UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE MATEMATICA Hipersuperfı́cies com r-ésima Curvatura Média Constante em Espaços Riemannianos Frederico Vale Girão FORTALEZA-CE Fevereiro de 2004 FREDERICO VALE GIRÃO Hipersuperfı́cies com r-ésima Curvatura Média Constante em Espaços Riemannianos Orientador: Antonio Gervasio Colares FORALEZA-CE Fevereiro de 2004 Aos meus avós João de Deus Girão, Ana Carneiro Girão, Raimundo Nonato do Vale e Maria de Lourdes Farias do Vale. Agradecimentos Aos meus pais José Mário Girão e Salma Vale Girão, e aos meus irmãos Marise Vale Girão e Davidson Vale Girão pela excelente educação que me deram e por todo amor que me foi dado ao longo desses vinte e quatro anos. A todos os meus amigos pelos momentos de alegria que me proporcionaram. Em especial aos amigos Emanuel, Vanessa, Carlos Alexandre, Aline, Felipe, Rodrigo, Danielle, Orlando, Roberto e Rafaela. Aos colegas da Universidade Federal do Ceará, com os quais passei várias horas resolvendo listas de exercı́cios e assistindo aulas. Em especial aos colegas Emanuel, Henrique, Silvana, Valdiane, Tony, Marcelo, Caminha, Fernando, Darlan, Juscelino e Cristiane. Aos Professores Jorge Herbert Soares de Lira, Sebastião Carneiro de Almeida e Antonio Gervasio Colares por participarem da banca. Aos professores da Universidade Federal do Ceará pelo apoio, incentivo e pelos excelentes cursos ministrados. Gostaria de destacar os professores José Fábio Bezerra Montengro pelos cursos de EDP, João Lucas Marques Barbosa pelos excepcionais cursos de Variável Complexa e Geometria Riemanniana, e o professor Antonio Gervásio Colares pela dedicada orientação desde os tempos de graduação e pelos seminários semanais que foram fundamentais para a conclusão desta dissertação. À Andrea Costa Dantas pela ajuda concedida na solução de problemas de ordem burocrática. Ao CNPq pelo suporte financeiro a mim concedido. Aos cristãos do Ministério Alfa e Omega pelos momentos maravilhosos no campus em que estivemos na presença do Espı́rito Santo. À Igreja Betesda da Aldeota e aos meus pastores Domingos Alves e Doralice Alves pelo suporte espiritual e pelas excelentes mensagens pregadas nos cultos. Ao Nosso Senhor Jesus Cristo, por ter levado consigo na cruz todos os meus pecados e ter me lavado com seu sangue santo. A todos vocês, muito obrigado. “Pois sabemos que todas as coisas trabalham juntas para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles a quem Ele chamou de acordo com o seu plano.” Romanos 8.28 Sumário 1 Preliminares 1.1 O Modelo de Minkowski para o Espaço Hiperbólico . . . . 1.1.1 O Espaço de Lorentz-Minkowski . . . . . . . . . . . 1.1.2 O Modelo de Minkowski para o Espaço Hiperbólico 1.2 As r-ésimas Curvaturas Médias . . . . . . . . . . . . . . . 2 As 2.1 2.2 2.3 2.4 Transformações de Newton As Transformações de Newton . . . . . . . . . A Divergência das Transformações de Newton Uma Configuração Geométrica . . . . . . . . . As Transformações de Newton no Bordo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 7 7 8 10 . . . . 14 14 17 22 28 3 Simetria de Hipersuperfı́cies no Espaço Euclidiano 32 3.1 Transversalidade × Elipticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 3.2 Simetria de Hipersuperfı́cies no Espaço Euclidiano . . . . . . . 34 4 Uma Fórmula do Fluxo 39 4.1 Uma Fórmula do Fluxo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 4.2 Estimando a r-ésima Curvatura Média pela Geometria do Bordo 47 1 Introdução Um problema clássico da geometria diferencial consiste em encontrar todas as superfı́cies compactas do espaço euclidiano R3 com curvatura média constante e bordo circular. Como sabemos, um cı́rculo C em R3 é o bordo de duas colotas esféricas com curvatura média constante H para qualquer número positivo H menor ou igual ao inverso do raio do cı́rculo C. Uma questão natural a se perguntar é quando uma superfı́cie compacta de curvatura média constante em R3 cujo bordo é um cı́rculo é necessariamente uma calota esférica. Em [10] Kapouleas deu uma resposta negativa para esta questão. Entretanto, foi conjecturado que a resposta deve ser positiva se for acrescentada a hipótese da superfı́cie ter genus zero ou ser mergulhada. Nos últimos anos, vários geômetras obtiveram resultados parciais com relação a esses problemas. Barbosa em [5] e [6] provou que as únicas superfı́cies imersas compactas com curvatura média constante H 6= 0 e bordo circular que estão contidas em um cilindro ou em uma esfera de raio 1/|H| são as calotas esféricas. Por outro lado, no caso de genus zero, Alı́as, López e Palmer mostraram que as únicas superfı́cies imersas com curvatura média constante estáveis do tipo do disco são as calotas esféricas [3]. A pergunta clássica acima pode ser reenunciada em um contexto mais geral da seguinte forma. Seja Σn−1 uma variedade de dimensão (n − 1) contida em um hiperplano Π ⊂ Rn+1 , e seja M n uma variedade conexa orientável de dimensão n com bordo suave ∂M. Como de costume, M é dita uma hipersuperfı́ce de Rn+1 com bordo Σ se existe uma imesão ψ : M n −→ Rn+1 tal que a imersão ψ restrita ao bordo ∂M é um difeomorfismo sobre Σ. Em [11], Koiso deu uma nova interpretação do problema estudando sob quais condições as simetrias do bordo Σ ⊂ Π de uma hipersuperfı́cie com curvatura média constante não nula M em Rn são herdadas pela hipersuperfı́cie. Em [8], Brito, Sá Earp, Meeks e Rosenberg mostraram que quando Σ é estritamente convexa e M é mergulhada e transversal a Π ao longo de ∂M, então M está inteiramente contida em um dos semi-espaços determinados por Π, e portanto, o Princı́pio da Reflexão de Alexandrov [1] implica que M herda todas as simetrias de Σ. 2 A técnica introduzida em [8] faz uso de dois ingredientes esseciais: o já mensionado Princı́pio da Reflexão de Alexandrov, e uma fórmula integral devida a Kusner [12], que hoje em dia é conhecida como Fórmula do Fluxo. Este fato indica que o resultado de simetria obtido em [8] pode ser extendido de duas formas diferentes: considerando hipersuperfı́cies com curvatura média constante em formas espaciais, ou cosiderando o caso de hipersuperfı́cies com r-ésima curvatura média constante. Em nossa dissertação, a qual foi baseada nos resultados obtidos por Alı́as, Lira e Malacarne em [2], abordamos alguns aspectos do problema clássico acima citado. Em nossa abordagem estudamos o problema em um contexto mais geral. Especificamente, nosso ambiente geral será uma variedade riemanniana conexa orientável M de dimensão (n + 1), onde vamos considerar a seguinte configuração geométrica. Fixemos P n ⊂ M uma hipersuperfı́cie conexa orientável totalmente geodésica de M , e seja Σn−1 ⊂ P uma subvariedade compacta mergulhada de dimensão (n − 1) contida em P n . Considere M n uma variedade orientável conexa de dimensão n com bordo suave ∂M. Então, dizemos que M é uma hipersuperfı́cie de M com bordo Σ se existe uma imersão ψ : M n −→ M tal que a imersão ψ restrita ao bordo ∂M é um difeomorfismo sobre Σ. No primeiro capı́tulo escrevemos sobre alguns temas que ajudam na leitura desta dissertação. Na primeira seção escrevemos sobre o modelo de Minkowski para o espaço hiperbólico Hn . Em tal modelo, Hn é visto como uma hipersuperfı́cie tipo-espaço do espaço de Lorentz Rn+1 . Na segunda seção, definimos n+1 a r−ésima curvatura média de uma hipersuperfı́cie ψ : M n −→ M , onde n+1 M é uma variedade riemanniana conexa orientável de dimensão (n + 1) n e M é uma variedade conexa orientável de dimensão n com bordo suave n+1 ∂M . Nesta seção mostramos ainda que se M tem curvatura seccional constante c, então a segunda curvatura média H2 está relacionada com a curvatura escalar S de M pela seguinte fórmula (equação (1.9)): S = n(n − 1)(c + H2 ). No capı́tulo 2, estudamos as transformações de Newton Tr : X (M ) −→ X (M ). Na primeira seção nós definimos os Tr e demonstramos algumas de suas propriedades. Na segunda seção nós olhamos Tr como um tensor do tipo (1, 1) e calculamos sua divergência através do seguinte lema (Lema 2.2.1): Lema 1 A divergência da transformação de Newton Tr , 0 ≤ r ≤ n, é dada por 0, para r = 0 n X divTr = (1) −A(divT ) − (R(N, Tr−1 ei )ei )> , para 1 ≤ r ≤ n, r−1 i=1 3 onde R é o tensor curvatura de M , e (R(N, V )W )> denota a componente tangencial de (R(N, V )W ). Equivalentemente, para todo X ∈ X (M ), hdivTr , Xi = r X n X (−1)j hR(N, Tr−j ei )ei , Aj−1 Xi. (2) j=1 i=1 Como corolário, obtemos que se M tem curvatura seccional constante, então divM Tr = 0, 0 ≤ r ≤ n. Na terceira seção introduzimos a configuração geométrica já citada acima e fixamos as orientações. Finalmente, na quarta seção nós relacionamos as transformações de Newton de M com as transformações de Newton do bordo ∂M . No capı́tulo 3 provamos resultados de simetria para hipersuperfı́cies do espaço euclidiano. Começamos o capı́tulo com uma seção que relaciona a elipticidade da transformação de Newton Tr com a transversalidade de M e P ao longo do bordo ∂M. O seguinte resultado (Proposição 3.1.1) resume bem o objetivo desta seção. Proposição 1 Seja Σn−1 uma subvariedade orientável compacta de uma