UMA VIVÊNCIA DA CULTURA AFRICANA E AFRO – BRASILEIRA NA ESCOLA
Maristela Iurk Batista1 RESUMO
O presente artigo é resultado do plano de intervenção pedagógica, do Projeto PDE desenvolvido no Colégio Estadual Prof. Júlio Teodorico em Ponta Grossa, que teve como público alvo alunos do Ensino Médio, Técnico de Turismo e Turismo Integrado. O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE proporcionou aos professores por ele selecionados da Rede Estadual de Ensino uma análise reflexiva de suas práticas pedagógicas, bem como, uma oportunidade de produzir propostas de trabalho com temas educacionais relevantes no cotidiano escolar. Neste sentido, a opção foi trabalhar com a valorização da participação dos povos africanos na formação da história brasileira. Mesmo porque, o tema, passou a ser obrigatório a partir da criação da lei nº 10.639 de 09 de janeiro de 2003. Assim, nessa perspectiva o caderno pedagógico produzido e implementado no Colégio como um material de apoio aos professores da Rede Estadual de Ensino teve como princípio norteador o levantamento de fontes históricas imagética, escritas, que trouxessem ao conhecimento dos professores as manifestações folclórico­religiosas da cultura afro­
descendente, principalmente folguedos, danças, festejos religiosos, e populares como a Congada, Maracatus, Frevo, Bumba­meu­boi, entre outras. O caderno pedagógico também teve como objetivo provocar a interdisciplinariedade das áreas afins com a história como artes, língua portuguesa e as disciplinas das áreas técnicas dos Cursos de Turismo como por exemplo, Gastronomia, Organização de Eventos e Marketing. Portanto, estudar a história e a cultura da África e dos afro­
descendentes favorecerá a superação da situação de exclusão em que vivem milhares de afro –brasileiros, bem como,contribuirá para a construção da identidade brasileira, reconhecendo nossa ancestralidade. Palavras­Chaves: 1
Cultura Afro­brasileira, educação, lei nº10639, interdisciplinariedade
Professora PDE Titulada ( Mestre em Educação pela UEPG), Orientadora Profª Ms. Angela Ribeiro Ferreira, DEHIS ­ Universidade Estadual de Ponta Grossa.
ABSTRACT
The present article is the result of the pedagogical intervention plan, from the PDE Project developed at Prof. Júlio Teodorico High School in Ponta Grossa, which involved teenager students from high school and Tourism Course from the same school. The Educational Development Program – PDE provided to public teachers a reflexive analysis of their pedagogical practices, and also an opportunity to produce work suggestions with applicable educational themes in the school routine. This way, the option was to work with the appreciation of African people participation in the Brazilian history education. This is because this theme started to be obligated since the creation of the Law nº 10.639 from January 09, 2003. So, in this perspective the pedagogical notebook done and put into effect by the High School as a basement material to the public teachers had as a main principle historical sources researches that brought to the teachers’ knowledge notion of culture and religion folkloristic from the descendents of African people as dances, religious and popular parties like the Congada, Maracatus, Frevo, Bumba­meu­boi and others. The pedagogical notebook also had as a goal to instigate the inter relation of the subjects as History, Arts, Portuguese Language and Tourism technical courses subjects, as Gastronomy, Events Organization and Marketing. Therefore, studying the history and the African culture and the descendents of African people will foment the overcome of the omission situation which are living thousands of afro­Brazilian people, as well, it will contribute to the built of the Brazilian identity, recognizing our ancestors. 1. INTRODUÇÃO
A diversidade cultural brasileira deve permear as discussões na área educacional e na composição das diretrizes curriculares das diferentes disciplinas, principalmente no que diz respeito à cultura negra.
Nas últimas décadas a sociedade brasileira vem tomando consciência da exclusão social: a existência de grupos que, historicamente, têm enfrentado dificuldades para o acesso aos bens coletivos. Para superar essas dificuldades têm sido propostas políticas públicas afirmativas que dão ênfase à cidadania e à dignidade da pessoa humana. Nesta perspectiva a educação é considerada um veículo privilegiado no processo da inclusão social. A educação é essencial ao processo de transformação da sociedade, cabendo à escola estimular a construção de valores, hábitos e comportamentos que contribuam de forma democrática e comprometida para a formação integral do ser humano. Historicamente, os movimentos sociais, particularmente os ligados à população afro­descendente, têm­se empenhado pelo direito à educação com vistas à transformação da realidade social do país. Valorizar a participação dos povos africanos na formação da história brasileira é pertinente e necessário, além de obrigatório a partir da criação da lei nº 10.639 de 09 de janeiro de 2003. Nesta ótica o Caderno Pedagógico elaborado e intitulado “Conhecendo a África que está entre nós: um estudo das manifestações folclórico ­ religiosas,” sob a orientação da profª Ms. Angela Ribeiro Ferreira do DEHIS da UEPG, teve como fio condutor o levantamento das fontes históricas escritas, imagéticas que trouxessem ao conhecimento dos professores as manifestações folclórico religiosas da cultura da cultura afro­descendente, principalmente folguedos, danças, festejos religiosos e populares como a Congada, Bumba­meu­boi, maracatus, frevo, Olodum entre outros. Assim, através da análise pretendeu­se reiterar a importância da utilização das diversas fontes históricas no ensino da história em sala de aula. Objetivou­se também com esse caderno pedagógico auxiliar o trabalho dos professores da Rede Estadual, através de um plano de intervenção pedagógica na escola, no tocante a essa temática tão importante para a compreensão da história do Brasil. Espera­se também contribuir na discussão da prática reflexiva dos professores, para que a escola propicie transformações e mudanças no comportamento da sociedade, especialmente, no que diz respeito às questões afro­ brasileiras. Segundo PERRENOUD (1999, p. 52) “ Considerar os conhecimentos como recursos a serem mobilizados; trabalhar regularmente por problemas; criar ou utilizar outros meios de ensino; negociar outros meios de ensino; negociar e conduzir projetos com seus alunos; adotar um planejamento flexível, indicativo e improvisar; implementar e explicar um novo contrato didático; praticar uma avaliação formadora em situação de trabalho; dirigir­se para uma menor compartimentação disciplinar...”
