N.º 177 - Dezembro 2006 - 2,00 euros
Sumário
N.º 177 - Dezembro 2006 - 2,00 euros
do Luso e das suas
águas que curam.
4
EDITORIAL
46
7
O TEMPO E O MUNDO
NOTÍCIAS
47
12
NA CAPA
Foto: José Frade
PERCURSOS
O PRESÉPIO DE
ALENQUER
Raras são as pessoas que não
reconhecem imediatamente a
Alenquer o cognome de vila
presépio. De facto, entre as
variadas razões que a vila tem
para ser (re)conhecida, o
majestoso palco em que se
transforma a sua encosta todos
os anos, desde 1968, é das que
mais atenção atrai.
14
VIAGENS NA
CONCURSO
DE FOTOGRAFIA
20
CPLP (VII)
TIMOR-LESTE:
UM
LONGÍNQUO
AFECTO
Um cooperante
português, Rui
Oliveira e Sousa,
escreve sobre a sua
experiência pessoal no
mais oriental país de
língua oficial
portuguesa,
HISTÓRIA
que pretende
combater preconceitos
e fomentar a inclusão
através da dança.
31
TENDÊNCIAS
O movimento Slow
Food
34
ÓPERAS
PORTUGUESAS
NO TRINDADE
“Rosas de Todo o
Ano”, de Rui Coelho
48
OLHO VIVO
51
BOA VIDA
Consumo/ Livro
Aberto/Artes/Músicas/
Palco/DVD/Cinema/
À Mesa/ Saúde/
Informática/
Ao Volante/
Palavras da Lei
70
CLUBE TEMPO LIVRE
24
36
79
OFÍCIOS
PAIXÕES
A CHEFE SUGERE
Mestre Fernando e o
sonho de uma escola
de “yolle”
Madalena Viana – o
apego da água
Cozido à minhota Inatel Cerveira
38
81
DESPORTO INATEL
O TEMPO
O regresso de Jorge
Coroado
E AS PALAVRAS
28
SOLIDARIEDADE
DANÇAR COM
A DIFERENÇA
Criado há cinco anos,
o Grupo Dançando
com a Diferença
integra pessoas com e
sem deficiência. Tratase de um projecto
pioneiro em Portugal
40
Maria Alice Vila
Fabião
TERRA NOSSA
82
LUSO-BUÇACO
CRÓNICA
Um extenso e
minucioso olhar pela
mais deslumbrante
mata nacional, vizinha
Artur Queiroz
Revista Mensal: e-mail: [email protected] - Propriedade do INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores) Presidente: José Alarcão Troni VicePresidentes: Luís Ressano Garcia Lamas e Vítor Ventura Sede do INATEL: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax 210027061, Nº Pessoa Colectiva:
500122237 Director: José Alarcão Troni Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: Ana Santos, André Letria,
Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Eduardo Raposo, Francisca Rigaud, Gil Montalverne, Helena Aleixo, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Durão, José
Jorge Letria, Maria Augusta Drago, Marta Martins, Paula Silva, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Barrocas, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro.Cronistas: Alice
Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Maria Alice Vila Fabião, Fernando Dacosta, João Aguiar, Luís Miguel Pereira, Rogério Vidigal.
Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA Telef. 210027000 Fax: 210027061 E-Mail [email protected] Publicidade: Tel. 210027187 Pré-impressão e
impressão – Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, SA. Casal Stª Leopoldina, 2730-052 Queluz de Baixo. Telef. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo
de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 176.069 exemplares
Editorial
JOSÉ ALARCÃO TRONI
Presépio de Alenquer
A Tempo Livre publica o seu número de Natal e Ano Novo. É, pois, com o
maior gosto e honra que desejo à Família INATEL um Santo Natal de 2006 e
um Bom Ano de 2007.
Constituem a Família INATEL cerca de 4 milhões de
portugueses, que escolheram o Instituto para seu amigo
e parceiro no Turismo para Todos, na Cultura para
Todos, no Desporto para Todos, nas tardes e noites do
Teatro da Trindade, das Escolas do Lazer e das
Academias Seniores, bem como na leitura mensal da
Tempo Livre. Refiro-me às famílias dos nossos 250 mil
associados, nos quais se incluem os 800 colaboradores,
dos 300 mil sócios de 4.200 CCDs – Centros de Cultura
e Desporto, em Portugal e na Diáspora, bem como dos
mais de 500 mil concidadãos, beneficiários, em dez
anos, dos Programas Seniores.
O voto de Natal que me permito formular é no sentido
de que os 14 milhões de Portugueses – os 10 milhões residentes em Portugal e os 4 milhões na Diáspora – encontrem no INATEL o seu privilegiado parceiro e amigo no
Turismo, na Cultura, no Desporto, no Repouso, no
Convívio, na Leitura e na Ocupação dos Tempos Livres.
A concretização deste sonho constituiu razão e estímulo do nosso trabalho quotidiano, ao longo de mais
um ano, prestes a findar, assim como da aposta na permanente melhoria da capacidade de resposta e da qualidade da oferta dos serviços do INATEL.
EQUILÍBRIO ORÇAMENTAL
A pouco menos de um mês do fim do ano, é ainda prematura uma palavra definitiva sobre a previsão do balanço em 31 de Dezembro de 2006. No entanto, a execução orçamental – pautada, na coluna da receita, pelo
sensível incremento da contribuição dos jogos sociais, a
cargo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, e na da
despesa, pela manutenção da política de austeridade e
contenção dos custos – aponta para um quarto balanço
consecutivo em situação de equilíbrio financeiro, como,
felizmente tem vindo a ser conseguido, desde 2003, pela
Direcção, a que tenho a honra de presidir.
Caso se revele possível a repetição – pela segunda vez
na última década – de novo resultado marginal positivo,
4 TempoLivre
Dezembro 2006
como no balanço de 2004, este sucesso constituirá excelente recompensa e estímulo para o desempenho da
nossa comunidade de trabalho, em vésperas da externalização do INATEL, segundo o modelo fundacional
que constitui a matriz da memória histórica e da cultura
da instituição.
Na verdade, o sucesso institucional do INATEL e a
melhoria quotidiana da qualidade dos serviços que
presta, passarão, necessariamente, pelo auto-financiamento e pela saúde das contas, o que se revelará possível se os 250 mil associados individuais, os 4.200 CCD´s
e os 500 mil beneficiários dos programas sociais garantirem, nos próximos anos, aos centros de férias taxas de
ocupação de 90% a 100% na época alta, 70% a 80% na
média e 50% a 60% na baixa. É para estes ambiciosos
objectivos que trabalhamos, confiando no envolvimento
e afectividade da grande Família INATEL.
FUNDAÇÃO
Na sequência do PRACE – Programa de Reestruturação
da Administração Central do Estado, aprovado pela
Resolução do Conselho de Ministros nº 39/2006, de 30
de Março, a recentíssima Lei Orgânica do Ministério do
Trabalho e da Solidariedade Social, aprovada pelo
Decreto-Lei nº 211/2006, de 27 de Outubro, determinou,
no nº 3 do artigo 39ª, a externalização do INATEL, nos
seguintes termos: “O Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores deixa
de integrar a administração central do Estado, através
da aprovação de novo enquadramento jurídico de fundação de direito privado e utilidade pública”.
Considerando que os orçamentos dos institutos públicos a externalizar da Administração Central do Estado
integram, ainda, a Proposta de Lei do Orçamento de
Estado para 2007 – em discussão, na especialidade, pela
Assembleia da República – o Ministério das Finanças e
da Administração Pública, coerentemente, definiu,
como orientação, a aprovação, pelo Governo, da refor-
ma estatutária das referidas instituições, no decurso do
próximo ano, se possível, no primeiro semestre, com
vista à conclusão dos diversos processos legislativos,
antes do início da Presidência Portuguesa da União
Europeia, a 1 de Julho.
Nesta perspectiva, a primeiríssima prioridade da
Direcção – com o envolvimento dos outros órgãos
estatutários, Conselho Geral e Comissão de Fiscalização
– será a proposta a Sua Excelência o Ministro do
Trabalho e da Solidariedade Social, no primeiro
trimestre de 2007, dos ante-projectos do Estatuto e
demais regulamentação complementar do INATEL –
Investimentos e Actividades dos Tempos Livres dos
Trabalhadores, como fundação de direito privado e utilidade pública administrativa.
Pessoalmente, considero ideais, para datas de
extinção do INATEL, instituto publico e de constituições do INATEL fundação, os dias 31 de Dezembro de
2007 e 1 de Janeiro de 2008. Estas datas obviariam o balanço de extinção e o orçamento intercalar, desenquadrados da Lei do Orçamento de Estado (LOE), o
que se revelaria, sempre, muito complexo numa instituição, de grande dimensão e geograficamente muito dispersa como o INATEL.
TERMALISMO
O INATEL acaba de ser convidado para presidir à
Comissão de Comunicação e Marketing da ATP – Associação das Termas de Portugal.
No desempenho do honroso mandato, o INATEL
procurará acentuar a orientação do Programa Saúde e
Termalismo Sénior no sentido da sua progressiva extensão ao maior número possível de estancias termais e
respectiva hotelaria – cerca de 40 termas – potenciando
ao máximo a vocação do Programa como instrumento
de desenvolvimento do turismo termal e de saúde e do
tecido empresarial ligado ao termalismo, em benefício
de municípios, freguesias e empresas de grande interioridade, como é o caso da maioria das localidades termais
portuguesas.
O INATEL representa cerca da 10% do mercado termal
do país – com 10.000 termalistas, associados ou beneficiários
do Programa Saúde e Termalismo Sénior – o qual ronda os
100.000 clientes de balneários e hotéis termais.
Prevê-se que, no âmbito do Programa Saúde e
Termalismo Sénior – 2007, o INATEL inicie o intercâmbio com o seu congénere espanhol IMSERSO – Instituto
das Migrações e Serviços Sociais, envolvendo mil termalistas de cada um dos países ibéricos.
Dezembro 2006
TempoLivre 5
>>>Editorial
CIOFF - PORTUGAL
No exercício da presidência do CIOFF-Portugal, Secção
Portuguesa do Conselho Internacional das Organizações de Festivais de Folclore e Artes Tradicionais,
organização internacional parceira cultural da UNESCO, o INATEL promoverá a articulação necessária com
a Comissão Nacional da UNESCO, o Governo Central e
os Governos Regionais, as Universidades, os Municípios e os agrupamentos de etnografia e folclore, com
vista à classificação do melhor da Cultura Tradicional
Portuguesa como Património Cultural Imaterial da
Humanidade.
Na verdade, no momento em que o destino turístico
Portugal assume a dimensão de desígnio nacional, as
nossas cidades, vilas, aldeias históricas, monumentos,
sítios, paisagens, etnografia e folclore, classificados pela
UNESCO como Património Cultural da Humanidade, em muito
valorizam a Nação Portuguesa na
bolsa internacional dos roteiros
turísticos.
A defesa do nosso património
cultural - edificado, natural e imaterial – constitui acrescido dever
de cidadania dos portugueses e
responsabilidade social dos Governos – Central e Regionais –,
Universidades, Municípios, INATEL, movimento associativo da etnografia e folclore e sociedade civil.
A UNESCO classificou, até hoje, como Património
Cultural da Humanidade, treze conjuntos monumentais
e paisagísticos de Portugal e mais dezassete outras cidades
e monumentos construídos pela Nação Portuguesa nos
antigos Império e Padroado, com destaque para Mazagão
(Marrocos), Brasil, África Lusófona, Estado da Índia
(Velha Goa), Sri Lanka (Galle) e Macau. É, felizmente,
muito extensa a carteira de candidaturas de Portugal à
classificação pela UNESCO como Património Cultural da
Humanidade – construído, natural ou imaterial – dos conjuntos urbanos ou monumentais e da riquíssima etnografia, folclore, usos, costumes e dialectos das diversas
regiões e localidades do nosso país.
ALENQUER – VILA PRESÉPIO
Diz a Constituição do CIOFF que “não é um homem do
mundo quem não tem uma aldeia no coração”. Ora,
permita-se-me o apontamento pessoal, a aldeia que
tenho no coração é a Vila-Presépio de Alenquer, terra
6 TempoLivre
Dezembro 2006
das minhas origens familiares paternas, capa e conteúdo monográfico da Tempo Livre do Natal deste ano.
Em 1887, meu bisavô, Augusto Troni, assumiu o partido médico municipal de Alenquer, onde fixou residência e exerceu medicina, até ao fim dos seus dias, distinguindo-se como grande benemérito.
Seus filhos, netos e bisnetos nasceram, viveram e morreram em Alenquer. Saliento que, ao longo de mais de
um século, uma dinastia de médicos da família Troni
tratou as populações dos concelhos do Oeste, especialmente Alenquer e Torres Vedras, desde a Borda d’Água,
em Vila Franca de Xira, às praias do Atlântico.
Refiro-me ao próprio Augusto Troni, a seu filho, Alfredo
Troni, médico na Merceana, ao genro Duarte Rosa Ramos,
clínico em Alenquer e ao neto Augusto Troni, recentemente falecido, médico em Torres Vedras, antigo director do hospital da cidade e presidente de referência da “Física de
Torres”.
Espero que a trineta Leonor,
que escolheu a Medicina como
projecto de vida, continue, nas
próximas décadas, a acção profissional e benemerente dos seus
antepassados próximos.
Finalmente, meu avô, Augusto
Troni, foi provedor da Misericórdia de Alenquer, durante longos anos, tendo-lhe,
nesta vila, nascido os oito filhos, entre os quais meu pai,
José Troni (1919/1968), funcionário da extinta Junta
Nacional dos Produtos Pecuários e dirigente da Cruz de
Malta.
Alenquerense de referência foi, ainda, o general
Henrique Troni, um dos fundadores da Força Aérea
Portuguesa.
Representam, hoje, a família Troni em Alenquer três
ilustres residentes. Meu tio Graciano Troni, pessoa
muito interventiva na sociedade civil do concelho e
objecto de recente e justa homenagem, minha tia
Carolina Troni, viúva do veterinário Luis Troni, pioneiro
do combate à doença do sono em Moçambique e minha
prima Maria Fernanda Carvalho dos Santos, viúva do
advogado Teófilo Carvalho dos Santos, que foi presidente da Assembleia da República.
Para os meus familiares e amigos de Alenquer, para o
Presidente do Município, Álvaro Pedro, e para todos os
munícipes da “aldeia do meu coração” deixo, também, sinceros votos de Santo Natal e Bom Ano Novo de 2007. I
Notícias
Curso de bandas
filarmónicas
Com uma audição final no Cine-Teatro
Louletano, no Algarve, terminou, em
Novembro último, o Curso Regional de
Regentes de Bandas Filarmónicas do
Inatel, uma
iniciativa com pergami-
nhos no movimento filarmónico do
nosso país, organizada pelo Inatel, com
apoio das delegações de Faro e Beja,
parceria do Município de Loulé e colaboração da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva que se articulou
como banda de apoio, e a Junta de
Freguesia de S. Clemente.
A formação, ministrada por Francisco
Ferreira, José Pedro Figueiredo e Tristão
Poesia e fado de Coimbra
no Trindade
Nogueira, contou com uma audição
final de peças de John Philipe Sousa “
The Gladiator March”, Tournament” de
Stephen Bulla, “English Folk Song Suite”
de Ralph Vaughan Williams, “Jurassic
Suite” de Ken Dye e “Bilbao” um arranjo
O Teatro da Trindade foi palco, em
um importante contributo de música para
de F. Francia, onde os formandos demon-
Novembro, do espectáculo de apresen-
canto, guitarra portuguesa, guitarra clás-
straram
tação do CD “O Meu Lugar”, do grupo
sica e baixo acústico, que utiliza um esti-
primeira vez – de dirigir uma banda filar-
“Quatro Elementos”, um projecto disco-
lo já designado por muitos de “ lied de
mónica, perspectivando um bom pano-
gráfico singular com poesias de António
Coimbra” . Ideias não faltam ao músico,
rama musical para a região sul.
Arnaut, editado, em simultâneo, com
que revelou ainda à TL querer incluir num
Também a norte do país, o Curso de
uma partitura integral, que utiliza as no-
próximo trabalho musical a participação,
Regentes de Bandas Filarmónicas,
nas, acordes pouco explorados na
em várias peças, de uma orquestra.
realizado em Oliveira de Azeméis, em
Canção Coimbrã.
Para Flávio Pinho, professor de História
meados de Outubro passado, registou
Perseguindo novas sonoridades no Fado
da Música, do Conservatório de Coimbra,
um o elevado nível artístico das Bandas
coimbrão, o “Quatro Elementos”, consti-
“O Meu Lugar” é “a perfeita adequação
Filarmónicas que integraram a for-
tuído por José Santos Paulo (tenor),
expressiva e formal da música aos poe-
mação, organizada pela Delegação do
Álvaro Aroso (guitarra portuguesa),
mas de António Arnaut, que na gravação
Inatel de Aveiro.
Eduardo Aroso (guitarra clássica/viola de
encontra correspondência numa inter-
Com a mesma equipa formativa do
acompanhamento) e José Carlos Teixeira
pretação correcta e fluente por parte do
anterior curso e apoio da Banda de
(baixo acústico), assumem-se como
cantor e dos instrumentistas”.
Música do Loureiro, a formação inte-
herdeiros de um locus assente na
O espectáculo, estreado, dias antes, na
grou uma metodologia mais exigentes
tradição Coimbrã, como referem no
Biblioteca Joanina, da Universidade de
e avançada, que a habitual, devido ao
preâmbulo deste projecto, onde assi-
Coimbra, contou ainda com a partici-
bom desempenho e nível dos músicos
nalam que a “tradição, renovação, passa-
pação da contralto, Joana Neto, e do
daquela região.
do e futuro são permanentes desafios à
actor/declamador e animador cultural do
Ao Concerto final, que teve lugar no
criatividade individual e ao modus
Inatel, Joaquim Basílio.
Salão Paroquial do Loureiro, assistiu
operandi das sociedades enquanto estru-
O CD e partitura podem ser adquiridos
um grande número de pessoas,
turas culturais”.
na Media Printer e na Delegação Inatel,
incluindo vários representantes das
O projecto, que existia em embrião há
em Coimbra, que apoiou a realização e
Autarquias Locais e entidades Cultu-
mais de 30 anos, é para Eduardo Aroso
divulgação do projecto.
rais da região.
capacidade,
muitos
Dezembro 2006
pela
TempoLivre 7
Notícias
Cooperação Inatel
O Inatel continua a alargar o seu âmbito
de actuação, estabelecendo parcerias
com diversas entidades e instituições
que, ao assumirem a condição de Centros de Cultura e Desporto (CCD’s), beneficiam das condições de associado
colectivo do Instituto e podem desenvolver acções de intercâmbio nas respectivas áreas de intervenção, contribuindo, por outro lado, para a divulgação
das actividades e iniciativas do Inatel.
Neste sentido foram, recentemente,
assinados protocolos de cooperação
com as entidades:
CAP Magellan - associação de direito
francês com fins sociais, culturais e
recreativos, designadamente de promoção de actividades de convívio e de
ocupação dos tempos livres, assim
Alarcão Troni e Manuel Pechirra, presidente do ILAC, rubricam o acordo, ladeados pelos
embaixadores da Tunísia e Marrocos
como de valorização profissional, cultural e social dos seus membros;
AFAP (Associação da Força Aérea Portuguesa) – instituição de utilidade pública sem fins lucrativos, prosseguindo
actividades socio-culturais e socio-recreativas, designadamente, o incentivo da
difusão do conhecimento e a correcta
compreensão da importância, no mundo
contemporâneo, do poder aero-espacial;
Associação de Comandos – instituição
de utilidade pública sem fins lucrativos,
prosseguindo fins sócio- culturais, sócio-recreativos e sócio-económicos e
apostando na promoção do bem-estar
dos seus associados;
ILAC (Instituto Luso-Árabe para a Cooperação) - vocacionado para a promoção
O Presidente da AFAP, Cristovão Avelar de Sousa, no uso da palavra durante a celebração
do protocolo com o Inatel
e desenvolvimento de iniciativas de
carácter cultural, turístico e desportivo,
Educação Física da Universidade de
ticipação dos respectivos eventos/ac-
que contribuam para o fortalecimento
Coimbra (FCDEF-UC), rubricado por Ana
ções e a realização de estudos e investi-
da amizade e para o aprofundamento da
Maria Teixeira, presidente do Conselho
gação, eventos desportivos e permuta de
cooperação entre Portugal e os países
Directivo da FCDEF-UC e Alarcão Troni,
documentação. O acordo prevê, ainda,
Árabes.
Presidente do Inatel. As duas institu-
descontos especiais para os associados
Ainda neste registo, o Inatel estabeleceu
ições decidiram como áreas prioritárias
do Inatel nos Cursos Breves, Especia-
um acordo de cooperação com a Fa-
de cooperação a oferta de condições
lizados e nas Actividades de Extensão
culdade de Ciências do Desporto e
especiais para os seus membros na par-
Curricular daquela faculdade.
8 TempoLivre
Dezembro 2006
Desporto em Leiria. Vinte e dois
atiradores participaram no 2º Torneio de Tiro
ao Alvo da Taça Regularidade de Carabina de
Ar Comprimido de Recreio (10 m) da Delegação Inatel em Leiria, realizado no CCD do
Grupo Desportivo e Recreativo de A-dos-Negros, em Novembro último. Hugo Franco,
Hélder Ferreira e Filipe Calhandro, da Associação da Burdinheira, classificaram-se, por
esta ordem, nos três primeiros lugares. Na
mesma data, decorreu na Figueira da Foz a 1ª
prova Campeonato Distrital de Pesca Desportiva de Mar, onde se destacaram, por sectores de A a D, os atletas Hilário Gaspar e Rui
Amado, do C.P. Monte Real “A”, Manuel
Oliveira e António Pedrosa, do G.D.C. Águia
Luís Lamas no ISCA
Competição “A” , respectivamente.
Turismo com Desporto
Tiro na Guarda.
Jorge Correia, Ade-
lino Chaves (Tonda) e José Paulo (CDR
Criar alternativas saudáveis para a
Luís Lamas aproveitou ainda o encon-
Quintela) foram os três primeiros classifica-
ocupação dos tempos livres dos tra-
tro, realizado no decorrer da assem-
dos, respectivamente, no torneio Abertura
balhadores e das suas famílias, com
bleia geral da ISCA, para apresentar
do Calendário de Tiro, que decorreu nos
oferta de actividades desportivas
aos restantes membros da organiza-
Bombeiros Voluntários de Figueira de
integradas nas opções turísticas e cul-
ção as valências do Inatel nas áreas do
Castelo Rodrigo, no passado dia 18 de
turais, foi um dos desafios lançados
Turismo, Desporto e Cultura e de como
Novembro, organização da Delegação distri-
por Luis Lamas, vice-presidente do
este Instituto aproveita e integra as
tal da Guarda, Bombeiros Figueirense e
Inatel, durante o encontro de mem-
suas acções em prol da saúde e bem-
Município de Figueira de Castelo Rodrigo.
bros da ISCA (International Sport and
estar dos seus utentes.
No mesmo dia, teve lugar, na Quinta das
Cultural Association) que decorreu
Participaram também no encontro o
Cegonhas, em Melo (Gouveia), a 13º jornada
em Portoroz, Eslovénia, em Outubro
prof. Antas de Barros e Rui Lança,
do Campeonato Distrital de Damas, com
último., por ocasião da Assembleia
respectivamente director e chefe de
vitória de Manuel de Oliveira (Lamego), se-
Geral daquela associação.
divisão do desporto do Inatel.
guido de António de Almeida (Gouveia) e
Nascimento Ezequiel (Leiria).
Novas Chefias do INATEL
A Direcção do Inatel, presidida por José Alarcão Troni,
deu posse, em 26 de Outubro último, aos novos
responsáveis nas Divisões de Pessoal, Etnografia e
Folclore e Associados e Serviços. No Pessoal tomou
posse o dr. Eduardo Fernandes, Mestre em Direito Fiscal,
oriundo da Direcção-Geral de Contribuições e Impostos.
A drª Carla Raposeira assumiu, por sua vez, a chefia da
Divisão de Etnografia e Folclore, sector onde exercia
funções como técnica superior. Na Divisão de
Associados e Serviços tomou posse o dr. Carlos Luz,
quadro superior do Instituto com funções anteriores no
Departamento de Turismo.
Carlos Luz, Carla Raposeira e Eduardo Fernandes
Dezembro 2006
TempoLivre 9
Notícias
Concertinas
em Ponte de Lima
Centenas de Tocadores de
Concertinas, nacionais e estrangeiros,
estiveram presente no IX Serão
Internacional e o XI Encontro Nacional
de Tocadores e Cantadores ao Desafio,
que decorreu entre os dias 3 e 5 de
Novembro, último, em Ponte de Lima uma organização da Delegação Inatel
de Viana do Castelo e do Município
Artes e Ofícios
com museu em Porto Santo
local.
Tocadores de diversas regiões do país,
da Colômbia, Trio Rivas, e França,
Irmãos Lopes, proporcionaram
momentos de alegria e bem-estar à
No local da Camacha, concretizou, em
que tem guardado. Perseguindo este
numerosa assistência que entre
Agosto último, José Cardina Melim, o
sonho de quase dez anos, onde investiu
muitos populares, contou com a
sonho da sua vida com a inauguração e
300 mil euros, Cardina Melim, bem
presença dos alunos do segundo e
abertura do Museu Cardina. Não teve
merece a distinção que o Governo Re-
terceiro ciclo e dos utentes dos Centro
apoios, apenas boas vontades. As dos
gional da Madeira lhe vai outorgar invo-
de Dia e Lares do concelho limiano. O
que lhe foram oferecendo os utensílios
cando razões culturais. E então, um dia
último dia, domingo, foi o mais
outrora tão necessários para as artes dos
destes, este sonhador realizado, emo-
participado, registando a presença de
ofícios da terra. Agora, a Ilha Dourada de
cionar-se-á mais uma vez quando lhe for
400 músicos que tocaram até ao cair
Porto Santo, que anualmente cresce,
colocada a Medalha de Mérito.
da noite.
pelo menos em número de visitantes, já
No acto inaugural, o líder regional, João
conta com mais um pólo cultural para
Jardim, sublinhou “a capacidade da ini-
ser visitado.
ciativa do Cardina Melim ao avançar por
Mal nos abeiramos da sua entrada e
sua conta e risco numa verdadeira ati-
somos confrontados com o esplendor de
tude cultural sem ficar à espera de sub-
um autêntico Moinho de Vento. Tamanho
sídios ou sem querer pendurar-se nos
natural, impecável na estrutura e ma-
dinheiros públicos”.
nutenção, assinalando a sua impor-
Para o autarca de Porto Santo, Roberto
tância secular no quotidiano porto-san-
Silva, a inauguração deste museu “serve
tense. Seguem-se, nos espaços certos,
essencialmente para se pensar no
os instrumentos da lavoura, de bulha,
futuro, viver o presente, não esquecendo
sistemas de moagem, caça, pesca,
nunca o passado, e o Senhor Cardina,
vinho, etc..
sempre teve essa preocupação de trans-
É grande o espólio exposto. Todavia, é já
mitir às gerações vindouras, o que se
uma dor de cabeça para José Cardina,
fazia no Porto Santo, o que era o Porto
arranjar espaço para quase outro tanto
Santo e quais as suas tradições”. MM
10 TempoLivre
Dezembro 2006
‘Percursos Alternativos’ é o título da exposição de Victor Belém, sócio do Inatel, que reúne
23 trabalhos exemplificativos do percurso do
prestigiado pintor, nos últimos 40 anos. Patente
ao público até 23 de Dezembro no Grémio
Lusitano, 25 (ao Bairro Alto), em Lisboa.
S. Martinho no Porto
Forte participação popular marcou o
Encontro de S. Martinho, na Invicta,
organizado pela Delegação Inatel do
Porto, no passado dia 18 de Novembro.
O Encontro incluiu o desfile e actuação
dos ranchos folclóricos de Baião, Santo
André de Sobrado, Aldeia Nova, Amigos
do Bustelo, S. Pedro de Rates e Rancho
Folclórico do Porto, seguido do
tradicional magusto, com castanhas e
água pé para todos os participantes.
Festa da Sopa em Viseu
Concertos de Natal
Foram 56 as variedades de sopas, num total de seis mil litros,
A temporada de concertos de Música da Santa Casa da
saboreadas por cerca de três mil participantes de o IV Festival
Misericórdia de Lisboa prossegue, no corrente mês, nas se-
do Caldo e III Festa da Sopa, que decorreu no Pavilhão do
guintes igrejas: Igreja de S. Roque (largo Trindade Coelho): dia
Inatel em Viseu, no passado dia 28 de Outubro, uma organi-
6 às 21h - Música Portuguesa de Natal dos Séculos XVII e XVII;
zação da Delegação Inatel em parceria com a Confraria de
dia 9 às 21h – Coro do Teatro Nac. de São Carlos. Igreja do
Saberes e Sabores da Beira “Grão Vasco” e apoios da Região
Instituto de São Pedro de Alcantâra (rua Luisa Todi): dia 13 às
de Turismo Dão Lafões, Governo Civil, Câmara Municipal e
18h - Música coral Francesa do Renascimento ao Barroco pelo
Associação Comercial de Viseu. O certame, participado por
Coro de Câmara da Escola Superior de Música de Lisboa; dia
40 hotéis e restaurantes da região, incluiu a prova de vinhos
16 às 21h – Concerto de Natal pela Escola de Música N. Sra. do
regionais e outros produtos da Beira.
