 SÁBADO E DOMINGO 19 e 20 de setembro de 2015 POLÍCIA Gazeta do Sul SEGURANÇA PÚBLICA ■■ Luciano Menezes reconhece que a população se sente insegura – e afirma que ela tem motivos para isso , [email protected] Em uma entrevista contundente, o delegado Luciano Menezes – que, de fato, não é de meias palavras – atribuiu a onda de assaltos e furtos em Santa Cruz do Sul à falta de policiamento nas ruas da cidade. Titular da Defrec e agora também delegado regional da Polícia Civil, Menezes disse ter percebido que “a população está apavorada” e há motivos para tanto. E mais: segundo revelou, a incidência de roubos é até maior do que chega ao conhecimento do público. Com fama de perspicaz e admirado entre seus pares devido à participação nas capturas de figuras proeminentes no mundo do crime – o quadrilheiro Seco é ■ Menezes: “As pessoas não se sentem seguras nem no Centro” um exemplo –, Menezes chegou à Rádio Gazeta visivelmente in- tentamento, porém, foi a manidignado. O principal motivo foi festação pública da BM acerca da um relatório elaborado pela Bri- existência do relatório. O delegaPara Luciano Menezes, outro gada Militar. A existência do do- do disse ter interpretado tal mefator que interferiu na incidêncumento havia sido revelada ain- dida como uma espécie de jogo da na manhã de quinta-feira pelo de cena, em que o comando lo- cia de roubos nos últimos dias subcomandante e chefe do Esta- cal da Brigada estaria passando a foi a paralisação dos servidores, do Maior do Comando Regional impressão de ter feito a sua par- em protesto contra o parcelamenda corporação, major Giovani te, cabendo à Civil dar continui- to dos salários. Observou que o Paim Moresco, também em en- dade ao trabalho. “Foi vendida a próprio anúncio de greve na BM trevista à emissora. ideia de que esse relatório seria a incentivou os ladrões a agir. SeNa ocasião, Moresco rela- solução para os problemas de se- gundo ele, nos primeiros três dias tou tratar-se de um levantamen- gurança da cidade, mas isso aqui de setembro – período de maior efervescência do movimento – to técnico e científico, elaborado não me serve para nada.” pela BM, onde consta uma relaAproveitando a deixa, os jor- houve o registro de 12 assaltos à ção de pessoas que estariam co- nalistas Rosemar Santos e Ro- mão armada no município. “Desmetendo crimes na cidade. “Es- naldo Falkenback conduziram tes ataques, sete foram cometidos tamos passando este conteúdo à as perguntas para a questão da por uma duplinha de bundas raPromotoria e à Delegacia Regio- incidência de assaltos na cidade, chadas, dois guris que ninguém nal, com quem o que esquen- conhecia, ordinários, os quais temos um traba- Segundo Menezes, furto tou ainda mais imaginaram que poderiam simde automóveis subiu lho bastante esa conversa. Me- plesmente sair assaltando. Em treito, para que 140% nos sete primeiros nezes afirmou um dos ataques, um deles até fupossamos pren- meses deste ano, na que os crimi- giu de bicicleta”, relatou. Menezes disse também que der estes indivínosos estariam duos o mais rá- comparação com 2014 se aproveitan- haveria bandidos novos, sem anpido possível”, do da ausência tecedentes, em ação. Parte deles afirmou. de policiamento estaria agindo a mando de trafiO delegado regional recebeu o ostensivo – o que é atribuição da relatório na tarde de quinta, mas Brigada. “A população está apanão gostou do que viu. “Isso aqui vorada. Caminho na rua e pessonão passa de um monte de papéis as de todas as camadas me aborsem utilidade alguma. A Brigada dam, perplexas. Não se sentem Possivelmente sem imaginar o simplesmente elegeu 26 pessoas seguras nem no Centro. A sen- que estava para vir no dia seguinque já responderam a inquéritos. sação de insegurança