Aspectos desenvolvidos pela dança: a busca do autodesenvolvimento humano
Bolsista: Luciana Mayumi Kussuda1
Orientadora: Evelyn Lauria Noronha2
Resumo
O artigo é resultado de um projeto voltado para a linha de pesquisa Estética e DançaEducação. Analisa a arte da dança como propiciadora do desenvolvimento humano e
compreende quais os aspectos que a mesma oferece para esse desenvolvimento. Embora a
dança seja vista como uma atividade extra ou mesmo uma diversão, sem ter sua devida
importância, desconhece que a dança é capaz contribuir para o autodesenvolvimento do
dançarino. A idéia da dança, hoje, não se modificou, é executada por uma necessidade
interior, muito mais próxima do campo sentimental que do racional. Expressamos por meio da
dança o que não conseguimos comunicar através de outras linguagens. Porém a dança não
pode ficar somente no campo sentimental ou ser comparada a uma diversão. Visto que é uma
arte que nos torna pessoas mais capazes, comprovada no campo cientifico. No seguimento
físico, a dança torna as pessoas mais habilitadas da coordenação visual e motora podendo
assim, controlar e orientar melhor seu corpo. Na área da percepção, desenvolve os sentidos
antes adormecidos. No seguimento social, juntamente com o seguimento físico são os
desenvolvimentos mais nítidos, pois torna o individuo livre da inibição e timidez, trazendo a
oportunidade de aproximação e comunicação com outras pessoas. A dança desenvolve os
campos da criação, da estética, da moral, e da psicologia, entre outros. Com toda essa lista de
aspectos que a dança é capaz de proporcionar, nota-se a necessidade de incluí-la no ambiente
escolar. Em pesquisa realizada por STRAZZACAPPA (2001) foi comprovado o progresso
dos alunos nas escolas onde a dança foi inserida, tanto na participação das atividades
escolares quanto no comportamento em sala de aula. Foi registrado aqui o resultado de um
questionário aplicado no Centro Cultural Cláudio Santoro direcionado aos professores e
alunos do curso de Dança onde manifestou a satisfação de quem pratica dança. Foi nítido o
desenvolvimento promovido por essa arte, tendo como o maior desenvolvimento na área
social, da interação com outras pessoas da qual afirmam que se tornaram mais confiantes e
acessíveis a novas experiências.
Palavras-chave: Estética, Dança-Educação, Desenvolvimento e Arte.
Introdução
A pesquisa do projeto implica em possibilitar uma construção de um olhar
estéticocrítico
favorecido
através
da
arte
de
dançar,
ressaltando
a
busca
do
autodesenvolvimento humano. A mesma é a arte do corpo onde nos permite criar movimento
1
Aluna da Universidade do Estado do Amazonas cursando o 5° período do curso de Dança.
2
Profª Msc. em Educação pela Universidade Federal do Amazonas.
que em qualquer outro lugar não ousaria executá-lo e é principalmente uma atividade muito
envolvente, pois desperta o prazer do movimento e trabalhar esse movimento corporal libera
os indivíduos de suas couraças, propiciando sensações novas e prazerosas, possibilitando
reflexões e mudanças no autodesenvolvimento humano.
Tem como objetivo identificar aspectos em que a dança pode favorecer o
autodesenvolvimento humano. Em que medida estes podem auxiliar na vida da pessoa que a
pratica.
Especificamente, pretende-se contribuir para uma reflexão sobre o fazer dança e
ensiná-la; propiciar a construção de um olhar estético-crítico ao dançar; e desenvolver a
construção de um novo olhar à arte de dançar a partir do espaço escolar. Justifica-se ao
estudar uma filosofia da sensibilidade humana que é a estética,sendo esta a essência e a
percepção do belo e do feio. Busca-se contribuir para uma reflexão apurada sobre os aspectos
desenvolvidos pela dança a partir do conhecimento da estética.
A abordagem é qualitativa e aborda questões sobre os aspectos de
autodesenvolvimento que a dança proporciona através de um levantamento bibliográfico de
textos da estética, de psicologia e de dança-educação. Conta também, com uma pesquisa na
companhia de dança do Centro Cultural Cláudio Santoro em Manaus-AM que registrou,
através de observação sistemática; através de conversas informais com alunos e professores;
aplicação de questionários com perguntas abertas e fechadas que permitiram compreender o
dançar e as possibilidades do autodesenvolvimento.
Desenvolvimento
A vida, o mundo e o homem manifestam-se por meio do movimento, os movimentos do
homem surgem das emoções particulares de cada um e transforma-se em arte, essa arte,
conhecida como dança. O impulso irresistível do qual leva o homem a dançar, sem dúvida
nasce de uma necessidade interior muito mais próxima do campo espiritual do que físico. Essa
necessidade interior de expressão tem o poder de traduzir certas emoções, sentimentos ou
sensações. Vida interior e expressão corporal são coisas inseparáveis. Visto que não
conseguimos transmitir com clareza aquilo que se propõem sem ter o sentimento necessário
para contagiar aos que assistem, este sentimento, portanto, está contido no íntimo de cada um,
por isso a idéia do movimento surgir de dentro para fora.
