N.º 177 - Dezembro 2006 - 2,00 euros Sumário N.º 177 - Dezembro 2006 - 2,00 euros do Luso e das suas águas que curam. 4 EDITORIAL 46 7 O TEMPO E O MUNDO NOTÍCIAS 47 12 NA CAPA Foto: José Frade PERCURSOS O PRESÉPIO DE ALENQUER Raras são as pessoas que não reconhecem imediatamente a Alenquer o cognome de vila presépio. De facto, entre as variadas razões que a vila tem para ser (re)conhecida, o majestoso palco em que se transforma a sua encosta todos os anos, desde 1968, é das que mais atenção atrai. 14 VIAGENS NA CONCURSO DE FOTOGRAFIA 20 CPLP (VII) TIMOR-LESTE: UM LONGÍNQUO AFECTO Um cooperante português, Rui Oliveira e Sousa, escreve sobre a sua experiência pessoal no mais oriental país de língua oficial portuguesa, HISTÓRIA que pretende combater preconceitos e fomentar a inclusão através da dança. 31 TENDÊNCIAS O movimento Slow Food 34 ÓPERAS PORTUGUESAS NO TRINDADE “Rosas de Todo o Ano”, de Rui Coelho 48 OLHO VIVO 51 BOA VIDA Consumo/ Livro Aberto/Artes/Músicas/ Palco/DVD/Cinema/ À Mesa/ Saúde/ Informática/ Ao Volante/ Palavras da Lei 70 CLUBE TEMPO LIVRE 24 36 79 OFÍCIOS PAIXÕES A CHEFE SUGERE Mestre Fernando e o sonho de uma escola de “yolle” Madalena Viana – o apego da água Cozido à minhota Inatel Cerveira 38 81 DESPORTO INATEL O TEMPO O regresso de Jorge Coroado E AS PALAVRAS 28 SOLIDARIEDADE DANÇAR COM A DIFERENÇA Criado há cinco anos, o Grupo Dançando com a Diferença integra pessoas com e sem deficiência. Tratase de um projecto pioneiro em Portugal 40 Maria Alice Vila Fabião TERRA NOSSA 82 LUSO-BUÇACO CRÓNICA Um extenso e minucioso olhar pela mais deslumbrante mata nacional, vizinha Artur Queiroz Revista Mensal: e-mail: [email protected] - Propriedade do INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores) Presidente: José Alarcão Troni VicePresidentes: Luís Ressano Garcia Lamas e Vítor Ventura Sede do INATEL: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax 210027061, Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: José Alarcão Troni Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: Ana Santos, André Letria, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Eduardo Raposo, Francisca Rigaud, Gil Montalverne, Helena Aleixo, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Durão, José Jorge Letria, Maria Augusta Drago, Marta Martins, Paula Silva, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Barrocas, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro.Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Maria Alice Vila Fabião, Fernando Dacosta, João Aguiar, Luís Miguel Pereira, Rogério Vidigal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA Telef. 210027000 Fax: 210027061 E-Mail [email protected] Publicidade: Tel. 210027187 Pré-impressão e impressão – Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, SA. Casal Stª Leopoldina, 2730-052 Queluz de Baixo. Telef. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 176.069 exemplares Editorial JOSÉ ALARCÃO TRONI Presépio de Alenquer A Tempo Livre publica o seu número de Natal e Ano Novo. É, pois, com o maior gosto e honra que desejo à Família INATEL um Santo Natal de 2006 e um Bom Ano de 2007. Constituem a Família INATEL cerca de 4 milhões de portugueses, que escolheram o Instituto para seu amigo e parceiro no Turismo para Todos, na Cultura para Todos, no Desporto para Todos, nas tardes e noites do Teatro da Trindade, das Escolas do Lazer e das Academias Seniores, bem como na leitura mensal da Tempo Livre. Refiro-me às famílias dos nossos 250 mil associados, nos quais se incluem os 800 colaboradores, dos 300 mil sócios de 4.200 CCDs – Centros de Cultura e Desporto, em Portugal e na Diáspora, bem como dos mais de 500 mil concidadãos, beneficiários, em dez anos, dos Programas Seniores. O voto de Natal que me permito formular é no sentido de que os 14 milhões de Portugueses – os 10 milhões residentes em Portugal e os 4 milhões na Diáspora – encontrem no INATEL o seu privilegiado parceiro e amigo no Turismo, na Cultura, no Desporto, no Repouso, no Convívio, na Leitura e na Ocupação dos Tempos Livres. A concretização deste sonho constituiu razão e estímulo do nosso trabalho quotidiano, ao longo de mais um ano, prestes a findar, assim como da aposta na permanente melhoria da capacidade de resposta e da qualidade da oferta dos serviços do INATEL. EQUILÍBRIO ORÇAMENTAL A pouco menos de um mês do fim do ano, é ainda prematura uma palavra definitiva sobre a previsão do balanço em 31 de Dezembro de 2006. No entanto, a execução orçamental – pautada, na coluna da receita, pelo sensível incremento da contribuição dos jogos sociais, a cargo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, e na da despesa, pela manutenção da política de austeridade e contenção dos custos – aponta para um quarto balanço consecutivo em situação de equilíbrio financeiro, como, felizmente tem vindo a ser conseguido, desde 2003, pela Direcção, a que tenho a honra de presidir. Caso se revele possível a repetição – pela segunda vez na última década – de novo resultado marginal positivo, 4 TempoLivre Dezembro 2006 como no balanço de 2004, este sucesso constituirá excelente recompensa e estímulo para o desempenho da nossa comunidade de trabalho, em vésperas da externalização do INATEL, segundo o modelo fundacional que constitui a matriz da memória histórica e da cultura da instituição. Na verdade, o sucesso institucional do INATEL e a melhoria quotidiana da qualidade dos serviços que presta, passarão, necessariamente, pelo auto-financiamento e pela saúde das contas, o que se revelará possível se os 250 mil associados individuais, os 4.200 CCD´s e os 500 mil beneficiários dos programas sociais garantirem, nos próximos anos, aos centros de férias taxas de ocupação de 90% a 100% na época alta, 70% a 80% na média e 50% a 60% na baixa. É para estes ambiciosos objectivos que trabalhamos, confiando no envolvimento e afectividade da grande Família INATEL. FUNDAÇÃO Na sequência do PRACE – Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros nº 39/2006, de 30 de Março, a recentíssima Lei Orgânica do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, aprovada pelo Decreto-Lei nº 211/2006, de 27 de Outubro, determinou, no nº 3 do artigo 39ª, a externalização do INATEL, nos seguintes termos: “O Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores deixa de integrar a administração central do Estado, através da aprovação de novo enquadramento jurídico de fundação de direito privado e utilidade pública”. Considerando que os orçamentos dos institutos públicos a externalizar da Administração Central do Estado integram, ainda, a Proposta de Lei do Orçamento de Estado para 2007 – em discussão, na especialidade, pela Assembleia da República – o Ministério das Finanças e da Administração Pública, coerentemente, definiu, como orientação, a aprovação, pelo Governo, da refor- ma estatutária das referidas instituições, no decurso do próximo ano, se possível, no primeiro semestre, com vista à conclusão dos diversos processos legislativos, antes do início da Presidência Portuguesa da União Europeia, a 1 de Julho. Nesta perspectiva, a primeiríssima prioridade da Direcção – com o envolvimento dos outros órgãos estatutários, Conselho Geral e Comissão de Fiscalização – será a proposta a Sua Excelência o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, no primeiro trimestre de 2007, dos ante-projectos do Estatuto e demais regulamentação complementar do INATEL – Investimentos e Actividades dos Tempos Livres dos Trabalhadores, como fundação de direito privado e utilidade pública administrativa. Pessoalmente, considero ideais, para datas de extinção do INATEL, instituto publico e de constituições do INATEL fundação, os dias 31 de Dezembro de 2007 e 1 de Janeiro de 2008. Estas datas obviariam o balanço de extinção e o orçamento intercalar, desenquadrados da Lei do Orçamento de Estado (LOE), o que se revelaria, sempre, muito complexo numa instituição, de grande dimensão e geograficamente muito dispersa como o INATEL. TERMALISMO O INATEL acaba de ser convidado para presidir à Comissão de Comunicação e Marketing da ATP – Associação das Termas de Portugal. No desempenho do honroso mandato, o INATEL procurará acentuar a orientação do Programa Saúde e Termalismo Sénior no sentido da sua progressiva extensão ao maior número possível de estancias termais e respectiva hotelaria – cerca de 40 termas – potenciando ao máximo a vocação do Programa como instrumento de desenvolvimento do turismo termal e de saúde e do tecido empresarial ligado ao termalismo, em benefício de municípios, freguesias e empresas de grande interioridade, como é o caso da maioria das localidades termais portuguesas. O INATEL representa cerca da 10% do mercado termal do país – com 10.000 termalistas, associados ou beneficiários do Programa Saúde e Termalismo Sénior – o qual ronda os 100.000 clientes de balneários e hotéis termais. Prevê-se que, no âmbito do Programa Saúde e Termalismo Sénior – 2007, o INATEL inicie o intercâmbio com o seu congénere espanhol IMSERSO – Instituto das Migrações e Serviços Sociais, envolvendo mil termalistas de cada um dos países ibéricos. Dezembro 2006 TempoLivre 5 >>>Editorial CIOFF - PORTUGAL No exercício da presidência do CIOFF-Portugal, Secção Portuguesa do Conselho Internacional das Organizações de Festivais de Folclore e Artes Tradicionais, organização internacional parceira cultural da UNESCO, o INATEL promoverá a articulação necessária com a Comissão Nacional da UNESCO, o Governo Central e os Governos Regionais, as Universidades, os Municípios e os agrupamentos de etnografia e folclore, com vista à classificação do melhor da Cultura Tradicional Portuguesa como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Na verdade, no momento em que o destino turístico Portugal assume a dimensão de desígnio nacional, as nossas cidades, vilas, aldeias históricas, monumentos, sítios, paisagens, etnografia e folclore, classificados pela UNESCO como Património Cultural da Humanidade, em muito valorizam a Nação Portuguesa na bolsa internacional dos roteiros turísticos. A defesa do nosso património cultural - edificado, natural e imaterial – constitui acrescido dever de cidadania dos portugueses e responsabilidade social dos Governos – Central e Regionais –, Universidades, Municípios, INATEL, movimento associativo da etnografia e folclore e sociedade civil. A UNESCO classificou, até hoje, como Património Cultural da Humanidade, treze conjuntos monumentais e paisagísticos de Portugal e mais dezassete outras cidades e monumentos construídos pela Nação Portuguesa nos antigos Império e Padroado, com destaque para Mazagão (Marrocos), Brasil, África Lusófona, Estado da Índia (Velha Goa), Sri Lanka (Galle) e Macau. É, felizmente, muito extensa a carteira de candidaturas de Portugal à classificação pela UNESCO como Património Cultural da Humanidade – construído, natural ou imaterial – dos conjuntos urbanos ou monumentais e da riquíssima etnografia, folclore, usos, costumes e dialectos das diversas regiões e localidades do nosso país. ALENQUER – VILA PRESÉPIO Diz a Constituição do CIOFF que “não é um homem do mundo quem não tem uma aldeia no coração”. Ora, permita-se-me o apontamento pessoal, a aldeia que tenho no coração é a Vila-Presépio de Alenquer, terra 6 TempoLivre Dezembro 2006 das minhas origens familiares paternas, capa e conteúdo monográfico da Tempo Livre do Natal deste ano. Em 1887, meu bisavô, Augusto Troni, assumiu o partido médico municipal de Alenquer, onde fixou residência e exerceu medicina, até ao fim dos seus dias, distinguindo-se como grande benemérito. Seus filhos, netos e bisnetos nasceram, viveram e morreram em Alenquer. Saliento que, ao longo de mais de um século, uma dinastia de médicos da família Troni tratou as populações dos concelhos do Oeste, especialmente Alenquer e Torres Vedras, desde a Borda d’Água, em Vila Franca de Xira, às praias do Atlântico. Refiro-me ao próprio Augusto Troni, a seu filho, Alfredo Troni, médico na Merceana, ao genro Duarte Rosa Ramos, clínico em Alenquer e ao neto Augusto Troni, recentemente falecido, médico em Torres Vedras, antigo director do hospital da cidade e presidente de referência da “Física de Torres”. Espero que a trineta Leonor, que escolheu a Medicina como projecto de vida, continue, nas próximas décadas, a acção profissional e benemerente dos seus antepassados próximos. Finalmente, meu avô, Augusto Troni, foi provedor da Misericórdia de Alenquer, durante longos anos, tendo-lhe, nesta vila, nascido os oito filhos, entre os quais meu pai, José Troni (1919/1968), funcionário da extinta Junta Nacional dos Produtos Pecuários e dirigente da Cruz de Malta. Alenquerense de referência foi, ainda, o general Henrique Troni, um dos fundadores da Força Aérea Portuguesa. Representam, hoje, a família Troni em Alenquer três ilustres residentes. Meu tio Graciano Troni, pessoa muito interventiva na sociedade civil do concelho e objecto de recente e justa homenagem, minha tia Carolina Troni, viúva do veterinário Luis Troni, pioneiro do combate à doença do sono em Moçambique e minha prima Maria Fernanda Carvalho dos Santos, viúva do advogado Teófilo Carvalho dos Santos, que foi presidente da Assembleia da República. Para os meus familiares e amigos de Alenquer, para o Presidente do Município, Álvaro Pedro, e para todos os munícipes da “aldeia do meu coração” deixo, também, sinceros votos de Santo Natal e Bom Ano Novo de 2007. I Notícias Curso de bandas filarmónicas Com uma audição final no Cine-Teatro Louletano, no Algarve, terminou, em Novembro último, o Curso Regional de Regentes de Bandas Filarmónicas do Inatel, uma iniciativa com pergami- nhos no movimento filarmónico do nosso país, organizada pelo Inatel, com apoio das delegações de Faro e Beja, parceria do Município de Loulé e colaboração da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva que se articulou como banda de apoio, e a Junta de Freguesia de S. Clemente. A formação, ministrada por Francisco Ferreira, José Pedro Figueiredo e Tristão Poesia e fado de Coimbra no Trindade Nogueira, contou com uma audição final de peças de John Philipe Sousa “ The Gladiator March”, Tournament” de Stephen Bulla, “English Folk Song Suite” de Ralph Vaughan Williams, “Jurassic Suite” de Ken Dye e “Bilbao” um arranjo O Teatro da Trindade foi palco, em um importante contributo de música para de F. Francia, onde os formandos demon- Novembro, do espectáculo de apresen- canto, guitarra portuguesa, guitarra clás- straram tação do CD “O Meu Lugar”, do grupo sica e baixo acústico, que utiliza um esti- primeira vez – de dirigir uma banda filar- “Quatro Elementos”, um projecto disco- lo já designado por muitos de “ lied de mónica, perspectivando um bom pano- gráfico singular com poesias de António Coimbra” . Ideias não faltam ao músico, rama musical para a região sul. Arnaut, editado, em simultâneo, com que revelou ainda à TL querer incluir num Também a norte do país, o Curso de uma partitura integral, que utiliza as no- próximo trabalho musical a participação, Regentes de Bandas Filarmónicas, nas, acordes pouco explorados na em várias peças, de uma orquestra. realizado em Oliveira de Azeméis, em Canção Coimbrã. Para Flávio Pinho, professor de História meados de Outubro passado, registou Perseguindo novas sonoridades no Fado da Música, do Conservatório de Coimbra, um o elevado nível artístico das Bandas coimbrão, o “Quatro Elementos”, consti- “O Meu Lugar” é “a perfeita adequação Filarmónicas que integraram a for- tuído por José Santos Paulo (tenor), expressiva e formal da música aos poe- mação, organizada pela Delegação do Álvaro Aroso (guitarra portuguesa), mas de António Arnaut, que na gravação Inatel de Aveiro. Eduardo Aroso (guitarra clássica/viola de encontra correspondência numa inter- Com a mesma equipa formativa do acompanhamento) e José Carlos Teixeira pretação correcta e fluente por parte do anterior curso e apoio da Banda de (baixo acústico), assumem-se como cantor e dos instrumentistas”. Música do Loureiro, a formação inte- herdeiros de um locus assente na O espectáculo, estreado, dias antes, na grou uma metodologia mais exigentes tradição Coimbrã, como referem no Biblioteca Joanina, da Universidade de e avançada, que a habitual, devido ao preâmbulo deste projecto, onde assi- Coimbra, contou ainda com a partici- bom desempenho e nível dos músicos nalam que a “tradição, renovação, passa- pação da contralto, Joana Neto, e do daquela região. do e futuro são permanentes desafios à actor/declamador e animador cultural do Ao Concerto final, que teve lugar no criatividade individual e ao modus Inatel, Joaquim Basílio. Salão Paroquial do Loureiro, assistiu operandi das sociedades enquanto estru- O CD e partitura podem ser adquiridos um grande número de pessoas, turas culturais”. na Media Printer e na Delegação Inatel, incluindo vários representantes das O projecto, que existia em embrião há em Coimbra, que apoiou a realização e Autarquias Locais e entidades Cultu- mais de 30 anos, é para Eduardo Aroso divulgação do projecto. rais da região. capacidade, muitos Dezembro 2006 pela TempoLivre 7 Notícias Cooperação Inatel O Inatel continua a alargar o seu âmbito de actuação, estabelecendo parcerias com diversas entidades e instituições que, ao assumirem a condição de Centros de Cultura e Desporto (CCD’s), beneficiam das condições de associado colectivo do Instituto e podem desenvolver acções de intercâmbio nas respectivas áreas de intervenção, contribuindo, por outro lado, para a divulgação das actividades e iniciativas do Inatel. Neste sentido foram, recentemente, assinados protocolos de cooperação com as entidades: CAP Magellan - associação de direito francês com fins sociais, culturais e recreativos, designadamente de promoção de actividades de convívio e de ocupação dos tempos livres, assim Alarcão Troni e Manuel Pechirra, presidente do ILAC, rubricam o acordo, ladeados pelos embaixadores da Tunísia e Marrocos como de valorização profissional, cultural e social dos seus membros; AFAP (Associação da Força Aérea Portuguesa) – instituição de utilidade pública sem fins lucrativos, prosseguindo actividades socio-culturais e socio-recreativas, designadamente, o incentivo da difusão do conhecimento e a correcta compreensão da importância, no mundo contemporâneo, do poder aero-espacial; Associação de Comandos – instituição de utilidade pública sem fins lucrativos, prosseguindo fins sócio- culturais, sócio-recreativos e sócio-económicos e apostando na promoção do bem-estar dos seus associados; ILAC (Instituto Luso-Árabe para a Cooperação) - vocacionado para a promoção O Presidente da AFAP, Cristovão Avelar de Sousa, no uso da palavra durante a celebração do protocolo com o Inatel e desenvolvimento de iniciativas de carácter cultural, turístico e desportivo, Educação Física da Universidade de ticipação dos respectivos eventos/ac- que contribuam para o fortalecimento Coimbra (FCDEF-UC), rubricado por Ana ções e a realização de estudos e investi- da amizade e para o aprofundamento da Maria Teixeira, presidente do Conselho gação, eventos desportivos e permuta de cooperação entre Portugal e os países Directivo da FCDEF-UC e Alarcão Troni, documentação. O acordo prevê, ainda, Árabes. Presidente do Inatel. As duas institu- descontos especiais para os associados Ainda neste registo, o Inatel estabeleceu ições decidiram como áreas prioritárias do Inatel nos Cursos Breves, Especia- um acordo de cooperação com a Fa- de cooperação a oferta de condições lizados e nas Actividades de Extensão culdade de Ciências do Desporto e especiais para os seus membros na par- Curricular daquela faculdade. 8 TempoLivre Dezembro 2006 Desporto em Leiria. Vinte e dois atiradores participaram no 2º Torneio de Tiro ao Alvo da Taça Regularidade de Carabina de Ar Comprimido de Recreio (10 m) da Delegação Inatel em Leiria, realizado no CCD do Grupo Desportivo e Recreativo de A-dos-Negros, em Novembro último. Hugo Franco, Hélder Ferreira e Filipe Calhandro, da Associação da Burdinheira, classificaram-se, por esta ordem, nos três primeiros lugares. Na mesma data, decorreu na Figueira da Foz a 1ª prova Campeonato Distrital de Pesca Desportiva de Mar, onde se destacaram, por sectores de A a D, os atletas Hilário Gaspar e Rui Amado, do C.P. Monte Real “A”, Manuel Oliveira e António Pedrosa, do G.D.C. Águia Luís Lamas no ISCA Competição “A” , respectivamente. Turismo com Desporto Tiro na Guarda. Jorge Correia, Ade- lino Chaves (Tonda) e José Paulo (CDR Criar alternativas saudáveis para a Luís Lamas aproveitou ainda o encon- Quintela) foram os três primeiros classifica- ocupação dos tempos livres dos tra- tro, realizado no decorrer da assem- dos, respectivamente, no torneio Abertura balhadores e das suas famílias, com bleia geral da ISCA, para apresentar do Calendário de Tiro, que decorreu nos oferta de actividades desportivas aos restantes membros da organiza- Bombeiros Voluntários de Figueira de integradas nas opções turísticas e cul- ção as valências do Inatel nas áreas do Castelo Rodrigo, no passado dia 18 de turais, foi um dos desafios lançados Turismo, Desporto e Cultura e de como Novembro, organização da Delegação distri- por Luis Lamas, vice-presidente do este Instituto aproveita e integra as tal da Guarda, Bombeiros Figueirense e Inatel, durante o encontro de mem- suas acções em prol da saúde e bem- Município de Figueira de Castelo Rodrigo. bros da ISCA (International Sport and estar dos seus utentes. No mesmo dia, teve lugar, na Quinta das Cultural Association) que decorreu Participaram também no encontro o Cegonhas, em Melo (Gouveia), a 13º jornada em Portoroz, Eslovénia, em Outubro prof. Antas de Barros e Rui Lança, do Campeonato Distrital de Damas, com último., por ocasião da Assembleia respectivamente director e chefe de vitória de Manuel de Oliveira (Lamego), se- Geral daquela associação. divisão do desporto do Inatel. guido de António de Almeida (Gouveia) e Nascimento Ezequiel (Leiria). Novas Chefias do INATEL A Direcção do Inatel, presidida por José Alarcão Troni, deu posse, em 26 de Outubro último, aos novos responsáveis nas Divisões de Pessoal, Etnografia e Folclore e Associados e Serviços. No Pessoal tomou posse o dr. Eduardo Fernandes, Mestre em Direito Fiscal, oriundo da Direcção-Geral de Contribuições e Impostos. A drª Carla Raposeira assumiu, por sua vez, a chefia da Divisão de Etnografia e Folclore, sector onde exercia funções como técnica superior. Na Divisão de Associados e Serviços tomou posse o dr. Carlos Luz, quadro superior do Instituto com funções anteriores no Departamento de Turismo. Carlos Luz, Carla Raposeira e Eduardo Fernandes Dezembro 2006 TempoLivre 9 Notícias Concertinas em Ponte de Lima Centenas de Tocadores de Concertinas, nacionais e estrangeiros, estiveram presente no IX Serão Internacional e o XI Encontro Nacional de Tocadores e Cantadores ao Desafio, que decorreu entre os dias 3 e 5 de Novembro, último, em Ponte de Lima uma organização da Delegação Inatel de Viana do Castelo e do Município Artes e Ofícios com museu em Porto Santo local. Tocadores de diversas regiões do país, da Colômbia, Trio Rivas, e França, Irmãos Lopes, proporcionaram momentos de alegria e bem-estar à No local da Camacha, concretizou, em que tem guardado. Perseguindo este numerosa assistência que entre Agosto último, José Cardina Melim, o sonho de quase dez anos, onde investiu muitos populares, contou com a sonho da sua vida com a inauguração e 300 mil euros, Cardina Melim, bem presença dos alunos do segundo e abertura do Museu Cardina. Não teve merece a distinção que o Governo Re- terceiro ciclo e dos utentes dos Centro apoios, apenas boas vontades. As dos gional da Madeira lhe vai outorgar invo- de Dia e Lares do concelho limiano. O que lhe foram oferecendo os utensílios cando razões culturais. E então, um dia último dia, domingo, foi o mais outrora tão necessários para as artes dos destes, este sonhador realizado, emo- participado, registando a presença de ofícios da terra. Agora, a Ilha Dourada de cionar-se-á mais uma vez quando lhe for 400 músicos que tocaram até ao cair Porto Santo, que anualmente cresce, colocada a Medalha de Mérito. da noite. pelo menos em número de visitantes, já No acto inaugural, o líder regional, João conta com mais um pólo cultural para Jardim, sublinhou “a capacidade da ini- ser visitado. ciativa do Cardina Melim ao avançar por Mal nos abeiramos da sua entrada e sua conta e risco numa verdadeira ati- somos confrontados com o esplendor de tude cultural sem ficar à espera de sub- um autêntico Moinho de Vento. Tamanho sídios ou sem querer pendurar-se nos natural, impecável na estrutura e ma- dinheiros públicos”. nutenção, assinalando a sua impor- Para o autarca de Porto Santo, Roberto tância secular no quotidiano porto-san- Silva, a inauguração deste museu “serve tense. Seguem-se, nos espaços certos, essencialmente para se pensar no os instrumentos da lavoura, de bulha, futuro, viver o presente, não esquecendo sistemas de moagem, caça, pesca, nunca o passado, e o Senhor Cardina, vinho, etc.. sempre teve essa preocupação de trans- É grande o espólio exposto. Todavia, é já mitir às gerações vindouras, o que se uma dor de cabeça para José Cardina, fazia no Porto Santo, o que era o Porto arranjar espaço para quase outro tanto Santo e quais as suas tradições”. MM 10 TempoLivre Dezembro 2006 ‘Percursos Alternativos’ é o título da exposição de Victor Belém, sócio do Inatel, que reúne 23 trabalhos exemplificativos do percurso do prestigiado pintor, nos últimos 40 anos. Patente ao público até 23 de Dezembro no Grémio Lusitano, 25 (ao Bairro Alto), em Lisboa. S. Martinho no Porto Forte participação popular marcou o Encontro de S. Martinho, na Invicta, organizado pela Delegação Inatel do Porto, no passado dia 18 de Novembro. O Encontro incluiu o desfile e actuação dos ranchos folclóricos de Baião, Santo André de Sobrado, Aldeia Nova, Amigos do Bustelo, S. Pedro de Rates e Rancho Folclórico do Porto, seguido do tradicional magusto, com castanhas e água pé para todos os participantes. Festa da Sopa em Viseu Concertos de Natal Foram 56 as variedades de sopas, num total de seis mil litros, A temporada de concertos de Música da Santa Casa da saboreadas por cerca de três mil participantes de o IV Festival Misericórdia de Lisboa prossegue, no corrente mês, nas se- do Caldo e III Festa da Sopa, que decorreu no Pavilhão do guintes igrejas: Igreja de S. Roque (largo Trindade Coelho): dia Inatel em Viseu, no passado dia 28 de Outubro, uma organi- 6 às 21h - Música Portuguesa de Natal dos Séculos XVII e XVII; zação da Delegação Inatel em parceria com a Confraria de dia 9 às 21h – Coro do Teatro Nac. de São Carlos. Igreja do Saberes e Sabores da Beira “Grão Vasco” e apoios da Região Instituto de São Pedro de Alcantâra (rua Luisa Todi): dia 13 às de Turismo Dão Lafões, Governo Civil, Câmara Municipal e 18h - Música coral Francesa do Renascimento ao Barroco pelo Associação Comercial de Viseu. O certame, participado por Coro de Câmara da Escola Superior de Música de Lisboa; dia 40 hotéis e restaurantes da região, incluiu a prova de vinhos 16 às 21h – Concerto de Natal pela Escola de Música N. Sra. do regionais e outros produtos da Beira. Cabo, com Coro Feminino, Juvenil e Orquestra Maior. Grandes pintores no XX Salão de Outono A Galeria de Arte do Casino Estoril apresen- Apresentada como uma homenagem à ta, até 15 de Janeiro próximo, o XX Salão de Pintura, a mostra reflecte, na diversidade Outono, uma colectiva de pintura que, ao das obras patentes, as principais cor- assinalar duas décadas de realização, apre- rentes contemporâneas, desde o expres- senta obras dos nossos mais representa- sionismo ao neofigurativismo e ao tivos pintores contemporâneos, entre out- abstraccionismo geométrico, a maioria ros, Agostinho Santos, Albino Moura, dos quais autores que habitualmente Alfredo Luz, António Joaquim, António expõem na Galeria de Arte do Casino. Pedro, Artur Bual, Carlos Lança, Damião Foi em 1763 que, em Paris, se realizou a Porto, Diogo Navarro, Graça Morais, primeira colectiva de pintura, designada Guilherme Parente, Helena Liz, Jacinto “Salão”, que se tornou modelo de idênti- Luís, José de Guimarães, Júlio Pomar, Lima cas exposições que pouco depois pas- Carvalho, Luís Ralha, Manuel Cargaleiro, saram a ser realizadas em todos os país- Martins Correia, Michael Barrett, Nadir es europeus. Afonso, Noronha da Costa, Paulo Ossião, A mostra ficará patente ao público, todos Pedro Castanheira, Pedro Rocha, Quadros os dias, das 15 às 24 horas, até 15 de Ferreira, Roberto Chichorro e Sérgio Telles. Janeiro. Obras de Nadir Afonso e Pedro Rocha Dezembro 2006 TempoLivre 11 Fotos Premiadas [1] [2] Menções Honrosas [ a ] Fernanda Macedo, Lisboa – Sócio n.