PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA Deibe Valgas dos Santos Análise dos Esforços de Usinagem na Furação do Ferro Fundido Vermicular ASTM A 842/2004 São João Del-Rei, 2013 Deibe Valgas dos Santos Análise dos Esforços de Usinagem na Furação do Ferro Fundido Vermicular ASTM A 842/2004 Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Universidade Federal de São João Del-Rei, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica. Área de Concentração: Materiais e Processos de Fabricação Orientador: Prof. Dr. Durval Uchôas Braga São João Del-Rei, 2013 Dedico este trabalho à minha companheira de hoje e sempre, Silvana Apolinário Rodrigues. Agradecimentos Inicialmente agradeço a Deus pela força e pelo contínuo conforto que me fez prosseguir nesta jornada de dúvidas e incertezas, num caminho árduo, que graças ao seu carinho e atenção de Pai permitiu que tivesse forças para poder concluí-lo. Agradeço a minha companheira e cúmplice Silvana Apolinário Rodrigues por compartilhar minhas incertezas, aflições e alegrias que ocorreram durante esta caminhada. Pela companhia e solidariedade, dedico lhe este trabalho. Aos familiares, meus pais e minhas irmãs, Débora Aparecida e Isadora Aparecida, pelo carinho e pela confiança. Aos colegas da República Vaticano que me ajudaram com suas motivações e palavras amigáveis: Alan de Paula Avelar, Marcos Luiz de Souza Castro, Giovanny Pereira Amaral, Pedro Henrique Azevedo Junqueira, Rafael Fonseca e em especial ao meu primo Carlos Aurélio da Silva Carvalho que foi o primeiro a me incentivar na realização deste trabalho e que me trouxe confiança e fez despertar meus sonhos. Ao professor Durval Uchôas Braga, meu orientador do programa de mestrado, por confiar nos meus esforços e por ter concedido mais esta oportunidade em minha vida. Ao professor Denilson José do Carmo, colaborador da Universidade de Itaúna, instrutor, pesquisador que atua no Desenvolvimento e Inovação Tecnológica do SENAI/CETEF Marcelino Corradi. Agradeço pela confiança, carinho e orientação. Também agradeço pela elaboração da carta de recomendação para me candidatar ao programa de mestrado e pelo empenho em disponibilizar as placas de CGI utilizadas neste trabalho. Ao senhor Lúcio José de Figueiredo Sampaio, diretor regional do SENAI/MG, e ao professor Pedro Paulo Drumond, diretor do SENAI-CETEF/Itaúna pela doação das placas de ferro fundido vermicular, fundidas pelo SENAI-CETEF/Itaúna. A Sandvik do Brasil S.A e ao senhor Aldecir Santos, supervisor de treinamento técnico e centro de produtividade Sandvik do Brasil S.A pelo fornecimento das brocas helicoidais para o projeto. A Oerlikon Balzers Revestimentos Metálicos Ltda. e principalmente ao senhor Rafael Lopes da Silva, gerente de Produto, Moldes e Matrizes, pelo apoio e pela aplicação dos revestimentos nas brocas helicoidais. Ao professor Gilson Marques, professor da Universidade de Itaúna, pelo incentivo e carinho. Pela elaboração da carta de recomendação para me candidatar ao programa de mestrado e por suas palavras amigáveis, meus agradecimentos. Ao professor João André Bastos Ornellas dos Santos, por ter me guiado com sua orientação e conselhos. Ao engenheiro Cássio Luiz Francisco de Andrade, gerente da planta de Usinagem de blocos de motores a diesel da Tupy Joinvile SC, por proporcionar minha visita técnica ao setor de usinagem de blocos de motores da empresa. Aos colegas de mestrado Elifas Levi, Rodrigo M. Corradini, Mário Benedito, Reinaldo Emílio, Ely Wagner, Ana Paula Borges, Cláudio Parreira Lopes, Josemar Costa, Rodrigo Barbosa, Cleiton Arlindo e Jânio Ferreira, pelo companheirismo e tempo de convivência no programa. Aos funcionários da UFSJ, Emílio Dias, Camilo Lellis, Mônica Maria, Francisco e aos demais professores, principalmente aqueles que trabalharam comigo durante o programa. Enfim, a todos aqueles que acreditaram em mim e que torceram pelo meu sucesso e por esta vitória, e aqueles que estiveram ligados a esse projeto diretamente ou indiretamente. A força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável. "Mahatma Gandhi" Resumo Pesquisas e desenvolvimentos são cruciais no segmento de revestimentos para ferramentas de corte utilizadas no processo de usinagem. Como objetivo, buscam alcançar sua máxima eficiência no sentido de proteção do substrato, preparando pastilhas para os obstáculos indesejáveis que surgem nas operações de usinagem. O material estudado nesta pesquisa foi o ferro fundido vermicular da norma ASTM A 842/2004. O processo de furação foi realizado no centro de usinagem Discovery 560, da fabricante Romi, com furos passantes nos corpos-de-prova. Neste trabalho foram utilizadas três brocas helicoidais de mesma geometria, revestidas com TiAlN, AlCrN+x e AlCrN+y. No experimento realizado foi utilizado um nível de velocidade de corte e um nível de avanço, com e sem refrigeração. A finalidade deste trabalho foi analisar os esforços de corte presentes e o desgaste das brocas com diferentes coberturas. O tratamento dos dados obtidos foi realizado através do método estatístico de planejamento fatorial com análise de variância. Através dos testes realizados e das análises estatísticas pode-se concluir que as brocas revestidas com TiAlN e AlCrN+y apresentaram menores esforços de corte. Palavras Chave: Ferro Fundido Vermicular, Furação, Desgastes, Esforços de Corte, Revestimento. Abstract Research and development are crucial segment of coatings for cutting tools used in the machining process. Objective, seek to achieve maximum efficiency in order to protect the substrate, preparing inserts for undesirable obstacles that arise in machining operations. The material studied here was compacted graphite iron ASTM A 842/2004. The drilling process was conducted in a machining center Discovery 560, the manufacturer Romi with through holes in the body of evidence. In this work we used three twist drills of the same geometry, coated with TiAlN, AlCrN + x and AlCrN + y. In experiment was performed using a cutting speed level and a level of advancement with and without refrigeration. The purpose of this paper was to analyze the cutting forces present and wear of drills with different toppings. The data obtained was performed using the statistical method of factorial design with analysis of variance. Through tests and statistical analysis it can be concluded that the drills coated with TiAlN and AlCrN + y exhibit lower cutting forces. Keywords: Compacted Graphite Iron, Drilling, Wear, Efforts Cutting, Coating. Lista de Ilustrações Figura 2.1 - Morfologia da grafita em ferros fundidos: a) cinzento; b) nodular e c) vermicular (GUESSER, 2009). ....................................................................................3 Figura 2.2 - Microestrutura do ferro fundido vermicular: grafita predominante em forma de vermes, com alguns nódulos, 5% nodularidade, sem ataque, 100x. (GUESSER, 2009). ..................................................................................................... 6 Figura 2.3 - Bloco de motor e cabeçote CGI (TUPY, 2012). ....................................... 7 Figura 2.4 - Bloco de motor V6 em ferro fundido vermicular classe 450. (GUESSER, 2009). ..........................................................................................................................7 Figura 2.5 - Variantes do processo de furação (DA SILVA, 2010). .............................8 Figura 2.6 - Esquema das partes constituintes da broca helicoidal, (DA SILVA ,2010). .................................................................................................................................... 8 Figura 2.7– Exemplos de brocas helicoidais (STOETERAU, 2007). .........................10 Figura 2.8 - Ângulos de uma broca helicoidal. (DINIZ, MARCONDES e COPPINI,2013). ........................................................................................................ 12 Figura 2.9 - Tipos normalizados de hélices para brocas helicoidais.(TEIXEIRA, 2001). ........................................................................................................................13 Figura 2.10 - Classificação dos materiais aplicados como ferramentas de cortes (CIMM, 2012). ........................................................................................................... 14 Figura 2.11 - Evolução de novos materiais para ferramentas de corte e velocidades de trabalho aplicadas (CIMM, 2012). ........................................................................ 15 Figura 2.12 - Sequência da etapa de bombeamento (OERLIKON BALZERS, 2013). .................................................................................................................................. 16 Figura 2.13 - Injeção de fluxo de argônio na câmera de revestimento quando utilizase plasma (OERLIKON BALZERS, 2013). ................................................................17 Figura 2.14 - Tipos de desgastes: a) Flanco; b) Guias; c) Cratera; d) Lascamento; (BORBA, 2013). ........................................................................................................ 20 Figura 2.15 - Fatores de desgaste de uma ferramenta de corte (KÖNIG e KLOCKE 1997). ........................................................................................................................21 Figura 2.16 - Medição de desgastes de flanco (ANDRADE, 2005 e BOSSARDI, 2008). ........................................................................................................................24 Figura 2.17 - Posição para medição do desgaste em guias (BOSSARDI,2008). ...... 25 Figura 2.18 - Desgaste de cratera em brocas (BOSSARDI, 2008). ..........................25 Figura 2.19 - Lascamento no gume principal da broca (BORK,1995). ......................26 Figura 2.20 - Direção dos movimentos de corte, de avanço e efeitos na furação (DINIZ, MARCONDES E COPPINI, 2013). ...............................................................27 Figura 2.21 - a) Seção transversal de corte na furação em cheio; b) Furação com pré-furo (SOUZA, 2011). ...........................................................................................28 Figura 2.22 - Forças atuantes nas arestas principais de corte (STEMMER, 2005). .. 29 Figura 2.23 - Forças atuantes nas arestas principais de corte(TRENT,2000). .......... 30 Figura 2.24 - Formas de cavaco no processo de usinagem (STOETERAU, 2004)... 32 Figura 2.25 - Mecanismo de formação de cavaco em ferro fundido cinzento (MARWANGA,VOIGT e COHEN,1999 e GUESSER, 2009) ..................................... 33 Figura 2.26 - Distribuição de temperaturas na região de corte (CIMM, 2012). .......... 34 Figura 2.27 - Distribuição de calor na região de corte (CIMM, 2012). .......................35 Figura 2.28 - a) Presença de MnS2 como camada protetora do gume da ferramenta de PCBN na usinagem do ferro fundido cinzento; b) Escassez da camada de MnS2 (MASSIRER JUNIOR; BOSSARDI,2008).................................................................. 37 Figura 2.29 - a) Crescimento de trincas na grafita lamelar do ferro cinzento à frente da ferramenta de corte; b) Dificuldade de propagação de trincas nas grafitas vermiculares devido à forma (BOSSARDI, 2008). .....................................................38 Figura 3.1 Centro de Usinagem ROMI – DISCOVERY 560. ..................................... 39 Figura 3.2 - Projetor de perfil Digimess 400.400. ......................................................40 Figura 3.3 - Borematic Mitutoyo (A) Rugosímetro Surftest Mitutoyo (B)....................40 Figura 3.4 - Durômetro WPM (A) e Corpos de prova (B)........................................... 41 Figura 3.5 - Máquina EMIC (A) e Corpos de Prova (B). ........................................... 41 Figura 3.6 - Dimensões do corpo de prova (ASTM E8/E8M − 13a.) .........................42 Figura 3.7 - (A) Microscópio Olympus BX51(B) Corpos de prova para micrografia. . 42 Figura 3.8 - Dinamômetro Kistler 9272(a); Amplificador de carga Kistler 5070A(b) e interface do software kistler DynoWare(c).(UFSJ, 2013)........................................... 43 Figura 3.9 - Microscópio MitutoyoTM-500 com câmera moticam. ............................43 Figura 3.10 - Desenho esquemático do sistema de fixação da broca. ......................44 Figura 3.11 - Montagem do porta pinça BT-40 com a broca. .................................... 44 Figura 3.12 - Brocas helicoidais com diferentes coberturas, a) Hélica, b) Futura Top, c) Alcrona Pro............................................................................................................ 45 Figura 3.13 - Especificação da broca helicoidal utilizada no ensaio..........................45 Figura 3.14 - Especificação dos corpos de prova para furação.................................46 Figura 3.15 - Desenho esquemático da placa para ensaio de vida. ..........................47 Figura 3.16 - Ensaios de vida da broca na furação do ferro fundido vermicular........ 47 Figura 4.1 - Micrografias do CGI (a) e (b) Grafitas vermicular e nodular sem ataque (c) Grafitas de vermicular e nodular e a matriz perlítica e ferrita, ataque nital 3% com objetiva 20x. .............................................................................................................. 