UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DO SOLO DISCIPLINA GCS 104 CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NOTAS DE AULAS PRÁTICAS JOSÉ MARIA DE LIMA1 GERALDO CÉSAR DE OLIVEIRA1 CARLOS ROGÉRIO DE MELO2 2010 1 2 Professor DCS/UFLA Professor DEG/UFLA DECLIVIDADE DO TERRENO O relevo influencia o escoamento das águas de chuva em diferentes trajetórias sobre o terreno; desta forma a declividade se destaca como um dos principais responsáveis pelas perdas de solo. Sedo assim, antes da adoção de quaisquer práticas para controle da erosão, é importante conhecer a inclinação do terreno. A Declividade é a inclinação que a superfície do terreno possui em relação ao plano horizontal (H). DECLIVIDADE DO TERRENO H Superfície do terreno EH α EV Figura 1. Representação esquemática da declividade do terreno. Considerando EH como sendo um caminhamento horizontal no terreno; EV como caminhamento vertical e α o ângulo de inclinação do terreno, A inclinação do terreno pode ser expressa em graus ou porcentagem, como se segue: a) em graus: tg α = EV EH α = arc tg EV EH b) A declividade, quando expressa em porcentagem, representa a distância da superfície do terreno ao plano horizontal (EV) para 100 unidades 2 de distância percorrida no plano horizontal. Dessa forma, a declividade (D%) pode ser calculada com uma “regra de três” simples: EV → EH D% → 100 D% = 100 EV/EH A determinação da declividade requer, portanto, que se conheça EV e EH, ou diretamente o ângulo. Quando se conhece o ângulo, a transformação de graus para porcentagem é feita pela relação de catetos do triângulo retângulo formado entre o plano horizontal e o plano vertical, em que EV representa o cateto oposto ao ângulo e EH o cateto adjacente ao mesmo ângulo. Dividindo-se EV por EH (cateto oposto por cateto adjacente), tem-se a tangente do ângulo. Dessa forma, a declividade em porcentagem será: D% = 100 tan α Alguns aparelhos são específicos para a determinação da declividade, como é o caso dos clinômetros. Esses equipamentos permitem a determinação da declividade em graus e porcentagem diretamente, sem a necessidade de medição de EV e EH. A Figura 2 mostra o clinômetro tipo Abney. Figura 2. Clinômetro tipo Abney para determinação da declividade do terreno. A forma de utilização do aparelho está ilustrada na Figura 3. Inicialmente marca-se a altura do olho do observador em uma haste de madeira. Uma segunda pessoa desloca-se no sentido do maior declive até uma distância de cerca de 10 metros e o observador faz coincidir a marca na luneta do aparelho com a altura do olho na haste de madeira e desloca o nível de bolha para a posição horizontal. É possível se observar, ao mesmo tempo a marca na haste e a bolha do nível, através de um pequeno espelho localizado no interior da 3 luneta. Depois de acertar as marcas, faz-se a leitura na escala. A escala interna representa a declividade expressa em porcentagem, enquanto que a escala externa permite a leitura da declividade em graus. A leitura de porcentagem é feita na extremidade esquerda da parte móvel e a leitura em graus é feita no centro da mesma, onde coincidir o zero da parte móvel com a escala fixa em graus. altura do olho do observador D = 7% D = 4° Figura 3. Esquema de determinação da declividade do terreno empregando o clinômetro tipo Abney (fotografia). Outros equipamentos empregados para se medir a declividade do terreno são os níveis. O nível de engenheiro ou nível ótico é empregado para grandes áreas e exige conhecimento do aparelho e cuidados na instalação e leituras. Outro equipamento é o “nível de borracha” cuja principal vantagem é ser de fácil construção e uso, além de ser de baixo custo, podendo ser construído na propriedade. Ambos os níveis determinam EV e EH, sendo a declividade calculada a partir desses parâmetros. O nível ótico funciona com uma mira (régua graduada) que geralmente 4 tem com altura máxima de 4 metros. Trata-se de uma luneta de aumento com um centro focal e um retículo gravado na outra extremidade com três fios (superior, médio e inferior). O centro focal da luneta e o fio superior e inferior formam um triângulo “abc”. A relação entre “b- c” e a distância “h” (distância do retículo ao centro focal) é constante, uma vez que a luneta do aparelho tem tamanho fixo. A diferença de leitura entre esses fios na mira “s- i” estabelece a base de um triângulo proporcional àquele formado na luneta e que, dada a essa proporcionalidade, permite calcular a distância “d” entre o aparelho e a mira (Figura 4). A relação entre a distância “d” e a diferença de fios superior e inferior no retículo representa a constante do aparelho, normalmente igual a 100. Portanto, a diferença de leitura do fio superior e inferior na mira, multiplicada pela constante do aparelho fornece a distância entre o aparelho e a mira. mira s b a h d c i d/h = (s-i)/(b-c) S d = (s-i) h/(b-c) M I h/(b-c) = k = 100 d = 100 (s-i) Campo de visão com os fios superior, médio e inferior. Figura 4. Esquema do nível ótico para cálculo de distância. A determinação da declividade empregando o nível ótico é feita também no ponto de maior declive dentro da área, montando-se o aparelho sobre o tripé, nivelando-o, através do nível de bolha. Depois de nivelado, o aparelho está pronto para uso. Faz-se uma leitura dos fios superior, médio e inferior na mira, a cerca de 10 metros abaixo, no sentido do maior declive, e outra leitura acima (Figura 5). Por meio das diferenças entre leituras de fio superior e inferior das duas posições, calcula-se a distância entre os dois pontos, empregando-se a fórmula discutida anteriormente. Essa distância corresponde ao espaçamento horizontal (EH). A diferença entre os fios médios das duas posições corresponde ao espaçamento vertical (EV) entre ambos. A declividade, dada em porcentagem, é então calculada conforme apresentado 5 anteriormente. s m i s m i Figura 5. Esquema de determinação da declividade do terreno. O “nível de borracha” é outra opção para a determinação da declividade do terreno. Trata-se de duas barras de madeira com uma borracha de ¼ polegada, de diâmetro com aproximadamente 12 metros unindo as duas barras. Em cada barra é presa uma fita graduada (fita métrica) de forma que as leituras nas duas barras sejam coincidentes. A “borracha” (mangueira) é presa na parte superior das barras (Figura 6). A seguir coloca-se água na borracha até metade da escala graduada nas duas barras. 6 1,5 m 1,8 a 2 m Figura 6. Esquema de nível de borracha. A declividade é determinada, partindo-se do ponto de maior declive, onde é colocada uma das barras na posição vertical e deslocando-se a outra barra no sentido do declive (Figura 7), tomando-se o cuidado de não se perder água da borracha. A diferença de leitura entre as fitas graduadas das barras corresponde ao espaçamento vertical (EV) entre os dois pontos. O espaçamento horizontal (EH) é medido com uma trena. A seguir procede-se com o cálculo da declividade. 7 EV = L1 – L2 L2 L1 EH Figura 7. Esquema de determinação da declividade do terreno com “nível de borracha”. TERRACEAMENTO AGRÍCOLA O terraço é uma prática mecânica de controle da erosão onde se utiliza estruturas artificiais, geralmente formadas por porções de terras dispostas adequadamente em relação ao declive do terreno, com a finalidade de parcelar a rampa possibilitando a redução da velocidade da água e sua infiltração no solo, ou disciplinar o seu escoamento até o leito estável de drenagem natural (Figura 8). É formado por um canal e um camalhão (Figura 9). 8 Figura 8. Representação esquemática de um terraceamento mostrando a retenção das águas da enxurrada e o parcelamento do declive. C B A FIGURA 9 - Representação esquemática de um terraço em perfil, mostrando: A faixa de movimentação de terra, B - Camalhão ou dique e C o canal. Classificação dos terraços: 1) Quanto a função: a) Terraço em nível ou de absorção b) Terraço em gradiente ou de drenagem superficial 2) Quanto à forma de construção (Figuras 10, 11, 12 e 13): a) Tipo Mangum ou camalhão .......................... até 8% de declive b) Tipo Nichols ou canal ................................... até 20% de declive c) Tipo Patamar (Contínuo ou interrompido)........> 20% de declive 3) Quanto à largura do movimento de terra (Figura 14): a) Terraço de base estreita ..........2 – 3m b) Terraço de base média ............3 – 6m c) Terraço de base larga... 6 – 12m 9 Figura 10 – Esquema de terraço tipo Mangum, construído com arado fixo tombando a terra alternadamente para baixo e para cima. Figura 11 – Esquema de terraço tipo Nichols, construído com arado reversível que permite o tombando da terra somente para baixo. Figura 12 – Esquema de terraço Patamar contínuo. Figura 13 – Esquema de terraço Patamar descontínuo ou banqueta individual. 10 Faixas de retenção sobre o Camalhão dos terraços canal camalhão Base do terraço Terraço de base média canal camalhão Base do terraço Terraço de base larga FIGURA 14. Esquema de terraço de base média, com faixa de retenção sobre o camalhão (acima) e terraço de base larga (abaixo). EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA CONSTRUÇÃO DE TERRAÇOS Diferentes equipamentos podem ser utilizados na construção de terraços sendo função da necessidade do produtor; forma de construção; da largura de movimentação de terras, e/ou do equipamento disponível na propriedade. Na Figura 15 são apresentados alguns dos equipamentos mais utilizados. 11 Figura 15: Equipamentos utilizados na confecção de terraços. Esquerda acima: Terraceador agrícola. Centro: Plaina terraceadora e patrol. Abaixo esquerda: Lâmina traseira. Direita: arado e lâmina de trator de esteira ESPAÇAMENTO ENTRE TERRAÇOS O espaçamento entre terraços depende de fatores como declividade, tipo de solo, tipo de cultura, e mesmo o tipo de manejo a ser dado à área. Entre as formulas utilizadas no cálculo do espaçamento, destacam-se a proposta por Bentley e a fórmula proposta por Bertoni (1959)3 e Bertolini et al. (1993)4. Salienta-se que a fórmula de bentley é mais empírica e por isso menos recomendável que a de Bertoni (1959)5 e Bertolini et al. (1993), pois embora desenvolvida para as condições do estado de são Paulo, foi baseada em pesquisas. no mais, os solos e o clima de grande parte do estado de são paulo não diferem muito de toda a região sudeste e mesmo centro oeste do Brasil. 