Bioenergia em Revista: Diálogos ano 4 | n. 1 | jan.2014 / jun.2014 | ISSN: 2236-9171 Bioenergia em Revista: Diálogos ISSN: 2236-9171 Bioenergia em Revista: Diálogos | publicação semestral | Piracicaba / Araçatuba ano 4 | n. 1 | jan. 2014 / jun. 2014 Governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin Secretario de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia Paulo Alexandre Barbosa Diretora Superintendente do Centro “Paula Souza” Laura Laganá Diretor do CESU César Silva Diretor da Faculdade de Tecnologia de Piracicaba Dep. “Roque Trevisan” Hermas Amaral Germek Diretora da Faculdade de Tecnologia de Araçatuba Giuliano Pierre Estevam Editoria Filomena Maria Formaggio Adriana Badioli – estagiária Nariê Rinke - estagiária Editores de Seção Profª Drª Filomena Maria Formaggio – Fatec Piracicaba Prof. Dr. Luis Fernando Sanglade Marchiori – ESALQ-USP e Fatec Piracicaba Prof. Dr. Paulo Cesar Doimo Mendes – Fatecs de Piracicaba e Itapetininga, EEP Prof. Dr. Fernando de Lima Camargo – Fatec Piracicaba, EEP Prof. Dr. Christiano Franca da Cunha – Fatec Piracicaba e UNIMEP Prof. Msc. Fabio Augusto Pacano – Fatec Piracicaba, CNEC Capivari-SP Profa Msc. Luciana Fischer – Fatec Piracicaba e PUCCampinas-SP Bel. e Tecnólogo Mauricio D. C. Pinheiro – Fatec Piracicaba Comissão Editorial Filomena Maria Formaggio - Fatec Piracicaba Vanessa de Cillos Silva - Fatec Piracicaba Paulo Cesar Doimo Mendes - Fatec Piracicaba Carolina Ribeiro Germek - Fatec Araçatuba Marcia Nalesso Costa Harder - Fatec Piracicaba Fabio Augusto Pacano - Fatec Piracicaba Karenine Miracelly Rocha da Cunha – Fatec Araçatuba Maria Helena Bernardo Myczkowski Bioenergia em Revista: Diálogos ● Rua Diácono Jair de Oliveira, 651 ● Bairro Santa Rosa CEP: 13.414-155 ● Piracicaba / SP ● Telefone: [+55 19] 3413-1702 Conselho Editorial Hermas Amaral Germek – Fatec Piracicaba Daniela Russo Leite – Fatec Campinas Gisele Gonçalves Bortoleto - Fatec Piracicaba Eliana Maria G. Rodrigues de Siqueira – Fatec Piracicaba Daniela Defavari do Nascimento – Fatec Piracicaba Regina Movio de Lara – Secret. Educação SP Siu Mui Tsai Saito - Cena – USP Raffaella Rossetto - APTA - polo regional Centro-Sul Ada Camolesi - FIMI Mogi Mirim Marly T. Pereira - ESALQ-USP Vitor Machado – UNESP Bauru Adolfo Castillo Moran - Cordoba, Ver. Mexico Gregorio M. Katz - San Miguel de Tucuman Argentina Guilherme A. Malagolli - Fatec Taquaritinga Murilo Melo - ESALQ-USP Angelo Luis Bortolazzo – Centro Paula Souza Jorge Corbera Gorotiza - San Jose de Las Lajas - La Habana - Cuba Bioenergia em Revista: Diálogos (ISSN 2236-9171) é uma publicação eletrônica semestral vinculada a Faculdade de Tecnologia de Piracicaba “Dep. Roque Trevisan” e a Faculdade de Tecnologia de Araçatuba (Fatecs). Objetivo: publicar estudos inéditos, na forma de artigos e resenhas, nacionais e internacionais, que contribuam ao debate acadêmico-científico, além de estimular a produção acadêmica nos níveis da graduação e pós-graduação. Os artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores. É permitida sua reprodução, total ou parcial, desde que seja citada a fonte. Bioenergia em Revista: Diálogos / Fatec - Faculdade de Tecnologia de Piracicaba / Faculdade de Tecnologia de Araçatuba. - - Piracicaba / Araçatuba, SP: a Instituição, desde 2011. v. Semestral - ISSN 2236-9171 1. Ciências Aplicadas / Tecnologia- periódico I. Bioenergia em Revista: Diálogos II. Fatec Faculdade de Tecnologia de Piracicaba “Dep. Roque Trevisan” / Faculdade de Tecnologia de Araçatuba Bioenergia em Revista: Diálogos ● Rua Diácono Jair de Oliveira, 651 ● Bairro Santa Rosa CEP: 13.414-155 ● Piracicaba / SP ● Telefone: [+55 19] 3413-1702 Sumário 5 7 10 Apresentação Chamada de Artigos Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana Heloísa Pinê; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; GRANJA, Ana Carolina Ribeiro; HARDER, Márcia Nalesso Costa 23 34 58 Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas TESTOLIN, Gilmar; MANFRON, Paulo A.; ALVES, Vagner C.; MARQUES, Tadeu A.; RAMPAZO, Érick M. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivas aprendiz, professor e empresa CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna 71 Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça e irradiado* RHEINBOLDT, Marcella Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo; CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos 82 98 Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da 126 Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD) MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia Hortense; 138 Dilemas da sustentabilidade urbana MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Apresentação A publicação Bioenergia em Revista: Diálogos, das Faculdades de Tecnologia de Piracicaba Dep. “Roque Trevisan” e de Araçatuba apresenta à comunidade acadêmica mais um número, cuja proposta segue pensando a formação tecnológica, porém considerando sempre a relevância da pesquisa, inovação e dialogicidade como elementos constituidores desta formação. Nessa perspectiva, o presente número traz a reflexão importantes temas que envolvem as áreas de abrangência deste periódico. O artigo “Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais” inicia a presente edição apresentando um levantamento bibliográfico acerca do potencial de reaproveitamento energético dos subprodutos da madeira e extração de óleos essências das folhas para outros fins. Lembram os autores, que tal estudo se deve ao fato de haver uma grande lacuna na literatura especializada com relação a um adequado gerenciamento destes resíduos, negligenciando seus riscos ambientais e sanitários, bem como seu potencial energético. Apontam, ainda, que de acordo com os dados levantados, os diversos subprodutos demonstraram potencial para o seu reaproveitamento energético através da produção de licor negro, carvão vegetal, briquetes, pellets, álcool e ácido pirolenhoso, e a extração de óleos essenciais das folhas para utilização em indústria de cosméticos, produtos de limpeza, entre outros. “Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas” trata de um trabalho que foi conduzido em estufa plástica, no Instituto Federal Catarinense, Campus de Concórdia, SC, com o objetivo de avaliar o desempenho agronômico da cultura da alface, cultivar Vera, no sistema hidropônico utilizando água de piscicultura misturada com diferentes percentuais de solução nutritiva e avaliar o incremento de fitomassa seca, analisando teores de nitrato (NO-3) nas folhas da alface na colheita. Afirmam os autores que os resultados evidenciaram que: (a) a água residual da criação de peixes, em açudes no sistema semi-intensivo, não é capaz de fornecer os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento das plantas de alface para fins comerciais; (b) a produção de alface utilizando o sistema semi-intensivo com o uso da água da piscicultura é tecnicamente viável em açudes, desde que seja realizada uma adubação complementar para suprir as necessidades nutricionais das plantas; (c) o tratamento T1 apresentou os melhores resultados, tendo as plantas atingido uma fitomassa verde e seca, respectivamente de 378,70 g e 19,97 g; (d) o tratamento T2 não apresentou diferença significativa para o tratamento testemunha, com 293,59 g e 19,28 g, respectivamente, o que demonstra uma efetividade do sistema semi-intensivo, e que o mesmo é perfeitamente viável a partir de ajustes nutricionais; (e) o tratamento T1 apresentou maior teor de nitrato aos 28 dias após transplante, com 793,3 mg kg-1 de NO3-, entretanto, dentro dos limites aceitáveis para o consumo humano das folhas de alface. O eixo Gestão Empresarial traz à discussão o artigo “Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivas aprendiz, professor e empresa” que reflete sobre a aprendizagem profissional tendo se tornado um dos meios mais importantes para o desenvolvimento de competências profissionais, principalmente para jovens que buscam a colocação no mercado de trabalho que, atualmente, encontra-se em constante mudança. Desse modo, a fim de contribuir com a inserção dos jovens no mercado de trabalho, instituições desenvolveram os Programas de Aprendizagem Profissional. A partir desta proposta os jovens participam, como aprendizes, de atividades teóricas em uma instituição de ensino e as atividades práticas em uma empresa da cidade onde residem. Os autores informam, nesse sentido, que o objetivo do estudo foi verificar a contribuição deste programa desenvolvido em Piracicaba-SP e seus resultados parciais considerando alunos, docentes e empresas envolvidos. “Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia” apresenta um estudo de viabilidade econômico-financeira de uma mini usina que utiliza sebo bovino como matéria-prima para produção de biodiesel. O estudo de implantação do investimento foi realizado no município de Feira de Santana (Bahia), escolhido por algumas particularidades tais como: localização privilegiada, próxima tanto da matéria-prima (zonas de criação de gado e dos principais frigoríficos industriais), quanto da Refinaria Landulfo Alves de Mataripe (RLAM) e das distribuidoras de combustíveis. Apontam os autores que o estudo demonstrou que, apesar das vantagens em termos de custo do sebo bovino, um empreendimento que utilize apenas essa matéria-prima não seria viável do ponto de vista econômico. No âmbito das discussões referentes ao eixo Alimentos apresenta-se o artigo “Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça e irradiado*”. Informam os autores que a análise descritiva quantitativa avaliou o perfil sensorial de pães franceses enriquecidos com linhaça, de 8 e 12%, e submetidos à radiação ionizante com 60Co nas doses de 6, 8 e 10kGy, além dos controles, sem adição de linhaça e irradiação. As amostras foram avaliadas por onze provadores selecionados e treinados em relação aos atributos sensoriais: aparência característica, cor da casca, aroma característico, consistência da textura, sabor característico e sabor de peixe. Em conclusão apontam os autores que, a adição de linhaça e a irradiação não influenciaram consideravelmente os atributos “cor da casca” e “textura consistente”, porém, amostras com maior quantidade de linhaça e dose de radiação apresentaram maiores valores quanto ao “sabor de peixe”. O artigo “Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação” retrata o levantamento de dados e a análise das informações do conteúdo da pesquisa, referente permanência trabalhando na área de formação dos alunos formados pela Fatec – Faculdade de Tecnologia Deputado Roque Trevisan. Esta pesquisa pretende dar início a uma linha permanente de análises e acompanhamento da vida profissional dos ex-alunos em todos os cursos de graduação da Fatec Piracicaba. Basicamente se constitui em um estudo sobre a vida atual profissional dos ex-estudantes formados nos últimos dois anos partindo de uma amostra inicial de 105 entrevistados nas duas áreas de formação selecionadas. O objetivo imediato deste trabalho é desenvolver indicadores e permitir análises sobre a empregabilidade, níveis salariais e identificar o período de início de trabalho na área de formação, ou ainda, conhecer se nunca trabalharam na área de formação tecnológica. Pretende-se contribuir com o Estado e o público em geral, pois tal informação tem importância em relação às possibilidades e iniciativas que deverão surgir, seja de continuidade no acompanhamento, de orientação, de revisão metodológica dos programas ou de proximidade e valorização do capital humano. Na sequência, o artigo “Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido” busca identificar as vantagens ecológicas geradas pelos veículos produzidos com motores a combustível e com motores híbridos. O estudo aborda a preocupação com a questão ambiental e analisa os prós e os contras de cada tipo de motor com relação à emissão de poluentes. Novas tecnologias de motores híbridos para veículos estão sendo efetuadas pelo governo através de políticas públicas de incentivos, como forma de estimular a inovação, o consumo e reduzir os efeitos da poluição nas grandes cidades. O estudo discute, ainda, uma comparação entre os tipos de motores, o volume de emissão de CO2, o processo de reciclagem e o ciclo de vida de tais produtos. A metodologia consiste numa revisão de literatura e na utilização de dado secundários. Os resultados demonstram que os veículos híbridos são considerados os mais ecológicos, mas, isso não significa que é um produto 100% ecológico, que preserva o meio ambiente. “Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD)” apresenta um estudo no qual lembra que as ervas daninhas são um grave problema para grande parte das culturas produzidas em todo o mundo, pois apresentam algumas características como o rápido crescimento, produção contínua, alta longevidade e dormência. Também apresentam um curto período entre floração e germinação, e germinam em quase todo substrato úmido e sem fertilização específica. No entanto, devido ao fato de serem concorrentes diretas das culturas, disputando água, nutrientes e luz, é conveniente que sejam controladas. A atrazina é uma substância que tem alto poder destrutivo, em relação às plantas daninhas, por isso é muito empregada, principalmente nas culturas de grãos e gramíneas, mas seu uso em excesso prejudica o solo e os mananciais. Uma técnica muito utilizada na quantificação dessas substâncias é pela análise por cromatografia gasosa acoplada a detector por captura de elétrons. Neste contexto, este trabalho objetiva analisar amostras de água e solo, coletadas no Ribeirão dos Porcos para quantificação de atrazina, através de análises cromatográficas. Nesse sentido, os autores apontam que de acordo com os resultados obtidos, as amostras de solo e água superficial coletadas não apresentaram contaminação pelo herbicida atrazina. Fechando a presente edição, o artigo “Dilemas da sustentabilidade urbana” mostra a relação dos indivíduos com o meio ambiente, e a importância de um crescimento e desenvolvimento sustentável para uma qualidade de vida, da nossa e futuras gerações. Nessa perspectiva, a preservação do meio ambiente deve ser entendida como essencial para a qualidade de vida da nossa e futuras gerações. Neste contexto se verifica a grande importância de uma gestão pública-privada participativa e compartilhada, com ênfase na co-responsabilização por uma melhor qualidade de vida, com estímulos para ações preventivas na direção de um desenvolvimento sustentável. Nestas ações necessitamos da continuidade, persistência e manutenção dos direitos individuais de cada indivíduo, possibilitando a todos uma vida com qualidade. Boa leitura a todos! A Editora Chamada de artigos A Revista Bioenergia em Revista: Diálogos convida pesquisadores, docentes e demais interessados das áreas de Bioenergia, Gestão Empresarial, Agroindústria, Alimentos e áreas afins, a colaborarem com artigos científicos, de revisão e/ou resenhas para a próxima edição deste periódico. As normas de submissão e análise estão disponíveis em nosso site – www.fatecpiracicaba.edu.br/revista. Os trabalhos serão recebidos por via eletrônica até 30/11/2014, e os autores poderão acompanhar o progresso de sua submissão através do sistema eletrônico da revista. Os dados apresentados, bem como a organização do texto em termos de formulação e encadeamento dos enunciados, das regras de funcionamento da escrita, das versões em língua inglesa e espanhola dos respectivos resumos, bem como o respeito às Normas da ABNT são de inteira responsabilidade dos articulistas. Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais TORRES, Nádia Hortense AMÉRICO, Juliana H. P. ROMANHOLO FERREIRA Luiz Fernando RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina HARDER, Marcia N. C. Resumo O presente estudo é um levantamento bibliográfico acerca do potencial de reaproveitamento energético dos subprodutos da madeira e extração de óleos essências das folhas para outros fins. Isto se deve ao fato de haver uma grande lacuna na literatura especializada com relação a um adequado gerenciamento destes resíduos, negligenciando seus riscos ambientais e sanitários, bem como seu potencial energético. Contudo, de acordo com os dados levantados, os diversos subprodutos demonstraram potencial para o seu reaproveitamento energético através da produção de licor negro, carvão vegetal, briquetes, pellets, álcool e ácido pirolenhoso, e a extração de óleos essenciais das folhas para utilização em indústria de cosméticos, produtos de limpeza, entre outros. Palavras-chave: Madeira; óleos essenciais; subprodutos. Abstract Present study is a literature perform about the potential reuse of energy wood by-products and extraction of essential oils for another uses. This is because there is a big lack in literature with respect to an appropriate management of these residues, neglecting their environmental and health risks, as well as its potential energy. However, according to data obtained, various byproducts demonstrated its potential for reuse of energy through the production of black liquor, charcoal, briquettes, pellets, pyroligneous acid and alcohol, and essential oils extracted from leaves for use in cosmetic industry, cleaning products, among others. Keywords: Wood; essential oils; subproducts. Resumen El presente estudio es una revisión de la literatura en la reutilización potencial de la energía a partir de subproductos de madera y la extracción de aceites esenciales para otros fines. Esto se debe a que hay un gran vacío en la literatura con respecto a una adecuada gestión de estos residuos, dejando de lado sus riesgos ambientales y de salud, así como su potencial de energía. Sin embargo, de acuerdo con los datos obtenidos, los diversos subproductos demostraron su potencial de reutilización de la energía a través de la producción de licor negro, carbón de leña, briquetas, pellets, ácido piroleñoso y el alcohol, y aceites esenciales extraídos de las hojas para su uso en la industria comésticos, productos de limpieza, entre otros. Palabras-clave: Madera, aceites esenciales, 10 productos secundarios. bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 10-22, jan./jun. 2014. TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C. Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais INTRODUÇÃO A madeira é um material que vem sendo largamente utilizado pela humanidade ao longo da história. No Brasil, um país rico em florestas nativas, convive-se com a exploração desses recursos, às vezes de maneira não racional (BIASI & ROCHA, 2007). Os resíduos sólidos representam um dos grandes desafios previstos para o século XXI. Essa preocupação se justifica pelo crescente aumento da sua geração e pelo reconhecido déficit de soluções sanitárias e ambientalmente adequadas à sua disposição final ou reaproveitamento, sendo estas últimas ainda incipientes no país, embora de grande potencial. Além do aumento na quantidade gerada, são descartados, diariamente no ambiente, resíduos de composições cada vez mais complexas, tornando ainda mais difíceis e onerosos os processos de reaproveitamento, limitando a capacidade de sua assimilação pelo ambiente natural. Somada aos impactos sanitários e ambientais causados pela sua disposição inadequada, a geração de resíduos retrata um grande desperdício de matéria-prima e energia. Dentro deste panorama, as indústrias de transformação são responsáveis pelos maiores impactos ambientais registrados (FARAGE et al., 2013). Sabe-se que hoje a atividade industrial madeireira no Brasil é altamente geradora de resíduos de madeira. Adicionalmente, a utilização da madeira no meio urbano através da construção civil, descarte de embalagens e poda da arborização urbana, acabam gerando um volume expressivo de resíduos de madeira dos pequenos aos grandes centros urbanos do país. E para Wiecheteck (2009), tal fato é um problema na medida em que apenas uma parcela do volume de resíduos de madeira gerados tem atualmente algum aproveitamento econômico, social e/ou ambiental. De acordo com o mesmo autor, o excesso de resíduos de madeira associada ao baixo aproveitamento tem como resultado danos ambientais que, além de perda significativa de oportunidade para a indústria, comunidades locais, governos e sociedade em geral, especialmente em regiões remotas, dependentes de fontes energéticas externas. Porém, os resíduos de madeira gerados no processamento e não utilizados podem deixar de ser um passivo ambiental, sendo processados como matéria-prima para diversos fins, incluindo o uso energético, gerar lucro para a iniciativa privada e reduzir problemas ambientais de interesse da sociedade. Sair da monocultura do eucalipto ou do pinus, investir em múltiplos cultivos e buscar a sustentabilidade do setor de floresta plantada do Brasil, a partir, também, do aproveitamento energético dos subprodutos da madeira, que, hoje, vão parar no lixo é uma opção (WIECHETECK, 2009). Dentro dessa proposta de diversificação está incluído o total e correto aproveitamento de cascas de árvore e de arroz, além de serragem e outros subprodutos provenientes do processamento da madeira na produção de bioenergia resultante da biomassa extraída da produção de celulose (WIECHETECK, 2009; PETRO; MORTOZA, 2010; MOURA, 2012; SANTIAGO, 2013). O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico acerca do potencial de reaproveitamento sustentável de subprodutos da madeira, haja vista que há uma lacuna de trabalhos com este enfoque. Os seguintes subprodutos da madeira foram alvo do levantamento bibliográfico: licor negro, carvão vegetal, briquetes, pellets, metanol, óleos essenciais e ácido pirolenhoso. 11 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 10-22, jan./jun. 2014. TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C. Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais REVISÃO DE LITERATURA Licor negro O licor negro é um subproduto do setor de celulose, obtido através do processo de cozimento Kraft utilizado na fabricação de polpa celulósica para posterior utilização para fabricação de papel (Melo et al., 2011), e a sua oferta está condicionada ao desempenho dessa indústria. No mundo, destacam-se como principais produtores os Estados Unidos, China, Canadá, Brasil, Suécia, Finlândia e Japão (VIDAL; HORA, 2013). Aproximadamente 91% das pastas celulósicas produzidas são pelos processos químicos e semiquímicos alcalinos. Destes o processo Kraft ocupa lugar de destaque com cerca de 80% do total de pasta celulósica produzida no Brasil. O processo Kraft usa hidróxido de sódio (NaOH) e sulfeto de sódio (Na2S) como produtos químicos para o cozimento. Concluída a etapa de cozimento, os residuais químicos e as substâncias dissolvidas formam a solução aquosa que é chamada de licor negro um subproduto do processo de polpação da madeira. O processo Kraft de recuperação processa o licor negro fraco e regenera os produtos químicos de cozimento. Para que o processo de polpação tenha viabilidade econômica, a soda que reagiu com as fibras celulósicas, deve ser recuperada (MELO et al., 2011). Além disso, a obtenção de energia térmica proveniente da incineração dos compostos orgânicos contidos no licor negro via queima na caldeira de recuperação, visa reduzir o consumo energético, tornando menores os custos de produção. A inexistência de um sistema de recuperação neste processo, e a consequente descarga do licor negro em rios significaria desperdiçar combustíveis e reagentes, além de provocar poluição no meio ambiente (MORAIS; BENACHOUR; DUARTE-COÊLHO, 2000). Na indústria de celulose e papel, no pátio de estocagem, os cavacos são enviados para o digestor, onde são tratados quimicamente com o licor de cozimento. O licor de cozimento é constituído pela solução aquosa de hidróxido de sódio e sulfeto de sódio, numa proporção molar de aproximadamente 5/1. Durante esse tratamento, a temperatura é elevada gradualmente até atingir de 165 a 170ºC. Essa temperatura é mantida por um tempo adicional para uma remoção eficiente da lignina. Durante esse tratamento termoquímico, a lignina é degradada, o que possibilita a separação das fibras, obtendo-se uma massa constituída pelas fibras individualizadas e pelo licor residual que, por sua coloração muito escura, é denominado licor negro. Essa massa escura é enviada a filtros lavadores, onde a polpa celulósica é separada do licor negro que, devido à adição de água de lavagem, apresenta uma consistência relativamente baixa, da ordem de 1416% de sólidos (MIELI, 2007). Carvão vegetal O carvão vegetal é o produto sólido obtido por meio da carbonização da madeira, cujas características dependem das técnicas utilizadas para sua obtenção e o uso para o qual se destina. O rendimento do carvão vegetal gira em torno de 25 a 35%, com base na madeira seca (COELHO, 2008). De acordo com Brito e Barrichelo (1981), os principais tipos de carvão são: 12 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 10-22, jan./jun. 2014. TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C. Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais - Carvão para uso doméstico: não deve ser muito duro, deve ser facilmente inflamável e deve emitir o mínimo de fumaça e pode ser obtido a baixas temperaturas (350 a 400ºC); - Carvão metalúrgico: utilizado na redução de minérios de ferro em altos-fornos, fundição, etc. A preparação deste carvão necessita de técnicas em que a carbonização deve ser conduzida a elevadas temperaturas (mínimo de 650ºC) com grande tempo de duração. Deve ser denso, pouco friável e ter uma boa resistência, além de apresentar baixa taxa de materiais voláteis e cinzas. O carvão deve ter no mínimo 80% de carbono; - Carvão para gasogênio: carvão não deve ser muito friável, sua densidade aparente não deve ultrapassar 0,3 g/cm³ e deve ter um teor de carbono de 75%; - Carvão ativo: usado para descoloração de produtos alimentares, desinfecção, purificação de solventes, etc. O carvão deve ser leve e ter grande porosidade; - Carvão para a indústria química: boa pureza ligada a uma boa reatividade química. O Brasil é um dos maiores produtores de carvão vegetal, respondendo por cerca de 1/3 da produção mundial e o setor industrial é o principal consumidor, responsável pelo consumo de 89% das 10,5 milhões de toneladas de carvão vegetal produzidos no ano de 2007 (BEN, 2008). Para a redução do minério de ferro em uma siderúrgica, é necessária a utilização de uma fonte de carbono, encontrada no carvão mineral ou carvão vegetal. O carvão mineral é um combustível de origem fóssil e, portanto, altamente poluidor. Desta forma a utilização de um combustível renovável como o carvão vegetal é viável do ponto de vista ambiental. O grande problema é a origem deste carvão vegetal, que deve ser proveniente de florestas plantadas, pois a utilização de mata nativa torna sua produção insustentável (COELHO 2008). Segundo Coelho (2008), a retirada contínua de madeira ao longo dos anos resultou na diminuição da mata nativa da região sudeste, maior consumidora deste recurso, o que acarretou prejuízos ambientais, os quais estão descritos a seguir: destruição da biodiversidade, resultando na destruição e extinção de diversas espécies; elevação das temperaturas locais e regionais, pois na ausência das florestas que absorviam parte da energia solar, toda energia é devolvida à atmosfera na forma de calor; aumento do processo de erosão e empobrecimento do solo, devido à remoção de sua camada superficial; agravamento dos processos de desertificação devido à diminuição de chuvas; aumento de temperatura; assoreamento de rios e lagos, devido à sedimentação, ocasionando enchentes e baixa navegabilidade; diminuição dos índices pluviométricos (estima-se que metade das chuvas sobre as florestas tropicais são resultantes da troca de água da floresta com a atmosfera); proliferação de pragas e doenças devido ao desequilíbrio nas cadeias alimentares. Além destes, o desmatamento de florestas por meio de queimadas tem colaborado com o aumento da concentração de gás carbônico, um dos gases responsáveis pelo agravamento do efeito estufa, caracterizando um impacto de nível global. O reflorestamento de áreas degradadas é vista como uma solução para este problema, visto que possui menor tempo de regeneração quando comparado às florestas nativas. Esta atividade vem sendo praticada em diversas regiões do Brasil, porém ainda não é capaz de substituir a exploração de matas nativas (BRASIL, 2005). Dentre as vantagens das plantações florestais, destaca-se a possibilidade de remoção de CO2 da atmosfera (1,8 t CO2/t madeira seca), liberação de O2 para atmosfera (1,3 t O2/t 13 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 10-22, jan./jun. 2014. TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C. Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais madeira seca), além da retenção e aumento do estoque de carbono (20 kg CO2/árvore ano). A relação do eucalipto e sequestro de carbono para o eucalipto é de 10 toneladas por hectare anualmente, enquanto a do pinus é de 7 (COELHO, 2008). Briquetes Segundo Remad (2013), a densificação do resíduo através do processo de briquetagem consiste na compactação a elevadas pressões, podendo elevar a temperatura do processo na ordem de 100ºC. O aumento da temperatura provocará a "plastificação" da lignina, substância que atua como elemento aglomerante das partículas de madeira. Isto justifica a não utilização de produtos aglomerantes (resinas, ceras, etc.). O autor também aponta que para que a aglomeração tenha sucesso, é necessária uma quantidade de água, compreendida de 8% a 15% e que o tamanho da partícula esteja entre 5 e 10 mm. O diâmetro ideal dos briquetes para queima em caldeiras, fornos e lareiras é de 70 mm a 100 mm, com comprimento de 250 a 400 mm. Outras dimensões (diâmetro de 28 a 65 mm) são usadas em estufas, fogões com alimentação automática, grelhas, churrasqueiras etc. Entre as vantagens do briquete destacam-se sua alta densidade, dimensões padronizadas e baixa umidade, barateando sobremaneira os custos de transporte e armazenagem deste produto, seu elevado peso específico (cerca de 1.200 kg/m³), resultando em um produto com concentração de poder calorífico por volume bem superior ao dos resíduos supracitados e da própria lenha (FARAGE et al., 2013). Existem dois tipos principais de equipamentos que realizam a briquetagem, as chamadas briquetadeiras tipo prensa e por extrusão. No equipamento do tipo prensa briquetadeira de pistão, a compactação acontece por meio de golpes produzidos sobre os resíduos por um pistão acionado através de dois volantes. Do silo de armazenagem (aéreo ou subterrâneo) os resíduos são transferidos para um dosador e briquetados em seguida (forma cilíndrica). O briquete deste processo tem as seguintes características: densidade de 1.000-1.300 kg/m3; consumo: 20 a 60 kWh/t; produção: 200 a 1.500 kg/h; P.C.I 4.800 kcal/kg (20,1 MJ/kg); voláteis 81% (base seca) e teor de cinzas a 1,2% (base seca) (SOUZA, 2007). De acordo com Souza (2007) e INFOENER (2013), na briquetadeira por extrusão o produto é obtido com 5% de umidade, ou menos. Quando a matéria-prima é conduzida para a parte central do equipamento, chamada matriz, a mesma sofre intenso atrito e forte pressão, o que eleva a temperatura acima de 250ºC, fluidificando-a. Posteriormente, o material é submetido a altas pressões, tornando-se mais compacto. Ao final do processo, o material é resfriado naturalmente, solidificando-se e resultando um briquete com elevada resistência mecânica. A lignina solidificada na superfície do briquete o torna também resistente à umidade natural. Sendo que briquete apresenta as seguintes propriedades: densidade de 1.200 a 1.400 kg/m3; consumo de 50 a 65 kWh/t; produção de 800 a 1.250 kg/h; P.C.I. 4.900 kcal/kg (20,5 MJ/kg); voláteis 85% e teor de cinzas <1%. Para INFOENER (2013), os consumidores finais ocupam um lugar de destaque na comercialização do briquete. O uso de briquetes é associado à preservação ambiental, uma vez que aproveita os resíduos e acaba por substituir a lenha e o carvão vegetal. Nos grandes centros, 14 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 10-22, jan./jun. 2014. TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C. Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais capitais e grandes cidades, o briquete tem seu papel destacado, competindo diretamente com a lenha e o carvão vegetal. Na cidade de São Paulo, por exemplo, existem 5.000 pizzarias e 8.000 padarias das quais aproximadamente 70% utilizam fornos à lenha. Atualmente, os fabricantes de briquetes não tem produto suficiente para atender este mercado em sua totalidade. Uma pizzaria ou padaria utiliza em média o equivalente a 4t de briquete por mês. Para abastecer apenas a região metropolitana da cidade de São Paulo, necessita-se de 36.400 toneladas por mês de briquetes, o equivalente a 254.800 m3 de lenha por mês (1t de briquete é equivalente a 7 m3 de lenha) (INFOENER, 2013). Pellets Os pellets e os briquetes são produtos com capacidades energéticas equivalentes, principalmente se pulverizados ou moídos possuem a mesma opção de uso. Diferem-se principalmente na dimensão do produto. Os pellets possuem diâmetro variando entre 6 mm e 16 mm com 10 a 40 mm de comprimento, enquanto os briquetes possuem em média um diâmetro a partir de 50 mm com 15 a 400 mm de comprimento (MIGLIORINI, 1980). O mesmo autor apresenta que, a peletização emprega uma matriz de aço perfurada com um denso arranjo de orifícios de 0,3 a 1,3 cm de diâmetro. A matriz gira e a pressão interna dos cilindros força a passagem da biomassa através dos orifícios com pressões de 7,0 Kg/mm3. O pellet então formado é cortado por facas ajustadas ao comprimento desejado. A alta densidade dos pellets de madeira para aquecimento também permitem um armazenamento compacto e um transporte mais econômico a longas distâncias. Os pellets são combustíveis limpos e eficientes e sendo a matéria-prima composta por subprodutos da indústria do mobiliário e desperdícios gerados pela floresta, evita-se assim o corte de árvores, implementando a limpeza das matas e o combate aos incêndios. É importante ainda referir, que este combustível apresenta preços mais competitivos do que o gás natural, gás propano ou do que o gasóleo de aquecimento. Os pellets, devido ao seu tamanho reduzido permite dosear unidade a unidade a quantidade que vai ser queimada para produção de energia, assim este produto é muito utilizado em aquecimento doméstico e geração de vapor para pequenas comunidades (ABREU et al., 2010; DÜCK, 2013; RASGA, 2013). Os briquetes e os pellets são produtos de maior concentração energética e permitem melhores condições de armazenamento e transporte do que o uso de produtos tradicionais como a lenha e o carvão. Dessa forma, a densificação da biomassa florestal é uma alternativa tecnológica importante para o fornecimento de energia por meio de combustíveis sólidos (ABREU et al., 2010; ABREU; OLIVEIRA; GUERRA, 2010). Metanol 15 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 10-22, jan./jun. 2014. TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C. Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais O metanol é um álcool principalmente pela destilação da madeira. No Brasil, o metanol não é utilizado como combustível por ser muito tóxico, e foi substituído pelo etanol. No entanto, é utilizado como solvente na indústria de plásticos, como solvente, e em reações de importância química. A relação que existe do metanol como combustível é que ele pode usado no processo de transesterificação da gordura, para produção do biodiesel. Um dos produtos que utilizam o metanol é a extração de óleos vegetais, os quais podem ser utilizados na forma “in natura” ou modificados por processos físicos e químicos. Na forma “in natura” podem ser queimados em motores multicombustíveis de tecnologia Elsbett para geração de energia elétrica. Por seu turno, o óleo modificado é obtido a partir do processo de transesterificação, no qual o óleo vegetal é misturado com álcool etílico (etanol) ou álcool metílico (metanol) e colocado em um reator à temperatura ambiente durante 3 a 4 dias, com uma substância que atua como catalisador do processo (ácido clorídrico ou hidróxido de potássio). O óleo resultante (biodiesel) é um éster etílico ou metílico, conforme o álcool utilizado, que após ser refinado para a eliminação de impurezas, pode ser utilizado puro ou misturado com o óleo diesel na proporção de 5 a 30% em motores diesel convencionais, sem a necessidade de adaptação. Além do biodiesel, deste processo também se obtém glicerina como subproduto (BERMANN, 2001). Óleos essenciais A denominação óleo essencial define um grupo de substâncias naturais aromatizantes, que são extraídas de diferentes partes de algumas espécies vegetais, sendo processamentos específicos, em sua maioria, por hidro destilação (BRAGA, 1987). De acordo com Costa (1975), óleos essenciais são constituídos de misturas de numerosos compostos voláteis, com tensões de vapor elevadas, insolúveis na água, mas solúveis em vários solventes imiscíveis nesta e também no álcool. Os óleos essenciais são geralmente produzidos por estruturas secretoras especializadas, tais como: pelos glandulares, células parenquimáticas diferenciadas, canais oleíferos ou em bolsas específicas. Essas estruturas podem estar localizadas em partes específicas ou em toda planta. Assim podem-se encontrar óleos essenciais na parte aérea, como na menta; nas flores, como é o caso do jasmim, nas folhas, como ocorre em eucaliptos e na madeira, como no sândalo, candeia e pau rosa (SIMÔES e SPITZER, 1999). A candeia (Eremanthus sp) é uma das plantas cuja madeira tem alta resistência, durabilidade, poder energético e que possui um óleo essencial, cujo principio ativo é o alfabisabolol, de propriedades antiflogísticas, antibacterianas, antimicóticas e dermatológicas (TEIXEIRA et al., 1996). O pau rosa (Aniba rosaeodora Ducke) é uma espécie florestal nativa da Região Amazônica, pertencente à família Lauracea, que se destaca pela produção de óleo essencial rico em linalol, muito utilizado na indústria de perfumaria. Esta espécie, até a década de 1950, representou grande parcela na balança comercial da Amazônia através da exportação do seu óleo essencial. Porém, a intensa exploração do pau rosa nas matas naturais, aliada à falta de uma política de reposição, seja através do manejo florestal ou do estabelecimento de plantios, contribuiu 16 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 10-22, jan./jun. 2014. TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C. Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais fortemente para que esta espécie tivesse seus recursos genéticos empobrecidos (OHASHI et al., 2004). O método usual de obtenção do óleo essencial do pau rosa tem sido através da destilação de sua madeira, o que, em geral, exige a derrubada de uma grande quantidade de árvores. Entretanto, a utilização de folhas e ramos finos pode ser uma alternativa de exploração, uma vez que apresentam potencial para produção de óleo essencial, haja vista que a qualidade da essência é a mesma da extraída da madeira (OHASHI et al., 1997). Ácido pirolenhoso Pirólise é o termo utilizado para caracterizar a decomposição térmica de materiais contendo carbono, na ausência de oxigênio. Assim, madeira, resíduos agrícolas, ou qualquer outro tipo de material orgânico durante a queima se decompõe, dando origem a três fases: uma sólida, o carvão vegetal; outra gasosa, e finalmente, a líquida, comumente designada de fração pirolenhosa (CAMPOS, 2007). O ácido pirolenhoso pode ser obtido após o processo de condensação da fumaça formada pela queima da madeira para produção de carvão vegetal. Este líquido de coloração amarela a marrom avermelhada é adquirido de diferentes espécies vegetais, como bambu, eucaliptos e pinus (MAEKAWA, 2002; CAMPOS, 2007; SOUZA-SILVA et al. 2006). Esse ácido também conhecido como extrato pirolenhoso é constituído de 800 a 900 cm³.dm-3 de água e contêm cerca de 200 componentes químicos diferentes, tendo como predominante o ácido acético, o metanol, a acetona e os fenóis (ZANETTI et al. 2004) Segundo Campos (2007), as primeiras pesquisas com o extrato pirolenhoso foram divulgadas no Japão em 1874. Em 1893, as pesquisas experimentais visavam à construção de fornos, técnicas de carbonização para obtenção de óleo de terebintina e alcatrão. Após a Segunda Guerra, em 1944, iniciou-se a utilização do ácido pirolenhoso nas lavouras. Em 1945, foi publicado o primeiro livro, intitulado “Fabricação e Utilização do Extrato Pirolenhoso”, por Tatsujiro Fukuda, com relatos interessantes sobre a eficiência deste extrato na cultura do arroz, sendo utilizado contra pragas e pássaros e no processo de compostagem e esterilização. Este líquido, chamado de ácido pirolenhoso, é utilizado pela indústria alimentícia como aditivo, para imitar o sabor dos defumados (CASAGRANDE JUNIOR et al., 2004), na área humana pode ser usado em banhos para lavagem de pele áspera, desinfecção de ambientes sendo um esterilizante eficiente. Esse subproduto da madeira também se apresenta como um potencializador da eficiência de produtos fitossanitários e absorção de nutrientes em pulverizações foliares com potencial quelatizante (CAMPOS, 2007). Pesquisas recentes vêm apontando para o grande potencial de utilização do extrato pirolenhoso na agricultura, tanto na forma natural quanto utilizado em novas formulações de insumos. É uma alternativa de produto natural de fonte renovável sustentável (CAMPOS, 2007). Em um estudo sobre o feito do extrato pirolenhoso no crescimento de plântulas de arroz, os autores observaram que o tratamento do solo com produto promoveu crescimento da parte aérea das plântulas e aumentou o seu peso fresco, à medida que se aumentava as doses de EP, avaliados aos 13 dias após a semeadura. Em relação ao desenvolvimento do sistema radicular, 17 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 10-22, jan./jun. 2014. TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C. Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais este foi favorecido com uso de EP, apresentando aumentos significativos em função do aumento da dose, que propiciava um maior número de novas raízes emitidas (ICHIKAWA e OTA 1982). Na determinação da capacidade fitotônica do extrato pirolenhoso, Trivellato et al.(2001) observaram que se aplicado constantemente em plantas de alface, proporciona incrementos na produtividade dessa hortaliça, representando um potencial fertilizante foliar. No trabalho de Zanetti et al. (2004) com limoeiro Cravo, os autores observaram que a adição de extrato pirolenhoso a uma concentração de 10 cm3 dm-3 em solução contendo micronutrientes aumentaram a absorção de Cu e Mn pela parte aérea das mudas, além do que as concentrações contendo o extrato aumentaram a absorção das raízes por Ca (g kg-1) e diminuíram a absorção das mesmas por Fe (mg kg-1). Efeitos da incorporação de extrato pirolenhoso em substrato no desenvolvimento inicial de mudas de tomate foram encontrados no estudo de Guerreiro et al. (2012), no qual o extrato incorporado a um substrato de fibra de coco proporcionou um desenvolvimento positivo das mudas, influenciando o tamanho da planta e o peso da parte aérea e do sistema radicular. CONSIDERAÇÕES FINAIS As condições edafoclimáticas, bem como a grande extensão territorial, aliadas à disponibilidade de terras e mão-de-obra favoreceram o desenvolvimento tecnológico da silvicultura em curto espaço de tempo, proporcionando ao Brasil alcançar um alto nível de excelência em silvicultura de florestas homogêneas, reconhecido internacionalmente. Com isso foram obtidos ganhos de produtividade e redução de custos. Por outro lado, os impactos ambientais relacionados às técnicas de implantação, manejo e colheita de florestas plantadas, foram minimizados, de forma que hoje os plantios florestais podem ser considerados ambientalmente sustentáveis, assim como os subprodutos da utilização da madeira. As alternativas mais eficazes de utilização de resíduos são para fins energéticos ou como matériaprima em produtos de maior valor agregado. Como biomassa, estes resíduos podem ser utilizados para a geração de energia elétrica, térmica ou cogeração, para uso próprio ou comercialização (incluindo produtos como briquetes e pellets). Em termos de produtos que utilizam tal matériaprima, os destaques são para o licor negro, carvão vegetal, lenha, briquetes, pellets, álcool e ácido pirolenhoso. Estes usos consideram investimentos em tecnologias específicas que devem ser mais bem avaliadas conforme o caso e propósito em questão. REFERÊNCIAS ABREU, Y.V.; SILVA, C.M.; NASCIMENTO, H.R.; GUERRA, S.M.G. Aproveitamento da biomassa florestal: produção de energia verde no Brasil. Anais do 48º Congresso SOBER. Campo Grande. 2010. ABREU, Y.V.; OLIVEIRA, M.A.G.; GUERRA, S.M.G. Energia Sociedade e Meio Ambiente. Palmas. 175 p. 2010. 18 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 10-22, jan./jun. 2014. TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C. Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais BEN. Balanço Energético Nacional 2008 – Base 2007. Brasília, 2008. BERMANN, C. Energia do Brasil: para quê? Para quem? Crise e alternativas para um país sustentável/Célio Bermann – São Paulo: Editora Livraria da Física: FASE, 2001. BIASI, C.P., ROCHA, M.P. Rendimento em madeira serrada e quantificação de resíduos para três espécies tropicais. FLORESTA, Curitiba, v. 37, n. 1, jan./abr. 2007. BRAGA, N.C. Os óleos essenciais no Brasil: estudo econômico. Rio de Janeiro. Instituto de óleos, 1971. 158p. BRASIL. Consumo Sustentável: Manual de educação. Brasília: Consumers International MMA/MEC/IDEC. 160 p., 2005. BRITO, J.O.; BARRICHELO, L.E.G. Considerações sobre a produção de carvão vegetal com madeiras da Amazônia. Série Técnica. Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais. Departamento de Silvicultura da ESALQ – USP, v. 2, nº 5, p. 1-25. Piracicaba, 1981. 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P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C. Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais 1 1 TORRES, Nádia Hortense. Possui Doutorado em Química na Agricultura e no Ambiente (CAPES 7) pelo Centro [email protected]; de Energia Nuclear na Agricultura, Brasil(2014). 2 AMÉRICO, Juliana Heloísa Pinê. Mestrado em Engenharia Civil pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil(2010) Aluna de Pós-Graduação (Doutorado) do Centro de Aquicultura da UNESP (CAUNESP), Brasil. E-mail: [email protected]; 3 FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo é Doutor em Microbiologia Agrícola pelo ESALQ, Brasil(2009). Professor PPG I - 1 da Universidade Tiradentes , Brasil. [email protected]; 4 GRANJA, Ana Carolina Ribeiro. Doutorado em Química na Agricultura e Ambiente pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Brasil(2013). Professor I do ETEC Coronel Fernando Febeliano da Costa , Brasil. E-mail: [email protected]; 5 HARDER, Márcia Nalesso Costa Márcia Nalesso C. HARDER é doutora em Ciências (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) pela Universidade de São Paulo (2009). Atualmente é coordenadora do curso de Tecnologia em Agroindústria da FATEC Piracicaba. Tem experiência na área de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Aplicações Industriais de Radioisótopos, Biocombustíveis, atuando principalmente nos seguintes temas: biocombustíveis, bioetanol/açúcar, irradiação de alimentos, processamento e conservação de alimentos, plantas medicinais e alimentos funcionais, ecossustentabilidade. E-mail: [email protected]> 22 Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A. RAMPAZO, Érick M. Resumo Este trabalho foi conduzido em estufa plástica, no Instituto Federal Catarinense, Campus de Concórdia, SC, com o objetivo de avaliar o desempenho agronômico da cultura da alface, cultivar Vera, no sistema hidropônico utilizando água de piscicultura misturada com diferentes percentuais de solução nutritiva; e avaliar o incremento de fitomassa seca, analisando teores de nitrato (NO-3) nas folhas da alface na colheita. Os seguintes tratamentos foram utilizados: (T1) água mais 100% da solução nutritiva (testemunha); (T2) água da piscicultura com 50% da solução nutritiva; (T3) água da piscicultura com 100% dos micronutrientes da solução nutritiva; e (T4) somente água da piscicultura. Os resultados evidenciaram que: (a) a água residual da criação de peixes, em açudes no sistema semi-intensivo, não é capaz de fornecer os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento das plantas de alface para fins comerciais; (b) a produção de alface utilizando o sistema semi-intensivo com o uso da água da piscicultura é tecnicamente viável em açudes, desde que seja realizada uma adubação complementar para suprir as necessidades nutricionais das plantas; (c) o tratamento T1 apresentou os melhores resultados, tendo as plantas atingido uma fitomassa verde e seca, respectivamente de 378,70 g e 19,97 g; (d) o tratamento T2 não apresentou diferença significativa para o tratamento testemunha, com 293,59 g e 19,28 g, respectivamente, o que demonstra uma efetividade do sistema semi-intensivo, e que o mesmo é perfeitamente viável a partir de ajustes nutricionais; (e) o tratamento T1 apresentou maior teor de nitrato aos 28 dias após transplante, com 793,3 mg kg-1 de NO3-, entretanto, dentro dos limites aceitáveis para o consumo humano das folhas de alface. Palavras-chave: Lactuca sativa; Solução nutritiva; Sistema hidropônico Abstract This work was carried out in plastic greenhouse at “Federal Institute Catarinense”, Campus of Concórdia, State of Santa Catarina, Brazil, with the purpose of evaluating the agronomic performance of the lettuce crop, cultivar 'Vera', under hydroponic system using water from pisciculture mixed with different percents of macro and micronutrients in the nutritive solution; and of evaluating the increment of dry mass, analyzing the leaf nitrate (NO-3) content of the lettuce at harvest. The following treatments were used: (T1) water with 100% of the nutritive solution (control); (T2) water from pisciculture mixed with 50% of the nutritive solution; (T3) water from pisciculture mixed with 100% of the nutritive solution; and (T4) water from pisciculture, only. The results show that: (a) the residual water from fish production system in 23 dams, in the semi-intensive system, is unable to provide the nutrients necessary for growth and development of lettuce plants for commercial proposes; (b) the lettuce production using the semiintensive system with water from the fish production system is technically feasible in dams, if conducted an additional fertilizer to attend the nutritional needs of plants; (c) the treatment T1 presented the better results, where the plants reached a green and dry mass of 378.70g and 19.97g, respectively; (d) the treatment T2 did not present significant difference to treatment T1, with 293.59 g and 19.28 g, respectively, which shows an effectiveness of semi-intensive system, and it is perfectly feasible from nutritional adjustments; (e) the treatment T1 presented the highest nitrate content at 28 days after transplant, with 793.3 mg kg-1 of NO-3, however, within acceptable limits for human consumption of leaf lettuce. Keywords: Lactuca sativa; Nutritive solution; Hydroponic system Resumen Este trabajo se realizó en invernadero, en el Instituto Federal de Santa Catarina , en el Campus de la Concordia , SC, con el objetivo de evaluar el comportamiento agronómico de la variedad de lechuga Vera , el sistema hidropónico usando mezclado con diferentes porcentajes de água de cultivo de peces más solución nutritiva; y evaluar el incremento de la materia seca y el análisis de los niveles de nitrato (NO-3) en las hojas de lechuga en la cosecha. Se utilizaron los siguientes tratamientos : (T1) solución de agua más 100 % de nutrientes (de control); (T2) agua de pescado con 50 % de la solución de nutrientes ; (T3) el agua de los peces con 100 % de los micronutrientes para solución nutritiva; y (T4) sólo agua de peces . Los resultados mostraron que: (a) el agua residual del cultivo de peces en estanques en sistema semi-intensivo es incapaz de proporcionar los nutrientes necesarios para el crecimiento y desarrollo de plantas de lechuga con fines comerciales; (b) la producción de lechuga usando el sistema de semi-intensivo con el uso de agua de peces en estanques es técnicamente factible, a condición de que una fertilización adicional se realiza para satisfacer las necesidades nutricionales de las plantas; (c) el tratamiento T1 mostró los mejores resultados, adonde las plantas alcanzaron un peso verde y seca, respectivamente 378,70 g 19,97 g; (d) el tratamiento T2 no mostró diferencias significativas en relación al tratamiento de control , con 293,59 y 19,28 g, respectivamente, lo que demuestra la eficacia del sistema semi-intensivo, y que es perfectamente viable desde los ajustes nutricionales; (e) el tratamiento T1 mostró los niveles de nitrato superiores a los 28 días después del trasplante, con 793,3 mg kg-1 de NO-3 , sin embargo, dentro de límites aceptables para el consumo humano de las hojas de lechuga. Palabras clave: Lactuca sativa; Solución nutritiva; Sistema hidropónico 24 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 23-33, jan./jun. 2014. TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A. RAMPAZO, Érick M Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas INTRODUÇÃO O modelo de piscicultura praticado no Estado de Santa Catarina / SC, em específico na região Oeste, é de caráter singular e serve de referência nacional devido ao aproveitamento de dejetos de suínos. A irrigação com efluentes de viveiros de peixes também reduz o custo da água e a quantidade de fertilizantes minerais utilizados (AL-JALOUD et al., 1993; SILVA e MAUGHAN, 1994; SILVA e MAUGHAN, 1995). Num viveiro de piscicultura acumulam-se compostos de nitrogênio inorgânico (amônia total), fósforo, matéria orgânica e outros poluentes em potencial que podem ser liberados no ambiente durante a circulação de água, durante o cultivo ou na drenagem do viveiro para a despesca. (BOYD, 1990; TURCHER, 1992 apud PALHARES, 2005). O material orgânico proveniente da adição de fertilizantes, excreção dos peixes e restos de ração não consumidos pelos peixes, depositam-se no fundo dos tanques, já os metabólitos e compostos nitrogenados e fosfatados, encontram-se diluídos no meio estimulando a floração de algas (HUSSAR et al., 2002). O aproveitamento das águas do cultivo de peixes na produção de vegetais aperfeiçoaria o uso deste recurso, pois, além de integrar as diferentes atividades desenvolvidas nas propriedades rurais, combinaria a produção de proteína de origem animal com a produção de plantas, dentre as quais, hortaliças, grãos, frutas, plantas forrageiras, pastagens, e reflorestamento, através da fertirrigação, tendo ainda, a possibilidade de reduzir o uso de adubos minerais. O cultivo hidropônico de plantas é uma técnica que permite uma produção efetiva em meio líquido, associado ou não a substratos não orgânicos naturais, ao qual é adicionada uma solução nutritiva para suprir as necessidades exigidas ao desenvolvimento da planta, principalmente, se considerarmos a cultura da alface (Lactuca sativa L.), pertencente à família Cichoriaceae. O presente trabalho tem por objetivo: avaliar o desempenho agronômico da cultura de alface, variedade cultivada Vera no sistema hidropônico, utilizando a água da criação de peixes misturada com diferentes percentuais da solução nutritiva e avaliar o incremento de fitomassa seca, analisando os níveis de concentração de nitrato nas folhas da alface no momento da colheita. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido no setor de piscicultura e horticultura do Instituto Federal Catarinense, no período de março à outubro de 2008 no Campus de Concórdia, localizado na região Oeste do Estado de Santa Catarina/SC, tendo como coordenadas geográficas: latitude 27°13'55"S; longitude 52°00'26"W e altitude 569m. O experimento foi montado para a produção de peixes e para a produção alface em sistema hidropônico, em estufas plásticas do tipo arco pampeano, com dimensões de 12,5 m x 7,5 m e pé direito de 2,50 m, com cobertura e cortinas laterais em policloreto de vinil (PVC) com 230 μ de espessura, aditivado contra raios ultravioletas. Cada tratamento foi formado por duas bancadas, sendo cada bancada composta por seis perfis de PVC com 6,0 metros de comprimento, e espaçamento de 25,0 cm entre os furos, perfazendo um total de 24 furos por cano, totalizando 144 mudas de alface por tratamento. Para cada tratamento (T1 - testemunha, água pura com 100% de solução nutritiva; T2 - água da piscicultura com 50% da solução nutritiva do tratamento 1; T3 - água da piscicultura com 100% dos micronutrientes da 25 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 23-33, jan./jun. 2014. TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A. RAMPAZO, Érick M Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas solução nutritiva dos tratamentos 1 e 2; e T4 - somente a água da piscicultura), foi montado um sistema formado por uma caixa d‟água de fibra com capacidade de 200 litros para depósito da solução, e uma bomba de 0,33 HP, acionado por temporizador, com vazão de 1,5 a 2,0 L.min-1 cano-1, com intervalos de tempo de 15 minutos durante o dia e 2 a 3 vezes durante a noite, em intervalos espaçados. A planta teste foi à alface (Lactuca sativa L.), variedade cultivada Vera, que apresenta como características predominantes folhas crespas, indicação para semeadura o ano todo, principalmente na época de primavera e verão, possuindo alta tolerância ao pendoamento precoce, sendo que as plantas apresentam folhas de coloração verde clara. A semeadura foi realizada em espuma fenólica no berçário, com uma semente peletizada por célula. O berçário se compõe de uma mesa de telha de fibra de vidro, com dimensões de 4,40 m x 2,10 m e canais com 3,0 cm de profundidade e desnível de 3,0%. A solução nutritiva utilizada foi diluída a 50% da formulação inicial. Na fase seguinte do experimento foi utilizada solução nutritiva (CASTELLANE e ARAÚJO, 1995). A água foi reposta sempre que o nível na caixa atingiu 50% do volume original, sendo corrigida a solução nutritiva conforme a recomendação da tabela de correção e/ou até a água atingir a condutividade elétrica original. A leitura de pH foi realizada diariamente com o auxílio de peagâmetro digital, e o monitoramento dos teores de resíduos nitrogenados, alcalinidade e dureza, através de testes colorimétricos. Os peixes foram criados no sistema semi-intensivo, integrados com suínos. A alimentação foi feita por adubação orgânica para a geração de plâncton no modelo vertical (direto) suínopeixe, apresentando uma densidade de 60 animais ha-1 alagado de viveiro. O cultivo foi realizado em tanque de terra, semi-escavado, com área de 400 m2 com profundidade de 1,3 metros na parte mais profunda e 1,0 metro na parte mais rasa. O abastecimento de água foi individual, por gravidade, com vazão de 3,0 L s-1 ha-1 ou taxa de reposição equivalente a 2,5% ao dia, oriunda de nascente própria. A densidade de cultivo foi de 1,5 peixes.m-2 ou 15.000 peixes ha-1. A espécie de peixe utilizada foi a tilápia nilótica (Oreochromis niloticus). A avaliação do crescimento das alfaces foi realizada através da metodologia preconizada por Manfron (1985) com estudo das seguintes variáveis: índice de área foliar (IAF) e produtividade biológica (PB). Na cultura da alface foram realizadas as seguintes análises: fitomassa fresca (FMV) e seca (FMS) aos 35 dias após o transplante de mudas para o local definitivo, número de folhas por planta considerando-se somente as com tamanho superior a 0,05 m de comprimento (desconsideradas folhas senescentes). A avaliação da concentração de nitrato (mg kg-1 de FMS) das folhas foi realizada aos 28 dias após transplante. Cada amostra foi constituída por seis plantas de alface de cada tratamento, correspondentes ao 4º, 8º, 12º, 16º e 20º furo do cano PVC, que correspondem respectivamente a 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª coleta (07, 14, 21, 28 e 35 DAT). Para a obtenção da fitomassa fresca as plantas foram pesadas inteiras. Após a pesagem foram separadas as raízes da parte aérea, determinado o número de folhas por tratamento e coletados 50 discos para cálculo da área foliar (AF). As folhas, discos e raízes foram colocados em bandejas individuais e levadas a estufa de ventilação forçada à temperatura aproximada de 70°C, até atingirem massa constante, sendo em seguida, utilizada balança eletrônica com precisão de 0,01 g para pesar o material e se obter a fitomassa seca da parte aérea, raiz, disco e fitomassa seca total. 26 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 23-33, jan./jun. 2014. TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A. RAMPAZO, Érick M Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas Com base nessas informações determinou-se o índice de área foliar (IAF) e a produtividade biológica (PB). A moagem da parte aérea do material seco em estufa foi realizada através de um micro moinho do tipo Willey. A obtenção do extrato e a determinação de nitrato foram realizadas de acordo com a metodologia tradicionalmente utilizada (CATALDO et al., 1975). O modelo de delineamento estatístico foi o de blocos casualizados com quatro repetições. Os tratamentos relativos às formulações nutritivas foram submetidos à análise de variância, sendo suas médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro, e para as variáveis de crescimento de plantas de alface foram determinadas regressões. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados experimentais médios de três anos de cultivo do número de folhas por tratamento mostram que o melhor foi o T1 seguido pelo tratamento T2, e que os tratamentos T3 e T4 não diferiram significativamente, com grande diferença para os demais, caracterizando deficiência nutricional em relação aos tratamentos T1 e T2 (Tabela 1). Tabela 1 – Valores médios de três anos de cultivo e datas de coleta do número de folhas, fitomassa fresca e seca da parte aérea, da raiz e total (g planta -1) de alface, variedade cultivada Vera, sob quatro condições nutricionais (testemunha, T1 – água pura, com 100% de solução nutritiva Castellane e Araújo (1995); T2 – água da piscicultura com 50% da solução nutritiva do tratamento 1; T3 – água da piscicultura com 100% dos micronutrientes da solução nutritiva dos tratamentos I e II; T4 – somente água da piscicultura). Instituto Federal Catarinese, Campus de Concórdia, SC. 2008. Fitomassa Fresca(g) Fitomassa Seca (g) Número Tratamento de Parte Parte Raíz Total Raíz Total Folhas aérea aérea T1 36,4a 331,80a 46,27a 378,07a 17,76a 2,21a 19,97a T2 32,0a 293,59a 35,50a 329,09a 17,30a 1,98a 19,28a T3 23,4b 56,12b 19,22b 75,34b 6,04b 1,59b 7,63b T4 21,6b 53,75b 18,22b 71,97b 5,69b 1,38b 7,07b *Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. O valor máximo do número de folhas para a alface foi obtido no tratamento T1 com a média de 36,4 folhas, não apresentou diferença significativa com o tratamento (T2) média de 32,0 folhas, o que mostra a eficiência da solução nutritiva utilizada no crescimento das plantas de alface, que se desenvolveram mesmo com aplicação de 50% da solução nutritiva do tratamento T1 (Tabela 1). A água da piscicultura continha teores muito baixos de nutrientes, pois ocorre uma precipitação natural dos mesmos no açude. 27 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 23-33, jan./jun. 2014. TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A. RAMPAZO, Érick M Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas Para todas variáveis de produtividade analisadas houve comportamento muito similar entre os tratamentos, salientando sempre o melhor crescimento nos tratamentos com adição de nutrientes, em relação aos demais tratamentos (Tabela 1). Os valores encontrados permitem concluir que no tratamento T4 houve deficiência nutricional, obtendo-se plantas com menor número de folhas (21,6) e menores produções de fitomassa fresca e seca (71,97 g e 7,07 g). As curvas ajustadas de IAF ao longo do ciclo da cultura, para todos os tratamentos, com suas respectivas equações de regressão são apresentados na Figura 1. De um modo geral verificase que o valor máximo de IAF foi atingido aos 35 dias após transplante (T1; 12,71 e T2; 11,55), sendo que para os tratamentos T3 e T4 apresentaram os valores de IAF, respectivamente, de 2,31 e 2,05, valores inferiores aos obtidos nos tratamentos anteriormentes citados (T1 e T2). Este fato deve-se a senescência das folhas mais velhas, certamente provocado pela escassez de macronutrientes da solução, principalmente, nos tratamentos T3 e T4. No 25º dia após transplante (DAT) houve uma reposição do volume de água e solução nutritiva, proporcional para todos os tratamentos, na ordem de 50%, fato que acelerou o crescimento da alface nos tratamentos T1 e T2, o que nos leva a concluir que as reposições periódicas de água e solução nutritiva são benéficas ao crescimento da cultura. 2 -2 Figura 1 - Índice de Área foliar (IAF, cm .cm ) média de plantas de alface variedade cultivada Vera, num sistema hidropônico sob quatro condições nutricionais (T1- água pura, com 100% de solução nutritiva Castellane e Araújo (1995), testemunha; T2 – água da piscicultura com 50% da solução nutritiva do tratamento 1; T3 – água da piscicultura com 100% dos micronutrientes da solução nutritiva dos tratamentos I e II; T4 – somente a água da piscicultura). Instituto Federal Catarinense, Campus de Concórdia, SC. 2008. No tratamento T3 observa-se um crescimento muito pequeno no intervalo entre o 28 DAT e 35 DAT, sendo que no tratamento T4 essa tendência se manteve, com um decréscimo de 11,2%, em relação ao tratamento T3. Fica então, evidenciado que a falta de macronutriente na 28 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 23-33, jan./jun. 2014. TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A. RAMPAZO, Érick M Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas formulação foi determinante no crescimento da alface, e não os micronutrientes os elementos nutritivos decisivos para um bom desenvolvimento da alface. Os valores de produtividade biológica (PB), as equações de regressão para cada tratamento, os valores dos coeficientes da equação de regressão e respectivos coeficientes de determinação (R2) compõe a Figura 2. Para os tratamentos T1, T2, T3, e T4 de uma forma geral as maiores produtividades biológicas foram alcançadas aos 35 DAT, cujos valores foram, respectivamente, de 229, 29 g m-2; 210,67 g m-2; 45,49 g m-2 e 46,72 g m-2. O melhor tratamento foi o tratamento T1, inclusive no momento que as plantas atingiram um porte comerciável, aos 28 DAT. Na Figura 2, verificam-se claramente as diferenças entre os quatro tratamentos, com vantagem para os que receberam adubações com macronutrientes (T1 e T2). -2 Figura 2 - Produtividade biológica (PB, g de planta.m ) média de plantas de alface variedade cultivada Vera, num sistema hidropônico sob quatro condições nutricionais (T1- água pura, com 100% de solução nutritiva Castellane e Araújo (1995), testemunha; T2 – água da piscicultura com 50% da solução nutritiva do tratamento 1; T3 – água da piscicultura com 100% dos micronutrientes da solução nutritiva dos tratamentos I e II; T4 – somente a água da piscicultura). Instituto Federal Catarinense, Campus de Concórdia, SC. 2008. A alface acumulou diferentes teores de nitrato na parte aérea em função do tipo de solução nutritiva empregada em cada tratamento (Tabela 2). A solução nutritiva do tratamento T4 foi a que proporcionou o menor acúmulo de nitrato, diferindo significativamente dos demais tratamentos (α = 5%). O maior teor de nitrato no material analisado foi de 793,3 mg kg-1 (T1) e o menor foi de 7,9 mg kg-1 (T4) quando do uso de água da piscicultura (Tabela 2). Pode-se suspeitar que a cultivar Vera possui características genéticas que regulem o acúmulo de nitrato, diferentemente de outras cultivares, tendências que podem ser observadas pela comparação entre os tratamentos T1 e T2 em comparação com os tratamentos T3 e T4. 29 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 23-33, jan./jun. 2014. TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A. RAMPAZO, Érick M Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas Tabela 2 - Valores de condutividade elétrica (CE) em mS cm-1, pH da solução nutritiva e temperatura do ar (°C), e concentração de nitrato em amostras de folhas de alface em mg de NO-3 kg-1, na hora da coleta do material, aos 28 dias após o transplante das mudas. Instituto Federal Catarinense, Campus de Concórdia, Concórdia, SC. 2008. Tratamento CE (mS.M) pH Temperatura (°C) T1 2,16 6,28 14 T2 1,19 6,27 14 T3 0,16 6,28 14 T4 0,14 6,28 14 Nitrato 793,3a 413,8b 87,5c 7,9d *Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. O nitrato pode servir como regulador osmótico, em condições de baixa luminosidade, para compensar a escassez de carboidratos, principalmente glicose, resultante de uma fotossíntese baixa. Entretanto, as diferenças genotípicas quanto à capacidade osmótica não podem ser relacionadas com as diferenças genotípicas para o acúmulo de nitrato (BLOM-ZANDSTRA e LAMPE, 1985; REININK e BLOM-ZANDSTRA, 1989). Muito são os fatores que podem ter contribuído para o menor acúmulo de nitrato na alface ao se considerar o tratamento T4, mas o que certamente exerceu maior influência foi à baixa concentração de macronutrientes desse tratamento, pois o tratamento T3 mostrou que com 50% da solução do tratamento T1 decresceu significativamente o teor de nitrato, com um nível de 41,8% inferior. O maior acúmulo de nitrato obtido no tratamento T1 e por semelhança no tratamento T2, pode ser atribuído ao fato dessas soluções nutritivas fornecerem nitrogênio na forma de nitrato e em maior concentração que as demais, uma vez que o nitrato acumulado nas hortaliças é derivado primeiramente do nitrato aplicado ou formado no meio nutritivo, sendo o suprimento de nitrogênio o fator nutricional mais importante na determinação do acúmulo de nitrato (OHSE, 1999). Nas condições experimentais do trabalho esperava-se que o teor de nitrato atingisse níveis mais elevados, no entanto, observa-se que os valores encontrados foram significativamente inferiores aos limites máximos permitidos para consumo humano. A disparidade entre os valores encontrados da concentração de nitrato nos tecidos da alface variedade cultivada Vera, deve-se também ao fato que as soluções nutritivas modificam sua composição inicial durante o ciclo vegetativo das plantas, onde os catíons e os ânions são absorvidos em quantidades diferentes e tempos diferentes, o que certamente ocorreu nesse experimento com os tratamentos estudados. A literatura circulante na comunidade européia define os limites máximos para alface produzida em casa-de-vegetação durante a época de inverno de 4500 mg kg-1 de fitomassa fresca (FF) e, consequentemente abaixo do limite máximo permitido para alface produzida a campo aberto com níveis de 2500 mg kg-1 de fitomassa fresca (FF), segundo MCCALL e WILLUMSEN (1998). CONCLUSÕES 30 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 23-33, jan./jun. 2014. TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A. RAMPAZO, Érick M Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas - O tratamento testemunha foi o que apresentou melhores resultados em todas as variáveis de produtividade analisadas, entretanto, não apresentou diferença significativa para o (T2). - A maior concentração de nitrato aos 28 DAT no tratamento testemunha (T1), com 793,3 mg NO-3 kg-1 está dentro dos limites aceitáveis para o consumo humano das folhas de alface. - A água residual da criação de peixes (Tilápia) em açudes no sistema semi-intensivo, não é capaz de fornecer os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento das plantas de alface. LITERATURA CITADA AL-JALOUD, A.A.; HUSSAIN, G.; ALSADON, A.A.; et al. Use of aquaculture effluent as a suplemental source of nitrogen fertilizer to wheat crop. Arid Soil Research and Reabilitation, n.7, p.223-241, 1993. BLOM-ZANDSTRA, M.; LAMPE, J.E.M. 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RAMPAZO, Érick M Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas REININK K.; BLOM-ZANDSTRA M. The relation between cell size, ploidy level and nitrate concentration in lettuce. Physiologia Plantarum, v.76, n.4, p.575-580, 1989. SILVA, A. M.; MAUGHAN, O. E. Multiple use of water: integration of fishculture and tree growing. Agroforestry Systems, New York, n.26, p.1-7, 1994. SILVA A. M.; MAUGHAN, O. E. Effect of density and water quality on red tilapia inpulsed flow culture systems. Journal of Applied Aquaculture, n.5, p.69-75, 1995. 32 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 23-33, jan./jun. 2014. TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A. RAMPAZO, Érick M Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas ¹Gilmar Testolin é Mestre em Fitotecnia pela Universidade de São Paulo, Brasil (2009) e Professor da Escola Agrotécnica Federal de Concórdia, Brasil. ²Paulo Augusto Manfron é Bolsista de Produtividade em Pesquisa 1D, Doutor em Agronomia pela Universidade de São Paulo, Brasil(1992) e Professor de Pós-Graduação da Universidade do Oeste Paulista , Brasil. ³Vagner C. Alves é Doutor em Agronomia (Fitotecnia) (Esalq) pela Universidade de São Paulo, Brasil (2001) e Professor tirular da Universidade do Oeste Paulista, Brasil. 4Tadeu Alcides Marques é Doutor em Tecnologia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas, Brasil(1997) e PS-1 da Faculdade de Tecnologia de Piracicaba , Brasil. 5Erick Malheiros Rampazo é Mestre em Agronomia pela Universidade do Oeste Paulista, Brasil(2011) e Tempo Integral da universidade do Oeste Paulista - Unoeste , Brasil. 33 Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivas aprendiz, professor e empresa CALAZANS, Flávio Dornello SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de FISCHER, Luciana Resumo A aprendizagem profissional tornou-se o meio mais importante para o desenvolvimento de competências profissionais, principalmente para jovens que buscam a colocação no mercado de trabalho que, atualmente, encontra-se em constante mudança. Desse modo, a fim de contribuir com a inserção dos jovens no mercado de trabalho, instituições desenvolveram os Programas de Aprendizagem Profissional. A partir desta proposta os jovens participam, como aprendiz, de atividades teóricas em uma instituição de ensino e as atividades práticas em uma empresa da cidade onde reside. O objetivo deste estudo foi verificar a contribuição deste programa desenvolvido em Piracicaba-SP e seus resultados parciais considerando alunos, docentes e empresas envolvidos. Palavras-chave: aprendizes; aprendizagem profissional; programas de aprendizagem; jovem aprendiz; mercado de trabalho. Abstract The professional learning has become the most important mean for the development of professional skills of people, especially for young people looking for a placement in the labor market, since it is a world that today is constantly changing. Thus, in order to contribute to the integration of young people into the labor market institutions developed the Professional Learning Programs. From this proposal, they participate, under the name of apprentice, of the theoretical activities in a institution and the practical activities in a city where the company resides. The aim of this study was to investigate the contribution of this program developed in Piracicaba-SP and its partial results considering students, teachers and companies involved. Key-words: apprentices; professional learning; learning programs; young apprentice; labor market. Resúmen El aprendizaje profesional se ha convertido en el medio más importante para el desarrollo de competencias profesionales, especialmente para los jóvenes que buscan su colocación en el mercado de trabajo, ya que es un mundo que está en constante cambio. Por lo tanto, con el fin de contribuir con la integración de los jóvenes en el mercado laboral, las instituciones han desarrollado los Programas de 34 Aprendizaje Profesional. A partir de esta propuesta los jóvenes participan, con el nombre de aprendiz, de actividades teóricas en una institución y las actividades prácticas en una empresa de la ciudad en que reside. El objetivo de este estudio fue investigar la contribución de este programa desarrollado en Piracicaba-SP y sus resultados parciales considerando alumnos, profesores y empresas involucradas. Palabras-clave: aprendices; aprendizaje profesional; programas de aprendizaje; joven aprendiz; mercado de trabajo. 35 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. INTRODUÇÃO Uma grande parcela da população juvenil brasileira tem buscado a inserção e colocação no mercado de trabalho, com isso, vê-se diante de duas situações que permeiam diversas organizações, como a falta de oportunidade dada ao jovem e a falta de qualificação técnicoprofissional. Tendo em vista esse cenário, para tentar suprir esses aspectos foram instituídos os Programas de Aprendizagem, que tem como objetivo inserir esses jovens no mercado, sob a denominação de aprendizes, e fornecer uma formação profissional. Esses programas são regidos pela Lei da Aprendizagem nº 10.097/ 2000 e pelo Decreto nº 5.598/ 2005, que regulamenta a contratação de aprendizes e dá outras providências, como o contrato de Aprendizagem, as entidades qualificadas para fornecer a formação profissional, os direitos e obrigações trabalhistas, a certificação de qualificação profissional, entre outras questões que serão apresentadas no decorrer deste trabalho. É Importante ressaltar que a palavra aprendizagem apresenta duas acepções, compreendendo a primeira referente à aprendizagem como processo de obtenção de novos conhecimentos e habilidade, na qual ocorre em todo o processo da vida, e a segunda acepção é a Aprendizagem descrita pela lei, na qual se volta aos programas técnicos de Aprendizagem. De modo a versar a diferenciação foi adotado que, quando for referida ao primeiro sentido a palavra aprendizagem será grafada com inicial minúscula e quando se referir ao segundo sentido a palavra Aprendizagem será grafada com a inicial maiúscula. O objetivo geral desse estudo consiste em analisar o Programa Aprendizagem, que tem ênfase em Gestão e Negócios, desenvolvido por uma instituição de ensino técnico-profissional, situada no município de Piracicaba–SP; a pedido da própria instituição o seu nome não será citado. A pesquisa contou com a participação de aprendizes e docentes que participam do programa de Aprendizagem desta instituição, a fim de verificar a percepção dos mesmos sobre o programa. Profissionais das empresas que mantêm convênio com a instituição de ensino, e que adotam o programa, também foram entrevistadas a fim de identificar qual contribuição o programa trouxe para a organização. Aprendizagem profissional e sua relação com o contexto empresarial A relação aprendizagem profissional e ambiente empresarial apresenta um grande valor, principalmente, quando está focada no processo de desenvolvimento do capital intelectual das organizações, através da ação da aprendizagem e formação para o trabalho, além da possibilidade da inclusão de novos colaboradores no mercado, especialmente quando se tratam de jovens que buscam uma oportunidade nesse dado contexto. Aprender diz respeito à aquisição de novos hábitos, conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, na realidade é um processo de obtenção de novas formas de conduta ou de modificação de uma conduta existente (RIBEIRO, 2005). Para Fleury (2002), a aprendizagem pode ser compreendida como um processo de mudanças provocadas por estímulos e mediado por emoções que podem ou não produzir mudanças nos comportamentos do indivíduo. 36 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. Desse modo, a reflexão sobre o que faz e o porquê se faz também deve ser contemplada no ensino, pois os indivíduos a partir da aprendizagem poderá obter a plena consciência dos resultados e consequências. A qualificação profissional nas organizações permite obter resultados para os indivíduos, para as equipes de trabalho e para as organizações, essa qualificação ocorre de diversas maneiras, seja pela contratação de estagiários e pessoas em primeiro emprego até as ações de capacitação, como treinamentos, investimentos em cursos dentro ou fora da empresa (MOURÃO, 2009). Essa pesquisa utilizará a definição de aprendizagem profissional, fornecida pelo Ministério Público, o qual a “aprendizagem é um ensino técnico-profissional, um processo educativo que, além da formação geral, fornece estudos de caráter técnico e aquisição de conhecimento e aptidões práticas relativas ao exercício de certas profissões” (BRASIL, 2013a, p. 20). Nesse contexto de uma profunda necessidade de qualificação profissional, tanto jovens quanto adultos devem estar envolvidos para desenvolverem as capacidades técnicas e intelectuais, a fim de exercer da melhor maneira possível suas atividades dentro da empresa. Mota (2013) afirma que a escola deixou de ser o único ambiente de aprendizagem, como era visto antigamente, recentemente esse ambiente, seja por exemplo nas organizações, permite que os indivíduos tenham a possibilidade de obter experiências educacionais sem precedentes, como jamais visto nos modelos clássicos de ensino. Essas novas circunstâncias fazem com que seja necessário um novo olhar da relação estabelecida entre educação, tecnologia e o mundo do trabalho. A Importância da Aprendizagem Profissional no Ambiente Corporativo Antigamente a aprendizagem e os cursos de formação profissional eram considerados apenas custos e baixo retorno para a empresa, porém essa concepção atualmente vem sendo modificada a partir da conscientização de que os resultados obtidos são favoráveis (DIAS, 2007). O processo de aprendizagem nas organizações é de suma importância considerando a ampliação do conhecimento dentro das empresas, pois um colaborador, mesmo que através de mecanismos informais, transmite o que aprende para os demais, de maneira que haja uma troca constante de experiências assim como crescimento pessoal e profissional. (COELHO JUNIOR e BORGES-ANDRADE, 2008). O processo de desenvolvimento das pessoas dentro das organizações, que no passado era limitado ao departamento de Recursos Humanos, tornou-se pulverizado por toda a organização, integrando todos os departamentos da empresa, reforçando a importância do capital intelectual como ferramenta estratégica das organizações, no sentido de se tornarem mais ágeis, competitivas e eficientes diante de um mundo globalizado (BRUNI et al, 2005). Mota (2013, p. 112) afirma que “(...) na educação profissional buscar essas novas formas de ensino/aprendizagem é uma necessidade inerente e uma oportunidade ímpar de utilizar o espaço do trabalho também enquanto esfera educacional privilegiada”. 