n+1 e seja ψ : M n −→ hipersuperfı́cie orientável totalmente geodésica P ⊂ M n+1 M uma hipersuperfı́cie orientável com bordo Σ = ψ(M ). Então cada uma das seguintes hipóteses, individualmente, implicam que M é transversal a P ao longo do bordo ∂M : • Para 1 ≤ r ≤ n − 1, a transformação de Newton Tr é positiva definida em M. • n ≥ 3 e Sn 6= 0 em M. • S2 > 0 em M . Na segunda seção usamos a relação entre transversalidade e elipticidade juntamente com um teorema devido à H. Rosenberg (Teorema 3.2.2) para provarmos o seguinte resultado de simetria (Teorema 3.2.3): Teorema 1 Seja Σn−1 uma subvariedade compacta estritamente convexa de um hiperplano Π ⊂ Rn+1 , e seja ψ : M n −→ Rn+1 uma hipersuerfı́cie compacta mergulhada com bordo Σ. Assuma que para 2 ≤ r ≤ n dado, a r−ésima curvatura média Hr de M é uma constante não nula. Então M possui todas as simetrias de Σ. Em particular, se Σ é uma esfera redonda de Rn+1 , então M é uma calota esférica. Como consequência do Teorema 3.2.3, obtemos os seguintes corolários (Corolários 3.2.1 e 3.2.2): 4 Corolário 1 As únicas hipersuperfı́cies compactas mergulhadas em Rn+1 com r−ésima curvatura média Hr constante (2 ≤ r ≤ n) e bordo esférico são as bolas redondas hiperplanares (com Hr = 0) e as calotas esféricas (com Hr uma constante não nula). Corolário 2 As únicas hipersuperfı́cies compactas mergulhadas em Rn+1 com curvatura escalar constante e bordo esférico são as bolas redondas hiperplanares (com curvatura escalar zero) e as calotas esféricas (com curvatura escalar positiva). O quarto e último capı́tulo é composto de duas seções. Na primeira seção obtemos uma Fórmula do Fluxo para o ambiente geral em que estamos trabalhando, cujo enunciado preciso é o seguinte: n+1 uma hipersuperfı́cie imersa compacta Teorema 2 Seja ψ : M n −→ M n orientável com bordo ∂M, e seja D uma hipersuperfı́cie compacta orientável com bordo ∂D = ∂M. Assuma que M ∪ D é um n-ciclo orientado de M , e sejam N e ND os campos normais unitários que orientam M e D, respectivamente. Se a r-ésima curvatura média Hr é constante, 1 ≤ r ≤ n, então para todo campo conforme Y ∈ X (M ) vale a seguinte igualdade Z Z Z n φHr−1 dM + hdivM Tr−1 , Y idM + r hTr−1 ν, Y ids = r M M ∂M Z Z n n −r Hr hY, ND idD + (n + 1)r Hr φdM , r r D Ω onde ν é o conormal exterior a M ao longo de ∂M e φ é o fator de conformidade do campo Y . Na segunda seção nós utilizamos a Fórmula do Fluxo acima para obter os seguintes teoremas, os quais generalizam uma desigualdade obtida por Barbosa em [5]. Teorema 3 Seja Σn−1 uma subvariedade compacta orientável de um hiperplano P ⊂ Rn+1 e seja ψ : M n −→ Rn+1 uma hipersuperfı́cie imersa conexa compacta orientável com bordo Σ = ψ(∂M ) e r−ésima curvatura média Hr constante, 1 ≤ r ≤ n. Então Z 1 |hr−1 |ds, (3) 0 ≤ |Hr | ≤ n vol(D) ∂M onde hr−1 é a (r − 1)−ésima curvatura média de Σ ⊂ P, e D é o domı́nio em P limitado por Σ. Em Particular, quando Σ é uma (n − 1)−esfera redonda de raio ρ, segue-se que 1 0 ≤ |Hr | ≤ r . (4) ρ 5 Teorema 4 Seja Σ uma subvariedade compacta contida em um hiperplano totalmente geodésico P ⊂ Hn+1 , e seja ψ : M n −→ Hn+1 uma hipersuperfı́cie imersa conexa compacta orientável com bordo Σ = ψ(∂M ) e r-ésima curvatura média Hr constante, 1 ≤ r ≤ n. Então Z C 0 ≤ |Hr | ≤ |hr−1 | ds. n vol(D) ∂M Aqui, hr−1 entende-se pela (r − 1)-ésima curvatura média de Σ ⊂ P , D é o domı́nio em P limitado por Σ, e C = maxΣ cosh(e ρ) ≥ 1, onde ρe(p) é a distância geodésica ao longo de P entre um ponto fixado a ∈ int(D) e p. Em particular, quando Σ é uma esfera geodésica em P de raio geodésico ρ, segue-se que 0 ≤ |Hr | ≤ cothr (ρ). Teorema 5 Seja Σn−1 uma subvariedade compacta orientável contida em um hemisfério aberto totalmente geodésico P+ ⊂ Sn+1 , e seja ψ : M n −→ Sn+1 uma hipersuperfı́cie imersa conexa compacta orientável com bordo Σ = ψ(∂M ) e r−ésima curvatura média Hr constante, 1 ≤ r ≤ n. Então Z C |hr−1 | ds. 0 ≤ |Hr | ≤ n vol(D) ∂M Aqui, hr−1 denota a (r − 1)−ésima curvatura média de Σ ⊂ P , onde D é um domı́nio em P+ limitado por Σ, e C = maxΣ cos(e ρ)/minD cos(e ρ), onde ρe(p) é a distância geodésica ao longo de P+ entre um ponto arbritariamente fixado a ∈ int(D) e p. Em particular, quando Σ é uma esfera geodésica em P+ , de raio geodésico ρ < π/2, segue-se que 0 ≤ |Hr | ≤ cotr (ρ). 6 Capı́tulo 1 Preliminares Neste capı́tulo tratamos de alguns temas que ajudam na leitura desta dissertação. Na primeira seção escrevemos sobre o modelo de Minkowski para o espaço hiperbólico Hn . Em tal modelo, Hn é visto como uma hipersuperfı́cie tipo-espaço do espaço de Lorentz Rn+1 . Na segunda seção, definimos n+1 a r−ésima curvatura média de uma hipersuperfı́cie ψ : M n −→ M , onde n+1 M é uma variedade riemanniana conexa orientável de dimensão (n + 1) n e M é uma variedade conexa orientável de dimensão n com bordo suave n+1 ∂M . Nesta seção mostramos ainda que se M tem curvatura seccional constante c, então a segunda curvatura média H2 está relacionada com a curvatura escalar S de M pela seguinte fórmula (equação (1.9)): S = n(n − 1)(c + H2 ). 1.1 1.1.1 O Modelo de Minkowski para o Espaço Hiperbólico O Espaço de Lorentz-Minkowski Definição 1.1.1 Uma variedade semi-riemanniana (M, h, i) é uma variedade diferenciável M munida de uma métrica h, i com ı́ndice l constante em M (isto é, em cada ponto p ∈ M, a dimensão do maior subespaço no qual h, ip é negativo definido é igual a l). Em outras palavras, dada uma variedade diferenciável M , (M, h, i) é dita uma variedade semi-riemanniana se h, i é um campo de tensores do tipo (0, 2) em M tal que , para cada p ∈ M , h, ip é um produto escalar (isto é, forma bilinear simétrica não-degenerada) em Tp M de ı́ndice l. 7 Definição 1.1.2 Uma variedade de Lorentz (M, h, i) é uma variedade semiriemanniana cuja métrica h, i possui ı́ndice 1. Seja Rn+1 o espaço euclidiano munido da seguinte métrica, chamada de 1 métrica de Lorentz-Minkowski: hu, vi1 := −u0 v0 + n X ui vi , i=1 para u = (u0 , u1 , . . . , un ), v = (v0 , v1 , . . . , vn ). Com esta métrica, Rn+1 = (Rn+1 , h, i1 ) chama-se espaço de Lorentz1 Minkowski. n+1 variedade de Definição 1.1.3 Sejam M n variedade de dimensão n e M n+1 n Lorentz de dimensão (n + 1). Uma imersão ψ : M −→ M , ψ ∈ C ∞ , é dita uma hipersuperfı́cie tipo-espaço se a métrica induzida via ψ em M for uma métrica riemanniana. 1.1.2 O Modelo de Minkowski para o Espaço Hiperbólico Seja Hn ∈ Rn+1 definido por 1 Hn = {x ∈ Rn+1 ; hx, xi1 = −1, x0 > 0}. 1 Temos então que Hn = Q−1 (0) ∩ {x ∈ Rn+1 ; x0 > 0}, onde Q : Rn+1 −→ R é dada por Q(x) = −x20 + x21 + . . . x2n + 1. Temos ∆Q(x) = 2(−x0 , x1 , . . . , xn ). Assim, ∆Q(x) = 0 implica x = 0. Como Q(0) = 1 6= 0, concluı́mos que 0 ∈ R é valor regular de Q. Pelo Teorema de Função Implı́cita, Hn é uma subvariedade de codimensão 1 do Rn+1 . Portanto, ψ : Hn −→ Rn+1 dada por 1 n ψ(p) = p, ∀p ∈ H , é uma hipersuperfı́cie. Seja x ∈ Hn e suponha que existe um subespaço V ⊂ Tx Hn , dimV ≥ 1, tal que h, i1 é negativo definido em V . Considere também o subespaço de Rn+1 gerado por x, o qual chamaremos de W . Como x é ortogonal a Tx Hn , temos que x é ortogonal a V. Assim, o subespaço V + W é um subespaço de Rn+1 com dim(V + W ) ≥ 2 e h, i1 negativo definido em V + W. De fato, se v ∈ V e w ∈ W então hv + w, v + wi1 = hv, vi1 + hw, wi1 ≤ 0, e a igualdade ocorre se e somente se v = 0 e w = 0. Como o ı́ndice de h, i1 é 1, obtemos uma contradição. Logo, Hn é uma hipersuperfı́cie tipo espaço. 8 e e ∇ as conexões de Rn+1 Denotemos por ∇ e Hn respectivamente. Como 1 gij = hei , ej i1 = 1, −1 ou 0, i, j ∈ {0, . . . , n}, os sı́mbolos de Christoffel da e são todos nulos. De fato, conexão ∇ Γm ij = 1X ∂ ∂ ∂ gjk + gki − gij }g km = 0. { 2 k ∂xi ∂xj ∂xk Assim, dados campos quaisquer X= X i xi X ∂ ∂ eY = , yj ∂xi ∂x j j teremos e XY = ∇ X k X(yk ) ∂ , ∂xk (1.1) ou seja, a derivação de campos de vetores em Rn+1 é semelhante à derivação 1 n+1 usual do R . Seja N o vetor posição (que é também o vetor normal) de Hn . Pela expressão (1.1) temos e V N = V, ∀ V ∈ X (Hn ). ∇ Logo, se S é o operador de forma com respeito a N temos e V N = −V, ∀ V ∈ X (Hn ). S(V ) = −∇ Seja B o tensor segunda forma fundamental de Hn . Assim, se X, Y ∈ X (Hn ) então vale a seguinte igualdade hS(X), Y i1 = hB(X, Y ), N i1 . (1.2) Encontramos então que B(X, Y ) = (X, Y )N. Invocando agora a equação de Gauss, obtemos que Hn tem curvatura seccional constante igual a −1. Mostramos assim que Hn é de fato um modelo para o espaço hiperbólico. Proposição 1.1.1 Se a ∈ Hn e v ∈ Ta Hn é tal que hv, vi1 = 1, então a geodésica que parte de a com velocidade v é dada por γ(t) = (cosh t)a + (senh t)v. Demonstração. 