3 Bertoni, J. O espaçamento dos terraços em culturas anuais, determinado em função das perdas por erosão. Bragantia. IAC, Campinas. V. 18(1) . p.113-140, 1959. 4 Bertolini, D., Lombardi Neto, F., Lepsch, I., Oliveira, J.B., Drugowich, M.E., Andrade, N.O., Galeti, P.A., Berllinazzi Jr, R & Dechen, S.C.F. Manual técnico de manejo e conservação de solo e água: tecnologias disponíveis para controlar o escorrimento superficial do solo. Campinas, CATI. 1993. 65p. (Manual nº 41). 5 Bertoni, J. O espaçamento dos terraços em culturas anuais, determinado em função das perdas por erosão. Bragantia. IAC, Campinas. V. 18(1) . p.113-140, 1959. 12 A adoção de terraços requer algumas informações básicas sobre solo, tipo de cultura, além da declividade do terreno. A escolha do tipo de terraço (de infiltração ou de drenagem) depende da capacidade de infiltração de água do solo. Como foi discutida anteriormente, a velocidade de infiltração de água no solo representa a diferença entre ter ou não ter enxurrada no terreno. Dessa forma, em solos com elevada capacidade de infiltração de água pode-se empregar os terraços de infiltração ou em nível. Esse tipo de terraço, além de maior facilidade de locação e construção, aumenta o aproveitamento de água da chuva, forçando sua infiltração no solo. Naqueles casos em que o solo não apresenta boa capacidade de infiltração de água, devem-se adotar os terraços de drenagem ou em gradiente. Esse tipo de terraço requer maiores cuidados no dimensionamento, locação e construção, além da existência de um canal para escoamento da água drenada dos terraços, cuja função é conduzir o excedente de enxurrada até a parte mais baixa da encosta, de forma segura. Além de se verificar a capacidade de infiltração de água no solo, é também importante saber a resistência do mesmo a erosão. Neste caso, podem-se diferenciar solos de baixa, média ou alta resistência à erosão comparando-se áreas cultivadas com áreas não cultivadas, de solo semelhante, verificando-se a incidência da erosão. Solos de baixa resistência apresentam vestígios de algum tipo de erosão. Solos de elevada resistência não apresentam vestígios da erosão, mesmo depois de muitos anos de cultivo. O tipo de cultura também influencia na distância entre terraços. Culturas anuais que requerem preparo convencional do solo todo ano, representam maior exposição do solo à erosão. Portanto, em áreas onde as culturas anuais serão implantadas pelo método convencional onde se utiliza de aração e gradagem os terraços devem ser mais próximos. EV? Figura 15. Representação de terraços. O espaçamento vertical e horizontal entre os mesmos é uma incógnita. 13 O espaçamento vertical entre terraços, e demais sistemas de proteção contra a erosão, pode ser calculado pelas seguintes fórmulas: a) Fórmula de Bentley: EV = D + 2 . 0,305 X Onde: EV – espaçamento vertical entre os sistemas de contenção em metros; D – declividade do terreno; X – fator tabelado que depende de: tipo do solo; tipo de cultura; tipo de prática conservacionista e resistência do solo à erosão, conforme tabela 1. D = EV. 100; então, EH EH = EV. 100 D Onde EH é o espaçamento horizontal entre terraços. Quadro 1. Valores de “X” para cáculo do espaçamento de terraços ou práticas vegetativas, em função da cultura a implantar, tipo de prática conservacionista e resistência do solo à erosão, utilizando-se da equação de “Bentley”, Resistência do solo à erosão Terraços Cultura permanente cultura anual gradiente nível gradiente nível Alta Média Baixa Alta Média Baixa Faixas de Retenção cultura anual nível Alta Valores de X Média 2,0 Baixa 2,5 1,5 3,0 Alta 3,5 Média 4,0 Baixa Alta 4,5 Média 5,0 Baixa 5,5 6,0 14 Exercício Calcular o espaçamento entre terraços em uma área onde se pretende implantar uma cultura de milho. O solo é um Latossolo Vermelho profundo de textura média (25% de argila no horizonte A e 28% de argila no horizonte B); de permeabilidade rápida nos horizontes A e B. A declividade máxima do terreno é 8%. Pela tabela e usando a fórmula de Bentley temos: Terraço em nível porque se trata de solo com permeabilidade rápida (Latossolo). A Cultura é anual, e o solo é de alta resistência à erosão: X = 1,5 (Quadro 1); declividade, D=8%. EV = (D + 2). 0,305 ------------ EV = 2,24 m X EH = 100.EV ----------------------EH = 27,96 m D b) Fórmula do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), (Bertolini et al. (1993). EV = 0,4518 . K . D0,58. (U + m) 2 Onde : EV – espaçamento vertical entre os sistemas de contenção, em metros; K – índice variável para cada tipo de solo; D – declividade do terreno; U – fator de uso do solo; m – fator de manejo do solo (preparo do solo e manejo de restos culturais). 15 Quadro 2. Índices K de acordo com os atributos e resistência à erosão de diferentes agrupamentos de solos para uso na equação de Bertolini et al. (1993). Grupo Grupo de Índice K Principais atributos dos solos resistência à erosão profundidade permeabilidade Textura Razão Grupos de solos textural A Alto Profundo (1 a 2 m) moderada/rápida a Média/média a Muito profundo (> rápida/rápida m.argilosa/m.argilosa 2 m) argilosa/argilosa Maioria < 1,2 Latossolos dos da 1,25 região sudeste e Centro Oeste e neossolos quartzarênicos B Moderado Profundo (1 a 2 m) moderada /rápida Arenosa/arenosa 1,2 a 1,5 Alguns rápida/rápida Arenosa/média latossolos Arenosa/argilosa Alguns Média/argilosa argissolos Argilosa/m.argilosa Alguns 1,10 nitossolos C D Baixo Moderadamente Lenta/moderada > 1,5 Alguns Profundo (0,5 a rápida/moderada argissolos 1m) a profundo (1 lenta/rápida Alguns a 2 m) nitossolos Muito Raso (0,25 a 0,5 rápida/moderada baixo m) a lenta/lenta Muito variável 0,90 Muito Maioria variável Cambissolos e Moderadamente neossolos Profundo (0,5 a litólicos dos 1m) Salienta-se que a fórmula de Bentley é mais empírica e por isso menos recomendável que a de Bertolini et al. (1993) que foi desenvolvida com base em pesquisas. 16 0,75 Quadro 3. Grupos de culturas e seus respectivos índices para uso na equação de Bertolini et al. (1993). Grupo Culturas Índice 1 Feijão, mandioca e mamona 0,50 2 Amendoim, arroz, algodão, alho, 0,75 cebola, girassol e fumo. 3 Soja, batatinha, melancia, 1,0 abóbora, melão e leguminosas. 4 Milho, sorgo, cana-de –açúcar, 1,25 trigo, aveia, centeio, cevada, outras culturas de inverno e frutíferas de ciclo curto como abacaxi 5 Banana, café, citrus,e frutíferas 1,50 permanentes 6 Pastagens e ou capineiras 1,75 7 Reflorestamento, cacau e 2,00 seringueira Quadro 4. Grupos de preparo do solo e manejo de restos culturais com seus respectivos índices para uso na equação de Bertolini et al. (1993). Grupo Preparo primário Preparo secundário Índice 1 Grade aradora (ou Grade niveladora 0,50 pesada) ou enxada rotativa 2 Arado de discos ou Grade niveladora 0,75 aiveca 3 Grade leve Grade niveladora 1,0 4 Arado escarificador Grade niveladora 1,50 5 Não tem Plantio sem revolvimento 2,0 do solo, roçadeira, rolo faca, herbicidas (plantio direto) Exercício proposto Calcular o Espaçamento vertical e horizontal para os terraços do exercício anterior usando a fórmula de Bertolini et al. (1993). Comparar e comentar os resultados. 17 Outras considerações para o cálculo de espaçamento entre terraços: Por questões de segurança o primeiro terraço deve ser locado com a metada do espaçamento, O espaçamento horizontal mínimo entre terraços, para que os mesmos sejam viáveis de implantação e permitam um trabalho mais eficiente das máquinas agrícolas deve ser em torno de 12 metros. Espaçamentos menores tornam-se antieconômicos pois dificultam a construção e manutenção dos terraços, assim como os cultivos mecânicos. 3.1.1. Locação de terraços em nível Pelos cálculos do espaçamento entre terraços em um determinado terreno chegou-se ao valor de 13,56 m para o espaçamento horizontal e 1,22 m para o espaçamento vertical. Sugere-se a marcação no campo. De posse do valor do espaçamento horizontal, na linha de maior declive do terreno (figura 14) deve-se a partir do ponto mais alto, marcar a metade do espaçamento horizontal. Por questões de segurança a primeira marcação deve ser feita com a metade do valor calculado. Os demais pontos serão determinados medindo o espaçamento horizontal até o final do comprimento da rampa. Usando o Nível de Borracha; Coloca-se uma haste no ponto 1. Com a outra haste procura-se um outro ponto, deslocando para cima ou para baixo, de tal modo que a leitura no nível d’água nas duas hastes seja a mesma. Este ponto deve ser marcado com uma estaca. A seguir desloca-se a haste da posição l para a posição 3 de tal modo que a leitura no nível d'água seja a mesma. É importante observar que a haste da posição 2 fica fixa. Localizado o ponto em nível da posição 3, esta agora é que deve ficar fixa, deslocando-se a haste da posição 2 até encontrar outro ponto que dê a mesma leitura (pontos em nível), e assim .sucessivamente, Terminada a primeira linha em nível, procede-se de maneira semelhante para as outras linhas. 18 Divisor de águas do terreno Figura 16. Corte longitudinal da linha de maior declive Figura 17. Locação de terraço usando o nível de borracha. OBS: as estacas devem possuir ponta.e ter um metro de comprimento. 19 Usando o Nível ótico ou de Engenheiro Assenta-se o aparelho em um ponto onde se é permitido fazer o maior número de vis a das possíveis. A seguir n i vela -se o aparelho e v i s a o ponto l. Fazer a l e i t u r a no fio méd i o da m i r a que está colocada no ponto 1. A s e g u i r o m i r e i r o deve se deslocar 10 a 20 metros perpendicularmente ao sentido do declive, objetivando marcar o ponto 2. O operador s i n a l i z a com os braços para que o mireiro desloque para cima. ou para b a i x o no terreno, até obter-se a mesma l e i t u r a do ponto l. Bater neste ponto uma estaca. O m i r e i r o desloca então para a posição 3 repetindo todas operações anteriores até o f in a l da l i n h a em nível. Terminando a p r i m e i r a l i n h a em nível procede-se de maneira semelhante para as outras linhas. Figura 18. Locação de terraço usando o nível de engenheiro. 