6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ANAIS 6º SEMINÁRIO NACIONAL DE DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM 27 A 30 DE MAIO DE 2002 TERESINA PI PROMOÇÃO: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM REALIZAÇÃO: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM SEÇÃO PIAUÍ 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ORGANIZAÇÃO: Ana Maria Ribeiro dos Santos Maria Zélia de Araújo Madeira ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Fábrica de Idéias FICHA CATALOGRÁFICA Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem SeSSSemi (6.: 2002 : Teresina, PI). Anais do 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem : educação e mudanças : discutindo os contextos, textos, lições e propostas / organização: Ana Maria Ribeiro dos Santos, Maria Zélia de Araújo Madeira. Teresina : Associação Brasileira de Enfermagem, Seção Piauí, 2003. 647 p. ISBN 85-87582-13-5 1. Enfermagem Brasil. 2. Congresso Enfermagem. I. Santos, Ana Maria Ribeiro dos. II. Madeira, Maria Zélia de Araújo. III. Título. IV. Título: Educação e mudanças : discutindo os contextos, textos, lições e propostas. CDU 616-083(81)(061.3) 3 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. SUMÁRIO Pagina APRESENTAÇÃO........................................................................ - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM DIRETORIA................................................................................. - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM SEÇÃO PIAUÍ DIRETORIA.................................................................. - COMISSÃO EXECUTIVA DO 6º SENADEn............................ 07 REGIMENTO GERAL................................................................. 15 PROGRAMAÇÃO......................................................................... 23 SESSÃO DE ABERTURA............................................................ - DISCURSO DE ABERTURA DO 6º SEMINÁRIO NACIONAL DE DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM.......................................................................... - DISCURSO DA PRESIDENTE DA ABEn PI......................... - DISCURSO DO SECRETÁRIO DE SAÚDE DO ESTADO DO PIAUÍ..................................................................................... - DISCURSO DO PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE SAÚDE DE TERESINA................................. - DISCURSO DA DIRETORA DE EDUCAÇÃO DA ABEn NACIONAL.................................................................................. 27 MESA REDONDA INCENTIVO ÀS MUDANÇAS CURRICULARES NA FORMAÇÃO EM ENFERMAGEM: CONTEXTO E PERSPECTIVAS................................................ - O SUS E A FORMAÇÃO EM SAÚDE........................................ - AS EXPERIÊNCIAS DA REDE UNIDA..................................... MESA REDONDA RELATO DE MUDANÇAS CURRICULARES: QUEM VIVER, VERÁ............................... - O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ENFERMAGEM NA UFRN: UM RELATO DA EXPERIÊNCIA DE CONSTRUÇÃO COLETIVA.................................................................................. - O NOVO CURRÍCULO DA FACULDADE DE ENFERMAGEM/UERJ................................................................ 08 09 10 27 32 34 36 39 42 42 53 64 64 78 4 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. - A TRAJETÓRIA DA CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO INTEGRADO NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA.................................................................................. MESA REDONDA DESAFI(N)ANDO AS MUDANÇAS: A ABORDAGEM POR COMPETÊNCIAS E O CURRÍCULO INTEGRADO................................................................................ - DESAFIANDO E DESAFINANDO A EDUCAÇÃO................. - CURRÍCULO INTEGRADO: UMA CONSTRUÇÃO DE SUJEITOS, UM PROCESSO E UMA PRÁXIS.......................... CONFERÊNCIA - ENFERMEIRO COM QUALIDADE POLÍTICA E DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS: INTERFACES E DESAFIOS.............................. OFICINA DIRETRIZES CURRICULARES DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM: DE QUE MUDANÇAS (POLÍTICAS E PEDAGÓGICAS) ESTÃO FALANDO?.................................................................................... - ACERCA DE DIRETRIZES CURRICULARES E PROJETOS PEDAGÓGICOS: UM INÍCIO DE REFLEXÃO................................................................................. - RELATÓRIO DA OFICINA DE DIRETRIZES CURRICULARES DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM: DE QUE MUDANÇAS (POLÍTICAS E PEDAGÓGICAS) SE TRATA AQUI?....................................... CONFERÊNCIA - DEBATENDO A ESPECIALIZAÇÃO DOS TRABALHADORES DE NÍVEL TÉCNICO: RAZÕES E POSSIBILIDADES PARA EXISTIR....................................... MESA REDONDA - A LICENCIATURA COMO ESTRATÉGIA PARA A FORMAÇÃO DO FORMADOR EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: MUDANÇAS E SUAS POSSIBILIDADES........................................................................ - LICENCIATURA EM ENFERMAGEM: DA POLÊMICA A PROPOSTA.................................................................................. 86 92 92 111 123 134 134 148 153 168 168 5 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. - A LICENCIATURA COMO ESTRATÉGIA PARA A FORMAÇÃO DO FORMADOR EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: MUDANÇAS E SUAS POSIBILIDADES........................................................................ 172 AGENDA COMUM ABEn MOVIMENTO ESTUDANTIL: UMA CONSTRUÇÃO DESEJÁVEL EM BUSCA DE POSSIBILIDADES................................................... 180 MESA REDONDA A PÓS GRADUAÇÃO EM ENFRMAGEM: CONTRIBUIÇÕES PARA AS MUDANÇAS.................................................................................. - AS CONTRIBUIÇÕES PARA A MUDANÇA : EM BUSCA DA RELEVÂNCIA DO ENSINO NA PÓS GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM................................................................... 184 184 MESA REDONDA - O EXAME NACIONAL DE CURSOS: VISÕES, DESAFIOS E PROPOSTAS. VAMOS (DES)AFINAR?............................................................................. 195 CONFERÊNCIA - A CONTRIBUIÇÃO DOS SENADENS PARA A CONSTRUÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES DA ENFERMAGEM.................................... 206 SESSÃO DE ENCERRAMENTO................................................ - DELIBERAÇÕES DA PLENÁRIA FINAL................................ - MOÇÕES E MANIFESTOS APROVADOS............................... - AVALIAÇÃO DO 6º SENADEn................................................. 227 227 229 230 CARTA DE TERESINA.............................................................. 232 POSTERES ANIMADOS............................................................. 236 ANEXOS......................................................................................... 642 6 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. APRESENTAÇÃO Foi com grande satisfação que a Associação Brasileira de Enfermagem - Seção Piauí, realizou o 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem 6º SENADEn, uma promoção da Associação Brasileira de Enfermagem ABEn Nacional. Agradecemos, aos companheiros da ABEn pela confiança depositada para a realização do evento no Piauí. Entendemos que os avanços na área do ensino em enfermagem têm contribuído sobremaneira na formação de bons profissionais, que somam com os demais na equipe de saúde, e faz de Teresina, um centro de referência na assistência à saúde. Assim, tivemos a oportunidade ímpar de discutirmos sobre mudanças na formação dos trabalhadores de enfermagem, pois aqui estiveram reunidos profissionais renomados desta área de ensino no país. Portanto foi um privilégio contar com a participação ativa dos colegas dos vários estados e municípios brasileiros, engajados nesta luta. Teresina, a cidade verde, na ocasião dos seus 150 anos recebeu a todos de braços abertos, durante realização do 6º SENADEn. Iolete Soares da Cunha Presidente da ABEn Seção Piauí 7 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. DIRETORIA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM FRANCISCA VALDA DA SILVA PRESIDENTE MARIA CELI DE ALBUQUERQUE VICE-PRESIDENTE MARIA DA GLÓRIA LIMA SECRETÁRIA GERAL MARIA ÂNGELA NASCIMENTO PRIMEIRA SECRETÁRIA CARLOS EDUARDO DOS SANTOS. PRIMEIRO TESOUREIRO MARYSIA ALVES DA SILVA SEGUNDA TESOUREIRA LUCIA DE FATIMA DA SILVA DIRETORA DE ASSUNTOS PROFISSIONAIS JOEL ROLIM MANCIA DIRETOR DE PUBLICAÇÕES E COMUNICAÇÃO SOCIAL SANDRA ANDREONI DE OLIVEIRA RIBEIRO DIRETORA CIENTÍFICOCULTURAL JANE LYNN DIYTZ DIRETORA DO CEPEN MILTA NEIDE F.B. TORREZ DIRETORA DE EDUCAÇÃO MARIA DO LIVRAMENTO FIGUEIREDO DE CARVALHO MARIA EMILIA DE OLIVEIRA ROSILDA SILVA DIAS CONSELHO FISCAL NACIONAL 8 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. DIRETORIA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM SEÇÃO-PI IOLETE SOARES DA CUNHA. PRESIDENTE MARIA DO Ó CUNHA MARREIROS VICE-PRESIDENTE ELISABETH MARIA GONDIM MACHADO SECRETÁRIA GERAL MARIA DE FÁTIMA SANTANA MOREIRA PRIMEIRA SECRETÁRIA FRANCISCA GOMES DA CRUZ PRIMEIRA TESOUREIRA ALEXSANDRA MARIA FERREIRA DE ARAÚJO SEGUNDA TESOUREIRA MARIA DO SOCORRO LEITE GALVÃO DIRETORA DE ASSUNTOS PROFISSIONAIS ELIZABETE DUARTE BARROS ALVARENGA DIRETORA DE PUBLICAÇÕES E COM. SOCIAL MÁRCIA ASTRÊS FERNANDES DIRETORA CIENTÍFICO-CULTURAL MARIA ELIETE BATISTA MOURA DIRETORA DO CEPEN ANA MARIA RIBEIRO DOS SANTOS DIRETORA DE EDUCAÇÃO JOÃO GILSON DE JESUS CANTUÁRIO MARIA ONEIDE HOLANDA LUZ MARIA ZÉLIA DE ARAÚJO MADEIRA CONSELHO FISCAL CONSELHO FISCAL 9 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. COMISSÃO ORGANIZADORA DO 6º SEMINÁRIO NACIONAL DE DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM - 6º SENADEN COORDENAÇÃO GERAL Milta Neide F.B. Torrez Diretora de Educação da ABEn/ Nacional COMISSÃO EXECUTIVA Ana Maria Ribeiro dos Santos COORDENADORA Iolete Soares da Cunha Maria Zélia de Araújo Madeira Francisca Gomes da Cruz 1- SUB-COMISSÃO DE TEMAS E DOCUMENTAÇÃO Maria Eliete Batista Moura COORDENADORA Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes Inês Sampaio Nery 2. SUB-COMISSÃO DE DIVULGAÇÃO E IMPRENSA Maria do Livramento Figueiredo de Carvalho COORDENADORA Clara Alexandrino João Gilson de Jesus Cantuário 3. SUB-COMISSÃO SOCIAL E DE SAÚDE Maria do Ó Cunha Marreiros COORDENADORA Maria de Fátima Santana Moreira Maria Oneide Holanda Luz 4. SUB-COMISSÃO DE APOIO E MONITORIA Maria do Socorro Leite Galvão - COORDENADORA Lidya T. Nogueira 10 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. MESA DE ABERTURA DO 6º SENADEn TERESINA-PI 27 A 30 DE MAIO DE 2002 11 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. DISCURSO DE ABERTURA DO 6º SENADEn TERESINA-PI 27 A 30 DE MAIO DE 2002 12 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. SESSÃO DE ABERTURA DO 6º SENADEn DANÇA DO CAVALO PIANCÓ 13 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. SESSÃO DE ABERTURA DO 6º SENADEn - PLATÉIA 14 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. REGIMENTO GERAL CAPÍTULO I DAS FINALIDADES Artigo 1.º - O 6º SEMINÁRIO NACIONAL DE DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM (6º SENADEn) promovido pela Associação Brasileira de Enfermagem Nacional ( ABEn), realizar-se-á em Teresina - PI, no período de 27 a 30 de maio de 2002, organizado pela Associação Brasileira de Enfermagem Seção Piauí ( ABEn-PI). Representa um espaço de integração de profissionais de enfermagem ligados ao ensino e à assistência e objetiva não é só ouvir, mas falar, indagar. Não só contrapor, mas propor, enunciar. Nem só calar e copiar, nestes tempos de muita(s) mudança(s) na formação dos trabalhadores de Enfermagem. Compreender o que mudará, o que não mudará. Influir nas diretrizes das mudanças. CAPÍTULO II DA ORGANIZAÇÃO Artigo 2.º - O 6º SEMINÁRIO NACIONAL DE DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM (6º SENADEn) reger-se-á por este Regimento proposto pela Comissão Executiva e homologado pela Diretoria de Educação da ABEn Nacional. §1º A Coordenação Geral do evento estará a cargo da Diretoria de Educação da ABEn Nacional. CAPÍTULO III DA ORGANIZAÇÃO DAS COMISSÕES E SUB-COMISSÕES Artigo 3.º - O 6º SENADEn será organizado por uma Comissão Executiva, responsável pelo planejamento, coordenação e execução dos trabalhos. §1º A Comissão Executiva será constituída: Presidente da ABEn - PI Diretora de Educação da ABEn - PI 15 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Diretora de Assuntos Profissionais ABEn - PI Conselheira Fiscal ABEn - PI Coordenadoras das Sub-Comissões §2º - As Sub-Comissões que participarão do processo de organização do evento serão as seguintes: Sub-Comissão de Temas e Documentação; Sub-Comissão de Divulgação e Imprensa; Sub-Comissão Social e de Saúde; Sub-Comissão de Apoio e Monitoria. §3º - As Sub-Comissões serão constituídas por sócios efetivos da ABEn-PI. §4º - A critério da Comissão Executiva poderão ser contratados serviços de assessoria prestados por empresas, pessoas físicas ou jurídicas. CAPÍTULO IV DAS COMPETÊNCIAS Artigo 4.º - À Coordenação Geral compete: - Dar parecer no Projeto e aprovar o plano orçamentário; - Promover a viabilização técnico-científica e financeira do projeto; -Aprovar o Regimento e encaminhá-lo à diretoria da ABEn Nacional para homologação; - Apreciar a versão definitiva do Documento Final. Artigo 5.º - À Comissão Executiva compete: - Providenciar reserva e preparo do local do evento; - Constituir as Sub-Comissões e apreciar suas propostas e relatórios; - Elaborar o projeto do evento para aprovação da ABEn Nacional; - Aprovar o Programa do evento; - Elaborar o Regimento do evento; - Definir o plano orçamentário; - Estipular valor referente às inscrições; 16 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. - Enviar projeto do evento para captação de recursos junto à agências financiadoras; - Movimentar a conta bancária, criando mecanismo de controle de receita e despesa; - Encaminhar e controlar correspondências; - Arquivar cópias de todos os expedientes e documentos; - Providenciar certificados; - Proceder às inscrições dos participantes; - Elaborar e apresentar relatório das atividades desenvolvidas pela Comissão. Artigo 6.º - À Sub-Comissão de Temas e Documentação compete: - Redigir, assinar e expedir toda correspondência relativa à Comissão; - Organizar temário do evento; - Participar na editoração de todo o trabalho gráfico e audiovisual em conjunto com a Comissão de Divulgação e Imprensa; - Estabelecer prazos e normas para a entrega de trabalhos; - Convidar os expositores e manter os contatos necessários; - Convidar os coordenadores, sistematizadores e relatores de atividades; - Elaborar normas, datas, prazos e formas para apresentação de trabalhos e funcionamento das mesas; - Apresentar relatório das atividades desenvolvidas pela Comissão; - Elaborar lista final de participantes; - Elaborar o documento final do evento; - Organizar os anais do evento e a publicação dos trabalhos inscritos. Artigo 7.º - À Sub-Comissão de Divulgação e Imprensa compete: - Providenciar a cobertura do evento pela imprensa, utilizando os principais meios de comunicação; 17 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. - Divulgar o 6º SENADEn em nível local e nacional; - Elaborar modelos de cartazes, folders, certificados, pastas, crachás, programa, em conjunto com a Comissão de Temas e Documentação Final; - Providenciar a confecção do material gráfico; - Elaborar e apresentar relatório das atividades desenvolvidas pela Comissão. Artigo 8.º - À Sub-Comissão Social e de Saúde compete: - Proceder ao levantamento e organização das listas de sugestões de pontos turísticos, locais de diversão, restaurantes, shoppings, agências bancárias, telefones úteis; - Organizar as atividades sociais do evento; - Promover animações no local do evento, sem prejuízo das atividades científicas; - Apresentar à Comissão Executiva proposta de hospedagem para o evento; - Manter um serviço de saúde para atendimento de emergências aos participantes do evento; bem como, possibilitar o transporte e o atendimento hospitalar em instituições previamente contactadas; - Providenciar balcão de informações; - Elaborar e apresentar relatório das atividades desenvolvidas pela Comissão. Artigo 9.º - À Sub-Comissão de Apoio e Monitoria compete: - Providenciar o preparo do local do evento; - Expedir avisos e comunicações durante o evento; - Organizar serviço de digitação e xerografia; - Providenciar e distribuir pastas e crachás; - Organizar e treinar e supervisionar monitores; - Providenciar e organizar recursos audiovisuais; - Garantir a limpeza e organização do local; - Controlar o uso de crachá e o acesso de participantes; 18 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. CAPÍTULO V DO TEMÁRIO DO EVENTO Artigo 10.º - O tema Central do 6º SENADEn Educação e Mudanças. Discutindo os contextos, textos lições e propostas. abordará os seguintes sub-temas: 1. Mudança na Formação dos Trabalhadores da Enfermagem 2. A Pedagogia das Competências e o Currículo Integrado. 3. O Exame Nacional de Cursos. 4. A Especialização dos Trabalhadores de Nível Técnico. 5. As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação 6. A Licenciatura e o Formador em Educação Profissional 7. Os SENADEn (s) e as Diretrizes para a Educação em Enfermagem 8. A Pós-Graduação em Enfermagem: Contribuições e Mudanças Artigo 11.º- Além dos sub-temas oficiais, acontecerá uma oficina de trabalho Implantação das Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Enfermagem e serão apresentados trabalhos sobre a forma de pôster animado. Artigo 12.º- O resumo dos trabalhos deverá ser postado até 30/03/02, acompanhado da ficha de inscrição devidamente preenchida e cópia do recibo anuidade/2002 da ABEn. §1º- Os trabalhos serão apresentados sob a forma de pôster animado. §2º- Estes trabalhos deverão atender às normas para apresentação de trabalhos elaboradas pela Comissão de Temas e Documentação Final. §3º- Caberá a Comissão de Temas e Documentação Final selecionar os trabalhos inscritos com base nos resumos e textos enviados, informando ao relator aceitação ou não do trabalho até o dia 30/04/02. 19 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. CAPÍTULO VI DOS PARTICIPANTES Artigo 13º- As inscrições no 6° SENADEn poderão ser feitas com antecedência, através do preenchimento de ficha específica, encaminhada pela organização do evento e depósito do valor correspondente através da Conta Corrente nº 1637-3, Agência 9.247-9 do Banco do Brasil em nome do 6° SENADEn. As cópias de comprovantes de depósito e de quitação da ABEn/2002, quando for o caso, deverão ser enviadas à ABEn-PI, R- Santa Luzia, 3010 - Conj. IAPEP - Bloco-F Apto-32 Bairro Ilhotas-CEP: 64001-800 Teresina/PI. §1º - A Comissão Executiva estimulará a realização de inscrições prévias, considerando que o limite de inscrição é de 300 participantes. §2º - As inscrições antecipadas têm o prazo máximo até 30/04/02 com data de postagem; §3º- O pagamento da inscrição poderá ser parcelado; neste caso o valor é sem desconto, e com prazo máximo de pagamento da 2.ª parcela para 30/04/02; Anexar: -xerox do comprovante de quitação da anuidade ABEn para 2002; -estudantes: declaração do curso/escola onde realiza o curso; -estrangeiros: credenciamento feito por entidade associativa ou sindical de enfermagem do país de origem. Outros profissioanais: consultar a ABEn-PI; §4º - Nas inscrições antecipadas, o recibo/comprovante de inscrição no evento será enviado pelo correio até 15/05/02, após compensação do(s) cheque(s) e deverá ser apresentado para retirada do crachá e material, no início do evento. §5º - Para inscrições antecipadas com pagamento parcelado até 30/04/02, a ficha de inscrição deverá ser enviada através de carta registrada ou SEDEX, para: R- Santa Luzia, 3010 - Conj. IAPEP - Bloco-F Apto-32 Bairro Ilhotas 20 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. CEP: 64001-800 Teresina/PI, com cheque(s) nominal(is) e cruzado(s) à ABEn Seção PI no valor correspondente à sua categoria profissional, com cópia do comprovante de anuidade/2002 e declaração, se estudante. Discriminar abaixo a forma de pagamento: b.1) 01 cheque n.º..........................Banco...........................Agência................. Valor R$...................................Data.................................... b.2) 02 cheques Banco...........................................Agência.............................. 1.ª parcela: R$.....................N.º do cheque....................para o dia ___/___/02 2.ª parcela: R$.....................N.º do cheque....................para o dia ___/___/02 §6º - Não haverá reembolso de inscrição no caso de desistência de participação após a data de 30/04/02. Caso a desistência seja informada até esta data será cobrada uma taxa de 10% do valor pago pela inscrição para o ressarcimento de despesas. Artigo 14º- Poderão inscrever-se no 6º SENADEn mediante pagamento da respectiva taxa de inscrição e prazos estabelecidos. CATEGORIA ENFERMEIRO AUX./TÉC. ESTUDANTE Até 30/03/02 R$ 100,00 R$ 40,00 R$ 40,00 Até 26/05/02 R$ 150,00 R$ 60,00 R$ 60,00 No Local R$ 200,00 R$ 80,00 R$ 80,00 CAPÍTULO VII DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Artigo 15º- Para serem admitidos no recinto do evento, os participantes deverão usar crachá fornecido pela Comissão Executiva. Artigo 16º- Os casos omissos serão julgados pela Coordenação Geral e Comissão Executiva. 21 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Dinâmica dos Trabalhos Os trabalhos do 6º SENADEn serão organizados de modo que possibilitem a participação integral dos presentes: a) Sessão de abertura; b) Mesas-redondas com convidados das áreas de enfermagem e educação. Os temas foram escolhidos de modo que subsidiem as discussões nos grupos de trabalho; c) Sessão de grupo de discussão; d) Sessão de pôsteres animados; e) Plenária ; f) Sessão de encerramento. Os grupos de discussão serão organizados de modo que promovam a participação de todos, procurando assim, possibilitar a discussão de temas integradores da formação em enfermagem no país. Os coordenadores e sistematizadores de grupos serão convidados pela Comissão de Temas e o relator será escolhido pelo próprio grupo. Os temas postos em discussão serão: - Mudança na Formação dos Trabalhadores da Enfermagem; - Visões sobre a pedagogia das competências e o currículo integrado; - A especialização dos trabalhadores de nível técnico; - O exame nacional de cursos; - Implementação das diretrizes curriculares do curso de graduação em enfermagem; - Os SENADEn(s) e as Diretrizes para a Educação em Enfermagem; - A Licenciatura e o Formador em Educação Profissional. O relator deverá apresentar o relatório em plenária e entregar o mesmo à Comissão de Temas. 22 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. PROGRAMAÇÃO 27 de Maio de 2002 HORA ATIVIDADE 8:00 Entrega do Material 09:00 às Abertura Oficial Apresentação de repentista. Apresentação da 10:30 coreografia Cavalo Pianco do Balé Folclórico. 