37 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. A INSERÇÃO DO JOVEM NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO: UMA BREVE RETROSPECTIVA (1980 A 2013) Influenciado pela economia mundial, que passou por inúmeras transformações, o mercado de trabalho brasileiro passou por diversos problemas, principalmente, o desemprego generalizado e o aumento da precariedade dos empregos. Na primeira metade da década de 1980, o desemprego tornou-se o problema número um para muitos brasileiros, a ideia da perda do emprego superou outros temores sociais como assaltos, poluição, a seca e as enchentes (SERRA, 1984). A crise dos anos 80 provocou uma queda aproximada de 25% na Produção Industrial acompanhada por uma redução semelhante do nível de emprego industrial. Foi uma novidade para o país a ocorrência de um desemprego em massa oriundo da Indústria de Transformação. Nos anos de 1981 e 1982, o desemprego transformou-se em uma nova realidade para o país, chegando atingir mais de 20% (DEDECCA, 2005, p. 102). Dificuldades como a inserção no mercado de trabalho foram enfrentadas pelos jovens no período (1981-1983), na faixa etária dos 15 aos 19 anos de idade houve uma redução da participação de 15,4% para 14,2%, ocorrendo um comportamento semelhante para a faixa etária dos 20 aos 24 anos (SABÓIA, 1986). A década de 1990 teve início com uma forte recessão e a elevada inflação vinda do final dos anos de 1980. No entanto, em meados de 1992, nota-se que devido à retomada do crescimento econômico do país, o desemprego apresentou um pequeno recuo, conforme Neri et al (2000). No ano de 1994, foi implantado o Plano Real, que tinha como principal objetivo o controle da inflação que vinha preocupando o país, por meio da concorrência interna com produtos importados gerada pela abertura comercial, controle cambial, entre outros (NERI et al, 2000). Com os efeitos do Plano Real, apesar do impacto positivo no desempenho das atividades econômicas da década, podia-se observar a degradação dos níveis de emprego e o país presenciou mais um período de quase estagnação, desemprego e acentuada desigualdade social (DEDECCA, 2005). Os anos 90 foram marcados por mudanças substanciais no mercado de trabalho brasileiro. A recessão econômica do período 1990/92, a abertura comercial, o ajustamento no setor privado em busca de maior competitividade, o plano de estabilização econômica e a privatização repercutiram sobre a ocupação, a desocupação e o rendimento dos indivíduos. Reduziu-se substancialmente o número de trabalhadores na indústria de transformação e, em contrapartida, expandiu-se o número de trabalhadores nos setores de "prestação de serviços" e do comércio (IBGE, 2013). 38 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. No início do século XXI, a economia brasileira aposta num novo cenário de reestruturação comparado com os anos de 1990. Verificou-se uma melhoria generalizada da quantidade de empregos formais em função das condições externas e internas consideradas favoráveis, como a educação básica e a qualificação profissional da força de trabalho (REMY et al, 2010; DIEESE, 2012). O mercado de trabalho nacional apresentou um comportamento atrelado à dinâmica econômica brasileira, após ter uma taxa de desemprego alta em 2003, na faixa de 12,3%. Posteriormente a esse período os indicadores passaram por uma melhora significativa, apenas apresentando desvio nos anos de 2008 e 2009, devido aos efeitos da crise financeira internacional, iniciada nos Estados Unidos, devido ao estouro da bolha imobiliária (DIEESE, 2012). De acordo com a publicação do Ministério da Fazenda (Brasil, 2013b), o mês de dezembro de 2012 fechou com uma taxa de desemprego de 4,6% e o mês de janeiro de 2013 apresentou uma taxa de 5,4%. Com toda a evolução do mercado de trabalho brasileiro, pode-se verificar uma maior participação juvenil no campo profissional, que possui grande importância para o desenvolvimento da economia nacional. Participação e Importância dos Jovens no Mercado de Trabalho Segundo Lobato & Labrea (2013), os jovens representam, no ano de 2013, 26,9% da população brasileira, a maior proporção na curva demográfica. Consequentemente verifica-se que, em muitos casos, os mesmos buscarão uma oportunidade do primeiro emprego, que nem sempre o encontram de maneira fácil. A importância de se levar em consideração os jovens trabalhadores que estão no primeiro emprego ocorre pelo fato de que eles serão os responsáveis pelo futuro das organizações e da sociedade, podendo se constituir como líderes da nação e criadores de um novo Brasil. Desse modo, a preocupação com a formação e a qualificação profissional de jovens se intensifica nos últimos anos, assim como a exigência das organizações por trabalhadores dotados de iniciativa, autonomia e criatividade (MACIEL e MENDONÇA, 2010, p. 353). Chahad e Pozzo (2013) afirmam que, as empresas buscam trabalhadores com mais experiência, o que acaba dificultando a inserção dos jovens, principalmente, na busca pelo primeiro emprego. Isso faz com que esses jovens fiquem mais propensos a aceitação da informalidade, devido a essa tamanha seletividade de contratação, contribuindo assim, para a marginalização desses jovens (OLIVEIRA e SIMÃO, 2012). Desse modo, para tentar suprir esses aspectos, foi criado os programas de Aprendizagem Profissional e o Plano Nacional da Aprendizagem Profissional – PNAP, que tem como objetivo inserir esses jovens no mercado de trabalho, sob as características de aprendizes, e fornecer uma formação profissional ao mesmo. 39 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. Não se trata apenas de gerar empregos, mas de permitir a formação profissional do adolescente, sem comprometer os seus estudos e o seu desenvolvimento como pessoa. Com isso, permitir-se também a geração de renda, não comprometendo a empregabilidade futura (MACIEL e MENDONÇA, 2010, p. 352). Comparando-se os anos de 2006 e 2010, verifica-se que esse valor quase dobrou, passando de 51.965 para 100.474 aprendizes. Na tabela 1 pode-se verificar a concentração dos empregos formais a partir da contratação de aprendizes, principalmente na região Sudeste, representando aproximadamente 52% do total destes no Brasil. Seguido das regiões Sul, concentrando 16,7% dos empregos de aprendizes, da região Nordeste com uma concentração de 14,9%, da região Centro-Oeste com 10,9% e região Norte com uma concentração de 5,4% dos empregos de aprendizes no ano de 2010. Tabela 1 – Evolução dos empregos formais de aprendizes (Brasil e Grandes Regiões 2006-2010 em nos absolutos) Brasil e Grandes Regiões 2006 2007 2008 2009 2010 Norte 4.172 5.627 7.029 8.025 10.341 Nordeste 8.298 11.854 14.371 22.209 28.907 Sudeste 51.965 66.810 76.266 83.968 100.474 Sul 10.054 13.755 20.647 23.184 32.283 Centro-Oeste 11.036 13.598 15.660 17.777 20.954 BRASIL 85.525 111.644 133.973 155.163 192.959 Fonte: Adaptado de DIEESE (2011). Com isso, além de proporcionar a participação ativa dessa camada juvenil no mercado de trabalho, também proporciona uma melhoria na qualificação da mão-de-obra, consequentemente, as empresas que empregam os aprendizes terão benefícios significativos, como jovens colaboradores treinados e participativos, além de benefícios fiscais e tributários, entre outros. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS LEGISLAÇÕES E DOS PROGRAMAS DE APRENDIZAGEM: UMA INVESTIGAÇÃO EVOLUTIVA NO CONTEXTO BRASILEIRO 40 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. Os programas de Aprendizagem que são conhecidos atualmente, nem sempre apresentavam o caráter de profissionalização e inserção dos jovens no mercado de trabalho. Pode-se verificar que no início era tido como um suporte aos jovens menos favorecidos da sociedade brasileira. Com o tempo, as intervenções da legislação brasileira, trouxeram um contorno mais profissional. A Revolução Industrial brasileira, segundo os historiadores se deu a partir da década de 1930. Até então, o que era produzido no país, era desenvolvido pelos chamados artesãos, que ensinavam seu ofício a um determinado aprendiz para que pudesse vir a realizar o trabalho com a devida qualificação, o qual era realizado do início ao final do processo. Vale ressaltar que naquele momento a qualificação estava essencialmente voltada para o trabalho manual, não se tratava de uma formação que conjugasse a teoria e a prática (GOMES, 2003). Já quando as máquinas passaram a substituir o trabalho manual, não foi uma mudança com fácil adaptação. No decorrer da industrialização, verificou-se a necessidade de treinamento e a capacitação profissional para ensinar os operários a realizarem seu trabalho nesse novo modelo de mercado. Em 1923 já se estabelecia a aprendizagem metódica entre a prática e a teoria, com apoio do Estado. [...] Só foi com o ingresso de Roberto Mange nos Liceus de Artes e Ofícios, que o método tradicional de aprendizagem acabou sendo substituído pela capacitação profissional científica. Com o apoio financeiro do Estado, Mange instalou em 1923 nos Liceus de Artes e Ofícios, a Escola Profissional de Mecânica, podendo assim testar por meio de erros e acertos o sistema das séries metódicas que até hoje, é estabelecido em lei como “aprendizagem metódica entre teoria e prática” (BUIAR e GARCIA, 2008). Entretanto, a aprendizagem metódica como um modelo pedagógico, a qual se tornou uma referência como método de ensino à época, aconteceu através da inserção dos jovens trabalhadores no segmento ferroviário, com da criação, em 1934, do Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional – CFESP. Cunha (2005, p. 26) afirma que “nas escolas de aprendizagem de ofício, os alunos eram, invariavelmente, órfãos e outros “desvalidos”, oriundos do lumpemproletariado1, mais interessadas na comida gratuita do que no aprendizado propriamente”. Nessa conjuntura histórica brasileira em 1942, por meio do Decreto-Lei nº 4.048 foi criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, que atualmente é uma das instituições habilitadas para formar jovens aprendizes, através de ensino profissionalizante. Todas essas mudanças no âmbito financeiro, sindical, estrutural, social, cultural, econômico, tecnológico e político no Brasil, serviram para motivar a discussão e a implantação da lei trabalhista, talvez, mais conhecida no país, a Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT, a qual passou a dar uma maior proteção aos trabalhadores em geral e também aos jovens aprendizes que eram inseridos no mercado de trabalho através do ensino profissionalizante. 1 Termo utilizado para a designação marxista do proletariado mais pobre que não tem consciência de classe (LINDEN, 2005). 41 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e as Legislações que Precederam a Lei de Aprendizagem Desde a implantação da Consolidação das Leis de Trabalho – CLT, pelo Decreto-Lei nº 5.452, datada de 1º de maio de 1943. A CLT não somente consolidou as leis trabalhistas que já existiam na época, como adotou outras ações para reger a relação entre os empregados e os seus empregadores e definiu as características básicas do sistema legal e oficial das relações trabalhistas. Para uniformizar as leis trabalhistas e para regulamentar, também no quesito da educação profissionalizante, o governo interfere e prevê a obrigatoriedade para que as organizações contratem em seu quadro, nas funções que demandam formação profissional, um mínimo de 5% de aprendizes (BRASIL, 1943). Atualmente (2013) esse percentual pode chegar ao máximo a 15% (BRASIL, 2000). A estipulação desse percentual limite é somente uma das alterações que foram feitas através do tempo, entre outras, que irá se verificar. Considerando que as transformações na indústria trouxeram uma grande migração das pessoas das localidades rurais para as áreas urbanas, inevitavelmente o setor de comércio e serviços nas cidades também teve seu crescimento e, no ano de 1946, através do Decreto-Lei nº 8.621 foi criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, que é outra instituição habilitada a fornecer a Aprendizagem Profissional (BRASIL, 1946). O Ensino profissional estava organizado – para atender as três áreas da economia (industrial, comercial e agrícola) e compunha-se de 2 ciclos: um fundamental, com duração de 4 anos e, um técnico, com duração de 3 a 4 anos. Ao lado desses cursos de formação, estavam previstos cursos artesanais – destinados a treinamento rápido e curso de aprendizagem (SENAI-SENAC) destinado a qualificação de aprendizes – os que já trabalhavam (prioritariamente) e os que se preparavam para o ingresso imediato na força-detrabalho (PIMENTA, 2011, p.65). Minayo (2006) afirma que, se estabeleceu direitos fundamentais para as crianças e adolescentes, garantindo e priorizando as necessidades, pelo fato de considerar que os mesmos, estão ainda em desenvolvimento, no tocante geral, como pessoa. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, grifo nosso). Outro passo para desenvolvimento e o estabelecimento dos parâmetros da Lei de Aprendizagem, que viria a ser instituída em 2000, foi criado, pela Lei nº 8.069/90, o Estatuto da 42 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. Criança e do Adolescente – ECA. Esse estatuto visa apresentar alguns aspectos para a proteção das crianças e dos adolescentes. A Lei da Aprendizagem e o Papel de seus Protagonistas: Aprendizes, Estabelecimentos Contratantes e Instituições Formadoras A Lei nº 10.097/00, também conhecida como Lei da Aprendizagem, complementada pela Lei nº 11.180/05 e regulamentada pelo Decreto nº 5.598/05, teve como base jurídico-legal, os artigos que regiam a Aprendizagem na CLT e no ECA. Na legislação, aprendiz é o adolescente ou jovem entre 14 e 24 anos que celebra contrato de Aprendizagem (BRASIL, 2011). O Ministério do Trabalho e Emprego – MTE conceitua programa de Aprendizagem como sendo um programa técnico-profissional com alguns parâmetros para a orientação das instituições formadoras. O programa técnico-profissional que prevê a execução de atividades teóricas e práticas, sob a orientação de entidade qualificada em formação técnicoprofissional metódica, com especificação do público-alvo, dos conteúdos programáticos a serem ministrados, período de duração, carga horária teórica e prática, mecanismos de acompanhamento, avaliação e certificação do aprendizado (BRASIL, 2011, p. 13). A contratação do aprendiz deverá ser feita diretamente pelo estabelecimento que deve cumprir a cota de Aprendizagem, o qual assumira o papel de empregador e carece inscrever o aprendiz em um programa de Aprendizagem, que são ministrados pelas entidades qualificadas (BRASIL, 2005). O contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado não superior a dois anos, em que o empregador se compromete a assegurar ao aprendiz, inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissional metódica compatível com seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz se compromete a executar com zelo e diligência as tarefas necessárias a essa formação (BRASIL, 2005) A validade do contrato pressupõe anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS, onde se deve assinalar no campo Função a palavra “aprendiz”, seguida da função conforme a Classificação Brasileira de Ocupações – CBO. A seguir uma tabela apresentando uma síntese da Lei da Aprendizagem para uma melhor visualização. Tabela 2 – Quadro-síntese da Lei da Aprendizagem e suas principais características Lei da Aprendizagem Características 43 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. A lei O aprendiz A instituição formadora A empresa contratante Remuneração Jornada de trabalho Cota de aprendizes Direitos trabalhistas e previdenciários Contrato de trabalho Vínculo empregatício Incentivos fiscais e tributáveis Lei nº 10.097/2000 Decreto nº 5.598/2005 (regulamenta a lei anterior) Jovens entre 14 e 24 anos, que estejam cursando no mínimo o ensino fundamental Instituições do sistema S (ex.: SENAC, SENAI, SENAT, SENAR, SESCOOP); Escolas técnicas, inclusive as agrotécnicas (ex.: ETEC‟s); Entidade sem fins lucrativos (ex.: CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola) Estabelecimentos de qualquer natureza, sendo facultado para as microempresas e entidades sem fins lucrativos Salário mínimo/hora Até 06 horas diárias para jovens que estejam cursando o ensino fundamental; Até 08 horas diárias para jovens que estejam cursando ou concluído o ensino médio 5% a 15% do total de funcionários da empresa 13º salário; Vale-transporte; Férias; Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS Seguridade Social (INSS) Contrato de trabalho com prazo determinado, com duração de até 02 anos, salvo no caso de jovens com deficiência Pela Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT e registro na Carteira de Trabalho e Previdências Social – CTPS Redução de 8% para 2% do FGTS; Dispensa aviso prévio; Isenção de multa rescisória Órgão responsável Superintendência Regional do Trabalho pela fiscalização da lei Fonte: elaborado pelos autores com base na Lei da Aprendizagem. Como se pode verificar, na tabela 3, a Lei da Aprendizagem possui algumas características principais, as quais empresas, aprendizes e instituições formadoras devem seguir. O PROGRAMA DE APRENDIZAGEM PROFISSIONAL EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO (PIRACICABA-SP): CARACTERIZAÇÃO EM GESTÃO E NEGÓCIOS 44 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. O Programa Aprendizagem da instituição de ensino do município de Piracicaba-SP, a qual por solicitação da própria instituição, não será citado o nome, tem como finalidade atender a Lei nº 10.097/00 e seus decretos e portarias citados no capítulo anterior. O programa da instituição objeto deste estudo tem como foco o campo de conhecimento em Gestão e Negócios, que possibilita ao aprendiz atuar nas diversas áreas e departamentos de empresas dos ramos atacadista, varejista e de serviços. O processo de contratação no Programa Aprendizagem transcorre da seguinte forma, a empresa entra em contato com a instituição formadora, estabelece a parceria, verifica os dias e os horários das turmas, qual o início e o término do programa, verifica o prazo e os documentos necessários da empresa e do jovem para efetuar a matrícula. Na sequência, a empresa realiza o processo de recrutamento e seleção e elabora em papel timbrado o Contrato de Aprendizagem com o jovem aprendiz. O jovem aprendiz uma vez contratado, no cumprimento das 933 horas práticas, seguirá um cronograma para o rodízio de funções e áreas, que deve ser compatível com a proposta pedagógica do programa, onde o mesmo é inserido como parte do processo de aprendizagem e não do caráter produtivo da empresa. Em cada um dos departamentos é necessário que se tenha um monitor ou um responsável para acompanhamento diário das atividades do aprendiz, e um tutor que conheça a legislação da Aprendizagem e o programa da instituição formadora, o qual responde pelas atividades do jovem aprendiz dentro da empresa. Uma das características desse programa é buscar conciliar a experiência vivida na empresa, levando em consideração os aspectos facilitadores e as dificuldades encontradas pelo aprendiz, para serem trabalhadas em sala de aula com a orientação do docente. Ao final do Programa Aprendizagem: Gestão e Negócios, os jovens, nos aspectos de organização e operações das diversas áreas administrativas e comerciais, obterão a compreensão de alguns processos de funcionamento de vários departamentos e o fluxo desses processos na empresa, na qual esse aprendiz está realizando as atividades práticas. Metodologia da Pesquisa Para a classificação da pesquisa, esse estudo toma-se como base a taxonomia apresentada por Vergara (2009), que qualifica a mesma em relação a dois aspectos: quantos aos fins e quanto aos meios de investigação. Quantos aos fins, a pesquisa é exploratória e descritiva. Exploratória, pois como não há tantos estudos sobre programas de Aprendizagem, permite proporcionar maior compreensão do tema e do Programa Aprendizagem, foco desse estudo. Descritiva Qualitativa, pois como esse tipo de pesquisa visa expor características de determinada população e fenômeno, assim permite descrever a percepção e análises dos participantes do programa. Quanto aos meios de investigação, este estudo foi realizado mediante a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso. Bibliográfica, pois a fundamentação teórica envolveu fontes secundárias, como livros e sites especializados sobre aprendizagem e capacitação profissional, 45 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. inserção do jovem no mercado, legislação que regem os programas de Aprendizagem. O trabalho apresenta um Estudo de caso, caracterizado pela análise em profundidade do objeto em estudo. O estudo de caso é sobre o Programa Aprendizagem, com foco em gestão e negócios, de uma instituição de ensino no município de Piracicaba-SP, que já foi apresentado anteriormente, a qual apresenta três dimensões de análise, sendo os aprendizes, os docentes e as empresas que contratam os aprendizes, que serão caracterizados nos subtítulos a seguir. O universo dessa pesquisa compreende o total de integrantes do Programa Aprendizagem: Gestão e Negócios, que é desenvolvido por uma instituição de ensino em Piracicaba-SP. Três grupos compõem o processo de coleta de dados e análise, são eles, o total de aprendizes que frequentam as aulas teóricas e a prática nas organizações (N = 440), os docentes da instituição de ensino (N = 5), onde acontecem as atividades teóricas e, por fim, as empresas conveniadas com a instituição de ensino, onde os aprendizes realizam as atividades práticas (N = 57). A amostra utilizada para a pesquisa foi a não-probabilística e definida pelo critério de acessibilidade (Vergara, 2009), onde foram selecionados pela disponibilidade de acesso aos aprendizes, docentes e gestores de organizações que participam do Programa Aprendizagem: Gestão e Negócios da instituição de ensino estudada. A amostra foi definida da seguinte maneira: n = 58 aprendizes, n = 03 docentes e n = 05 gestores das empresas que possuem aprendizes na instituição de ensino que é o objeto de estudo desse trabalho. Para a coleta de dados, esse estudo se valeu de três modelos de formulários: um aplicado aos aprendizes do programa em estudo, outro formulário aplicado aos docentes do programa e o último aplicado aos gestores das organizações, que possuem aprendizes. Os dados obtidos na aplicação dos formulários serão apresentados a seguir, com as análises realizadas e possíveis discussões em relação ao referencial teórico abordado anteriormente. Pelo fato do estudo de caso envolver três unidades de análise, sendo os aprendizes, a instituição formadora e as empresas contratantes, as análises foram realizadas de modo similar, iniciando-se pelos aprendizes e assim sucessivamente. Resultados – Os Aprendizes: o programa sob a percepção dos jovens Esses jovens buscam a inserção num mundo que atualmente encontra-se em constante mudança, o mercado de trabalho. Um mundo exigente, onde os fatores educacionais e de experiência imperam na maioria das vezes, de modo que os jovens encontrem barreiras para a inclusão, por isso procuram formas de participação no campo profissional tais como os estágios e os programas de Aprendizagem. De acordo com a pesquisa realizada com os jovens aprendizes na instituição de ensino em estudo, verificou-se que a maioria deles pertence ao sexo feminino, compreendendo 53,4% e que 46,6% do sexo masculino. Quanto à faixa etária, a sua grande maioria está entre os 14 e 18 anos de idade, com 89,7%, o que demonstra o interesse, a necessidade e outras motivações, que levam esses jovens a se inserirem no mercado de trabalho antes dos 18 anos. Na faixa etária de 19 a 24 anos, tem 10,3% dos aprendizes, aos quais podem executar alguns trabalhos que os designados 46 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. menores de idade não podem, como por exemplo, é vedado o trabalho noturno, compreendido o horário entre às 22:00h e às 05:00h, além de mencionar que à eles não é permitido o trabalho em locais e serviços perigosos ou insalubres e também em lugares ou serviços que seja prejudicial a sua moralidade. Em relação à educação do ensino normal, que os aprendizes, apesar da obrigatoriedade de estarem cursando ou ter cursado, ao mínimo o ensino fundamental, constata-se, porém que 79,3% dos pesquisados estão cursando o ensino médio e 15,5% já terminaram o ensino médio, isso é preponderantemente relevante, considerando que a característica do programa é voltada para a aprendizagem profissional. É relevante a importância do programa por conter 3,4% cursando o ensino superior. Quando questionados sobre o que é ser aprendiz, obteve-se os seguintes argumentos, oportunidade de inserir-se no mercado de trabalho, obter novos conhecimentos, aprender o que acontece nas empresas. “Ser aprendiz é conhecer algo diferente, é aprender coisas novas no mundo do trabalho”. “É uma oportunidade para aprendermos sobre o mercado de trabalho, saber mais, nos prepararmos para a vida lá fora”. “É a descoberta de oportunidade e a possibilidade de inserção no mundo do trabalho”. “Aprendiz é um passo importante para começar uma carreira profissional, aprender muitas coisas importantes”. Verifica-se que os jovens participantes do Programa Aprendizagem acreditam que ser aprendiz é estar sempre disposto a aprender coisas novas, obter novos conhecimentos, é estar disposto a mudanças. Mesmo com alguns problemas e inseguranças que os aprendizes passam, eles tem a percepção da contribuição que o trabalho trouxe para a vida de cada um, sendo: experiência profissional, trabalho em equipe, aprende-se a lidar com as diferenças, ajuda financeira, visão do funcionamento de uma empresa, responsabilidade, maturidade, visão da realidade do mercado de trabalho, conhecimento, respeito a normas e regras, principalmente as pessoas, dentre outras. Verifica-se que a maioria dos jovens coloca em prática parcialmente o que aprendem ao longo do curso. Na percepção dos aprendizes, alguns conteúdos que são vistos na teoria não se consegue colocar em prática, ou acreditam que não estão colocando em prática, mesmo que o façam de maneira inconsciente. Por exemplo, temas como saúde, conforme é visto no programa são temas que apresentam resultados intangíveis, diferentes das disciplinas como práticas de rotinas administrativas, que podem obter resultados tangíveis, ou seja, na efetivação do trabalho. O que possivelmente precisaria ser trabalhado com os jovens o aspecto, de que um tema pode ser aplicável de maneira indireta sobre o trabalho. O gráfico 1 apresenta a classificação, por ordem de importância, das contribuições que o programa trouxe para a vida pessoal dos jovens. Para a tabulação dessa pergunta com escala de importância, utilizou-se a tabulação ponderada, que segundo Samara e Barros (2007), atribuíra-se 47 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. peso para cada posição de importância elencada pelos respondentes. Nesse caso, a contribuição que foi atribuída como 1ª posição recebeu peso 5, na 2ª posição recebeu peso 4, assim sucessivamente, de modo a verificar qual categoria apresentava maior importância. O total de cada nível de importância (1ª à 5ª) foi equivalente a 58, pois todos os participantes indicaram os itens de 1ª a 5ª importância. Gráfico 1 – Classificação por ordem de importância (tabulação ponderada) das contribuições do programa para a vida pessoal dos jovens 200 213 200 124 Visão de mundo Crescimento pessoal Aprendizagem de Independência coisas novas financeira 133 Inserção no mercado de trabalho Fonte: Dados da pesquisa, 2013. Nota-se que os jovens buscam constantemente uma maneira de serem reconhecidos pelos indivíduos que os rodeia. Esse reconhecimento possibilita às pessoas algo que é de difícil mensuração, que foi elencado no primeiro nível de importância, o “Crescimento pessoal”: quando se obtêm a devida consideração das demais pessoas que convivem com o indivíduo, criase certo conforto e a vontade de sempre estar melhorando. A “Visão de mundo”: a possibilidade de conseguir obter novas maneiras de ver a realidade, principalmente a realidade empresarial, ou seja, o que ocorre realmente nas organizações, para esses jovens tornou-se uma das principais contribuições que o programa trouxe, pois esses jovens têm a oportunidade de absorver a rotina cotidiana das empresas, os desafios enfrentados pela equipe de colaboradores, entre outros. Juntamente com a visão de mundo, ficou “Aprendizagem de coisas novas”: percebe-se que o mundo, de maneira geral, encontra-se em constante mutação e o ato de aprender coisas novas, possibilita ao indivíduo um modo de estar “atualizado” sobre o que acontece, o porquê acontece e como acontece. Podendo ser notado desde um simples modo de organizar documentos em um arquivo até uma nova forma de operar um complexo sistema de informação gerencial. A “Inserção no mercado de trabalho”: possibilitar ao jovem a oportunidade de estar ativo no mercado de trabalho é um dos objetivos dos programas de Aprendizagem, desse modo verifica-se que os jovens possuem essa percepção. Por fim, em última posição ficou 48 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. “Independência financeira”: verifica-se que os jovens, buscam muito além do que simplesmente o retorno financeiro, não que seja dispensável, porém eles tentam atribuir maior conhecimento para a vida. Resultados - A instituição de ensino: o programa sob o olhar do docente As três docentes que participaram da pesquisa possuem idade entre 37 e 41 anos de idade e apresentam formações acadêmicas de diversas áreas do conhecimento, tais como psicologia, licenciatura em educação física, comunicação social-jornalismo, porém todas possuem especialização, mestrado e/ou experiência profissional na área educacional. “Digo à eles, que esse processo de “experimentação” é único na vida deles, e também extremamente válido. Pois, essa oportunidade pode dar para eles um norte, um direcionamento de áreas que se identificam e podem investir para sua carreira profissional” (FGVS, 2013). Quando questionado aos docentes o que é ser aprendiz, todas as respostas se basearam, nos mesmos princípios, somos todos aprendizes em constante transformação. “Todos nós somos aprendizes desde o nascimento até o fim. Passamos por fases de aprendizagem, mas ser aprendiz é estar disposto a aprender sempre” (DS, 2013). “Ser aprendiz é estar em constante aprendizado, crescer pessoal e profissionalmente. Somos todos aprendizes da vida, em constante desenvolvimento” (AAL, 2013). “A nossa docente coordenadora, sempre enfatiza que aprendizes somos para a vida inteira. E me apoio em sua afirmação. No Programa ser aprendiz, é apenas uma condição momentânea, um degrau que superou para seguir sua vida profissional. Um passo importante!” (FGVS, 2013). Através dessas afirmações pode-se verificar que ser aprendiz, não é apenas ser aluno de um programa de Aprendizagem, pois essa visão é singular, ser aprendiz é um pouco mais complexo, na vida aprende-se inúmeras coisas novas e tem-se a oportunidade de reaprender. Conforme o último argumento, ser aprendiz no programa é uma condição momentânea, um passo importante pra o crescimento pessoal e profissional, o qual ao finalizar a participação do programa o aprendiz pode obter maiores chances para se posicionar melhor no mercado de trabalho que está em constante transformação. Quando questionadas, como avaliam a contratação de aprendizes e os principais motivos para a contratação dos mesmos, pode-se verificar que muitas das empresas que atualmente possuem aprendizes nos seus quadros de colaboradores, são porque estão apenas cumprindo com a lei, pois tendem a preencher a cota estabelecida na mesma, para que não sejam penalizadas. Entretanto, ressaltam as exceções, empresas que visam desenvolver habilidade em seus colaboradores, dando importância aos seus recursos humanos. O que pode ser afirmado quando uma organização, ao final do Programa Aprendizagem, contrata ou ao menos oferece a esses 49 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. jovens a oportunidade de efetivação. Quando questionado os professores do Programa Aprendizagem, quais as contribuições vistas para a vida pessoal dos jovens ao participarem do mesmo, pode-se verificar que algumas delas são o incentivo a formação contínua dos jovens, seja em cursos técnicos ou faculdade, além da conscientização de valores morais, éticos e comportamentais que são passados ao longo do processo de aprendizagem. “O se conhecer, o trabalho, à sua auto-estima e o direcionamento para a sua vida profissional, que certamente, irá contribuir para uma melhor qualidade de vida” (FGVS, 2013). E quando questionado, quais as contribuições que o Programa trouxe para as empresas que contratam esses aprendizes, verifica-se que a principal citada foi a oportunidade de qualificação dos aprendizes, permitindo assim as empresas possuírem um quadro de colaboradores mais qualificado. “Uma oportunidade de desenvolver um jovem talento” (FGVS, 2013). “Responsabilidade social; ter um colaborador que iniciou como aprendiz e que poderá chegar a outros cargos conhecendo toda estrutura da empresa” (AAL, 2013). Os conteúdos debatidos em sala de aula propiciam ao aprendiz o desenvolvimento de uma visão holística em relação ao mundo corporativo, foram citados dentre os inúmeros temas, atitude empreendedora, ambientação profissional, desenvolvimento pessoal, e por ser um programa com foco em gestão e negócios, são elencados temas como rotinas administrativas, compreendendo atendimento ao público, segurança no trabalho, práticas da área financeira, recursos humanos, entre outros. Resultados - As empresas contratantes: o programa através da voz dos gestores Na dimensão de análise, empresas contratantes, os formulários foram aplicados aos gestores dos aprendizes, os quais deveriam supervisionar esses jovens nas atividades práticas. Desta forma, pode-se verificar e analisar quais as percepções que os gestores, que representaram as empresas, sobre os aprendizes e sobre a instituição de ensino, a qual fornece as atividades teóricas. As cinco empresas que participaram da pesquisa são diversos setores de atividade, compreendendo comércio de alimentos, confecção e comércio em geral, calçadista, comércio de móveis e outros produtos, todas localizadas no município de Piracicaba – SP. Essas organizações possuem uma média de 60 funcionários, a que possui menor número de funcionários tem 22 e a que apresenta maior número, tem 98 funcionários. O que se pode notar é que após esses jovens participarem do programa, permitiu que os mesmos continuassem ativos no mercado de trabalho, além de terem obtido uma qualificação profissional, o que provavelmente facilitou a sua permanência. Ao serem questionados qual o real 50 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. motivo da contratação de aprendizes pelas empresas, tinha-se como pressuposto que o motivo vai além de estar previsto em lei, um significado mais subjetivo. Dessa maneira, confirmou-se que a maior parte das organizações contrata aprendizes por serem obrigados pela lei, porém eles afirmam que é uma maneira de descobrir novos talentos. Atualmente, as empresas adotam políticas de gestão de pessoas mais assertivas do que há algum tempo atrás, dentre elas a oferta de treinamento e desenvolvimento aos seus colaboradores, com o intuito de capacitá-los para o trabalho. O Programa Aprendizagem tem esse propósito de fornecer capacitação e desenvolvimento dos jovens para o mercado. Com o intuito de identificar as contribuições que os aprendizes trazem para as empresas, foi solicitado que os mesmos descrevessem essas contribuições, dentre elas obteve-se os seguintes argumentos. Primeiramente, são „sangue novos‟, por serem de uma geração que apresentam vontade de ser reconhecidos, tentam fazer as tarefas que lhes são designadas da melhor maneira. São bem mais maleáveis às mudanças do dia-a-dia, por exemplo, quando trocamos o sistema há uns dois anos e seis meses, os funcionários que já trabalhavam apresentaram uma enorme resistência, mas para eles [aprendizes] foi à coisa mais normal (Empresa do setor de comércio de alimentos, 2013). “São dinâmicos, possuem enorme facilidade em assimilar a filosofia da organização e normalmente seguem carreira na empresa. E apresentam baixo turnover” (Empresa do setor de comércio de móveis, 2013). Verifica-se que os jovens são mais flexíveis as mudanças e buscam absorver a cultura da organização, para poderem ser reconhecidos e se sentir parte da empresa. Dessa maneira, notamse as contribuições subjetivas, pois os jovens tentem a colaborar da melhor maneira com a empresa e seus colegas de trabalho. Os gestores foram indagados sobre como eles classificariam a Lei da Aprendizagem (Lei nº 10.097/2000), se acreditam que é adequada ou não adequada e o porquê da resposta. Dos cinco gestores das empresas participantes, três acreditam que a lei é adequada, justificando suas respostas com argumentos de que é: “Porque é uma excelente oportunidade de crescimento profissional e eles [aprendizes] sentem a responsabilidade do valor ao mercado de trabalho” (Empresa do setor de comércio de móveis, 2013). “É uma excelente forma de inserir o jovem no mercado de trabalho” (Empresa do setor de comércio de móveis, 2013). Enquanto as organizações que classificaram a lei como não adequada, justificaram suas respostas com aspectos técnicos como fatores de idade mínima e o fator escolaridade. “Considero que o jovem aprendiz, não deveria ser maior de 18 anos de idade, nesta faixa etária, o jovem já pode estar cursando um ensino superior e ter total condição de desenvolver um estágio na área em que estuda, não como aprendizagem e sim como iniciante na carreira escolhida” (Empresa do setor calçadista, 2013). “Na lei a obrigatoriedade é apenas o ensino fundamental, acreditamos que numa época de conhecimentos avançados, o ensino médio deveria ser requisito mínimo” (Empresa do setor de comércio de alimentos, 2013). 51 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. Desse modo, pode-se verificar a participação das empresas em relação a legislação vigente, que são aspectos fundamentais para o aprendiz desenvolver-se no Programa Aprendizagem, possibilitando assim possíveis melhorias nos programas existentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nota-se por meio da pesquisa que jovens participantes do programa compreendem que o mesmo possibilitou a inserção no mercado de trabalho. Concordando que é um mundo que ainda apresenta barreiras de inserção, principalmente, quando o ingressante for jovem, devido muito das vezes a falta de experiência e até mesmo de qualificação profissional. Percebe-se que os jovens acreditam que ser aprendiz vai muito mais além de um indivíduo que está inserido em um determinado Programa de Aprendizagem, ser aprendiz é a busca incessante de novos conhecimentos e habilidades para a vida pessoal, mas também para a vida profissional. Pôde-se notar que a maioria dos entrevistados possui a vontade de aprender, de conseguir se qualificar profissionalmente e, consequentemente, colocar em prática o que aprendeu no curso, possibilitando assim o reconhecimento, seja pelos familiares, companheiros de trabalho, colegas de curso. Quanto à contribuição dos docentes à pesquisa, foi possível verificar que o programa permite diversas contribuições aos jovens, dentre as principais percebe-se que os mesmos ao final passam a ter mais responsabilidade em relação à vida profissional, transferindo isso para a empresa. Outro aspecto levantado foi a possibilidade de desenvolver novos talentos, os aprendizes passam a conhecer o funcionamento da empresa de uma maneira mais generalizada, após o transcorrer das atividades teóricas e práticas, eles passam a conhecer profundamente como funcionam os departamentos em que atuam e os departamentos em que atuaram, devido à rotatividade departamental. Assim, dessa maneira, além da qualificação torna-se possível obter a tal experiência que as empresas tanto exigem, o que possibilita a futura contratação dos mesmos na empresa em que atua como aprendiz, ou em outra. Os gestores das empresas pesquisadas acreditam na possibilidade de desenvolvimento de novos talentos e afirmam que os jovens não apresentam vício empregatício e conseguem assimilar rapidamente a filosofia da organização, ou seja, o programa permite que as organizações tenham colaboradores novos e que se tornem profissionais engajados na empresa. Com isso pode-se notar que os gestores acreditam que a aprendizagem, tanto básica quanto profissionalizante, é fundamental para o desempenho das empresas e, principalmente, dos indivíduos. Assim, pôde-se verificar que o Programa Aprendizagem pode trazer tanto para os aprendizes quanto para as organizações contribuições significativas. 52 bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014. CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. REFERÊNCIAS BRASIL (1943). Decreto-Lei n.º 5.452. (Promulgado em 1º de maio de 1943). Seção IV dos deveres dos responsáveis legais de menores e dos empregadores da aprendizagem. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em 21 set. 2013. BRASIL (1946). Decreto-Lei nº 8.621 (Promulgado em 10 de janeiro de 1946). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del8621.htm. Acesso em 05 out. 2013. BRASIL (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: Promulgada em 5 de outubro de 1988. (Texto consolidado até a Emenda Constitucional nº 66 de 13 de julho de 2010). Disponível em: http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988 _13.07.2010/art_227_.shtm. Acesso em 06 out. 2013. BRASIL (2000). 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CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana. Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivasaprendiz, professor e empresa. ¹Flávio Dornello Calazans é Graduado em Tecnologia em Biocombustíveis pela Fatec Piracicaba. ²João Pedro Zamoner Marques de Sousa é Graduado em Tecnologia em Gestão Empresarial pela Faculdade de Tecnologia de Piracicaba - Dep. Roque Trevisan, Brasil(2013) e Mestrando em Engenharia de Produção pela Unicamp. ³Luciana Fischer é Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, Brasil(2002) , Professora Universitário da Pontifícia Universidade Católica de Campinas , Brasil e Docente da Fatec Piracicaba. 