COSTA DOCE: UM PROJETO DE VIDA Alexandre Paim1 Adriana Lemes1 Romeo Nedel1 Carlos Mário Dal Col Zeve1 Letícia Souza Machado2 Giancarlo Braga2 RESUMO O projeto “Costa Doce: Um Projeto de Vida” visa propor um estudo, em primeira instância, do município de Guaíba, para realizar um levantamento de informações capaz de fornecer subsídios para o planejamento de futuras ações, sob o viés da Responsabilidade Social, e orientada a produzir o desenvolvimento sustentável e a preservação do meioambiente. Nenhuma ação será consistente sem que, previamente, se faça um estudo detalhado para diagnosticar a realidade social, identificar contextos sócio-históricos, determinar alguns indicadores sociais, planejar algumas intervenções e buscar parcerias com entidades privadas e órgãos públicos, considerando que cada curso diante de suas especialidades, poderá contribuir com a sua percepção da realidade. Por isso, é necessário primeiro pesquisar, consultar as entidades já estabelecidas, antes de propor. A proposta é unir esforços com os que já fazem, auxiliar, descobrir afinidades, alavancar, potencializar, tornar as entidades que já existem mais eficientes, maiores, com mais recursos e escala de operação. E posteriormente estender este projeto a região conhecida por Costa Doce, que compreende os municípios de Guaíba, Tapes, Arambaré, Camaquã, Barra do Ribeiro, Eldorado do Sul, Sertão Santana, Mariana Pimentel, Sentinela do Sul, Cerro Grande do Sul, Barão do Triunfo, Chuvisca e Dom Feliciano. Palavras-Chave: Responsabilidade Social, Desenvolvimento Sustentável, Meio-ambiente. 1 2 Professores pesquisadores do projeto Costa Doce da ULBRA-GUAÍBA Bolsistas do projeto Costa Doce da ULBRA-GUAÍBA INTRODUÇÃO Em visitas realizadas à cidade, foi observado um número acentuado de habitações irregulares situadas na periferia, em meio ao lixo doméstico e esgotos. Estas habitações estão localizadas nas vias marginais aos bairros e estradas que cortam o município, constituindo-se em áreas críticas de ocupação urbana. Foi constatado um grande número de comunidades carentes, muitas oriundas de vilas e favelas de Porto Alegre e da migração das zonas rurais da região para a zona urbana do município. Esta população realiza atividades de catação informal e procura também alimento nos resíduos depositados nas ruas da cidade. Este fato implica em um grande problema social, com a criação e consumo de animais criados no lixo e a inexistência de condições mínimas de infra-estrutura sanitária. Tal condição obriga a administração municipal a adotar um comportamento paternalista com estas comunidades, tornando muito difícil à eficiência dos serviços de limpeza pública e as relações com outras comunidades vizinhas. Muitas dessas comunidades carentes estão localizadas em áreas públicas, com as pessoas vivendo de biscates, em condições de subsistência, sem perspectivas de melhoras. Sobrevivem com a sorte de algumas ações de entidades assistencialistas ou contando com a benevolência de alguns cidadãos. Guaíba, assim como outros municípios, sofre com o crescimento desordenado, em razão da inoperância do Estado e a insuficiência de recursos para resolver tais situações. É preciso encontrar novos caminhos, desestigmatizar o problema, provocar novas inquietações e finalmente contemplar novas relações entre o Estado e a sociedade, que não seja apenas as assistencialistas, mas integradoras. A solidariedade é a nova expressão de ação política, é o fortalecimento da manifestação da cidadania. A sociedade não está à margem desse processo, mas é preciso criar meios para canalizar as demandas de agir da sociedade, para construir ações duradouras e sistêmicas que viabilizem a inclusão social e econômica dessas comunidades. Esta crescente preocupação com o social está proporcionando a interação entre empresas e entidades civis, demarcando o que vem sendo denominado como um processo de regulação civil, que é parte de um conjunto de mudanças sistêmicas, isto é, de mudanças que interagem e se reforçam umas às outras, e que também se somam aos esforços de mudanças desta realidade social. É neste contexto que se assiste a um número cada vez maior de organizações