20 F a z e n d o a l o c a ç ã o d o s t e r r a c o s c o m o nível ót í c o ou de Engenheiro usando o e x e m p l o d o í t e m 3 . 1 . 1 t e m o s : A s s e n t a d o o n í v e l em um ponto l que p e r m i t a f a z e r o maior número de v i s a d a s p o s s í v e l. Após isto deve-se nivelar o aparelho e v i s a r o ponto mais a l t o do t e rre no ( e x e m p l o d e l e i t u r a no f i o mé dio igua l a 1 , 0 m ) . Por qu es tõe s de s e g u ra n ç a é recomendado somar a e s t a leitura a metade do EV: como o EV do exemplo era 2,24m e o primeiro terraço deve ser locado com a metade do espaçamento temos: (1,0 + l ,22 = 1,61) 2 O valor de l,61 será a leitura de todas as estacas da primeira curva em nível. As leituras da segunda curva em nível serão obtidas somando a leitura da curva anterior (1,6 l m) com o EV (l,22m), assim temos: 1,61 + 1,22= 2,83m, que será a leitura de todas as estacas da segunda curva em nível. As leituras da terceira curva em nível serão obtidas somando a leitura da curva anterior (2,83m) com o EV( l,22m), assim temos: 2,83 + 1,22= 4,05m, que não poderá ser lido na mira, pois esta tem 4,0 m de comprimento. Desta forma se faz necessário mudar o aparelho para a posição 2, assentando-o e nivelando-o. Na sequência deve-se visar uma estaca anteriormente conhecida,que será a visada de Ré (O, 50m). A esta, somar o EV (l ,22m). Dessa forma temos: 0,50+1,22=1,72m que será a leitura de todas as estacas da terceira curva em nível. Considerando que não há possibilidade de v i s a r a terceira estaca da terceira curva da posicão 2, proceder a mudança do a p a r e l h l o para a posição 3 e fazer nova l e i t u r a de Ré (0,70m) em uma estaca anteriormente conhecida, após estar o a p a r e lh o n i v e l a d o . Como queremos con tinua r a locar a mesma curva, faz-se necessário manter a l e i t u r a de Ré (0,70m) em todas as outras es taças . Se for necessário, locar m a i s curvas em n í v e l , proceder de mane ira semelhante ao descrito anteriormente. 21 Figura 19. Esquema de Locação de terraço usando o nível de engenheiro. 22 Locação de terraços em gradiente: O gradiente dos terraços refere-se à inclinação do canal, responsável pelo escoamento seguro da água no mesmo. O gradiente pode ser constante ou progressivo. O gradiente é constante quando a inclinação é a mesma ao longo de todo o canal, ou seja, não sofre variação ao longo do terraço. Esse gradiente não deverá ser muito elevado, a ponto de permitir velocidade de escoamento acima da velocidade crítica de arraste de partículas do solo (Tabela 9). Velocidades acima da crítica podem causar erosão no fundo do canal do terraço. O gradiente de 0,3% (3 por mil), como gradiente constante, é razoável para a maioria das situações de solos. Gradientes muito menores que 0,3% não possibilitam bom escoamento do excedente de água. O gradiente é progressivo quando a inclinação no canal do terraço aumenta ao longo do mesmo. O desnível no canal inicia-se em 0% (canal em nível) e aumenta gradativamente, a intervalos regulares, com o aumento do comprimento do terraço (Tabela 6). Tabela 6. Gradiente progressivo para terraços de drenagem. Comprimento do terraço (m) Gradiente 0 – 100 Em nível 100 – 200 0,1% 200 – 300 0,2% 300 – 400 0,3% 400 – 500 0,4% 500 – 600 0,5% > 600 Divisão de águas O comprimento de terraços com gradiente não deve exceder a 600 metros. Terraços muito longos podem apresentar erosão no fundo do canal, dado o acúmulo de volume e energia da enxurrada ao longo do mesmo. Os sistemas de terraços em gradiente exigem, como complemento, um canal para escoamento do excesso de água dos terraços, de forma segura, até a parte mais baixa do terreno. Estes canais escoadouros podem ser naturais ou artificiais como já foi apresentado e serão dimensionados posteriormente. A seguir é apresentado um exemplo de locação de terraços em gradiente (terraços de drenagem). 23 Exemplo de cálculo do espaçamento entre terraços: Solo com horizonte B Cultura perene Estaqueamento argílico Declive max. = 18% X = 2,0 (tabela) De 10 em 10m Cálculos: EV = (18/2 + 2) . 0305 EV = 3,34m Locação de terraços em gradiente constante: Aparelho a ser usado Nível ótico Gradiente constante 0,3% Instala-se, inicialmente, o nível em um local que permita fazer o maior número possível de visadas, permitindo também visar o ponto mais alto do terreno. A seguir, nivela-se o aparelho e visa-se o ponto mais alto do terreno (leitura no fio médio igual – Ex: 0,15m). Soma-se a essa leitura, por questão de segurança, a metade do EV, 0,15 + 3,34/2 = 1,82m, que será a leitura da primeira estaca da primeira curva. Considerando o gradiente constante 0,3%, e distância entre estacas igual a 10m, tem se: 100m ------------------------------------ 0,3m 10m --------------------------------------- x x = 0,03m (3 cm) Assim, as leituras da estacas seguintes serão acrescidas de 0,03m no sentido do canal escoadouro (1,82m; 1,85m; 1,88m; etc.). A leitura da primeira estaca da segunda curva será obtida somando-se o valor de EV (Ex: 3,34m) a leitura da primeira estaca do terraço anterior. 1,82 + 3,34 = 5,16m, que não mais poderá ser lida na mira, pois esta tem 4,0m de comprimento. Muda-se o aparelho para uma segunda posição de onde se possa visar a primeira estaca (de preferência uma leitura baixa). Nivela-se o aparelho e visa-se a primeira estaca da primeira curva, que será a visada de ré (Ex: 0,20m). À esta leitura soma-se o EV (3,34m). Assim, tem-se: 0,20 + 3,34 = 3,54m, que será a primeira leitura da segunda curva. As demais estacas da segunda curva são obtidas somando-se 0,03m (3,57; 3,60; 3,63, etc.). Muda-se o aparelho para uma terceira posição, se 24 necessário, e faz-se nova leitura de ré (Ex: 0,10m) em uma estaca anteriormente conhecida, após estar o aparelho nivelado. Para se locar as estacas na mesma curva, adicionam-se 0,03m (3cm) à leitura anterior (0,13; 0,16; 0,19; 0,22; etc.). Se for necessário locar mais curvas, procede-se de maneira semelhante. Locação de terraços em gradiente progressivo: Nível ótico: Instala-se o nível uma posição que permita fazer o maior número possível de visadas. A seguir nivela-se o aparelho e visa-se o ponto mais alto do terreno (leitura no fio médio – Ex: 0,25m). Soma-se a essa leitura, por questão de segurança, a metade do EV, 0,25 + 3,34/2 = 1,92m, que será a leitura da primeira estaca da primeira curva. Considerando o gradiente progressivo, tem-se: a) De 0 a 100m em nível leituras 1,92m. b) De 100 a 200m: 0,1% - soma-se 1 cm por estaca c) De 200 a 300m: 0,2% - soma-se 2 cm por estaca d) De 300 a 400m: 0,3% - soma-se 3 cm por estaca e) De 400 a 500m: 0,4% - soma-se 4 cm por estaca f) De 500 a 600m: 0,5% - soma-se 5 cm por estaca Para locação das demais curvas, proceder como na locação do terraço com gradiente constante. Dimensionamento de terraços em nível: O dimensionamento de canais de terraços depende de se ter uma estimativa da chuva máxima provável para a região onde é localizada a área a ser terraceada. Várias localidades do país possuem postos meteorológicos de onde se pode obter dados referentes a chuvas. Entretanto, isso ainda está longe de cobrir todo o território nacional. Para a região de Lavras (MG), Silva (1998)6 desenvolveu duas equações que possibilitam estimar a chuva máxima provável em função do tempo de retorno e tempo da chuva. Para dimensionamento de terraços em nível, tem sido empregado tempo de duração de 24 horas (chuva máxima diária) e período de retorno de 10 anos. Dessa forma, empregando-se a equação proposta por Silva (1998), tem-se: I = 43,95 TR0,14 / t0,77 6 Silva, A.M. Hidráulica de terraços. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 19, n. 191. p. 35-38, 1998 25 Onde: I corresponde a intensidade máxima provável em mm/h, no tempo de 24 horas; TR corresponde ao período de retorno desejado para a estimativa (período de probabilidade de ocorrência da chuva com a intensidade estimada); t corresponde ao tempo de duração da chuva (no caso, 24 horas). A equação é aplicada para tempos entre 6 e 24 horas. Calculando-se a intensidade máxima provável para TR=10 anos e t=24 horas, para a região de Lavras, tem-se: I = 43,95 10 0,14 / 24 0,77 Portanto, I = 5,25 mm/h (Precipitação máxima diária estimada: 126 mm/24h) Dados de chuva para a região central do Brasil podem ser encontrados em Assad (1994)7. Equações semelhantes à anterior podem ser encontradas, para diversas localidades, no programa Pluvio, desenvolvido pelo DEA/UFV, cujo acesso é livre (www.dea.ufv.br). O volume de enxurrada que o terraço deverá reter depende também de quanto da chuva poderá escorrer. O coeficiente de enxurrada (Tabela 7) permite estimar a fração da chuva que se transforma em enxurrada. Esse coeficiente depende do tipo de solo (capacidade de infiltração de água), tipo de cobertura vegetal e topografia (declividade do terreno). Tabela 7. Coeficientes de enxurrada em função da topografia, grupo de solos e uso da terra. Bertolini et al. 1993. GRUPO DE SOLOS TOPOGRAFIA RELEVO PLANO: (0- 5%) RELEVO ONDULADO: (5-10%) RELEVO ACIDENTADO: (10-30%) Uso e Manejo A B C D Alto Medio 0.2 0.3 0.4 0.5 0.3 0.4 0.5 0.6 Baixo 0.4 0.5 0.6 0.7 Alto 0.3 0.4 0.5 0.6 Medio 0.4 0.5 0.6 0.7 Baixo 0.5 0.6 0.7 0.8 Alto 0.4 0.5 0.6 0.7 Medio 0.5 0.6 0.7 0.8 Baixo 0.6 0.7 0.8 0.9 Na figura 20 é apresentado esquema de terraceamento de uma gleba de terras mostrando a retenção do volume de enxurradas pelo canal do terraço. 7 Assad, E.D. (coordenador). Chuva nos cerrados: análise e espacialização. EMBRAPA. Brasília. 1994. 