51 Figura 4.2 - Diâmetro médio a profundidade de 10, 20 e 30 mm dos furos usinado á uma velocidade de 90 m/min. ....................................................................................54 Figura 4.3 - Gráfico dos Principais efeito para o Momento Torçor. ...........................56 Figura 4.4 - Gráfico dos principais efeitos para a Força de Avanço. .........................58 Figura 4.5 - Curva de desgaste (VB) desgaste do VBmáx para a Broca TiAlN ........ 59 Figura 4.6 - Critério de fim de vida da broca para um VB máx. de 0,25 mm ............. 59 Lista de Tabelas Tabela 2.1 - Propriedades mecânicas do ferro fundido (SINTERCAST, 2008). .......... 5 Tabela 2.2 - Composição química relacionado a matriz (SINTERCAST, 2008). ......... 5 Tabela 2.3 - Esforço de corte na furação (DINIZ, MARCONDES E COPPINI,2013).27 Tabela 2.4 - Particularidade dos meios lubro-refrigerantes (WEBSTER,1995). ........ 33 Tabela 3.1 - Variáveis de Controle da primeira etapa do processo de furação. ........ 48 Tabela 3.2 - Variáveis de controle da segunda etapa dos ensaios. ..........................49 Tabela 3.3 - Variáveis de resposta estudadas nos experimentos de furação. .......... 49 Tabela 4.1 - Característica metalografica do CGI. ....................................................51 Tabela 4.2 - Composição química do Ferro Fundido Vermicular. ............................52 Tabela 4.3 - Resultados de Dureza para o Ferro Fundido CGI ................................. 53 Tabela 4.4 - Análise de Variância para a medição de dureza. ................................. 53 Tabela 4.5 - Anova: Ângulo de ponta ........................................................................ 54 Tabela 4.6 - Análise de Influência das variáveis para o momento torçor .................. 55 Tabela 4.7 - Análise de contraste para influência do percurso da broca(i)............... 56 Tabela 4.8 - Análise de influência para a força de avanço. ....................................... 57 Tabela 4.9 - Análise de contraste para influência da cobertura (k) ...........................57 Tabela 4.10 - Resultado das interações (i),(j) e (k) sobre a rugosidade R(z) e R(a). 58 Lista de Abreviaturas e Siglas ap - profundidade de corte [mm] Aα - superfície principal de folga A’ α - superfície secundária de folga D- diâmetro da broca helicoidal [mm] f- avanço por rotação [mm/rot] h máx. - - espessura máxima do cavaco [mm] hipótese de nulidade H1 - hipótese de não nulidade KT - profundidade do desgaste de cratera [mm] n - rotações por minuto ou velocidade do fuso Vc - velocidade de corte [m/min] Vf - velocidade de avanço da mesa [mm/min] b - largura de corte [mm] d - diâmetro do pré-furo da peça [mm] Kc - pressão específica de corte [N/mm²] VB - desgaste de flanco [mm] Vb máx. - desgaste de flanco máximo [mm] VB méd.- desgaste de flanco médio [mm] - comprimento do lascamento da broca [mm] largura do lascamento da broca [mm] - momento torçor [Nm] - potência de corte [kW] - força de usinagem resultante [N] - força de corte [N] - força de avanço [N] - força passiva [N] H- desgaste de flanco nas guias [mm] Letras Gregas α - ângulo de folga (incidência) da ferramenta de corte [graus] β - ângulo de cunha de corte da ferramenta [graus] α - ângulo de hélice do gume principal [graus] re - raio de ponta [mm] σ- ângulo de ponta da broca [graus] φ- ângulo do gume transversal [graus] - ângulo de posição [graus] µ- média geral estatística µm- micrometro φ - ângulo de contato do dente em corte efetivo [graus] Abreviações ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas AD - Analógico Digital AlTiN - Nitreto de Alumínio Titânio ANOVA - Analysis of Variance (Análise de Variância) CNC - Comando Numérico Computadorizado F(calc.)- valor calculado para distribuição de Fisher F(tab.) - valor tabelado para distribuição de Fisher GL - Grau de Liberdade HB - Hardness Brinell HRC - Hardness Rockwell C HSC - High Speed Cutting HSM - High Speed Machining ISO - International Organization for Standardization NBR - Norma Brasileira Regulamentadora QMRes - quadrado médio dos resíduos QMTrat - quadrado médio dos tratamentos SSRes - soma dos quadrados dos resíduos SSTotal- soma dos quadrados totais SSTrat - soma dos quadrados dos tratamentos TiN - Nitreto de Titânio Al2O3 - Óxido de alumínio CBN - Nitreto de Boro Cúbico CGI - Compacted Graphite Iron CVD - Chemical Vapor Deposition DIN - DeutscheInstitut für Normung ISO - International Standardization Organization MnS2 - Bissulfeto de Manganês PVD - Phisical Vapor Deposition TiAlN - Nitreto de Alumínio e Titânio TiC - Carboneto de Titânio Ti (C, N)- Carbonitreto de Titânio TiN - Nitreto de Titânio WC/C - Carboneto de Tungstênio com Carbono SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.....................................................................................3 2.1 Ferro fundido............................................................................................................ 3 2.1.1 Ferro fundido vermicular ......................................................................................4 2.2 Processo de Furação. ..............................................................................................7 2.2.1 Geometria da Ferramenta....................................................................................8 2.2.2 Tipos de brocas ................................................................................................. 10 2.3 Materiais para ferramentas ....................................................................................14 2.3.1 Processos para cobertura de ferramentas .........................................................16 2.3.2 Revestimentos para ferramentas de usinagem ................................................. 18 2.4 Desgastes nas ferramentas de corte ..................................................................... 19 2.4.1 Mecanismos de desgaste .................................................................................. 21 2.4.2 Tipos de desgastes em brocas e critérios de fim de vida. ................................. 23 2.5 Forças em brocas helicoidais................................................................................. 26 2.6 Características da formação do cavaco na furação ............................................... 31 2.6.1 Classificação dos cavacos ................................................................................. 32 2.7 Meios lubro-refrigerantes e fluidos de corte ...........................................................33 2.7.1 Principais funções dos meios lubro-refrigerantes .............................................. 34 2.8 Usinabilidade ......................................................................................................... 35 2.8.1 Particularidades da usinabilidade de ferros fundidos ......................................... 36 2.8.2 Usinabilidade de ferro fundido vermicular..........................................................36 2.8.3 Importância da forma da grafita do ferro fundido vermicular..............................38 3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ..................................................................... 39 3.1 Materiais e Equipamentos......................................................................................39 3.1.1 Equipamentos. ................................................................................................... 39 3.1.1 Brocas Helicoidais .............................................................................................44 3.1.2 Corpos de prova. ...............................................................................................46 3.2 Planejamento Experimental dos ensaios ...............................................................48 3.2.1 Parâmetros constantes ......................................................................................48 3.2.2 Variáveis de controle .........................................................................................48 3.2.3 Variáveis respostas ...........................................................................................49 3.2.4 Planejamento Estatístico ...................................................................................49 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 51 4.1.1 Resultado da Microestrutura dos corpos de prova. ........................................... 51 4.1.2 Resultado da composição química do ferro fundido vermicular.........................52 4.1.3 Resultado da medição da dureza dos corpos de prova ..................................... 52 4.1.4 Geometria das Brocas Helicoidais ..................................................................... 53 4.1.5 Medição do diâmetro interno do furo ................................................................. 54 4.1.6 Análise de Variância ..........................................................................................55 4.1.7 Análise de Influência das variáveis para momento torçor. ................................. 55 4.1.8 Análise de contraste para o percurso da broca. ................................................ 56 4.1.9 Gráfico dos principais efeitos para o momento torçor........................................ 56 4.1.1 Análises de influência para força de avanço......................................................57 4.1.2 Análise de contraste para influência do revestimento. ....................................... 57 4.1.3 Gráfico dos principais efeito para a força de avanço. ........................................ 58 4.1.4 Análise de vida da ferramenta de corte para TiAlN ........................................... 59 5. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 61 6. SUGESTÕES PARA PRÓXIMOS TRABALHOS ...................................................62 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 63 ANEXO A - Classificação da Forma das Grafitas ........................................................71 ANEXO B - Composição química das amostras de CGI .............................................. 72 ANEXO C - Propriedades dos Revestimentos. ............................................................74 ANEXO D - Custos dos Revestimentos das Brocas.....................................................75 ANEXO E - Planejamento fatorial................................................................................. 76 ANEXO F - Planejamento aleatorizado por nível .........................................................79 ANEXO G - Especificação da geometria das brocas ...................................................80 1 CAPÍTULO 1 1. INTRODUÇÃO Com o potencial da industrialização voltado para utilização de máquinasferramenta mais produtivas, eficientes e de melhor rigidez estrutural, tornam-se disponíveis velocidades de operação diferenciadas, permitindo a utilização de condições de usinagem mais robustas. Tais condições acarretam no aumento do potencial de maximização da produtividade e dos processos de usinagem nelas desenvolvidos, gerando ganhos significativos. Com novas exigências e normas específicas referentes ao meio ambiente, o setor de pesquisa e desenvolvimento de produtos necessita fornecer materiais que possam gerar desempenho melhorado e que tenham baixo custo. Neste contexto, novos materiais como o ferro fundido vermicular CGI (Compacted Graphite Iron) revelam-se como opção viável para construções mecânicas, citando-se, por exemplo, blocos e cabeçote de motores a diesel. Este material, por ter características mecânicas superiores às do ferro fundido cinzento (também aplicado na fabricação de blocos e cabeçotes do motor a diesel), possui melhor resistência mecânica e estrutural. Assim, torna-se necessário conhecer seu grau de usinabilidade, a fim de compreender os critérios de fim de vida das ferramentas e as forças de usinagem presentes na sua manufatura. As características mecânicas do ferro fundido vermicular, quando aplicadas na indústria automobilística, por exemplo, oferecem a possibilidade de redução da espessura das paredes internas do bloco e cabeçote do motor a diesel, sem prejudicar a eficiência do bloco, e consequentemente, pressões mais elevadas nas câmaras internas de combustão podem ser aplicadas, aumentando a capacidade e potência do motor. Indiretamente, estas características proporcionam uma redução dos gases nocivos ao meio ambiente, justificando sua utilização. Os diversos fatores causadores dos desgastes em ferramentas de corte são motivo de investigação nas empresas de usinagem, pois influenciam nas dimensões finais do produto e ocasionam constantes paradas no processo para troca de ferramentas, criando custos adicionais e perda da produtividade. 