ÉPOCA DE SEMEADURA DE MILHO DOCE NA SAFRINHA PARANAENSE Antônio Augusto Nogueira Franco1, Pedro Soares Vidigal Filho2, Carlos Alberto Scapim2, Odair José Marques3, Alberto Yuji Numoto1 e Alex Henrique Tiene Ortiz4 Introdução O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho com uma produção de 79 milhões de toneladas, com destaque para a Safrinha, participando com 62% da produção de milho (CONAB, 2015). Entretanto, a produção de milho em grãos por pequenos produtores torna-se pouco viável, devido a estreita margem de lucro e a necessidade do plantio em escala. Contudo, o mercado do milho não se restringe às indústrias moageiras, havendo outros nichos que podem ser explorados, com demanda crescente e valorizada. Neste contexto, uma das alternativas para se buscar maior rentabilidade, é o cultivo de milhos especiais como o milho doce, que, não raro, gera melhor retorno econômico ao produtor, em relação à produção de milho comum. A principal característica do milho doce é possuir genes cuja expressão bloqueia no endosperma a conversão de açúcares em amido, conferindo o caráter doce (ARAÚJO et al., 2006). Tal produto vem ganhando espaço no Brasil, impulsionado pelas indústrias de conservas alimentícias (SOUSA et al., 2012). Não obstante, o milho comum sempre foi o alvo das pesquisas científicas em detrimento aos outros tipos de milho. Assim, há uma carência de informações sobre os fatores que exercem influência no comportamento produtivo de milhos especiais, principalmente o milho doce, a exemplo, a época de semeadura. Assim, o presente trabalho ocupou-se em avaliar o efeito das épocas de semeadura sobre a produtividade de híbridos de milho doce, na Safrinha, em Maringá, região Noroeste do Paraná. 1 Engenheiro Agrônomo, Doutorando em Agronomia, Universidade Estadual de Maringá, e-mail: [email protected], [email protected] 2 Engenheiro Agrônomo, Professor Doutor da Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo, nº. 5790, CEP-87020-900, Maringá-PR, e-mail: [email protected], [email protected] 3 Engenheiro Agrônomo, Professor Doutor da Universidade Federal de Uberlândia, Rodovia LMG746, km 1, CEP-38500-000, e-mail: [email protected] 4 Engenheiro Agrônomo, Doutorando em Genética e Melhoramento Vegetal, Universidade Estadual de Maringá, e-mail: [email protected] 1 Material e Métodos O estudo foi conduzido na Fazenda Experimental da Universidade Estadual de Maringá, localizada numa altitude média de 540 m, com clima mesotérmico úmido, chuvas abundantes no verão, inverno seco, e precipitação média anual de 1.500 mm. O solo da área é caracterizado como Nitossolo Vermelho distroférrico, de textura argilosa. Os experimentos foram instalados na Safrinha de 2011 e 2012, e constituíram da avaliação de dois híbridos simples de milho super doce (Tropical Plus e RB6324) semeados em quatro épocas de semeadura. Em ambos os anos, a primeira semeadura foi realizada em 18 de fevereiro, e todas as demais foram efetuadas com intervalo de 14 dias. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos completos, casualizados, em esquema fatorial 4 x 2. Todos os tratos culturais utilizados foram àqueles preconizados para cultura do milho (EMBRAPA, 2012). Avaliou-se a massa de espigas comerciais (maior que 150 mm, com diâmetro maior que 30 mm e isentas de pragas). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e regressão. Resultados e Discussões A análise de variância da produtividade de espigas, revelou efeito significativo para todas as fontes de variação, exceto a interação Época x Híbrido (Tabela 1). Tabela 1. Resumo da análise de variância referente à produtividade de espigas comerciais de dois híbridos de milho doce, em quatro épocas de semeadura e em dois anos agrícolas. Fonte de Variação Época de semeadura (E) Híbrido (H) Ano (A) ExH ExA HxA ExHxA Bloco/Ano Resíduo Média Geral Coeficiente de Variação (%) *Significativo (P≤0,05) e ns Graus de liberdade 3 1 1 3 3 1 3 6 42 – não significativo (P>0,05), pelo teste F. 2 Quadrado médio 226,000* 2,344* 63,420* 0,105ns 6,858* 3,137* 1,475* 0,329 0,276 6,282 8,36 O desdobramento da interação Época x Híbrido x Ano, proporcionou ajustes quadráticos no ano de 2011 e ajustes lineares em 2012 (Figura 1). No primeiro ano as produções máximas obtidas pelos híbridos RB6324 e Tropical Plus foram 8,2 e 8,1 Mg ha1 , estimadas para os dias julianos 53 (22/02) e 57 (26/02), respectivamente. Por sua vez, em 2012, para cada dia de atraso na época de semeadura (Figura 1), foram observados decréscimos de produtividade de espigas comerciais, estimados pelos coeficientes angulares, da ordem de 208,9 kg ha-1 (RB6324) e 230,9 kg ha-1 (Tropical Plus). Tomando como base a cotação de preço kg-1 das espigas de milho doce nas Centrais Estaduais de Abastecimento (CEASAS) de Campinas (R$ 1,4); Curitiba (R$ 1,9) e Espírito Santo - Vitória (R$ 2,2) em maio/2015, torna-se imperativo afirmar que, no ano agrícola de 2012, para cada dia de defasagem na época de semeadura da lavoura a perda foi de R$ 383 Produtividade (Mg ha -1) dia ha-1 (RB6324) e R$ 423 dia ha-1 (Tropical Plus). 