423p. 26 Figura 20. Esquema representativo do volume de enxurrada gerado em gleba terraceada e a ação dos canais dos terraços. O próximo passo para dimensionamento do terraço será definir a largura do mesmo, o que é feito em função da disponibilidade de equipamento para a construção. Figura 21. Esquema representativo de terraço mostrando: A – volume de terra movimentado; B – Camalhão ou Diqueo; C – Canal do terraço. Entende-se por seção, o formato do canal, em corte transversal. São três as formas mais comuns de seções de canal de terraços: trapezoidal, triangular e parabolóide (Figura22). O formato da seção é definido pelo tipo de equipamento empregado na construção do canal. Geralmente, a construção de terraços empregando arado de disco resulta em seção parabolóide ou triangular. Os terraços de base estreita (2 a 3 metros de largura total) são 27 normalmente construídos com seção trapezoidal, para permitir maior capacidade de retenção da enxurrada com menor largura e profundidade do canal do terraço. L l p T ra p e z o id a l P b e L l T ria n g u la r P p e Z = e/p L l p P a ra b o ló id e P F o rm a s do Canal Á re a se c c io n a l (A ) P e rím e tro M o lh a d o (P m ) R a io H id rá u lico (R h ) L a rg u ra s T ra p e zo id a l bp + Zp2 b + 2 p (Z 2 + 1 ) 0 ,5 A /P m l = b + 2Zp L = b + 2ZP T rian g u la r Zp2 2 p (Z 2 + 1 ) 0 ,5 A /P m l = 2Zp L = ( P / p )l P a ra b o ló id e 2 lp /3 l + 8 p 2 /3 l A /P m l = A /0 ,6 7 p L = l(P /p ) 0 ,5 Figura 22. Formas de seções de canais de terraços e respectivas fórmulas para cálculo de área da seção do canal. I é a largura do canal em condições normais de canal cheio de água; L á a largura do canal em condições extremas; p é a profundidade do canal em condições normais e P é a profundidade do canal em condições extremas. Z é a inclinação do talude do canal. Por comodidade considera-se que aproximadamente 2/3 da largura total do terraço corresponde a largura útil do canal do terraço (largura I, Figura 22). Desta forma, faz-se necessário no dimensionamento da largura total do canal do terraço (largura L, Figura 22) uma margem de segurança, que normalmente é de 10%. Exemplificando, se um terraço for de base média, com 4,5 metros de demovimentação de terra (A - Figura 21), o canal terá uma largura I correspondente a 3 metros. Neste caso a largura total do canal (L) será de 3,3 metros. 28 Para o cálculo da profundidade útil (p) e profundidade total (P) do canal é preciso conhecer o valor da área seccional (A) do canal, o que é função do volume de enxurrada que chega no canal. Salienta-se que os terraços são construídos com seção única, do início ao final do canal. Como exemplo será dimensionado um canal de terraço de base média, em nível, empregando-se o espaçamento vertical de 1,84 m. A largura do terraço será de 5 metros, portanto, a largura do canal será de 3,5 metros, assumindo-se que o terreno tenha declividade de 10%. A distância horizontal entre terraços será: EH = 100EV/D EH = 100 1,84/10 = 18,4 metros Sabendo-se que a seção do canal do terraço é independente do comprimento do mesmo, pode-se empregar o comprimento unitário (1 m) para efeito de cálculo. Dessa forma, a área para captação de enxurrada será: A = EH * 1 A = 18,4 m x 1 m = 18,4 m2 Conhecendo-se a área de captação de água (área a montante do terraço) e quantidade de chuva diária, pode-se calcular o volume de enxurrada a ser retido pelo terraço (para um metro linear de terraço). Com relação a chuva, parte infiltrará no terreno e parte poderá escorrer. O coeficiente de enxurrada (Tabela 7) permite estimar essa fração da chuva que eventualmente poderá escorrer até o canal do terraço. Para efeito de exemplo, serão considerados o solo de permeabilidade rápida no solo e subsolo (pertencente ao grupo A), uso e manejo médio e o relevo ondulado (5 a 10%). O coeficiente de enxurrada (Tabela 7) é 0,4. Conforme cálculo anterior, a quantidade de chuva máxima diária para a região é de 126mm (0,126 m) O volume de enxurrada por metro linear de terraço será: V = 18,4 m2 x 0,126 m * 0,4 = 0,93 m3 A seção do canal será: S = V (m3)/C (1 m) = 0,93 m2 No caso considerou-se o comprimento do canal como sendo 1 metro. Considerando que o canal do terraço terá seção triangular com largura 29 útil igual a 3,5 metros, pode-se calcular a profundidade necessária para o volume de enxurrada. Como se trata de um triângulo, a área da seção é: S = I x p/2 p = 2 x S/I = 2 x 0,93/3,5 = 0,53m Portanto, o canal do terraço deverá ter 0,53m de profundidade (p) e 3,5 metros de largura (I), para suportar a enxurrada máxima provável. A título de segurança, pode-se elevar em 10% a profundidade do canal, passando para cerca de 0,6m (P). Dimensionamento de terraços em gradiente: O dimensionamento de terraços em gradiente requer cálculos tão mais complexos quanto o rigor na locação e construção. Como se trata de uma estrutura que permitirá vazão de água, será necessário o entendimento de movimento de água em canais abertos. Para efeito de ilustração, será usada a Figura 23. A vazão máxima de água na extremidade do canal depende do caminho percorrido pela água (comprimento e desnível). No exemplo da Figura23, estão sendo também considerados o espaçamento vertical de 1,84m entre terraços, a declividade do terreno de 10%, o gradiente do canal do terraço igual a 0,3% e o comprimento do canal do terraço igual a 500 metros. A vazão no canal aumenta com o tempo e a distância até atingir o máximo no ponto c. O tempo para que a vazão chegue ao máximo é chamado tempo de concentração, que representa o tempo necessário para que toda a área de captação contribua com água para a vazão do terraço. A relação entre a vazão e o tempo é representada na Figura23. A chuva deverá durar no mínimo o tempo de concentração para que a vazão estimada represente a vazão máxima provável da área. 30 Canal escoadouro a Terraços em gradiente F EH = 18,4 m Área de captação de enxurrada para vazão na extremidade do terraço b Extremidade do terraço Comprimento = 500 m c F Figura 23. Ilustração da localização de terraços em gradiente. Vazão Vazão máxima Tempo de concentração Tempo FIGURA 24. Relação entre vazão de enxurrada e tempo de concentração da água da chuva para área terraceada. Para a estimativa da intensidade de chuva máxima provável nesse tempo, será empregada uma outra fórmula, também proposta por Silva (1998), como segue: 31 I = 250 TR 0,14 / t 0,44 Onde I representa a estimativa da chuva máxima provável para TR, que representa o período de retorno (tempo de recorrência adotado para probabilidade da chuva máxima) e t o tempo mínimo de duração da chuva. Esta equação é aplicada para t<120min. O tempo de concentração de água no ponto de descarga pode ser estimado pela formula proposta por Kirpch8, como segue: Tc = 0,0195 L0,77 S-0,385 Onde Tc representa o tempo de concentração (min.), L representa o maior caminho que a água percorre até o ponto de descarga (metros) e S representa o desnível do maior caminho (m/m). Como exemplo, para estimativa do tempo de concentração para a situação ilustrada na Figura 22, o maior caminho que a água deverá percorrer até o ponto de descarga, é do ponto a para o ponto b (que representa o espaçamento horizontal entre os terraços = 18,4m) e do ponto b até o ponto c (que representa o comprimento do terraço=500m). Dessa forma, o comprimento L da equação será igual a 518,4m. O desnível desse caminho da água (S) pode ser obtido de forma semelhante, ou seja: a diferença de nível do ponto a ao ponto b é igual ao espaçamento vertical entre terraços (no caso do exemplo = 1,84m) e a diferença do ponto b ao ponto c representa o gradiente total do terraço em toda a sua extensão (0,3%) que será 1,5m. Dessa forma, o valor de S para calculo do tempo de concentração será [(1,84+1,5)/518,4] 0,00644m/m. O tempo de concentração da área será: Tc = 0,0195 x 518,40,77 x 0,00644–0,385 = 16,75 min. O tempo de concentração é empregado para estimativa da chuva máxima provável, uma vez que este representa o tempo mínimo que a chuva deverá durar para que ocorra a vazão máxima de enxurrada da área. A estimativa dessa intensidade máxima provável é obtida, assumindo o tempo de retorno de 10 anos, como no exemplo de terraços em nível. I = 250 TR 0,14 / t 0,44 I = 250 10 0,14 / 16,75 0,44 = 99.8 mm/h (0,0998m/h) 8 Kirpich, P.Z. Time of concentration of small agricultural watersheds. Civil Eng. 10, 362. 1940. 32 A área de captação de enxurrada é aquela entre dois terraços, ou seja, o comprimento do terraço multiplicado pelo espaçamento horizontal entre os mesmos. O volume (vazão) da enxurrada depende também de quanto da chuva será efetivamente transformada em enxurrada, que depende de atributos do solo e cobertura vegetal. O coeficiente de enxurrada (Tabela 7) será então empregado para expressar a fração da chuva que se eventualmente se transformará em enxurrada. Assim, a vazão de enxurrada na área poderá ser estimada por: A = 500m x 18,4m = 9200m2 Q=CxIxA 3 3 Onde: Q representa a vazão da área (m /h ou m /s), C representa o coeficiente de enxurrada 2 (sem unidade) e A representa a área de captação (m ) Q = 0,4 x 0,0988 m/h x 9200 m2 = 363,6 m3/h (0,101 m3/s) O dimensionamento do canal do terraço em gradiente é dimensionado para a vazão máxima estimada para a área. A vazão em canais abertos é função da seção dos mesmos e da velocidade da água no seu interior, que é conhecida como equação da continuidade. Q=SxV No caso de canais de terra (terraços), é necessário observar que a velocidade da água não deve ser excessiva. Velocidades acima do limite podem causar erosão no canal do terraço. Na tabela 9 são sugeridos valores de velocidade máxima a ser admitida nestes canais em função do tipo de solo e declividade. 33 Tabela 7. Valores máximos para velocidade média em canais abertos (m/s). Adaptado de (Neves, 1986)9 e Bertoni & Lombardi Neto (1985)10 Solos mais erodíveis Solos menos erodíveis Declividade % Declividade % 0a5 5.1 - 10 > 10 0a5 5.1 - 10 > 10 Solos ricos em silte e/ou areia muito fina 0.2 NR NR 0.3 NR NR Solos de textura arenosa 0,45 NR NR 0.75 NR NR Solos de textura média 0.7 NR NR 0.8 NR NR Solos de textura argilosa 0.8 NR NR 1.2 NR NR Como ponto de partida para o dimensionamento do canal do terraço para escoamento do excesso de enxurrada, considera-se inicialmente a velocidade máxima (Tabela 7). No caso do exemplo que vem sendo desenvolvido, o solo em questão é de textura média e resistente a erosão (velocidade máxima permitida = 0,8m/s). A vazão calculada anteriormente foi de 0,101m3/s. Portanto, sendo a vazão uma função de seção e velocidade (Q = S x V), tem-se que a seção do canal será: S = Q/V S = 0,101/0,8 = 0,126 m2 Para o exemplo que vem sendo desenvolvido, a vazão calculada foi de 0,101m3/s. Portanto, sendo a vazão uma função de seção e velocidade (Q = S x V), considerando a velocidade como sendo de 0,6 m/s, tem-se que a seção do canal será: S = Q/V S = 0,101/0,6 = 0,168 m2 No caso dos terraços em gradiente, a largura poderá ser menor do que aquela empregada para os terraços em nível. Para efeito de exemplo, será empregado o terraço de base igual a 3 metros, onde a largura do canal (I) será de 2 metros, com seção triangular. A profundidade necessária para a vazão de 0,101 m3/s será: 9 Neves, E. T. Curso de hidráulica. 