2. O PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE COMO FORMAÇÃO CONTINUADA AOS PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE ENSINO
Para os professores da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná que estão tendo a oportunidade de participar de um momento importante na vida profissional – através do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional – que é a saída de sala de aula para realização de estudos por um período de dois anos, ou ainda, um ano para os professores titulados, é extremamente rica. Este programa envolve as Instituições de Ensino Superior do Estado numa parceria muito positiva através da participação de cursos oferecidos pelas IES e um novo contato com o mundo acadêmico. A formação continuada dos professores deve ser uma meta nacional do MEC a ser cumprida pelos estados federativos e municípios desse país se quisermos construir um país mais humanizado, menos corrupto e abrir oportunidades para milhares de brasileiros, que vivem marginalizados devido ao analfabetismo que ronda as camadas populares. Pois a escola é que promove o ser humano para a cidadania. Para isso, precisamos de professores bem preparados e comprometidos para os desafios do terceiro milênio atuando em sala de aula.
3. AS FONTES HISTÓRICAS NO ENSINO DA CULTURA AFRICANA E AFRO – BRASILEIRA E A LEI Nº10639/03 NO CONTEXTO ESCOLAR
Ao voltarmos para o principal foco de discussão desse artigo, “as fontes históricas no ensino da história” para serem trabalhadas com a cultura africana e afro­brasileira nos deparamos diante das novas tecnologias do mundo globalizado onde o trabalho do educador dinamiza­se dia­a­dia na sala de aula. A compreensão sobre a importância do uso do documento histórico no ensino da História é essencial, porque, enquanto testemunho da memória coletiva e da História, não pode ser entendido apenas como resto, como sobrevivente de um passado próximo ou remoto, para ser alvo de indagação, análise, reflexão e compreensão de determinado contexto espaço­temporal. Assim, o uso do documento histórico na sala de aula exige tratamento didático, oportunizando ao aluno dialogar com realidades do passado, construindo o sentido de análise e contribuindo para a significação do saber histórico adquirido. Portanto, independente da temática a ser estudada em sala de aula, o uso de documento histórico qualquer que seja ele, proporciona ao aluno a possibilidade de familiarizar­se com realidades passadas ou presentes, desenvolvendo sua condição de raciocínio sobre situações concretas, dinamizando suas reflexões, reduzindo a distância entre o seu cotidiano e realidades distantes e alheias à sua, assimilando melhor e mais significativamente os saberes históricos. Para se trabalhar o conteúdo da diversidade cultural, um dos importantes temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a utilização de diferentes fontes históricas são imprescindíveis para a construção do conhecimento histórico. Documentos escritos, orais, iconográficos, literários, informáticos... “Essa gama extraordinariamente variada pode ser utilizada pelo professor em sala de aula.” E ainda, “os documentos devem ser considerados como ponto de partida para o trabalho do professor em interação com os seus alunos” (BELLOTO, 1984 p. 13).
A diversidade cultural brasileira deve permear as discussões na área educacional e na composição das diretrizes curriculares das diferentes disciplinas, principalmente no que diz respeito à cultura negra e sua contribuição para a formação da cultura brasileira. O Brasil é um país de contrastes e diversidade cultural. Essa diversidade foi construída ao longo do processo histórico desde a chegada do europeu, do africano, este trazido pelos portugueses para o trabalho escravo, posteriormente levas de imigrantes europeus que aqui aportaram nas últimas décadas do séc. XIX italianos, poloneses, russo­alemães, entre outros, como os orientais que, chegaram nas primeiras décadas do século XX em busca de um “EL­dourado”. Nas últimas décadas a sociedade brasileira tomou consciência da exclusão social: a existência de grupos que, historicamente, têm enfrentado dificuldades para o acesso aos bens coletivos. Para superar essas dificuldades têm sido propostas políticas públicas afirmativas que dão ênfase à cidadania e à dignidade da pessoa humana. Nesta perspectiva, a educação é considerada um veículo privilegiado no processo da inclusão social. A educação é essencial ao processo de transformação da sociedade, cabendo à escola estimular a construção de valores, hábitos e comportamentos que contribuam de forma democrática e comprometida para a formação integral do ser humano. Ter direito e acesso a uma educação de qualidade é condição básica para usufruir de bens e serviços coletivamente construídos e disponíveis na sociedade. Historicamente, os Movimentos Sociais, particularmente os ligados à população afro­descendente, têm­se empenhado pelo direito à educação com vistas à transformação da realidade social do país. Embora a Constituição de 1988 afirme que, todos os brasileiros são iguais e têm os mesmos direitos perante a lei, os dados oficiais comprovam que isso não é uma realidade com relação aos negros e pardos. Na passagem do século XX para o XXI, negros e pardos representavam cerca de 45% da população brasileira. No entanto, correspondiam a 64% da parcela pobre do país e a 69% da indigente (formada pelos que vivem com menos de um dólar por dia), (MEC, 2003).
