ENSINO MÉDIO – 2ª Série SOCIOLOGIA ___/___/2012 ALUNO: _____________________________________ N.º__________ TURMA ______ AULA 1: CARACTERÍSTICAS DA CULTURA BRASILEIRA O que caracteriza nossa cultura? Na América portuguesa, no século XVI, as culturas indígenas e africanas, apesar da presença marcante, não eram reconhecidas pelos colonizadores e expressavam-se à margem da sociedade que se constituía sob o domínio lusitano. Tal sociedade tinha como principal referência a cultura europeia, que procurava imitar. Nas palavras do sociólogo Antonio Candido, “imitar, para nós, foi integrar, foi nos incorporarmos à cultura ocidental, da qual a nossa era um débil ramo em crescimento. Foi igualmente manifestar a tendência constante de nossa cultura, que sempre tomou os valores europeus como meta e modelo”. No entanto, se o Ocidente e, depois, o Oriente nos forneceram elementos essenciais para a construção de uma cultura difusa, esta não pode ser compreendida sem suas raízes indígenas e africanas, que impregnaram nosso cotidiano, desde a comida, a vestimenta e a habitação até a dança, a pintura e a música. Se ficarmos apenas com a música brasileira, encontraremos uma variedade imensa de ritmos, que são puros ou misturados, cópias ou (re)elaborações constantes, invenções e inovações, com os mais diversos instrumentos, sejam eles extremamente simples e artesanais, sejam sofisticados e eletrônicos. Para citar alguns ritmos, temos o lundu, a modinha, o choro, o maxixe, o samba (e suas vertentes, como samba-canção, samba-exaltação, samba de carnaval), a marcha, o frevo, o baião, a valsa, a valsinha, o acalanto, a lambada, o pagode, o samba-reggae, o axé music, o tchê music, o mangue beat, a cantiga infantil, a música clássica, a ópera, a música contemporânea, além de ritmos estrangeiros como rock, blues, jazz, rap, fox, bolero e tango. Lembrando que a cultura é o resultado de um trabalho, é uma obra, pode-se observar que o trabalho cultural brasileiro é desenvolvido tanto por músicos analfabetos, sem nenhuma formação musical, como por pessoas com formação clássica, conhecidos ou anônimos. A produção musical brasileira tem traços de origem marcadamente africana, indígena, sertaneja e europeia (sem classificar o que é mais ou menos importante, simples ou complexo). Ela é fruto do trabalho de milhares de pessoas. Ainda que se possa afirmar que alguns ritmos são marcadamente brasileiros, como o maxixe, o chorinho, o frevo ou o samba, nenhum deles é “puramente brasileiro”, pois as influências recebidas são as mais variadas possíveis, desde a música medieval até a contemporânea. Genuínas mesmo são as músicas, as danças e a arte plumária ou a cerâmica dos povos indígenas. As demais manifestações culturais são fusões, hibridações, criações de uma vasta e longa herança de muitas culturas. Talvez seja essa a característica que podemos chamar de “brasileira”. TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino médio. São Paulo: Atual, 2007. p. 120-121. Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) e Raízes do Brasil (1936) O centro da obra Raízes do Brasil é a crítica ao autoritarismo. Nessa obra, Sérgio Buarque recuperou o conceito de “homem cordial”. Para o autor, a esfera pública no Brasil adotou o modelo da família patriarcal, herdada do período colonial, com seus fundamentos no poder, na autoridade, na obediência, na coesão social, no particularismo e no clientelismo. Essa característica estaria manifestada mesmo onde a urbanização avançava. O resultado disso é a confusão entre o público e o privado, em que predominam na esfera pública os laços afetivos e pessoais e não as normas impessoais, racionais e abstratas. A cordialidade, portanto, constitui um padrão de relacionamento interpessoal no Brasil que atinge a esfera pública. Sérgio Buarque demonstra que a cordialidade é incompatível com a civilidade, baseada em normas impessoais. A escolha de quem pensa! 1 ENSINO MÉDIO – 2ª Série 01. Explique o conceito de multiculturalismo, a partir da perspectiva sociológica. 02. Comente os principais aspectos da cultura brasileira. __________________________________________________________________________________________ AULA 2: SINCRETISMO RELIGIOSO As religiões no Brasil Contemporâneo O Brasil é um país diverso, com tendência para a tolerância e o cruzamento entre as religiões, por vezes produzindo novas denominações. A população brasileira ainda é predominantemente cristã – número que perfaz aproximadamente 90% do total – sendo a maior parte católica, religião oficial do Estado até a primeira Constituição republicana. Herdamos da África as práticas dos povos escravizados, que deram origem às religiões afro-brasileiras sobreviventes à submissão do colonizador português. E na segunda metade do século XIX começa a ser divulgado o espiritismo no Brasil (que hoje é o país com maior número de adeptos no mundo). Nas últimas décadas, as religiões protestantes também têm crescido muito, alcançando hoje parcela significativa da população. Recentemente, também se registrou aumento no número daqueles que declaram não ter uma religião. Dado esse sincretismo que marca nossa cultura, muitos praticantes de religiões afro-brasileiras – assim como alguns simpatizantes do