10:40 às Intervalo 11:00 Mesa Redonda: Incentivo às Mudanças na 11:00 às Formação em Enfermagem: contexto e 12:30 perspectivas Mediadora: Profª Francisca Valda da Silva Presidente da ABEn Nacional Expositores: Dr. Cláudio Duarte Secretário de Políticas Ministério da Saúde Profª Roseni Sena Rede UNIDA 12:30 13:00 às Debate Coordenadora: Profª Benevina V. T. Nunes UFPI Sistematizadora: Profª Lídya T. Nogueira UFPI 13:00 às Almoço 14:00 14:00 às Relato de Mudanças Curriculares16:30 Quem Viver, Verá: - O Rio Grande do Norte UFRN Profª Francisca Nazaré Liberalino - O Rio de Janeiro UERJ Profª Benedita Deusdará - O Paraná UEL Profª Rossana Staevie Baduy 16:30 às 18:00 Posteres Animados: Apresentação 23 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. HORA 08:00 às 09:20 28 de Maio de 2002-05-06 ATIVIDADES Mesa redonda: Desafi(n)ando as Mudanças: a Abordagem por Competências e o Currículo Integrado. Prof Léa Depresbiteris Consultora/ SP Profª Regina Trino Romano Fac. Enf. UERJ 09:20 às Debate Coordenadora: Profª Maria Eliete B. Moura10:00 UFPI Sistematizadoras: Profª Socorro Galvão UFPI e Profª Maria Amélia de Campos Oliveira EEUSP 10:00 às Intervalo 10:20 Atividades Simultâneas Atividades Simultâneas 10:20 às Enfermeiro com Qualidade Política: em Posteres Animados: 11:00 busca de um novo perfil. Apresentação Maria Raquel Gomes Maia Pires 11:30 às Debate Coordenadora: Enfª Maria Vieira 12:30 Fundação Municipal Saúde- Teresina Sistematizadora: Profª Vilani Guedes - UECE 12 :30às Almoço 14: 00 14:00 às Oficina - Diretrizes Curriculares do Curso 18:00 de Graduação em Enfermagem: de que mudanças (políticas e pedagógicas) estão falando? Coordenadora Profa Henriqueta Kruse-Profª UFRGS/ABEn - RS Facilitadores: Luís Cláudio Fraga ABEn RJ Dagmar Meyer - Profª Fac. Educ. UFRGS Mauro Silva- Profº Unicamp/ABEn SP Gilberto Tadeu- Profº Fac. Sta Marcelina/ ABEn SP Benedita Deusdará- Vice-diretora da Escola de Enfermagem da UERJ Abigail Moura FESO/RJ 24 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. HORA 08:00 às 10:00 10:10 às 10:30 10:30 às 11:10 11:40 às 12:30 12:30 às 14:00 14:00 às 15:10 15:10 às 16:20 29 de Maio de 2002 ATIVIDADES Continuação da Oficina - Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Enfermagem Intervalo Atividades Simultâneas Atividades Simultâneas Debatendo a Especialização dos Trabalhadores de Nível Técnico: razões e possibilidades para existir. Prof. Francisco Aparecido Cordão Presidente da Câmara de Educação CEB - CNE/MEC Debatedora: Maria José Bezerra de Araújo Membro da Comissão Permanente de Educação Profissional/ ABEn Nac. Debate Coordenadora: Profa.Maria Natividade Santana Representante da ABEn no FENTAS Sistematizadora: Profª Maria Lúcia Ribeiro Rodrigues Centro de Formação. Prof. Bezerra de Araújo - RJ Almoço Colóquio Desafios Tecnológicos para a Formação: Construindo uma rede virtual de escolas de enfermagem. Projeto de Cooperação ABEn/ OPAS - Dr. José Paranaguá de Santanna representante da OPAS - Profª Francisca Valda da Silva Presidente da ABEn Nacional - Profª Eliane Palhares - UFMG Debate Sistematizador: Profº Luís Cládio Fraga ABEn/RJ Mesa redonda - A Licenciatura como Estratégia para a Formação do Formador em Educação Profissional: mudanças e suas possibilidades. Profª. Maria Thereza Amaral Fac.Educ. UFMG Profª. Anne Mary Tinoco Esc. de Enf. Anna Nery UFRJ Oficina com a Rrepresentação Estudantil de Enfermagem Agenda Comum ABEn Movimento Estudantil: uma construção desejável em busca de possibilidades Coordenadora: Profª Francisca Valda da Silva Presidente da ABEn Nacional Sistematizadoras: Profª Maria da Glória Lima Debate UnB/Séc. Geral da ABEn Coordenadora: Profª Inês Nery Sistematizadora: Profª Maria Regina R. Nacional Profª Jane Lynn G. Dytz - UnB Pimentel EFTS Izabel dos Santos RJ 25 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. HORA 30 de Maio de 2002-05-06 ATIVIDADES Atividades Simultâneas às Mesa Redonda - A Pós Graduação em Enfermagem: Contribuições para as mudanças. Stricto Senso - Profa. Marta Lenise do Prado PG / UFSC Profa. Maria Raquel Gomes Maia Pires Depto de Atenção Básica/ MS Atividades Simultâneas Mesa Redonda - O Exame Nacional de Cursos: visões, desafios e propostas. Profa. Eucléa Gomes Vale Repres. da Comissão de avaliação Enfermagem/ INEP Débora Del Guerra Repres. da Executiva Nacional dos Estudantes Profª Abigail Moura Debate 09:20 às Coordenadora: Profª Nébia M.A. de Repres. dos Coordenadores e Diretores de Cursos 10:10 Figueiredo PG da UNIRIO Sistematizadora: Profa. Benedita Deusdará - Debate Vice-diretora da Escola de Enfermagem da Coordenadora: Profª Milta Torrez Diretora de Educ. ABEn UERJ Nacional Sistematizadora: Profa.Ivis Emília de Souza - UFRJ 10:10 às Intervalo 10:30 10:30 às Os Senadens Suas Contribuições na 11:10 Construção das Diretrizes para a Educação em Enfermagem Enfr Joel Mancia. Dir.Publ. e Com.Social ABEn Nacional Debate 11:10 às Sistematizadora: Maria da Glória Lima 11:40 UnB/Séc. Geral da ABEn Nacional Almoço 11:40às 13:00 Posteres Animados: Apresentação 13:40 às 14:40 Intervalo 14:40 às 15:00 Plenária Final e Encerramento 15:00 às Sistematizadores, Presidentes, Diretoria de 18:00 Educação, Comissão Executiva, Plenário 08:00 09:20 26 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. SESSÃO DE ABERTURA DISCURSO DE ABERTURA DO 6º SEMINÁRIO NACIONAL DE DIRETRIZESPARA A AEDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM Francisca Valda da Silva1 Exmo. Sr. Vice-Governador do Estado do Piauí, Felipe Mendes; Ilmo. Sr. Cláudio Duarte, Secretário de Políticas do Ministério da Saúde; Ilmo. Sr. José Paranaguá de Santana, representante da Organização Panamericana de Saúde- OPAS.Ilma; colega Enfermeira Maria Natividade Santana, membro do Comitê Executivo da Federação Panamericana de Profissionais de Enfermagem FEPPEN e do Conselho Nacional de Saúde; Ilmo. Doutor Silvio Mendes de Oliveira, Presidente da Fundação Municipal de Saúde e do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde CONASEMS,aqui representando o Senhor Prefeito de Teresina Doutor Firmino da Silveira Filho. Ilmo. Sr. Fernando Correia Lima, Secretário de Estado de Saúde do Piauí; Ilma. colega Ana Maria Ribeiro dos Santos, Diretora de Educação da ABEn Piauí, Ilma. colega companheira Milta Torrez, Diretora de Educação da ABEn Nacional, cara estudante Luzicléia Carolina de Moura e Silva, representando o movimento estudantil neste ato. Neste momento eu gostaria de me dirigir a colega enfermeira Iolete Soares da Cunha, Presidente da ABEN Piauí e dizer-lhe que é com grande prazer e consciência da responsabilidade de representar neste ato os associados da Associação Brasileira de Enfermagem ABEn Nacional, que declaro aberto o 6º SENADEn., Consideramos que o evento acontece em um momento histórico importante e desafiador para todos os que acreditam na construção coletiva de um futuro melhor para o Brasil, mesmo no difícil contexto de um mundo globalizado onde o modelo de 1 Presidente da ABEn - Nacional 27 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. desenvolvimento econômico, político e social hegemônico aprofunda a distância entre ricos e pobres, agrava a já insustentável situação de desigualdade social. Neste contexto, há um relativo consenso entre os atores sociais de que a educação é um dos mais relevantes instrumentos para o desenvolvimento de um país, porque possibilita aos trabalhadores elevar os níveis de capacidade produtiva, conquistando mais dignidade, inclusive na chamada sociedade do conhecimento, onde o desenvolvimento tecnológico, por sua vez, representa um dos seus pilares de sustentação. Teresina é o lugar que nos acolhe para refletirmos e deliberarmos sobre os rumos que queremos enquanto ator social, para a educação em Enfermagem no Brasil. Esta cidade nasceu há 150 anos entre os rios Parnaíba e Poti. Pela beleza da sua geografia e do seu ecossistema ganhou do poeta Coelho Neto o título de Cidade verde . Nesta semana, será sede da educação em Enfermagem, que foi, atraída para Teresina, pela visibilidade nacional conquistada pela ABEn Piauí, que tem vivenciado um crescimento notável no âmbito da ABEn. Esperamos que a energia da cidade verde renove nossas esperanças, potencialize a nossa capacidade propositiva nestes quatro dias de trabalho, assim como, favoreça a circulação de afetos que fortalecem o processo de resistência ao isolamento, incentivando a constituição de trabalhos em equipe, A enfermagem como parte do coletivo da saúde, tem um importante papel na organização de redes de cooperação, na constituição de sujeitos e conseqüentemente na busca constante de novas formas de produzir ação e reflexão - como combustíveis das mudanças que viemos discutir. Quero felicitar a Diretoria de Educação da ABEn nacional e da Seção Piauí, na pessoa das companheiras Milta Torrez e Ana Maria, extensiva a todos os membros das comissões permanentes de educação profissional, graduação e pós-graduação e a todas as comissões atuantes neste 6.º SENADEn como reconhecimento ao trabalho competente que requereu uma preparação intensiva em 28 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. apenas 5 meses de trabalho - da formulação, da proposta à organização do evento, vivenciadas no contexto de final de ano, deflagração de greves nas Instituições de Ensino Superior e sem autosustentação financeira. A Diretoria de Educação da ABEn representa uma conquista da categoria, na medida em que tem se constituído em um fórum articulador de espaços sociais, de atores, de talentos, de participação, corporificando um dos mais antigos compromissos desta Entidade. Como toda realização humana, também a educação necessita ter um agente catalisador. Por isso queremos prestar uma homenagem a todos os diretores de educação da ABEn, neste momento. O SENADEn é um espaço multidimensional: de mobilização e articulação, de troca de experiência, de construção de políticas internas para a entidade e de construção de proposta para políticas públicas voltadas para educação. E assim possibilita a elaboração e construção de uma agenda estratégica junto a parcerias interinstitucionais, intersetoriais e a movimentos da sociedade civil, dentre eles, os dos educadores, instituições formadoras e estudantis. Neste SENADEn, estamos reafirmando o compromisso da ABEn com o desenvolvimento articulado dos três níveis de ensino de enfermagem: técnico, graduação e a pós-graduação. Reiteramos, portanto, a crença na educação como parte do alicerce para um projeto de desenvolvimento de uma nação soberana em termos sócio, ético, político, cultural e econômico. Sabemos que para a educação cumprir este papel precisa superar a atual construção dicotômica, onde há uma educação para a classe dirigente e outra educação para classe trabalhadora, dentre outras dicotomias. Nesta situação, parece estranho e até mesmo utópico acreditar que possamos alcançar um patamar de desenvolvimento humano compatível com uma sociedade de cidadãos, frente a aplicação da pedagogia da transmissão de conhecimentos em todos os níveis de ensino, inclusive de enfermagem, que vem sendo instrumento de expropriação das subjetividades, da criatividade, da autonomia política e tecnológica. 29 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Portanto, seria ingenuidade pensar que este processo de formação tão arraigado em nossa sociedade seja só escolar. Já sabemos que ele é sobretudo político e econômico. Para superarmos este processo, precisamos valorizar o papel de ensinar e aprender, mas reconhecendo, efetivamente, que por trás deste processo , ensinar e aprender, existe uma pessoa que também é trabalhador, professor, gerente, funcionário, aluno, parceiro, reconhecendo que as pessoas é que dão vida e concreticidade a esses papéis. Precisamos retirar das nossas experiências de ensino o dissimulado processo de anulação das pessoas, que faz com existam no estreito limite dos papéis que desempenham, apesar dos discursos em contrário. Dentre as conseqüências estão o vazio e a falência da ética nas relações entre elas. As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Educação Profissional de Nível Técnico e de Graduação, que ora buscamos nos apropriar, pretendem apoiar a construção coletiva de projetos pedagógicos organizados com base na abordagem por competências, intentando ultrapassar os currículos conteudistas, que justificam, por sua vez, a pedagogia da transmissão que desejamos superar. Entretanto sabemos que neste campo não existem mágicas . Precisamos estar atentos, manter a perspectiva crítica para não cairmos em mais um modismo. Devemos recontextualiza-las na saúde/Enfermagem sem nos esquecermos de que a ação educativa pode transformar pessoas, conteúdos, estruturas e as relações entre elas. Estamos falando de pessoas que são: alunos, professores, gestores, ora parceiros, ora adversários, o que nos faz lembrar que a competência mais requerida neste momento é a de promovermos uma educação para formação de pessoas, profissionais e cidadãos, sujeitos da história do seu tempo, em termos individuais e coletivos. Esta tarefa não é só nossa, não é interna, é de toda a sociedade. Portanto, agradecemos neste ato a cooperação da OPAS, da Comissão de Especialista do Ensino de Enfermagem CEEEnf SESU/MEC, do movimento estudantil, da rede UNIDA, do Ministério da Saúde - 30 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. através da Coordenação Geral de Política de Recursos Humanos e do Departamento de Atenção Básica, das Escolas/Cursos de Enfermagem, o apoio, a parceria nesse processo de construção de mudanças sustentáveis na educação em enfermagem em todo o Brasil. Muito Obrigada. 31 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. DISCURSO DA PRESIDENTE DA ABEn PI Iolete Soares da Cunha2 Exma. Presidente da ABEn nacional, Prof.a Francisca Valda da Silva, através da qual cumprimentamos os demais membros da Diretoria Nacional; Exma. Coordenadora Geral deste evento, Prof.a Milta Torrez; Exma. colega Coordenadora da Comissão Executiva deste evento, Ana Maria Ribeiro dos Santos, através da qual cumprimento as demais colegas da ABEn Piauí; As demais autoridades de Enfermagem Brasileira, aqui representadas, as quais nos deixam honradas com vossas presenças; Colegas Enfermeiras, Enfermeiros, Técnicos, Auxiliares e Estudantes de Enfermagem aqui presentes, que acreditaram na concretização deste Seminário. A ABEn - PI nos seus 43 anos de história tem muito orgulho de sediar o primeiro evento da ABEn; na ocasião dos 150 anos de Teresina, a cidade verde. Teresina caracteriza-se como cidade pólo de saúde, reconhecida como referência nacional em algumas especialidades. Tem uma população de 714.318 habitantes; mas com abrangência dos serviços de saúde beneficiando aproximadamente 5.000.000 de habitantes, incluindo sete estados vizinhos, conta com uma rede de saúde em crescimento. O modelo assistencial em implementação, onde seu gesto maior tem envidado grandes esforços para universalização do Programa Saúde da Família - PSF, que conta atualmente com 220 equipes. O trabalho do PSF tem contribuído significativamente no processo de democratização da assistência à saúde e, propiciando aos profissionais de enfermagem oportunidade de emprego. O Estado do Piauí, conhecido nacionalmente como estado pobre da federação, conta com 222 municípios, aproximadamente 3 2 Presidente da ABEn - PI 32 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. milhões de habitantes; desses, Teresina está habilitada na gestão plena em atenção básica de saúde. O Estado conta com 03 escolas de Graduação em Enfermagem, sendo que o Departamento de Enfermagem da UFPI, mantém cursos regulares de Pós-Graduação em nível de especialização nas áreas de Obstetrícia, Saúde da Criança e Adolescente e Saúde Pública. Atualmente este Departamento preparase iniciar sua 1ª turma de Mestrado. Analisamos que notadamente a categoria tem crescido em número e qualidade de trabalho, justificando-se a necessidade da constante busca do aprimoramento do conhecimento e fortalecimento para um projeto político profissional da Enfermagem Brasileira. A Associação Brasileira de Enfermagem nos seus 76 anos de existência, nesta caminhada, na luta pela Enfermagem, tem buscado contribuir para reflexão e transformação das suas práticas, rumo à uma Enfermagem ética, competente, humanizada e solidária. A ABEn busca congregar, promover, articular, representar, divulgar, integrar e coordenar ações da enfermagem que juntamente com outras organizações do setor saúde e da sociedade geral fortaleçam a consolidação de políticas (programas e projetos), que garantam a equidade, a universalidade e a integralidade da assistência à saúde da população. O nosso discurso só é possível se concretizar através de ações, lutas, parcerias amplas que possibilitem viabilizar nossas idéias. Realizar o 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem onde discutiremos as mudanças na enfermagem, requeridas pelo mundo modernizado e globalizado. Para realizar este evento contamos com o valioso apreço do Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana de Saúde e outros órgãos públicos que nos apoiaram. Contamos com a obstinada dedicação da professora Ana Maria Ribeiro dos Santos, Coordenadora deste evento a quem a ABEn - PI rende seu agradecimento. 33 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. DISCURSO DO SECRETÁRIO DE SAÚDE DO ESTADO DO PIAUÍ Fernando Correia Lima1 Ilustríssimos companheiros componentes desta mesa de honra, a quem eu abraço a todos, particularmente na figura do nosso secretário de ações de política do Ministério da Saúde, Doutor Cláudio. Não esquecendo de cumprimentar a todos os presentes, Senhoras e Senhores, enfermeiros, profissionais de saúde, colegas trabalhadores de saúde. Eu gostaria de lembrar a todos que a nossa saúde continua doente. Nós apenas conseguimos retirá-la da UTI e colocá-la numa unidade intermediária. Eu lembraria e o Ministério da Saúde está 3 consciente desta problemática: de que o médico recebe hoje do Sistema Único de Saúde 0,60 centavos por uma consulta. Gostaria de lembrar que a gastroenterite infantil e a diarréia conseguem ainda ser uma das três maiores causas de internação no Piauí, particularmente em Teresina, apesar do Programa de Saúde da Família, apesar do Programa de Agentes Comunitários de Saúde. É preciso que se acabe com esse quadro horrendo, é preciso que se acabe com esse quadro de uma criança defecando até morrer; é preciso uma ação enérgica, é preciso uma ação definitiva, é preciso uma ação decisiva; é preciso que a equipe de saúde como um todo, é preciso que cada um de nós, todos nós nos empenhemos para que modifiquemos esse panorama da saúde no Brasil; é preciso que retornemos, resgatemos a dignidade da saúde da população brasileira, particularmente da população; é preciso, claro, que possamos com o nosso trabalho impedir que as diferenças entre a doença e a saúde, entre a morte e a vida sejam determinadas por maior ou menor capacidade de pagamento. Eu gostaria de parabenizar todos vocês que estão aqui presentes, trazer aqui a palavra da Secretaria de Saúde, que embora com muito atraso, desculpe, vem trazer aqui a palavra também do 3 Médico, Secretário de Saúde do estado do Piauí. 34 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Senhor Secretário, trás aqui a palavra, a sensibilidade do Senhor governador do Estado, trás ainda as boas-vindas a todos aqueles que não são do Piauí, trás, outrossim, a vontade, o desejo e os votos de que esta jornada traga as informações e o feed-beack necessários para que se possa reorientar a formação da enfermagem para resolver os reais problemas de saúde do nosso povo. Eu sei que há necessidade de uma modificação curricular e isto está sendo feito inclusive com a ajuda do Ministério da Saúde, é preciso que se torne o acesso mais fácil à população menos aquinhoada. E isto tudo envolve um Programa de Saúde da Família, que hoje já é uma diretriz do Ministério da Saúde e para tanto a enfermeira é um elemento fundamental na inseminação dessa consciência. Nós sabemos que existe uma série de distorções neste programa e nós estamos orientados para corrigi-las. E a enfermeira, que é quem está mais presente neste trabalho e que está vendo e sentindo hodiernamente este trabalho, é quem vai permitir o retorno necessário, o feed-beack necessário para que haja essa modificação. Nós confiamos em que haja realmente modificação e que nós possamos trazer com essa modificação curricular e com esse trabalho efetivo uma reformulação, um resgate da dignidade da saúde no Piauí. Aqui trazemos o nosso apoio em restrito. Muito obrigado a todos. 35 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. DISCURSO DO PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE SAÚDE DE TERESINA Sílvio Mendes4 Um bom dia a todos e a todas. Gostaria de cumprimentar a presidente da ABEn nacional, Francisca Valda; da ABEn-Piauí, Iolete Soares; Senhor vicegovernador, Felipe Mendes; secretário de políticas do Ministério da Saúde, Doutor Cláudio Duarte; secretário de Estado da Saúde, Fernando Correia Lima; coordenador de recursos humanos da OPAS, o nosso Paranaguá; a diretora da ABEn nacional, Milta Torrez; a minha companheira de Conselho Nacional de Saúde, Natividade; a diretora da ABEn regional Piauí, Ana Maria e a acadêmica Lucicléia. Primeiro, peço desculpas pela ausência do Prefeito; ele está nesse momento em Recife, mas pediu que desse as boas-vindas a todos e a todas que nos visitam e que enriquecem a cidade de Teresina nesse momento. Podem ter certeza de que nós estamos mais importantes hoje com a presença dessas figuras que tanto contribuem para o sistema público de saúde, que nós todos queremos construir, porque cada vez mais qualificado e cada vez mais com mais acesso, cada vez mais igual por esse país todo. A construção do Sistema Único de Saúde, no nosso entendimento, apóia-se em três colunas, em três instrumentos mais importantes para que se inviabilize: primeiro é o financiamento, que como todos nós sabemos é insuficiente para que se cumpram os princípios constitucionais de universalidade, de acesso universal para todos, de integridade, quer dizer, que atenda às necessidades do cidadão e que seja equânime, que todos sejam tratados de forma igual. Até se pode abrir a discussão quanto a essa igualdade no tratamento, uma vez que existe tanta desigualdade nesse país. E discussões para que se trate desigualmente os desiguais, que todos sejam atendidos nas suas necessidades e nessas necessidades desiguais. 4 Médico, Presidente da Fundação Municipal de Saúde de Teresina. 