9 Temos hγ(t), γ(t)i1 = (cosh t)2 ha, ai1 + 2(senh t)(cosh t)ha, vi1 + (senh t)2 hv, vi1 = −(cosh t)2 + (senh t)2 = −1. Portanto, γ(t) ⊂ Hn . Temos também γ 0 (t) = (senh t)a + (cosh t)v e γ 00 (t) = (cosh t)a + (senh t)v. Assim, ∇γ 0 γ 0 (t) = (γ 00 (t))> = 0. Logo, γ é geodésica. Como γ(0) = a e γ 0 (0) = v, temos que γ(t) é a geodésica que parte de a com velocidade v. 1.2 As r-ésimas Curvaturas Médias n+1 Em vários momentos desta dissertação, M denotará uma variedade riemanniana orientável de dimensão (n + 1), e h, i e ∇ denotarão sua métrica riemanniana e sua conexão de Levi-Civita respectivamente. Seja M n uma variedade conexa orientável de dimensão n com bordo suave ∂M ; dizemos que M é uma hipersuperfı́cie de M se existe uma imersão isométrica n+1 ψ : M n −→ M . Neste caso, como M e M são ambas orientáveis, podemos escolher ao longo de ψ(M ) um campo normal unitário globalmente definido N , e podemos assumir que M é orientada por N . Se ∇ denota a conexão de Levi-Civita de M então as fórmulas de Gauss e Weingarden para a imersão são dadas respectivamente por ∇V W = ∇V W + hA(V ), W iN (1.3) A(V ) = −∇V N (1.4) e para todo par de campos tangentes V, W ∈ X (M ). Aqui A : X (M ) −→ X (M ) define o operador de forma (ou segunda forma fundamental) da hipersuperfı́cie com respeito a N . O tensor curvatura R da hipersuperfı́cie M é descrito em termos de A e do tensor curvatura R do 10 espaço ambiente M pela bem conhecida equação de Gauss, a qual pode ser escrita do seguinte modo: R(U, V )W = (R(U, V )W )> + hA(U ), W iA(V ) − hA(V ), W iA(U ) (1.5) quaisquer que sejam os campos tangentes U, V, W ∈ X (M ), onde > denota a projeção sobre X (M ). Observe que nosso critério de definição do tensor curvatura coincide com o de [15]. Por outro lado, a equação de Codazzi da hipersuperfı́cie descreve a componente normal de R(U, V )W em termos da derivada do operador de forma, e é dada por hR(U, V )W, N i = h(∇V A)U − (∇U A)V, W i (1.6) onde ∇U A denota a derivada covariante de A. Em particular, quando o espaço ambiente tem curvatura seccional constante, então R(U, V )W é tangente a M para quaisquer U, V, W ∈ X (M ), e (1.6) torna-se (∇V A)U = (∇U A)V. (1.7) Como sabemos, A é um operador linear auto-adjunto em cada espaço tangente Tp M e seus auto-valores λ1 (p), . . . , λn (p) são as curvaturas principais de M . Associados ao operador A existem n invariantes algébricos dados por 1 ≤ r ≤ n; Sr (p) = σr (λ1 (p), . . . , λn (p)), onde σr : Rn −→ R é dada por X σr (x1 , . . . , xn ) = xi1 . . . xir i1 <...<ir Observe que det(tI − A) = det t − λ1 .. . t − λn n X (−1)r Sr tn−r . = (1.8) r=0 Definição 1.2.1 A r-ésima curvatura média Hr da hipersuperfı́cie M é definida por nr Hr = Sr . Em particular, H1 = n1 Sn , a curvatura média de M , a qual é a principal curvatura extrı́nseca da hipersuperfı́cie. Por outro lado, quando r = 2, H2 define um ente geométrico o qual está relacionado com a curvatura escalar 11 (intrı́nseca) da hipersuperfı́cie. De fato, seja e1 , e2 , . . . , en uma referencial local ortonormal em M n . Por (1.5), hR(X, ej )Y, ej i = hR(X, ej )Y, ej i+hA(X), Y ihA(ej ), ej i−hA(ej ), Y ihA(X), ej i, para quaisquer X, Y ∈ X (M ), 1 ≤ j ≤ n. Logo, como e1 , . . . , en , N é um n+1 referencial local ortonormal em M , temos Ric(X, Y ) = Ric(X, Y ) − hR(X, N )Y, N i n n X X +hA(X), Y i hA(ej ), ej i − hA(ej ), Y ihA(X), ej i. j=1 onde Ric(X, Y ) = j=1 n X hR(X, ei )Y, ei i i=1 e Ric(X, Y ) = n X hR(X, ei )Y, ei i + hR(X, N )Y, N i i=1 definem, respectivamente, os tensores de Ricci Ric e Ric de M n e M outro lado, n X hA(ej ), Y ihA(X), ej i = j=1 = n X n+1 . Por hej , A(Y )ihej , A(X)i j=1 n X hej , A(Y )ihek , A(X)iδjk j,k=1 n X = h hej , A(Y )iej , j=1 n X hek , A(X)iek i k=1 = hA(Y ), A(X)i. Assim, Ric(X, Y ) = Ric(X, Y ) − hR(X, N )Y, N i +tr(A)hA(X), Y i − hA(X), A(Y )i, ∀ X, Y ∈ X (M ). 12 Logo, n X Ric(ej , ej ) = n X j=1 Ric(ej , ej ) + Ric(N, N ) − Ric(N, N ) + j=1 − − n X j=1 n X hR(ej , N )ej , N i + tr(A) n X hA(ej ), ej i + j=1 hA(ej ), A(ej )i. j=1 Cabe agora registrar a definição de curvatura escalar de M n e M respectivamente, como n X S := Ric(ei , ei ) n+1 , i=1 e S := n X Ric(ei , ei ) + Ric(N, N ), i=1 onde e1 , . . . , en é um referencial local ortonormal em M n que diagonaliza o operador de forma A num ponto p ∈ M , isto é, A(ei ) = λi ei , i = 1, . . . n, obtemos n n X X S = S − 2Ric(N, N ) + ( λi )2 − λ2i , i=1 i=1 ou ainda, como n n X X X 2 ( λi ) − λ2i = 2 λ i λj , i=1 i=1 1≤i<j≤n obtemos S = S − 2Ric(N, N ) + n(n − 1)H2 . Se o espaço ambiente tiver curvatura seccional c então S = n(n − 1)(c + H2 ). 13 (1.9) Capı́tulo 2 As Transformações de Newton Neste capı́tulo estudamos as transformações de Newton Tr : X (M ) −→ X (M ). Na primeira seção nós definimos os Tr e demonstramos algumas de suas propriedades. Na segunda seção nós olhamos Tr como um tensor do tipo (1, 1) e calculamos sua divergência através do Lema 2.2.1. Como corolário, obtemos que se M tem curvatura seccional constante, então divM Tr = 0, 0 ≤ r ≤ n. Na terceira seção introduzimos uma configuração geométrica e fixamos as orientações. Finalmente, na quarta seção nós relacionamos as transformações de Newton de M com as transformações de Newton do bordo ∂M . 2.1 As Transformações de Newton As transformações de Newton Tr : X (M ) −→ X (M ) são definidas indutivamente por T0 = I, Tr = Sr I − ATr−1 , 1 ≤ r ≤ n. Proposição 2.1.1 Vale a seguinte fórmula para Tr : Tr = r X (−1)i Sr−i Ai , 0 ≤ r ≤ n. i=0 Demonstração. Faremos indução sobre r . Para r = 0 a proposição é válida pois T0 = I = 0 X (−1)i Sr−i Ai . i=0 Para r = 1 a proposição é válida pois T1 = S1 I − AI = 1 X i=0 14 (−1)i Sr−i Ai . Suponha que a proposição seja válida para todo r pertencente a {1, . . . , (j − 1)}, com 2 ≤ j ≤ n. Provemos que a proposição é válida para r = j. Por definição temos Tj = Sj I − ATj−1 . Mas, por hipótese de indução, Tj−1 = j−1 X (−1)i Sr−i Ai . i=0 Substituindo encontramos Tj = Sj I − A j−1 X i i (−1) Sr−i A = i=0 j X (−1)i Sr−i Ai . i=0 Logo, a proposição é válida para todo 0 ≤ r ≤ n. Observação. Pelo Teorema de Cayley-Hamilton, Tn = 0. Corolário 2.1.1 Em cada ponto p ∈ M, Tr : Tp M −→ Tp M é um operador linear auto-adjunto que comuta com o operador linear A. Proposição 2.1.2 Seja e1 , . . . , en um referencial móvel ortonormal em uma vizinhança de p ∈ M n que diagonaliza o operador de forma A em p, isto é, A(ei ) = λi ei , i = 1, . . . , n. Então, em p ∈ M, (i) Tr (ei ) = µi,r ei , X λi1 . . . λir , 1 ≤ r ≤ n i1 <...<ir onde µi,r = ; i 6=i j 1, r=0 (ii) tr(Tr ) = (n − r)Sr = cr Hr ; (iii) tr(ATr ) = (r + 1)Sr+1 = cr Hr+1 ; para todo 0 ≤ r ≤ n, onde cr = (n − r) 15 n r = (r + 1) n r+1 . Demonstração. (i) Fixemos i, 1 ≤ i ≤ n, e apliquemos indução sobre r. Se r = 0 então Tr (ei ) = I(ei ) = µi,0 ei . Se r = 1 então Tr (ei ) = (S1 I − AT0 )(ei ) = S1 ei − A(ei ) = (λ1 + . . . + λn )ei − λi ei = µi,1 ei . Suponha que (i) vale para todo r ∈ {1, . . . , j − 1}, com 2 ≤ j ≤ n. Provemos que (i) vale para r = j. Temos Tj (ei ) = Sj ei − ATj−1 (ei ) X = λi1 . . . λij ei − i1 <...<ij X λi1 . . . λij−1 A(ei ) i1 <...<ij−1 il 6=i X X λi1 . . . λij − = i1 <...<ij X = λi1 . . . λij ei i1 <...<ij il 6=i = µi,j ei . Logo, (i) vale para todo 0 ≤ r ≤ n. (ii) Temos tr(Tr ) = n X hTr (ei ), ei i i=1 = = n X i=1 n X i=1 µi,r X λi1 . . . λir i1 <...<ir ij 6=i = (n − r) X i1 <...<ir = (n − r)Sr = (n − r)cr Hr . (iii) 16 λi1 . . . λij−1 λi ei i1 <...<ij−1 il 6=i λi1 . . . λir Usando (ii) obtemos tr(ATr ) = = = = tr(Sr+1 I) − tr(Tr+1 ) nSr+1 − [n − (r + 1)]Sr+1 (r + 1)Sr+1 cr Hr+1 . 2.2 A Divergência das Transformações de Newton Olhando Tr como um campo de tensores do tipo (1, 1) em M n temos (∇X Tr ) (Y ) = ∇X (Tr Y ) − Tr (∇X Y ) Definição 2.2.1 A divergência da transformação de Newton Tr , 0 ≤ r ≤ n, é o vetor divTr dado por divTr = n X (∇ei Tr ) (ei ), i=1 onde e1 , . . . , en é um referencial ortonormal local em M n . Proposição 2.2.1 Seja T : X (M ) −→ X (M ) um campo de tensores do tipo (1, 1) em M tal que, em cada ponto p ∈ M, Tr : Tp M −→ Tp M é um operador linear auto-adjunto. Então, para todo campo de vetores E ∈ X (M ), o campo de tensores ∇E T : X (M ) −→ X (M ), do tipo (1, 1) em M, define, em cada ponto p ∈ M, um operador linear auto-adjunto ∇E T : Tp M −→ Tp M. Demonstração. Temos h(∇E T ) (X), Y i = h∇E (T X) − T (∇E X) , Y i = EhT X, Y i − hT X, ∇E Y i − h∇E X, T Y i = EhT X, Y i + hX, −T (∇E Y )i + −EhX, T Y i + hX, ∇E (T Y )i = hX, ∇E (T Y ) − T (∇E Y )i = hX, (∇E T ) (Y )i, para todos X, Y ∈ X (M ). 17 Proposição 2.2.2 Para todo X ∈ X (M ) vale a seguinte equação h∇Sr , Xi = tr (Tr−1 ∇X A) . (2.1) Demonstração. Seja e1 , . . . , en um referencial ortonormal local em M n que diagonaliza o operador A em um ponto p ∈ M n . Denotemos por Ai1 ...ir a matriz r×r obtida quando consideramos apenas as filas (linhas e colunas) de ordem i1 , . . . , ir de A no referencial e1 , . . . , en ; e por vji1 ...ir , j = {1, . . . , r}, a j-ésima coluna da matriz Ai1 ...ir . Temos X Sr = det(Ai1 ...ir ) i1 <...<ir X = det(vii11 ...ir , . . . , viir1 ...ir ). i1 <...<ir Assim, X(Sr ) = X X(det(vii11 ...ir , . . . , viir1 ...ir )). i1 <...