da sociedade civil, voltadas aos mais diversos aspectos relacionados à sustentabilidade, ingressando num processo de crescente interação com as empresas, assumindo um papel cada vez mais importante nas tarefas essenciais de coordenação social. Essa interação se dá dentro de um espectro bastante amplo de possibilidades, que podem incluir iniciativas conjuntas de empresas, ONG’s e universidades, visando promover os mais diferentes aspectos da sustentabilidade. Incentivado por essa realidade, que ajudou a moldar um ambiente mais propicio, este projeto pretende realizar um estudo profundo das necessidades sociais da região da Costa Doce, com a intenção de construir ações coordenadas que permitam esta universidade atuar em parceria com outras entidades, especialmente naquelas áreas onde a atuação do estado revela-se insuficiente. Nenhuma ação será consistente sem que, previamente, se faça um estudo detalhado para diagnosticar a realidade social, identificar contextos sócio- históricos, determinar alguns indicadores sociais, planejar algumas intervenções e buscar parcerias com entidades privadas e órgãos públicos, considerando que cada curso diante de suas especialidades, poderá contribuir com a sua percepção da realidade. O conceito de "sinergia" é muito atraente e poderoso, mas lembra um pouco aquele escoteiro que atravessa um cego para o outro lado da rua sem perguntar se é isso que o cego queria. Por isso, é necessário primeiro pesquisar, consultar as entidades já estabelecidas, antes de propor. O objetivo é unir esforços com os que já fazem, auxiliar, descobrir afinidades, alavancar, potencializar, tornar as entidades que já existem mais eficientes, maiores, com mais recursos e escala de operação. Não precisamos reinventar a roda, só precisamos acelerar o passo e, no caso de omissão, dar o primeiro passo. JUSTIFICATIVA Propõem-se, a seguir, procedimentos para realizar ações práticas com base nos objetivos determinados, motivações e intenções que se visa cumprir para a implantação e desenvolvimento do projeto no município de Guaíba. Em todos os momentos o projeto prevê a progressiva participação da comunidade. Por isto a discussão dos passos a serem dados, assim como a sua totalidade, deve visar as formas mais adequadas de participação da comunidade local.Desta forma, estabelecemos a realização do projeto em quatro momentos, que, no entanto, poderão acontecer de forma simultânea. Pesquisa e divulgação. Trabalho nas Escolas.Trabalho junto às organizações comunitárias. Geração de trabalho e renda com base na preservação ambiental: consistirá num trabalho articulado com os representantes do projeto em conjunto com os representantes da secretarias municipais, empresas e entidades civis. Discutirá à importância do trabalho para a construção de alternativas dignas de trabalho e renda, com base na preservação ambiental. Determinar as possíveis ações que poderiam ser efetivadas em parceria com a ULBRA. METODOLOGIA Nas últimas décadas o cenário mundial sofreu inúmeras mudanças. Essas mudanças encontram sua origem no setor econômico que está intimamente ligado ao setor social. O paradigma econômico usado como propulsor para o desenvolvimento proporcionou uma acelerada concentração de capital, um incremento da competição e uma reconversão tecnológica. Essa nova reestruturação esboça-se de forma negativa quanto as garantias sociais, previdenciárias e trabalhistas, bem como repassa ao Estado o atendimento das necessidades básicas no campo da saúde, educação e emprego. Paralelo a esta questão econômica-social uma outra questão começa se impor exigindo solução imediata, que é a questão ambiental. O que antes parecia um acontecimento isolado evidencia-se como estreitamente imbricada na questão social. Sendo assim, as possíveis soluções advindas do setor econômico, por si só, não trariam um salto qualitativo de vida para a humanidade, isto é, as soluções encontradas deveriam abarcar um maior número de áreas do conhecimento e de ações. Sendo assim, os problemas ambientais não podem mais ser considerados apartados dos sociais e vice-versa. Propor novas formas de relações social-econômica-ambiental implica propor