36 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A outra, não menos importante, é a questão dos recursos humanos. Lamentavelmente, nos fóruns nacionais, a gente perde muito mais tempo discutindo dinheiro e financiamento e deixa de certa forma a questão de recursos humanos numa situação não menos importante, quando se sabe que no sistema o recurso humano mais qualificado, e aí quando a gente chama não só trabalhador da saúde, mas desde os gestores e também o trabalhador da saúde mais qualificado e mais adequado para uma realidade sanitária que nós construímos dentro do próprio Sistema Único de Saúde, uma vez que as necessidades, que se afloram pela desigualdade e pela extensão do próprio território, são diferenciadas nas mais diversas regiões do país. Vendo uma publicação recente, uma idéia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada que estuda as desigualdades regionais na área da saúde, observa-se, por exemplo: (recomenda que seja lida essa publicação, uma vez que ela discute as desigualdades regionais e traz não só a cobertura de assistência à saúde, assistência hospitalar, mas também dos profissionais, principalmente médicos, dentistas e enfermeiras). - que existe um percentual que preocupa: o número de enfermeiras no Brasil. Varia de 0.34 por mil habitantes nas regiões Norte e Nordeste, regiões Nordeste e Sul para 0.42, na região Sudeste 0.54 para a região Norte e 0.63 para a região Centro-Oeste. O que fica até difícil de explicar uma concentração de profissionais de enfermagem na região Centro-Oeste, uma vez que o grande centro formador fica nas regiões Sul e Sudeste, como acontece no caso dos médicos, quando existe uma elevada concentração na região Sudeste, principalmente, e um déficit na região Norte, chegando a meio médico por mil habitantes. Para não ser muito longo na fala, eu gostaria só de pedir que nessa reorientação da grade curricular, seja na graduação, seja na pósgraduação, não esquecesse, por exemplo, o olhar administrativo da enfermeira. É preciso que a gente reavalie esse olhar. Na minha experiência como gestor público, a gente tem a enfermeira sempre como uma melhor gestora, uma melhor gerente do que todos os outros profissionais da área da saúde. Eu acho que isso aí 37 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. precisa ser reafirmado como um aspecto importante e rediscutido, porque uma das grandes deficiências que a gente tem no sistema público é a gerência, quer dizer, é a questão administrativa também tão importante quanto a assistencial. E provavelmente por constar no curso de enfermagem as questões e ter um olhar administrativo, é que de um modo geral as enfermeiras são melhores gerentes do que os outros profissionais: o médico, o dentista e os outros trabalhadores dessa área. Então isso é uma carência que existe. O Cláudio tem essa visão também, o Paranaguá, que é coordenador de recursos humanos da OPAS tem essa preocupação. Então eu gostaria de pedir, como gestor público e representante do Conselho Nacional de Gestores Municipais, que seja realmente reavaliado esse olhar, para que não se perca essa qualidade que tem na profissão de enfermagem. Por fim, quero desejar sucesso a este 6o Seminário Nacional e que realmente os objetivos sejam alcançados. Muito obrigado. 38 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. DISCURSO DA NACIONAL DIRETORA DE EDUCAÇÃO DA ABEn Milta Baron Torrez5 Ilustres autoridades e personalidades que compõem esta mesa, aos quais cumprimento, na pessoa da Enfermeira Iolete Soares da Cunha, Presidente da ABEn Piauí gestão 2001-2004. Querido companheiros e companheiras da histórica construção da Enfermagem brasileira, colegas, estudantes, convidados, inclusive de outras profissões da área de saúde, educação, dentre outras, presentes neste encontro maravilhoso que estamos iniciando aqui em Teresina, no Estado do Piauí. Gostaríamos de destacar que esta representa a sexta edição do Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem 6º SENADEn, evento que vem contribuindo para a reflexão coletiva, crítica e propositiva em torno da formação dos profissionais que atuam nesta relevante prática social. Os que participam pela primeira vez certamente compreenderão a importância de contribuir com a construção das Diretrizes para Educação em Enfermagem, que transcendem, extrapolam, as diretrizes curriculares nacionais, voltadas para a educação profissional de nível técnico e o ensino de graduação, homologadas pelo Ministério da Educação MEC. Destacaremos nesse momento o tema central - Educação e Mudanças: discutindo os contextos, textos, lições e propostas, assim como os objetivos desse encontro, porque sabemos que o resultado é, sim, o produto desta construção coletiva. Como referiu a senhora Presidente da ABEn Nacional Profa. Francisca Valda da Silva, apesar do seu planejamento, resultado do esforço carinhoso, dedicação e coragem para organizá-lo em apenas cinco meses, a menos de um ano do último SENADEn realizado em São Paulo, dentro das complexas condições políticas e financeiras já 5 Diretora de Educação da ABEn Nacional 39 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. mencionadas, nós, da coordenação com certeza contamos muito com a sua compreensão, participação e principalmente com a contribuição que você trará, porque essa temática, como também destacou a sra presidente, estará tratando de mudanças, e estas, não são de modo algum tarefa para poucos, muito menos para os organizadores de um evento ou Diretorias de Educação, por mais bem intencionados que sejam. Todos sabemos que este é um evento estatutariamente bienal e está praticamente se tornando anual, devido a sua importância como espaço de encontro, interação, atualização, construção de conhecimentos, renovação das forças individuais, instituicionais, sociais, possibilitando um caminhar consciente e consistente no processo de ensinar-aprender em Saúde/Enfermagem. Teremos neste tempo precioso em que estaremos juntos a oportunidade de expressar o grande compromisso histórico que a Associação Brasileira de Enfermagem tem com a educação em enfermagem neste país, por isso dizemos que temos como objetivos não só possibilitar o ouvir, mas também o falar, o indagar; não só contrapor, mas propor, enunciar; não só calar e copiar neste tempos de muitas mudanças na formação dos trabalhadores de enfermagem, mas compreender o que mudará, o que não mudará, influir nas diretrizes das mudanças. Os debates estão preservados em todas as atividades e buscaremos faze-lo sem restringir a liberdade e autonomia dos grupos. Teremos sistematizadores que buscarão colher as principais idéias, posições e contribuições destes diversos momentos de trabalho de modo que resultem na expressão das diretrizes para educação e enfermagem no Brasil, emanadas destes coletivo, neste momento histórico, na Carta de Teresina. Como vimos nas falas que nos antecederam temos um contexto histórico complexo, mas também repleto de esperança, porque a mudança hoje não se faz apenas por um dispositivo legal como a nova Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional LDB nº 9394/96 ou em razão de uma imposição jurídico legal de qualquer natureza. Sabemos que as mudanças se fazem necessárias 40 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. pela crença que temos de que o perfil epidemiológico precisa ser central na nossa formação, de que as necessidades efetivas da população, a qualidade da assistência que produzimos e a implantação do Sistema Único de Saúde SUS, precisam fazer parte dos referencias para a nossa formação. Que a articulação, portanto, entre a proposta política e a proposta pedagógica, possa resultar em projetos políticos pedagógicos efetivamente transformadores, reais, presentes no cotidiano dos cursos, eficazes, realizadores dos nossos sonhos coletivos, que individualmente temos. Temos o sonho coletivo de ser mais e melhores ontologicamente e para este esforço histórico de construção de seres mais e melhores, saber-ser Enfermagem com certeza é um grande desafio. Sejam bem vindos em nome das Diretorias de Educação da ABEn Nacional e Seção Piauí, assim como daqueles que atuaram e atuarão na realização deste encontro. Obrigada, 41 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. MESA REDONDA INCENTIVO ÀS MUDANÇAS CURRICULARES NA FORMAÇÃO EM ENFERMAGEM: CONTEXTO E PERSPECTIVAS. O SUS E A FORMAÇÃO EM SAÚDE Cláudio Duarte6 Inicialmente, gostaria de cumprimentar todos e todas aqui presentes, a Presidente da ABEn, Professora Francisca Valda, os representantes discentes e docentes das escolas de enfermagem, integrantes destacados deste movimento muito representativo e muito significativo para a saúde pública no Brasil, que é o movimento dos profissionais de enfermagem. Estou aqui não apenas para cumprir uma agenda de um convite muito gentil da ABEn, mas com grande satisfação de mais uma vez o Ministério da Saúde está com todos vocês dialogando e construindo conjuntamente o processo de fortalecimento da profissão e da prática de enfermagem no Brasil. Inicialmente, vou contextualizar um pouco o momento atual da construção das políticas de saúde do Brasil e como se insere os desafios da área dos recursos humanos, especificamente o componente de formação dos profissionais da saúde. Um primeiro ponto que destacaria é que efetivamente estamos concretizando um trabalho de muitos anos, resultado de uma luta de resistência, de uma prática intensa e de também de muita formulação teórica, que é a efetivação do Sistema Único de Saúde. O SUS é um movimento estratégico no marco das políticas sociais do Brasil, pois está alterando a correlação de forças entre os diversos atores que atuam no setor saúde conduzindo as políticas de saúde na direção do princípio de proteção social e da saúde como dever do estado. Com o SUS, se fortalece um novo campo, a prática da saúde pública, a preocupação com o coletivo, a combinação da prestação de cuidados individuais com a promoção e proteção da saúde das pessoas. Na sua 6 Secretário de Políticas de Saúde/ Ministéri0o da Saúde 42 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. concepção central o SUS incorpora a necessidade de uma forte articulação com outras políticas sociais nas busca por melhores condições de vida. Isto significa que caminhamos na direção correta. Tivemos sucesso, pois atuamos combinando políticas públicas, por meio de decisões dos governos, com o trabalho e a participação dos profissionais de saúde, seja no componente de atenção, seja como contribuição teórica e técnica dentro das instituições de ensino. Uma característica singular desse movimento é o forte envolvimento da população e dos movimentos organizados nos conselhos de saúde formulando e acompanhamento às políticas de saúde. Mas é importante destacar que avançamos porque soubemos construir concretamente alternativas às políticas e ao modelo de prestação e atenção a saúde. Estamos colocando em prática o que está previsto na Constituição, nas Leis Orgânicas, nas Normas Operacionais, nos planos de saúde nos diversos níveis. Cada oportunidade foi aproveitada para se avançar, dentro e fora do aparelho do Estado, construindo alternativas viáveis para um novo sistema de saúde. Isso dá ao movimento sanitário brasileiro muito energia transformadora, uma força presente em todo o país. Poucas políticas públicas no Brasil contam com tão alto grau de adesão de múltiplos atores, em praticamente todos os municípios brasileiros. Os avanços foram muitos e se deram em várias áreas. Destacaríamos alguns pontos. Inicialmente na área de vigilância com a institucionalização de uma política descentralizada de vigilância sanitária materializada com a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Também foi estabelecida uma política nacional de vigilância epidemiológica e controle de doenças com a destinação e transferência de recursos fundo a fundo para estados e municípios organizarem e fortalecerem seus sistemas de vigilância e controle de doenças. No plano do financiamento, em que pese às políticas macroeconômicas restritivas, os gastos para o setor foram ampliados nos três níveis de gestão, especialmente no nível local e federal. Cerca de 70% dos recursos federais já são repassados fundo a fundo para estados e 43 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. municípios, dando mais agilidade na aplicação dos recursos federais, maior possibilidade de controle e a sua aplicação voltada para as necessidades reais da população usuária. O Congresso aprovou uma nova distribuição de recursos para saúde, garantindo até 2004 uma elevação de gastos, protegendo a saúde dos riscos de redução ou substituição de recursos financeiros entre as três esferas. O financiamento de outras áreas de atenção à saúde foi fortalecido, como no caso da atenção básica, com criação do Piso de Atenção Básica e a expansão do programa de agentes comunitários de saúde e o programa saúde da família. Apesar desses avanços importantes, ainda temos problemas e distorções que precisam de uma atenção especial. Uma delas é a competição na alocação de recursos entre várias áreas. Os serviços curativos absorvem parte da ampliação de gastos, em parte pela necessidade de aumento de cobertura, mas também muitas vezes, por incorporação desnecessária de tecnologias, ou a duplicação e concentração de serviços em áreas já providas de assistência. Como os recursos são escassos faltam recursos para ampliar iniciativas inovadoras ou a expansão de ações em outras áreas, especialmente aquelas que buscam mudanças no modelo de atenção. Verifica-se ainda uma insuficiência global dos recursos que gera restrições para a ampliação de ações e programas em áreas estratégicas como assistência farmacêutica, saúde da família, atenção à saúde do idoso, prevenção de violências, entre outras. Outra conquista importante nos últimos anos foi a implantação do processo de regulação sobre os planos privados. O marco foi à criação da Agencia Nacional de Saúde Suplementar e a definição de novas atribuições do Ministério da Saúde nesta área. Essa medida foi fundamental para promover um primeiro passo na integração entre os dois subsistemas, o público e o privado, movimento fundamental para o fortalecimento do conceito de sistema nacional e único de saúde para todos os brasileiros. A regulação enfrenta alguns problemas especialmente relacionados ao processo de ressarcimento ao SUS, com resistência das empresas em cumprirem o que determina a Lei Orgânica da Saúde e uma crise de relacionamento entre prestadores e 44 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. profissionais de saúde em torno de modelos de contratação e remuneração. Foram criados e fortalecidos programas e estratégias para enfrentamento de problemas relevantes do ponto de vista epidemiológico e social tais como os programas de saúde da criança e saúde da mulher, criadas iniciativas para reaparelhamento de hospitais, promovida a expansão de serviços ambulatoriais e hospitalares em áreas críticas, como urgência e emergência, atenção materno infantil; criação de programas cirúrgicos visando a redução de filas; institucionalização e ampliação de programas e campanhas de promoção à saúde na área de controle de tabagismo, promoção da atividade física, prevenção de violência, humanização do atendimento, prevenção de doenças entre idosos. Um bom exemplo da importância do fortalecimento da ação programática dentro de uma concepção ampla, construída em processo de parceria é o Programa Brasileiro de Prevenção e Controle de DST/AIDS, que também tornou-se um exemplo em todo o mundo. Ele combina estratégia intersetorial, participação da sociedade e dos portadores na definição de prioridades e na transformação das condições e fatores de risco, com o desenvolvimento de ações de diagnóstico, tratamento e promoção da saúde, implementadas de forma descentralizada. Dentro das ações programáticas é importante, porém, registrar a necessidade de integração entre elas, aumentando com isso a sua eficácia e eficiência, bem como, um maior envolvimento mais ativo dos níveis estaduais e locais na organização e adaptação das estratégias para a realidade de cada estado ou município. Alem disso, é necessária uma adequada distribuição de recursos entre as várias áreas e uma nova formação dos profissionais para uma abordagem programática que amplie os cuidados, com incorporação mais efetiva de medidas de promoção e prevenção. Outro aspecto relevante são as iniciativas voltadas para a construção de um novo modelo de atenção. Isto se dá ainda como movimento que visa materializar e acelerar o processo de transição do modelo antigo de prestação de serviços para um novo modelo. Ele 45 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. precisa ser bastante ampliado, considerando o imenso desafio que temos para enfrentar muitos problemas de saúde da população brasileira. A mudança do modelo visa criar uma nova imagem objetiva, um novo sentido para a prática do cuidado dentro do SUS. O objetivo é ultrapassar o limite de ação em torno apenas da doença, do sintoma, da atenção fragmentada, da demanda espontânea. O que se pretende é ampliar a prática integral de cuidados, expandindo a ação de promoção da saúde, envolvendo mais ativamente outras áreas de políticas públicas, atuando para a redução das desigualdades em saúde, atuando para que os indivíduos e as comunidades tenham maior habilidade e capacidade para transformar sua situação de saúde e sua condição de vida. O objetivo também é atuar com novos princípios éticos na relação dos profissionais com o usuário, não apenas considerando o direito ao atendimento, mas abrindo espaço para uma nova relação profissional-usuário, com mais respeito, com acolhimento, construindo espaço para respostas as demandas específicas dos indivíduos, tais como o direito à informação mais adequada. O movimento de mudanças vem sendo desenvolvido do ponto de vista teórico e prático com bastante esforço e uma atenção especial dos gestores, dos especialistas, numa escala mais ampla particularmente nos últimos anos. Ele se materializa em inúmeros processos que ocorrem, em particular nos sistemas municipais de saúde, com a incorporação, nas políticas locais, do conceito amplo de saúde, envolvendo de forma mais ativa o individuo, a família e a comunidade na busca de uma melhor saúde. As experiências trazem uma nova organização do trabalho, ampliando a atuação dos profissionais de saúde, com o fortalecimento de equipes multiprofissionais para os cuidados integrais. Os esforços empreendidos nos últimos anos, neste sentido, têm se expressado e concentrado, entre outras áreas, nas inúmeras experiências de reorganização e ampliação dos cuidados primários em saúde ou da atenção básica, termo que temos utilizado com mais freqüência no Brasil. 46 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A gestão da atenção básica passou a ser assumida pelos municípios em escala mais ampla, a partir da NOB 96, passando secretarias municipais de saúde a terem maior autonomia e iniciativa para expansão de cobertura e ampliação de ações de assistência e promoção. A atenção básica vem sendo implementada em regime de parceria entre os três níveis do SUS, mas com forte comando local, o que possibilita a integração dos cuidados individuais e coletivos com a ação comunitária e a participação do cidadão. A gestão local é um elemento fundamental para que haja adaptação das estratégias a cada realidade sócio-sanitária. A atenção básica, da forma como vem sendo implantada no Brasil, é construída de forma diferente das experiências de outros países. Aqui o enfoque é a sua inserção dentro de um conjunto maior de medidas voltadas para a garantia do direito a saúde materializada por políticas que buscam a universalidade de acesso e a integralidade do cuidado. Ela ganhou novo impulso como um nível de atenção e como um campo de práticas inovadoras com a inserção do Programa de Saúde da Família como principal estratégia para seu fortalecimento e expansão. Criado em 1994, como medida de ampliação de cuidados do Programa de Agentes Comunitários de Saúde, o PSF foi paulatinamente se expandindo em todo o país. Acompanhando a evolução da municipalização, este crescimento foi reflexo de um maior entendimento entre os gestores quanto a seu papel na inovação do modelo de atenção. Essa expansão se deu também em virtude da importância que a estratégica passou a ocupar dentro do Ministério da Saúde. Isto se traduziu na alocação de mais recursos e uma expansão dirigida para todas as regiões do país e municípios de médio e grande porte, como São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Teresina, entre outros. Quando implementado com seriedade e competência o PSF pode materializar os princípios de uma nova prática de atenção: atenção dirigida à família, em base comunitária, planejamento do cuidado em torno de programas e ações prioritárias, território 47 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. delimitado, equipe multiprofissional, papel colaborativo das equipes na solução dos problemas de saúde da comunidade. O PSF está inovando, pois torna concreto o conceito da responsabilidade sanitária e de uma base territorial para o trabalho das equipes. A equipe é responsável por sua população, planeja a atenção, envolve a comunidade e suas organizações na melhoria e na conquista de mais saúde. A pratica das equipes não se restringe à atenção clínica ela incorpora a vigilância em saúde, uma forma de atuação mais efetiva sobre os fatores de risco. A estratégia saúde da família esta possibilitando a construção de uma nova agenda para atenção básica, pois, combina uma melhor ação programática, com modalidades mais criativas e humanizadas de atenção e de cuidado. Contribui, desta forma, para a construção de uma nova imagem da saúde pública, uma saúde mais eficiente, um cuidado mais adequado e humanizado. Alguns pontos foram descasados na análise dos avanços ocorridos na implementação de uma agenda de mudanças na saúde do Brasil. No entanto é importante demarcar a complexidade dessa tarefa. Ela comporta ainda muitos desafios, tem contradições, falhas, lacunas, exige novas formulações, novas proposições. As mudanças também precisam ser melhor avaliadas, seja quanto ao seu desenvolvimento seja quanto aos impactos observados. Mas, certamente, não estaríamos no atual estágio de desenvolvimento das políticas e dos serviços de saúde, se nós não tivéssemos atuado com tanta ousadia. É ainda com muita ousadia que teremos que avançar sobre questões ainda bastante graves para a implementação das políticas de saúde. Um delas é a construção de uma agenda e de políticas de recursos humanos. A expansão do PSF esta contribuindo, de certa forma, para isto. O PSF tem colocado na pauta de discussões grande parte da problemática de recursos humanos no SUS. A forte expansão do programa acentuou algumas contradições nesta área. Os problemas de RH são inúmeros, mais destacaríamos como os principais: aqueles relacionados às dificuldades de contratação de 48 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. médicos e profissionais de enfermagem para expansão da atenção primária, mais grave em algumas regiões do país; uma política de educação continuada que considere realidades existentes no país e responda de forma adequada as necessidades dos profissionais; a alocação de mais recursos para financiar as atividades de desenvolvimento profissional; as diversas modalidades de contratação e de vínculo dos profissionais, causando instabilidade e rotatividade das equipes; as disparidades de remuneração e processo de formação desses profissionais pelas instituições de ensino superior. Nossa intenção não é