º 433129 [ b ] José Mónica, Vila Nova de Sto. André – Sócio n.º 247128 [ c ] Nuno Matos, Lisboa – [a] [b] Sócio n.º 422604 [c] REGULAMENTO 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os sócios do Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos sócios do Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, direcção, telefone e número de associado do Inatel. 7. A Tempo Livre publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano [3] [ 1 ] Carlos Vences, Lisboa – [ 2 ] Adelaide Sousa, Maia – Sócio n.º 424830 Sócio n.º 167410 [ 3 ] Ana Fialho, Torres Vedras – 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio um fim de semana (duas noites) para duas pessoas num dos Centros de Férias do Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL» Sócio n.º 122630 10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na revista Tempo Livre de Setembro de 2007, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista Tempo Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio. PERCURSOS O presépio de Raras são as pessoas que não reconhecem imediatamente a Alenquer o cognome de vila presépio. De facto, entre as variadas razões que a vila tem para ser (re)conhecida, o majestoso palco em que se transforma a sua encosta todos os anos, desde 1968, é das que mais atenção atrai. A A história de Alenquer acompanha a de Portugal, desde logo pelo nome, que aparece ligado ao momento em que D. Afonso Henriques a conquistou aos mouros, em 1148. Alão era o nome do cão que guardava as muralhas e que, segundo uma lenda, terá feito muitas festas ao portugueses, tomando o rei essa atitude como bom presságio (Alão quer); uma segunda tradição que diz que Alão levava as chaves da vila, todas as noites pela muralha fora até à casa do governador e os cristãos, sabendo isso, atraíram-no com uma cadela presa a uma oliveira, obtendo assim as preciosas chaves. Num segundo momento, em 1212, D. Sancha concedeu o primeiro foral a Alenquer, e a vila foi nessa altura alvo da disputa entre a herdeira e o seu irmão Afonso II, que receava um movimento separatista. Muitas outras personagens históricas nasceram ou viveram em Alenquer, do mais ilustre filho desta terra, Damião de Góis (ver caixa), até aos nossos dias, onde brilha a actriz Palmira Bastos, cuja casa é hoje um museu com o seu nome. Mas, na memória recente da vila sobressai o esforço das suas gentes para recuperar das “dramáticas e catastróficas cheias de Novembro de 1967 que trouxeram o luto, a desolação e a ruína à zona ribeirinha de Alenquer”. Foi na sequência desta catástrofe natural que, em 1968, e após realizados consideráveis melhoramentos em termos de obras públicas, o vereador municipal D. José de Siqueira propôs a ideia de um presépio monumental a colocar na encosta virada ao rio. O então presidente da Câmara, João Mário Aires de Oliveira, aceitou a sugestão e o pintor Álvaro Duarte de Almeida, que 14 TempoLivre Dezembro 2006 ALENQUER Dezembro 2006 TempoLivre 15 PERCURSOS [Em cima:] Relógio de sol (séc. XVI) em Alenquer e largo do Pelourinho na Aldeia Galega. [Em baixo:] Igreja de Nª. Srª. da Piedade, em Merceana, e pormenor das férteis terras do concelho Estas quatro fotografias foram gentilmente cedidas pela Câmara Municipal de Alenquer tinha residido em Alenquer e ainda deixava o coração por lá pairar, foi naturalmente escolhido para dar corpo ao projecto. E assim, das mãos de uma equipa de artistas – Duarte de Almeida, que concebeu as figuras “de acordo com a figuração da pintura portuguesa dos séculos XVI e XVII”, os seus filhos Amélia e Álvaro, o pintor João Mário e o senhor Manuel Candeias, técnico da Câmara Municipal, que dirigiu os trabalhos das estruturas e carpintaria – nasceu aquele que é hoje o ex-libris natalício de Alenquer: um presépio com as figuras dos Anjos, do Deus Menino, da Virgem e S. José, dos Reis Magos, pastores e animais “concebidos ao gosto dos presépios tradicionais portugueses”. Não havendo lugar à dúvida quanto à qualidade da obra, a notoriedade deste presépio advém, no entanto, das suas grandes dimensões: a figura mais pequena tem quase metro e meio de altura, e a maior cerca de seis metros. Juntando-lhe a iluminação certa cria-se um espectáculo verdadeiramente majestoso na encosta alenquerense, que há quase 40 anos não deixa ninguém indiferente. Tanto tempo passado, é natural que as figuras tenham também envelhecido, pelo que a Câmara Municipal substituiu, em 1994, as figuras originais por outras – iguais – em liga metálica. E o sucesso do presépio tem sido tal que a Câmara organiza também uma exposição de Presépios do 16 TempoLivre Dezembro 2006 Mundo, este ano de 2 de Dezembro a 6 de Janeiro, “dando a todos os que a visitarem a possibilidade de apreciarem um vasto conjunto de peças representativas desta ancestral forma de arte.” DAMIÃO DE GOES N Nasceu em Alenquer em Fevereiro de 1502. Mesmo nos dias de hoje, a sua história não seria comum, mas muito mais invulgar seria naquela altura. Educado na corte de D. Manuel, desde cedo contactou e aprendeu com grandes nomes da época, de matemáticos a poetas e navegadores. Assim, não é de estranhar que tenha rapidamente sido nomeado funcionário régio e enviado para a Europa – a lista de cidades e países que percorreu faz inveja a muitos viajantes actuais: Bélgica, Holanda, Alemanha, Lituânia, Dinamarca, Polónia e Itália são apenas alguns pontos do seu percurso. Priva com Lutero e Erasmo, entre muitas outras figuras chave do renascimento europeu e em 1545 regressa à Pátria “aureolado de prestígio pelas amizades que contraíra na Europa”. Nomeado guarda-mor da Torre do Tombo, escreve a Crónica do Felícissimo Rei D. Manuel e a Crónica do Príncipe Dom João o Segundo de Nome; como homem do mundo e do seu tempo, foi também “amador de pintura, coleccionador de arte e cultivou a música tendo deixado algumas composições de Castelo de Alenquer e, em baixo, pormenor do Convento de S. Francisco JS PERCURSOS Pormenor arquitectónico da Qta. da Bichinha e, em baixo, vista da Serra do Montejunto GUIA Visitar aplicações diversas, mas claramente pela produção A Câmara Municipal de também os vários tons das vinícola que, embora Alenquer oferece aos paisagens das terras debatendo-se com as visitantes três rotas alenquerenses. A terceira dificuldades naturais da turísticas, acompanhadas rota, mais ligada à concorrência internacional, por um guia, para melhor ruralidade, passeio por tem vindo a dar provas da descobrir as riquezas do entre os moinhos de vento, sua elevada qualidade, concelho: a Rota “Alenquer testemunhos do método de arrebatando prémios por através da História”, trabalho e da fertilidade onde passa. As diversas percurso intensamente das terras do concelho. A quintas de renome da website: ligado a uma herança participação pode ser região, de onde saem www.quintadabichinha.pt riquíssima em figuras e individual ou em grupo vinhos como o Quinta de património, com passagem (organizado e com um Pancas ou, da Adega da Dormir obrigatória por museus, número limite de 25 Labrugeira, o DOC igrejas, pela serra do elementos). As inscrições Alenquer “Valle do Estrada da Várzea, Montejunto, pelo centro são gratuitas, à excepção Riacho”, o “Visconde de 2580-376 Alenquer histórico da vila de do almoço, que tem lugar Chanceleiros”, e o “Tinta Tel.: 263 730 570 Alenquer e pelos Paços do num dos restaurantes do Roriz”, ou o Cerca do Rei Fax: 263 730 578 Concelho, e incluindo uma concelho e onde a VQPRD Alenquer Tinto E-mail: reservas prova de vinhos numa das gastronomia típica da 1999, da Adega @quintadocovanco.com quintas da região. A região é apresentada. Cooperativa de Merceana, Website: segunda das rotas leva os Inscrições e mais pedem uma visita www.quintadocovanco.com visitantes a conhecer informações no Posto de estruturada. Para uma quatro igrejas, uma Turismo, no Parque Vaz prova ou até para um 2580-087 Merceana basílica e um convento; Monteiro, tel. 263 733 663, curso, contacte o posto de Tel. 263 769 382, Fax. 263 seis locais de culto e-mail turismo da Câmara 769 333, religioso, situados em seis [email protected] Municipal ou directamente E-mail: as quintas. [email protected] website: diferentes freguesias, Quinta do Covanco Quinta dos Plátanos permitindo mostrar não só Comer os efeitos da talha dourada Nas coisas da mesa, Pancas, Alenquer,Tel. / Fax ou da pintura mural em Alenquer distingue-se 263 732 894 / 263 733 219, E-mail: Casal das Pedras [email protected]; 2580-000 Alenquer website: Tel.: 263 710 375 www.quintadepancas.pt Fax: 263 015 485 18 TempoLivre Dezembro 2006 Quinta de Pancas, Quinta dos Plátanos, www.quintadosplatanos.com Casal das Pedras Pensão Residencial 2580-087 Merceana, Imperial Tel. 263 769 382, Rua Vaz Monteiro, 87 Fax. 263 769 333, E-mail: 2580-000 Alenquer [email protected] Telefone / Fax: 263 854 285 website: www.quintadosplatanos.com 300 Lugares E.N. - 9, km 94 Quinta da Bichinha, Alenquer Camping Alenquer 2580-413, 2580-000 Alenquer Tel.:965 099 621; E-mail: Tel. 213 552 070 [email protected]; Fax 213 584 540 Túmulo de Damião de Goes, na Igreja de S.Pedro. Basílica de S. Quitéria, edifício do séc.XVIII, em Meca. Uma peça do Museu M. Hipólito Cabaço natureza religiosa e profana.” Após uma vida tão rica em experiências, Damião de Góis encontrou a morte na sua terra, tendo sido encontrado morto com suspeitas de assassinato, na sua casa de Alenquer em 30 de Janeiro de 1574. A estátua que pode ser vista junto ao Tribunal Judicial de Alenquer mostra que os alenquerenses não o esqueceram. TRADIÇÕES VIVAS A Algumas tradições que escapam a muitos citadinos, parecendo desaparecidas, surgem, afinal, ainda bem vivas nas aldeias e vilas do “país rural”. Este é o caso das Janeiras, cantadas em grupo às janelas por altura do dia de Reis. Tradição semelhante têm as populações do concelho de Alenquer que, desde há tempos perdidos, cumprem a rigor o “pintar e cantar dos Reis”. Por estas terras. Além de cantarem e desejarem felicidades para o ano que começa, os grupos também pintam, ao lado das portas das casas por onde passam, desenhos simples mas com significados específicos, segundo um código de cores e símbolos que incluem estrelas, flores, corações e vasos em azul e vermelho. Tal como nas janeiras, recolhem donativos das casas visitadas e fazem, com eles, uma festa de comemoração. Os interessados em tradições seculares encontrarão no concelho de Alenquer um rico “museu vivo”, já que muitas celebrações intemporais decorrem aqui com bastante frequência e adesão popular. Depois dos reis vem a Festa dos Leilões em Atouguia, cujo ponto mais alto é o “leilão dos Cargos”, bolos de grandes dimensões, mais ou menos engalanados com fitas encarnadas e uma ou duas laranjas. “Em Atouguia a «Festa dos Leilões» é feita em honra do Mártir S. Sebastião e S. Vicente, na capela local, no mês de Janeiro. O leilão é feito na presença do povo. Um a um, os cargos são licitados, valendo normalmente mais aqueles cuja confecção teve o primor caseiro. O cidadão que arrematar com o valor mais alto leva o cargo para casa e, logo aí, aceita implicitamente a obrigação de apresentar no ano seguinte um cargo para ser leiloado.” Vivas mantêm-se também as tradições da romaria de Santa Quitéria de Meca, com a bênção do gado, ainda hoje o acontecimento mais importante do ciclo anual dos festejos das terras de Montejunto, que decorre em Maio, ou a dos círios, procissões mais ou menos longas que têm lugar no Verão. Marta Martins [texto] José Frade [fotos] Dezembro 2006 TempoLivre 19 COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA [ VII] TIMOR-LESTE Um longínquo afecto Julgo que para um Português, escrever, falar sobre Timor-Leste é sempre motivador, visto que esta terra configura uma realidade singular em relação a Portugal, e, em particular, desde meados de 1999, os Portugueses passaram a dedicar-lhe uma especial atenção. oje em dia, o carinho, a preocupação com o presente, as apreensões quanto ao futuro, a disponibilidade para ajudar o Povo Timorense, já não são de índole idêntica ao que tão exuberantemente os Portugueses expressaram na fase anterior à realização do referendo de 30 de Agosto de 1999, bem como após aquela data, ainda durante muito tempo, especialmente nos meses que se lhe seguiram. A esmagadora afluência verificada no referendo, tendo participado 98,6% dos eleitores inscritos, a inequívoca manifestação de vontade dos Timorenses em ser independentes, materializada em 78,5% dos votos, foram correspondidos pelos Portugueses em múltiplas e diversas demonstrações de solidariedade, também muitas vezes de angústia, perante as notícias que vinham do Território, e estabeleceu-se uma comunhão e uma identidade entre os dois Povos, que os antecedentes históricos nunca perspectivaram. Nos últimos tempos é com alguma inquietação, e esperança em melhores dias, que os Portugueses seguem a vida em Timor-Leste, o que, indiscutivelmente, significa da nossa parte, um testemunho de grande proximidade e muita afeição em relação aquela Nação do sudeste Asiático. No entanto, gostaria de sublinhar que o afecto é recíproco. Não medindo afectos, pelo que não vou escrever sobre quem tem mais afecto pelo outro, a realidade H 20 TempoLivre Dezembro 2006 histórica, recente e remota, mostra que o Povo Timorense sempre evidenciou uma atitude de respeito, consideração, e, nos últimos anos, de profunda gratidão, em relação a Portugal. Esta antiga ligação afectiva dos Timorenses com o nosso País, é algo difícil de explicar! ESQUECIMENTOS Pode-se quase dizer, que os Portugueses sempre se esqueceram de TimorLeste... Chegaram ao Território em 1512, mas só em 1702, com a chegada do primeiro Governador, se deu início à sua organização colonial, tendo sido criado o Timor Português. Ao longo dos séculos nunca se deu especial atenção ao desenvolvimento desta colónia, a mais afastada da metrópole no antigo Império Colonial Português. Realmente, a Insulíndia ficava muito longe... Depois de quase cinco séculos de “esquecimento”, mais uma vez, na sequência do 25 de Abril de 1974, Portugal voltou a pecar por omissão – o Estado Português tentava resolver os conflitos existentes em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, a que também se “agregaram” Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe, territórios onde não havia problema militar, e parece que se esqueceu de Timor-Leste... Lamentavelmente, as consequências foram desastrosas para os Timorenses, e, durante 24 anos, a Indonésia ocupou o Território. Neste período, que se iniciou com a invasão de 7 de Dezembro de 1975, e, na prática, só terminou em 20 de Setembro de 1999, quando as tropas ao serviço da ONU CPLP > TIMOR-LESTE chegaram a Timor-Leste, estima-se que morreram cerca de 240.000 Timorenses, ou seja, mais ou menos um terço da População. Pois apesar desta fase sangrenta da história Timorense, durante a qual os Indonésios cometeram todo o tipo de arbitrariedades, de violações dos mais elementares direitos humanos, da exploração dos recursos naturais, e, de após o referendo de 30 de Agosto de 1999, terem destruído o Território completa, sistemática e cientificamente, os Timorenses, na fase de reconstrução conduzida pelas Nações Unidas, mais uma vez demonstraram especial carinho em relação aos Portugueses. Posso afirmá-lo com absoluta certeza, porque eu estava lá! De Novembro de 1999 a Março de 2002, estive por cinco vezes em Timor-Leste, sempre por motivos profissionais, e lembro-me perfeitamente, que nunca fui tão bem tratado por um Povo, como durante a primeira estada no Território. Naquela altura, ser Português significava ser discriminado pela positiva, isto é, passar à frente, poder sempre entrar, ser recebido, usufruir de um carinho, de um beijo, de um abraço, de um tratamento especialmente afável. A título de curiosidade meramente pessoal, desejo realçar que nos 58 Países que já visitei nos cinco Continentes, foi ali em Timor-Leste, em 1999, que melhor fui recebido...só por ser Português! Havia então no Território cidadãos de muitas nacionalidades, Australianos, Brasileiros, Ingleses, Franceses, Norte-Americanos, Neo-Zelandeses, Italianos, etc., mas só os Portugueses eram alvo de um tratamento especialmente carinhoso dos Timorenses. Isto depois de quase cinco séculos de ausência... Na altura, designadamente na deslocação de 1999, foi muito difícil a estadia, pois não existia o mínimo de condições de alojamento e alimentação – dormia-se no chão, não havia vidros nas janelas, nem ar condicionado, ou mesmo ventoinhas, sendo o calor e a humidade terríveis, as condições higiénicas eram altamente deficientes, a alimentação era má e limitada, etc., etc.. Contudo, o que acabei de escrever no período anterior nada significa, perante o que foi a experiência de ter contribuído para o nascimento deste Estado independente! O facto de o Território ter sido a mais longínqua colónia Portuguesa, as situações vividas, as dificuldades por que passei, o ter contactado com homens da estatura de Xanana Gusmão, Sérgio Vieira de Mello, D. Basílio do Nascimento, e, também, entre outros, ter conhecido pessoalmente, D. Ximenes Belo, José Ramos Horta, Taur Mattan Ruak, Leandro Isaac, João e Mário Carrascalão, mas, em simultâneo, cidadãos Timorenses anónimos, como a Dona Rosa, o Senhor Vieira, o Sancho, o Mariano, o Senhor Rui, o Senhor Francisco, o Libório e as suas encantadoras filhas, são recordações, são riquezas, que para sempre guardarei dentro de mim, e fazem com que a “experiência Timor-Leste” seja inolvidável e extremamente enriquecedora, a todos os níveis. RECURSOS NATURAIS Ainda sobre Timor-Leste, será conveniente referir que se trata de um País rico em recursos naturais, tem petróleo, gás natural, mármores, madeiras nobres, como o sândalo, excelentes condições para o desenvolvimento da agricultura e pecuária, nomeadamente na zona centro, águas territoriais riquíssimas em peixe e marisco, e, ainda, uma natureza que tudo proporciona para o êxito da indústria do turismo. Existe equilíbrio entre a População versus a Superfície do País, que se situa nos 18.899 km2. Deve ser destacado, que Portugal tem vindo a ajudar muito significativamente o novo Estado, tendo mesmo essa colaboração sido iniciada ainda na fase de transição para a Independência – ensino, saúde, correios, telecomunicações, justiça, alfândega, água, electricidade, banca, bombeiros, portos, aeroportos, são exemplos de domínios onde a presença de Portugal foi, e ainda é, muito importante. Seria uma pena, que tudo o que foi conseguido até hoje, em primeiro lugar obra dos Timorenses, mas também fruto da colaboração de alguns Estados amigos e de doadores internacionais, juntamente com os recursos naturais existentes, não conduzissem a que TimorLeste viesse a ser um Estado de sucesso e de bem estar para os seus cidadãos. Era também mais uma triste ironia da história, que, agora que Portugal não se “esqueceu” de Timor-Leste, as vicissitudes da criação do novo Estado, viessem a afastar, mais uma vez, as duas Nações amigas! Esperemos que tal não aconteça. I Rui Oliveira e Sousa [texto] Lusa [fotos] Dezembro 2006 TempoLivre 23 OFÍCIOS MESTRE FERNANDO E O SONHO DE UMA ESCOLA DE «YOLLE» «O país precisa de quem saiba estas artes» O que mestre Fernando faz mais ninguém neste país de marinheiros sabe fazer: só ele conhece os segredos da construção artesanal do “yolle”, embarcação tradicional feita em madeira, historicamente ligada às origens do remo, e que ainda hoje desempenha um papel essencial nesta modalidade. AO MESMO TEMPO ELEGANTE E muito estável, este barco é usado não só na formação de atletas – pois é o único do género capaz de domar águas fluviais agitadas (como as do Tejo), evitando deslocações em busca de troços mais “mansos” para treinar – mas também em regatas revivalistas de grande prestígio, realizadas no estrangeiro e entre nós. Foi, aliás, o que sucedeu, recentemente, na frente ribeirinha da capital, quando a Lisboa Classic Regatta pôs a remar no Tejo equipas de vários países europeus, com destaque para os míticos rivais de Cambridge e Oxford, assinalando o fim das comemorações dos 150 anos da Associação Naval de Lisboa, a mais antiga colectividade desportiva da Península Ibérica. Trabalhar para o sucesso desta e de outras provas e para proporcionar treinos regulares tem sido a missão que este homem tão humilde quanto prodigioso, criado no interior rural, vem cumprindo desde há mais de 35 anos, assegurando a poupança de muitos milhares de euros aos clubes navais de norte a sul de Portugal e, ao mesmo tempo, garantindo a sobrevivência destes verdadeiros “monumentos” históri24 TempoLivre Dezembro 2006 cos flutuantes. No seu currículo estão dezenas de barcos aliviados das maleitas do tempo, às vezes renovados quase por completo ou feitos mesmo de raiz. Uma arte que só resulta misturando as doses certas de sabedoria, experiência e muita paciência. Por isso mesmo, e porque não chega para tanto trabalho que há por fazer, mestre Fernando gostaria de ver concretizado o seu maior sonho: ter uma escola onde possa transmitir às novas gerações os conhecimentos que reuniu ao longo de tantos anos de amor aos “yolles”. MEDALHA DE HONRA A construção deste tipo de embarcações com materiais modernos como a fibra de vidro foi, entretanto, ganhando terreno, mas isso não desanima o artesão. “Só fazem ‘yolles’ de quatro, pois os de oito já não são rentáveis de fabricar dessa forma e, de qualquer maneira, não se comparam em beleza e estabilidade com os de madeira e feitos artesanalmente”, argumenta em defesa dos “seus” barcos de estimação, muitos deles a navegar por esses rios fora depois de passarem pelas suas mãos reparadoras. “Já lhes perdi a conta…”, diz. Um currículo que valeu a atribuição de uma medalha de honra pela Federação Portuguesa de Remo, em 2003, a alguém “unanimemente reconhecido por todos como pessoa ímpar”, cujo labor “foi fundamental para o desenvolvimento da modalidade, quer por ser profundo conhecedor das técnicas de construção e reparação de embarcações, quer como profissional permanentemente disponível para o serviço, o que provou em incontáveis organizações locais, regionais ou nacionais”, mesmo “sacrificando muitos dias de férias e perdendo muitas noites de descanso”. O destinatário dos encómios não esconde o orgulho e confirma a paixão. Tanto assim é que, embora já reformado daquela instituição desportiva, continua a dar o melhor de si aos “yolles”. MENINOS DO RIO Foi num café das Docas de Alcântara que partimos à descoberta de mestre Fernando. É que o seu domicílio fica ali mesmo, no edifício da federação de remo, onde funciona também uma pequena oficina de apoio. O cenário em redor fervilha de actividades, por vezes contrastantes, mas unidas pelo imenso cordão umbilical de água: de um lado, o porto de Lisboa ligado à azáfama dos contentores; do outro, dezenas de iates a balançarem-se languidamente no ancoradouro lembrando que a faceta de recreio é parte de um todo a valorizar. Mas este é, também, o território dos meninos do rio, de omoplatas e bícepes salientes por força do vaivém de barcos às costas entre os armazéns dos vários clubes navais lisboetas ali sedeados e o Tejo onde treinam as suas ambições. Um mundo de que Fernando Matos se habitou a gostar. Como faz questão de dizer, é o único morador das mesmas docas que “há 30 anos eram um deserto e agora são uma zona muito ‘in’ e concorrida ”, seja para passear, almoçar, ou beber um copo durante o dia, seja para uma animação nocturna que, às vezes, até se pauta por excessos. Todo esse bulício, equilibra-o o mestre través de um quotidiano pacato em torno dos barcos e dos remos. Um trabalho que até há pouco tempo o levava, também, à zona do Cais do Sodré, onde se localizava o seu cais de sonhos, um antigo mercado de peixe cedido ao artesão pela Câmara de Lisboa em meados da década de 90, já então com o propósito de aproveitar o seu talento e a vontade do próprio em não deixar, um dia, morrer consigo as técnicas e os truques do seu “mester”. Foi lá que reparou muitos “yolles” e construiu outros de raiz. Entretanto, esse espaço de tantas memórias foi requisitado para outros projectos no âmbito da reformulação do Porto de Lisboa, mas a Autarquia já garantiu a mestre Fernando que a sua arte não ficará sem tecto, provavelmente junto das novas sedes dos clubes náuticos da capital, que também deDezembro 2006 TempoLivre 25 OFÍCIOS Fugir da terra para o mar verão ser reagrupados noutro ponto da frente ribeirinha. Suprema ironia, mestre Fernando nunca remou na sua vida. É assim mesmo O ÚLTIMO “YOLLE” que gosta de estar: pés em terra e olhos no mar. O seu trabalho com barcos Agora aquartelado em Alcântara, nem por isso tem menos que fazer, tal a quantidade de “yolles”, vindos de todo o país, que é preciso reparar. “Olhe para esta beleza”, salienta, apontando para um “doubleskoll” (dois lugares), pertencente ao clube Naval 1º de Maio, da Figueira da Foz. “Apertaram os parafusos até esmagarem a madeira, assim não pode ser…”, vai diagnosticando, qual médico examinando o seu paciente, enquanto acarinha o casco. A seguir, dedica a sua atenção a um “yolle” de oito lugares, esguio nos seus 14,5 metros de comprimento. “Tive de o refazer praticamente todo”, assevera, sem falsas modéstias, acrescentado um dado fundamental para se perceber a importância deste trabalho: “Um barco destes comprado novo custa mais de 30 mil euros!”