mudanças nas relações sociais. Neste sentido, este projeto agrega-se a idéia de propor nova forma de alternativa na solução de problemas sociais, ao mesmo tempo em que possibilita novas formas de relações entre os seres humanos e a natureza. PRODUTO FINAL Elaborar um conjunto de ações, sob o viés da responsabilidade social, desenvolvimento sustentável e ecologia, para servirem a descoberta de novas oportunidades de pesquisa e de fomento as atividades de extensão na comunidade, momento em que a sociedade sistematiza, apóia e acompanha todo o processo visando à integração e interação com a universidade. Esta integração é viabilizada através da articulação entre pesquisa,extensão e o ensino, que é vista como produto e fonte para novos projetos. OBJETIVOS: • Realizar um estudo minucioso da realidade social de Guaíba, para que se possa realizar uma intervenção socialmente responsável em diversas áreas: educação e cultura, saúde e prevenção, promoção social e capacitação, ecologia e preservação, e outras; • Desenvolver um processo de educação ambiental, envolvendo toda a população do município, através de entidades da sociedade civil, empresas e secretarias municipais; • Criar e incentivar iniciativas coletivas de geração de renda e emprego, pois o enriquecimento do trabalho requer um desenvolvimento das relações de cooperação no contexto econômico atual; • Efetivar uma parceria universidade-comunidade, via práticas extensionistas como concretização do desenvolvimento e fortalecimento da comunidade onde está inserida. LINHA DE PESQUISA: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Para que a ULBRA-GUAÍBA possa aumentar sua atuação na comunidade deve primeiramente mapear a situação da mesma em termos de suas necessidades de estruturação administrativa (foco em pequenas empresas) e seus potenciais econômicos (com vistas a incentivar e orientar o empreendedorismo), sempre levando em conta as competências e vocações das comunidades. Todas as informações obtidas com as pesquisas poderão ser usadas para a criação e atualização de “indicadores administrativos” dos municípios da Costa Doce a serem atingidos pelo projeto institucional da ULBRA Guaíba. Estes seriam indicadores do nível de conhecimento e profissionalismo na administração de pequenas organizações nos municípios. Seriam os Indicadores Administrativos das Organizações do Município, que seriam publicados com uma periodicidade bianual. A evolução (série bianual) destes indicadores poderia mostrar os efeitos da ULBRA e da instalação de grandes empresas na melhoria do nível de administração das organizações dos municípios da Costa Doce. O próprio processo de levantamento de dados colocaria a ULBRA (e os alunos) em um contato mais próximo da comunidade, principalmente daqueles que mais necessitam de conhecimento administrativo. Estes indicadores e os resultados das pesquisas servirão de balizadores para todos os projetos de extensão da Ulbra-Guaíba. Limitações No primeiro ano este projeto deverá ser apenas de caráter exploratório, limitando-se a fazer o levantamento da situação da região. Neste período as pesquisas deverão envolver apenas os municípios de Mariana Pimentel e de Sentinela do Sul. Orientação geral O foco desta linha de pesquisa deverá guiar as pesquisas principalmente para turismo, agronegócios e pequenas empresas e empreendedorismo. Este foco não deverá excluir outras organizações como prefeituras, ONG’s e outras organizações sem fins lucrativos. Metodologia exploratória Nesta etapa exploratória serão feitas pesquisas dos tipos bibliográfica e documental (e.g. IBGE, Fundação de Economia e Estatística, SEBRAE, EMATER, EPAGRO e Associações Comerciais e Industriais e prefeituras dos municípios) e levantamento (survey). Este projeto contará com a atuação direta de professores pesquisadores, de alunos bolsistas e de alunos pesquisadores voluntários. Aos professores pesquisadores caberá fazer pesquisas bibliográficas e documentais, definir as linhas gerais da metodologia e elaborar os instrumentos de pesquisa. Aos alunos caberá fazer pesquisas bibliográficas e documentais e aplicar os questionários. Seria desejável também contar