Petrópolis 10-2-1909. Caro doutor! Heinrich disse que não poderia ir conosco para a floresta no carnaval, porque estará ocupado com seu irmão, mas gostaria de ir numa outra ocasião. Essa notícia entristeceu-me muito, pois eu teria gostado de conhecer a floresta lá. Mas como a floresta não tem pernas, ainda teremos oportunidade para percorrê-la. De acordo com a descrição de Heinrich, a floresta não fica bem em Santo Aleixo, mas bastante antes. O caminho para lá começa na Grota Funda e segue, depois de escaladas as montanhas, ao longo da montanha chamada de Maminha da Imperatriz, em direção a Santo Aleixo. A floresta deve ser uma grande mata virgem. Um pernoite em pousada é impensável, mas a mãe natureza é muito hospitaleira e oferece um bom abrigo sob algumas rochas. Como então essa excursão não vai se realizar por enquanto, pensei já em vários outros projetos. Na minha opinião, o melhor seria Xerém, caso o senhor não ache muito perigoso. Espero que me ocorra algo melhor até segunda-feira. Uma surpresa muito desagradável me aguardava quando cheguei em casa na segunda-feira à noite. Minha pequena raposa tinha sumido de uma maneira completamente inexplicável. Quando Heinrich quis deixá-la sair do quarto de manhã, o animal não estava lá. Como o animalzinho fez para fugir do quarto, que estava trancado, é no mínimo assombroso. Tudo indica que ele escapou pela janela, que deve ter ficado aberta, apesar de eu mesmo tê-la fechado na noite anterior. Mas não consigo compreender como o pequeno animal conseguiu saltar pela janela, que fica a uma altura de 4 metros, sem sofrer nenhum dano. Fui procurar por ele ontem de manhã e logo encontrei os rastros. Além disso, um mulato que mora em cima me disse que viu o animal na segunda-feira à noite. Depois de ter encontrado o rastro, chamei Heinrich, que avistou o animal numa moita. Este fugiu desconfiado. Preparei então uma armadilha com uma caixa, enchendo-a com muita carne, e coloquei-a no lugar onde Heinrich havia avistado o animal. Hoje cedo tive a alegria de encontrar minha pequena raposa na armadilha. Aparentemente o pobre animal ficou contente ao me ver, pois, ao contrário do que eu esperava, lambeu-me a mão quando quis tirá-lo da armadilha. Não tenho a menor dúvida de que o animal me reconheceu imediatamente, pois ele não rosnou e, enquanto eu o levava para baixo, não parava de querer lamber-me o rosto. Chegando em casa, comportou-se como se nunca tivesse ido embora. Estou realmente feliz por ter novamente o animal aqui comigo. Uma outra ex Tachinoestrus declarou-se pronta para aumentar a coleção do famoso Dr. Lutz. Encontrei a mosca na mesma árvore onde havia encontrado a de domingo, e também na mesma hora (9h). Querer explicar essa circunstância como mero acaso é um pouco demais. Sem dúvida os animais devem encontrar lá as melhores condições de vida. Afinal a floresta é tão grande, por que fui encontrar os animais no mesmo lugar? Acredito ter encontrado uma das condições biológicas na umidade. A floresta é bem úmida em ambos os lados do pequeno caminho de mato, do qual talvez o senhor se lembre, e seca nas encostas das montanhas. Todos os 4 exemplares peguei no terreno mais úmido, enquanto na parte seca nunca vi nenhum. O segundo exemplar, que apanhei no domingo, estava na floresta úmida, perto da água e do solo úmido. Tendo em vista estas observações, acredito poder concluir que essa espécie vive na floresta úmida e foge, em contrapartida, da seca. Ainda assim acho possível que estas observações sejam desacreditadas posteriormente e que talvez eu ainda encontre os animais na floresta seca. Como Tachinoestrus já está ocupado, talvez “Xanthothrix” não seja mau. Na segunda-feira vou levar estendedores e pita. Espero que até lá eu tenha me resolvido por uma excursão. Com as melhores saudações seu devotado J. G. Foetterle