. Ter gosto é o principal requisito do ofício, mas é preciso também muita paciência e rigor. “Este trabalho tem muito que se lhe diga, é feito de pormenores e não se pode usar uma madeira qualquer – as melhores são o cedro brasileiro, a casquinha, o freixo e o mogno – pois tem de ser uma matériaprima leve, mas ao mesmo tempo resistente quanto baste para que se possa obrigá-la a vergar, mas sem partir”, explica, enquanto dá os derradeiros retoques no seu último “yolle”: “Vai ficar o mais bonito de todos e vou-lhe dar o meu nome, apenas por simbolismo, pois a partir de agora penso não mais fazer barcos, apenas repará-los e, se mo permitirem e entenderem como útil, ensinar esta profissão aos mais novos”, revela, concluindo, porém, em jeito de repto a quem segue ao leme: “Acho que o nosso país precisa de quem saiba estas artes”.I começou longe de Portugal, num estaleiro naval da ilha de Luanda. “Mas já em garoto, na minha terra (Felgueiras, concelho de Resende) tinha muito jeito para as madeiras. Sempre que podia, pegava num cutelo afiado e fazia uma peça qualquer, piões por exemplo, mas tinha de ser às escondidas do meu pai”, conta o artesão. Até que um dia o seu dom deixou de ser segredo. “Quando andava na 3ª classe, houve um concurso em que cada escola do concelho escolhia o aluno que tivesse feito o melhor trabalho em madeira para o ir apresentar juntamente com os outros finalistas. Eu fiz um arado, fui seleccionado, e viria a ser considerado o autor da melhor peça de entre todas as escolas”, recorda o artesão, cujos olhos ainda brilham de emoção de cada vez que lembra esses tempos. “A nossa professora até chorou de alegria”, enfatiza. Infelizmente, pouco depois, também ele choraria, mas de tristeza e frustração. É que o progenitor sempre torcera o nariz ao talento que ameaçava roubar-lhe o filho ao destino traçado desde que nasceu: tomar conta dos rebanhos nos montes e, depois, trabalhar a terra. Por isso, resolveu por um ponto final nas ilusões. “Nem acabei a 4ª classe, foi uma dor de alma para mim”, desabafa mestre Fernando, com uma expressão de mágoa a toldar-lhe o semblante. “Muito mais tarde, o meu pai admitiu que fez mal, mas eu também compreendo que naquela altura a prioridade era pôr comida na mesa e isso não era nada fácil”. O jovem Fernando ainda aguentou até aos 18 anos. Então, limitou-se a informar o progenitor de que ia aprender outro ofício. O primeiro emprego foi na construção civil, mas aos 26 anos rumou a Angola, ficando a viver e a trabalhar num estaleiro da ilha de Luanda, onde se fez homem, como diz. Não conhecia aquela actividade, mas pressentia que o seu futuro estava ali, onde podia aliar o seu jeito para as madeiras com dotes de engenharia que até então nunca pudera revelar. “Se tivesse continuado a estudar, talvez hoje fosse tão famoso como o foi Edgar Cardoso, o engenheiro das pontes que era lá da minha zona”, comenta, a propósito. O importante, porém, é que, finalmente, sentia prazer no que fazia. “Desenhávamos e construíamos qualquer tipo de barco”, entusiasma-se mestre Fernando. Em Angola haveria de construir três dos quatro barcos, que não a remos, feitos ao longo da sua vida. O último foi já em Portugal, há cerca de 25 anos, destinado ao brigadeiro que dirigia a antiga Escola de Remo e Canoagem. “Ele ficou todo contente, disse que era o sonho da vida dele”. Se a antiguidade e a dedicação valessem divisas na carreira de Fernando Matos, certamente seria mais fácil ao mestre concretizar, também, o seu próprio sonho de ter uma escola onde possa perpetuar a arte dos “yolles”. Este país de marinheiros – e de cada vez mais atletas remadores de sucesso internacional – deve agradecer-lhe… e com muito mais do que medalhas. JF Jorge Ferreira [texto] Filipe Guerra [fotos] 26 TempoLivre Dezembro 2006 SOLIDARIEDADE Dançar com a diferença Criado há cinco anos, o Grupo Dançando com a Diferença integra pessoas com e sem deficiência. Tratase de um projecto pioneiro em Portugal que pretende combater preconceitos e fomentar a inclusão através da dança. TUDO COMEÇOU EM 2001 APÓS UMA SUGESTÃO de Henrique Amoedo, um coreógrafo brasileiro que chegou a Portugal para fazer um mestrado e acabou por se render aos encantos da Madeira (ver tira). Foi precisamente ali que propôs, à Divisão de Arte e Criatividade da Direcção Regional de Educação Especial, a criação do Grupo Dançando com a Diferença. A ideia era combater preconceitos e fazer algo inovador na área da dança inclusiva. Desta iniciativa constituíram-se vários grupos secundários, desenvolvidos em diversas instituições locais, com focos de actuação nos âmbitos terapêutico e educacional, e o grupo principal, que tem como meta fazer espectáculos. Hoje, a companhia é composta por quinze elementos, entre os quais dez têm alguma deficiência: um invisual, dois com Trissomia 21, três com défice de aprendizagem e um invisual. Bárbara Matos, de 13 anos, é a artista mais nova, enquanto Celestino soma já 71 anos. 28 TempoLivre Dezembro 2006 “É um grupo muito heterogéneo”, explica Henrique Amoedo, salientando ser essa a sua riqueza. E adianta: “na dança contemporânea, os coreógrafos procuram precisamente a diferença, o que cada intérprete pode dar. E este grupo permite isso.” No fundo, não importa as dificuldades de um bailarino, mas “saber o que ele pode fazer bem”. Como refere o responsável, no início ninguém imaginava como seria constituir um grupo de dança cujo elenco fosse composto por pessoas com e sem deficiência. Cinco anos depois, afirma que a companhia conquistou já vários espaços dentro do universo da deficiência, mas não só. Isto porque o Grupo Dançando com a Diferença integrou, em Março passado, a programação de reabertura do ‘alfacinha’ Teatro Maria Matos – a primeira actuação em Lisboa. E se a aceitação tem sido positiva por parte do público, muitas são também as alegrias que este projecto tem proporcionado aos próprios elementos do grupo, a começar pela sua auto-estima. A comunidade onde residem passou a olhá-los de outra forma, “deixam de ser vistos como o vizinho que tem uma deficiência e que precisa de ajuda, para passarem a ser o vizinho que deu uma entrevista para a televisão ou que vai viajar para dançar ”, refere Henrique Amoedo, salientando a exposição que têm merecido na comunicação social. No entanto, para o coreógrafo, Portugal tem ainda que crescer muito na dança, e não só. E recorda o caso de um bailarino da CandoCo – a principal referência de dança inclusiva em Londres – que, apesar de não ter pernas, fez uma audição para uma grande companhia (DV8) e conseguiu o lugar. Em sua opinião, este é o caminho para que um dia se deixe de falar de dança inclusiva e se passe a dizer simplesmente dança contemporânea. Por outro lado, é igualmente necessário uma outra atitude por parte das pessoas com deficiência, “porque a sociedade só vai entender as suas dificuldades se elas se mostrarem”. Ainda assim têm que ter condições de acesso, quer físicas, quer no que respeita à diminuição de preconceitos. Do Brasil para a Madeira Chegou a Lisboa em 1999 para fazer um mestrado na Faculdade de Motricidade Humana, numa altura em que a dança com pessoas com deficiência ainda estava muito associada ao aspecto terapêutico. Mas Henrique Amoedo, natural de São Paulo, trazia já alguma experiência na bagagem. No Brasil foi o fundador da Companhia Roda Viva, que ainda hoje é uma referência internacional na área da dança inclusiva. Com ela chegou mesmo a representar o seu país no I Festival Internacional de Dança em Cadeiras de Rodas em Bóston, nos Estados Unidos. «Queremos Mais», «Vidas e Vidas» e «Curso do Rio», com Heloísa Costa, foram algumas das criações que assinou durante a direcção daquela companhia, onde teve oportunidade de trabalhar com vários coreógrafos, nomeadamente, Carlos Cortizzo, Carlinhos de Jesus, Domingos Montagner, Edson Claro, Fernando Sampaio, Hen- ROMPER FRONTEIRAS rique Rodovalho, Ivonice Satie, A primeira apresentação pública do Grupo Dançando com a Diferença aconteceu em 2002, no âmbito do Campeonato Mundial de Basquetebol, na Madeira, com a coreografia «9x9», de Henrique Amoedo. Contudo, o primeiro espectáculo – «Diferenças» – subiu ao palco apenas em Maio de 2003. Já a 19 de Novembro do ano seguinte, e depois da ‘grande viagem’ pelas novas tecnologias presente na primeira produção, a companhia estreou «Sente-se/ Sinta-se». Em Julho de 2005, foi-lhe atribuído o estatuto de companhia residente do Centro das Artes Casa das Mudas, altura em que estreou «Levanta os Braços como Antenas para o Céu», de Clara Andermatt, com música original de Vítor Rua. «Insónia», de Juliana Andrade e Ricardo Mendes, ou «Exílio», de Carolina Teixeira, são outros trabalhos que fazem parte do currículo do grupo. Para Henrique Amoedo, a colaboração com outros coreógrafos «tem sido muito importante para os bailarinos», mas também para os profissionais. Clara Andermatt, por exemplo, disse mesmo que o trabalho desenvolvido com o Grupo Dançando com a Diferença foi um grande desafio. No início, não sabia como lidar com a situação e teve que vencer os seus próprios Luis Arrieta e Pedro Costa. Ainda no Brasil, deu formação e organizou a criação da Companhia Experimental Grupo Mão na Roda, que se caracteriza pela utilização da dança como um veículo para consciencialização e inclusão social de pessoas com deficiência. Em Portugal, acabaria por viajar até à Madeira em 2001 onde abraçou um projecto que viria a dar origem ao Grupo Dançando com a Diferença. Com a companhia tem conseguido quebrar alguns preconceitos no arquipélago e, embora seja muito acarinhada pelo público e pela própria comunicação social, há ainda quem nunca tenha assistido aos espectáculos, não conheça o projecto ou até não revele qualquer interesse. Como o próprio explica, ainda existe algum preconceito, e não só em território madeirense. “Mas faz parte do nosso trabalho tentar modificar esse cenário”, admite. Embora pretenda levar o grupo a outras zonas do país (e não só), quer continuar a viver na Região Autónoma, uma vez que o trabalho está a correr muito bem, e “o facto de estar numa ilha facilita tudo, porque tudo está mais próximo”, conclui.I Dezembro 2006 TempoLivre 29 SOLIDARIEDADE medos para depois os confrontar com os medos deles. “Esta oportunidade só veio beneficiar a minha experiência pessoal e artística”, confessou. Foi precisamente com uma das criações de Clara Andermatt, entre outras, que o grupo actuou recentemente em França, naquela que foi a sua segunda deslocação ao estrangeiro, depois da estreia, em 2002, no Brasil, no âmbito do Festival de Artes em Barreiras. Em Versalhes, no passado dia 28 de Setembro, o grupo foi aplaudido várias vezes por uma plateia de 600 pessoas. E à saída do teatro mereceu novamente o reconhecimento do público. «Levanta os Braços como Antenas para o Céu», «Menina da Lua», um trabalho de improvisação de Henrique Amoedo e Bárbara Matos, e «Passion», da brasileira Ivonice Satie, foram as coreografias apresentadas no Festival Européen Théâtre et Handicap 30 TempoLivre Dezembro 2006 Orphée. A oportunidade para participar no evento francês surgiu graças à Associação Nacional de Arte e Criatividade de e para Pessoas com Deficiência, que seleccionou a companhia entre outros grupos. Com esta actuação, segundo o coreógrafo, “conseguimos um dos objectivos para este ano: a internacionalização do nosso trabalho”, numa altura em que o Grupo Dançando com a Diferença comemora o seu quinto aniversário. Ainda para este ano está prevista a actuação no 5º Festival de Artes, Criatividade e Recreação, que decorre até 10 de Dezembro, promovido pela Divisão de Arte e Criatividade da Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação. Trata-se de uma iniciativa que tem por principal objectivo possibilitar que grupos e artistas mostrem a sua arte, independentemente de terem ou não uma deficiência. I Cláudia Elias e Maria Leonor Vicente TENDÊNCIAS A aldeia global dos sabores O movimento Slow Food reinventa-se, de dois em dois anos, por ocasião do Salone del Gusto e do Terra Madre, procurando novos conceitos e lançando a si próprio e ao mundo novos desafios. m paralelo com a 10ª edição da maior feira de produtos tradicionais do mundo – o Salone del Gusto – decorreu, em Turim, de 26 a 30 de Outubro, o segundo encontro das “comunidades do alimento” Terra Madre (o primeiro realizou-se em 2004), que reuniu 5600 delegados de 150 países, muitos dos quais nunca teriam recursos próprios para pagar uma deslocação ao estrangeiro ou apoio logístico para fazer ouvir a sua voz fora das fronteiras dos seus países. No decurso do Terra Madre, realizaram-se encontros regionais, colóquios e “laboratórios da terra” sobre os vários sectores de actividade, com representantes de todos os continentes. No centro do pavilhão, muitos agricultores vestidos nos trajes tradicionais dos seus países – não por folclore, mas como marcas da sua identidade –, expuseram e venderam livremente os seus produtos: do maracujá da Costa do Marfim às ervas aromáticas italianas, passando pelos colares de sementes da Amazónia, os doces e molhos russos e o queijo de yak tibetano. Presentes pela primeira vez num encontro Terra Madre e (informalmente) no Salone del Gusto 2006, as ostras do Sado do ostreícultor Reinaldo Mendonça surpreenderam todos os que tiveram oportunidade de fazer uma degustação. Estes bivalves foram recentemente registados sob a designação pela qual são conhecidas em todo o mundo – “Les Portugaises” – e são agora candidatos aos “presidia” (“fortalezas”) da Fundação para a Biodiversidade do Slow Food, onde se poderão juntar às Fal Oysters de Cornwall (Reino Unido), às ostras de “borde negro” de Calbuco (Chile) e as Cape May Salt Oysters (Estados Unidos). Além da broa de milho e da laranja de Ermelo (ambos da região de Arcos de Valdevez), que já figuram na Arca dos Sabores (criada à imagem da Arca de Noé para salvar culturas e produtos em risco de extinção), Portugal só viu reconhecidos, até à data, dois “presidium”: o chouriço mirandês e o Queijo Serpa. Presentes no Terra Madre, Esmeralda Franqueira, Joaquim Carlos e Jorge Miranda, E representantes da comunidade dos produtores de broa de milho de Arcos de Valdevez, fizeram uma apresentação no “laboratório da terra” dedicado ao pão; enquanto Rogério Rosa e José Pinheiro, da comunidade da batata doce de Aljezur, deram a provar esta iguaria aos preDezembro 2006 TempoLivre 31 TENDÊNCIAS Carlo Petrini, fundador e presidente do Slow Food International. Vandana Shiva, presidente da Comissão Internacional para o Futuro dos Alimentos e da Agricultura. Produtos italianos de agricultura biológica sentes no colóquio sobre raízes e tubérculos. O produtor de sal algarvio, Jacinto Palma Dias, foi outros dos portugueses que viajaram até Turim para um primeiro contacto com a organização do Slow Food. O sal e a flor-desal de Castro Marim, a batata doce de Aljezur, o sal gema de Rio Maior, o vinho de Colares e o chá Gorreana dos Açores, são alguns dos produtos portugueses apontados pelo movimento como futuros candidatos aos “presidia”. A CAMINHO DO MARE MADRE componente mais rica de uma participação no Terra Madre é a da troca informal de experiências entre os representantes das diversas comunidades presentes, com destaque para os pescadores, que protagonizaram animados debates. Presente no painel dedicado às questões ambientais relacionadas com a pesca artesanal, Carlo Petrini, fundador e presidente do movimento Slow Food International, sublinhou que «à imagem do Terra Madre, também vai ser necessário criar um Mare Madre» para proteger os oceanos e todos os que deles retiram o seu sustento e que ele próprio iria sugerir a ideia no próximo encontro Slow Fish, que se realizará em Génova, de 4 a 7 de Maio de 2007. «Temos de recolocar o alimento no centro da nossa vida – exortou Carlo Petrini,– quase parece um paradoxo, mas sem alimentos não podemos viver. Os alimentos são a essência da vida e a sociedade tem neces- A 32 TempoLivre Dezembro 2006 sidade de saber mais sobre os alimentos e temas como o direito à água potável ou a propriedade das sementes». Retomando, na essência, a mensagem de Petrini, Vandana Shiva, presidente da Comissão Internacional para o Futuro dos Alimentos e da Agricultura, lembrou que «somos a comida produzida por outros» e que «o “karma” mais elevado é o de produzir boa comida e oferecê-la generosamente». O conhecido “chef ” catalão, Ferran Adrià alertou para o risco de colocarmos «a relação alimentação-saúde entre as últimas prioridades da vida. Em vez disso, preferimos ter um telemóvel, ou dois!». Dirigindo-se a uma plateia de agricultores de todo o mundo, o mestre da gastronomia molecular salientou que «na alta cozinha, fomos pioneiros ao ir de encontro aos pequenos produtores. Até pode ter sido por egoísmo, porque queríamos os melhores produtos, mas estes entraram definitivamente nas nossas ementas». «Os alimentos cultivados pelos pobres impuseram-se nos grandes restaurantes. Pelo menos nisto, os pobres venceram», acrescentou Fausto Bertinotti, presidente da Câmara dos Deputados italiana, um dos convidados para a cerimónia de encerramento do Terra Madre. «Estão a nascer os “eco-chefs”, cozinheiros com uma responsabilidade social e ambiental. Não podemos ter interesse, apenas, em aquilo que pode melhorar a nossa técnica culinária», afirmou por sua vez, a “chef ” brasileira Teresa Corção, que falou em representação das dezenas de cozinheiros convidados a fazer a “ponte” com as 1600 “comunidades do alimento” pre- sentes no encontro Terra Madre. «Temos uma missão para além dos tachos e fogões. Somos o penúltimo elo entre os produtores e a mesa; colocamos produtos dos pequenos produtores nos nossos restaurantes, destacando a sua origem; ensinamos as crianças a cozinhar como forma de expressão e auto-estima; e resgatamos a memória gastronómica dos nossos países», sublinhou. LIBERDADE PARA VIVER « inguém pense que foi aqui formada uma nova associação ou um partido – esclareceu Carlo Petrini – não temos quaisquer ideias de estruturar o Terra Madre que é, por natureza, uma entidade livre. Desta forma, podemos usar a nossa imaginação, ser inventivos, ter coragem, desbravar novos caminhos, pensar em cuidados mútuos e entreajuda (um elemento chave para a comunidade), viver para os outros, traduzir direitos em leis e pensar no bem-estar de todos. Entre nós e ao contrário de uma sociedade estruturada, não há concorrentes, nem utilizadores de objectos de consumo», concluiu o fundador do movimento Slow Food. Sempre no tom directo e incisivo que a caracteriza, Vandana Shiva afirmou que «a comida é o novo campo do fascismo» e denunciou o domínio exercido pelas três maiores multinacionais de sementes modificadas (os famosos OGM – Organismos Geneticamente Modificados, também conhecidos como “transgénicos”), para quem «os lucros se tornaram mais importantes que a vida humana. Na Índia, suicidaram-se nos últimos anos 1400 pequenos agricultores porque se viram proibidos de cultivar as suas sementes e não tinham dinheiro para comprar mais». A presidente da Comissão Internacional sobre o Futuro dos Alimentos e da Agricultura (instituição que acaba de publicar um Manifesto sobre o Futuro das Sementes) terminou a sessão com um grito de reivindicação a favor da liberdade para as sementes e para os camponeses, recusando o jugo das patentes e da privatização dos OGM. Descrito como a “aldeia global da comida”, o Salone del Gusto procura ser muito mais do que uma simples feira comercial de alimentos. O enfoque do certame assenta nos aspectos económicos, sociais e éticos da produção, distribuição e consumo alimentar, constituindo-se como o palco do intercâmbio cultural entre agricultores, consumidores, cozinheiros e gastrónomos. A divulgação desta extraordinária herança cultural junto do grande público (mais de 150 mil visitantes, em N Panorâmica do mercado, no centro do pavilhão do Terra Madre 2006) contribui para aumentar a resistência à standardização imposta pelo mercado global, que penaliza as pequenas produções de qualidade. Carlo Petrini congratulou-se com o facto da situação de há dez anos se ter invertido: «hoje, 75% dos expositores são produtores e só 25% são comerciantes». Em finais de 2005, o jornalista italiano publicou o livro “Buono, Pulito e Giusto: Principi di Nuova Gastronomia”, que serviu de mote para a organização da feira em 2006: «boa, limpa e justa, são três adjectivos que descrevem de uma forma simples e objectiva, as características da alimentação do eco-gastrónomo – afirma Petrini – comer é um acto agrícola e a escolha de alimentos de boa qualidade, produzidos no respeito pelo meio ambiente e pelas tradições locais, ajuda a proteger a biodiversidade e uma agricultura justa e sustentável. Podemos ser instrumentos de mudança». Em contraste com os gulosos do passado, os novos consumidores têm de estar conscientes da forma como podem afectar, pelas suas escolhas, o mercado e a produção alimentar. Comer é, também, um acto de responsabilidade social. Citando Brillat-Savarin, Carlo Petrini observa que «a gastronomia é uma ciência multidisciplinar e complexa que envolve mais do que o prazer individual. Tem igualmente repercussões na agricultura e nas políticas económicas, sociais e ambientais. A alimentação de qualidade tem de agradar aos sentidos e ser produzida sem afectar a natureza e no respeito pelos direitos dos trabalhadores». I Alexandre Coutinho [texto e fotos] Dezembro 2006 TempoLivre 33 ÓPERAS PORTUGUESAS NO TEATRO DA TRINDADE (VI) Rosas de todo o ano» « de Rui Coelho A Companhia Portuguesa de Ópera do Teatro da Trindade, na sua temporada popular de 1973, apresentou no mês de Julho, seis récitas da ópera em um acto “Rosas de Todo o Ano”, música do maestro Rui Coelho sobre libreto de Júlio Dantas, em programa que se completou com a famosa “Cavalleria Rusticana”, de Pietro Mascagni, também um acto único, mas dividido em dois quadros. Os espectáculos registaram a presença e o aplauso de mais de 6000 espectadores. OS RESTANTES TÍTULOS DESTA BRILHANTE temporada foram “Il Matrimónio Secreto”, de Cimarosa, “La Sonnâmbula”, de Bellini, “Werther” e “Don Quixote”, ambas de Massenet, e a opereta “A Viúva Alegre”, de Franz Lehar, também seis récitas de cada uma. A comédia sentimental em um acto e dois personagens “Rosas de Todo o Ano”, de Júlio Dantas (Lagos 1876 – Lisboa 1962), foi escrita por solicitação do Conservatório Nacional para a prova de exame e concurso a prémio de Maria Matos e Dalila Motili que a representaram pela primeira vez no Salão daquela escola no dia 21 de Outubro de 1907: Maria Matos ascendeu na sua carreira às mais altas glórias do teatro e do cinema, enquanto Dalila Motili não terá seguido a profissão teatral. Mas a primeira apresentação pública verificou-se no Teatro D. Amélia (hoje Municipal de São Luis) a 18 de Novembro de 1907, interpretada por Lucília Simões no papel de Suzana e Maria Falcão em Soror Inês; depois, percorreu praticamente todos os palcos portugueses, profissionais e amadores; representou-se também em Londres no Court Theatre (1912), em Barcelona no Poliorama (1913), em Roma no Argentine (1913) e em muitas outras cidades, nomeadamente