<ir Mas X(det(vii11 ...ir , . . . , viir1 ...ir )) = r X det(vii11 ...ir , . . . , X(viij1 ...ir ), . . . , viir1 ...ir ), j=1 que em p é igual a r X λi1 . . . X(aij ij ) . . . λir . j=1 Temos também (∇X A) (ei ) = ∇X (Aei ) − A (∇X ei ) ! n n n X X X = ∇X aki ek − h∇X ei , ej i asj es k=1 = n X j=1 (X(aki )ek + aki ∇X ek ) − = = k=1 n X k=1 h∇X ei , ej iasj es j=1 s=1 k=1 n X s=1 n n XX X(aki )ek + aki X(aki )ek + n X ! h∇X ek , el iel − n X n X h∇X ei , ej iasj es l=1 n n XX j=1 s=1 n X n X l=1 k=1 s=1 j=1 aik h∇X ek , el iel − 18 h∇X ei , ej iasj es . Em p temos tr (Tr−1 ∇X A) = = n X i=1 n X hTr−1 ((∇X A) ei ) , ei i h(∇X A)ei , Tr−1 ei i i=1 = n X h(∇X A) ei , µi,r−1 ei i i=1 = n X X(aii ) + i=1 = n X n X h∇X ek , ei iaki − X(aii )µi,r−1 + ! h∇X ei , ej iaij µi,r−1 j=1 k=1 i=1 n X n X n X i=1 k=1 h∇X ek , ei iaik − n X ! h∇X ei , ej iaij j=1 Mas em p n n X X i=1 h∇X ek , ei iaik − n X ! h∇X ei , ej iaij µi,r−1 = 0. j=1 k=1 Logo, tr (Tr−1 ∇X A) = n X X(aii ) i=1 λi1 . . . λir i1 <...ir ij 6=i n X X = X λi1 . . . X(aij ij ) . . . λir i1 <...<ir j=1 = Xp (Sr ). Lema 2.2.1 A divergência da transformação de Newton Tr , 0 ≤ r ≤ n, é dada por 0, para r = 0 n X divTr = (2.2) −A(divT ) − (R(N, Tr−1 ei )ei )> , para 1 ≤ r ≤ n, r−1 i=1 onde R é o tensor curvatura de M , e (R(N, V )W )> denota a componente tangencial de (R(N, V )W ). Equivalentemente, para todo X ∈ X (M ), hdivTr , Xi = r X n X (−1)j hR(N, Tr−j ei )ei , Aj−1 Xi. j=1 i=1 19 (2.3) µi,r−1 . Demonstração. Temos (∇X I) (Y ) = ∇X (I(Y )) − I (∇X Y ) = ∇X Y − ∇X Y = 0. Assim, divT0 = divI = n X (∇ei I) ei = 0. i=1 Para r ≥ 1 temos (∇X Tr ) (Y ) = (∇X Sr I) (Y ) − (∇X ATr−1 ) (Y ) = X(Sr )I(Y ) + Sr (∇X I) (Y ) − (∇X A) (Tr−1 Y ) − A ((∇X Tr−1 ) Y ) = h∇Sr , Xi − (∇X A) (Tr−1 Y ) − A ((∇X Tr−1 ) Y ) . Logo, divTr = n X h∇Sr , ei iei − i=1 = ∇Sr − n X (∇ei A) (Tr−1 ei ) − A i=1 n X n X ! (∇ei Tr−1 ) (ei ) i=1 (∇ei A) (Tr−1 ei ) − A(divTr−1 ). i=1 Mas h(∇ei A) (Tr−1 ei ), Xi = h(∇ei A) X, Tr−1 ei i = h(∇X A) ei , Tr−1 ei i + hR(X, ei )Tr−1 ei , N i = hTr−1 ((∇X A) ei ) , ei i + hR(N, Tr−1 ei )ei , Xi. onde na segunda igualdade usamos a equação de Codazzi (equação 1.6). Portanto, n X hdivTr , Xi = h∇Sr , Xi−tr(Tr−1 ∇X A)−h R(N, Tr−1 ei )ei , Xi−hA(divTr−1 ), Xi. i=1 Utilizando agora a equação (2.1), obtemos (2.2). Provemos que (2.2) implica (2.3). Temos hdivT1 , Xi = − = n X hR(N, ei )ei , Xi i=0 1 n XX (−1)j hR(N, T1−j ei , Aj−1 Xi. j=1 i=1 20 Sendo hdivTr−1 , Xi = r−1 X n X (−1)j hR(N, Tr−1−j ei )ei , Aj−1 Xi j=1 i=1 nossa hipótese de indução, temos hdivTr , Xi = −hA(divTr−1 ) + n X (R(N, Tr−1 ei )ei )> , Xi i=1 = −hdivTr−1 , AXi − n X hR(N, Tr−1 ei )ei , Xi i=1 = − = = r−1 X n X j j (−1) hR(N, Tr−1−j ei )ei , A Xi − j=1 i=1 r n XX hR(N, Tr−1 ei )ei , Xi i=1 j−1 j (−1) hR(N, Tr−j ei )ei , A j=2 i=1 r X n X n X Xi − n X hR(N, Tr−1 ei )ei , Xi i=1 (−1)j hR(N, Tr−j ei )ei , Aj−1 Xi. j=1 i=1 Portanto, (2.2) implica (2.3). Provemos agora que (2.3) implica (2.2). Temos hdivTr , Xi = = = r X n X j=1 i=1 n X (−1)j hR(N, Tr−j ei )ei , Aj−1 Xi 1 (−1) hR(N, Tr−1 ei )ei , Xi + i=1 n X r X n X (−1)j hR(N, Tr−j ei )ei , Aj−1 Xi j=2 i=1 (−1)1 h(R(N, Tr−1 ei )ei )> , Xi + i=1 r−1 X n X − = − (−1)j−1 hR(N, Tr−1−(j−1) ei )ei , A(j−1)−1 (AX)i j−1=1 i=1 n X h(R(N, Tr−1 ei )ei )> , Xi − hdivTr−1 , AXi i=1 n X = h− (R(N, Tr−1 ei )ei )> − A(divTr−1 ), Xi, ∀ X ∈ X (M ). i=1 Logo, (2.3) implica (2.2). 21 Corolário 2.2.1 Se M tem curvatura seccional constante igual a c, então divTr = 0, ∀ 0 ≤ r ≤ n. Demonstração. Basta notar que R(X, Y, W, Z) = c(hX, W ihY, Zi − hY, W ihX, Zi), ∀ X, Y, Z, W ∈ X (M ). 2.3 Uma Configuração Geométrica n+1 n+1 Seja P n ⊂ M uma hipersuperfı́cie orientável de M e Σn−1 ⊂ P uma subvariedade compacta, mergulhada, orientável de P. n+1 uma hipersuperfı́cie conexa e orientável de M Seja ψ : M n −→ M com bordo suave ∂M. Dizemos que M é uma hipersuperfı́cie com bordo Σ se ψ : ∂M −→ Σ é um difeomorfismo sobre Σ. Tal configuração sugere a ∂M seguinte questão: Como a geometria de M ao longo do seu bordo ∂M está relacionada com a geometria da inclusão Σ ⊂ P e da inclusão P ⊂ M? Consideremos M orientada por um campo normal unitário globalmente definido N. Assim, uma base {v1 , . . . , vn } ⊂ Tp M é positiva se, e somente se, det(v1 , . . . , vn , N ) > 0. Por outro lado, dado p ∈ ∂M, uma base {v1 , . . . , vn−1 } ⊂ Tp ∂M é positiva se, e somente se, {u, v1 , . . . , vn−1 } é base positiva de M, para todo u ∈ Tp M apontando para fora de ∂M, ou seja, se det(u, v1 , . . . , vn−1 , N ) > 0, ∀u ∈ Tp ∂M apontando para fora. Denotemos por ν o vetor conormal exterior ao longo de ∂M. Via o difeo morfismo ψ : ∂M −→ Σ, a orientação do bordo é induzida em cada com∂M ponente conexa de Σ. Em cada componente conexa P0 de P, distinguimos uma componente conexa Σ0 ⊂ P0 de Σ. Como Σ é uma subvariedade orientável de P0 , existe η0 campo normal unitário a Σ0 em P0 globalmente definido. 22 Seja agora ξ0 o único campo normal unitário a P0 em M o qual é compatı́vel com η0 e com a orientação de Σ0 , ou seja , se {v1 , . . . , vn−1 } é uma base positiva de Σ0 então det(η0 , v1 , . . . , vn−1 , ξ0 ) > 0. Notemos que a orientação de P0 dada por ξ0 determina uma única escolha para o campo unitário η normal a cada componente de Σ em P0 e tal que η = η0 e det(η, v1 , . . . , vn−1 , ξ0 ) > 0. Σ0 Repetimos este processo para as outras componentes conexas de P e obtemos campos unitários η normal a Σ em P e ξ normal a P em M . Com esta escolha, dado um ponto p ∈ Σ, uma base {v1 , . . . , vn−1 } para Tp M é positiva se e somente se {η(p), v1 , . . . , vn−1 } é uma base positiva de Tp P. Seja {e1 , . . . , en−1 } um referencial ortonormal local positivamente orientado ao longo de uma componente conexa de ∂M. Veja que det(ν, e1 , . . . , en−1 , N ) = 1 = det(η, e1 , . . . , en−1 , ξ). Assim, ν = e1 × . . . × en−1 × N e η = e1 × . . . × en−1 × ξ. Temos então η = e1 × . . . × en−1 × ξ = e1 × . . . × en−1 × (hξ, νiν + hξ, N iN ) = hξ, N iν − hξ, νiN, ou seja, hη, νi = hξ, N i hη, N i = −hξ, νi (2.4) Seja AΣ o operador de forma de Σn−1 ⊂ P n com respeito a η e seja AP o n+1 com respeito a ξ. Segue-se então que operador de forma de P n ⊂ M ∇ei ej = = n−1 X k=1 n−1 X h∇ei ej , ek iek + h∇ei ej , νiν + h∇ei ej , N iN h∇ei ej , ek iek + h∇ei ej , νiν + hAei , ej iN k=1 23 e ∇ei ej = = n−1 X k=1 n−1 X h∇ei ej , ek iek + h∇ei ej , ηiη + h∇ei ej , ξiξ h∇ei ej , ek iek + hAΣ ei , ej iη + hAP ei , ej iξ k=1 De (2.4) encontramos hAei , ej i = −hAΣ ei , ej ihξ, νi + hAP ei , ej ihξ, N i. (2.5) De agora em diante, assumiremos que P é uma hipersuperfı́cie totalmente umbı́lica de M . Portanto, existe uma função suave λ ∈ C ∞ (P ) tal que AP = λI, onde I denota a identidade em X (P ). A equação (2.5) toma então a seguinte forma hAei , ej i = −hAΣ ei , ej ihξ, νi + λhξ, N iδij , 1 ≤ i, j ≤ n − 1. (2.6) Fixado p ∈ ∂M, podemos supor que a base {e1 , . . . , en−1 } ⊂ Tp (∂M ) foi escolhida como sendo formada por autovetores de AΣ . Denotemos os autovalores correspondentes por τ1 (p), . . . , τn−1 (p). Em outras palavras, AΣ ei = τi ei , 1 ≤ i ≤ n − 1. De (2.6) temos então que hAei , ej i = 0 quando i 6= j, e para cada p ∈ ∂M, a matriz de A na base ortonormal {e1 , . . . , en−1 , ν} de Tp M é dada por γ1 0 ··· 0 hAν, e1 i 0 γ2 ··· 0 hAν, e2 i . . . . . . . . . . A= (2.7) , . . . . . 0 0 ··· γn−1 hAν, en−1 i hAν, e1 i hAν, e2 i · · · hAν, en−1 i hAν, νi onde γi = −τi hξ, νi + λhξ, N i, 1 ≤ i ≤ n − 1. Vamos agora calcular o polinômio caracteristico de A. Para fazer isto, começamos por observar que det(tIn − A) = (t − γn−1 )det(tIn−1 − Λ(γ1 , . . . , γn−2 )) −hAν, en−1 i2 (t − γ1 ) . . . (t − γn−2 ), 24 (2.8) onde Λ(γ1 , . . . , γn−2 ) = γ1 0 .. . ··· ··· .. . 0 γ2 .. . hAν, e1 i hAν, e2 i .. . 0 0 .. . . 0 0 ··· γn−2 hAν, en−2 i hAν, e1 i hAν, e2 i · · · hAν, en−2 i hAν, νi Proposição 2.3.1 O polinômio caracterı́stico de A em um ponto do bordo é dado por det(tIn − A) = (t − hAν, νi) − n−1 X n−1 X (−1)i si (γ)tn−1−i i=0 n−2 X 2 hAν, ei i i=1 (−1)j sj (γbi )tn−2−j , j=0 onde os sr (γ) (respectivamente sr (b γi )) denotam as funções siméricas elementares de γ1 , . . . , γn−1 , (respectivamente γ1 , . . . , γ bi , . . . , γn−1 ), e, como de costume, s0 (γ) = s0 (b γi ) = 1 por definição. Demonstração. Se n = 2 então (tIn − A) = (t − γ1 ) hAν, e1 i hAν, e1 i (t − hAν, νi) e portanto, det(tIn − A) = (t − γ1 )(t − hAν, νi) − hAν, e1 i2 1 0 1 X X X i 2−1−i 2 = (t − hAν, νi) (−1) si (γ)t − hAν, ei i sj (γbi )t2−2−j , i=0 i=1 j=0 pois 1 X (−1)i si (γ)t2−1−i = t − γ1 i=0 e 0 X (−1)j sj (γb1 )t2−2−j = 1. j=0 Pela equação (2.8) temos det(tIn+1 −A) = (t−γn )det(tIn −Λ(γ1 , . . . , γn−1 ))−hAν, en i2 (t−γ1 ) . . . (t−γn−1 ). 