57 Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia MARTINS, Luís Oscar Silva CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna Resumo Este artigo apresenta um estudo de viabilidade econômico-financeira de uma mini usina que utiliza sebo bovino como matéria-prima para produção de biodiesel. O estudo de implantação do investimento foi realizado no município de Feira de Santana (Bahia), escolhido por algumas particularidades tais como: localização privilegiada, próxima tanto da matéria-prima (zonas de criação de gado e dos principais frigoríficos industriais), quanto da Refinaria Landulfo Alves de Mataripe (RLAM) e das distribuidoras de combustíveis. Além disso, o município é margeado pelas duas principais rodovias federais que cortam o país, a BR 101 e BR 116, bem como pela BR 324, que a liga diretamente com a capital Salvador e a outras cidades importantes da região do semiárido baiano. O estudo demonstrou que apesar das vantagens em termos de custo do sebo bovino, um empreendimento que utilize apenas essa matéria-prima não seria viável do ponto de vista econômico. Palavras-chave: Biodiesel, Sebo Bovino, Análise Econômico-financeira, Mini usina. Abstract This paper presents a study of the economic feasibility of a mini power plant that uses tallow as a feedstock for biodiesel production. The study of implementation of the investment was made in the city of Feira de Santana (Bahia), chosen by some peculiarities such as: prime location, near both the raw materials (livestock areas, major industrial refrigeration) and as the Refinery Landulfo Alves Mataripe (RLAM) and fuel distributors. In addition, the city is flanked by the two major federal highways that cross the country, BR 101 and BR 116 and BR 324, which connects directly with the capital Salvador and other important cities of the semiarid region of Bahia. The study showed that despite the advantages in terms of cost of tallow, a venture that only use this raw material would not be feasible from an economic standpoint. Keywords: Biodiesel, Beef Tallow, Economic and Financial Analysis, Mini plant. Resumen En este artículo se presenta un estudio de la viabilidad económica de una mini central eléctrica que utiliza sebo de res como materia prima para la producción de biodiesel. El estudio de la aplicación de la inversión se realizó en la ciudad de Feira de Santana (Bahia), elegido por algunas particularidades tales como: 58 ubicación privilegiada, cerca tanto de la materia prima (áreas de ganado y grandes refrigeradores industriales), la Refinería Landulfo Alves Mataripe (RLAM) y los distribuidores de combustible. Además, el condado está bordeado por dos importantes carreteras federales que cruzan el país, BR 101 y BR 116 y BR 324, por el que vincula directamente con la capital Salvador y otras ciudades importantes de la región semiárida de Bahía. El estudio mostró que a pesar de las ventajas en términos de coste de sebo, una aventura que sólo puede utilizar esta materia prima no sería viable desde el punto de vista económico. Palabras clave: Biodiesel, Sebo de vacuno, Análisis económico y financier, Mini planta. 59 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014. MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia INTRODUÇÃO O biodiesel diz respeito a um nome genérico, geralmente aceito para nomeação de combustíveis que são produzidos partindo-se de fontes renováveis, tais como óleos vegetais, gordura animal e óleos residuais, de modo que sejam usados em motores de ignição por compressão, também denominados motores diesel (PAULILLO et al, 2007). Já se reconhece os benefícios ambientais do biodiesel, classificando-o como um biocombustível avançado: ele reduz as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 57% quando comparado com o diesel de petróleo, tornando-se uma das maneiras mais práticas e de baixo custo para auxiliar no combate ao processo de mudanças climáticas. Além disso, de modo comparativo aos combustíveis fósseis, o biodiesel tem a possibilidade de reduzir de maneira significativa as emissões líquidas de gás carbônico – o CO2, que é um dos grandes responsáveis por agravar o efeito estufa. Reduz ainda a emissão de fumaça e, basicamente, elimina qualquer provável emissão de óxido de enxofre (LIMA, 2005; BUAINAIN e BATALHA, 2006). A intenção do Brasil em utilizar o biodiesel é diminuir a dependência do diesel importado, reduzindo, consequentemente, o déficit da balança comercial e a vulnerabilidade aos preços internacionais, bem como criar empregos e melhorar o meio ambiente. Feito a partir de um mix diversificado de matérias-primas, a exemplo de oleaginosas diversas, óleos residuais de frituras e também de gordura animal, ele é designado biocombustível e é produzido em quase todos os estados do país. Para que este biocombustível se torne uma realidade concreta e sustentável no longo prazo, o país necessita diversificar as matérias-primas utilizadas na fabricação de biodiesel. Atualmente, conforme a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), cerca de 70% do biodiesel fabricado no Brasil são provenientes da soja. (ANP, 2012). A soja, além de não possuir rendimento satisfatório (aproximadamente 18% de óleo), está suscetível aos preços do mercado internacional de commodities, e é utilizado na indústria de produtos alimentícios. Por outro lado, o sebo bovino, que já representa mais de 17% da produção de biodiesel no país (ANP, 2012), possui um rendimento que, conforme Levy (2011) pode chegar a 93%, além de não concorrer com o mercado de alimentos. Segundo Martins e Carneiro (2013), a Bahia possui condições favoráveis para utilização do sebo bovino como insumo estratégico na cadeia de biodiesel, visto que possui o maior rebanho da região Nordeste e o sexto maior do país. Diante dessa conjuntura, o objetivo principal deste artigo é verificar a viabilidade econômico-financeira de uma mini usina que utiliza sebo bovino como matéria-prima para produção de biodiesel no município de Feira de Santana, estado da Bahia, que possui aproximadamente 740.000 habitantes (IBGE, 2010) e está estrategicamente localizado na parte inicial da região denominada semiárido, encontrando-se próximo tanto às principais unidades de abate (frigoríficos industriais), fornecedores de insumos no Pólo Petroquímico de Camaçari, bem como à Refinaria Landulfo Alves de Mataripe (RLAM), às distribuidoras de combustíveis e às outras unidades de produção de biodiesel (Candeias e Simões Filho). 60 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014. MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DO BIODIESEL Aspectos Econômicos O diesel, utilizado especialmente no transporte de cargas e passageiros, é o combustível mais consumido do país, com comercialização, em 2012, de 45.405.004 m3, o que corresponde a 44,33% do consumo nacional de combustível no Brasil. No mesmo período, a produção de biodiesel foi de 2.717.483 m3, pouco mais de 5% da produção de diesel. (ANP, 2012). A partir dos dados extraídos da ANP (2012) foi possível traçar curva de tendência polinomial de quinto grau dos preços do barril de petróleo (US$). O trabalho estatístico demonstrou que o preço internacional do petróleo tende a se manter constante, porém, em um nível elevado, acima de US$ 110,00 por barril, conforme coeficinete de ajuste de 0,896, evidenciando que o investimento na produção de biodiesel pode ser uma saída para combater as constantes altas no valor do petróleo como mostra a Figura 1 a seguir. 140 y = -0,870x5 + 8742,x4 - 4E+07x3 + 7E+10x2 - 7E+13x + 3E+16 R² = 0,896 120 100 80 Y 60 Polinômio (Y) 40 20 0 2004 2006 2008 2010 2012 2014 Período Figura 1 – Curva de tendência de preços do barril de petróleo (2006-2012). Fonte: ANP (2012). Seguindo a mesma tendência de variação do preço do petróleo, que teve aumento de 58,28% de 2006 a 2012, o preço do óleo diesel também apresentou alta no Brasil e na Bahia. O percentual de crescimento no território baiano foi de 9,73%, enquanto que no Brasil foi de 10,74% no período de 2006 a 2012. (ANP, 2012). A partir dessas informações, também foi possível traçar curvas de tendência dos preços do óleo diesel praticados. Os valores demonstraram coeficiente de ajuste entre os preços praticados e o período em estudo de 1 para a Bahia e de 0,999 para o Brasil, evidenciando que os preços do óleo diesel ao consumidor seguem tendência de alta. As Figuras 3 e 4 a seguir demonstram a análise estatística. 61 Preços médios óleo diesel (Bahia) bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014. MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia y = -0,002x5 + 25,03x4 - 10059x3 + 2E+08x2 2E+11x + 8E+13 R² = 1 2,05 2 1,95 1,9 1,85 1,8 1,75 2004 2006 2008 2010 2012 2014 Período Preços médios óleo diesel (Brasil) Figura 2 – Curva de tendência dos preços médios do diesel ao consumidor final na Bahia. Fonte: ANP (2012). 2,15 y = -0,002x5 + 23,73x4 - 95383x3 + 2E+08x2 2E+11x + 8E+13 R² = 0,999 2,1 2,05 2 Y 1,95 Polinômio (Y) 1,9 1,85 1,8 2004 2006 2008 2010 2012 2014 Período Figura 3 – Curva de tendência dos preços médios do diesel ao consumidor final no Brasil. Fonte: ANP (2012). Em resumo, pode-se afirmar que a forte demanda por biodiesel no país se determina, em grande parte, devido a três setores: transportes (75%); agropecuário (16%); e transformação (5%), sendo que este último no uso dos combustíveis para gerar energia elétrica (BIODIESELBR, 2008). Conforme análise das curvas de tendência, bem como dos aumentos sucessivos dos preços do petróleo e por conseqüência do óleo diesel no Brasil e na Bahia, a diversificação de matérias-primas para produção de biodiesel e o investimento em projetos que possam viabilizar esses novos insumos deve ser matéria de suma importância na agenda dos setores público e privado do estado. Aspectos Sociais O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), concebido em dezembro de 2004 pelo Governo Federal, se caracteriza pela participação da agricultura familiar 62 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014. MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia na cadeia de produção do biodiesel. Para estimular a inclusão social o programa reduziu a carga tributária para as indústrias produtoras de biodiesel, com alíquotas específicas dependendo da matéria-prima utilizada e da região do país, adquiridas da agricultura familiar. O sebo bovino, por sua vez, não possui vantagens fiscais em sua comercialização para fabricação de biodiesel. Sua vantagem competitiva está no baixo custo, bem como na não concorrência com o mercado de alimentos. No entanto, com a inclusão, em alguns estados como a Bahia, e aumento da participação em outras regiões do país que utilizam a gordura bovina como fonte para fabricação de biodiesel, Filho (2006) acrescenta que a ampla utilização do sebo pode aumentar a produção do biocombustível em análise, contribuindo para geração de energia elétrica em comunidades isoladas do país, colocando-se como um desdobramento para o alcance das metas de programas sociais como, por exemplo, o Luz para Todos, criado pelo Decreto nº 4.873 de 11 de setembro de 2003. METODOLOGIA PARA ANÁLISE FINANCEIRA DO INVESTIMENTO DE VIABILIDADE ECONÔMICA E Este tópico objetiva abordar as técnicas de engenharia econômica utilizadas para avaliar a viabilidade de investimento e auxiliar no processo de tomada de decisão, pois todo projeto financeiro requer que os investidores estejam seguros dos riscos inerentes ao negócio e tenham ciência de suas reais chances de retorno do capital investido. Segundo a literatura consultada (GITMAN, 1997; CASAROTTO FILHO e KOPITTKE, 2000), há múltiplas ferramentas e diversos recursos disponíveis para auxiliar as empresas em assuntos relacionados às modalidades de investimentos, principalmente no que diz respeito ao ativo imobilizado. Geralmente, há ferramentas, processos técnicos e uma série de ordenações para analisar e avaliar os investimentos, orçamentos de capitais e projetos. Estes processos estão envoltos em mecanismos voltados a investimentos. Certas empresas acabam por adotar procedimentos mais simples, que se sustentam, por vezes, somente nas experiências acumuladas por sua gestão, ao passo que há outras que demandam que sejam aplicadas ferramentas de maior sofisticação e análise. No presente artigo, foram utilizadas, essencialmente, as seguintes metodologias de análise econômica: Fluxo de Caixa, Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR) e análise de PayBack, ou prazo de retorno do capital investido. O fluxo de caixa demonstra todas as entradas e saídas de capital do negócio e constitui uma proposta de investimento. O principal objetivo do fluxo de caixa é fornecer informações para a tomada de decisão, especialmente relacionadas às necessidades de captação de recursos, bem como prever períodos de necessidade ou não de capital de giro de terceiros. O VPL corresponde à soma dos valores do fluxo de um projeto, atualizado às taxas de desconto adequadas. Constitui ainda o valor presente do fluxo de caixa do projeto, descontado ao custo de capital da empresa. É um dos métodos mais utilizados para avaliar propostas de investimento e reflete a diferença entre o valor presente das entradas e saídas de caixa a uma determinada taxa de desconto. O projeto é viável quando apresenta VPL maior ou igual à zero. É dado pela fórmula: 63 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014. MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia Onde F é uma série de desembolsos e recebimentos e r é uma taxa mínima de atratividade, representando o custo de oportunidade do capital que será investido no projeto. A TIR representa a taxa de desconto que nivela as receitas futuras aos custos de investimento, ou seja, é o valor que iguala à taxa do VPL a zero. Para ser economicamente viável, o projeto tem que apresentar valor para TIR maior que a taxa de atratividade. (Clemente e Souza, 2001). Matematicamente é expressa por: O período de recuperação de capital ou payback trata-se de uma metodologia auxiliar usada como indicativo dos graus de risco do projeto. Ela visa à informação sobre o período mínimo necessário para que os recursos alocados no investimento inicial do projeto se recuperem no formato de entradas líquidas em caixa. Desse modo, quanto mais curto for o tempo do payback, é mais provável que será mais extensa a liquidez do projeto (GITMAN, 1997). Nesse processo analítico, não se pode segregar demasiadamente os elementos englobados na pesquisa de viabilidade do projeto, de modo a evitar que seja perdida a visão holística. ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA PARA MINI-USINA DE BIODIESEL DE SEBO BOVINO EM FEIRA DE SANTANA (BA) A metodologia que foi utilizada nesse artigo é comumente empregada e aceita pela literatura especializada. Os dados que alimentaram as planilhas de análise foram obtidos em consulta direta às empresas Tecnologias Bioenergéticas Ltda. (TECBIO) e ABOISSA Óleos Vegetais e os relatórios da ANP2. O projeto em questão terá vida útil de 120 meses, e terá capacidade mensal inicial de produção de 2.700.000 litros de biodiesel por mês. O primeiro procedimento para a análise é determinar os desembolsos e entradas no caixa. Para Gitman (1997), os fluxos de caixa podem ser de quatro tipos: as despesas de investimento, as despesas operacionais, as receitas operacionais e o valor residual de liquidação do investimento. Dessa forma, com a série dos fluxos de caixa do projeto serão apresentados e discutidos os resultados demonstrados através dos métodos de engenharia econômica apresentados anteriormente. Na Tabela 1 foram apresentadas as despesas de investimento inicial. Elas representam as variáveis necessárias para operacionalizar a usina. Assim, foram definidos os valores de máquinas e equipamentos, instalações em geral, laboratórios e despesas gerais de implantação, além de valor de capital de giro. Na categoria máquinas e equipamentos foram considerados os objetos que mais se adequavam à estrutura e capacidade de produção do projeto. Equipamentos de processo, Os dados foram obtidos junto à TECBIO – Tecnologias Bioenergéticas Ltda.; Av. Santos Dumont, 2088 – Fortaleza (CE). CEP: 60.150-160; Fone (85) 4005-9019, http://www.tecbio.com.br/ e ABOISSA Óleos Vegetais, Largo do Arouche, 396 Santa Cecília; CEP: 01219-010 São Paulo (SP); Fone: (11) 3353-3000. http://www.aboissa.com.br/equipamentos 1 64 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014. MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia unidades de armazenamento de líquidos, unidades de utilidades industriais, veículos, móveis e utensílios. Em instalações foram lançados os valores das obras preliminares, edificações, obras complementares, ar condicionado e utensílios para escritórios. No item laboratórios foram alocadas as variáveis para construção dos mesmos, bem como todo material de consumo, utensílios e vidrarias. Nas despesas gerais de implantação foram definidas as despesas administrativas, fretes e carretos e outras despesas gerais. E, finalmente, despesa com capital de giro, que foi estimada em função dos valores dos custos fixos e variáveis do projeto para os primeiros dois meses de funcionamento. Tabela 1 - Investimentos iniciais do empreendimento Categoria Valores (R$) Máquinas e equipamentos 3.467.182,00 Instalações 690.198,90 Laboratórios 1.739.037,00 Despesas gerais 105.000,00 Capital de giro 497.925,28 Total 6.499.342,28 Fonte: TECBIO; ABOISSA No que tange ao faturamento do empreendimento, considerou-se os valores empregados no fluxo de caixa estimado para o projeto, conforme vida útil do mesmo. Salienta-se que na produção do biodiesel é gerada como subproduto a glicerina, que compõe o faturamento da usina. A produção estimada de glicerina para o empreendimento é de 313,26 t/ano. Para o preço do biodiesel foi considerado o valor apurado no último leilão (30o) realizado pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que foi de R$ 2,03/l. Para a glicerina foi praticado o valor médio de mercado atual de R$ 0,36/kg (Glicerina loira 82%). A Tabela 2 demonstra a composição média do faturamento anual do projeto. Tabela 2 - Faturamento bruto médio do projeto. Produto Média Fat. Bruto Anual (R$) Biodiesel Glicerina Total Fonte: TECBIO; ABOISSA e ANP. 5.179.545,00 106.571,05 5.286.116,05 Os valores de depreciação, tanto das instalações, quanto das máquinas e dos equipamentos, foram determinados pelo método contábil de depreciação constante. Além disso, foram utilizados para totalizar os custos fixos os valores da mão-de-obra, luz, contador e 65 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014. MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia manutenção (Tabela 3). A Tabela 4 apresenta os custos médios variáveis do projeto. Destaca-se que a maior composição de custo no empreendimento de fabricação de biodiesel é a matériaprima. Esta, segundo Campos e Carmélio (2009 apud Abramovay, 2009), representa cerca de 70% a 80% do custo do produto. Para estimativa de custo do biodiesel de sebo bovino na Bahia foi utilizado o estudo de Martins e Carneiro (2013)3, que versa especificamente sobre esse assunto. Tabela 3 - Estimativa de custos fixos médios anuais do projeto. Categoria Valores Anuais (R$) Depreciação de Instalações (4% a.a) Depreciação máquinas e equipamentos (10% a.a) Mão-de-obra Luz (iluminação) Contador Manutenção Total Fonte: TECBIO; ABOISSA. 27.607,96 34.671,82 929.127,30 12.000,00 8.136,00 601.296,32 1.612.839,40 Tabela 4 - Estimativa de custos variáveis médios anuais do projeto. Categoria Valores Anuais (R$) Energia Elétrica/ água e vapor Impostos (ICMS, PIS e Cofins) Matéria-prima (sebo bovino) Metanol Custo Logístico (frete) Total Geral Fonte: TECBIO; ABOISSA. 99.125,23 638.322,36 3.272.717,71 842.609,1 383.946,89 5.236.721,29 De posse dessas informações, a Tabela 5 apresenta os resultados da análise de viabilidade de uma mini usina de biodiesel que utiliza como matéria-prima o sebo bovino. O valor do VPL foi de -3.244.538,21 e a TIR do projeto foi de 3,34% ao ano. Apesar de positiva foi bem menor que a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) considerada de 10,92% ao ano ao longo do prazo de análise do projeto de 120 meses. Esse valor é definido pela taxa de referência da economia (SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia) mais prêmio de mercado na ordem de 15% ao ano. O estudo demonstrou que apesar das vantagens em termos de custo e rendimento do sebo bovino, um empreendimento com reduzida escala de produção e que utilize apenas este insumo como matéria-prima, não é viável do ponto de vista econômico e financeiro, mesmo com as vantagens logísticas de Feira de Santana. As ferramentas de análise indicaram que seria mais 3Martins e Carneiro (2013) – Potencialidades e Restrições para inserção do sebo bovino na produção de biodiesel no estado da Bahia. 66 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014. MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia vantajoso deixar os valores de despesas iniciais aplicados no mercado financeiro. Dada a inviabilidade do projeto, não há motivos para cálculo do payback do investimento. Tabela 5 - Resultados da Análise de viabilidade do projeto. Categoria Resultado TIR 3,34% a.a VPL 3.244.538,21 Payback - TMA 10,92% Fonte: Dados da pesquisa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma mini usina somente pode ser considerada um empreendimento sustentável se cumprir sua função social de apresentar resultados que incentivem seu investimento e garantam o retorno do capital. Portanto, após a análise realizada se pode afirmar que o projeto de instalação de uma mini usina de biodiesel, que utilize apenas sebo bovino como matéria-prima, mesmo em um município com as vantagens locacionais de Feira de Santana (Bahia), não é viável do ponto de vista econômico e financeiro. Para tornar o projeto viável alguns aspectos se tornaram evidentes nesse período: a) A escala de produção é fator estratégico para ganhos de economicidade e competitividade, uma mini usina apresenta, portanto, desvantagens em relação a uma grande usina verticalizada; b) Apostar em uma única fonte de matéria-prima é um grande risco, pois deixa a empresa vulnerável ao desabastecimento e às oscilações de preço do mercado; c) Utilizar matérias-primas oleaginosas gera, após o esmagamento para obtenção do óleo, a torta, uma importante fonte de receita para o empreendimento. Outro fator crítico do estudo foi a receita advinda da comercialização da glicerina. O subproduto em questão, gerado a partir da produção do biodiesel possui teor de pureza na ordem de 80% a 85%, que lhe confere valor de mercado em torno de R$ 0,36/kg. Para auxiliar na viabilidade do projeto ela teria que passar por processo de tratamento até atingir níveis acima de 95% de pureza, e atingir valor de mercado de R$ 2,00/kg (Valor desse tipo de glicerina antes do PNPB). Nesse cenário, ainda assim, os valores apresentados pelas ferramentas de engenharia econômica seriam -679.885,47 para o VPL e 9,43% para TIR, necessitando de outros ajustes para atingir parâmetros de viabilidade. Um desses ajustes poderia ser realizado no custo logístico, que onerou o investimento em aproximadamente 8%. Se o frete, na análise em questão, baseado exclusivamente no transporte rodoviário, tivesse redução média de 20%, durante todo o período do projeto (120 meses), por meio da utilização de ferrovias, que via de regra custam metade do valor do transporte rodoviário, o empreendimento se tornaria viável, atingindo VPL de 45.584,57, TIR de 11,10% e payback a partir do 49o mês. Importante ressaltar que essa perspectiva positiva seria possível apenas com a junção do cenário da glicerina a R$ 2,00/kg, descrito anteriormente. Outra 67 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014. MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia sugestão para ajuste do valor do frete seria a utilização de biodiesel 100% (B100) na frota cativa. Isto acarretaria economia na compra de diesel, diminuindo impacto nos custos variáveis e auxiliando o aumento da receita do empreendimento. Como agenda de pesquisa sugere-se o desenvolvimento de novos trabalhos específicos para a área, a exemplo de: a) Estudos georeferenciados que subsidiem a construção de mecanismos que combatam o abate clandestino, muito comum no estado da Bahia, especialmente na região de Feira de Santana; b) Pesquisa de mercado relacionada à qualidade e oferta do sebo bovino no estado, importante para fornecer maiores informações aos eventuais investidores; c) Estudos de viabilidade de verticalização de produção do biodiesel a partir das unidades industriais de abate de carne bovina, a exemplo do que já é realizado em outros estados como São Paulo e Minas Gerais; d) Desenvolvimento de estudos para novos usos da glicerina, uma vez que, esse subproduto teve sua oferta aumentada no mercado devido o incentivo à produção de biodiesel; e) Realização de estudos de viabilidade do tratamento da glicerina na planta produtora de biodiesel para aumento de sua pureza, visando analisar se esse aumento de custos do projeto compensaria o preço que o mercado paga pelo cooproduto a níveis de pureza acima de 95%. REFERÊNCIAS ABOISSA Óleos Vegetais, Largo do Arouche, 396 Santa Cecília; CEP: 01219-010 São Paulo (SP); Fone: (11) 3353-3000. http://www.aboissa.com.br/equipamentos. AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS – ANP. Biodiesel Brasil. Disponível emhttp://www.anp.gov.br/?id=472. Acesso em 18 Set. 2013. AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS NATURA E BIOCOMBUSTÍVEIS – ANP. Anuário estatístico. Dados do sítio 2013. Disponível em http://www.anp.gov.br/?pg=66833. Acesso em 04 out. 2013. ARAÚJO, Márcio de Souza; MEDEIROS, Judson da Silva. Biodiesel e Benefícios ao Brasil. Natal: IFRN, 2012. ARUNA. J.; GEETIKA, P. Biodiesel: the new energy lifeline. AdvancedBiotech: September, 2008. BIODIESELBE, 2013. Glicerina de biodiesel inunda mercado no país e derruba preços. Disponível em http://www.biodieselbr.com/noticias/biodiesel/glicerina-biodiesel-inundamercado-pais-derruba-precos-02-05-07.htm. Acesso em 08 out. 2013. BIODIESELBR. Glicerina – subproduto do biodiesel (2013). Disponível em http://www.biodieselbr.com/biodiesel/glicerina/biodiesel-glicerina.htm. Acesso em 08 out. 2013 68 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014. MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia BUAINAIN, A. M.; BATALHA, M. O. Análise da competitividade das cadeias agroindustriais brasileiras. São Carlos: DEP-UFSCAR/IE-UNICAMP, fev. 2006. 119 p. CAMPOS, A. A.; CARMÉLIO, E. C. Construir a diversidade da matriz energética: o biodiesel no Brasil. In: ABRAMOVAY, R. (Org.). Biocombustíveis: a energia da controvérsia. São Paulo: SENAC, 2009. p. 60-97. CASAROTTO FILHO, N.; KOPITTKE B. H. Análise de investimentos. São Paulo: Atlas. 2000. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 7. ed. São Paulo: Harbra, 1997. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares. 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RER, Brasília, v.45, n.03. p.531-565, Jul./Set., 2007. TECBIO – Tecnologias Bioenergéticas Ltda.; Av. Santos Dumont, 2088 – Fortaleza (CE). CEP: 60.150-160; Fone (85) 4005-9019, http://www.tecbio.com.br/. 69 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014. MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia Luís Oscar Silva Martins é Mestre em Tecnologias Aplicáveis à Bioenergia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC); Especialista em Administração; Bacharel em Economia pela Universidade Federal de Viçosa; Pesquisador com experiência em energias renováveis, especialmente biodiesel, no que diz respeito às suas perspectivas de utilização e desenvolvimento do ponto de vista econômico, financeiro e estratégico. Profissional com sólida vivência no ercado financeiro atuando na área de visita e prospecção de clientes, produtos financeiros e orçamento bancário. Atualmente é analista econômico da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), onde trabalha com a elaboração e análise de viabilidade de projetos relacionados à Gestão Pública; Professor do curso de graduação em Administração e Ciências Contábeis da Faculdade Adventista da Bahia (FADBA) e da Faculdade Maria Milza (FAMAM) onde leciona as disciplinas Administração da Produção II e Organização, Sistemas e Métodos, e Administração Financeira e Orçamentária. Atua também como consultor na área de análise de viabilidade técnica, econômica e financeira para empresas dos setores públicos e privados. 2 Roberto Antonio Fortuna Carneiro Mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (1993); Diretor de Planejamento Econômico da Secretaria de Planejamento; Professor do quadro permanente do Mestrado Profissional em Tecnologias Aplicáveis à Bioenergia da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) e do Programa de Pós-graduação da Faculdade Área 1; Implantou e coordenou o Programa de Biodiesel da Bahia (Probiodiesel Bahia) e o Programa Baiano de Bioenergia (BahiaBio); Possui diversos artigos técnicos publicados sobre biodiesel e várias dissertações de mestrado orientadas sobre o tema; Tem experiência em Planejamento Estratégico, Gestão Ambiental, Bioenergia e Biocombustíveis; Experiência em gestão de projetos e pessoas; Consultor na área de bioenergia e biocombustíveis com foco na elaboração de EVTE, Plano de Negócios e Projetos. 70 Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça e irradiado* RHEINBOLDT, Marcella Melleiro RIZATTO, Gabriele Tibério MOURA, Neila Camargo CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin ARTHUR, Valter DIAS, Carlos Tadeu dos Santos Resumo A análise descritiva quantitativa avaliou o perfil sensorial de pães franceses enriquecidos com linhaça, de 8 e 12%, e submetidos à radiação ionizante com 60Co nas doses de 6, 8 e 10kGy, além dos controles, sem adição de linhaça e irradiação. As amostras foram avaliadas por onze provadores selecionados e treinados em relação aos atributos sensoriais: aparência característica, cor da casca, aroma característico, consistência da textura, sabor característico e sabor de peixe. A adição de linhaça e a irradiação não influenciaram consideravelmente os atributos “cor da casca” e “textura consistente”, porém, amostras com maior quantidade de linhaça e dose de radiação apresentaram maiores valores quanto ao “sabor de peixe”. Palavras chave: radiação ionizante; linhaça; pão francês; análise descritiva quantitativa. Abstract The descriptive quantitative analysis evaluates the sensory profile of french bread enriched with flaxseed, addition of 8 and 12%, and irradiated by ionizing radiation with 60Co at doses of 6kGy, 8kGy, and 10kGy. The samples were evaluated by a team of eleven selected and trained tasters. Six sensory attributes were analyzed: characteristic appearance, surface color, aroma, consistency, texture, characteristic flavor and flavor of fish. After the study it was concluded that the addition of flaxseed and the irradiation had no significant influence on the attributes "surface color" and "consistent texture," however, samples that had a higher amount of flaxseed and radiation showed higher values for the attribute "flavor of fish". Keywords: ionizing radiation, flaxseed, French bread, quantitative descriptive analysis. Resúmen El análisis descriptivo cuantitativo evalúa el perfil sensorial de francés Panes enriquecidos con linaza, 8 y 12% y sometidos a radiación ionizante con 60Co en dosis de 6, 8 y 10kGy, además de los controles, sin adición de linaza y la irradiación. Las muestras fueron evaluadas para once catadores seleccionados y capacitados en relación con atributos sensoriales: aspecto característico, aroma característico, color y consistencia de la textura, sabor característico y sabor del pescado. La adición de linaza y la irradiación no influyó considerablemente los atributos “ cáscara color”, “textura consistente”, sin embargo, las muestras con mayor cantidad de dosis de radiación y linaza mostrado valores más altos con respecto a “pescado sabor”. Palablas clave: las radiaciones ionizantes; Linaza; Pan francés; analyses descriptivo cuantitativo. 71 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014. RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo; CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos. Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado* INTRODUÇÃO Para a elaboração de pães os ingredientes essenciais são farinha, água, fermento (Sacharomyces cerevisae) e sal. Outros ingredientes podem ser empregados como enriquecedores na elaboração de pães como gordura, açúcar, ovos e leite. Uma vez reunidos cumprem funções tecnológicas específicas tais como fermentar e favorecer o crescimento da massa, reter água, realçar o sabor, conservar, formar e fortalecer a rede de glúten, aumentar a maciez, desenvolver coloração agradável, distribuir a temperatura por toda a massa, reter gás, conferir umidade, ligar, aromatizar, aerar, emulsificar, aumentar o valor nutritivo e ampliar a durabilidade (MACHADO, 1996, p. 186). Com a finalidade de melhorar a qualidade nutricional dos alimentos, têm surgido no mercado pães confeccionados com farinha integral ou que incorporam em sua composição ingredientes opcionais como grãos e sementes. A semente de linhaça tem se destacado como um alimento funcional, uma vez que apresenta alguns nutrientes específicos que podem trazer diversos benefícios à saúde (GIBSON; MAKRIDES, 2000, p. 251-255). Os produtos panificados ocupam a terceira colocação na lista de compras do brasileiro representando, em média, 12% do orçamento familiar para alimentação. O mercado brasileiro importa do Canadá e argentina cerca de 50% do volume de trigo para consumo doméstico. Assim sendo, torna-se essencial o conhecimento das características sensoriais de um produto tão consumido quanto o pão, já que o melhoramento da qualidade do produto representa uma oportunidade de agregar valor de mercado aos produtos agrícolas (BATTOCHIO et al., 2006, p. 429). A técnica de irradiação é aprovada pela FAO (Food and Agriculture Organization), órgão das Nações Unidas para a agricultura e alimentação, pelo Codex Alimentarius e pelo Food and Drugs Administration (FDA) e usada em mais de 30 países em todo o mundo. O processo de irradiação não induz radioatividade ao alimento (IPEN, 2003, p. 1). A Organização Mundial de Saúde incentiva a utilização do processo e o descreve como uma técnica para a preservação e melhoria da segurança do alimento (WHO, 1999, p.2). Portanto, pode ser considerado que a formulação de um pão que seja enriquecido com linhaça e irradiado é bastante interessante, pois se trata de um alimento que tem a qualidade nutricional melhorada e durabilidade, porém, o mesmo tem que ter características sensoriais agradáveis para os consumidores. O objetivo desse estudo foi avaliar as qualidades sensoriais do pão francês adicionado de linhaça em diferentes concentrações e doses de radiação gama. REVISÃO DE LITERATURA O mercado consumidor atual pede praticidade e qualidade de vida, influenciando em uma maior preocupação com a alimentação. Uma das grandes tendências do ramo alimentício é agregar valor, ou seja, produzir alimentos que não só sejam sensorialmente agradáveis, mas que também possuam qualidade nutricional e durabilidade (CHITARRA, 1998, p. 87). 72 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014. RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo; CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos. Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado* Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar realizada entre os anos de 2008/2009, consumo per capita anual de pão francês anual é de 13,87 kg, sendo o maior consumo nas regiões norte e nordeste, com 15,22 e 16,00 kg, respectivamente, seguida das regiões sudeste com 14,05kg, sul com 11,17kg e centro-oeste com 9,84kg. Comparado ao consumo de outros tipos de pães, é evidente que o pão francês é o mais consumido no Brasil, visto que, segundo a POF, o consumo anual per capita de pão de forma industrializado corresponde a 0,85kg e o de pão integral a 0,19kg (IBGE-POF, 2008-2009, p. 10-12). A linhaça (Linum usitatissimum L.) é considerada alimento com alegação funcional devido à presença do ácido graxo ômega-3, fibras, lignanas e proteínas, (TARPILA et al., 2002, p. 157-165; HUSSAIN et al., 2006, p. 87-92; OOMAH, DER e GODFREY, 2006, p. 733-741) agregando assim, valor nutricional a um alimento quando adicionada (NOVELLO, 2011, p. 7-10). Segundo Moura (2008, p. 40-75), o consumo da linhaça é baixo devido à falta de hábito e de informações sobre os benefícios dessa semente para os consumidores. Dentre os benefícios à saúde podem ser citadas: a diminuição do risco de doença cardiovascular, hiperlipidemias e câncer. Além disso, apresenta atividade antiviral e bactericida, atividade anti-inflamatória, efeito laxante e de prevenção dos sintomas da menopausa e osteoporose (GALVAO et al., 2008, p. 2-5). A irradiação de alimentos confere uma série de benefícios, dentre eles o aumento da segurança do alimento, vida de prateleira, conservação, além de proporcionar a eliminação ou redução de micro-organismos patogênicos e deteriorantes, tais como bactérias e fungos, sem prejudicar o alimento, o qual é tratado embalado e com a dose para atingir o objetivo pretendido (WALDER et al., 2002, p. 13-15). Embora o uso da irradiação traga benefícios, há duas grandes barreiras que impedem que o uso da técnica seja usado com maior frequência: o custo que é relativamente elevado e a aceitação do consumidor que é baixa, pela falta de informações, há muito preconceito com os alimentos irradiados devido à impressão de que esse tipo de alimento pode causar danos à saúde (ORNELLAS et al., 2006, p. 10-17). A Análise Descritiva Quantitativa (ADQ) tem como objetivo descrever e quantificar os atributos que caracterizam um determinado produto através de provadores selecionados e treinados segundo Stone (1992, p. 140). O método é mais sofisticado comparado a um teste de aceitabilidade, o qual indica a preferência do provador mediante a amostra apresentada através de uma escala hedônica. Já na análise descritiva quantitativa, o provador descreve a amostra a ser estudada e ainda avalia qual a intensidade de cada atributo descrito, possibilitando quantificar numericamente os dados obtidos através das avaliações dos provadores, e assim, formar o perfil sensorial da amostra (ASSOCIÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1998, p. 74). 73 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014. RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo; CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos. Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado* MATERIAS E MÉTODOS Preparo dos pães franceses Os pães franceses foram confeccionados na panificadora Bisnaga, que se localiza na cidade de Piracicaba-SP. Foram utilizadas sementes de linhaça marrom, doadas pela empresa “Via Delícia”, localizada na cidade de São Paulo. Os pães foram preparados a partir de uma pré-mistura para massa salgada composta por: farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, sal, farinha de soja, emulsificante estearoil-2-lactil lactato de sódio, estabilizante polisorbato 80, melhorador de farinha, ácido ascórbico, azodicarbonamida, enzimas hemicelulose, glucose oxidase, fosfolipase e alfa-amilase. Além da pré-mistura foram utilizados fermento biológico fresco, açúcar cristal, melhorador e água. Adicionar quando a linhaça foi colocada. Junto com os ingredientes secos e posteriormente homogeneizada. Todos os ingredientes foram pesados, homogeneizados na amassadeira até atingir o ponto de véu e em seguida a massa foi levada à divisória volumétrica para padronizar a gramagem e o tamanho. Em seguida, os pães foram levados à fermentação e logo depois assados em forno, aquecido em 180°C, durante 15 minutos. Após serem resfriados os mesmos foram embalados em embalagens de polipropileno e acondicionados em temperatura ambiente até o momento da análise. Armazenamento e irradiação das amostras As amostras foram irradiadas no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), localizado na cidade de São Paulo, e submetidos a doses de radiação gama 6kGy, 8kGy, e 10kGy, em irradiador tipo Multipropósito, com fonte de Cobalto-60, com taxa de dose de 7kGy/h. Após serem irradiadas, as amostras ficaram armazenadas em prateleiras, em condições ambiente. Inicialmente havia 12 tratamentos diferentes, os quais variavam entre duas concentrações de linhaça (8 e 12%) e quatro doses de irradiação (0,0; 6,0; 8,0 e 10,0 kGy). Foi realizado o teste de aceitabilidade, com provadores não treinados de ambos os sexos, e idades entre 18 e 65 anos, e posteriormente, com base nos resultados do teste, foram selecionados 5 tratamentos que tiveram melhores aceitações: Controle; 8% linhaça e 0 kGy; 8% linhaça e 8 kGy; 8% linhaça e 10 kGy e 12% linhaça e 10 kGy. Análise Descritiva quantitativa (ADQ) Foram recrutados 15 participantes, de ambos os sexos e de faixa etária entre 18 e 40 anos, que passaram por processos de seleção. A seleção constituiu na identificação dos gostos básicos: doce (2% de sacarose); salgado (0,2% de cloreto de sódio), ácido (0,07% de ácido cítrico) e amargo (0,07% de cafeína). Em seguida foi realizado o teste triangular, no qual o candidato foi avaliado em relação à sensibilidade e a capacidade de distinguir entre três amostras semelhantes àquela 74 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014. RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo; CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos. Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado* seja diferente no gosto doce (2% e 4% de sacarose) e no salgado (2% e 4% de sacarose), sendo duas dessas amostras iguais e uma diferente. Os 11 provadores selecionados descreveram suas impressões em relação à aparência, aroma, sabor e textura. Após levantamento dos atributos, os provadores passaram por cinco sessões de treinamento. Para o levantamento de atributos, foram distribuídas amostras adquiridas em supermercados, semelhantes ao pão francês irradiado e enriquecido com linhaça, para que os participantes descrevessem sobre o mesmo, utilizando assim pão francês comum e pão francês integral. Para treinar os provadores foi utilizada uma ficha com os atributos levantados e um painel ilustrativo para esclarecer o conceito de cada atributo. A Tabela 1 aponta os atributos levantados referentes à aparência, aroma, textura e sabor. Tabela 1: Classificação dos atributos levantados Aparência Característica: Muito e Pouco Cor da Casca: Clara e Escura Aroma Característico: Muito e Pouco Textura Consistência: Muito e Pouco Sabor Característico: Muito e Pouco Sabor Peixe: Muito e Pouco Os provadores foram treinados em cinco sessões, sendo que a cada treinamento, recebiam uma ficha com os atributos levantados e deveriam quantificaram os atributos levantados usando para isso uma escala não estruturada10 cm, que varia de nada (nota 0) e muito (nota 10). Para a execução da análise descritiva quantitativa final os provadores receberam as amostras e quantificaram os atributos levantados usando para isso a mesma escala não estruturada10 cm. Foram oferecidas 10g de cada uma das cinco amostras, em pratos brancos e com apresentação monádica, sendo uma amostra o controle e outras 4 as amostras receberam adição de linhaça nas porcentagens de 8 e 12% e irradiação de 8kGy e 10kGy. Os provadores encontravam-se em cabines individuais de análise sensorial com iluminação, temperatura ambiente, ausência de sons ou ruídos e livre de odores estranhos. 