12 9 6 RB6324 2011 3 ____ ♦ ŷ = -0,0056x2 + 0,5929x - 7,5706 R2 = 0,99 - - - ŷ = -0,2089x + 22,310 R2 = 0,92 RB6324 2012 - - ■ ____ Tropical 2011 ŷ = -0,0066x2 + 0,7499x - 13,117 R2 = 0,99 - - - ŷ = -0,2309x + 23,026 R2 = 0,99 Tropical 2012 - - ■ ♦ 0 0 35 49 63 77 91 Dias Julianos Figura 1. Produtividade de espigas comerciais dos híbridos de milho doce RB6324 e Tropical Plus em função da época de semeadura, nas Safrinhas de 2011 e 2012, em Maringá-PR. As acentuadas reduções nas produtividades observadas com a defasagem na época de semeadura do milho doce (Figura 1) podem ser justificadas pelo fato desse retardamento propiciar a ocorrência do florescimento e do enchimento dos grãos em 3 período de dias curtos, baixas temperaturas, e limitada radiação solar (SANS; GUIMARÃES, 2012), ou seja, limitação do dreno (TSIMBA et al., 2013). Os híbridos avaliados não diferiram estatisticamente no ano agrícola de 2011 (Tabela 2). Todavia, verificou diferença entre os anos de cultivos. O ano de 2012 superou 2011 (P≤0,05) em praticamente todas as épocas para ambos os híbridos (Tabela 2). Tabela 2. Produtividade (Mg ha-1) de espigas comerciais dos híbridos de milho doce (Tropical Plus e BR6324) desdobrado dentro de anos agrícolas (2011 e 2012) e anos agrícolas desdobrado dentro de híbridos, em funcão das épocas de semeadura, em Maringá. HÍBRIDOS TROPICAL RB6324 ANOS 2011 2012 2011 E1 7,82 a 8,05 a E2 E3 7,61 a 5,62 a 7,80 a 4,89 a TROPICAL PLUS 7,82 b 7,61 a 5,62 a 11,63 a 8,30 a 5,87 a 2012 E4 0,22 a 0,28 a E1 11,63 a 11,91 a 0,22 b 1,66 a 8,05 b 11,91 a E2 E3 8,30 a 5,87 b 8,62 a 7,80 a RB6324 7,80 b 4,89 b 8,62 a 7,80 a E4 1,66 b 2,44 a 0,28 b 2,44 a Médias seguidas da mesma letra na coluna, para cada combinação de fatores, não diferem em nível de 5% de probabilidade pelo teste F. Épocas de semeadura: E1 = 18/02; E2 = 4/03; E3 = 18/03 e E4 = 1/04. As baixas produtividades de espigas comerciais obtidas no ano de 2011, em relação a 2012, podem ser justificadas pelo fato de 2011 ter apresentado menores amplitudes térmicas. A cinética de desenvolvimento das plantas de milho é favorecida pela ocorrência de amplitudes térmicas, uma vez que temperaturas elevadas prevalecentes no período noturno promovem um consumo energético demasiado, em função do incremento da respiração celular, ocasionando menor saldo de fotoassimilados, com consequente queda na produtividade da cultura (EDREIRA; OTEGUI, 2012). Ademais, a disponibilidade de radiação solar em 2012 superou a de 2011, e conforme Brachtvogel et al. (2009) a radiação solar é um dos fatores climáticos mais influentes sobre a cultura do milho, pois atuam diretamente nas atividades fisiológicas, interferindo na produção de espigas e de grãos. Conclusão A segunda quinzena do mês de fevereiro constitui a época preferencial para a semeadura de milho doce na Safrinha na região Noroeste do Estado do Paraná. 4 Agradecimentos À Capes pela concessão da Bolsa de Doutorado ao primeiro, quinto e sexto autor; ao CNPq pelas Bolsas de Produtividade em Pesquisa conferida aos Professores Pedro Soares Vidigal Filho e Carlos Alberto Scapim; e a Fundação Araucária pelo apoio financeiro na execução do projeto. Referências ARAÚJO, E.F.; ARAÚJO, R.F.; SOFIATTI, V.; SILVA, R.F. Maturação de sementes de milho doce grupo super doce. Revista Brasileira de Sementes, v.28, n.2, p.69-76, 2006. BRACHTVOGEL, E.L.; PEREIRA, F.R.S.; CRUZ, S.C.S.; BICUDO, S.J. Densidades populacionais de milho em arranjos espaciais convencional e equidistante entre plantas. Ciência Rural, v.39, p.2334-2339, 2009. CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento Acompanhamento da safra brasileira de grãos: 7º Levantamento, Abril/2015 - Brasília, v.2, n.7, p.1-100, 2015. Disponível em:<http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/15_04_10_09_22_05_boletim_ graos_abril_2015.pdf> EDREIRA, J.I.R.; OTEGUI, M.E. Heat stress in temperate and tropical maize hybrids: Differences in crop growth, biomass partitioning and reserves use. Field Crops Research, Amsterdam, v.130, n.1, p.87-98, 2012. EMBRAPA. Cultura do milho: sistema de produção. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo 8º. ed. out. 2012. Acesso em: 28 agosto. 2012. Disponível em: <http://www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/milho_8_ed/index.htm> SANS, L.M.A.; GUIMARÃES, D.P. Zoneamento agrícola: cultivo do milho. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo 8º ed. out. 2012. Disponível em: <http://www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/milho_8_ed/zoneamento.htm>. Acesso em: 10 ago. 2014 SOUSA, S.M.; PAES, M.C.D.; TEIXEIRA, F.F. Milho Doce: Origem de Mutações Naturais. Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, 2012. (Documentos, n. 144). 44p. TSIMBA, R.; EDMEADES, G.O.; MILLNER, J.P.; KEMP, P.D. 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