79_Analytica_Artigo Avaliação do teor de alumínio oriundos da fervura de água em panelas de alumínio utilizando espectrofotometria UV-VIS na detecção dos íons metálicos Alex Magalhães de Almeida1*, Jéssica Maria Conrado1, Kelry Daiane Aparecida da Silva1 1 Centro Universitário de Formiga – UNIFOR-MG Av. Dr. Arnaldo de Senna, 328, Água Vermelha, CEP 35.570-000, Formiga, Minas Gerais, Brasil, (37) 3329 1433 * Rua Venezuela, 32 Apto 203, Bairro Ouro Negro – Formiga MG, CEP: 35570- 000 (37) 3322 6575, [email protected] RESUMO Utensílios culinários confeccionados a partir de metais liberam íons metálicos durante o cozimento de alimentos, e estes podem contaminar o alimento em preparo ou a água em processo de fervura. Consequentemente, atinge aquele que fizer uso. Elaborou-se um procedimento simplificado para avaliar a presença de íons Al3+ desprendidos por panelas feitas com o metal para água deionizada após sua fervura. O estudo consistiu em ferver um volume definido de água deionizada em intervalos de tempo definidos e verificar quantitativamente a presença de alumínio. A água deionizada foi utilizada para minimizar a interferência de outros íons e garantir a ausência do íon de interesse. Os estudos quanto ao teor de íons Al3+ foram realizados por espectrofotometria UV-VIS, utilizando-se o complexante alizarina (C14H8O4) e determinação em λmax = 550 nm. Os resultados obtidos evidenciam que o teor de íons alumínio na água, após a fervura ficou acima dos valores permitidos pela Portaria número 518/2004, que é de 0,2mg L-1 de alumínio para água potável, indicando uma possível fonte de contaminação. Palavras chaves: água fervida, reagente complexante, panela de pressão, caneco de alumínio. ABSTRACT Cooking utensils made from metal, metal ion release during cooking of food, and may contaminate the food being prepared or water boiling process, and consequently reaches that you do use. We developed a simplified procedure to assess the presence of Al3+ detached for pots made with metal ions to deionized water after your boil. The study consisted of a defined volume of boiling deionized water in defined time intervals and quantitatively determine the presence of aluminum. The deionized water was used to minimize interference from other ions, and ensure the absence of the ion of interest. The studies regarding the content of Al3+ ions were performed by UV-VIS spectrophotometer, using alizarin complexing (C14H8O4) and determination of λmax = 550 nm. The results show that the content of aluminum ions in water, after boiling were above the levels allowed by Ordinance number 518/2004, which is 0,2 mg L-1 of aluminum for drinking water, indicating a possible source of contamination. Keywords: boiled water, complexing reagent, pressure cooker, aluminum pitcher. INTRODUÇÃO Com o advento da revolução industrial e os avanços tecnológicos diversos, tornou-se evidente a poluição antropogênica, que pode ser considerada um dos grandes males atuais. A poluição não está apenas no acúmulos de resíduos, em fontes importantes para o ser humano como água e solo, mas também vem se multiplicando por meio da cadeia alimentar (FERREIRA, 2008). Isso acarreta vários problemas para a humanidade, como o surgimento de doenças e aumento das fontes de contaminação. Alguns íons metálicos, quando ingeridos em determinadas quantidades causam intoxicações e distúrbios para os seres humanos (TAVARES, 1992). O trabalho realizado por Devecchi (2006) relata que o teor tolerável de alumínio em água potável deve ser de 0,2 μg mL-1. São inúmeras as fontes de contato do alumínio com o ser humano, uma delas é por alimentos com a presença do metal pelo fato do mesmo de ser encontrado no solo em que foi cultivado. Outras fontes que podem ser citadas são: os medicamentos que contém o hidróxido de alumínio, cosméticos, chás, aditivos alimentares, o ar, e ainda pelo consumo de água potável (QUINTAES, 2000). Há também suspeitas de que as embalagens e as panelas de alumínio se constituem de fonte significativa para esta ocorrência (DANTAS, et al., 2007). Pelo fato das panelas de alumínio possuírem baixo valor monetário de aquisição, estas são as preferidas para o cozimento de alimentos no Brasil, e estão sempre em melhoramento para se tornarem mais práticas durante o manuseio. Entretanto, ocorre que os fabricantes não dão à devida atenção às condições adversas de uso desses materiais. Um exemplo é quanto ao nível de toxicidade que esses materiais oferecem aos seres humanos (LÚCIO, 2010; AZEVEDO e CHASIN, 2003). Soma-se a este fato o hábito de realizar a limpeza com instrumentos que retiram a parte oxidada do recipiente e que possibilitam ao metal uma nova superfície de contato. Geralmente as panelas feitas com alumínio são utilizadas para diversas tarefas domésticas. Em função dessa gama de utilizações, torna-se necessário um procedimento de avaliação para verificar o teor de alumínio que pode ser desprendido na água ou até mesmo no alimento que venha a contaminar o ser vivo que se alimente do