Cabo, com Coro Feminino, Juvenil e Orquestra Maior.
Grandes pintores no XX Salão de Outono
A Galeria de Arte do Casino Estoril apresen-
Apresentada como uma homenagem à
ta, até 15 de Janeiro próximo, o XX Salão de
Pintura, a mostra reflecte, na diversidade
Outono, uma colectiva de pintura que, ao
das obras patentes, as principais cor-
assinalar duas décadas de realização, apre-
rentes contemporâneas, desde o expres-
senta obras dos nossos mais representa-
sionismo ao neofigurativismo e ao
tivos pintores contemporâneos, entre out-
abstraccionismo geométrico, a maioria
ros, Agostinho Santos, Albino Moura,
dos quais autores que habitualmente
Alfredo Luz, António Joaquim, António
expõem na Galeria de Arte do Casino.
Pedro, Artur Bual, Carlos Lança, Damião
Foi em 1763 que, em Paris, se realizou a
Porto, Diogo Navarro, Graça Morais,
primeira colectiva de pintura, designada
Guilherme Parente, Helena Liz, Jacinto
“Salão”, que se tornou modelo de idênti-
Luís, José de Guimarães, Júlio Pomar, Lima
cas exposições que pouco depois pas-
Carvalho, Luís Ralha, Manuel Cargaleiro,
saram a ser realizadas em todos os país-
Martins Correia, Michael Barrett, Nadir
es europeus.
Afonso, Noronha da Costa, Paulo Ossião,
A mostra ficará patente ao público, todos
Pedro Castanheira, Pedro Rocha, Quadros
os dias, das 15 às 24 horas, até 15 de
Ferreira, Roberto Chichorro e Sérgio Telles.
Janeiro.
Obras
de Nadir
Afonso
e Pedro
Rocha
Dezembro 2006
TempoLivre 11
Fotos Premiadas
[1]
[2]
Menções Honrosas
[ a ] Fernanda Macedo,
Lisboa
–
Sócio n.º 433129
[ b ] José Mónica,
Vila Nova de Sto. André
–
Sócio n.º 247128
[ c ] Nuno Matos,
Lisboa
–
[a]
[b]
Sócio n.º 422604
[c]
REGULAMENTO
1. Concurso Nacional de Fotografia da
revista Tempo Livre. Periodicidade
mensal. Podem participar todos os
sócios do Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e
colaboradores da revista Tempo Livre.
2. Enviar as fotos para: Revista Tempo
Livre - Concurso de Fotografia, Calçada
de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.
3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês.
4. O tema é livre e cada concorrente
pode enviar, mensalmente, um máximo
de 3 fotografias de formato mínimo de
10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em
papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte.
5. Não são aceites diapositivos e as
fotos concorrentes não serão devolvidas.
6. O concurso é limitado aos sócios do
Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor,
direcção, telefone e número de associado do Inatel.
7. A Tempo Livre publicará, em cada
mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo
previsto.
8. Não serão seleccionadas, no mesmo
ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano
[3]
[ 1 ] Carlos Vences, Lisboa –
[ 2 ] Adelaide Sousa, Maia –
Sócio n.º 424830
Sócio n.º 167410
[ 3 ] Ana Fialho, Torres Vedras –
9. Prémios: cada uma das três fotos
seleccionadas terá como prémio um fim
de semana (duas noites) para duas pessoas num dos Centros de Férias do
Inatel, durante a época baixa, em
regime APA (alojamento e pequeno
almoço). O premiado(a) deve contactar
a redacção da «TL»
Sócio n.º 122630
10. Grande Prémio Anual: uma viagem
a escolher na Brochura Inatel Turismo
Social até ao montante de 1750 Euros. A
este prémio, a publicar na revista
Tempo Livre de Setembro de 2007, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o
concurso.
11. O júri será composto por dois
responsáveis da revista Tempo Livre e
por um fotógrafo de reconhecido
prestígio.
PERCURSOS
O presépio de
Raras são as pessoas que não reconhecem
imediatamente a Alenquer o cognome de vila
presépio. De facto, entre as variadas razões
que a vila tem para ser (re)conhecida, o
majestoso palco em que se transforma a sua
encosta todos os anos, desde 1968, é das que
mais atenção atrai.
A
A história de Alenquer acompanha a de Portugal, desde
logo pelo nome, que aparece ligado ao momento em
que D. Afonso Henriques a conquistou aos mouros, em
1148. Alão era o nome do cão que guardava as muralhas
e que, segundo uma lenda, terá feito muitas festas ao
portugueses, tomando o rei essa atitude como bom
presságio (Alão quer); uma segunda tradição que diz
que Alão levava as chaves da vila, todas as noites pela
muralha fora até à casa do governador e os cristãos,
sabendo isso, atraíram-no com uma cadela presa a uma
oliveira, obtendo assim as preciosas chaves. Num
segundo momento, em 1212, D. Sancha concedeu o
primeiro foral a Alenquer, e a vila foi nessa altura alvo
da disputa entre a herdeira e o seu irmão Afonso II, que
receava um movimento separatista.
Muitas outras personagens históricas nasceram ou
viveram em Alenquer, do mais ilustre filho desta terra,
Damião de Góis (ver caixa), até aos nossos dias, onde
brilha a actriz Palmira Bastos, cuja casa é hoje um
museu com o seu nome. Mas, na memória recente da
vila sobressai o esforço das suas gentes para recuperar
das “dramáticas e catastróficas cheias de Novembro de
1967 que trouxeram o luto, a desolação e a ruína à zona
ribeirinha de Alenquer”.
Foi na sequência desta catástrofe natural que, em
1968, e após realizados consideráveis melhoramentos
em termos de obras públicas, o vereador municipal D.
José de Siqueira propôs a ideia de um presépio monumental a colocar na encosta virada ao rio. O então presidente da Câmara, João Mário Aires de Oliveira, aceitou
a sugestão e o pintor Álvaro Duarte de Almeida, que
14 TempoLivre
Dezembro 2006
ALENQUER
Dezembro 2006
TempoLivre 15
PERCURSOS
[Em cima:]
Relógio de sol (séc. XVI)
em Alenquer e largo do
Pelourinho na Aldeia
Galega.
[Em baixo:]
Igreja de Nª. Srª. da
Piedade, em Merceana,
e pormenor das férteis
terras do concelho
Estas quatro fotografias foram gentilmente cedidas pela Câmara Municipal de Alenquer
tinha residido em Alenquer e ainda deixava o coração
por lá pairar, foi naturalmente escolhido para dar corpo
ao projecto.
E assim, das mãos de uma equipa de artistas – Duarte
de Almeida, que concebeu as figuras “de acordo com a
figuração da pintura portuguesa dos séculos XVI e
XVII”, os seus filhos Amélia e Álvaro, o pintor João
Mário e o senhor Manuel Candeias, técnico da Câmara
Municipal, que dirigiu os trabalhos das estruturas e
carpintaria – nasceu aquele que é hoje o ex-libris natalício de Alenquer: um presépio com as figuras dos Anjos,
do Deus Menino, da Virgem e S. José, dos Reis Magos,
pastores e animais “concebidos ao gosto dos presépios
tradicionais portugueses”. Não havendo lugar à dúvida
quanto à qualidade da obra, a notoriedade deste presépio advém, no entanto, das suas grandes dimensões: a
figura mais pequena tem quase metro e meio de altura,
e a maior cerca de seis metros. Juntando-lhe a iluminação certa cria-se um espectáculo verdadeiramente
majestoso na encosta alenquerense, que há quase 40
anos não deixa ninguém indiferente. Tanto tempo passado, é natural que as figuras tenham também envelhecido, pelo que a Câmara Municipal substituiu, em 1994,
as figuras originais por outras – iguais – em liga metálica. E o sucesso do presépio tem sido tal que a Câmara
organiza também uma exposição de Presépios do
16 TempoLivre
Dezembro 2006
Mundo, este ano de 2 de Dezembro a 6 de Janeiro,
“dando a todos os que a visitarem a possibilidade de
apreciarem um vasto conjunto de peças representativas
desta ancestral forma de arte.”
DAMIÃO DE GOES
N
Nasceu em Alenquer em Fevereiro de 1502. Mesmo nos
dias de hoje, a sua história não seria comum, mas muito
mais invulgar seria naquela altura. Educado na corte de
D. Manuel, desde cedo contactou e aprendeu com
grandes nomes da época, de matemáticos a poetas e
navegadores. Assim, não é de estranhar que tenha rapidamente sido nomeado funcionário régio e enviado
para a Europa – a lista de cidades e países que percorreu faz inveja a muitos viajantes actuais: Bélgica,
Holanda, Alemanha, Lituânia, Dinamarca, Polónia e
Itália são apenas alguns pontos do seu percurso. Priva
com Lutero e Erasmo, entre muitas outras figuras chave
do renascimento europeu e em 1545 regressa à Pátria
“aureolado de prestígio pelas amizades que contraíra
na Europa”. Nomeado guarda-mor da Torre do Tombo,
escreve a Crónica do Felícissimo Rei D. Manuel e a
Crónica do Príncipe Dom João o Segundo de Nome;
como homem do mundo e do seu tempo, foi também
“amador de pintura, coleccionador de arte e cultivou a
música tendo deixado algumas composições de
Castelo de Alenquer e, em baixo, pormenor do Convento de S. Francisco
JS
PERCURSOS
Pormenor arquitectónico
da Qta. da Bichinha
e, em baixo, vista da
Serra do Montejunto
GUIA
Visitar
aplicações diversas, mas
claramente pela produção
A Câmara Municipal de
também os vários tons das
vinícola que, embora
Alenquer oferece aos
paisagens das terras
debatendo-se com as
visitantes três rotas
alenquerenses. A terceira
dificuldades naturais da
turísticas, acompanhadas
rota, mais ligada à
concorrência internacional,
por um guia, para melhor
ruralidade, passeio por
tem vindo a dar provas da
descobrir as riquezas do
entre os moinhos de vento,
sua elevada qualidade,
concelho: a Rota “Alenquer
testemunhos do método de
arrebatando prémios por
através da História”,
trabalho e da fertilidade
onde passa. As diversas
percurso intensamente
das terras do concelho. A
quintas de renome da
website:
ligado a uma herança
participação pode ser
região, de onde saem
www.quintadabichinha.pt
riquíssima em figuras e
individual ou em grupo
vinhos como o Quinta de
património, com passagem
(organizado e com um
Pancas ou, da Adega da
Dormir
obrigatória por museus,
número limite de 25
Labrugeira, o DOC
igrejas, pela serra do
elementos). As inscrições
Alenquer “Valle do
Estrada da Várzea,
Montejunto, pelo centro
são gratuitas, à excepção
Riacho”, o “Visconde de
2580-376 Alenquer
histórico da vila de
do almoço, que tem lugar
Chanceleiros”, e o “Tinta
Tel.: 263 730 570
Alenquer e pelos Paços do
num dos restaurantes do
Roriz”, ou o Cerca do Rei
Fax: 263 730 578
Concelho, e incluindo uma
concelho e onde a
VQPRD Alenquer Tinto
E-mail: reservas
prova de vinhos numa das
gastronomia típica da
1999, da Adega
@quintadocovanco.com
quintas da região. A
região é apresentada.
Cooperativa de Merceana,
Website:
segunda das rotas leva os
Inscrições e mais
pedem uma visita
www.quintadocovanco.com
visitantes a conhecer
informações no Posto de
estruturada. Para uma
quatro igrejas, uma
Turismo, no Parque Vaz
prova ou até para um
2580-087 Merceana
basílica e um convento;
Monteiro, tel. 263 733 663,
curso, contacte o posto de
Tel. 263 769 382, Fax. 263
seis locais de culto
e-mail
turismo da Câmara
769 333,
religioso, situados em seis
[email protected]
Municipal ou directamente
E-mail:
as quintas.
[email protected]
website:
diferentes freguesias,
Quinta do Covanco
Quinta dos Plátanos
permitindo mostrar não só
Comer
os efeitos da talha dourada
Nas coisas da mesa,
Pancas, Alenquer,Tel. / Fax
ou da pintura mural em
Alenquer distingue-se
263 732 894 / 263 733 219,
E-mail:
Casal das Pedras
[email protected];
2580-000 Alenquer
website:
Tel.: 263 710 375
www.quintadepancas.pt
Fax: 263 015 485
18 TempoLivre
Dezembro 2006
Quinta de Pancas,
Quinta dos Plátanos,
www.quintadosplatanos.com
Casal das Pedras
Pensão Residencial
2580-087 Merceana,
Imperial
Tel. 263 769 382,
Rua Vaz Monteiro, 87
Fax. 263 769 333, E-mail:
2580-000 Alenquer
[email protected]
Telefone / Fax: 263 854 285
website:
www.quintadosplatanos.com
300 Lugares
E.N. - 9, km 94
Quinta da Bichinha,
Alenquer Camping
Alenquer 2580-413,
2580-000 Alenquer
Tel.:965 099 621; E-mail:
Tel. 213 552 070
[email protected];
Fax 213 584 540
Túmulo de Damião de Goes, na Igreja de S.Pedro.
Basílica de S. Quitéria, edifício do séc.XVIII, em Meca. Uma peça do Museu M. Hipólito Cabaço
natureza religiosa e profana.” Após uma vida tão rica
em experiências, Damião de Góis encontrou a morte na
sua terra, tendo sido encontrado morto com suspeitas
de assassinato, na sua casa de Alenquer em 30 de
Janeiro de 1574. A estátua que pode ser vista junto ao
Tribunal Judicial de Alenquer mostra que os alenquerenses não o esqueceram.
TRADIÇÕES VIVAS
A
Algumas tradições que escapam a muitos citadinos,
parecendo desaparecidas, surgem, afinal, ainda bem
vivas nas aldeias e vilas do “país rural”. Este é o caso das
Janeiras, cantadas em grupo às janelas por altura do dia
de Reis. Tradição semelhante têm as populações do concelho de Alenquer que, desde há tempos perdidos,
cumprem a rigor o “pintar e cantar dos Reis”. Por estas
terras. Além de cantarem e desejarem felicidades para o
ano que começa, os grupos também pintam, ao lado das
portas das casas por onde passam, desenhos simples
mas com significados específicos, segundo um código
de cores e símbolos que incluem estrelas, flores,
corações e vasos em azul e vermelho. Tal como nas
janeiras, recolhem donativos das casas visitadas e
fazem, com eles, uma festa de comemoração. Os interessados em tradições seculares encontrarão no concelho de Alenquer um rico “museu vivo”, já que muitas
celebrações intemporais decorrem aqui com bastante
frequência e adesão popular. Depois dos reis vem a
Festa dos Leilões em Atouguia, cujo ponto mais alto é o
“leilão dos Cargos”, bolos de grandes dimensões, mais
ou menos engalanados com fitas encarnadas e uma ou
duas laranjas. “Em Atouguia a «Festa dos Leilões» é feita
em honra do Mártir S. Sebastião e S. Vicente, na capela
local, no mês de Janeiro. O leilão é feito na presença do
povo. Um a um, os cargos são licitados, valendo normalmente mais aqueles cuja confecção teve o primor
caseiro. O cidadão que arrematar com o valor mais alto
leva o cargo para casa e, logo aí, aceita implicitamente a
obrigação de apresentar no ano seguinte um cargo para
ser leiloado.” Vivas mantêm-se também as tradições da
romaria de Santa Quitéria de Meca, com a bênção do
gado, ainda hoje o acontecimento mais importante do
ciclo anual dos festejos das terras de Montejunto, que
decorre em Maio, ou a dos círios, procissões mais ou
menos longas que têm lugar no Verão. Marta Martins [texto] José Frade [fotos]
Dezembro 2006
TempoLivre 19
COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA [ VII]
TIMOR-LESTE
Um longínquo afecto
Julgo que para um Português, escrever, falar sobre Timor-Leste é sempre motivador,
visto que esta terra configura uma realidade singular em relação a Portugal, e, em particular,
desde meados de 1999, os Portugueses passaram a dedicar-lhe uma especial atenção.
oje em dia, o
carinho, a preocupação com o
presente, as apreensões quanto ao
futuro, a disponibilidade para ajudar o Povo Timorense, já não são de
índole idêntica ao que tão exuberantemente os Portugueses expressaram na fase anterior à realização
do referendo de 30 de Agosto de
1999, bem como após aquela data,
ainda durante muito tempo, especialmente nos meses que se lhe seguiram.
A esmagadora afluência verificada no referendo,
tendo participado 98,6% dos eleitores inscritos, a
inequívoca manifestação de vontade dos Timorenses
em ser independentes, materializada em 78,5% dos
votos, foram correspondidos pelos Portugueses em
múltiplas e diversas demonstrações de solidariedade,
também muitas vezes de angústia, perante as notícias
que vinham do Território, e estabeleceu-se uma
comunhão e uma identidade entre os dois Povos, que os
antecedentes históricos nunca perspectivaram.
Nos últimos tempos é com alguma inquietação, e
esperança em melhores dias, que os Portugueses
seguem a vida em Timor-Leste, o que, indiscutivelmente, significa da nossa parte, um testemunho de
grande proximidade e muita afeição em relação aquela
Nação do sudeste Asiático.
No entanto, gostaria de sublinhar que o afecto é
recíproco.
Não medindo afectos, pelo que não vou escrever
sobre quem tem mais afecto pelo outro, a realidade
H
20 TempoLivre
Dezembro 2006
histórica, recente e remota, mostra que o
Povo Timorense sempre evidenciou uma
atitude de respeito, consideração, e, nos
últimos anos, de profunda gratidão, em
relação a Portugal.
Esta antiga ligação afectiva dos
Timorenses com o nosso País, é algo
difícil de explicar!
ESQUECIMENTOS
Pode-se quase dizer, que os Portugueses sempre se esqueceram de TimorLeste...
Chegaram ao Território em 1512, mas só em 1702, com
a chegada do primeiro Governador, se deu início à sua
organização colonial, tendo sido criado o Timor
Português.
Ao longo dos séculos nunca se deu especial atenção
ao desenvolvimento desta colónia, a mais afastada da
metrópole no antigo Império Colonial Português.
Realmente, a Insulíndia ficava muito longe...
Depois de quase cinco séculos de “esquecimento”, mais
uma vez, na sequência do 25 de Abril de 1974, Portugal
voltou a pecar por omissão – o Estado Português tentava
resolver os conflitos existentes em Angola, Guiné-Bissau e
Moçambique, a que também se “agregaram” Cabo Verde
e S. Tomé e Príncipe, territórios onde não havia problema
militar, e parece que se esqueceu de Timor-Leste...
Lamentavelmente, as consequências foram desastrosas para os Timorenses, e, durante 24 anos, a Indonésia ocupou o Território.
Neste período, que se iniciou com a invasão de 7 de
Dezembro de 1975, e, na prática, só terminou em 20 de
Setembro de 1999, quando as tropas ao serviço da ONU
CPLP > TIMOR-LESTE
chegaram a Timor-Leste, estima-se que morreram cerca
de 240.000 Timorenses, ou seja, mais ou menos um terço
da População.
Pois apesar desta fase sangrenta da história Timorense,
durante a qual os Indonésios cometeram todo o tipo de
arbitrariedades, de violações dos mais elementares direitos humanos, da exploração dos recursos naturais, e, de
após o referendo de 30 de Agosto de 1999, terem destruído o Território completa, sistemática e cientificamente, os
Timorenses, na fase de reconstrução conduzida pelas
Nações Unidas, mais uma vez demonstraram especial
carinho em relação aos Portugueses. Posso afirmá-lo com
absoluta certeza, porque eu estava lá!
De Novembro de 1999 a Março de 2002, estive por
cinco vezes em Timor-Leste, sempre por motivos profissionais, e lembro-me perfeitamente, que nunca fui tão
bem tratado por um Povo, como durante a
primeira estada no Território.
Naquela altura, ser Português
significava ser discriminado pela
positiva, isto é, passar à frente,
poder sempre entrar, ser recebido,
usufruir de um carinho, de um
beijo, de um abraço, de um tratamento especialmente afável.
A título de curiosidade meramente
pessoal, desejo realçar que nos 58
Países que já visitei nos cinco Continentes, foi ali em Timor-Leste, em
1999, que melhor fui recebido...só por
ser Português!
Havia então no Território cidadãos de muitas nacionalidades, Australianos, Brasileiros, Ingleses, Franceses, Norte-Americanos, Neo-Zelandeses, Italianos, etc.,
mas só os Portugueses eram alvo de um tratamento especialmente carinhoso dos Timorenses.
Isto depois de quase cinco séculos de ausência...
Na altura, designadamente na deslocação de 1999, foi
muito difícil a estadia, pois não existia o mínimo de
condições de alojamento e alimentação – dormia-se no
chão, não havia vidros nas janelas, nem ar condicionado, ou
mesmo ventoinhas, sendo o calor e a humidade terríveis, as
condições higiénicas eram altamente deficientes, a alimentação era má e limitada, etc., etc..
Contudo, o que acabei de escrever no período anterior
nada significa, perante o que foi a experiência de ter contribuído para o nascimento deste Estado independente!
O facto de o Território ter sido a mais longínqua colónia Portuguesa, as situações vividas, as dificuldades por
que passei, o ter contactado com homens da estatura de
Xanana Gusmão, Sérgio Vieira de Mello, D. Basílio do
Nascimento, e, também, entre outros, ter conhecido pessoalmente, D. Ximenes Belo, José Ramos Horta, Taur
Mattan Ruak, Leandro Isaac, João e Mário Carrascalão,
mas, em simultâneo, cidadãos Timorenses anónimos,
como a Dona Rosa, o Senhor Vieira, o Sancho, o Mariano,
o Senhor Rui, o Senhor Francisco, o Libório e as suas
encantadoras filhas, são recordações, são riquezas, que
para sempre guardarei dentro de mim, e fazem com que
a “experiência Timor-Leste” seja inolvidável e extremamente enriquecedora, a todos os níveis.
RECURSOS NATURAIS
Ainda sobre Timor-Leste, será conveniente referir que
se trata de um País rico em recursos naturais, tem petróleo, gás natural, mármores,
madeiras nobres, como o sândalo, excelentes condições para o desenvolvimento da agricultura e pecuária, nomeadamente na zona centro, águas territoriais
riquíssimas em peixe e marisco, e,
ainda, uma natureza que tudo proporciona para o êxito da indústria do turismo.
Existe equilíbrio entre a População
versus a Superfície do País, que se
situa nos 18.899 km2. Deve ser destacado, que Portugal tem vindo a
ajudar muito significativamente o novo Estado, tendo mesmo essa colaboração sido iniciada ainda
na fase de transição para a Independência – ensino,
saúde, correios, telecomunicações, justiça, alfândega,
água, electricidade, banca, bombeiros, portos, aeroportos, são exemplos de domínios onde a presença de
Portugal foi, e ainda é, muito importante.
Seria uma pena, que tudo o que foi conseguido até
hoje, em primeiro lugar obra dos Timorenses, mas também fruto da colaboração de alguns Estados amigos e
de doadores internacionais, juntamente com os recursos naturais existentes, não conduzissem a que TimorLeste viesse a ser um Estado de sucesso e de bem estar
para os seus cidadãos.
Era também mais uma triste ironia da história, que,
agora que Portugal não se “esqueceu” de Timor-Leste,
as vicissitudes da criação do novo Estado, viessem a
afastar, mais uma vez, as duas Nações amigas!
Esperemos que tal não aconteça. I
Rui Oliveira e Sousa [texto] Lusa [fotos]
Dezembro 2006
TempoLivre 23
OFÍCIOS
MESTRE FERNANDO E O SONHO DE UMA ESCOLA DE «YOLLE»
«O país precisa
de quem saiba estas artes»
O que mestre Fernando faz mais ninguém neste país de marinheiros sabe fazer: só ele
conhece os segredos da construção artesanal do “yolle”, embarcação tradicional feita em
madeira, historicamente ligada às origens do remo, e que ainda hoje desempenha um
papel essencial nesta modalidade.
AO MESMO TEMPO ELEGANTE E
muito estável, este barco é usado
não só na formação de atletas – pois
é o único do género capaz de domar águas fluviais agitadas (como
as do Tejo), evitando deslocações
em busca de troços mais “mansos”
para treinar – mas também em
regatas revivalistas de grande prestígio, realizadas no estrangeiro e
entre nós. Foi, aliás, o que sucedeu,
recentemente, na frente ribeirinha
da capital, quando a Lisboa Classic
Regatta pôs a remar no Tejo equipas
de vários países europeus, com destaque para os míticos rivais de
Cambridge e Oxford, assinalando o
fim das comemorações dos 150 anos
da Associação Naval de Lisboa, a
mais antiga colectividade desportiva da Península Ibérica.
Trabalhar para o sucesso desta e
de outras provas e para proporcionar treinos regulares tem sido a
missão que este homem tão humilde quanto prodigioso, criado no
interior rural, vem cumprindo desde há mais de 35 anos, assegurando
a poupança de muitos milhares de
euros aos clubes navais de norte a
sul de Portugal e, ao mesmo tempo,
garantindo a sobrevivência destes
verdadeiros “monumentos” históri24 TempoLivre
Dezembro 2006
cos flutuantes. No seu currículo estão dezenas de barcos aliviados das
maleitas do tempo, às vezes renovados quase por completo ou feitos
mesmo de raiz. Uma arte que só
resulta misturando as doses certas de
sabedoria, experiência e muita
paciência. Por isso mesmo, e porque
não chega para tanto trabalho que há
por fazer, mestre Fernando gostaria
de ver concretizado o seu maior
sonho: ter uma escola onde possa
transmitir às novas gerações os conhecimentos que reuniu ao longo de
tantos anos de amor aos “yolles”.
MEDALHA DE HONRA
A construção deste tipo de embarcações com materiais modernos
como a fibra de vidro foi, entretanto, ganhando terreno, mas isso não
desanima o artesão. “Só fazem ‘yolles’ de quatro, pois os de oito já não
são rentáveis de fabricar dessa forma e, de qualquer maneira, não se
comparam em beleza e estabilidade
com os de madeira e feitos artesanalmente”, argumenta em defesa
dos “seus” barcos de estimação,
muitos deles a navegar por esses
rios fora depois de passarem pelas
suas mãos reparadoras. “Já lhes
perdi a conta…”, diz.
Um currículo que valeu a atribuição de uma medalha de honra
pela Federação Portuguesa de
Remo, em 2003, a alguém “unanimemente reconhecido por todos
como pessoa ímpar”, cujo labor “foi
fundamental para o desenvolvimento da modalidade, quer por ser
profundo conhecedor das técnicas
de construção e reparação de embarcações, quer como profissional
permanentemente disponível para
o serviço, o que provou em incontáveis organizações locais, regionais
ou nacionais”, mesmo “sacrificando
muitos dias de férias e perdendo
muitas noites de descanso”.
O destinatário dos encómios não
esconde o orgulho e confirma a paixão. Tanto assim é que, embora já
reformado daquela instituição desportiva, continua a dar o melhor de
si aos “yolles”.
MENINOS DO RIO
Foi num café das Docas de Alcântara
que partimos à descoberta de mestre
Fernando. É que o seu domicílio fica
ali mesmo, no edifício da federação
de remo, onde funciona também
uma pequena oficina de apoio. O
cenário em redor fervilha de actividades, por vezes contrastantes, mas
unidas pelo imenso cordão umbilical de água: de um lado, o porto de
Lisboa ligado à azáfama dos contentores; do outro, dezenas de iates
a balançarem-se languidamente no
ancoradouro lembrando que a faceta de recreio é parte de um todo a
valorizar. Mas este é, também, o território dos meninos do rio, de omoplatas e bícepes salientes por força
do vaivém de barcos às costas entre
os armazéns dos vários clubes
navais lisboetas ali sedeados e o Tejo
onde treinam as suas ambições.
Um mundo de que Fernando Matos se habitou a gostar. Como faz
questão de dizer, é o único morador
das mesmas docas que “há 30 anos
eram um deserto e agora são uma
zona muito ‘in’ e concorrida ”, seja
para passear, almoçar, ou beber um
copo durante o dia, seja para uma
animação nocturna que, às vezes,
até se pauta por excessos.
Todo esse bulício, equilibra-o o
mestre través de um quotidiano
pacato em torno dos barcos e dos
remos. Um trabalho que até há
pouco tempo o levava, também, à
zona do Cais do Sodré, onde se localizava o seu cais de sonhos, um antigo
mercado de peixe cedido ao artesão
pela Câmara de Lisboa em meados
da década de 90, já então com o
propósito de aproveitar o seu talento
e a vontade do próprio em não
deixar, um dia, morrer consigo as técnicas e os truques do seu “mester”.
Foi lá que reparou muitos “yolles” e
construiu outros de raiz. Entretanto,
esse espaço de tantas memórias foi
requisitado para outros projectos no
âmbito da reformulação do Porto de
Lisboa, mas a Autarquia já garantiu a
mestre Fernando que a sua arte não
ficará sem tecto, provavelmente
junto das novas sedes dos clubes
náuticos da capital, que também deDezembro 2006
TempoLivre 25
OFÍCIOS
Fugir da terra para o mar
verão ser reagrupados noutro ponto da
frente ribeirinha.