brasileiras, conhecendo-se traduções publicadas em espanhol, catalão, inglês, italiano e francês. Mas os maiores êxitos teatrais do escritor serão certa34 TempoLivre Dezembro 2006 mente A Severa, 1901 – hoje divulgada sobretudo pela versão filmica e pela música de Frederico de Freitas – e “A Ceia dos Cardeais”, de 1902. Na realidade, não haverá no País uma única associação cultural, clube recreativo ou dramático, companhia profissional ou grupo de amadores que não tenha representado a famosíssima refeição dos três prelados! “A Ceia dos Cardeais” foi convertida em ópera pelo maestro Luis Filgueiras, cantada duas vezes no Teatro São Luis, em Maio de 1926, depois injustamente esquecida até aos dias de hoje. Júlio Dantas forneceu a Óscar da Silva o libreto da ópera “Dona Mécia”, estreada no Coliseu dos Recreios, em 1901, cantada no Porto e Braga em 1916, no São Carlos em 1971: foram então três récitas encerrando a comemoração do Centenário do Nascimento do Compositor, com Zuleika Saque, Armando Guerreiro, Luís França e Álvaro Malta nos principais papeis, que tive a honra e o gosto de dirigir a convite do então Director do Teatro, João de Freitas Branco. Voltando às “Rosas de Todo o Ano...”, é curioso verificar que, antes de Rui Coelho, outro ilustre compositor já a tinha musicado: Augusto Machado, revelada no Teatro de São Luis, em Junho de 1920, e, posteriormente, no São Carlos. A ópera de Rui Coelho, que se cantou, em 1973, no Teatro da Trindade, tivera estreia no São Carlos em 1925, por Fernanda Côrte-Real e Bela Dyson Gomes; é repos- ta em mais cinco temporadas do nosso teatro lírico e cantada em muitos outros palcos do País. Com a partitura revista em 1946, os espectáculos da Companhia Portuguesa de Ópera do Teatro da Trindade foram interpretados, com o maior sucesso de público, por Elizette Bayan (Suzana) e Maria Ramos (Soror Inês), direcção musical alternadamente do Autor e do maestro brasileiro David Machado, encenação de António Manuel Couto Viana, cenário de José Manuel, colaboração da Orquestra de Ópera organizada conjuntamente pela FNAT e pela Câmara Municipal de Lisboa. Rui Coelho (Alcácer do Sal 1892 – Lisboa 1986) estudou no Conservatório Nacional, onde foi brilhante aluno de Alexandre Rey-Colaço; na Alemanha trabalhou sob orientação de Max Reger, Humperdink e Schönberg, de Paul Vidal em Paris. É sem duvida o compositor português do século XX que mais se dedicou ao teatro lírico. Entre as suas numerosas obras – sinfonias, poemas sinfónicos, concertos, oratórias, bailados, música de câmara, canções, etc. – figuram 18 óperas, na sua maioria estreadas no São Carlos e cantadas em muitos outros palcos e cidades, até em Espanha e em França: a ópera “Belkiss”, sobre o libreto de Eugénio de Castro, foi premiada em 1924 no Concurso Internacional de Composição de Madrid. Rui Coelho preocupou-se em conseguir uma linguagem lírica inserida no percurso estético histórico-cul- tural português, pela temática dos argumentos e pela escolha de grandes escritores para libretistas das óperas, como Afonso Lopes Vieira, Teófilo Braga, Alfredo Cortez, Correia de Oliveira, António Patrício, Eugénio de Castro, Silva Tavares, entre outros. É também autor de cinco óperas vicentinas e, com a mesma intenção, fundador em 1934 do movimento Acção Nacional de Ópera. Como vimos em artigo anterior, a sua ópera em três actos “Inês Pereira”, sobre o Auto de Gil Vicente do mesmo nome, adaptado a libreto por Gino Saviotti, obteve grande êxito na Temporada Popular de Ópera do Teatro da Trindade de 1966. Compositor ultimamente muito esquecido, a sua importante presença na programação musical novecentista de todo o País – e mesmo com sucessos internacionais – impõe a urgente revalidação das suas óperas e outras composições, por critérios objectivos puramente musicais e culturais, tal como o Teatro de São Carlos têm ultimamente realizado com tanto êxito, ressuscitando óperas de Augusto Machado pela mão certeira e competente do maestro João Paulo Santos. A pequena ópera “Rosas de Todo o Ano” é, certamente, de imediato sucesso, quer pela música quer pelo libreto - a avaliar pelo caloroso acolhimento registado nas suas últimas apresentações na Temporada Popular do Trindade, há já trinta e três anos! I Maestro Manuel Ivo Cruz Dezembro 2006 TempoLivre 35 PAIXÕES MADALENA VIANA DITAM AS ESTATÍSTICAS DOS estudos internacionais que oito em cada dez pessoas estão insatisfeitas no seu trabalho. Madalena Viana tem a sorte de pertencer à minoria. Com um profundo fascínio pela água, a natureza e os barcos, esta empreendedora conseguiu arranjar forma de aliar os seus maiores prazeres a uma actividade lucrativa ligada ao turismo fluvial. O gosto pela navegação é tal que tirou mesmo a carta que lhe permite manobrar a embarcação que transporta os turistas nos passeios pelo rio, na zona do Ribatejo.. A paixão pelos barcos começou cedo. «Era ainda uma miúda, teria uns sete, oito anos e já sentia o apelo do mar, da água. Os meus irmãos, também eles ainda pequenos, começaram a aprender vela na Associação Naval de Lisboa. Eu também tinha o mesmo desejo, mas, naquela altura, as meninas não se podiam inscrever, o que me deixou muito desolada», conta. Mas não por muito tempo. Aos 10 anos, e já em Algés, a candidata a marinheira começa finalmente a concretizar o seu sonho de aprender a velejar. Depois de aperfeiçoar a técnica durante uma década, resolve com- O apelo 36 TempoLivre Dezembro 2006 prar o seu primeiro barco. «Lembrome tão bem… Era uma pequena embarcação com apenas 5,20 metros, mas permitia-me praticar um desporto que eu adorava: o ski aquático. Além disso, dava-me a oportunidade de me afastar da costa e mergulhar em zonas mais profundas, outra das minhas paixões», recorda Madalena, que tem também a carta de mergulhadora. Agora navega mais do que mergulha, a bordo de uma «enviada», espécie de traineira que reconverteu em barco turístico com capacidade para 30 pessoas. Os passeios fluviais no Tejo, entre Vila Franca de Xira e Valada do Tejo, permitem desfrutar não só as paisagens naturais do local, mas também as antigas tradições das gentes avieiras e das suas casas construídas sobre estacas nas margens do rio. «Eu viajei um pouco por todo o mundo nos anos que se seguiram ao final do meu curso de turismo. Quando me casei, já estava um pouco cansada de tanto viajar mas sentia ainda a necessidade de comunicar com as pessoas e de me manter ligada à actividade turística. Por isso, quando fixei residência na Azambuja e comecei a descobrir recantos lindíssimos e pouco conhecidos, a menos de 45 minutos de Lisboa, nem queria acreditar», conta a empreendedora. Estava lançada a ideia para criar uma empresa, a Ollemturismo, para dar a conhecer a beleza da região. Actualmente, a empresária organiza dois cruzeiros em rotas distintas não só para turistas e grupos de amigos, mas também para programas anti- stresse para trabalhadores de empresas. Ao leme da embarcação está quase sempre Madalena Viana. Na «Rota dos Avieiros, parte-se logo pela manhã do cais da Valada do Ribatejo e desliza-se suavemente pelas margens do rio, de onde se pode apreciar a natureza local. Na hora do almoço, a interrupção é na Palhota, uma típica aldeia de pescadores avieiros. Depois, o momento da digestão e descontracção é no «mouchão, uma ilha com um agradável areal e um arvoredo frondoso, com alguns cavalos à solta», pormenoriza. Na chamada «Rota do Tejo» entra a parceria com a Casa Cadaval onde é feita a paragem do dia, não só para o repasto mas também para uma prova de vinhos e uma visita à coudelaria. I Marisa Antunes [texto e fotos] da água Dezembro 2006 TempoLivre 37 DESPORTO INATEL O regresso do árbitro pródigo JORGE COROADO: A NOSTALGIA DO APITO Quando, ao segundo sábado de Novembro, as equipas do Fonte de Maio e da Associação Popular de Paço de Arcos entraram nas quatro linhas do Campo da Ribeira da Laje, junto a Oeiras, respirava-se uma inexplicável atmosfera de jogo grande - daqueles que se vêem na televisão, apesar das bancadas seminuas e da terra batida. AO CENTRO DO TERRENO, COM pontualidade e aprumo britânicos, Jorge Coroado e auxiliares esperavam os intervenientes, e a postura não deixava dúvidas: aquela manhã solarenga não era para brincadeiras, mas para jogar futebol. Foi em conversa com dois amigos de longa data – um dos quais Vítor Soromenho, do departamento de desporto do Inatel - que, por brincadeira, Jorge Coroado disse ainda ser “capaz de acabar a arbitrar no Inatel”: “Eles pensavam que eu dizia por dizer, mas sou um homem de palavra”, afirma Jorge com seriedade característica, confirmado o acordo com a instituição, pela qual irá apitar aos domingos. Porque o bom filho à casa torna, o árbitro internacional português regressou “com grande satisfação, para matar o bichinho”. “Se pudesse, arbitrava de manhã à noite”, desabafa, para recordar com a Tempo Livre, já nos balneários, depois de arbitrar um primeiro jogo e auxiliar um segundo, aquele outro sábado de manhã de há quase 30 anos: “Tinha tirado o curso de árbitro na Associação de Futebol de Lisboa (AFL) e, quando estava no Estádio Nacional a treinar, foi necessário um árbitro para apitar um jogo do Inatel. Fui desafiado e acabei por ficar.” A AFL pagava pouco e com 38 TempoLivre Dezembro 2006 muitos meses de atraso... “Os árbitros arbitravam para o Inatel, ao sábado, para não terem de investir dinheiro da sua algibeira nas deslocações da AFL. Além disso, o Inatel pagava na hora e, em muitas circunstâncias, melhor do que a própria Associação”, lembra o bancário, agora comentador desportivo em Imprensa, rádio e televisão. O miúdo Coroado, ainda a estudar e trabalhar, aproveitou para juntar uns tostões e ganhar experiência. Em 1982, por decisão da Federação Portuguesa de Futebol, foi forçado a afastar-se da arbitragem no Inatel, mas sublinha nunca ter perdido o contacto com a instituição, uma vez que é “sócio e frequentador desde muito novo”. Três vezes por semana, antes de dar entrada no banco, levanta-se às sete horas da manhã e sai para fazer exercício físico. Se não se sentisse em boa condição, não voltava ao activo: “Há três anos, quando parei, engordei muito. Não era capaz de vestir uma das camisolas que utilizei hoje. Arrastar-me e andar a passear o apito no campo não é para mim.” Hoje, o mesmo árbitro que apitou importantes partidas internacionais e que, ao longo dos últimos 11 anos de carreira, ostentou, até 2001, as insíg- nias da FIFA, não se sente “menosprezado nem descredibilizado” por arbitrar estes jogos, até porque, “inserido nesta competição e estrutura organizativa, o sabor é distinto de arbitrar solteiros e casados”: “Nunca me julguei uma estrela. Sou mais um a tentar que a competição decorra nos parâmetros exigíveis do fair play. Poderei ter relevância em termos de opinião pública, e os jogadores podem tributar-me um reconhecimento diferente, também fruto de uma carreira de 30 anos...” Na verdade, no decorrer do primeiro embate da manhã, após uma entrada dura e algumas palavras ríspidas, bastou um olhar fulminante de Coroado para sanar totalmente a contenda que se adivinhava. Desporto popular Dezenas de milhar de atletas/parti- “saudável” competição, que apesar cipantes, de todas as idades e de ser amador, reúne e deixa espaço sexos, integram os campeonatos e à presença de profissionais. Jorge torneios que o Inatel, desenvolve, Coroado é o exemplo de um árbitro, por época, um pouco por todo o país, que entre outros juízes profissionais com os CCDs (Centros de Cultura e vestem a camisola pelo Inatel, nas Desporto) e que culminam em par- diferentes modalidades desportivas ticipações internacionais no âmbito - Andebol, Basquetebol, Futebol, do Csit (Confederação Desportiva Futsal, Voleibol, Voleibol de Praia de Internacional do Trabalho). Desse Atletismo, Damas, Natação, Pesca universo, cerca de 10 mil atletas par- de Água Doce e de Mar, Ténis de ticipam, por época, nos mais de três Mesa, Tiro e Xadrez - que regular- mil jogos de Futebol que acontecem mente são levadas a cabo pelo a nível nacional. Um desporto de Instituto. Dado o respeito de que usufrui, não houve quem lhe lançasse o mais pequeno impropério das bancadas, mesmo não estando a mãe entre a assistência... Recuando a outros tempos, o árbitro relembra o dia em que, no Estádio de Alvalade, num dos primeiros jogos grandes que arbitrou, a mãe assistiu ao vivo, pela primeira e última vez, a um jogo ajuizado pelo filho: “Houve alguém que entendeu chamar-me um daqueles nomes que visam a família. A minha mãe reagiu intempestivamente. Aquilo deu uma caldeirada muito grande porque o fulano sofreu um vexame terrível. Apesar da idade avançada, a minha mãe não se eximia de enfrentar fisicamente ninguém, e ele, envergonhado, abandonou as bancadas do estádio.” Finda a nostalgia do apito que viveu durante os três anos que se seguiram ao abandono da arbitragem, revela que as lágrimas lhe chegavam aos olhos quando não podia fazer mais do que ver futebol. O presente proporciona-lhe um regresso não apenas à arbitragem, mas a um projecto no qual é um dos principais actores pela credibilização da arbitragem do futebol do Inatel. “Se entenderem que sou útil, é evidente que se poderão fazer coisas interessantes. Não se pode entender a arbitragem como um mal necessário. Os responsáveis compreenderam que, sendo o Inatel olhado como o parente pobre do futebol, pode e deve fazer-se uma tentativa de melhoria dessa imagem.” Recordando o livro biográfico “O último cartão”, que o árbitro de Carnaxide escreveu com o jornalista Jorge Baptista, é caso para dizer “nunca digas nunca”. Afinal, Coroado tem ainda muitos cartões por mostrar... E fê-lo, com efeito imediato, logo naquele segundo sábado de Novembro. I Hugo Simões [texto] José Frade [fotos] Dezembro 2006 TempoLivre 39 TERRA NOSSA LUSO E BUÇACO Água e floresta A Mata Nacional do Buçaco é uma relíquia antiga. Quando em 1628 o bispo de Coimbra entregou o lugar aos frades Carmelitas Descalços o bosque já existia. Conhecida, portanto, pela sua antiguidade, mas também pela exuberância da sua flora e pela atmosfera incomparável que cria, a Mata contém a frescura do Atlântico, a pujança dos trópicos e a robustez do Mediterrâneo. TERRA NOSSA SÃO CENTENAS DE ESPÉCIES VINDAS DOS QUATRO cantos do mundo. Uma floresta ecuménica onde convivem araucárias e eucaliptos, sobreiros e carvalhos, medronheiros e sequóias. E há os cedros, árvore querida dos frades que os disseminaram por toda a floresta. Alguns, pela grandeza do porte, vêm assinalados no mapa editado pela Junta de Turismo de Luso Buçaco, como aquele que a tradição diz ter sido plantado em 1644, e que com tantos anos em cima do tronco precisa do apoio de cabos de aço para não tombar encosta abaixo. Conheci o Buçaco há muito tempo; redescobri-o recentemente. Tanto quanto a minha memória foi capaz de alcançar nada de substancial tinha mudado. A Mata guardava toda a sua beleza, o Palace Hotel permanecia sumptuoso e o Museu Militar mantinha aquele ar antigo, parado no tempo, de coisa em que não se mexe há muito. Porque quando se diz Buçaco está-se a incluir também o Palace Hotel e batalha ali travada em 1810. A Mata, em qualquer circunstância, merece uma adjectivação generosa, e não faltam testemunhos do deslumbramento que desde sempre provocou. Martin Hume disse ser o Buçaco, “Uma luxuriante floresta como aquelas que já vi no Amazonas e no Brasil, mas nunca na Europa”. Já Lichnowsky, mais inspirado, escreveu: “Acredite-se que se está transportado aos GUIA Localização: dispondo de 69 quartos, O Buçaco / Luso situa-se todos equipados com no centro litoral de aquecimento, telefone e Portugal, na região da televisão. Contacto: Rua Bairrada, a cerca de 25 Dr. Costa Simões – 3050 - quilómetros de Coimbra e 226 Luso. Tel: 231 930 358 200 quilómetros de Lisboa. Palace Hotel Buçaco, Mata do Buçaco, Tel: 231 937 970 Informações: Grande Hotel de Luso, Rua Junta de Turismo de Luso- Dr. Cid Oliveira, 86, 3050 - Buçaco, Rua Emídio 210 Luso, Tel: 231 937 937 Navarro, 1363 - 050 Luso Tel : 231 939 007; www. Restaurantes: jtluso-bussaco. pt O Cesteiro, Rua Dr. Lúcio antiquíssimos bosques do Oriente; - o certo é que a Mata do Buçaco não tem outra na Europa que se lhe possa comparar”. Em certos momentos, o centenário bosque adquire qualidades excepcionais, como nas manhãs de neblina, quando o sol aparece, provocando durante algum tempo um jogo de luz e penumbra surpreendente. Isso acontece com alguma frequência e também agora nesta manhã de Outono. Depois de ter passado a Porta das Ameias mergulho numa neblina vaporosa que é cortada por raios de luz que descem das copas das árvores e criam uma atmosfera inefável. O facto de a vegetação ser densa e o terreno acidentado cria a ilusão de estar dentro de uma floresta de grande dimensão, além disso a velha cerca monástica que a delimita em todo o seu perímetro acrescenta-lhe a característica de ilha. No caminho surge uma clareira, onde, como uma espécie de grande fantasia de pedra lavrada, assenta o Palace Hotel. Este é um edifício a que ninguém fica indiferente. Normalmente as opiniões tocam os extremos: ou se gosta ou se detesta. Estava-se no último quartel do século XIX quando o edifício foi construído para servir de residência de veraneio à família real. O arquitecto responsável por este gótico floreado ou neo-manuelino delirante, foi o italiano Luigi Manini que era cenógrafo do Teatro Nacional de São Carlos. Portanto não é desproporcionado pensar que a obra foi pensada como uma espécie de cenário, um décor para um espectáculo. Para além de Manini, um leque alargado de artistas deixou a sua impressão digital no Palace Hotel. Os melhores da época. Jorge Colaço na azulejaria, Costa Mota, tio, na escultura, Carlos Reis e António Ramalho na pintura. O Palace tornou-se hotel no final da primeira década do século XX, mas não deixou de ser “Palace”. Certamente que quem vê o edifício por fora terá toda a curiosidade em observar o seu interior. Para os não hóspedes resta a hipótese de passarem pelo bar, ou como fiz, experimentarem o restaurante. Embora esta não seja uma crónica gastronómica é justo dizer que foi uma experiência. O local é único, o serviço tem a classe das casas reputadas e a ementa é rigorosa e equilibrada; de bom gosto. O vinho, reserva exclusiva do restaurante, é excelente. Abranches, Luso, Tel: 231 A BATALHA DO BUÇACO Dormir: 939 360 O INATEL tem de um Varanda do Lago, Parque Centro de Férias no Luso do Lago do Luso, Luso, aberto todo o ano e Tel: 231 930 888 Uma visita como deve ser ao Buçaco inclui algo que tenha a ver com a batalha de 1810. Depois do almoço, encontrei a lápide, na frontaria da capela do antigo mosteiro, que recorda que o general Arthur Welleley, duque de Wellington, pernoitou no convento após o 42 TempoLivre Dezembro 2006 Em cima, Mata do Buçaco. Em baixo, fonte termal do Luso, Palace Hotel do Buçaco, monumento da batalha do Buçaco e Inatel Luso TERRA NOSSA Vista geral do Luso e Museu Militar do Buçaco combate contra o exército do general Massena. O acontecimento histórico tem um Museu Militar, que lhe é dedicado, logo depois da Porta da Rainha. É um museu pequeno onde, como é regra dos museus militares, a acção dos vencedores é destacada, enaltecida, quando não exagerada. Armas, cartas militares, retratos de oficiais, bandeiras de regimentos, uniformes, podem, com a ajuda da imaginação, levar o visitante até esse violento dia 27 de Setembro de 1810. A confrontação deu-se no flanco oriental do Buçaco, para lá da cerca da Mata. A poucas centenas de passos do Museu, no local onde a cavalaria anglo-lusa estacionou, foi erguido um obelisco comemorativo. O sítio é uma espécie de varanda aberta à grandeza panorâmica. O meu olhar desliza até ao horizonte, até às paredes do Caramulo, até à massa compacta da Estrela. Um lugar que em momento algum lembra a dura batalha que se desenrolou pelos montes e encostas em redor. ÁGUAS QUE CURAM Próximo do Buçaco, a meia encosta da serra, está a povoação termal do Luso. As virtudes medicinais da água do Luso apesar de já serem conhecidas antes só começaram a ser verdadeiramente aproveitadas no século XIX. A Acta da Instalação da Sociedade Para o Melhoramento dos Banhos do Luso tem data de 25 de Agosto de 1852 e contou com 18 accionistas. A iniciativa partiu de António Augusto da Costa Simões, Francisco António Diniz e Alexandre Assis Leão. Mas não se pode falar do Luso sem referir Emídio Navarro. Político e jornalista foi, enquanto ministro das 44 TempoLivre Dezembro 2006 Obras Públicas, responsável pela “… construção de duas escolas, um posto de correios, abertura de ruas e avenidas na vila”. Mas a afeição desta figura grada pelo Luso foi mais longe, construindo aí o seu chalet e convencendo outras figuras influentes do seu tempo a fazerem o mesmo. Foi portanto no virar do século XIX para o XX que o Luso adquiriu os traços distintivos que ainda hoje perduram, através desses edifícios então em moda entre os mais endinheirados, os chalets, e de obras emblemáticas como o Balneário Termal ou Club que depois se passou a chamar Grémio e depois ainda Casino, um local destinado à diversão dos frequentadores dos banhos e onde se realizavam bailes, havia teatro e salas de jogos. Um local com pormenores de requinte e decorado segundo o gosto da belle époque. O edifício continua de pé, inconfundível, hoje com uma sala servir de recatada biblioteca e um espaço amplo como sala de exposições. Outra silhueta inconfundível é o Grande Hotel do Luso, uma obra com a assinatura de Cassiano Branco, inaugurado em 1940. Depois dessa data pode-se dizer que nada mais se construiu com a mesma distinção. Se fosse Verão haveria gente por todo o lado e ruas cheias de carros, mas nestes dias assim restam os aquistas em tratamento e alguns turistas, poucos, que passam pela fonte de São João, onde a água termal corre em abundância, ou vão ao Posto de Turismo fornecer-se de mapas e folhetos. Talvez seja este o tempo certo para apreciar esta serra revestida de árvores raras e preciosas nascentes de águas minerais. I José Luís Jorge [texto e fotos] O TEMPO E O MUNDO | DUARTE IVO CRUZ Conceitos e políticas de Esquerda-Direita Exactamente no calendário de redacção deste artigo, ocorre a mudança de maioria no Congresso dos EUA. Nenhum observador tem duvidas quanto à principal motivação da escolha do eleitorado, e essa é, obviamente, o desgaste da guerra do Iraque, mas não só. A situação passa também por opções de política económica e talvez por um nítido cansaço de uma retórica belicista e neo-liberal que pelos vistos já não convence uma sociedade norte-americana atravessada, a nível das pessoas e das famílias, por problemas não despiciendos. Acresce a arrogância com que se colocou, perante um eleitorado profundamente convicto do Estado de Direito e das garantias judiciais, situações aberrantes como o regime jurídico dos presos de Guantanamo, por exemplo, mas não só: o terrorismo tem de ser combatido, mas passados 4 ou 5 anos, quem está preso tem de ser julgado e condenado ou absolvido. E mais: num país historicamente de emigrantes e hoje maioritariamente hispânicos, anunciar um gigantesco “muro de Berlim” entre os EUA e o México, com argumentos securitários, que fazem lembrar os argumentos da velha Republica Democrática Alemã quanto ao verdadeiro muro de Berlim dos anos 60-80 também não deve ter sido simpático ao eleitorado... Mas significa isto que os EUA viraram ou votaram “à esquerda”? Nada menos exacto do que considerar o Partido Democrático “esquerdista”... Então Clinton foi um Presidente de 46 TempoLivre Dezembro 2006 esquerda? Ressalve-se, bem pelo contrário, a exemplar salvaguarda das instituições democráticas americanas e a reacção tranquila e institucional do respectivo Governo, que não veio com desculpas nem impugnou as eleições. É então altura de ponderar um pouco a dicotomia esquerda - direita na América Latina, à luz, ainda por cima, de mudanças eleitorais sucessivas, processadas na estabilidade de regimes democráticos, com a excepção do México, onde o candidato da esquerda populista tradicional perdeu e dificilmente se conforma. Mas para lá disso, não se vai considerar “de esquerda”, no sentido clássico das tradições politicas latino - americanas, o estável e transparente socialismo partidário no poder em sucessivos mandatos no Chile. Como também é no mínimo expectante esta “reencarnação” do Presidente eleito no Perú,Alan Garcia, que se diz “arrependido” do populismo indigenista do seu remoto governo dos anos 70 – outra época, outra mentalidade. Venceu um militar de esquerda populista. E também não é de esquerda proletária, como bem sabemos, o governo de Lula. E assim mais ou menos, sucessivamente! Com óbvias excepções atípicas. O Presidente da Venezuela interfere ostensiva e assumidamente em actos eleitorais da região “Ganhou” as eleições na Bolívia, “perdeu” no Peru, veremos como será no Equador, sendo certo que na Bolívia as coisas correm mal. Agora, o governo de Caracas proibiu o Pai Natal em edifícios públicos... Mas o prémio para a maior recuperação irá para a Nicarágua, onde o ex - Presidente sandinista Daniel Ortega, afastado nos anos 80 num exemplar acto eleitoral, recupera a Presidência também num indiscutido acto eleitoral. Onde não há eleições, mas houve uma sucessão dinástica, é em Cuba! I VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR Um soldadinho Esta nova viagem ao passado histórico tem como inspiração directa um facto bem recente: há muito pouco tempo, alguns jornais, que naquele momento não tinham desgraças suficientemente sangrentas para noticiar, resolveram dar certo relevo a uma «sondagem» segundo a qual uma eventual anexação (ou integração, ou dê-selhe o nome que se quiser) de Portugal pela Espanha agradaria a mais de metade dos espanhóis e a cerca de um quarto dos portugueses. Não vou comentar estes dados, porque já o fiz em outra circunstância. E não vou, certamente, gritar contra os espanhóis integracionistas, que, enfim, têm o direito à sua opinião. Prefiro fazer, convosco, mais uma destas nossas viagens pela História, tendo como referência temporal o ano de 1641, como local as proximidades de Olivença e como protagonista, não um grande fidalgo nem sequer um grande burguês, mas antes um homem vulgaríssimo, hoje praticamente esquecido: um soldadito nascido na vila de Moura, chamado, muito simplesmente, Roque Antunes. Estava-se, como a data nos indica, no início da Guerra da Restauração. E este Roque Antunes, deu-lhe na bolha, imagine-se, oferecer-se como voluntário ao exército português. Conta ainda a história que, a 9 de Junho de 1641, ele participou numa avançada contra Badajoz, sob o comando de D. Francisco de Sousa, o mesmo que recebera a rendição da guarnição espanhola do forte de São Julião da Barra. Ora, a dada altura, perto de Olivença, deu-se um recontro com a cavalaria inimiga e Roque Antunes, com mais nove camaradas de armas, viu-se cercado. Há duas versões para o aconteceu a seguir: segundo uma, o homem de Moura foi feito prisioneiro; segundo outra, não se quis render e continuou a lutar. Mas, para o caso, pouco importa; o que conta é que os ca- valeiros espanhóis lhe gritaram que se rendesse e que, para o mostrar, bradasse «viva el-rei D. Filipe». Roque Antunes recusou-se terminantemente. Ao brado «Quem vive?», respondeu sempre: «Deus e el-rei D. João, meu senhor». E, perante a insistência dos que o cercavam, acrescentou que «não queria vida» se o preço fosse reconhecer Filipe IV. Por isso, foi morto. Narra ainda a história que daquele aperto conseguiram escapar três soldados portugueses, que lograram chegar a Elvas e aí contaram o sucedido a Matias de Albuquerque, então governador da armas do Alentejo, o qual deu ordens para o corpo de Roque Antunes fosse trazido para a cidade e sepultado com todas as honras. Bom. A história está contada. E, perguntarão os leitores, por que a razão a coloquei eu ao lado da referência à notícia de uma sondagem segundo a qual (note-se que ignoro, de todo, a fiabilidade desta «apalpação»…) um quarto dos portugueses não se importariam de ver Portugal integrado na Espanha? Oh, por nada, por nada, foi só uma lembrança… Ou talvez fosse a ideia de que este homem que se deixou matar porque teimava em gritar «Viva D. João IV» não era um nobre nem um burguês mas sim, ao que tudo indica, um simples homem do povo. Hoje, como sabemos, os nobres, enquanto tais, não têm expressão política. Em compensação, há alguns grandes burgueses que são, de facto, um problema. I Dezembro 2006 TempoLivre 47 OlhoVivo Internetologia” “ O desenvolvimento bombástico e exponencial da Internet – que, em apenas 10 anos viu nascer 14 mil milhões de páginas – tem deixado o mundo tão pasmado como interessado. Agora, o Massachusetts Institute of Technology (MIT, nos EUA) e a University of Southampton (Inglaterra) decidiram parar de pasmar e passar à acção, desenvolvendo uma ciência da Web. Wendy Hall, uma das cientistas que encabeçam o projecto (liderado por Tim Berners-Lee, o inventor da ‘Net’) afirma que a questão a que tentam responder é “O que é esta coisa incrível que cresce?”