Maria, a Rica
Maria levantou cedo, acordou seu filho para ir à escola e então pegou um ônibus
para ir trabalhar. Maria trabalha como empregada doméstica em um apartamento na área
nobre da cidade. Sua empregadora, que está se divorciando, disse que sabia dos problemas
de Maria e que poderia ajuda-la, dando-lhe um bom adiantamento. Tudo que Maria tinha
de fazer em troca era testemunhar contra o marido de sua patroa, dizendo que ele batia
nos filhos do casal. É verdade que o homem possuía muitos defeitos, mas Maria sabia que
ele sempre tratou bem as crianças. Ela recusou a oferta da patroa, que lhe disse que teria
até amanhã para mudar de ideia, ou teria de mudar de emprego. No dia seguinte, Maria
procuraria algo nos classificados.
Após o serviço, Maria foi chamada a comparecer na escola de seu filho. O diretor
disse que precisava falar com ela em particular. Em sua sala, ele disse que o filho de Maria
foi pego outra vez portando drogas, bem como já faz tempo que está causando muitos
problemas para a escola e, portanto, sua rematrícula para o próximo ano não seria aceita.
Depois, o diretor informou que isso ainda não era definitivo, e, colocando sua mão no
ombro de Maria e lhe dirigindo um olhar malicioso, disse que poderia “dar um jeitinho”
se ele e ela chegassem a um acordo. Maria recusou polidamente, e saiu depressa.
Maria encontrou seu filho na saída da escola, repreendendo-o e tornando a lembralo do que acontecera com seu irmão mais velho. Disse para o garoto ir direto para casa e
então foi ao Banco. Ao consultar sua conta, notou que pelo terceiro mês seguido seu
marido havia deixado de pagar a pensão. Suas contas e o aluguel ficariam atrasados de
novo. Diante disso, ela tentou fazer um empréstimo, porém o gerente lhe informou que
não seria possível, pois ela possuía muitas dívidas atrasadas e não tinha garantias. Triste,
Maria se levantou para ir embora, porém o gerente lhe chamou a atenção e, discretamente,
disse que talvez haveria outro jeito. Ele conhecia algumas pessoas que poderiam ajudála, que não exigiam tanta burocracia e que tinham dinheiro à vista para emprestar. Maria
agradeceu pela consideração, mas rejeitou a oferta do agiota.
Maria reside nos fundos de um imóvel de duas casas. Na casa da frente, mora o
casal dono do terreno. Os proprietários a aguardavam e, quando Maria chegou, a
questionaram sobre os aluguéis atrasados. Ela se desculpou, e disse que novamente não
teria condições de pagá-los este mês. O casal então disse que poderiam “perdoar” os
aluguéis atrasados, e até de alguns meses seguintes, se Maria se dispusesse a fazer um
pequeno favor: guardar em sua casa algumas mercadorias que eles haviam adquirido,
apenas por um tempo, pois só estavam aguardando o comprador vir buscar. Contudo,
Maria tinha conhecimento sobre as longas viagens que o casal fazia aos países vizinhos,
e que tipo de produto traziam de lá. Ela se recusou, e quando disseram que então teriam
de pedir para que ela saísse da casa, ela respondeu dizendo que até o fim do mês liberaria
o imóvel.
Ao entrar em casa, Maria notou que seu filho não estava. Chorou de preocupação,
de desespero, de medo. À noite, quando o garoto chegou agitado e com os olhos vidrados,
Maria o abraçou, chorando, feliz por ele estar vivo. Ela já havia perdido um filho, e não
suportaria perder outro. O garoto a empurrou e começou a quebrar os objetos da casa.
Quando o menino finalmente se aquietou e deitou no sofá, Maria cobriu-o com
um cobertor e arrumou a bagunça. Não era a primeira vez que isso acontecia, e nem seria
a última.
Exausta, Maria finalmente entrou em seu quarto. Ela não sabia o que seria de sua
vida no dia seguinte. Não havia mais emprego, dinheiro ou casa. Não havia sequer escola
para seu filho. Havia apenas a certeza de que todas as escolhas que fez durante o dia foram
as corretas, o que lhe trazia uma sensação de dignidade, que superava todos os seus medos
e que valia mais que a riqueza de todos que a negaram hoje. Maria dormiu profundamente,
em paz.
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Maria, a Rica Maria levantou cedo, acordou seu filho para ir à