material cozido ou fervido. O alumínio pode ser facilmente excretado pelo organismo, entretanto as diferentes nuanças entre os organismos (resistência física, orgânica e genética) possibilitam casos onde o alumínio, quando absorvido pelo mesmo, se distribui pelos ossos, fígados, rins e cérebro e ocasiona inúmeros malefícios. O alumínio foi durante muito tempo considerado isento de riscos para a saúde humana, entretanto, a partir da década de 70 alguns autores relacionaram-no a algumas doenças, motivando a sua avaliação toxicológica. (DANTAS, et al., 2007). Os modos de uso para as panelas de alumínio associadas à agua tornam o procedimento uma fonte de contaminação para o ser humano, contribuindo assim para o agravamento de algumas doenças. Desta forma, merece atenção o desenvolvimento de técnicas que permitam a determinação e monitoramento de alumínio em águas que serão utilizadas na cocção de alimentos e consumo. Neste trabalho é apresentado um estudo simplificado que visa a determinação do teor do metal desprendido na fervura de água, utilizando espectrofotometria UV-VIS. Para tanto, empregou-se o agente cromogênico Alizarina (C14H8O4) que forma um composto coordenado com o alumínio, proveniente da superfície interna das panelas feitas com o metal, que se desprendeu durante o procedimento de fervura. Adotou-se, para efeito de comparação com a realidade das cozinhas brasileiras, a ideia de que a água fervida seria utilizada no cozimento de alimento ou preparo de cafés e chás, até mesmo para ser ingerida. MATERIAL E MÉTODOS Os procedimentos adotados para o desenvolvimento deste trabalho estão subdivididos em métodos qualitativos e quantitativos, descritos a seguir realizando-se uma adaptação a partir do método adotado por Resende (2011). Ressalta-se que em todos os ensaios utilizou-se reagentes de grau analítico ou superior e água deionizada. Solução padrão de alumínio: foi preparada a partir de padrão primário na concentração de 1000 mg L-1. Solução de trabalho: realizou-se o preparo a partir da diluição da solução padrão, para um valor de concentração de 100 mg L-1. Solução de alizarina: foi preparada a partir da dissolução do composto sólido em etanol P.A., obtendo-se uma concentração de 2,5x10-3mol L-1. Comprimento de onda: Realizou-se em um espectrofotômetro a varredura entre os comprimentos de onda de 380 nm a 690 nm, para o composto formado entre o alumínio e a alizarina visando identificar o sinal característico do complexo estável. Ensaios quantitativos: A definição da composição % m/m dos sistemas de solventes para a determinação quantitativa, foi efetuada por um estudo de mistura, neste caso, as concentrações dos íons metálicos e do complexante foram mantidas constantes, visando obter a máxima sensibilidade para o sinal analítico (BARROS NETO, et al., 2003). Curva de calibração: Preparou-se soluções com diferentes concentrações a partir de diluições da solução de trabalho, sendo os valores de concentração utilizados entre 0,0 a 7,5 mg L-1, e em todos os casos a concentração de alizarina permaneceu constante. Preparo das amostras: Foram utilizados dois tipos de panelas de alumínio para realizar a fervura de água, um do tipo caneco sem tampa e uma panela de pressão (FIG.1). INSERIR AQUI FIGURA 1 Para cada recipiente aferiu-se 500 ml de água deionizada com uma proveta graduada. As panelas foram colocadas em um fogão industrial e aquecidas até que se iniciasse o processo de ebulição. Estando em ebulição, as águas foram deixadas sob aquecimento por um período de 5,0 min. Após a fervura, resfriou-se naturalmente o conteúdo dos recipientes e, na sequência, repetiu-se a montagem do sistema de reação com alizarina procedendo a leitura em espectrofotômetro UV-VIS em comprimento de onda apropriado. O mesmo procedimento foi realizado para um período de ebulição de 10,0 min. para os dois recipientes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Executando-se a varredura em espectrofotômetro para o complexo formado entre o elemento metálico Alumínio e o reagente complexante Alizarina, obteve-se como melhor comprimento de onda para a realização das medidas λmax = 550 nm. Nesta condição, foram realizadas todas as determinações referentes aos procedimentos aqui efetuados. Na verificação quanto à melhor composição de solventes para as determinações ocorrerem de forma efetiva, os estudos com misturas revelaram que um volume de 0,75 mL de água seria o máximo a ser adicionado ao sistema e à alizarina em etanol, isto para um volume final de 10,0 mL. Um estudo quanto à concentração máxima do reagente complexante revelou que o valor de 7,35x10-4 mol L-1 de alizarina é o ideal para se realizar as leituras no sistema de solventes proposto. A curva de calibração obtida após a leitura das soluções preparadas com até 7,5 mg L-1 do elemento metálico revelou as seguintes características: limite de detecção igual a 0,0146 mg L-1, obtido pelo cálculo da medida de 10 amostras em branco de acordo com Harris (2005); limite de quantificação calculado em 