. Algumas pessoas comparam a Web a um ser vivo mas, segundo Hall, o seu desenvolvimento é diferente, já que depende dos desejos das pessoas, pelo que o próprio padrão de crescimento está em constante alteração. Criar modelos da estrutura da WWW, perceber que princípios activam que tipo de crescimento e que tipo de relação existe entre as convenções sociais e as relações online são apenas alguns dos assuntos a abordar pela Web Science Research Initiative. 48 TempoLivre Dezembro 2006 ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Marta Martins [ textos ] André Letria [ ilustrações ] Seca-piolhos Piolhos e lêndeas são um problema secular que parece difícil de exterminar, especialmente entre as crianças em escolas. Mas, segundo um artigo publicado na revista especializada Pediatrics, um aparelho parece ter a resposta para acabar rapidamente com a praga. Chama-se LouseBuster e funciona de forma semelhante a um vulgar secador de cabelo, com a particularidade de, literalmente, secar os bichinhos e os seus ovos, de forma a que deixem de se reproduzir. Mas atenção: os fabricantes avisam que o resultado não advém do aquecimento e, portanto, não se deve tentar fazê-lo com o secador, sob o risco de se queimarem cabecinhas para nada! Ratos provadores Os atletas que irão participar nos Jogos Olímpicos (JO) de 2008, em Pequim, podem ficar desde já descansados em relação ao que vão comer. Segundo noticia a BBC, toda a comida preparada nas instalações dos JOs será dada a provar, no dia anterior, a uma ‘equipa’ de ratos; assim, se houver alguma anomalia nos produtos, será detectada com antecedência e retirada do menu. Isto porque os ratos apresentam reacções alérgicas nas primeiras 17 horas, o que é mais rápido do que as análises em laboratório. A precaução especial deve-se ao perigo real de intoxicação alimentar que existe normalmente na China, devido às más condições gerais de higiene na distribuição e preparação de produtos alimentares, que a organização pretende evitar a todo o custo. Contra-natura – ou talvez não Contrariando a teoria clássica da evolução, cientistas da Queens University (Canadá) descobriram que afinal, os melhores parceiros em termos de procriação podem não ser os que parecem. Através de um estudo feito com moscas da fruta, Adam Chippindale e a sua equipa perceberam que os indivíduos que apresentam melhores sinais de que serão bons reprodutores (como penas majestosas ou vozes potentes, por exemplo) não vêm realmente a sê-lo, pelo menos em relação aos descendentes do sexo oposto. Ou seja, as filhas de machos muito “vistosos” eram menos aptas do que as filhas dos restantes machos, o mesmo acontecendo com os filhos das “melhores” mães. Estes resultados sugerem que os genes “bons” pode sê-lo apenas para os filhos do mesmo sexo dos progenitores que os têm, mas terão o efeito contrário na descendência do sexo oposto – isto poderia ajudar a explicar a diversidade genética que se encontra hoje em dia. Estranho mas verdadeiro, o sistema Olfoto, desenvolvido por uma equipa da Universidade de Glasgow (Escócia), permite aos utilizadores reconhecerem e procurarem imagens (guardadas em computador) através do cheiro. Apesar de parecer simples – ao catalogar as imagens atribuise-lhes determinados cheiros, que são activados mais tarde, e libertados através de pequenos “cubos de cheiro” –, o processo é complexo e ainda se encontra pouco desenvolvido, mas os pesquisadores estão muito optimistas quanto às possíveis aplicações. Nas suas experiências usaram cheiros de relva cortada, flores, celeiro e até pés suados, e perceberam que com algum treino as pessoas podem usar o olfacto muito eficazmente, embora poucas vezes o façam de forma tão consciente. Um dos aspectos que suporta esta pesquisa é o facto de a memória olfactiva ser tão poderosa que nos permite identificar lugares ou situações com anos de intervalo; por outro lado, não será fácil criar uma panóplia de cheiros suficientemente alargada para que milhares de pessoas a possam usar como ID das suas memória. Mas eles vão tentar, e quem sabe que tipo de tecnologia poderão desenvolver pelo caminho… ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ PC-cheiros Software anti-fogo Mesmo aqui ao lado, em Espanha, está pronto a ser usado um inovador software que irá ajudar os bombeiros no combate aos fogos. O SIADEX foi desenvolvido pela Universidade de Granada, com base em tecnologia de inteligência artificial e irá planear detalhadamente a acção dos bombeiros no terreno, em tempo real. Tendo em conta as características do terreno, os meios disponíveis e a meteorologia, o software traça um plano de acção pormenorizado para cada situação específica, com duas ou três opções de execução possíveis, com diferentes tipos de prioridades (o mais barato, o mais fácil e o mais rápido, por exemplo). Depois da decisão tomada e do início das operações, o sistema continua a receber informações dos envolvidos sobre a evolução da situação, de forma a sugerir possíveis alterações ao plano inicial, tentado assegurar o melhor desempenho possível perante as circunstâncias. Segundo os especialistas, uma das grandes vantagens do programa, além do dinamismo e interactividade, é o facto de estar testado e pronto a operar já em 2007, e não daqui a 20 anos. Ombros amigos > Segundo Maria Nordin, da Umeå University (Suécia), ter poucos amigos aumenta o risco de ter problemas de sono e, consequentemente, o risco de outros tipos de doenças. Esta conclusão simplifica as várias nuances da questão, que Nordin esclarece na sua tese. Em resumo, o apoio de uma boa rede de amizades pode compensar o stress do dia a dia, especialmente no caso de se ter uma abordagem “passiva” face aos conflitos – isto é, perante um possível conflito no trabalho, a pessoa opta por não responder e retirar-se. Neste caso, a ausência de suporte emocional quadruplica, nas mulheres, os riscos de distúrbios de sono e, por essa via, o risco de, por exemplo, ataques cardíacos. O mesmo efeito não se verifica se a estratégia de gestão de conflitos for a da discussão aberta. Super-cientistas A ideia parece ter pegado e, como já acontece com outras disciplinas noutros países, o Ministério da Educação Irlandês acaba de apresentar uma série de desenhos animados em que os super-heróis são especialistas em ciências. Em The Resistors (www.theresistors.com), as quatro personagens principais, Luc, Sonia, Amber e Dig são jovens peritos nas quarto vertentes do curriculum de ciência da educação primária no país (respectivamente a luz, o som, a electricidade e as tecnologias da informação), e devem libertar a sociedade dos hackers que tomaram conta dela, fazendo uso dos seus conhecimentos científicos, claro. As personagens femininas foram especialmente concebidas com fortes personalidades, de forma a encorajar as raparigas a considerar a ciência como uma opção de educação superior. Aliás, segundo o director do projecto, Donal O’Mahony, se um jovem em cada sala de aulas do secundário de hoje seguir os seus estudos nesta área, a Irlanda já garante a continuidade dos sectores de alta tecnologia e sociedade do conhecimento no futuro. Dezembro 2006 TempoLivre 49 BOAVIDA CONSUMO LIVRO ABERTO ARTES Mesmo que não tenha pais ricos, nem tenha ganho a lotaria, não acredite em tudo o que a publicidade lhe diz. Não há spreads grátis! Destaque maior para “Ontem Não te Vi em Babilónia” ( Pub.D. Quixote), 21º título da obra de António Lobo Antunes. Os surrealistas Cesariny, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco regressam, meio século depois, com trabalhos colectivos. Página 52 Página 54 MÚSICAS NO PALCO Sérgio Godinho regressa ao mercado discográfico com o CD “Ligação Directa”. Dez temas originais do veterano trovador. “A Casa da Lenha”, co-produção do TN com o Teatro da Comuna, assinala, na Sala Garrett, o centenário do nascimento de Lopes Graça. Página 58 Página 56 CINEMA EM CASA Uma selecção dos filmes que tiveram, este ano, uma enorme adesão do público, caso, entre outros, do tão badalado “O Código da Vinci”. Página 62 Página 60 FILMES MEMÓRIA À MESA SAÚDE Memória antiga e actual de Paris em três filmes em exibição simultânea: «Em Paris», «Paris, Je T’ Aime» e «Marie Antoinette». À medida que a ciência avança, aumenta a importância de uma alimentação rica em frutos, hortícolas e azeite sobre a nossa visão. Misturar certos medicamentos ou misturar estes com determinados alimentos pode ser perigoso para a saúde! Página 63 Página 65 Página 64 INFORMÁTICA AO VOLANTE PALAVRAS DA LEI Vai longe o tempo em que o som transmitido por computadores não tinha qualquer semelhança com o dos sistemas de alta-fidelidade Carlos Blanco fascinado pelo novo Mercedes CL: “síntese rara e fascinante de presença carismática e estética de design formal”. União de facto durante 14 anos, o homem abandona o Lar, a está mulher desempregada, filho problemático. Homem quer vender a casa…. Página 66 Página 67 Página 68 Dezembro 2006 TempoLivre 51 BOAVIDA C O N S U M O Mesmo que não tenha pais ricos, nem tenha ganho a lotaria, não acredite em tudo o que a publicidade lhe diz. É que não há spreads grátis! I Carlos Barbosa de Oliveira E eis que de repente, como fadas madrinhas respondendo aos pedidos dos consumidores, os bancos satisfizeram os seus desejos. Nas montras de algumas instituições bancárias, cartazes apelativos prometem um spread de 0% na concessão de crédito habitação. Os consumidores nem queriam acreditar em tanta generosidade - ainda por cima em tempo de “vacas magras” com os juros a aumentar – e correram para os bancos que respondiam ao seu apelo. Mais cedo ou mais tarde, se não tomaram alguns cuidados antes de assinarem o contrato, é provável que cheguem à conclusão de que caíram num logro ao engolir o isco do spread 0%. Porquê? Passo a explicar... Em primeiro lugar é preciso perceber que o spread é a margem adicionada pelos bancos às taxas de juro de referência. Por outras palavras, é a margem de lucro dos bancos, quando concedem o crédito. Assim sendo, é fácil perceber que não há spreads grátis, pois nenhum banco renuncia à sua margem de lucro quando empresta dinheiro. Então, perguntará o leitor, como é possível que os bancos façam essas campanhas? A explicação é simples. Os bancos entraram numa concorrência desenfreada pela conquista de clientes no crédito à habitação, principalmente a partir do momento em que os consumidores passaram a ter a possibilidade de transferir o crédito para instituições que lhes ofereçam condições mais vantajosas. Começa52 TempoLivre Dezembro 2006 ram por alargar os prazos dos empréstimos (que pode ir até aos 40 anos) e a idade para o concederem (não há muitos anos, era difícil um banco conceder crédito à habitação a consumidores com mais de 40 anos). O passo seguinte foi baixar os spread – que habitualmente rondava os dois por cento – para valores que se aproximaram do meio ponto percentual, e abrindo as portas à negociação directa com os clientes. Com as subidas das taxas de juro, os bancos foram reduzindo as suas margens e tornaram-se mais agressivos. Sabendo que uma das perguntas mais frequentes dos consumidores quando negociam um crédito, é o valor do spread, atiraram-lhes com o engodo dos 0%, fazendo-os acreditar que prescindiam da sua margem de lucro. A realidade, porém, é bem diferente. O spread aplica-se ao longo de toda a vida do empréstimo (que varia normalmente entre os 20 e os 40 anos), mas a taxa 0% só se aplica num período limitado (durante 1 a 3 anos). O que os bancos fazem, é reduzir a taxa nos primeiros anos e agravá-la nos anos seguintes, recuperando ao longo da vida do empréstimo a sua margem de lucro. Assim sendo, o importante quando negoceia com o seu banco, é saber qual o spread que o banco irá cobrar e fazer bem as contas. Chegará à conclusão de que mais vale pagar um spread reduzido (abaixo dos 0,5%) mas constante, desde o início do contrato, do que estar dois ou três anos com uma taxa de 0% e depois pagar um spread com valores acima de 0,5%. ARREDONDAMENTOS ABUSIVOS O mais provável é que o spread 0% tenha os dias contados. Na verdade, depois de a Associação de Consumidores e Utilizadores de Produtos Financeiros denunciar os arredondamentos abusivos das taxas de juro, o Governo veio a terreiro criar regras que terminam com o livre arbítrio, e obrigam todos os bancos a fazer arredondamentos iguais. Menos uma dor de cabeça para os consumidores, mais uma maratona criativa para os marketeers dos bancos. Objectivo: salvar o spread 0% e encontrar outra fórmula mágica para nos levar couro e cabelo pelo crédito, criando a ilusão de nos estarem a beneficiar. A legislação aprovada pelo Governo vem permitir aos consumidores conhecer, de forma mais clara, as fórmulas de cálculo das taxas de juro. Cabe agora aos bancos provar que a sua conduta será transparente. Para isso, deverão restituir aos consumidores, as quantias que lhes andaram a cobrar abusivamente. Só que a resposta a esta prova de fogo não está a ser a mais positiva, uma vez que os bancos se mostram renitentes a fazê-lo. Aguardemos os próximos episódios... André Letria FOI VOCÊ QUE PEDIU... UM SPREAD 0%? Por agora, vale a pena chamar a atenção dos leitores para algumas contas que deve fazer antes de assinar um contrato de crédito com uma instituição bancária. Existem duas regras de ouro: consultar vários bancos e ler o contrato atentamente antes de o assinar. Mas para fazer simulações com as propostas de cada um dos bancos, é necessário conhecer alguns elementos de referência. Comissões – Os bancos cobram diversas comissões durante todo o processo de concessão de crédito. Peça informações sobre os custos que terá que suportar. Preceitos legais- Antes da realização da escritura, existe uma série de preceitos que é obrigatório cumprir (registo provisório, imposto sobre transmissões, etc). Geralmente os bancos disponibilizam “ para nossa comodidade” um serviço de apoio ao cumprimento destas formalidades. Informe-se sobre o preço a pagar por essa “comodidade” que o banco lhe oferece. Amortização antecipada - No caso de pretender amortizar parcialmente a sua dívida, o banco cobra uma comissão. Dito por outras palavras, o banco penaliza-o pelo facto de pretender reduzir a sua dívida. Essa penalização ainda é maior, no caso de pretender liquidar a dívida na totalidade. Curiosamente, ao contrário do que acontece com o spread, a penalização pela amortização ou liquidação da dívida, tem vindo a agravarse nos últimos anos. Saiba os valores das penalizações praticadas por cada um dos bancos que contactou. TAEG – O importante, quando se contrai um crédito de longo prazo, é saber qual o valor da TAEG (Taxa Anual Efectiva). Uma vez que traduz todos os custos associados a um crédito (juros, seguros, e encargos a cobrar pelo banco) é o seu valor que permite ao consumidor saber quanto vai pagar no final do empréstimo. I Consultório DECO Crianças em Hotéis RECLAMAÇÃO > Durante umas curtas férias no Algarve, não consegui hospedar-me num determinado hotel porque tenho dois filhos de 2 e 6 anos. De acordo com a Direcção do Hotel, é política do mesmo não aceitarem famílias com crianças. Será esta prática legal? ENQUADRAMENTO JURÍDICO > Esta prática não só é ilegal como poderá ser igualmente considerada inconstitucional porque constitui um comportamento discriminatório. Assim, nos termos da Lei os estabelecimentos comerciais podem exercer o chamado Direito de Reserva de Admissão ou seja, podem estabelecer critérios de acesso e utilização do espaço comercial. Contudo, o citado Direito está condicionado a determinados requisitos legais. Desde logo, é condição essencial que os critérios de acesso e utilização do espaço comercial estejam devidamente publicitados (afixados) a fim dos Consumidores serem previamente informados dos mesmos. É igualmente fundamental que a fixação dos critérios em questão respeitem Direitos que à luz da Lei são considerados absolutamente fundamentais. Um desses Direitos (talvez o mais importante) é a dignidade da pessoa humana logo, o estabelecimento de critérios/regras de acesso aos estabelecimentos comerciais não pode atentar contra essa dignidade nomeadamente através de comportamentos discriminatórios. A Lei e a Constituição da República Portuguesa concedem em geral à Família e em particular às Crianças uma especial protecção que torna ainda mais condenável a existência de discriminações a este nível. Na situação apresentada, existe uma dupla discriminação ao impedir a hospedagem de crianças em determinados hotéis: discriminação da família e das próprias crianças. É portanto intolerável, do ponto vista Legal e Moral, a existência deste tipo de comportamentos por parte de agentes económicos, sendo necessária a intervenção das autoridades competentes no sentido de impedir que situações deste género subsistam. I BOAVIDA L I V R O A B E R T O LOBO ANTUNES, BORGES E OS MITOS “Ontem Não te Vi em Babilónia”( Pub.D. Quixote) é o título do 21º título da obra de António Lobo Antunes, seguramente uma das mais pujantes e inovadoras de toda a história da literatura portuguesa e, sem dúvida, uma das que mais prestigiam as letras portuguesas internacionalmente. I José Jorge Letria E stamos, como sempre, na presença de uma voz única das nossas, com um discurso que nos fascina e envolve e que patenteia também a marca forte da poesia, fonte à qual o escritor vai buscar o alento criador que torna os seus livros inesquecíveis. Um grande escritor que requer do leitor tempo e disponibilidade espiritual para que os seus romances possam ser fruídos como merecem. A não perder, agora e sempre. JORGE LUIS BORGES continua vivo, na obra e no mito, duas décadas após a sua morte em Genebra, longe da Buenos Aires que tanto amou e que ajudou a moldar o seu fabuloso imaginário de escritor. Dois livros com a chancela da Ambar- ”Com Borges”, de Alberto Manguel, “e “Borges e a Matemática”, de Guillermo Martinez-revelam aspectos menos conhecidos, mas todos eles fascinantes deste poeta e contista que, nunca tendo recebido o Nobel da Literatura, tem uma influência na vida literária mundial muito maior do que a maioria dos que foram com ele galardoados. Dois livros a não perder, pois, além de darem a conhecer os vários Borges que havia em Borges, proporcionam ao leitor um prazer assinalável. 54 TempoLivre Dezembro 2006 não só, seguramente não irão perder. Distinguido com o Prémio FNAC/ Teorema 2005, o romance “Francisca”, de César Magarreiro, nascido em 1964, oficial da Marinha e geógrafo, conta a vida de uma escrava negra no tempo do terramoto de 1755 e o modo como, cansada de humilhações e sofrimentos, recorre a feitiços para garantir uma vida melhor para si e para os seus filhos. Ainda com a chancela da Teorema está no mercado mais um volume da série Mafalda, de Quino, com muitos e fiéis leitores em todo o mundo. “CASA DAS SEMENTES – Poesia A INAUGURAR a colecção Mitos, de excelente apresentação gráfica, a Teorema lançou dois títulos imprescindíveis: “Uma Pequena História do Mito”, de Karen Armstrong, obra fundamental de uma grande especialista inglesa, e “A Odisseia de Penélope”, da consagrada Margaret Atwood, que dá voz à mulher de Ulisses e prima de Helena de Tróia, através de um texto apaixonado e apaixonante em que é a própria personagem central a falar na primeira pessoa. Dois livros que dá gosto ler e manusear. Da mesma editora é o livro “Uma Temporada com Marcel Proust”, de René Peter, que foi companheiro e amigo do grande romancista desde os tempos da infância e que registou nesta obra a sua memória pessoal do convívio com o autor de “Em Busca do Tempo Perdido”. O livro tem elucidativos textos introdutórios de Jean-Yves Tadié e da neta de René Peter. Um testemunho literário e de época que os leitores de Proust, e Escolhida”, com a chancela da Assírio & Alvim e capa criada a partir de um retrato do autor feita por Mário Botas, reúne os poemas mais representativos da obra de um dos maiores poetas portugueses contemporâneos. Ao longo de quase 400 páginas encontra o leitor textos marcados pela memória, pelos afectos e pela intensa sensibilidade de um poeta que funde na sua obra as referências culturais com a lembrança dos lugares e dos sentimentos como poucos têm conseguido fazer. Uma obra única, que apetece revisitar sempre, já que nos convoca para a celebração da palavra e da espiritualidade que lhe está associada. LUÍSA COSTA GOMES, nome de referência da ficção portuguesa actual, acaba de lançar uma deliciosa biografia romanceada da célebre pirata Mary Read, precisamente com o título “A Pirata” (Ed. D. Quixote). Com uma vida fascinante e atribulada, Mary Read combateu de igual para igual com os homens em campanhas como a da Flandres, revelando uma invulgar coragem física. Foi, porém, por paixão que enveredou pelo caminho ilegal e sem retorno da pirataria, que lhe asse- gurou uma rápida entrada para a galeria dos mitos. Escrito com uma linguagem só aparentemente simples, “A Pirata” é um delicioso livro de aventura e aventuras, que se constitui como um título forte nesta “rentrée” literária, com a vantagem adicional de apanhar a onda de redescoberta das obras sobre piratas e a pirataria. Da mesma editora é o estudo do psiquiatra Afonso de Albuquerque “Minorias Eróticas e Agressões Sexuais”, com prefácio de John Bancroft. O livro de um especialista que o público em geral se encontra em condições de ler e com preender. editora é o magnífico “Canções de Amor em Lolita’s Clube”, uma das obras de referência do catalão Juan Marsé, um dos grandes nomes da literatura espanhola contemporânea. “O MEDO DOS BRAVOS”, de Scott Turow, é, na área da ficção narrativa, uma aposta forte de Publicações Europa-América, que acaba também de lançar, na divertidíssima e educativa colecção “Finados Famosos”, “Júlio César e os Seus Amigos da Onça”, de Toby Brown, e “Alexandre o Grande e a sua Mania das Grandezas”, de Phil Robins. Títulos para várias idades e diversificados gostos. OPRAH WINFREY é, seguramente, a mais famoso apresentadora de “talk shows” dos Estados Unidos. Para além disso é uma personalidade fora do comum, como se pode constatar através da leitura do livro “Oprah Winfrey em Directo”, agora dado à estampa pela Campo das Letras, do Porto. Este livro revela aspectos menos conhecidos do profissionalismo, da ética e do espírito solidário da apresentadora. Um livro que as vedetas de televisão portuguesa, sobretudo as mais jovens, deveriam ler, para dele tirarem por certo bons e oportunos ensinamentos. Com a mesma