analisar todos os pontos colocados acima, mas tecer alguns comentários sobre as estratégicas para a formação na área de saúde. Diferente de outras atividades profissionais, na área de saúde é impossível a implementação de um sistema nacional de saúde sem que o estado possa atuar, por meio de medidas regulatórias e estratégias de indução, com o objetivo de garantir uma a adequada distribuição e uma boa qualidade dos recursos humanos, necessários e vitais para promover atenção integral à população. É impossível apenas com os mecanismos tradicionais do mercado de trabalho garantir recursos humanos para que os investimentos e a infra-estrutura aplicados no setor possam se transformar em ações e serviços de saúde. O Artigo 200 da Constituição estabelece para o SUS, como uma de suas atribuições, a tarefa de atuar no ordenamento da formação de recursos humanos em saúde. Por muito tempo esta questão foi relegada a segundo plano. Não tivemos oportunidade, coesão ou força para regulamentar essa matéria, definindo de maneira mais clara e mais adequadas às competências do Ministério da Saúde, do Ministério da Educação e das IES. Por outro lado mudanças importantes ocorreram na área de educação: aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a conquista da autonomia das universidades, a ampliação importante de vagas no ensino superior, expansão de novas escolas de nível superior e médio nos grandes centros urbanos. As políticas nas duas áreas não se articulam, criando um descompasso entre as transformações das políticas de saúde e as 49 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. mudanças no ensino superior. A maioria dos profissionais são formados a partir de conteúdos e de uma expectativa de ocupação do mercado de trabalho cuja realidade é bastante diversa daquela que se busca construir com a implementação do Sistema Único de Saúde. A ênfase é da superespecialização, a fragmentação do cuidado, a preparação para uma prática essencialmente privada, um conjunto de estímulos diretos e indiretos para localização dos profissionais nos grandes centros urbanos. Esta é, sem duvida, uma questão complexa, que para seu enfrentamento depende de medidas em várias esferas e áreas diversas. Temos legislação específica, interesses coorporativos, resistências e preconceitos a mudanças, alem da incapacidade do Estado propor e implementar mais claramente políticas de pessoal. As mudanças nesse campo precisam ser enfrentadas globalmente, cabendo ao estado e principalmente ao nível federal, em parceria com as entidades profissionais e o próprio Congresso, tomarem iniciativas visando construir uma agenda avançada nesta área. O enfrentamento dessa problemática tem que, necessariamente, envolver o Ministério Saúde e da Educação e demais gestores dos demais níveis, em iniciativas nacionais que possibilitassem a mobilização das universidades e escolas para a implementação de mudanças no processo de formação. A falta de uma articulação no âmbito federal é certamente uma questão histórica que se verifica. A existência de uma agenda comum e uma aproximação mais efetiva entre o MS e MEC certamente pode ser um elemento impulsionador para a institucionalização de políticas nesta área. Uma importante oportunidade neste sentido foi criada em 2001 com a discussão das diretrizes curriculares na área da saúde. Naquele momento o Ministério da Saúde atuou juntamente com o CONASS e CONASEMS no sentido de fortalecer iniciativas de formulação de diretrizes que ocorriam no âmbito do Conselho Nacional de Educação, envolvendo o trabalho das comissões especialistas e das entidades profissionais da área da saúde. 50 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Com a aprovação de algumas diretrizes o MS e ME passaram a discutir a possibilidade de um projeto nacional voltado para estimular as escolas a implementarem a aplicação das novas diretrizes. O objetivo seria apoiar nacionalmente os projetos de mudanças já existentes e criar ambientes locais favoráveis a novas iniciativas, bem como, criar oportunidades para que os gestores do SUS possam contribuir com esse processo de mudanças, sugerindo novas abordagens, novos conteúdos, novos cenários para o desenvolvimento do ensino. Neste sentido, o Ministério da Saúde propôs ao MEC a institucionalização de um programa nacional voltado para apoiar escolas da área de saúde para a adoção de iniciativas de mudanças curriculares. A proposta passou a ser denominado de PROMED, dirigida inicialmente as escolas de medicina. O Projeto desde o inicio considerou as experiências de mudanças já em curso. Ha muitos anos a Abem, a Associação Brasileira de Ensino Médico, a Rede Unida, o CFM, AMB, Projeto Cinaem vêm desenvolvendo várias ações que tem possibilitado a materialização de importantes projetos de mudanças na área de medicina e enfermagem, bem como em outros cursos da área de saúde. A inserção institucional do MS e do MEC neste processo certamente poderia potencializar a grau e a velocidade das mudanças. A justificativa de se iniciar pela medicina foi em virtude de inúmeros fatores: o principal deles é que na maioria das escolas médicas a formação segue ainda modelos construídos há cerca de 20, 30 anos. Poucas escolas efetivamente promoveram adaptações estruturais dos seus conteúdos e adaptaram suas práticas de ensino a nova realidade sanitária brasileira. Outro aspecto é a necessidade de uma maior integração das escolas com estratégias de educação continuada desenvolvidas no SUS, particularmente os Pólos de Saúde da Família. Inicialmente 20 projetos de mudanças curriculares em escolas médicas serão financiados com recursos do Ministério Saúde. Os projetos deverão incorporar componentes de cenários de práticas, conteúdos e metodologias de ensino. 51 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A iniciativa não deve se restringir aos cursos médicos. O Ministério também está mantendo cooperação com a Associação Brasileira de Enfermagem para financiar ações voltadas para apoiar mudanças nas escolas de enfermagem. A cooperação com a ABEn prevê a destinação de recursos para o desenvolvimento de atividades de divulgação das diretrizes, sensibilização de dirigentes de escolas de enfermagem entre outras medidas a serem definidas pela ABEn Esta parceria é uma forma de reconhecimento da importância da ABEn e dos enfermeiros no processo de construção das intervenções de saúde. É um reconhecimento da inserção da enfermagem dentro SUS, em várias áreas tais como o PSF, no programa de interiorização de médicos e enfermeiros, na construção dos pólos de capacitação, nas atividades de educação continuadas, no PROFAE, na organização dos sistemas locais de saúde. Nosso objetivo, com estas duas iniciativas é contribuir para que as novas diretrizes dos cursos de saúde possam representar um novo momento para a modernização e adequação da formação na área da saúde à nova realidade sanitária e às necessidades de saúde do povo brasileiro. O sucesso e os resultados dependerão do envolvimento dos profissionais na construção das iniciativas de mudanças, bem como no acompanhamento e apoio no sentido de sua sustentabilidade. Esperamos com isto uma melhor compreensão por parte dos profissionais de saúde da importância e do grau de colaboração necessária para o fortalecimento das políticas de saúde no Brasil. 52 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. INCENTIVO ÀS MUDANÇAS NA FORMAÇÃO EM ENFERMAGEM: CONTEXTO E PERSPECTIVAS AS EXPERIÊNCIAS DA REDE UNIDA Roseni R. Sena Bom dia. Sempre recebemos presentes na vida que, muitas vezes, passam desapercebidos. Um deles é vir e estar aqui hoje com vocês representando, não a Escola de Enfermagem da UFMG, da qual sou diretora, mas representando a Rede UNIDA. Para mim é uma alegria muito grande e eu queria buscar na coragem exaltada pelos repentistas, que acabam de fazer sua apresentação, já que vamos trabalhar em competência nos currículos de enfermagem, neste SENADEn. A competência dos repentistas para improvisar é uma maravilha, mas nós, como não podemos adotar só o improviso, temos que ter a formalidade e a sistematização. Quero agradecer à ABEn pelo convite para que a Rede UNIDA pudesse participar desta mesa. A Rede UNIDA tem a sua Secretaria Executiva na Universidade Estadual de Londrina, Paraná, tendo como coordenador o Prof. Dr. Márcio Almeida, contando, como integrantes, docentes, profissionais de serviços e representantes da comunidade. O Prof. Márcio não pôde estar aqui, por estar atendendo a outros compromissos da Rede UNIDA, assumidos anteriormente ao convite da ABEn. Hoje é um dia muito importante. Acho, até, que nós deveríamos iniciar falando sobre o Programa de Incentivo às Mudanças nas Escolas de Medicina-PROMED, lançado pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério da Educação. Exatamente hoje estão sendo realizados dois dos quatro seminários programados com as escolas médicas que apresentaram proposta ao Ministério da Saúde: iniciamos com os seminários em Campinas, onde estão reunidas as Doutora em Enfermagem. Docente da Escola de Enfermagem da UFMG. Membro da Rede UNIDA. TRABALHO APRESENTADO NO 6º SEMINÁRIO NACIONAL DE DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM. 53 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. escolas de São Paulo e, no Rio Grande do Sul, onde participam as escolas da região sul. Essa política de incentivo incorpora os avanços do movimento de mudanças do ensino dos profissionais de saúde realizadas no Brasil nas últimas décadas, contando com a participação de diversas escolas, de apoio institucional e do trabalho de inúmeros docentes comprometidos com a transformação do ensino das profissões de saúde. Mas eu queria realmente exaltar, como os repentistas, a coragem da ABEn nacional e, particularmente, da Seção do Ceará em promover o 6º SENADEn, em um momento de extrema importância para as escolas técnicas e de graduação de enfermagem. Para fazer história, não podemos ficar esperando as coisas acontecerem, somos a geração que acredita que quem sabe faz a hora . Sabemos o quanto é importante a implantação das Diretrizes Curriculares, como parte do movimento de mudança do ensino de enfermagem.. Na Semana de Enfermagem deste ano, eu tive a oportunidade de sediar a sua abertura na Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, com a ABEn e com vários outras entidades. Na oportunidade, ressaltei a importância e a relevância de termos construído neste País uma entidade que completa 75 anos, que realizou a 63ª Semana de Enfermagem e que, naquele dia 12 de maio mais ou menos na mesma hora, em qualquer canto do território nacional, que tem dimensões continentais, um grupo importante de enfermeiros esteve falando da profissão, enfocando a qualidade de saúde. Isso é realmente excepcional e o SENADEn também é uma manifestação dessa grandeza de nossa organização. Eu sou uma adepta e admiradora do SENADEn e do Seminário de Pós-GraduaçãoSENPE. Gosto muito desses seminários temáticos, que reúnem um grupo menor, diferente do nosso grande congresso anual, que também é muito importante, mas, no evento temático, temos a possibilidade da intimidade de podermos tratar de temas tão polêmicos e complexos, como vamos tratar nesta semana. Mas vim aqui foi para falar da Rede UNIDA. Quero dizer a vocês que a Rede UNIDA é uma organização social que nasceu em 1985, nas montanhas de Minas, trazendo a marca da luta pela 54 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. liberdade, própria de nossa Minas Gerais. Nasceu sob os auspícios de diferentes universidades, tendo a Universidade Federal de Minas Gerais como sede e apoio da Organização Pan-americana de Saúde e da Fundação Kellogg e de diferentes profissionais que participavam de projetos da área materno-infantil. A UFMG tinha, naquela época, um currículo de medicina que era considerado inovador na área da medicina. Fomos convidados a discutir o trabalho em rede, junto com muitas outras universidades e com projetos de integração docenteassistencial, quando foi criada a Rede IDA. Na década de 90, foi realizada a análise de conjunto, que apontava novas demandas e necessidades no campo da educação e saúde. A Rede IDA foi resignificada, adquirindo uma força como movimento social e configurou-se na Rede UNIDA. Ampliou sua concepção e participação em outros projetos, não só os de base comunitária, como os de integração docente-assistencial, e os projetos UNI. Hoje, as pessoas sempre perguntam: a Rede UNIDA é constituída pelos Projetos UNI? Não. A Rede UNIDA integra os Projetos UNI, representando a dinâmica do movimento de mudanças na formação dos profissionais de saúde no nosso País. A Rede UNIDA tem, como uma de suas preocupações, a análise de conjuntura de forma contínua, para adequar-se às realidades que são dinâmicas e transformadas com as nossas ações. A análise de contexto e a construção de cenários possíveis são consideradas importantes para iluminar a conduta de uma organização civil como a Rede, estabelecer parcerias, estabelecer as estratégias de ação, aumentar e potencializar as alternativas de trabalho. A Rede UNIDA considera que o grande desafio dos movimentos sociais no Brasil é a superação da exclusão política, social e econômica de número significativo de brasileiros. A Rede UNIDA trabalha no eixo da formação dos profissionais de saúde, mas pensando este contexto e definindo estratégias que contribuam para diminuir essa exclusão e para criar mecanismos para superar o quadro atual. Nós não podemos trabalhar com situações idealizadas, mas com a possibilidade de poder buscar a inclusão econômica, social e política. 55 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A Rede UNIDA trabalha em dois setores articulados e indissociáveis - educação e saúde - que, ao mesmo tempo, são determinados pela situação de exclusão, realidade que buscamos transformar. Nós queremos mudar essa realidade, considerando os avanços que possibilitam um novo patamar de condições de vida da sociedade brasileira. O tema que nos cabe aqui falar hoje, ou seja a educação em enfermagem, tem sido também objeto de discussão e trabalho da Rede UNIDA. A Rede não trata, especialmente, da formação de nenhum profissional, ela trata igualmente da formação de médicos, enfermeiros, odontólogos, farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e fonoaudiólogos. A Rede tem dado ênfase maior no ensino da medicina e de enfermagem, porque são as categorias com maior participação na produção dos serviços de saúde no País. A Rede tem buscado priorizar as ações que permitam interferir na formulação das políticas públicas de educação e saúde. A agenda estratégica da Rede UNIDA busca aglutinar as forças vivas dos movimentos sociais no campo da educação dos profissionais da saúde tendo, como objetivo final, a qualidade da assistência à saúde e a reversão do quadro sanitário brasileiro. A Rede tem vinculações com experiências nacionais e internacionais e reconhecemos que a experiência brasileira é muito especial tendo, como referência, a Reforma Sanitária, a criação do SUS e o controle social. Apesar de todos os desafios e dos obstáculos da Reforma Sanitária, a experiência brasileira destaca-se no quadro internacional. Outro aspecto que diferencia a experiência brasileira, refere-se ao fato de que as questões relacionadas à formação de recursos humanos estão incluídas na agenda do Ministério da Saúde, como um mandato da Lei Orgânica da Saúde. A Reforma Sanitária brasileira estabeleceu questões importantes na nossa agenda de discussão: uma delas refere-se às debilidades que ainda encontramos na qualidade da formação dos recursos humanos em saúde, que apontam para questões que não são próprias do processo de formação, mas têm vinculação com a própria 56 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. organização dos serviços, com as determinações mais gerais dessa formação e, inclusive, com a estrutura de formação que temos no País. Exemplo dessa estrutura é o pequeno acesso dos jovens ao ensino superior. Existem, no Brasil, mais de 180 escolas de enfermagem em condições para o exame nacional do MEC. Se temos 180 escolas já em condições de participar do exame nacional, projetamos que devemos ter de 210 a 220 escolas em funcionamento, com repercussão importante na formação e nas políticas direcionadas à educação de enfermagem, do emprego e da regulação. Nesse contexto de expansão de cursos de enfermagem, acreditamos que a Diretrizes Curriculares constituem uma oportunidade de reflexão e de construção do projeto político-pedagógico de cada escola, com uma orientação nacional. A implantação das Diretrizes Curriculares torna-se uma questão estratégica para as escolas de enfermagem e para a Associação Brasileira de Enfermagem. A Rede UNIDA teve um papel preponderante na ação política de ser voz de um setor, para que pudéssemos construir e aprovar as Diretrizes como uma orientação nacional. Nesse processo, a Rede UNIDA utilizou a acumulação que tinha no campo da formação de profissionais da saúde e, ao mesmo tempo, utilizou das lições aprendidas, valorizando a diversidade e as diferenças de cada escola na definição de seus projetos pedagógicos. Em geral, as pessoas têm procurado muito a Rede UNIDA, perguntando o que é um projeto pedagógico. A Rede UNIDA não tem um modelo, um roteiro ou uma forma preestabelecida para que pudesse oferecer às escolas, para que se formulasse um projeto pedagógico. Aí entra o que entendemos ser o papel da Rede UNIDA e de como entendemos o papel das Diretrizes Curriculares. O trabalho da Rede UNIDA ocorre nessa interface do trabalho das instituições, do trabalho das pessoas e na formulação das micro e macro-políticas. É um jogo importante, um jogo determinado por valores, por crenças, por questões institucionais muito fortes e por confronto entre os modelos hegemônicos e os movimentos de mudanças de cada escola. O movimentos de mudança nas escola de enfermagem enfrentam uma 57 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. luta intensa e contínua, tanto em nível da micro, como da macropolítica. A Rede UNIDA tem uma projeção de sua imagem objetiva, na qual projeta novos cenários no processo de formação das profissões de saúde. O processo de mudança deve levar à formação de um profissional crítico, capaz de aprender a aprender, que é a tônica de todos os autores com quem estamos trabalhando hoje, inclusive da UNESCO e, mais do que isso, de uma experiência daqueles que têm realizado mudanças nas escolas de enfermagem. É impossível, hoje, pensar em mudanças se não estiverem enfocadas na reversão do ensinar para o aprender a aprender e do trabalho em equipe, que é o que está se exigindo em todas as políticas que estão sendo tratadas no campo da execução das políticas de saúde. O Programa de Saúde da Família-PSF é um exemplo dessas políticas, mas todas as outras possibilidades que temos de organizar um modelo sanitário apontam para o trabalho em equipe, inclusive nos projetos específicos da enfermagem. O Programa de Incentivo às Mudanças nas Escolas de Medicina, lançado pelo Ministério da Saúde, iniciou-se com o PROFAE, devendo ser estendido para a enfermagem, com a denominação PROENF. Assim, necessitamos, para a formação desses profissionais, de uma Universidade aberta às demandas sociais, capaz de produzir conhecimento relevante e útil para a construção do sistema de saúde. Esse é um ponto que temos discutido muito: qual a Universidade que precisamos construir para um sistema de ciência de tecnologia realmente voltado para a construção de uma nova realidade social e política e para transformar o modelo de atenção, fortalecendo a promoção e prevenção e oferecendo atenção integrada, fortalecendo a autonomia dos sujeitos na produção de saúde. A Rede UNIDA trabalha com o conceito de sujeito, aquele sujeito que se transforma e transforma o seu cenário. Uma pergunta que os professores das escolas de enfermagem têm feito é que, se o aluno tem que ser crítico, se tem que ser contextualizado, se tem que estar em uma Universidade aberta à sociedade, como fazer essas mudanças? Não temos receita, temos experiências acumuladas, temos utilizado dessas experiências como possibilidade para construir e 58 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. executar as agendas estratégicas da Rede. A Rede UNIDA constrói, a cada dois anos, uma agenda estratégica. A última agenda foi construída no 5º Congresso da Rede UNIDA, em Curitiba, no qual definimos, como prioridade, trabalhar concretamente com as instituições e com os sujeitos que promovem as mudanças no campo da formação: estudantes, docentes, profissionais de serviço, gestores e comunidade. Nos últimos dois anos trabalhamos com quatro temas prioritários para as mudanças: Intersetorialidade: como uma concepção de apoio ao trabalho entre os diferentes setores, para garantir condições de vida e de saúde; Diversificação de cenários de ensino: o que temos aprendido é que quem trabalha e quer fazer mudanças, tem que diversificar os cenários de ensino, tem que ampliá-los, não como laboratórios, mas com novas modalidades de ensinoaprendizagem. Tem-se que diversificar os campos de ação, para enfrentar a reordenação e reorganização tecnológica do trabalho em saúde; Metodologias ativas de ensino: constituem outro grande desafio para os processos de mudanças, que devem centrar no processo de ensino-aprendizagem do aluno; Por último, fizemos também uma oficina pensando na questão extremamente desafiadora do projeto pedagógico da escola. Realizamos, também, reflexão com os docentes e profissionais de serviço que estão atuando nos Pólos de Capacitação de Recursos Humanos, em parceria com universidades, sobre a potencialidade de os Pólos influenciarem nas mudanças dos currículos de graduação. Os Pólos de Capacitação constituem uma importante estratégia na relação entre as instituições formadoras e os serviços de saúde, para trabalhar a questão das mudanças na formação dos profissionais de saúde. Os Pólos propõem influenciar o ensino de graduação, realizar os treinamentos introdutórios e capacitar os profissionais do PSF. A 59 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Rede UNIDA acredita ser fundamental que o estudante de graduação participe das equipes de Saúde da Família. Um efeito muito importante que está acontecendo é a participação dos professores de medicina e de enfermagem e, agora, de odontologia, nos cursos de especialização do Programa de Saúde da Família. A Rede UNIDA tem uma nova agenda, que foi construída agora em 2002, para 2002/2003, em uma das mesas deste evento a Prof.a. Rosana Bady, da Universidade Estadual de Londrina-UEL vai relatar os aspectos dessa agenda, que apresenta uma nova análise de contexto. Avaliamos o que foi produzido e construímos uma nova agenda. Essa nova agenda é muito interessante: ampliamos os atores, incluímos mais instituições e profissionais de diferentes setores dos serviços de saúde e das instituições de ensino, o que permitiu elaborar uma agenda com uma visão mais ampla e que avança em temas da agenda anterior. Tínhamos motivação da Política de Incentivos às Mudanças do Ensino dos Professores de Saúde e das Diretrizes Curriculares. Essa política de incentivos é, no nosso entender, uma das questões mais importantes que poderá acontecer no campo da formação de recursos humanos em saúde nos próximos anos. É uma política dirigida, que não beneficiará apenas as escolas que receberão o apoio financeiro. Terá um programa para discutir os desafios das mudanças no conjunto das escolas médicas. Há, também, a possibilidade concreta de ampliar os incentivos para as escolas de enfermagem. Esperamos que a política de incentivos não tenha solução de continuidade, como política pública e que trabalhe com questões concretas que estão colocadas na necessidade de mudanças da formação, não sendo simplesmente um apoio financeiro, mas que seja uma política indutiva. Esse fator indutivo é importante porque, muitas vezes, mesmo com recursos financeiros, as escolas têm dificuldades de articular os seus processos de mudanças. O processo de mudança inclui interesses, desejos e possibilidades, exigindo estratégias que construam a adesão de diferentes atores da escola e dos serviços. 