2 O objetivo geral deste trabalho é contribuir para o desenvolvimento dos pesquisadores envolvidos no estudo do processo de furação do ferro fundido vermicular, especificado pela norma ASTM 842/2004, aplicando-se técnica de investigação associada ao conhecimento científico. O objetivo específico desta pesquisa é investigar os esforços de corte e o desgaste de três brocas helicoidais de metal duro com coberturas de TiAlN, AlCrN + x e AlCrN + y, no processo de furação do material CGI 450, também conhecido como CGI (Compacted Graphite Iron). Na primeira etapa dos ensaios utilizou-se um nível de velocidade de corte e um nível de avanço, permitindo assim identificar qual das ferramentas apresentou o melhor desempenho com relação ao momento torçor e à força de avanço durante a usinagem. Na segunda etapa do experimento utilizaram-se três níveis de velocidade de corte e um nível de avanço para analisar a vida da ferramenta, tomando-se como referência um VB máx. pré-determinado. Esta pesquisa está dividida em seis capítulos, de acordo com a descrição abaixo: Capítulo 1: Introdução; Capítulo 2: Revisão Blibliográfica, evidenciando as principais características do processo de furação, desgaste de ferramentas, geração de cavacos, esforços de cortes na usinagem e particularidade do material CGI. Capítulo 3: Procedimento Experimental realizado no trabalho. São descritos, materiais, a característica da máquina utilizada, ferramenta; técnica estatística adotadas, variáveis de controle e de resposta utilizada no estudo. Capítulo 4: Resultados e Discussões. São apresentados os resultados obtidos através da ANOVAs e gráficos e uma discussão descritiva. Capítulo 5: Conclusões Capítulo 6: Sugestões para Trabalhos Futuros 3 CAPÍTULO 2 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Ferro fundido. De acordo com Guesser (2009), o ferro fundido tem uma tradição expressiva na indústria automobilística, sendo objeto de estudo de várias pesquisas, tanto no desenvolvimento das suas propriedades quanto nos processos de fabricação. A exigência de desenvolver motores com melhor desempenho para que possam suportar grandes pressões com menor nível de emissão de poluentes, possibilitou a busca contínua por melhorias das propriedades deste material, como resistência mecânica, tenacidade, condutividade térmica, capacidade de amortecimento de vibrações associadas a uma boa usinabilidade. A Figura 2.1 mostra as características da morfologia da grafita do ferro fundido cinzento, nodular e vermicular. Figura 2.1 - Morfologia da grafita em ferros fundidos: a) cinzento; b) nodular e c) vermicular (GUESSER, 2009). De acordo com Chiaverini (2002), o ferro fundido é definido como uma liga ternária de ferro-carbono-silício, com teores de carbono superiores a 2,0%, apresentando-se na forma de carbono combinado ou livre. Este grupo de ligas tem importância para a indústria, devido às características existentes do próprio material, através da inclusão de elementos de liga, aplicação de tratamentos térmicos 4 adequados e desenvolvimento do ferro fundido nodular, que viabilizou seu emprego em aplicações que utilizavam exclusivamente o aço. Ainda, segundo Chiaverini (2002), os ferros fundidos podem ser classificados como: • Ferro fundido cinzento: apresenta estrutura com parcela relativamente grande de carbono no estado livre, na forma de grafita lamelar, e outra parcela na forma combinada de Fe3C. Possui boa usinabilidade com relação aos demais ferros fundidos; • Ferro fundido branco: sua estrutura apresenta o carbono quase inteiramente na forma de Fe3C, devido às condições de fabricação, e menor teor de silício, resultando num material de elevada dureza, resistente, quebradiço e de difícil usinabilidade; • Ferro fundido maleável: obtido a partir do ferro fundido branco recozido, resultando na transformação de praticamente todo Fe3C em grafita na forma de nódulos. A estrutura apresenta pouca ductilidade e tenacidade, mas boa usinabilidade; • Ferro fundido nodular: sua estrutura consiste de carbono livre na forma de grafita esferoidal, que confere ao material boa ductilidade e boa usinabilidade, similar a do ferro fundido cinzento; • Ferro fundido mesclado: caracterizado por uma mescla de proporções variáveis de ferro fundido branco e cinzento. 2.1.1 Ferro fundido vermicular Segundo Andrade (2005), no ferro fundido de grafita compactada (vermicular) a grafita apresenta-se em “escamas ou vermículas”, descritas na forma de plaquetas ou estrias, sendo um material intermediário entre o ferro fundido cinzento e nodular. Possui características de fundição do ferro fundido cinzento, com melhor resistência 5 mecânica e pouca ductilidade. Suas propriedades mecânicas podem ser observadas na Tabela 2.1. Tabela 2.1 - Propriedades mecânicas do ferro fundido (SINTERCAST, 2008). Propriedade Ferro cinzento Ferro vermicular Ferro nodular Resistência a tração [MPa] 250 450 750 Módulo de elasticidade [GPa] 105 145 160 Resistência a fadiga [MPa] 110 200 250 47 37 28 Condutividade térmica [W/m²K] A comparação de propriedade entre ferros fundidos cinzentos, nodular e vermicular com matriz perlítica são observadas na norma SAE J1887/2002. A resistência à tração, aliada à forma da grafita, explica em parte a pior usinabilidade do ferro fundido vermicular, cujas propriedades são intermediárias às do ferro fundido nodular e do ferro fundido cinzento (ROSA, 2009). Na Tabela 2.2 são apresentadas as composições químicas típicas relacionadas à estrutura da matriz. Segundo Rosa (2009) a especificação da composição química está conectada às propriedades mecânicas. Observa-se que na composição química não existe grande diferença entre os elementos químicos, ocorrendo apenas um aumento no percentual de alguns elementos residuais, tais como cobre e selênio, resultantes do controle da nodularização no CGI. Tabela 2.2 - Composição química relacionado a matriz (SINTERCAST, 2008). Estrutura da Matriz C Si Mn S P 70% Perlita 3,6 a 3,8 2,1 a 2,5 0,2 a 0,4 0, 005 a 0, 022 0,01- 0,1 100% Perlita 3,6 a 3,8 2,1 a 2,5 0,2 a 0,4 0, 005 a 0, 022 0,01- 0,1 Estrutura da Matriz Mg Cu Sn 70% Perlita 0,006 a 0,014 0,3 a 0,6 0,03 a 0,05 100% Perlita 0,006 a 0,014 0,6 a 0,9 0,08 a 0,10 Guesser (2009), afirma que o ferro fundido vermicular é o mais novo integrante da família dos ferros fundidos. A forma da grafita apresenta-se na forma de veios ou vermes, conforme visto na Figura 2.2. A matriz do CGI pode ser ferrítica, perlítica ou através de outras combinações dos seus microconstituintes, apresentar matriz diferente. A perlita influência significativamente na usinabilidade do material, matriz 6 de perlita que tenha maior quantidade de cementita podem dificultar o processo de usinagem. Figura 2.2 - Microestrutura do ferro fundido vermicular: grafita predominante em forma de vermes, com alguns nódulos, 5% nodularidade, sem ataque, 100x. (GUESSER, 2009). Xavier (2009) relata que do ponto de vista dos elementos químicos o ferro fundido vermicular (CGI) difere muito pouco, ou seja, é bem similar ao ferro fundido cinzento e ao nodular diferindo apenas na forma da grafita e na composição do Magnésio (Mg). A principal diferença na composição química do ferro fundido vermicular com relação ao ferro fundido cinzento (FC) e ferro nodular observam-se na quantidade de magnésio (Mg). No tradicional ferro cinzento não há magnésio, ou há uma quantidade muito pequena. No ferro vermicular o elemento químico magnésio (Mg) fica numa faixa bastante estreita ente 0,010% e 0,012%. Acima desta faixa o ferro deixa de ser vermicular e perde suas características. O ferro nodular que apresenta outras propriedades é utilizado na fabricação de virabrequins, com magnésio na faixa de 0,035% e 0,060%. Rosa (2009), o problema é que o ferro fundido vermicular é mais difícil de usinar que seu antecessor, o cinzento. Essa dificuldade é o motivo de muitos pesquisadores se interessarem pelo estudo deste material. Segundo Xavier (2009) bloco e cabeçote de motores a diesel, fabricados em CGI possuem aplicações típicas em coletores de exaustão (normalmente ligados ao Si e Mo) e aplicações em 7 blocos de motores diesel das novas gerações (da classe 450), exemplificados na Figura 2.3 e na Figura 2.4. Figura 2.3 - Bloco de motor e cabeçote CGI (TUPY, 2012). Figura 2.4 - Bloco de motor V6 em ferro fundido vermicular classe 450. (GUESSER, 2009). 2.2 Processo de Furação. Zeilmann et al., (2011), a furação é um dos processos de usinagem mais solicitados nas indústrias de manufatura. O objetivo é conseguir realizar furos geralmente cilíndricos, com algumas alternativas do processo observadas na Figura 2.5. A grande maioria das peças presentes nas indústrias tem pelo menos um furo e, somente uma parte muito pequena dessas peças já vem com o furo pronto proveniente do processo de fundição, forjamento, etc.(DINIZ, MARCONDES e COPPINI, 2013). Em geral, as peças têm que ser furadas em cheio ou terem seus furos aumentados através do processo de furação. 8 De acordo com DA Silva (2010), define que o processo de furação é um processo com movimento rotativo principal, sendo um processo de usinagem que apresenta movimento de corte circular e com remoção do cavaco. Figura 2.5 - Variantes do processo de furação (DA SILVA, 2010). 2.2.1 Geometria da Ferramenta De acordo com DA Silva (2010) as brocas utilizadas em usinagem, classificam as terminologias de broca helicoidal e suas formas construtivas, conforme mostrado na Figura 2.6. Figura 2.6 - Esquema das partes constituintes da broca helicoidal, (DA SILVA ,2010). 9 As terminologias das brocas podem ser descritas de acordo com a ABNT-NBR 6176 (2000). Outros autores também relatam sobre essas especificações a seguir. a) Canais Helicoidais Segundo Souza (2011), canais helicoidais são as superfícies de saída da ferramenta, isto é, são os canais por onde os cavacos serão removidos, ocorrendo à entrada do fluido de corte (para brocas helicoidais que não possuem refrigeração interna). b) Gume principal Segundo Santos e Sales (2007) e Sandvik (2011) o gume principal é a parcela do gume que está localizada na parte da ferramenta voltada para o sentido de corte, formada pela interseção do canal com a superfície lateral de incidência. c) Gume transversal Segundo Stemmer (2005), o gume transversal liga os dois gumes principais de corte e está situado na ponta da broca. A ação de corte do gume transversal não é eficiente, pois possui ângulo de saída negativo e velocidade de corte baixa devido à construção próxima do centro da broca. Além disso, o gume transversal é o responsável por aproximadamente metade da força de avanço da ferramenta. d) Guias Existem duas funções básicas das guias: a primeira é reduzir o atrito da ferramenta com a parede do furo, diminuído a superfície de contato da parede externa da broca. A segunda é conseguir reduzir os esforços necessários para a furação. e) Haste Responsável pela fixação da broca na máquina, apresentando-se sob formas cônicas e cilíndricas. f) Núcleo 10 Parte interior da broca que confere rigidez e possui espessura aproximada de 0,16D. Stoeterau (2007), as brocas utilizadas no processo de furação podem possuir de duas até quatros arestas de corte, e sulcos helicoidais por onde escoa o cavaco. O ângulo de ponta varia de 90º a 150º de acordo com a dureza do material a furar, sendo os ângulos de 118º e 120º mais utilizados para trabalhos com materiais macios. Os tipos de brocas mais comuns são: broca helicoidal, broca de centro, broca com pastilhas intercambiáveis, broca canhão e broca múltipla. Alguns exemplos de brocas helicoidais são representados na Figura 2.7. Figura 2.7– Exemplos de brocas helicoidais (STOETERAU, 2007). 2.2.2 Tipos de brocas Dentre os modelos de brocas disponíveis, as brocas helicoidais, as brocas canhão e as brocas BTA (Broaching Trepanig Association) possuem destaque. A broca helicoidal é sem dúvida a ferramenta de furação utilizada com maior frequência, motivo pelo qual será evidenciada neste trabalho. Segundo Stemmer (2005), os tipos de brocas mais conhecidos são: a) Broca chata Modelo clássico, aplicada para furos pouco profundos, em materiais frágeis e na furação de madeira, por não resistirem a grandes esforços. 11 b) Broca escalonada Empregada para executar furos e rebaixos numa única operação. Apontada para a produção em escala e para realização de furos com dois ou mais diâmetros, podendo combinar operações como furação, alargamento ou chanframento. c) Broca com canais de refrigeração É apropriada para produção contínua e em alta velocidade, basicamente em furos profundos. O fluido de corte é aplicado sob alta pressão. No caso do ferro fundido, a refrigeração é feita por meio de injeção de ar comprimido, que também auxilia a expulsar os cavacos. d) Broca de centro Utilizada para abrir um furo inicial que auxiliará como guia no local do furo, que será feito pela broca helicoidal. Apesar do furo, esta broca produz ao mesmo tempo chanfros que servem de superfície de referência para fixação entre pontas. e) Broca canhão Empregada em furos profundos, a broca canhão possui um único gume de corte. A principal vantagem desta ferramenta é que a injeção do fluido de corte é feita através da sua haste oca e a condução do cavaco acontece pelo canal em forma de “V” localizado na periferia da ferramenta, impedindo o entupimento. f) Broca oca de trepanação Este tipo de broca é empregado para furos com grandes diâmetros (acima de 120 mm) e em operações onde a utilização de outras brocas provocaria um grande desperdício de material na forma de cavaco, com maior tempo de usinagem. O uso deste tipo de broca é específico para produção de furos passantes, uma vez que a usinagem ocorre na periferia do furo, conservando intacto o material da parte central, que pode ser utilizado posteriormente. g) Broca de pastilhas intercambiáveis 12 Nesta ferramenta não existe aresta transversal de corte, devido ao posicionamento das pastilhas que estão localizadas na região central (primeira pastilha) e na extremidade (segunda pastilha). É utilizada na furação curta com diâmetros geralmente maiores que 12 mm e permite um bom rendimento em termos de produtividade. h) Broca helicoidal É a ferramenta mais aproveitada nas operações de furação. As brocas helicoidais podem ser de aço-rápido, com ou sem revestimento, fabricadas em metal duro inteiriço ou com pastilhas intercambiáveis, e são aplicáveis para a produção de furos curtos com diâmetros pequenos e médios. Oliveira (2008) relata que o ângulo de ponta () é constituído pelos dois gumes principais, no plano que se inicia o eixo principal da broca. O ângulo de ponta () tem influência na espessura do cavaco para um mesmo avanço. Quando utiliza-se um ângulo de ponta menor o cavaco torna-se mais fino e mais largo. No caso de materiais com baixa usinabilidade, o cavaco mais grosso é vantajoso pelo fato de permitir contato na face, num ponto mais afastado do gume. Um grande ângulo de ponta permite, usualmente, o aumento do avanço. Isto possibilita uma substancial redução no tempo de usinagem. Com o aumento do ângulo de ponta a centragem da ferramenta e o momento torçor tendem a diminuir (STEMMER, 2001). Os ângulos da broca helicoidal podem ser observados na Figura 2.8. Figura 2.8 - Ângulos de uma broca helicoidal. (DINIZ, MARCONDES e COPPINI,2013). 