Suprema ironia, mestre Fernando nunca remou na sua vida. É assim mesmo
O ÚLTIMO “YOLLE”
que gosta de estar: pés em terra e olhos no mar. O seu trabalho com barcos
Agora aquartelado em Alcântara, nem
por isso tem menos que fazer, tal a quantidade de “yolles”, vindos de todo o país,
que é preciso reparar. “Olhe para esta
beleza”, salienta, apontando para um
“doubleskoll” (dois lugares), pertencente
ao clube Naval 1º de Maio, da Figueira da
Foz. “Apertaram os parafusos até esmagarem a madeira, assim não pode ser…”,
vai diagnosticando, qual médico examinando o seu paciente, enquanto acarinha o casco. A seguir, dedica a sua atenção
a um “yolle” de oito lugares,
esguio nos seus 14,5 metros de
comprimento. “Tive de o refazer
praticamente todo”, assevera,
sem falsas modéstias, acrescentado um dado fundamental para
se perceber a importância deste
trabalho: “Um barco destes comprado novo custa mais de 30 mil
euros!”.
Ter gosto é o principal requisito
do ofício, mas é preciso também
muita paciência e rigor. “Este trabalho tem muito que se lhe diga,
é feito de pormenores e não se pode usar
uma madeira qualquer – as melhores são
o cedro brasileiro, a casquinha, o freixo e
o mogno – pois tem de ser uma matériaprima leve, mas ao mesmo tempo
resistente quanto baste para que se possa
obrigá-la a vergar, mas sem partir”, explica, enquanto dá os derradeiros retoques
no seu último “yolle”: “Vai ficar o mais
bonito de todos e vou-lhe dar o meu
nome, apenas por simbolismo, pois a
partir de agora penso não mais fazer barcos, apenas repará-los e, se mo permitirem e entenderem como útil, ensinar
esta profissão aos mais novos”, revela,
concluindo, porém, em jeito de repto a
quem segue ao leme: “Acho que o nosso
país precisa de quem saiba estas artes”.I
começou longe de Portugal, num estaleiro naval da ilha de Luanda. “Mas já em
garoto, na minha terra (Felgueiras, concelho de Resende) tinha muito jeito para
as madeiras. Sempre que podia, pegava num cutelo afiado e fazia uma peça
qualquer, piões por exemplo, mas tinha de ser às escondidas do meu pai”,
conta o artesão. Até que um dia o seu dom deixou de ser segredo. “Quando
andava na 3ª classe, houve um concurso em que cada escola do concelho
escolhia o aluno que tivesse feito o melhor trabalho em madeira para o ir apresentar juntamente com os outros finalistas. Eu fiz um arado, fui seleccionado,
e viria a ser considerado o autor da melhor peça de entre todas as escolas”,
recorda o artesão, cujos olhos ainda brilham de emoção de cada vez que lembra esses tempos. “A nossa professora até chorou de alegria”, enfatiza.
Infelizmente, pouco depois, também ele choraria, mas de
tristeza e frustração. É que o progenitor sempre torcera o
nariz ao talento que ameaçava roubar-lhe o filho ao destino
traçado desde que nasceu: tomar conta dos rebanhos nos
montes e, depois, trabalhar a terra. Por isso, resolveu por
um ponto final nas ilusões. “Nem acabei a 4ª classe, foi uma
dor de alma para mim”, desabafa mestre Fernando, com
uma expressão de mágoa a toldar-lhe o semblante. “Muito
mais tarde, o meu pai admitiu que fez mal, mas eu também
compreendo que naquela altura a prioridade era pôr comida na mesa e isso não era nada fácil”.
O jovem Fernando ainda aguentou até aos 18 anos. Então,
limitou-se a informar o progenitor de que ia aprender
outro ofício. O primeiro emprego foi na construção civil,
mas aos 26 anos rumou a Angola, ficando a viver e a trabalhar num estaleiro
da ilha de Luanda, onde se fez homem, como diz. Não conhecia aquela actividade, mas pressentia que o seu futuro estava ali, onde podia aliar o seu jeito
para as madeiras com dotes de engenharia que até então nunca pudera revelar. “Se tivesse continuado a estudar, talvez hoje fosse tão famoso como o
foi Edgar Cardoso, o engenheiro das pontes que era lá da minha zona”,
comenta, a propósito. O importante, porém, é que, finalmente, sentia prazer
no que fazia. “Desenhávamos e construíamos qualquer tipo de barco”, entusiasma-se mestre Fernando.
Em Angola haveria de construir três dos quatro barcos, que não a remos,
feitos ao longo da sua vida. O último foi já em Portugal, há cerca de 25 anos,
destinado ao brigadeiro que dirigia a antiga Escola de Remo e Canoagem.
“Ele ficou todo contente, disse que era o sonho da vida dele”.
Se a antiguidade e a dedicação valessem divisas na carreira de Fernando
Matos, certamente seria mais fácil ao mestre concretizar, também, o seu
próprio sonho de ter uma escola onde possa perpetuar a arte dos “yolles”.
Este país de marinheiros – e de cada vez mais atletas remadores de sucesso
internacional – deve agradecer-lhe… e com muito mais do que medalhas. JF
Jorge Ferreira [texto] Filipe Guerra [fotos]
26 TempoLivre
Dezembro 2006
SOLIDARIEDADE
Dançar
com a
diferença
Criado há cinco anos, o Grupo
Dançando com a Diferença integra
pessoas com e sem deficiência. Tratase de um projecto pioneiro em
Portugal que pretende combater
preconceitos e fomentar a inclusão
através da dança.
TUDO COMEÇOU EM 2001 APÓS UMA SUGESTÃO
de Henrique Amoedo, um coreógrafo brasileiro que
chegou a Portugal para fazer um mestrado e acabou por
se render aos encantos da Madeira (ver tira). Foi precisamente ali que propôs, à Divisão de Arte e Criatividade da Direcção Regional de Educação Especial, a
criação do Grupo Dançando com a Diferença. A ideia
era combater preconceitos e fazer algo inovador na área
da dança inclusiva.
Desta iniciativa constituíram-se vários grupos secundários, desenvolvidos em diversas instituições locais, com
focos de actuação nos âmbitos terapêutico e educacional,
e o grupo principal, que tem como meta fazer espectáculos. Hoje, a companhia é composta por quinze elementos,
entre os quais dez têm alguma deficiência: um invisual,
dois com Trissomia 21, três com défice de aprendizagem e
um invisual. Bárbara Matos, de 13 anos, é a artista mais
nova, enquanto Celestino soma já 71 anos.
28 TempoLivre
Dezembro 2006
“É um grupo muito heterogéneo”, explica Henrique
Amoedo, salientando ser essa a sua riqueza. E adianta:
“na dança contemporânea, os coreógrafos procuram
precisamente a diferença, o que cada intérprete pode
dar. E este grupo permite isso.” No fundo, não importa
as dificuldades de um bailarino, mas “saber o que ele
pode fazer bem”.
Como refere o responsável, no início ninguém imaginava como seria constituir um grupo de dança cujo
elenco fosse composto por pessoas com e sem deficiência. Cinco anos depois, afirma que a companhia conquistou já vários espaços dentro do universo da deficiência, mas não só. Isto porque o Grupo Dançando
com a Diferença integrou, em Março passado, a programação de reabertura do ‘alfacinha’ Teatro Maria Matos
– a primeira actuação em Lisboa.
E se a aceitação tem sido positiva por parte do público, muitas são também as alegrias que este projecto tem
proporcionado aos próprios elementos do grupo, a
começar pela sua auto-estima. A comunidade onde residem passou a olhá-los de outra forma, “deixam de ser
vistos como o vizinho que tem uma deficiência e que
precisa de ajuda, para passarem a ser o vizinho que deu
uma entrevista para a televisão ou que vai viajar para
dançar ”, refere Henrique Amoedo, salientando a
exposição que têm merecido na comunicação social.
No entanto, para o coreógrafo, Portugal tem ainda
que crescer muito na dança, e não só. E recorda o caso
de um bailarino da CandoCo – a principal referência de
dança inclusiva em Londres – que, apesar de não ter
pernas, fez uma audição para uma grande companhia
(DV8) e conseguiu o lugar. Em sua opinião, este é o caminho para que um dia se deixe de falar
de dança inclusiva e se passe a dizer simplesmente dança contemporânea.
Por outro lado, é igualmente necessário
uma outra atitude por parte das pessoas
com deficiência, “porque a sociedade só vai
entender as suas dificuldades se elas se
mostrarem”. Ainda assim têm que ter
condições de acesso, quer físicas, quer no
que respeita à diminuição de preconceitos.
Do Brasil para a Madeira
Chegou a Lisboa em 1999 para fazer um mestrado na
Faculdade de Motricidade Humana, numa altura em
que a dança com pessoas com deficiência ainda estava
muito associada ao aspecto terapêutico. Mas Henrique
Amoedo, natural de São Paulo, trazia já alguma experiência na bagagem. No Brasil foi o fundador da
Companhia Roda Viva, que ainda hoje é uma referência
internacional na área da dança inclusiva. Com ela
chegou mesmo a representar o seu país no I Festival
Internacional de Dança em Cadeiras de Rodas em
Bóston, nos Estados Unidos.
«Queremos Mais», «Vidas e
Vidas» e «Curso do Rio», com
Heloísa Costa, foram algumas
das criações que assinou durante a direcção daquela companhia, onde teve oportunidade
de trabalhar com vários coreógrafos, nomeadamente, Carlos
Cortizzo, Carlinhos de Jesus,
Domingos Montagner, Edson
Claro, Fernando Sampaio, Hen-
ROMPER FRONTEIRAS
rique Rodovalho, Ivonice Satie,
A primeira apresentação pública do
Grupo Dançando com a Diferença aconteceu em 2002, no âmbito do Campeonato
Mundial de Basquetebol, na Madeira, com
a coreografia «9x9», de Henrique Amoedo.
Contudo, o primeiro espectáculo –
«Diferenças» – subiu ao palco apenas em
Maio de 2003. Já a 19 de Novembro do ano seguinte, e
depois da ‘grande viagem’ pelas novas tecnologias presente na primeira produção, a companhia estreou
«Sente-se/ Sinta-se».
Em Julho de 2005, foi-lhe atribuído o estatuto de companhia residente do Centro das Artes Casa das Mudas,
altura em que estreou «Levanta os Braços como
Antenas para o Céu», de Clara Andermatt, com música
original de Vítor Rua. «Insónia», de Juliana Andrade e
Ricardo Mendes, ou «Exílio», de Carolina Teixeira, são
outros trabalhos que fazem parte do currículo do
grupo.
Para Henrique Amoedo, a colaboração com outros
coreógrafos «tem sido muito importante para os bailarinos», mas também para os profissionais. Clara
Andermatt, por exemplo, disse mesmo que o trabalho
desenvolvido com o Grupo Dançando com a Diferença
foi um grande desafio. No início, não sabia como lidar
com a situação e teve que vencer os seus próprios
Luis Arrieta e Pedro Costa.
Ainda no Brasil, deu formação e
organizou a criação da Companhia
Experimental
Grupo
Mão na Roda, que se caracteriza
pela utilização da dança como
um veículo para consciencialização e inclusão social de pessoas com deficiência.
Em Portugal, acabaria por viajar até à Madeira em 2001
onde abraçou um projecto que viria a dar origem ao
Grupo Dançando com a Diferença. Com a companhia
tem conseguido quebrar alguns preconceitos no
arquipélago e, embora seja muito acarinhada pelo
público e pela própria comunicação social, há ainda
quem nunca tenha assistido aos espectáculos, não conheça o projecto ou até não revele qualquer interesse.
Como o próprio explica, ainda existe algum preconceito, e não só em território madeirense. “Mas faz parte
do nosso trabalho tentar modificar esse cenário”,
admite.
Embora pretenda levar o grupo a outras zonas do país
(e não só), quer continuar a viver na Região Autónoma,
uma vez que o trabalho está a correr muito bem, e “o
facto de estar numa ilha facilita tudo, porque tudo está
mais próximo”, conclui.I
Dezembro 2006
TempoLivre 29
SOLIDARIEDADE
medos para depois os confrontar com os medos deles.
“Esta oportunidade só veio beneficiar a minha experiência pessoal e artística”, confessou.
Foi precisamente com uma das criações de Clara
Andermatt, entre outras, que o grupo actuou recentemente em França, naquela que foi a sua segunda deslocação ao estrangeiro, depois da estreia, em 2002, no
Brasil, no âmbito do Festival de Artes em Barreiras. Em
Versalhes, no passado dia 28 de Setembro, o grupo foi
aplaudido várias vezes por uma plateia de 600 pessoas.
E à saída do teatro mereceu novamente o reconhecimento do público.
«Levanta os Braços como Antenas para o Céu»,
«Menina da Lua», um trabalho de improvisação de
Henrique Amoedo e Bárbara Matos, e «Passion», da
brasileira Ivonice Satie, foram as coreografias apresentadas no Festival Européen Théâtre et Handicap
30 TempoLivre
Dezembro 2006
Orphée. A oportunidade para participar no evento
francês surgiu graças à Associação Nacional de Arte e
Criatividade de e para Pessoas com Deficiência, que
seleccionou a companhia entre outros grupos. Com esta
actuação, segundo o coreógrafo, “conseguimos um dos
objectivos para este ano: a internacionalização do nosso
trabalho”, numa altura em que o Grupo Dançando com
a Diferença comemora o seu quinto aniversário.
Ainda para este ano está prevista a actuação no 5º
Festival de Artes, Criatividade e Recreação, que decorre
até 10 de Dezembro, promovido pela Divisão de Arte e
Criatividade da Direcção Regional de Educação
Especial e Reabilitação. Trata-se de uma iniciativa que
tem por principal objectivo possibilitar que grupos e
artistas mostrem a sua arte, independentemente de
terem ou não uma deficiência. I
Cláudia Elias e Maria Leonor Vicente
TENDÊNCIAS
A aldeia global dos sabores
O movimento Slow Food reinventa-se, de dois em dois anos, por ocasião do Salone del Gusto e
do Terra Madre, procurando novos conceitos e lançando a si próprio e ao mundo novos desafios.
m paralelo com a 10ª edição da maior feira
de produtos tradicionais do mundo – o
Salone del Gusto – decorreu, em Turim, de
26 a 30 de Outubro, o segundo encontro
das “comunidades do alimento” Terra Madre (o
primeiro realizou-se em 2004), que reuniu 5600 delegados de 150 países, muitos dos quais nunca teriam recursos próprios para pagar uma deslocação ao estrangeiro
ou apoio logístico para fazer ouvir a sua voz fora das
fronteiras dos seus países.
No decurso do Terra Madre, realizaram-se encontros
regionais, colóquios e “laboratórios da terra” sobre os
vários sectores de actividade, com representantes de
todos os continentes. No centro do pavilhão, muitos
agricultores vestidos nos trajes tradicionais dos seus
países – não por folclore, mas como marcas da sua identidade –, expuseram e venderam livremente os seus
produtos: do maracujá da Costa do Marfim às ervas
aromáticas italianas, passando pelos colares de
sementes da Amazónia, os doces e molhos russos e o
queijo de yak tibetano.
Presentes pela primeira vez num encontro Terra
Madre e (informalmente) no Salone del Gusto 2006, as
ostras do Sado do ostreícultor Reinaldo Mendonça surpreenderam todos os que tiveram oportunidade de
fazer uma degustação. Estes bivalves foram recentemente registados sob a designação pela qual são conhecidas em todo o mundo – “Les Portugaises” – e são
agora candidatos aos “presidia” (“fortalezas”) da
Fundação para a Biodiversidade do Slow Food, onde se
poderão juntar às Fal Oysters de Cornwall (Reino
Unido), às ostras de “borde negro” de Calbuco (Chile) e
as Cape May Salt Oysters (Estados Unidos).
Além da broa de milho e da laranja de Ermelo (ambos
da região de Arcos de Valdevez), que já figuram na Arca
dos Sabores (criada à imagem da Arca de Noé para salvar
culturas e produtos em risco de extinção), Portugal só viu
reconhecidos, até à data, dois “presidium”: o chouriço
mirandês e o Queijo Serpa. Presentes no Terra Madre,
Esmeralda Franqueira, Joaquim Carlos e Jorge Miranda,
E
representantes da comunidade dos produtores de broa
de milho de Arcos de Valdevez, fizeram uma apresentação no “laboratório da terra” dedicado ao pão; enquanto Rogério Rosa e José Pinheiro, da comunidade da batata doce de Aljezur, deram a provar esta iguaria aos preDezembro 2006
TempoLivre 31
TENDÊNCIAS
Carlo Petrini, fundador e presidente do Slow Food International. Vandana Shiva, presidente da Comissão Internacional
para o Futuro dos Alimentos e da Agricultura. Produtos italianos de agricultura biológica
sentes no colóquio sobre raízes e tubérculos. O produtor
de sal algarvio, Jacinto Palma Dias, foi outros dos portugueses que viajaram até Turim para um primeiro contacto com a organização do Slow Food. O sal e a flor-desal de Castro Marim, a batata doce de Aljezur, o sal gema
de Rio Maior, o vinho de Colares e o chá Gorreana dos
Açores, são alguns dos produtos portugueses apontados
pelo movimento como futuros candidatos aos “presidia”.
A CAMINHO DO MARE MADRE
componente mais rica de uma participação no Terra Madre é a da troca informal de experiências entre os representantes das diversas comunidades presentes, com destaque para os pescadores, que protagonizaram animados debates. Presente no painel dedicado às questões ambientais relacionadas com a pesca
artesanal, Carlo Petrini, fundador e presidente do movimento Slow Food International, sublinhou que «à
imagem do Terra Madre, também vai ser necessário
criar um Mare Madre» para proteger os oceanos e todos
os que deles retiram o seu sustento e que ele próprio iria
sugerir a ideia no próximo encontro Slow Fish, que se
realizará em Génova, de 4 a 7 de Maio de 2007.
«Temos de recolocar o alimento no centro da nossa
vida – exortou Carlo Petrini,– quase parece um paradoxo, mas sem alimentos não podemos viver. Os alimentos são a essência da vida e a sociedade tem neces-
A
32 TempoLivre
Dezembro 2006
sidade de saber mais sobre os alimentos e temas como o
direito à água potável ou a propriedade das sementes».
Retomando, na essência, a mensagem de Petrini,
Vandana Shiva, presidente da Comissão Internacional
para o Futuro dos Alimentos e da Agricultura, lembrou
que «somos a comida produzida por outros» e que «o
“karma” mais elevado é o de produzir boa comida e
oferecê-la generosamente».
O conhecido “chef ” catalão, Ferran Adrià alertou para
o risco de colocarmos «a relação alimentação-saúde
entre as últimas prioridades da vida. Em vez disso,
preferimos ter um telemóvel, ou dois!». Dirigindo-se a
uma plateia de agricultores de todo o mundo, o mestre
da gastronomia molecular salientou que «na alta cozinha, fomos pioneiros ao ir de encontro aos pequenos
produtores. Até pode ter sido por egoísmo, porque
queríamos os melhores produtos, mas estes entraram
definitivamente nas nossas ementas».
«Os alimentos cultivados pelos pobres impuseram-se
nos grandes restaurantes. Pelo menos nisto, os pobres
venceram», acrescentou Fausto Bertinotti, presidente
da Câmara dos Deputados italiana, um dos convidados
para a cerimónia de encerramento do Terra Madre.
«Estão a nascer os “eco-chefs”, cozinheiros com uma
responsabilidade social e ambiental. Não podemos ter
interesse, apenas, em aquilo que pode melhorar a nossa
técnica culinária», afirmou por sua vez, a “chef ”
brasileira Teresa Corção, que falou em representação
das dezenas de cozinheiros convidados a fazer a
“ponte” com as 1600 “comunidades do alimento” pre-
sentes no encontro Terra Madre. «Temos uma missão
para além dos tachos e fogões. Somos o penúltimo elo
entre os produtores e a mesa; colocamos produtos dos
pequenos produtores nos nossos restaurantes, destacando a sua origem; ensinamos as crianças a cozinhar
como forma de expressão e auto-estima; e resgatamos a
memória gastronómica dos nossos países», sublinhou.
LIBERDADE PARA VIVER
«
inguém pense que foi aqui formada
uma nova associação ou um partido –
esclareceu Carlo Petrini – não temos
quaisquer ideias de estruturar o Terra
Madre que é, por natureza, uma entidade livre. Desta
forma, podemos usar a nossa imaginação, ser inventivos, ter coragem, desbravar novos caminhos, pensar
em cuidados mútuos e entreajuda (um elemento chave
para a comunidade), viver para os outros, traduzir direitos em leis e pensar no bem-estar de todos. Entre nós
e ao contrário de uma sociedade estruturada, não há
concorrentes, nem utilizadores de objectos de consumo», concluiu o fundador do movimento Slow Food.
Sempre no tom directo e incisivo que a caracteriza,
Vandana Shiva afirmou que «a comida é o novo campo do
fascismo» e denunciou o domínio exercido pelas três
maiores multinacionais de sementes modificadas (os
famosos OGM – Organismos Geneticamente Modificados,
também conhecidos como “transgénicos”), para quem «os
lucros se tornaram mais importantes que a vida humana.
Na Índia, suicidaram-se nos últimos anos 1400 pequenos
agricultores porque se viram proibidos de cultivar as suas
sementes e não tinham dinheiro para comprar mais». A
presidente da Comissão Internacional sobre o Futuro dos
Alimentos e da Agricultura (instituição que acaba de publicar um Manifesto sobre o Futuro das Sementes) terminou a sessão com um grito de reivindicação a favor da
liberdade para as sementes e para os camponeses, recusando o jugo das patentes e da privatização dos OGM.
Descrito como a “aldeia global da comida”, o Salone
del Gusto procura ser muito mais do que uma simples
feira comercial de alimentos. O enfoque do certame
assenta nos aspectos económicos, sociais e éticos da
produção, distribuição e consumo alimentar, constituindo-se como o palco do intercâmbio cultural entre
agricultores, consumidores, cozinheiros e gastrónomos.
A divulgação desta extraordinária herança cultural
junto do grande público (mais de 150 mil visitantes, em
N
Panorâmica do mercado, no centro do pavilhão
do Terra Madre
2006) contribui para aumentar a resistência à standardização imposta pelo mercado global, que penaliza as
pequenas produções de qualidade. Carlo Petrini congratulou-se com o facto da situação de há dez anos se ter
invertido: «hoje, 75% dos expositores são produtores e
só 25% são comerciantes».
Em finais de 2005, o jornalista italiano publicou o livro
“Buono, Pulito e Giusto: Principi di Nuova Gastronomia”, que serviu de mote para a organização da feira em
2006: «boa, limpa e justa, são três adjectivos que descrevem de uma forma simples e objectiva, as características da alimentação do eco-gastrónomo – afirma Petrini
– comer é um acto agrícola e a escolha de alimentos de
boa qualidade, produzidos no respeito pelo meio ambiente e pelas tradições locais, ajuda a proteger a biodiversidade e uma agricultura justa e sustentável. Podemos
ser instrumentos de mudança».
Em contraste com os gulosos do passado, os novos
consumidores têm de estar conscientes da forma como
podem afectar, pelas suas escolhas, o mercado e a produção alimentar. Comer é, também, um acto de responsabilidade social. Citando Brillat-Savarin, Carlo Petrini
observa que «a gastronomia é uma ciência multidisciplinar e complexa que envolve mais do que o prazer individual. Tem igualmente repercussões na agricultura e
nas políticas económicas, sociais e ambientais. A alimentação de qualidade tem de agradar aos sentidos e ser
produzida sem afectar a natureza e no respeito pelos
direitos dos trabalhadores». I
Alexandre Coutinho [texto e fotos]
Dezembro 2006
TempoLivre 33
ÓPERAS PORTUGUESAS NO TEATRO DA TRINDADE (VI)
Rosas
de todo o ano»
«
de Rui Coelho
A Companhia Portuguesa de Ópera do Teatro da Trindade, na sua temporada popular de
1973, apresentou no mês de Julho, seis récitas da ópera em um acto “Rosas de Todo o
Ano”, música do maestro Rui Coelho sobre libreto de Júlio Dantas, em programa que se
completou com a famosa “Cavalleria Rusticana”, de Pietro Mascagni, também um acto
único, mas dividido em dois quadros. Os espectáculos registaram a presença e o aplauso
de mais de 6000 espectadores.
OS RESTANTES TÍTULOS DESTA BRILHANTE
temporada foram “Il Matrimónio Secreto”, de Cimarosa,
“La Sonnâmbula”, de Bellini, “Werther” e “Don Quixote”,
ambas de Massenet, e a opereta “A Viúva Alegre”, de Franz
Lehar, também seis récitas de cada uma.
A comédia sentimental em um acto e dois personagens
“Rosas de Todo o Ano”, de Júlio Dantas (Lagos 1876 –
Lisboa 1962), foi escrita por solicitação do Conservatório
Nacional para a prova de exame e concurso a prémio de
Maria Matos e Dalila Motili que a representaram pela
primeira vez no Salão daquela escola no dia 21 de
Outubro de 1907: Maria Matos ascendeu na sua carreira
às mais altas glórias do teatro e do cinema, enquanto
Dalila Motili não terá seguido a profissão teatral.
Mas a primeira apresentação pública verificou-se no
Teatro D. Amélia (hoje Municipal de São Luis) a 18 de
Novembro de 1907, interpretada por Lucília Simões no
papel de Suzana e Maria Falcão em Soror Inês; depois,
percorreu praticamente todos os palcos portugueses,
profissionais e amadores; representou-se também em
Londres no Court Theatre (1912), em Barcelona no
Poliorama (1913), em Roma no Argentine (1913) e em
muitas outras cidades, nomeadamente brasileiras, conhecendo-se traduções publicadas em espanhol,
catalão, inglês, italiano e francês.
Mas os maiores êxitos teatrais do escritor serão certa34 TempoLivre
Dezembro 2006
mente A Severa, 1901 – hoje divulgada sobretudo pela
versão filmica e pela música de Frederico de Freitas – e
“A Ceia dos Cardeais”, de 1902. Na realidade, não haverá
no País uma única associação cultural, clube recreativo
ou dramático, companhia profissional ou grupo de
amadores que não tenha representado a famosíssima
refeição dos três prelados! “A Ceia dos Cardeais” foi convertida em ópera pelo maestro Luis Filgueiras, cantada
duas vezes no Teatro São Luis, em Maio de 1926, depois
injustamente esquecida até aos dias de hoje.
Júlio Dantas forneceu a Óscar da Silva o libreto da
ópera “Dona Mécia”, estreada no Coliseu dos Recreios,
em 1901, cantada no Porto e Braga em 1916, no São
Carlos em 1971: foram então três récitas encerrando a
comemoração do Centenário do Nascimento do
Compositor, com Zuleika Saque, Armando Guerreiro,
Luís França e Álvaro Malta nos principais papeis, que
tive a honra e o gosto de dirigir a convite do então
Director do Teatro, João de Freitas Branco.
Voltando às “Rosas de Todo o Ano...”, é curioso verificar
que, antes de Rui Coelho, outro ilustre compositor já a tinha
musicado: Augusto Machado, revelada no Teatro de São
Luis, em Junho de 1920, e, posteriormente, no São Carlos.
A ópera de Rui Coelho, que se cantou, em 1973, no
Teatro da Trindade, tivera estreia no São Carlos em 1925,
por Fernanda Côrte-Real e Bela Dyson Gomes; é repos-
ta em mais cinco temporadas do nosso teatro lírico e
cantada em muitos outros palcos do País.
Com a partitura revista em 1946, os espectáculos da
Companhia Portuguesa de Ópera do Teatro da
Trindade foram interpretados, com o maior sucesso de
público, por Elizette Bayan (Suzana) e Maria Ramos
(Soror Inês), direcção musical alternadamente do Autor
e do maestro brasileiro David Machado, encenação de
António Manuel Couto Viana, cenário de José Manuel,
colaboração da Orquestra de Ópera organizada conjuntamente pela FNAT e pela Câmara Municipal de Lisboa.
Rui Coelho (Alcácer do Sal 1892 – Lisboa 1986) estudou
no Conservatório Nacional, onde foi brilhante aluno de
Alexandre Rey-Colaço; na Alemanha trabalhou sob orientação de Max Reger, Humperdink e Schönberg, de Paul
Vidal em Paris. É sem duvida o compositor português do
século XX que mais se dedicou ao teatro lírico. Entre as
suas numerosas obras – sinfonias, poemas sinfónicos,
concertos, oratórias, bailados, música de câmara, canções,
etc. – figuram 18 óperas, na sua maioria estreadas no São
Carlos e cantadas em muitos outros palcos e cidades, até
em Espanha e em França: a ópera “Belkiss”, sobre o libreto de Eugénio de Castro, foi premiada em 1924 no
Concurso Internacional de Composição de Madrid.
Rui Coelho preocupou-se em conseguir uma linguagem lírica inserida no percurso estético histórico-cul-
tural português, pela temática dos argumentos e pela
escolha de grandes escritores para libretistas das óperas,
como Afonso Lopes Vieira, Teófilo Braga, Alfredo Cortez,
Correia de Oliveira, António Patrício, Eugénio de Castro,
Silva Tavares, entre outros. É também autor de cinco
óperas vicentinas e, com a mesma intenção, fundador em
1934 do movimento Acção Nacional de Ópera.