75 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014. RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo; CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos. Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado* RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 2, há a relação dos atributos levantados pelos provadores, referentes à amostra controle, a qual consistia em um pão francês tradicional. Tabela 2: Levantamento de atributos da amostra controle. Amostra Controle Aparência: Agradável, coloração uniforme, “parece saboroso”, muito boa, cor escura nas laterais, “parece crocante”, miolo de cor normal, macio e aparência de pão francês. Odor: Bom, característico, agradável, normal, suave e amanteigado. Textura: “Borrachudo”, normal, macio, leve, não esfarela com facilidade, consistente e lisa. Sabor: Bom, salgado, meio amanteigado, agradável e característico de pão francês A Tabela 3 refere-se aos atributos levantados pelos provadores com relação à amostra similar de pão francês integral. Tabela 3: Levantamento de atributos de amostras similar a um pão francês integral. Amostra similar a pão francês integral Aparência: Cor agradável, muito boa, “parece não integral”, escuro nas laterais e mais claro no centro, “parece saudável”, “parece ser pouco duro” e atrativo. Odor: Bom, normal de pão, característico, leve, agradável, odor de trigo e suave. Textura: Ressecada, bem macia, muito boa, esfarela com facilidade e consistente. Sabor: Agradável, sabor suave de peixe, levemente amargo, forte, sabor de linhaça, característico, meio adocicado, sabor de trigo e suave. Na Tabela 4 podem ser observadas as avaliações do pão francês realizada pela equipe de provadores treinados na ADQ. 76 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014. RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo; CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos. Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado* Tabela 4: Médias da equipe para os temos descritores da aparência, aroma, textura e sabor para os 5 tipos de pães avaliados. 8% linhaça 8% linhaça e 0 kGy e 8 kGy Aparência 7,77±1,9ab 7,96±1,3ab Atributos Controle Caracterítisca 8,82±0,91a2 Cor da Casca 3,50±0,8ª 4,58±1,1ª Característico Consistência 8% linhaça e 12% linhaça 10 kGy e 0k Gy 8,07±1,4ab 7,44±1,9b 3,07±0,70ª 3,43±0,83ª 4,27±1,03ª 7,61±1,9ª Aroma 6,41±1,6ª 7,32±1,8ª 7,15±1,7ª 7,43±1,7ª 6,00±1,55ª Textura 5,49±1,37ª 6,01±1,5ª 5,53±1,3ª 5,95±1,4a Sabor 6,52±1,6ª 7,64±1,9ª 7,03±1,7ª 7,30±1,8ª 0,76±0,1ab 1,27±0,24ª 1,45±0,3ª a Característico 8,08±1,71 Sabor de peixe 0,34±0,008b 0,97±0,2ab 1Média ± desvio padrão, 2Letras diferentes na horizontal indicam diferença significativa entre os tratamentos no nível de 5%. A partir da análise dos atributos e de uma reunião realizada com a equipe sensorial, foi criada a ficha de levantamento de atributos, sendo que, para aparência surgiram os atributos: característico e cor da casca; para aroma: característico, para textura: consistente e para sabor: característico e sabor de peixe. De acordo com a Tabela 4, a amostra controle, não apresentou diferença estatística em todos os atributos, com exceção ao atributo “sabor de peixe” e “aparência característica”. Quanto à “aparência característica”, observou-se que a amostra controle diferiu estatisticamente da amostra que recebeu 12% de linhaça e dose de 10 kGy. Essa diferença provavelmente se deva a adição de linhaça e a aplicação da irradiação. Já as amostras com 8% de linhaça e 0 kGy, 8% de linhaça e 8 kGy e a que recebeu 8% de linhaça e dose de 10 kGy não diferiram entre si e nem da amostra controle e nem da amostra que recebeu 12% de linhaça e 10 kGy. Em relação à “cor da casca” “aroma característico”, “textura consistente” e “sabor característico”, não houve diferença significativa, indicando assim que a adição de linhaça e a irradiação não influenciaram de modo determinante esses atributos levantados pelos provadores. Já referente ao atributo “sabor de peixe”, a amostra controle diferiu estatisticamente das amostras com 8% de linhaça e 10 kGy e 12% de linhaça e 10 kGy. As amostras com 8% de linhaça e 10 kGy e 12% de linhaça e 10 kGy apresentaram os maiores valores para esse atributo, pois em suas respectivas formulações receberam as maiores concentrações de linhaça (8 e 12%) bem como a maior dose de radiação (10 kGy), isto pode ter intensificado 77 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014. RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo; CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos. Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado* o “sabor de peixe” das amostras. Os provadores evidenciaram pelas notas que as amostras com 8% de linhaça e 0 kGy e 8% de linhaça e 8 kGy apresentaram “sabor de peixe” mesmo que suavemente, não diferindo do controle. De acordo com Ventura et al (2010, p. 30-35) é frequente, utilizando radiação, encontrar gorduras com sabor a ranço, provocadas pelo processo natural de autoxidação que é iniciado pela radiação. Os ácidos insaturados são mais susceptíveis à oxidação do que os ácidos saturados, porque são mais instáveis. Este processo pode ser mais demorado pela eliminação do oxigênio pelo vácuo ou pela atmosférica modificada. Nos lipídeos, particularmente os ácidos graxos insaturados, a decomposição radiolítica é por via de uma quebra preferencialmente na posição do carbono funcional da dupla ligação. Esta decomposição induz a formação de alguns compostos voláteis responsáveis por odores indesejáveis. Ainda é possível observar que a amostra com 8% de linhaça e 0 kGy, que recebeu apenas adição de linhaça em sua formulação, o atributo sabor de peixe apresentou valores mais elevados em comparação à amostra controle, sem apresentar diferença estatística. Os valores numéricos aumentaram de acordo com a porcentagem de linhaça adicionada e a dose aplicada. Na avaliação sensorial realizada com provadores treinados, permite identificar o aparecimento progressivo dos produtos de degradação dos lipídios, causadores de off flavors ou de off odors. Extremamente sensível, permite detectar quantidades da ordem dos μg.kg-1, enquanto que outros métodos possuem em geral um limiar mil vezes superior. O ranço torna-se perceptível, sensorialmente, para um conteúdo lipídico peroxidado da ordem dos 0,5%. Se por um lado os diferentes constituintes de um produto influenciam a percepção (a natureza dos off flavors pode sofrer alterações pela interação de outros constituintes da matriz), por outro lado a sensibilidade difere de indivíduo para indivíduo (SILVA; BORGES; FERREIRA, 1999, p. 94-103). No método de ADQ são utilizados os provadores treinados o que facilita a identificação desses compostos. CONCLUSÃO Quanto maior a porcentagem de adição de linhaça e a dose de radiação o sabor de peixe aumentou significativamente. A adição da linhaça e a irradiação das amostras com dose de 10 kGy provocou surgimento de off flavors que foi detectado pelos provadores treinados pelo método da ADQ, porém não influenciaram nos atributos “cor da casca” e “textura consistente”. AGRADECIMENTOS A Panificadora Bisnaga, ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) e a empresa Via Delícia. REFERÊNCIAS 78 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014. RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo; CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos. Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado* ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14140: Alimentos e bebidas. Análise Sensorial. Teste de Análise Descritiva Quantitativa (ADQ). Rio de Janeiro,1998. BATTOCHIO, J.R. et al. Perfil sensorial de pão de forma integral. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, n. 26, v. 2, p. 428-433, abr.-jun. 2006. CHITARRA, M. I. F. Processamento mínimo de frutas e hortaliças. Viçosa: Centro de produções técnicas, 1998. 87p. GALVAO, E. L. et al. Avaliação do potencial antioxidante e extração subcrítica do óleo de linhaça. Ciência Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 28, n. 3, Sept. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010120612008000300008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 09 Set. 2011. GIBSON, R. 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RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo; CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos. Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado* Campinas, v. 26, n. 1, jan.-mar, 2006. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/%0D/cta/v26n1/28872.pdf>. Acesso em: 15 Fev. 2012. POF- Pesquisa de Orçamento Familiar, 2008/2009. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009_aq uisicao/tabelas_pdf/tab112.pdf . Acessado em 15 de março de 2012. SILVA, F. A. M.; BORGES, M. F. M.; FERREIRA, M. A. Métodos para avaliação do grau de oxidação lipídica e da capacidade antioxidante. Química Nova, v. 22, n. 1, p. 94-103, 1999. STONE, E. J. Quantitative descriptive analysis. In: HOOTMAN, R.C. (Ed.). Manual on descriptive analysis testing. West. Conshohoken: ASTM, 1992 (Manual Series MNL, 13). 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RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo; CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos. Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado* 1 RHEINBOLDT, Marcella Melleiro - Graduanda em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) (conclusão em 2016). Realização de estágios nas áreas de Análise Descritiva Quantitativa de Pães enriquecidos com linhaça e irradiados e de Iogurtes adicionados de farinha de maracujá; Produção de Biomassa a partir de leveduras; Composição centesimal de tambaquis cultivados em diferentes condições de estocagem e renovação de água; Bolsa de Iniciação Científica concluída atuando na Recuperação de resíduos químicos provenientes de análises físicoquímicas em pescado. 2) RIZZATO, Gabriele Tibério. Cursando graduação Bacharelado em Ciências dos Alimentos pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”- Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) (conclusão em 2015), Técnico em Logística pela ETEC. Dep. Ary de Pedroso (2011). Realização de estágios nas áreas de Análise Descritiva Quantitativa de Pães enriquecidos com linhaça e irradiados; análise fitopatológica de grãos (arroz, feijão e milho); Bolsa de Iniciação Cientifica atuando com a Estimativa de Ingestão de gordura trans, ômega 3 e 6 pela população brasileira através de dados do IBEGE e POF e atualmente realizando análises físico-química, de qualidade e sensorial de pescado. 3) MOURA, Neila Camargo. Possui graduação em Nutrição pela Universidade Metodista de Piracicaba (2005), mestrado na área de Ciência e Tecnologia de Alimentos pela ESALQ/USP (2009) e doutorado na área de Energia Nuclear pelo CENA/USP (2012). Tem experiência na área de Nutrição, com ênfase em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, atuando principalmente nos seguintes temas: linhaça, antioxidantes, desenvolvimento de produtos, propriedades sensoriais, irradiação, pães. Bolsa Fapesp no Mestrado e no Doutorado. Docente da Fatec Piracicaba no curso de Agroindústria. 4 CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin - Possui graduação em Nutrição FSP/Universidade de São Paulo (1985), mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos ESALQ/Universidade de São Paulo (1989) e doutorado em Ciência dos Alimentos FCF/Universidade de São Paulo (1994). Livre docência em 2007. Atualmente é professor associado 2 do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição/ESALQ/ Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Nutrição Humana e alimentos, com ênfase em Alimentos, alterações e aproveitamento de seus componentes, atuando principalmente nos seguintes temas: interações nutricionais, irradiação, ferro, antinutricionais e proteínas." 5) ARTHUR, ValterPossui graduação em Biologia pela Universidade Metodista de Piracicaba (1977), mestrado em Energia Nuclear na Agricultura (Esalq) Universidade de São Paulo (1982) e doutorado em Agronomia (Entomologia) (Esalq) Universidade de São Paulo (1985). Atualmente é professor Associado MS 5-3 no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Radioentomologia (tratamento quarentenário de pragas de importância agrícola) e Irradiação de alimentos (conservação e desinfecção de produtos agropecuários). É chefe da Divisão de Produtividade Agroindustrial e Alimentos – DVPROD/CENA/USP. 6) DIAS, Carlos Tadeu dos Santos.Engenheiro Agrônomo graduado pela Universidade Federal do Ceará (1983), mestrado em Agronomia (Estatística e Experimentação Agronômica) pela Universidade de São Paulo (1988) e doutorado em Agronomia (Estatística e Experimentação Agronômica) pela Universidade de São Paulo (1996) com pós-doutorado pela Exeter University-Inglaterra (2001). Fez livre-docência na Universidade de São Paulo (2005), recebendo o título de Professor Associado. Atualmente é professor Titular da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" Departamento de Ciências Exatas (2009). Tem experiência na área de Estatística Experimental, com ênfase em Análise Multivariada, atuando principalmente nos seguintes temas: Modelos AMMI, Correção dos Autovalores, Simulação Multivariada, Imputação Múltipla e Biplot. É líder do grupo de pesquisas "Modelos de efeitos principais aditivos e interação multiplicativa - AMMl" junto ao CNPq. É membro do corpo editorial e revisor de estatística da Revista Ciência Agronômica da UFC desde 2009. 81 Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação GONÇALES Filho, Manoel PRUDENTE, Juliana Camargo VIEIRA, Suellen Garcia SILVA, Vanessa de Cillos GERMEK; Hermas Amaral Resumo Este artigo retrata o levantamento de dados e a análise das informações do conteúdo da pesquisa realizada em Agosto/13, referente permanência trabalhando na área de formação dos alunos formados pela Fatec – Faculdade de Tecnologia Deputado Roque Trevisan. Objetivamos o planejamento e as ações que visam à minimização da evasão escolar. Inicialmente foram pesquisados os alunos formados nos cursos de Biocombustíveis e Gestão Empresarial, e o curso de Agroindústria será avaliado futuramente porque ainda não formou alunos. Esta pesquisa pretende dar início a uma linha permanente de análises e acompanhamento da vida profissional dos exalunos em todos os cursos de graduação da Fatec Piracicaba. Basicamente se constitui em um estudo sobre a vida atual profissional dos ex-estudantes formados nos últimos dois anos partindo de uma amostra inicial de 105 entrevistados nas duas áreas de formação selecionadas. O objetivo imediato deste trabalho é desenvolver indicadores e permitir análises sobre a empregabilidade, níveis salariais e identificar o período de início de trabalho na área de formação, ou ainda, conhecer se nunca trabalharam na área de formação tecnológica. A contribuição deste artigo será tangível para o estado e ao público em geral, pois tal informação tem importância em relação às possibilidades e iniciativas que deverão surgir, seja de continuidade no acompanhamento, de orientação, de revisão metodológica dos programas ou de proximidade e valorização do capital humano. Palavras-Chave: Mercado de trabalho, Área de formação, Área de atuação profissional, Alunos Fatec Piracicaba. Abstract This article depicts the data collection and analysis of information content from research in Agosto/13 referring stay working in the area of training of graduates by Fatec - Faculty of Technology Deputy Roque Trevisan. We aim planning and actions aimed at minimizing truancy. Initially the students surveyed were trained in courses Biofuels and Management and Agribusiness course will be evaluated in future because students not yet graduated. This research intends to initiate a permanent line analysis and monitoring of the professional lives of former students in all undergraduate courses Fatec Piracicaba. Basically it is a study about the current professional life of former students graduated in the last two years from an initial sample of 105 respondents in the 82 two selected areas of training. The immediate objective of this work is to develop indicators and allow analysis of employability, wage levels and identify the period of early work in the area of training, or even know if they have never worked in the field of technological education. The contribution of this paper is tangible to the state and the public in general, as such information is irrelevant to the possibilities and initiatives that should arise is continuity in monitoring, guidance, methodological review of programs or closeness and appreciation of human capital. Keywords: Labor market, training area, Professional practice, Graduates by Fatec Piracicaba. Resumen En este artículo se describe la recopilación de datos y análisis de contenido de información de la investigación en Agosto/13 refiriéndose estancia de trabajo en el ámbito de la formación de los titulados por Fatec - Facultad de Tecnología D. Roque Trevisan. Nuestro objetivo es la planificación y las acciones destinadas a reducir al mínimo el absentismo escolar. Inicialmente los estudiantes encuestados fueron capacitados en cursos de los biocombustibles y de gestión y por supuesto Agronegocios se evaluará en el futuro, porque los estudiantes aún no graduados. Esta investigación tiene la intención de iniciar un análisis de la línea permanente y el seguimiento de la vida profesional de los antiguos alumnos de todos los cursos de pregrado FATEC Piracicaba. Básicamente se trata de un estudio sobre la vida profesional actual de los ex estudiantes se graduaron en los últimos dos años a partir de una muestra inicial de 105 encuestados en las dos áreas seleccionadas de la formación. El objetivo inmediato de este trabajo es el desarrollo de indicadores y permitir el análisis de la empleabilidad, los niveles salariales e identificar el período de los primeros trabajos en el ámbito de la formación, o incluso saber si nunca han trabajado en el campo de la educación tecnológica. La contribución de este trabajo es tangible para el Estado y el público en general, ya que dicha información no es pertinente a las posibilidades e iniciativas que deberían derivarse una continuidad en la supervisión, orientación, revisión metodológica de los programas o la cercanía y el aprecio de capital humano. Palabras-clave: Mercado de trabajo, área de entrenamiento, la práctica profesional, los graduados por Fatec Piracicaba. 83 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014. GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral. Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação INTRODUÇÃO Mediante a pesquisa realizada com os egressos da Fatec - Piracicaba, avaliaremos se os cursos se enquadram com as exigências do mercado de trabalho uma vez conhecendo sua trajetória profissional e os indicadores de empregabilidade pós-formatura. A FATEC – Piracicaba (Centro Paula Souza) é uma autarquia do Governo do Estado de São Paulo, sem fins lucrativos, a Unidade é uma Instituição de Ensino superior que mantém contato permanente com seus ex-alunos através de publicações regulares e dispõe, inclusive, de um cadastro computadorizado de cerca de 1916 egressos, com dados completos e atualizados. Atualmente a Instituição conta com três cursos disponíveis que são oferecidos ao público. São eles: Gestão Empresarial com 460 alunos, Biocombustíveis com 316 alunos e Agroindústria com 81 alunos, que totalizam 857 alunos matriculados, possui ainda 54 docentes e 12 funcionários. Segundo Porto e Régnier (2003), com o desenvolvimento da tecnologia, do aumento da competitividade entre as empresas, da procura por melhor qualidade de vida, ou por um emprego e/ou a permanência no mesmo, fez com que a empregabilidade ganhasse ênfase. Para melhor entender o contexto deste trabalho realizou-se um breve histórico sobre a educação brasileira a partir da Revolução Industrial. Iniciou-se na segunda metade do século XVIII e, conforme Chiavenato (2004), o rápido e intenso fenômeno da „maquinização das oficinas‟ provocou fusões de pequenas oficinas que passaram a integrar outras maiores e que, aos poucos, foram crescendo e se transformando em fábricas, ou seja, o operário foi substituído pelas máquinas, automatizando e acelerando cada vez mais a produção. Assim, a mecanização do trabalho levou à divisão do trabalho e à simplificação das operações, substituindo os ofícios tradicionais por tarefas automatizadas e repetitivas podendo ser executadas por operários sem qualificação (CHIAVENATO, 2004). Já para Carvalho (2011), destacava-se a noção de indivíduo, ou seja, o homem voltou a ser o centro das atenções e passou a ser visto como uma entidade que possuía qualidade que poderiam e deveriam ser desenvolvidas. Pela primeira Constituição do Brasil, em 25 de março de 1824, a instrução primária passou a ser gratuita e fez previsões para que fossem criados no país colégios e universidades, centralizou a administração do ensino sob a responsabilidade do governo central e instituiu o ensino da religião católica como parte obrigatória dos currículos e programas, posteriormente, foram criados os primeiros cursos superiores: Academia Real da Marinha (1808), os cursos de Cirurgia, Anatomia e de Medicina em 1809 (GERALDO FILHO, 2004). Segundo Romanelli (2010), o resultado foi que o ensino, principalmente o secundário, acabou ficando nas mãos da iniciativa privada e o ensino primário foi relegado ao abandono, com pouquíssimas escolas, assim a Constituição da República de 1891, que instituiu o sistema federativo, consagrou também a descentralização do ensino, ou melhor, a dualidade de sistemas brasileiros. O problema do dualismo educacional é a posição das 84 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014. GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral. Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação camadas sociais em face da oferta de educação. As camadas médias e superiores procuravam o ensino secundário e superior. Por outro lado, as camadas populares passaram a procurar mais as escolas primárias e as escolas profissionais. Com a Proclamação da República, em 1889, não houve grandes mudanças, o ensino superior continuou formando a elite e as principais lideranças do país (GERALDO FILHO, 2004). Ainda conforme Romanelli (2010), em outubro de 1930, o governo do presidente Washington Luiz era derrubado por um movimento armado. Na verdade o que se convencionou chamar de Revolução de 1930 foi o ponto alto de uma série de revoluções cuja meta maior tem sido a implantação definitiva do capitalismo no Brasil, neste mesmo ano, com o apoio das forças armadas, Getúlio Vargas iniciou o Governo Provisório. A principal ideia do manifesto era pela volta à normalidade constitucional, mas somente em 16 de julho de 1934, que foi promulgada a segunda Constituição, sendo: a família e o Estado eram responsáveis pela educação, à educação é um direito de todos, e que a União elaborasse o Plano Nacional de Educação. Cabia aos estados promoverem a educação em todos os graus, e o período que vai de 1937 a 1946, foi a decretação das Leis Orgânicas do Ensino e da criação do Senai e Senac (GERALDO FILHO, 2004). Mais tarde, em 1942, Gustavo Capanema - que era Ministro da Educação -, melhorou diversos níveis do ensino. O ensino superior recebe os maiores privilégios, inclusive tendo mais participação nos conselhos e colegiados, foi organizado o ensino técnico profissional, e os cursos técnicos (GERALDO FILHO, 2004). Nessa mesma linha, afirma Ribeiro (2001), ocorreu à criação da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e em meados das décadas de 1960 a 1971, houve medidas relacionadas à reestruturação do ensino, salientando a Reforma Universitária. Para isso, foi criado o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Salienta Geraldo Filho (2004), que a partir da Reforma Universitária houve, então, o aumento de faculdades particulares, e os alunos das classes médias e baixas tinham que pagar para fazer um curso superior e os alunos formados em escolas particulares garantiam suas vagas na universidade pública. Na sequência, o Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza foi criado pelo governo do estado de São Paulo, com a ideia de desenvolver um Centro Estadual voltado para Educação Tecnológica, por meio de decreto-lei em 6 de outubro de 1969 assinado pelo governador Abreu Sodré foi criado a entidade autárquica destinada a articular, realizar e desenvolver a educação tecnológica nos graus de ensino Médio e Superior (CENTRO PAULA SOUZA, 2013). Em 1996 foi aprovada a Lei 9.394, como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, englobando todos os níveis. (...) assegurou a possibilidade de organizar diversos sistemas de ensino, enfatizando a eliminação do analfabetismo e na inserção à cidadania. Deu autonomia às universidades e a distribuição de recursos financeiros, que não serão 85 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014. GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral. Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação somente para as escolas públicas, (GERALDO FILHO, 2004, p. 148149). E uma nova democracia segundo Bittar (2012), no governo de Luís Inácio Lula da Silva foi investida mais na educação superior pública, especialmente, entendido como estratégia de inclusão de camadas com menor poder aquisitivo, a esse nível de ensino. Dessa forma, foram criadas 14 universidades públicas federais, em diversas regiões brasileiras, e em 2007, foi criado o Programa de Apoio os Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Para possibilitar e ampliar o ingresso e a permanência de jovens de baixa renda, à educação superior. Nas instituições privadas, implantou-se, em 2004, o (ProUni) Programa Universidade Para Todos, com bolsas integrais ou parciais, além de prever cotas a jovens negros ou indígenas. Assim a demanda social pela educação cresce numa pressão cada vez mais forte pela expansão do ensino superior que tem por finalidade estimular a criação cultural, o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo. REFERENCIAL TEÓRICO De acordo com Fraga (2012), devido à globalização surgem cada vez mais à necessidade de se atualizar, e a educação torna-se fundamental para o desenvolvimento humano e a busca pela empregabilidade é um fator chave para quem procura qualidade de vida, estabilidade financeira e prestigio. Empregabilidade, conforme Chiavenato (2004) significa a capacidade que uma pessoa tem para conquistar e manter um emprego. Para Carvalho (2011), empregabilidade é o conceito no qual se estabelece para profissionais, empregados ou não, a obrigatória preocupação no sentido maior de se manterem permanentemente atualizados e empregáveis, ou seja, diante das exigências de formação, em busca das habilidades e especializações que o mercado de trabalho requer. A empregabilidade deixa de ser vitalícia e fixa para ser temporária e flexível. A segurança no emprego está sendo substituída pela aprendizagem. A organização deixará de ser empregadora para ser cliente. As pessoas deixarão de ser empregados para se tornarem fornecedores de conhecimento para uma ou várias organizações (CHIAVENATO, 2004, p. 613). No Centro Paula Souza, hoje, visando atender o mercado de trabalho com mão de obra especializada não apenas para as PMEs, mas também para as grandes, administra 211 Escolas Técnicas (ETECs) e 56 Faculdades de Tecnologia (FATECs) estaduais em 161 municípios paulistas. As FATECs atendem mais de 64 mil alunos que estão matriculados nos 65 cursos de graduação tecnológica (CENTRO PAULA SOUZA, 2013). 86 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014. GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral. Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação Portando, a formação profissional se torna fundamental para quem busca fixar-se no mercado de trabalho, alguns anos de curso podem ser significativos para a vida profissional dos alunos. Conforme Schwartzman (1991) supõe-se que os anos dispendidos na faculdade afetam o desempenho e o rendimento profissional dos estudantes mais tarde, devendo-se também supor que as diferentes maneiras pelas quais os estudantes passam durante a vida escolar e, conforme a formação prévia que trazem e os cursos que escolhem o tempo de que dispõem para estudar, a orientação que recebem dos seus professores, as facilidades e o apoio que encontram influenciarão o resultado da vida profissional. A relação entre a experiência educacional e o desempenho profissional posterior ainda não pode, neste momento, ser estudada de forma sistemática, pois tratar os diferenciais de salário pode depender de muitas outras coisas além de sua produtividade. Conforme Blackwell (2008), de fato, sabe-se que os rendimentos obtidos no mercado de trabalho podem ser influenciados por uma série de fenômenos de relação duvidosa com a produtividade. Essas dificuldades permitem inferir que, ainda que seja possível e interessante examinar os níveis de renda obtidos pelos formados pela Fatec – Piracicaba em sua vida profissional futura, esta informação não permite interpretação simples, que possa servir de base a um cálculo contábil da produtividade agregada do investimento público em educação. Giglio (1992) reforça que estes tipos de dados serão tanto mais interessantes quando eles estejam combinados com outras informações sobre as carreiras profissionais e o desempenho das pessoas, de tal forma que as possibilidades resultantes de seu trabalho também possam ser aferidas. As características da trajetória profissional dos alunos sempre foram tema de grande interesse para os diversos setores da Fatec Piracicaba, para tanto, informações confiáveis e uma análise mais abrangente a respeito desta temática estão aqui apresentadas possibilitando uma análise com vista ao planejamento da unidade de ensino e a mitigação da evasão escolar. A médio e longo prazos, este trabalho deverá proporcionar uma fonte de informações e estudos para a avaliação, acompanhamento e reformulação dos programas de formação profissional. O segundo objetivo deste artigo é dar início a uma sistemática regular de obtenção e análise destas informações, que possam responder às diferentes indagações que dependem deste tipo de dados. Apresentar dados a respeito do destino profissional de egressos desta Fatec, de forma que contribua para a reflexão e avaliação dos investimentos realizados pelo estado e justificando a sua aplicação à comunidade de Piracicaba e região, em última análise, saber se a educação proporcionada pela Fatec – Piracicaba é adequada à demanda e se leva a um aumento significativo da aderência ou mesmo da permanência no mercado de trabalho na área de formação dos egressos destes cursos tecnológicos. Uma motivação mais geral deriva do fato de que a Fatec – Piracicaba é uma instituição pública que consome recursos públicos e que proporciona educação gratuita e 87 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014. GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral. Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação de qualidade a seus alunos, e por não existirem informações claras a respeito do seguimento profissional, da rentabilidade social ou econômica dos alunos formados e dos investimentos aportados pelo estado, embora este último devesse ser tratado em oportunidade futura, devido a sua complexidade de entendimento e apropriação dos dados. O consenso que existe é que a Fatec - Piracicaba forma tecnólogos altamente qualificados o que justificaria amplamente sua relevância social e econômica. Falta, no entanto, evidências mais circunstanciadas sobre resultados de suas atividades atuais pósformados por esta instituição de ensino. HIPÓTESES DE PESQUISA E MÉTODO Para o presente artigo optou-se por realizar uma pesquisa de campo com o intuito de identificar a situação profissional dos alunos formados pela FATEC - Piracicaba, o que remete à ideia de que a metodologia, nesta situação específica, diz respeito ao aspecto quantitativo e qualitativo, ou seja, por meio da identificação de dados tangíveis, de fatos palpáveis e mensuráveis, o que não foge ao aspecto qualitativo. Todavia, convém explicar que a questão de pesquisa levantada se trata em compreender melhor como está o momento atual dos ex-alunos, sendo que para isso, como já exposto, buscaram-se informações mais concretas por meio de uma pesquisa de campo. No tocante à metodologia de pesquisa, o padrão adotado foi o mesmo utilizado por Serpa e Ávila (2004), no sentido de se adotar o padrão utilizado por estudiosos da área de Administração, ou seja, por meio de “experimento, com questionários contendo perguntas curtas em situações de fato, em que se apela para a realidade atual dos respondentes.” De acordo com Costa Neto (2002), a amostragem será probabilística quando cada elemento da população tem uma probabilidade conhecida e igual de ser selecionado. Segundo essa definição, a amostragem probabilística implica um sorteio com regras bem determinadas, cuja realização só será possível se a população for finita e totalmente acessível. A grande vantagem deste método é que os resultados obtidos na pesquisa podem ser projetados para a população total. Ainda conforme Costa Neto (2002) a amostragem aleatória simples (AAS) se caracteriza pelo fato de todos os elementos da amostra ter a mesma probabilidade de inclusão. Assim, foi entrevistada uma amostra probabilística do tipo aleatória simples, composta por 105 ex-estudantes formados nesta unidade de ensino e, utilizando-se da estrutura da Fatec - Piracicaba, contatado foi via pesquisa Google docs 30 respondentes do curso de Biocombustíveis e 85 entrevistados para o curso de Gestão Empresarial, proporcional ao total de ex-alunos de cada curso no período. Para tanto, foi elaborado um questionário composto de sete questões abertas com intuito de obter informações pessoais dos entrevistados, bem como identificar a sua situação profissional atual. As perguntas feitas aos entrevistados foram as seguintes: 1. Atualmente está trabalhando? 2. Qual seu salário atual mensal (em salários mínimos)? 88 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014. GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral. Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação Começou a trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso e parou de trabalhar na área? 4. Começou a trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso e continua trabalhando na área? 5. Começou a trabalhar na área de formação após a conclusão do curso e continua trabalhando na área? 6. Começou a trabalhar na área de formação após a conclusão do curso e parou de trabalhar na área? 7. Nunca trabalhou na área de formação. Convém destacar que não houve resistência da amostragem em fornecer as informações que, posteriormente, foram tabuladas por meio do programa Excel e transformadas em gráficos ilustrativos, os quais vieram a sofrer análise individual para, ao final dos resultados, comporem uma análise geral da pesquisa de campo. Em referência à segunda pergunta do questionário, o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2014) foi o critério utilizado para classificação social. As classes sociais são classificadas consoantes às faixas salariais e são representadas pelas letras: A, B, C, D e E. O instituto contabiliza de acordo com o número de salários mínimos que entram na renda, a Tabela 1 a seguir ilustra o exemplo. 3. Tabela 1 - Lista de classes sociais. Classe Social Renda Mensal A Acima de 15 salários mínimos B De cinco a quinze salários mínimos C De três a cinco salários mínimos D De um a três salários mínimos E Até um salário mínimo Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2014) RESULTADO E DISCUSSÃO As perguntas elaboradas aos egressos consistiram em identificar se estavam trabalhando atualmente, a renda média e o período de início do trabalho na área de atuação. 89 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014. GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral. Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação Gráfico 1 – Alunos do curso de Biocombustíveis trabalhando atualmente. Trabalhando (Biocombustíveis) 31% Não Sim 69% Fonte: Os autores (2013) Análise: Pelo padrão de respostas obtido, percebe-se que apenas 31% dos entrevistados não estão atualmente trabalhando, sendo que 69% da amostragem possui trabalho formal. Isso leva ao entendimento de que a maior parte da amostra tem vínculo empregatício com empresas de qualquer natureza, seja de bens de capital, serviços, empresa pública ou privada. Assim, entende-se que o público-alvo entrevistado do curso de Biocombustíveis vem a compor exatamente a amostragem desejada para se entender o período em que iniciaram suas atividades profissionais, seja antes do egresso ao Ensino Superior ou pós-formado pela Fatec - Piracicaba. Gráfico 2 – Pesquisa salarial - Alunos formados do curso de Biocombustíveis Pesquisa Salarial (Biocombustíveis) 3% 20% 26% 6% 31% 8% 6% Acima de R$ 4.747,00. de R$ 1.357,00 à R$ 2.034,00. de R$ 2.035,00 à R$ 2.712,00. de R$ 2.713,00 à R$ 3.390,00. de R$ 3.391,00 à R$ 4.068,00. de R$ 678,00 à R$ 1.356,00. Não trabalho. Fonte: Os autores (2013) 90 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014. GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral. Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação Análise: Segundo tabela própria do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – no Censo de 2012, é considerado classe alta (A) quem tem renda mensal acima de vinte salários mínimos; os pertencentes à classe média (B e C) estão respectivamente nas faixas correspondentes entre dez e vinte salários mínimos, e entre quatro e dez salários mínimos; as classes mais baixas (D e E) possuem, também respectivamente, renda entre dois e quatro salários mínimos, e até dois salários mínimos. Assim, tem-se que a amostragem consultada apresentou renda mínima em sua maioria, sendo que 3% acima de sete salários mínimos, 26% entre dois e três salários, 6% entre três e quatro, 6% entre quatro e cinco, 8% entre cinco e seis, 31% entre um e dois salários e 20% não trabalha, portanto não possui renda, mas deve-se levar em consideração que os ex-alunos são recém-formados. Gráfico 3 – Alunos do curso de Biocombustíveis Trabalhando na Área Trabalhando na área (Biocombustíveis) 12% 11% 54% 20% 3% Comecei a trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso e parei de trabalhar na área. Comecei a trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso e continuo trabalhando na área. Comecei a trabalhar na área de formação após a conclusão do curso e continuo trabalhando na área. Comecei a trabalhar na área de formação após a conclusão do curso e parei de trabalhar na área. Nunca trabalhei na área de formação. Fonte: Os autores (2013) Análise: Este item da pesquisa de campo é de grande importância, pois vem a apresentar in loco como se dá atualmente à situação de trabalho temporal no mercado generalizado. Percebe-se, então, que o ex-aluno formado no Ensino Superior da Fatec – Piracicaba, curso de Biocombustíveis, teve ganho de 20%, ou seja, esse foi o percentual de alunos que começaram a trabalhar na área de formação após a conclusão do curso e continuam na área, comparados aos 3% que começaram a trabalhar na área de formação após a conclusão do curso e pararam de trabalhar, e aos 11% que começaram a trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso e continuam na área, e aos 12% que começaram a trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso e pararam de trabalhar na área. O mercado de trabalho está cada vez mais exigente e os formandos tiveram um ganho de mercado pós-formatura. 91 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014. GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral. Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação Isso se comprova devido ao fato de que os 20% da amostragem pesquisada afirmaram ter conquistado trabalho na área de formação sem mesmo nunca ter trabalhado outrora no segmento. Tal informação tem relevância para o estado e ao público em geral, pois indica que a Fatec – Piracicaba tem ensino gratuito e de qualidade; ela também tem frentes de trabalhos e iniciativas de acompanhamento do início ao fim e posterior a formatura dos alunos e, sob essa ótica, haveria de se continuar e expandir a todas as outras unidades. Gráfico 4 – Alunos do curso de Gestão Empresarial trabalhando atualmente. Trabalhando (Gestão Empresarial) 10% Não Sim 90% Fonte: Os autores (2013) Análise: No curso de Gestão Empresarial, percebe-se que apenas 10% dos entrevistados não estão atualmente trabalhando, sendo que 90% da amostragem possui trabalho formal. Isso leva ao entendimento semelhante percebido nos dados do curso de Biocombustíveis, pois a maior parte da amostra também tem vínculo empregatício com empresas de qualquer natureza, seja de bens de capital, serviços, empresa pública ou privada. No gráfico 5 apresenta-se a pesquisa salarial obtida pelas entrevistas. 92 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014. GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral. Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação Gráfico 5 – Pesquisa salarial - Alunos formados do curso de Gestão Empresarial Pesquisa Salarial (Gestão Empresarial) de R$ 1.357,00 à R$ 2.034,00. 40% de R$ 678,00 à R$ 1.356,00. 60% Fonte: Os autores (2013) Análise: Aqui se tem que a amostragem consultada apresentou renda mínima em sua maioria, sendo que 60% entre dois e três salários e 40% entre um e dois salários e um número mínimo não considerado não possui renda, considera-se ainda que os ex-alunos sejam recém-formados. Por outro lado, registra-se novamente que as expectativas comportam certa padronização, haja vista o nível de escolaridade dos entrevistados ser o mesmo e, portanto, em equilibrado potencial concorrencial de mercado de trabalho. Gráfico 6 – Alunos do curso de Gestão Empresarial Trabalhando na Área Trabalhando na área (Gestão Empresarial) 10% Comecei a trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso e parei de trabalhar na área. 10% 20% Comecei a trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso e continuo trabalhando na área. 60% Comecei a trabalhar na área de formação após a conclusão do curso e continuo trabalhando na área. Nunca trabalhei na área de formação. Fonte: Os autores (2013) 93 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014. GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral. Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação Análise: O gráfico acima apresenta mais uma etapa da pesquisa de campo, pois se registrou que 10% dos ex-alunos formados no ensino superior da Fatec – Piracicaba, no curso de Gestão Empresarial, começou a trabalhar na área de formação após a conclusão do curso e continuam. E que 60% começaram a trabalhar na área de formação antes da conclusão e continuam, e 10% começaram a trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso e pararam sendo que 20% nunca trabalharam. O mercado de trabalho está cada vez mais exigente e nossos formandos tiveram um ganho de mercado pós-formatura. Isso se comprova devido ao fato de que os 10% da amostragem pesquisada afirmaram ter conquistado trabalho na área de formação sem mesmo nunca ter trabalhado outrora no segmento. Quando se compara este resultado do curso de Gestão Empresarial com o mesmo resultado do curso de Biocombustíveis, percebe-se que existe uma diferença, pois os egressos de Biocombustíveis totalizaram 20% os que conquistaram o mercado de trabalho futuro na área de formação em contrapartida aos 10% dos ex-estudantes de Gestão Empresarial. Pode haver uma característica peculiar entre os cursos e as demandas pelo mercado que justifique tal diferença, e os resultados obtidos comprovam que 70% dos alunos de Gestão Empresarial atuavam na área quando iniciaram seu curso superior, sendo que para Biocombustíveis totalizaram-se 23% os que estavam trabalhando na área antes de ingressarem no curso. Contudo, como a maioria dos egressos de Gestão Empresarial já atuavam na área, estes se contrapõem em sua maioria aos egressos formados pelo curso de Biocombustíveis. O que sinaliza que o mercado para este tipo de formação possui maior aderência para indivíduos ainda sem formação superior dada possivelmente a generalidade da profissão. CONSIDERAÇÕES FINAIS Num contexto geral da pesquisa de campo apresentada, mostrou que as respostas correspondem a um universo composto na sua totalidade por ex-alunos formados pela FATEC – Faculdade de Tecnologia de Piracicaba Deputado Roque Trevisan. Daí que tal amostra se torna de fundamental importância para a pesquisa realizada, pois avalia exatamente o público-alvo almejado para a consecução da pesquisa. A pesquisa também permitiu entender que os ex-alunos vêm gerando um número importante de inserção no mercado de trabalho dentro da sua área de formação, o que, por um lado, pode aumentar o poder aquisitivo familiar e fomentar o consumo, o que implica positivamente nos índices de empregabilidade, haja vista que houve 20% dos alunos de Biocombustíveis que começaram a trabalhar na área após sua formatura e continuaram na área, portanto, dá se o entendimento de que se ganha participação de alunos empregados em empresas que atuam na área de formação desses alunos, e que foram, neste mesmo contexto, 10% para os formados em Gestão Empresarial. 94 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014. GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral. Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação No tocante à renda dos respondentes, o estudo mostrou que houve certa homogeneidade no que se refere às classes D e E, pois a amostragem se apresentou de forma concentrada, ou seja, a renda está em até três salários mínimos em sua maioria, mas deve-se levar em consideração que os ex-alunos são recém-formados. Outro dado é que o curso de Biocombustíveis teve 10% de incremental na conquista do mercado de trabalho na área de formação pós-formatura. Entretanto, como a maioria dos egressos de Gestão Empresarial já atuavam na área, estes passam a ter uma participação futura menor, portanto, a oportunidade fica mais restrita e/ou limitada devido à disponibilidade resultante. Esta consideração também se confirma quando se verifica que para Biocombustíveis tem-se 54% dos alunos que nunca trabalharam na área de formação, nesse mesmo contexto, encontrou-se 20% para Gestão Empresarial. Possivelmente estas conclusões possam ser objeto de nova incursão prática, ou seja, poder descobrir a situação futura, atentos no médio e longo prazo para os alunos dentro da amostra de 20% e 10% formados em Biocombustíveis e Gestão Empresarial, respectivamente, que aderiram ao mercado de trabalho nas suas áreas de formação e acompanhar a continuidade e manutenção do seu trabalho nestas áreas, e assim, seguindo o mesmo raciocínio, poder-se-á verificar o futuro dos outros que não estão atuando na área de formação, mas isso, na realidade, deveria ainda, ser objeto de uma terceira pesquisa. REFERÊNCIAS ALVES-MAZZOTTI, A. J. & GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. BITTAR, Marisa. BITTAR, Mariluce. História da Educação no Brasil: a escola pública no processo de democratização da sociedade. Maringá, v. 34, n. 2, p. 157-168, July-Dec. 2012. BLACKWELL, Roger D. Comportamento do consumidor. Trad. de Eduardo Teixeira Ayrosa. 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Graduanda em Tecnologia em Gestão Empresarial pela Fatec Piracicaba. 4 Vanessa de Cillos Silva é Doutora em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura) pela Universidade de São Paulo, Brasil(2014) e Coordenador-Tecnologia em Gestão Empresarial do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, Brasil. 5 GERMEK; Hermas Amaral é Doutor em Agronomia (Energia na Agricultura) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil(2005), Professor e Diretor da Faculdade de Tecnologia de Piracicaba Dep. “Roque Trevisan”. 97 Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido SANTOS, Nilceia Cristina dos BORTOLOTI, Márcio Augusto PIACENTE, Fabrício José SILVA, Reinaldo Gomes da Resumo Este trabalho procura identificar as vantagens ecológicas geradas pelos veículos produzidos com motores a combustível e com motores híbridos. O estudo aborda a preocupação com a questão ambiental e analisa os prós e os contras de cada tipo de motor com relação a emissão de poluentes. Novas tecnologias de motores híbridos para veículos estão sendo efetuadas pelo governo através de políticas públicas de incentivos, como forma de estimular a inovação, o consumo e reduzir os efeitos da poluição nas grandes cidades. Mas a tecnologia híbrida ainda não está consolidada entre os fabricantes e cada um adota uma configuração de veículo e de bateria e o consumidor fica confuso quanto às opções disponíveis. Por fim, foi realizada uma comparação entre os tipos de motores, o volume de emissão de CO2, o processo de reciclagem e o ciclo de vida de tais produtos. A metodologia consiste numa revisão de literatura e na utilização de dado secundários. Os resultados demonstram que os veículos híbridos são considerados os mais ecológicos, mas, isso não significa que é um produto 100% ecológico, que preserva o meio ambiente. Palavras-chave: veículos híbridos; incentivos, solução ecológica. Abstract This paper discusses the life cycle of the product , which includes the manufacture , use and disposal of vehicles with flex-fuel engines and hybrids . The study addresses the concern with environmental issues and analyzes the pros and cons of each type of motor with respect to emissions. New engine technologies for hybrid vehicles are being made by the government through public policy incentives as a way to stimulate innovation , consumption and reduce the effects of pollution in large cities . But hybrid technology is not yet established among manufacturers and each adopts a configuration of vehicle and battery and the consumer gets confused about the options available . Finally , a comparison was made between the types of engines , the volume of CO2 emissions , the recycling process and the life cycle of such products . The results demonstrate that hybrid vehicles are considered more environmentally friendly , but that does not mean it is a 100 % ecological, preserving the environment. Key-words: hybrid vehicles; life cycle; batteries; incentives, eco solutions. 98 Resumen En este trabajo se analiza el ciclo de vida del producto, que incluye la fabricación , uso y eliminación de los vehículos con motores flex -fuel y los híbridos . El estudio aborda la preocupación por los temas ambientales y analiza los pros y los contras de cada tipo de motor en lo que respecta a las emisiones . Las nuevas tecnologías de motores para vehículos híbridos se están realizando por el gobierno a través de incentivos de política pública como una forma de estimular la innovación , el consumo y reducir los efectos de la contaminación en las grandes ciudades . Pero la tecnología híbrida no se ha establecido entre los fabricantes y cada uno adopta una configuración del vehículo y la batería y el consumidor se confunde acerca de las opciones disponibles . Por último , se realizó una comparación entre los tipos de motores , el volumen de las emisiones de CO2 , el proceso de reciclaje y el ciclo de vida de tales productos . Los resultados demuestran que los vehículos híbridos se consideran más respetuosos del medio ambiente , pero eso no quiere decir que es un 100% ecológico , preservando el medio ambiente. Palabras clave: vehículos híbridos, baterías de ciclo de vida, incentivos, soluciones eco. 99 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido INTRODUÇÃO O automóvel teve origem na Alemanha, em 1885. Inicialmente, possuía três rodas e foi criado por Karl Bens. Em seguida, foi aperfeiçoado na França, onde teve início a produção e venda de automóveis pela empresa Panhard e Levassor. A popularização e evolução ocorreram nos Estados Unidos quando, em 1892, Henry Ford fabricou seu primeiro veículo movido à gasolina. O primeiro automóvel foi o Duryea que foi construído pelos irmãos Charles e Frank Duryea (RACHID DA SILVA, 2011; SANTANA, 2008). Em 1908, Henry Ford inovou os meios de produção dos automóveis ao desenvolver a produção em série, ou seja, a produção em larga escala, o que contribuiu para o que automóvel se tornasse mais popular e presente na vida das famílias ao redor do mundo. Para se ter uma ideia, a Ford com o modelo Ford T (1908) comercializou cerca de 15 milhões de unidades nos seus 25 anos de fabricação. No Brasil, esse modelo ficou conhecido como Ford Bigode (RACHID DA SILVA, 2011). O mercado automobilístico abriu portas para outras atividades comerciais voltadas para o fornecimento de peças, como fábricas de pneus, de baterias, de peças automotivas, e também serviços, como alinhamento e balanceamento. Esse cenário contribuiu para o surgimento de grandes empresas que se alicerçam na indústria automobilística, tais como: Goodyear (pneus), Delphi (baterias), Bosch (injeção eletrônica e peças), Magneti Marelli (componentes), Mahle (pistões), dentre inúmeras outras. Esse crescimento do mercado de automóveis fez com que os fabricantes de automóveis e as empresas fornecedoras de peças e acessórios necessitassem abrir suas fábricas em outros mercados, como europeu, coreano, brasileiro, Oceania, argentino e outros (DIAS, 2005). O Brasil, particularmente, tornou-se um mercado atrativo principalmente devido aos incentivos e mudanças na política pública mundial e interna. Sendo o quarto maior mercado do mundo, perdendo apenas para China, EUA e Japão, em 2011 registrou um crescimento de 2,9% em comparação ao ano de 2010 (CRUZ, 2012). No Brasil, atualmente existem 57 empresas associadas â ANFAVEA, essas unidades industriais estão distribuídas pelo país, sendo que 30 estão localizadas na região sudeste, 21 na região sul, 3 na região centro-oeste, duas na região nordeste e uma na região norte. O ramo de atuação dessas indústrias envolve os setores de máquinas agrícolas, de veículos automotivos, de motores e componentes. As empresas que atuam na produção de automóveis e veículos leves são: Fiat, Ford, General Motors, Honda, Hyundai, Nissan, Peugeot Citroën, Renault, Toyota e, Volkswagen (ANFAVEA, 2013). Para a sociedade brasileira, o automóvel é considerado um símbolo de status, de liberdade, de sucesso e uma melhora na qualidade de vida de seus consumidores (CAMPOS, 2008). Segundo a ANFAVEA (2013), em 2012, foram produzidos 3.415.486 de autoveículos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus), sendo que 75,87% desse volume é somente de automóveis. Em relação ao tipo de combustível utilizado por esses veículos, 88,88% são flex (álcool/gasolina), 11,10% funcionam apenas com gasolina e apenas, 0,02% são movidos à diesel. 100 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido O crescente aumento dessa frota de veículos causou grande impacto na sociedade, por exemplo: aumento da emissão de CO2 ou Gás do efeito estufa (GEE) e N2O; poluição sonora; destinação correta dos fluidos como óleo e peças como baterias e peças de plástico, como painéis, para-choque, dentre outros; a destinação a ser dada aos veículos que chegam ao final do ciclo de vida; obtenção de combustível a um preço acessível para a população; entre outros (SMAC, 2013). Atualmente, a maior parte da responsabilidade pela geração de poluição e contaminação dos ambientes nas grandes cidades passou a ser direcionado ao excesso de veículos automotores presente nas ruas. Hoje, entre 70% e 90% dos poluentes do ar são produzidos pelos veículos, principalmente nas grandes cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Los Angeles, Cidade do México, entre outras (EPELBAUM, 2002; NICOLETTI, 2013; PEREIRA, 2014). Para tentar amenizar esse problema, os governos, juntamente com a pressão de setores da sociedade, têm clamado por veículos ecologicamente corretos. Por exemplo, atualmente possuem metas de redução de emissão de poluentes, item que não era cobrado da geração anterior. Não há como atingir essas exigências sem investimento em inovação e tecnologia. Mas quem arcará com o custo gerado para criar melhor desempenho ambiental dos veículos? Outra medida tomada é a cobrança do pedágio urbano, uma taxa pela utilização de determinada via ou área. No Rio de Janeiro, há a cobrança do pedágio urbano na linha amarela, ao valor de R$ 4,70 (EMSAMPA, 2012). Em outros países, isso já funciona. Na Suécia, a empresa IBM implantou um sistema que indica períodos de viagem entre rotas específicas em tempo real, levando em consideração o fluxo de veículos. Os resultados foram impressionantes, apresentando reduções significativas nos percentuais de trânsito (acima de 15%) e nas emissões de CO 2 (acima de 10%) (RAGAZZO, 2012). É possível reduzir a emissão de CO2 por meio do desenvolvimento de motores menos poluentes (flex, elétricos, híbridos) e pelo uso de fontes alternativas de combustíveis fósseis (álcool, biodiesel, células de combustível) (RIBEIRO, 2006). Segundo Rachid da Silvia (2011), veículos híbridos ou CEH (Carro Elétrico Hibrido) combinam a energia de um motor elétrico com a de um MCI (motor convencional de combustão interna) a gasolina, biocombustível ou flex. No mercado automotivo, a Toyota lançou o CEH Prius em 1997 e chegou ao final de 2010 com 2 milhões de unidades vendidas. Em 1999, a Honda lançou o Insight. Dentre os híbridos vendidos no mundo atualmente, podemos citar o Ford Fusion, Honda Fit, Lexus CT200h, Chevrolet Volt, Nissan Leaf, entre outros. Ainda em relação ao impacto ambiental causado pela utilização de veículos e consumo de combustíveis, é preciso se preocupar com o ciclo de vida desse produto, o destino dos resíduos gerados pelo seu uso e o devido descarte. Dentro desse cenário é possível fazer vários questionamentos, como: é viável a troca do combustível gasolina por outros combustíveis alternativos? Qual o custo para o consumidor dessas novas tecnologias ecológicas? Esses novos modelos de veículos são 101 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido viáveis? Como é o ciclo de vida desses automóveis? Para esse estudo foi escolhida a seguinte questão norteadora: quais tipos de motores automotivos realmente podem ser considerados ecológicos? Esse estudo tem por objetivo geral identificar as vantagens ecológicas geradas pelos veículos produzidos com motores a combustível e com motores híbridos. A metodologia adotada consiste numa pesquisa bibliográfica exploratória efetuada por meio de livros, artigos, teses e projetos de graduação, abordando o mercado automobilístico, a poluição automotiva, o ciclo de vida e tipos de veículo automotivo, e por fim, quais incentivos são dados no mundo e no Brasil. Para Minayo (1993, p.23), pesquisa é uma “atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados”. Desta forma, o estudo permitirá analisar os tipos de veículos híbridos que existem, as tecnologias empregadas no seu desenvolvimento e os ciclos de vida dos automóveis e dos combustíveis (etanol e gasolina) e quanto eles geram de gases ao meio ambiente durante o seu uso nos veículos. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Mercado Automobilístico Brasileiro O primeiro veículo motorizado trazido para o Brasil chegou ao porto de Santos em 1891, trazido por Alberto Santos Dumont, na época com dezoito anos. O carro era um Peugeot vindo da França e foi comprado por 1.200 francos (PORTAL; INVESTE, 2012). No Quadro 1 observa-se um breve histórico do mercado e como procedeu a evolução da indústria automobilística no Brasil. 102 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido Quadro 1 - Evolução do mercado automobilístico no Brasil. ANO 1919 1920 1925 1929 Década de 40 1951 Final da década de 60 Final dos anos 70 e início dos anos 80 Anos 90 HISTÓRICO Ford inaugura a 1ª fábrica de automóveis no Brasil. 5.596 veículos nas ruas de São Paulo. General Motors inaugura fábrica no bairro Ipiranga. A frota do estado de São Paulo é de 43.657 veículos. Devido à guerra, não há venda de veículos novos. A frota começa a ficar antiga e ultrapassada. Getúlio Vargas proíbe a importação de veículos. Cria a CDI – Comissão de Desenvolvimento Industrial para desenvolver a indústria local. Chega-se a 321.150 veículos produzidos no Brasil. Surge a microeletrônica tirando do Brasil a vantagem comparativa do custo de mão de obra do país. Aumenta a competição com outros países, principalmente os asiáticos. Surge o carro popular, fruto da expansão da indústria automobilística nacional, veículo de baixo custo. Abertura econômica e novos acordos automobilísticos com o México, e o Mercosul, cresce a importação e a exportação de veículos. Fonte: Elaboração própria baseada em PORTAL (2012) e INVESTE (2012). Com o governo intervindo para reduzir os níveis de emissão dos veículos, tornando-os mais ecológicos, as perspectivas da CNI (Confederação Nacional da Indústria) para o setor automotivo são de crescimento (CNI, 2012). Já o relatório da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) destaca treze pontos para os próximos 15 anos. Alguns deles são: carros mais eficientes, compactos e silenciosos; carros elétricos mais acessíveis; a intensificação das fontes de energia alternativas ao petróleo (biocombustíveis, elétricos); o projeto industrial de veículos mais “verdes”; o fornecimento instável do petróleo; um maior crescimento nas vendas de veículos nos países emergentes, entre outros (ABDI, 2009). Poluição Automotiva A poluição causada pelos veículos pode ser classificada em função da sua abrangência, dos impactos causados por sua emissão, por exemplo: poluentes gerados nas áreas do entorno de onde circulam, ruídos produzidos pelos motores e fuligem expelida pelos escapamentos acumulando nas ruas e fachadas dos imóveis são chamados de poluentes locais. Nesta categoria ainda entram os poluentes que se deslocam de uma região 103 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido para outra por meio das correntes de ar, como os gases que causam a chuva ácida ou o efeito smog (mistura de fumaça, poluentes gasosos, neblina, ar e partículas sólidas, que origina uma nuvem escura), que ocorre devido à grande concentração de ozônio (O3), formando assim uma névoa densa no ar. Os poluentes globais são aqueles gases que são lançados para a atmosfera, causando impacto em todo o planeta, como o aquecimento global e os gases do efeito estufa (GEE), sendo o dióxido de carbono (CO2) o principal poluente desta categoria (CARVALHO, 2009). O setor de transporte é um dos principais causadores dos gases do efeito estufa e outros gases nocivos ao meio ambiente, sendo responsável por 20% das emissões globais de CO2. No Brasil, o setor de transporte responde a 9% do total das emissões de CO 2 enquanto as queimadas representam mais de 70% das emissões. Além do CO 2, os veículos movidos a combustível fóssil são responsáveis por outros poluentes que degradam o ambiente e que são nocivos a saúde humana, dentre eles: monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC), materiais particulados, óxidos de nitrogênio (NO x) e óxidos de enxofre (SOx) (CARVALHO, 2009). Outro problema relacionado à emissão de gases do efeito estufa, segundo estudos do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo realizados na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), é a poluição gerada pelos veículos está associada a 200 doenças e a cerca de 3 mortes por ano (MARTINS, 2001). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2012 cerca de 7 milhões de pessoas no mundo perderam suas vidas por causa da poluição do ar, sendo que 3,6 milhões de mortes são relacionadas às mortes provocadas por fontes móveis (veículos) e fixas (ex. indústrias), o que representa 30% a mais do que ano anterior (VORMITTAG, 2014). A inalação contínua de nanopartículas e gases tóxicos como chumbo e cádmio causam uma série de problemas de saúde, que vão desde o aparecimento ou agravamento de doenças respiratórias até problemas cardíacos, aumento da pressão arterial, depressão, esquizofrenia e problemas reprodutivos (NICOLETTI, 2013). Em 2011, no Estado de São Paulo, os gastos com o tratamento de doenças provocadas pela poluição foram de R$ 76 milhões (gastos públicos) e R$ 170 milhões (gastos privados/complementares) totalizando gastos de R$ 246 milhões no Estado. para R$ 246,2 milhões (US$ 111,7 milhões) de acordo um estudo realizado pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade (VORMITTAG et al, 2013). Em função deste fato, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) criou em 06 de maio de 1986, por meio da Resolução nº 18, o Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE), coordenado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos (IBAMA), que definiu os limites de emissão para os veículos leves, contribuindo para o Padrões de Qualidade do Ar instituído pelo PRONAR (Programa Nacional de Qualidade do Ar). Por meio da Lei nº 8.723 de 28 de outubro de 1993, tornou-se obrigatória a redução dos níveis de emissão de poluentes de origem veicular, adequando o veículo à fase do Proconve vigente no ano de fabricação do veículo, fomentando o desenvolvimento tecnológico dos fabricantes de motores, autopeças e combustíveis. 104 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido Para que esta exigência seja cumprida, os veículos são aferidos em testes padronizados no dinamômetro e com combustível de referência. Além disso, o Ibama proíbe a comercialização de veículos não homologados ficando a cargo do Proconve desde a certificação do protótipo até a homologação dos motores ou o recolhimento deles, caso estejam em desconformidade frente à fase que o Proconve está atualmente. O Proconve só atua sobre veículos novos, os veículos antigos seguem as exigências da fase no momento da sua fabricação, e acabam poluindo mais (IBAMA, 2012). As exigências do Proconve foi implementada em fases, para que as empresas tivessem tempo para se adaptarem aos novos limites de emissão. No Quadro 2 estão detalhados os anos e limites máximos de emissão dos gases permitidos pelas fases. Quadro 2 – Anos em que cada fase do Proconve foi implementada. ANO DA FASE CARACTERÍSTICA EXIGÊNCIA Eliminar os veículos mais poluidores, aprimorar a produção L1 1988-1991 e implantar o controle das emissões evaporativas. Investimento em novas tecnologias, como injeção eletrônica de combustível e os conversores catalíticos para uso de L2 1992-1996 A misturas com etanol. Implantação do controle de ruídos em veículos. Melhorar a tecnologia para formação de mistura e controle L3 1997-2004 eletrônico do motor, por exemplo, o sensor de oxigênio. 2005 (40%) Reduzir as emissões de HC e NOx, (substâncias precursores L4 2006 (70%) de Ozônio), não obrigando os fabricantes a instalarem 2007 (100%) equipamentos ou itens nos motores como havia sido feito. Reduzir emissões de hidrocarbonetos não-metano e para as L5 2009 emissões de NOx para os veículos leves do ciclo Otto. 2013 (Diesel leve) 2014 (Otto Novos L6 Ampliar as reduções para outros tipos de veículos. Mod.) 2015 (Otto 100%) Fonte: Baseado em (JUNIOR, 2009; PROCONVE, 2012 e SCHOLL, 2009). Segundo estudo de Junior (2009), nota-se que após a implantação das fases L1, L2, Le e L4 acima pela Proconve, realmente houve redução das emissões de poluentes. Os limites de emissão de gases que o veiculo pode emitir para cada fase esta disponível na Figura 1, onde é possível consultar o gás e qual o seu limite de emissão para aquela fase. 105 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido Figura 1 – Limite máximo de emissão para as fases do Proconve. Fonte: PROCONVE (2012). Com a redução dos níveis de poluição dos veículos em cada fase, o aumento da frota causa um impacto menor no meio ambiente caso os veículos não seguissem a norma ou a norma não existisse. Ciclo de Vida de Veículos Automotivos O ciclo de vida de um automóvel se inicia com a aquisição das matérias-primas, sendo elas naturais (virgens), como petróleo e carvão, ou derivadas de reciclagem, como alumínio, ferros e vidros (MEYER, 2001). Após a aquisição das matérias-primas, estas são processadas e tornam-se disponíveis para a utilização na manufatura, como o minério retirado da natureza que pode ser transformado numa chapa de aço, por exemplo. Após a manufatura, modela-se o metal e outros itens de plástico. Ocorre então a elaboração final do produto, empacotamento e 106 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido entrega do veículo ao consumidor que irá fazer uso do mesmo (MEYER, 2001). Visto o automóvel ser composto por muitos itens e, durante seu ciclo de vida, ter que passar por diversas manutenções, como troca de fluidos, pneus e outros, geram-se muitos ciclos de vida de produtos ao longo do uso e manutenção do veículo e prorrogam o tempo de vida do bem (MEYER, 2001). Seria, portanto, muito difícil avaliar o ciclo de vida do todo ou de todas as partes individualmente. Em relação as emissões de poluentes veicular elas são o reflexo entre a tecnologia, as condições de manutenção do veículo e as especificações do motor. Um veículo pode originar emissões de partículas de vários sistemas, como os elementos de frenagem, desgastes dos pneus. Pelo escapamento pode-se emitir partículas, óxidos e fuligem. Os poluentes resultantes da combustão são: Monóxido de Carbono (CO), Hidrocarbonetos (HC), Óxidos de Nitrogênio (NOx) e Óxido de Enxofre (SOx) (M. SILVA, 2007). Para que um veículo obtenha movimentação é necessário potência, e a fonte da potência em um veículo é o seu motor de combustão interna. Para que um Veículo transporte mais cargas ou pessoas é necessário um motor mais potente. Temos, assim, várias potências de motores que servem para diferentes tipos de veículos, carros, motos, caminhões, cada um para sua especialidade e focando a atividade fim realizada pelo veículo ao qual ele será introduzido. O Motor de Combustão Interna tem o princípio de converter energia térmica em energia mecânica (PINTO, 2010). O primeiro motor a combustão interna foi concretizado em 1966 por Nikolaus August Otto, que teve a ideia de utilizar benzeno como combustível. Ele queria fazer um mecanismo para gerar força de maneira automática, para isso ele se baseou no mecanismos de pedais de bicicletas (pedal e manivela) onde o combustível pudesse explodir e gerar força e consequentemente movimento. Este ciclo de admissão, compressão, explosão e exaustão ficaram conhecidos como ciclo Otto (ROCHA, 2009). Dentre os combustíveis usados para os motores, temos as seguintes opções: Gasolina tipo C, Diesel, Etanol, Querosene, Biodiesel e Gás Natural. O ciclo de vida do etanol combustível A matéria-prima do etanol etílico hidratado é a cana-de-açúcar, combustível dos veículos automotores. A cana-de-açúcar na safra de 2012/2013 se tornou a maior no Brasil, alcançando 596 milhões de toneladas de cana moída, e o estado de São Paulo é o maior produtor, com 51,28% do total produzido no país (CONAB, 2012). Segundo Ometto (2005), o etanol é produto da destilação de líquidos fermentados, como os vinhos. O etanol etílico ou simplesmente etanol é uma substância orgânica ternária constituída por carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), cuja fórmula molecular é C2H6O. Segundo Unica (2012), na safra de 2011/2012, a produção do setor sucroalcooleiro foi de 493,1 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, sendo que 31,3 milhões de toneladas 107 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido foram de açúcar, 7.466.194 m3 de etanol anidro, 13.076.110 m3 de etanol hidratado, contabilizando 20.542.304 m3 de etanol total. Somente o Estado de São Paulo foi responsável pela produção de 11.597.637 m3 de etanol total. Para 2014/2015 estima-se que safra de cana-de-açúcar deverá alcançar 671,7 milhões de toneladas, confirmando a posição do Brasil de maior produtor e exportador mundial (CREA-PR, 2014).Segundo relatório da Fenabrave - 2012, em 2011 foram comercializados no Brasil 2.165.534 veículos flex (etanol e gasolina) e 352.197 veículos somente à gasolina (CRUZ, 2012). Após a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, em fevereiro de 2005, houve um aumento na demanda internacional por fontes renováveis de energia, estimulando a produção de biocombustíveis, dentre eles o etanol. O Protocolo de Kyoto é um ferramenta que estabelece aos países metas de redução de emissão de gases de efeito estufa e mecanismos adicionais de implementação para que essas metas sejam atingidas (MOREIRA E GIOMETTI, 2008). Segundo Ometto (2005, p. 35), as etapas do ciclo de vida do álcool são: o preparo do solo e o cultivo agrícola da cana-de-açúcar, transporte interno, processo industrial, reutilização dos resíduos e dos efluentes industriais, geração de vapor e de energia elétrica, armazenagem e distribuição e utilização do álcool etílico hidratado combustível. Assim, tem-se o término do ciclo de vida da cana-de-açúcar e o novo plantio irá absorver todo o CO2 emitido no ciclo anterior. Conforme Tabela 1 temos um veículo com motor flex e utilizando Etanol Hidratado como combustível, nela é possível analisar quanto o veiculo emite de gases, o quanto esta emitindo atualmente e também podemos efetuar uma comparação de um veículo mono-combustível com um veiculo flex, para verificarmos qual tem uma maior emissão de gases, produz: 108 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido Tabela 1 – Emissões de um veículo a etanol ANO 80-83 84-85 86-87 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2003 2004 2004 2005 2005 2006 2006 2007 2007 2008 2008 2009 2010 2011 COMBUSTÍVEL CO (g/km) Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Álcool Flex Álcool Álcool Flex Álcool Álcool Flex Álcool Álcool Flex Álcool Álcool Flex Álcool Álcool Flex Álcool Flex Álcool Flex Álcool Flex Álcool 18 16,9 16 13,3 12,8 10,8 8,4 3,6 4,2 4,6 4,6 3,9 0,9 0,7 0,6 0,63 0,66 0,74 0,77 0,51 0,82 0,46 0,82 0,39 0,67 0,47 ND 0,47 ND 0,71 0,56 0,51 0,49 HC (g/km) NOx (g/km) 1,6 1,6 1,6 1,7 1,6 1,3 1,1 0,6 0,7 0,7 0,7 0,6 0,3 0,2 0,2 0,18 0,15 0,16 0,16 0,15 0,17 0,14 0,17 0,14 0,12 0,11 ND 0,11 ND 0,052 0,03 0,09 0,09 1 1,2 1,8 1,4 1,1 1,2 1 0,5 0,6 0,7 0,7 0,7 0,3 0,2 0,2 0,21 0,08 0,08 0,09 0,14 0,08 0,14 0,08 0,1 0,05 0,07 ND 0,07 ND 0,05 0,03 0,04 0,03 CO2(1) (g/Km) 191 183 200 160 190 160 180 200 177 ND 177 ND 187 174 172 170 CHO (g/km) Emissão Evaporativa de Combustível (g/teste) 0,16 0,18 0,11 0,11 0,11 0,11 0,11 0,35 0,04 0,042 0,042 0,04 0,012 0,014 0,013 0,014 0,017 0,017 0,019 0,02 0,016 0,014 0,016 0,014 0,014 0,014 ND 0,014 ND 0,0152 0,0104 0,0073 0,009 10 10 10 10 1,8 1,8 0,9 1,1 0,9 0,9 0,8 1,1 1,3 1,6 1,35 1,31 ND ND ND ND ND ND ND ND 1,27 ND 1,27 ND 1,1 Fonte: Cetesb (2011) (1) Inclusão do dióxido de carbono a partir de 2002. (Valores medidos, sem legislação limitando as emissões). O ciclo de vida da gasolina C A matéria-prima da gasolina é o petróleo (óleo cru). Ela é obtida por meio do refino do petróleo. A gasolina faz parte do Ciclo do Carbono (C). O Ciclo do Carbono tem início no momento em que plantas ou outros organismos autótrofos absorvem o gás carbônico 109 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido que está presente na atmosfera e o utilizam na fotossíntese, incorporando as suas moléculas (LUZ, 2011). O próximo nível trófico é quando os animais herbívoros ingerem as plantam e com isso incorporam uma parte do carbono presente nelas na forma de açúcar. Diz-se uma parte do carbono porque uma parcela do carbono retornará pelos organismos decompositores ou devolvidos à atmosfera no caso de uma queimada. Após o animal herbívoro o ingerir, o carbono será devolvido à atmosfera por meio da respiração ou pela decomposição do organismo (LUZ, 2011). Segundo Cruz (2003), a composição química do petróleo “são misturas orgânicas complexas de hidrocarbonetos, com quantidades relativamente pequenas de compostos orgânicos sulfurados, nitrogenados, oxigenados e organometálicos. Predominam entre os hidrocarbonetos, os acíclicos saturados (alcanos ou parafinas) tanto de cadeia normal como ramificada”. A gasolina automotiva possui de quatro a doze átomos de carbono, sendo uma mistura complexa de hidrocarbonetos. Os hidrocarbonetos presentes na gasolina são membros das séries parafínicas, naftênicas e aromáticas e, dependendo do petróleo e dos processos de produção, mudam as proporções relativas. Os órgãos normativos exigem rígido controle sobre as especificações e características das gasolinas comerciais, visando atender a requisitos de desempenho dos motores e atenuar as emissões de gases poluentes (CRUZ, 2003). Há vários métodos de determinar quantitativamente as propriedades importantes da gasolina. No Brasil, a ANP (Agencia Nacional de Petróleo) utiliza o índice de octano, determinado pelo método MB-457 que é correspondente ao método ASTM D-2700 ou MON (Motor Octane Number). O método MON avalia a resistência do combustível à compressão quando o motor está sendo mais exigido e com rotações mais altas, como ocorre em subidas com marcha reduzida, ultrapassagens e altas velocidades (CRUZ, 2003). No Brasil, a gasolina do tipo C é a comum vendida nos postos e revendedores, disponível no mercado, tem octanagem no mínimo igual a 80 (MON). É adicionado Etanol, cujo teor varia conforme a legislação vigente, sendo de 21% a 25% do volume. A Gasolina tipo A é a que as refinarias entregam para as distribuidoras, uma gasolina pura e com maior octanagem. A gasolina tipo B é de uso exclusivo do exército (ANP, 2011). Segundo Luz (2011), a gasolina é um produto esgotável, sendo que o ciclo de vida da gasolina inicia nas refinarias, passando para as distribuidoras que revendem o combustível para os postos, onde o consumidor final os adquire, seus resíduos são lançados na atmosfera e tem-se o início do ciclo do carbono. Na Tabela 2, um veículo com motor utilizando gasolina C combustível produz: 110 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido Tabela 2: Emissões de um veículo a gasolina ANO COMBUSTÍVEL CO (g/km) HC (g/km) pré 80 80-83 84-85 86-87 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2003 2004 2004 2005 2005 2006 2006 2007 2007 2008 2008 2009 2009 2010 2010 2011 2011 Gasolina Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Gasolina C Flex Gasolina C Gasolina C Flex Gasolina C Gasolina C Flex Gasolina C Gasolina C Flex Gasolina C Gasolina C Flex Gasolina C Gasolina C Flex Gasolina C Gasolina C Flex Gasolina C Gasolina C Flex Gasolina C Gasolina C Flex Gasolina C 54 33 28 22 18,5 15,2 13,3 11,5 6,2 6,3 6 4,7 3,8 1,2 0,8 0,7 0,73 0,38 0,43 0,4 0,5 0,35 0,29 0,34 0,45 0,33 0,45 0,33 0,45 0,37 0,51 0,3 0,33 0,23 0,28 0,26 0,28 4,7 3 2,4 2 1,7 1,6 1,4 1,3 0,6 0,6 0,6 0,6 0,4 0,2 0,1 0,1 0,13 0,11 0,11 0,11 0,05 0,11 0,08 0,1 0,11 0,08 0,1 0,08 0,1 0,042 0,069 0,03 0,03 0,03 0,04 0,04 0,04 NOx (g/km) 1,2 1,4 1,6 1,9 1,8 1,6 1,4 1,3 0,6 0,8 0,7 0,6 0,5 0,3 0,2 0,2 0,21 0,14 0,12 0,12 0,04 0,09 0,05 0,09 0,05 0,08 0,05 0,08 0,05 0,04 0,04 0,02 0,03 0,02 0,03 0,03 0,03 CO2 (1) (g/Km) 198 194 210 190 201 192 188 192 185 192 185 223 185 228 181 213 178 198 178 CHO (g/km) 0,05 0,05 0,05 0,04 0,04 0,04 0,04 0,4 0,013 0,022 0,036 0,025 0,19 0,007 0,004 0,004 0,004 0,004 0,004 0,004 0,004 0,004 0,003 0,004 0,003 0,002 0,003 0,002 0,003 0,0014 0,002 0,0017 0,0024 0,0014 0,0015 0,002 0,001 Emissão Evaporativa de Combustível (g/tes te) 23 23 23 23 2,7 2,7 2 1,7 1,6 1,6 1,2 1 0,8 0,8 0,73 0,68 0,61 0,75 ND 0,69 ND 0,9 ND 0,46 0,62 0,46 0,62 0,66 0,42 Fonte: CETESB (2011). 1 Inclusão do dióxido de carbono a partir de 2002. (Valores medidos, sem legislação limitando as emissões). ND - não disponível 111 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido Gasolina C - 78% gasolina + 22% álcool anidro (v/v). Como pode ser observado na Tabela 2, há uma queda grande nas emissões dos veículos ao longo do tempo, após atender a legislação vigente sobre as emissões, ou seja, as fases do Proconve. Há uma maior emissão de CO e HC dos carros flex se compararmos aos veículos somente mono-combustível. Veículos Elétricos e Híbridos No fim dos anos 80, a atenção voltou-se para os veículos elétricos que poderiam ser a solução para a poluição das grandes cidades e poderiam ser a salvação da era do petróleo. Neste período, o conceito de desenvolvimento sustentável ganha força e o foco muda para o desenvolvimento de novas fontes de energia frente ao petróleo e seus derivados e novos meios de transporte (BARAN, 2010). Na década de 90, o estado da Califórnia se torna pioneiro ao implementar as normas regulamentadoras para veículos limitando a emissão zero. Em 1992, ocorre a Rio92 (ou Eco-92) e esta conferência apresentou como resultados a Agenda 21. Neste documento, cada país se compromete a refletir, local e globalmente, sobre como as empresas, governos e os setores da sociedade podem cooperar para a solução de problemas socioambientais. Na reunião, verificaram-se os problemas causados pelo uso da energia fóssil em excesso e buscou-se a redução do consumo de energia fóssil pelos países desenvolvidos, a busca por fontes renováveis e a transição para esta energia (BARAN, 2010). Em 1999, a Honda lançou no mercado americano um veículo híbrido, o Insight. Foi o primeiro veículo híbrido a ser comercializado nos Estados Unidos. No ano seguinte, a Toyota lançou o Prius. Os dois veículos foram um sucesso quando foram lançados (BARAN, 2010). Em 2003, foi a vez do Civic ganhar a versão híbrida, com a mesma aparência e dirigibilidade que a versão motorizada possuía. E em 2004, a Ford introduziu o Escape, uma versão híbrida de um utilitário esportivo (BARAN, 2010). Em 2007, visando diminuir a dependência de petróleo importado para manter a frota americana, o governo decide investir em combustíveis limpos, e com isso cria a Energy Independence and Security Act, a qual teria US$ 95 milhões anuais entre os anos de 2008 e 2013. Seu objetivo era a pesquisa, o desenvolvimento de um transporte elétrico e a capacitação de pessoas para a manutenção dos veículos elétricos. Os fabricantes e fornecedores foram beneficiados com 25 bilhões até 2020 para desenvolver veículos híbridos e seus componentes (BARAN, 2010). Segundo Baran (2010), foram vendidos em 2009, 598.739 unidades sendo 44% nos EUA, 41% no Japão e o restante na Holanda, Reino Unido e Canadá. Nos EUA, os maiores mercados se encontram em Los Angeles, Nova York, São Francisco, Washington (D.C.) e Chicago. As vendas de híbridos nos EUA em 2008 representaram pouco mais que 4% do mercado norte-americano, totalizando 279.847 unidades. 