ANÁLISE COMPARATIVA DOS ENROLAMENTOS CAMADA MISTA E DUPLA Adilson Carlos Machado – [email protected] Seção de Desenvolvimento do Produto - WMO Para facilitar o entendimento do trabalho, faremos uma breve introdução a teoria de enrolamentos. RES UMO Neste trabalho explicarei a técnica de substituição dos enrolamentos camada dupla por mista, para os motores de indução trifásicos, mostrando as vantagens desta mudança, conforme descritas abaixo: a) b) c) d) e) Menos Menor Menor Menos Menor 2. ENRO LAMENTO: Entende-se enrolamento como um conjunto de bobinas distribuidas em grupos, sendo cada bobina formada por várias espiras. Quando uma ranhura do estator contém apenas uma bobina, diz-se que é um enrolamento camada única (fig.1), e quando contém duas bobinas, diz-se que é um enrolamento camada dupla (fig.2). O enrolamento camada mista (fig.3), como o próprio nome sugere, é uma mistura dos dois casos, ou seja, algumas ranhuras têm uma só bobina, enquanto outras têm duas (isoladas entre si). O enrolamento camada única pode ser bobinado mecanicamente, enquanto o camada dupla e mista são bobinados manualmente na Weg. A vantagem destes últimos sobre o primeiro é a redução das harmônicas de enrolamento. Por isso são utilizados na maioria dos motores de alto rendimento e especiais. cobre resistência cabeça de bobina isolantes entre camadas tempo de inserção das bobinas 1. INTRODUÇÃO: Os motores trifásicos Weg até 1996 eram bobinados ou em camada única (motores Standard) ou dupla (motores Alto Rendimento e Especiais). Se gundo nosso assessor, Sr. João Pacheco, estávamos desperdiçando cobre nos motores bobinados em camada dupla!!! Passamos a observar também que os concorrentes utilizavam ou camada única (motor standard) ou mista (Alto Rendimento). Daí em diante, fizemos alguns protótipos com enrolamento camada mista em 4 pólos na fábrica III e verificamos a redução imediata no peso de cobre e tempo de inserção das bobinas no estator, além, é claro, da redução de 50% dos isolantes entre camadas (estator com 72 ranhuras). Desta forma, modificamos todos os motores IV pólos desta fábrica para camada mista. O trabalho foi estendido posteriormente às fábricas I e IV nos motores Premium 4 pólos (36 e 48 ranhuras) e mais tarde, foi implantado na carcaça 280/315, 6 pólos (72 ranhuras). O mesmo poderá ser estendido para outras carcaças em 2, 6 e 8 pólos, dependendo apenas de uma análise de processos para definir o isolante entrefases, que deve ser reduzido. 3. DIAGRAMA DE CONDUTORES É definido pela distribuição das bobinas nas ranhuras, seguindo uma regra convencional de sinais para o sentido da corrente elétrica. Como exemplo, analisaremos uma das fases de um motor trifásico, 4 pólos, 72 ranhuras, para os casos de enrolamentos camada dupla e mista (fig. 4). Como podemos observar, os dois diagramas de condutores são idênticos, ou seja, os dois enrolamentos são equivalentes. 9 Fig.3 “ Enrolamento Camada Mista” Passo 1:12:14:16:18 Fig.1 “ Enrolamento Camada Única” Passo 1:14:16:18 Fig.4 “ Diagramas de Bobinagem e Condutores” Obs: No enrolamento camada mista, os dois passos externos têm o dobro de espiras dos passos internos. Fig.2 “ Enrolamento Camada Dupla” Passo 1:12:14:16:18:20:22 10 Para verificarmos as vantagens mencionadas no início deste artigo, tomaremos como exemplo um motor de 450cv, 4pólos, Linha Normal, carcaça 355M/L, 440V, 60Hz, com pacote de chapas de 550 mm, que possui os dados de bobinagem abaixo: Por conseguinte, teremos: Passo 1:12:14:16:18:20:22 Espiras por bobina = 2 Fios = 40 x 1,32 mm Camada Dupla Ligação Paralela b) Cálculo da resistência de fase (Ω Ω) M = 8,9 x 10 -6 x 15646882 M = 139,3 kg R = (ρ . G . C) / (A.a2 ) , onde: ρÚ Resistividade do cobre (17,5 x 10–6 Ω.mm) a Ú Ligação (neste caso, a = 2, paralela) Perímetro de cada passo de bobina: 12 => 1710 mm 14 => 1816 mm 16 => 1932 mm 18 => 2038 mm 20 => 2154 mm 22 => 2260 mm R = (17,5x10 –6 . 