Desenvolvimento de um algoritmo para aproximar computacionalmente uma função linear descontı́nua de duas variáveis por uma função contı́nua Edson Luiz Valmorbida 1 [email protected] Prof. Dr. Paulo Rafael Bösing 2 [email protected] Suponha que possuı́mos uma superfı́cie no R3 dada por uma função K : R2 → R em que, para os pontos dentro de uma determinada região do domı́nio a função seja constante igual a um valor k1 e fora dela uma constante k2 , com k1 > k2 . Dessa forma, é fácil perceber que esta superfı́cie é descontı́nua (na fronteira da região). Agora, imagine que essa região, chame-a de Ω, seja delimitada por uma poligonal fechada simples (desconsideremos o caso em que a região é um único ponto). O problema que tratamos neste trabalho é o de encontrar um método para definir computacionalmente uma função Kε que seja “parecida” com a função K só que ao invés de ser descontı́nua sobre a poligonal ela seja contı́nua. A estratégia adotada foi criar planos inclinados que “ligam” a parte superior (região constante igual a k1 ) com a parte inferior (região constante igual a k2 ). É claro que para isso teremos que restringir as regiões onde a função assume as duas constantes. Para isso, ao invés de definir Kε como sendo “no interior da poligonal vale k1 e no exterior k2 ” vamos criar duas poligonais, uma no interior de Ω e outra no exterior de Ω, e definir que no interior da poligonal interna, Kε vale k1 , no exterior da poligonal 1 Aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Matemática e Computação Cientı́fica da UFSC e bolsista CAPES. 2 Orientador - Departamento de Matemática UFSC - Florianópolis - SC. externa, Kε vale k2 e entre as duas poligonais, Kε vale o mesmo que a equação do plano que liga as duas superfı́cies. Mais formalmente, seja V = {v1 , . . . , vn } ⊂ R2 um conjunto de pontos distintos e ordenados tais que a união dos segmentos vi vi+1 , i = 1, . . . , n − 1, juntamente com o segmento vn v1 , forme uma poligonal fechada simples e orientada no sentido antihorário. Ou seja, V é o conjunto de vértices da poligonal Ω. Além disso, supomos que Ω não possui três vértices consecutivos colineares (caso haja podemos eliminar o vértice intermediário). Seja K : R2 → R um função definida da seguinte forma: ( K(x) = k1 se x ∈ Int(Ω) k2 se x ∈ Ext(Ω) com k1 > k2 . Dado ε > 0, a partir de Ω definimos duas poligonais Ωint e Ωext da seguinte forma: Para cada vi ∈ V definimos os vértices ii e ei como sendo os pontos que distam ε/2 de vi e estão sobre a reta bissetriz ao ângulo formado pelas semirretas que partem de vi e passam por vi−1 (vn no caso de i = 1) e vi+1 (v1 no caso de i = n) com ii ∈ Int(Ω) e ei ∈ Ext(Ω). Com isso definimos Ωint e Ωext como sendo as poligonais com vértices ii e ei , respectivamente. Sejam I e E os conjuntos formados pelos ii ’s e ei ’s, respectivamente. Com isso, dividimos R2 em 3 regiões distintas, a saber Int(Ωint )∪Ωint , Ext(Ωext )∪ Ωext e Int(Ωext ) ∩ Ext(Ωint ). Porém, estamos interessados em considerar separadamente algumas sub-regiões de Int(Ωext ) ∩ Ext(Ωint ). Denotemos por Qi os quadriláteros formados por cada par de vértices consecutivos de Ωint e Ωext e seja Πi o plano que do R3 que contém os pontos (i1i , i2i , k1 ), (i1i+1 , i2i+1 , k1 ), (e1i+1 , e2i+1 , k2 ) e (e1i , e2i , k2 ), com i = 1, . . . , n. Seja Kε : R2 → R uma função dada por: Kε (x) = k1 se x ∈ Int(Ωint ) k2 se x ∈ Ext(Ωext ) Π (x) se x ∈ Q , i = 1, . . . , n i i Assim, o problema consiste em achar um método de definir a função Kε (x) computacionalmente de modo que dado um ponto qualquer x ∈ R2 possamos obter o valor de Kε (x). A abordagem utilizada para resolver o problema divide-se em algumas etapas: Encontrar os vértices internos e externos. Calcular os coeficientes dos planos Πi . Escolher um vértice de Ω adequado que auxiliará na avaliação da função. Avaliar a função Kε baseado na relação entre x e o vértice escolhido. Isso nos permite considerar aplicações práticas para o método desenvolvido. Em particular, permite aproximar equações diferenciais parciais com coeficientes descontı́nuos, como é o caso da equação de Poisson-Boltzmann, por equações diferenciais parciais com coeficientes contı́nuos, o que simplifica a sua resolução numérica pelo método de elementos finitos de Galerkin descontı́nuo, por exemplo. Referências [1] CARMO, Manfredo Perdigão do. Geometria Diferencial de Curvas e Superfı́cies. 3. ed. Rio de Janeiro: SBM, 2008. 607 p. (Textos Universitários). [2] FIGUEIREDO, Luiz Henrique de; CARVALHO, Paulo César Pinto. Introdução À Geometria Computacional. Rio de Janeiro: Impa, 1991. 111 p. (18º Colóquio Brasileiro de Matemática).