Como vimos em artigo anterior, a sua ópera em três
actos “Inês Pereira”, sobre o Auto de Gil Vicente do mesmo
nome, adaptado a libreto por Gino Saviotti, obteve grande
êxito na Temporada Popular de Ópera do Teatro da
Trindade de 1966. Compositor ultimamente muito esquecido, a sua importante presença na programação musical
novecentista de todo o País – e mesmo com sucessos internacionais – impõe a urgente revalidação das suas óperas e
outras composições, por critérios objectivos puramente
musicais e culturais, tal como o Teatro de São Carlos têm
ultimamente realizado com tanto êxito, ressuscitando
óperas de Augusto Machado pela mão certeira e competente do maestro João Paulo Santos.
A pequena ópera “Rosas de Todo o Ano” é, certamente, de imediato sucesso, quer pela música quer pelo
libreto - a avaliar pelo caloroso acolhimento registado
nas suas últimas apresentações na Temporada Popular
do Trindade, há já trinta e três anos! I
Maestro Manuel Ivo Cruz
Dezembro 2006
TempoLivre 35
PAIXÕES
MADALENA VIANA
DITAM AS ESTATÍSTICAS DOS
estudos internacionais que oito em
cada dez pessoas estão insatisfeitas
no seu trabalho. Madalena Viana
tem a sorte de pertencer à minoria.
Com um profundo fascínio pela
água, a natureza e os barcos, esta
empreendedora conseguiu arranjar
forma de aliar os seus maiores prazeres a uma actividade lucrativa ligada ao turismo fluvial.
O gosto pela navegação é tal que
tirou mesmo a carta que lhe permite manobrar a embarcação que
transporta os turistas nos passeios
pelo rio, na zona do Ribatejo..
A paixão pelos barcos começou
cedo. «Era ainda uma miúda, teria
uns sete, oito anos e já sentia o
apelo do mar, da água. Os meus
irmãos, também eles ainda pequenos, começaram a aprender vela na Associação Naval de Lisboa.
Eu também tinha o mesmo desejo,
mas, naquela altura, as meninas
não se podiam inscrever, o que me
deixou muito desolada», conta.
Mas não por muito tempo. Aos 10
anos, e já em Algés, a candidata a
marinheira começa finalmente a
concretizar o seu sonho de aprender a velejar.
Depois de aperfeiçoar a técnica
durante uma década, resolve com-
O apelo
36 TempoLivre
Dezembro 2006
prar o seu primeiro barco. «Lembrome tão bem… Era uma pequena
embarcação com apenas 5,20 metros, mas permitia-me praticar um
desporto que eu adorava: o ski
aquático. Além disso, dava-me a
oportunidade de me afastar da costa
e mergulhar em zonas mais profundas, outra das minhas paixões»,
recorda Madalena, que tem também
a carta de mergulhadora.
Agora navega mais do que mergulha, a bordo de uma «enviada»,
espécie de traineira que reconverteu em barco turístico com capacidade para 30 pessoas.
Os passeios fluviais no Tejo, entre
Vila Franca de Xira e Valada do Tejo,
permitem desfrutar não só as paisagens naturais do local, mas também as antigas tradições das gentes
avieiras e das suas casas construídas
sobre estacas nas margens do rio.
«Eu viajei um pouco por todo o
mundo nos anos que se seguiram
ao final do meu curso de turismo.
Quando me casei, já estava um
pouco cansada de tanto viajar mas
sentia ainda a necessidade de
comunicar com as pessoas e de me
manter ligada à actividade turística.
Por isso, quando fixei residência na
Azambuja e comecei a descobrir
recantos lindíssimos e pouco conhecidos, a menos de 45 minutos
de Lisboa, nem queria acreditar»,
conta a empreendedora.
Estava lançada a ideia para criar
uma empresa, a Ollemturismo, para
dar a conhecer a beleza da região.
Actualmente, a empresária organiza
dois cruzeiros em rotas distintas não
só para turistas e grupos de amigos,
mas também para programas anti-
stresse para trabalhadores de empresas. Ao leme da embarcação está
quase sempre Madalena Viana.
Na «Rota dos Avieiros, parte-se
logo pela manhã do cais da Valada
do Ribatejo e desliza-se suavemente pelas margens do rio, de
onde se pode apreciar a natureza
local. Na hora do almoço, a interrupção é na Palhota, uma típica aldeia de pescadores avieiros. Depois, o momento da digestão e
descontracção é no «mouchão, uma
ilha com um agradável areal e um
arvoredo frondoso, com alguns cavalos à solta», pormenoriza.
Na chamada «Rota do Tejo» entra a
parceria com a Casa Cadaval onde é
feita a paragem do dia, não só para o
repasto mas também para uma prova
de vinhos e uma visita à coudelaria. I
Marisa Antunes [texto e fotos]
da água
Dezembro 2006
TempoLivre 37
DESPORTO INATEL
O regresso do árbitro pródigo
JORGE COROADO:
A NOSTALGIA DO APITO
Quando, ao segundo sábado de Novembro, as equipas do Fonte de Maio e da Associação
Popular de Paço de Arcos entraram nas quatro linhas do Campo da Ribeira da Laje, junto
a Oeiras, respirava-se uma inexplicável atmosfera de jogo grande - daqueles que se vêem
na televisão, apesar das bancadas seminuas e da terra batida.
AO CENTRO DO TERRENO, COM
pontualidade e aprumo britânicos,
Jorge Coroado e auxiliares esperavam
os intervenientes, e a postura não
deixava dúvidas: aquela manhã
solarenga não era para brincadeiras,
mas para jogar futebol.
Foi em conversa com dois amigos
de longa data – um dos quais Vítor
Soromenho, do departamento de
desporto do Inatel - que, por brincadeira, Jorge Coroado disse ainda ser
“capaz de acabar a arbitrar no Inatel”:
“Eles pensavam que eu dizia por
dizer, mas sou um homem de
palavra”, afirma Jorge com seriedade
característica, confirmado o acordo
com a instituição, pela qual irá apitar
aos domingos.
Porque o bom filho à casa torna, o
árbitro internacional português
regressou “com grande satisfação,
para matar o bichinho”. “Se pudesse,
arbitrava de manhã à noite”, desabafa,
para recordar com a Tempo Livre, já
nos balneários, depois de arbitrar um
primeiro jogo e auxiliar um segundo,
aquele outro sábado de manhã de há
quase 30 anos: “Tinha tirado o curso
de árbitro na Associação de Futebol de
Lisboa (AFL) e, quando estava no
Estádio Nacional a treinar, foi
necessário um árbitro para apitar um
jogo do Inatel. Fui desafiado e acabei
por ficar.” A AFL pagava pouco e com
38 TempoLivre
Dezembro 2006
muitos meses de atraso...
“Os árbitros arbitravam para
o Inatel, ao sábado, para não
terem de investir dinheiro da
sua algibeira nas deslocações
da AFL. Além disso, o Inatel
pagava na hora e, em muitas
circunstâncias, melhor do que a
própria Associação”, lembra o
bancário, agora comentador
desportivo em Imprensa, rádio e
televisão. O miúdo Coroado,
ainda a estudar e trabalhar,
aproveitou para juntar uns tostões
e ganhar experiência. Em 1982, por
decisão da Federação Portuguesa
de Futebol, foi forçado a afastar-se da
arbitragem no Inatel, mas sublinha
nunca ter perdido o contacto com a
instituição, uma vez que é “sócio e frequentador desde muito novo”.
Três vezes por semana, antes de dar
entrada no banco, levanta-se às sete
horas da manhã e sai para fazer exercício físico. Se não se sentisse em boa
condição, não voltava ao activo: “Há
três anos, quando parei, engordei
muito. Não era capaz de vestir uma
das camisolas que utilizei hoje.
Arrastar-me e andar a passear o apito
no campo não é para mim.”
Hoje, o mesmo árbitro que apitou
importantes partidas internacionais e
que, ao longo dos últimos 11 anos de
carreira, ostentou, até 2001, as insíg-
nias da FIFA, não se sente “menosprezado nem descredibilizado” por
arbitrar estes jogos, até porque, “inserido nesta competição e estrutura organizativa, o sabor é distinto de arbitrar
solteiros e casados”: “Nunca me
julguei uma estrela. Sou mais um a
tentar que a competição decorra nos
parâmetros exigíveis do fair play.
Poderei ter relevância em termos de
opinião pública, e os jogadores podem
tributar-me um reconhecimento diferente, também fruto de uma carreira
de 30 anos...” Na verdade, no decorrer
do primeiro embate da manhã, após
uma entrada dura e algumas palavras
ríspidas, bastou um olhar fulminante
de Coroado para sanar totalmente a
contenda que se adivinhava.
Desporto popular
Dezenas de milhar de atletas/parti-
“saudável” competição, que apesar
cipantes, de todas as idades e
de ser amador, reúne e deixa espaço
sexos, integram os campeonatos e
à presença de profissionais. Jorge
torneios que o Inatel, desenvolve,
Coroado é o exemplo de um árbitro,
por época, um pouco por todo o país,
que entre outros juízes profissionais
com os CCDs (Centros de Cultura e
vestem a camisola pelo Inatel, nas
Desporto) e que culminam em par-
diferentes modalidades desportivas
ticipações internacionais no âmbito
- Andebol, Basquetebol, Futebol,
do Csit (Confederação Desportiva
Futsal, Voleibol, Voleibol de Praia de
Internacional do Trabalho). Desse
Atletismo, Damas, Natação, Pesca
universo, cerca de 10 mil atletas par-
de Água Doce e de Mar, Ténis de
ticipam, por época, nos mais de três
Mesa, Tiro e Xadrez - que regular-
mil jogos de Futebol que acontecem
mente são levadas a cabo pelo
a nível nacional. Um desporto de
Instituto.
Dado o respeito de que usufrui, não
houve quem lhe lançasse o mais
pequeno impropério das bancadas,
mesmo não estando a mãe entre a
assistência... Recuando a outros tempos, o árbitro relembra o dia em que,
no Estádio de Alvalade, num dos
primeiros jogos grandes que arbitrou,
a mãe assistiu ao vivo, pela primeira e
última vez, a um jogo ajuizado pelo
filho: “Houve alguém que entendeu
chamar-me um daqueles nomes que
visam a família. A minha mãe reagiu
intempestivamente. Aquilo deu uma
caldeirada muito grande porque o
fulano sofreu um vexame terrível.
Apesar da idade avançada, a minha
mãe não se eximia de enfrentar fisicamente ninguém, e ele, envergonhado,
abandonou as bancadas do estádio.”
Finda a nostalgia do apito que
viveu durante os três anos que se
seguiram ao abandono da arbitragem, revela que as lágrimas lhe
chegavam aos olhos quando não
podia fazer mais do que ver futebol.
O presente proporciona-lhe um
regresso não apenas à arbitragem,
mas a um projecto no qual é um dos
principais actores pela credibilização
da arbitragem do futebol do Inatel.
“Se entenderem que sou útil, é evidente que se poderão fazer coisas
interessantes. Não se pode entender
a arbitragem como um mal
necessário. Os responsáveis compreenderam que, sendo o Inatel olhado como o parente pobre do futebol,
pode e deve fazer-se uma tentativa de
melhoria dessa imagem.”
Recordando o livro biográfico “O
último cartão”, que o árbitro de
Carnaxide escreveu com o jornalista
Jorge Baptista, é caso para dizer
“nunca digas nunca”. Afinal, Coroado
tem ainda muitos cartões por
mostrar... E fê-lo, com efeito imediato,
logo naquele segundo sábado de
Novembro. I
Hugo Simões [texto] José Frade [fotos]
Dezembro 2006
TempoLivre 39
TERRA NOSSA
LUSO E BUÇACO
Água e floresta
A Mata Nacional do
Buçaco é uma
relíquia antiga.
Quando em 1628 o
bispo de Coimbra
entregou o lugar aos
frades Carmelitas
Descalços o bosque já
existia. Conhecida,
portanto, pela sua
antiguidade, mas
também pela
exuberância da sua
flora e pela atmosfera
incomparável que
cria, a Mata contém a
frescura do Atlântico,
a pujança dos
trópicos e a robustez
do Mediterrâneo.
TERRA NOSSA
SÃO CENTENAS DE ESPÉCIES VINDAS DOS QUATRO
cantos do mundo. Uma floresta ecuménica onde convivem araucárias e eucaliptos, sobreiros e carvalhos,
medronheiros e sequóias. E há os cedros, árvore querida
dos frades que os disseminaram por toda a floresta.
Alguns, pela grandeza do porte, vêm assinalados no
mapa editado pela Junta de Turismo de Luso Buçaco,
como aquele que a tradição diz ter sido plantado em 1644,
e que com tantos anos em cima do tronco precisa do
apoio de cabos de aço para não tombar encosta abaixo.
Conheci o Buçaco há muito tempo; redescobri-o
recentemente. Tanto quanto a minha memória foi capaz
de alcançar nada de substancial tinha mudado. A Mata
guardava toda a sua beleza, o Palace Hotel permanecia
sumptuoso e o Museu Militar mantinha aquele ar antigo, parado no tempo, de coisa em que não se mexe há
muito. Porque quando se diz Buçaco está-se a incluir
também o Palace Hotel e batalha ali travada em 1810.
A Mata, em qualquer circunstância, merece uma
adjectivação generosa, e não faltam testemunhos do
deslumbramento que desde sempre provocou. Martin
Hume disse ser o Buçaco, “Uma luxuriante floresta
como aquelas que já vi no Amazonas e no Brasil, mas
nunca na Europa”. Já Lichnowsky, mais inspirado,
escreveu: “Acredite-se que se está transportado aos
GUIA
Localização:
dispondo de 69 quartos,
O Buçaco / Luso situa-se
todos equipados com
no centro litoral de
aquecimento, telefone e
Portugal, na região da
televisão. Contacto: Rua
Bairrada, a cerca de 25
Dr. Costa Simões – 3050 -
quilómetros de Coimbra e
226 Luso. Tel: 231 930 358
200 quilómetros de Lisboa.
Palace Hotel Buçaco, Mata
do Buçaco, Tel: 231 937 970
Informações:
Grande Hotel de Luso, Rua
Junta de Turismo de Luso-
Dr. Cid Oliveira, 86, 3050 -
Buçaco, Rua Emídio
210 Luso, Tel: 231 937 937
Navarro, 1363 - 050 Luso
Tel : 231 939 007; www.
Restaurantes:
jtluso-bussaco. pt
O Cesteiro, Rua Dr. Lúcio
antiquíssimos bosques do Oriente; - o certo é que a
Mata do Buçaco não tem outra na Europa que se lhe
possa comparar”.
Em certos momentos, o centenário bosque adquire
qualidades excepcionais, como nas manhãs de neblina,
quando o sol aparece, provocando durante algum
tempo um jogo de luz e penumbra surpreendente. Isso
acontece com alguma frequência e também agora nesta
manhã de Outono. Depois de ter passado a Porta das
Ameias mergulho numa neblina vaporosa que é cortada por raios de luz que descem das copas das árvores e
criam uma atmosfera inefável. O facto de a vegetação
ser densa e o terreno acidentado cria a ilusão de estar
dentro de uma floresta de grande dimensão, além disso
a velha cerca monástica que a delimita em todo o seu
perímetro acrescenta-lhe a característica de ilha.
No caminho surge uma clareira, onde, como uma espécie de grande fantasia de pedra lavrada, assenta o Palace
Hotel. Este é um edifício a que ninguém fica indiferente.
Normalmente as opiniões tocam os extremos: ou se gosta
ou se detesta. Estava-se no último quartel do século XIX
quando o edifício foi construído para servir de residência
de veraneio à família real. O arquitecto responsável por
este gótico floreado ou neo-manuelino delirante, foi o
italiano Luigi Manini que era cenógrafo do Teatro
Nacional de São Carlos. Portanto não é desproporcionado
pensar que a obra foi pensada como uma espécie de
cenário, um décor para um espectáculo. Para além de
Manini, um leque alargado de artistas deixou a sua
impressão digital no Palace Hotel. Os melhores da época.
Jorge Colaço na azulejaria, Costa Mota, tio, na escultura,
Carlos Reis e António Ramalho na pintura.
O Palace tornou-se hotel no final da primeira década do
século XX, mas não deixou de ser “Palace”. Certamente
que quem vê o edifício por fora terá toda a curiosidade
em observar o seu interior. Para os não hóspedes resta a
hipótese de passarem pelo bar, ou como fiz, experimentarem o restaurante. Embora esta não seja uma crónica gastronómica é justo dizer que foi uma experiência. O local é
único, o serviço tem a classe das casas reputadas e a
ementa é rigorosa e equilibrada; de bom gosto. O vinho,
reserva exclusiva do restaurante, é excelente.
Abranches, Luso, Tel: 231
A BATALHA DO BUÇACO
Dormir:
939 360
O INATEL tem de um
Varanda do Lago, Parque
Centro de Férias no Luso
do Lago do Luso, Luso,
aberto todo o ano e
Tel: 231 930 888
Uma visita como deve ser ao Buçaco inclui algo que
tenha a ver com a batalha de 1810. Depois do almoço,
encontrei a lápide, na frontaria da capela do antigo
mosteiro, que recorda que o general Arthur Welleley,
duque de Wellington, pernoitou no convento após o
42 TempoLivre
Dezembro 2006
Em cima, Mata do Buçaco. Em baixo, fonte termal do Luso, Palace Hotel do Buçaco, monumento da batalha do Buçaco e Inatel Luso
TERRA NOSSA
Vista geral do Luso e Museu Militar do Buçaco
combate contra o exército do general Massena. O acontecimento histórico tem um Museu Militar, que lhe é
dedicado, logo depois da Porta da Rainha. É um museu
pequeno onde, como é regra dos museus militares, a
acção dos vencedores é destacada, enaltecida, quando
não exagerada. Armas, cartas militares, retratos de oficiais, bandeiras de regimentos, uniformes, podem, com a
ajuda da imaginação, levar o visitante até esse violento
dia 27 de Setembro de 1810.
A confrontação deu-se no flanco oriental do Buçaco,
para lá da cerca da Mata. A poucas centenas de passos
do Museu, no local onde a cavalaria anglo-lusa estacionou, foi erguido um obelisco comemorativo. O sítio é
uma espécie de varanda aberta à grandeza panorâmica.
O meu olhar desliza até ao horizonte, até às paredes do
Caramulo, até à massa compacta da Estrela. Um lugar
que em momento algum lembra a dura batalha que se
desenrolou pelos montes e encostas em redor.
ÁGUAS QUE CURAM
Próximo do Buçaco, a meia encosta da serra, está a
povoação termal do Luso. As virtudes medicinais da
água do Luso apesar de já serem conhecidas antes só
começaram a ser verdadeiramente aproveitadas no
século XIX. A Acta da Instalação da Sociedade Para o
Melhoramento dos Banhos do Luso tem data de 25 de
Agosto de 1852 e contou com 18 accionistas. A iniciativa
partiu de António Augusto da Costa Simões, Francisco
António Diniz e Alexandre Assis Leão.
Mas não se pode falar do Luso sem referir Emídio
Navarro. Político e jornalista foi, enquanto ministro das
44 TempoLivre
Dezembro 2006
Obras Públicas, responsável pela “… construção de
duas escolas, um posto de correios, abertura de ruas e
avenidas na vila”. Mas a afeição desta figura grada pelo
Luso foi mais longe, construindo aí o seu chalet e convencendo outras figuras influentes do seu tempo a fazerem o mesmo. Foi portanto no virar do século XIX
para o XX que o Luso adquiriu os traços distintivos que
ainda hoje perduram, através desses edifícios então em
moda entre os mais endinheirados, os chalets, e de
obras emblemáticas como o Balneário Termal ou Club
que depois se passou a chamar Grémio e depois ainda
Casino, um local destinado à diversão dos frequentadores dos banhos e onde se realizavam bailes, havia
teatro e salas de jogos. Um local com pormenores de
requinte e decorado segundo o gosto da belle époque.
O edifício continua de pé, inconfundível, hoje com uma
sala servir de recatada biblioteca e um espaço amplo
como sala de exposições.
Outra silhueta inconfundível é o Grande Hotel do
Luso, uma obra com a assinatura de Cassiano Branco,
inaugurado em 1940. Depois dessa data pode-se dizer
que nada mais se construiu com a mesma distinção.
Se fosse Verão haveria gente por todo o lado e ruas
cheias de carros, mas nestes dias assim restam os aquistas em tratamento e alguns turistas, poucos, que passam
pela fonte de São João, onde a água termal corre em
abundância, ou vão ao Posto de Turismo fornecer-se de
mapas e folhetos. Talvez seja este o tempo certo para
apreciar esta serra revestida de árvores raras e preciosas
nascentes de águas minerais. I
José Luís Jorge [texto e fotos]
O TEMPO E O MUNDO | DUARTE IVO CRUZ
Conceitos e políticas
de Esquerda-Direita
Exactamente no calendário de redacção deste artigo, ocorre a mudança de maioria no
Congresso dos EUA. Nenhum observador tem duvidas quanto à principal motivação da
escolha do eleitorado, e essa é, obviamente, o desgaste da guerra do Iraque, mas não só.
A situação passa também por opções de política
económica e talvez por um nítido cansaço de
uma retórica belicista e neo-liberal que pelos vistos já não convence uma sociedade norte-americana atravessada, a nível das pessoas e das
famílias, por problemas não despiciendos. Acresce a arrogância com que se colocou, perante um
eleitorado profundamente convicto do Estado de
Direito e das garantias judiciais, situações aberrantes como o regime jurídico dos presos de
Guantanamo, por exemplo, mas não só: o terrorismo tem de ser combatido, mas passados 4 ou 5
anos, quem está preso tem de ser julgado e condenado ou absolvido.
E mais: num país historicamente de emigrantes
e hoje maioritariamente hispânicos, anunciar um
gigantesco “muro de Berlim” entre os EUA e o
México, com argumentos securitários, que fazem
lembrar os argumentos da velha Republica
Democrática Alemã quanto ao verdadeiro muro
de Berlim dos anos 60-80 também não deve ter
sido simpático ao eleitorado...
Mas significa isto que os EUA viraram ou
votaram “à esquerda”? Nada menos exacto do
que considerar o Partido Democrático “esquerdista”... Então Clinton foi um Presidente de
46 TempoLivre
Dezembro 2006
esquerda? Ressalve-se, bem pelo contrário, a
exemplar salvaguarda das instituições democráticas americanas e a reacção tranquila e institucional do respectivo Governo, que não veio com
desculpas nem impugnou as eleições.
É então altura de ponderar um pouco a dicotomia esquerda - direita na América Latina, à luz,
ainda por cima, de mudanças eleitorais sucessivas, processadas na estabilidade de regimes
democráticos, com a excepção do México, onde o
candidato da esquerda populista tradicional
perdeu e dificilmente se conforma.
Mas para lá disso, não se vai considerar “de
esquerda”, no sentido clássico das tradições politicas latino - americanas, o estável e transparente
socialismo partidário no poder em sucessivos
mandatos no Chile. Como também é no mínimo
expectante esta “reencarnação” do Presidente
eleito no Perú,Alan Garcia, que se diz “arrependido” do populismo indigenista do seu remoto governo dos anos 70 – outra época, outra mentalidade. Venceu um militar de esquerda populista. E
também não é de esquerda proletária, como bem
sabemos, o governo de Lula. E assim mais ou
menos, sucessivamente!
Com óbvias excepções atípicas. O Presidente da
Venezuela interfere ostensiva e assumidamente
em actos eleitorais da região “Ganhou” as eleições
na Bolívia, “perdeu” no Peru, veremos como será
no Equador, sendo certo que na Bolívia as coisas
correm mal. Agora, o governo de Caracas proibiu
o Pai Natal em edifícios públicos...
Mas o prémio para a maior recuperação irá para
a Nicarágua, onde o ex - Presidente sandinista
Daniel Ortega, afastado nos anos 80 num exemplar acto eleitoral, recupera a Presidência também
num indiscutido acto eleitoral.
Onde não há eleições, mas houve uma sucessão
dinástica, é em Cuba! I
VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR
Um soldadinho
Esta nova viagem ao passado histórico tem como inspiração directa um facto bem
recente: há muito pouco tempo, alguns jornais, que naquele momento não tinham
desgraças suficientemente sangrentas para noticiar, resolveram dar certo relevo a
uma «sondagem» segundo a qual uma eventual anexação (ou integração, ou dê-selhe o nome que se quiser) de Portugal pela Espanha agradaria a mais de metade dos
espanhóis e a cerca de um quarto dos portugueses.
Não vou comentar estes dados, porque já o fiz em
outra circunstância. E não vou, certamente, gritar
contra os espanhóis integracionistas, que, enfim,
têm o direito à sua opinião. Prefiro fazer, convosco, mais uma destas nossas viagens pela
História, tendo como referência temporal o ano
de 1641, como local as proximidades de Olivença
e como protagonista, não um grande fidalgo nem
sequer um grande burguês, mas antes um
homem vulgaríssimo,
hoje praticamente esquecido: um soldadito
nascido na vila de
Moura, chamado, muito simplesmente, Roque Antunes.
Estava-se, como a
data nos indica, no início da Guerra da Restauração. E este Roque
Antunes, deu-lhe na
bolha, imagine-se, oferecer-se como voluntário ao exército português. Conta ainda a
história que, a 9 de
Junho de 1641, ele participou numa avançada
contra Badajoz, sob o comando de D. Francisco
de Sousa, o mesmo que recebera a rendição da
guarnição espanhola do forte de São Julião da
Barra. Ora, a dada altura, perto de Olivença,
deu-se um recontro com a cavalaria inimiga e
Roque Antunes, com mais nove camaradas de
armas, viu-se cercado. Há duas versões para o
aconteceu a seguir: segundo uma, o homem de
Moura foi feito prisioneiro; segundo outra, não
se quis render e continuou a lutar. Mas, para o
caso, pouco importa; o que conta é que os ca-
valeiros espanhóis lhe gritaram que se rendesse
e que, para o mostrar, bradasse «viva el-rei D.
Filipe».
Roque Antunes recusou-se terminantemente.
Ao brado «Quem vive?», respondeu sempre:
«Deus e el-rei D. João, meu senhor». E, perante a
insistência dos que o cercavam, acrescentou que
«não queria vida» se o preço fosse reconhecer
Filipe IV. Por isso, foi morto.
Narra ainda a história que daquele aperto conseguiram escapar três soldados portugueses, que
lograram chegar a Elvas e aí contaram o sucedido a Matias de Albuquerque, então governador
da armas do Alentejo, o qual deu ordens para o
corpo de Roque Antunes fosse trazido para a
cidade e sepultado com todas as honras.
Bom. A história está contada. E, perguntarão
os leitores, por que a razão a coloquei eu ao lado
da referência à notícia de uma sondagem segundo a qual (note-se que ignoro, de todo, a fiabilidade desta «apalpação»…) um quarto dos portugueses não se importariam de ver Portugal
integrado na Espanha?
Oh, por nada, por nada, foi só uma lembrança…
Ou talvez fosse a ideia de que este homem que
se deixou matar porque teimava em gritar «Viva
D. João IV» não era um nobre nem um burguês
mas sim, ao que tudo indica, um simples homem
do povo.
Hoje, como sabemos, os nobres, enquanto tais,
não têm expressão política. Em compensação, há
alguns grandes burgueses que são, de facto, um
problema. I
Dezembro 2006
TempoLivre 47
OlhoVivo
Internetologia”
“
O desenvolvimento
bombástico e
exponencial da Internet –
que, em apenas 10 anos
viu nascer 14 mil milhões
de páginas – tem deixado
o mundo tão pasmado
como interessado. Agora,
o Massachusetts Institute
of Technology (MIT, nos
EUA) e a University of
Southampton (Inglaterra)
decidiram parar de
pasmar e passar à acção,
desenvolvendo uma
ciência da Web. Wendy
Hall, uma das cientistas
que encabeçam o
projecto (liderado por Tim
Berners-Lee, o inventor
da ‘Net’) afirma que a
questão a que tentam
responder é “O que é esta
coisa incrível que
cresce?”. Algumas
pessoas comparam a
Web a um ser vivo mas,
segundo Hall, o seu
desenvolvimento é
diferente, já que depende
dos desejos das pessoas,
pelo que o próprio
padrão de crescimento
está em constante
alteração. Criar modelos
da estrutura da WWW,
perceber que princípios
activam que tipo de
crescimento e que tipo de
relação existe entre as
convenções sociais e as
relações online são
apenas alguns dos
assuntos a abordar pela
Web Science Research
Initiative.
48 TempoLivre
Dezembro 2006
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Marta Martins [ textos ] André Letria [ ilustrações ]
Seca-piolhos
Piolhos e lêndeas são um problema secular que parece difícil de exterminar, especialmente entre as crianças em escolas. Mas, segundo um
artigo publicado na revista especializada Pediatrics, um aparelho parece
ter a resposta para acabar rapidamente com a praga. Chama-se
LouseBuster e funciona de forma semelhante a um vulgar secador de
cabelo, com a particularidade de, literalmente, secar os bichinhos e os
seus ovos, de forma a que deixem de se reproduzir. Mas atenção: os
fabricantes avisam que o resultado não advém do aquecimento e,
portanto, não se deve tentar fazê-lo com o secador, sob o risco de se
queimarem cabecinhas para nada!