25 Mas, por hipótese de indução, det(tIn − Λ(γ1 , . . . , γn−1 )) = (t − hAν, νi) − n−1 X n−1 X (−1)i si (γbn )tn−1−i + i=0 n−2 X 2 hAν, ei i n−2−j (−1)j sj (γc . i,n )t j=0 i=1 Substituindo encontramos " n−1 X det(tIn+1 − A) = (t − hAν, νi) t " −t +γn n−1 X (−1)i si (γbn )tn−1−i − γn i=0 n−2 X 2 hAν, ei i (−1)i si (γbn )tn−1−i + n−2−j (−1)j sj (γc i,n )t j=0 n−1 X n−2 X i=1 # i=0 i=1 hAν, ei i2 n−1 X # n−2−j (−1)j sj (γc + i,n )t j=0 2 −hAν, en i (t − γ1 ) . . . (t − γn−1 ). Chamemos " t n−1 X (−1)i si (γbn )tn−1−i − γn i=0 n−1 X # (−1)i si (γbn )tn−1−i i=0 de p(t). Para 1 ≤ i ≤ n − 1, temos que o coeficiente de tn−i em p(t) é (−1)i si (γbn ) − γn (−1)i−1 si−1 (γbn ) = (−1)i [si (γbn ) + γn si−1 (γbn )] = (−1)i si (γ). O coeficiente de tn em p(t) é (−1)0 s0 (γbn ) = 1 = (−1)0 s0 (γ), e o coeficiente de t0 em p(t) é −γn (−1)n−1 sn−1 (γbn ) = (−1)n sn (γ). Logo, p(t) = n X (−1)i si (γ)tn+1−1−i . i=0 26 Chamemos " −t n−1 X hAν, ei i2 n−2 X i=1 n−2−j (−1)j sj (γc + γn i,n )t n−1 X j=0 hAν, ei i2 i=1 n−2 X # n−2−j (−1)j sj (γc i,n )t j=0 de q(t). Para 1 ≤ j ≤ n − 2, temos que o coeficiente de tn−1−j em q(t) é − n−1 X hAν, ei i2 (−1)j sj (γc i,n ) + i=1 +γn n−1 X 2 j−1 hAν, ei i (−1) sj−1 (γc i,n ) = − i=1 n−1 X hAν, ei i2 (−1)j (sj (γc i,n ) + γn sj−1 (γc i,n )) i=1 = − n−1 X hAν, ei i2 (−1)j sj (γbi ). i=1 O coeficiente de t0 em q(t) é γn n−1 X 2 n−2 hAν, ei i (−1) sn−2 (γc i,n ) = − i=1 n−1 X hAν, ei i2 (−1)n−1 sn−1 (γbi ), i=1 e o coeficiente de tn−1 em q(t) é − n−1 X 2 0 hAν, ei i (−1) s0 (γc i,n ) = − i=1 n−1 X hAν, ei i2 (−1)0 s0 (γbi ). i=1 Chamemos −hAν, en i2 (t − γ1 ) . . . (t − γn−1 ) de r(t). Usando que r(t) = −hAν, en i n−1 X (−1)j sj (γbn )tn−1−j , j=0 encontramos det(tIn+1 −A) = (t−hAν, νi) n X i n−1−i (−1) si (γ)t i=0 n n−1 X X 2 (−1)j sj (γbi )tn−1−j , − hAν, ei i i=1 j=0 como querı́amos. 27 Comparando os termos dos polinômios acima, concluı́mos de (1.8) que as funções Sr da hipersuperfı́cie M em um ponto p ∈ M são dadas por S1 = s1 (γ) + hAν, νi S2 = s2 (γ) + s1 (γ)hAν, νi − (2.9) n−1 X hAν, ei i2 i=1 n−1 X Sr = sr (γ) + sr−1 (γ)hAν, νi − (2.10) sr−2 (γbi )hAν, ei i2 , 3 ≤ r ≤ n.(2.11) i=1 2.4 As Transformações de Newton no Bordo Lema 2.4.1 Seja P n ⊂ M uma hipersuperfı́cie orientável totalmente umbı́lica de M e seja Σn−1 ⊂ P uma subvariedade compacta orientável de P n . Seja n+1 ψ : M n −→ M uma hipersuperfı́cie conexa orientável com bordo Σ = ψ(∂M ), e denote por ν o campo conormal exterior ao longo de ∂M. Então, ao longo do bordo ∂M e para cada 1 ≤ r ≤ n − 1, vale (2.4.1A) (2.4.1B) hTr ν, νi = sr (γ) = sr (γ1 , . . . , γn−1 ) e hTr ν, ei i = −hAν, ei isr−1 (γbi ), ∀ 1 ≤ i ≤ n − 1, onde γi = −τi hξ, νi + λhξ, N i. Aqui, τ1 , . . . , τn−1 são as curvaturas principais de Σ ⊂ P com respeito ao campo normal unitário η, N é o campo normal unitário de M , ξ é o campo normal unitário de P ⊂ M e λ é o fator de umbilicidade de P ⊂ M (com respeito a ξ). Demonstração. Faremos indução sobre r. Observemos que de (2.9) segue (2.4.1 A) para r = 1. De fato, hT1 ν, νi = hS1 ν − Aν, νi = S1 − hAν, νi = s1 (γ). Para 1 ≤ i ≤ n − 1 temos hT1 ν, ei i = hS1 ν − Aν, ei i = −hν, ei i = −hAν, ei is0 (γbi ). Logo, (2.4.1A) vale para r = 1. 28 Fixado 2 ≤ r ≤ n − 1, suponha que hTj ν, νi = sj (γ) hTj ν, ei i = −hAν, ei isj−1 (γbi ), ∀ 1 ≤ i ≤ n − 1. para todo 1 ≤ j ≤ r − 1. Observe que Aν = n−1 X hAν, ei iei + hAν, νiν. i=1 Temos hTr ν, νi = hSr ν − ATr−1 ν, νi = Sr − hTr−1 ν, Aνi = Sr − hTr−1 ν, νihAν, νi − = Sr − sr−1 (γ)hAν, νi + n−1 X hTr−1 ν, ei ihAν, ei i i=1 n−1 X hAν, ei i2 sr−2 (γbi ) i=1 = sr (γ), onde na penúltima igualdade usamos a hipótese de indução e na última igualdade usamos a equacão (2.11). Provamos assim que (2.4.1A) vale para j = r. Temos também hTr ν, ei i = hSr ν − ATr−1 ν, ei i = −hTr−1 ν, Aei i. Mas por (2.7) temos que Aei = γi ei + hAν, ei iν. Portanto, hTr ν, ei i = −γi hTr−1 ν, ei i − hAν, ei ihTr−1 ν, νi = γi hAν, ei isr−2 (γbi ) − sr−1 (γ)hAν, ei i = −hAν, ei isr−1 (γbi ), ∀ 1 ≤ i ≤ n − 1, onde na segunda equação usamos a hipótese de indução. Provamos assim a validade de (2.4.1B) para j = r. 29 Agora, resta saber como as funções simétricas elementares sr (γ) podem ser expressas em termo das curvaturas principais τ1 , . . . , τn−1 da inclusão Σ ⊂ P e do fator de umbilicidade λ de P ⊂ M . Para vermos isto, escrevanos γi = αi + β, onde αi = −τi hξ, νi e β = λhξ, N i, para cada i = 1, . . . , n − 1. Lema 2.4.2 Para todo 1 ≤ r ≤ n − 1 vale a sequinte fórmula: r X n − 1 − j r−j sr (γ) = β sj (α). r − j j=0 Demosntração. Lembre-se que sr (γ) pode ser definida pela seguinte identidade polinomial (equação (1.8)): n−1 X (−1)r sr (γ)tn−1−r = (t − γ1 ) . . . (t − γn−1 ). r=0 Como cada γi é igual a αi + β, o lado direito desta igualdade pode ser escrito da seguinte forma: n−1 Y ((t − β) − α1 ) = i=1 n−1 X (−1)j sj (α)(t − β)n−1−j . j=0 Por outro lado, n−1 X j n−1−j (−1) sj (α)(t − β) = j=0 n−1 n−1−j X X j=0 k+j (−1) k=0 n−1−j k β sj (α)tn−1−k−j . k Fazendo r = k + j tal soma torna-se n−1 X (−1)r r=j r=0 r (−1) r−j j=0 n−1−j r−j Quando r < j temos n−1 X r X n−1−j j=0 β r−j sj (α) tn−1−r . = 0. Podemos então escrever r X n−1−j r−j ! ! β r−j n−1−r sj (α) t = n−1 X (−1)r sr (γ)tn−1−r , r=0 e o resultado segue-se. 30 Resumimos o que foi feito acima da seguinte forma. Proposição 2.4.1 Seja P n ⊂ M uma hipersuperfı́cie orientável totalmente umbı́lica de M e seja Σ ⊂ P uma subvariedade compacta orientável de din+1 mensão (n − 1) de P n . Seja ψ : M n −→ M uma hipersuperfı́cie orientável com bordo Σ = ψ(∂M ), e denote por ν o campo conormal exterior ao longo de ∂M ⊂ M. Então, ao longo do bordo ∂M , e para todo 1 ≤ r ≤ n − 1, vale o seguinte: hTr ν, νi = r X j=0 j (−1) n − 1 − j r−j λ hξ, N ir−j hξ, νij sj . r−j (2.12) Aqui, sj = sj (τ1 , . . . , τn−1 ), 0 ≤ j ≤ n − 1, são as funções simétricas elementares de τ1 , . . . , τn−1 , as curvaturas principais de Σ ⊂ P com respeito ao campo normal unitário η, N é o campo normal unitário de M , ξ é o campo normal unitário de P ⊂ M , e λ é o fator de umbilicidade de P ⊂ M (com respeito a ξ). 31 Capı́tulo 3 Simetria de Hipersuperfı́cies no Espaço Euclidiano Neste capı́tulo provamos resultados de simetria para hipersuperfı́cies do espaço euclidiano. Começamos o capı́tulo com uma seção que relaciona a elipticidade da transformação de Newton Tr com a transversalidade de M e P ao longo do bordo ∂M. Na segunda seção usamos a relação entre transversalidade e elipticidade, juntamente com um teorema devido a H. Rosenberg (Teorema 3.2.2) para provarmos um resultado de simetria (Teorema 3.2.3). Como consequência do Teorema 3.2.3, obtemos os Corolários 3.2.1 e 3.2.2, que caracterizam as hipersuperfı́cies compactas mergulhadas em Rn+1 com r−ésima curvatura média constante (r ≥ 2) e curvatura escalar constante, respectivamente. 3.1 Transversalidade × Elipticidade A relação entre os Sr e os sr (γ) dada em (2.9), (2.10) e (2.11), como também a expressão para hTr ν, νi dada em (2.12) tornam-se especialmente simples no caso em que a inclusão P ⊂ M é totalmente geodésica, ou seja, quando λ = 0. Neste caso, γi = −τi hξ, νi, e temos o seguinte Corolário 3.1.1 Seja Σn−1 uma subvariedade compacta orientável de uma hipersuperfı́cie orientável totalmente geodésica P n ⊂ M . Seja ψ : M n −→ M uma hipersuperfı́cie orientável com bordo Σ = ψ(∂M ), e denote por ν o campo conormal exterior ao longo de ∂M. Então, ao longo do bordo ∂M e 32 para todo 1 ≤ r ≤ n, vale que S1 = −s1 hξ, νi + hAν, νi; (3.1) S2 = s2 hξ, νi2 − s1 hξ, νihAν, νi − n−1 X hAν, ei i2 ; (3.2) i=1 Sr = (−1)r sr hξ, νir + (−1)r−1 sr−1 hξ, νir−1 hAν, νi + n−1 X sr−2 (b τi )hAν, ei i2 , para n ≥ 3; (3.3) −(−1)r−2 hξ, νir−2 i=1 hTr ν, νi = (−1)r sr hξ, νir ; (3.4) onde sn = 0 e para todo 1 ≤ r ≤ n − 1, sr = sr (τ1 , . . . , τn−1 ) é a r-ésima função simétrica de τ1 , . . . , τn−1 , as curvaturas principais de Σ ⊂ P com respeito ao campo normal unitário η, e ξ é o campo normal unitário de P ⊂ M. Segue-se da equação (3.4) que se a transformação de Newton Tr é positiva definida para algum 1 ≤ r ≤ n − 1, então a hipersuperfı́cie M é necessariamente transversal a P ao longo de ∂M. Observe que no caso em que Sn não se anula em M e n ≥ 3, a transversalidade segue-se facilmente de expressão (3.3). De fato, por (3.3) temos que ao longo de ∂M vale Sn = (−1)n−1 sn−1 hξ, νin−1 hAν, νi + n−1 X n−1 n−2 +(−1) hξ, νi sn−2 (b τi )hAν, ei i2 . i=1 Em particular, se existe um ponto p ∈ ∂M onde hξ, νi(p) = 0, então Sn (p) = 0 (pois n ≥ 3). Do mesmo modo, se assumirmos que n ≥ 2 e que S2 é positiva em M, então (3.2) implica que M é transversal a P ao longo de ∂M. Nós resumimos o que foi feito acima do seguinte modo: Proposição 3.1.1 Seja Σn−1 uma subvariedade orientável compacta de uma n+1 e seja ψ : M n −→ hipersuperfı́cie orientável totalmente geodésica P ⊂ M n+1 M uma hipersuperfı́cie orientável com bordo Σ = ψ(M ). Então cada uma das seguintes hipóteses, individualmente, implicam que M é transversal a P ao longo do bordo ∂M : • Para 1 ≤ r ≤ n − 1, a transformação de Newton é positiva definida em M. • n ≥ 3 e Sn 6= 0 em M. • S2 > 0 em M. 33 3.2 Simetria de Hipersuperfı́cies no Espaço Euclidiano n+1 Teorema 3.2.1 (Barbosa-Colares) Seja ψ : M n −→ M uma hipersuperfı́cie conexa compacta orientável de M com bordo suave ∂M. Suponha que M possui um ponto interior no qual todas as curvaturas principais são positivas e que Hr+1 é positiva para algum 1 ≤ r ≤ n − 1 dado. Então Tj é positiva definida para 1 ≤ j ≤ r. Demonstração. Note primeiramente que a positividade de Tj é equivalente à positividade de seus autovalores µi,j ; 1 ≤ i ≤ n. Seja p um ponto de M onde todas as curvaturas principais são positivas. Por continuidade, existe uma vizinhança conexa de p onde todas as curvaturas principais são positivas. Seja Kj o conjunto formado pelos pontos de M onde as funções µi,j são positivas, 1 ≤ i ≤ n. É claro que, para todo j, U ⊂ Kj e Kj é