0,0489 mg L-1, apresentando-se linear até 8,0 mg L-1. A FIG. 2 exibe graficamente a curva de calibração. INSERIR AQUI FIGURA 2 Utilizando da equação obtida pelo gráfico evidenciado na curva de calibração, ABS = 0,1335[Al3+] – 0,0238 foi possível calcular a concentração dos íons Al3+ presentes na água deionizada após o procedimento de fervura em panelas de alumínio, salientando que em todos os procedimentos as medidas foram realizadas em triplicata. Para as amostras de água deionizada, fervidas em recipiente com forma de caneco, durante 5,0 min. de ebulição, a média de valores de concentração encontrada para a presença de alumínio foi de 1,889 mg L-1. Já as medidas realizadas para as amostras de água deionizada, que foi fervida no mesmo caneco durante 10,0 min, a média de concentração foi de 1,934 mg L-1 para o metal. Vale ressaltar que entre as fervuras o recipiente sofreu lavagens com água, detergente e esfregação, semelhante às praticadas pelos usuários em suas cozinhas após o preparo de alimentos ou bebidas como cafés ou chás. Para a água fervida na panela de pressão, obteve-se valores médios de concentração para o tempo de 5,0 min. após a ebulição, da ordem de 1,537 mg L-1 de alumínio, e as amostras fervidas por um tempo de 10,0 min. apresentou como resultado uma concentração de 1,904 mg L-1 do metal, indicando que houve um maior desprendimento de alumínio da superfície das panelas. Comparando o valor do desprendimento dos íon Al3+ em cada tipo de utensílio, as concentrações da panela de pressão são menores que as do caneco. Segundo Romeiro (1997), isso ocorre por que as ligas de alumínio utilizadas na fabricação de panelas de pressão apresentam maior resistência mecânica que impede o desprendimento do íon da superfície interna do recipiente. Os valores encontrados no presente trabalho estão acima dos valores padrões determinados pela Portaria N°518/2004, que é de 0,2 mg L-1 de alumínio para água potável (BRASIL, 2004), e servem de alerta para os órgãos de saúde. Entretanto, há estudos que relacionam a absorção de Alumínio desprendido dos recipientes de preparo e sua consequente incorporação aos alimentos. Os valores encontrados indicam que o tempo de fervura acarreta um maior desprendimento de íons alumínio da superfície do recipiente para a água em seu interior. Segundo a Portaria Nº518/2004 do Ministério da Saúde, o nível de tolerância de alumínio na água é de 0,2 mg L-1, e em todos os casos estudados nota-se que a concentração obtida é superior em pelo menos dez vezes. É possível que recipientes fabricados por diferentes empresas apresentem resultados com valores inferiores ou superiores ao do estudo realizado. Ressalta-se que a presença do alimento na panela também irá influenciar no desprendimento dos íons Al3+. Entretanto, comprova-se que as panelas de alumínio utilizadas no cozimento são fontes de contaminação do metal e requerem um estudo mais detalhado quanto a sua associação com os alimentos. De acordo com Lima et al. (2001), os níveis de alumínio absorvidos por um indivíduo normal é inferior a 10 µg L-1, porque grande parte do alumínio está na forma insolúvel e não absorvível. Mas é preciso levar em conta que o homem está frequentemente exposto ao alumínio, não só por via oral, mas também nasal. (QUINTAES, 2000). Com esta gama de exposição o organismo pode não conseguir excretar todo alumínio, e esse vir a se depositar nos ossos, fígado, rins, coração e cérebro ao longo do tempo de vida do indivíduo. CONCLUSÃO Os valores encontrados denotam preocupações quanto à presença do elemento alumínio nos recipientes de cozimento, principalmente quando se considera as implicações quanto a saúde do ser humano que estão envolvidas. As quantidades encontradas tornam as águas residuais uma fonte de contaminação antropogênica que deve ser controlada para evitar grandes perturbações à saúde e meio ambiente. Desta forma, aconselha-se utilizar outro tipo de recipiente para fervura de águas e cozimento de alimentos. Sugere-se também que estudos de interação dos íons desprendidos e os alimentos sejam realizados com vistas a verificar o grau real de contaminação quanto ao elemento em questão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. (1) FERREIRA, P. C.; PIAI, K. A.; TAKAYANAGUI, A. M. M.; SEGURAMUÑOZ, S. I.. Alumínio como fator de risco para a doença de Alzheimer. Rev Latino-am Enfermagem, n. 16 v. 1, 2008. (2) TAVARES, T. M.; CARVALHO, F. M. Avaliação de exposição de populações humanas a metais pesados no ambiente: exemplos do recôncavo baiano. Química Nova. [S. l.] 1992, v. 15, n. 2, p. 147-154, 1992. (3) DEVECCHI, G. C. R. ET al. Níveis de alumínio e zinco em água coletada em dois municípios que possuem diferentes fontes de captação e tratamento no estado de São Paulo. O mundo da saúde. São Paulo, v. 4, n. 30, p. 619-627, 2006. (4) QUINTAES, K. D.. Utensílios para alimentos e implicações nutricionais. Rev. Nutr., Campinas, v.13(3): 151-156, 2000. (5) DANTAS, S. T. et al. 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