Antagonicamente à essa expressão, o que se nota, é que o domínio da arte da
dança, atualmente, obedece a certas regras e convenções em função de um ideal estético
antecipadamente proposto. Esquecendo-se do primordial, que é sentir a dança, sentir os
movimentos e fazê-los com consciência.
Porém, de acordo com VIANNA (2005), é possível pensar a dança além desses
limites, como uma das raras atividades em que o ser humano se engaja plenamente de corpo,
espírito e emoção. As diversas formas artísticas existem para corresponder as diferentes
necessidades de expressão do ser humano e a dança vem dessa necessidade do indivíduo de
comunicar algo.
A arte é indispensável para o conhecimento do homem. Ela existe afim de
beneficiar e contribuir com algo as pessoas. VIANNA (2005) declara que a arte nao é
gratuita: se não aprendo com ela, se nao cresço com ela, é o mesmo que não fazer nada. Platão
já considerava a dança e a música como disciplinas fundamentais na formação do corpo e
alma, isto é, do caráter das crianças e adolescentes. E hoje, em vários campos foi possível ser
verificada a evolução do indivíduo através da arte. É indiscutível a maneira da qual a arte
pode auxiliar no desenvolvimento de uma pessoa. LOWENFELD (1970) afirma que a arte
auxilia em diversas áreas do desenvolvimento do ser humano. No aspecto intelectual, o
indivíduo desenvolve uma consciência gradativa dele mesmo e de seu ambiente, fazendo com
que não atue somente como espectador passivo, que acompanha os fatos, mas sim, um
atuante, ativamente capacitado a realizar suas próprias mudanças.
Auxilia no desenvolvimento físico, capacitando a coordenação visual e motora, na
maneira como controla seu corpo, orienta seu passo e dá expressões aos seus movimentos. O
desenvolvimento perceptual pode ser observado na conscientização de toda variedade de
experiências, revela na sensibilidade às sensações do tato e da pressão; também inclui na
complexa área da percepção espacial; forma, espaço, cores, contextura e experiências visuais
do qual acrescentam numa variedade de estímulos para a expressão. O desenvolvimento social
do indivíduo pode ser facilmente apreciado, pois a arte é considerada um meio primordial da
comunicação tornando assim, livre da inibição e timidez, trazendo a oportunidade de
aproximação e comunicação com outros indivíduos.
No campo do desenvolvimento criador, LOWENFELD (1970), afirma que a
atividade artística não pode ser imposta, ela deve surgir de uma força espiritual interior. As
experiências artísticas sempre foram consideradas a base da atividade criadora, ao passo que
as pessoas não precisam ser habilidosas para serem criadoras. E a dança proporciona o livre
arbítrio para a criação, já que não possui uma regra imposta e possibilita que o individuo,
através do lúdico, torne capaz de inventar a sua própria criação.
Através dos estudos de LOWENFELD pode-se notar os variados campos em que
ocorrem o desenvolvimento no indivíduo que pratica a arte, consequentemente a arte da
dança, fazendo-se assim, necessária a aplicação desta no âmbito escolar para que se permita o
acesso das crianças com a arte.
A dança pode abranger muitas áreas. Há diversas formas de manifestação e
aplicação da linguagem dessa arte. Temos a dança ensinada em escolas especializadas para a
formação profissional de bailarinos; a dança em seu aspecto terapêutico e de reinserção social;
a dança como recreação, ensina por puro prazer; a dança como manifestação de uma cultura; e
a dança ensinada nas redes de ensino a promover a expressão da criança, a dita dança
educativa . A nova LDB, Lei 9.394/96 indica que o ensino da arte constituirá componente
curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos por meios das linguagens das artes visuais, música,
dança e teatro.
Ainda que a dança seja essencial no ensino escolar, raramente a expressão
corporal, a dança e o teatro são abordados na escola. Seja pela tradição da utilização das artes
plásticas, o que é mais comum de se ver, seja pela falta de especialistas da área nas escolas, ou
pelo despreparo do professor; do qual nós, profissionais da área de dança, estamos
caminhando para a mudança deste quadro. Na sociedade capitalista, esses caminhos da busca
da sensibilidade e conhecimentos artísticos são totalmente dispensáveis. Elas não compõem a
realidade em que vivemos. Tudo o que está sendo produzido é à busca do capital, a busca dos
fatos, o consumo imediato das coisas descartáveis ou substituíveis. E a arte em geral, fica de
certa forma, excluída deste padrão, e bem distante do acesso dos alunos, que por bem, deveria
ocorrer o contrário. A dança ainda é pouco conhecida na escola. Contudo, há algumas
instituições onde essa linguagem é trabalhada. Há no Brasil escolas onde a dança é praticada
como parte integrante da grade curricular. No entanto, infelizmente, esses estabelecimentos de
ensino, em sua maioria, não podem ser exemplos de trabalho por vários motivos.