um conjunto aberto. Representemos por Gj a componente conexa de Kj que contém U. Lema 3.2.1 Para todo j temos que Gj+1 ⊂ Gj . Demonstração. Para cada l defina Vl = l \ Gj . j=1 Observe que as funções µk,j , 1 ≤ k ≤ n, 1 ≤ j ≤ l são positivas em Vl . Portanto, em cada ponto desse conjunto aberto valem as desigualdades 1 1 H1 (Ak ) ≥ H2 (Ak ) 2 ≥ . . . ≥ Hl (Ak ) l , 1 ≤ k ≤ n, (3.5) onde Hs (Ak ) = µk,s / n−1 . A igualdade ocorre se, e somente se, o ponto é s umbı́lico. Por continuidade, tais desigualdades ainda ocorrem no bordo de Vl . Agora, se p é um ponto do bordo de Vl então, por (3.5), ele pertence a Gj para cada j ≤ l. Portanto, tal ponto pertence ao interior de Vl (contradição). Logo, o bordo de Vl está contido no bordo de Gl . Portanto, Vl = Gl ∩ Vl e Vl = Gl ∩ V l , o que implica que Vl é aberto e fechado em Gl (na topologia induzida). Logo, como Gl é conexo, Vl = Gl , o que prova o lema. 34 Vamos mostrar agora que Gr é fechado. Tomemos um ponto q no bordo de Gr . Por continuidade temos que neste ponto vale µi,r ≥ 0 para 1 ≤ i ≤ n. Então, usando o Lema 3.2.1 temos que µi,r ≥ 0 em q para cada 1 ≤ j ≤ r e 1 ≤ i ≤ n. Observe que, para cada i ∈ {1, . . . , n} vale Sr+1 = λi µi,r + µi,r+1 . Assim, se µi,r = 0 em q então Sr+1 = µi,r+1 em q. Como por hipótese Sr+1 > 0, então µi,r+1 > 0 e portanto, usando o lema temos n−1 0 < µi,r+1 = Hr+1 (Ai ) r+1 r+1 n−1 ≤ (Hr (Ai )) r r+1 − r+1 r r+1 n−1 n−1 = (Sr (Ai )) r r+1 r = 0 (absurdo!) onde Sr (Ai ) = n−1 Hr (Ai ). Logo, no ponto q, µi,r 6= 0 para cada i. Portanto, r q pertence a Gr . Logo, Gr é fechado. Como Gr também é aberto, temos por conexidade que Gr = M. Agora, o Lema 3.2.1 implica que Gj = M para cada 1 ≤ j ≤ r. Portanto, µi,j > 0 para 1 ≤ j ≤ r e 1 ≤ i ≤ n em cada ponto de M. A proposição está provada. Lema 3.2.2 Seja Σn−1 uma variedade compacta de um hiperplano Π ⊂ Rn+1 , e seja ψ : M n −→ Rn+1 uma hipersuperfı́cie compacta mergulhada com bordo Σ. Então, ou M é parte do hiperplano Π ou existe um ponto interior de M onde todas as curvaturas principais têm o mesmo sinal. Demonstração. Sem perda de generalidade, suponha que Π = {xn+1 = 0}. Seja R > 0 tal que M ⊂ B(0, R) = {x ∈ Rn+1 ; |x| < R}. A compacidade de M garante a existência de tal R. Em Π considere a esfera S = {x ∈ Π; |x| = R}. Para cada a ≤ 0, considere a esfera Ea de dimensão n com centro em Ca = (0, . . . , 0, a) e que contém S. Se M não está contida em Π, então existe A = min{|a|; Ea ∩ M 6= ∅}. 35 Seja então p0 ∈ CA ∩ M. Como ∂M ⊂ Π, Ea ∩ Π = S e S ∩ ∂M = ∅, temos que Ea ∩ ∂M = ∅. Logo, p0 ∈ int(M ). Considere a função f : M −→ R dada por f (p) = |p − A|2 . Pela nossa escolha de A, temos que p0 é um ponto de máximo de f. Seja agora v ∈ Tp0 M um vetor unitário. Tomemos uma curva α : (−ε, ε) −→ M parametrizada pelo comprimento do arco tal que α(0) = p0 e α0 (0) = v. (3.6) Como p0 é um ponto de máximo de f, temos que 0 é um ponto de máximo de f ◦ α. Logo, d d2 (f ◦ α)(0) = 0 e (f ◦ α)(0) ≤ 0. dt dt2 Mas (f ◦ α)(t) = hα(t) − A, α(t) − Ai e portanto, d (f ◦ α)(t) = 2hα0 (t), α0 (t) − Ai. dt Calculando em t = 0 encontramos 0= d (f ◦ α)(0) = 2hα(0) − A, α0 (0)i = hp0 − A, vi. dt Como v é qualquer vetor unitário tangente a M em p0 , isto significa que p0 − A (considerado como vetor) é normal a M em p0 . Diferenciando novamente, obtemos d (f ◦ α)(t) = 2hα0 (t), α0 (t)i + 2hα(t) − A, α00 (t)i. dt Fazendo t = 0 e usando (3.6) enconntramos 0 ≤ hv, vi + hp0 − A, α00 (0)i = 1 + hp0 − A, α00 (0)i. 36 (3.7) p0 − A pode ser considerado ra p0 − A 00 , α (0)i é precomo um vetor unitário normal a M em p0 . Assim, h ra cisamente a curvatura normal k(v) na direção de v. Segue-se então de (3.7) que 1 k(v) ≤ − < 0. ra Como v é qualquer, temos o resultado. Seja ra o raio de Ea . Pelo que vimos acima, Definição 3.2.1 Seja M n uma subvariedade do Rn+1 . A subvariedade M é convexa em p se existe uma vizinhança U de p em M tal que U está de um mesmo lado de Tp M. Se U ∩Tp M se reduz a um ponto, M é dita estritamente convexa em p. A subvariedade M é convexa (resp. estritamente convexa) se as condiçoes acima são satisfeitas em cada ponto de M. O seguinte teorema é devido a Harold Rosenberg. Teorema 3.2.2 Seja Σn−1 uma subvariedade compacta estritamente convexa de um hiperplano Πn do Rn+1 , e seja ψ : M n −→ Rn+1 uma hipersuperfı́cie compacta mergulhada com bordo ∂M = Σ. Assuma que a r-ésima curvatura média Hr é uma constante positiva e que M é transversal a Π ao longo de Σ. Então M está contida em um dos semi-espaços de Rn+1 determinados por Π, e M possui todas as simetrias de Σ. Em particular, se Σ é uma esfera redonda então M é parte de uma esfera redonda. Ademais, se r = n, não é necessário assumir que M é transversal a Π ao longo de Σ. Para uma demonstração deste teorema veja [16]. Teorema 3.2.3 Seja Σn−1 uma subvariedade compacta estritamente convexa de um hiperplano Πn ⊂ Rn+1 , e seja ψ : M n −→ Rn+1 uma hipersuerfı́cie compacta mergulhada com bordo Σ. Assuma que para 2 ≤ r ≤ n dado, a r−ésima curvatura média Hr de M é uma constante não nula. Então M possui todas as simetrias de Σ. Em particular, se Σ é uma esfera redonda de Rn+1 , então M é uma calota esférica. Demontração. Pelo Lema 3.2.2, existe um ponto interior p0 ∈ M tal que, neste ponto, todas as curvaturas principais têm o mesmo sinal. Escolhendo uma orientação adequada de M, podemos supor que em p0 todas as curvaturas principais são 37 positivas. Em particular temos que, na orientação escolhida, Hr = Hr (p0 ) é positiva. Invocando a Proposição 3.2.1, concluı́mos que Tr−1 é positiva definida em M. Portanto, da Proposição 3.1.1 segue-se que M é transversal a Π ao longo do bordo ∂M. Utilizando agora o Teorema 3.2.2, temos o resultado. Como conseqüência do Teorema 3.2.3, concluı́mos que a conjectura da calota esférica é verdadeira para o caso de hipersuperfı́cies com r−ésima curvatura média constante em Rn+1 , quando r ≥ 2. Corolário 3.2.1 As únicas hipersuperfı́cies compactas mergulhadas em Rn+1 com r−ésima curvatura média Hr constante (2 ≤ r ≤ n) e bordo esférico são as bolas redondas hiperplanares (com Hr = 0) e as calotas esféricas (com Hr uma constante não nula). De fato, se M não é uma bola redonda hiperplanar, então existe um ponto interior de M onde todas as curvaturas principais têm o mesmo sinal. Em particular, quando r = 2, dizer que H2 é constante é equivalente a dizer que a curvatura escalar é constante (vide equação (1.9)). Portanto, o resultado lê-se Corolário 3.2.2 As únicas hipersuperfı́cies compactas mergulhadas em Rn+1 com curvatura escalar constante e bordo esférico são as bolas redondas hiperplanares (com curvatura escalar zero) e as calotas esféricas (com curvatura escalar positiva). 38 Capı́tulo 4 Uma Fórmula do Fluxo Este capı́tulo é composto de duas seções. Na primeira seção obtemos uma Fórmula do Fluxo para o ambiente geral no qual estamos trabalhando. Na segunda seção nós utilizamos tal Fórmula do Fluxo para obter algumas desigualdades, as quais generalizam uma desigualdade obtida por Barbosa em [5]. 4.1 Uma Fórmula do Fluxo Definição 4.1.1 Seja M uma variedade diferenciável. Se V ∈ X (M ), a derivação de tensores LV tal que LV (f ) = V (f ) ∀f ∈ F(M ), e LV (X) = [V, X] ∀X ∈ X (M ) é chamada a derivada de Lie relativa a V . Definição 4.1.2 Dizemos que Y ∈ X (M ) é conforme se a derivada de Lie do tensor métrico de M com respeito a Y satisfaz LY h, i = 2φh, i para uma certa função φ ∈ C ∞ . É de fácil verificação que Y ∈ X (M ) é conforme se, e somente se, h∇V Y, W i + hV, ∇W Y i = 2φhV, W i, para todo par de campos V, W ∈ X (M ). 39 (4.1) Considere agora o campo Y > ∈ X (M ) definido por Y > = Y − hY, N iN. Desejamos calcular divM (Tr Y > ). Se e1 , . . . , en é um referencial ortonormal local temos divM (Tr Y > ) = n X h∇ei (Tr Y > ), ei i i=1 = = n X i=1 n X h(∇ei Tr )(Y > ) + Tr (∇ei Y > ), ei i > hY , (∇ei Tr )(ei )i + i=1 = hY, n X h∇ei Y > , Tr ei i i=1 n X (∇ei Tr ) (ei )i + i=1 n X h∇ei Y > , Tr ei i i=1 = hdivM Tr , Y i + n X h∇ei Y > , Tr ei i. (4.2) i=1 Da equação de conformidade (4.1) obtemos 2φhTr U, U i = h∇Tr U Y, U i + h∇U Y, Tr U i = h∇Tr U Y > , U i + hY, N ih∇Tr U N, U i + h∇U Y > , Tr U i + hY, N ih∇U N, Tr U i = h∇Tr U Y > , U i + h∇U Y > , Tr U i + −hN, Y ihATr U, U i − hN, Y ihAU, Tr U i, isto é, h∇Tr U Y > , U i + h∇U Y > , Tr U i = 2φhTr U, U i + 2hN, Y ihATr U, U i. (4.3) Seja p ∈ M. Escolha um referencial ortonormal e1 , . . . , en numa vizinhança de p que diagonaliza A em p. Sabemos que tal referencial também diagonaliza Tr em p com autovalores µ1,r , . . . , µn,r . Portanto, h∇ei Y > , Tr ei i(p) = µi,r h∇ei Y > , ei i = hei , ∇Tr ei Y > i(p), e de (4.3) obtemos h∇ei Y > , Tr ei i(p) = φhei , Tr ei i(p) + hN, Y ihATr ei , ei i(p). Logo, n X i=1 > h∇ei Y , Tr ei i(p) = φ n X hei , Tr ei i(p) + hN, Y i i=1 n X i=1 40 hATr ei , ei i(p). Usando que tr(T r ) = cr Hrn e tr(ATr ) = cr Hr+1 (Proposição 2.1.2), onde cr = (n − r) nr = (r + 1) r+1 , e a equação (4.2), obtemos que em p vale divM (Tr Y > ) = hdivM Tr , Y i + cr (φHr + hN, Y iHr+1 ). (4.4) Como p é qualquer, (4.4) vale em geral. Integrando (4.4) em