chancela e a merecer destaque, são os álbuns para crianças e jovens “O Meu Primeiro Larouse do Mundo” “O Meu Primeiro Larouse dos Como É?”, e o livrinho de bolso “O Pequeno Livro para Deixar de Fumar”, de Bertrand Dautzenberg. Da mesma “LIVRO DE ESTIMAÇÃO”é o mais recente título de Jorge Reis-Sá, o homem forte de Quasi, que inclui nesta obra, com posfácio de Luís Adriano Carlos, alguns dos seus melhores textos poéticos recentes. QUEM GOSTA de bons vinhos portugue- ses, e convém recordar que temos dos melhores do mundo, tem no guia “Vinhos de Portugal 2007” (D.Quixote), do reputado especialista João Paulo Martins, o apoio ideal para as escolhas de cada dia e de cada refeição, se for caso disso. Ao contrário dos vinhos, trata-se de um guia para consumir sem preocupações de moderação. “ACOMPANHAR a Criança Segundo o Seu Temperamento”, de Gérard Caron (Ed. Instituto Piaget), é um lançamento recente cuja leitura se recomenda a pais e professores, tendo em conta que nem sempre a componente do temperamento infantil é devidamente considerada por quem avalia e comportamento infantil. Destaque ainda para “Olhares Outros”, edição da ASTA-Associação Sócio-Terapêutica de Almeida, IPSS, com fotografias de Ricardo Monteiro, um poema de Gonçalo M. Tavares e prefácio de José Saramago, que nos convoca para a solidariedade activa com aqueles que, padecendo de graus diversos de deficiência, têm vontade e capacidade de se integrar de forma útil na vida comunitária, mostrando que só podemos realizar-nos plenamente quando aprendemos a ser solidários e fazemos do acto solidário uma prioridade social e espiritual. Um livro que ajuda a pensar e a agir. “”Os Segredos de África” (Bertrand Editora) assinala a estreia como ficcionista do jornalista da RTP José Ramos e Ramos que, com um apreciável domínio da técnica narrativa, conta a história complexa e fascinante de uma conspiração centrada em Lisboa e destinada a reacender a guerra adormecida do Biafra, com o objectivo de garantir o financiamento a serviços secretos e de enriquecer um conjunto de poderosos. O prefácio desta obra de estreia é de Urbano Tavares Rodrigues. A obra patenteia ironia e densidade narrativa bastantes para prender, do princípio ao fim, a atenção do leitor, tendo a marca de uma experiência jornalística iniciada em 1980.”I Dezembro 2006 TempoLivre 55 BOAVIDA A R T E S “OS SURREALISTAS” 55 ANOS DEPOIS Separados, desde 1951, após a 2ª Exposição de “Os Surrealistas”, Cesariny, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco regressam com trabalhos colectivos pela mão da Galeria Perve, numa memorável exposição que tem exactamente o título “Cesariny, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco e o passeio do cadáver esquisito”. Cesariny, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco e o passeio do cadáver esquisito I Rodrigues Vaz T rata-se de uma exposição em que são apresentadas obras individuais (pintura, desenho, escultura, pinturas-objecto) e Cadavres-Exquis, datados de 2006, realizados em conjunto pelos três autores, fundados do grupo “Os Surrealistas”, cuja primeira exposição foi realizada em Lisboa em 1949, a que se seguiu uma segunda em 1951. Acto de cultura que é, antes de mais, um exercício de liberdade, como aliás os dois primeiros fizeram sempre questão de acentuar, esta exposição tem também o objectivo de trazer para a ribalta Fernan- 56 TempoLivre Dezembro 2006 do José Francisco, artista Surrealista pouco divulgado (muito pelo facto de se ter afastado, voluntariamente dos circuitos artísticos), mas que tanto Cesariny como Cruzeiro Seixas consideram, desde há muito tempo, como o mais talentoso e promissor artista do grupo de autores que se juntaram no conhecido grupo, cuja importância no panorama da cultura em Portugal é cada vez mais reconhecida como fundamental pela mudança de mentalidade que provocou. O ORIENTE SEGUNDO GUILHERME PARENTE Entretanto, Guilherme Parente mostra actualmente na Galeria S. Mame- de, do Porto, os seus últimos trabalhos, apresentados em Lisboa em Junho passado no Palácio da Ajuda. Trata-se de uma série inspirada de algum modo no fascínio do pintor pelo Oriente longínquo e maravilhoso, próprio de quem nasceu em Belém, ao lado dos Jerónimos, e cuja avó, Maria Rosa, fazia borboletas em papel de seda de diversas cores salpicadas de pó de ouro, material este que ele próprio continua a usar com profusão. A ideia veio-lhe depois de ter sabido que o Palácio Azambuja, no Largo do Calhariz ao Loreto, em Lisboa, onde tem atelier há mais de vinte anos, era a residência imaginada por Eça de Queirós para o Theodoro (personagem de o livro O Mandarim), que tempos antes sendo amanuense remediado do Ministério do Reino, tinha premido o fatídico botão da campainha. «Portanto – salienta Guilherme Parente - o velho Mandarim andava ali por perto e provavelmente também algum biombo Coromandel que o proprietário teria comprado para apaziguar a sua dor e redimir a sua alma.» Mas outros acontecimentos houve que o fizeram propor «à Isabel, Guardiã da Ajuda, a exposição agora presente, como o ter encontrado prodigiosamente um navio da frota de Zheng He no estuário do Tejo, (o qual exponho nesta exposição) e um biombo de laca numa exposição a propósito dos Descobrimentos.» Possivelmente, a seguir haverá um filme, imaginado a partir deste mesmo barco, que, por iniciativa própria, foge da exposição e vai integrar-se de novo na frota, prosseguindo a aventura dos mares distantes, tão cara aos portugueses. PRESENÇA DE ARTISTAS AFRICANOS Presença notada começa a ser a de artistas africanos, que aqui vêm mostrar as suas produções como primeira etapa de uma internacionalização cada vez mais desejada. É o caso do escultor angolano Etona, que faz a sua primeira exposição individual em Portugal na Galeria Municipal Artur Bual, na Amadora, e do pintor cabo-verdiano Mito, que mostra actualmente na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, Telheiras, Lisboa, as suas obras mais recentes. Enquanto que Etona se fundamenta essencialmente nos valores ancestrais africanos, identificandose, ao mesmo tempo, com as tradições populares que são matrizes Nesta página: em cima à esquerda, “Barco”, de Guilherme Parente; à direita, escultura de Etona e, em baixo, uma composição de Mito culturais dos povos do Norte de Angola, Mito, na exposição que intitula “Só pamodi bó”, mergulha nos sons de uma «para buscar no contrabando solar a luz à solta no arcoíris da pauta como quem pinta em sensoround um sinfónico vitral technicolor», como salienta Alex. Baseando as suas esculturas na escolha dos materiais, especialmente os troncos de árvores velhas, que têm a ver com a ligação à terra, origem e fim de todo o ciclo da vida humana, Etona acaba por encontrar a melhor solução para representar a diluição do casal, em abraços de amor e paixão que se fundem de modo a ficar salientado o elemento feminino, como princípio do Mundo, o que é também uma homenagem à Mulher, mas sobretudo à Mãe, como fundadora e criadora de vida, embora os troncos envelhecidos que utiliza têm também a ver com motivos ecológicos, com vista a um maior equilíbrio do ambiente, que cada vez mais é uma preocupação dos africanos.I Dezembro 2006 TempoLivre 57 BOAVIDA M Ú S I C A S “LIGAÇÃO DIRECTA” A SÉRGIO GODINHO I Victor Ribeiro C Seis anos após a publicação de um álbum de originais, Sérgio Godinho acaba de regressar ao mercado discográfico com o CD “Ligação Directa”. A não perder. 58 TempoLivre Dezembro 2006 om a peculiar subtileza a que nos habituou, o “cantautor” oferece-nos dez novas cantigas com “ligação directa” a um dia-a-dia cada vez mais desesperante, ou a um desencanto cada vez maior pela realidade recente. Sérgio maneja a palavra até à exaustão, eleva o lugar-comum ao patamar da poesia, revitaliza o sinónimo, dignifica o trocadilho, requalifica o calão… Ao cabo de 35 anos de carreira construída com serena humildade e invulgar elevação, Sérgio Godinho surpreende-nos porque, permanecendo fiel a padrões estéticos e ideológicos irrevogáveis para qualquer pessoa de bem e de bom gosto, concilia exemplarmente a audácia da novidade, com a coerência de princípios própria de quem acredita num mundo melhor. Num tempo em que se enaltece, incentiva e pratica a vacuidade de ideias e o desleixo da intervenção cívica, exemplos como o de Sérgio Godinho assumem especial importância, designadamente junto de criadores mais jovens que olham para o futuro com perigosa apatia. Estabeleçamos, pois, com carácter de urgência, “Ligação Directa” a Sérgio Godinho! I UMA “PÉROLA” DE PATRICIA BARBER “A Metamorfose”, de Ovídio, foi a fonte de inspiração escolhida pela cantora de jazz norte-americana Patrícia Barber, para a elaboração do CD “Mythologies”, recentemente editado em Portugal. Uma autêntica “pérola”, que os apreciadores de jazz não devem perder. Pianista, intérprete e compositora de excepção, Patrícia é uma assumida e compulsiva estudiosa dos chamados “clássicos”, com especial destaque de Chopin, Verdi e Schubert. O resultado final é surpreendente, quer no plano formal da composição, quer no domínio da sonoridade vanguardista que nos é proposta. “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”, como disse, em tempos, o nosso Fernando Pessoa. I CONCURSOS INATEL . PREMIADOS 2006 VÍDEO – Edição 1 1º Prémio Tema Livre “CSI – Cromos Sobre Investigação” de Mário Fortuna Prémio “Gente da Minha Terra” “Desfolhada Tradicional em Covelo de Arca” de Maria do Céu Ferreira 2º Prémio Tema Livre “Cortina de Villutu” de Filipa Bravo Lopes ARTES – Edição 2 Prémio Pintura Stela Barreto Obra “Agosto Quente” TEATRO NOVOS TEXTOS – edição 10 Prémio Instalação Fernando Sarmento Obra “Pratos Vegetais” Prémio Escultura José da Silva Fernandes Obra “Galo ao Sul do Tejo” Grande Prémio INATEL “A Rainha e o Cardeal” de Manuel Córrego Prémio Miguel Rovisco “O Quarto de Hotel” de Ana Cristina Valente CERIMÓNIA ENTREGA DE PRÉMIOS . Teatro da Trindade . Lisboa . 2 Dez. 17h00 BOAVIDA N O PA L C O “A Casa da Lenha” na Sala Garrett RECORDAR LOPES GRAÇA Memórias, sentimentos e uma extensa galeria de personagens que se cruzaram na vida de um dos maiores compositores portugueses de sempre vão estar em cena, até final de Dezembro, na Sala Garrett do Teatro Nacional. I Maria Mesquita « A Casa da Lenha”, coprodução do TN com o Teatro da Comuna, sobre um texto de António Torrado, estreada em meados de Novembro, assinala o centenário do nascimento de Fernando Lopes Graça, figura notável da cultura portuguesa do século XX. A peça, encenada por João Mota, começa com um Lopes Graça já em idade avançada, no processo de criação da canção “A Minha Terra”, uma das suas últimas composições corais. No espectáculo estão presentes numerosos excertos musicais, desde música coral, dança sevilhana, filarmónica, instrumental bem como composições de Lopes Graça, como “Acordai” ou “O Menino de sua Mãe”. A peça evoca, ainda, em 60 TempoLivre Dezembro 2006 narração do próprio compositor, factos relevantes da sua vida, desde a ligação familiar, aos estudos musicais no Conservatório Nacional, a militância no PCP, as detenções e o exílio em Paris. Natural de Tomar, tal como o compositor, João Mota recorda-se de, em miúdo, encontrar Lopes Graça no café da cidade.”Eu tinha quatro anos e lembro-me de o ver no café do meu tio. Era o Graça.” Nessa altura, ele já era um “compositor extraordinário”. João Mota continuou a acompanhar de longe a sua obra e a sua vida, um combate permanente pela liberdade, de escolher, de estudar, de criar. “Foi um exemplo de força e de coragem. Nunca se vergou, nem a um partido”, recorda o encenador. A vida de Fernando Lopes Graça confunde-se com a história do século XX português. “São coisas que têm de ser contadas.” A parceria com o TN – outros meios e um elenco de 27 figuras, além das crianças, dos músicos e do coro Cantat - deu outra dimensão ao projecto original da Comuna. António Sousa, director musical, quis uma música “pensada para um público de teatro”, que aliasse “obras consagradas e paradigmáticas” a “primeiras audições absolutas”. Ficha Técnica: Intérpretes: Carlos Paulo (Lopes Graça), João Grosso (Pai do compositor), Sara Belo (Mãe), Jorge Andrade, Tânia Alves, António Banha, João Tempera, Manuel Coelho, José Neves, Hugo Franco, Vicotr Ribeiro, Augusto Portela, Júlio Martin, Filipe Petronilho, Luís Gaspar, Rui Quintas, Paula Mora, Lúcia Maria, João Ricardo, Maria Amélia Matta, Gonçalo Ruivo, Samuel Alves, Marco Paiva, Ana Filipe, Judite Dias, Rita Seguro, Diogo Branco, o pianista Nuno Barroso, a cantora Verena Barroso, a violoncelista Mafalda Nascimento e o Coro Cantat. “A Flauta Mágica” pelo TIL A Companhia de Teatro Infantil de Lisboa (TIL) mantém em cena, desde Outubro, no Teatro Armando Cortez, a “A Flauta Mágica”, uma peça teatral inspirada na célebre e popular ópera de Mozart. A Flauta Mágica, recorde-se, narra uma história fantástica de superação de limites, crescimento espiritual e luta entre forças opostas; uma alusão ao bem e ao mal, os dois grandes poderes que regem as relações humanas. O libreto foi confiado a Mozart por Emanuel Schikaneder, autor da maior parte do poema e director do teatro Auf der Wieden. A ópera estreou em Viena, em 1791. O universo de A Flauta Mágica é o dos contos orientais e transmite uma mensagem de amor, de fraternidade e de sabedoria. Foi baseado nesta ópera que Fernando Gomes, escreveu (e encenou) uma nova versão teatral, musicada por Filipe Carvalheiro a partir dos temas originais de Mozart, com coreografia de Iolanda Rodrigues e interpretada pelo elenco do TIL. A acção decorre no antigo Egipto, fonte inspiradora de Kim Cachopo, o autor da cenografia, para um cenário cheio de magia - onde se destaca uma espectacular pirâmide – bem como para um cuidado e original guarda roupa de Rafaela Mapril. Este espectáculo, essencialmente destinado às crianças – sem, no entanto, esquecer os mais crescidos que os acompanham - promete uma Fábula sobre o Amor, a Amizade e a Sabedoria, uma “Flauta Mágica” onde por certo não vai faltar a Magia do Teatro. Ficha Técnica: Intérpretes - Adriana Pereira, Agostinho Macedo, Andreia Ventura, Fernando Ferreira, Filipa Ruas, Kim Cachopo, Maria João Vieira, Paulo Neto Produtor/Promotor - TIL/TL – Teatro Infantil de Lisboa/Teatro Livre, CRL “Murlin Murlo” em Évora Até 10 de Dezembro, a companhia eborense A Bruxa Teatro leva à cena a peça “Murlin Murlo”, do dramaturgo russo Nikolai Koljada, com encenação de Paulo Alves Pereira. Representada num espaço dos antigos celeiros da EPAC, na Rua do Eborim, “Murlin Murlo” – um jogo de palavras que serve de título à peça – propõe uma certa analogia entre a personagem principal e malograda actriz Marilyn Monroe. Tal como a célebre vedeta do cinema, a personagem principal, Olga, sonha com outra existência, menos fechada ou solitária como a da sua pequena e asfixiante cidade de província. Ficha Técnica: Intérpretes: Celino Penderlico, Diogo Pinto, Filipa Teixeira, Teresa Baguinho, Josefina Massango, Catherine Henke Horário: 21h30 [quarta a sábado] duração: 2h Dezembro 2006 TempoLivre 61 BOAVIDA CINEMA EM CASA SUCESSOS DE BILHETEIRA Sérgio Barrocas P ara este mês escolhemos quatro filmes que tiveram uma enorme adesão do público. O filme mais visto em Portugal ao longo deste ano, “O Código da Vinci”, lidera as nossas escolhas de Dezembro, CÓDIGO DA VINCI > O professor de simbologia Robert Langdon(Tom Hanks) e a criptóloga Sophie Neveu (Audrey Tautou) vão investigar um estranho crime no Museu do Louvre e, a partir daí, num ritmo alucinante, tentar descobrir que misterioso segredo é que a Igreja esconde desde o tempo de Jesus Cristo Após o enorme sucesso de vendas nas livrarias de todo o mundo, “O Código da Vinci” foi, no corrente ano, o grande êxito de bilheteira nos écrans nacionais, em parte graças à polémica trazida pela obra: a ocultação por parte da igreja do casamento e da existência de um filho de Jesus e Maria Madalena. TÍTULO ORIGINAL: The Da Vinci Code; REALIZAÇÃO: Ron Howard ; COM: Tom Hanks, Audrey Tautou, Ian McKellen; EUA, 2006, Cor, 143 min; EDIÇÃO: Sony Pictures PIRATAS DAS CARAÍBAS É um dos regressos mais 62 TempoLivre Dezembro 2006 aguardados do ano: Jack Sparrow (Johnny Depp), o diabólico pirata, está de volta! Jack tem duas missões importantes: pagar com a sua alma uma dívida ao perigoso Davy Jones, capitão do navio-fantasma Flying Dutchmanas e salvar Will (Orlando Bloom) e Elizabeth (Keira Knightley) das garras do implacável caça-piratas Lord Cutler Beckett. Emoção, humor e acção são os ingredientes de mais uma aventura de piratas, fantasmas e criaturas muito estranhas que perseguem o lendário e poderoso cofre do Homem morto. TÍTULO ORIGINAL: Pirates of the Caribbean: Dead Man´s Chest; REALIZAÇÃO: Gore Verbinski; COM: Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Bill Nighy, E.U.A., 2006, cor,150m; EDIÇÃO: Lusomundo A IDADE DO GELO 2 Depois do enorme êxito em 2002, Manny, Sid e Diego estão de volta numa aventura inesquecível. A Idade do Gelo está a terminar, e logo seguido pelo regresso de Johnny Depp, na pele do Capitão Jack Sparrow, em “Piratas das Caraíbas – O Cofre do Homem Morto”. O regresso dos nossos amigos da “Idade do Gelo” e “Alice”, um dos filmes portugueses mais vistos deste ano, completam a selecção. os animais estão a adorar o seu novo mundo: um paraíso descongelado de parques aquáticos, termas e poços de água quente. Mas quando Manny (o mamute), Sid (a preguiça) e Diego (o Tigre) descobrem que o seu vale poderá ficar submerso, têm que avisar todos e encontrar uma forma de escapar ao fim que se aproxima. TÍTULO ORIGINAL: Ice Age: The Meltdown; REALIZAÇÃO: Carlos Saldanha; VOZES: Ray Romano, John Leguizamo, Denis Leary e Jay Leno; E.U.A., 2006, Cor, 87m; EDIÇÃO: Castello Lopes mento das ruas. No meio de todos aqueles rostos, daquela multidão anónima, Mário procura uma pista, uma ajuda, um sinal. A beleza da música de Bernardo Sassetti combina na perfeição com os ambientes do filme e com os desempenhos, notáveis, de Nuno Lopes e Beatriz Batarda. ALICE é o filme escolhido para representar Portugal na candidatura aos Óscares da Academia. TÍTULO ORIGINAL: Alice REALIZAÇÃO: Marco Martins COM: Nuno Lopes, Beatriz Batarda, Miguel Guilherme e Ana Bustorff. Portugal, 2005, Cor, 102m, EDIÇÃO: Lusomundo ALICE Elogiado pelo público e pela crítica, nacional e internacional, “Alice”, o primeiro filme de Marco Martins, é a história do amor de um pai por uma filha e o sofrimento provocado pela sua ausência. A obsessão de a encontrar leva-o a instalar uma série de câmaras de vídeo que registam o movi- OUTROS LANÇAMENTOS ODETE (Lusomundo) –João Pedro Rodrigues ESQUECE TUDO O QUE TE DISSE (Lusomundo) – António Ferreira COISA RUIM (Atalanta) – Tiago Guedes e Frederico Serra SOL ENGANADOR (Atalanta) – Nikita Mikhalkov A DAMA DE HONOR (Atalanta) – Claude Chabrol BOAVIDA FILMES COM MEMÓRIA O PERFUME DE PARIS Para incontáveis gerações, a capital francesa foi, em muitos séculos e continentes, a cidade-luz, o éden da cultura, da utopia, da liberdade, da criatividade Fernando Dacosta P or acasos da distribuição que hoje condicionam o cinema – arte nascida nas lentes dos Lumière – três filmes dedicados a Paris atravessam, com assinalável receptividade, os nossos «écrans» e as nossas memórias. São eles «Em Paris», «Paris, Je T’ Aime» e «Marie Antoinette». Assina o primeiro Christophe Honoré, jovem escritor e realizador, através de uma tocante situação de cumplicidade entre dois irmãos, um (depressivo) fechado no seu quarto, e outro (efusivo) deambulando, amando pela cidade, maneira encontrada de transmitir ao primeiro energias da vida que ele se obstina em recusar. Produzida por Paulo Branco, a obra em causa (premiada e incensada em Cannes), é «uma homenagem ao grande cinema francês destinada a provar que ele não está morto e que», afirma o seu realizador, «pode ser re- novado», recusando-se «o apagamento da sua memória» por pressão da indústria norte-americana que colonizou, mundialmente, o sector. «Os cineastas da minha geração deviam ter orgulho no cinema francês, em vez de fazerem filmes que o renegam», invectivará. A «nouvelle vague» torna-se uma brisa a percorrer, com por vezes assumida melancolia, a delicadeza das câmaras de Christophe Honoré, interiorizada nos olhares do irmão mais velho, mais em dissolução, mais estrangeiro no território que se ergue para lá das janelas em que se enclausurou, indiferenciou, com uma Torre Eiffel difusa (sem bilhete postal) ao fundo. Ao fundo há apenas uma paisagem projectada de contornos voláteis e imprecisos. «Paris je t’ aime», feito por doze realizadores de díspares nacionalidades e identidades (cada um conta uma minúscula estória ocorrida num bairro diferente da cidade em causa) re- vela-se uma sinfonia polífona de exaltações míticas, executadas de fora para dentro. Curiosamente uma das partituras mais vibrantes é a interpretada pelos actores americanos Gena Rowlands e Ben Gazarra, sob a batuta de Gérard Depardieu. «Estávamos interessados em mostrar, em cinco minutos, que a vida não é só para os jovens e os belos: é para todos. É uma experiência completa que dura o tempo que quisermos», especificará a notável Gena Rowlands, viúva (e intérprete «fetiche») de John Cassavetes. Jovem e bela, vivendo no luxo, na superficialidade, na sedução, no alheamento supremos, é Maria Antonieta, a princesa austríaca que casou, adolescente e fútil, com Luís XVI, tornando-se, ao ser guilhotinada no acirrar da revolução francesa, a trágica Rainha de Paris. Fascinada pelas duas (a soberana e a cidade), Sofia Coppola (outro norteamericano) recriou com excepcional «charme» o perfume da corte que envolvia, como um casulo de languidez, de música, de irrealidade, o quotidiano caprichoso e venenoso de Marie Antoinette, imersa no Titanic delirante de Versailles. Vindas de direcções completamente diferentes, por vias de incomparável traçado, as películas em causa acabam por cruzar-se fora das rotas, dos tempos, das intenções, dos sentimentos verosímeis. Daí que uma das sequências mais expressivas do triângulo em projecção seja (no segundo título) a ocorrida no cemitério de Pére Lachaise com vampiros e ... Óscar Wilde. «Incrível. Foi a primeira vez que filmei assim, apenas duas noites mas noites muito, muito longas», comentou o realizador canadiano Vincenzo Natali. Paris continua a ser um espaço mágico de encenações – e o cinema uma arte superior delas. Dezembro 2006 TempoLivre 63 BOAVIDA À M E S A A NOSSA VISÃO À MESA Que eu conheça, não existe nenhum provérbio popular que associe a qualidade da nossa alimentação à saúde nos nossos olhos. Mas à medida que a ciência avança, vai crescendo a evidência científica sobre a importância de uma alimentação rica em frutos, hortícolas e azeite sobre a nossa visão. Por isso, não será de admirar quer no futuro se ouça: diz-me o que comes, dir-te-ei o que vês. Pedro Soares U m provável exemplo desta associação, entre a alimentação equilibrada e a qualidade da nossa visão, chama-se Degenerescência Macular Relacionada com a Idade, também conhecida com as siglas DMI. Em diversos países ocidentais, esta doença é a principal causa de cegueira em pessoas com mais de 65 anos. O principal factor de risco é a idade. O primeiro sintoma de DMI é o aparecimento de uma mancha escura ou esbranquiçada no centro do campo visual. As pessoas afectadas podem ver imagens distorcidas ou então os objectos passam a ter tamanhos diferentes do real. Habitualmente e de início, apenas um dos olhos é afectado, mas o “envelhecimento” da retina tende a afectar o outro olho também. O doente passa a ter dificuldade em ler, escrever, conduzir, trabalhar levando progressivamente à cegueira. A retina é uma parte do olho com uma elevada concentração de 64 TempoLivre Dezembro 2006 oxigénio, muito rica em ácidos gordos polinsaturados e muito exposta à luz solar. Estes factores tornam esta parte do nosso corpo muito sensível à produção de radicais livres de oxigénio que podem estar na origem da doença. Os radicais livres podem ser átomos ou moléculas, tendo todos em comum o facto de possuírem um ou mais electrões soltos ao contrário das moléculas estáveis. Por esta razão tornam-se moléculas altamente instáveis desencadeando reacções que danificam outras moléculas. Os antioxidantes são capazes de interceptar os radicais livres, impedindo o ataque. Se no nosso organismo existirem antioxidantes, os radicais livres ligam-se preferencialmente a estes, deixando assim de agredir os tecidos saudáveis. Diversos estudos têm alertado para esta provável associação. Para além da DMI pensa-se que os mecanismos de excessiva oxidação celular podem estar na origem de doenças como a doença cardíaca ou cancro. Assim, a incorporação de alimen- tos ricos em substâncias protectoras na nossa dieta, poderá ter um papel importante na prevenção destas doenças. Quais são estas substâncias com propriedades antioxidantes? As mais conhecidas são as vitaminas A, C e E e o beta-caroteno. Igualmente com efeitos anti-oxidantes encontramos os bioflavonóides, antocianinas, selénio e o zinco. Por exemplo, a vitamina E é encontrada nas nozes, avelãs, sementes, peixe, azeite, algas marinhas e seus óleos, melancia…; os bioflavonóides estão nos citrinos (limão, laranja, tangerina), frutos silvestres, cerejas, uvas, papaia, melão, ameixa, e tomates; Encontramos ainda substâncias com capacidade anti-oxidante nos bróculos, cenoura, espinafre, salsa, repolho, maioria das couves de folha verde… Isto significa que uma boa sopa de hortícolas e uma peça de fruta a cada refeição podem estar na base de uma alimentação protectora contra a doença e ser meio caminho andado para que no futuro a nossa visão continue saudável. Ilustrações: André Letria BOAVIDA S A Ú D E MISTURAS PERIGOSAS Misturar certos medicamentos ou