Segundo o mapa da exclusão educacional, divulgado pelo Ministério da Educação e do Desporto em 2003, os brancos têm quatro vezes mais acesso ao Ensino Superior do que os negros, pardos e indígenas (Relatório MEC, 2003). As raízes dessas desigualdades remontam ao século XVI, quando os africanos começaram a ser trazidos como escravos para o Brasil. Segundo ANTONIL (1711) “os escravos negros são as mãos e os pés do senhor de engenho”. Além da contribuição de sua força de trabalho na lavoura canavieira, nas minas, os africanos contribuíram para a formação cultural do Brasil de hoje, pois, vindos de diversas regiões da África trouxeram consigo muitos elementos culturais que foram agregados a cultura brasileira. Valorizar a contribuição dos povos africanos à formação da história brasileira é necessário principalmente a partir da criação da Lei nº 10.639 de 09 de janeiro de 2003, que determinou a obrigatoriedade nas escolas brasileiras do Ensino da HISTÓRIA E CULTURA AFRO–BRASILEIRA, lei sancionada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, sendo que, seu artigo 79­B prevê que: “o calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra”. Mediante essas prerrogativas legais o Estado do Paraná, através da sua Secretaria Estadual da Educação instituiu em suas Diretrizes Curriculares a História da Cultura Afro­Brasileira no Ensino Fundamental e Médio. Em 2007 a Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED passou por uma reestruturação que culminou na criação do Departamento da Diversidade – DEDI, organizado em cinco coordenações: Coordenação de Educação de Jovens e Adultos; Coordenação de Alfabetização de Jovens, Adultos e Idosos; Coordenação de Educação Escolar Indígena; Coordenação de Educação do Campo e Coordenação de Desafios Educacionais Contemporâneos. Nesta última, foram formadas várias equipes para atender diferentes demandas entre as quais se inclui a “História e Cultura Afro­Brasileira”. Equipe essa que, iniciou um processo de diagnóstico em relação ao conhecimento por parte dos educadores do Estado sobre os assuntos relacionados a tal temática. Observou­se então, que essa prática em muitas escolas não vinha ocorrendo, até por falta de material didático pedagógico e mesmo por falta de conhecimento dos professores do material já produzido, bem como, pela falta de aprofundamento dessa temática que até agora não havia sido tratada com a devida importância nas Universidades Brasileiras, nos cursos de graduação em História para a formação de professores. FLORES (2006) comenta em seu artigo, que o ensino da História da África na cultura escolar brasileira a partir de dois campos de produção e representações étnico­ raciais: a pesquisa e o ensino na universidade e a recente legislação sobre as questões étnico­
raciais na escola básica. Parte do pressuposto de que as estruturas curriculares dos cursos de graduação em História, no Brasil, ficaram por muito tempo, presas ao foco eurocêntrico dos conteúdos historiográficos. A própria pesquisa histórica, com a multiplicidade de temas e abordagens nos últimos 25 anos, ainda não conseguiu estimular a alteridade curricular e mudar uma cultura acadêmica e escolar na qual a África e o Africanismo aparecem apenas nos contextos da escravidão e da expansão do capitalismo. (p. 66)
Com a entrada em vigor da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº9394/96 foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação Básica. De modo que, ao final do século XX, os educadores se defrontaram com a propalada diversidade cultural na estrutura curricular e com os temas transversais no que concerne aos conteúdos das disciplinas.
Não resta dúvida de que a Lei nº 9394/96 consolidou diretrizes e bases pluriétnicas para a educação brasileira. Ela tornou imperativo que o ensino de História do Brasil levasse em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia. (art. 26, 4º)” (FLORES, 2006, p. 74)
A lei nº 10639 foi um passo importante para o Ensino da História da África e Cultura Afro­Brasileira, pois ela ordena a reconfiguração curricular e tende a influir na cultura escolar, na medida em que se desdobrou nas diretrizes culturais para este novo século. Pode­se dizer que a determinação legal tem estimulado projetos editoriais e que obras surgidas de experiências afro centristas começam a ficar acessíveis para professores e alunos no campo historiográfico2. Entretanto, ainda 2
Como por exemplo: Leila Leite Hernandez, A África na sala de aula: visita a História Contemporânea, São Paulo, Selo Negro, 2005; Nei Lopes, Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana, São Paulo, Selo Negro2004; Mary Del Priori e Renato Pinto Venâncio, Ancestrais: uma introdução à História da África Atlântica, Rio de Janeiro, Campus, 2004. (in Flores: p. 74)
persiste no âmbito escolar a história eurocêntrica em relação a cultura africana e aos afro­ descendentes.
A monoculturalidade omite processos de disputas entre culturas diferentes, pois a predominância de uma cultura implica que as demais sejam apagadas e silenciadas, especialmente culturas indígenas e afro­brasileiras. Os negros têm sobrevivido diante de muitas dificuldades, porém muitas vezes a própria escola apresenta uma identidade única (branca) de forma acabada como se não houvesse outros pertencimentos diferentes do sistema eurocêntrico. A inclusão do estudo da cultura africana e afro­brasileira nos currículos escolares não se consolida sem a sensibilização e capacitação dos docentes. A sensibilização faz­se necessária porque muitos docentes, senão a maioria traz resquícios de preconceitos em suas atitudes, em seus valores, os quais conscientes ou inconscientemente são passados aos educandos.
A diversidade cultural brasileira deve permear as discussões na área educacional e na composição das diretrizes curriculares das diferentes disciplinas, principalmente no que diz respeito à cultura negra e sua contribuição para formação de nosso país. Faz­se necessário a construção de um espaço dialógico, onde os currículos oportunizem uma reflexão crítica da situação das minorias, dos excluídos e dominados por uma sociedade que prega direitos iguais e “democracia racial”. 4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA / REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
É incontestável a contribuição do negro em todos os segmentos da cultura brasileira, seja na música, na religiosidade, na culinária, nas manifestações populares, danças, folguedos, na literatura, enfim; toda a nossa cultura tem um pedaço da África. Tanto a música como as danças presidem os atos religiosos, as oferendas, os sacrifícios, os ritos de iniciação.
O Candomblé, por exemplo, é formado por três mil cânticos, todos aprendidos de cor, praticamente cada gesto corresponde a uma cantiga. A dança, o canto, a música faziam parte de sua vida cotidiana. Andando, trabalhando, chorando, brincando cantava e cadenciava o ritmo com os pés e as mãos. No Brasil houve a continuidade dessa maneira de viver dando ritmo, cor e alegria ao Carnaval o qual era a princípio uma festa branca. A presença de elementos e rituais das culturas de matriz africana nas manifestações populares brasileiras é bastante grande como macule lê, congada, tambor de crioula, samba de roda, umbigada, carimbo, dança do côco, boi­bumbá, capoeira, etc.