M e invocando o Teorema da Divergência, encontramos a seguinte fórmula integral para todo 0 ≤ r ≤ n − 1. Z Z hTr ν, Y ids = divM (Tr Y > )dM ∂M ZM = hdivM Tr , Y idM + MZ cr (φHr + hY, N iHr+1 )dM. (4.5) M Aqui, dM denota o elemento de volume n-dimensional de M com respeito à métrica induzida e à orientação escolhida, e dS é o elemento de volume (n − 1)-dimensional induzido em ∂M. Seja Dn uma hipersuperfı́cie compacta orientável em M com bordo suave que satisfaz ∂D = ∂M, tal que M ∪ U é um n-ciclo orientado de M , com D orientada pelo campo normal unitário ND . Nós supomos que M ∪ D = ∂Ω, onde Ω é um domı́nio compacto orientado imerso em M . Pela equação de conformidade (4.1) temos h∇ei Y, ei i + hei , ∇ei Y i = 2φhei , ei i = 2φ, para todo i ∈ {1, . . . , n + 1}, com en+1 = N. Portanto, h∇ei Y, ei i = φ, ∀i ∈ {1, . . . n + 1}. Logo, divM Y = n+1 X h∇ei Y, ei i = (n + 1)φ. i=1 Assim, pelo o Teorema da Divergência, Z Z Z hY, N idM = − hY, ND idD + (n + 1) φdM , M D (4.6) Ω onde dD é o elemento de volume n-dimensional de D com respeito à orientação dada por ND , e dM é o elemento de volume (n + 1)-dimensional de M. Agora, de (4.5) e (4.6), obtemos a seguinte Fórmula do Fluxo: 41 n+1 Proposição 4.1.1 Seja ψ : M n −→ M uma hipersuperfı́cie imersa compacta orientável com bordo ∂M, e seja Dn uma hipersuperfı́cie compacta orientável com bordo ∂D = ∂M. Assuma que M ∪ D é um n-ciclo orientado de M , e sejam N e ND os campos normais unitários que orientam M e D, respectivamente. Se a r-ésima curvatura média Hr é constante, 1 ≤ r ≤ n, então para todo campo conforme Y ∈ X (M ) vale a seguinte igualdade Z Z Z n hTr−1 ν, Y ids = hdivM Tr−1 , Y idM + r φHr−1 dM + (4.7) r ∂M M M Z Z n n −r Hr hY, ND idD + (n + 1)r Hr φdM , r r D Ω onde ν é o conormal exterior a M ao longo de ∂M. Corolário 4.1.1 Se M tem curvatura seccional constante, então para todo campo de Killing Y ∈ X (M ), a Fórmula do Fluxo toma o seguinte aspecto: Z Z n hTr−1 ν, Y idS = −r Hr hY, ND idD, (4.8) r ∂M D onde ν é o conormal exterior a M ao longo de ∂M. Por outro lado, quando o espaço ambiente M tem curvatura seccional constante e o campo Y é um campo homotético (e não Killing) então, sem perda de generalidade, podemos assumir que φ = 1 e (4.7) toma o seguinte aspecto: Z Z n hTr−1 ν, Y idS = −r Hr hY, ND idD + (4.9) r ∂M D Z n n r Hr−1 dM + (n + 1)r Hr vol(Ω). r r M Como uma consequência de (4.9) obtemos a seguinte fórmula de fluxo para hipersuperfı́cies r-mı́nimas. n+1 Proposição 4.1.2 Seja ψ : M n −→ M uma hipersuperfı́cie compacta orientável com bordo ∂M imersa em um espaço riemanniano de curvatura seccional constante. Se M é r-mı́nima em M , isto é, se Hr = 0, então para todo campo homotético (não Killing) Y ∈ X (M ) vale a seguinte fórmula Z Z n hTr−1 ν, Y idS = r Hr−1 dM. (4.10) r ∂M M 42 Em particular, para hipersuperfı́cies mı́nimas no espaço euclidiano com bordo em uma esfera redonda temos a seguinte consequência: Corolário 4.1.2 Seja Σn−1 uma subvariedade compacta orientável de uma esfera redonda Sn (ρ) ⊂ Rn+1 de raio ρ, e seja ψ : M n −→ Rn+1 uma hipersuperfı́cie mı́nima compacta orientável imersa com bordo Σ = ψ(M ) ⊂ Sn (ρ). Então ρ vol(M ) ≤ vol(∂M ), n e a igualdade ocorre se e somente se M é ortogonal a Sn (ρ) ao longo do bordo ∂M. Demonstração. Considere o campo radial Y (p) = p em Rn+1 , o qual é um campo homotético em Rn+1 com φ = 1, e seja ξ o campo normal unitário a Sn (ρ). Então, ao longo de Sn (ρ) temos Y = ρξ e (4.10) nos dá Z Z Z n dM = nvol(M ) = hν, ρξidS ≤ ρ dS = ρvol(∂M ). M ∂M ∂M A igualdade ocorre se e somente se ξ = ν ao longo do bordo ∂M, ou equivalentemente, hN, ξi = 0 (veja 2.4) ao longo de ∂M. Vamos considerar agora o caso de uma hipersuperfı́cie imersa no espaço hiperbólico Hn+1 . Neste caso, será apropriado usar o modelo de Minkowski para o espaço hiperbólico. Escreva Rn+2 para representar Rn+2 com a métrica 1 lorentziana h, i1 = −dx20 + dx21 + . . . + dx2n+1 . Então, Hn+1 = {x ∈ Rn+2 ; hx, xi1 = −1, x0 > 0} 1 com curvatura seccional é uma hipersuperfı́cie tipo-espaço completa de Rn+2 1 constante igual a −1, a qual nos dá o modelo de Minkowiski para o espaço hiperbólico. Seja Σn−1 ⊂ Hn+1 uma subvariedade compacta orientável de uma esfera geodésica S(a, ρ) de Hn+1 de centro a ∈ Hn+1 e raio geodésico ρ, e seja ψ : M n −→ Hn+1 uma hipersuperfı́cie compacta orientável com bordo Σ = ψ(∂M ). e ∈ X (Rn+2 Seja v ∈ Tp Hn+1 e seja X ) o campo de vetores dado por 1 e X(x) = x, ∀x ∈ Rn+2 . 1 43 n+1 e e Como hX(p), X(p)i , temos 1 = −1 para todo p ∈ H e Xi e 1. 0 = vhX, (4.11) e a conexão de Levi-Civita de Rn+2 Por outro lado, denotando por ∇ , obtemos 1 e Xi e 1 = 2h∇ e v X, e Xi e 1 (p) = 2hv, pi1 . vhX, (4.12) Esta última igualdade vem do fato de que a derivação de campos de vetores ao longo de curvas em Rn+2 é a derivação usual, já que os sı́mbolos de Cristoffel 1 n+2 de R1 são todos constantes. Comparando (4.11) e (4.12) obtemos hv, pi1 = 0, ∀ v ∈ Tp Hn+1 , ou seja, p é ortogonal a Hn+1 em p. Considere o campo de vetores representado neste modelo por Y (p) = −a − ha, pi1 p, para todo p ∈ Hn+1 . Temos hY (p), pi1 = h−a − ha, pi1 p, pi1 = −ha, pi1 − ha, pi1 hp, pi1 = 0, pois hp, pi1 = −1. Logo, Y ∈ X (Hn+1 ). Sejam agora Z, W ∈ X (Hn+1 ). Denotando por ∇ a conexão de Levi-Civita de Hn+1 temos e W (−a − ha, pi1 p), Zi1 h∇W Y, Zi1 = h∇ e W p, Zi1 = h−(W ha, pi1 )p − ha, pi1 ∇ e W p, Zi1 . = h−(W ha, pi1 )p, Zi1 − ha, pi1 h∇ = −ha, pi1 hW, Zi1 . Portanto, h∇W Y, Zi1 (p) = −ha, pi1 hW, Zi1 . Analogamente, h∇Z Y, W i1 (p) = −ha, pi1 hZ, W i1 . Logo, h∇W Y, Zi1 + h∇Z Y, W i1 = −2ha, pi1 hZ, W i1 , 44 ou seja, Y ∈ X (Hn+1 ) é um campo conforme , cujo fator de conformidade é φ(p) = −ha, pi1 . Se p ∈ S(a, ρ), a esfera geodésica de centro a e raio ρ, então p = (cosh t0 )a + (senh t0 )v, onde v é tal que γ(t) = (cosh t)a + (senh t)v é a geodésica que passa por a e p. Temos então Z t0 Z t0 0 dt = t0 . |γ (t)|dt = ρ = dist(a, p) = 0 0 Temos também ha, pi1 = ha, (cosh to )a + (senh t0 )vi1 = (cosh t0 )2 ha, ai1 + (senh t0 )ha, vi1 = −(cosh t0 ). Portanto, φ(p) = −ha, pi1 = cosh(e ρ(p)), onde ρe(p) é a distância geodésica de a a p. Temos ainda |Y (p)|2 = = = = h−a − ha, pi1 p, −a − ha, pi1 pi1 ha, ai1 + ha, pi21 hp, pi1 −1 + (cosh(e ρ(p)))2 (senh(e ρ(p)))2 , e portanto, |Y (p)| = senh(e ρ(p)). Logo, ao longo de S(a, ρ) temos Y = senh(ρ)ξ. Assuma agora que M é mı́nima em Hn+1 . Então, segue-se de (4.7) que Z Z Z hν, Y ids = senh(ρ) hν, ξids = n cosh(e ρ)dM. ∂M ∂M M Assim, como cosh(e ρ) ≥ 1, concluı́mos que Z Z nvol(M ) ≤ n cosh(e ρ)dM = senh(ρ) M hν, ξids ≤ senh(ρ)vol(∂M ). ∂M Resumindo, obtemos o seguinte resultado. Corolário 4.1.3 Seja Σn−1 uma subvariedade compacta de uma esfera geodésica S(a, ρ) de Hn+1 de centro a ∈ Hn+1 e raio geodésico ρ, e seja ψ : M n −→ Hn+1 uma hipersuperfı́cie mı́nima compacta orientável imersa com bordo Σ = ψ(∂M ) ⊂ S(a, ρ). Então vol(M ) ≤ senh(ρ) vol(∂M ). n 45 Finalmente, vamos considerar o caso de uma hipersuperfı́cie imersa na esfera Sn+1 , Sn+1 = {x = (x0 , x1 , . . . , xn+1 ) ∈ Rn+2 ; hx, xi = 1}. Seja Σn−1 uma subvariedade compacta de uma esfera geodésica S(a, ρ) de Sn+1 de centro a e raio geodésico ρ < π/2, e seja ψ : M n −→ Sn+1 uma hipersuperfı́cie compacta orientável com bordo Σ = ψ(∂M ) ⊂ S(a, ρ). Neste caso, considere o campo de vetores em Sn+1 dado por Y (p) = −a + ha, pip, ∀ p ∈ Sn+1 , com singularidades nos pontos focais {a, −a}. Observe que Y é um campo conforme em Sn+1 , o qual é ortogonal às esferas geodésicas centradas em a, com φ(p) = ha, pi = cos(e ρ(p)) e |Y (p)| = sen(e ρ(p)), onde ρe(p) é a distância geodésica de a a p, para todo p ∈ Sn+1 (as contas são inteiramente analogas às contas feitas no caso do espaço hiperbólico). Portanto, ao longo de S(a, ρ) temos Y = sen(ρ)ξ. Assuma agora que M é minima em Sn+1 . Então, seguese de (4.7) que Z Z Z hν, Y ids = sen(ρ) hν, ξids = n cos(e ρ)dM. ∂M ∂M M Vamos assumir agora que M está contida no hemisfério aberto centrado em a. Neste caso, é claro que minM cos(e ρ) = cos(ρ0 ), onde ρ0 = max dist(a, M ), portanto, Z Z hν, ξids ≤ sen(ρ)vol(∂M ). cos(e ρ)dM = sen(ρ) ncos(ρ0 )vol(M ) ≤ n M ∂M Isto nos leva ao seguinte resultado: Corolário 4.1.4 Seja Σn−1 uma subvariedade compacta orientável de uma esfera geodésica S(a, ρ) de Sn+1 de centro a ∈ Sn+1 e raio geodésico ρ, e seja ψ : M n −→ Sn+1 uma hipersuperfı́cie mı́nima compacta orientável imersa com bordo Σ = ψ(∂M ) ⊂ S(a, ρ). Assuma que M está contida no hemisfério aberto centrado em a. Então vol(M ) ≤ sen(ρ) vol(∂M ), n cos(ρ0 ) onde ρ0 = max dist(a, M ). 