112 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido Em 2009, foi criado o American Clean Energy and Security Act nos EUA. Com isso, a Secretaria de Energia, a agência regulamentadora estatal e as distribuidoras de energia deveriam apresentar planos de desenvolvimento de redes inteligentes integradas, já com suporte a Veículos Elétricos Híbridos Plug-in até julho de 2012. Foi adicionado um teto de 50 bilhões de dólares para ajuda financeira às montadoras e produtoras de autopeças até 2020, visando fomentar os híbridos, reduzir a dependência do petróleo e as emissões de gases estufa e com isso efetuar uma transferência de uma economia baseada no petróleo para uma baseada em energia limpa (BARAN, 2010). Há algumas variações dos carros elétricos e híbridos, segundo ABVE (2011) e HOLLANDA (2011) algumas delas são: a) Carro Elétrico (CE): possui pelo menos um motor elétrico; b) Carro Elétrico a Bateria (CEB): possui baterias do carro são carregadas pela rede de energia elétrica; c) Carro Elétrico Híbrido (CEH): a energia elétrica para carregar as baterias é fornecida por um gerador instalado no motor de combustão interna (MCI), fazendo com que o motor a combustão funcione como a fonte de energia; d) Carro Elétrico Híbrido “Plug-in” (CEHP): possui mais baterias e pode ser carregado tanto na rede de energia elétrica como usar o gerador do motor a combustão; e) Carro Elétrico com Células a Combustível (CECC): utiliza a energia gerada por meio de uma célula a combustível de hidrogênio. O veículo mais aceito dos híbridos foi o CEH, pois além de reduzir as emissões que o motor a combustão gera, ele é mais silencioso e tem maior autonomia, usa menos combustível do que os veículos similares somente à gasolina. Os CEB tiveram uma evolução lenta devido às baterias. Somente recentemente elas se tornaram mais finas, leves e com capacidade de armazenamento de energia maior, favorecendo bastante o desempenho dos CEB. Algumas montadoras estão adotando os CEHP, pois reúne o melhor dos carros elétricos, já que pode ser carregado tanto na rede de energia elétrica quanto pelo motor a combustão (HOLLANDA, 2011). Todos os híbridos disponíveis no mercado possuem um sistema de frenagem regenerativa. Este sistema funciona capturando a energia cinética da frenagem do veículo e a transforma em energia elétrica (ABVE, 2011). Uma das maiores limitações que o veículo elétrico sofre é quanto a sua autonomia frente a um veículo com MCI. Torna-se complicado percorrer grandes distâncias com o veículo sem que seja necessário efetuar a recarga no seu SAE (Sistema de Armazenamento de Energia) (ABVE, 2011). O Quadro 3 apresenta as baterias mais utilizadas, destacando suas vantagens e desvantagens, com seus respectivos compostos químicos. Quadro 3 – Baterias, compostos, vantagens e desvantagens. MODELO Bateria de COMPOSTO É composta por VANTAGENS Maturidade da 113 DESVANTAGENS As descargas de energia da bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido Chumbo (Lead-AcidBatteries) óxido de chumbo e ácido sulfúrico. tecnologia e produção em massa. Os custos de aquisição não são altos. bateria não podem passar 20% de sua capacidade e, caso isso ocorra, diminui a vida útil da mesma e possui baixa densidade de energia devido ao peso do chumbo. Bateria de Hidreto de Níquel Metálico (Nickel-Metal Hydride Batteries) É composta por Hidreto e Níquel, uma liga especial de níquel, titânio e outros metais e uma solução alcalina. Possui o dobro da densidade de energia das baterias de Chumbo. Possui uma vida útil longa, resistência a cargas e descargas e os seus componentes não são agressivos ao meio ambiente. Se forem descarregadas a taxas elevadas, seu ciclo de vida pode se esgotar rapidamente. Se o preço do níquel aumentar, o custo final será alto, impedindo assim a massificação desse modelo de bateria. Bateria de Íons de Lítio (Lithium-Ion Batteries) É composta por Cobalto oxidado, carbono e sal de Lítio. Elevada capacidade de energia e vida longa útil. Custo elevado e necessidade de circuito eletrônico para controlar sua carga, descarga e temperatura. Bateria de Níquel-Zinco (Nickel-Zinc Batteries) Alta densidade de energia, extremamente segura, ambientalmente limpa e reciclável. Possui ciclo de vida curto e tem o mesmo problema do custo do níquel. Bateria de Npíquel-Cadmio (NickelCadmium Batteries) Vida útil longa e bom comportamento em descargas totais de energia Elevado custo e o cadmio ser lesivo ao meio ambiente. Fonte: Elaboração própria baseada em Gonçalves (2012). Incentivos De modo a estimular o comércio de veículos híbridos, os governos estão oferendo subsídios para que os consumidores optem por eles em detrimento ao veículo de combustão interna. Segundo Barbiere (2007), “subsídios são renúncias ou transferências de receita dos entes estatais para os privados, podem ser isenções, redução, diferimento de imposto e de financiamento em condições especiais com o objetivo de estimular o consumo”. Nos EUA para a compra de um veículo 100% com autonomia estendida (híbridos seriais plug-in), o governo concede um crédito de até US$7.500. O Nissan Leaf e outros VEs têm benefícios similares. Além destes, os incentivos variam de estado para estado, por exemplo, a Califórnia oferece U$5.000 para o Nissan Leaf 2011 ou Coda Sedan 2011. A Alabama também oferece U$2.500 (ABVE, 2010). 114 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido As vendas do Volt começaram em 2010, após o governo liberar incentivos para a construção da fábrica em Michigan (EUA). Ele será vendido por US$ 41 mil. Com a isenção fiscal fornecida pelo governo Americano, o valor cai para até US$ 33,5 mil. O Volt é a maior esperança da montadora para a recuperação financeira. Já no Canadá o objetivo do governo de Ontário é que 5% dos veículos na estrada sejam elétricos nos próximos dez anos e, para conseguir isso, oferece uma redução de US$8.500. Já a aquisição de VEs para a frota governamental e para táxi a redução chega até a US$8.880 (ABVE, 2010). Na Europa, a França, a redução chega a atingir US$6.500 (ABVE, 2010). A Bélgica está oferecendo US$11.700 de redução no preço do VEs. Já a Dinamarca, Grécia e República Tcheca isentam das taxas de licenciamento e de circulação. O Reino Unido oferece isenção de taxas de licenciamento e de circulação para carros que emitem abaixo de 100 g/km de CO2 (ABVE, 2010). Em Portugal incentivo de €1.500 para quem pagar o carro elétrico com um carro a combustão interna. Na Espanha o preço do veículo hibrido terá abatimento em até 25% do valor final ou até chegar à cota de €6.000 sendo estendido para ônibus, vans e táxis (ABVE, 2011). Na Alemanha ha isenção do imposto de circulação anual por um período de cinco anos para os carros elétricos e híbridos plug-ins. O governo anunciou uma ajuda para a indústria automobilística de 2 bilhões de euros (US$ 2,8 bi) ate 2013 com o objetivo de tornarem-se líder mundial em carros elétricos e tenham 1 milhão de veículos do tipo rodando até 2020 (ABVE, 2010). No Brasil, em alguns estados há a isenção da cobrança do IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) para veículos elétricos ou de força motriz elétrica. O Quadro 4 mostra quais estados, a lei e qual categoria de veículos está isenta da cobrança do IPVA. Quadro 4 – Estados que isentam os veículos elétricos ou de força motriz da cobrança do IPVA ESTADO Ceará Maranhão ARTIGO Lei 12.023 - art. 4, IX - veículos movidos a motor elétrico Lei 5.594 - art. 9, XI - veículos movidos a força motriz elétrica Pernambuco Lei 10.849 - art. 5, XI - veículos movidos a motor elétrico Piauí Lei 4.548 - art. 5, VII - veículos movidos a motor elétrico Rio Grande do Norte Lei 6.967 - art. 8, XI - veículos movidos a motor elétrico Rio Grande do Sul Lei 8.115 - art. 4, II - ... de força motriz elétrica Sergipe Lei 3.287 - art. 4, XI - veículos movidos a motor elétrico Fonte: Elaboração própria baseada em ABVE (2010) 115 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido Alguns estados não isentaram a cobrança do IPVA dos veículos elétricos, mas como forma de estimular a venda dos veículos, concederam uma redução na cobrança. No Quadro 5, veem-se os estados, a lei e qual benefício eles deram aos elétricos. Quadro 5 - Estados que concedem algum beneficio sobre o IPVA para veículos elétricos. ESTADO ARTIGO Lei 1.810 - O art. 153 prevê a possibilidade de o Poder Executivo Mato Grosso do reduzir em até 70% o IPVA de veículo acionado a eletricidade Sul Rio de Janeiro São Paulo Lei 2.877 - O inciso IV do art. 10 estabelece a alíquota de 1% para veículos que utilizem energia elétrica (alíquota essa 75% inferior a dos automóveis a gasolina) Lei 6.606 - O inciso III do art. 7 estabelece a alíquota de 3% para automóveis de passeio, de esporte, de corrida e camionetas de uso misto movidos a eletricidade (alíquota essa 25% inferior a dos automóveis a gasolina). Fonte: Elaboração própria baseada em ABVE (2010) A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) aprovou o Projeto de Lei nº 255 de 2010 de Roberto Cavalcanti que suspende a cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) por dez anos dos veículos híbridos ou movidos à energia elétrica que sejam fabricados no país (CAVALCANTI, 2010). Além da isenção do IPI para o veículo, algumas partes e acessórios também ficam isentas da cobrança pelo mesmo prazo. Os acessórios que não possuem similares e que sejam essenciais para a fabricação dos veículos também ficam livres do Imposto de Importação (CAVALCANTI, 2010). Há ainda a redução a zero da alíquota das Contribuições para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), incidentes sobre a receita bruta decorrente da venda, no mercado interno, dos veículos elétricos e híbridos (CAVALCANTI, 2010). 116 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido O deputado Ronaldo Benedet da Câmara dos Deputados criou o Projeto de Lei 3.895/12 que cria o revendedor de energia para fins automotivos. Com isso, poderão ser usados no Brasil os CEB e os CEHP. Segundo Benedet, “essa atividade poderá ser exercida por concessionária ou permissionária do serviço público de distribuição de energia elétrica ou por revendedor varejista de eletricidade registrado na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o revendedor varejista poderá produzir, total ou parcialmente, a energia elétrica que comercializar” (CAMARA, 2012). Reciclagem Automotiva À medida que mais e mais carros híbridos são produzidos, a sociedade preocupa-se com o que farão com as baterias após se esgotar o seu ciclo de vida. Com as baterias de chumbo-ácido já há o conhecimento de como fazer a reciclagem, mas as de íon-lítio usadas nos híbridos estão apenas engatinhando quanto à reciclagem. A reciclagem dela apresentará novos desafios à indústria. O processo não é simples, mas já há algumas empresas fazendo o recolhimento e reciclagem das baterias de íon-lítio (ABDI, 2009). Para analista, há ainda dez anos para a indústria se preparar, desenvolver técnicas e aprimorar os processos de reciclagem, trabalhando de forma a maximizar os lucros e a eficiência da planta (ABDI, 2009). O Departamento de Energia Americano atribui à empresa Toxco US$9,5 milhões para construir uma planta para a reciclagem de baterias de íon-lítio de veículos híbridos (MULLIKEN, 2009). A reciclagem da bateria procede da seguinte forma: armazenam-se as baterias em casamatas de concreto no solo para que ele perca a eletricidade residual que há nela. Como o lítio é facilmente explosível a temperatura ambiente, utiliza-se um processo de criogenia que resfria a bateria a 198˚C negativos, tornando-a inerte para o processo de desmontagem (MULILKEN, 2009). Depois de feito o desmonte, é necessário recortar e fragmentar os metais transformando o lítio em carbonato de lítio. O eletrólito se neutraliza com compostos estáveis além das estruturas de plástico e outros matérias que são reciclados. Como norma de segurança operacional, a Toxco utiliza em cerca de 90% dos processos robôs operados remotamente (MULILKEN, 2009). Atualmente, não é economicamente viável efetuar a reciclagem das baterias de íonlítio, mas como a quantidade de veículos com esta tecnologia tem aumentado a cada ano, a atividade de reciclar baterias podendo ser mais importante e mais lucrativa. Atualmente, o maior produtor de lítio do mundo é a Bolívia com cerca de 5,4 milhões de toneladas disponíveis apenas no deserto de Uyuni. Existem no Chile cerca de 3 milhões de toneladas disponíveis e cerca de 750.000 toneladas nos Estados Unidos. Não há relatórios informando sobre problemas com as reservas de lítio disponíveis atualmente no mundo No Brasil, a empresa Suzaquim efetua a reciclagem desde pilhas até baterias secundárias de íonlítio. (MULILKEN, 2009). 117 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido Visando o descarte correto o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) desenvolveu a Resolução n˚ 257 que visa regulamentar e disciplinar o descarte de pilhas e baterias. As pilhas e baterias que contenham em suas composições chumbo, cádmio, mercúrio e seus compostos, necessário ao funcionamento de quaisquer tipos de aparelhos,..., após seu esgotamento energético, serão entregues pelos usuários aos estabelecimentos que as comercializam ou à rede de assistência técnica autorizada pelas respectivas indústrias, para repasse aos fabricantes ou importadores, para que estes adotem diretamente, ou por meio de terceiros, os procedimentos de reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final ambientalmente adequado. A resolução entrou em vigor em junho de 2000 e tornou os comerciantes e revendedores obrigados a fazer a logística reversa das baterias e/ou pilhas para o fabricante e este fazer o descarte e reciclagem de maneira correta. A resolução também estabelece os limites máximos de metais que uma bateria pode ter para ser vendida no país. Não ha menção a baterias de lítio, se elas precisam ser reciclados ou não, e como a resolução é antiga, espera-se que com a chegadas dos híbridos o Ibama inclua os novos tipos de baterias na obrigatoriedade para serem reciclados, não ficando apenas na boa vontade das empresas a destinação final das baterias apos o termino do seu ciclo de vida. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo geral proposto por este trabalho que era identificar as vantagens ecológicas geradas pelos veículos produzidos com motores a combustível e com motores híbridos. Primeiramente buscou-se identificar os tipos de motores automobilísticos existentes, a pesquisa permitiu identificar que os motores utilizados por veículos, são combustão, elétrico e hibrido, bem como suas vantagens e desvantagens (Quadro 6). Quadro 6 – Vantagens e desvantagens por tipo de moto Tipo de motor Vantagens Motor de Já é conhecido por todos os Combustão Interna mecânicos, tornando fácil sua manutenção e o custo dos reparos. Elétrico Não emitem gases, nem produzem ruídos sonoros quando estão em funcionamento. 118 Desvantagens Produz resíduos sonoros e expelem gases nocivos A reciclagem da bateria tem um custo elevado e o veiculo tem baixa autonomia e o tempo para a recarga da bateria é bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido grande. Hibrido Possui uma autonomia maior que o veiculo que possui um motor interno a combustão, pode funcionar só o motor elétrico, não gerando ruídos. O motor a combustão interna produz gases como um veiculo normal de hoje, ha o custo da reciclagem da bateria que é alto. Fonte: Elaboração própria Os carros que funcionam com motores a combustão tem a vantagem de estarem consolidados no mercado, serem utilizados em larga escala pelas indústrias automotivas e terem um custo reduzido, devido os gastos com o desenvolvimento da tecnologia já terem sido pagos e já ter ocorrido o retorno sobre o investimento. Os carros elétricos tem a vantagem de não emitirem poluição (CO2) pelo escapamento, isso ocorre por utilizarem somente um motor elétrico movido à bateria, portanto, não utilizam combustíveis fosseis. Também não geram poluição sonora como os motores a combustão. Os carros híbridos poluem na mesma proporção que um veículo de combustão interna, visto que há necessidade de um motor para efetuar a recarga das baterias de lítio ou mesmo para auxiliar o motor elétrico no movimento do veículo. Outro ponto que deve ser considerado é quanto a reciclagem dessas baterias de lítio, que é um processo caro, realizado fora do Brasil e atualmente limitado a bateria de máquinas e equipamentos. As condições ainda são novas e os processos ainda não atingiram sua maturidade. A pesquisa permitiu verificar os combustíveis disponíveis para os veículos de combustão interna disponíveis no mercado, que é a gasolina tipo C e o etanol hidratado, que são utilizados em veículos de passeios. Buscou-se analisar o grau de emissão de poluentes destes combustíveis no veiculo, e segundo Cetesb (2011), ha uma grande redução na emissão do veículos ao longo dos anos, graças ao programa Proconve, que tem fomentando a indústria a utilizar novas tecnologias para reduzir a emissão do veiculo. Pela pesquisa realizada pela Proconve (2013), por Junior (2009) e, pela CETESB (2011), pode-se observar que a exigência pela utilização das normas da ISO e outras leis e regulamentações que obrigam um maior controle sobre a emissão de poluentes, contribui para redução da emissão do CO2. Discutiu-se a respeito das inovações tecnológicas utilizadas nos tipos de motores estudados, os novos componentes ou funcionalidades implantadas, contribuem para o controle da emissão de poluentes. Desta forma foi possível ter um horizonte de visão das tecnologias, pontos positivos e negativos de cada solução adotada atualmente pela indústria automobilística no mundo. Em relação aos veículos automotores é quase impossível identificar exatamente qual o ciclo de vida dos motores automotivos, pois, a substituição de peças, utilização de 119 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014. SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da. Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido óleos e lubrificantes e outros serviços agregados, prolongam a estimativa de vida útil e geram inúmeros resíduos. É importante avaliar o ciclo de vida do produto (AVC), pois é uma técnica que permite avaliar os aspectos ambientais e impactos potenciais associados a um processo, produto ou atividade econômica, analisando diversas etapas que vão desde a extração de matérias-primas da natureza (meio ambiente) que entram no sistema produtivo, berço do produto, até a disposição do produto final (como resíduos) no meio ambiente, ou túmulo do produto (CAMARGO, 2007). Caso não se possa reciclar, reutilizar ou recuperar a energia do material, ele é disposto, em geral, nos aterros. Para se obter uma melhoria contínua do processo e a garantia da eficácia das medidas ambientais implementadas é fundamental o monitoramento e a retroalimentação das informações para o sistema de gestão (OMETTO, 2005). Atualmente existem vários veículos híbridos, ou ecológicos como são conhecidos, são eles: Prius (Toyota), Altima Hybrid e Leaf (Nissan), Mitsubishi i-MiEV, Fusion Hybrid (Ford), S 400 Hybrid (Mercedes-benz), Volt (Chevrolet), Active Hybrid 3 (BMW), Milan Híbrido (Mercury), Civic Híbrido e Insight (Honda), Cayenne S Hybrid e Panamera S Hybrid (Porsche), entre outros modelos existentes. Entre todas as alternativas no mercado de carros ecológicos, os carros elétricos são os mais desenvolvidos. Os preços ainda são muito altos, no entanto. Os carros elétricos são uma alternativa muito boa no que diz respeito à redução da poluição proveniente de veículos. Mas, esses veículos são abastecidos com eletricidade e recarregados em tomadas elétricas, cuja origem são as estações responsáveis pela produção de energia, essas estações emitem poluentes para a atmosfera. Não se pode dizer que esses carros são totalmente ecológicos, mas, ainda é a melhor opção quando se trata de meio ambiente, já que produz menos poluentes. Durante a pesquisa identificou-se que o tema ainda é pouco explorado e que outras pesquisas podem ser realizadas sobre o tema, como estudar o ciclo de vida de outro componente do automóvel, por exemplo: pneus, vidros, injeção eletrônica, óleo, estofamentos, etc. Sugere-se que outros atores aprofundem mais na questão da reciclabilidade da bateria, visto ser algo novo nos veículos híbridos e flex. A pesquisa também poderia ser refeita com a inclusão de dados primários, por exemplo, para identificar a opinião do consumidor em relação ao custo com carros elétricos. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Relatório de perspectivas: estudo prospectivo setorial automotivo. Brasília: Centro de Estudos Estratégicos , 2009. Disponível em: < http://www.abdi.com.br/estudo/automotivo.pdf>. 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Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido 1 Nilceia Cristina Dos Santos é Mestre em Administração pela Universidade Metodista de Piracicaba, Brasil(2009) e Professora Associado da Faculdade de Tecnologia de Piracicaba. 2 Márcio Augusto Bortoloti, é Graduado em Analise de Sistemas pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, Brasil(2008). 3 Fabrício Jose Piacente é Doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas, Brasil(2010) e Trabalha no Revista Eletrônica de Tecnologia e Cultura – RETC. 4 Reinaldo Gomes da Silva é Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil(2006) e Coordenador de Curso do Instituto Maria Imaculada ,Brasil.. 125 Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GCECD) MARTINS, Carolina Xavier SALVADOR, Priscilla de Moraes JESUS, Julianne Dias de FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê TORRES, Nádia Hortense Resumo As ervas daninhas são um grave problema para grande parte das culturas produzidas em todo o mundo, pois apresentam algumas características como o rápido crescimento, produção contínua, alta longevidade e dormência. Também apresentam um curto período entre floração e germinação, e germinam em quase todo substrato úmido e sem fertilização específica. No entanto, devido ao fato de serem concorrentes diretas das culturas, disputando água, nutrientes e luz, é conveniente que sejam controladas. A atrazina é uma substância que tem alto poder destrutivo, em relação às plantas daninhas, por isso é muito empregada, principalmente nas culturas de grãos e gramíneas, mas seu uso em excesso prejudica o solo e os mananciais. Uma técnica muito utilizada na quantificação dessas substâncias é pela análise por cromatografia gasosa acoplada a detector por captura de elétrons. Neste contexto, este trabalho teve como objetivo analisar amostras de água e solo, coletadas no Ribeirão dos Porcos para quantificação de atrazina, através de análises cromatográficas. De acordo com os resultados obtidos, as amostras de solo e água superficial coletadas não apresentaram contaminação pelo herbicida atrazina. Palavras-chave: Cana-de-açúcar, contaminação, herbicidas, atrazina, solo, água, cromatografia, análises ambientais. Abstract Weeds are a serious problem for the majority of crops grown around the world, they present some features such as rapid growth, continuous production, high longevity and dormancy, have a short period between germination and flowering, have good structures for dispersion and germinate in almost any moist substrate without specific fertilization. And because they are direct competitors of cultures, competing water, nutrients and light, they should be controlled. Atrazine is a substance that has high destructive power, for weeds, so it is much employed, mainly in grain crops and grasses, but its excessive use damages the soil and water sources. A widely used technique for the quantification of these substances is by gas chromatographic analysis. Therefore, this study aimed to analyze soil and water samples collected in Ribeirão dos Porcos for quantification of atrazine by chromatographic analysis. According to our analysis, samples of soil and surface water collected were not contaminated by atrazine. 126 Keywords: Sugar cane, contamination, herbicides, atrazine, soil, water, chromatography, environmental analyzes. Resúmen Las malas hierbas son un problema grave para la mayoría de los cultivos que crecen en todo el mundo, presentan algunas características, tales como el rápido crecimiento, la producción continua, alta longevidad y latencia, tienen un corto período entre la germinación y la floración, tienen buenas estructuras para la dispersión y germinar en cualquier sustrato húmedo sin fertilización específica. Y debido a que son competidores directos de las culturas, el agua, los nutrientes y competir luz, deben ser controlados. La atrazina es una sustancia que tiene un alto poder destructivo, para las malas hierbas, por lo que es muy utilizado, sobre todo en los cultivos de cereales y pastos, pero sus daños uso excesivo de las fuentes de agua y suelo. Una técnica ampliamente utilizada para la cuantificación de estas sustancias es por análisis cromatográfico de gases. Por lo tanto, este estudio tuvo como objetivo analizar muestras de suelo y agua recogidas en Ribeirão dos Porcos para la cuantificación de la atrazina por análisis cromatográfico. De acuerdo con nuestro análisis, las muestras de agua del suelo y la superficie recolectada no se contaminaron con la atrazina. Palabras-clave: Caña del azúcar, contaminación, herbicidas, atrazina, suelo, agua, cromatografía, análisis ambientales. 127 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 126-137, jan./jun. 2014. MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia Hortense; Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD) INTRODUÇÃO A cultura de cana-de-açúcar é a mais representativa no Brasil, a partir dela fazemos etanol, açúcar e energia elétrica. A cana-de-açúcar ocupa uma área de 4.900.000 ha (FAO, 1999). Como as plantas daninhas são o resultado do desequilíbrio criado pela monocultura, elas são as únicas pragas constantes na agricultura, sendo um problema para o agricultor. O uso de herbicidas e agrotóxicos são as tecnologias mais difundidas para o manejo de plantas daninhas e pragas, no meio comercial da cana-de-açúcar, devido à alta eficiência de mato controle; mais econômico que outros métodos de manejo; e aproveitamento das condições ambientais. A cana-de-açúcar é uma das culturas mais importantes da agricultura brasileira, ocupando atualmente a 3ª posição em área plantada no país, perdendo apenas para a soja e o milho. Planta-se cana, no Brasil, nas regiões do Centro-Sul e no Norte-Nordeste, o que permite dois períodos de safra no ano (URASHIMA et al. 2010). Originária do sudeste da Ásia, onde é cultivada desde épocas remotas, a exploração canavieira iniciou-se com a espécie Saccharum officinarum. Hoje, após muitos cruzamentos, é denominada Saccharum spp. A importância da cana-de-açúcar pode ser atribuída à sua múltipla utilização, empregada in natura, sob a forma de forragem, para alimentação animal, ou como matéria prima para a fabricação de rapadura, melado, aguardente, açúcar, álcool, entre outros (EMBRAPA 2013). Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a produção nacional para a safra 2009 foi de 612,21 milhões de toneladas, ocupando uma área total de 7.531 milhões de hectares. O estado de São Paulo teve destaque, com a maior concentração dessa cultura com 4,1 milhões de ha, apresentando produtividade média de 78 t cana/ha, e possuindo diversas unidades produtoras que ultrapassam a marca de 90-95 t cana/ha (FERREIRA, 2009). Embora a produtividade média brasileira de cana-de-açúcar tenha apresentado uma elevação significativa (50% nos últimos 20 anos), esta atividade econômica está exposta a diversos fatores que limitam o seu desenvolvimento. Toda a produção poderia ser ainda maior se alguns dos problemas fitossanitários da cultura fossem adequadamente resolvidos, influenciando direta e indiretamente na rentabilidade do empreendimento agrícola no país e no mundo (URASHIMA et al. 2010). E este problema está diretamente relacionado ao uso do herbicida atrazina, que é um dos principais pesticidas utilizados na cultura da cana-de-açúcar (CAPPELINI, 2008). Este composto é utilizado na agricultura para o combate a plantas daninhas devido a sua capacidade de inibir a fotossíntese. Porém, a atrazina é um contaminante potencial da água por ter uma alta persistência no solo, hidrólise lenta, solubilidade baixa para moderada, absorção moderada à matéria orgânica e argila, e sua formula é representada por C8H14CIN5 (ARANTES, 2006). Um dos mais relevantes problemas relacionados aos recursos hídricos tem sido a presença de uma enorme variedade de poluentes orgânicos nas águas superficiais. Muitas 128 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 126-137, jan./jun. 2014. MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia Hortense; Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD) dessas substâncias, incluindo os herbicidas triazínicos são tóxicos e perigosos para os sistemas aquáticos e seres humanos. Como resultado de sua alta mobilidade no ambiente água-solo, as triazinas podem ser encontradas em águas subterrâneas e superficiais (ARANTES,2006). O Estado de São Paulo se destaca por ser um dos maiores produtores de cana-deaçúcar, fazendo com que haja uma possibilidade real de contaminação do herbicida atrazina nos rios do estado. Nos rios em que as plantações de cana-de-açúcar encontram-se próximos à sua margem, sendo que na maioria das vezes não há proteção por matas ciliares, facilitando a contaminação por escoamento superficial. Neste sentido, o monitoramento de resíduos de produtos aplicados nesta cultura e a determinação das concentrações e seus efeitos do ponto de vista ambiental é extremamente importante para saber se os herbicidas que inicialmente foram aplicadas nas plantações estão contaminando os recursos hídricos (BOTELHO, 2013). A persistência e a degradação de agrotóxicos no ecossistema aquático são influenciadas por diversos fatores como: natureza físico-química da molécula, características físico-químicas da água e do sedimento, conteúdo de matéria orgânica e fisiografia (CELLA, 2009). Porém, devido à atrazina ter sido encontrada nos lençóis freáticos, seu uso vem sendo questionado e já proibido em países europeus (GRAYMORE, STAGNITTI e ALLISON, 2001). Segundo GUILHERME et al (2000), os solos funcionam como “filtros” químicos e biológicos, reduzindo o impacto ambiental provocado por produtos químicos e evitando que resíduos dos pesticidas atinjam as águas superficiais e sub superficiais. Vários fatores físico-químicos interferem no poder de sorção do solo, dentre eles está os constituintes de matéria orgânica e o pH. A presença do ácido húmico é responsável por cerca de 70% da capacidade de sorção da atrazina (BARRIUSO et al., 1992), e na presença desse ácido, o solo contaminado com atrazina apresenta um pH 3, abaixo do normalmente encontrado em solos não contaminados (pH 5-7), onde a sorção é menor (TRAGETTA et al., 1996). Os latossolos em geral são os mais utilizados no Brasil para a cultura da cana-deaçúcar. São profundos, porosos, bem drenados, bem permeáveis mesmo quando muito argilosos, friáveis e de fácil preparo, o teor de silte é inferior a 20% e a argila varia entre 15% e 80% (SOUSA, 2008). Estes fatores minimizam os problemas de contaminação do ambiente fazendo dele o solo mais propício ao uso do herbicida atrazina. Porém, pode-se utilizar a cromatografia para analisar amostras, a fim de detectar atrazina em amostras ambientais. Uma das técnicas muito utilizadas é a cromatografia gasosa (CG). Os detectores utilizados nesta técnica são: fonte de ionização de chama (FID), Condutividade térmica (TCD), detector de nitrogênio e fósforo (NPD), detector de foto ionização (PID), detector fotométrico de chama (FPD), detector de espectrometria de massas (EM), e detector de captura de elétrons (ECD). 129 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 126-137, jan./jun. 2014. MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia Hortense; Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD) Portanto, dentro do contexto exposto, o objetivo deste trabalho foi analisar amostras de água e solo, coletadas no Ribeirão dos Porcos para quantificação de atrazina, através de análises cromatográficas. MATERIAS E MÉTODOS Coleta das amostras de água e solo Para o presente estudo, uma única coleta foi realizada no mês de julho de 2013, próximo ao Sítio São Jorge, localizado na região das cidades de São João da Boa Vista e Vargem Grande do Sul, Estado de São Paulo, que fazem parte da região de Campinas, fazendo divisa com o Estado de Minas Gerais, conforme mostra a Figura 2. Figura 1. Mapa do Estado de São Paulo destacando a cidade de São João da Boa Vista. Fonte: Adaptado de Wikipedia (2014). As terras do município estão na região da Serra da Mantiqueira e próximas à linha de contato com a região sedimentar (Depressão Periférica), tendo um clima tropical quente. O solo predominante é do tipo latossolo. A vegetação original é de mata tropical. O principal rio é o Jaguari-Mirim. Com muitos afluentes, constitui uma grande bacia fluvial na região. Os principais afluentes do Jaguari-Mirim são: o Ribeirão do Prata, Córrego São João e o Ribeirão dos Porcos (SCANNAPIECO, 2011). Foram coletadas amostras no Ribeirão dos Porcos e no seu entorno, a qual é utilizada para o plantio da cana-de-açúcar, no período de julho de 2013, seguindo recomendações citadas no APHA (2005) e EPA (2007). Após a coleta, as mesmas foram direcionadas para o laboratório a fim de serem analisadas. Para a realização do preparo das amostras de água e solo para análises cromatográficas foram utilizados alguns materiais e reagentes, como funil de separação; copo de buchi e balão; funil; filtro de papel; vials de 2 e 60 mL; Buchi 130 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 126-137, jan./jun. 2014. MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia Hortense; Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD) Syncore Vacum Pump V-7000; pipeta de Pasteur; ultrassom; fitas medidoras de pH; balança analítica; nitrogênio; sulfato de sódio (NO2SO4); diclorometano; proveta; padrão surrogate; cromatógrafo gasoso acoplado a detector de captura de elétrons (GC-ECD) (Agilent Technologies). modelo 5740. Extração das amostras de água Um volume da 400 mL de amostra de água foi inserida em um funil de separação. O pH foi aferido, e se a amostra apresentava-se no estado neutro, foram adicionados 16µL do padrão surrogate. Após esse processo, a amostra foi submetida em meio ácido e em seguida adicionou-se 80 mL de diclorometano, agitou-se por alguns minutos e fez-se a primeira filtração. Depois da primeira filtração foi adicionada à mesma a base, aferiu-se o pH e adicionou novamente 80ml de diclorometano, agitou e filtrou. Após esse procedimento, a amostra passa pelo processo de concentração através do equipamento Buchi Syncore Vacum Pump V-7000, por alguns minutos. Em seguida, é transferida para um vial de 2mL e levada para o equipamento Jec vap por alguns minutos para receber nitrogênio. A amostra de água depois de todo processo foi de 400µL e em seguida foi realizada a análise cromatográfica. Extração das amostras de solo Inicialmente pesou-se 20g de solo no vial de 60mL, adicionou-se sulfato de sódio, 40 µL do surrogate e 60 mL de diclorometano. Feito isto, a amostra foi levada para o ultrassom por 25 min. Após este tempo, a amostra foi filtrada em um balão e adicionou-se novamente ao solo o diclorometano, em seguida mais 25 min no ultrassom e fez-se a segunda filtração. Em seguida foi feita a concentração da mesma pelo equipamento Buchi Syncore Vacum Pump V-7000 e pelo Jec vap para receber nitrogênio. O volume total da amostra de solo após todo o processo foi de 1 mL. Análise cromatográfica A detecção da atrazina nas amostras de água e solo foi realizada empregando o sistema constituído por um cromatógrafo a gás equipado com injetor split/splitless e acoplado a um espectrômetro de massas (Agilent Technologies). A separação foi feita empregando uma coluna capilar DB-5 (0,25 mm x 30 m, espessura do filme de 0,25 µm) (J & W Scientific) nas seguintes condições (Tabela 1): 131 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 126-137, jan./jun. 2014. MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia Hortense; Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD) Tabela 1. Condições cromatográficas para determinação de atrazina Cromatógrafo a gás (temperatura) Coluna Fluxo Injetor tv = 240ºC tc = 60ºC, durante 1 min 20ºC/min até a temperatura de 150ºC 10ºC/min até a temperatura de 280ºC td = 230ºC DB-5 (0,25 mm x 30 m, espessura do filme de 0,25 µm) 28,0 mL/min Splitless Tempo de corrida cromatográfica de 17 min Volume injetado = 2 µL. A curva de calibração do equipamento para a metodologia aplicada foi obtida com pontos que variam de 10 a 1500 PPB, e a concentração da amostra foi de 500 µL. Validação da metodologia As validações metodológicas foram realizadas após a definição das faixas de trabalho de acordo com os seguintes itens: Limite de detecção do método (LD) – O LD é definido como a concentração mínima do analito medida e declarada com 95% de significância estatística de que a concentração do analito é maior que zero; Limite de quantificação do método (LQ) – O LQ é a menor concentração do analito que pode ser determinada com um nível aceitável de precisão e veracidade. O LQ da curva é de 0,00005 mg/L e o LD é 0,000001 mg/L. RESULTADOS E DISCUSSÃO 132 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 126-137, jan./jun. 2014. MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia Hortense; Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD) A partir da análise cromatográfica do solo e da água, foram obtidos os seguintes resultados (Tabela 2). Tabela 2: Resultados analíticos das amostras analisadas Resultados Resolução Compostos analíticos CONAMA 357/05 Atrazina em amostra < 0,5 µg/L 2 µg/L de água superficial Atrazina em amostra < 0,003 mg/kg 0,003 mg/kg de solo LQ µg/L < 3,0 µg/L < 3 µg/L De acordo com os resultados expressos na tabela 2, foi constatado que ambos não estavam contaminados com o herbicida atrazina. Para ser considerado agente poluente, os valores de atrazina devem ser maiores que 2,0 µg/L, para a água e 0,003 mg/kg no solo, baseados na resolução do CONAMA 357/05. E, conforme as análises realizadas, os resultados analíticos foram < 0,5 µg/L para a amostra de água superficial e < 0,003 mg/kg para a amostra de solo. Com Limite de Quantificação (LQ) inferior a três. Alguns fatores podem ter influenciado nesse resultado, como: - O solo estava em descanso para nova plantação e é um latossolo. O latossolo é um tipo de solo que ajuda a amenizar a contaminação pela Atrazina devido a suas características já citadas, junto ao fator de a meia vida do agente ser de 60 a 100 dias. - Pelos motivos anteriormente citados, a contaminação não chegou ao recurso hídrico mais próximo, o rio. Entretanto, isso não quer dizer que esse herbicida não seja utilizado na plantação, apenas não foi detectado no período coletado. Seria interessante coletar outras amostras logo após o plantio, que é a fase na qual a atrazina é aplicada, após isto quantificar seus valores e verificar se o local está contaminado ou não pela referida substância. Segundo Cerdeira (2010) a atrazina é um herbicida altamente persistente nos solos e tem mobilidade considerada de moderada a alta em solos com pouco conteúdo de argila ou matéria orgânica. Devido às suas características físico-químicas, esse herbicida não é fortemente adsorvido às partículas de solo e tem meia-vida de 60 a 100 dias, e por isto, o herbicida pode não ter sido encontrado nas amostras coletadas. A mobilidade desses compostos pode ser influenciada pelas condições climáticas como índice pluviométrico e temperatura, bem como as características intrínsecas do solo (CANUTO, 2010). Uma das alternativas para remoção dessas substâncias é barreiras usando trincheiras, aterros ou óleos vegetais. Essas barreiras impedem que as substâncias sejam carregadas pelos fluxos das águas. Outro mecanismo de remoção é o uso de minhocas que são capazes de adsorver esses compostos. A biodegradação da atrazina pode variar de acordo com o tipo de solo, microbiota presente e disponibilidade de nutrientes como carbono e nitrogênio (CARMO, PIRES e OLIVEIRA, 2013). 133 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 126-137, jan./jun. 2014. MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia Hortense; Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD) Algumas classes de solos apresentam comportamentos diferenciados no que diz respeito à contaminação ambiental por pesticidas. Os Latossolos, solos mais empregados na agricultura, são solos relativamente menos erodíveis, armazenando maior quantidade de água e apresentando lençol freático mais profundo. Tal fato pode, de certa forma, minimizar o problema de contaminação ambiental causado pelo uso de pesticidas. Os solos de várzea, com lençol freático mais elevado, constituem ambiente de maior risco à contaminação por poluentes (ARANTES, 2006). CONSIDERAÇÕES FINAIS A avaliação de parâmetros físico-químicos e químicos de qualidade da água e solo é importante para a compreensão do funcionamento dos ecossistemas, e de problemas ambientais. A aplicação de metodologias precisas e seguras contribui para o alcance desses objetivos. Neste trabalho foi possível observar que os compostos apresentaram valores ideais, isentos de contaminação, sendo que o LQ encontrado foi menor que três. Portanto, todos os resultados estiveram dentro dos valores esperados previstos através das injeções das amostras em cromatógrafo a gás acoplado a detector de captura de elétrons. REFERÊNCIAS AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Santandard methods examination of water and wastewater. 20. ed. New York: APHA, 2005. for ARANTES, S.A.; LIMA, J.S. Sorção da atrazina em solos representativos da sub-bacia do rio das mortes – Mg. Ecotoxicologia e Meio Ambiente. Curitiba, v. 16, 2006. BOTELHO, R.G. Avaliação da qualidade da água do rio Piracicaba e efeito da vinhaça para organismos aquáticos antes e após a correção do pH. 2013. Tese apresentada ao Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Doutorado em Ciências). Universidade de São Paulo. 