13 a) Ângulo de incidência ou ângulo de folga () É gerado pelo rebaixamento do flanco principal. Usualmente encontra-se entre 12 e 15 graus. O aumento do ângulo de incidência evita o esmagamento do material pelo flanco da broca, reduzindo a força de avanço. Por outro lado, também reduz a resistência do gume (TEIXEIRA, 1995; DINIZ, MARCONDES e COPPINI, 2013). b) Ângulo de saída () Este é um dos ângulos mais importantes da ferramenta, pois influi decisivamente na força e na potência necessária ao corte, no acabamento da superfície usinada e no calor gerado. Segundo Stemmer (2001) e Teixeira (2001) classificam-se três tipos de brocas quanto ao ângulo de saída: tipo N (materiais usuais como o aço), tipo H (para materiais duros e frágeis) e tipo W (para materiais de menor dureza). c) Ângulo do gume transversal (): É o menor ângulo formado entre o gume principal e o gume transversal. Este ângulo é determinado pelo ângulo de incidência (STEMMER, 2005). A broca helicoidal possui três tipos de hélice normalizada de acordo com a ISO 3685 (1993). Estes tipos podem ser observados na Figura 2.9. Figura 2.9 - Tipos normalizados de hélices para brocas helicoidais.(TEIXEIRA, 2001). 14 2.3 Materiais para ferramentas Segundo Machado et al., (2009), ainda não existem uma classificação geral dos materiais para ferramentas de corte de acordo com suas características químicas. Desta forma, a classificação conhecida pode ser agrupada da seguinte maneira: aços rápidos com cobertura e sem cobertura, metal duro com cobertura e sem cobertura, material cerâmico, nitreto de boro cúbico e diamante. Esta classificação pode ser observada na Figura 2.10. (CIMM,2012). Figura 2.10 - Classificação dos materiais aplicados como ferramentas de cortes (CIMM, 2012). Os materiais utilizados para ferramentas na usinagem do ferro fundido são normalmente de metal duro da classe K, apresentando boa vantagem com relação a resistência ao desgaste e resistência a elevadas temperaturas durante a operação de corte a) Aço rápido. Os aços rápidos são ferramentas de alta liga de tungstênio, molibidênio, cromo, vanádio, cobalto e nióbio. São considerados materiais tenazes, com elevada dureza a quente e resistência ao desgaste, onde sua estrutura no estado temperado é composta de carbonetos complexos em matriz martensítica (DINIZ, MARCONDES e COPPINI, 2013). b) Metal Duro 15 Machado et al., (2009) a ferramenta de metal duro é o tipo de material mais utilizado na usinagem. É uma liga de carboneto de tungstênio produzida pela metalurgia do pó através de prensagem e sinterização. É composta por uma mistura de pós de carbonetos e aglomerantes, que podem ser o cobalto, ferro ou níquel e ainda uma combinação deles, formando um corpo de alta dureza e resistência à compressão. Steoterau (2004) menciona que os requisitos básicos para uma broca são a tenacidade, resistência à compressão, resistência à abrasão, resistência térmica e resistência ao choque e fadiga. A pesquisa de novos materiais para ferramentas de corte tem conduzido ao aumento da velocidade de corte, das taxas de avanço e vida das ferramentas, permitindo assim elevar a produtividade no processo de furação (FERRARESI, 2006). Esta evolução pode ser observada na Figura 2.11. Entretanto, o aço-rápido e o metal duro atualmente dominam o mercado e são os mais importantes materiais na fabricação de brocas. (CIMM, 2012). Nota-se que a utilização de novos materiais está ganhando força notável no processo de furação, especialmente devido à tecnologia das máquinas CNC presentes no mercado, que garantem potência, rigidez e maiores gamas de rotação no processo de usinagem (XAVIER, 2009). Figura 2.11 - Evolução de novos materiais para ferramentas de corte e velocidades de trabalho aplicadas (CIMM, 2012). 16 2.3.1 Processos para cobertura de ferramentas Segundo Andrade (2005), alguns estudos comprovam que a deposição de revestimento pelo processo HT-CVD (High Temperature Chemical Vapor Deposition) fragiliza o substrato do metal duro. Como alternativa, o processo PVD (Physical Vapor Deposition) pode ser utilizado. Apesar de outros processos de deposição de revestimentos apresentarem características importantes para o processo de usinagem, neste trabalho será evidenciado apenas o processo PVD. De acordo com Oerlikon Balzers (2013), as etapas necessárias para o processo de revestimentos pelo método PVD são: 1- Limpeza do substrato, que deve estar livre de contaminações; 2- Preparação da carga fora da câmara de deposição; 3- Bombeamento para remoções dos gases residuais da câmara; 4- Aquecimento do substrato até a temperatura de ataque; 5- Ataque (limpeza do substrato com íons de argônio e/ou hidrogênio); 6- Deposição do revestimento. 7- Resfriamento (para evitar o descoloração das ferramentas de aço). Como exemplo, a etapa de bombeamento pode ser observada na Figura 2.12. Figura 2.12 - Sequência da etapa de bombeamento (OERLIKON BALZERS, 2013). A etapa de bombeamento é descrita segundo Oerlikon Balzers (2013): a válvula P1 abre-se e uma bomba turbo-difusora é evacuada até atingir uma pressão 17 P1, em torno de 10-1 a 10-2 mbar. As bombas são dimensionadas para trabalharem nesta faixa de pressão. Esta válvula, ao atingir P1 fecha, e a válvula do bypass se abre. A câmara é evacuada via bypass pela bomba de palhetas até atingir a pressão P2, com cerca de 10-1 a 10-2 mbar. Este procedimento garante que as bombas operem abaixo da pressão P1. Abaixo dessa pressão a válvula do bypass fecha-se e a válvula de auto vácuo e a válvula V1 se abrem. A câmara é agora evacuada pela bomba de auto vácuo. Durante todo o processo, os gases são bombeados pelas bombas de auto vácuo, sendo a pressão na câmara determinada pelo fluxo de gás inserido. Quanto mais gás se introduz, mais se eleva a pressão.Outro importante processo utilizado para deposição de coberturas ocorre empregando-se plasma. Sua aplicação permite a formação de revestimentos duros com PVD. Neste processo, o titânio-alumínio irá apenas reagir com o nitrogênio. O plasma pode ser utilizado para aquecimento e ataque, sendo então, uma tecnologia versátil para produção de revestimentos duros. Segundo Oerlikon Balzers (2013), o plasma é uma mistura de átomos de gás (argônio) ou moléculas (nitrogênio) de íons carregados positivamente (átomos que perderam um ou mais elétrons) com elétrons de carga negativa. No plasma os átomos estão divididos em íons e elétrons, apresentando reações que ocorrem em temperaturas na faixa de 200 – 500ºC, sendo esta considerada grande vantagem do PVD frente ao CVD, onde as reações ocorrem na faixa de 900 – 1000ºC. Na Figura 2.13 observa-se o esquema de deposição através do plasma. Figura 2.13 - Injeção de fluxo de argônio na câmera de revestimento quando utilizase plasma (OERLIKON BALZERS, 2013). 18 Nesta etapa a câmara é evacuada e é injetado um fluxo de argônio. O filamento é aquecido e emite elétrons. Se uma tensão é aplicada entre o catodo e o anodo, os elétrons são atraídos pelo anodo (tensão positiva). No caminho para o anodo os elétrons colidem com átomos de gás e produzem íons e elétrons, gerando assim o plasma, onde um campo magnético desvia os elétrons. Devido ao maior caminho para o anodo percorrer, mais colisões com gases ocorrem e, portanto, mais íons são produzidos, tornando o plasma mais estável. Para o ataque e cobertura o mesmo plasma é usado e apenas o anodo é trocado (anodo auxiliar no ataque / fonte de evaporação no revestimento). 2.3.2 Revestimentos para ferramentas de usinagem Abele, Sahm e Schulz (2007), afirmam que os revestimentos possuem menor coeficiente de atrito, permitindo a redução dos esforços de corte, garantindo melhor proteção térmica, menor desgaste por oxidação, alta dureza e melhor resistência. Segundo Chen et al., (2011) a ferramentas revestidas têm benefícios melhorados de performance e permitem maior velocidade de corte, atingindo o potencial das máquinas de corte modernas. Atualmente, os tipos de revestimentos mais usados no processo de furação são: TiC, TiN, TiCN,TiAlN e o AlCrN. Todos apresentam peculiaridades próprias como cor, dureza, espessura, aplicabilidade e desempenho. As principais características de cada um deles podem ser observadas a seguir: a) Carboneto de titânio (TIC) É um material que oferece resistência ao desgaste por abrasão. Apresenta-se quimicamente inativo, formando um bloqueio térmico e químico entre o cavaco e a ferramenta. Em razão da redução do atrito e menor condutividade térmica, permite uma redução na temperatura no gume, decrescendo a difusão (YUHARA, 2000). b) Nitreto de titânio (TiN) Apresenta uma ligação interna maior que o TiC em função da sua estabilidade química, tendo menor tendência à difusão na usinagem dos aços (KÖNIG e KLOCKE, 1997). 19 c) Nitreto de titânio e alumínio (TiNAl) Segundo Oliveira (2008), a cobertura de Nitreto de titânio alumínio é uma técnica na qual, durante a deposição, alguns átomos de Ti são substituídos por átomos de Al, garantindo maior resistência ao desgaste, oxidação e estabilidade química. Apresenta elevada resistência à oxidação que pode ser concedida à formação de uma camada externa de óxido de alumínio e uma camada interna de óxido de titânio composto na interface entre o revestimento e o substrato. Estas particularidades tornam esse revestimento o mais conveniente para a furação do ferro fundido vermicular. (ANDRADE, 2005). d) Carbonitreto de titânio (TiCN) Possui boa resistência ao desgaste de flanco (TiC) e estabilidade química (TiN), resistindo ao desgaste de cratera e à oxidação. É empregado na usinagem dos ferros fundidos em geral. e) Óxido de alumínio (Al2O3) Dos revestimentos relacionados anteriormente, o Al2O3 apresenta a menor tolerância de aderência ao substrato do metal duro. Porém, é o revestimento mais adequado à oxidação, aconselhável para usinagem em altas velocidades de corte. Apresenta alta resistência à abrasão e à difusão (KÖNIG e KLOCKE, 1997). f) Nitreto de cromo de alumínio (AlCrN) Apresenta-se como um revestimento de alto rendimento, livre de titânio e que faz parte da nova geração de coberturas. Possui rendimento excepcional para níveis de resistência à oxidação e dureza a quente, nunca alcançados anteriormente. Estas características concedem a este produto uma incomparável resistência ao desgaste, tanto em condições normais como sob esforços mecânicos elevados. Quando empregar-se este tipo de revestimento, a eficiência das ferramentas nas máquinas modernas pode ser explorada ao extremo. (OERLIKON BALZERS, 2013). 2.4 Desgastes nas ferramentas de corte 20 De acordo com Borba (2013), os tipos de desgaste da ferramenta de corte podem ser observados de acordo com a Figura 2.14. O desgaste de flanco (VB) acarreta baixa qualidade na peça usinada, imprecisões e aumento do atrito. O desgaste nas guias não gera aumento no momento torçor, mas o desgaste do gume transversal pode acarretar arredondamento da aresta e possível lascamento das zonas de transição. O desgaste de cratera representa a remoção de material por abrasão e difusão. O gume postiço corresponde à adesão do material da peça encruado na ferramenta. A fratura representa o fim catastrófico da ferramenta de corte. Figura 2.14 - Tipos de desgastes: a) Flanco; b) Guias; c) Cratera; d) Lascamento; (BORBA, 2013). Machado et al., (2009), afirma que a tomada de ações adequadas para diminuir a taxa de quebra das ferramentas durante o processo de usinagem deve ser realizada através do conhecimento dos mecanismos de desgaste. Podem-se identificar três tipos de desgastes da ferramenta de corte na usinagem: avaria desgaste e deformação plástica. Estes problemas promovem a mudança na geometria da ferramenta de corte. Os dois primeiros promovem a perda de massa, enquanto o último promove o deslocamento de massa da ferramenta de corte. 