46 4.2 Estimando a r-ésima Curvatura Média pela Geometria do Bordo Considere a configuração geométrica dada na Proposição 3.1.1, isto é, seja Σn−1 uma subvariedade compacta orientável de uma hipersuperfı́cie orientável n+1 totalmente geodésica P n ⊂ M n , e seja ψ : M n −→ M uma hipersuperfı́cie conexa compacta com bordo Σ = ψ(∂M ) e r−ésima curvatura média Hr constante. Nosso objetivo nesta seção é estimar Hr pela geometria do bordo. Assuma que existe um campo de Killing Y ∈ X (M ), com Y ortogonal a P. Então podemos escrever Y ao longo de ∂M nas duas formas seguintes Y = hY, ξiξ e Y = hY, νiν + hY, N iN. Usando (3.4) obtemos hTr−1 ν, Y i = hY, νihTr−1 ν, νi = (−1)r−1 sr−1 hY, ξihξ, νir . ao longo do bordo ∂M. Suponha que existe um domı́nio limitado D ⊂ P cujo bordo é Σ (no caso em que P é o espaço euclidiano Rn , o espaço hiperbólico Hn ou um hemisfério aberto da esfera Sn esta suposição é válida), e orientemos D pelo campo normal unitário ND de modo que M ∪ D seja um n−ciclo orientado em M . Denotemos por hj a j−ésima curvatura média de Σ ⊂ P com respeito ao vetor unitário normal η que “aponta para fora de D”, ou seja, n−1 hj = sj = sj (τ1 , . . . , τn−1 .) j No caso em que o espaço ambiente tem curvatura seccional constante, nossa Fórmula do Fluxo (4.8) nos permite escrever Z Z r hr−1 hY, ξihξ, νir ds. (4.13) nHr hY, ND idD = (−1) D ∂M Vamos primeiramente aplicar a fórmula (4.13) no caso euclidiano M = Rn+1 . Teorema 4.2.1 Seja Σn−1 uma subvariedade compacta orientável de um hiperplano P ⊂ Rn+1 e seja ψ : M n −→ Rn+1 uma hipersuperfı́cie imersa 47 conexa compacta orientável com bordo Σ = ψ(∂M ) e r−ésima curvatura média Hr constante, 1 ≤ r ≤ n. Então Z 1 |hr−1 |ds, (4.14) 0 ≤ |Hr | ≤ n vol(D) ∂M onde hr−1 é a (r − 1)−ésima curvatura média de Σ ⊂ P, e D é o domı́nio em P limitado por Σ. Em particular, quando Σ é uma (n − 1)−esfera redonda de raio ρ, segue-se que 1 0 ≤ |Hr | ≤ r . (4.15) ρ Observação. Esta estimativa foi obtida por Barbosa em [5] para o caso r = 1. Demonstração. Seja ξ um vetor unitário normal a P. Considere o campo constante em n+1 R definido por Y (x) = ξ, ∀x ∈ Rn+1 . É claro que Y é um campo de Killing em Rn+1 . Por outro lado, temos que ND = ±ξ e portanto, por (4.13) obtemos Z Z |hr−1 |ds, hr−1 hξ, νir ds ≤ n|Hr |vol(D) = ∂M ∂M que nos dá (4.14). Em particular, quando Σ = S n−1 (ρ) é uma esfera redonda de raio ρ, 1 então temos que τi = − para todo i = 1, . . . , n − 1, e portanto, hr−1 = ρ (−1)r−1 /ρr−1 . Além disto, o domı́nio D é uma bola n−dimensional de raio ρ, com volume n vol(D) = ρ vol(S n−1 (ρ)), e a estimativa (4.14) torna-se (4.15). Vamos agora considerar o caso de uma hipersuperfı́cie imersa no espaço hiperbólico Hn+1 . Como anteriormente, será apropriado usar o modelo de Minkowiski para Hn+1 , Hn+1 = {x = (x0 , . . . , xn+1 ) ∈ Rn+2 ; hx, xi1 = −1, x0 > 0}. 1 Podemos assumir, a menos de uma isometria de Hn+1 , que a hipersuperfı́cie totalmente geodésica P n que contém Σ é dada por P n = Hn+1 ∩ {x ∈ Rn+2 ; xn+2 = 0}. 1 Neste caso, o vetor normal unitário a P em Hn+1 é dado por ξ(p) = en+1 = (0, . . . , 0, 1) ∈ Rn+2 , ∀p ∈ P. 1 48 Proposição 4.2.1 Fixado a ∈ Hn+1 , o campo de vetores dado por Y (p) = −hp, ai1 en+1 + hp, en+1 i1 a, p ∈ Hn+1 é um campo de Killing em Hn+1 , o qual é ortogonal a P. Demonstração. 1. Temos hY (p), pi1 = h−hp, ai1 en+1 + hp, en+1 i1 a, pi1 = −hp, ai1 hen+1 , pi1 + hp, en+1 i1 ha, pi1 = 0. Logo, Y ∈ X (Hn+1 ). 2. Se p ∈ P então Y (p) = −hp, ai1 en+1 , que é ortogonal a P. e as conexões riemannianas de Hn+1 e Rn+2 3. Denotando por ∇ e ∇ respec1 tivamente, temos e V (−hp, ai1 en+1 + hp, en+1 i1 a), W i1 h∇V Y, W i1 = h∇ e V en+1 + V (hp, en+1 i1 )a + hp, en+1 i1 ∇ e V a, W i1 = h−V (hp, ai1 )en+1 − hp, ai1 ∇ = −V (hp, ai1 )hen+1 , W i1 + V (hp, en+1 i1 )ha, W i1 e V p, ai1 + hp, ∇ e V ai1 )ha, W i + (h∇ e V p, en+1 i1 + hp, ∇ e V en+1 i1 )ha, W i1 = −(h∇ = −hV, ai1 hen+1 , W i1 + hV, en+1 i1 ha, W i1 . Analogamente, h∇W Y, V i1 = −hW, ai1 hen+1 , V i1 + hW, en+1 i1 ha, V i1 Logo, Y é de Killing. Note também que para todo p ∈ P temos Y (p) = −hp, ai1 en+1 = cosh(e ρ(p))ξ(p), onde ρe é a distância geodésica entre a e p ao longo de P. Seja D o domı́nio compacto em P limitado por Σ. Então ND = ±ξ e de (4.13) obtemos Z Z n|Hr | cosh(e ρ) dD = hr−1 cosh(e ρ)hξ, νir ds . (4.16) D Σ 49 Escolha a ∈ int(D). Temos então que minD cosh(e ρ) = cosh(e ρ(a)) = 1 e portanto, de (4.16) concluı́mos que Z cosh(e ρ) dD n|Hr |vol(D) ≤ n|Hr | D Z ≤ cosh(e ρ) ds (4.17) ∂M Z |hr−1 | ds. ≤ maxΣ cosh(e ρ) ∂M Vejamos agora como fica a expressão (4.17) no caso em que Σ é uma esfera geodésica em P de centro a e raio geodésico ρ. Considere o campo η definido por η(p) = 1 Y (p). senh(e ρ) Temos que η é um campo normal unitário ao longo de Σ. Temos também Y 1 ∇v η = ∇v = ∇v Y senh(e ρ) senh(e ρ) e, por uma conta feita anteriormente, h∇W Y, Zi1 = −ha, pi1 hW, Zi1 = cosh(e ρ)hW, Zi1 . Logo, ∇v η = (coth(e ρ))v. Temos então que |hr−1 | = cothr−1 (ρ), e (4.17) torna-se n|Hr |vol(D) ≤ cosh(ρ)cothr−1 (ρ)vol(Σ). (4.18) Proposição 4.2.2 A esfera geodésica Σ é uma (n-1)-esfera euclidiana de raio senh(ρ). Demonstração. Seja p ∈ Σ. Temos n X i=0 2 (pi − ai cosh(ρ)) = n X (p2i − 2pi ai cosh(ρ) + a2i cosh2 (ρ)) i=0 n X = senh (ρ)( |vi |2 ) 2 i=0 = senh2 (ρ), onde na última igualdade usamos que pi = cosh(ρ)ai + senh(ρ)vi . 50 Assim, vol(Σ) ≤ (n/senh(ρ))vol(D) e (4.18) torna-se |Hr | ≤ cothr (ρ). Provamos assim o seguinte teorema: Teorema 4.2.2 Seja Σ uma subvariedade compacta contida em um hiperplano totalmente geodésico P ⊂ Hn+1 , e seja ψ : M n −→ Hn+1 uma hipersuperfı́cie imersa conexa compacta orientável com bordo Σ = ψ(∂M ) e r-ésima curvatura média Hr constante, 1 ≤ r ≤ n. Então Z C 0 ≤ |Hr | ≤ |hr−1 | ds. n vol(D) ∂M Aqui, hr−1 entende-se pela (r-1)-ésima curvatura média de Σ ⊂ P , D é o domı́nio em P limitado por Σ, e C = maxΣ cosh(e ρ) ≥ 1, onde ρe(p) é a distância geodésica ao longo de P entre um ponto fixado a ∈ int(D) e p. Em particular, quando Σ é uma esfera geodésica em P de raio geodésico ρ, segue-se que 0 ≤ |Hr | ≤ cothr (ρ). Finalmente, vamos considerar o caso de uma hipersuperfı́cie imersa na esfera Sn+1 , Sn+1 = {x = (x0 , . . . , xn+1 ) ∈ Rn+2 ; hx, xi = 1}. Temos, a menos de uma isometria, que a n−esfera totalmente geodésica P que contém Σ é dada por P n = Sn+1 ∩ {x ∈ Rn+2 ; xn+1 = 0}. Neste caso, o vetor unitário normal a P em Sn+1 é dado por ξ(p) = en+1 = (0, . . . , 0, 1) ∈ Rn+2 para cada p ∈ P. Observe que fixado um ponto arbitrário a ∈ P, o campo de vetores dado por Y (p) = hp, aien+1 − hp, en+1 ia, p ∈ Sn+1 é um campo de Killing em Sn+1 o qual é ortogonal a P, pois em p ∈ P tem-se Y (p) = hp, aien+1 = cos(e ρ(p))ξ(p), onde ρe(p) é a distância geodésica entre a e p ao longo de P. 51 De fato, 1) hY (p), pi = hhp, aien+1 − hp, en+1 ia, pi = hp, aihen+1 , pi − hp, en+1 iha, pi = 0. Logo, Y ∈ X (Sn+1 ). 2) Se p ∈ P então Y (p) = ha, pien+1 , que é ortogonal a P. 3) e V (hp, aien+1 − hp, en+1 ia), W i h∇V Y, W i = h∇ e V en+1 + = hV (hp, ai)en+1 + hp, ai∇ e V a), W i −V (hp, en+1 i)a − hp, en+1 i∇ = V (hp, ai)hen+1 , W i − V (hp, en+1 i)ha, W i e V p, ai + hp, ∇ e V ai)hen+1 , W i + = (h∇ e V p, en+1 i + hp, ∇ e V en+1 i)ha, W i −(h∇ = hV, aihen+1 , W i − hV, en+1 iha, W i. Analogamente, h∇W Y, V i = hW, aihen+1 , V i − hW, en+1 iha, V i. Logo, Y é de Killing. Suponha que Σ está contida em um hemisfério aberto P+ de P determinado por um equador S de P, e seja D o domı́nio compacto limitado por Σ em P+ . Então ND = ±ξ e de (4.13) obtemos Z Z r n|Hr | cos(e ρ) dD = hr−1 cos(e ρ)hξ, νi ds (4.19) D Σ Escolha a ∈ int(D). Como estamos assumindo que Σ = ∂D está contido em um hemisfério aberto P+ , então 0 ≤ ρe ≤ π/2 em D e minD cos(e ρ) > 0, portanto, de (4.19) concluı́mos que Z n|Hr |minD cos(e ρ)vol(D) ≤ n|Hr | cos(e ρ) dD D Z ≤ |hr−1 cos(e ρ)| ds (4.20) ∂M Z |hr−1 | ds. ≤ maxΣ cos(e ρ) ∂M 52 Suponha que Σ é uma esfera geodésica de centro a e raio geodésico ρ. Seja 1 V (p), η(p) = sen(ρ) onde v(p) = −a + ha, pip. Temos que η é uma campo normal unitário ao longo de Σ. Temos também V 1 ∇v η = ∇v = ∇v V sen(ρ) sen(ρ) e, por uma conta feita anteriormente, h∇W V, Zi = ha, pihW, Zi = hW, Zi. Logo, ∇v η = (cotg(ρ))v. Temos então que |hr−1 | = cotg r−1 (ρ) e (4.20) torna-se |Hr | ≤ cotg r (ρ), pois vol(Σ) ≤ n vol(D). sen(ρ) Teorema 4.2.3 Seja Σn−1 uma subvariedade compacta orientável contida em um hemisfério aberto totalmente geodésico P+ ⊂ Sn+1 , e seja ψ : M n −→ Sn+1 uma hipersuperfı́cie imersa conexa compacta orientável com bordo Σ = ψ(∂M ) e r−ésima curvatura média Hr constante, 1 ≤ r ≤ n. Então Z C |hr−1 | ds. 0 ≤ |Hr | ≤ n vol(D) ∂M Aqui, hr−1 denota a (r − 1)−ésima curvatura média de Σ ⊂ P , onde D é um domı́nio em P+ limitado por Σ, e C = maxΣ cos(e ρ)/minD cos(e ρ), onde ρe(p) é a distância geodésica ao longo de P+ entre um ponto arbritariamente fixado a ∈ int(D) e p. Em particular, quando Σ é uma esfera geodésica em P+ de raio geodésico ρ < π/2, segue-se que 0 ≤ |Hr | ≤ cotr (ρ). 53 Referências Bibliográficas [1] A. D. Alexandrov, Uniqueness theorems for surfaces in the large V, Vestinik Leningrad Univ. Math. 13 (1958), 5-8; English translation: AMS Trans. 21 (1962), 412-416. [2] L. J. Alı́as, J. H. S. de Lira e J. M. Malacarne, Constant higher order mean curvature hypersurfaces in Riemannian spaces, Preprint 2002. [3] L. J. Alı́as, R. López e B. Palmer, Stable constant mean curvature surfaces with circular bondary, Proc. Amer. Math. Soc. 127 (1999), 1951200. [4] J. L. Barbosa e A. G. Colares, Stability of hypersurfaces with constant r-mean curvature, Ann. 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