4 . 23820) / (54,74 . 4) R = 0,007615 Ω c) Cálculo do fator de enrolamento (Fe ): a) Cálculo da massa de cobre (kg): Fe = |∑(Zi.ejα i)| / ∑|Zi| , onde: M = µ . V , onde: e Ú Nº neperiano (2,7182818...) αi Ú Ângulo elétrico do “ i”ésimo passo µ Ú massa específica do cobre (8,9 x 10 –6 kg/mm 3) V Ú Volume de cobre (mm3 ) ejα i = Cos αi + j.Sen αi α = 360 . p / N1 , onde: V = 3 . G . C . A , onde: p Ú Nº de pares de pólos (neste caso, p=2) N1 Ú Nº de ranhuras do estator 3 Ú Nº de fases (trifásico) G Ú Nº de gr upos por fase (neste caso G=4) C Ú Comprimento total de um grupo (mm) A Ú Área de cobre (mm2 ) α = 360 . 2 / 72 = 10° C = ∑ (Zi.Ci) Os ângulos de cada passo de um grupo de bobinas, para uma fase, são distribuídos conforme abaixo: Zi Ú Nº de espiras da “ i”ésima bobina Ci Ú Perímetro da “ i”ésima bobina Como no enrolamento camada dupla as espiras são iguais, temos: C = Z . ∑(Ci) C = 2 . (1710+1816+1932+2038+2154+2260) C = 23820 mm Fig. 5 “ Ângulos elétricos de cada passo” A área total de cobre é: A = 40 x {¶.1,322 / 4} = 54,74 mm2 Como no enrolamento camada dupla as espiras são iguais, temos: Então: Fe = Z.| ∑(ejα i)| / ∑|Zi| V = 3 . 4 . 23820 . 54,74 V = 15.646.882 mm 3 11 b) Cálculo da resistência de fase (Ω Ω) Sentido “ positivo” da corrente (ver figura 4): j0° e = Cos 0° + jSen 0° = 1,000 ej10° = Cos 10° + jSen 10° = 0,985 + j0,174 ej20° = Cos 20° + jSen 20° = 0,940 + j0,342 ej30° = Cos 30° + jSen 30° = 0,866 + j0,500 ej40° = Cos 40° + jSen 40° = 0,766 + j0,643 ej50° = Cos 50° + jSen 50° = 0,643 + j0,766 ∑(ejα i) (+)............................. = 5,200 + j2,425 R = (ρ . G . C) / (A.a2 ) R = (17,5x10 –6 . 4 . 22932) / (54,74 . 4) R = 0,007331 Ω (-3,7%) c) Cálculo do fator de enrolamento (Fe ): Sentido “ negativo” da corrente: ej160°= Cos160° + jSen160° = -0,940 + j0,342 ej170°= Cos170° + jSen170° = -0,985 + j0,174 ej180°= Cos180° + jSen180° = -1,000 ej190°= Cos190° + jSen190° = -0,985 - j0,174 ej200°= Cos200° + jSen200° = -0,940 - j0,342 ej210°= Cos210° + jSen210° = -0,866 - j0,500 ∑(ejα i) (-)...............................= -5,716 - j0,500 Fig. 6 “ Ângulos elétricos de cada passo” ∑(ejα i) = ∑(ejα i) (+) - ∑(ejα i) (-) = 10,916 + j2,925 Assim como no cálculo do comprimento total de um grupo (C), temos que considerar a fórmula original para o cálculo do fator de enrolamento: |∑(ejα i)|.............................. = 11,301 ∑|Zi| = 24, pois neste motor temos 2 espiras para cada bobina, sendo então um total de 12 no sentido positivo e 12 no negativo. Fe = |∑(Zi.ejα i)| / ∑|Zi| Sentido “ positivo” da corrente: Fe = 0,942 4.ej0° = 4.(Cos 0° + jSen 0°) = 4,000 4.ej10°= 4.(Cos10° + jSen 10°) = 3,939 + j0,695 2.ej20°= 2.(Cos20° + jSen 20°) = 1,879 + j0,684 2.ej30°= 2.(Cos30° + jSen 30°) = 1,732 + j1,000 ∑(ejα i) (+)..................................= 11,552 + j2,379 Faremos os mesmos cáculos, considerando agora o enrolamento camada mista: Sentido “ negativo” da corrente: Fe = 2 x 11,301 / 24 2.ej140°= 2.(Cos140°+jSen140°)= -1,532+j1,286 2.ej150°= 2.(Cos150°+jSen150°)= -1,732+j1,000 4.ej160°= 4.(Cos160°+jSen160°)= -3,759+j1,368 4.ej170°= 4.(Cos170°+jSen170°)= -3,939+j0,696 ∑(Zi.ejα i) (-)................................=-10,962+j4,350 a) Cálculo da massa de cobre (kg): Como as espiras não são iguais em todos os passos, teremos que considerar a fórmula original para o cálculo do comprimento total de um grupo, ou seja: ∑(Zi.ejα i) = ∑(Zi.ejαi)(+) - ∑(Zi.ejα i)(-) = 22,51 - j1,971 C = ∑(Zi.Ci) C = 2x1710 + 2x1816 + 4x1932 + 4x2038 C = 22932 mm |∑(Zi.ejα i)|.............................. = 22,596 V= 3 . G. C. A V = 3 . 4 . 22932 . 54,74 V = 15.063.572 mm 3 Fe = 22,596 / 24 Por conseguinte, teremos: Obs: A igualdade no fator de enrolamento comprova a equivalência dos dois esquemas. Fe = 0,942 M = 8,9 x 10 -6 x 15063572 M = 134,1 kg 4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: (-3,7%) João Pacheco, “Apostila sobre Enrolamentos”, 1995. 12