Cuidadores de Idosos com Vestibulopatias Joselice da Silva Mantovani1, Ursula Margarida Karsch2 Área de conhecimento: Ciências da vida Palavras-Chave: cuidador familiar, envelhecimento, vestibulopatia masculino (77 anos) INTRODUÇÃO Com o processo do envelhecimento, o idoso é acometido por várias doenças tais como as do aparelho auditivo, mais especificamente os distúrbios vestibulares, como a vertigem, a mais comum das tonturas. Os idosos acometidos por estes distúrbios, com risco de quedas, muitas vezes necessitam de cuidador familiar. O envelhecimento com dependência e a figura do cuidador estão exigindo novos estudos empíricos e novas formas de assistência, que dentro de um contexto histórico, social, político, econômico e cultural, precisam ser analisados e esclarecidos. Assim, para traçar o perfil do idoso com vestibulopatia e seu cuidador é necessário conhecer sua constituição familiar e domiciliar, o que caracteriza o objeto deste estudo. O objetivo deste estudo é conhecer e traçar o perfil dos idosos com vestibulopatias e seus respectivos cuidadores no cenário domiciliar. METODOLOGIA Foi feito um levantamento de 10 prontuários de pacientes que estavam em atendimento ambulatorial, e apenas um paciente com 77 anos de idade foi identificado com dispondo de um cuidador. O paciente e sua esposacuidadora autorizaram uma visita em seu domicílio. Realizou-se a visita domiciliar e foram entrevistados o paciente e sua cuidadora com um roteiro semi-estruturado, com perguntas abertas e fechadas, e com um diário de campo para observações e comentários. RESULTADOS E DISCUSSÃO Data: 16/12/2008. Região: Vila Maria Alta Cuidadora: feminino (77 anos) Paciente: Ao chegarem as entrevistadoras, a senhora Izaura relatou que freqüentava o Centro de Convivência da Prefeitura “Leão XIII” e foi convidada para participar do grupo de Reabilitação Vestibular da Uniban. No ambulatório da Uniban, acompanhando o seu marido, o Sr Mário, fizeram consulta com a doutora Cristiane e foram encaminhados para fazer os testes com fisioterapeuta. Após os testes, ambos iniciaram o tratamento de reabilitação vestibular. Izaura: “Eu sentia mais tonturas do que ele.” A senhora Izaura contou que está com 77 anos e que há 76 anos vive em São Paulo, veio com um 1 ano de idade, acompanhando os pais. Estudou até a quarta série e trabalhou durante 23 anos em várias empresas como tecelã, fazia “juta”. Também trabalhou em bar/lanchonete como cozinheira, e seu último trabalho foi numa lotérica como caixa durante 3 anos. Aposentou-se por idade, antes de completar o tempo de serviço. O senhor Mário disse que está com 77 anos também e vive no Brasil há 55 anos, veio de Portugal direto para São Paulo. Veio para cá porque tinha um irmão aqui e sua irmã queria vir para o Brasil, “meu pai só deixou ela vir em minha companhia”. O senhor Mário veio para trabalhar. No começo trabalhou como ajudante de caminhão. Carregava areia, pedra, tijolos para as obras. Também trabalhou em tecelagem. Cursou até a quarta série. Seu último trabalho foi numa padaria onde era sócio. Não era registrado, dividia o lucro com outros três sócios. Hoje é aposentado. Aposentou-se por tempo de serviço e também por causa de artrose. A senhora Izaura disse que deixou de trabalhar porque tinha três filhos pequenos. Depois que os filhos cresceram, voltou a trabalhar. Mas hoje não trabalharia mais, sente o corpo cansado. Não recebe nenhum tipo de ajuda financeira, somente o Estudante do Curso de Psicologia; e-mail: jô[email protected] Professor da Universidade Bandeirante de São Paulo e-mail: [email protected]. br 2 -- benefício. Raramente tem ajuda dos filhos, “quando a gente ta apertadinho, algum filho ajuda com R$ 50,00, mas é raro”. Têm quatro filhos, todos são casados, 2 mulheres e 2 homens. Todos moram longe, em Guarulhos, Bairro do Limão, Tatuapé e Novo Mundo. Os serviços da casa, ela os faz sozinha. Diz que a renda da família é de R$ 1.000,00 para remédios e alimentação. “A renda é suficiente.” O senhor Mário sempre foi o chefe da família, mesmo com o problema no joelho e as tonturas. Izaura: “Não faço questão de ser chefe de família. Quando ele operou do ombro, precisou da minha ajuda. Quanto à repercussão do problema de vestibulopatia, a senhora Izaura relatou que: “Eu sempre saia de casa, fazia compras no supermercado, às vezes ficava com medo, ficava sempre perto da parede, a tontura nunca me impediu de fazer as coisas, mas quando vinha, eu precisava parar de fazer o que estava fazendo e segurar em alguma coisa.” Perguntada sobre se cuidaria do marido se ficasse dependente, disse que sim, “por afeto.” O senhor Mário disse: “Cuidaria por amor, também.” A senhora Izaura já foi cuidadora da mãe que morreu com 76 anos. A mãe operou de uma ferida na perna (câncer). Sempre cuidou da mãe porque era a que morava mais perto e não tinha quem cuidasse. Não recebeu nenhuma orientação para cuidar da mãe. O senhor Mário sorriu e disse que não cuidou de ninguém, só cuidou dela e dos filhos. A senhora Izaura faz exercícios físicos e o senhor Mário não pratica nada do tipo. Disse que ele depende dela para colocar o gel-colírio em seus olhos. Os remédios dos dois ficam sempre no mesmo lugar, ela toma remédio para úlcera do duodeno e ele para dor nos joelhos. Ele vai ao banco sozinho, e a outros lugares vai sempre acompanhado da esposa. Durante a noite, a luz do hall fica sempre acesa. Levantam-se e vão sozinhos ao banheiro. “Ontem levantamos cedo, o Mário fez o suco e o café, enquanto fiz o serviço da casa, lavar roupa e arrumar a casa. O Mário me ajuda no dia a dia, varre a casa, às vezes faz a comida.” Mário: “Temos o costume de andar, vamos ao Carrefour e Shopping e quando não saímos, ficamos em casa assistindo televisão.” Izaura: “Esta rotina é boa, não mudaria nada.” Tiveram alta médica, mas quem orientou foi a fisioterapeuta, que explicou sobre a alimentação, disse para não abusar de gorduras e tomar remédio só com orientação médica, e que teriam necessidade de retorno. A psicóloga também orientou na alta, mas não se lembra das recomendações, só de um papel que deu. Não passaram pela fonoaudióloga. “O atendimento foi maravilhoso, elas são amáveis, delicadas, são nota 1.000 (mil). Gostei muito, depois do tratamento melhorei 80% do equilíbrio e 100% da tontura.” Tomam vacina de gripe no posto. Sobre seu atual estado de saúde, ela nos contou que, às vezes, tem problema de pressão baixa, gengivite, dor na coluna. Tirou algumas pintas nos braços e costas (nefromas). Tem problema de respiração, o médico disse que o problema é nos brônquios, também tem varizes que doem muito, mas não atrapalham suas atividades. Já sofreu de depressão, mas atualmente não tem mais. Todos os irmãos têm diabete, só ela não, não evita doces e não pensa na diabete, pois sua taxa de glicose é 80. “Minha saúde é regular, alguma coisa a gente sempre sente.” Não sabe o que deveria fazer para melhorar o problema da coluna e das varizes. Quando precisam de atendimento médico, usam o convênio. Disse que o atendimento médico e exames do convênio são bons, não tem nenhuma reclamação, sempre foram bem atendidos. “Sobre projetos de vida, já não dá para pensar. Nunca pensamos no futuro, em ficar velhos, as coisas foram acontecendo sem a gente perceber”. Não houve planejamento para a velhice. Às vezes gritam um com outro. O senhor Mário não ouve direito e a senhora Izaura grita mais. Perdem a paciência um com outro, mas é coisa de momento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KARSCH, U. M. Envelhecimento com dependência: revelando cuidadores. São Paulo, Educ, 1998. ________. Cuidadores familiares de idosos: parceiros da equipe de saúde. Serviço Social & Sociedade. São Paulo, Cortez, ano XXIV, n. 75, pp. 103/113, set. 2003. PAPALÉO NETTO, M. Gerontologia: a velhice e o envelhecimento em visão global. São Paulo, Atheneu, 2002. GANANÇA, M. M et al. Condutas na Vertigem. São Paulo, Grupo Editorial Moreira Jr., 2004. GANANÇA, M. M.; CAOVILLA, H. H. A vertigem e sintomas associados. In: GANANÇA, M. M; VIEIRA, R. M.; CAOVILLA, H. H. Princípios de otoneurologia. Série distúrbios de Comunicação humana. São Paulo, Atheneu, 1988. p. 3-5. --