8ª ed. Porto Alegre. Ed. Globo. 1986.577p. Bertoni, J. Lombardi Neto, F. Conservação do solo. Piracicaba. Livroceres, 1985. 392p. il. 10 34 p = S * 2/I 2 Onde p corresponde a profundidade do canal (m), S corresponde a área (m ) da seção do canal (S = I x p/2) e I corresponde a largura do canal (m). p = 0,168 x 2/2 = 0,168m (0,17m). A título de segurança, pode-se elevar em 10% a profundidade do canal, passando para cerca de 0,2m (P). Manutenção dos terraços: Anualmente, antecipando ao período das chuvas, deve-se realizar uma manutenção preventiva nos terraços. No caso dos terraços em nível, a prevenção é feita removendo-se os sedimentos acumulados no interior do canal para sobre o camalhão. Os terraços em gradiente são verificados também quanto ao acúmulo de sedimentos no canal, principalmente, quanto a possível erosão no mesmo. No caso de se verificar erosão no interior do canal do terraço em gradiente, trata-se de velocidade acima daquela que o solo é capaz de resistir. Corrigi-se esse problema vegetando-se o canal do terraço ou colocando-se pequenos dissipadores de velocidade no interior dos mesmos, tais como uma pequena valeta com pedras, pedaços de madeira, etc. O mesmo se aplica aos canais escoadouros. Sedimentos acumulados no interior das mesmas devem ser retirados e colocados sobre o aterro. Eventuais falhas nos camalhões dos terraços devem ser corrigidas. Canais escoadouros: Os terraços em gradiente deságuam em canais escoadouros que podem ser depressões naturais do terreno ou canais construídos com essa finalidade. Em ambos os casos, o canal escoadouro deverá ser vegetado e contar com dissipadores de energia da água para que não ocorra erosão no interior do mesmo. Nesse caso, há necessidade de que esses canais sejam projetados e construídos antecipadamente aos terraços. Recomenda-se que estes sejam construídos pelo menos um ano antes dos terraços para que a vegetação tenha tempo para se estabelecer. Esse tipo de canal não deve ser profundo pois haverá risco de remoção de toda a camada superficial do solo durante a construção do mesmo, dificultando o estabelecimento da vegetação. Portanto, tratam-se de canais rasos e largos (alguns autores recomendam a relação entre profundidade e largura de cerca de 1:40). Em se tratando de seção triangular, a área da seção do canal será: S = L x P/2 (sendo L=40P) 35 S = 20 P2 O risco de erosão no interior desses canais é maior do que em canais de terraços, em função da declividade dos mesmos ser maior, uma vez que estes canais são construídos no sentido do declive do terreno. Em função da cobertura vegetal e declividade do terreno, as velocidades admissíveis no interior destes canais são apresentadas na tabela 8. Tabela 8. Valores máximos para velocidade média em canais escoadouros cobertos com gramínea de densidade média (m/s). Adaptado de (Neves, 1986)11 e Bertoni & Lombardi Neto (1985)12 declividade 0a5 5.1 - 10 > 10 cobertura regular 0.9 0.75 cobertura boa 1.2 1.05 0.9 cobertura ótima 1.5 1.35 1.2 O dimensionamento desses canais segue aquele empregado para canais de terraços. A vazão de água nesse caso aumenta a medida que o canal avança encosta abaixo, sendo uma somatória das vazões dos terraços. Assim, a vazão final dos mesmos depende do número de terraços, iniciando pela vazão do primeiro terraço e terminando com a vazão do último, acrescida da vazão dos demais. Como mencionado anteriormente, o canal escoadouro deverá ser construído pelo menos um ano antes da locação e construção dos terraços para que haja tempo suficiente para o estabelecimento da vegetação no mesmo. A Tabela 9 indica algumas sugestões de vegetação para canais escoadouros. 7.3 CONTROLE DA EROSÃO EM ESTRADAS RURAIS O escoamento da produção agropecuária é feito, principalmente, em estradas sem pavimentação que ligam praticamente a totalidade das propriedades rurais no país. A precariedade desse sistema viário contribui para perdas, aumento no custo do transporte e, evidentemente, elevação no preço 11 12 Neves, E. T. Curso de hidráulica. 8ª ed. Porto Alegre. Ed. Globo. 1986.577p. Bertoni, J. Lombardi Neto, F. Conservação do solo. Piracicaba. Livroceres, 1985. 392p. il. 36 dos produtos. A preservação contra a erosão no interior e margens dessas estradas pode, em muitos casos, ser feita pelos proprietários, com ou sem ajuda do poder governamental. Uma forma eficiente de controle da erosão nas estradas é o emprego de bacias de contenção (ou retenção) da enxurrada gerada nas estradas. Essas estruturas, além de diminuir a ação da enxurrada na destruição das estradas, aumenta o aproveitamento das chuvas, por permitir maior infiltração de água. A Figura 45 mostra uma bacia de captação de água em estrada. Figura 23. Bacia de contenção de enxurrada em estrada (Foto: Jose M. Lima). As bacias de captação ou de contenção de enxurrada são construídas nas margens da estrada, a espaçamentos definidos em função da declividade da estrada e do tipo de solo. Acra (1988)13 emprega a largura da estrada, a declividade e o volume da enxurrada para a determinação da distância entre bacias. Bertolini et al. (1992)14 empregam o volume de enxurrada, o raio da bacia, a largura da estrada e a precipitação máxima diária para a definição da distância entre bacias. Neste texto, será empregada a fórmula para espaçamento entre terraços proposta por Bertoni (1959)15, para o cálculo da distância entre bacias, conforme a equação: 13 Acra, A. M., Captação e aproveitamento de águas pluviais das estradas. Campinas, CATI. 12p. (Bol. Tec. 185. 14 Bertolini, D.; Drugowich, M.I.; Lombardi Neto, f. & Bellinazzi Junior, R. Controle de erosão em estradas rurais. CATI, Campinas. 1992. 37p. (Bol. Tec. 207). 15 Bertoni, J. O espaçamento dos terraços em culturas anuais, determinado em função das perdas por erosão. Bragantia, IAC, Campinas, v. 18(10). P.113-140. 1959. 37 EV = 0,4518 * k * D 0,58 Onde: k: fator de resistência do solo a erosão; D: declividade (%) Baseado na Fórmula de Declividade tem-se: D = (EV/EH)*100 EV = (D * EH)/100 Substituindo-se EV na primeira fórmula, tem-se: (D * EH)/100 = 0,4518 k D 0,58 EH = 45,18 * k * D–0,42 Dessa forma, pode-se calcular o espaçamento (distância) horizontal entre as bacias de captação que servirá também para cálculo do volume de enxurrada gerado no trecho da estrada entre duas bacias consecutivas e que deverá ser retido pela bacia a jusante. As bacias são locadas seguindo os esquemas apresentados nas Figuras 46 e 47, respectivamente, locação e cortes esquemáticos. Camalhão de terra para direcionar a água para a bacia 1 1 Bacia de captação em semi-círculo Canal de terra para conduzir a água até a bacia (Declividade 1%) Bacia de captação em formato circular 38 Z 1 raio da bacia Talude: Z:1 (ou Z) Aterro Corte profundidade raio da bacia Corte Aterro Figura 24. Corte esquemático de bacia de captação de enxurrada. O volume da enxurrada a ser retido pela bacia, é calculado em função do espaçamento entre bacias, da largura da estrada e da precipitação diária da região em questão. Para estimativa da chuva máxima em 24 horas para a região de Lavras (MG), de acordo com Silva (1998), tem-se: I = 43,95 * TR 0,14/ t 0,77 Onde I: intensidade da chuva máxima diária; TR: período de retorno em anos; t: tempo (24 h). O período de retorno ou tempo de recorrência da chuva indica a probabilidade de que uma chuva da intensidade prevista possa ocorrer. Ou seja, a probabilidade é de que uma chuva a cada TR terá a intensidade prevista. Considerando-se um período de retorno de 10 anos, a intensidade máxima diária será: I = 126mm/24h (0,126m/24h). O Volume da enxurrada a ser retido na bacia será: 39 V = I * EH * L Onde: I: intensidade da chuva em 24 h (m), EH: espaçamento horizontal (distância) entre bacias de captação (m) e L representa a largura da estrada (m). Como exemplo, será calculado o espaçamento entre bacias e o volume de enxurrada para uma estrada de 4 metros de largura, com 7,5% de declividade, em solo resistente a erosão (k = 1,25) e a precipitação máxima diária igual a 126mm/24h (0,126m/24h) em um período de retorno de 10 anos. EH = 45,18 x 1,25 x 7,5 -0,42 = 24,2 m Vol = 0,126m x 24,2m x 4m = 12,2m3 Esse será, portanto, o volume de enxurrada que a bacia deverá reter. Dependendo do formato da bacia, esta terá raio e profundidade definidos para reter o volume máximo previsto de enxurrada. Antes de se apresentar os cálculos de volume das bacias, é necessário definir-se a inclinação do aterro da bacia, ou talude, conforme ilustrado na Figura 47. Para efeito de cálculo, será apresentado o talude de 1:1, ou seja, z=1, ou ainda, um ângulo de inclinação máximo igual a 45°. As bacias de formato circulares têm o volume definido pela equação: Vol = π p2 (r – p/3) Quando se adota uma máxima inclinação de talude igual a 45°, a relação entre raio e profundidade fica definida, conforme ilustrado na Figura 48. 40 Raio = Cos 45° Prof. = 1 – Sen 45° Cos 45° = 0,707 Sen 45° = 0,707 Portanto, r/p = 0,707/(1-0,707) r/p = 2,41, ou r = 2,41p Sen de 45° Cos de 45° Se: Vol = π p2(r – p/3) Vol = π p2 (2,41p – p/3) Vol = 6,52 p3 p = (Vol/6,52)1/3 Ângulo máximo de inclinação = 45° Fig ura 25. Relação entre raio e profundidade com o volume de bacia de contenção para inclinação máxima de aterro igual a 45°. Voltando ao exemplo no qual a bacia terá de comportar 12,2m3 de enxurrada, a profundidade e o raio de uma bacia circular serão: p = (12,2/6,52)1/3 = 1,23m r = 2,41 x 1,23m = 2,96m A Figura 49 possibilita a resolução gráfica para o espaçamento horizontal entre as bacias, em função de declividade e tipo de solo; do volume de enxurrada a ser retido pela bacia, em função do espaçamento horizontal e largura da estrada; e do raio e profundidade da bacia, em função dos parâmetros anteriores. A entrada da figura é feita pela declividade da estrada, traçando uma reta horizontal até a curva correspondente ao tipo de solo, a partir do ponto na curva de resistência do solo, direciona-se verticalmente até a reta correspondente a largura da estrada e novamente na horizontal até a curva de raio e profundidade da bacia. 