110f. CANUTO, T. G.; GAMA, A. F.; BARRETO, F. M. de S.; ALENCAR NETO, M. da F. A. Estimativa do risco potencial de contaminação por pesticidas de águas superficiais e subterrâneas do município de Tianguá-CE, com aplicação do método de GOSS e índice de GUS, In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS, 16.; ENCONTRO NACIONAL DE PERFURADORES DE POÇOS, 17., 2010, São Luis. Anais… São Luis: ABAS, 2010. CARMO, D.A.; PIRES, J.M.; OLIVEIRA, J. Comportamento ambiental e toxidade dos herbicidas atrazina e simazina. Ambiente & Água. V.8, n.1, p. 133-143, 2013. CAPPELINI, L.T.D. Análise dos pesticidas ametrina, atrazina, diuron e fipronil em amostras de água do Ribeirão do Feijão – São Carlos – SP. Universidade de São Paulo, Instituto de Química de São Carlos. 2008. 134 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 126-137, jan./jun. 2014. MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia Hortense; Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD) CELLA, A.L. Ecotoxicologia do agrotóxico fipronil em pacu e paulistinha e resíduos de agrotóxicos na bacia do rio Corumbataí. 2009. Tese apresentada ao Centro de Energia Nuclear na Agricultura – doutor em Ciências. Universidade de São Paulo. 93f. Piracicaba, 2009. CERDEIRA, A.L.; PESSOA, M.C. Lixiviação de atrazina em solo em área de recarga do aquífero guarani. Embrapa: Meio Ambiente. CONAB. 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São João da Boa Vista. Disponível em: <http://www.guiasaojoao.com.br/guiasaojoao/000/pag/acidade/geografia.htm> Acesso em 03 de Novembro de 2013 SÃO JOÃO DA BOA VISTA. Disponível em: <http://www.cidadesaojoao.com.br/index.php> Acesso em 03 de Novembro de 2013. SÃO JOÃO DA BOA VISTA. Disponível em: <http://www.saojoao.sp.gov.br/home/> Acesso em 03 de Novembro de 2013. SOUSA. Djalma M. G; LOBATO. Edson. EMBRAPA. Latossolos. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia16/AG01/arvore/AG01_96_101120051 01956.html> Acesso em 5 de Novembro de 2013. WIKIPEDIA. São João da Boa Vista. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_da_Boa_Vista. Acesso em 12 de Julho de 2014. 136 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 126-137, jan./jun. 2014. MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia Hortense; Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD) 1 Carolina Xavier Martins é Graduanda em Tecnologia em Biocombustíveis na Fatec Piracicaba. 2 Priscilla de Moraes Salvador é Graduanda em Tecnologia em Biocombustíveis na Fatec Piracicaba 3 Julianne Dias de Jesus é Graduanda em Tecnologia em Biocombustíveis na Fatec Piracicaba 4 Luiz Fernando Romanholo Ferreira é Doutor em Microbiologia Agrícola pelo ESALQ, Brasil(2009) Professor PPG I - 1 da Universidade Tiradentes , Brasil. 5 Juliana Heloisa Pinê Américo é Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil(2010) e Aluna de Pós-Graduação (Doutorado) do Centro de Aquicultura da UNESP (CAUNESP), Brasil. 6 Nádia Hortense Torres é Doutora em Química na Agricultura e no Ambiente (CAPES 7) pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Brasil(2014) e Trabalha no African Journal of Microbiology Research. 137 Dilemas da sustentabilidade urbana MANFRON Paulo A. PINHEIRO Renes R. CARON Bráulio O. MARQUES Tadeu A. RAMPAZO Érick M. Resumo Este trabalho tem como objetivo mostrar a relação dos indivíduos com o meio ambiente, e a importância de um crescimento e desenvolvimento sustentável para uma qualidade de vida, da nossa e futuras gerações. Atualmente, as discussões sobre novos conceitos e modelos de desenvolvimento englobam questões referentes ao meio rural e urbano, pois os problemas encontrados nestes ambientes não podem ser considerados de forma isolada e independente. A preservação do meio ambiente deve ser entendida como essencial para a qualidade de vida da nossa e futuras gerações. Neste contexto se verifica a grande importância de uma gestão pública-privada participativa e compartilhada, com ênfase na coresponsabilização por uma melhor qualidade de vida, com estímulos para ações preventivas na direção de um desenvolvimento sustentável. Nestas ações necessitamos da continuidade, persistência e manutenção dos direitos individuais de cada indivíduo, possibilitando a todos uma vida com qualidade. Palavras-chave: sustentabilidade, meio ambiente, desenvolvimento sustentável, preservação ambiental, qualidade de vida. Abstract This work aims to show the relationship between individuals and the environment, and the importance of sustainable growth and development for a quality of life, and our future generations. Currently, discussions of new concepts and models of development include issues related to rural and urban areas, as problems encountered in these environments can not be considered in isolation and independently. The preservation of the environment should be seen as essential to the quality of life of our and future generations. In this context it appears the great importance of a public-private participatory and shared management, with an emphasis on co-responsibility for a better quality of life, with incentives for preventive action towards sustainable development. These actions need continuity, persistence and maintenance of individual rights of each individual, allowing everyone a life with quality. Keywords: sustainability, environment, sustainable development, environment preservation, Quality of life Resumen Este trabajo tiene como objetivo mostrar la relación entre las personas y el medio ambiente , y la importancia del crecimiento sostenible y el desarrollo de la calidad de vida , y nuestras futuras generaciones. Actualmente , las discusiones sobre los nuevos conceptos y modelos de desarrollo incluyen cuestiones relacionadas con las zonas rurales y urbanas, los problemas encontrados en estos ambientes no 138 pueden considerarse de manera aislada e independiente. La preservación del medio ambiente debe ser visto como esencial para la calidad de vida de nuestros y futuras generaciones. En este contexto, se deduce la gran importancia de una gestión público-privada participativa y compartida, con un énfasis en la corresponsabilidad de una mejor calidad de vida, con incentivos para la acción preventiva hacia el desarrollo sostenible . Estas acciones necesitan continuidad , persistencia y el mantenimiento de los derechos individuales de cada persona , lo que permite a todos una vida con calidad. Palabras clave: sostenibilidad, medio ambiente, desarrollo sostenible, preservación del medio ambiente, calidad de vida 139 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana INTRODUÇÃO Nos últimos anos têm sido frequentes as discussões sobre as relações do homem com o meio ambiente. Essas discussões são decorrência de uma melhor compreensão dos impactos negativos que as atividades humanas têm provocado no meio ambiente e principalmente do aumento no número de eventos, resultados destas ações, sob a forma de inundações, degradação do solo, efeito estufa, esgotamentos de recursos naturais, entre outros. Inicialmente voltadas para o ambiente natural, as discussões sobre novos conceitos e modelos de desenvolvimento, aos poucos, passaram a englobar questões referentes ao meio urbano. Essa nova visão tornou-se inevitável principalmente devido ao fato que as cidades tornaram-se o principal refúgio da sociedade moderna, é nelas que a maior parte da população passou a morar, onde se dá o grande consumo do que é gerado nas demais áreas e consequentemente onde são gerados os maiores volumes de resíduos desse processo. Os problemas encontrados no ambiente urbano ocorrem de forma paralela e interligada aos problemas do meio ambiente natural, não podendo assim, ser considerados de forma isolada e independente. O ritmo das atividades humanas e a geração de resíduos são algumas das preocupações das sociedades atuais, no sentido da preservação ambiental como garantia de sobrevivência às futuras gerações. A preservação do meio ambiente entendida como elemento essencial à satisfação das necessidades humanas das gerações atuais e futuras tem sido o ponto central das discussões acerca do meio ambiente e dos modelos de desenvolvimento. Apesar da complexidade e das dificuldades de implementação, o desenvolvimento sustentável tem avançado, tanto nas discussões teóricas quanto em diversas práticas, o que tem contribuído para que este modelo seja, cada vez mais, visto como uma alternativa a ser seguida. É neste contexto que discutiremos os dilemas da sustentabilidade urbana, a partir da análise dos impactos da ação do homem sobre o meio ambiente e os reflexos desse novo modelo de desenvolvimento que é posto em discussão. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Define-se por Desenvolvimento Sustentável um modelo econômico, político, social, cultural e ambiental equilibrado, que satisfaça as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades. Este termo foi usado pela primeira vez em 1987 no Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criado em 1983 pela Assembléia das Nações Unidas (INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIÇÃO INTERNACIONAIS – ICONE, 2012; JACOBI, 1999). A definição mais usada para o desenvolvimento sustentável é: “O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais” (Relatório Brundtland). 140 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana O desenvolvimento sustentável se baseia em três componentes básicos: a sustentabilidade ambiental, a sustentabilidade econômica, e a sustentabilidade sócio-política. A Sustentabilidade Ambiental é a noção de que existe a necessidade da manutenção das funções e componentes do ecossistema. Uma maneira de que o homem continue produzindo e tirando da natureza o que precisa, mas sem destruir o ecossistema no processo. A ONU tem como objetivos integrar os princípios de desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacionais e internacionais, e tentar reverter a perda de recursos ambientais, reduzindo a perda gradativa da biodiversidade. Além disso, há uma tentativa de reduzir pela metade o número de pessoas sem acesso a saneamento básico e água potável, e o objetivo de melhorar, até 2020, a qualidade de vida de pelo menos cem milhões de pessoas que, agora, vivem abaixo da linha da pobreza. A Sustentabilidade Econômica é a tentativa de incorporação de medidas pró meio ambiente na política social e econômica regulamentada por cada país, em um esforço para integrar os princípios de igualdade social, preservação ambiental e crescimento controlado e sustentável polícia e economicamente, medindo o lucro não apenas em razões financeiras, mas também em desenvolvimento humano. A Sustentabilidade Sócio-Política visa humanizar a economia, e formar pessoas mais cientes das necessidades ambientais de seu planeta, ao mesmo tempo em que potencializa a busca por recursos reutilizáveis, que fortaleçam a economia em todas as suas vertentes, não apenas a financeira, mas a humana. A Agenda 21 e as Metas de Desenvolvimento do Milênio são dois programas criados pela ONU para garantir que os princípios de sustentabilidade sócio-econômica saiam do papel e se tornem efetivos. A primeira é uma verificação global de impactos sobre o meio ambiente; já a segunda é uma série de compromissos concretos, nos âmbitos de desenvolvimento e produção de riqueza, que compila diversos acordos realizados nos anos 90 que, se forem cumpridos dentro de seus prazos, irão resultar em um grande salto para o destino do planeta. O desenvolvimento sustentável tem como princípio, em suma, a integração entre desenvolvimento social, ecológico e econômico, visando um futuro melhor para todos, como pode ser visto na Figura 1, as bases do desenvolvimento sustentável. 141 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana Figura 1. As bases do desenvolvimento sustentável. Fonte: Adaptado de dados do IBGE, 2000. O AMBIENTE URBANO Quando se fala em meio ambiente pensa-se logo em áreas naturais, normalmente rurais, em preservação de florestas, cerrados, etc. Mas a área urbana de um município, ou seja, a área em que há significativas alterações antrópicas, tais com construções de prédios, arruamentos, praças públicas, também é possível defini-la como um meio ambiente, denominada “meio ambiente urbano”. Mota (1999) define o ambiente urbano como sendo formado por dois sistemas intimamente inter-relacionados: o “sistema natural” composto do meio físico e biológico (solo, vegetação, animais, água) e o “sistema antrópico” consistindo do homem e de suas atividades, de forma que o ambiente urbano interage com o ambiente natural e os reflexos das atividades humanas podem ser visto em ambos. As cidades também podem ser definidas como ecossistemas, formados por necessidades biológicas e culturais. As necessidades biológicas são ar, água, espaço, energia (alimento e calor), abrigo e disposição de resíduos e as necessidades culturais são organização política, sistema econômico (trabalho, capital, materiais e poder), tecnologia, transporte e comunicação, educação e informação, atividades social e intelectual (recreação, religião, senso de comunidades, etc.) e segurança. No meio ambiente urbano encontram-se todas as preocupações sócio-ambientais que se encontram no meio ambiente rural natural, acrescido fortemente do fator humano e suas obras como habitação, meios de locomoção, vias públicas, etc. Incluem-se também neste meio, as condições relativas ao ambiente de trabalho interno e externo de empresas ou indústrias. Vale salientar que a cidade não funciona como um sistema fechado, onde o homem possa encontrar tudo o que necessita, mas sim, deve ser entendida como um sistema aberto, dependente de outras 142 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana partes do meio ambiente geral. Esta característica de sistema aberto, que troca materiais e energia como outros ambientes, para atender as necessidades do homem, resultando na produção de resíduos que são lançados, geralmente, na área urbana, acaba gerando problemas ambientais nas próprias cidades, visto que, parte do que entra na cidade volta para o ambiente externo, na forma de produtos e, muitas vezes, como resíduos. Sobral (1996) acrescenta ainda que o sistema urbano é incompleto, visto que o fluxo de energia e matéria, característico de todo ecossistema e que mantêm a sua autonomia é, no sistema urbano, parcial e unidirecional, uma vez que a cidade é apenas um local de consumo, estando os centros produtores situados fora de seu território. Além disso, os elementos que vem das áreas produtoras para as de consumo não têm retorno, acumulando-se nestas, na forma de poluentes, excesso de energia, geração de entropia. Do ponto de vista termodinâmico, a cidade é um sistema em permanente desequilíbrio. Na Figura 2 é possível verificar a ocupação do território brasileiro, evidenciando a menor porção ocupada pela urbanização, embora os produtos gerados nas áreas produtoras sejam direcionados aos grandes centros. 600 65% Milhões de hectares 500 400 300 23% 200 100 7% 4,5% 0 Áreas produtivas Vegetação nativa Pastagens Urbanização Figura 2. Ocupação territorial do Brasil, 2011. Fonte: Adaptado de Instituto de Estudos do Comércio e Negócios Internacionais – ICONE, 2012. Com a urbanização, o ser humano transformou ambientes naturais, criando outros artificialmente em uma complexa teia de obras para atender todas as suas necessidades como um ser social. Isto implica em problemas relacionados ao ambiente, sua conservação e qualidade, sendo importante estudar e conhecer profundamente o então criado meio ambiente urbano, para que se possa melhorar a qualidade de vida dentro das aglomerações urbanas. 143 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana O ecossistema urbano difere ainda dos outros sistemas naturais, pela ação predominante do homem, provocando mudanças intensas e rápidas. O homem tem a capacidade de dirigir suas ações utilizando o meio ambiente como fonte de matéria e energia ou como receptor de seus produtos e resíduos. Devido a esta ação predominante do homem sobre o ambiente, pode-se dizer que existe certo “controle” do homem sobre o ambiente, o qual em determinado período foi considerado total, atualmente, já não pode mais sê-lo. A postura, de excessiva valorização do individual, da tecnologia, do produto e da economia, contribuiu para acentuar os reflexos negativos de sua ação, tais como: a extinção de recursos naturais, poluição do ambiente natural e conseqüente deterioração da qualidade de vida, pobreza, miséria, má distribuição de renda, devastação dos recursos naturais, entre outros, os quais ocorrem tanto em países desenvolvidos, como em desenvolvimento. As cidades diferenciam-se dos demais sistemas naturais ainda pela sua dinâmica social e econômica. Nos países em desenvolvimento, a dinâmica social e econômica é marcada por um quadro de desigualdades que se refletem na forma urbana, principalmente nas periferias das grandes cidades. O crescimento acentuado da população e das cidades, não acompanhado do devido crescimento da infraestrutura urbana tem resultado em cidades desiguais. As cidades passam a serem “divididas”, gerando assim uma cidade formal e outra informal num mesmo espaço, cujas inter-relações mostram-se cada vez mais complexas e conflituosas. Para Abramo (2003) as cidades da informalidade são um desafio incontornável para a promoção de cidades com um componente de equidade urbana e social. Confirmando o quadro de diferenças nas grandes cidades brasileiras, Taschner (2003) afirma que uma marca da nossa sociedade é a desigualdade, e esta característica reflete-se tanto no diferencial entre regiões, quanto entre cidades, como também dentro do espaço intra-urbano, onde a segregação é uma presença constante. No processo de construção das cidades, o ambiente natural desempenha um papel importante, impondo restrições às cidades que se refletem em um desenho urbano diferenciado. Pode-se ver inclusive, a predominância de assentamentos precários em áreas de encostas, fundos de vales e alagados, enquanto a cidade formal ocupa as áreas mais próprias aos assentamentos humanos. Com isso, ao longo dos últimos anos, tem-se verificado uma significativa concentração populacional nas metrópoles brasileiras, com importantes implicações demográficas e socioeconômicas, sem que haja uma política metropolitana, que busquem suprir as carências urbanas, reduzir as desigualdades sociais e atenuar a segregação residencial, fenômenos esses que acompanham o processo de aglutinação populacional nas metrópoles. De acordo com um estudo sobre a Rede Urbana Brasileira (Baeninger e Gonçalves, 2000 apud IPEA/NESUR/IBGE, 1999), no Brasil, há 13 metrópoles e outras 37 aglomerações urbanas não metropolitanas. Esse conjunto metropolitano, atualmente, é composto por 453 municípios que concentram mais de 70 milhões de pessoas, respondendo, portanto, pela significativa parcela, aproximadamente, 40% do total da população nacional. Na Figura 3 pode-se observar a concentração populacional brasileira em regiões super povoadas. Portanto, o meio ambiente urbano é de relevante importância nos estudos urbanísticos e deve ter a atenção dos estudiosos de todas as áreas de influência sobre esse complexo item de nossa sociedade. Assim, podemos perceber que o meio ambiente pode exercer influências sobre o processo de urbanização, através de características que lhe são favoráveis ou não, como o relevo, o solo, o clima, etc. Por outro 144 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana lado, o processo de urbanização provoca modificações no meio ambiente, alterando suas características, causando impactos com reflexos indesejáveis ao próprio homem. Torna-se então, imprescindível entender como tem ocorrido o processo de desenvolvimento urbano para poder contribuir para um planejamento em consonância com os novos modelos de desenvolvimento sustentável e preservação ambiental. DESENVOLVIMENTO URBANO O processo de urbanização é uma realidade constatada mundialmente. Em todo o mundo este processo tem sido intenso, modificando rapidamente a dinâmica das cidades. No Brasil, esse fato iniciou-se em meados do século XX sob a influência de diversos fatores, como a migração rural-urbana e a explosão da industrialização nas grandes cidades. Observando a Figura 4 percebe-se claramente a tendência de centralização das populações nas cidades, com diminuição, inclusive em termos absolutos, da população rural. Ao mesmo tempo em que os centros urbanos ganham indiscutível protagonismo econômico e político, afirmando-se como espaços territoriais mais propícios à criação de riqueza e de emprego e como os meios mais criativos e inovadores, eles também são dotados de um conjunto significativo de aspectos negativos associados à sociedade atual, tais como a degradação ambiental, a exclusão social, a insegurança e os congestionamentos de tráfego. Figura 3. Densidade demogáfica do Brasil, 2010. Fonte: Adaptado dos dados do Censo 2010 do IBGE. 145 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana 200 81% Milhões de habitantes População Urbana Poulação Rural 150 78% 76% 100 68% 50 55% 64% 45% 56% 44% 32% 24% 22% 19% 36% 0 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 Figura 4. População urbana e rural do Brasil de 1950 à 2010. Fonte: Adaptado do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os homens e as mulheres vêm ocupando de forma cada vez mais intensa as áreas urbanas afetando em conseqüência todo o meio-ambiente. No Brasil, no ano de 2000, a taxa de urbanização já era de 81,25% e o estado mais urbanizado, o Rio de Janeiro, possuía uma taxa de urbanização de 96,04%, como podem ser analisadas na Figura 5, apresentando maiores taxas de urbanização as regiões sul, sudeste e centro-oeste. 146 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana Posição Estado 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º 13º 14º 15º 16º 17º 18º 19º 20º 21º 22º 23º 24º 25º 26º 27º Rio de Janeiro Distrito Federal São Paulo Goiás Amapá Mato Grosso do Sul Paraná Espírito Santo Rio Grande do Sul Santa Catarina Minas Gerais Mato Grosso Pernambuco Amazonas Tocantins Rio Grande do Norte Roraima Paraíba Ceará Alagoas Sergipe Rondônia Acre Bahia Pará Piauí Maranhão Taxa Urbana 96.71 96.62 95.88 90.29 89.81 85.64 85.31 85.29 85.10 83.99 83.38 81.90 80.15 79.17 78.81 77.82 76.41 75.37 75.09 73.64 73.51 73.22 72.61 72.07 68.49 65.77 63.07 Taxa Rural 3.29 3.38 4.12 9.71 10.19 14.36 14.49 14.51 14.90 16.01 16.62 18.10 19.85 20.83 21.19 22.18 23.59 24.63 24.91 26.36 26.49 26.78 27.39 27.93 31.51 34.23 36.93 Figura 5. Taxa de urbanização brasileira, por estado, 2010. Fonte: Adaptado de dados do IBGE. Esta concentração da população nas áreas urbanas interfere no meio-ambiente natural, principalmente de três formas: pela utilização do solo natural como solo urbano; pela utilização, extração e esgotamento dos recursos naturais; pela disposição dos resíduos urbanos. Conforme novas cidades são constituídas e as atuais se expandem, a terra agrícola e os habitats naturais como as matas, os campos, as encostas e os mangues se transformam em habitações, estradas, indústrias, etc. A população urbana e suas atividades econômicas requerem recursos que excedem, em muito, o que a própria cidade pode fornecer. Desta forma a cidade passa a necessitar de alimentos, água e energia provenientes de outros lugares. Adiciona-se a isso a 147 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana necessidade de dispor os resíduos por ela produzidos, que não conseguem ser absorvidos pelo ecossistema local. A escala do consumo urbano, a geração de resíduos e seu impacto ambiental variam consideravelmente de cidade a cidade, e dentro da cidade, de área para área. É lógico que cidades ricas contribuem desproporcionalmente para o problema ambiental global, tanto no que diz respeito à utilização de recursos como quanto a emissão de poluentes na natureza. Em contraposição a esta situação, a contribuição das cidades pobres no que diz respeito à utilização de recursos per capita e aos níveis de geração de resíduos, tende a ser menor, o que ocasiona um menor impacto em relação à questão ambiental global. No entanto a pobreza da população interfere de forma aguda nas condições ambientais locais. Os pobres urbanos não tendo alternativas, muitas vezes estabelecem-se em assentamentos precários em áreas ecologicamente frágeis. Inúmeras vezes esses assentamentos não são atendidos de forma adequada por coleta de esgotos, por sistemas de drenagem ou coleta de lixo e em consequência, os resíduos líquidos e sólidos se acumulam e degradam o solo, causando também inundações. Embora as cidades representem algumas vezes uma interferência radical nos terrenos naturais, a quantidade de solo ocupada pelas áreas urbanas ainda é muito pequena. Algumas estimativas apontam para números da ordem de 1% da área seca da superfície terrestre (BAENINGER e GONÇALVES, 2000). As mudanças dos sítios naturais para as atividades da agricultura, pecuária e infraestrutura como, por exemplo, geração de energia e transportes, apresenta significativa importância quando se trata de estudos ambientais. A ocupação urbana leva ao desperdício do solo e ao aumento dos custos de infraestrutura e dos serviços públicos. Em função da necessidade de utilização de transporte motorizado causado por esta dispersão no espaço, eleva-se o consumo de energia e consequentemente, a poluição do ar torna-se um problema disseminado. AS ATIVIDADES HUMANAS E A POLUIÇÃO As alterações causadas pelas atividades humanas ao meio ambiente são as mais diversas. Nas cidades, algumas dessas alterações são mais caracterizadas devido às concentrações populacionais. Dentre os efeitos ambientais destas atividades pode-se destacar o desmatamento, inevitável para qualquer ocupação humana, porém, ocorrido de forma desordenada e descontrolada com efeitos nocivos tanto para o meio ambiente, como para o homem; a terraplanagem, cujas alterações na topografia têm efeitos em cadeia que vão desde a alteração dos sistemas de drenagem natural até o assoreamento de corpos d‟água e as enchentes; podem-se citar ainda as erosões, aterros, impermeabilização do solo, modificações em ecossistemas e as diversas formas de poluição. As alterações no ambiente urbano refletem-se não somente no ambiente natural, mas no mesmo ambiente construído, tais como adensamento de áreas e poluição sonora e visual. Dessa forma, além dos impactos iniciais, as cidades passam a sofrer de seus próprios males, sob a forma de diferentes tipos de poluição que se inter-relacionam e interagem e que refletem, principalmente, na saúde do homem. 148 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana Para efeito didático, podem-se dividir os principais tipos de poluição em: poluição do solo, do ar, da água, acústica e visual. Didática, pois de fato, dificilmente estes tipos de poluição ocorrem de forma isolada, geralmente ocorrem conjuntamente, com várias relações de interdependência entre elas. Por exemplo, a disposição inadequada de lixo em terrenos baldios pode causar simultaneamente a poluição do solo e da água, através do líquido gerado pelo resíduo que percola pelas camadas do solo, podendo atingir o lençol freático e o ar, através da queima e dos gases gerados e, visual, pelo aspecto desagradável dos resíduos. Assim, torna-se importante conhecer as diversas formas de poluição, e como ocorrem, seus fatores e processos, para poder fazer o devido planejamento ambiental, de forma a prevenir e minimizar os impactos das atividades humanas no meio ambiente. A Figura 6 apresenta de forma simplificada alguns reflexos das atividades humanas ao meio ambiente e ao homem. Figura 6. Atividades humanas no meio ambiente urbano e a poluição ambiental. Fonte: Adaptado de Mota, 1999. A seguir é apresentado um breve resumo de como podem ocorrer algumas das formas de poluição mais comuns no ambiente urbano. Poluição do solo O solo atua frequentemente como um filtro, tendo a capacidade de depuração e imobilizando grande parte das impurezas nele depositadas. Esta propriedade tem sido utilizada, mesmo quando não percebemos, pelo homem há muito tempo e é extremamente importante também no ciclo da água. No entanto, essa capacidade é limitada, podendo ocorrer alteração da qualidade do solo, devido ao efeito cumulativo da deposição de poluentes. Com a concentração 149 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana da população e o crescimento das cidades esta capacidade vem sendo cada vez mais comprometida. A poluição do solo se dá basicamente sob duas formas: atividades humanas que provocam alterações em suas características e lançamento de resíduos no solo. As principais fontes de poluição do solo são: aplicação de agentes químicos, presença de dejetos oriundos de animais, despejos de resíduos sólidos, lançamento de resíduos líquidos, domésticos ou industriais, atividades que possam resultar na erosão do solo. Dentre as fontes citadas acima, umas das grandes preocupações para as cidades é a questão dos resíduos sólidos, principalmente por que até bem pouco tempo, e ainda hoje em algumas cidades, a prática mais comum é a disposição dos resíduos sólidos urbanos em lixões a céu aberto, geralmente nos arredores das cidades. Dos impactos negativos desse tipo de disposição inadequada dos resíduos pode-se citar: aspecto estético desagradável; maus odores, resultantes da decomposição dos detritos; proliferação de insetos e roedores, transmissores de doenças; possibilidade de acesso de pessoas, podendo ocasionar doenças por contato direto; poluição da água subterrânea ou superficial, através da infiltração de líquidos e carreamento de impurezas por escoamento superficial; possibilidade de queima dos resíduos, como incômodos a população e causando poluição do ar; desvalorização de áreas próximas ao depósito de resíduos sólidos. Veja que, a muito tempo se discute que mesmo a solução conhecida como “aterro sanitário” quando não corretamente aplicada, pode causar poluição do solo e, a partir daí, provocar a poluição de águas superficiais e subterrâneas nas proximidades (Mota, 1999). Outra fonte de poluição do solo é o lançamento de resíduos líquidos, domésticos ou industriais, no solo. A poluição do solo por esta fonte de poluição pode ocorrer em duas condições: falta de um sistema adequado de esgotamento sanitário, favorecendo a prática não correta de dispor os dejetos humanos ou resíduos industriais diretamente sobre o solo ou em processos de tratamento de esgoto, quando o líquido é disposto em lagoas de estabilização ou utilizado em práticas de irrigação. Além da poluição do solo, há o perigo de contato das pessoas com organismos patogênicos, lançados no solo. Considerar ainda, a erosão do solo como forma de poluição, visto que é um processo de modificação da estrutura do solo, além do que é uma das grandes fontes de poluição da água, através do carreamento de resíduos para os corpos d‟água. Poluição da água É tamanha a quantidade de água na Terra, três quartos de sua superfície são cobertos por água. Com tal abundância, pensam alguns, jamais faltaria esse líquido precioso. Infelizmente não é bem isso o que acontece, porque há uma distribuição desigual das reservas de água no planeta, variando numa relação de 1:1000 entre um deserto e uma floresta tropical. Além disso, a maior parte da água, em torno de 97%, está nos oceanos e mares, não podendo, portanto, ser utilizada, a não ser a partir de caros processos de dessalinização. As fontes de água doce, as mais vitais para os seres humanos, são justamente as que mais recebem poluentes. Muitos lugares do planeta, cidades e zonas agrícolas correm sério risco de ficarem definitivamente sem água. Além disso, poder-se chegar a uma época em que não haja 150 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana nenhum lugar no planeta com águas limpas. A causa fundamental dessa tragédia ecológica, que pode eventualmente piorar se medidas sérias não forem tomadas, é o aumento acelerado de várias formas de poluição, além da ocupação desordenada em regiões de preservação de mananciais. A poluição da água pode ser definida como qualquer alteração das suas propriedades físicas, químicas ou biológicas, que possa prejudicar a saúde, a segurança e o bem-estar das populações, causando danos à flora e à fauna, ou comprometer o seu uso para fins sociais e econômicos. As principais fontes de poluição dos rios, lagos, ribeiros, toalhas de água, águas superficiais e subterrâneas, são as águas residuais resultantes da indústria, da agricultura e das atividades domésticas. Na Figura 7 observa-se que as cidades são responsáveis pela maior parcela do uso da água. As águas residuais estão carregadas de sais minerais, substâncias não biodegradáveis, fertilizantes, pesticidas, detergentes e micróbios. Tornam a água imprópria para abastecimento público e põe em causa a vida dos seres vivos que habitam os rios, ribeiros e lagos. De acordo com a sua natureza e concentração, os poluentes apresentam diferentes efeitos sobre o meio ambiente e a saúde pública, apresentando-se na Figura 8 alguns dos efeitos da poluição da água mais relevantes. 4000 Cidades Indústrias Agricultura Outros Km³/ ano 3000 2000 1000 0 1940 1950 1960 1970 1980 Figura 7. Uso mundial da água por setores Fonte: Adaptado de Teixeira, W. et all., 2000. 151 1990 2000 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana Figura 8. Diferentes efeitos da poluição aquática sobre a saúde humana e sobre o meio ambiente. Fonte: Adaptado do Instituto de estudos do Comércio e Negócios Internacionais, ICONE, 2012. Poluição do ar Outra forma de poluição cujos reflexos sobre homem urbano são os mais desastrosos é a poluição do ar. Característica de zonas urbanas, a poluição do ar depende das fontes de emissão e também de fatores ambientais como as condições climáticas e topográficas do sitio onde se localizam estas fontes. As fontes de emissão da poluição do ar estão sob controle direto do homem e delas depende o tipo de poluente, períodos de emissão e as quantidades. Já os fatores ambientais podem influir positivamente ou não nos efeitos destes poluentes. As características climáticas do ambiente contribuem para dispersar, transformar e remover os poluentes gerados pelas atividades urbanas, enquanto que as condições topográficas do meio influem na circulação do ar. As principais fontes de poluentes atmosféricos são as indústrias, os meios de transporte, a incineração de resíduos sólidos e processos de queima de combustíveis para diversos fins. Dentre os efeitos desagradáveis causados no meio ambiente pelos poluentes atmosféricos pode-se citar: danos à saúde humana, contribuindo para maior incidência de doenças respiratórias, irritações nos olhos e pulmões, podendo causar até a morte. É importante salientar que os efeitos da poluição do ar na saúde humana nem sempre são imediatos, podendo ocorrer em longo prazo, em conjunto com outras causas; redução da visibilidade, causada, principalmente, pela presença de material particulado na atmosfera; danos aos animais; prejuízos aos materiais, tais como: corrosão do ferro, aço, mármore; deterioração da borracha, produtos sintéticos e tecidos, sujeira de roupas, prédios e monumentos; danos aos vegetais; chuvas ácidas (precipitação de águas com pH inferior a 5,6), as quais se forma devido a presença, principalmente, de dióxido de enxofre e 152 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana óxidos de nitrogênio, originando ácido nítrico, ácido sulfúrico e acido nitroso. As chuvas ácidas têm efeito direto no abastecimento humano e outros usos, bem como no meio ambiente de uma forma geral, como na vegetação, fauna aquática, no solo, corrosão de monumentos, edificações, etc. Sobral (1996) mostra dados de que no período de 1984 e 1990, na cidade de São Paulo, a chuva que precipitou sobre a cidade apresentou um caráter ácido, onde os resultados das análises de 404 amostras de chuvas, possuíam valores mais frequentes de pH entre 4,2 e 4,5 e somente 6,4% das amostras apresentaram valor neutro. É importante também citar que os poluentes atmosféricos lançados em um determinado lugar podem causar impactos em outras áreas, principalmente pela ação dos ventos que podem carrear estes resíduos para áreas adjacentes. Poluição acústica A poluição acústica é um fenômeno tipicamente urbano e são vários os fatores responsáveis pela poluição sonora nos fluxos urbanos, os principais são o barulho que é emitido pelos veículos automotores (caminhão, ônibus, carros e motos), e também em construção civil, sons que são produzidos o tempo todo e em grande altura. O que causa tanto problema é que, o conjunto de emissores de sons funcionando simultaneamente alcança elevados índices, apesar de muitas vezes passar despercebido. O principal efeito da poluição acústica é a perda gradativa da audição. Além de contribuir para outros sintomas como a irritabilidade, incômodo, exaustão física, distúrbios psíquicos, perturbações do sistema nervoso central até mesmo para perturbações cardíacas e circulatórias. O limite máximo tolerável para a saúde humana é de 65dB. O efeito sobre a saúde humana dependerá, contudo, do nível de ruído e do tempo de exposição, por exemplo, uma pessoa que trabalhe 8 horas por dia, todos os dias, com ruídos do nível de 85dB, após dois anos, apresentará, com certeza, problemas auditivos causados pela poluição sonora. Uma forma de amenizar a poluição sonora é a utilização de equipamentos de segurança (fones de ouvido por exemplo) e a aplicação de tecnologias menos ruidosas ou que abafem os ruídos. Esse tipo de poluição como já mencionado acima pode causar muitos danos ao organismo, principalmente porque nós não nos preocupamos com ela, alguns causadores da poluição sonora são: os veículos que fazem ruídos e sua buzina; as indústrias; as construções que utilizam máquinas barulhentas; casas noturnas que deixam o volume do som muito alto. Algumas medidas, que se adotadas, beneficiaria muito os ruídos urbanos são as citadas a seguir: redução no uso das buzinas de veículos; multas contra lojas que fazem propagandas barulhentas; recolhimento de veículos sem silenciadores; redução de publicidade por auto falantes. Poluição visual Outra forma de poluição tipicamente urbana é a visual. Ocorre basicamente através da ocupação e de construções sem o devido estudo de impacto visual, distribuição inadequada de 153 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana equipamentos urbanos, disposição inadequada de resíduos sólidos e também pelas técnicas de propaganda. CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE URBANA Na situação atual do meio urbano é inquestionável a necessidade de implementar políticas públicas orientadas para tornar as cidades social e ambientalmente sustentáveis como uma forma de se contrapor ao quadro de deterioração crescente das condições de vida. Para colocar em prática a sustentabilidade urbana, um dos principais esforços necessita ser para a geração de empregos com práticas sustentáveis e ampliar o nível de consciência ambiental, estimulando a população a participar mais intensamente nos processos decisórios, como um meio de fortalecer a sua co-responsabilização no monitoramento dos agentes responsáveis pela degradação sócioambiental. O principal desafio que se coloca nos dias atuais é que as cidades criem as condições para assegurar uma qualidade de vida que possa ser considerada aceitável, não interferindo negativamente no meio ambiente do seu entorno e agindo preventivamente para evitar a continuidade do nível de degradação, realidade nas regiões habitadas pelos setores mais carentes. A possibilidade de maior acesso à informação, principalmente para os grupos sociais mais excluídos, pode potencializar mudanças comportamentais necessárias para a defesa de questões vinculadas ao interesse geral. Cidadãos bem informados, ao se assumirem enquanto atores relevantes têm mais condições de pressionar autoridades e poluidores, assim como de se motivar para ações de co-responsabilização e participação comunitária (JACOBI, 1999). As questões urbanas, que estão intimamente relacionados com a sustentabilidade, são as opções de transporte, o planejamento e uso do solo e o acesso aos serviços de saneamento e infraestrutura básica, todos eles com grandes potenciais de riscos ambientais. Isto impõe mudanças profundas na questão da ocupação indevida de áreas de risco, na priorização do transporte público e na lógica que prevalece nos sistemas de limpeza urbana - redução do lixo, reciclagem e coleta seletiva, políticas de destinação de resíduos. É necessária a redução dos nossos consumos particulares, reutilizar o que é possível, e principalmente reciclar e dar um fim apropriado nos nossos descartes no meio aonde vivemos, como pode ser visto na Figura 9, os dilemas apara um desenvolvimento sustentável. 154 bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 138-157, jan./jun. 2014. MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M. Dilemas da sustentabilidade urbana Figura 9. Dilemas do desenvolvimento sustentável. Fonte: Adaptado de Mota, 1999. Destaque-se ainda, a importância de uma gestão compartilhada com ênfase na coresponsabilização na gestão do espaço público e na qualidade de vida urbana, e o estímulo crescente às ações preventivas, não esquecendo que para um desenvolvimento sustentável necessitamos dar continuidade, manter o direito individual de cada indivíduo, possibilitando a todos uma vida com qualidade. REFERÊNCIAS ABRAMO, Pedro. Eu já tenho onde morar... a Cidade da informalidade. In: ABRAMO, Pedro (org.). Cidade da Informalidade: o desafio das cidades latino-americanas. Rio de Janeiro: Sete Letras, 2003, p. 7-12. BAENINGER, R.; GONÇALVES, RF.P. Novas espacialidades no processo de urbanização: a Região Metropolitana de Campinas In: Anais do XII Encontro Nacional de Estudos populacionais da ABEP, Caxambu, Anais..., v.1, Belo Horizonte: ABEP, 2000 BONDUKI, Nabil Georges. 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[email protected] 3 Bráulio Otomar Caron, Agrônomo, Prof. Dr. Centro de Educação Superior Norte-RS/UFSM, Frederico Westphalen, RS. [email protected] 4 Tadeu Alcides Marques, Agrônomo, Prof. Dr. Universidade do Oeste Paulista/Unoeste, Presidente Prudente, SP. [email protected] 5 Érick Malheiros Rampazo, Estudante de Agronomia, Universidade do Oeste Paulista/Unoeste, Presidente Prudente, SP. [email protected] 157