Por mais de três séculos foram trazidos para o Brasil, no período da escravidão, homens e mulheres das mais diferentes nações africanas, e cada qual com cultos, costumes e cantos variados. A mistura de todas essas manifestações culturais acabou originando cultos como Jejê Nagô, Malê ou Alufá, Tambor­de­Mina, cultos Congo­angolanos ( Inquice, denominação genérica desses cultos no Brasil ) e o Bantu (Banto), entre outros. E nos deixaram como legado, instrumentos de percussão como o atabaque, berimbau, agogô, ganzá, cantos de melodias repetidas, manifestações religiosas, como a festa do Rosário, que mesmo sendo de origem portuguesa e, uma festa muito antiga, faz parte das festividades dos afro­
descendentes, que elegeram Nossa Senhora do Rosário como a sua padroeira, inclusive homenageando­a com a coroação de reis negros. Considerando toda essa diversidade cultural presenciada no Brasil, SILVA (1999) diz que:
deve haver o resgate das africanidades brasileiras. Ao dizer africanidades brasileiras estamos nos referindo às raízes da cultura brasileira que têm origem africana. Dizendo de outra forma, estamos nos referindo ao modo de ser, viver, de organizar suas lutas, próprio dos negros brasileiros, e de outro, lado, às marcas da cultura africana que independentemente da origem étnica de cada brasileiro fazem parte do seu dia­a­dia(...). Estudar africanidades brasileiras significa estudar um jeito de ver a vida, o mundo, o trabalho, de conviver, de lutar por sua dignidade, própria dos descendentes africanos(...) significa conhecer e compreender os produtos dos trabalhos e da criatividade dos africanos e de seus descendentes no Brasil e de situar tais produções na construção da sociedade brasileira. (SILVA, p. 386) Quando SILVA afirma que a cultura brasileira tem origem africana, reiteramos que esta faz parte de vivências concretas e, é altamente consumida pela sociedade a qual desconhece sua origem e sua história. É uma cultura construída historicamente, que permeia nossa vida independente do pertencimento étnico. É um grande desafio que exige entre outras coisas, alteridade, estudo, ressignificação de conceitos, valores e atitudes. Exige por parte de todos os agentes educacionais o combate à discriminação e racismos, discutindo conteúdos ou conceitos que depreciam, tiranizam e oprimem. O projeto educativo da escola deve defender direitos individuais e coletivos resgatando a justiça, a liberdade, a dignidade, enfim a plena cidadania. Ele deve ser instrumento de transformação que haja convivência respeitosa entre os diferentes, por isso; enfatiza­se a necessidade de se estudar a diversidade cultural através das manifestações populares ­ religiosas. Para a elaboração do presente projeto de pesquisa e intervenção pedagógica na escola de origem da professora PDE também foram consultadas outras fontes escritas relevantes para a nossa pesquisa sob a orientação da prof ª Angela Ribeiro Ferreira (DEHIS – UEPG). Entre elas, destacamos as seguintes leituras:
Alberto da Costa e Silva (2003) é atualmente o maior africanólogo em língua portuguesa, autor de obras monumentais, como A enxada e a lança e A manilha e o libambo. Diplomata de carreira trabalhou em vários países africanos, e tal experiência foi importante para suas pesquisas. O seu livro Um rio chamado Atlântico (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2003) reúne dezesseis textos sobre as relações históricas entre o Brasil e a África. Um deles, intitulado O Brasil, a África e o Atlântico no século XIX aborda as relações entre o Brasil e a África Negra, de 1822 à Primeira Guerra Mundial, Alberto escreve sobre os problemas predominantes nas preocupações externas do nosso país após o reconhecimento da independência. São problemas ligados ao tráfico de escravos e à navegação comercial entre o Brasil e a África. O autor trata das relações entre Brasil e Grã­
Bretanha, que, de grande mercadora de escravos, transformou­se em militante da abolição do tráfico. Também são abordadas as comunidades de brasileiros que se instalaram em vários pontos da costa africana, ex­escravos que lá difundiram seus valores culturais.
Em outro texto que está entre os mais interessantes do livro, O Brasil, a África e o Atlântico no século XIX, Alberto diz que muito do que se passava na África Atlântica repercutia no Brasil, e vice­versa. Os contatos através do oceano eram constantes. O autor considera o Brasil um país extraordinariamente africanizado: há muito de africano na nossa maneira de ser e de viver. Já na outra costa atlântica, os brasileirismos estão presentes nas comidas, danças, tradições, palavras etc.
Há muitas Áfricas, diz Alberto da Costa e Silva. O continente é vário, diversificado. No texto O Brasil e a África, nos séculos do tráfico de escravos, o autor afirma que nenhum de nós confunde um imigrante italiano com um alemão; não temos dificuldade em distinguir entre as heranças alemãs e italianas. Deveríamos ser capazes de fazer o mesmo em relação aos africanos pertencentes a diversas nações.
Luiz Felipe de Alencastro (2000) em sua obra “O Trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul”,retrata o Brasil Colonial de uma forma diferente de outros autores da historiografia brasileira. Para ele a colonização portuguesa, fundada no escravismo, deu lugar a um espaço econômico e social bipolar, englobando uma zona de produção escravista situada no litoral da América do Sul e uma zona de reprodução de escravos centrada em Angola. Desde o final do séc. XVI, surge um espaço aterritorial, um arquipélago lusófono composto dos enclaves da América portuguesa e das feitorias de Angola. É daí que emerge o Brasil do séc. XVIII. Não se trata ao longo dos capítulos, de estudar de forma comparativa as colônias portuguesas no Atlântico. O que se quer, ao contrário, é mostrar como essas duas partes unidas pelo oceano se completam num só sistema de exploração colonial cuja singularidade ainda marca profundamente o Brasil Contemporâneo. Essa obra é interessante para a nossa pesquisa para podermos compreender melhor todo o processo do tráfico de escravos negros para o Brasil e o seu desdobramento para a economia colonial e para a sociedade brasileira. Já em Paulo Freire na obra “Pedagogia do Oprimido” (1982), o autor colocou o “oprimido” no palco da história pelo seu engajamento político e pela sua teoria como contra narrativa ao discurso dos poderosos e privilegiados. Ela valorizava, além do saber científico elaborado, também o saber primeiro, ou seja, o saber cotidiano. Sustentava, que o aluno não registra em separado as significações instrutivas das significações educativas e cotidianas. Ao incorporar conhecimento, ele incorpora outras significações, tais como: como conhecer, como se produz e como a sociedade utiliza o conhecimento, enfim, o saber cotidiano do seu grupo social. Freire trata com muita competência a questão da exclusão das camadas populares em sua obra, a qual nos leva a refletir o papel do professor em sala de aula na busca de uma educação menos excludente e mais justa para os afro­
descendentes, onde deve imperar as práticas afirmativas mostrando a riqueza cultural legada por eles à cultura brasileira, bem como, eles também como sujeitos históricos estão contribuindo para o crescimento dessa nação nas diversas áreas do conhecimento.