Ratos provadores
Os atletas que irão participar nos Jogos Olímpicos (JO) de 2008,
em Pequim, podem ficar desde já descansados em relação ao que
vão comer. Segundo noticia a BBC, toda a comida preparada nas
instalações dos JOs será dada a provar, no dia anterior, a uma
‘equipa’ de ratos; assim, se houver alguma anomalia nos produtos,
será detectada com antecedência e retirada do menu. Isto porque os
ratos apresentam reacções alérgicas nas primeiras 17 horas, o que
é mais rápido do que as análises em laboratório. A precaução
especial deve-se ao perigo real de intoxicação alimentar que
existe normalmente na China, devido às más condições gerais
de higiene na distribuição e preparação de produtos alimentares,
que a organização pretende evitar a todo o custo.
Contra-natura – ou talvez não
Contrariando a teoria clássica da evolução, cientistas da Queens University (Canadá)
descobriram que afinal, os melhores parceiros em termos de procriação podem não
ser os que parecem. Através de um estudo feito com moscas
da fruta, Adam Chippindale e a sua equipa perceberam
que os indivíduos que apresentam melhores sinais de
que serão bons reprodutores (como penas majestosas ou
vozes potentes, por exemplo) não vêm realmente a sê-lo,
pelo menos em relação aos descendentes do sexo oposto.
Ou seja, as filhas de machos muito “vistosos” eram menos
aptas do que as filhas dos restantes machos, o mesmo
acontecendo com os filhos das “melhores” mães. Estes resultados sugerem que os genes “bons” pode sê-lo apenas para os filhos do
mesmo sexo dos progenitores que os têm, mas terão o efeito contrário
na descendência do sexo oposto – isto poderia ajudar a explicar a
diversidade genética que se encontra hoje em dia.
Estranho mas verdadeiro, o
sistema Olfoto, desenvolvido
por uma equipa da
Universidade de Glasgow
(Escócia), permite aos
utilizadores reconhecerem e
procurarem imagens
(guardadas em computador)
através do cheiro. Apesar de
parecer simples – ao
catalogar as imagens atribuise-lhes determinados cheiros,
que são activados mais tarde,
e libertados através de
pequenos “cubos de cheiro”
–, o processo é complexo e
ainda se encontra pouco
desenvolvido, mas os
pesquisadores estão muito
optimistas quanto às
possíveis aplicações. Nas
suas experiências usaram
cheiros de relva cortada,
flores, celeiro e até pés
suados, e perceberam que
com algum treino as pessoas
podem usar o olfacto muito
eficazmente, embora poucas
vezes o façam de forma tão
consciente. Um dos aspectos
que suporta esta pesquisa é
o facto de a memória
olfactiva ser tão poderosa
que nos permite identificar
lugares ou situações com
anos de intervalo; por outro
lado, não será fácil criar uma
panóplia de cheiros
suficientemente alargada
para que milhares de
pessoas a possam usar como
ID das suas memória. Mas
eles vão tentar, e quem sabe
que tipo de tecnologia
poderão desenvolver pelo
caminho…
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
PC-cheiros
Software anti-fogo
Mesmo aqui ao lado, em Espanha, está pronto a ser usado um inovador software que irá ajudar os bombeiros no combate aos fogos.
O SIADEX foi desenvolvido pela Universidade de Granada, com
base em tecnologia de inteligência artificial e irá planear detalhadamente a acção dos bombeiros no terreno, em tempo real.
Tendo em conta as características do terreno, os meios disponíveis
e a meteorologia, o software traça um plano de acção pormenorizado para cada situação específica, com duas ou três opções de execução possíveis, com diferentes tipos de prioridades (o mais barato, o mais
fácil e o mais rápido, por exemplo). Depois da decisão tomada e do início das
operações, o sistema continua a receber informações dos envolvidos sobre
a evolução da situação, de forma a sugerir possíveis alterações ao plano
inicial, tentado assegurar o melhor desempenho possível perante as circunstâncias. Segundo os
especialistas, uma das grandes vantagens do programa, além do dinamismo e interactividade,
é o facto de estar testado e pronto a operar já em 2007, e não daqui a 20 anos.
Ombros amigos >
Segundo Maria Nordin, da Umeå University
(Suécia), ter poucos amigos aumenta o risco de ter problemas de sono e, consequentemente, o risco de outros tipos de doenças. Esta conclusão simplifica as várias nuances da
questão, que Nordin esclarece na sua tese. Em resumo, o apoio de uma boa rede de
amizades pode compensar o stress do dia a dia, especialmente no caso de se ter uma
abordagem “passiva” face aos conflitos – isto é, perante um possível conflito no trabalho,
a pessoa opta por não responder e retirar-se. Neste caso, a ausência de suporte emocional
quadruplica, nas mulheres, os riscos de distúrbios de sono e, por essa via, o risco de, por
exemplo, ataques cardíacos. O mesmo efeito não se verifica se a estratégia de gestão de
conflitos for a da discussão aberta.
Super-cientistas
A ideia parece ter pegado e, como já acontece com outras disciplinas noutros países, o
Ministério da Educação Irlandês acaba de apresentar uma série de desenhos
animados em que os super-heróis são especialistas em ciências. Em The
Resistors (www.theresistors.com), as quatro personagens principais, Luc,
Sonia, Amber e Dig são jovens peritos nas quarto vertentes do curriculum
de ciência da educação primária no país (respectivamente a luz, o som, a
electricidade e as tecnologias da informação), e devem
libertar a sociedade dos hackers que tomaram
conta dela, fazendo uso dos seus conhecimentos científicos, claro. As personagens femininas
foram especialmente concebidas com fortes personalidades, de forma a encorajar as raparigas a considerar a ciência como uma
opção de educação superior. Aliás, segundo o director do projecto, Donal
O’Mahony, se um jovem em cada sala de aulas do secundário de hoje seguir
os seus estudos nesta área, a Irlanda já garante a continuidade dos sectores de alta tecnologia e sociedade do conhecimento no futuro.
Dezembro 2006
TempoLivre 49
BOAVIDA
CONSUMO
LIVRO ABERTO
ARTES
Mesmo que não tenha
pais ricos, nem tenha
ganho a lotaria,
não acredite em tudo
o que a publicidade
lhe diz.
Não há spreads
grátis!
Destaque maior para
“Ontem Não te Vi em
Babilónia”
( Pub.D. Quixote),
21º título da obra
de António Lobo
Antunes.
Os surrealistas
Cesariny, Cruzeiro
Seixas e Fernando
José Francisco
regressam, meio
século depois,
com trabalhos
colectivos.
Página 52
Página 54
MÚSICAS
NO PALCO
Sérgio Godinho
regressa ao mercado
discográfico
com o CD “Ligação
Directa”.
Dez temas originais
do veterano trovador.
“A Casa da Lenha”,
co-produção do TN
com o Teatro da
Comuna, assinala, na
Sala Garrett, o
centenário do
nascimento de Lopes
Graça.
Página 58
Página 56
CINEMA EM CASA
Uma selecção dos
filmes que tiveram,
este ano, uma enorme
adesão do público,
caso, entre outros, do
tão badalado “O
Código da Vinci”.
Página 62
Página 60
FILMES MEMÓRIA
À MESA
SAÚDE
Memória antiga
e actual de Paris
em três filmes
em exibição
simultânea:
«Em Paris», «Paris,
Je T’ Aime» e «Marie
Antoinette».
À medida que a
ciência avança,
aumenta a
importância de uma
alimentação rica em
frutos, hortícolas e
azeite sobre a nossa
visão.
Misturar certos
medicamentos ou
misturar estes com
determinados
alimentos pode ser
perigoso para a
saúde!
Página 63
Página 65
Página 64
INFORMÁTICA
AO VOLANTE
PALAVRAS DA LEI
Vai longe o tempo
em que o som
transmitido por
computadores não
tinha qualquer
semelhança com
o dos sistemas
de alta-fidelidade
Carlos Blanco
fascinado pelo novo
Mercedes CL:
“síntese rara e
fascinante de
presença carismática
e estética de design
formal”.
União de facto
durante 14 anos,
o homem abandona o
Lar, a está mulher
desempregada,
filho problemático.
Homem quer
vender a casa….
Página 66
Página 67
Página 68
Dezembro 2006
TempoLivre 51
BOAVIDA
C O N S U M O
Mesmo que não tenha pais ricos, nem tenha ganho a lotaria, não acredite
em tudo o que a publicidade lhe diz. É que não há spreads grátis!
I
Carlos Barbosa de Oliveira
E
eis que de repente, como
fadas madrinhas respondendo aos pedidos dos consumidores, os bancos satisfizeram os seus desejos. Nas montras
de algumas instituições bancárias,
cartazes apelativos prometem um
spread de 0% na concessão de crédito
habitação. Os consumidores nem
queriam acreditar em tanta generosidade - ainda por cima em tempo de
“vacas magras” com os juros a aumentar – e correram para os bancos
que respondiam ao seu apelo. Mais
cedo ou mais tarde, se não tomaram
alguns cuidados antes de assinarem o
contrato, é provável que cheguem à
conclusão de que caíram num logro ao
engolir o isco do spread 0%. Porquê?
Passo a explicar...
Em primeiro lugar é preciso perceber que o spread é a margem adicionada pelos bancos às taxas de juro de
referência. Por outras palavras, é a
margem de lucro dos bancos, quando
concedem o crédito. Assim sendo, é
fácil perceber que não há spreads
grátis, pois nenhum banco renuncia à
sua margem de lucro quando empresta dinheiro. Então, perguntará o leitor,
como é possível que os bancos façam
essas campanhas? A explicação é simples. Os bancos entraram numa concorrência desenfreada pela conquista
de clientes no crédito à habitação, principalmente a partir do momento em
que os consumidores passaram a ter a
possibilidade de transferir o crédito
para instituições que lhes ofereçam
condições mais vantajosas. Começa52 TempoLivre
Dezembro 2006
ram por alargar os prazos dos empréstimos (que pode ir até aos 40 anos) e a
idade para o concederem (não há
muitos anos, era difícil um banco conceder crédito à habitação a consumidores com mais de 40 anos). O passo
seguinte foi baixar os spread – que
habitualmente rondava os dois por
cento – para valores que se aproximaram do meio ponto percentual, e
abrindo as portas à negociação directa
com os clientes. Com as subidas das
taxas de juro, os bancos foram reduzindo as suas margens e tornaram-se mais
agressivos. Sabendo que uma das perguntas mais frequentes dos consumidores quando negociam um crédito, é
o valor do spread, atiraram-lhes com o
engodo dos 0%, fazendo-os acreditar
que prescindiam da sua margem de
lucro. A realidade, porém, é bem diferente. O spread aplica-se ao longo de
toda a vida do empréstimo (que varia
normalmente entre os 20 e os 40 anos),
mas a taxa 0% só se aplica num período limitado (durante 1 a 3 anos). O que
os bancos fazem, é reduzir a taxa nos
primeiros anos e agravá-la nos
anos seguintes, recuperando ao
longo da vida do empréstimo a
sua margem de lucro. Assim
sendo, o importante quando negoceia com o seu banco, é saber qual
o spread que o banco irá cobrar e
fazer bem as contas. Chegará à conclusão de que
mais vale pagar um
spread reduzido (abaixo
dos 0,5%) mas constante,
desde o início do contrato,
do que estar dois ou três anos
com uma taxa de 0% e depois
pagar um spread com valores acima
de 0,5%.
ARREDONDAMENTOS ABUSIVOS
O mais provável é que o spread 0%
tenha os dias contados. Na verdade,
depois de a Associação de Consumidores e Utilizadores de Produtos
Financeiros denunciar os arredondamentos abusivos das taxas de juro, o
Governo veio a terreiro criar regras
que terminam com o livre arbítrio, e
obrigam todos os bancos a fazer
arredondamentos iguais. Menos uma
dor de cabeça para os consumidores,
mais uma maratona criativa para os
marketeers dos bancos. Objectivo:
salvar o spread 0% e encontrar outra
fórmula mágica para nos levar couro
e cabelo pelo crédito, criando a ilusão
de nos estarem a beneficiar.
A legislação aprovada pelo Governo vem permitir aos consumidores conhecer, de forma mais clara,
as fórmulas de cálculo das taxas de
juro. Cabe agora aos bancos provar
que a sua conduta será transparente.
Para isso, deverão restituir aos consumidores, as quantias que lhes
andaram a cobrar abusivamente. Só
que a resposta a esta prova de fogo
não está a ser a mais positiva, uma vez
que os bancos se mostram renitentes a
fazê-lo. Aguardemos os próximos
episódios...
André Letria
FOI VOCÊ QUE PEDIU...
UM SPREAD 0%?
Por agora, vale a pena chamar a
atenção dos leitores para algumas
contas que deve fazer antes de assinar um contrato de crédito com uma
instituição bancária. Existem duas
regras de ouro: consultar vários bancos e ler o contrato atentamente antes
de o assinar. Mas para fazer simulações com as propostas de cada um
dos bancos, é necessário conhecer
alguns elementos de referência.
Comissões – Os bancos cobram
diversas comissões durante todo o
processo de concessão de crédito.
Peça informações sobre os custos que
terá que suportar.
Preceitos legais- Antes da realização
da escritura, existe uma série de preceitos que é obrigatório cumprir (registo provisório, imposto sobre transmissões, etc). Geralmente os bancos
disponibilizam “ para nossa comodidade” um serviço de apoio ao cumprimento destas formalidades. Informe-se
sobre o preço a pagar por essa “comodidade” que o banco lhe oferece.
Amortização antecipada - No caso
de pretender amortizar parcialmente
a sua dívida, o banco cobra uma
comissão. Dito por outras palavras, o
banco penaliza-o pelo facto de pretender reduzir a sua dívida. Essa
penalização ainda é maior, no caso de
pretender liquidar a dívida na totalidade. Curiosamente, ao contrário do
que acontece com o spread, a penalização pela amortização ou liquidação da dívida, tem vindo a agravarse nos últimos anos. Saiba os valores
das penalizações praticadas por cada
um dos bancos que contactou.
TAEG – O importante, quando se
contrai um crédito de longo prazo, é
saber qual o valor da TAEG (Taxa
Anual Efectiva). Uma vez que traduz
todos os custos associados a um
crédito (juros, seguros, e encargos a
cobrar pelo banco) é o seu valor que
permite ao consumidor saber quanto
vai pagar no final do empréstimo. I
Consultório DECO
Crianças em Hotéis
RECLAMAÇÃO > Durante umas
curtas férias no Algarve, não
consegui hospedar-me num
determinado hotel porque tenho
dois filhos de 2 e 6 anos. De
acordo com a Direcção do Hotel,
é política do mesmo não
aceitarem famílias com crianças.
Será esta prática legal?
ENQUADRAMENTO JURÍDICO
> Esta prática não só é ilegal
como poderá ser igualmente
considerada inconstitucional
porque constitui um
comportamento
discriminatório.
Assim, nos termos da Lei os
estabelecimentos comerciais
podem exercer o chamado
Direito de Reserva de
Admissão ou seja, podem
estabelecer critérios de
acesso e utilização do espaço
comercial. Contudo, o citado
Direito está condicionado a
determinados requisitos
legais.
Desde logo, é condição
essencial que os critérios de
acesso e utilização do espaço
comercial estejam
devidamente publicitados
(afixados) a fim dos Consumidores serem previamente
informados dos mesmos.
É igualmente fundamental
que a fixação dos critérios
em questão respeitem
Direitos que à luz da Lei são
considerados absolutamente
fundamentais.
Um desses Direitos (talvez o
mais importante) é a
dignidade da pessoa
humana logo, o
estabelecimento de
critérios/regras de acesso aos
estabelecimentos comerciais
não pode atentar contra essa
dignidade nomeadamente
através de comportamentos
discriminatórios.
A Lei e a Constituição da
República Portuguesa
concedem em geral à Família
e em particular às Crianças
uma especial protecção que
torna ainda mais condenável
a existência de
discriminações a este nível.
Na situação apresentada,
existe uma dupla
discriminação ao impedir a
hospedagem de crianças em
determinados hotéis:
discriminação da família e
das próprias crianças.
É portanto intolerável, do
ponto vista Legal e Moral, a
existência deste tipo de
comportamentos por parte
de agentes económicos,
sendo necessária a
intervenção das autoridades
competentes no sentido de
impedir que situações deste
género subsistam. I
BOAVIDA
L I V R O
A B E R T O
LOBO ANTUNES,
BORGES E OS MITOS
“Ontem Não te Vi em Babilónia”( Pub.D. Quixote) é o título do 21º título da obra de António Lobo Antunes, seguramente uma das mais pujantes
e inovadoras de toda a história da literatura portuguesa e, sem dúvida,
uma das que mais prestigiam as letras portuguesas internacionalmente.
I José
Jorge Letria
E
stamos, como sempre, na
presença de uma voz
única das nossas, com um
discurso que nos fascina e
envolve e que patenteia também a
marca forte da poesia, fonte à qual
o escritor vai buscar o alento criador que torna os seus livros
inesquecíveis. Um grande escritor
que requer do leitor tempo e
disponibilidade espiritual para que
os seus romances possam ser fruídos como merecem. A não perder,
agora e sempre.
JORGE LUIS BORGES continua vivo, na obra e no mito, duas décadas
após a sua morte em Genebra,
longe da Buenos Aires que tanto
amou e que ajudou a moldar o seu
fabuloso imaginário de escritor.
Dois livros com a chancela da
Ambar- ”Com Borges”, de Alberto
Manguel, “e “Borges e a Matemática”, de Guillermo Martinez-revelam aspectos menos conhecidos,
mas todos eles fascinantes deste
poeta e contista que, nunca tendo
recebido o Nobel da Literatura, tem
uma influência na vida literária
mundial muito maior do que a
maioria dos que foram com ele
galardoados. Dois livros a não
perder, pois, além de darem a conhecer os vários Borges que havia
em Borges, proporcionam ao leitor
um prazer assinalável.
54 TempoLivre
Dezembro 2006
não só, seguramente não irão perder.
Distinguido com o Prémio FNAC/
Teorema 2005, o romance “Francisca”, de César Magarreiro, nascido em
1964, oficial da Marinha e geógrafo,
conta a vida de uma escrava negra no
tempo do terramoto de 1755 e o modo como, cansada de humilhações e
sofrimentos, recorre a feitiços para
garantir uma vida melhor para si e
para os seus filhos. Ainda com a
chancela da Teorema está no mercado mais um volume da série Mafalda, de Quino, com muitos e fiéis
leitores em todo o mundo.
“CASA DAS SEMENTES – Poesia
A INAUGURAR a colecção Mitos, de
excelente apresentação gráfica, a
Teorema lançou dois títulos imprescindíveis: “Uma Pequena História do
Mito”, de Karen Armstrong, obra fundamental de uma grande especialista
inglesa, e “A Odisseia de Penélope”,
da consagrada Margaret Atwood, que
dá voz à mulher de Ulisses e prima de
Helena de Tróia, através de um texto
apaixonado e apaixonante em que é a
própria personagem central a falar na
primeira pessoa. Dois livros que dá
gosto ler e manusear.
Da mesma editora é o livro “Uma
Temporada com Marcel Proust”, de
René Peter, que foi companheiro e
amigo do grande romancista desde
os tempos da infância e que registou
nesta obra a sua memória pessoal do
convívio com o autor de “Em Busca
do Tempo Perdido”. O livro tem elucidativos textos introdutórios de
Jean-Yves Tadié e da neta de René
Peter. Um testemunho literário e de
época que os leitores de Proust, e
Escolhida”, com a chancela da
Assírio & Alvim e capa criada a partir de um retrato do autor feita por
Mário Botas, reúne os poemas mais
representativos da obra de um dos
maiores poetas portugueses contemporâneos. Ao longo de quase 400
páginas encontra o leitor textos marcados pela memória, pelos afectos e
pela intensa sensibilidade de um
poeta que funde na sua obra as referências culturais com a lembrança
dos lugares e dos sentimentos como
poucos têm conseguido fazer. Uma
obra única, que apetece revisitar
sempre, já que nos convoca para a
celebração da palavra e da espiritualidade que lhe está associada.
LUÍSA COSTA GOMES, nome de
referência da ficção portuguesa actual, acaba de lançar uma deliciosa
biografia romanceada da célebre
pirata Mary Read, precisamente com
o título “A Pirata” (Ed. D. Quixote).
Com uma vida fascinante e atribulada, Mary Read combateu de igual
para igual com os homens em campanhas como a da Flandres, revelando uma invulgar coragem física.
Foi, porém, por paixão que enveredou pelo caminho ilegal e sem
retorno da pirataria, que lhe asse-
gurou uma rápida entrada para a
galeria dos mitos. Escrito com uma
linguagem só aparentemente simples, “A Pirata” é um delicioso livro de
aventura e aventuras, que se constitui
como um título forte nesta “rentrée”
literária, com a vantagem adicional de
apanhar a onda de redescoberta das
obras sobre piratas e a pirataria. Da
mesma editora é o estudo do psiquiatra Afonso de Albuquerque “Minorias
Eróticas e Agressões Sexuais”, com
prefácio de John Bancroft. O livro de
um especialista que o público em
geral se encontra em condições de ler
e com preender.
editora é o magnífico “Canções de
Amor em Lolita’s Clube”, uma das
obras de referência do catalão Juan
Marsé, um dos grandes nomes da literatura espanhola contemporânea.
“O MEDO DOS BRAVOS”, de Scott
Turow, é, na área da ficção narrativa,
uma aposta forte de Publicações
Europa-América, que acaba também
de lançar, na divertidíssima e educativa colecção “Finados Famosos”, “Júlio
César e os Seus Amigos da Onça”, de
Toby Brown, e “Alexandre o Grande e
a sua Mania das Grandezas”, de Phil
Robins. Títulos para várias idades e
diversificados gostos.
OPRAH WINFREY é, seguramente, a
mais famoso apresentadora de “talk
shows” dos Estados Unidos. Para
além disso é uma personalidade fora
do comum, como se pode constatar
através da leitura do livro “Oprah
Winfrey em Directo”, agora dado à
estampa pela Campo das Letras, do
Porto. Este livro revela aspectos
menos conhecidos do profissionalismo, da ética e do espírito solidário da
apresentadora. Um livro que as vedetas de televisão portuguesa, sobretudo as mais jovens, deveriam ler, para
dele tirarem por certo bons e oportunos ensinamentos. Com a mesma
chancela e a merecer destaque, são os
álbuns para crianças e jovens “O Meu
Primeiro Larouse do Mundo” “O
Meu Primeiro Larouse dos Como
É?”, e o livrinho de bolso “O Pequeno
Livro para Deixar de Fumar”, de
Bertrand Dautzenberg. Da mesma
“LIVRO DE ESTIMAÇÃO”é o mais
recente título de Jorge Reis-Sá, o
homem forte de Quasi, que inclui
nesta obra, com posfácio de Luís
Adriano Carlos, alguns dos seus
melhores textos poéticos recentes.
QUEM GOSTA de bons vinhos portugue-
ses, e convém recordar que temos dos
melhores do mundo, tem no guia
“Vinhos de Portugal 2007” (D.Quixote),
do reputado especialista João Paulo
Martins, o apoio ideal para as escolhas
de cada dia e de cada refeição, se for
caso disso. Ao contrário dos vinhos,
trata-se de um guia para consumir
sem preocupações de moderação.
“ACOMPANHAR a Criança Segundo o
Seu Temperamento”, de Gérard
Caron (Ed. Instituto Piaget), é um
lançamento recente cuja leitura se
recomenda a pais e professores, tendo
em conta que nem sempre a componente do temperamento infantil é
devidamente considerada por quem
avalia e comportamento infantil.
Destaque ainda para “Olhares
Outros”, edição da ASTA-Associação
Sócio-Terapêutica de Almeida, IPSS,
com fotografias de Ricardo Monteiro,
um poema de Gonçalo M. Tavares e
prefácio de José Saramago, que nos
convoca para a solidariedade activa
com aqueles que, padecendo de graus
diversos de deficiência, têm vontade e
capacidade de se integrar de forma
útil na vida comunitária, mostrando
que só podemos realizar-nos plenamente quando aprendemos a ser
solidários e fazemos do acto solidário
uma prioridade social e espiritual. Um
livro que ajuda a pensar e a agir.
“”Os Segredos de África” (Bertrand
Editora) assinala a estreia como ficcionista do jornalista da RTP José
Ramos e Ramos que, com um apreciável domínio da técnica narrativa,
conta a história complexa e fascinante de uma conspiração centrada
em Lisboa e destinada a reacender a
guerra adormecida do Biafra, com o
objectivo de garantir o financiamento
a serviços secretos e de enriquecer
um conjunto de poderosos. O prefácio desta obra de estreia é de Urbano
Tavares Rodrigues. A obra patenteia
ironia e densidade narrativa bastantes para prender, do princípio ao
fim, a atenção do leitor, tendo a
marca de uma experiência jornalística iniciada em 1980.”I
Dezembro 2006
TempoLivre 55
BOAVIDA
A
R
T
E
S
“OS SURREALISTAS”
55 ANOS DEPOIS
Separados, desde 1951, após a 2ª Exposição de “Os Surrealistas”, Cesariny, Cruzeiro Seixas e
Fernando José Francisco regressam com trabalhos colectivos pela mão da Galeria Perve, numa
memorável exposição que tem exactamente o título “Cesariny, Cruzeiro Seixas e Fernando José
Francisco e o passeio do cadáver esquisito”.
Cesariny, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco e o passeio do cadáver esquisito
I Rodrigues
Vaz
T
rata-se de uma exposição
em que são apresentadas
obras individuais (pintura,
desenho, escultura, pinturas-objecto) e Cadavres-Exquis,
datados de 2006, realizados em conjunto pelos três autores, fundados
do grupo “Os Surrealistas”, cuja
primeira exposição foi realizada em
Lisboa em 1949, a que se seguiu
uma segunda em 1951.
Acto de cultura que é, antes de
mais, um exercício de liberdade,
como aliás os dois primeiros fizeram sempre questão de acentuar,
esta exposição tem também o objectivo de trazer para a ribalta Fernan-
56 TempoLivre
Dezembro 2006
do José Francisco, artista Surrealista
pouco divulgado (muito pelo facto
de se ter afastado, voluntariamente
dos circuitos artísticos), mas que
tanto Cesariny como Cruzeiro Seixas consideram, desde há muito
tempo, como o mais talentoso e
promissor artista do grupo de
autores que se juntaram no conhecido grupo, cuja importância no
panorama da cultura em Portugal é
cada vez mais reconhecida como
fundamental pela mudança de
mentalidade que provocou.
O ORIENTE SEGUNDO
GUILHERME PARENTE
Entretanto, Guilherme Parente mostra actualmente na Galeria S. Mame-
de, do Porto, os seus últimos trabalhos, apresentados em Lisboa em
Junho passado no Palácio da Ajuda.
Trata-se de uma série inspirada de
algum modo no fascínio do pintor
pelo Oriente longínquo e maravilhoso, próprio de quem nasceu em
Belém, ao lado dos Jerónimos, e cuja
avó, Maria Rosa, fazia borboletas
em papel de seda de diversas cores
salpicadas de pó de ouro, material
este que ele próprio continua a usar
com profusão.
A ideia veio-lhe depois de ter
sabido que o Palácio Azambuja, no
Largo do Calhariz ao Loreto, em
Lisboa, onde tem atelier há mais de
vinte anos, era a residência imaginada por Eça de Queirós para o Theodoro (personagem de o livro O
Mandarim), que tempos antes sendo
amanuense remediado do Ministério
do Reino, tinha premido o fatídico
botão da campainha. «Portanto –
salienta Guilherme Parente - o velho
Mandarim andava ali por perto e
provavelmente também algum biombo Coromandel que o proprietário teria comprado para apaziguar
a sua dor e redimir a sua alma.»
Mas outros acontecimentos houve
que o fizeram propor «à Isabel,
Guardiã da Ajuda, a exposição agora
presente, como o ter encontrado
prodigiosamente um navio da frota
de Zheng He no estuário do Tejo, (o
qual exponho nesta exposição) e um
biombo de laca numa exposição a
propósito dos Descobrimentos.»
Possivelmente, a seguir haverá
um filme, imaginado a partir deste
mesmo barco, que, por iniciativa
própria, foge da exposição e vai integrar-se de novo na frota, prosseguindo a aventura dos mares distantes, tão cara aos portugueses.
PRESENÇA DE ARTISTAS AFRICANOS
Presença notada começa a ser a de
artistas africanos, que aqui vêm
mostrar as suas produções como
primeira etapa de uma internacionalização cada vez mais desejada.
É o caso do escultor angolano Etona, que faz a sua primeira exposição
individual em Portugal na Galeria
Municipal Artur Bual, na Amadora, e
do pintor cabo-verdiano Mito, que
mostra actualmente na Biblioteca
Municipal Orlando Ribeiro, Telheiras,
Lisboa, as suas obras mais recentes.
Enquanto que Etona se fundamenta essencialmente nos valores
ancestrais africanos, identificandose, ao mesmo tempo, com as tradições populares que são matrizes
Nesta página: em cima à
esquerda, “Barco”, de
Guilherme Parente; à
direita, escultura de
Etona e, em baixo, uma
composição de Mito
culturais dos povos do Norte de
Angola, Mito, na exposição que intitula “Só pamodi bó”, mergulha nos
sons de uma «para buscar no contrabando solar a luz à solta no arcoíris da pauta como quem pinta em
sensoround um sinfónico vitral
technicolor», como salienta Alex.