espiritismo – também costumam se denominar católicos e seguir ritos da Igreja católica. O tipo de tolerância aqui expresso, assim como o sincretismo, é um traço marcante da religiosidade no país e produz formas sociais condizentes. Catolicismo A principal religião no Brasil ainda é o catolicismo. Essa tradição faz com que o país apresente uma população autodeclarada “católica” com aproximadamente 75%, fazendo com que o país seja considerado o de maior número de adeptos no mundo. Percebe-se uma diminuição no interesse às formas tradicionais de religiosidade desde o século XX. Um sintoma claro disso é o grande número dos chamados adeptos não praticantes. Hoje, é estimado que somente 20% da população brasileira frequente missa com regularidade. No Brasil, a renovação carismática chegou no começo dos anos 1970 e ganhou força nos anos 1990. Esse movimento busca dar uma nova abordagem à evangelização e renovar práticas do misticismo católico. Assemelha-se, em certos aspectos, às Igrejas pentecostais, na adoção de algumas posturas e práticas. Protestantismo e Igrejas evangélicas O movimento neopentecostal nasceu a partir da década de 1970, com Igrejas como a Universal do Reino de Deus. A partir dos anos 1980, cresceram Igrejas com foco nas classes média e alta, com um discurso notadamente liberal quanto aos costumes. Dentre elas se encontram a Renascer em Cristo e a Igreja Evangélica Cristo Vive. Nas últimas décadas, essas religiões vêm ganhando muitos adeptos, sendo atualmente o segundo grupo mais numeroso, se considerado em conjunto. 2 A escolha de quem pensa! ENSINO MÉDIO – 2ª Série Ateísmo e agnosticismo Apesar de o Brasil ser predominantemente religioso, 7,4% dos cidadãos consideram-se ateus, agnósticos ou apenas não seguem religião alguma. Os católicos e evangélicos são os grupos que superam em número os que escolheram não seguir nenhuma religião. Em comparação, estima-se que na média mundial 23,5% das pessoas tenham inspiração agnóstica. Espiritismo No Brasil, uma das religiões que mais tem crescido é o espiritismo. Estima-se que o número de simpatizantes no Brasil gire em torno de 20 milhões, já que há praticantes de outras religiões que também seguem os preceitos espíritas. O espiritismo foi sistematizado como doutrina filosófica pelo pensador francês Allan Kardec (1804-1869). No Brasil, houve uma forte ressignificação das suas ideias. Foi dentro dessa perspectiva que o espiritismo foi amplamente divulgado no Brasil, atraindo principalmente a classe média. Sociologia: ensino médio. Ético sistema de ensino. ap. 4. p. 18-19. 01. Em que consiste o conceito sociológico de sincretismo cultural? 02. De que forma as religiões contemporâneas representam o aspecto multicultural no Brasil? __________________________________________________________________________________________ AULA 3: IDENTIDADE NACIONAL O que é ser brasileiro? A nossa cultura é tão variada que não podemos defini-la como única; a diferença do Brasil com outras nações está justamente nessa variação de cultura. A identidade nacional brasileira não é uma só, as suas dimensões culturais e políticas, em particular, não têm caminhado juntas nem remetem a um mesmo espírito. A discussão acerca da construção de uma identidade nacional é complexa e requer cuidados para que não se reproduzam visões etnocêntricas de grupos politicamente hegemônicos sobre outros. Se nos identificamos com as tradições brasileiras, compartilhamos a mesma língua e vivemos as mesmas experiências culturais, podemos nos identificar como brasileiros, mesmo os não nascidos no Brasil. Mas não é esse o critério definidor de nossa identidade nacional. As referências culturais podem ser motivos tanto de união quanto de segregação, por isso não representam um critério seguro e confiável na definição do nacional ou popular. O sociólogo Renato Ortiz, em seu livro Cultura brasileira e identidade nacional, caracteriza a identidade como a marca de um país, e a marca de nosso país tem sido a de um país multiétnico cuja cultura é produto de um tenso e contraditório processo de miscigenação e sincretismo. E devemos considerar que nascemos com uma identidade cultural, mas as transformações do mundo modificam-na cultural e simbolicamente. A identidade nacional tem relação com valores e costumes compartilhados entre indivíduos ou grupos de pessoas e pode ser definida como um sentimento de pertencimento a uma determinada coletividade. O tema da identidade nacional vai além da exaltação de alguns símbolos forjados a partir de semelhanças coletivas entre as camadas sociais de uma sociedade. Podemos afirmar que possivelmente seja a educação o principal fator responsável por levar os indivíduos a compreender os ícones de pertencimento. Manifestações culturais como o futebol e o carnaval colaboram para a reafirmação da identidade nacional. Sociologia: ensino médio. Ético sistema de ensino. ap. 4. p. 22-25. A escolha de quem pensa! 3 ENSINO MÉDIO – 2ª Série 01. O que é ser brasileiro? Será que podemos afirmar que somos brasileiros ou há uma nação brasileira apenas no aspecto geográfico? 02. Explique de que modo outros elementos culturais, além da língua e da religião, contribuem para o sentimento de nacionalidade. 4 A escolha de quem pensa!