60 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ALMEIDA(2001), ao estudar o movimento de mudanças nas escolas médicas do Brasil, descreveu as possibilidades de mudança em três níveis: inovações, reformas e transformações. Geralmente, o que fazemos são inovações, que não se traduzem em transformações da prática pedagógica da escola, que é uma dimensão fundamental para fazer as transformações. Não mudamos o modelo hegemônico das escolas, dominadas pela concepção pedagógica de transmissão de conhecimento. Isso não importa, pois a transmissão não está só no professor - está nos livros, está nos meios de comunicação e está no uso dos recursos da informática. Assim, é um risco reproduzir o mesmo modelo tradicional, mesmo com a possibilidade do uso de tecnologia. É necessário compreender os recursos tecnológicos como meio e não como fim. Assim, as tecnologias devem ser definidas no contexto do projeto pedagógico da escola. O outro aspecto importante da mudança é a relação escola/serviço, não como mero uso do serviço, mas estabelecendo uma relação de construção do modelo sanitário. Esse processo é desafiante, porque são duas instituições ideologicamente fortes que, ao se encontrarem, terão mais limitações e obstáculos do que facilidades para trabalhar. A comunidade é um parceiro fundamental no processo de mudança, porque não podemos trabalhar tomando o modelo epidemiológico geral do País. Vamos ter que trabalhar em realidades concretas, onde o aluno tenha possibilidade de, através do seu trabalho, atuar e conhecer os resultados. Assim, a Rede UNIDA propõe o fortalecimento das parcerias com movimentos populares, capazes de contribuir para que docentes e estudantes compreendam a realidade concreta vivida do nascer, do crescer, do trabalhar e do morrer de um determinado grupo populacional. A outra questão da agenda estratégica da Rede UNIDA é a revisão dos processos de formação, envolvendo graduação e pósgraduação e da educação permanente. Entendemos que a educação permanente inclui as oportunidades que o professor tem de realizar sua atualização e capacitação. Propomos que as escolas assumam a 61 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. educação permanente, mas na estratégia da reorganização do processo de trabalho, da qualidade da assistência e da incorporação de novas tecnologias. A Rede UNIDA está trabalhando, ainda, na construção de uma linha editorial que contribuirá para a disseminação das experiências e para a produção de conhecimentos sobre os processos de mudanças na educação dos profissionais de saúde. Outra questão que a Rede UNIDA tem trabalhado é a avaliação dos cursos de graduação. Para saber o que estamos fazendo de concreto, vocês podem perguntar o seguinte: essa Rede é virtual? Virtual ou abstrata? É necessário esclarecer que a Rede UNIDA não é apenas uma Rede eletrônica. Ela usa das possibilidades das redes eletrônicas para fazer o trabalho de mobilizar pessoas para construir suas possibilidades e dar visibilidade às experiências. A Rede edita um Boletim, que vocês podem receber. A Rede UNIDA conta com um site que tem, como conteúdo, a mudança na educação dos profissionais de saúde. Atualmente, já estamos trabalhando com três grupos de discussão: metodologia ativa de ensino; diversificação de cenário; e relação universidade/serviço/comunidade e como se constrói a interinstitucionalidade e a intersetorialidade. Esse site já está funcionando, fazendo parte de uma iniciativa maior da Organização Pan-americana de Saúde de criar a Rede Pan-americana de Recursos Humanos. Como parte dessa Rede, está sendo criada uma Rede, em parceria com a OPS/ABEn, para educação permanente em enfermagem, que será discutida durante o SENADEn. Ao finalizar, quero explicar a vocês que a Rede UNIDA não é constituída apenas pelos Projetos UNI; ela é aberta, nasceu com os Projetos IDA, cresceu e se desenvolveu com o próprio avanço da concepção do que é relação universidade/serviço/comunidade, ampliou e adquiriu mais força, como movimento social com os Projetos UNI, mudou a direção política e passou a ter maior influência na definição das políticas públicas. Hoje, o grande desafio da Rede UNIDA é agregar mais atores, construir maior adesão e, com isso, ter mais sustentabilidade na formulação das políticas públicas. Estamos 62 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. realmente muito empenhados para que algumas políticas sejam políticas de inclusão. Na análise que fazemos do contexto nacional, reconhecemos que o PROMED e o PROENF são importantes possibilidades de fazer parceria entre o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde com as escolas médicas e, futuramente, com as escolas de enfermagem, para viabilizar uma grande política de mudança na formação dos profissionais de saúde do País. Essa política servirá de exemplo, não só para o nosso País, mas para todos os países da América Latina e para outros países do mundo. Não existe nada igual em nenhum país da América Latina. Nesse caso, creio que realmente devemos entender essa política de incentivos como uma política de inclusão e devemos contribuir para que ela contribua de forma efetiva na transformação dos modelos de formação e não fique nas inovações, ou seja, em mecanismos de maquiagem dos currículos. A tarefa é ampla e complexa, por isso reafirmo a importância dos SENADEns, desejando que as discussões sejam profícuas e ajudem nos processos de mudança nas escolas. 63 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. MESA REDONDA RELATO DE MUDANÇAS CURRICULARES: QUEM VIVER, VERÁ. O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ENFERMAGEM NA UFRN: UM RELATO DA EXPERIÊNCIA DE CONSTRUÇÃO COLETIVA Francisca Nazaré Liberalino7 Boa tarde a todos, inicialmente gostaria de agradecer à ABEn, Piauí e Nacional, pela oportunidade e a honra de estar mais uma vez no SENADEn, atendendo a um convite para compartilhar da experiência que temos acumulado no sentido da implementação de um Projeto Político Pedagógico local, o qual contribuiu, na nossa história particular, como uma das vozes que se uniram nessa construção coletiva nacional,. É portanto um prazer trazer a realidade do caminhar nessa história desde 1986 até aqui. De antemão já coloco essa experiência me apresentando como professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, envolvida em algumas das conjunturas da própria ABEn, como membro da Comissão de Educação Nacional, depois, como presidente da ABEn-seção RN no período de 1989 até 1993, como coordenadora de curso de graduação, participante desse fórum em todas ás vezes que pude estar presente, e, conseqüentemente, tanto recebendo quanto contribuindo com esse processo de construção coletiva. Hoje eu estou na Universidade num outro espaço, também importante para a proposta acadêmica, que é o da Pró-Reitoria de Extensão da UFRN, o que me proporciona uma oportunidade ímpar de continuar a contribuir com esse processo, agora numa dimensão político-institucional. Essa experiência de construção de um Projeto Político Pedagógico, é, como disse a Roseni, um processo. 7 Pró-Reitora de Extensão da UFRN 64 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Não se pode analisá-la sem pensar num processo histórico, dinâmico, de construção coletiva. É o que costumamos chamar de polifonia, nele estão contidas muitas idéias, muitas vozes e até contradições, como parte integrante desse contexto em que se convive. E são muitas as idéias e vozes aqui postas! Revelam-se revestidas das contradições que são pertinentes a um movimento de construção coletiva dentro de um contexto de realidade. Aliás, foi esse o referencial eleito para a construção da proposta, trabalhar com a realidade, com a problemática do contexto real e trabalhar com o avançar de um projeto político pedagógico, não apenas para o ensino, mas para a enfermagem profissão, num contexto local e também global, do próprio país. Preciso colocar, inclusive, que em se tratando de um processo dinâmico encontra-se ainda em pleno movimento. Começarmos a implementar essa proposta em 1994 e ainda é processo em construção para nós. Já concluída a primeira avaliação institucional e entrando num processo de avaliação por parte do MEC ( nesse ano os alunos já estão cadastrados para realizar o Exame Nacional de Cursos), não nos parece projeto acabado, o sistema de acompanhamento permanente implementado, transforma a nossa proposta no que costumamos chamar de projeto de discussão e construção permanente ! Uma das decisões tomadas nessa proposta foi a de abolir duas expressões que costumávamos usar muito: grade curricular e atividade extra curricular. Não há espaço dentro de uma proposta que se propõe inovadora, para grades , dita no sentido de aprisionamento, de inflexibilidade. Também não há espaço para a questão do extra curricular , porque tudo que ocorre num sistema de educação que é controlado e acompanhado por uma escola, por docentes, por estudantes e por técnicos da área, tem intencionalidade. Todo ato educativo, como já foi dito aqui, acaba sendo dogmático e por isso ele é político, intencional. Daí porque a nossa proposta é um retrato dessa construção coletiva! O nosso Projeto Político Pedagógico, foi construído com todo referencial acumulado ao longo das discussões que começaram sobre 65 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. currículo pleno, currículo mínimo e mais tarde sobre diretrizes curriculares. Foi implementado, tanto na prática quanto junto aos órgãos colegiados da Universidade, em 1994, porém, o nosso curso é mais antigo que isso. Foi criado em 1973, passou por várias reformas curriculares até 1982, no entanto, estas reformas, davam conta muito mais de re-arrumar a famosa grade curricular. Só tivemos uma sistematização, de fato, contemplando todo o processo, a partir de 1986, coincidindo com uma articulação nacional e regional. Os seminários regionais começaram pelo Nordeste, em Recife, do qual participamos e muitos daqui participaram, e foi onde começamos a desenvolver a visão de que deveríamos ampliar a discussão em vez de, simplesmente, nos adaptarmos a um novo ensino para uma nova lei conforme era o proposto na ocasião . Desenvolvemos ao longo dessa estrada, uma parceria com a Rede UNI-IDA, a partir de 1994, através do início da experiência do Projeto UNI em Natal, hoje já consolidada e que se reflete, em muito aspectos, nos cursos da área da Saúde. Tivemos nessa trajetória também a aprovação da nova proposta de ensino, ainda como Currículo Pleno, porque na época em que foi implementada, em 1997, não havia ainda, as atuais diretrizes curriculares. No entanto, embora chamado de currículo pleno, nunca o foi e , jamais, vocês vão ver, ela se conformou numa proposta como currículo fechado e estático, até porque é um projeto em permanente construção. Passamos recentemente pela avaliação do PAIUB, e necessito explicar que em minha Universidade, a UFRN, o PAIUB continua sendo o processo de Avaliação Institucional e é fortalecido, participo, inclusive da comissão representando a Pró-Reitoria de Extensão. Essa avaliação aconteceu em 2000, então o que eu estou trazendo aqui, não é só a apresentação da proposta, mas, a crítica também, considerando já os resultados dessa avaliação. Como referimos anteriormente, é um Projeto Político Pedagógico em permanente construção, já estamos em processo de atualização da proposta. Isso se deve ao fato de termos, para garantir 66 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. essa permanente construção,uma comissão de acompanhamento e avaliação da proposta pedagógica, CAAPP, que foi implementada através do Colegiado do Curso, e cuja metodologia consiste em indicadores e variáveis que consideram a avaliação do próprio processo por se tratar de um Projeto Político Pedagógico em permanente construção. Assim posto, nosso Projeto Político Pedagógico, se assenta em alguns princípios que orientam a nossa formação e se articula através de alguns conceitos. Foram esses os frutos oriundos das primeiras discussões e dos acordos negociados em termos da polifonia de idéias sobre: ser, homem, processo saúde doença, sociedade, enfermagem, enfermeiro, educação, educador, educando e outros. A respeito dessa conceituação, era um princípio norteador da proposta, entender a enfermagem a depender do que a gente entendesse por homem (ser humano) como sujeito do próprio processo de transformação, também responsável pela sua condição de vida e saúde, e portanto, co-participe do processo de produção de serviços. E, a partir daí, pensar para que existe a enfermagem, o que é ser enfermeiro, educador e educando. Ao definir essas questões, estávamos fazendo uma opção metodológica. Por exemplo, ao definir que o educador é um facilitador do processo de ensinar a aprender e o educando é um sujeito, participante ativo da construção do seu conhecimento, então, aqui o aluno passa a ser um sujeito participante da construção do próprio Projeto Político Pedagógico. E eles tiveram e têem uma participação ativa nos estudos e acompanhamento. Em sua tese de doutorado a Professora Rosalba Timóteo, que se encontra aqui, mostra como esse processo ocorreu, como construção coletiva, o que pode ser visto por vocês se tiverem interesse em acompanhar. O estudante foi, e é, em todos os momentos, um elemento ativo e no qual a proposta se sustenta também. Nosso processo de formação contempla, ainda, o princípio da interdisciplinaridade. A idéia inicial era trabalhar (como algumas escolas estão tendo a oportunidade de trabalhar), com um currículo integrado, semelhante aquela proposta que o Projeto Larga Escala 67 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. trabalhou para a formação do pessoal em nível médio, mas como nós vivemos numa Universidade, cujo modelo de organização é o da estrutura departamental e de disciplinas. Para que vocês tenham uma idéia, nós temos o Curso de Enfermagem sendo ministrado num conjunto, com mais sete cursos da área de saúde e um da área de biociências, composto por quatorze Departamentos distribuídos em dois Centros, distintos. Tornou-se, portanto, muito difícil trabalhar a idéia do currículo integrado, então, no máximo, nós pudemos avançar com a idéia-força do currículo integrado, porém, numa prática interdisciplinar, dentro dos limites possíveis da estrutura da instituição. Trabalhar com conceito da integralidade foi outra decisão, o que exige uma formação não parcial, uma formação não só técnica, não só profissional, mas uma formação também para a cidadania. Trabalhamos também com a questão dos níveis de competências e terminalidade, ou seja, na graduação você tem que conferir algumas competências que permitam ao enfermeiro, ao sair, inserir-se na realidade do trabalho da enfermagem, portanto, competências iniciais, claro que com a idéia de estar dentro de um processo de aprendizagem contínua, de aprendizagem permanente. Ou seja, nosso principal propósito era o ensinar o que tanto já se falou aqui: a aprender, ensinar o ser aprendiz! Esse conceito, vai nos facilitar a ver o processo como continuidade. Como processo mesmo! Então, com esse referencial e tendo como pano de fundo, a realidade, o contexto das políticas de saúde, da reforma sanitária, e principalmente, os princípios defendidos por esse movimento, construímos coletivamente os objetivos do curso e, em conseqüência, o perfil e as competências do enfermeiro. É um curso que pretende formar o enfermeiro com ampla visão da realidade de saúde da população, para que desenvolva habilidades e competências para atuar no processo de saúde e doença e em qualquer espaço de atuação. Só para se ter uma idéia, sobre o perfil profissional: além do curso de bacharelado, nós temos também a licenciatura e temos também um perfil para cada um dos cursos, mas a essência do curso é 68 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. desenvolver uma formação geral no campo das ciências humanas, sociais e biológicas e no campo dos conhecimentos próprios da enfermagem; desenvolver competências técnicas, políticas, educativas e éticas, o que possibilita uma atuação profissional com base nos princípios que aí estão declarados, os princípios da reforma (universalidade, eqüidade, integralidade e participação, para nós, solidariedade) no processo coletivo de trabalho de saúde. E a questão da universalidade aqui é muito assumida por nós, inclusive para extrapolar o campo de ação institucional. Na prática, para que se proporcione o acesso universal da população às ações da enfermagem, você tem que extrapolar o campo institucional, porque no campo institucional esse acesso ainda é restrito. É imperativo, portanto, a abrangência do trabalho em comunidades e, nesse caso, a Extensão é a nossa grande estratégia! Definimos, a partir daí, as grandes competências do enfermeiro: 1º) O assistir, cuidar e intervir. Três grandes conceitos carregados de idéias, inclusive, de contradições. Vão depender da visão de mundo, da visão de homem, de todas daqueles conceitos anteriores. 2º.) O administrar, gerenciar. Temos por base de referência, o processo de trabalho do enfermeiro, inserido na realidade na produção de serviço e saúde, que tem como peso forte à coordenação desse processo de trabalho: cuidar, intervir e assistir, não poderia deixar então de ter que adquirir competências para administrar e gerenciar. 3º) O investigar e pesquisar. Aqui a gente tem a investigação como objeto de trabalho, como processo de trabalho e como meio para articular a teoria e a prática, para fazer análise crítica de realidade, para saber interpretar realidades e até formular hipóteses de intervenção nessa realidade. Então a investigação é processo, é instrumento e é também finalidade. 4º.) O educar e o ensinar. Um grande processo do enfermeiro, não só no sentido de ser instrumento de qualificação dos demais trabalhadores da enfermagem e da saúde, como também, porque o próprio enfermeiro vai trabalhar na formação dos profissionais que cuidam da saúde e que é essencial na enfermagem. 69 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Algumas outras informações, acho, depois vocês poderão obter através de contato mais de perto. O curso tem 3.885 horas ( nós desenvolvemos a proposta em nove períodos letivos) e isso depois de alguns reformulações. Tínhamos pensado antes em dez períodos e agora já estamos modificando. 1.590 horas são teóricas e 1.320 horas de aulas práticas, além disso, mais 765 horas de estágio curricular e mais 180 horas de disciplinas complementares que estão sendo revistas. Estamos hoje com ofertas de atividades curriculares em comunidade, atividades interativas e transdisciplinares, chegam a ultrapassar essa carga horária, mas, tudo é curricular. O Projeto como um todo é organizado em Áreas Temáticas, grandes áreas temáticas! Nós não trabalhamos com idéia de grades e sim de rede, elas estão organizadas da seguinte forma nessa estrutura (visualizada em tela). Essas áreas temáticas, vocês podem perceber, pelas setas, que têm interfaces, direção do curso, seqüência e, tem também, costuras, núcleos e pontes de interface com outras áreas. São as grandes áreas: Área temática 1: Bases biológicas e sociais da enfermagem, nela estão contidos conteúdos das ciências sociais, das ciências humanas e das ciências biológicas. Área temática 2 - Fundamentos da enfermagem, onde são trabalhados, principalmente, os instrumentos tanto para o assistir, cuidar, intervir, como para o educar, o pesquisar e o administrar. Como instrumentos mesmos! Como ferramentas de trabalho, que se inter-relacionam com as três grandes áreas. Área temática 3, Assistência de Enfermagem, essa área está organizada por níveis de atenção ao ciclo evolutivo do homem. Então nós temos, a atenção integral à criança e ao adolescente e atenção ao adulto. E dentro da atenção ao adulto, nós temos a questão específica em saúde reprodutiva e da mulher, a saúde do trabalhador e saúde do idoso. Área temática 4, Administração em enfermagem, é uma área que articula as demais áreas, inclusive como projeto de organização do assistir, intervir e educar. 70 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Na seqüência nós temos o Estágio integrado I, que trabalha a atenção e gerência de enfermagem em Unidades Básicas de Saúde e em Unidades de Internação, o Estágio II. Além desses, nós temos o Estágio III , Prática de Ensino em Enfermagem, que lida especificamente com a área das Licenciaturas. Como rede, vocês percebem, existem alguns nós que não têm nomes, são eixos interativos e transdisciplinares, representados por essas linhas azuis. No núcleo estão as disciplinas, a gente chama disciplina pela questão da estrutura e do hábito de se falar, mas são atividades que não tem uma estrutura formal de disciplina, não tem uma ementa formal, são núcleos de atividades que podem ser de pesquisa e extensão, muitas vezes de pesquisa, extensão e de ensino, em que os alunos vão articulando conceitos, competências e habilidades, na prática e na teoria, com essas demais áreas de conhecimento, por isso dizemos que elas são interativas e transdisciplinares. Costumamos também trabalhar por módulos esses temas. Em cada semestre do curso, até para fazer essas costuras e garantir essa possibilidade do aluno se inserir em novos cenários de ensino, desde cedo, no campo prático para entender melhor a realidade . Em todo esse processo há um grupo que acompanha e avalia, permanentemente, num processo também coletivo, que prevê momentos avaliativos contínuos. Esses momentos são construídos coletivamente e deles participam alunos, professores, enfermeiros de campo que atuam junto ao ensino. Nele vão se refletir sobre as necessidade de mudanças e sobre as adaptações constantes que esse processo sofre ou precisa realizar. Então, assim constitue-se numa figura que está sempre aberta, cíclica, é um movimento da criação, da avaliação, da reflexão, da percepção dos docentes e do discentes sobre o que fizeram, a reorientação dos referenciais do teóricos, a avaliação e reflexão do aluno e do professor depois de um processo mais depurado, em cima dos referenciais, conceitos e princípios orientadores da proposta. Depois temos o momento da recriação e da inovação, é pois, um processo que está ajudando a implementação do Projeto Político Pedagógico. 