Baseando as suas esculturas na escolha dos materiais, especialmente
os troncos de árvores velhas, que
têm a ver com a ligação à terra,
origem e fim de todo o ciclo da vida
humana, Etona acaba por encontrar
a melhor solução para representar a
diluição do casal, em abraços de
amor e paixão que se fundem de
modo a ficar salientado o elemento
feminino, como princípio do Mundo, o que é também uma homenagem à Mulher, mas sobretudo à
Mãe, como fundadora e criadora de
vida, embora os troncos envelhecidos que utiliza têm também a ver
com motivos ecológicos, com vista a
um maior equilíbrio do ambiente,
que cada vez mais é uma preocupação dos africanos.I
Dezembro 2006
TempoLivre 57
BOAVIDA
M
Ú
S
I
C
A
S
“LIGAÇÃO DIRECTA”
A SÉRGIO GODINHO
I
Victor Ribeiro
C
Seis anos após a publicação de um álbum
de originais, Sérgio Godinho acaba de
regressar ao mercado discográfico com o
CD “Ligação Directa”. A não perder.
58 TempoLivre
Dezembro 2006
om a peculiar subtileza
a que nos habituou, o
“cantautor” oferece-nos
dez novas cantigas com
“ligação directa” a um dia-a-dia
cada vez mais desesperante, ou a
um desencanto cada vez maior
pela realidade recente.
Sérgio maneja a palavra até à
exaustão, eleva o lugar-comum ao
patamar da poesia, revitaliza o sinónimo, dignifica o trocadilho, requalifica o calão…
Ao cabo de 35 anos de carreira
construída com serena humildade
e invulgar elevação, Sérgio Godinho surpreende-nos porque, permanecendo fiel a padrões estéticos e ideológicos irrevogáveis
para qualquer pessoa de bem e de
bom gosto, concilia exemplarmente a audácia da novidade,
com a coerência de princípios própria de quem acredita num mundo melhor.
Num tempo em que se enaltece,
incentiva e pratica a vacuidade de
ideias e o desleixo da intervenção
cívica, exemplos como o de Sérgio
Godinho assumem especial importância, designadamente junto
de criadores mais jovens que
olham para o futuro com perigosa
apatia.
Estabeleçamos, pois, com carácter de urgência, “Ligação Directa”
a Sérgio Godinho! I
UMA “PÉROLA”
DE PATRICIA BARBER
“A Metamorfose”, de Ovídio, foi a fonte
de inspiração escolhida pela cantora de
jazz norte-americana Patrícia Barber, para
a elaboração do CD “Mythologies”,
recentemente editado em Portugal. Uma
autêntica “pérola”, que os apreciadores
de jazz não devem perder.
Pianista, intérprete e compositora de
excepção, Patrícia é uma assumida e compulsiva estudiosa dos chamados “clássicos”, com especial destaque de Chopin,
Verdi e Schubert.
O resultado final é surpreendente, quer
no plano formal da composição, quer no
domínio da sonoridade vanguardista que
nos é proposta. “Primeiro estranha-se,
depois entranha-se”, como disse, em tempos, o nosso Fernando Pessoa. I
CONCURSOS INATEL . PREMIADOS 2006
VÍDEO – Edição 1
1º Prémio
Tema Livre
“CSI – Cromos
Sobre Investigação”
de Mário Fortuna
Prémio “Gente da
Minha Terra”
“Desfolhada Tradicional
em Covelo de Arca”
de Maria do Céu Ferreira
2º Prémio
Tema Livre
“Cortina de Villutu”
de Filipa Bravo Lopes
ARTES – Edição 2
Prémio Pintura
Stela Barreto
Obra “Agosto Quente”
TEATRO NOVOS
TEXTOS – edição 10
Prémio Instalação
Fernando Sarmento
Obra “Pratos Vegetais”
Prémio Escultura
José da Silva
Fernandes
Obra “Galo ao Sul
do Tejo”
Grande Prémio INATEL
“A Rainha e o Cardeal”
de Manuel Córrego
Prémio Miguel Rovisco
“O Quarto de Hotel”
de Ana Cristina Valente
CERIMÓNIA ENTREGA DE PRÉMIOS . Teatro da Trindade . Lisboa . 2 Dez. 17h00
BOAVIDA
N O PA L C O
“A Casa da Lenha” na Sala Garrett
RECORDAR LOPES GRAÇA
Memórias, sentimentos e uma extensa galeria de personagens que se cruzaram na vida de um dos maiores compositores portugueses de sempre vão estar em cena, até final de Dezembro, na Sala Garrett do Teatro Nacional.
I
Maria Mesquita
«
A
Casa da Lenha”, coprodução do TN com o
Teatro da Comuna,
sobre um texto de
António Torrado, estreada em meados de Novembro, assinala o centenário do nascimento de Fernando
Lopes Graça, figura notável da cultura portuguesa do século XX. A
peça, encenada por João Mota,
começa com um Lopes Graça já em
idade avançada, no processo de criação da canção “A Minha Terra”,
uma das suas últimas composições
corais.
No espectáculo estão presentes
numerosos excertos musicais, desde música coral, dança sevilhana,
filarmónica, instrumental bem como composições de Lopes Graça,
como “Acordai” ou “O Menino de
sua Mãe”. A peça evoca, ainda, em
60 TempoLivre
Dezembro 2006
narração do próprio compositor,
factos relevantes da sua vida, desde
a ligação familiar, aos estudos musicais no Conservatório Nacional, a
militância no PCP, as detenções e o
exílio em Paris.
Natural de Tomar, tal como o
compositor, João Mota recorda-se
de, em miúdo, encontrar Lopes
Graça no café da cidade.”Eu tinha
quatro anos e lembro-me de o ver
no café do meu tio. Era o Graça.”
Nessa altura, ele já era um “compositor extraordinário”. João Mota
continuou a acompanhar de longe
a sua obra e a sua vida, um combate
permanente pela liberdade, de
escolher, de estudar, de criar. “Foi
um exemplo de força e de coragem.
Nunca se vergou, nem a um partido”, recorda o encenador. A vida
de Fernando Lopes Graça confunde-se com a história do século
XX português. “São coisas que têm
de ser contadas.” A parceria com o
TN – outros meios e um elenco de
27 figuras, além das crianças, dos
músicos e do coro Cantat - deu
outra dimensão ao projecto original
da Comuna.
António Sousa, director musical,
quis uma música “pensada para
um público de teatro”, que aliasse
“obras consagradas e paradigmáticas” a “primeiras audições absolutas”.
Ficha Técnica:
Intérpretes: Carlos Paulo (Lopes Graça),
João Grosso (Pai do compositor), Sara Belo
(Mãe), Jorge Andrade, Tânia Alves, António
Banha, João Tempera, Manuel Coelho, José
Neves, Hugo Franco, Vicotr Ribeiro,
Augusto Portela, Júlio Martin, Filipe
Petronilho, Luís Gaspar, Rui Quintas, Paula
Mora, Lúcia Maria, João Ricardo, Maria
Amélia Matta, Gonçalo Ruivo, Samuel
Alves, Marco Paiva, Ana Filipe, Judite
Dias, Rita Seguro, Diogo Branco, o pianista
Nuno Barroso, a cantora Verena Barroso, a
violoncelista Mafalda Nascimento e o Coro
Cantat.
“A Flauta Mágica” pelo TIL
A Companhia de Teatro Infantil de
Lisboa (TIL) mantém em cena,
desde Outubro, no Teatro Armando
Cortez, a “A Flauta Mágica”, uma
peça teatral inspirada na célebre e
popular ópera de Mozart.
A Flauta Mágica, recorde-se,
narra uma história fantástica de
superação de limites, crescimento
espiritual e luta entre forças
opostas; uma alusão ao bem e ao
mal, os dois grandes poderes que
regem as relações humanas. O
libreto foi confiado a Mozart por
Emanuel Schikaneder, autor da
maior parte do poema e director do
teatro Auf der Wieden. A ópera
estreou em Viena, em 1791. O universo de A Flauta Mágica é o dos
contos orientais e transmite uma
mensagem de amor, de fraternidade e de sabedoria.
Foi baseado nesta ópera que
Fernando Gomes, escreveu (e encenou) uma nova versão teatral, musicada por Filipe Carvalheiro a partir
dos temas originais de Mozart, com
coreografia de Iolanda Rodrigues e
interpretada pelo elenco do TIL.
A acção decorre no antigo Egipto,
fonte inspiradora de Kim Cachopo,
o autor da cenografia, para um
cenário cheio de magia - onde se
destaca uma espectacular pirâmide
– bem como para um cuidado e
original guarda roupa de Rafaela
Mapril.
Este espectáculo, essencialmente
destinado às crianças – sem, no
entanto, esquecer os mais crescidos
que os acompanham - promete
uma Fábula sobre o Amor, a
Amizade e a Sabedoria, uma
“Flauta Mágica” onde por certo não
vai faltar a Magia do Teatro.
Ficha Técnica:
Intérpretes - Adriana Pereira, Agostinho
Macedo, Andreia Ventura, Fernando
Ferreira, Filipa Ruas, Kim Cachopo, Maria
João Vieira, Paulo Neto
Produtor/Promotor - TIL/TL – Teatro
Infantil de Lisboa/Teatro Livre, CRL
“Murlin Murlo” em Évora
Até 10 de Dezembro, a companhia
eborense A Bruxa Teatro leva à cena
a peça “Murlin Murlo”, do dramaturgo russo Nikolai Koljada,
com encenação de Paulo Alves
Pereira.
Representada num espaço dos
antigos celeiros da EPAC, na Rua do
Eborim, “Murlin Murlo” – um jogo
de palavras que serve de título à
peça – propõe uma certa analogia
entre a personagem principal e
malograda actriz Marilyn Monroe.
Tal como a célebre vedeta do cinema, a personagem principal, Olga,
sonha com outra existência, menos
fechada ou solitária como a da sua
pequena e asfixiante cidade de
província.
Ficha Técnica:
Intérpretes: Celino Penderlico, Diogo Pinto,
Filipa Teixeira, Teresa Baguinho, Josefina
Massango, Catherine Henke
Horário: 21h30 [quarta a sábado] duração: 2h
Dezembro 2006
TempoLivre 61
BOAVIDA
CINEMA EM CASA
SUCESSOS DE BILHETEIRA
Sérgio Barrocas
P
ara este mês escolhemos quatro filmes que
tiveram uma enorme adesão do público. O filme
mais visto em Portugal ao longo deste ano, “O
Código da Vinci”, lidera as nossas escolhas de Dezembro,
CÓDIGO DA VINCI
> O professor de simbologia Robert Langdon(Tom
Hanks) e a criptóloga
Sophie Neveu (Audrey
Tautou) vão investigar um
estranho crime no Museu
do Louvre e, a partir daí,
num ritmo alucinante, tentar descobrir que misterioso segredo é que a Igreja
esconde
desde o
tempo de
Jesus
Cristo
Após o
enorme
sucesso de
vendas nas livrarias de
todo o mundo, “O Código
da Vinci” foi, no corrente
ano, o grande êxito de bilheteira nos écrans
nacionais, em parte graças
à polémica trazida pela
obra: a ocultação por parte
da igreja do casamento e
da existência de um filho
de Jesus e Maria Madalena.
TÍTULO ORIGINAL: The Da
Vinci Code; REALIZAÇÃO: Ron
Howard ; COM: Tom Hanks,
Audrey Tautou, Ian McKellen;
EUA, 2006, Cor, 143 min;
EDIÇÃO: Sony Pictures
PIRATAS DAS CARAÍBAS
É um dos regressos mais
62 TempoLivre
Dezembro 2006
aguardados do ano: Jack
Sparrow (Johnny Depp), o
diabólico pirata, está de
volta! Jack tem duas missões
importantes: pagar com a
sua alma uma dívida ao
perigoso Davy Jones, capitão
do navio-fantasma Flying
Dutchmanas e salvar Will
(Orlando Bloom) e Elizabeth
(Keira Knightley) das garras
do implacável caça-piratas
Lord Cutler Beckett.
Emoção, humor e acção
são os ingredientes de
mais uma aventura de
piratas, fantasmas e criaturas
muito
estranhas
que
perseguem
o lendário
e poderoso
cofre do Homem morto.
TÍTULO ORIGINAL: Pirates
of the
Caribbean: Dead Man´s Chest;
REALIZAÇÃO: Gore Verbinski;
COM: Johnny Depp, Orlando
Bloom, Keira Knightley, Bill
Nighy, E.U.A., 2006,
cor,150m; EDIÇÃO: Lusomundo
A IDADE DO GELO 2
Depois do enorme êxito em
2002, Manny, Sid e Diego
estão de volta numa aventura inesquecível. A Idade
do Gelo está a terminar, e
logo seguido pelo regresso de Johnny Depp, na pele do
Capitão Jack Sparrow, em “Piratas das Caraíbas – O Cofre
do Homem Morto”. O regresso dos nossos amigos da
“Idade do Gelo” e “Alice”, um dos filmes portugueses
mais vistos deste ano, completam a selecção. os animais estão a adorar o
seu novo mundo: um
paraíso descongelado de
parques aquáticos, termas e
poços de água quente.
Mas quando Manny (o
mamute), Sid (a preguiça) e
Diego (o Tigre) descobrem
que o seu vale poderá ficar
submerso, têm que avisar
todos e encontrar uma
forma de
escapar ao
fim que se
aproxima.
TÍTULO
ORIGINAL:
Ice Age:
The
Meltdown;
REALIZAÇÃO:
Carlos
Saldanha; VOZES: Ray
Romano, John Leguizamo,
Denis Leary e Jay Leno;
E.U.A., 2006, Cor, 87m;
EDIÇÃO: Castello Lopes
mento das ruas. No meio
de todos aqueles rostos,
daquela multidão anónima,
Mário procura uma pista,
uma
ajuda, um
sinal. A
beleza da
música de
Bernardo
Sassetti
combina
na perfeição com os ambientes do filme e com os
desempenhos, notáveis, de
Nuno Lopes e Beatriz
Batarda.
ALICE é o filme escolhido
para representar Portugal
na candidatura aos
Óscares da Academia.
TÍTULO ORIGINAL:
Alice
REALIZAÇÃO: Marco Martins
COM: Nuno Lopes, Beatriz
Batarda, Miguel Guilherme e
Ana Bustorff. Portugal, 2005,
Cor, 102m, EDIÇÃO: Lusomundo
ALICE
Elogiado pelo público e
pela crítica, nacional e internacional, “Alice”, o primeiro
filme de Marco Martins, é a
história do amor de um pai
por uma filha e o sofrimento provocado pela sua
ausência. A obsessão de a
encontrar leva-o a instalar
uma série de câmaras de
vídeo que registam o movi-
OUTROS LANÇAMENTOS
ODETE (Lusomundo) –João
Pedro Rodrigues ESQUECE
TUDO O QUE TE DISSE (Lusomundo) – António Ferreira
COISA RUIM (Atalanta) –
Tiago Guedes e Frederico
Serra SOL ENGANADOR (Atalanta) – Nikita Mikhalkov
A DAMA DE HONOR (Atalanta) – Claude Chabrol
BOAVIDA
FILMES COM MEMÓRIA
O PERFUME DE PARIS
Para incontáveis gerações, a capital francesa foi, em muitos séculos e
continentes, a cidade-luz, o éden da cultura, da utopia, da liberdade,
da criatividade
Fernando Dacosta
P
or acasos da distribuição
que hoje condicionam o
cinema – arte nascida nas
lentes dos Lumière – três
filmes dedicados a Paris atravessam,
com assinalável receptividade, os nossos «écrans» e as nossas memórias.
São eles «Em Paris», «Paris, Je T’
Aime» e «Marie Antoinette».
Assina o primeiro Christophe
Honoré, jovem escritor e realizador,
através de uma tocante situação de
cumplicidade entre dois irmãos, um
(depressivo) fechado no seu quarto, e
outro (efusivo) deambulando, amando pela cidade, maneira encontrada
de transmitir ao primeiro energias da
vida que ele se obstina em recusar.
Produzida por Paulo Branco, a obra
em causa (premiada e incensada em
Cannes), é «uma homenagem ao
grande cinema francês destinada a
provar que ele não está morto e que»,
afirma o seu realizador, «pode ser re-
novado», recusando-se «o apagamento da sua memória» por pressão da
indústria norte-americana que colonizou, mundialmente, o sector. «Os
cineastas da minha geração deviam
ter orgulho no cinema francês, em vez
de fazerem filmes que o renegam»,
invectivará.
A «nouvelle vague» torna-se uma
brisa a percorrer, com por vezes
assumida melancolia, a delicadeza das
câmaras de Christophe Honoré, interiorizada nos olhares do irmão mais
velho, mais em dissolução, mais
estrangeiro no território que se ergue
para lá das janelas em que se
enclausurou, indiferenciou, com uma
Torre Eiffel difusa (sem bilhete postal)
ao fundo. Ao fundo há apenas uma
paisagem projectada de contornos
voláteis e imprecisos.
«Paris je t’ aime», feito por doze realizadores de díspares nacionalidades e
identidades (cada um conta uma
minúscula estória ocorrida num bairro diferente da cidade em causa) re-
vela-se uma sinfonia polífona de exaltações míticas, executadas de fora
para dentro. Curiosamente uma das
partituras mais vibrantes é a interpretada pelos actores americanos Gena
Rowlands e Ben Gazarra, sob a batuta de Gérard Depardieu. «Estávamos
interessados em mostrar, em cinco
minutos, que a vida não é só para os
jovens e os belos: é para todos. É uma
experiência completa que dura o
tempo que quisermos», especificará a
notável Gena Rowlands, viúva (e
intérprete «fetiche») de John Cassavetes.
Jovem e bela, vivendo no luxo, na
superficialidade, na sedução, no
alheamento supremos, é Maria
Antonieta, a princesa austríaca que
casou, adolescente e fútil, com Luís
XVI, tornando-se, ao ser guilhotinada
no acirrar da revolução francesa, a
trágica Rainha de Paris.
Fascinada pelas duas (a soberana e
a cidade), Sofia Coppola (outro norteamericano) recriou com excepcional
«charme» o perfume da corte que
envolvia, como um casulo de languidez, de música, de irrealidade, o
quotidiano caprichoso e venenoso de
Marie Antoinette, imersa no Titanic
delirante de Versailles.
Vindas de direcções completamente diferentes, por vias de incomparável traçado, as películas em causa
acabam por cruzar-se fora das rotas,
dos tempos, das intenções, dos sentimentos verosímeis.
Daí que uma das sequências mais
expressivas do triângulo em projecção
seja (no segundo título) a ocorrida no
cemitério de Pére Lachaise com vampiros e ... Óscar Wilde. «Incrível. Foi a
primeira vez que filmei assim, apenas
duas noites mas noites muito, muito
longas», comentou o realizador canadiano Vincenzo Natali.
Paris continua a ser um espaço
mágico de encenações – e o cinema
uma arte superior delas.
Dezembro 2006
TempoLivre 63
BOAVIDA
À
M E S A
A NOSSA VISÃO À MESA
Que eu conheça, não existe nenhum provérbio popular que associe a qualidade da nossa alimentação à saúde
nos nossos olhos. Mas à medida que a ciência avança, vai crescendo a evidência científica sobre a importância
de uma alimentação rica em frutos, hortícolas e azeite sobre a nossa visão. Por isso, não será de admirar quer
no futuro se ouça: diz-me o que comes, dir-te-ei o que vês.
Pedro Soares
U
m provável exemplo desta
associação, entre a alimentação equilibrada e a qualidade da nossa visão,
chama-se Degenerescência Macular
Relacionada com a Idade, também
conhecida com as siglas DMI. Em
diversos países ocidentais, esta
doença é a principal causa de cegueira
em pessoas com mais de 65 anos. O
principal factor de risco é a idade.
O primeiro sintoma de DMI é o
aparecimento de uma mancha escura ou esbranquiçada no centro do
campo visual. As pessoas afectadas
podem ver imagens distorcidas ou
então os objectos passam a ter
tamanhos diferentes do real.
Habitualmente e de início, apenas
um dos olhos é afectado, mas o
“envelhecimento” da retina tende a
afectar o outro olho também. O
doente passa a ter dificuldade em ler,
escrever, conduzir, trabalhar levando
progressivamente à cegueira.
A retina é uma parte do olho com
uma elevada concentração de
64 TempoLivre
Dezembro 2006
oxigénio, muito rica em ácidos gordos polinsaturados e muito exposta
à luz solar. Estes factores tornam
esta parte do nosso corpo muito
sensível à produção de radicais
livres de oxigénio que podem estar
na origem da doença.
Os radicais livres podem ser átomos ou moléculas, tendo todos em
comum o facto de possuírem um ou
mais electrões soltos ao contrário das
moléculas estáveis. Por esta razão
tornam-se moléculas altamente
instáveis desencadeando reacções
que danificam outras moléculas.
Os antioxidantes são capazes de
interceptar os radicais livres, impedindo o ataque. Se no nosso organismo existirem antioxidantes, os
radicais livres ligam-se preferencialmente a estes, deixando assim
de agredir os tecidos saudáveis.
Diversos estudos têm alertado para
esta provável associação. Para além
da DMI pensa-se que os mecanismos de excessiva oxidação celular
podem estar na origem de doenças
como a doença cardíaca ou cancro.
Assim, a incorporação de alimen-
tos ricos em substâncias protectoras
na nossa dieta, poderá ter um papel
importante na prevenção destas
doenças.
Quais são estas substâncias com
propriedades antioxidantes? As mais
conhecidas são as vitaminas A, C e E
e o beta-caroteno. Igualmente com
efeitos anti-oxidantes encontramos
os bioflavonóides, antocianinas,
selénio e o zinco. Por exemplo, a vitamina E é encontrada nas nozes,
avelãs, sementes, peixe, azeite, algas
marinhas e seus óleos, melancia…;
os bioflavonóides estão nos citrinos
(limão, laranja, tangerina), frutos
silvestres, cerejas, uvas, papaia,
melão, ameixa, e tomates;
Encontramos ainda substâncias
com capacidade anti-oxidante nos
bróculos, cenoura, espinafre, salsa,
repolho, maioria das couves de
folha verde… Isto significa que uma
boa sopa de hortícolas e uma peça
de fruta a cada refeição podem estar
na base de uma alimentação protectora contra a doença e ser meio caminho andado para que no futuro a
nossa visão continue saudável. Ilustrações: André Letria
BOAVIDA
S A Ú D E
MISTURAS PERIGOSAS
Misturar certos medicamentos ou misturar estes com determinados alimentos pode ser perigoso para a saúde! O estudo das reacções adversas
à toma dos medicamentos, isto é, aquelas reacções que não são esperadas
nem desejadas quando se toma um fármaco, são exaustivamente investigadas pelos cientistas que produzem os medicamentos e normalmente
vêm descritas nas “bulas” que os acompanham.
M. Augusta Drago
Q
uando tomamos um remédio, por mais inócuo
que nos pareça, ele vai
entrar no nosso organismo e, nada fica como
antes. Através da corrente sanguínea
vai chegar não só ao local de acção a
que se destina para tratar a doença,
mas também a todas as partes do
corpo onde não é desejado.
Pelo caminho o químico vai interagindo com o estômago, com o intestino e, depois de absorvido interage, com todo o organismo. Se nessa
trajectória encontra outra ou outras
substâncias químicas que potenciam,
diminuem ou alteram os seus efeitos,
pode causar danos irreparáveis à
saúde.
As interacções medicamentosas
variam consoante as condições físicas, a idade, o estilo de vida e a genética de cada um. Os mais jovens
e os mais idosos são os mais susceptíveis e estes últimos têm maior
risco de intoxicação porque normalmente estão polimedicados.
As reacções bioquímicas e físicas
complicadas a que os medicamentos
estão sujeitos ao serem ingeridos,
absorvidos e metabolizados e por
fim eliminados não vêm ao caso.
Proponho que retenham e tomem os vossos cuidados se estão a
tomar algum dos medicamentos
que se seguem:
O cálcio e o ferro quando toma-
dos com chá ou café vêem os seus
efeitos diminuídos porque são menos absorvidos;
Alguns antidepressivos (os inibidores da MAO) não podem ser tomados juntamente com queijo, toranja,
abacate, cafeína e cerveja. A associação
com estes alimentos pode desencadear uma crise hipertensiva grave;
Os antibióticos (tetraciclina, ampicilina e amoxicilina) devem ser tomados só com água. Os alimentos
(incluindo o leite), tomados ao mesmo tempo, dificultam a absorção e
diminuem o efeito curativo;
Os anti-hipertensores (captopril e
imidapril) têm a sua absorção diminuída quando tomados com os alimentos e deve evitar-se o sal e o álcool;
Alguns diuréticos (espironolactona, amiloride e triantereno) têm a
sua absorção aumentada quando
tomados com os alimentos;
O medicamento para baixar o colesterol (sinvastatina), quando
tomado com hipericão ou
sumo de toranja, aumenta
a sua concentração no
sangue e potencia os seus
efeitos indesejáveis;
Os
anti-alérgicos
(anti-histamínicos) não
devem ser tomados
com álcool porque
causam sonolência,
nem com toranja
porque podem causar arritmia cardíaca
grave;
Os medicamentos para aliviar
dores e inflamações (anti-inflamatórios e os corticóides) não devem ser
tomados com álcool, citrinos e outros
anti-inflamatórios, porque aumentam o risco de hemorragia gástrica;
Aos
medicamentos tranquilizantes e aos que se tomam para
dormir não se deve juntar álcool,
chá, café ou chocolate porque
diminuem o seu efeito;
Os medicamentos para a bronquite crónica e para a asma (broncodilatadores) não devem ser tomados
com café, porque este pode provocar
insónia, pesadelos e taquicárdia, nem
com álcool, porque este aumenta o
risco de vómitos, irritabilidade e dores
de cabeça, nem com alimentos gordurosos, porque estes diminuem a
sua absorção e podem desencadear
uma crise de bronquite;
O anti-fúngico (nizoral) não
deve ser misturado com anti-ácidos, lacticínios e álcool, porque
pode provocar náuseas, vómitos,
descida brusca de tensão arterial e
desmaios. Este efeito perdura até
três dias após o fim da medicação;
Os doentes que fazem anticoagulantes (varfarina) não devem
tomar anti-inflamatórios, aspirina e
suplementos de vitamina E, porque
aumentam o risco de hemorragias;
não devem igualmente comer alimentos como espinafres, couveflor, batata e amendoim, porque são ricos em vitamina K,
que neutraliza o efeito do
medicamento.
É praticamente impossível
descrever todas as possibilidades de combinações de
medicamentos ou de estes
com os alimentos cujo o efeito
negativo já seja conhecido. A
lista que vos deixo não é
exaustiva nem dispensa
a leitura das “bulas”.
[email protected]
Dezembro 2006
TempoLivre 65
BOAVIDA
TEMPO INFORMÁTICO
SOM DE
QUALIDADE
Vai longe o tempo em que o som transmitido por
computadores não tinha qualquer semelhança com o
dos sistemas de alta-fidelidade. Entretanto as placas
de som melhoraram, apareceram colunas 2.1, 3.1 e
7.1 com tweeters para as altas frequências e um
subhoofer para as baixas. Não sendo prático para muita
gente ter à sua volta e do PC uma série de colunas, a
situação do som de qualidade resolveu-se. Aqui duas
delas à escolha dos leitores.
I
Gil Montalverne
A
Creative Labs sempre foi líder em
dispositivos
de
som para computadores, como já temos referido. A solução Creative mais
cómoda para um som de
qualidade a duas colunas
chama-se GIGAWORKS T20.
Com som estéreo de gama
alta em sistemas estéreo de
dois canais, são a opção perfeita para músicos amadores e
entusiastas da música de
qualidade.
A tecnologia BasXPort da
Creative, maximiza o equilíbrio e a
precisão, dando um estéreo impressionante, as duas vias com um altifalante principal e um cone de som
de gama média de elevado desempenho em cada uma das estruturas,
fornecem agudos detalhados e tons
médios envolventes e completos. A
blindagem magnética permite a
colocação junto a televisores ou
monitores sem interferências. Têm
entradas para leitores de MP3, estúdios domésticos, leitores CD/DVD e
televisores, controlos de interruptor,
graves e agudos, além de saída de
66 TempoLivre
Dezembro 2006
auscultadores para audição privada.
PVP: 94.76 Euros.
ENTRETANTO, há alguns anos que a
Logitech resolveu entrar no mundo
do som e tem vindo a oferecer dispositivos de qualidade. Com as colunas Inter-activas Z-10, apresentadas
na rentrée, reinventou os altifalantes para PC. É conhecida a sua
preocupação com o design e a
ergonomia. Elegantes, ligeiramente
inclinadas para trás, com cerca de 25
cm de altura, por 12 de largura e de
profundidade, podem estar sobre a
Colunas Z 10 e, em baixo,
GigaWorks T20
secretária ou em qualquer
local onde se use o PC.