21 2.4.1 Mecanismos de desgaste As formas de desgaste se desenvolvem por vários mecanismos, podendo citar a abrasão, adesão, difusão e oxidação, que ocorrem em função da temperatura de corte, sendo influenciada principalmente pela velocidade de corte. Pode-se observar em baixas temperaturas que apenas os mecanismos de adesão e abrasão estão presentes, sendo a adesão predominante. Em temperaturas elevadas, a adesão perde lugar para mecanismos de difusão e oxidação em escala exponencial OLIVEIRA (2008). Os sistemas de desgaste da ferramenta de corte, de modo geral, ocorrem ao mesmo tempo, confundindo e impedindo a detecção da sua causa e efeito. Conforme mostrado na Figura 2.15, a dinâmica de cada um dos mecanismos de desgastes está associada à temperatura de corte durante a usinagem. Figura 2.15 - Fatores de desgaste de uma ferramenta de corte (KÖNIG e KLOCKE 1997). Segundo Sandvik (2011), os principais mecanismos de desgaste são: a) Abrasão 22 Resultante do deslizamento entre a peça e a ferramenta, provocando arranque de partículas do material em usinagem. É repetidamente causado pelas partículas duras do material da peça, mas também pelo aumento da temperatura de corte que diminui a dureza do material da ferramenta. A resistência à abrasão depende basicamente da dureza a quente da ferramenta de usinagem. b) Adesão Acontece quando se tem a ruptura dos micro-caldeamentos na face da ferramenta, os quais despontam da ação da temperatura e pressão presentes na zona de corte. Pode ser observada na superfície inferior do cavaco recém-retirado devido ao fato de estar livre das camadas protetoras de óxido, mostrando-se muito ativa quimicamente. O gume postiço é um exemplo da adesão do material nas superfícies da ferramenta. As partículas microcaldeadas, por sua vez, representam barreiras para o escoamento e deslizamento do cavaco sobre a superfície da ferramenta. Isto provoca o arranque das partículas soldadas, levando consigo, muitas vezes, pedaços do material de corte, causando então o fim precoce da vida da ferramenta. A escolha correta do fluido de corte e sua concentração, bem como a escolha de ferramentas revestidas, pode reduzir este tipo de desgaste. c) Gume postiço É motivado pela soldagem ou caldeamento do material em usinagem na face da ferramenta, que por esse motivo, assume a finalidade do gume a partir da situação no qual o material agarrado se deforma e encrua com o fluxo posterior de cavacos sobre ele. Fragmentos do gume postiço podem se desprender e escorregar entre o flanco e a superfície de corte, decorrente dos parâmetros de corte utilizados. Isto conduz a um desgaste exagerado do flanco por abrasão e uma má qualidade superficial. Neste caso, parte do material pode-se prender a superfície da ferramenta aumentando os esforços de corte. d) Difusão 23 É um processo decorrente da temperatura na zona de corte, iniciando-se pela instabilidade que as moléculas adquirem. As propriedades químicas do material da ferramenta e sua semelhança com o material da peça são decisivos para a manifestação deste mecanismo. Algumas ferramentas são projetadas exclusivamente para não possuírem interação química. A difusão é amplamente dependente das altas temperaturas, o que corresponde dizer que ela está ligada às altas velocidades de corte. e) Oxidação Acontece perante altas temperaturas e na presença de ar, com a formação típica de carepas. O metal duro, no qual a temperatura de oxidação oscila entre 700 e 800°C, está mais submetido ao mecanismo de oxidação quando composto somente de carboneto de tungstênio e cobalto. Os acréscimos de óxido de titânio e outros carbonetos reduzem a probabilidade de seu acontecimento. Ferramentas que possuem óxido de alumínio na sua composição estão menos propícias a este mecanismo de desgaste. f) Solicitações mecânicas e térmicas Solicitações mecânicas e térmicas exageradas podem acarretar danos ao gume da ferramenta, bem como deformação plástica, fissuras longitudinais, transversais e micro quebras (KÖNIG e KLOCKE, 1997). 2.4.2 Tipos de desgastes em brocas e critérios de fim de vida. O tempo de corte de uma ferramenta é chamado de tempo efetivo entre duas afiações sucessivas, sem contabilizar os tempos passivos. A perda da eficácia de corte é apontada através de um determinado grau de desgaste, decretando assim a troca da ferramenta da máquina quando alcançados os requisitos abaixo: Possibilidade de ruptura ou quebra do gume cortante da ferramenta; O gume da ferramenta está deteriorado; O desgaste da superfície de incidência da ferramenta não admite que as tolerâncias demandadas na peça sejam obtidas; 24 O acabamento superficial da peça usinada está fora do especificado; Alto desgaste da ferramenta promove o aumento progressivo da força de usinagem, interferindo no funcionamento da máquina (FERRARESI, 2006). Grenmyr et al., (2011), o fim do tempo de corte efetivo de uma broca é alcançado quando esta apresenta um desgaste excessivo em uma ou mais de suas partes consideradas indispensáveis para o processo de usinagem. Durante o préensaio, pode-se avaliar qual o tipo de desgaste possui maior influência na diminuição da vida da broca. Os principais tipos de desgaste são mencionados abaixo: a) Desgaste de flanco (VB) O desgaste de flanco acontece ao longo dos gumes principais da broca. Este modelo de desgaste da broca é o resultado da largura média de desgaste (VB méd.) e da largura máxima (VB máx. ) conforme mostra a Figura 2.16 (ANDRADE, 2005 e BOSSARDI, 2008). Figura 2.16 - Medição de desgastes de flanco (ANDRADE, 2005 e BOSSARDI, 2008). Segundo NOUARI et al., (2005) as medições sempre devem ter como referência o gume da broca enquanto nova, caso contrário durante a usinagem o gume desgastado deixa de ser uma referência. 25 b) Desgaste das Guias (H) Bork (1995), afirma que o desgaste das guias é medido a partir da quina da broca, conforme mostrado na Figura 2.17. Figura 2.17 - Posição para medição do desgaste em guias (BOSSARDI,2008). c) Desgaste de Cratera (Kb) Segundo Bossardi (2008), o desgaste de cratera é identificado nas faces da broca, especificado pela distância Kb, medida entre a posição original do gume e a borda da cratera mais distante, como mostrado na Figura 2.18. Figura 2.18 - Desgaste de cratera em brocas (BOSSARDI, 2008). d) Lascamento dos gumes São caracterizados pelas dimensões Pt e Pm como indicado pela Figura 2.19 (BORK, 1995). 26 Figura 2.19 - Lascamento no gume principal da broca (BORK,1995). e) Arredondamento das quinas É caracterizado pelo arredondamento da quina da broca, não levando em consideração se ocorreu no perímetro completo da quina ou não (Bossardi, 2008). Usualmente é caracterizado pelo crescimento do desgaste de flanco, até atingir a guia da broca. f) Colapso total Consiste na destruição ou quebra da broca. Durante o processo de usinagem o colapso total pode ser identificado pelo acréscimo da potência de corte ou pela modificação do som de corte. 2.5 Forças em brocas helicoidais Bordin, Nabinger e Zeilmann (2011) afirmam que nos esforços de corte, o momento torçor e a força de avanço são os principais esforços encontrados nas brocas helicoidais. São compostos pelos esforços parciais (como a resistência devido ao corte do material nas duas arestas principais de corte), resistência devido ao corte e esmagamento do material na aresta transversal, bem como o atrito nas guias e atrito entre a superfície de saída da broca e o cavaco. A apresentação dos esforços de corte decorrentes da operação de furação pode ser observada na Tabela 2.3. 27 Tabela 2.3 - Esforço de corte na furação (DINIZ, MARCONDES E COPPINI,2013). Esforços Momento torçor Força de avanço Arestas principais Aresta transversal Atrito 77 a 90% 3 a 10% 3 a 10% 39 a 59% 40 a 58% 2 a 5% Diniz, Marcondes e Coppini (2013), mencionam que os movimentos entre ferramenta e peça são aquelas que possibilitam a operação de usinagem. Alguns movimentos são considerados durante o projeto e a fabricação das máquinasferramentas. A mudança dos movimentos é constante, e para estudo das forças, define-se que a peça esteja parada e a ferramenta esteja em movimento. Esta convenção permite padronizar os sinais algébricos dos movimentos, sempre tendo como ponto de referência a peça. Esta alternativa favorece o estudo dos movimentos, sobretudo quando a usinagem ocorre com ferramentas de geometria complexa. A Figura 2.20 mostra os movimentos ativos do processo de furação, ou seja, movimentos que promovem remoção efetiva de material. Figura 2.20 - Direção dos movimentos de corte, de avanço e efeitos na furação (DINIZ, MARCONDES E COPPINI, 2013). De acordo com Souza (2011), a força gerada pela broca helicoidal no interior do furo é resultante do avanço contínuo realizado pelas duas arestas principais de corte, de forma que cada aresta desempenha metade do movimento de avanço. O movimento efetivo de corte faz com que o ângulo efetivo de corte αe seja menor que 28 o ângulo de folga (α). O valor de αe deve ser o maior possível para impedir o esmagamento do material pelo flanco da broca helicoidal. Contudo, quanto maior αe menor será a resistência da cunha e maiores as vibrações. Segundo Bagci e Ozcelik (2007), uma broca com um ângulo de ponta (σ) muito grande pode conduzir a desvios da trajetória de corte, aumentando assim o diâmetro usinado (broca não guiada). Porém, uma broca com ângulo de ponta (σ) muito pequeno direciona a broca helicoidal no centro geométrico com maior precisão, entretanto, pode ocorrer o aumento da força passiva e, consequentemente, do atrito. A Figura 2.21 mostra a área de seção transversal de corte da broca helicoidal, a seção transversal de corte A [mm²] no processo de furação é a área referente ao cavaco removido, medido perpendicularmente à direção de corte no plano de referência (SOUZA, 2011). . Figura 2.21 - a) Seção transversal de corte na furação em cheio; b) Furação com pré-furo (SOUZA, 2011). Stoeterau (2004), afirma que o momento torçor e a força de avanço no processo de furação podem também ser determinados através de equações empíricas. As forças de corte dependem basicamente do diâmetro da broca, do avanço e do material da peça. Estas componentes também contribuem para a determinação das forças e características da broca, bem como as condições externas que influenciam as características geométricas da ferramenta, como o 29 ângulo de ponta, o ângulo de hélice, a qualidade da afiação da ferramenta e o fluido de corte empregado. As forças de corte mostradas na Figura 2.22 não são mensuradas diretamente. As mesmas podem ser obtidas através da medição do momento torçor ( ), empregando-se a equação 2.1 e a equação 2.2: (2.1) (2.2) . Figura 2.22 - Forças atuantes nas arestas principais de corte (STEMMER, 2005). Kienzle 1951 apud Diniz, Marcondes e Coppini (2013), formulou um modelo mais reduzido para o cálculo da pressão específica de corte (Kc1.1) e cálculo da força de corte. A expressão de Kienzle pode ser descrita pela equação 2.3: (2.3) onde: = Ângulo de posição da Broca = expoente de Kienzle 30 = espessura do cavaco (mm) = pressão específica de corte para um cavaco de área A = b.h = 1 x 1mm² = largura de corte do cavaco, expressa na equação 2.4. E a espessura do corte do cavaco, expressa na equação 2.5. (2.4) (2.5) Diniz, Marcondes e Coppini (2013), argumentam que observando-se a espessura do cavaco, o modelo de Kienzle pode ser aplicado em qualquer tipo de operação de usinagem. O acréscimo da pressão específica de corte com a diminuição da espessura do cavaco é uma característica geral, eficiente para todas as operações. As cargas atuantes no processo de furação agem na aresta principal de corte, durante a furação com brocas helicoidais, podendo ser decompostas em três componentes: força de corte (Fc), força de avanço (Ff), força resultante (FR) e força passiva (Fp). A Figura 2.23 ilustra estas forças. Figura 2.23 - Forças atuantes nas arestas principais de corte(TRENT,2000). a) Força principal de corte (Fc) Determina a componente da força ativa na face da ferramenta, normal ao gume na direção do movimento (TRENT, 2000); b) Força de avanço (Ff) 31 Determina a componente da força na direção do avanço (TRENT, 2000); c) Força passiva (Fp) Determina a componente que tende a empurrar a ferramenta na direção radial (TRENT, 2000 e BOSSARDI, 2008). 2.6 Características da formação do cavaco na furação A compreensão da formação do cavaco é muito significativa, visto que este fenômeno está diretamente ligado aos aspectos econômicos da produção, podendo citar a qualidade da peça, emprego adequado da máquina-ferramenta, etc. Segundo Machado et al., (2009) um dos problemas do processo de furação é a remoção dos cavacos de dentro do furo. Se os cavacos não forem formados de maneira a propiciar sua fácil retirada do interior do furo, eles podem causar o seu entupimento, aumentando assim o momento torçor necessário para o corte, com consequente quebra da ferramenta. Ainda Machado et al., (2009) afirma que o aumento do avanço facilita a quebra do cavaco. Assim, a remoção do cavaco de dentro do furo torna-se mais tranquila, porém existe um limite para o aumento do avanço. Caso não seja respeitado tal limite, pode haver a quebra da broca ou até mesmo a interrupção do avanço da máquina. A quebra da broca helicoidal dentro do furo é um problema grave para o processo de furação, devido à perda da ferramenta e pela dificuldade de retirar a broca do interior do furo. É de extrema importância que se induza a geração de cavacos dotados de forma a permitir sua fácil remoção do furo. Cavacos em forma de fita possuem dificuldades para serem extraídos do furo. Cavacos na forma helicoidal e na forma de lascas são os que têm maior facilidade de remoção, principalmente quando empregam-se ciclos de furação tipo “pica-pau”, também caracterizados pelo movimento de avanço e retorno programado da broca. Este ciclo pode aumentar o tempo passivo de fabricação, mas existem outros métodos que utilizam brocas com canais internos para injeção de fluidos que auxiliam na remoção do cavaco. 