71 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Todo esse processo não ocorre assim de forma linear, enfrenta dificuldades, porque está dentro de uma conjuntura maior, faz parte de um projeto acadêmico das Ciências da Saúde e da Universidade. Aí residem as nossas grandes dificuldades, uma delas é a infra-estrutura, nós somos uma Universidade do Nordeste, uma das Universidades que está em amplo desenvolvimento, mas que não tem correspondente a esse amplo crescimento, o crescimento das verbas, do investimento na área acadêmica, na infra-estrutura de bibliotecas, de laboratórios, de tutoria, de política de estágio, uma série de coisas que precisas ser desenvolvidas nas escolas, conformando-se como limites e possibilidades para essa proposta. Além disso, a própria estrutura fragmentada da Universidade, organizada e Centros, Cursos e Departamentos, representa uma demanda imperativa de mudança, na nossa visão. Como nós estaremos nos mudando, daqui a pouco, até o final do ano, para um novo prédio, construído pela Universidade, vamos tentar fazer essa estrutura física junto com uma estrutura também organizativa de Faculdade ou Escola, ao invés de Curso e Departamentos. É uma outra proposta bem mais ousada que está em discussão lá. Outra dificuldade que a gente aponta nesse processo é compreender o trabalho da enfermagem no conjunto das outras práticas sociais, e internamente, nos seus diferentes momentos. É um movimento que tem que ser feito para dentro e para fora. A Enfermagem tradicionalmente tem se organizado de forma subserviente, isolada, fragmentada e hierarquizada, e para que a enfermagem organize o seu processo de assistir, cuidar, gerenciar, investigar e provoque mudanças tanto no modelo assistencial como mudanças dentro da própria Universidade, precisa rejuntar o que está disjunto, respirar, inovação dentro da Universidade para criar possibilidade de fornecer subsídios às inovações no mercado de trabalho, redefinir estratégias no próprio processo pedagógico, trazer contribuições a capacitação pedagógica de docentes na Universidade e nos serviços. É um movimento grande que a enfermagem está conduzindo, inclusive na ponta, na área da saúde como um todo junto com o 72 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. projeto UNI. O desafio de implementar reformas políticos pedagógicas na área da saúde e não só no curso de enfermagem, além de redimensionar o próprio projeto continuamente. Essa missão exige um esforço constante de avaliação, recriação, de promover a articulação interna e em nível nacional, com a ABEn pois, reconhecemos que não dá para fazer esse processo somente dentro das escolas e sem que se tenha uma ABEn, fortalecida, na condução desse processo em nível local e nacional. Todas as vezes que a gente se distanciou disso o projeto perdeu força política e conseqüente diminui suas possibilidade de institucionalização. Os caminhos que nós estamos percorrendo para assegurar a continuidade do processo de mudanças e o seu fortalecimento nas competências que são continuadas na prática: a) sistematizar protocolos de qualidade para o ensino e também para a assistência; b) assegurar as parcerias institucionais, porque a gente tem que inserir um número grande alunos, todos os semestre nos campos de prática e de estágio (tanto aluno de final de curso, como os alunos que começam o curso);c) estabelecer relações dialógicas entre ensino, serviço e comunidade. Estamos conseguindo isso através, principalmente, do que a gente chama de ACC Atividade Curricular em Comunidades, um espaço de parceria e de interação; d) impulsionar a produção científica e a sua aplicabilidade na prática é outro movimento importante, e o que isso quer dizer? Todos os projetos das bases de pesquisas em nosso Departamento estão, hoje, estrategicamente, direcionados para dar suporte à proposta políticopedagógica da enfermagem não só da escola, mas, do Estado. e) por fim, ampliar a capacidade de intervenção sistemática e orgânica no sistema de referência dos serviços de saúde, tanto no setor público, quanto no setor privado, mas em especial, tentamos construir isso, junto com a ABEn e com os movimentos possíveis e atores, parceiros, que a gente tem dentro do Sistema Único de Saúde e de seus pólos de capacitação. Hoje o nosso curso é referência para o PROFAE, para o pólo de capacitação em Saúde da Família, para o Grupo da Avaliação 73 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Institucional da Universidade e para uma série de outros movimentos sociais ou setores, por conta dessa visibilidade , seriedade e compromisso que a nossa proposta pedagógica tem para com as questões cruciais da sociedade do Rio Grande do Norte. Para concluir, vou falar um pouco da avaliação. Passamos recentemente por um processo de avaliação institucional, realizado pelo PAIUB UFRN, mas, eu trouxe para vocês dois momentos que para mim são de extremamente importância: um é do estudo de grupo focal, através do qual nós temos acompanhando a proposta de implementação. Eestou trazendo, exatamente, o relatório do grupo do primeiro ano do curso, que cursa, atualmente, um conjunto de atividades das Bases Biológicas e Sociais da Enfermagem: a biologia, morfologia, sociologia, antropologia e uma atividade interativa, que denominamos Concepções sobre a Universidade a Enfermagem e o Ato de Estudar e um outro grupo que cursa História e Processo de Trabalho da Enfermagem . Nesse grupo focal a gente tem a intenção de captar do aluno quais das competências ou habilidades e quais dos conceitos que estão desenhados lá no perfil, que estão sendo, efetivamente, construídos na realidade e, na visão dos alunos e até na constatação que a gente já teve no processo de estudo, quem , ou o quê, está contribuindo para isso dentro do processo de formação. Alguns depoimentos de alunos participantes desses grupos focais,nos ajudam a entender o que esta proposta é capaz de produzir, na prática. Perguntávamos o que eles conheciam sobre enfermagem antes de entrarem no curso e depois que estava cursando? Alguns colocavam que sequer sabiam algo, alguns queriam mesmo era fazer medicina ou outro curso, mas, que acabaram optando por enfermagem por algumas dificuldades que tiveram, ouros afirmavam não entender bem o que era disso. Agora, eles colocam que já perceberam alguma diferença entre o que vocês entendiam e o que sabem hoje. Em quê? Perguntamos. Nas funções do enfermeiro , diz Sara, aluna do segundo período. Hélio, do primeiro período do curso: na forma de atuação deles que é muito abrangente, na prevenção, no tratamento, 74 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. na educação, na administração e complementa Cadidja, também do primeiro período, na sua importância . E insistimos na pergunta. Importância para mais ou para menos? Ela coloca: para mais . Porque você acha que é mais? Ela diz: Pois é, estou falando que ele é como se fosse um articulador . Porque você acha que ele é um articulador? .... a gente percebe que na prática o enfermeiro funciona como se organizasse até o trabalho dos outros. Todos na sala queriam medicina achando que era mais importante, por exemplo, que o curso de enfermagem, hoje para mim está muito patente que é a mesma coisa, tanto faz. Eles colocam o tanto faz dizendo o seguinte: o trabalho do enfermeiro é cuidar, o trabalho do médico é curar, o curar está dentro do cuidar, portanto os dois tem a mesma importância . Perguntamos, então: se ele é um articulador desse processo de trabalho, o que identifica isso? Ela diz: o enfermeiro tem que saber trabalhar com pessoas, pois vai trabalhar o tempo todo com eles, ele é responsável dentro do ato de cuidar, que também colabora com o ato de cuidar, ele intermedia esses dois processos . Que outros processos você acha que faz parte do perfil do enfermeiro? Hélio diz: ensinar, administrar, administrar principalmente, a gente vê que dentro do hospital, ele é um grande administrador . Esses alunos estão no primeiro período do curso, ainda lhes faltam muito elementos e experiências que lhes permitam fechar esses conceitos, o importante é perceber que já no primeiro ano do curso o aluno é capaz de fazer uma leitura aproximada sobre o processo de trabalho de enfermagem e tentar identificar que há diferenças nesses processos. Tem também o ensinar .... aqui é a fala de Sara,... pois dentro de um hospital ele vai estar lidando com o auxiliar e com o técnico . Poderíamos imaginar antes que um aluno do primeiro ano do curso, no primeiro período, estaria imaginando que o enfermeiro iria trabalhar com o auxiliar e o técnico de enfermagem e que precisaria estar preparado para ensinar? Aqui também indagamos sobre a metodologia. Vocês sentem falta de conhecer o perfil logo no início do curso? Porque a gente não ensina o que é esse perfil logo no início do curso, trabalhamos nele 75 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. como processo de construção das competências Hélio diz não sei, porque se você tivesse simplesmente falado sobre o perfil, quando a gente estava assistindo aula de bioquímica e de anatomia, e quando a gente não tinha nenhum contato com ninguém, nós provavelmente não teríamos chegado a compreender,agora, pagando a SACI Saúde e Cidadania, não. Na SACI temos contato com outras pessoas e conhecemos melhor a história da enfermagem. Mas no começo do período quase tranquei Concepções, porque era entrevista com o reitor, com enfermeiro, mas vejo que você tivesse chegado e me dado um projeto com o perfil do enfermeiro, acho que não teria absorvido nada daquilo, pois aos poucos é que nós vamos absorvendo, no decorrer das aulas. A SACI a que eles se referem é uma daquelas atividades que, eu falei, é interativa, em comunidade, não é uma disciplina, é um projeto de extensão, trabalhamos com o UNI-Natal nessa parceria da SACI, é o Projeto de Ensino em Saúde e Cidadania . Os alunos colocam que sentem falta, hoje, quando outras disciplinas não usam a mesma metodologia. Até sentimos falta desse método em algumas disciplinas, como fisiologia que nós vemos tudo em teoria, mas na prática fica faltando muita coisa! Genética a gente não vê nada na prática! !magina tudo, tem que ter a mente muito fértil ! Então, eles fazem uma avaliação também do que tem funcionado, e do que não tem funcionado. Para encerrar , pois meu tempo já acabou, eu gostaria de ler aqui uma avaliação, essa feita num discurso oficial da aluna oradora da solenidade de colação de grau da primeira turma cursou esse novo currículo. Ela diz o seguinte: a proposta era tentadora, pois oferecia uma maior quantidade de disciplinas, aprovava uma nova metodologia. Enfim, se dispunha a ensinar aos novos enfermeiros a conhecer o ser humano como um ser complexo que não pode ser tratado de forma parcelada ou visto como uma patologia. Sendo assim, a grande maioria da turma fez a opção pelo novo currículo. Somos a primeira turma desse novo currículo e hoje podemos dizer que valeu a pena, pois, entendemos que abraçando esse propósito ajudamos a construir uma parte da História da Enfermagem no Rio 76 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Grande do Norte e podemos contribuir para o crescimento e valorização da profissão . E aí ela fala: das competências e do perfil (...) temos a consciência e o orgulho de podermos desempenhar técnicas com conhecimento científico, podermos planejar assistência de enfermagem, de sermos responsáveis pela capacitação, reciclagem, do nosso pessoa auxiliar E continua a discorrer sobre as habilidades até chegar à Educação continuada, ...somos uma nova geração de profissionais que pensa diferente e que irá tentar fazer diferente, queremos chegar junto ao paciente ouvir, compreender, planejar e cuidar, queremos ser reconhecidos pela nossa capacidade intelectual e pela competência profissional. Pretendemos mudar a cara da enfermagem, pois isso denominamos nossa turma: Construindo história e transformando paradigmas . Creio que esse discurso nos revela o quanto já caminhamos e também nos aponta por onde devemos continuar a nossa trajetória, mas, com certeza já estamos fazendo, na prática docente, aquilo que nos propúnhamos iniciar esse processo: trabalhar no sentido de construir as competências do enfermeiro para aprender, no sentido do saber, saber fazer , saber ser e, sobretudo, aprender a aprender ! Agradeço a atenção de todos e me coloco à disposição para a troca de idéias, durante o debate. Muito obrigada! 77 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O NOVO CURRÍCULO DA FACULDADE DE ENFERMAGEM/UERJ Benedita Maria Rêgo Deusdará Rodrigues8 Regina Lúcia Monteiro Henriques9 Maria do Carmo dos Santos Macedo10 Considerações iniciais Falar do Novo Currículo de Graduação em Enfermagem, implantado na UERJ, em 1996, nos leva a destacar alguns episódios históricos que configuram a mudança necessária para que se efetivasse tal implantação. A mudança curricular para a Faculdade era uma necessidade emergente cujo movimento interno foi bastante intenso a partir dos três segmentos que a constituem: os docentes, os discentes e os servidores técnico-administrativos. A década de 80 foi fértil em transformações com o movimento sanitário e a mobilização da sociedade organizada para as mudanças que se faziam necessárias no setor saúde. Para atender as novas perspectivas que surgiam nesta área, fazia-se necessário investir em uma mudança de paradigma na formação dos profissionais de saúde. A Enfermagem, ao longo da década de 80 esteve envolvida em amplas discussões de âmbito regional e nacional lideradas pela ABEn. Na Faculdade de Enfermagem da UERJ, naquela época, vinha acontecendo um movimento interno com a participação de alguns professores no Projeto Larga Escala, ora como alunos e ora como instrutores de seus cursos, o que de certa forma já traziam algumas 8 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Bacharel em Filosofia. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Materno Infantil, integrante do Programa de Mestrado e Vice-Diretora da Faculdade de Enfermagem/UERJ. 9 Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora Assistente do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública, integrante do Curso de Graduação e Diretora da Faculdade de Enfermagem/UERJ. 10 Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora Assistente do Departamento de Fundamentos de Enfermagem, integrante do Curso de Graduação e Coordenadora de Ensino de Graduação da Faculdade de Enfermagem/UERJ. 78 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. mudanças para o contexto da Faculdade. As inquietações com as estratégias de ensino-aprendizagem, apreendidas naqueles espaços como algo que possibilitava uma maior contextualização do processo de ensinar em saúde aliado à educação propriamente dita, mobilizavam esses professores em busca da adequação de uma nova metodologia da educação para dar conta desta realidade que se apresentava. A preocupação principal estava centrada no novo perfil profissional tendo em vista o movimento político da saúde proposto pela VIII Conferência Nacional da Saúde e a implantação do Sistema Único de Saúde SUS cujo foco de ação caracteriza-se pela promoção da saúde. Estas discussões iniciais deram base para a concretude desta mudança quando, em 1991, a professora Maria Therezinha Nóbrega da Silva ao candidatar-se à direção da Faculdade apresenta como pauta principal da sua campanha para a gestão 1992 a 1996, a Reforma Curricular da Faculdade de Enfermagem. Nesta época, aproveitamos o momento para promovermos a mudança, não apenas da estrutura curricular, mas também para a adoção de uma metodologia que desse conta desse novo perfil profissional capaz de atender e realizar as diferentes articulações entre teoria, prática, ensino, saúde e trabalho, dentre tantas outras questões que se apresentavam. O processo de mudança A Análise Institucional foi o ponto de partida, juntamente com várias oficinas temáticas, utilizando dinâmicas de grupo com a participação de todos os segmentos que constituem a comunidade interna da Faculdade, além da participação de Enfermeiros do Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ e dos Serviços que são utilizados como Campos de Estágio para os graduandos. O percurso metodológico que pautou o Planejamento Estratégico teve como referências o seguinte: Implementação / complementação da capacitação pedagógica dos docentes; 79 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Oficinas de trabalho específicas por necessidades; Levantamento /construção do Perfil Profissional atual e o desejável a partir da identificação dos desempenhos e comportamentos profissionais ensinados; Sistematização dos desempenhos, comportamentos, habilidades e princípios; Seminários sobre: Teoria Crítica da Educação; Pedagogia da Problematização; Currículo Integrado; Processo de Trabalho em Enfermagem / saúde; Perfil Epidemiológico e Integração Educação / Trabalho; Identificação das áreas que compõem o Currículo Integrado do Curso de Graduação em Enfermagem; Localização das disciplinas afins dentro das áreas, articulando-as e deslocando-as para o mesmo período; Articulação entre as disciplinas profissionalizantes; Estruturação da rede de conhecimentos por área , através da identificação e sistematização dos princípios técnicocientíficos, políticos e filosóficos e os conceitos-chave mais específicos e gerais; Discussão ampla e Capacitação Pedagógica dos professores de outras unidades que participam da formação do enfermeiro; Articulação dos conteúdos do Ciclo Básico com o Ciclo Profissionalizante. A mudança curricular propriamente dita se inicia com a preocupação do corpo docente sobre a Missão da Faculdade de Enfermagem da UERJ cujo enfoque diz respeito a: Que linha de Educação poderá contemplar uma estreita relação entre o processo de formação e trabalho em Enfermagem? Que linha de educação poderá atender as demandas de Saúde da população e aos princípios contidos na Lei Orgânica de Saúde? 80 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Que concepção filosófica formará o enfermeiro dotado de competência técnico-científica e política, para intervir no quadro epidemiológico do país? Que processos metodológicos e estrutura curricular propiciarão a articulação dinâmica entre ensino-trabalhocomunidade, teoria e prática? Que corrente pedagógica terá o aluno enquanto sujeito que aprende ativamente objetos relevantes para a prática profissional, mediativado pelo outro sujeito, o professor? Para responder a essas questões, uma concepção essencialmente democrática que regate o conceito e a prática de cidadania e permita a crítica e a reflexão se traduz na Teoria Crítica da Educação com sua Metodologia Problematizadora. MISSÃO Compreensão conjuntural do país ENFERMEIRO Atual contexto de saúde META Processo de formação e de trabalho em enfermagem Adoção da Pedagogia da Problematização 81 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A partir daí algumas indagações se fizeram necessárias: E o Currículo, o que é? Que Currículo é esse da Faculdade de Enfermagem/UERJ? Um Currículo que represente o plano pedagógico institucional, organizado com uma estrutura e metodologia que contemple os caminhos para estabelecer as relações sujeito-objeto, conteúdo-forma, dedutivo-teórico e ação-reflexão-ação apontando para o perfil profissional com suas habilidades, conhecimentos, atitudes e desempenhos concretos. Estrutura esta que caminha em diferentes movimentos e tem como marco os limites da realidade social, histórica, política e econômica; a história da categoria Enfermeiro de uma dada sociedade, seja ela qual for e no nosso caso especificamente da sociedade brasileira com enfoque nas questões epidemiológicas do próprio Estado do Rio de Janeiro; e a visão do mundo e as formas de aprender e ensinar do enfermeiro construindo sua concepção pedagógica apoiada pelo conjunto de crenças de como se ensina e se aprende. Neste sentido, a história de vida sócio-econômica e cultural juntamente com os esquemas mentais de apropriação da realidade, que se constitui no objeto da aprendizagem, são fatores determinantes de um sujeito-aluno que atua profissionalizando na construção e reconstrução da realidade social e profissional. Deste modo, a articulação teoria prática, reflexão ação a partir da realidade do sujeito que aprende para a realidade concreta, daquilo que se apresenta como de fato uma situação a ser resolvida pelo enfermeiro, pode ser aprendida por sucessivas aproximações ao objeto, respeitando os padrões sócio-culturais, visualizando a realidade como uma totalidade, propondo soluções para as suas situações, para os seus problemas. A estrutura curricular se apresenta em três Áreas Curriculares Simultâneas: Área Assistencial aborda os aspectos técnicocientíficos orientadores da ação de enfermagem. Área Fundamental apresenta as diretrizes que asseguram as bases históricas, filosóficas, 82 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. administrativas e pedagógicas que fundamentam e guiam a ação. Área das Bases Biológicas e Sociais representam as ciências que a enfermagem necessita incorporar para a sua ação. A Área Fundamental está estruturada com as seguintes subáreas do conhecimento; a política de saúde, como a sub-área 1C da área fundamental e assim por diante, história da enfermagem e ética profissional; a ética social; administração do processo de trabalho e assistência da enfermagem; pesquisa incluindo os conteúdos iniciais de pesquisa quantitativa no primeiro período e mais tarde a qualitativa no quinto período; educação e enfermagem. Cabe destacar que a elaboração da Monografia para conclusão do Curso de Graduação se dá durante o Internato com o Projeto no 8º período e o desenvolvimento para o Relatório Final no 9º período quando acontece a sua defesa pública com banca examinadora constituída de três professores podendo participar desta composição convidados de diferentes áreas do conhecimento e profissionais da assistência. Na área assistencial nós temos: a saúde no trabalho e meio ambiente; promovendo e recuperando a saúde mental; a saúde do adolescente, do adulto e do idoso e o mundo do trabalho; atenção integral a saúde da criança e da mulher. As bases biológicas englobam os conteúdos do antigo ciclo básico com as sub-áreas de antropologia filosófica, genética, bioestatística dentre outras. Os principais eixos temáticos para esta nova construção, rompendo a cadeia da transmissão das doenças, um dos principais eixos, promovendo e recuperando a saúde mental, rompendo o ciclo das doenças crônico degenerativas, o processo de saúde e doença e sua relação com a vida trabalho, rompendo as causas que leva ao desequilíbrio da saúde ou a ameaça a vida, promovendo e recuperando a saúde dos grupos humanos rompendo com as questões tradicionais avançando para os princípios da promoção, prevenção e recuperação da saúde. 