Robustas e resistentes, a ligação por USB transmite o
sinal digital e informações
para um LCD embutido
retro iluminado, onde estão
os dados da música, relógio, volume e outros elementos. Esta inovação é
ainda facilitada por todos
esses comandos serem sensíveis ao toque, eliminando
recorrer aos comandos no
PC para controlar o Áudio:
volume, agudos, graves,
play, forward, back. Entrada para leitor MP3 e 4
botões de memória para estações
de Rádio na Internet. O som é um
estéreo completo sem necessidade
de subwoofer separado. Cada altifalante tem tweeters integrados de
2 centímetros e meio e woofers de
7,6 centímetros com gama baixa
notável. A tecnologia Logitech colocou um bi-amplificador que distingue as altas e baixas frequências
dirigindo-as respectivamente para
os tweeters e para os woofers. Som
de qualidade por 149,90 E. A escolha é sua.I
[email protected]
BOAVIDA
A O
V O L A N T E
MERCEDES CL
na estrada e na pista
Vislumbrar o novo coupé CL pela primeira vez é ficar
cego – pelo menos temporariamente – para as trivialidades da vida. Aquelas linhas. Aquela forma. O CL é
uma síntese rara e fascinante de presença carismática
e estética de design formal, que não deixa espaço para
interpretações erradas.
I
Carlos Blanco
R
aramente a beleza é tão
inequívoca e incontestável como no novo
Classe CL. Desafia a ideia
de que a beleza está, ou esteve,
alguma vez, nos olhos de quem
ama, uma máxima concebida para
defender a nossa apreciação discutível daquilo que é ou não
agradável. O facto é que o nosso
mundo está cheio de formas inerentes e indubitavelmente belas - e
o novo coupé de luxo da MercedesBenz é, sem dúvida, uma delas.
O termo beleza parece, de certo
modo, inadequado para descrever
uma criação formal de metal.
Estético talvez seja um rótulo mais
adequado. Pois tal como conceitos
como a gravidade e a velocidade da
luz são usados para dar um significado real a fenómenos do mundo
físico, o mundo estético faz a
beleza parecer tangível, durável, incapaz de se tornar num
lugar-comum ou de aborrecer.
Falando de dignidade, o CL
anuncia a sua presença sem se
apropriar do vocabulário do
seu criador de marketing.
Apesar da sua elegância simples, transmite uma ressonância de carácter que é rara nos
veículos modernos. Se um
automóvel parado irradia o tipo
de carisma que anuncia cada detalhe da sua substância técnica, então
a sua linguagem de design irá tocar
o coração de qualquer verdadeiro
entusiasta de automóveis.
CARRO DE SEGURANÇA NA F1
Agora que o piloto espanhol,
Fernando Alonso, revalidou o seu
título de campeão do mundo de
Fórmula Um, é tempo de lembrarmos que só existe um carro na F1,
que embora não possa ser ultrapassado, nunca venceu, ou completou
uma única corrida. Ele é o, carro
mais seguro em pista, e como estipulado pela FIA, é um AMG Mercedes CLK 55 que é usado como
Carro de Segurança, em todas as
corridas de Fórmula Um.
O conceito de um carro de segurança foi introduzido pela primeira
vez na Fórmula Um em 1992, e é
responsável pelo comando dos car-
ros de Fórmula Um em volta da
pista, a uma velocidade reduzida,
mas suficientemente rápida para não
sobreaquecer os motores altamente
sensíveis dos carros Fl. Mesmo a 120
kph (75 mph) terá de existir binário
disponível suficiente, para possibilitar igual desempenho através da
gama de rotações do motor. Com
uma saída de potência de 367 bhp e
uma velocidade de topo de 280 kph
(174 mph), o AMG CLK 55 cumpre
facilmente estes requisitos.
Para cada corrida, são levados dois
CLK 55 idênticos e até hoje o segundo carro reserva nunca foi necessário. Após cada corrida, os carros são devolvidos à fábrica AMG
em Affalterbach, para uma breve
inspecção afim de estarem nas melhores condições no Grande Prémio
seguinte. Embora o CLK 55 possa
parecer um carro vulgar, ele apresenta-se com uma serie de equipamentos, incluindo sistemas de
rádio, assim como diversas
câmaras de TV montadas por
fora e dentro do veículo. Existe
mesmo uma nova “black box”
no painel de instrumentos, para
fornecer um leitor óptico dos
sinais de bandeira, feitos pelos
comissários de corrida ao longo
da pista.
Em 2007, registe-se, Fernando Alonso irá guiar um McLaren-Mercedes. I
Dezembro 2006
TempoLivre 67
BOAVIDA
PA L AV RA S D A L E I
ABANDONO DE LAR, POSSE
E CASA DE MORADA DE FAMÍLIA
Vivi com um senhor durante 14
anos em união de facto; tivemos um
filho, que tem hoje 21 anos e tem problemas de aprendizagem. Comprámos
um imóvel em Lisboa, no qual ficámos a
residir. No entanto, o registo da casa foi
efectuado em nome dele. Dois meses
depois ele saiu de casa, levou o que quis,
incluindo um carro em meu nome, e
nunca deu um tostão, quer para as
despesas do imóvel, quer para o nosso
filho. Agora ele quer vender a casa onde
habitamos e pretende metade do valor
da venda. Tenho 58 anos e estou desempregada. Ele pode fazer isto?
?
Sócia n.º 178310 – Lisboa
I
Pedro Baptista-Bastos
O
imóvel, que é casa de
morada de família, foi
adquirido em compropriedade, o que é facilmente demonstrável. Apesar do registo de propriedade estar em nome
desse seu antigo companheiro, verificamos que houve uma situação de
abandono injustificado desse imóvel. Ora, o abandono é uma causa de
perca da posse, de acordo com o
artigo 1267º, n.º 1, al. a) do Código
Civil. Provado o abandono do imóvel sem justificação aparente, esta
nossa leitora pode fazer o registo da
mera posse sobre a casa de morada
de família e usucapir o imóvel.
Ela não tem o registo de aquisição
a seu favor – vimos já que estava em
nome do marido – mas ela continuou a viver nesse imóvel, após o abandono. Ela apossou-se do imóvel, em
termos legais, após o abandono.
68 TempoLivre
Dezembro 2006
André Letria
Assim, a lei diz-nos, no artigo
1295º, nº 1, al. a) do C. Civil, que dáse a usucapião sobre um imóvel,
mesmo não havendo um registo de
aquisição, se se tiver feito a posse
sobre o mesmo, de boa fé, durante
cinco anos. Parece ser o caso desta
nossa leitora, o que uma primeira
defesa que tem.
Além disso, as regras da compropriedade dizem-nos que um dos
comproprietários não pode, no
decurso do seu uso, privar o outro
de um outro uso a que tenha igualmente direito. Vimos que esta casa
é a morada de família de um filho
com problemas de aprendizagem.
Para além do facto do pai deste filho
estar obrigado, de acordo com as
regras do poder paternal instituídas
nos artigos 1877º e seguintes do C.
Civil, maxime o artigo 1879º, a prestar alimentos a um filho com dificuldades, não pode querer vender uma
casa, que é a morada de família de
duas pessoas.
Isto é, não pode privar o direito
que uma mãe tem em possuir uma
casa que lhe permita criar e proteger
um filho com dificuldades.
A sua pretensão em vender a casa
cede diante de um interesse superior que a lei protege, que é o interesse familiar, mesmo de uma família que já não queira como sua.
Aproveito para desejar um Bom
Natal e um Feliz Ano Novo a todos
os leitores da “Tempo Livre”. I
Toda a correspondência deve ser
dirigida à Redacção da «Tempo Livre»
CLUBE TEMPO LIVRE PASSATEMPOS
1
2
3
4
5
6
7
8
9 10 11 12 13 14 15
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
SOLUÇÕES
Palavras Cruzadas > por Tharuga Lattas
Horizontais: 1-Célebre astrónomo alemão (1571-1630); Grande
matemático, físico, filósofo e escritor francês (1623-1662). 2-Surgir em
público; Barrigas; Destruidor. 3-Condizer; Voz masculina mais alta
do que a do barítono; “Cloro” (s.q.). 4-Prep. de “lugar”; Escrava egípcia de Abraão e mãe de Ismael; Ilha grega do Arquipélago, uma das
Cíclades, onde foi achada, em 1920, uma célebre estátua...; Sua. 5Ninho; Arrendara; “Royal Air Force” (sigla). 6-Frequente; Gemidos;
Esmola insignificante. 7-Olhavas; Campeões. 8-Pessoa de mau carácter (fig.); Prep. de “lugar”; Tratamento familiar; Dificuldade. 9Limite; Pousara no mar; Casa. 10-Campeão; Queixosa; Ama-de-leite.
11-Apologia; Esmaltara de azul; Anuência. 12-Tenebroso; Leve;
Silencioso. 13-Nome que os Portugueses davam ao rio hoje universalmente chamado Congo; Além disso; Compartimentos subterrâneos onde se guardam mísseis prontos para lançamento.
Verticais: l-Planeta primário do sistema solar, orbitando entre
Mercúrio a Terra; Enganadora. 2-Estás; Nome pessoal masculino;
Galhofa. 3-Progenitor; Escutam; Nome pessoal masculino. 4-Antiga
moeda italiana; Suspiros; Suf. nom. de orig.lat. que designa “profissão”... 5-Erbio” (s.q.); Pompa; Iça. 6-Igual; Dama. 7-Bebedeira;
Montículo de cume arredondado. 8-Quinto filho de Jacob (Bíblia);
Instrumento para encurvar as calhas das vias férreas; Rebolar. 9Adições; Desequilibrada. 10-Gracejar; Madrugada. 11-Ataque de paralisia; Reino da Indochina a O. do Vietname; Puxador. 12-Murro;
Benefício; Nota musical. 13-Óxido de cálcio; Roseiral; Meridião. 14Esquadrão: Chiste; Astuto. 15-Gastos; Ramada.
KEPLER; D; PASCAL. 2-SAIR; PÁS; ROAZ. 3-V; IR; TENOR; CL; S. 4EM; AGAR; MILO; SÁ. 5-NIO; ALUGARA; RAF. 6-USUAL; AIS;
ÓBOLO. 7-S; VIAS; M; ASES; S. 8-RÉS; EM; TU; MAS. 9-FIM; AMARARA; LAR. 10-AS; CLAMOROSA; BA. 11-LOA; ANILARA; SIM. 12ATRO; ALADA; MUDO: 13-ZAIRE; ORA; SILOS.
Xadrez > por Joaquim Durão
As pretas têm o lance e deverão ter em conta a perigosa ameaça Dc1-c7.
Uma subtileza, porém, neutraliza esse perigo. A posição corresponde à
partida Tolush – Keres, Leninegrado 11.01.1939.
AS PRETAS JOGAM E GANHAM
Viktor Korchnoi, vice-campeão mundial nos “matchs” com Anatoly
Karpov, alcançou finalmente o título absoluto em Arvier (Itália)… mas no
escalão de Veteranos (na FIDE, mais de 60 anos para homens e 55 para mulheres – o que hoje, claro, não se entende). Mérito acrescido é o facto do
actualmente suíço, dissidente da ex-União Soviética, Viktor “O Terrível”
contar já 75 anos – mais 15 que o mínimo (Leninegrado, 23.07.1931).
Korclnoi (Suiça) – Miso Cebalo (Croácia), 16.09.2006. Defesa Indo-Benoni.
1.d4 Cf6 2.c4 e6 3.Cf3 c5 4.d5 d6 5. Cc3 exd5 6. cxd5 g6 7.Bg5 h6 8. Bh4
Bg7 9.Cd2 g5 10. Bg3 Ch5 11. Da4+ Rf8 (Forçado Se 11…. Bd7 12.De4+
30. Td1 Bxc4 31.Cxc4 De8 32. Dd3 Txc4 33. Dxc4 Bxe3+ 34.Rh1 Tg8 35.f7
Dxf7 36. Td8+ Rg7 37.Dxf7+ e as pretas abandonam, perante Rxf7
38.Ta7+ e cai a torre..
70 TempoLivre
Dezembro 2006
SOLUÇÕES
As pretas jogam 1…., e3-e2 e depois de, efectivamente,
2.Dc7 foram surpreendidas por Dg3+!!, e após 3.Rxg3
e1=D+ xeques sucessivos levam ao mate.
seguido de 13.Bxd6; e se 11…. Dd7 também 12.De4+ Rf8 com pior situação) 12. Dc2 Cxg3 13. hxg3 Cd7 14.e3 Ce5 15. Be2 a6 16.a4 Tb8 17.a5 b5
18. axb6 n.p. Dxb6 19. Ta2 f5 20. f4! (As movimentações na ala da dama
são típicas da variante, e neste sector as possibilidades anulam-se; todavia
na ala do rei as pretas estão mais expostas, justamente por este ataque,
uma vez que a retirada para f7 ou g6 pela vulnerabilidade do peão f5, após
f4xg5) 20…. gxf4 21.gxf4 Cg4 22.Bxg4 fxg4 (E a casa “e4” fica desimpedida para os cavalos brancos) 23. 0-0 Dd8 24. f5! h5 25. f6! Bh6 26.Cc4 Tb4
27.Ce4 Bb7 28. Cexd6 Bxd5 29. Txa6 g3 (Não há mesmo nada. A exposição
do rei preto, as melhores torres brancas, a débil defesa da primeira linha
preta, a Th8 paralisada e outros factores visíveis avisam um fim próximo).
As suas
Viagens
PORTUGAL
FIM DE ANO
FIM DE ANO EM VILA REAL
1º GRANDE BAILE DO ANO 2007
Comece o 1º dia do ano com um fabuloso
almoço e tarde dançante
com música ao vivo
Nº TSN2696 - 1 de Janeiro de 2007
PARTIDAS: GUARDA/
COVILHÃ/SANTARÉM
Preço por pessoa: € 70,00
ANO 2007
FESTAS
E ROMARIAS
FESTA DAS FOGACEIRAS
& FEIRA DO FUMEIRO
NºTSN1047
17 a 21 de Janeiro de 2007
PARTIDAS:
LISBOA/SANTARÉM/LEIRIA/COIMBRA
Preço por pessoa em quarto duplo: € 230,00
TSN2586 - 30 de Dezembro de 2006
a 2 de Janeiro de 2007
PARTIDAS:
FARO/BEJA/ÉVORA/LISBOA/SANTARÉM
Preço por pessoa em quarto duplo: 445,00
FIM DE ANO NA FEIRA
TSN2596 - 30 de Dezembro de 2006
a 2 de Janeiro de 2007
PARTIDAS:
PORTALEGRE/LEIRIA/COIMBRA
Preço por pessoa em quarto duplo: 280,00
MESA DE SÃO SEBASTIÃO Dornelas - Trás-os-Montes
A Festa comunitária que nunca se pode
deixar de cumprir…uma tradição onde
nunca falta comida para quem nela
compareça
PARTIDAS:
ÉVORA/SETÚBAL/LISBOA/AVEIRO
Nº TSN1057
19 a 21 de Janeiro de 2007
Preço por pessoa em quarto duplo
(Évora/Setúbal/Lisboa): €250,00
Preço por pessoa em quarto duplo
(Aveiro): €235,00
Festa dos Tabuleiros 2007
TOMAR
Inscreva-se já, lugares limitados
Assista a uma das tradições mais belas de
Portugal!!! Realiza-se de 4 em 4 anos. A
sua origem remonta ao Culto do Espírito
Santo, instituído no século XIV, com
origens remotas das antigas festas das
colheitas.
O ponto alto da festa é no Domingo, com
o cortejo dos tabuleiros a percorrer as
ruas da cidade. O Tabuleiro é o Símbolo e
principal alfaia da Festa dos Tabuleiros.
Deve ter a altura da rapariga que o carrega
e em média pesam 22 kg.
A função dos homens é a de ajudarem as
mulheres mas nunca transportam os
tabuleiros. Participe numa manifestação de
rara beleza e alto significado cultural.
PARTIDAS:
06 a 08 de Julho de 2007
PARTIDAS: VISEU/GUARDA/COVILHÃ
Preço por pessoa em quarto duplo: €
300,00
PARTIDAS: FARO/BEJA/ÉVORA
Preço por pessoa em quarto duplo: €
315,00
Viagens
HA
ESPAN
TAS
FES
Fallas de Valência 2007
[Autocarro]
[Avião]
15 a 21 Março de 2007
16 a 20 Março 2007
PARTIDAS:
COIMBRA/LEIRIA/SANTARÉM/LISBOA
Preço por pessoa em quarto duplo: €715,00
PARTIDAS: LISBOA / PORTO
Preço a divulgar oportunamente
AMÉRICA DO NORTE
FÉRIAS DE CARNAVAL EM NOVA IORQUE
Viagem
de son
ho
TSI1007
16 a 21 de Fevereiro 2007
PARTIDAS:
LISBOA/PORTO/FARO
Passe 6 dias, cinco noites, nesta
fascinante cidade, viajando em voo
regular.
Alojamento num Hotel, bem
localizado, com pequeno-almoço.
Visitas ao Museu de Arte Moderna
(MOMA), ao Empire State Building e
passeio de barco para desfrutar da
magnífica vista da Estátua da
Liberdade. Conheça os famosos
bairros de Chinatown e Harlem onde
assistirá a uma Missa Gospel.
Panorâmica da cidade de Nova
Iorque. Inclui 2 almoços e 2 jantares.
Acompanhamento de guia desde
Lisboa.
Preço por pessoa em quarto duplo:
€1750,00
Informações e reservas nos balcões de venda da Sede e Delegações
Sede/Loja do Turismo: Calçada de Sant’Ana 180, 1169-062 Lisboa
Telf. 210027160/61/62 fax: 210027170
e-mail: [email protected] endereço: www.inatel.pt
CUPÕES CLUBE TEMPO LIVRE
NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2006
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
Clube
TempoLivre
2,74
Euros
VALIDADE
31de Dezembro/2006
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
Clube
TempoLivre
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
Clube
TempoLivre
2,74
Euros
VALIDADE
31de Dezembro/2006
2,74
Euros
VALIDADE
31de Dezembro/2006
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
Clube
TempoLivre
2,74
Euros
VALIDADE
31de Dezembro/2006
Remeter para
Clube Tempo Livre –
LIVROS, Calçada de
Sant’Ana nº 180 –
1169-062 Lisboa, o
seguinte:
G Pedido, referenciando a editora e o título
da obra pretendida;
G Cheque ou Vale dos
Correios, correspondente ao valor (PVP)
do livro, deduzindo
2,74 euros de desconto do cupão.
G Portes dos Correios
referente ao envio da
encomenda, com
excepção do
estrangeiro, serão
suportados pelo Clube
Tempo Livre. Em caso
de devolução da
encomenda, os custos
de reenvio deverão ser
suportados pelo
associado.
CLUBE TEMPO LIVRE NOVOS LIVROS
AMBAR
CAMPO
DAS LETRAS
O GRANDE PINTOR
Conceição de Sousa
Gomes
32 pg. | 12 (PVP)
Com este livro as crianças
podem descobrir quem foi
Júlio Resende. Desde a
sua infância ao interesse
pela pintura, vão poder
desvendar como enchia
dezenas de folhas de
papel com os seus
desenhos, acompanhar a
sua paixão por Goya e o
sonho de ser um grande
pintor.
ARTE PLURAL
ALIMENTAÇÃO
VEGETARIANA PARA
BEBÉS E CRIANÇAS
Gabriela Oliveira
136 pg. |10 (PVP)
Conheça as vantagens de
uma alimentação natural,
rica e equilibrada, que
contém todos os
nutrientes essenciais.
Nesta obra apresentamos
mais de oitenta receitas,
adaptadas aos mais
pequenos, a partir dos 4
meses de idade, e
adequadas a todas as
refeições.
GOLFE - DICAS E
SEGREDOS
Jaime Bernardes
136 pg. |11 (PVP)
Guia prático sobre este
desporto de elite, com
informações básicas:
módulos de competição,
regras, tacadas e outras
dicas e segredos, além de
um microdicionário.
74 TempoLivre
Dezembro 2006
IRMÃS DO DOURO - UMA
HISTÓRIA PORTUGUESA
Edward Quillinan
192 pg. | 10,50 (PVP)
Com as invasões francesas
como pano de fundo, o livro
relata o relacionamento
entre duas irmãs, filhas de
um fidalgo duriense da
Teixeira, e dois oficiais do
exército britânico que
estavam em Portugal para
ajudar a expulsar os
franceses invasores. Pelo
caminho, o autor oferece
uma curiosa visão do país
na época, através da
descrição da paisagem
nortenha, das pessoas, dos
costumes e da cultura
portuguesa.
CANÇÕES DE AMOR EM
LOLITA’S CLUB
Juan Marsé
272 pg. | 15, 75 (PVP)
Qualquer mulher sentada
num bar de alterne à
espera de clientes sabe que
o comportamento de um
homem que perdeu tudo
menos a vida é um mistério.
Quem não acreditar, que
pergunte às raparigas do
Lolita’s Club, um tugúrio
nos arredores de Barcelona,
onde Nancy, Bárbara e
Milena vendem carícias a
granel, enquanto Dona Lola
atende ao balcão e
negoceia com os chulos do
costume.
COLIBRI
MOINHO DE MARÉ DO
CAIS DAS FALUAS
O RENASCER DE UMA
MEMÓRIA (MONTIJO)
AAVV
115 pg. | 8,40 (PVP)
Nesta edição inserem-se à
luz da arqueologia, da
tecnologia tradicional e da
etnografia uma
pormenorizada notícia
sobre as específicas e
complexas acções de
recuperação do Moinho de
Maré do Cais das Faluas.
ANTIGOS CONVENTOS DO
ALGARVE - UM PERCURSO
PELO PATRIMÓNIO DA
REGIÃO
Catarina Marado
180 pg. | 30 (PVP)
Antigos Conventos do
Algarve tem as
características de um
inventário do património,
mas que, pretende
principalmente demonstrar
a importância das
fundações regulares
na formação
e consolidação do território
algarvio, das suas
cidades e da sua
arquitectura e, ainda,
contribuir para uma maior
consciencialização da
necessidade de
preservação deste
importante legado
patrimonial.
EDITORIAL
PRESENÇA
DE MÃOS DADAS COM O
AMOR
Jan Goldstein
160 pg |12,50 (PVP)
Um admirável romance
que nos leva até Jennifer,
a protagonista da obra,
numa desesperada
tentativa de suicídio na
magnífica praia de Venice,
Califórnia. Jennifer é salva
e face ao desafio da vida é
a sua avó, que lhe dá a
maior dádiva que um ser
humano pode conceder a
outro – a compreensão do
que verdadeiramente
importa e um fervoroso
amor à vida.
AS MENTIRAS DO
MARKETING
Seth Godin
176 pg. | 12,50 (PVP)
O autor procura transmitir
um conceito de marketing
adaptado aos dias de hoje.
Num estilo irreverente e
bem-humorado, aborda
questões importantes para
transmitir o essencial da
sua mensagem: Uma boa
história é a que gera uma
satisfação genuína no
consumidor. É fonte de
lucro e crescimento e é o
futuro de uma
organização.
EUROPA-AMERICA
O SENHOR DA CHARNECA
Ruth Rendell
196 pg. | 19,90 (PVP)
Fora já encontrada uma
vítima… jovem, loira, com o
rosto desfigurado e a
cabeça rapada.
Aparentemente,
assassinada sem motivo
nem piedade.
Agora, a velha e traiçoeira
charneca convertera-se no
mundo inteiro, num sombrio
e perigoso centro de todas
as atenções.
Um empolgante e
surpreendente policial a
não perder!
HISTÓRIA MERDOSA DE
QUASE TUDO
A. Parody
172 pg. | 13,50 (PVP)
Eventos sombrios e
desenvolvimentos pouco
usuais, numa obra de
assuntos corriqueiros. Por
exemplo, sabia que Drusus
César, filho do Imperador
Tibério, adorava brócolos de
tal forma que quase não
comia mais nada, e que só
parou porque começou a
urinar verde? Ou que os
antigos egípcios caminhavam
longas distâncias descalços
com as sandálias aos ombros
e que só as calçavam quando
chegavam ao seu destino?
CARTAS DO PAI NATAL
J. R. R. Tolkien
112 pg. | 22,90 (PVP)
Os filhos de Tolkien
recebiam, em Dezembro,
um envelope com um selo
do Pólo Norte. Lá dentro,
estava uma carta numa
estranha letra aracnóide e
um desenho belamente
colorido. Eram cartas do Pai
Natal que contavam
maravilhosas histórias e
que vão, agora, encantar o
leitor, independentemente
da sua idade.
CRISTO, O SENHOR – A
FUGA DO EGIPTO
Anne Rice
256 pg. | 18, 90 (PVP)
Fruto de uma pesquisa
minuciosa, este livro revela
a infância de Cristo e a
crescente tomada de
consciência dos seus
poderes sobre-humanos, a
dificuldade em compreender
a sua origem e nascimento.
ROMA EDITORA
O PAÍS A RAIOS X –
ESTADO CRÍTICO
Lauro Portugal
182 pg. | 12 (PVP)
A apresentação de casos da
vida portuguesa, cujo
realismo atravessa o campo
ficcional, dá-se neste
volume através de
sublimada ironia. Esta,
porém, mais não é que uma
figura de estilo que o autor
utiliza, não como recurso
depreciativo, mas como
aguilhão contra a
dormência do país, que lhe
cerceia o querer melhorar.
NABOS NA COZINHA –
CULINÁRIA PARA
PRINCIPIANTES
António Gomes de
Almeida (texto) Artur
Correia (capa e ilustrações)
160 pg. |23,90 (PVP)
Um livro original, recheado
de receitas, que são, logo
desde o princípio, de fazer
crescer água na boca. Mas
há também conselhos, lista
de equipamentos essenciais,
normas de utilização e
porções de alimentos, dicas
para uma cozinha fácil. No
final, uma fantástica banda
desenhada faz a recriação
da gastronomia portuguesa
desde o Paleolítico até à era
actual.
NEO-REALISTAS DE VILA
FRANCA DE XIRA
José Rogeiro
146 pg. 12 (PVP)
Entre 1936 e 1942, os jovens
elementos do Grupo NeoRealista de Vila Franca
distinguiram-se pelas
iniciativas – culturais,
educativas e cívicas – que
promoveram e pelos textos
que escreveram. Vila Franca
de Xira não poderá
esquecer Alves Redol, Dias
Lourenço, Garcez da Silva,
Bona da Silva, Arquimedes
da Silva Santos, Carlos
Pato, Rodrigues Faria, Jorge
Reis, Júlio Graça e Álvaro
Guerra. Com acrescida
razão pelo notável percurso
no domínio das letras e da
cultura que vários deles
viriam a prosseguir.
SINAIS DE FOGO
A ARTE DE VIVER
Miguel Bacelar
108 pg. | 7 (PVP)
Cada vida é única, com as
suas experiências muito
próprias, com vivências e
situações diferentes. Há,
porém, pequenas regras
fáceis de implementar que
podem proporcionar-nos
grandes benefícios. De uma
forma clara e directa, este
livro ajuda-nos a reflectir
sobre nós, os outros e o
mundo à nossa volta e a
descobrir a força interior
que nos ajudará a mudar e
a melhorar a nossa vida.
TOP 100 PLANTAS
MEDICINAIS - tratamentos
seguros e eficazes para 100
problemas de saúde
frequentes
Anne McIntyre
128 pg. | 11,70 (PVP)
A eficácia das plantas na
cura ou no alívio de
algumas doenças tem sido
confirmada ao longo dos
tempos.
Nesta obra, encontra uma
lista de benefícios e
conselhos para utilizar 50
plantas medicinais, desde o
aloé à aveia, e um conjunto
de tratamentos adequados
os 100 problemas de saúde
mais frequentes.
TEXTO EDITORES
PAI NATAL NÃO EXISTE
Nilton
207 pg. | 13,99 (PVP)
Um livro de humor que conta
histórias como a do homem
que descobriu que o sentido
da vida é para a esquerda;
do super-herói descontente
com as condições de
trabalho; do homem que tem
um talento especial para
nada e de muitas outras
personagens que o autor
julga ter conhecido. Explica
ainda que o Pai Natal não
existe e tem a
particularidade de usar
todas as letras do alfabeto,
coisa nunca antes vista.
ESTÓRIAS DO SERAFIM
António Jorge Teixeira
Serafim
95 pg. | 14,99 (PVP)
Popularizado através do
programa de televisão
«Levanta-te e Ri«, o autor
presenteia-nos agora com a
sua incomparável prosa e
um DVD. Desta vez quem
não teve nada a ver com
assuntos de beijação foi o
galã de balho Manecas
Pelicano Sardinha,
apaixonado por Florinda
Maria Meias-Solas, a tal cujo
irmão Toino Marceneiro,
ainda a acreditava possuída
de uma rola mais santa que
a das outras.
Dezembro 2006
TempoLivre 75
CLUBE TEMPO LIVRE ROTEIRO
Roteiro Inatel de actividades culturais e desportivas
BRAGA
Cultura
ESPECTÁCULOS: dia 1 às
21h30 - o Gr. de Fados do
Conjunto “Velha Guarda”
em Nogueiró; dia 3 às 15h Plácido Santos em Celeiros;
dia 10 às 15h – Magia com
Karter Mendes no Estúdio
Galécia em Braga; dia 15 às
15h – Magia com Karter
Mendes em Escudeiros; dia
16 às 14h30 – Gr. Musical
de Animação da Casa do
Povo de Gondifelos em
Vilaça; dia 17 às 15h Magia com Karter Mendes
em Barreiros, Amares; dia
17 - Ventríloquo João Alves
em Cabreiros; dia 23 às 21h
- Palhaços do Gr. de Teatro
da Silva em Valdosende.
