Para conhecimento, divulgação e manifestação. CONSTRUÇÃO DE AEROPORTO NA ZONA DE AMORTECIMENTO DO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE-MG. A USIMINAS (detentora do maior complexo siderúrgico da América Latina) irá construir um aeroporto ao lado do Parque Estadual do Rio Doce. A empresa encontra-se em fase de expansão do seu pátio produtivo, que deverá ser construído onde hoje funciona seu atual aeroporto, em Ipatinga, Minas Gerais. O objetivo da empresa é expandir sua produção de aço em cinco milhões de toneladas até 2012. Com isso, a USIMINAS necessita de uma área para a construção de um novo aeroporto, que deve entrar em funcionamento em agosto de 2009. O problema está na escolha dessa nova área. Como pode ser visto no mapa abaixo, a USIMINAS pretende construir seu novo aeroporto ao lado do MAIOR remanescente de floresta contínua do bioma da Mata Atlântica de Minas Gerais, o Parque Estadual do Rio Doce. Esta é uma área prioritária para conservação no estado, na categoria especial, sendo o seu entorno classificado também como área prioritária na categoria alta, por conter a zona de amortecimento do Parque (Fundação Bodiviersitas 2005). Para o Parque, o total de mamíferos citado na literatura chega a cerca de 77 espécies: 49 espécies de mamíferos não voadores e mais 28 de voadores (Chiroptera). Isto representa cerca de 30% de todas as espécies de mamíferos da Mata Atlântica. Destes, 11 constam nas Listas de Espécies Ameaçadas do IBAMA e de Minas Gerais. A mais recente revisão da lista de espécies ameaçadas de Minas Gerais aponta ainda um total de 45 espécies sob risco de extinção, cerca de 17% do total de espécies do estado. Segundo o Plano de Manejo, a flora do Parque apresenta cerca de 1100 espécies, sendo 7 delas presentes na lista da flora ameaçada de extinção do Brasil MMA (2008) e 14 na lista mais recente feita pelo estado Biodiversitas (2005). Destaca-se ainda o fato de o PARQUE ser considerado área prioritária para a conservação dos muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) que é listada como Criticamente em Perigo de Extinção pela Lista de Espécies Ameaçadas do IBAMA. A Unidade de Conservação abriga uma população destes primatas que é considerada uma das maiores e mais bem estruturada das 12 conhecidas. A Mata Atlântica e o sistema lacustre do médio Rio Doce do PARQUE constituem o maior remanescente do bioma Mata Atlântica em Minas Gerais, totalizando 36.000 ha de florestas, entremeadas por um sistema lacustre com cerca de 130 lagos nos mais variados estágios de evolução. Contabilizando somente o estrato arbóreo da vegetação, no PARQUE encontra-se cerca de 150 espécies de árvores por hectare, sendo inúmeras destas também ameaçadas de extinção. Esta área também apresenta grande relevância para as questões ligadas ao aquecimento global e sequestro de carbono. Através das quantificações já realizadas no Parque, a média de carbono estocado nas áreas de floresta avançada é de 134 ton.ha-1, enquanto que o estoque da floresta em regeneração é de 69 ton.ha-1. Portanto, no total, calcula-se que o Parque mantém, em seu estoque arbóreo, cerca de 3,8 milhões de toneladas de CO2. Não obstante, este estrato ainda possui um seqüestro de carbono médio líquido de 1,2 ton.ha.ano-1 através do crescimento anual da comunidade arbórea. Isso quer dizer que além do estoque constante, o Parque ainda possui capacidade de incrementar cerca de 38 mil toneladas de carbono por ano. Tal valor é referente à quantidade de carbono que a vegetação do Parque retira da atmosfera e agrega ao seu estoque, prestando um serviço ambiental de amenização do aquecimento global. Isto é caracterizado como seqüestro florestal de carbono. No contexto internacional, este “crédito de carbono” pode ser negociado no mercado voluntário de reduções de emissões via Protocolo de Kyoto ou mesmo através das novas transações financeiras criadas pelas políticas nacionais de mudanças climáticas. Considerando um valor ainda conservador da tonelada de carbono hoje negociada (cerca de $20), o Parque está apto a receber cerca de 760 mil dólares anuais (oriundo de países que possuem metas de redução). Vale lembrar que este valor é apenas referente ao incremento, sem contabilizar os estoques já estabelecidos. Esse recurso pode ser proveniente dos países signatários do Protocolo de Kyoto, que possuem metas de redução de emissão (países desenvolvidos). Este montante poderia ser direcionado exclusivamente a estratégias conservacionistas, como o monitoramento e pesquisas aplicadas ao manejo, de forma que a manutenção desses ambientes seja garantida. Além disso, esta proposta traria um novo incentivo para diminuição das taxas de desmatamento, pois estaria agregando um novo valor à floresta em pé, até então desconsiderado pelos extrativistas florestais. O Parque, pelas potenciais características reveladas, seria um dos maiores candidatos ao recebimento destes recursos no estado de Minas Gerais. Todo estes serviços e bens ambientais podem ser totalmente comprometidos pela construção do aeroporto. Vale considerar que este aeroporto não ficará isolado por muito tempo. Muitos empreendimentos chegarão para dar suporte ao funcionamento do aeroporto, como galpões de armazenamento, indústrias, maquinário pesado, hotéis... Junto a estes virá a pavimentação das estradas de terra, o aumento do fluxo de carros, caminhões, carretas, aumento da demanda por postos de combustíveis, demandas por moradias, mais vias de acesso... POLUIÇÃO, BARULHO... Pode-se imaginar a sinergia de impactos para um ambiente ímpar como o Parque com o barulho de pousos e decolagens diárias? Exemplificando: Alto ruído gerado – afugentamento da ornitofauna – diminuição da dispersão de sementes de várias espécies de árvores – diminuição do recrutamento de plântulas – declínio dessas populações... Os impactos decorrentes da implantação de um aeroporto deste porte (capacidade para 360 mil passageiros por ano) dentro da zona de amortecimento do Parque, não podem ficar limitados aos comumente listados em EIAs/RIMAs, como perda de biodiversidade, afugentamento da fauna de aves, répteis e mamíferos... E as funções ecológicas que serão perdidas com o tempo? E a ordem de grandeza destas perdas de biodiversidade? E as propriedades físicas do solo que serão comprometidas? E a recarga de água do Rio Doce que diminuirá? O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) foi avaliado por especialistas das principais universidades de Minas Gerais e foi considerado deficiente em muitos aspectos inclusive negligenciando a presença de espécies ameaçadas como o muriqui, que não foi sequer citado. No Parque ao lado do local onde querem instalar o empreendimento existem vários grupos deste primata que sofrerão diretamente os impactos dos ruídos advindos do aeroporto. Insistimos que este empreendimento NÃO tem VIABILIDADE AMBIENTAL, podendo ser catastrófico para a permanência do Parque como área de proteção integral da biodiversidade. Avaliemos. Divulguemos. MOVIMENTO PRÓ RIO DOCE [email protected] Figura 1. Áreas de Influência Direta(AID) e Indireta(AII) do Novo Aeroporto Usiminas. Fonte: USIMINAS Figura 2. Posicionamento da Pista e Componentes Aeroportuários. Fonte: USIMINAS