com a participação de alunos e professores de outros cursos que possam estar relacionados ao problema de pesquisa. Sua atuação pode ser nos processos de elaboração das ferramentas de pesquisa, na aplicação destas ferramentas e na elaboração de propostas de ações de extensão (e eventualmente sua participação nas ações de extensão). Os cursos que vemos com maior potencial para atuação conjunta são Turismo (e.g. potencial turístico e empreendimentos), Direito (e.g. legislação trabalhista e tributária), Psicologia (e.g. recrutamento e seleção, qualidade de vida no trabalho), Sistemas de Informação (e.g. sistemas informatizados de controle e de apoio à decisão), Biologia (e.g. impacto ambiental dos empreendimentos), Pedagogia (e.g. questões envolvendo educação) e Educação Física (e.g. ergonomia e ginástica laboral). O projeto deverá considerar atuação conjunta com outras organizações como Agências de Desenvolvimento e SEBRAE de modo que possa atuar sem haver conflito ou sobreposição com as áreas de atuação destas organizações. Será feito inicialmente um mapeamento de toda a região urbana dso municípios escolhidos, “casa a casa”, levantando os pequenos e médios estabelecimentos industriais, comerciais e de serviços. Os dados levantados serão usados para determinar indicadores do nível de conhecimento e profissionalismo na administração de pequenas organizações nos municípios. Seriam os Indicadores Administrativos das Organizações do Município, que seriam publicados com uma periodicidade bianual. Quanto ao desenvolvimento ao longo dos anos a idéia é fazer ciclos de 2 anos como a seguir: • No primeiro semestre é realizada a pesquisa na comunidade. • No semestre seguinte são analisados os resultados e publicados os indicadores, identificadas as necessidades da comunidade foco (cursos, seminários, palestras, consultorias, pesquisas, etc.) e elaborados planos de ação. • No ano seguinte são executados os planos. Todo o processo então se repete. Poderá ser adotada metodologia semelhante à usada pelo IBGE em suas pesquisas. Deverão ser criados bancos de dados e mapas com camadas (layers) de informações para facilidade de recuperação de dados e geração de informação Os pesquisadores poserão usar coletes com cores chamativas e o logotipo da ULBRA, além do crachá. Atuariam sempre em duplas. Quanto ao questionário, este deve ser rápido de aplicar (apenas uma página). Para dar início a esse processo de desenvolvimento da ferramenta vou sugerir (como brain-storming) algumas variáveis (ainda não operacionalizadas) a serem medidas. Caracterização da empresa (setor, faturamento, idade, no. funcionários, ...) • Controle de custos • Nível de controle de suas finanças (e.g. caixa diário) • Nível de planejamento financeiro (e.g. fluxo de caixa) • Formação da equipe (administradores e/ou contadores, estagiários) • Quantos administradores trabalham ou trabalharam e por quanto tempo nos últimos 2 anos • Tem no quadro ou já contratou estagiários de Administração ou Contábeis • Cursos assistidos (níveis gerência e operacional) (SEBRAE, ULBRA, ACIGUA, ...) sobre vendas, contabilidade, legislação, gestão • Consultoria recebida (SEBRAE, ULBRA, outro) • Ações de marketing • Nível de informatização (software de controle de estoque, contas a pagar/receber, ...) • Uso da internet como ferramenta • Separação conta da empresa X conta pessoal • Responsável por compras, cobrança, contratação de pessoal • Treinamento formal dos funcionários O outro foco de pesquisa envolvendo potencialidades econômicas da região para geração de novos empreendimentos e vocações da região. Estas pesquisas envolveriam levantamentos nas áreas de turismo (inventário turístico), pecuária e agronegócios de arroz, fumo, madeira, etc. Outras pesquisas já realizadas anteriormente em Guaíba nas áreas de Indicadores Econômicos e Sociais pelo prof. Eloí, “Educação Ambiental” pelo Prof. Tiago e na Empresa Júnior pelo prof. Almiro poderão ser utilizadas como base para esta pesquisa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 2000. RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência de estudos. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1991.