3.º
ano
O livro de doces
Estava eu a mexer-me e a
contorcer-me para me soltar (tinha
os dedos presos debaixo da porta),
quando senti aquele cheirinho
maravilhoso… Só podia ser da nossa
cozinha! Porque é que não passava
alguém e me levava até lá?
Entretanto, chegou a Tininha a falar sozinha:
– Onde estará o livro? Não sei onde o deixei. E agora? – perguntava ela desesperada, até que
reparou em mim. – Ah! Está aqui a Luva Lu. Vou levá-la ao mano.
Dirigimo-nos para a entrada da casa, onde estava o Miga com o Gil e o Baterias. A Tininha
ficou muito satisfeita por os ver e decidiu ficar a espiar a conversa, onde ninguém nos
conseguisse ver.
Eles estavam muito entretidos a dialogar sobre as imensas abelhas que os rodeavam: eram
mais de mil, podiam reproduzir-se e transformar-se em oito, nove, dez mil… Mas não os
conseguiriam vencer! Riam às gargalhadas das histórias que inventavam. Mas o Gil achava que
podia haver algum enxame ali perto.
– Não me parece. Estas abelhas estão a ser atraídas pelo cheiro do doce que a minha mãe
está a fazer – respondeu o Miga.
– É doce de quê? – perguntou o Gil. – Cheira tão bem!
– Figo – disse o pai do Miga, acabado de chegar. – Porque não oferecem um frasquinho de
doce à vossa amiga Elisa? Ela ficaria a pensar que vocês são rapazes originais.
– Originais?! A Elisa iria pensar que somos uns tontos...
3.º
ano
O Miga estranhou aquele conselho do pai… Um frasquinho de doce? Mas o pai percebeu
que ele ficou surpreendido e explicou-lhe:
– Não é o que vem escrito nos livros. Vocês só se interessam por música e isso não chega.
Têm de ler muito para conseguirem conquistar o coração das meninas!
O pai afastou-se e a Tininha resolveu meter-se na conversa:
– O pai tem razão!
– Olha a Tininha! – reagiu sem grande paciência o Baterias. – Ó pequenita, mas o que é que
tu percebes sobre estes assuntos? Ainda és muito criança...
Ela não perdeu tempo e respondeu-lhe:
– Eu estive com a Elisa ontem. Ela emprestou-me um livro sobre doces.
A cara de surpresa deles foi de mais: o Miga arregalou os olhos e o Baterias, a gaguejar,
ofereceu-se para entregar o livro à dona. Mas a Tininha confessou que, se calhar, o tinha
perdido, porque não o conseguia encontrar. Já tinha procurado em todo o lado… E, de repente,
gritou:
– Baterias, tens uma abelha no nariz!
– Onde? – perguntou o Baterias, aflito.
Tarde de mais. Já tinha sido picado… E como se não chegassem os gestos e as queixas do
Baterias, o Miga ainda o assustava mais:
– Cuidado! Não inspires, porque a abelha pode voar até aos teus pulmões... – dizia ele, de
olhos arregalados e com um ar dramático. – E depois disso é um instante para chegar ao
sangue e misturar-se com o oxigénio…
– Não se preocupem! A abelha apenas pousou no nariz do Baterias, mas voou de seguida –
disse o Gil, procurando acalmar os amigos.
Estavam tão distraídos com o Baterias e a picada da abelha que nem viram a Elisa passar, do
outro lado da rua. Reparei eu e a Tininha, que a cumprimentou.
– O que foi, miúda? Estavas a acenar a quem? – perguntou o Baterias.
– À Elisa. Vocês não repararam, mas ela passou por ali e viu a vossa figura de tontos. Tudo
isto por causa de uma abelha. Eh, eh, eh!
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