41 35 Curvas de resistência do solo a erosão 30 resistência m. baixa (k = 0.75) Declividade (%) resistência baixa (k = 0.9) No exemplo (setas), tem-se uma estrada com declividade de 7,5%, solo de resistência elevada a erosão, que leva a uma distância 3 de 24,2m entre bacias (EH), 12,2m de enxurrada (4m de largura da estrada) e uma bacia com 3m de raio e 1,24m de profundidade. resistência moderada (k = 1.1) 25 resistência alta (k = 1.25) 20 EH = 45,18 x k x D-0,42 15 10 5 2D Graph 3 Profundidade da bacia (m) 0 55 0.6 50 Volume da enxurrada (m3) 45 40 35 30 Largura da estrada (m) Vol = EH x L x I Onde: EH = distância entre bacias (m), L = largura da estrada (m), I = chuva máxima diária (126mm para região de Lavras-MG) 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 10 m 9m p = (Vol/6,52)1/3 8m r = 2,41 p Para bacias circulares, com inclinação máxima do aterro igual a 45° 7m 6m 25 5m 20 4m 15 3m 10 2m 5 0 5 10 15 20 25 30 35 Distância horizontal entre bacias (m) 40 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 Raio da bacia (m) 4.5 Figura 26. Método nomográfico para determinação de distância entre bacias de captação, volume de enxurrada a ser retido pela bacia, raio e profundidade da bacia, para bacias circulares com inclinação de aterro de 45° (talude 1:1). Caso a bacia a ser construída seja em formato de semicírculo, cálculos para profundidade podem ser feitos em função do volume e do raio bacia. As fórmulas, bem como a maneira gráfica para determinação profundidade em função de volume e raio da bacia, são apresentadas Figura 50. os da da na 42 2,4 2m 3m 4m 2,2 5m Profundidade (m) 2,0 6m 1,8 1,6 1,4 1,2 Equações: 2 pz:0,5 = Vol / (0,64 r ) 1,0 pz:1 = Vol / (0,74 r2) 2 pz=2 = Vol / (0,91 r ) Legenda: 0,8 Onde: p=prof. (m) z = talude r = raio da bacia (m) z = 0,5 z=1 z=2 0,6 0,4 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 Volume da bacia (m3) Figura 27. Relação entre volume e profundidade de bacias semicirculares, para diferentes raios de bacia. Seguindo o exemplo anterior, onde o volume de contenção da bacia será 12,2m3, a profundidade para o mesmo raio de 3 metros, com talude igual a 1, será: p = Vol / (0,74 r2) p = 12,2 / (0,74 x 32) = 1,83m A construção da bacia poderá ser feita com lâminas ou pá carregadeiras, no caso das semicirculares, e com retro-escavadeira, no caso das bacias circulares. Em ambos os casos, a terra do corte será empregada para formação do aterro. É recomendável adicionar-se a altura do aterro, cerca de 20%, para compensar o abatimento do mesmo. O canal de acesso à bacia deve apresentar cerca de 1 metro de largura, com declive máximo de 1% no seu leito, e com dissipadores de energia para a enxurrada. A cobertura vegetal é também prática importante, pois dará maior 43 75 estabilidade, principalmente ao aterro da bacia e no canal de acesso à mesma. Na Tabela 10 são apresentadas algumas sugestões de coberturas vegetais para revestimento das bacias de contenção. Tabela 9. Gramíneas recomendadas para revestimento de canais escoadouros e bacias de contenção de enxurrada, para regiões com estação chuvosa no verão e inverno moderadamente seco (Bertolini et al., 1992)16. Nome científico Nome comum Bracchiaria arrecta tanner grass Bracchiaria decumbens decumbens Bracchiaria humidicula humidícula Bracchiaria mutica Capim angola ou capim fino Panicum repens Grama costela Paspalum dilatatum Grama gorda Paspalum notatum Grama batatais Para melhor desenvolvimento da vegetação em bacias de contenção e em canais escoadouros, são recomendadas a calagem e a adubação da área, de acordo com resultados de analise do solo. Anualmente, antecipando ao período das chuvas, deve-se realizar uma manutenção preventiva nas bacias. Sedimentos acumulados no interior das mesmas devem ser retirados e colocados sobre o aterro. Eventuais falhas no aterro devem ser corrigidas e obstruções nos canais de acesso as bacias também devem ser vistas e corrigidas. 16 Bertolini, D.; Drugowich, M.I.; Lombardi Neto, f. & Bellinazzi Junior, R. Cpntrole de erosão em estradas rurais. CATI, Campinas. 1992. 37p. (Bol. Tec. 207). 44 CAPACIDADE DE USO DA TERRA A classificação da capacidade de uso da terra utilizada no Brasil (Lepsch et al. (1991) visa estabelecer bases para o seu melhor aproveitamento e envolve a avaliação das necessidades para os vários usos que possam ser dados a determinada gleba. As classes de capacidade de uso da terra deverão ser utilizadas como base sobre a qual os fatores econômicos e sociais de determinada área possam ser considerados ao se planejar modificações no uso do solo. Para se determinar a capacidade de uso de cada gleba de terra de uma micro bacia hidrográfica ou propriedade agrícola inicialmente faz-se necessário um levantamento do meio físico, mesmo que de forma simplificada, analisando aqueles de maior relevância para o uso racional da terra, sendo os principais a textura, a permeabilidade e a profundidade efetiva do solo, além de alguns fatores limitantes particularmente aqueles relacionados com a fertilidade; a declividade do terreno, a erosão existente e o uso atual. Estes fatores deverão ser devidamente interpretados e analisados em conjunto objetivando o conhecimento das potencialidades e limitações da terra. De acordo com Bertoni & Lombardi Neto (1991) para se proceder a essa classificação do potencial de uso da terra, os critérios adotados são principalmente, os seguintes: a) Conhecimento da vulnerabilidade do solo, em função especialmente de sua declividade e erodibilidade; b) da produtividade do solo em função de sua fertilidade, da sua falta ou excesso de umidade, acidez, alcalinidade etc.; c) das obstruções ao emprego de máquinas, em função de sua pedregosidade e profundidade efetiva; dos sulcos de erosão existentes, do encharcamento, etc.; d) do ambiente ecológico, em função especialmente das condições climáticas, notadamente o regime pluviométrico. Segundo os autores, além de tais critérios, é necessário que sejam considerados os dados e informações obtidos mediante a experimentação agronômica. Associando-se devidamente todos os fatores levantados, organizando uma classificação das glebas de cada propriedade, ou bacia 45 hidrográfica, ou determinada região, em função de sua capacidade de uso. Meio Físico 1. Profundidade Efetiva do Solo: é a profundidade máxima do solo favorável ao desenvolvimento do sistema radicular, armazenamento de água e absorção de nutrientes pelas plantas. Tabela 7. Classificação da profundidade efetiva do solo Profundidade – m Classificação >2 Muito profundo 1–2 Profundo 0,5 – 1 Moderadamente profundo 0,25 – 0,5 Raso < 0,25 Muito raso Em função do tipo de sistema radicular as plantas cultivadas apresentam diferentes exigências no que se refere à profundidade efetiva do solo. Como exemplo, a profundidade efetiva do solo para o cafeeiro está em torno de 1,20m, isto para regiões cujo clima apresenta boa distribuição de chuvas durante o ano como ocorre em anos normais no centro sul do Brasil; maiores períodos de seca exigem maior profundidade do solo (Guimarães e Lopes, 1986). As pastagens podem ser bem manejadas mesmo em solos rasos a moderadamente profundos, desde que não haja limitação de água e nutrientes. 2. Fertilidade do solo: refere-se a capacidade do solo em suprir as plantas em nutrientes, representando a capacidade do solo em sustentar a produção agrícola. Lepsch et al. (1991) classificam o solo quanto a fertilidade em muito alta; alta; média; baixa e muito baixa levando em consideração a capacidade do solo em manter a produtividade durante algum tempo; esta classificação é utilizada em países de clima frio onde é comum a ocorrência de solos férteis em condições naturais. Para as condições brasileiras os autores alertam para a 46 necessidade de análise de resultados analíticos de amostras de solos, salientando que estes são difíceis de interpretar se não estiverem correlacionados com dados de produção de culturas em condições de campo. Os solos podem apresentar grandes diferenças em seus atributos morfológicos, químicos, físicos e mineralógicos tornando difícil o julgamento seguro sobre os dados isolados de análises químicas como indicadoras da capacidade do solo suprir as plantas com nutrientes. Particularmente na região dos cerrados, na maioria dos solos só se observa produtividades elevadas de plantas quando a fertilidade dos mesmos é construída pelo uso de corretivos e fertilizantes. Na região dos cerrados o caráter eutrófico e distrófico dos solos, a princípio, poderiam ser utilizados no julgamento da fertilidade do solo, entretanto, existem limitações da aplicação do conceito de eutrofia em conotação com a fertilidade principalmente dos Neossolos Quartzarênicos e Latossolos altamente intemperizados. Nestes solos devido aos baixos valores de CTC, pequenos valores de soma de bases podem resultar em saturação por bases > 50% e indicar solos eutróficos de baixa fertilidade natural. O conceito de eutrofia também não permite inferências a respeito de disponibilidade de nutrientes essenciais como o nitrogênio, fósforo, enxofre e alguns micronutrientes. Ramalho Filho e Beek (1995) apresentam uma classificação que leva em consideração a soma de bases e a saturação por bases ao longo do perfil, e o teor de alumínio trocável, a condutividade elétrica do estrato de saturação e a saturação de sódio na camada arável. Segundo Oliveira (1992) o potencial nutricional do solo pode ser determinado com base no relacionamento entre saturação em bases (V%) e a capacidade de troca de cátions (CTC). O solo para ser considerado fértil deve apresentar saturação por bases acima de 50% (solo eutrófico); capacidade de troca de cátions acima de 8 cmolc dm-3 (CTC elevada); o teor de fósforo disponível considerado adequado no solo