misturar estes com determinados alimentos pode ser perigoso para a saúde! O estudo das reacções adversas à toma dos medicamentos, isto é, aquelas reacções que não são esperadas nem desejadas quando se toma um fármaco, são exaustivamente investigadas pelos cientistas que produzem os medicamentos e normalmente vêm descritas nas “bulas” que os acompanham. M. Augusta Drago Q uando tomamos um remédio, por mais inócuo que nos pareça, ele vai entrar no nosso organismo e, nada fica como antes. Através da corrente sanguínea vai chegar não só ao local de acção a que se destina para tratar a doença, mas também a todas as partes do corpo onde não é desejado. Pelo caminho o químico vai interagindo com o estômago, com o intestino e, depois de absorvido interage, com todo o organismo. Se nessa trajectória encontra outra ou outras substâncias químicas que potenciam, diminuem ou alteram os seus efeitos, pode causar danos irreparáveis à saúde. As interacções medicamentosas variam consoante as condições físicas, a idade, o estilo de vida e a genética de cada um. Os mais jovens e os mais idosos são os mais susceptíveis e estes últimos têm maior risco de intoxicação porque normalmente estão polimedicados. As reacções bioquímicas e físicas complicadas a que os medicamentos estão sujeitos ao serem ingeridos, absorvidos e metabolizados e por fim eliminados não vêm ao caso. Proponho que retenham e tomem os vossos cuidados se estão a tomar algum dos medicamentos que se seguem: O cálcio e o ferro quando toma- dos com chá ou café vêem os seus efeitos diminuídos porque são menos absorvidos; Alguns antidepressivos (os inibidores da MAO) não podem ser tomados juntamente com queijo, toranja, abacate, cafeína e cerveja. A associação com estes alimentos pode desencadear uma crise hipertensiva grave; Os antibióticos (tetraciclina, ampicilina e amoxicilina) devem ser tomados só com água. Os alimentos (incluindo o leite), tomados ao mesmo tempo, dificultam a absorção e diminuem o efeito curativo; Os anti-hipertensores (captopril e imidapril) têm a sua absorção diminuída quando tomados com os alimentos e deve evitar-se o sal e o álcool; Alguns diuréticos (espironolactona, amiloride e triantereno) têm a sua absorção aumentada quando tomados com os alimentos; O medicamento para baixar o colesterol (sinvastatina), quando tomado com hipericão ou sumo de toranja, aumenta a sua concentração no sangue e potencia os seus efeitos indesejáveis; Os anti-alérgicos (anti-histamínicos) não devem ser tomados com álcool porque causam sonolência, nem com toranja porque podem causar arritmia cardíaca grave; Os medicamentos para aliviar dores e inflamações (anti-inflamatórios e os corticóides) não devem ser tomados com álcool, citrinos e outros anti-inflamatórios, porque aumentam o risco de hemorragia gástrica; Aos medicamentos tranquilizantes e aos que se tomam para dormir não se deve juntar álcool, chá, café ou chocolate porque diminuem o seu efeito; Os medicamentos para a bronquite crónica e para a asma (broncodilatadores) não devem ser tomados com café, porque este pode provocar insónia, pesadelos e taquicárdia, nem com álcool, porque este aumenta o risco de vómitos, irritabilidade e dores de cabeça, nem com alimentos gordurosos, porque estes diminuem a sua absorção e podem desencadear uma crise de bronquite; O anti-fúngico (nizoral) não deve ser misturado com anti-ácidos, lacticínios e álcool, porque pode provocar náuseas, vómitos, descida brusca de tensão arterial e desmaios. Este efeito perdura até três dias após o fim da medicação; Os doentes que fazem anticoagulantes (varfarina) não devem tomar anti-inflamatórios, aspirina e suplementos de vitamina E, porque aumentam o risco de hemorragias; não devem igualmente comer alimentos como espinafres, couveflor, batata e amendoim, porque são ricos em vitamina K, que neutraliza o efeito do medicamento. É praticamente impossível descrever todas as possibilidades de combinações de medicamentos ou de estes com os alimentos cujo o efeito negativo já seja conhecido. A lista que vos deixo não é exaustiva nem dispensa a leitura das “bulas”. [email protected] Dezembro 2006 TempoLivre 65 BOAVIDA TEMPO INFORMÁTICO SOM DE QUALIDADE Vai longe o tempo em que o som transmitido por computadores não tinha qualquer semelhança com o dos sistemas de alta-fidelidade. Entretanto as placas de som melhoraram, apareceram colunas 2.1, 3.1 e 7.1 com tweeters para as altas frequências e um subhoofer para as baixas. Não sendo prático para muita gente ter à sua volta e do PC uma série de colunas, a situação do som de qualidade resolveu-se. Aqui duas delas à escolha dos leitores. I Gil Montalverne A Creative Labs sempre foi líder em dispositivos de som para computadores, como já temos referido. A solução Creative mais cómoda para um som de qualidade a duas colunas chama-se GIGAWORKS T20. Com som estéreo de gama alta em sistemas estéreo de dois canais, são a opção perfeita para músicos amadores e entusiastas da música de qualidade. A tecnologia BasXPort da Creative, maximiza o equilíbrio e a precisão, dando um estéreo impressionante, as duas vias com um altifalante principal e um cone de som de gama média de elevado desempenho em cada uma das estruturas, fornecem agudos detalhados e tons médios envolventes e completos. A blindagem magnética permite a colocação junto a televisores ou monitores sem interferências. Têm entradas para leitores de MP3, estúdios domésticos, leitores CD/DVD e televisores, controlos de interruptor, graves e agudos, além de saída de 66 TempoLivre Dezembro 2006 auscultadores para audição privada. PVP: 94.76 Euros. ENTRETANTO, há alguns anos que a Logitech resolveu entrar no mundo do som e tem vindo a oferecer dispositivos de qualidade. Com as colunas Inter-activas Z-10, apresentadas na rentrée, reinventou os altifalantes para PC. É conhecida a sua preocupação com o design e a ergonomia. Elegantes, ligeiramente inclinadas para trás, com cerca de 25 cm de altura, por 12 de largura e de profundidade, podem estar sobre a Colunas Z 10 e, em baixo, GigaWorks T20 secretária ou em qualquer local onde se use o PC. Robustas e resistentes, a ligação por USB transmite o sinal digital e informações para um LCD embutido retro iluminado, onde estão os dados da música, relógio, volume e outros elementos. Esta inovação é ainda facilitada por todos esses comandos serem sensíveis ao toque, eliminando recorrer aos comandos no PC para controlar o Áudio: volume, agudos, graves, play, forward, back. Entrada para leitor MP3 e 4 botões de memória para estações de Rádio na Internet. O som é um estéreo completo sem necessidade de subwoofer separado. Cada altifalante tem tweeters integrados de 2 centímetros e meio e woofers de 7,6 centímetros com gama baixa notável. A tecnologia Logitech colocou um bi-amplificador que distingue as altas e baixas frequências dirigindo-as respectivamente para os tweeters e para os woofers. Som de qualidade por 149,90 E. A escolha é sua.I [email protected] BOAVIDA A O V O L A N T E MERCEDES CL na estrada e na pista Vislumbrar o novo coupé CL pela primeira vez é ficar cego – pelo menos temporariamente – para as trivialidades da vida. Aquelas linhas. Aquela forma. O CL é uma síntese rara e fascinante de presença carismática e estética de design formal, que não deixa espaço para interpretações erradas. I Carlos Blanco R aramente a beleza é tão inequívoca e incontestável como no novo Classe CL. Desafia a ideia de que a beleza está, ou esteve, alguma vez, nos olhos de quem ama, uma máxima concebida para defender a nossa apreciação discutível daquilo que é ou não agradável. O facto é que o nosso mundo está cheio de formas inerentes e indubitavelmente belas - e o novo coupé de luxo da MercedesBenz é, sem dúvida, uma delas. O termo beleza parece, de certo modo, inadequado para descrever uma criação formal de metal. Estético talvez seja um rótulo mais adequado. Pois tal como conceitos como a gravidade e a velocidade da luz são usados para dar um significado real a fenómenos do mundo físico, o mundo estético faz a beleza parecer tangível, durável, incapaz de se tornar num lugar-comum ou de aborrecer. Falando de dignidade, o CL anuncia a sua presença sem se apropriar do vocabulário do seu criador de marketing. Apesar da sua elegância simples, transmite uma ressonância de carácter que é rara nos veículos modernos. Se um automóvel parado irradia o tipo de carisma que anuncia cada detalhe da sua substância técnica, então a sua linguagem de design irá tocar o coração de qualquer verdadeiro entusiasta de automóveis. CARRO DE SEGURANÇA NA F1 Agora que o piloto espanhol, Fernando Alonso, revalidou o seu título de campeão do mundo de Fórmula Um, é tempo de lembrarmos que só existe um carro na F1, que embora não possa ser ultrapassado, nunca venceu, ou completou uma única corrida. Ele é o, carro mais seguro em pista, e como estipulado pela FIA, é um AMG Mercedes CLK 55 que é usado como Carro de Segurança, em todas as corridas de Fórmula Um. O conceito de um carro de segurança foi introduzido pela primeira vez na Fórmula Um em 1992, e é responsável pelo comando dos car- ros de Fórmula Um em volta da pista, a uma velocidade reduzida, mas suficientemente rápida para não sobreaquecer os motores altamente sensíveis dos carros Fl. Mesmo a 120 kph (75 mph) terá de existir binário disponível suficiente, para possibilitar igual desempenho através da gama de rotações do motor. Com uma saída de potência de 367 bhp e uma velocidade de topo de 280 kph (174 mph), o AMG CLK 55 cumpre facilmente estes requisitos. Para cada corrida, são levados dois CLK 55 idênticos e até hoje o segundo carro reserva nunca foi necessário. Após cada corrida, os carros são devolvidos à fábrica AMG em Affalterbach, para uma breve inspecção afim de estarem nas melhores condições no Grande Prémio seguinte. Embora o CLK 55 possa parecer um carro vulgar, ele apresenta-se com uma serie de equipamentos, incluindo sistemas de rádio, assim como diversas câmaras de TV montadas por fora e dentro do veículo. Existe mesmo uma nova “black box” no painel de instrumentos, para fornecer um leitor óptico dos sinais de bandeira, feitos pelos comissários de corrida ao longo da pista. Em 2007, registe-se, Fernando Alonso irá guiar um McLaren-Mercedes. I Dezembro 2006 TempoLivre 67 BOAVIDA PA L AV RA S D A L E I ABANDONO DE LAR, POSSE E CASA DE MORADA DE FAMÍLIA Vivi com um senhor durante 14 anos em união de facto; tivemos um filho, que tem hoje 21 anos e tem problemas de aprendizagem. Comprámos um imóvel em Lisboa, no qual ficámos a residir. No entanto, o registo da casa foi efectuado em nome dele. Dois meses depois ele saiu de casa, levou o que quis, incluindo um carro em meu nome, e nunca deu um tostão, quer para as despesas do imóvel, quer para o nosso filho. Agora ele quer vender a casa onde habitamos e pretende metade do valor da venda. Tenho 58 anos e estou desempregada. Ele pode fazer isto? ? Sócia n.º 178310 – Lisboa I Pedro Baptista-Bastos O imóvel, que é casa de morada de família, foi adquirido em compropriedade, o que é facilmente demonstrável. Apesar do registo de propriedade estar em nome desse seu antigo companheiro, verificamos que houve uma situação de abandono injustificado desse imóvel. Ora, o abandono é uma causa de perca da posse, de acordo com o artigo 1267º, n.º 1, al. a) do Código Civil. Provado o abandono do imóvel sem justificação aparente, esta nossa leitora pode fazer o registo da mera posse sobre a casa de morada de família e usucapir o imóvel. Ela não tem o registo de aquisição a seu favor – vimos já que estava em nome do marido – mas ela continuou a viver nesse imóvel, após o abandono. Ela apossou-se do imóvel, em termos legais, após o abandono. 68 TempoLivre Dezembro 2006 André Letria Assim, a lei diz-nos, no artigo 1295º, nº 1, al. a) do C. Civil, que dáse a usucapião sobre um imóvel, mesmo não havendo um registo de aquisição, se se tiver feito a posse sobre o mesmo, de boa fé, durante cinco anos. Parece ser o caso desta nossa leitora, o que uma primeira defesa que tem. Além disso, as regras da compropriedade dizem-nos que um dos comproprietários não pode, no decurso do seu uso, privar o outro de um outro uso a que tenha igualmente direito. Vimos que esta casa é a morada de família de um filho com problemas de aprendizagem. Para além do facto do pai deste filho estar obrigado, de acordo com as regras do poder paternal instituídas nos artigos 1877º e seguintes do C. Civil, maxime o artigo 1879º, a prestar alimentos a um filho com dificuldades, não pode querer vender uma casa, que é a morada de família de duas pessoas. Isto é, não pode privar o direito que uma mãe tem em possuir uma casa que lhe permita criar e proteger um filho com dificuldades. A sua pretensão em vender a casa cede diante de um interesse superior que a lei protege, que é o interesse familiar, mesmo de uma família que já não queira como sua. Aproveito para desejar um Bom Natal e um Feliz Ano Novo a todos os leitores da “Tempo Livre”. I Toda a correspondência deve ser dirigida à Redacção da «Tempo Livre» CLUBE TEMPO LIVRE PASSATEMPOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES Palavras Cruzadas > por Tharuga Lattas Horizontais: 1-Célebre astrónomo alemão (1571-1630); Grande matemático, físico, filósofo e escritor francês (1623-1662). 2-Surgir em público; Barrigas; Destruidor. 3-Condizer; Voz masculina mais alta do que a do barítono; “Cloro” (s.q.). 4-Prep. de “lugar”; Escrava egípcia de Abraão e mãe de Ismael; Ilha grega do Arquipélago, uma das Cíclades, onde foi achada, em 1920, uma célebre estátua...; Sua. 5Ninho; Arrendara; “Royal Air Force” (sigla). 6-Frequente; Gemidos; Esmola insignificante. 7-Olhavas; Campeões. 8-Pessoa de mau carácter (fig.); Prep. de “lugar”; Tratamento familiar; Dificuldade. 9Limite; Pousara no mar; Casa. 10-Campeão; Queixosa; Ama-de-leite. 11-Apologia; Esmaltara de azul; Anuência. 12-Tenebroso; Leve; Silencioso. 13-Nome que os Portugueses davam ao rio hoje universalmente chamado Congo; Além disso; Compartimentos subterrâneos onde se guardam mísseis prontos para lançamento. Verticais: l-Planeta primário do sistema solar, orbitando entre Mercúrio a Terra; Enganadora. 2-Estás; Nome pessoal masculino; Galhofa. 3-Progenitor; Escutam; Nome pessoal masculino. 4-Antiga moeda italiana; Suspiros; Suf. nom. de orig.lat. que designa “profissão”... 5-Erbio” (s.q.); Pompa; Iça. 6-Igual; Dama. 7-Bebedeira; Montículo de cume arredondado. 8-Quinto filho de Jacob (Bíblia); Instrumento para encurvar as calhas das vias férreas; Rebolar. 9Adições; Desequilibrada. 10-Gracejar; Madrugada. 11-Ataque de paralisia; Reino da Indochina a O. do Vietname; Puxador. 12-Murro; Benefício; Nota musical. 13-Óxido de cálcio; Roseiral; Meridião. 14Esquadrão: Chiste; Astuto. 15-Gastos; Ramada. KEPLER; D; PASCAL. 2-SAIR; PÁS; ROAZ. 3-V; IR; TENOR; CL; S. 4EM; AGAR; MILO; SÁ. 5-NIO; ALUGARA; RAF. 6-USUAL; AIS; ÓBOLO. 7-S; VIAS; M; ASES; S. 8-RÉS; EM; TU; MAS. 9-FIM; AMARARA; LAR. 10-AS; CLAMOROSA; BA. 11-LOA; ANILARA; SIM. 12ATRO; ALADA; MUDO: 13-ZAIRE; ORA; SILOS. Xadrez > por Joaquim Durão As pretas têm o lance e deverão ter em conta a perigosa ameaça Dc1-c7. Uma subtileza, porém, neutraliza esse perigo. A posição corresponde à partida Tolush – Keres, Leninegrado 11.01.1939. AS PRETAS JOGAM E GANHAM Viktor Korchnoi, vice-campeão mundial nos “matchs” com Anatoly Karpov, alcançou finalmente o título absoluto em Arvier (Itália)… mas no escalão de Veteranos (na FIDE, mais de 60 anos para homens e 55 para mulheres – o que hoje, claro, não se entende). Mérito acrescido é o facto do actualmente suíço, dissidente da ex-União Soviética, Viktor “O Terrível” contar já 75 anos – mais 15 que o mínimo (Leninegrado, 23.07.1931). Korclnoi (Suiça) – Miso Cebalo (Croácia), 16.09.2006. Defesa Indo-Benoni. 1.d4 Cf6 2.c4 e6 3.Cf3 c5 4.d5 d6 5. Cc3 exd5 6. cxd5 g6 7.Bg5 h6 8. Bh4 Bg7 9.Cd2 g5 10. Bg3 Ch5 11. Da4+ Rf8 (Forçado Se 11…. Bd7 12.De4+ 30. Td1 Bxc4 31.Cxc4 De8 32. Dd3 Txc4 33. Dxc4 Bxe3+ 34.Rh1 Tg8 35.f7 Dxf7 36. Td8+ Rg7 37.Dxf7+ e as pretas abandonam, perante Rxf7 38.Ta7+ e cai a torre.. 70 TempoLivre Dezembro 2006 SOLUÇÕES As pretas jogam 1…., e3-e2 e depois de, efectivamente, 2.Dc7 foram surpreendidas por Dg3+!!, e após 3.Rxg3 e1=D+ xeques sucessivos levam ao mate. seguido de 13.Bxd6; e se 11…. Dd7 também 12.De4+ Rf8 com pior situação) 12. Dc2 Cxg3 13. hxg3 Cd7 14.e3 Ce5 15. Be2 a6 16.a4 Tb8 17.a5 b5 18. axb6 n.p. Dxb6 19. Ta2 f5 20. f4! (As movimentações na ala da dama são típicas da variante, e neste sector as possibilidades anulam-se; todavia na ala do rei as pretas estão mais expostas, justamente por este ataque, uma vez que a retirada para f7 ou g6 pela vulnerabilidade do peão f5, após f4xg5) 20…. gxf4 21.gxf4 Cg4 22.Bxg4 fxg4 (E a casa “e4” fica desimpedida para os cavalos brancos) 23. 0-0 Dd8 24. f5! h5 25. f6! Bh6 26.Cc4 Tb4 27.Ce4 Bb7 28. Cexd6 Bxd5 29. Txa6 g3 (Não há mesmo nada. A exposição do rei preto, as melhores torres brancas, a débil defesa da primeira linha preta, a Th8 paralisada e outros factores visíveis avisam um fim próximo). As suas Viagens PORTUGAL FIM DE ANO FIM DE ANO EM VILA REAL 1º GRANDE BAILE DO ANO 2007 Comece o 1º dia do ano com um fabuloso almoço e tarde dançante com música ao vivo Nº TSN2696 - 1 de Janeiro de 2007 PARTIDAS: GUARDA/ COVILHÃ/SANTARÉM Preço por pessoa: € 70,00 ANO 2007 FESTAS E ROMARIAS FESTA DAS FOGACEIRAS & FEIRA DO FUMEIRO NºTSN1047 17 a 21 de Janeiro de 2007 PARTIDAS: LISBOA/SANTARÉM/LEIRIA/COIMBRA Preço por pessoa em quarto duplo: € 230,00 TSN2586 - 30 de Dezembro de 2006 a 2 de Janeiro de 2007 PARTIDAS: FARO/BEJA/ÉVORA/LISBOA/SANTARÉM Preço por pessoa em quarto duplo: 445,00 FIM DE ANO NA FEIRA TSN2596 - 30 de Dezembro de 2006 a 2 de Janeiro de 2007 PARTIDAS: PORTALEGRE/LEIRIA/COIMBRA Preço por pessoa em quarto duplo: 280,00 MESA DE SÃO SEBASTIÃO Dornelas - Trás-os-Montes A Festa comunitária que nunca se pode deixar de cumprir…uma tradição onde nunca falta comida para quem nela compareça PARTIDAS: ÉVORA/SETÚBAL/LISBOA/AVEIRO Nº TSN1057 19 a 21 de Janeiro de 2007 Preço por pessoa em quarto duplo (Évora/Setúbal/Lisboa): €250,00 Preço por pessoa em quarto duplo (Aveiro): €235,00 Festa dos Tabuleiros 2007 TOMAR Inscreva-se já, lugares limitados Assista a uma das tradições mais belas de Portugal!!! Realiza-se de 4 em 4 anos. A sua origem remonta ao Culto do Espírito Santo, instituído no século XIV, com origens remotas das antigas festas das colheitas. O ponto alto da festa é no Domingo, com o cortejo dos tabuleiros a percorrer as ruas da cidade. O Tabuleiro é o Símbolo e principal alfaia da Festa dos Tabuleiros. Deve ter a altura da rapariga que o carrega e em média pesam 22 kg. A função dos homens é a de ajudarem as mulheres mas nunca transportam os tabuleiros. Participe numa manifestação de rara beleza e alto significado cultural. PARTIDAS: 06 a 08 de Julho de 2007 PARTIDAS: VISEU/GUARDA/COVILHà Preço por pessoa em quarto duplo: € 300,00 PARTIDAS: FARO/BEJA/ÉVORA Preço por pessoa em quarto duplo: € 315,00 Viagens HA ESPAN TAS FES Fallas de Valência 2007 [Autocarro] [Avião] 15 a 21 Março de 2007 16 a 20 Março 2007 PARTIDAS: COIMBRA/LEIRIA/SANTARÉM/LISBOA Preço por pessoa em quarto duplo: €715,00 PARTIDAS: LISBOA / PORTO Preço a divulgar oportunamente AMÉRICA DO NORTE FÉRIAS DE CARNAVAL EM NOVA IORQUE Viagem de son ho TSI1007 16 a 21 de Fevereiro 2007 PARTIDAS: LISBOA/PORTO/FARO Passe 6 dias, cinco noites, nesta fascinante cidade, viajando em voo regular. Alojamento num Hotel, bem localizado, com pequeno-almoço. Visitas ao Museu de Arte Moderna (MOMA), ao Empire State Building e passeio de barco para desfrutar da magnífica vista da Estátua da Liberdade. Conheça os famosos bairros de Chinatown e Harlem onde assistirá a uma Missa Gospel. Panorâmica da cidade de Nova Iorque. Inclui 2 almoços e 2 jantares. Acompanhamento de guia desde Lisboa. Preço por pessoa em quarto duplo: €1750,00 Informações e reservas nos balcões de venda da Sede e Delegações Sede/Loja do Turismo: Calçada de Sant’Ana 180, 1169-062 Lisboa Telf. 210027160/61/62 fax: 210027170 e-mail: [email protected] endereço: www.inatel.pt CUPÕES CLUBE TEMPO LIVRE NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2006 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2006 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2006 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2006 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2006 Remeter para Clube Tempo Livre – LIVROS, Calçada de Sant’Ana nº 180 – 1169-062 Lisboa, o seguinte: G Pedido, referenciando a editora e o título da obra pretendida; G Cheque ou Vale dos Correios, correspondente ao valor (PVP) do livro, deduzindo 2,74 euros de desconto do cupão. G Portes dos Correios referente ao envio da encomenda, com excepção do estrangeiro, serão suportados pelo Clube Tempo Livre. Em caso de devolução da encomenda, os custos de reenvio deverão ser suportados pelo associado. CLUBE TEMPO LIVRE NOVOS LIVROS AMBAR CAMPO DAS LETRAS O GRANDE PINTOR Conceição de Sousa Gomes 32 pg. | 12 (PVP) Com este livro as crianças podem descobrir quem foi Júlio Resende. Desde a sua infância ao interesse pela pintura, vão poder desvendar como enchia dezenas de folhas de papel com os seus desenhos, acompanhar a sua paixão por Goya e o sonho de ser um grande pintor. ARTE PLURAL ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA PARA BEBÉS E CRIANÇAS Gabriela Oliveira 136 pg. |10 (PVP) Conheça as vantagens de uma alimentação natural, rica e equilibrada, que contém todos os nutrientes essenciais. Nesta obra apresentamos mais de oitenta receitas, adaptadas aos mais pequenos, a partir dos 4 meses de idade, e adequadas a todas as refeições. GOLFE - DICAS E SEGREDOS Jaime Bernardes 136 pg. |11 (PVP) Guia prático sobre este desporto de elite, com informações básicas: módulos de competição, regras, tacadas e outras dicas e segredos, além de um microdicionário. 