5. A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA QUE DEU CERTO
A política afirmativa para a promoção da inclusão social e da universalização da cidadania elegeu como uma das prioridades a valorização de nossa diversidade étnica e cultural.
Nesta ótica o presente caderno pedagógico que foi o instrumento do processo de intervenção pedagógica no Colégio Estadual Prof. Júlio Teodorico com alunos do Ensino Médio, Técnico e Integrado de Turismo veio ao encontro de uma proposta interdisciplinar desenvolvida no Colégio pelas professoras das áreas de história, artes, turismo, língua portuguesa nos meses de agosto a novembro, a qual proporcionou uma interação muito positiva entre alunos, professores e equipe pedagógica como podemos observar nos relatos dos professores envolvidos. Para OKITA (2008)3:
O Caderno Pedagógico, realizado pela Profª Maristela Iurk Batista, veio de encontro com a minha proposta pedagógica na disciplina de Arte, que é contextualizar o tema e fazer as conexões nas diferentes disciplinas, “Conhecendo África que está entre nós” pode­se abordar: preconceito, escravidão, religião, as manifestações folclóricas introduzidas pela influência negra no Brasil. Oportunizando aos alunos trabalharem as linguagens artísticas: visuais, teatro, música e dança. O trabalho proporcionou um grande desenvolvimento cultural, houve uma integração expressiva entre os alunos, 3
Profª Ester Teixeira Okita­ Pedagoga, Especialista em Educação e Acadêmica do 3º Ano do Curso de Artes Visuais na UEPG .Professora PSS do Estado do Paraná – Disciplina : Artes no Colégio Estadual Prof. Júlio Teodorico e Instituto de Educação Estadual Prof. César Prieto Martinez.
inclusive resgatando a auto­estima e o prazer de vir para aula. Acredito que a diversidade de trabalhos que foram realizados por etapas e por todas as séries do Ensino Médio do Colégio Júlio Teodorico teve como resultado o envolvimento com comprometimento nos trabalhos artísticos, levaram os alunos a uma reflexão sobre a união dos povos, sem distinção. A cada etapa da confecção de uma máscara, era passada por séries: ex: o 2º ano do Integrado Turismo, confeccionou os aramados das máscaras, o 1 º ano ensino médio colou o jornal nas mesmas máscaras, o 1º ano Integrado pintou as máscaras, portanto o trabalho foi comunitário, todas as máscaras passaram por todas as séries e assim foram com as bijuterias, tambores e outros. Foi um trabalho de grande satisfação, tanto para mim quanto para os alunos, com certeza o Caderno Pedagógico, vem oportunizar aos professores uma nova visão interdisciplinar de se trabalhar os conteúdos de forma mais dinâmica e atraente para os alunos.
Parabéns Professora Maristela por engrandecer o nosso trabalho
Propostas trabalhadas com apoio do Caderno Pedagógico:
1. A história do negro na África e sua chegada no Brasil como escravos;
2. Tema: máscaras – (com aula expositiva e utilização de vídeo TV laranja­ Pendrive);
3. Para confeccionar as primeiras máscaras utilização do Caderno Pedagógico: atividade 3­ sugestões; para dar expressões nas máscaras fizemos a técnica de Papel Mache, aproveitando para informar sobre a origem do papel e do papel mache e o que é reciclar; pintura a guachê e finalização com verniz a base de água;
4. Confecção de máscaras com gase engessada, pintura a guache e verniz a base de água;
5. Máscaras em Argila, pintura em tinta acrílica;
6. Bijuterias com macarrão, torrados e pintados e papel mache.
7. Instrumentos musicais: confecção de Atabaques – (tambores utilizados no Olodum na Bahia) – feita com tambores de papelão utilizados na construção civil e decorados com pintura e latas de refrigerantes com grãos para fazer, como chocalhos para percussão;
8. A decoração do Boi Bumbá para o teatro; 9. As roupas dos orixás e do pajé no teatro foram feitas de papel (recorte e colagem e origami;