depende da textura sendo: > 8 mg.dm3- para os solos muito argilosos; > 12 mg.dm3para os solos argilosos; > 20 mg.dm3- para os solos de textura média e > 30 mg.dm3- para os solos arenosos. Naturalmente é fundamental um perfeito balanço entre os nutrientes no solo, o que varia de cultura para cultura. Como neste material a ênfase vem sendo dada aos solos dos Cerrados 47 onde a condutividade elétrica e a saturação por sódio normalmente é muito baixa, como sugestão na Tabela 7 é apresentada uma sugestão de classificação simplificada da fertilidade dos solos dos Cerrados tendo por base a saturação por bases; a saturação por alumínio, e a CTC efetiva e potencial dos solos. Tabela 8. Classificação dos Solos dos Cerrados quanto à limitação da Fertilidade17 (adaptado de 5ª aproximação, 1999). Saturação CTC efetiva por alumínio - cmolc dm-3 % na camada de 20 1 60 cm > 75 <1 CTC potencial cmolc dm-3 Saturação por Limitação da bases - % - fertilidade na camada de 20 - 60 cm <2 < 20 Muito Forte 50 – 75 1–2 2–4 20 – 40 Forte 30 – 50 2–4 4–8 40 – 60 Moderada 15 – 30 4–8 8 – 15 60 – 80 Ligeira < 15 >8 > 15 > 80 Nula 3. Pedregosidade: Diz respeito ao percentual de cascalhos, calhaus, matacões ou rochosidade que interfere no uso do solo, particularmente na mecanização. Tabela 9. Classificação dos Solos quanto a pedregosidade18. Percentual de partículas grosseiras Classificação na massa de solo < 15% ou 0,01% da superfície Sem pedras 15–30% (limitando infiltração e Cascalhentos mecanização) >50% Extremamente cascalhentos 17 Os parâmetros CTC efetiva e CTC potencial serão considerados críticos nesta classificação tendo em vista a dificuldade de correção. 18 Cascalhos: partículas com ǿ entre 2 e 20mm; matacões: 200mm; rochas: partículas com ǿ > 200 mm partículas com ǿ entre 20 e 48 0,01–1% da superfície com matacões Com matacões 1-10% da superfície com matacões Abundância de matacões 10-90% da superfície com matacões Excessivamente com matacões 2-15% da superfície com rochas Solo rochoso 15-50% da superfície com rochas Solo muito rochoso 50-90% da superfície com rochas Solo extremamente rochoso 4. Permeabilidade e drenagem interna: é a propriedade que representa uma maior ou menor dificuldade com que a percolação da água ocorre através dos poros do solo. Nos materiais granulares não coesivos como as areias, por exemplo, há uma grande porosidade o que facilita o fluxo de água através dos solos, enquanto que nos materiais finos e coesivos como as argilas19, ocorre o inverso. 19 Como já comentado, os Latossolos mais intemperizados, mesmo os mais argilosos apresentam permeabilidade próxima à de Neossolos Quartzarênicos devido ao tipo de argila presente e a estrutura granular, típica destes solos. 49 Tabela 10. Limites aproximados de permeabilidade para definição das classes de permeabilidade e drenagem interna dos solos (Adaptado de USDA, 1951). Valor permeabilidade mm h-1 Classificação. Permeabilidade Drenagem interna <1,25 Muito Lenta Deficiente 1,25 - 5 Lenta Pobre 75 Moderada Moderada 250 Rápida Adequada Muito rápida Excessiva 575 >250 5. Declividade do terreno: O relevo influencia o escoamento das águas de chuva em diferentes trajetórias sobre o terreno, desta forma a declividade se destaca como um dos principais responsáveis pelas perdas de solo. Com base na declividade do terreno classifica-se o relevo (tabela 10). As distinções são empregadas para prover informações sobre praticabilidade de emprego de equipamentos agrícolas, e facilidade de inferências sobre susceptibilidade dos solos à erosão. 50 Tabela 11. Classificação do relevo de acordo com Embrapa (1999). Declividade Classificação % 0-3 Comentários do relevo Plano Terreno com topografia horizontal, onde os desnivelamentos são muito pequenos; 3-8 Suave Terrenos pouco movimentados constituído por ondulado conjunto de colinas ou outeiros20 com declive suave; 8-20 Ondulado Terrenos pouco movimentados constituída por conjunto de colinas ou outeiros com declives moderados; 20-45 Forte Terrenos movimentados constituído por conjunto ondulado de outeiros ou morros21, e raramente colinas, com declives fortes; 45-75 Montanhoso Terrenos muito movimentados com predomínio de formas acidentadas, usualmente constituídos por morros, montanhas, maciços montanhosos e alinhamentos desnivelamentos montanhosos relativamente apresentando grandes e declives fortes ou muito fortes; >75 Escarpado Terrenos com predomínio de formas abruptas compreendendo superfícies muito íngremes. 6. Erosão: desgaste provocado pelas águas da chuva. Considera-se nesta classificação a erosão laminar; a erosão em sulcos e as voçorocas. 6.1. Área com Erosão Laminar Ligeira: quando menos de 25% do horizonte A já foi removido, ou quando o solo ainda apresentar mais de 15 cm de horizonte A; 6.2. 20 21 Área com Erosão Laminar moderada: quando entre 25-75% do São elevações com altitudes relativas até 50 m e de 50 a 100 m, respectivamente. São elevações com altitudes relativas de 100 a 200 m 51 horizonte A já foi removido, ou quando o horizonte A apresentar entre 5-15 cm de profundidade; 6.3. Área com Erosão Laminar severa: quando mais de 75% do horizonte A já foi removido, ou quando o horizonte A apresentar menos de 5 cm de profundidade; 6.4. Área com Erosão Laminar muito severa: quando todo o horizonte A já foi removido e o horizonte B já foi afetado; 6.5. Área com Erosão Laminar extremamente severa: quando a maior parte do horizonte B já foi removido e o horizonte C já foi afetado; 6.6. Área com Erosão em Sulcos Ocasionais: quando a área apresenta sulcos distanciados em mais de 30 metros; 6.7. Área com Erosão em Sulcos freqüentes: quando a área apresenta sulcos distanciados em menos de 30 metros, porém afetando menos de 75% da área; 6.8. Área com Erosão em Sulcos muito freqüentes: quando a área apresenta sulcos distanciados em menos de 30 metros, e mais de 75% da área já foi afetada; 6.9. Área com Erosão em Sulcos superficiais: quando os sulcos podem ser desfeitos com o preparo do solo; 6.10. Área com Erosão em Sulcos rasos: quando os sulcos não podem ser desfeitos com o preparo do solo, mas ainda podem ser cruzados por máquinas; 6.11. Área com Erosão em Sulcos profundos: quando os sulcos não podem ser cruzados por máquinas, mas ainda não atingiu o horizonte C; 6.12. Área com Voçorocamentos: As voçorocas são sulcos muito profundos e normalmente muito largos, já atingindo o horizonte C. Os principais atributos ligados a solo, relevo, erosão e cobertura vegetal são condicionadores da capacidade de uso do solo, uma vez que a utilização racional terá que levar em conta a potencialidade de exploração de cada gleba. Sem dúvida, quanto mais bem estudado for o solo e quanto maior o número de detalhes e indicações recolhidas no seu levantamento, tanto mais corretas serão as bases para um planejamento de seu uso racional. Todas as terras produtivas podem ser divididas em duas categorias: (a) as 52 que garantem uma colheita satisfatória por determinado período de cultivo sem danos ambientais, e, (b) as que precisam estar cobertas com vegetação permanente para produzir lucro satisfatório sem degradação ambiental. Devese, portanto, em uma classificação de terras determinar em qual categoria uma gleba se enquadra. A essas duas, pode-se acrescentar uma terceira categoria: a das terras que são tão pobres ou tão limitantes, o que exclui qualquer possibilidade de uma exploração racional. Basicamente as terras podem ser agrupadas nas seguintes categorias: (a) cultiváveis; (b) cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas permanentes e adaptadas em geral para pastagens ou florestas: e, (c) terras que não se prestam para vegetação produtiva. As classes de capacidade de uso são baseadas nessas três categorias. A classificação convencional, aceita universalmente, abrange oito classes de capacidades de uso do solo, sendo quatro de terras de cultura (Grupo a), três de terras de pastagens e reflorestamento (Grupo b) e uma de terras impróprias para uso produtivo. As classes de capacidade de uso são caracterizadas, em termos gerais, apenas do ponto de vista das condições físicas da terra, ou seja, das condições inerentes do solo e ecológicas locais. Não são consideradas as condições econômicas e sociais do proprietário para o condicionamento da potencialidade de exploração do solo, embora o sejam na elaboração dos planejamentos especiais de áreas ou de propriedades agrícolas. As características das oito classes de capacidade de uso do solo são as seguintes: Classe I. Terras cultiváveis permanente e seguramente, com produção de colheitas entre médias e elevadas, das culturas anuais, sem práticas ou medidas especiais. O solo é profundo e fácil de trabalhar, conserva bem a água, é medianamente suprido de elementos nutritivos, o terreno tem declividade suave, e podem ser cultivadas sem práticas especiais de controle da erosão. Classe II. Terras cultiváveis que requerem uma ou mais práticas especiais para serem cultivadas segura e permanentemente, com a produção de colheitas entre médias e elevadas das culturas anuais: A declividade pode ser suficiente para correr enxurrada e provocar erosão. O solo pode ter alguma deficiência que possa limitar a sua capacidade de uso: algumas naturalmente encharcadas 53 podem requerer drenagem; podem não ter boa capacidade de retenção de umidade; algumas práticas conservacionistas são necessárias, tais como plantio em contorno, plantas de cobertura, culturas em faixa, ate mesmo terraços. Em alguns casos, pode necessitar a remoção de pedras e utilização de adubos e corretivos. Classe III. Terras cultiváveis que requerem medidas intensivas ou complexas, a fim de poder ser cultivadas, segura e permanentemente, com a produção de colheitas entre médias e elevadas das culturas anuais. A topografia moderadamente inclinada exige cuidados intensivos para controle de erosão; a drenagem deficiente exige controle da água; a baixa produtividade requer práticas especiais de melhoramento do solo. São enquadradas nessa classe as melhores terras, não irrigadas, de algumas regiões semi-áridas. Classe IV. Terras que não se prestam para cultivos contínuos ou regulares, com produção de colheitas