32 2.6.1 Classificação dos cavacos Basicamente os cavacos podem ser classificados quanto ao tipo e forma. Segundo Ferraresi (2006) e quanto ao tipo os cavacos podem ser: Cavaco contínuo: apresenta-se constituído de lamelas justapostas numa disposição contínua e agrupadas em grupos lamelares; Cavaco de cisalhamento: apresenta-se constituído de grupos lamelares bem distintos e justapostos; Cavaco de ruptura: apresenta-se constituído de fragmentos arrancados da peça usinada. Segundo Stoeterau (2004) os cavacos contínuos e de cisalhamento podem ser classificados quanto à forma em: cavaco em fita, cavaco helicoidal, cavaco espiral, cavaco em lascas ou pedaços. A Figura 2.24 ilustra as diferentes formas de cavaco. Figura 2.24 - Formas de cavaco no processo de usinagem (STOETERAU, 2004). Segundo Amorim (2003), na usinagem do ferro fundido o cavaco é arrancado, sendo uma característica comum dos materiais frágeis ou de estrutura diferente, onde as partículas da peça são arrancadas em forma de lascas ou pedaços. O cisalhamento ocorre com relação à grafita, que possui menor resistência mecânica, e também pela descontinuidade da matriz. Precisamente a formação de cavacos nos ferros fundidos é diretamente afetada pelos aspectos da grafita e pelo mecanismo de propagação de trincas no material. A Figura 2.25 ilustra o mecanismo de formação de cavacos em ferros fundidos cinzentos e nodulares. 33 Figura 2.25 - Mecanismo de formação de cavaco em ferro fundido cinzento (MARWANGA,VOIGT e COHEN,1999 e GUESSER, 2009) 2.7 Meios lubro-refrigerantes e fluidos de corte Segundo Bossardi (2008), os primeiros passos dados sobre meios lubrorefrigerantes surgiram há mais de 100 anos. Por isso, as pesquisas atuais têm sido determinantes para o desenvolvimento dos fluidos de corte. O estudo específico das possíveis combinações de óleos minerais, óleos graxos e aditivos demonstram a importância da utilização dos fluidos de corte nas operações de usinagem. Braga (2001) relata que os mecanismos de lubro-refrigeração, isto é, óleo e água, utilizados separadamente no processo de usinagem, não apresentam um desempenho eficiente no processo de furação. Na Tabela 2.4 podem ser observadas algumas particularidades dos fluidos de corte. Tabela 2.4 - Particularidade dos meios lubro-refrigerantes (WEBSTER,1995). 34 Alves et al., (2011), inicialmente, os fluidos de corte eram relacionados como fluidos à base de óleo e de água, classificados de acordo com sua constituição química. Com o desenvolvimento dos fluidos sintéticos, estas especificações foram distribuídas em quatros grupos: óleo puro, óleo emulsionável, fluido semi-sintético e fluido sintético. Segundo Bossardi (2008), existem outros tipos de fluidos, podendo citar os gases, nevoas e sólidos (MoS2). O meio lubro-refrigerante tem como finalidade melhorar o processo de usinagem dos metais, sendo subdividas em melhorias de caráter funcional e melhorias de caráter econômico (FERRARESI, 2006 e BOSSARDI, 2008). Caráter funcional é a particularidade que favorece o processo de usinagem focando no desempenho do processo, como refrigeração da máquina-ferramenta, refrigeração da ferramenta e da peça durante a usinagem, auxiliando na redução do coeficiente de atrito entre a ferramenta e cavaco. Contribuem para retirada do cavaco da região de corte e melhoram o acabamento superficial da peça em usinagem (FERRARESI, 2006). O caráter econômico apresenta um único objetivo, a usinagem mais rentável. Tem como característica reduzir o consumo de energia de corte e minimizar o custo da ferramenta na operação, garantindo a ausência de corrosão da peça durante a usinagem (FERRARESI, 2006). 2.7.1 Principais funções dos meios lubro-refrigerantes As principais funções dos meios lubro-refrigerantes são permitir uma lubrificação eficiente no processo de corte e refrigerar as zonas de corte. A distribuição da temperatura na ferramenta pode ser observada na Figura 2.26 (CIMM, 2012). Figura 2.26 - Distribuição de temperaturas na região de corte (CIMM, 2012). 35 Os meios lubro-refrigerantes reduzem o calor gerado durante a operação de corte. Como resultado, a ferramenta é impedida de alcançar sua temperatura crítica, acima da qual se desgasta rapidamente. As temperaturas envolvidas na área de corte possuem diferenças consideráveis. A distribuição do calor gerado entre ferramenta, peça e cavaco pode ser observada na Figura 2.27. Nota-se que a maior parte do calor gerado no processo está associada ao cavaco formado. Figura 2.27 - Distribuição de calor na região de corte (CIMM, 2012). De acordo com Mocellin (2002), as pressões entre a ferramenta e a peça são muito elevadas. Aproximadamente 75% da temperatura são conduzidas ao cavaco, e a temperatura máxima não deve ocorrer no gume da ferramenta, mas sim na região mais afastada do gume (TEIXEIRA, 2001). Se não existir uma remoção apropriada do calor, poderão acontecer distorções térmicas nas peças usinadas, desgaste rápido e precoce em função da perda de têmpera na ferramenta (ANDRADE, 2005 e BOSSARDI, 2008). 2.8 Usinabilidade Mocellin (2002), afirma que a usinabilidade de um material envolve todas as propriedades do mesmo, tendo influência sobre o processo de usinagem. A usinabilidade de um material geralmente é avaliada através da análise da vida da ferramenta de corte, da força de usinagem e da potência consumida, bem como a forma geométrica dos cavacos e qualidade superficial da peça (DORÉ, BOEHS e GUESSER 2007). 36 2.8.1 Particularidades da usinabilidade de ferros fundidos Segundo Chiaverini (2002), os ferros fundidos são ligas constituídas por mais de 2% de carbono e de 1 a 3% de silício. Apresentam microestrutura composta por uma matriz metálica e uma quantidade variada de ferrita, perlita, martensita, bainita e carbonetos, que podem ocorrer em função da composição química ou das condições de resfriamento. Alguns elementos como níquel, cromo, molibdênio e cobre são acrescentados à liga para aumento da resistência à corrosão e ao calor. De acordo com König e Klocke (1997) e Andrade (2005) a usinabilidade dos ferros fundidos varia de acordo com a quantidade e aspecto da grafita, podendo diminuir o atrito entre a ferramenta e a peça. Guesser (2009), afirma que o efeito deste componente melhora a usinabilidade quando comparado a outros materiais que não contêm grafita na sua estrutura, como é o caso dos aços. Como efeito considerável da presença da grafita, ocorrem à geração de cavacos quebradiços (característica dos materiais frágeis como o ferro fundido), e consequentemente, menores forças de corte. Assim, pode-se obter menor consumo de potência para usinagem e um aumento da vida da ferramenta de corte (KÖNIG E KLOCKE, 1997). A estrutura metálica dos ferros fundidos interfere de forma expressiva na sua usinabilidade, onde os ferros fundidos de alta resistência e dureza (com fases de martensita, bainita e esteadita) podem prejudicar o processo, exigindo a redução dos valores dos parâmetros de corte. 2.8.2 Usinabilidade de ferro fundido vermicular O Ferro Fundido Vermicular (CGI, na sigla inglesa) tem resistência à tração (75%) e tenacidade (30 – 40%) maiores quando comparado ao ferro fundido cinzento. Sendo mais difícil de ser usinado do que este material (MOCELLIN, 2002). Existem dois pontos importantes para a usinabilidade do CGI: rigidez da microestrutura e controle da nodularidade. Para que possa ocorrer boa usinabilidade, é preciso que as partículas de grafita na forma de nódulos não ultrapassem o índice de 20% nas áreas a serem usinadas. Em compensação, nas paredes externas que não necessitarem de usinagem, a nodularidade mais alta é responsável por garantir maior resistência às mesmas (BOSSARDI, 2008). 37 Segunda Rosa (2009) o controle da nodularidade do ferro fundido vermicular pode ser realizado com adição de 0,1 a 0,2% de titânio. Estudos mostram que a produção de CGI sem titânio torna a usinabilidade igual ou até superior a dos ferros cinzentos. Em outros casos, é comum a presença do titânio nos ferros fundidos com teores compreendidos entre 0,005 a 0,02%. Dawson et al., (2001) afirmam que para os ferros fundidos vermiculares, essa quantidade gira em torno de 0,01% e pode levar ao surgimento de inclusões com dureza maior do que alguns materiais de corte. A presença do titânio também pode levar a maior dificuldade de usinagem com relação ao ferro fundido cinzento, dependendo do tratamento com magnésio realizado a quantidade baixa desse elemento causa a ausência da camada de sulfeto de manganês (MnS2) na usinagem do CGI. Esta camada contém uma espessura que é exatamente proporcional ao aumento da velocidade de corte e, dessa forma, o aumento da temperatura de corte atua como uma proteção à ferramenta. Esta característica pode influenciar na diferença da vida das mesmas na usinabilidade destes materiais, conforme ilustrado na Figura 2.28 (BOSSARDI, 2008). Figura 2.28 - a) Presença de MnS2 como camada protetora do gume da ferramenta de PCBN na usinagem do ferro fundido cinzento; b) Escassez da camada de MnS2 (MASSIRER JUNIOR; BOSSARDI,2008). Em síntese, a camada de MnS2 é responsável pela diferença na performance das ferramentas de corte na usinagem dos materiais devido ao aumento da sua 38 espessura, e também em função do aumento da velocidade de corte (DAWSON et al., 2001 e BOSSARDI, 2008). 2.8.3 Importância da forma da grafita do ferro fundido vermicular Segundo Dawson et al. (2001), existem várias características metalúrgicas que podem influenciar a usinabilidade do ferro fundido vermicular, especialmente quando a forma da grafita está modificada. Como exemplo, a ilustração da Figura 2.29 mostra o início da fratura e seu crescimento, deixando o ferro fundido cinzento frágil. Ainda na mesma figura pode-se observar a morfologia das grafitas do ferro fundido vermicular que não admitem clivagem e desenvolvimento de trincas. Hieber (1994) afirma que a fratura do ferro fundido vermicular se inicia na interface da grafita vermicular com a matriz metálica. Figura 2.29 - a) Crescimento de trincas na grafita lamelar do ferro cinzento à frente da ferramenta de corte; b) Dificuldade de propagação de trincas nas grafitas vermiculares devido à forma (BOSSARDI, 2008). De acordo com Barbosa (2009), as grafitas na forma nodular sempre estarão presentes na estrutura do ferro fundido vermicular. Assim, a resistência mecânica e a tenacidade tendem a aumentar, contudo, a fundição, usinabilidade e condutividade térmica serão prejudicadas. Segundo Mocellin et al.,(2004), na usinabilidade de blocos de motores fabricados em CGI, os processos de furação e fresamento tiveram a vida das ferramentas encurtada pela metade do tempo em função da característica apresentada pelo material, sendo a falta do MnS2 a forma da grafita no material. 39 CAPÍTULO 3 3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Os procedimentos experimentais foram realizados nos laboratórios de Engenharia Mecânica da UFSJ. Os ensaios foram divididos em duas etapas, na primeira etapa foram realizados experimentos de medição dos esforços das brocas helicoidais para avaliação de qual broca que apresenta os menores esforços de corte, sendo o momento torçor e a força de avanço. Na segunda etapa foi realizado o ensaio de vida da broca que apresentou os menores esforços. 3.1 Materiais e Equipamentos 3.1.1 Equipamentos. Os procedimentos experimentais foram realizados no Laboratório de Processos de Fabricação do DEMEC / UFSJ, mais especificamente, no centro de usinagem DICOVERY 560 / ROMI com potência máxima de 15 KW, rotação máxima de 10.000 RPM e comando CNC Siemens. A Figura 3.1 ilustra a máquina ferramenta. Figura 3.1 Centro de Usinagem ROMI – DISCOVERY 560. Fonte: autoria própria. 40 Os furos usinados foram passantes e as brocas foram de mesma geometria, confirmada utilizando-se do projetor de perfil Digimess, modelo 400.400, conforme Figura 3.2 Figura 3.2 - Projetor de perfil Digimess 400.400. Fonte: autoria própria. A medição do diâmetro interno do furo foi obtida utilizando o micrômetro interno de três contatos, o Borematic Mitutoyo, Série 568, com ajuste de tolerância de 0,400 mm e resolução de 0,001 mm obsevado na Figura 3.3 A. As rugosidades da parede do furo foram obtidas para os ensaios de vida da ferramenta em um Rugosímetro Surftest SJ-400 Mitutoyo mostrado na Figura 3.3B e foram medidas em três posições axiais, espaçadas de 120°. A B Figura 3.3 - Borematic Mitutoyo (A) Rugosímetro Surftest Mitutoyo (B). Fonte: autoria própria. 41 A dureza Rockwell B (HRB) foi realizada em um durômetro WPM, Figura 3.4 A, com penetrador de esfera com diâmetro de 1,59 mm, aplicando-se uma carga de 100 kgf, nos corpos de prova conforme da Figura 3.4 B. Os resultados obtidos serão apresentados no próximo capítulo. A B Figura 3.4 - Durômetro WPM (A) e Corpos de prova (B). Fonte: autoria própria. Os ensaios de tração do ferro fundido vermicular, com três réplicas, foram feitos na máquina de tração EMIC, do modelo DL10000, capacidade de 100 kN (10.000 kgf), (Figura 3.5A), os corpos de prova usados mostrados na Figura 3.5 (B).Os corpos de prova foram usinados nas dimensões conforme a norma ASTM E8/E8M − 13a (Figura 3.6). A B Figura 3.5 - Máquina EMIC (A) e Corpos de Prova (B). Fonte: autoria própria. 42 Figura 3.6 - Dimensões do corpo de prova (ASTM E8/E8M − 13a.) As Micrografias foram obtidas em um microscópico Olympus BX 51, com sistema óptico UIS (sistema infinito universal), com tecnologia de fluorescência avançada ou contraste de interferência diferencial DIC (Normarski) com câmera SC30 com objetivas de 10x, 20x, 50x e 100x e software Stream motion, Figura 3.7A. Os corpos de prova para o ensaio de micrografia foram submetidos a um polimento e, através de fotos, foram avaliados os tipos de grafita e a percentagem de grafita nodular e vermicular a Figura 3.7B ilustra os corpos de prova. Figura 3.7 - (A) Microscópio Olympus BX51(B) Corpos de prova para micrografia. Fonte: autoria própria. Em cada ensaio, as variáveis de respostas representadas pelas forças ortogonais e o momento torçor foram monitoradas. Para isso, foi utilizado o dinamômetro piezoelétrico estacionário com quatro canais Kistler 9272, um amplificador de sinais Kistler 5070A e o software DynoWare, ambos da empresa Kistler. O conjunto foi interligado a um microcomputador com processador Intel Pentium Dual Core 2.2GHz com 2GB de memória RAM, permitindo registrar os sinais dessas variáveis, Figura 3.8. 