Em sua maioria as escolas da qual a dança é inserida, são instituições de educação
infantil e fundamental, sobretudo pertencentes à rede particular de ensino, o que já exclui
grande parcela dos estudantes. A dança praticada nestas escolas é vista como uma atividade
corporal complementar e somente de caráter feminino, tendo como o seu oposto o Judô, para
os meninos. Deste modo, mesmo que um menino queira fazer aulas de dança não será
permitido, sendo aulas fechadas para meninas, fazendo com que se originem o preconceito
que ate então, as crianças desconheciam. Outro equivoco está no tipo de dança ensinado
nesses estabelecimentos. A maioria das escolas opta pela dança clássica. São aulas de babyclass, como são chamadas as aulas de bale clássico para crianças menores de cinco anos.
Contudo o problema reside no fato da técnica de dança clássica, como qualquer
outra técnica codificada, apresenta passos e formas preestabelecidos. A técnica rígida e
codificada não propõe à criança explorar seus próprios movimentos, pois têm de copiar
modelos prontos de movimentação e encaixar seu corpo e seu movimento em um conforme
esse molde proposto.
LABAN (1974), afirma que há uma fase diferente na educação para cada faixa
etária da criança. Para crianças com idade inferior a sete anos, a dança deve ser incentivada
por meio de atividades lúdicas que promovam a exploração do movimento e do ritmo. Entre
oito e dez anos, a criança ainda deve manter o contato com a dança mais livre, deve ter a
possibilidade de experimentar diferentes movimentações e ritmos, explorar seus próprios
movimentos, criar formas e seqüências em atividades dirigidas pelo professor.
A partir dos onze anos passos codificados e técnicas mais específicas podem
começar a ser ensinado na escola, aos doze anos, a aprendizagem da dança pode ter um
enfoque mais racional (mental) do movimento. Elas (crianças) sentem a necessidade de
danças mais perfeitas e experimentam a sensação de trabalhar para algo definido (LABAN,
1974).
Em estudo realizado por STRAZZACAPPA (2001) para qualificar a importância
da dança nas escolas, foi verificada pelos professores e diretores a diferença nos
comportamento dos alunos. O número de falta, que era elevado, diminuiu consideravelmente.
Tornou-se efetiva a participação dos alunos em atividades escolares, como se, por intermédio
da dança na escola os alunos tivessem reencontrado o prazer de estar naquela instituição e
fazer parte dela. Do mesmo modo, o questionário aplicado neste projeto, no Centro Cultural
Cláudio Santoro, situado em Manaus-AM, teve como resposta a satisfação de quem pratica
dança. Foi nítido o desenvolvimento promovido por essa arte, tendo como o maior
desenvolvimento na área social, da interação com outras pessoas da qual afirmam que se
tornaram mais confiantes e acessíveis a novas experiências. Esse desenvolvimento foi
percebido pelo corpo docente, discente e seus familiares. Os alunos alegaram que através da
dança puderam se desenvolveram nos aspectos da timidez, tornando-se pessoas mais
desinibidas; melhoraram consideravelmente sua coordenação motora; obtiveram uma ampla
consciência corporal; melhoraram sua
cotidiana.
respiração e postura, até mesmo na educação
A comparação feita pelos próprios alunos acerca de como eram antes de exercer
a dança e depois disso constatou que estes eram tímidos e com dificuldade de relacionamentos
fazendo com que se excluíssem de grupos e, tendo assim, poucos amigos; tinham receio de
empreender algo com o medo de errar e isso hoje em dia já não acontece, pois desenvolveram
a confiança em si próprios, fazendo assim, com que aprendessem a lidar com a situação.
Pode-se notar a importância da inclusão da dança como atividade escolar para o
processo do desenvolvimento do individuo desde seus primeiros anos na escola, introduzindo
valores dos quais utilizaram para o resto de suas vidas.
Conclusão
Com todas essas afirmações dos textos científicos, experiências de autores em
escolas, com aplicação do questionário, na cidade de Manaus, não há como opor-se que a
dança contribua para o progresso do ser humano. Por meio dessa arte adquiri-se um
desenvolvimento gradativo, que por fim encontrará alunos mais satisfeitos de freqüentar a
escola, com melhora no rendimento escolar, mudança positiva no comportamento, entre
muitos outros aspectos. Devido à dança ser uma atividade completa que exercita corpo, mente
e alma. Por isso faz-se necessário à introdução dessa arte nas escolas, a fim de que as crianças
tenham acesso a arte e a cultura dentro de seus parâmetros educacionais, sendo estes
resultados desta pesquisa.
Referências Bibliográficas:
FERREIRA, Sueli (org). O Ensino das Artes: Construindo caminhos. Campinas, SP:
Papirus, 2001.
KLAUSS, Viana; CARVALHO, Marco Antonio de. A Dança. 3. ed. São Paulo: Summus,
2005.
LABAN, Rudolf. Dança Educativa Moderna. (tradução Maria da Conceição Parayba
Campos). São Paulo: Ícone, 1990.
LOWENFELD, Viktor. Desenvolvimento da capacidade criadora. 5. ed. São Paulo: Mestre
Jou, 1970.
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