tomou pro- te, o major Moresco fez um disEu não preciso disso. Boa par- porções gigantestas.” curso ameno durante a entreviste dos antecedentes desses indiLuciano Menezes observou ta da quinta-feira. Além de citar víduos fui eu mesmo quem apu- que o fenômeno estaria mudan- o relatório que se converteria no rou em investigações anterio- do os hábitos da população e do pivô da polêmica, chamou a Pores”, disparou. comércio. “Conheço empresários lícia Civil de “nossa irmã” e disO principal motivo do descon- que, hoje, atendem de portas fe- se que a situação da criminalichadas. Alguns que até pensam dade em Santa Cruz “estava sob em fechar seus estabelecimen- controle”. tos.” Defendeu a necessidade de Os radialistas insistiram no asuma ocupação maior dos espa- sunto, citaram casos de assaltos e ços da cidade pelo policiamento furtos, mas Moresco manteve sua ostensivo. Fora do ar, comentou postura. “Uma coisa é a sensação que não pretende, com suas afir- de segurança, outra é a percepção mações, ofender os PMs. “Eles concreta. Nossa região, com 564 se esforçam. Mas falta mais gen- mil habitantes, está em um patate policiando. A BM precisa ser mar favorável em relação aos ou(51) 2106.1555 vista pela comunidade.” tros pontos do Estado. E isso não é Ana Cláudia Muller Ricardo Düren Isadora Trilha Delegado diz que falta policiamento na rua ■ Major Moresco: “Nossa região está em um patamar favorável” Paralisação incentivou criminosos a agir Veículos Outro assunto abordado por Luciano Menezes foi o furto de carros e motocicletas. Segundo ele, esse tipo de crime subiu 78% nos primeiros sete meses deste ano, na comparação com o mesmo período de 2014. Retirando-se as motos da estatística, o furto de automóveis chega a 140%. Conforme o delegado, os ladrões concluíram que levar carros é mais vantajoso. O objetivo das ações é exigir resgate dos proprietários, extorquindo entre R$ 800,00 e R$ 1,5 mil. Segundo o delegado, um dos principais envolvidos nessa modalidade de crime é um adolescente de 16 anos, egresso da Fase. Na próxima semana, a Polícia Civil vai ingressar na Justiça com um pedido de internação do menor. cantes, levantando com roubos dinheiro destinado a quadrilhas que lidam com entorpecentes. Indo além, o delegado afirmou que a incidência de roubos é até maior do que chega ao público. Segundo ele, muitos casos não vêm sendo divulgados a pe- dido das vítimas. “Grandes empresas foram assaltadas, centenas de milhares de reais foram levados. Já temos carros apreendidos e até um colar de pérolas importado da Europa recuperado, por conta das investigações sobre esses ataques.” Para a Brigada, situação está sob controle uma impressão nossa, é um dado divulgado pela Secretaria da Segurança”, argumentou. Ressaltou, porém, que a Brigada está adotando novas estratégias para coibir a incidência de delitos. Uma das medidas foi mapear os locais onde ocorrem furtos de veículos, para reforçar o patrulhamento nesses pontos. “Por outro lado, temos Santa Cruz inteira para zelar. Não podemos desmerecer uma determinada comunidade em prol de outra.” Apesar disso, garantiu que a Brigada não está sofrendo uma redução de efetivo. “Nossa quantidade de homens e viaturas segue a mesma.” Quando Falkenback perguntou em que momento se- ria sentida uma redução no índice de criminalidade, Moresco voltou a invocar o relatório feito pela BM. “Esperamos que em curtíssimo prazo de tempo estas pessoas comecem a ser presas.” Nessa sexta-feira, o comando da BM não quis comentar as declarações de Menezes. Nos bastidores, fala-se que a entrevista caiu como uma bomba nos altos escalões da corporação. ■ Confira trechos em vídeo das entrevistas com delegado Menezes e major Moresco no Portal Gaz e na edição digital da