43 Figura 3.8 - Dinamômetro Kistler 9272(a); Amplificador de carga Kistler 5070A(b) e interface do software kistler DynoWare(c).(UFSJ, 2013) Para medir o referido desgaste foi utilizado o microscópico Mitutoyo TM-500, o software com câmera Moticam 2300 de 3.0 MPixels e, também, utilizou-se o software de processamento de imagens Motic lmages Plus 2.0, conforme ilustrado na Figura 3.9. Figura 3.9 - Microscópio MitutoyoTM-500 com câmera moticam. Fonte: autoria própria. Para os experimentos de furação foi utilizado o sistema de fixação da broca helicoidal, o porta pinças de precisão BT-40 - DIN ISO 15488-C. A seguir, na Figura 3.10, ilustra-se o dispositivo de fixação utilizado para broca helicoidal com haste cilíndrica- DIN 1835A e DIN 6535- HA. A Figura 3.11, ilustra a montagem do sistema de fixação BT- 40 com a broca helicoidal. 44 Figura 3.10 - Desenho esquemático do sistema de fixação da broca. Fonte: adaptado SANCHES BLANES, 2013. Figura 3.11 - Montagem do porta pinça BT-40 com a broca. Fonte: autoria própria. 3.1.1 Brocas Helicoidais Para os ensaios de furação em ferro fundido vermicular CGI (ASTM A 842/2004) foi utilizado à broca de Metal Duro revestido e com diâmetro de 10 mm, especificação R842-1000-30-A1A, da classe GC1210, com geometria de ponta 45 especialmente desenvolvida com ponta-chanfro de 45º para reforço da aresta e melhor qualidade do furo e com ângulo de posição de 70º, todas as brocas possuem a mesma geometria, a Figura 3.12 apresenta a brocas utilizadas nos ensaios e a Figura 3.13 ilustra o perfil geométrico das brocas utilizadas nos ensaios de furação. Figura 3.12 - Brocas helicoidais com diferentes coberturas, a) Hélica, b) Futura Top, c) Alcrona Pro. Fonte: autoria própria. Figura 3.13 - Especificação da broca helicoidal utilizada no ensaio. Fonte: adaptado SANDVIK, 2011. 46 3.1.2 Corpos de prova. Para o monitoramento dos esforços de corte foram confeccionados corpos de prova com dimensões de 30x 40x40 mm para ser posicionado no dinamômetro Kistler 9272, foram utilizados nove corpos de prova e em cada um foram realizados sete furos, totalizando 54 ensaios e todos os furos foram passantes. A Figura 3.14 ilustra as dimensões dos corpos de prova para os ensaios da primeira etapa do experimento. Figura 3.14 - Especificação dos corpos de prova para furação. Fonte: autoria própria. Para o ensaio de vida da ferramenta foi utilizado uma placa com dimensões de 400x250x40mm que foi fornecido pelo Centro Tecnológico de Fundição Marcelino Corradi, CETEF/SENAI/FIEMG, de Itaúna/MG, a Figura 3.15 ilustra o desenho esquemático da placa para o ensaio de vida da broca e antes de realizar o ensaio de vida, a placa foi fresada em uma de suas faces, retirando-se 2 mm de sobremetal com a intenção de eliminar a zona coquilhada, a qual poderia interferir na vida da 47 ferramenta de corte, por se tratar de uma camada de maior dureza da superfície da placa. Figura 3.15 - Desenho esquemático da placa para ensaio de vida. Fonte: autoria própria. Os ensaios foram realizados com distância de 13 mm entre as linhas de centro dos furos, a Figura 3.16, mostra o ensaio de vida da broca helicoidal. Figura 3.16 - Ensaios de vida da broca na furação do ferro fundido vermicular. Fonte: autoria própria. 48 3.2 Planejamento Experimental dos ensaios 3.2.1 Parâmetros constantes Para a primeira etapa dos ensaios do monitoramento dos esforços de corte foi mantido a velocidade de corte constante de 90 m/min e o avanço de 0,26 mm/ rot. Para a segunda etapa que é a análise da vida da broca foi mantido o avanço constante de 0,20 mm/rot. e sem o meio auxiliar lubro-refrigerante. Para o caso de usinagem com uso de meio auxiliar lubro-refrigerante, optou-se pelo óleo solúvel biodegradável, BIO 100 E, da Biolub Química Ltda, com emulsão de 10%. Para os ensaios de vida da broca, na condição indicada pelos resultados preliminares, a variável de controle foi o desgaste frontal (VB) limitado em um máximo de 0,25 mm, medido a cada comprimento de avanço equivalente a vinte furos. 3.2.2 Variáveis de controle Os fatores de controle (variáveis de entrada) bem como seus respectivos níveis para os ensaios preliminares foram avaliados para a primeira etapa dos experimentos, sendo o tipo de ferramenta de metal duro com revestimento em três níveis, o meio auxiliar lubro-refrigerante em dois níveis e o comprimento de avanço da broca (lf) em três níveis. Os ensaios foram realizados para um único avanço e velocidade de corte da broca na primeira etapa dos experimentos. Os dados são apresentados na Tabela 3.1. A Tabela 3.2, apresenta as variáveis de controle para a segunda etapa dos experimentos. Tabela 3.1 - Variáveis de Controle da primeira etapa do processo de furação. Fatores de Controle Profundidade (i) Unidade mm Níveis 3 Refrigeração( j ) - 2 Avanço da broca mm/rot 1 Especificações 10,20 e 30 Com refrigeração Sem refrigeração 0,26 Velocidade de corte m/min 1 90 - 3 Futura Top Alcrona-Pro Hélica Broca metal duro (k) 49 Tabela 3.2 - Variáveis de controle da segunda etapa dos ensaios. Fatores de Controle Unidade Níveis Especificações - 1 Sem refrigeração mm/rot m/min 1 3 0,2 90, 110 e 130 - 1 Futura Top Refrigeração Avanço da broca Velocidade de corte Broca de metal duro 3.2.3 Variáveis respostas As principais variáveis de resposta do processo de furação avaliadas neste trabalho na primeira etapa foram às forças de avanço (Ff) e o momento torçor (Mt) e os parâmetros de rugosidade média (Ra) e máxima (Rz). A variável resposta para a segunda etapa dos experimentos foi o desgaste de flanco (VBMÁX.). A Tabela 3.3 apresenta todas as variáveis respostas estudadas. Tabela 3.3 - Variáveis de resposta estudadas nos experimentos de furação. Variáveis de resposta Unidade Tipo Momento torçor (Mt) Força de Avanço (Ff) N.m N Quantitativo Quantitativo Rugosidade Máxima (Rz) µm Quantitativo Rugosidade Média (Ra) µm Quantitativo Desgaste de Flanco (VB MÁX) mm Quantitativo 3.2.4 Planejamento Estatístico O planejamento experimental foi delineado como sendo estatístico fatorial, aleatorizado por níveis e modelo de efeito fixo. Para as variáveis de influência foram selecionadas as coberturas das brocas de Metal Duro em três níveis, sendo AlCrN+y(Hélica),TiAlN(Futura Top) e AlCrN+x(Alcrona Pro), e o meio lubrorefrigerante em dois níveis, sendo úmido aplicado emulsão abundante e sem fluido e o comprimento de avanço da broca em três níveis 10 mm, 20 mm e 30 mm. As observações em um modelo fatorial podem ser apresentadas por um modelo estatístico fundamentado por (MONTGOMERY e RUNGER, 2003). Neste 50 trabalho, como foram adotadas três variáveis de controle, o modelo estatístico é denominado com três fatores de efeitos fixos e é representado no Anexo E. Para o caso de ocorrer alguma fonte de variação entre as médias de seus níveis, é necessário identificar quais níveis ou combinação de níveis são estatisticamente diferentes. Neste caso foi utilizado o método estatístico de múltipla comparação. O Anexo F apresenta detalhe sobre o método de comparação múltiplo. 51 CAPÍTULO 4 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A seguir serão apresentados os resultados e discussões dos experimentos de furação. Serão apresentados a influência das variáveis de controle (fatores) estudadas nas diversas variáveis de resposta estudadas. Através das ANOVAs, gráficos e diagramas, análise metalográfica, neste capítulo será feita a discussão dos resultados apresentados neste trabalho. 4.1.1 Resultado da Microestrutura dos corpos de prova. Para analise da microestrutura da seção transversal, foram retiradas amostras semicirculares dos corpos-de-prova da placa, permitindo avaliar constituintes do tipo de grafita, e também, percentuais de grafita nodular e vermicular, o Anexo A apresenta algumas formas de grafita presente no ferro fundido. Pelo ataque químico com nital a 3% pôde-se estimar o percentual de perlita e grafita no material. A Figura 4.1 ilustra as imagens obtidas do Microscópio Olympus BX51 e o resultado da matriz perlita e ferrita são apresentados na Tabela 4.1. Figura 4.1 - Micrografias do CGI (a) e (b) Grafitas vermicular e nodular sem ataque (c) Grafitas de vermicular e nodular e a matriz perlítica e ferrita, ataque nital 3% com objetiva 20x. Tabela 4.1 - Característica metalografica do CGI. Amostra 1 2 Matriz 86% Perlita 14% Ferrita 85% Perlita 15% Ferrita Forma da Grafita Nodularização lll - VI 15% lll - VI 13% 52 Algumas das propriedades mecânicas dos ferros fundidos estão ligadas a característica metalografica do material, a forma da grafita em nódulos faz com que o material apresente uma boa ductilidade em relação à grafita lamela que têm a característica de melhor resistência mecânica. A caracterização da perlita é importante, por ter influência significativamente na usinabilidade do material, a matriz do material que apresenta perlita com maiores quantidade de cementita podem dificultar o processo de usinagem. 4.1.2 Resultado da composição química do ferro fundido vermicular. A composição química do ferro fundido vermicular, obtida através da análise química por espectrometria ICP (Plasma) e combustão direta infravermelha, é mostrada na Tabela 4.2. O Anexo B apresenta a análise química detalhada do material estudado, fornecido pelo Laboratório do Senai de Itaúna/MG. Tabela 4.2 - Composição química do Ferro Fundido Vermicular. Elementos Concentração % Carbono ( C ) 3,5 Enxofre ( S ) 0,0145 Silício ( Si ) 2,252 Manganês ( Mn ) 0,62 Magnésio ( Mg ) 0,012 Fósforo ( P ) 0,083 Titânio ( Ti ) 0,046 Os elementos químicos do ferro fundido vermicular (CGI) com relação ao cinzento e nodular apresentam pouca diferença, o CGI é bem similar ao ferro fundido cinzento e ao nodular diferenciado apenas pela forma da grafita e na composição do Magnésio (Mg). A principal diferença na composição química está na quantidade de magnésio (Mg). No ferro cinzento existe uma quantidade muito pequena, porém, no ferro vermicular o elemento químico magnésio (Mg) apresenta uma faixa bastante estreita ente 0,010% e 0,012%. Acima desta faixa o ferro deixa de ser vermicular e perde suas características. 4.1.3 Resultado da medição da dureza dos corpos de prova 53 A Tabela 4.3, apresenta o resultado da dureza Rockwell B (HRB) dos corpos de prova analisado, a dureza média foi de 94,4 Rockwell B, entretanto, através do método estatístico Anova foi verificado se existe uma diferença significativa entre as variâncias da dureza com um nível de significância de 95%, a Tabela 4.4 apresenta o resultado da Anova de que não existe uma diferença significativa entre as variâncias da dureza, portanto, estatísticamente a face do material utilizado apresenta uma dureza média em toda sua área de 94,4 HRB. Tabela 4.3 - Resultados de Dureza para o Ferro Fundido CGI Medição de Dureza Rockwell B (HRB) Núcleo 0 1 2 1 2 Média Nº 1 94 92 89 96 96 93,4 2,65 Nº 2 95 94 96 95 95 95 0,63 Nº 3 95 94 93 96 94 94,4 1,02 94,4 1,02 Dureza Média Desvio Padrão Tabela 4.4 - Análise de Variância para a medição de dureza. ANOVA Fonte da variação SQ Gl MQ F Entre grupos 6,17 2,00 3,08 0,67 Dentro dos grupos 41,50 9,00 4,61 Total 47,67 11,00 valor-P F crítico 0,54 4,26 4.1.4 Geometria das Brocas Helicoidais As brocas utilizadas neste trabalho foram de mesma geometria, analisada pelo projetor de perfil Digimess, modelo 400.400. Os resultados dos dados da geometria das brocas são apresentado no ANEXO G e novamente através do método estatístico Anova foi verificado se existe uma diferenção significativa entre as variâncias para todas as especificações citadas no ANEXO G. Na Tabela 4.5 apresentam-se os resultados da Anova para o ângulo de ponta, verifica-se que não existe uma diferença signnificativa entre os ângulos de ponta das brocas utilizadas e 54 esse método foi utilizado para verificar se existe diferença entre as variâncias da outras especificações citadas, portanto, foi realizado os outros teste e verificou que não existe diferença significativa entre as outras geometria da broca de metal duro. Tabela 4.5 - Anova: Ângulo de ponta RESUMO Grupo Contagem Soma Média Variância Ângulo de ponta 1 Ângulo de ponta 2 4 4 572,58 572,95 143,15 143,24 0,29 0,11 Ângulo de ponta 3 4 570,69 142,67 0,33 Fonte da variação Entre grupos SQ 0,73 GL 2,00 MQ 0,37 F 1,52 Dentro dos grupos 2,18 9,00 0,24 ANOVA valor-P F crítico 0,27 4,26 4.1.5 Medição do diâmetro interno do furo A Figura 4.2 apresenta o gráfico das médias do diâmetro a uma velocidade de corte de 90 m/min, nas condições de inicio, meio e fim do furo das brocas Futura Top, Alcrona Pro e Hélica. Figura 4.2 - Diâmetro médio a profundidade de 10, 20 e 30 mm dos furos usinado á uma velocidade de 90 m/min. Pode-se observar em geral que o diâmetro medido no inicio do furo foi maior na entrada do furo, decrescendo até o final deste. Isso acontece devido às condições instáveis da broca no momento da sua entrada, podendo ser explicado em função 55 dos pequenos desvios, oscilações, maior balanço por não se encontrar ainda apoiada dentro do furo com um comprimento significativo. 