TEATRO: dia 3 às 21h30 – a
peça “Peixeiradas” pelo
Gr.de Teatro do Centro
Social de Campelos, no
Bugio; dia 11 às 21h - peça
“Mãos de Pó” pelo
TIN.BRA no Parque de
Exposições de Braga; dia 16
às 15h - peça “Manta de
Retalhos” pelo Gr. de Teatro
do Centro Social de
Campelos, na Escola André
Soares, em Braga.
ESCOLAS DE LAZER: cursos
de Danças de Salão e
Latino Americanas,
Tapeçarias de Arraiolos,
Bordados Regionais e
Confecção, Artes
Decorativas, Reciclagem,
Pintura, Guitarra Clássica,
Cavaquinho e Canto.
Desporto
ATLETISMO: dia 3 – prova de
estrada no 73º Aniv. da
Junta de Freg. de S.
Vicente; dia 10 – Camp.
Distrital de corta-mato; dia
16 – prova de Corta-Mato,
G.P.A.M. Emboladoura,
76 TempoLivre
Dezembro 2006
Gondar; dia 27 – prova de
estrada, 31ª São Silvestre,
em Braga.
TÉNIS DE MESA: dia 23 Torneio de Natal
VOLEIBOL: dia 15 – início do
Torneio de Inverno
XADREZ: dia 6 – Torneio de
Natal; dia 20 – Camp.
Distrital de Equipas
FUTEBOL: Sábados e
Domingos – decorrem
jornadas do Camp. Distrital
GINÁSTICA: Classes de
Manutenção na Delegação
e no Pavilhão de Guimarães
JUDO: dia 16 – Torneio de
Natal e Classes Infantis,
Juvenis e Adultos na
Delegação
COIMBRA
Cultura
CONCERTOS DE NATAL: dia 2
às 21h30 na Igreja da Sé
Velha em Coimbra; dia 9 às
21h30 na Igreja de S. José;
dia 10 às 15h30 na Igreja
Paroquial de Condeixa e às
21h30 na Igreja Matriz da
Lousã; dia 13 às 17h Concerto dos Alunos da
Escola de Música do Inatel,
na Delegação; dia 15 às
21h30 no Lions Club da
Figueira da Foz; dia 22 às
21h30 no Cine Teatro da
Lousã; dia 23 às 16h no
Salão da Filarmónica da
Pocariça e às 21h na Soc.
Musical Santanense e na
Igreja Matriz de Mira.
MÚSICA: dias 1,2,3,8,9,10 –
Master Classe/2006, Metais
pela Filarmónica União
Taveirense em Taveiro; dia
10 às 10h - Encontro de
Bandas em Vila Nova de
Poiares.
ETNOGRAFIA: dia 16 ás
21h30 – Encontro de
Cantares Natalícios em
Ançã; dia 16 – Encontro de
Cantares Natalício do Bairro
do Brinca, na Capela do
Loreto em Coimbra
MAGIA: dias 9 às 15h –
Espectáculo de Magia, por
Luis Rodrigues, na Assoc.
Recr. Cultural de Mira e dia
10 na Assoc. Desenv. e
Formação Prof. de Miranda
do Corvo.
TEATRO: “21º Ciclo de
Teatro de Outono” dia 2 às
21h30 - “Médico à força”
de Molière, pelo Gr. Teatro
Amador da Praia de Mira na
Assoc. Cult. Desp. de
Vinha da Rainha; dia 2 às
21h30 - “Um caso raro de
loucura”, de Henrique
Galvão, pelo teatro Amador
de Ribeira de Frades na
Casa do Povo de Espariz e
“Casa de Pais” de Francisco
Ventura pelo Gr. Cénico de
Ourentã, na Assoc.Cult.
Desp. de Seixo de Mira
Festas de Natal: dia 8 às
21h – Festa na Assoc.
Cultural do Areeiro com o
Gr. Só-Música; dia 12 às
16h - Palestra e Concerto
Coral “Evocação Natalícia”
no Arquivo da Universidade
de Coimbra; dia 15 às 21h30
– “Sons de Natal” na Assoc.
Arte e Cultura do Concelho
de Cantanhede; dia 16 –
Gr. Típico de Ançã na
Festa de Natal do Idoso em
Ançã.
CURSOS: dia18 a 23 – Curso
Distrital de Jovens Músicos,
na Delegação e Concertos
do Curso de Jovens
Músicos.
ESCOLA DE LAZER: cursos
de Iniciação à Cerâmica e à
Pintura, na Delegação.
Desporto
ATLETISMO: dia 3 - Estafeta
de S. Frutuoso, prova de
estrada em F. Frutuoso; dia
17 – Torneio de Abertura de
Corta Mato em Febres,
Lagoa dos Cedros.
FUTEBOL: dias 3, 10 e 17 –
jornadas do Camp. Dist.
Actividades Básicas:
Classes de Ginástica, Judo
e Natação, informações na
Delegação.
GUARDA
ESCOLA DE PARAPENTE:
cursos de Piloto Autónomo
e Baptismos de Voo em bilugar, em Linhares da Beira
(telef. 271 776 590 ou 271
212730).
LEIRIA
Cultura
EVENTO: “62.º Aniv. da
Delegação” dia 9 às 15h Entrega de Certificados a
novos CCDs e animação no
Teatro Miguel Franco e às
21h 30 – Concerto pelo Coro
de Câmara de Lisboa no
Teatro Miguel Franco.
Natal, com Rancho Folcl. do
Porto na Delegação.
ESCOLAS DE LAZER: Cursos Workshop de Natal,
iniciação ao Inglês e à
Pintura, Danças de Salão,
Salsa e Merengue,
Tapeçarias e Bordados.
Informações na Delegação.
da Serra em Tomar; dia 15
às 19h – Gr. de Palhaços
“Os Trabucas” nos B.V. de
Torres Novas; dia 23 às 21h
– Gr. de Palhaços “Família
Monteiro” na Casa do Povo
de Montalvo, Constância.
Desporto
FUTEBOL 11: decorre o
Camp. Distrital
ATLETISMO: dia 17 às 10h –
Camp. Dist. de Corta-Mato
ACTIVIDADES BÁSICAS:
Cultura
Classes de Hidroginástica,
Ginástica de Manutenção e
Aérobica, na Delegação
CAVAQUINHOS: dia 19 às
LISBOA
T E AT R O
DA
Sala Principal
Cultura
WOK RITMO AVASSALADOR
no Parque Desportivo de
Ramalde
XADREZ: dias 4 e 11 –
Camp. Distrital
TÉNIS DE MESA: dias 4 a 27
– Camp. Distrital
Basquetebol: dias 6 a 16 –
Camp. Distrital.
dias 7 a 17
SANTARÉM
Sala Estúdio:
Cultura
TIMBUKTU
até 3 Dez
Teatro Bar:
ELAS SOU EU (O QUE A
GENTE FAZ PARA PAGAR A
RENDA)
até ao dia 16
PORTO
Cultura
FESTIVIDADE: dia 14 às
21h30 - Autos e Cânticos de
MÚSICA: dia 1 às 14h30 –
Sociedade Filarmónica
Payalvense “Manuel de
Mattos” em Curvaceiras;
dia 16 às 14h30 – Gr. de
Música Popular “Cantares
da Charneca” em Moçarria
e Gr. de Música Popular
“Os Cavaquinhos” no
Centro de Apoio social da
Carregueira; dia 23 às
21h30 – Gr. Musical “Prata
da Casa” no Grupo Desp. e
Recreativo “Os Esparteiros”
de Mouriscas.
PALHAÇOS: dia 9 às 16h30 –
Gr. de Palhaços “Família
Monteiro”, na Assoc.
Cultural Desp. e Recreativa
Classes de Ginástica na
Delegação.
Desporto
SETÚBAL
TRINDADE
ACTIVIDADES BÁSICAS:
EVENTO: dia 15 às 18h Eleição da Miss e Mister de
Setúbal na Delegação
ARTES: dia 16 às 16h Exposição de Pintura e
Fotografia – Workshop de
instrumentos de cordas, às
22h30 – Música alternativa
por Grupos amadores e às
24h – Espectáculo
audiovisual de interacção
com o público, pelo Gr. de
Dança e Teatro
Alternativos, na Delegação
FESTAS DE NATAL: dias 14,
17, 18, 19, 20, 21 e 22 decorrem festas de Natal na
Delegação
Desporto
ATLETISMO: dia 3 – Camp.
Distrital de Corta-Mato no
Barreiro; dia 30 – São
Silvestre no Faralhão.
FUTEBOL: decorrem provas
do Camp. Distrital de
Futebol
TÉNIS DE MESA: decorre o
Camp. Distrital de Ind. no
Barreiro e Setúbal
TIRO: decorre o Torneio Reg.
de Tiro 10m de CACR e
CACP.
VIANA DO CASTELO
14h30 - “S. Martinho,
Castanhas e
Cavaquinho”no Centro de
Cult. de Campos.
Escolas de Lazer: cursos de
Bordados e Meias
Rendadas, Folclore,
Cavaquinho e Concertina,
informações na Delegação
Desporto
PEDESTRIANISMO: dia 9 às
9h - Percurso Pedestre
“Trilho do Santo” em Ponte
de Lima.
ATLETISMO: dia 17 – Camp.
Distrital de estrada em Vila
de Punhe, Barroselas
FUTEBOL: dias 3, 10, 17 –
jornadas do Camp. Distrital
EVENTO: dia 8 às 20h Cerimónia de Entrega de
Prémios da Época
Desportiva 2005/2006 no
Clube de Tiro Desportivo de
Carreço.
VISEU
Desporto
TIRO AO ALVO: dia 2 às 14h
- prova na Lapa do Lobo
FUTEBOL 11: dias 3, 10 e 17
às 15h - provas do Camp.
Distrital
GINÁSTICA: –Classes de
Manutenção no Pavilhão
Gimnodesportivo de Viseu.
Dezembro 2006
TempoLivre 77
A CHEFE SUGERE |ANTÓNIA MARTINS | INATEL CERVEIRA
Cozido à Minhota
Este tradicional repasto das terras do Alto Minho
remonta a uma chamada economia de montanha,
onde predominam as carnes de porco, que
antigamente eram salgadas para conservação e os
não menos típicos enchidos. Os restantes
ingredientes são também das terras locais, desde a
couve, nabo e cenoura ao vinho.
O Cozido é, por excelência, um método culinário que
poderá ser considerado saudável visto que não se
INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS: 300g de carne
de vaca (aba), 200g de chispe e unha (com osso), 1
orelha de porco, 100g de costeleta de porco, 150 g
de frango, uma farinheira, 1 chouriço moura, 1
chouriço de carne., 1 nabo., 2 batatas, 500g de
couve coração, 300g de couve penca (Portuguesa),
2 cenouras médias, 0,5 l de vinho para tempero, 1
folha de louro, 4 dentes de alho, sal q.b..
PREPARA-SE ASSIM: Na véspera, lavamse a orelha e a unha de porco. Temperamse as carnes de porco com vinho, sal, alho
e louro e deixa-se a marinar para o dia
seguinte, em recipiente tapado, no
frigorífico. Em alternativa, poder-se-á optar
por carne de porco salgada, sendo que
nesse caso não se colocará mais sal.
Numa panela com água a ferver, colocamse as carnes de porco e vaca, a cozinhar. Ao
fim de algum tempo (cerca de 45 minutos),
junta-se o frango e os enchidos e deixa-se
cozinhar. Passada meia hora, adiciona-me
as couves, a cenoura e o nabo partidos ao
meio, com cortes longitudinais (em
quartos, caso sejam muito grandes). Por
fim, adicionam-se as batatas cortadas e
rectificam-se os temperos.
Depois de cozido, cortam-se os enchidos às
rodelas e as carnes às fatias ou em
pedaços. Serve-se quente, acompanhado
de arroz branco.
adiciona gordura na confecção e os alimentos
mantêm as características nutricionais na sua quase
totalidade. O cozido à Minhota é um prato que
poderá ser de difícil digestão e que possui um
elevado valor energético, pelo que se sugere uma
redução nas quantidades ingeridas, nomeadamente
no que diz respeito aos enchidos e carnes de porco.
Sugere-se também que sejam retiradas as partes
gordas visíveis das carnes, bem como a pele do
frango antes da confecção. Desta forma, irá poder
saborear um prato delicioso, de forma mais saudável.
COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL POR PESSOA: • 54g
de proteínas; • 91g de gordura; • 32g de hidratos
de carbono; • 7g de fibra; • 976Kcal
INFORMAÇÕES E RESERVAS:
INATEL CERVEIRA
Lovelhe, 4920-236 Vila Nova de Cerveira
Tels: 251 708 360/61 - Fax: 251 795 050
Email: [email protected]
Dezembro 2006
TempoLivre 79
moradas
Sede
Calçada de Sant’Ana, 180
1169-062 LISBOA
Telf: 210 027 000
Fax: 210 027 027
e.mail: [email protected]
endereço: www.inatel.pt
Delegações e
Subdelegações
ANGRA DO HEROISMO
Beco do Pereira, 4
9701-868
ANGRA DO HEROISMO
Tel. 295 213 407 /215 038
Fax. 295 212 233
[email protected]
AVEIRO
Av. Dr. Lourenço
Peixinho,144/146
Edificio Oita - 4º E
3800-160 AVEIRO
Tel. 234 405 200 / 207
Fax.234 405 208
[email protected]
BEJA
Rua do Vale, 14,
7800 - 490 BEJA
Tel. 284 318 070
Fax. 284 323 163
[email protected]
BRAGA
Av. Central, 77,
4710-228 BRAGA
Tel. 253 613 320
Fax.253 214 202
[email protected]
BRAGANÇA
R. Alexandre Herculano,
111 - 1º,
5300-075 BRAGANÇA
Tel. 273 331 653
Fax. 273 326 947
[email protected]
COIMBRA
R. Dr. António Granjo, 6
3000 - 034 COIMBRA
Tel. 239 853 380
Fax.239 853 384
[email protected]
COVILHÃ
“Casa de Agostinho
Roseta”
Av. Frei Heitor Pinto, 16-B
6200-113 COVILHÃ
Tel. 275 335 893
Fax.275 327 276
[email protected]
ÉVORA
“Palácio Barrocal”
Rua Serpa Pinto, 6
7000-537 ÉVORA
Tel. 266 730 520
Fax. 266 730 521
[email protected]
FARO
“Casa Emílio Campos
Coroa”
Rua do Bocage, 54
8004 - 020 FARO
Tel. 289 898 940
Fax. 289 823 521
[email protected]
FUNCHAL
Rua Alferes Veiga Pestana,
1 L, sala 25
9050-079 FUNCHAL
Tel. 291 221 614
Fax.291 228 147
[email protected]
GUARDA
R. Mouzinho da Silveira, 1
6300-735 GUARDA
Tel. 271 212 730
Fax.271 215 779
[email protected]
HORTA
R. Comendador Ernesto
Rebelo, 10
9900 - 112 HORTA
Tel. 292 292 812
Fax.292 293 147
[email protected]
LEIRIA
“Casa Miguel Franco”
R. João XXI, 3-A r/c - Loja D
2410-114 LEIRIA
Tel. 244 832 319/834 017
Fax. 244 834 735
[email protected]
PONTA DELGADA
Rua do Contador, 73-A
9500 - 050 PONTA
DELGADA
Tel. 296 284 684
Fax. 296 283 166
[email protected]
PORTALEGRE
Largo de São
Bartolomeu, 2 e 4,
7300-101 PORTALEGRE
Tel. 245 203 675/207 593
Fax. 245 207 569
[email protected]
PORTO
Casa “Jorge de Sena”
Rua do Bonjardim, 495
4000-126 Porto
Tel. 220 007 950
Fax. 220 007 999
[email protected]
Tel. 265 543 800
Fax. 265 543 819
[email protected]
Tel. 231 930 358
Fax. 231 930 038
[email protected]
VIANA DO CASTELO
Rua de Stº António, 117
4900 - 492
VIANA DO CASTELO
Tel. 258 823 357
Fax. 258 811 644
[email protected]
INATEL MADEIRA
Madeira - Santo da Serra
9100-267 SANTA CRUZ
Tel. 291 550 150
Fax. 291 552 227
[email protected]
VILA REAL
Av. 1º de Maio, 70-1º D
5000-651 VILA REAL
Tel. 259 324 117
Fax. 259 372 592
[email protected]
INATEL
SERRA DA ESTRELA
Manteigas,
6260-012 MANTEIGAS
Tel. 275 980 300
Fax. 275 980 340
[email protected]
VISEU
Rua do Inatel
Urb. Quinta do Bosque
3510 - 018 VISEU
Tel. 232 423 762/428 727
Fax. 232 423 781
[email protected]
INATEL OEIRAS
Alto da Barra - Estrada
Marginal,
2780-267 OEIRAS
Tel. 210 029 800
Fax. 210 029 840
[email protected]
Centros de Férias
INATEL ALBUFEIRA
Av Infante D. Henrique,
8200-862 ALBUFEIRA
Tel. 289 599 300
Fax. 289 599 340
[email protected]
INATEL CASTELO
DE VIDE
Rua Sequeira Sameiro, 6
7320 - 138
CASTELO DE VIDE
Tel. 245 900 200
Fax. 245 900 240
[email protected]
INATEL
“UM LUGAR AO SOL”
Av. Afonso Albuquerque
- S. João de Caparica
2825-450 COSTA
DE CAPARICA
Tel. 212 918 420
Fax. 212 900 051
[email protected]
INATEL ENTRE-OS-RIOS
Torre
4575-416 PORTELA PNF
Tel. 255 616 059
Fax. 255 615 170
[email protected]
SANTARÉM
Prta. Pedro Escuro, 10-2º D
2000-183 SANTARÉM
Tel. 243 309 010
Fax. 243 309 014
[email protected]
INATEL FOZ DO ARELHO
R Francisco Almeida
Grandela, 17
2500-487 FOZ DO ARELHO
Tel. 262 975 100
Fax. 262 975 140
[email protected]
SETÚBAL
Praça da República
2900-587 SETÚBAL
INATEL LUSO
Rua Dr. Costa Simões
3050 - 226 LUSO
INATEL
SANTA MARIA DA FEIRA
Santa Maria da Feira
4520-306 SANTA MARIA
DA FEIRA
Tel. 256 372 048
Fax. 256 372 583
[email protected]
INATEL PALACE
Termas - São Pedro do Sul
3660-692 VÁRZEA SPS
Tel. 232 720 200
Fax. 232 720 240
[email protected]
INATEL CERVEIRA
Lovelhe
4920-236 VILA NOVA DE
CERVEIRA
Tel. 251 708 360 a 62
Fax. 251 795 050
[email protected]
INATEL PORTO SANTO
Cabeço da Ponta
9400 PORTO SANTO
Tel. 291 980 300
Fax. 291 980 340
[email protected]
INATEL PIODÃO
6285-018 PIODÃO
Tel. 235 730 100/1
Fax. 235 730 104
[email protected]
INATEL FORNOS
DE ALGODRES
6370-401 VILA RUIVA
Tel. 271 776 016
Fax. 271 776 034
[email protected]
INATEL MONTALEGRE
Lugar de Penedones
5470-069 CHÃ/PENEDONES
Reservas: 255 616 059
(Inatel Entre-os-Rios)
[email protected]
INATEL GAVIÃO
6040-999 GAVIÃO
Reservas: 245 900 243
(Inatel Castelo de Vide)
[email protected]
Parques
de Campismo
INATEL CABEDELO
Av. dos Trabalhadores Cabedelo
4900-056 VIANA DO
CASTELO
Tel. 258 322 042
Fax. 258 331 502
[email protected]
INATEL CAPARICA
Av. Afonso Albuquerque
- S. João de Caparica
2825-450 COSTA DE
CAPARICA
Tel. 212 900 306
Fax. 212 911 553
[email protected]
INATEL
SÃO PEDRO DE MOEL
Av. do Farol, 2430-502
MARINHA GRANDE
Tel. 244 599 289
Fax. 244 599 550
[email protected]
Teatro
da Trindade
R. Nova da Trindade
1200-301 LISBOA
Tel. 213 423 200
Fax. 213 432 955
[email protected]
Parque de Jogos
1º de Maio
Av. Rio de Janeiro
1700-330 LISBOA
Tel. 218 453 470
Fax. 218 473 193
[email protected]
Parque de Jogos
de Ramalde
Rua Dr. Aarão de Lacerda
4100-015 PORTO
Tel. 226 184 684
Fax. 226 109 721
Escola
de Parapente
Linhares da Beira
Tel. 271 776 590
MARIA ALICE VILA FABIÃO | O TEMPO E AS PALAVRAS
Jamais uma ‘burka’ para Nadia
Sou a mulher que despertou / Ergui-me e tornei-me tempestade entre as cinzas dos meus filhos / queimados / Ergui-me
dos riachos de sangue do meu irmão / A força, deu-ma a ira da minha nação. […] / Abri portas fechadas da ignorância […]
/ Ó compatriota, já não sou o que fui / Sou a mulher que despertou / Encontrei o meu caminho – jamais regressarei.[…] /
Ó compatriota, ó irmão, não mais me consideres fraca e inepta. / Com toda a minha força estou contigo na senda da
libertação do meu país / A minha voz confundida com a de milhares de outras mulheres que se ergueram.[…] / Ó
compatriota, ó irmão, já não sou o que fui / Sou a mulher que despertou / Encontrei o meu caminho – jamais regressarei.
Martire Meena, Jamais Regressarei, in “Payam-e-Zan”, nº 1, 1981, Afeganistão. Trad. da versão francesa: MAVF
NOITE ALTA. Noite de negrume sólido, morada do
vento e da chuva, senhores únicos do silêncio e do
enigma da sobrevivência das aves sem ninho e dos
humanos sem abrigo. Com o pensamento girando
frenético em busca de quase esquecidas, e inúteis,
palavras aprendidas na infância (“Dai-lhes, Senhor,
a roupa conforme o frio, o alimento para a sua
fome…”), fecho o dia de trabalho com a habitual
leitura de um jornal on-line.
“El Pais.es”: “Jornadas em Barcelona sobre a
violência de género no Afeganistão, cinco anos após
a queda dos Talibãs”, dias 14 e 15.
Não há qualquer diferença entre durante e após os
Talibãs, afirma Pawina Heila. Ainda há dias, uma
menina de 11 anos foi raptada, violada pelos senhores
da guerra e trocada por um cão e algum dinheiro.
Há anos que leio e traduzo relatos de crimes contra os
direitos da mulher, e não só no Afeganistão. Com burka
ou sem burka, com chador ou sem chador (que ela devia
poder usar, ou não, em liberdade), a mulher continua a
ser vítima de pretensos conceitos culturais. No dia 25 de
Novembro, celebrou-se nos “países civilizados” o Dia
Internacional para a Eliminação da Violência contra as
Mulheres, não só afegãs, mas de todo o mundo.
A obsidiante recorrência das palavras de um
poema lido em tempos, mais grito do que poema,
dor milenar, inapaziguável, mas paradoxalmente
triunfante, não me permite esquecer a sua autora,
Martire Meena, (1957-1987) a mulher que fundou a
RAWA e a revista bilingue “Payam-e-Zan”, “A Voz
das Mulheres”. Até ser silenciada pela KGB afegã, a
palavra é a sua arma contra o fundamentalismo e o
opressor, em defesa da liberdade, da mulher afegã –
em defesa da mulher oprimida. Assassinada pela
KGB, ela é omnipresença nas notícias que leio. E
leio: “Nadia sonha com ver de novo o seu rosto.”
A história de coragem de Nadia Ghulun faz-me
reescrever o texto.
Nadia é hoje uma jovem de 21 anos. Aos oito fica
com o rosto desfigurado, quando a sua casa, num
bairro humilde de Cabul, é atingida por uma
bomba. Em 1996, os Talibãs tomam o poder e o
irmão de Nadia é assassinado em plena rua. Às
mulheres é proibido trabalhar fora de casa. Com a
mãe doente, o pai enlouquecido e duas irmãs mais
novas, Nadia, com dez anos, veste-se de rapaz,
assume a identidade do irmão e sustenta a família
com o seu trabalho: escava poços, abre valas, repara
bicicletas. O terror constante de ser descoberta é a
sua segunda pele. Após a queda dos Talibãs, a
Associação para os Direitos Humanos no
Afeganistão (ASHDA) financia-lhe os estudos de
informática e inglês, o que lhe permite trabalhar
numa ONG e prosseguir os estudos de economia.
Neste momento, no Hospital Clinic de Barcelona,
uma equipa da Fundação de Cirurgiões Plásticos do
Mundo vai tentar reconstruir-lhe, gratuitamente, o
antigo rosto, para que, reassumida a sua identidade
feminina, ao regressar ao seu país ninguém
estabeleça qualquer relação entre ela e o adolescente
e homem que foi durante os últimos dez anos. “Sei
que, de volta ao meu país, não terei, como mulher,
os mesmos direitos que tenho como homem. Mas
sou mulher e quero vestir roupas femininas”, diz.
Jamais, porém, uma burka.
Aquietada, finalmente, a fúria do vento e da
chuva neste percurso através de Novembro, o dia
abre-se com toques de rosa e ouro sobre o mar.
Vinda aparentemente do nenhures, uma gaivota
fende o espaço e pousa, asas abertas como pétalas
de magnólia, no topo do candeeiro granítico que se
ergue à altura de um terceiro andar e ali se fica, a
contemplar o seu universo, com o olhar e a soberba
da águia bicéfala dos Habsburgos.
Entre a quietação e o movimento, a pulsação do mundo parece ter-se restabelecido. Aparência de paz. I
Dezembro 2006
TempoLivre 81
CRÓNICA |ARTUR QUEIROZ
Os amigos de Loanda
Eram bichos da noite excepto aos sábados, altura em que prolongavam a madrugada pela manhã e iam
directamente dos botequins para o muzongué e os mufetes de kakusso, no quintalão de Mamã Guinhas,
coração vagabundo do muceque Rangel.
ÀS VEZES, LÁ PARA AS CINCO DA MATINA,
invadiam o quintal do Elias Dia Kimuezo,
estagiavam suas conversas desgarradas até à hora
do almoço, o rei dos cantores cantava seus choros e
depois eles partiam, com imprecisões ao nível do
gesto e dos passos, para o clube de S. Paulo, outro
palácio da boa comida angolense. Intitulavam-se
amigos da cidade de S. Paulo da Assumpção de
Loanda. Mas amigos, amigos, eram da noite e seus
mambos, boleros e meninas que mandavam fama
na arte do amor cronometrado mas que para os
amigos nunca usaram relógio.
Durante anos, faziam seu percurso de boémia,
com uma precisão milimétrica. Apareciam ao início
da noite na esplanada do Majestic ou do Bar
Cravo, em S. Paulo. Depois bebiam e gargalhavam
Os boémios amigados com Loanda
tratavam-no por D. Duarte,
não porque esse fosse o seu nome
mas porque era o rei
da intelectualidade e muito eloquente
como se a vida fosse fácil. Quando os bons chefes
de família iam para o lar, eles zarpavam em
direcção aos botequins do Bairro Operário onde se
encharcavam em vinho traficado nas destilarias do
Lobito. Quando Luanda adormecia, eles partiam
em magotes barulhentos e enviesados para a Baixa.
Ficavam por lá até o dia ameaçar revelar seus
rostos amarrotados e cansados. Ainda hoje pairam
nas noites de Luanda como fantasmas sem
sepultura.
Um deles tinha estilo de Marlon Brando e
quando mudava de quarto alugado, porque era
82 TempoLivre
Dezembro 2006
despejado devido aos atrasos nas rendas,
mobilizava o bando para ajudá-lo a transportar
umas centenas de livros que eram toda a sua
bagagem e só mesmo um branco civilizado tinha
coragem de ler. Possuía na sua biblioteca de
subúrbio as obras completas do Cavaleiro de
Oliveira em francês e um ensaio de mestre
Aquilino Ribeiro sobre o escritor que a corja negra
condenou à fogueira e queimou em efígie no
Rossio.
Os boémios amigados com Loanda tratavam-no
por D. Duarte, não porque esse fosse o seu nome
mas porque era o rei da intelectualidade e muito
eloquente. Nas makas de 1961 ele habitava um
quarto de adobe e coberto a zinco, no Bairro
Operário. Vizinhava kitatas bonitas no quintalão
do mais velho Afonso. Elas tinham tanto respeito
por ele que até lhe deixavam beijar o sundo, coisa
mais proibida que pecar. Estava ele na felicidade
dos livros e beijando sundos de kitatas quando as
milícias invadiram o bairro, mataram quem bulia e
queimaram várias casas. O seu quarto ardeu como
um fósforo, juntamente com a sua amada
biblioteca.
D. Duarte nunca mais bebeu nem falou nem
beijou sundos. Um dia voou das muralhas de S.
Pedro da Barra para os penhascos da falésia e
ainda bem porque nem foi preciso fazer o
kombaritokué nem comprar caixão. As gaivotas
depenicaram-no e mais tarde as calemas levaramlhe os ossos para o mar do Ambriz. Dizem que a
sua alma despedaçada ainda hoje aparece altas
horas da madrugada, cacimbo duro, nas vielas do
velho Bairro Operário, recitando poemas de amor
e pedindo a todos santos uma cabaça de kissangua
fresquinha do Bié. Mas já ninguém dá de beber a
quem tem sede.I
Download

N.º 177 - Dezembro 2006 - 2,00 euros