10. Com as sobras das tampas dos tambores, realizamos desenho e pintura com tinta acrílica e verniz a base de água.
A performance no Tributo a Clara Nunes com a música Iansã cadê Ogum, na música os instrumentos musicais confeccionados nas oficinas de Arte deram o ritmo, a dança da aluna que caracterizou a Clara Nunes e da aluna que caracterizou Iansã explorando a dança dos orixás e no teatro: roteiro, cenário e improvisação e na apresentação das poesias caracterizou Iansã explorando a dança dos orixás e no teatro: roteiro, cenário e improvisação e na apresentação das poesias (SIC). Além da interdisciplinariedade o envolvimento dos alunos no trabalho foi muito significativo e relevante, pois; o entusiasmo dos mesmos era percebido nos ensaios e, em suas manifestações quando visitávamos o Colégio para ver o andamento do Projeto. Em uma das reuniões no mês de setembro decidimos com os professores envolvidos na intervenção pedagógica que faríamos a culminância do Projeto na Semana Cultural que já estava prevista em calendário oficial determinado pela SEED, de 03 a 06 de novembro do corrente ano. Então, optamos apresentar os trabalhos desenvolvidos pelos alunos nos dois primeiros dias da Semana Cultural, ou seja, dia 03 e 04 de novembro. Foi elaborado um convite da Semana Cultural tendo como especificidade nesse convite o nome do Projeto PDE. Conhecendo a África que está entre nós: um estudo das manifestações folclórico religiosas e também a seguinte programação intitulada: “UMA VIVÊNCIA DA CULTURA AFRICANA E AFRO­ BRASILEIRA NA ESCOLA”. No dia 03/11 a programação foi realizada na seguinte forma:
Um dos alunos do 4º Ano do Curso de Turismo Integrado fez o Cerimonial e num telão no pátio central do Colégio fizemos a abertura com o Hino Nacional através de data show com um documentário do hino apenas “solado por diversos, instrumentos”, inclusive uma rebeca nordestina apareceu nessas imagens. O pátio central estava todo ornamentado de acordo com a temática. Na seqüência foi passado no telão, um documentário de “Zumbi dos Palmares”, magnífico pela sua expressividade e historicidade, com paisagens imagéticas de Debret (sobre à escravidão), chegando à personalidades negras da atualidade em várias áreas do conhecimento ( artes, música, políticos etc.). A emoção tomou conta da platéia, pois; a escola além de muito bem decorada com máscaras africanas e bambus, com folhas de bananeiras e correntes confeccionadas com papel de seda nas cores da África pelos alunos das professoras Edinéia (História) e Ester (Artes), havia um misto de curiosidade em relação aos palestrantes convidados para a mesa redonda de debates. Foram convidadas pessoas ligadas ao Movimento da Consciência Negra de Ponta Grossa, como o Sr. José Luís Teixeira4 e o moçambicano Fernando de Souza que compareceu, mas não pode ficar para o debate e a professora Elizaine Barbosa5 uma afro­descendente, que assume a sua negritude com muito orgulho. Esteve presente também nesse primeiro dia para a abertura da Semana Cultural a professora Isabel Stancik, coordenadora da Área de Ensino de História do Núcleo Regional de Ensino, representando a profª Carmencita Holleben de Melo 4
Formado em Economia do Trabalho pela UNICAMP, formado em Direito pela CESCAGE, ex­ vereador (2000/2004), presidente do movimento negro de Ponta Grossa e Analista de Logística do Ministério do Trabalho em Ponta Grossa (cargo de confiança do presidente Luís Inácio Lula da Silva).
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Professora da Rede Municipal de Ensino, Pedagoga, Licenciada em Geografia pela UEPG, desenvolve o Projeto “PIA” na Rede Municipal de Ensino (Projeto de Intensificação de Aprendizagem).
Ditzel chefe do NRE de Ponta Grossa. Depois do Cerimonial da composição da mesa iniciamos o debate, tendo eu como mediadora dos dois convidados, que debateram a temática: “SER NEGRO NOS DIAS ATUAIS E SUAS IMPLICAÇÕES”. Após a exposição verbal dos nossos convidados foi aberto um espaço para perguntas dos alunos aos palestristas. Uma questão bastante polêmica que foi levantada pela platéia foi a questão das “cotas nas Universidades para afro­
descendentes”, que foi muito bem respondida pelos nossos convidados, cada qual ponderando o seu ponto de vista. Após um intervalo de quinze minutos do término da mesa redonda iniciamos uma sessão de cinema com direito à pipoca aos alunos. Foram montadas quatro salas de cinemas utilizando as TVs – pendrives. Foram passados os seguintes filmes: O Jardineiro Fiel, Amistad, Diamantes de Sangue, Hotel Ruanda.
No dia 04 de novembro o evento intitulado “Uma vivência da cultura Afro­ brasileira na escola” deu prosseguimento ao trabalho com a abertura dos trabalhos da Cultura Africana e Afro­brasileira sob a coordenação da profª Ester Okita. Tendo na seqüência a apresentação cultural sob a coordenação das professoras do Curso de Turismo Integrado, Edinéia Calistro (Professora de História); Ana Maria Martins, professora de Agenciamento e Gastronomia; Silvana Kloster, professora de Eventos e transportes; Simone de Almeida, professora de Administração e Marketing. Tendo como apoio pedagógico e informativo o Caderno Pedagógico produzido no Programa: “Conhecendo a África que está entre nós: um estudo das manifestações folclórico –religiosas”, as professoras num trabalho coletivo de interatividade iniciaram as outras apresentações culturais com um mestre de cerimônia, aluno do 4º ano do Turismo Integrado, que anunciou um vídeo sobre as belezas da África com duração de 7 minutos. Na seqüência apresentou­se a banda musical “Sociedade Tribal”, banda essa formada por músicos jovens, que cantaram algumas músicas de autoria da própria banda, bem como, de Milton Nascimento, Djavan, entre outras melodias. Na terceira apresentação o aluno Phillip, do 2º ano de Turismo Integrado interpretou “Taj Mahal”, acompanhado ao som de seu cavaquinho e da banda Sociedade Tribal.
Um misto de criatividade, de orgulho, de brasilidade e interatividade pairava no coração e mente de nossos alunos há cada apresentação realizada por eles, orgulhosos de estarem vivenciando um momento diferente na escola e representando com suas apresentações um pouco da história brasileira, que tem uma forte ligação com a África. Assim, nesse ritmo contagiante e alegre tivemos a aluna Elaine do 2º ano do Ensino Médio, que declamou a poesia “CRIAR” de autoria do poeta africano Agostinho Netto.
A dança do Maracatu, também foi bem interpretada pelas alunas do 1º ano do Curso de Turismo Integrado matutino, que ao terminarem sua apresentação foram ovacionadas pelos presentes que ficaram em pé pela beleza e candura da mesma.