83 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O novo currículo da faculdade de enfermagem, foi recentemente aprovado por unanimidade pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura ( CESEPE )/UERJ, em dezembro de 2001, com elogios e reconhecimento do órgão deliberativo da UERJ. Hoje, a Faculdade de Enfermagem imbuída desta característica inovadora nos possibilita ousar abraçando outras propostas inovadoras como é o caso do Curso de Especialização à Distância para os educadores inseridos no PROFAE, Este, foi o primeiro curso de Especialização à Distância no âmbito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Considerações finais Queremos destacar, que temos tido um esforço enorme para realizar um acompanhamento dos aluno, com uma avaliação sistemática do que vem acontecendo e uma proposta de pesquisa desse acompanhamento, mas as respostas dos egressos da faculdade têm nos mostrado que as coisas vão dando certo: a aprovação nos concursos públicos para o Estado, o Município e o Federal; nos concursos de residência; em seleção de mestrados e outros. No que se refere ao mestrado nós já fomos surpreendidos com aluno aprovado sem ter concluído a Graduação, quer dizer, ainda realizando as atividades do estágio supervisionado. A carga horária da Graduação é de 5.850 horas distribuídos em nove períodos letivos, dos quais os dois últimos semestres se dão sob a modalidade de Internato com uma carga horária de 1.080 horas em cada semestre. Uma outra característica importante e devemos ressaltar é que nós temos uma comissão de currículo que acompanha o desenrolar das atividades e se reúne semanalmente para avaliar as questões implícitas do próprio currículo e aquelas situações que precisamos reforçar. Neste sentido, tivemos várias oficinas no decorrer do ano passado e já com algumas articulações para o próximo semestre, para dar conta dessa estrutura que, aparentemente parece fácil mas nós 84 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. sabemos que não é tão simples assim, ele foi construído e foi acontecendo gradativamente, mas para que isso acontecesse essa Comissão esteve presente o tempo todo. Na construção daquelas oficinas iniciais, nós trabalhamos com todos os segmentos docentes, discentes e servidores técnicos administrativos, porque eles precisavam acreditar e saber porque mudar e entender o funcionamento de uma estrutura nova e diferente do que vinham até então realizando. A Comissão de Currículo é composta pela diretora, vicediretora, coordenação de ensino de graduação, os quatro chefes de departamento, um representante de cada sub-área do conhecimento e a representação discente, o que para nós é fundamental. Temos trabalhado com muita satisfação, mas também queremos dizer que as dificuldades às vezes acontecem. O currículo está aí, já formamos seis turmas com esse novo currículo e cabe sinalizar que inicialmente nós trabalhamos com os dois currículos ao mesmo tempo, caminhávamos com a construção do novo e tínhamos o antigo currículo, acontecendo. Apesar das dificuldades no processo e de sabermos que ainda não podemos considerar o movimento de mudanças acabado, adquirimos a certeza de que o caminho da construção compartilhada e co-responsabilizada tem gerado uma proposta forte e capaz de superar obstáculos, vencer desafios e seguir se reconstruindo e redescobrindo. 85 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A TRAJETÓRIA DA CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO INTEGRADO NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA Rossana Baduy11 O objetivo dessa apresentação é relatar a trajetória de construção do currículo integrado do curso de enfermagem iniciado em 2000 na Universidade Estadual de Londrina (UEL) bem como das estratégias utilizadas para a sua construção. O curso de enfermagem da UEL foi criado em 1972 e até 1992, tinha um currículo tradicional, composto por disciplinas, com fragmentação entre o ciclo básico e o ciclo clinico, desarticulação entre teoria e prática, era utilizada a pedagogia tradicional com uso intenso de aulas expositivas para a transmissão de conteúdos, com uma visão biologicista e curativa do cuidado em saúde. Havia uma relação entre academia, serviço e comunidade, mas era uma relação muito frágil e caracterizada pela utilização dos serviços e da comunidade para aprendizagem do aluno. Durante o período referido acima ocorreram mudanças mais caracterizadas como reconstruções da grade curricular, do que efetivamente uma mudança do projeto político pedagógico do curso. Em 1992, a Universidade Estadual de Londrina desenvolvia o regime seriado em todos os cursos. Além das disciplinas curriculares eram desenvolvidas atividades complementares de ensino, monitorias, algumas disciplinas especiais, projetos de extensão, projeto de pesquisa e projetos de ensino. Já havia neste período um colegiado específico do curso de enfermagem, pois anteriormente existia apenas um colegiado do Centro de Ciências da Saúde composto por cinco cursos: Odontologia, Farmácia e Bioquímica, Medicina, Fisioterapia e Enfermagem. O colegiado dos cinco cursos dificultava o aprofundamento da discussão das questões específicas de cada curso. Portanto desde o início da construção do atual projeto político pedagógico, havia um colegiado por cada curso, esse fator foi bastante 11 Professora da Universidade Estadual de Londrina - UEL 86 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. importante no cenário institucional por representar um espaço de reflexão, análise e discussão sobre a formação de enfermeiros que realizada pela UEL. No Centro de Ciências da Saúde, desde 1992 existia Projeto UNI (Uma Nova Iniciativa na Educação dos Profissionais de Saúde União com a Comunidade) com financiamento da Fundação Kellogg. Esse projeto contribuiu significativamente neste processo, pois alavancou as discussões internas sobre as necessidades de mudanças na formação dos profissionais de saúde, enfatizando a relevância social das profissões, seu compromisso ético e seu conteúdo humanístico. Neste período foram formados, além do Núcleo de Saúde Coletiva que já existia, os Núcleos de Apoio Pedagógico, de Epidemiologia Clínica, de Informações em Saúde, que eram núcleos de apoio às propostas de mudança dos projetos políticos pedagógicos dos cursos do CCS. Existia, portanto, apoio da direção do centro, para uma maior reflexão sobre os currículos que estavam sendo desenvolvidos pelos cinco cursos e fizessem mudanças no sentido. Dois cursos fizeram essa mudança ampla, o curso de medicina e o curso de enfermagem. Os outros cursos têm discutido os seus currículos, têm feito algumas mudanças pontuais, mas não efetivaram um novo projeto político pedagógico. O INTERNATO DE ENFERMAGEM Em 1992, foi criado o internato de enfermagem. A criação do internato de enfermagem já foi um momento importante, porque houve uma aproximação com as enfermeiras do serviço, onde foi discutido o planejamento do internato, as atividades que seriam desenvolvidas foram definidas em conjunto com as enfermeiras do serviço, tanto das unidades de atenção básica, como das unidades hospitalares. Caracterizou-se como um momento importante de integração com o serviço, pois os enfermeiros planejam, acompanham e avaliam o internato e os internos em conjunto. 87 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O internato é um momento em que a universidade contribui de forma mais efetiva nos serviços e as avaliações, realizadas anualmente, têm demonstrado a satisfação do serviço e em alguns casos da comunidade com as internas. O internato foi criado, com a duração de um semestre, sendo metade do internato desenvolvido em área hospitalar, em hospitais de nível secundário e hospital universitário e outra metade desenvolvida em atenção básica, tanto em zona urbana como zona rural. Também tem sido desenvolvida em serviço de internação domiciliar, maternidade, portanto, além de possibilitar a efetiva integração com o serviço, também levou à diversificação de cenários de aprendizagem, criando novos espaços para atuação e formação do enfermeiro. O CURRÍCULO DE TRANSIÇÃO Em 1996, foi criado o currículo chamado de transição, ele teve como um ponto forte, como uma fortaleza, criar experiências de interdisciplinaridade. Foram realizados encontros com professores por série, juntos eles discutiam os conteúdos que eram trabalhados com o aluno naquele ano. Esta atividade resultou numa correlação e aproximação das disciplinas na grade curricular. Foi muito interessante para os professores do básico, e do profissionalizante, pois fomos abrindo a caixa preta das disciplinas, um foi contando para o outro o conteúdo da disciplina como fazia dificuldades e fortalezas. E a partir daí, no currículo de transição, foram feitas adequações de conteúdos mesmos, série por série, e foram criados os seminários temáticos, onde eram escolhidos temas pertinentes a cada série, para que cada disciplina trabalhasse a partir do seu enfoque aquele tema e ao final ano eram realizados seminários temáticos, onde os alunos apresentavam o tema com os diversos enfoques abordados pelas disciplinas durante o ano. Houve fusão de algumas disciplinas, já nesse currículo de transição. 88 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Então quando posteriormente optou-se pelo currículo integrado, os docentes já se conheciam, havia uma integração entre os professores envolvidos no curso. Ressaltando que no processo de integração também ocorrem conflitos e negociações. Esse momento possibilitou a aproximação dos professores do básico com os professores do básico, do básico com os professores do clínico, dos professores do clínico com os professores do clínico, conhecendo os conteúdos e as estratégias de ensino e aprendizagem utilizadas. O currículo de transição representou um período de amadurecimento e conscientização. E esse período de amadurecimento e conscientização possibilitou e fundamentou toda a mudança para o currículo integrado. Na verdade houve a criação de espaços coletivos, com a participação de professores do ciclo básico e clínico, alunos e enfermeiros do serviço, tanto serviço municipal ou de atenção básica, como serviço hospitalar. Esse currículo de transição só teve quatro turmas, em 2000 iniciou o currículo integrado. Então ao mesmo tempo em que o currículo de transição era implementado, através de oficinas, capacitações, de momentos de aproximação, já estava em construção o currículo integrado. E um momento de grande concentração dessa construção, foi no ano de 1998, 1999, quando foi definida a proposta político pedagógica do currículo integrado. A DIVERSIFICAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE ENSINO CENÁRIOS E DE Foram adotadas inicialmente várias estratégias de ensino, não se trabalhava mais somente com a transmissão de conteúdos. A diversificação de cenários de aprendizagem da prática com a efetiva participação dos enfermeiros do serviço que ocorria principalmente no internato de enfermagem, em nível de atenção básica tanto na zona urbano como na rural, trabalhando em hospitais 89 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. regionais de nível secundário, maternidade municipal, hospital universitário, sistema de internação domiciliar desencadeou uma redefinição dos conteúdos essenciais e já havia uma inserção precoce do aluno na prática que iniciava desde o primeiro ano através de projetos especiais de ensino, O COLEGIADO DE ENFERMAGEM A organização do trabalho, como todo esse processo foi ordenado pelo colegiado de curso e pelo grupo gestor, que é uma comissão ampliada do colegiado de curso com mais algumas pessoas. Então, sob a coordenação do colegiado foram definidos em oficinas de trabalho, qual(is) a filosofia do cursor? Qual(is) os conceitos de ser humano? O conceito de enfermagem? Qual o perfil do enfermeiro? Foram criados grupos de trabalho com momentos de socialização dos produtos com todos docentes e enfermeiros do serviço. Valorizou-se muito a construção conjunta, embora com apropriações conceituais e práticas diferentes entre os docentes. COMENTÁRIOS FINAIS A decisão, já no final, com o projeto político pedagógico quase pronto, a decisão não foi fácil, vamos ou não vamos, o sentimento de que era necessário mais tempo estava presente, não ele não amadureceu direito , era um sentimento de medo, de insegurança perante uma situação nova, insegurança perante a infra-estrutura da Universidade que seria a mesma. O processo de mudança é complexo, porque ele mexe com status de poder dos atores envolvidos no processo, ele democratiza muito esse status de poder e você passa a exercer um poder compartilhado entre os diversos atores envolvidos. Portanto, não é muito simples, é necessário enfrentar diferenças, buscar consensos possíveis e aceitar e reconhecer os dissensos. 90 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Eu queria deixar como mensagem que, os nossos esforços devem desafiar as impossibilidades, devemos lembrar que as grandes proezas da história foram conquistas daquilo que parecia impossível. Eu acho que todos nós tivemos algum momento de achar que isso seria impossível, e percebemos que estão sempre presentes movimentos fundamentais: movimento de participação, movimento do conflito, o movimento do poder e de divisão de poder. A nossa expectativa não é que aluno transforme o mundo, mas que aprendam na prática para transformar alguma parcela da realidade. Enquanto transforma-se a si mesmo em seu campo de formação acadêmica 91 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. MESA REDONDA DESAFI(N)ANDO AS MUDANÇAS: A ABORDAGEM POR COMPETÊNCIAS E O CURRÍCULO INTEGRADO DESAFIANDO E DESAFINANDO A EDUCAÇÃO Lea Depresbiteris12 Bem, eu vou trabalhar aqui com o meu amigo Francisco (pessoa que estava operando o data show), e vou pedir a ajuda de algumas pessoas para dialogarmos. Eu adoro o Piauí, já estive aqui no mês passado e vou voltar em outubro para participar da banca de uma tese. Gosto dos aspectos culturais do Piauí, por exemplo, a famosa cabeça de cuia . Podemos começar? Bem, o tema que nós vamos trabalhar hoje pela manhã é o das mudanças educacionais. Vamos começar com competências. Como estamos falando de competência, que está sempre se desenvolvendo, nós nunca podemos dá-la por terminada, vou contar uma piadinha, porque acredito ser importante aliar os conceitos com a prática. Um dos principais desafios para mim, hoje em dia, é aliar a teoria e a prática. Na área de vocês, aliar essas duas dimensões é algo muito espontâneo, muito natural. Existem algumas áreas em que isso é mais difícil. Mas não podemos negar que o principal desafio, hoje, de todas as áreas, um desafio da sociedade, mesmo, é ser coerente com o discurso. Na área de currículos, é muito complexo você planejar um currículo e aplicar esse currículo em sua essência. A piada que meu amigo mineiro que a contou diz ser verdadeira, o que eu duvido, é assim: Um mineiro, bem simples, ia à missa todos os domingos e via o padre falar e fazer o sinal com o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O mineiro escutava e fazia alguns gestos que não tinham nenhuma relação com o sinal correto de colocar as mãos no rosto, no 12 Consultora em Educação - SP 92 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. peito, do lado esquerdo e direito dos ombros. No outro domingo o mineiro escutava e via o padre fazer o sinal, mas fazia outros gestos totalmente diferentes. Domingo após domingo, o padre olhava o mineiro fazendo aqueles gestos tresloucados e ficava meio incomodado, até que um dia perguntou ao mineiro: - Escuta aqui meu filho, você não sabe fazer o nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo? - Olha, seu padre, o discurso eu sei mas esparramar na cara eu não sei não. Com base nesta história, eu acho que nós, como acadêmicos, como teóricos, temos que aprender a esparramar essa teoria toda na prática educativa, Então vamos lá. O tema é educação e vocês propuseram o tema - desafiando e desafinando a educação. Eu imediatamente associei com a idéia de que todos nós estamos tentando compor uma melodia educacional, na qual as coisas não estejam algemadas em princípios, em normas. Claro que na Saúde isso deve ser seguido com maior cautela, pois trata-se de uma área bastante delicada, de obediência de certas normas. Contudo, isso não pode limitar a autonomia e a qualidade do trabalho e, principalmente, as relações de trabalho. Eu acho importante, então, esse desafinando que tem a finalidade de analisar os desafios, que talvez nos impossibilitem desafinar em notas muito cruciais, em algumas notas fundamentais, dentre as quais, por exemplo, o que todos nós esperamos da educação. Eu acho que é essa uma pergunta essencial. Eu vou falar um pouquinho de integração, porque um dos assuntos também é o de currículo integrado, vou comentar outro grande desafio de integrar as áreas entre si, nas idéias de transdisciplinaridade e interdisciplinaridade. Além disso, há o desafio de integrar docentes de uma mesma escola, membros de uma mesma escola e, principalmente, integrar escola e comunidade. A palavra competências é extremamente polissêmica, tem vários significados. Hoje em dia, se vocês perguntarem para várias pessoas, cada uma vai dar uma definição de competência. 93 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O problema se agrava, pois existem varias outras palavras atreladas ao termo competência: conhecimento, habilidades, capacidades, aptidões. Eu percebo que os professores têm muitas dificuldades em verificar o qual é, na verdade, a diferença entre competência e capacidade. Para mim, a diferença é a seguinte: competência é aquilo que você vai desenvolvendo ao longo de um processo e a capacidade é o alicerce, a base. Por exemplo, se eu sou uma professora e vou dar o tema - pontos cardeais - eu tenho um conteúdo. O conteúdo são os pontos cardeais e subcolaterais. As competências a desenvolver são as de orientação espacial: levar ao aluno a localizar objetos, a se localizar, enfim saber como se posiciona no mundo. As capacidades estão relacionadas ao desenvolvimento de certas habilidades, como, por exemplo, saber usar referências. Entra até muito do desenvolvimento de nossa lateralidade. Contudo, como aprendemos isso na escola? De uma maneira mecanizada. Quando eu era criança, minha professora amarrava um barbantinho na mão direita para que eu decorasse onde estava essa mão. No dia-a- dia, infelizmente, nos não desenvolvemos muito as noções de orientação espacial, sobretudo de lateralidade. O corpo da gente é uma coisa ainda muito esquecida. Bem, voltando às competências e capacidades, a competência neste caso, seria ter os saberes que necessitamos para nos localizarmos e o saber fazer, ou seja, efetivamente nos localizarmos usando esses saberes. Por exemplo, se eu perguntasse rapidamente: esse hotel em que nos encontramos, está localizado ao Norte, ao Sul, ao Leste, ou a Oeste, o que vocês responderiam? (As pessoas indicam diferentes direções com as mãos) -Viram? A gente tem dificuldades para se localizar prontamente. ( A professora Léa pergunta para uma senhora chamada Junia) - Por que a senhora tem tanta certeza de que é nessa direção? - Por que sou piauiense e morei aqui 10 anos, então eu sei me situar muito bem. (A professora Léa continua...) 94 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. -A Junia tem certeza porque ela conhece o contexto, ela observou e sabe as referências. - Alguém discorda do ponto de vista da Junia? - Não Vocês percebem que a competência de se localizar está relacionada a algumas capacidades: observar, saber a referência, usar a lateralidade? Conhecimentos que foram construídos historicamente e que aplicamos na prática? Para muitas pessoas, talvez localizar-se não seja uma competência diretamente relacionada ao seu trabalho, à sua profissão, mas vocês concordam que para vivermos é uma competência essencial? A competência de se localizar é importantíssima para a aprendizagem significativa. Eu trabalhei com mecânicos e eles tinham muito problemas de projetar a peça a ser construída (três dimensões) em uma imagem mental numa superfície de duas dimensões. Analisando o porquê, eu percebi que eles não tinham essa competência de se localizar espacialmente. Isso é só para mostrar que esse assunto de competências traz implicações muito sérias para a nossa prática educacional. Bem, o primeiro desafio que eu acho que a gente poderia pensar ao tratar do currículo integrado é saber do que nós considerando como competências. Será que todos nós estamos tendo uma idéia do que é isso? Ninguém vai ter a verdade nas mãos, tudo está em um processo muito interessante de construção. Se a gente recorre ao Ministério do Trabalho tem-se uma concepção, se recorrermos ao Mistério da Educação temos outra, se olharmos para as instituições de educação temos outras concepções, enfim essas coisas todas estão em total ebulição. Claro que sempre se falou em competências. Ha 30, há 40 anos atrás já se falava nisso, mas nós temos que entender quais as implicações políticas e sociais de tomar um conceito sem considerá-lo em todas as suas nuances. 95 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Um outro aspecto que eu considero fundamental, nesse tema, é o de atentarmos para o perigo de considerar a competência como sinônimo de atividade de trabalho. Por exemplo, tomemos uma atividade da área de vocês: o cateterismo vesical. Claro que é uma atividade nobre, importante, mas é uma atividade do perfil profissional. Falar em currículo por competências exige uma visão mais ampla. Precisamos traduzir essa atividade educacionalmente para o currículo, ou seja, estruturar os saberes, práticas e atitudes que ela envolve. O que tenho visto, atualmente, é que alguns currículos tomam o perfil profissional e o transformam imediatamente no currículo. Então o que acontece? Nas áreas em que eu trabalho, parecem currículos voltados para o treinamento e não para a formação educacional para uma profissão. Assim, temos que pensar no seguinte: que a competência é a nossa capacidade para mobilizar recursos cognitivos para atuar em determinadas situações. Essa capacidade de mobilizar recursos acontece, não só numa área do saber fazer, mas numa área de conhecimentos mais teóricos. Eu tenho estudado um pouco da área de Neurociências, porque eu gosto muito e acho que o cérebro uma coisa maravilhosa. O que tem acontecido nessa área? A gente percebe que o conceito de inteligência como um "dom" da natureza está sendo muito questionado e está sendo considerado como ultrapassado. Hoje defende-se a idéia de que todos nós, em qualquer idade, em qualquer raça, em qualquer etnia, temos possibilidades de desenvolver competências. Eu, por exemplo, depois de velha estou fazendo essas transparências, suo, canso, mas aprendo, porque considero que se desejo expressar uma idéia, é melhor ter competências para tal. Ando me baseando muito nas idéias do psicólogo israelense o Feuerstein. Sua teoria defende a idéia de não somos competentes em tudo, temos competências em áreas diversas, mas podemos desenvolver qualquer tipo de competência se tivermos condições e oportunidades. 