médias ou elevadas das culturas anuais, mas que se tornam apropriadas, em períodos curtos, quando adequadamente protegidas. São de declive íngreme, erosão severa, drenagem muito deficiente, baixa produtividade, ou qualquer outra condição que a torna imprópria para o cultivo regular. Em algumas regiões, onde há escassez de chuva, as culturas sem irrigação não são seguras. Classe V. Terras que não são cultiváveis com culturas anuais, sendo especialmente adaptadas para algumas culturas perenes, para pastagens ou para reflorestamento. São terras praticamente planas com problemas de encharcamento, ou alguma obstrução permanente como afloramento de rochas. O solo é profundo e as terras têm poucas limitações para uso em pastagens ou silvicultura, podendo ser usadas permanentemente sem práticas especiais de controle de erosão ou de proteção do solo. VI. Terras que não são cultiváveis com culturas anuais, sendo especialmente adaptadas para algumas culturas perenes, para pastagens ou reflorestamento. São terras que apresentam problemas de pequena profundidade do solo ou declividade excessiva. Em regiões áridas e semi-áridas, a escassez de umidade é a principal causa para o enquadramento na classe. Classe Vll. Terras que, além de não serem cultiváveis com culturas anuais, apresentam severas limitações, mesmo para pastagens ou para reflorestamento, exigindo grandes restrições de uso, com ou sem práticas 54 especiais. Requerem cuidados extremos para controle da erosão. Classe VIII. Terras não cultiváveis com qualquer tipo de cultura e não se prestando para o uso com floresta ou para produção de qualquer outra forma de vegetação permanente de valor econômico. Prestam-se apenas para proteção e abrigo da fauna silvestre, para fins de recreação ou de armazenamento de água em açudes. São áreas extremamente áridas, declivosas, pedregosas, arenosas, encharcadas ou severamente erodidas. São, por exemplo, encostas rochosas, terrenos íngremes montanhosos ou de afloramento rochoso, dunas arenosas da costa, terrenos de mangue e de pântano. Para facilitar na determinação de capacidade de uso de cada gleba, devese, em cada levantamento, organizar uma tabela indicadora das combinações de fatores condicionadores da capacidade de uso do solo que podem ser encontrados em cada classe. Para orientação dos técnicos planejadores, é de ajuda a organização de listas de recomendações para as principais práticas conservacionistas a adotar em cada classe de capacidade de uso do solo e em cada modalidade de exploração. Com base na análise dos cinco parâmetros (profundidade efetiva; pedregosidade; fertilidade; drenagem interna do perfil do solo, declividade do terreno e erosão) na tabela 11 é apresentada uma simplificação de classificação das terras no sistema de capacidade de uso. 55 Tabela 12. Simplificação da classificação das terras no sistema de capacidade de uso utilizada no Brasil. Parâmetro Grau Limitação da Fertilidade do solo Profundidade Efetiva Classe declive de Sulcos superficiais Sulcos profundos Nulo Classe Parâmetro I Drenagem interna do perfil Grau Classe Excessiva II Adequada I Moderada II Ligeira I Moderada II Forte III Pobre III Muito forte VI Deficiente V >1m I Ausência I 0,5-0,99m II <1% II 0,25-0,49m IV 1-10% III <0,25m VI 11-30% IV 31-50% VI >50% VII Pedregosidade 0-2% I Não aparente I 2,1-5% II Ligeira II 5,1-10% III Moderada III 10,1-15% IV Severa VI 15,1-45% VI Muito severa VII >45% VII Extremament e severa VIII Ocasionais II Freqüentes III Muito freqüentes IV Ocasionais IV Freqüentes VI Muito freqüentes VII Erosão Laminar Sulcos rasos Ocasionais III Freqüentes IV Muito freqüentes VI Voçorocas VIII As classes de capacidade de uso das terras podem não ter um caráter permanente, pois as modificações naturais sofridas pelo solo ou a introdução de novas práticas de manejo podem deslocar uma gleba de uma para outra classe de capacidade de uso, porém a avaliação da capacidade de uso se baseará nas condições existentes por ocasião do levantamento. Como referência considera-se como solo ideal aquele que apresenta profundidade efetiva suficiente para expansão do sistema radicular das plantas, 56 ou seja, apresenta profundidade sem limitações químicas e físicas de mais ou menos 150 cm; assim, este solo deve apresentar fertilidade química relativamente alta, com atributos que facilitem a correção de eventuais deficiências. O solo ideal deve apresentar ainda boa capacidade de retenção e armazenamento de água em forma disponível às plantas, sem problemas de excesso. Desta forma este solo deve apresentar boa drenagem interna, não apresentando, portanto deficiência de oxigênio, além de outras condições ambientais a exemplo de condições térmicas adequadas para o crescimento e desenvolvimento das culturas. Deve apresentar baixa erodibilidade; deve estar situado em relevo favorável à mecanização e localizado em relevo que não o predisponha à erosão. Este solo deve apresentar ausência de outros impedimentos a exemplo de pedregosidade. A maioria das estradas deverá ser protegida com bacias de contenção. As propriedades deverão ser planejadas globalmente de modo a ficar protegidas desde as cabeceiras dos morros até o leito dos córregos. Juntamente com os tipos de exploração, serão recomendadas as práticas conservacionistas. Assim, pomar e cafezal, com o plantio em contorno ou com os terraços de base estreita: a cultura anual, cultivada em contorno e protegida com os cordões de vegetação permanente ou terraceamento; a pastagem, com sulcos de retenção de umidade e etc. A definição de classes de capacidade de uso das terras por si só reflete o quadro de fatores do meio físico, constituindo-se em importante documento para o planejamento da atividade rural. Sua confrontação com a ocupação atual das terras define as áreas de uso em conflito. O Sistema de Classificação de Capacidade de Uso das Terras estabelece classes homogêneas de terrenos com base no grau de limitação de uso, e subclasses que representam as classes qualificadas quanto a natureza da limitação. Na caracterização das classes, leva-se em consideração a maior ou menor complexidade das práticas conservacionistas, no caso, as de controle de erosão e as de melhoramento do solo. 57 Sub Classes de Capacidade de Uso Dentro de cada classe de Capacidade de Uso, as terras que apresentam limitações de natureza diferentes são enquadradas em subclasses diferentes. As subclasses explicitam mais detalhadamente as práticas de conservação e/ou de melhoramentos. A natureza da limitação é indicada por letras minúsculas após o algarismo romano das classes. Quando existem duas limitações com intensidades semelhantes, ambas são indicadas separadas por vírgula, com a primeira delas designando a limitação predominante. São quatro as naturezas de limitações expressas pelas subclasses: e, quando existe erosão ou há risco de que ocorra; a, quando há problemas de encharcamento; s, quando há limitação do solo e c quando a limitação diz respeito ao clima (Lepsch, 1991). Como provável causa da degradação dos solos, propensão destes solos ao processo erosivo, ou tipos de processos erosivos existentes, cita-se: 1. Declive acentuado do terreno; 2. Rampa longa; 3. Mudança textural abrupta no perfil do solo; 4. Presença de erosão laminar; 5. Presença de erosão em sulcos; 6. Presença de voçorocas; 7. Permeabilidade do solo baixa; 8. Horizonte A arenoso No que diz respeito a limitações diretamente relacionadas aos solos de cerrados, cita-se como os mais críticos: 1. Pequena profundidade efetiva; 2. Textura arenosa ao longo do perfil; 3. Baixa saturação por bases; 4. Toxidade de alumínio; 5. Baixa capacidade de troca de cátions; 6. Alta saturação por alumínio. 58 As limitações relacionadas com excesso de água e/ou deficiência de oxigênio são comuns em solos de várzeas; em solos localizados ao longo dos cursos de água, ou solos com problemas estruturais, o que está relacionado com compactação e/ou adensamento, sendo elas: 1. Lençol freático elevado; 2. Risco de inundação; 3. Porosidade de aeração muito baixa, ou pequeno percentual de macroporos; O clima predominante no domínio do Cerrado é o Tropical sazonal, de inverno seco, com temperatura média anual em torno de 22-23ºC; máximas absolutas mensais que podem chegar a mais de 40ºC e mínimas absolutas mensais que podem atingir valores próximos ou até abaixo de zero, nos meses de maio, junho e julho em algumas regiões; com potencialidade, portanto, de ocorrência de geadas. Como salientado a precipitação se concentra de outubro a março com média anual de 1200 a 1800 mm, com curtos períodos de seca, chamados de veranicos, que podem ocorrer em meio a esta estação; os problemas criados para a agricultura ocorrrem particularmente nos solos dotados de baixa retenção de água e com restrições ao aprofundamento do sistema radicular devido a limitações químicas e/ou físicas. No período de maio a setembro os índices pluviométricos mensais reduzem-se bastante, podendo chegar a zero (http://www.portalbrasil.net/cerrado_climaerelevo.htm). Desta forma citam-se como principais limitações relacionadas ao clima: 1. Seca prolongada; 2. Geada; 3. Ventos frios Sendo assim, uma área de LATOSSOLO Eutrófico com declive de 9%, por exemplo, que recebeu a classificação IIIe-1, tem capacidade para ser explorada com culturas anuais com práticas complexas de conservação porque o principal problema desta terra diz respeito à susceptibilidade a erosão devido à declividade acentuada do terreno. Sendo este LATOSSOLO Distrófico e recebendo a classificação IIIe-1,s-3 significa que o manejo da área deve envolver controle da erosão e correção das deficiências de fertilidade do solo. 59 Sendo a área recoberta por CAMBISSOLO álico, raso e cascalhento localizado em declive de 25%, com sintomas de erosão laminar severa, apesar das limitações relativas a solo (fertilidade; profundidade efetiva e cascalho) serem consideráveis, o que mais restringe o uso desta terra é o declive acentuado do terreno e a erosão do solo já existente; com isto a classificação desta terra é VIe-1,e-4. 60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Acra, A. 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