A aluna Tatiane deu continuidade às apresentações fazendo a performance da cantora Clara Nunes, cantando “IANSÃ CADÊ OGUM”, que foi o maior sucesso, pois a aluna incorporou a personagem interpretada, até pelas suas características físicas. Já a aluna que interpretou IANSÃ também fez uma apresentação esplendorosa. Para CALISTRO6 (2008): A lei nº 10.639 estabelece as diretrizes e as bases da Educação Nacional que inclui nos currículos da rede de ensino a obrigatoriedade da História e Cultura Afro – brasileira e Africana. Dessa forma, procura desenvolver um respeito à cultura negra no Brasil, permitindo uma educação de cidadãos atuantes na sociedade pluriétnica e multicultural brasileira, tendo como capacidade a construção da verdadeira sociedade democrática. Entende­se que todos possuem uma identidade e essa deve ser valorizada e resgatada. A proposta deve estar comprometida com a democratização das relações sociais e raciais. Apesar da diversidade cultural, muitos não compreendem a multiculturalidade e se caracterizam pelo etnocentrismo e a hegemonia de uma etnia ou cultura. Seguindo esta lógica de pensamento muitas etnias são discriminadas em de uma minoria. Tanto os estudos teóricos em sala de aula quanto a parte prática representada pelas atrações culturais foram bastante significativas e comprovaram que é possível um resgate cultural basta que haja um incentivo. Gostaria de parabenizar a professora Maristela Iurk pela brilhante escolha do tema e também destacar a perfeita atuação no desenvolvimento do projeto, sendo que não mediu esforços em estar subsidiando apoio ao nosso trabalho dentro da sala de aula.”(SIC) Dentro dessa proposta de resgatar e valorizar os aspectos da cultura afro­
brasileira e africana, o autor COUTINHO (1996, p. 382) estabelece que: 6
Edinéia Aparecida Calistro, professora do Colégio Estadual Prof. Júlio Teodorico, licenciada em História e Pos­graduada em Educação Patrimonial pela UEPG O multiculturalismo que postulamos para o Brasil tem como ethos democracia Multicultural, forma avançada da democracia racial, a qual busca um maior equilíbrio de poder e riqueza entre etnias e culturas, aí incluindo o direito e o respeito à diversidade cultural dos grupos humanos em busca da cidadania.”
Visitar a África, berço de nossos ancestrais torna­se extremamente relevante para se compreender estruturas sociais, culturais e religiosas de outros povos, ou seja, reconhecer a alteridade com objetivo de romper a visão eurocêntrica tão presente nos livros didáticos e nas práticas do professor. O projeto desenvolvido pela professora Maristela Iurk fundamentou a prática ocorrida em torno dos estudos das manifestações culturais afro­brasileira. O caderno pedagógico elaborado, enquanto um estudo mais aprimorado do tema em questão, contribuiu para uma pesquisa mais precisa, uma vez que há uma deficiência muito grande da disponibilidade de materiais que abordam esta temática. Nós, professores, conseguimos perceber o envolvimento e comprometimento por parte dos alunos que “abraçaram” co entusiasmo o desenvolvimento do projeto que envolvia o estudo das manifestações culturais afro.
Assim, as apresentações culturais foram ocorrendo dentro de um misto de civismo e os alunos orgulhosos de serem filhos da mistura de três etnias que deram origem ao povo brasileiro e, que todos nós temos nas veias um pouco do “ sangue mestiço”(quilombola, ameríndio e europeu), percebia­se essa harmonia e identidade nas apresentações de nossos alunos.
A aluna Jéssica do 3° ano do Turismo Integrado prosseguiu com a poesia do poeta africano Solano Trindade “Sou Negro”. Já as alunas do 2º ano do Turismo Integrado Matutino contaram a lenda do “Orixá Oxum”, que despertou muita curiosidade por parte da platéia presente.
O grupo de dança e capoeira Afro­brasileira denominado “Ilhê de Bamba” apresentou uma bela dança e em seguida a capoeira que tanto encanta a juventude brasileira pelo seu gingado e evolução de seus passos trazidos da “mãe África”. O aluno Danilo do 2º ano do Ensino Médio apresentou com muita desenvoltura o poema Olorum –Ekê. Outra apresentação que foi muito aplaudida foi a dança do frevo apresentada pela aluna Aline do 1º ano do Curso de Turismo Integrado matutino. As alunas da 7ª série B, da profª Edinéia apresentaram a “História do Samba” e dançaram o samba “Chiclete com Banana”, música interpretada por Gilberto Gil e Marjorie Estiano. A graciosa aluna Phayga do 4º ano de Turismo Integrado apresentou “Aquarela do Brasil”, de João Gilberto e Ari Barroso. Essa aluna faz parte da comunidade escolar do Júlio Teodorico, desde a 5ª série e, é de uma sensibilidade incrível, aluna aplicada e faz balé no Colégio Marista desde aos 6 anos de idade. Portanto, percebe­se que, da escola pública também sai grandes talentos e grandes profissionais que no decorrer de suas trajetórias históricas são os construtores de um futuro melhor.
As alunas da 7ª série C declamaram trechos do poema “Navio Negreiro”, do poeta abolicionista Castro Alves. Para fechar a noite com grande chave de ouro um grupo de alunos do 2º, 3º Ano Integrado, e 2º Ano do Ensino Médio apresentaram o enredo do “Folguedo Boi Bumbá”, alunos estes coordenados e ensaiados pelas professoras Ester Okita e pela professora PDE. O enredo da apresentação estava fundamentado na pesquisa do Caderno Pedagógico, que fala da Festa do Boi­
bumbá de Parintins, no Amazonas. O enredo conta a história do negro Francisco, funcionário da fazenda e cuja sua mulher, Catirina fica grávida e sente desejo de comer a língua do boi, fica desesperado. Com medo de Catirina perder o filho que espera, caso o desejo não seja atendido, resolve roubar o boi de seu patrão para atender ao desejo de sua mulher. Então, segundo o enredo, Negro Francisco mata o boi preferido do patrão. O fazendeiro descobre e manda os índios caçarem o Negro Francisco que, busca um pajé para fazer ressuscitar o boi. O boi renasce e tudo vira uma grande festa.
Para Ramos,
o homem branco contou a história (...) os negros deram ritmo com seus tambores... e o índios, residentes antigos da terra, trouxeram consigo a magia de sua dança. Como se vê o boi­bumbá é uma mistura de culturas, que se uniram para criar um dos espetáculos mais belos desta terra (2002, p. 25).