4.1.6 Análise de Variância Para a primeira etapa da pesquisa, adotou-se um planejamento fatorial, conforme mostrado na Tabela 3.1 anterior, cujos resultados constantes são mostrados na Tabela 4.6, e que permite afirmar com 95% de confiança que as variáveis posições de avanço do furo (i), meio auxiliar de corte(j), revestimento (k), assim como, as suas interações interferem no resultado da variável de resposta momento torçor da broca. O momento torçor se mostrou maior (10%) quando não utilizado meio auxiliar de corte. Isto pode ser explicado pela redução da lubrificação entre cavaco e parede do furo quando usinado sem fluido de corte. 4.1.7 Análise de Influência das variáveis para momento torçor. Tabela 4.6 - Análise de Influência das variáveis para o momento torçor GL Média F.calc. F.Tab Decisão Posição (i) 1,941 2 0,970 8,57 3,26 Sim Fluido(j) 4,623 1 4,623 40,84 4,11 Revestimento(k) 0,492 2 0,246 2,17 3,26 Não Posição x Fluido(ij) 0,822 2 0,411 3,63 3,26 Sim Posição x Rev.(ik) 0,316 4 0,079 0,70 2,63 Fluido x Rev. (jk) 0,203 2 0,101 0,90 3,26 Não Pos. x Fluido x Rev. 0,177 4 0,044 0,39 2,63 (ijk) SSE 4,075 36 0,113 Total 12,647 53 S = 0,336474 R2= 67,78% R2(ajustado) = 52,57% int.= Interfere % 15.3 36.5 6.4 O fato de se decidir pela influência das variáveis de controle no processo, não é seguro optar por uma delas. Assim, fez-se a análise estatística de contraste para o caso da variável percurso da broca (i) para depurar a análise dos resultados apresentada na Tabela 4.7. Pôde-se, portanto, concluir pela diferença do momento torçor no final do furo comparada aos dois terços iniciais do avanço da broca, mostrando-se inclusive maior (5%) o que justifica pelo atrito do maior fluxo de cavaco no canal da mesma. 56 4.1.8 Análise de contraste para o percurso da broca. A análise de comparação múltipla (Contraste) foi realizada para verificar se existe diferença significativa das médias do momento torçor para o percurso da broca, através do teste verificou-se que existe uma diferença significativa entre as profundidades de 20 e 30 mm, sendo que não existe diferença no momento na profundidade de 10 e 20 mm. Este fato pode ser explicado da seguinte forma, à medida que a broca ganha profundidade há um aumento do atrito entre a parede do furo com a guia da broca, fazendo aumentar o momento torçor. Tabela 4.7 - Análise de contraste para influência do percurso da broca(i) Contraste C SQ GL MQ Fcalc. F Tab p-valor Decisão 10mm x 20mm 2,65 0,195 1 0,20 1,72 4,11 0,20 Não 30mm x 20mm 5,54 0,853 1 0,85 7,53 4,11 0,01 Sim 4.1.9 Gráfico dos principais efeitos para o momento torçor. No intuito de qualificar as discussões acima, pode-se comparar os resultados do momento torçor aos efeitos das variáveis de influência (Figura 4.3). Neste caso pode-se dizer que os revestimentos não apresentaram diferenças significativas com relação ao atrito diferenciado de suas coberturas, apesar do gráfico apresentar diferença entre as médias para cada broca, porém, estatisticamente com um nível de significância de 95% não existe uma diferença no revestimento em relação ao momento torço da broca helicoidal avaliada. Figura 4.3 - Gráfico dos Principais efeito para o Momento Torçor. 57 4.1.1 Análises de influência para força de avanço. Para a análise da força de avanço da broca os resultados estão mostrados na Tabela 4.8, os quais mostram que apenas o meio auxiliar e o revestimento da broca apresentaram diferenças significativas para a força de avanço da broca. Acredita-se que o comprimento de avanço (i) da broca não tenha influência na variação da força de avanço, visto que o comprimento de avanço é da ordem de milímetros e o comprimento de corte de quilômetros. A força de avanço se mostrou maior (24%) quando não utilizado meio auxiliar de corte e apenas (6%) quando utilizada broca com cobertura Hélica. A Tabela 4.8 mostra a análise de influência das variáveis lubro-refrigeração, posição do furo e revestimento na força de avanço.Para o caso da força de avanço a discussão se torna mais complexa, pois o ângulo de hélice tende a agir contra o avanço da broca, aliviando o esforço sobre o dinamômetro kistler. Tabela 4.8 - Análise de influência para a força de avanço. Força de Avanço (N) GL Média Fcalc. Posição (i) 20078 2 10039 0,89 Fluido (j) 1881600 1 1881600 167,51 Revestimento(k) 227351 2 113675 10,12 Posição x Fluido(ij) 3801 2 1901 0,17 Posição x Rev.(ik) 3033 4 758 0,07 Fluido x Rev. (jk) 18230 2 9115 0,81 Pos. x Fluido x 2628 4 657 0,06 Rev. (ijk) SSE 404375 36 11233 Total 2561097 53 S = 105,984 R2 = 84,21% R2(ajustado) = 76,75% 4.1.2 F Tab Decisão 3,3 4,1 3,3 3,3 2,6 3,3 Não Sim % 73 9 Não 2,6 Análise de contraste para influência do revestimento. O efeito da broca Hélica se mostrou diferente das demais quando avaliada no teste estatístico de contraste, conforme Tabela 4.9 e Figura 4.4. O Anexo C apresenta a característica de cada cobertura das brocas utilizada neste trabalho. Tabela 4.9 - Análise de contraste para influência da cobertura (k) Contraste C MQ GL Fcalc. FTab P-valor Decisão F. Top x Al. Pro 860 20544 1 1,83 4,11 0,18 Não Al. Pro x Hélica 1933 103791 1 9,24 4,11 0,00 Sim 58 Foi observado, para o início do furo, um nível maior de rugosidade quando não utilizado meio auxiliar de corte independente do tipo de cobertura da broca utilizada. Isto se explica pelo maior nível de esforços de corte, indiretamente apresentado pelo momento torçor, com maior deflexão da broca nesta condição de corte. Outra observação, diz respeito a rugosidade máxima (Rz) que apresentou menor resíduo quando comparado a rugosidade média (Ra). Este fato pode ser justificado pelo efeito de alisamento da aresta secundária e da guia da broca na superfície do furo. A Tabela 4.10 apresenta a resposta em relação a influência da lubro-refrigeração, revestimento e da posição do furo. 4.1.3 Gráfico dos principais efeito para a força de avanço. Figura 4.4 - Gráfico dos principais efeitos para a Força de Avanço. Tabela 4.10 - Resultado das interações (i),(j) e (k) sobre a rugosidade R(z) e R(a). R (z) F.Calculado F. Tabelado 5% R (a) F.Calculado F. Tabelado 5% F0i 486,047 3,259 F0i 1426,001 3,259 F0j 34,390 4,113 F0j 101,246 4,113 F0k 1,604 3,259 F0k 2,904 3,259 F0ij 34,390 3,259 F0ij 101,246 3,259 F0ik 1,604 2,634 F0ik 2,904 2,634 F0jk 1,941 3,259 F0jk 4,927 3,259 F0ijk 1,941 2,634 F0ijk 4,927 2,634 59 4.1.4 Análise de vida da ferramenta de corte para TiAlN Dos resultados preliminares, optou-se por pesquisar a vida da broca designada por Futura Top (TiAlN) que apresenta menor custo de aquisição, o Anexo D, apresenta o custo para aplicação da cobertura nas brocas helicoidais. Usinou-se, conforme previsto, em três níveis de velocidades, avaliando a progressão do desgaste frontal versus comprimento de avanço da broca (lf). Os resultados encontram-se na Figura 4.5. Figura 4.5 - Curva de desgaste (VB) desgaste do VBmáx para a Broca TiAlN Da Figura 4.5, obtém-se a construção da curva de vida da ferramenta (lf versus vc ), como mostra a Figura 4.6, tendo como o critério de fim de vida da broca um VB máx de 0,25 mm. Assim, pode-se obter os valores das constantes x e k para a equação 4.1 de vida da ferramenta de corte, como sendo x = 2,52 e k = 336546. (4.1) Figura 4.6 - Critério de fim de vida da broca para um VB máx. de 0,25 mm 60 As análises de vida da ferramenta de corte no processo de usinagem do ferro fundido vermicular têm suas complexidades devido a grande influência da sua microestrutura. A ausência do elemento MnS2 (forma uma camada na superfície da ferramenta de corte que atua como lubrificante) aumenta a dificuldade de usinagem do material reduzindo a vida das ferramentas e a geração de carbonetos(elemento que possue durezas maiores do que a dureza da ferramenta) que são oriundo do processo de fabricação. O controle do processo de fabricação faz se necessário para evitar o aumento destes carbonetos na microestrutura do ferro fundido vermicular. 61 CAPÍTULO 5 5. CONCLUSÃO Da análise dos resultados da furação do ferro Fundido vermicular com velocidade de corte 90 m/min e avanço 0,26 mm/rot quando utilizada brocas de metal duro em três níveis sendo T1 ( Futura Top ), T2 (Alcrona Pro) e T3 (Hélica) e meio lubro-refrigerante em dois níveis seco e úmido a 10%, pode-se concluir que: O tipo de revestimento da ferramenta não comprometeu o momento torçor nas condições dos ensaios; O momento torçor se mostrou maior no final do furo com destaque para o caso em que não se utilizou meio lubro-refrigerante; Não existe interação entre o tipo de broca, o meio lubro-refrigerante e o percurso da broca com relação à força de avanço monitorada; A força de avanço mostrou-se maior quando não utilizado meio lubrorefrigerante com destaque para o caso em que se utilizou broca tipo Hélica; O tipo de revestimento da ferramenta Futura Tope e Alcrona Pro não apresentaou diferenças quanto à força de avanço monitorada; Independentemente da ferramenta a condição de furação sem fluido de corte foi a que apresentou maior rugosidade média (Ra) e máxima (Rz) da superfície do furo; Foi possível estimar a equação de vida da broca para um desgaste frontal VB de 0,25 (mm) como sendo lf x vc2,52 = 336546 para o intervalo de velocidade avaliada.T= K. vc -X Através dos testes realizados e das análises estatísticas pode-se concluir que as brocas revestidas com TiAlN e AlCrN+y apresentaram menor esforço de corte. 62 CAPÍTULO 6 6. SUGESTÕES PARA PRÓXIMOS TRABALHOS Utilizar a técnica de quantidade mínima de lubro-refrigeração (MQL) para comparar com os resultados obtidos nesta pesquisa, principalmente quando utilizados lubrificantes ecologicamente corretos. Analisar e avaliar a estrutura mecânica e técnica dos revestimentos utilizados nas brocas helicoidais neste estudo. 63 REFERÊNCIAS ABELE, E.; SAHM, A.; SCHULZ, H.. Wear Mechanism when Machining Compacted Graphite Iron. Cirp Annals - Manufacturing Technology, Darmstadt, Alemanha. v. 51, n.01, p. 53-56. 01 July 2007. ANDRADE, C. L. F. Análise da furação do ferro fundido vermicular com brocas de metal-duro com canais retos revestidas com TiN e TiAIN. 2005. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 2005. ALVES, S. M; Schroeter, R. B; Bossardi, J. C. S; Andrade, C. L. F. Influence of EP Additive on Tool Wear in Drilling of Compacted Graphite Iron. J. Of The Braz. Soc. 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Caxias do Sul – Rs - Brasil: Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânica, 2011. v. 01, p. 01 - 09. 71 ANEXO A - Classificação da Forma das Grafitas 72 ANEXO B - Composição química das amostras de CGI 73 74 ANEXO C - Propriedades dos Revestimentos. Alcrona Pro Futura Top Helica 75 ANEXO D - Custos dos Revestimentos das Brocas 76 ANEXO E - Planejamento fatorial O modelo estatístico empregado neste trabalho considera: 1, 2 e 3, representa os níveis de A (percurso da broca), portanto a=3 1 e 2, representa os níveis de B (lubro-refrigeração), portanto b=2 1,2 e 3, representa os níveis de C (tipo de revestimento), portanto c=3 1, ....,n representa as réplicas, portanto 3 Média Geral é o efeito do fator A. é o efeito do fator B. é o efeito do fator C. é o efeito da interação de A e B. é o efeito da interação de A e C. é o efeito da interação de B e C. é o efeito da interação de A, B e C. é o erro experimental O teste de hipótese busca definir se as variáveis têm ou não influência e também se sua interação afeta a variável de resposta. (para pelo menos um ) (para pelo menos um ) (para pelo menos um ) (para pelo menos um ) (para pelo menos um ) (para pelo menos um ) (para pelo menos um ) O somatório dos quadrados das diferenças é representado pelas expressões a seguir: 77 Para análise estatística das hipóteses, tem-se que é uma soma de variáveis aleatórias normalmente distribuídas como chi-quadrado e respectivamente com seus graus de liberdade. (NEVES, 2003). Para compreensão a demonstração das equações define-se o grau de liberdade do erro como: Então teremos: 78 Para que a hipótese nula (Calculado)< seja verdadeira, devemos ter a seguinte situação: (tabelado), ou seja não existe influência das variáveis ou não existe interação entre as variáveis de influência 79 ANEXO F - Planejamento aleatorizado por nível Planejamento Aleatorizado onde: é a média geral é o parâmetro que define cada tratamento. é um componente devido a erros aleatórios. Análise de efeitos fixos , onde: N = Contraste é uma combinação linear dos totais que permite a comparação das médias dos tratamentos(NEVES, 2003).A soma dos quadrados para qualquer contraste é dada por: O teste de hipóteses busca definir se existe diferença entre as médias dos tratamentos analisados. O contraste é testado desta forma: Para que a hipótese nula (Calculado)< seja verdadeira, devemos ter a seguinte situação: (tabelado), ou não existe influência nas médias analisadas. 80 ANEXO G - Especificação da geometria das brocas Item Especificações Helica 1 Ângulo de Ponta 142,62 143,88 142,93 143,15 2 Simetria de Ponta 71,82 71,42 71,29 71,61 3 Comprimento do gume principal 4,77 4,82 4,75 4,83 4 Diâmetro da Broca 10 10 10,02 10,01 5 Ângulo da ponta-chanfro 45,3 45,4 45,2 45,1 Item Especificações Alcrona Pro 1 Ângulo de Ponta 143,26 143,66 143,17 142,86 2 Simetria de Ponta 71,78 71,84 71,66 71,61 3 Comprimento do gume principal 4,86 4,8 4.85 4,8 4 Diâmetro da Broca 10,02 10,05 9,99 10 5 Ângulo da ponta-chanfro 44,9 45,1 45,08 45 Item Especificações Futura Top 1 Ângulo de Ponta 143,47 142,66 142,13 142,43 2 Simetria de Ponta 71,71 71,21 71,12 71,33 3 Comprimento do gume principal 4,85 4,77 4,81 4,82 4 Diâmetro da Broca 10,02 9,98 10 9,98 5 Ângulo da ponta-chanfro 44,9 44,9 45 45,3