74 TempoLivre Dezembro 2006 IRMÃS DO DOURO - UMA HISTÓRIA PORTUGUESA Edward Quillinan 192 pg. | 10,50 (PVP) Com as invasões francesas como pano de fundo, o livro relata o relacionamento entre duas irmãs, filhas de um fidalgo duriense da Teixeira, e dois oficiais do exército britânico que estavam em Portugal para ajudar a expulsar os franceses invasores. Pelo caminho, o autor oferece uma curiosa visão do país na época, através da descrição da paisagem nortenha, das pessoas, dos costumes e da cultura portuguesa. CANÇÕES DE AMOR EM LOLITA’S CLUB Juan Marsé 272 pg. | 15, 75 (PVP) Qualquer mulher sentada num bar de alterne à espera de clientes sabe que o comportamento de um homem que perdeu tudo menos a vida é um mistério. Quem não acreditar, que pergunte às raparigas do Lolita’s Club, um tugúrio nos arredores de Barcelona, onde Nancy, Bárbara e Milena vendem carícias a granel, enquanto Dona Lola atende ao balcão e negoceia com os chulos do costume. COLIBRI MOINHO DE MARÉ DO CAIS DAS FALUAS O RENASCER DE UMA MEMÓRIA (MONTIJO) AAVV 115 pg. | 8,40 (PVP) Nesta edição inserem-se à luz da arqueologia, da tecnologia tradicional e da etnografia uma pormenorizada notícia sobre as específicas e complexas acções de recuperação do Moinho de Maré do Cais das Faluas. ANTIGOS CONVENTOS DO ALGARVE - UM PERCURSO PELO PATRIMÓNIO DA REGIÃO Catarina Marado 180 pg. | 30 (PVP) Antigos Conventos do Algarve tem as características de um inventário do património, mas que, pretende principalmente demonstrar a importância das fundações regulares na formação e consolidação do território algarvio, das suas cidades e da sua arquitectura e, ainda, contribuir para uma maior consciencialização da necessidade de preservação deste importante legado patrimonial. EDITORIAL PRESENÇA DE MÃOS DADAS COM O AMOR Jan Goldstein 160 pg |12,50 (PVP) Um admirável romance que nos leva até Jennifer, a protagonista da obra, numa desesperada tentativa de suicídio na magnífica praia de Venice, Califórnia. Jennifer é salva e face ao desafio da vida é a sua avó, que lhe dá a maior dádiva que um ser humano pode conceder a outro – a compreensão do que verdadeiramente importa e um fervoroso amor à vida. AS MENTIRAS DO MARKETING Seth Godin 176 pg. | 12,50 (PVP) O autor procura transmitir um conceito de marketing adaptado aos dias de hoje. Num estilo irreverente e bem-humorado, aborda questões importantes para transmitir o essencial da sua mensagem: Uma boa história é a que gera uma satisfação genuína no consumidor. É fonte de lucro e crescimento e é o futuro de uma organização. EUROPA-AMERICA O SENHOR DA CHARNECA Ruth Rendell 196 pg. | 19,90 (PVP) Fora já encontrada uma vítima… jovem, loira, com o rosto desfigurado e a cabeça rapada. Aparentemente, assassinada sem motivo nem piedade. Agora, a velha e traiçoeira charneca convertera-se no mundo inteiro, num sombrio e perigoso centro de todas as atenções. Um empolgante e surpreendente policial a não perder! HISTÓRIA MERDOSA DE QUASE TUDO A. Parody 172 pg. | 13,50 (PVP) Eventos sombrios e desenvolvimentos pouco usuais, numa obra de assuntos corriqueiros. Por exemplo, sabia que Drusus César, filho do Imperador Tibério, adorava brócolos de tal forma que quase não comia mais nada, e que só parou porque começou a urinar verde? Ou que os antigos egípcios caminhavam longas distâncias descalços com as sandálias aos ombros e que só as calçavam quando chegavam ao seu destino? CARTAS DO PAI NATAL J. R. R. Tolkien 112 pg. | 22,90 (PVP) Os filhos de Tolkien recebiam, em Dezembro, um envelope com um selo do Pólo Norte. Lá dentro, estava uma carta numa estranha letra aracnóide e um desenho belamente colorido. Eram cartas do Pai Natal que contavam maravilhosas histórias e que vão, agora, encantar o leitor, independentemente da sua idade. CRISTO, O SENHOR – A FUGA DO EGIPTO Anne Rice 256 pg. | 18, 90 (PVP) Fruto de uma pesquisa minuciosa, este livro revela a infância de Cristo e a crescente tomada de consciência dos seus poderes sobre-humanos, a dificuldade em compreender a sua origem e nascimento. ROMA EDITORA O PAÍS A RAIOS X – ESTADO CRÍTICO Lauro Portugal 182 pg. | 12 (PVP) A apresentação de casos da vida portuguesa, cujo realismo atravessa o campo ficcional, dá-se neste volume através de sublimada ironia. Esta, porém, mais não é que uma figura de estilo que o autor utiliza, não como recurso depreciativo, mas como aguilhão contra a dormência do país, que lhe cerceia o querer melhorar. NABOS NA COZINHA – CULINÁRIA PARA PRINCIPIANTES António Gomes de Almeida (texto) Artur Correia (capa e ilustrações) 160 pg. |23,90 (PVP) Um livro original, recheado de receitas, que são, logo desde o princípio, de fazer crescer água na boca. Mas há também conselhos, lista de equipamentos essenciais, normas de utilização e porções de alimentos, dicas para uma cozinha fácil. No final, uma fantástica banda desenhada faz a recriação da gastronomia portuguesa desde o Paleolítico até à era actual. NEO-REALISTAS DE VILA FRANCA DE XIRA José Rogeiro 146 pg. 12 (PVP) Entre 1936 e 1942, os jovens elementos do Grupo NeoRealista de Vila Franca distinguiram-se pelas iniciativas – culturais, educativas e cívicas – que promoveram e pelos textos que escreveram. Vila Franca de Xira não poderá esquecer Alves Redol, Dias Lourenço, Garcez da Silva, Bona da Silva, Arquimedes da Silva Santos, Carlos Pato, Rodrigues Faria, Jorge Reis, Júlio Graça e Álvaro Guerra. Com acrescida razão pelo notável percurso no domínio das letras e da cultura que vários deles viriam a prosseguir. SINAIS DE FOGO A ARTE DE VIVER Miguel Bacelar 108 pg. | 7 (PVP) Cada vida é única, com as suas experiências muito próprias, com vivências e situações diferentes. Há, porém, pequenas regras fáceis de implementar que podem proporcionar-nos grandes benefícios. De uma forma clara e directa, este livro ajuda-nos a reflectir sobre nós, os outros e o mundo à nossa volta e a descobrir a força interior que nos ajudará a mudar e a melhorar a nossa vida. TOP 100 PLANTAS MEDICINAIS - tratamentos seguros e eficazes para 100 problemas de saúde frequentes Anne McIntyre 128 pg. | 11,70 (PVP) A eficácia das plantas na cura ou no alívio de algumas doenças tem sido confirmada ao longo dos tempos. Nesta obra, encontra uma lista de benefícios e conselhos para utilizar 50 plantas medicinais, desde o aloé à aveia, e um conjunto de tratamentos adequados os 100 problemas de saúde mais frequentes. TEXTO EDITORES PAI NATAL NÃO EXISTE Nilton 207 pg. | 13,99 (PVP) Um livro de humor que conta histórias como a do homem que descobriu que o sentido da vida é para a esquerda; do super-herói descontente com as condições de trabalho; do homem que tem um talento especial para nada e de muitas outras personagens que o autor julga ter conhecido. Explica ainda que o Pai Natal não existe e tem a particularidade de usar todas as letras do alfabeto, coisa nunca antes vista. ESTÓRIAS DO SERAFIM António Jorge Teixeira Serafim 95 pg. | 14,99 (PVP) Popularizado através do programa de televisão «Levanta-te e Ri«, o autor presenteia-nos agora com a sua incomparável prosa e um DVD. Desta vez quem não teve nada a ver com assuntos de beijação foi o galã de balho Manecas Pelicano Sardinha, apaixonado por Florinda Maria Meias-Solas, a tal cujo irmão Toino Marceneiro, ainda a acreditava possuída de uma rola mais santa que a das outras. Dezembro 2006 TempoLivre 75 CLUBE TEMPO LIVRE ROTEIRO Roteiro Inatel de actividades culturais e desportivas BRAGA Cultura ESPECTÁCULOS: dia 1 às 21h30 - o Gr. de Fados do Conjunto “Velha Guarda” em Nogueiró; dia 3 às 15h Plácido Santos em Celeiros; dia 10 às 15h – Magia com Karter Mendes no Estúdio Galécia em Braga; dia 15 às 15h – Magia com Karter Mendes em Escudeiros; dia 16 às 14h30 – Gr. Musical de Animação da Casa do Povo de Gondifelos em Vilaça; dia 17 às 15h Magia com Karter Mendes em Barreiros, Amares; dia 17 - Ventríloquo João Alves em Cabreiros; dia 23 às 21h - Palhaços do Gr. de Teatro da Silva em Valdosende. TEATRO: dia 3 às 21h30 – a peça “Peixeiradas” pelo Gr.de Teatro do Centro Social de Campelos, no Bugio; dia 11 às 21h - peça “Mãos de Pó” pelo TIN.BRA no Parque de Exposições de Braga; dia 16 às 15h - peça “Manta de Retalhos” pelo Gr. de Teatro do Centro Social de Campelos, na Escola André Soares, em Braga. ESCOLAS DE LAZER: cursos de Danças de Salão e Latino Americanas, Tapeçarias de Arraiolos, Bordados Regionais e Confecção, Artes Decorativas, Reciclagem, Pintura, Guitarra Clássica, Cavaquinho e Canto. Desporto ATLETISMO: dia 3 – prova de estrada no 73º Aniv. da Junta de Freg. de S. Vicente; dia 10 – Camp. Distrital de corta-mato; dia 16 – prova de Corta-Mato, G.P.A.M. Emboladoura, 76 TempoLivre Dezembro 2006 Gondar; dia 27 – prova de estrada, 31ª São Silvestre, em Braga. TÉNIS DE MESA: dia 23 Torneio de Natal VOLEIBOL: dia 15 – início do Torneio de Inverno XADREZ: dia 6 – Torneio de Natal; dia 20 – Camp. Distrital de Equipas FUTEBOL: Sábados e Domingos – decorrem jornadas do Camp. Distrital GINÁSTICA: Classes de Manutenção na Delegação e no Pavilhão de Guimarães JUDO: dia 16 – Torneio de Natal e Classes Infantis, Juvenis e Adultos na Delegação COIMBRA Cultura CONCERTOS DE NATAL: dia 2 às 21h30 na Igreja da Sé Velha em Coimbra; dia 9 às 21h30 na Igreja de S. José; dia 10 às 15h30 na Igreja Paroquial de Condeixa e às 21h30 na Igreja Matriz da Lousã; dia 13 às 17h Concerto dos Alunos da Escola de Música do Inatel, na Delegação; dia 15 às 21h30 no Lions Club da Figueira da Foz; dia 22 às 21h30 no Cine Teatro da Lousã; dia 23 às 16h no Salão da Filarmónica da Pocariça e às 21h na Soc. Musical Santanense e na Igreja Matriz de Mira. MÚSICA: dias 1,2,3,8,9,10 – Master Classe/2006, Metais pela Filarmónica União Taveirense em Taveiro; dia 10 às 10h - Encontro de Bandas em Vila Nova de Poiares. ETNOGRAFIA: dia 16 ás 21h30 – Encontro de Cantares Natalícios em Ançã; dia 16 – Encontro de Cantares Natalício do Bairro do Brinca, na Capela do Loreto em Coimbra MAGIA: dias 9 às 15h – Espectáculo de Magia, por Luis Rodrigues, na Assoc. Recr. Cultural de Mira e dia 10 na Assoc. Desenv. e Formação Prof. de Miranda do Corvo. TEATRO: “21º Ciclo de Teatro de Outono” dia 2 às 21h30 - “Médico à força” de Molière, pelo Gr. Teatro Amador da Praia de Mira na Assoc. Cult. Desp. de Vinha da Rainha; dia 2 às 21h30 - “Um caso raro de loucura”, de Henrique Galvão, pelo teatro Amador de Ribeira de Frades na Casa do Povo de Espariz e “Casa de Pais” de Francisco Ventura pelo Gr. Cénico de Ourentã, na Assoc.Cult. Desp. de Seixo de Mira Festas de Natal: dia 8 às 21h – Festa na Assoc. Cultural do Areeiro com o Gr. Só-Música; dia 12 às 16h - Palestra e Concerto Coral “Evocação Natalícia” no Arquivo da Universidade de Coimbra; dia 15 às 21h30 – “Sons de Natal” na Assoc. Arte e Cultura do Concelho de Cantanhede; dia 16 – Gr. Típico de Ançã na Festa de Natal do Idoso em Ançã. CURSOS: dia18 a 23 – Curso Distrital de Jovens Músicos, na Delegação e Concertos do Curso de Jovens Músicos. ESCOLA DE LAZER: cursos de Iniciação à Cerâmica e à Pintura, na Delegação. Desporto ATLETISMO: dia 3 - Estafeta de S. Frutuoso, prova de estrada em F. Frutuoso; dia 17 – Torneio de Abertura de Corta Mato em Febres, Lagoa dos Cedros. FUTEBOL: dias 3, 10 e 17 – jornadas do Camp. Dist. Actividades Básicas: Classes de Ginástica, Judo e Natação, informações na Delegação. GUARDA ESCOLA DE PARAPENTE: cursos de Piloto Autónomo e Baptismos de Voo em bilugar, em Linhares da Beira (telef. 271 776 590 ou 271 212730). LEIRIA Cultura EVENTO: “62.º Aniv. da Delegação” dia 9 às 15h Entrega de Certificados a novos CCDs e animação no Teatro Miguel Franco e às 21h 30 – Concerto pelo Coro de Câmara de Lisboa no Teatro Miguel Franco. Natal, com Rancho Folcl. do Porto na Delegação. ESCOLAS DE LAZER: Cursos Workshop de Natal, iniciação ao Inglês e à Pintura, Danças de Salão, Salsa e Merengue, Tapeçarias e Bordados. Informações na Delegação. da Serra em Tomar; dia 15 às 19h – Gr. de Palhaços “Os Trabucas” nos B.V. de Torres Novas; dia 23 às 21h – Gr. de Palhaços “Família Monteiro” na Casa do Povo de Montalvo, Constância. Desporto FUTEBOL 11: decorre o Camp. Distrital ATLETISMO: dia 17 às 10h – Camp. Dist. de Corta-Mato ACTIVIDADES BÁSICAS: Cultura Classes de Hidroginástica, Ginástica de Manutenção e Aérobica, na Delegação CAVAQUINHOS: dia 19 às LISBOA T E AT R O DA Sala Principal Cultura WOK RITMO AVASSALADOR no Parque Desportivo de Ramalde XADREZ: dias 4 e 11 – Camp. Distrital TÉNIS DE MESA: dias 4 a 27 – Camp. Distrital Basquetebol: dias 6 a 16 – Camp. Distrital. dias 7 a 17 SANTARÉM Sala Estúdio: Cultura TIMBUKTU até 3 Dez Teatro Bar: ELAS SOU EU (O QUE A GENTE FAZ PARA PAGAR A RENDA) até ao dia 16 PORTO Cultura FESTIVIDADE: dia 14 às 21h30 - Autos e Cânticos de MÚSICA: dia 1 às 14h30 – Sociedade Filarmónica Payalvense “Manuel de Mattos” em Curvaceiras; dia 16 às 14h30 – Gr. de Música Popular “Cantares da Charneca” em Moçarria e Gr. de Música Popular “Os Cavaquinhos” no Centro de Apoio social da Carregueira; dia 23 às 21h30 – Gr. Musical “Prata da Casa” no Grupo Desp. e Recreativo “Os Esparteiros” de Mouriscas. PALHAÇOS: dia 9 às 16h30 – Gr. de Palhaços “Família Monteiro”, na Assoc. Cultural Desp. e Recreativa Classes de Ginástica na Delegação. Desporto SETÚBAL TRINDADE ACTIVIDADES BÁSICAS: EVENTO: dia 15 às 18h Eleição da Miss e Mister de Setúbal na Delegação ARTES: dia 16 às 16h Exposição de Pintura e Fotografia – Workshop de instrumentos de cordas, às 22h30 – Música alternativa por Grupos amadores e às 24h – Espectáculo audiovisual de interacção com o público, pelo Gr. de Dança e Teatro Alternativos, na Delegação FESTAS DE NATAL: dias 14, 17, 18, 19, 20, 21 e 22 decorrem festas de Natal na Delegação Desporto ATLETISMO: dia 3 – Camp. Distrital de Corta-Mato no Barreiro; dia 30 – São Silvestre no Faralhão. FUTEBOL: decorrem provas do Camp. Distrital de Futebol TÉNIS DE MESA: decorre o Camp. Distrital de Ind. no Barreiro e Setúbal TIRO: decorre o Torneio Reg. de Tiro 10m de CACR e CACP. VIANA DO CASTELO 14h30 - “S. Martinho, Castanhas e Cavaquinho”no Centro de Cult. de Campos. Escolas de Lazer: cursos de Bordados e Meias Rendadas, Folclore, Cavaquinho e Concertina, informações na Delegação Desporto PEDESTRIANISMO: dia 9 às 9h - Percurso Pedestre “Trilho do Santo” em Ponte de Lima. ATLETISMO: dia 17 – Camp. Distrital de estrada em Vila de Punhe, Barroselas FUTEBOL: dias 3, 10, 17 – jornadas do Camp. Distrital EVENTO: dia 8 às 20h Cerimónia de Entrega de Prémios da Época Desportiva 2005/2006 no Clube de Tiro Desportivo de Carreço. VISEU Desporto TIRO AO ALVO: dia 2 às 14h - prova na Lapa do Lobo FUTEBOL 11: dias 3, 10 e 17 às 15h - provas do Camp. Distrital GINÁSTICA: –Classes de Manutenção no Pavilhão Gimnodesportivo de Viseu. Dezembro 2006 TempoLivre 77 A CHEFE SUGERE |ANTÓNIA MARTINS | INATEL CERVEIRA Cozido à Minhota Este tradicional repasto das terras do Alto Minho remonta a uma chamada economia de montanha, onde predominam as carnes de porco, que antigamente eram salgadas para conservação e os não menos típicos enchidos. Os restantes ingredientes são também das terras locais, desde a couve, nabo e cenoura ao vinho. O Cozido é, por excelência, um método culinário que poderá ser considerado saudável visto que não se INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS: 300g de carne de vaca (aba), 200g de chispe e unha (com osso), 1 orelha de porco, 100g de costeleta de porco, 150 g de frango, uma farinheira, 1 chouriço moura, 1 chouriço de carne., 1 nabo., 2 batatas, 500g de couve coração, 300g de couve penca (Portuguesa), 2 cenouras médias, 0,5 l de vinho para tempero, 1 folha de louro, 4 dentes de alho, sal q.b.. PREPARA-SE ASSIM: Na véspera, lavamse a orelha e a unha de porco. Temperamse as carnes de porco com vinho, sal, alho e louro e deixa-se a marinar para o dia seguinte, em recipiente tapado, no frigorífico. Em alternativa, poder-se-á optar por carne de porco salgada, sendo que nesse caso não se colocará mais sal. Numa panela com água a ferver, colocamse as carnes de porco e vaca, a cozinhar. Ao fim de algum tempo (cerca de 45 minutos), junta-se o frango e os enchidos e deixa-se cozinhar. Passada meia hora, adiciona-me as couves, a cenoura e o nabo partidos ao meio, com cortes longitudinais (em quartos, caso sejam muito grandes). Por fim, adicionam-se as batatas cortadas e rectificam-se os temperos. Depois de cozido, cortam-se os enchidos às rodelas e as carnes às fatias ou em pedaços. Serve-se quente, acompanhado de arroz branco. adiciona gordura na confecção e os alimentos mantêm as características nutricionais na sua quase totalidade. O cozido à Minhota é um prato que poderá ser de difícil digestão e que possui um elevado valor energético, pelo que se sugere uma redução nas quantidades ingeridas, nomeadamente no que diz respeito aos enchidos e carnes de porco. Sugere-se também que sejam retiradas as partes gordas visíveis das carnes, bem como a pele do frango antes da confecção. Desta forma, irá poder saborear um prato delicioso, de forma mais saudável. COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL POR PESSOA: • 54g de proteínas; • 91g de gordura; • 32g de hidratos de carbono; • 7g de fibra; • 976Kcal INFORMAÇÕES E RESERVAS: INATEL CERVEIRA Lovelhe, 4920-236 Vila Nova de Cerveira Tels: 251 708 360/61 - Fax: 251 795 050 Email: [email protected] Dezembro 2006 TempoLivre 79 moradas Sede Calçada de Sant’Ana, 180 1169-062 LISBOA Telf: 210 027 000 Fax: 210 027 027 e.mail: [email protected] endereço: www.inatel.pt Delegações e Subdelegações ANGRA DO HEROISMO Beco do Pereira, 4 9701-868 ANGRA DO HEROISMO Tel. 295 213 407 /215 038 Fax. 295 212 233 [email protected] AVEIRO Av. Dr. Lourenço Peixinho,144/146 Edificio Oita - 4º E 3800-160 AVEIRO Tel. 234 405 200 / 207 Fax.234 405 208 [email protected] BEJA Rua do Vale, 14, 7800 - 490 BEJA Tel. 284 318 070 Fax. 284 323 163 [email protected] BRAGA Av. Central, 77, 4710-228 BRAGA Tel. 253 613 320 Fax.253 214 202 [email protected] BRAGANÇA R. Alexandre Herculano, 111 - 1º, 5300-075 BRAGANÇA Tel. 273 331 653 Fax. 273 326 947 [email protected] COIMBRA R. Dr. António Granjo, 6 3000 - 034 COIMBRA Tel. 239 853 380 Fax.239 853 384 [email protected] COVILHà “Casa de Agostinho Roseta” Av. Frei Heitor Pinto, 16-B 6200-113 COVILHà Tel. 275 335 893 Fax.275 327 276 [email protected] ÉVORA “Palácio Barrocal” Rua Serpa Pinto, 6 7000-537 ÉVORA Tel. 266 730 520 Fax. 266 730 521 [email protected] FARO “Casa Emílio Campos Coroa” Rua do Bocage, 54 8004 - 020 FARO Tel. 289 898 940 Fax. 289 823 521 [email protected] FUNCHAL Rua Alferes Veiga Pestana, 1 L, sala 25 9050-079 FUNCHAL Tel. 291 221 614 Fax.291 228 147 [email protected] GUARDA R. Mouzinho da Silveira, 1 6300-735 GUARDA Tel. 271 212 730 Fax.271 215 779 [email protected] HORTA R. Comendador Ernesto Rebelo, 10 9900 - 112 HORTA Tel. 292 292 812 Fax.292 293 147 [email protected] LEIRIA “Casa Miguel Franco” R. João XXI, 3-A r/c - Loja D 2410-114 LEIRIA Tel. 244 832 319/834 017 Fax. 244 834 735 [email protected] PONTA DELGADA Rua do Contador, 73-A 9500 - 050 PONTA DELGADA Tel. 296 284 684 Fax. 296 283 166 [email protected] PORTALEGRE Largo de São Bartolomeu, 2 e 4, 7300-101 PORTALEGRE Tel. 245 203 675/207 593 Fax. 245 207 569 [email protected] PORTO Casa “Jorge de Sena” Rua do Bonjardim, 495 4000-126 Porto Tel. 220 007 950 Fax. 220 007 999 [email protected] Tel. 265 543 800 Fax. 265 543 819 [email protected] Tel. 231 930 358 Fax. 231 930 038 [email protected] VIANA DO CASTELO Rua de Stº António, 117 4900 - 492 VIANA DO CASTELO Tel. 258 823 357 Fax. 258 811 644 [email protected] INATEL MADEIRA Madeira - Santo da Serra 9100-267 SANTA CRUZ Tel. 291 550 150 Fax. 291 552 227 [email protected] VILA REAL Av. 1º de Maio, 70-1º D 5000-651 VILA REAL Tel. 259 324 117 Fax. 259 372 592 [email protected] INATEL SERRA DA ESTRELA Manteigas, 6260-012 MANTEIGAS Tel. 275 980 300 Fax. 275 980 340 [email protected] VISEU Rua do Inatel Urb. Quinta do Bosque 3510 - 018 VISEU Tel. 232 423 762/428 727 Fax. 232 423 781 [email protected] INATEL OEIRAS Alto da Barra - Estrada Marginal, 2780-267 OEIRAS Tel. 210 029 800 Fax. 210 029 840 [email protected] Centros de Férias INATEL ALBUFEIRA Av Infante D. Henrique, 8200-862 ALBUFEIRA Tel. 289 599 300 Fax. 289 599 340 [email protected] INATEL CASTELO DE VIDE Rua Sequeira Sameiro, 6 7320 - 138 CASTELO DE VIDE Tel. 245 900 200 Fax. 245 900 240 [email protected] INATEL “UM LUGAR AO SOL” Av. Afonso Albuquerque - S. João de Caparica 2825-450 COSTA DE CAPARICA Tel. 212 918 420 Fax. 212 900 051 [email protected] INATEL ENTRE-OS-RIOS Torre 4575-416 PORTELA PNF Tel. 255 616 059 Fax. 255 615 170 [email protected] SANTARÉM Prta. Pedro Escuro, 10-2º D 2000-183 SANTARÉM Tel. 243 309 010 Fax. 243 309 014 [email protected] INATEL FOZ DO ARELHO R Francisco Almeida Grandela, 17 2500-487 FOZ DO ARELHO Tel. 262 975 100 Fax. 262 975 140 [email protected] SETÚBAL Praça da República 2900-587 SETÚBAL INATEL LUSO Rua Dr. Costa Simões 3050 - 226 LUSO INATEL SANTA MARIA DA FEIRA Santa Maria da Feira 4520-306 SANTA MARIA DA FEIRA Tel. 256 372 048 Fax. 256 372 583 [email protected] INATEL PALACE Termas - São Pedro do Sul 3660-692 VÁRZEA SPS Tel. 232 720 200 Fax. 232 720 240 [email protected] INATEL CERVEIRA Lovelhe 4920-236 VILA NOVA DE CERVEIRA Tel. 251 708 360 a 62 Fax. 251 795 050 [email protected] INATEL PORTO SANTO Cabeço da Ponta 9400 PORTO SANTO Tel. 291 980 300 Fax. 291 980 340 [email protected] INATEL PIODÃO 6285-018 PIODÃO Tel. 235 730 100/1 Fax. 235 730 104 [email protected] INATEL FORNOS DE ALGODRES 6370-401 VILA RUIVA Tel. 271 776 016 Fax. 271 776 034 [email protected] INATEL MONTALEGRE Lugar de Penedones 5470-069 CHÃ/PENEDONES Reservas: 255 616 059 (Inatel Entre-os-Rios) [email protected] INATEL GAVIÃO 6040-999 GAVIÃO Reservas: 245 900 243 (Inatel Castelo de Vide) [email protected] Parques de Campismo INATEL CABEDELO Av. dos Trabalhadores Cabedelo 4900-056 VIANA DO CASTELO Tel. 258 322 042 Fax. 258 331 502 [email protected] INATEL CAPARICA Av. 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[…] / Abri portas fechadas da ignorância […] / Ó compatriota, já não sou o que fui / Sou a mulher que despertou / Encontrei o meu caminho – jamais regressarei.[…] / Ó compatriota, ó irmão, não mais me consideres fraca e inepta. / Com toda a minha força estou contigo na senda da libertação do meu país / A minha voz confundida com a de milhares de outras mulheres que se ergueram.[…] / Ó compatriota, ó irmão, já não sou o que fui / Sou a mulher que despertou / Encontrei o meu caminho – jamais regressarei. Martire Meena, Jamais Regressarei, in “Payam-e-Zan”, nº 1, 1981, Afeganistão. Trad. da versão francesa: MAVF NOITE ALTA. Noite de negrume sólido, morada do vento e da chuva, senhores únicos do silêncio e do enigma da sobrevivência das aves sem ninho e dos humanos sem abrigo. Com o pensamento girando frenético em busca de quase esquecidas, e inúteis, palavras aprendidas na infância (“Dai-lhes, Senhor, a roupa conforme o frio, o alimento para a sua fome…”), fecho o dia de trabalho com a habitual leitura de um jornal on-line. “El Pais.es”: “Jornadas em Barcelona sobre a violência de género no Afeganistão, cinco anos após a queda dos Talibãs”, dias 14 e 15. Não há qualquer diferença entre durante e após os Talibãs, afirma Pawina Heila. Ainda há dias, uma menina de 11 anos foi raptada, violada pelos senhores da guerra e trocada por um cão e algum dinheiro. Há anos que leio e traduzo relatos de crimes contra os direitos da mulher, e não só no Afeganistão. Com burka ou sem burka, com chador ou sem chador (que ela devia poder usar, ou não, em liberdade), a mulher continua a ser vítima de pretensos conceitos culturais. No dia 25 de Novembro, celebrou-se nos “países civilizados” o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, não só afegãs, mas de todo o mundo. A obsidiante recorrência das palavras de um poema lido em tempos, mais grito do que poema, dor milenar, inapaziguável, mas paradoxalmente triunfante, não me permite esquecer a sua autora, Martire Meena, (1957-1987) a mulher que fundou a RAWA e a revista bilingue “Payam-e-Zan”, “A Voz das Mulheres”. Até ser silenciada pela KGB afegã, a palavra é a sua arma contra o fundamentalismo e o opressor, em defesa da liberdade, da mulher afegã – em defesa da mulher oprimida. Assassinada pela KGB, ela é omnipresença nas notícias que leio. E leio: “Nadia sonha com ver de novo o seu rosto.” A história de coragem de Nadia Ghulun faz-me reescrever o texto. Nadia é hoje uma jovem de 21 anos. Aos oito fica com o rosto desfigurado, quando a sua casa, num bairro humilde de Cabul, é atingida por uma bomba. Em 1996, os Talibãs tomam o poder e o irmão de Nadia é assassinado em plena rua. Às mulheres é proibido trabalhar fora de casa. Com a mãe doente, o pai enlouquecido e duas irmãs mais novas, Nadia, com dez anos, veste-se de rapaz, assume a identidade do irmão e sustenta a família com o seu trabalho: escava poços, abre valas, repara bicicletas. O terror constante de ser descoberta é a sua segunda pele. Após a queda dos Talibãs, a Associação para os Direitos Humanos no Afeganistão (ASHDA) financia-lhe os estudos de informática e inglês, o que lhe permite trabalhar numa ONG e prosseguir os estudos de economia. Neste momento, no Hospital Clinic de Barcelona, uma equipa da Fundação de Cirurgiões Plásticos do Mundo vai tentar reconstruir-lhe, gratuitamente, o antigo rosto, para que, reassumida a sua identidade feminina, ao regressar ao seu país ninguém estabeleça qualquer relação entre ela e o adolescente e homem que foi durante os últimos dez anos. “Sei que, de volta ao meu país, não terei, como mulher, os mesmos direitos que tenho como homem. Mas sou mulher e quero vestir roupas femininas”, diz. Jamais, porém, uma burka. Aquietada, finalmente, a fúria do vento e da chuva neste percurso através de Novembro, o dia abre-se com toques de rosa e ouro sobre o mar. Vinda aparentemente do nenhures, uma gaivota fende o espaço e pousa, asas abertas como pétalas de magnólia, no topo do candeeiro granítico que se ergue à altura de um terceiro andar e ali se fica, a contemplar o seu universo, com o olhar e a soberba da águia bicéfala dos Habsburgos. Entre a quietação e o movimento, a pulsação do mundo parece ter-se restabelecido. Aparência de paz. I Dezembro 2006 TempoLivre 81 CRÓNICA |ARTUR QUEIROZ Os amigos de Loanda Eram bichos da noite excepto aos sábados, altura em que prolongavam a madrugada pela manhã e iam directamente dos botequins para o muzongué e os mufetes de kakusso, no quintalão de Mamã Guinhas, coração vagabundo do muceque Rangel. ÀS VEZES, LÁ PARA AS CINCO DA MATINA, invadiam o quintal do Elias Dia Kimuezo, estagiavam suas conversas desgarradas até à hora do almoço, o rei dos cantores cantava seus choros e depois eles partiam, com imprecisões ao nível do gesto e dos passos, para o clube de S. Paulo, outro palácio da boa comida angolense. Intitulavam-se amigos da cidade de S. Paulo da Assumpção de Loanda. Mas amigos, amigos, eram da noite e seus mambos, boleros e meninas que mandavam fama na arte do amor cronometrado mas que para os amigos nunca usaram relógio. Durante anos, faziam seu percurso de boémia, com uma precisão milimétrica. Apareciam ao início da noite na esplanada do Majestic ou do Bar Cravo, em S. Paulo. Depois bebiam e gargalhavam Os boémios amigados com Loanda tratavam-no por D. Duarte, não porque esse fosse o seu nome mas porque era o rei da intelectualidade e muito eloquente como se a vida fosse fácil. Quando os bons chefes de família iam para o lar, eles zarpavam em direcção aos botequins do Bairro Operário onde se encharcavam em vinho traficado nas destilarias do Lobito. Quando Luanda adormecia, eles partiam em magotes barulhentos e enviesados para a Baixa. Ficavam por lá até o dia ameaçar revelar seus rostos amarrotados e cansados. Ainda hoje pairam nas noites de Luanda como fantasmas sem sepultura. Um deles tinha estilo de Marlon Brando e quando mudava de quarto alugado, porque era 82 TempoLivre Dezembro 2006 despejado devido aos atrasos nas rendas, mobilizava o bando para ajudá-lo a transportar umas centenas de livros que eram toda a sua bagagem e só mesmo um branco civilizado tinha coragem de ler. Possuía na sua biblioteca de subúrbio as obras completas do Cavaleiro de Oliveira em francês e um ensaio de mestre Aquilino Ribeiro sobre o escritor que a corja negra condenou à fogueira e queimou em efígie no Rossio. Os boémios amigados com Loanda tratavam-no por D. Duarte, não porque esse fosse o seu nome mas porque era o rei da intelectualidade e muito eloquente. Nas makas de 1961 ele habitava um quarto de adobe e coberto a zinco, no Bairro Operário. Vizinhava kitatas bonitas no quintalão do mais velho Afonso. Elas tinham tanto respeito por ele que até lhe deixavam beijar o sundo, coisa mais proibida que pecar. Estava ele na felicidade dos livros e beijando sundos de kitatas quando as milícias invadiram o bairro, mataram quem bulia e queimaram várias casas. O seu quarto ardeu como um fósforo, juntamente com a sua amada biblioteca. D. Duarte nunca mais bebeu nem falou nem beijou sundos. Um dia voou das muralhas de S. Pedro da Barra para os penhascos da falésia e ainda bem porque nem foi preciso fazer o kombaritokué nem comprar caixão. As gaivotas depenicaram-no e mais tarde as calemas levaramlhe os ossos para o mar do Ambriz. Dizem que a sua alma despedaçada ainda hoje aparece altas horas da madrugada, cacimbo duro, nas vielas do velho Bairro Operário, recitando poemas de amor e pedindo a todos santos uma cabaça de kissangua fresquinha do Bié. Mas já ninguém dá de beber a quem tem sede.I