Assim, com a ressurreição do boi­bumbá através do pajé Welington (aluno do 3º do Turismo Integrado) e ao som da Música Tic Tac, interpretada por Ivete Sangalo (música do grupo Carrapicho) e da música Vermelho (Chico da Silva) cantada por Fafá de Belém encerrou­se as apresentações com muita alegria e entusiasmo da platéia que também acompanhou o ritmo frenético da dança do boi­
bumbá. Se faz necessário registrar ainda, o trabalho de montagem do esqueleto do boi confeccionado pelo professor Miguel Batista, que leciona a disciplina de História na Escola Estadual Pe Pedro Grezelczaki e o esmero da confecção da roupagem do boi feita pela professora de artes do Colégio Júlio Teodorico, Ester Okita, que utilizou muita criatividade e montou um “grupo de bordadeiras”, que bordaram estrelas, flores em paitês e missangas dando um colorido especial ao boi, que era preto e tinha uma língua vermelha presa com velcro em sua boca, para facilitar quando a mesma fosse tirada do boi pelo pai Francisco.
Para a professora Ana Maria Martins (2008); no que diz respeito ao legado cultural, uma das heranças mais importantes da inserção dos negros na sociedade está ligada a gastronomia. A influência africana na dieta do brasileiro possui dois aspectos. O primeiro diz respeito ao modo de preparar e temperar os alimentos. O segundo, a introdução de ingredientes a nossa culinária. O turismo cultural é motivado pela busca de informações, de novos conhecimentos, de interação com outras pessoas, comunidades e lugares, de curiosidades culturais, de costumes, de tradição e de identidade cultural. Esse segmento na visão dos turismólogos tem como fundamento o elo entre o passado e o presente, o contato e a convivência com o legado cultural, com tradições que foram influenciadas pela dinâmica do tempo, mas que permaneceram com as formas expressivas e reveladoras do ser e do fazer década comunidade. Toda cozinha tem a marca do passado, da história, da sociedade, do povo e da nação à qual pertence. Cozinhar é uma ação cultural que liga sempre ao que fomos, somos e seremos e também com o que produzimos, cremos, projetamos ou sonhamos. Ao associarmos turismo cultural e gastronomia podemos perceber que estas atividades correm lado a lado, transportando o visitante de descoberta em descobertas. O turismo gastronômico está diretamente ligado ao prazer e a sensação de saciedade adquirida, através da comida e da viagem, podendo citar as regiões como exemplo o nordeste, onde há uma pluralidade de aspectos trazidos pelos diferentes grupos afros, que ao se instalarem e ao converterem seus costumes gastronômicos a um novo processo de reinvenção da realidade presente, transformando seus fazeres em função de um novo espaço ambiental, no qual funde­se a cultura local e também a do colonizador, exemplos a Bahia e toda sua fusão com o candomblé.
O momento atual procura resgatar a memória do sujeito comum, dos seus valores e costumes vividos no cotidiano da história além das necessidades que se apresentam no processo de formação de novas gerações no contexto histórico. Como afirma LUPORINI (2008):
(...) O professor pesquisador incorpora a ciência e seu método como um valor, traduzindo isso em atitudes científicas no trabalho docente. Com seus alunos, produz saber, saber escolar, com elementos do saber científico, mas destinados aos fins educacionais (...).
Quando o ser humano tem consciência do lugar que ocupa no espaço, melhora seu relacionamento com o grupo social ao qual pertence, tem maior clareza de suas relações com as demais pessoas e condições de se situar historicamente. Diante do exposto só me resta felicitar e agradecer a Professora Maristela Iurk, pelo majestoso Projeto “Uma vivência da cultura Afro­brasileira na escola”, que foi de grande aprendizado cultural tanto para os alunos que se engajaram com a proposta, quanto aos professores, de diversos segmentos, mas que objetivaram em comum o aprender a aprender (SIC).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que a percepção de nossa memória histórica reporta­nos ao reconhecimento de nossos ancestrais, uma vez que, depois da Nigéria, o Brasil é a segunda Nação negra do mundo. São cerca de 50 milhões de pessoas de origem africanas (negros e mulatos).
Historicamente é possível negar os cinco séculos de tráficos transatlânticos de seres humanos que aqui chegaram em condições de escravos. Os africanos que chegaram ao Brasil tiveram que resignificar seu universo simbólico, uma vez que se encontravam fora de seu espaço geográfico e cultural. Assim, construíram em terras brasileiras sua identidade e deixaram muitos descendentes. Atualmente, segundo o IBGE, 45% da população brasileira é negra ou afro­descendente. Esse dado não tem sido suficiente para eliminar ideologias, desigualdades e estereótipos raciais, acentuando o imaginário eurocêntrico, valorizando pouco as outras culturas: indígena, africana e asiática.
Dessa forma, tendo em vista os elementos citados acima, em 9 de janeiro de 2003, o presidente Luís Inácio Lula Da Silva publicou a lei 10639 alternando a LDB, (Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional), incluindo conteúdos de História e Cultura Afro­Brasileira e Africana, principalmente nas disciplinas de História, Literatura e Educação Artística.
Assim, o nosso projeto de intervenção pedagógica no Colégio Estadual Júlio Teodorico, através do PDE atingiu seu objetivo maior que era refletir sobre a importância do respeito à diversidade cultural através da produção didática de um Caderno Pedagógico que viesse ajudar o trabalho do professor da Rede Estadual de Ensino em relação a esta temática tão importante para o reconhecimento de nossa ancestralidade africana, com vistas à desconstrução de preconceitos e estereótipos.
Também conseguimos deixar registrado no caderno pedagógico diversas fontes históricas da herança cultural africana que servirão de norte para o desenvolvimento de trabalhos culturais incentivando uma proposta pedagógica positiva em relação à cultura africana e afro­brasileira, bem como, na construção da alteridade nos alunos e na construção do conhecimento histórico, reconhecendo assim, que as manifestações folclórico ­ religiosas também são importantes para a construção da identidade brasileira e de uma educação mais voltada para a igualdade social e promoção humana, onde o professor possa ter uma postura reflexiva do ato de educar e sempre redimensionar o seu trabalho em sala de aula.
Portanto, “a educação é a maior arma com que se pode mudar o mundo” (Nelson Mandela – líder do movimento negro contra o Apartheid na África do Sul).
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PCNs ­ •
LEI nº 10.639/2003 Lei nº9394/96 LDB (artigos relativos a pluralidade cultural).
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Uma vivência da Cultura Africana e Afro – brasileira na Escola