96 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Por exemplo, quando eu falo de orientação espacial muitos homens, por exemplo o meu marido, acham que mulheres não sabem ler mapas. Isso não é verdade. Existe até uma certa explicação atávica sobre a maior capacidade dos homens de se localizarem espacialmente. Nós mulheres, na antigüidade, ficávamos nas cavernas, enquanto os homens saiam para caçar, pescar. Nos genes dos homens isso ficou mais desenvolvido do que nos genes das mulheres, mas isso não quer dizer que não sejamos capazes de desenvolver essa capacidade. Ainda falando de competências, não só para o trabalho, mas também para a vida em sociedade. Não basta termos competências nas áreas técnicas, se também não formos competentes socialmente. A grande preocupação na escola de hoje é formar em contextos onde a sociedade deforma. Como é que nós podemos integrar essas duas instâncias? Eu ouvi dizer que na área de vocês é profundamente difícil essa prática da teoria na sociedade, porque muitas vezes as condições de trabalho impedem algo que vocês gostariam de realizar mais idealmente. E aí nós entramos em outra questão do currículo integrado. Parece que é uma questão meio ligada ao um jargão, mas ela é importante que é a da inclusão. Cada um de nós pode desenvolver a inclusão. Se eu, na minha sala de aula ou se na minha ação educativa, estiver trabalhando com uma idéia epistemológica de ser humano como aquele que acredito vá se desenvolver eu ajo incluindo, caso contrário não. Eu li uma reportagem que saiu na Folha de São Paulo (jornal de grande circulação no Estado de São Paulo), que até na hora do parto, a mulher negra é discriminada. Eu não sei da veracidade da pesquisa, mas isso nos assusta, porque é na área da Saúde, que deveria incluir e não excluir. Creio que devemos encarar o problema de desenvolvimento de competências de modo mais amplo. Eu me lembro de que quando ouvi essa palavra num Congresso na Argentina, em 1985, os participantes ficaram muito bravos. A palavra competir, em espanhol, quer dizer 97 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. lutar, e como estávamos no começo do neoliberalismo a competência era expressa mais na idéia de desenvolver os excelentes, para que eles competissem no mercado de trabalho. Foi aí que percebi o perigo de pensar em competência apenas para os excelentes e não como um direito de todo cidadão em ser auxiliado no seu desenvolvimento. Eu queria só colocar que quem vai trabalhar com a idéia de competências forçosamente tem que conhecer um pouco da história do trabalho. A idéia de competência vem substituir uma noção que até hoje é consagrada, que é a qualificação. Muito rapidamente, porque aqui não vai dar tempo para aprofundar esse tema, só desejo mostrar que a qualificação era a idéia de desenvolver um perfil de atividades de um posto de trabalho no currículo. Na sociedade industrial essa idéia deu conta, mas nessa nova sociedade de automação, de rápido e complexo desenvolvimento tecnológico, onde existe a redução de emprego, é forçoso pensar em novas maneiras de formar trabalhadores. Contudo, algumas noções devem ficar muito claras. Dizer que uma pessoa tem que ser polivalente é bom, mas não só para melhorar as condições do empregador, que gosta do polivalente porque ele faz o trabalho de muitos trabalhadores, com menor salário. Na verdade, a polivalência tem esse lado perverso. Então é bom ser polivalente, mas também porque com essa característica posso arrumar mais facilmente um trabalho. Outro perigo é a dimensão individualista do que é formar para competências. Exigir que o trabalhador tenha autonomia e iniciativa é uma idéia um pouco individualista, querendo-se provar que cada um, se não subir na vida, é responsável por seu destino: não teve competência para isso. O lado bom das competências é que elas mobilizam, integram saberes, saber- fazer e saber -ser. Isso é positivo, porque o educando deve ser visto integralmente. Deve-se considerar a formação, não como apenas prática de atividades, mas também do saber-ser, isto é das atitudes, que na área da Saúde me parece fundamental. Soube de um caso que achei muito bonito Dizem que uma auxiliar de enfermagem, ou enfermeira, não me lembro bem, estava 98 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. trabalhando com um senhor hanseniano e ele não queria tomar remédios, porque ele tinha uma religião que não permitia isso. Ele falava assim - "Deus vai me salvar". A enfermeira respeitou a posição dele, mas foi devagarinho tentando achar uma estratégia de fazer com que ele tomasse o remédio necessário. Daí ela teve uma brilhante idéia e disse ao senhor: Olha, eu acho que Deus realmente vai salvar o senhor, mas que tal pensar que eu sou uma emissora de Deus para dar um remédio que possa curá-lo? Foi assim que ela conseguiu alcançar seu intento. Eu cito esse exemplo para mostrar que não adianta só a técnica, não adianta só o saber, é preciso o saber-ser. Cito isso para mostrar que, antes de falar de currículo integrado, a gente tem que pensar na concepção de trabalho, no que desejamos formar. Será que nós estamos encarando a profissão como alguma coisa, como um posto de trabalho, uma profissão como qualquer outra? Eu trabalhei no SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) durante muito tempo e, infelizmente, percebi que muitas pessoas não mudaram a concepção de trabalho manual do início de sua criação, ou seja, uma concepção de trabalho, como algo para os menos favorecidos. Notemos que a primeira escola profissional do Brasil foi uma escola para órfãos. Então o trabalho manual era para quem não dava para mais nada. Eu ouvi muitas mães falarem - " Ai graças a Deus que meu filho entrou para o SENAI, se não ele iria para a FEBEM (órgão de menores infratores de São Paulo) Então, essa idéia de que o trabalho manual é um trabalho menor, menos nobre, ainda perdura em muitas instituições, que separam áreas consideradas mais nobres e as áreas menos nobres. Ainda falando em currículo integrado temos que enfrentar o desafio de planejar e avaliar em vários níveis. O planejamento educacional está mais voltado para a filosofia, as políticas institucionais. O planejamento curricular diz mais respeito à escola e o planejamento de ensino ao professor. 99 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. No planejamento curricular, a integração é prevista na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação. O Ministério do Trabalho, por outro lado, traz uma concepção de competências também integradora, definindo competências como um conjunto de saberes, saber-fazer e saber-ser. No nosso exemplo do cateterísmo, qual seria um saber imprescindível? As técnicas são, por exemplo, um saber fundamental, - Qual seria um saber- ser, uma atitude? - O dialogo com o paciente, conversar, manter a privacidade do paciente, são atitudes. (Uma pessoa da platéia responde) - Perfeito, essa relação de diálogo é fundamental. Me contaram que quando se vai ministrar uma vacina, tem-se que avisar a mãe sobre os possíveis efeitos e fica sob responsabilidade da mãe decidir se a criança vai tomar ou não a vacina. Outro desafio do currículo integrado é a abordagem educacional que devemos seguir. Eu digo que, com a experiência, percebemos, que não é só uma teoria que dá conta da educação. São várias. Nós não podemos ser ortodoxos. Eu sofri isto na carne, As pessoas fazem um patrulhamento ideológico com os professores. Ai de você se não for construtivista, ai de você se não seguir esse autor! Isso gera a formação de grupos, de clãs, e a ciência tem que ser democrática. Ela deve permitir a explicitação de conflitos. O próprio Piaget dizia que é do conflito cognitivo que nasce a discussão, a motivação para aprender. O construtivismo puro na formação profissional pode acarretar alguns problemas graves. Eu não posso deixar um aluno construir os procedimentos de mexer com um equipamento perigoso, que um operário perca um dedo na produção se ele fizer um movimento diferente do que é proposto. Então, tem hora que você tem que ser mais absoluto no sentido da exigência técnica, e tem hora que você vai querer construir, os saberes, tudo com bom senso. 100 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Acontece que os saberes, o saber-fazer e o saber-ser estão relacionados não só ao trabalho específico, mas às relações que ocorrem no trabalho. Eu estou tentando entender um pouco mais sobre a Saúde. Quando a gente não é da área presta mais atenção a certos detalhes. Eu fiz uma cirurgia recentemente e pude perceber as relações bem hierárquicas nessa área: o auxiliar de enfermagem, a enfermeira e o médico têm atribuições extremamente bem demarcadas. Quando eu estava no hospital, uma moça muito bonita, geralmente as enfermeiras são bonitas, entrou no meu quarto. Eu estava meia zonza com a anestesia e perguntei: a senhora veio medir minha pressão? Ela assumiu um ar muito superior e disse: -não, isto quem faz é o auxiliar de enfermagem, eu sou enfermeira. Logo, a integração não pode ser só curricular na escola, ela tem que ser curricular na prática. Como posso formar e manter uma formação autônoma se, na prática, o educando- "vai levar, desculpe a expressão, tinta" (expressão que quer dizer vai sofrer, vai ser punido) Assim, se as pessoas não estiverem integradas, médico, enfermeiro e auxiliar de enfermagem, como vamos lutar pela cura dos pacientes? Claro que o nível de responsabilidade e de atribuições é diferente, não adianta ficar buscando quem é que tem mais poder. O saber-ser tem uma coisa interessante que eu sempre escuto na área de vocês, a consideração da regionalidade, da linguagem. Imaginem falar para uma pessoa pouco escolarizada- o senhor sofre de flatulência? Eu tive uma aluna que estava fazendo uma pesquisa com mulheres, sobre cuidados higiênicos após as relações sexuais, numa região bem distante dos grandes centros e perguntou para uma senhora: quantas vezes a senhora tem relação sexual por semana? A senhora não respondeu. Minha aluna percebeu que ela não havia entendido e repetiu a pergunta com outras palavras: quantas vezes a senhora "faz amor" com o seu marido, por semana? Para encurtar a história, ela só entendeu a pergunta quando minha aluna (que foi alertada por uma outra pessoa sobre a palavra a empregar) perguntou - 101 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. quantas vezes a senhora "é usada" por semana? Para vocês verem como devemos prestar atenção à linguagem. Isso também faz parte da competência. Agora entramos num tema que vem sendo muito falado: como mediar a aprendizagem? Hoje em dia está se falando demais em o professor não ser autoritário Claro que o professor deve ter conhecimentos e passá-los para os alunos, eu sou pedagoga à moda antiga, acho que se é professor tem que ter um pouco mais para dar, só que esse dar não precisa ser autoritário. Devemos ter uma relação que Paulo Freire dizia ser dialógica, de troca. O professor também aprende. Cada área que eu conheço é uma nova e bela experiência para mim. Eu gosto de falar de construtivismo como construção, na qual as representações que as pessoas possuem sobre algo, devem ser mediadas para que avancem no conhecimento. É lidar com a zona proximal de desenvolvimento do Vygostsky, que é aquela que se situa entre a zona do desenvolvimento real e do desenvolvimento potencial. É falar que a relação entre professor e aluno tem sempre duas faces, cognitiva e afetiva. Na área da Saúde, isso me parece fundamental. Acredito que há alunos que desmaiam quando se deparam com o primeiro caso real e aí o que se faz? Essa pessoa vai ser ou não um profissional? A idéia de mediar é entender que cada um de nós tem uma possibilidade. Nós nascemos com milhões de neurônios, só que infelizmente a gente gasta muito e não os repõe. Na verdade, a gente faz ginástica para melhorar o corpo, tirar a barriga, mas a gente não faz ginástica mental para alimentar os neurônios. E neurônio não usado é neurônio morto, acabado. A aprendizagem, segundo Feuerstein, não deve se assemelhar a uma planta monocotiledônia, com um só caule, o nosso cérebro deveria ser estimulado, na aprendizagem, para se tornar uma planta dicotiledônea (mais de um caule), assim como o imenso cajueiro lá de Piranji, no Rio Grande do Norte. Ele é imenso, lindo, tem centenas de troncos. Esse estudioso, também se refere a mediar os alunos com alguns critérios de mediação. Os critérios básicos deveriam ser 102 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. intencionalidade, reciprocidade, significado e transcendência. Eu acho que está muito claro o que é uma intencionalidade na área da Saúde? Uma intencionalidade, um objetivo, uma intenção da área de vocês, por favor (a professora solicita respostas). Uma pessoa responde: atender às necessidades humanas. Atender as necessidades é uma intenção bem ampla, temos outras mais específicas? - E reciprocidade o que seria? - A troca, a resposta conjunta, Não adianta eu querer ser onipotente e achar que sozinha vou resolver todos os problemas, vou curar. Transcendência é a aplicação do aprendido na prática. As pessoas têm que saber agir na realidade, então a importância de, nos currículos, ser dedicado um espaço para a prática. A competência não se desenvolve na teoria, ela se desenvolve na prática, por isso que todas as análises são feitas dela. O significado é a grande chave da aprendizagem, tanto que os psicólogos o estão mencionando, mostrando que não adianta aprender se aquilo não faz sentido a pessoa. Eu vou contar rapidamente um caso que aconteceu comigo num curso de Costura Industrial do SENAI. Quando propus melhorar o currículo deste curso, ouvi esse comentário: você quer investir no curso de Costura, é preciso pensar nas "áreas de ponta", como por exemplo Mecatrônica. Porém, sabíamos que era importante formar o profissional de costura de maneira mais polivalente. Uma pesquisa nos mostrou que algumas costureiras estavam sendo despedidas do trabalho, porque não estavam se adaptando à transição de um sistema de produção taylorista para celular. No sistema taylorista, a costureira faz só uma parte da peça. Por exemplo, numa camisa, só confecciona a gola ou a manga ou o punho. Na verdade, uma costureira, dificilmente vê, na produção taylorista, uma camisa completa. Queríamos tornar a produção mais contextualizada, mais humanística. Vocês têm idéia do que fizemos? (coloca a pergunta para a platéia) 103 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A professora solicita a participação de uma pessoa da platéia, o senhor Luís Cláudio. - Você pode me ajudar aqui, como um modelo? Eu chamei o Luís Cláudio, porque ele está com uma camisa e eu vou contar um pouco o que nós fomos descobrir sobre essa peça do Vestuário, para tentar despertar algum significado para sua confecção, para mostrar que um profissional da Costura deve receber uma formação tão boa quanto o profissional de qualquer outra área, mesmo as consideradas de ponta. Porque a camisa é um produto social. Vocês sabiam que cada parte da camisa tem uma história? Observem, a camisa do Luis. Ele está com uma camisa que tem um pedaço (mostra a pala da camisa) não sei se vocês estão percebendo, como chama isso aqui? Pala. Vocês sabiam que a pala era um instrumento antigo dos escravos egípcios para carregar peso? É, por isso, que a camisa do trabalhador tem pala dupla. Ela deve ter um reforço, porque ela é mais lavada. O Luis está com uma camisa que denominamos de camisa de trabalhador. Bem, no caso dele de semi-trabalhador, porque temos aqui uma pala dupla e um colarinho mais social. Na camisa social, o colarinho tem a função de dar aparência de poder, por isso se usa entretela para que ele fique duro. O colarinho veio substituir as imensas golas que os nobres usavam em suas vestimentas. As golas dos nobres indicavam poder. Tinha nobre que botava até um arame para dar suporte à gola, ele ia numa recepção e de repente o arame...rump... soltava. A camisa social herdou a função de, no colarinho, expressar poder. Talvez seja, por isso, que a gente chama "o crime do colarinho branco". No colarinho, a costureira aprende que tem de deixar cinco centímetros aqui para que a gravata tenha um espaço para ser colocada. A gravata é a prima irmã do jabô. Quanto ao bolso, camisa de nobre não o possuía. O bolso surgiu na camisa do trabalhador para carregar os seus instrumentos de trabalho. E se formos mais longe na história vamos perceber que a camisa antigamente, muito antigamente, era usada como protetora do banho. As pessoas não tinham o hábito 104 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. de se banhar todo dia e usavam a camisa como anteparo para se esfregar e não se machucarem. Então vocês percebem que a camisa não mudou quanto às funções de suas partes: o bolso ainda é usado para levar coisas, a pala serve para dar reforço à camisa. Trata-se de uma peça que é uma produção do homem, daí a importância de mostrar para os profissionais que todos nós desenvolvemos coisas e que não existe um produto mais nobre ou menos nobre do que outro. Pergunto, então, o que será que devemos desenvolver quanto às competências na área da Saúde? O que é uma enfermeira competente? O que é uma auxiliar de enfermagem competente? E agora um tema complexo: a avaliação. Como é que deve ser a avaliação num currículo integrado? O certo é que não pode ser mais sinônimo de prova única, que não pode ficar pensando que o desempenho é só o desempenho nos saberes teóricos. Rapidamente eu vou contar para vocês o que penso sobre a avaliação. Eu vou contar para vocês que, hoje a idéia de avaliação está bem melhor do que quando ela nasceu. Até há alguns anos atrás, eu percebia que a maioria dos professores usava a avaliação como uso do poder, para provocar medo. Isso tem um fundamento na própria história da avaliação. Na verdade a palavra avaliação não existia, ela se chamava docimologia, ciência dos testes, porque dokos em grego que dizer exame, nota, e logos conhecimento. Então a avaliação surgiu da idéia de prova. Indo mais longe na história, vemos a lenda de que existiam duas tribos, os gileadites e os epframites. O líder do gileadites descobriu que ao pronunciar uma palavra shibollé ele conseguia discriminar quem era de uma e de outra tribo. Dizem que ele fez o primeiro teste oral da história. Vamos brincar um pouco (pede a uma pessoa que pronuncie shibollé) Viram, ela é uma perfeita gileadite. (Pede a outra que pronuncie a mesma palavra) Sinto muito, mas você é da tribo inimiga e preciso matá-la. 105 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Dizem que a avaliação era tão punitiva que os professores eram avaliados assim: quando eles davam uma boa aula, o aluno deixava um pedaço de ferro num grande vaso de barro. Quando, no vaso, havia pouco ferro era sinal que o professor tinha dado uma má aula, ele então apanhava. Creio que esse peso de punição com o qual a avaliação surgiu ficou um pouco impregnado em nossas mentes. Então, não devemos culpar só professor que faz isso, mas entender o porquê faz. Muitas vezes, o professor também está sendo submetido a uma avaliação sem critérios, sem clareza. Donde concluímos que, no currículo, tem que estar muito claro o que é avaliar e o que é medir. Alguém tem uma idéia rápida, de qual é a diferença básica entre avaliar e medir? (Uma pessoa responde) Avaliar é emitir um julgamento. -Avaliar é emitir um julgamento. E medir? (Outra pessoa responde) Medir não tem muito critério, o avaliar é uma coisa mais significativa, cognitiva, afetiva, tem todo um processo. - Vamos esclarecer bem isso. Primeiro, não vamos ter preconceito da palavra medir, ela é importante para qualquer avaliação. Se vocês não medirem a temperatura, como vão saber se a pessoa tem ou não febre? Alguém tem um exemplo bem concreto? Quem gostaria de subir numa balança aqui e faz de conta que vai medir o seu peso? (Uma pessoa aceita e faz de conta que se pesa) - Ela vai subir na balança e vai ver seu peso. Daí vai fazer alguma coisa com isso, fazer uma reação, falar algo. A pessoa fala que precisa fazer regime. Bem, onde está a medida? No número, expresso na balança? E a avaliação, já está lá na medida? Ainda não está? Por quê? Na verdade, quando eu vejo um número, tenho uma medida e quando julgo aquele número ainda não sai totalmente da medida, a avaliação ocorre quando eu tomo uma decisão sobre a medida, fazer regime, por exemplo. 106 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. No MEC, eu brinco que o sistema de avaliação nacional que se faz mede, mas não avalia. A avaliação será feita quando se melhorar a educação. De que adianta falar que 50% não sabem ler, se não temos ações educativas que melhorem esse resultado? Outro aspecto importante é que a medida não é só um numero. Quando eu menciono que ela (aponta para uma pessoa chamada Rita) é muito simpática e expansiva, pois eu já observei, eu estou colocando a Rita numa escala de simpatia e de expressão. Essa escala vai do menor grau de simpatia ao maior. Então, eu estou medindo também, e aí quando eu digo: Nossa eu gostaria de conhecer a Rita mais profundamente eu continuo a medir, mas já com o julgamento da avaliação, que realmente acontece quando estabeleço uma decisão, por exemplo, fazer contato com a Rita. A palavra avaliação vem do latim avalere que quer dizer atribuir valor e verificar vem de verificare, tornar verdadeiro aquilo que você deseja avaliar. Quando você observa o seu aluno dar uma injeção, está tornando verdadeiro o desempenho. Depois começa a julgar se a técnica empregada está correta, se os procedimentos assépticos estão sendo respeitados, enfim, vai tentando captar tudo que lhe permita avaliar de modo mais efetivo e mais objetivo. Digo mais objetivo, porque uma certa subjetividade vai existir sempre. É uma falácia dizer que a avaliação consegue ser objetiva totalmente. Se até a máquina erra, imagine o ser humano?. Temos que falar um pouquinho das funções da avaliação. Vocês, na área da Saúde, fazem isso a toda hora, não precisa nenhuma teoria acadêmica para falar disso. Vocês estão sempre verificando se o diagnóstico está correto, se o processo está adequado e dão uma decisão final. Contudo, parece que nem sempre é final. Conheço pessoas dessa área que têm tanto engajamento, que não param de discutir sobre o assunto. Para ir terminando minha apresentação vou falar de critérios. O currículo integrado tem que reservar um espaço para a discussão do que se está considerando como qualidade. É uma discussão muito 107 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. delicada, pois avaliar é julgar o valor de alguma coisa, e daí a influência dos valores sociais, morais. Para julgar temos que ter critérios. O critério é a base, e deve estar muito transparente, muito visível para todos, tanto da hierarquia superior como até o aluno. O aluno também poder modificar os critérios e participar na sua avaliação. Aqui uma coisa interessante, todas as áreas hoje falam do erro construtivo. Por exemplo, uma criança quando ela vê o céu azul, ela fala azulado, quando tem estrela ela fala estrelado e quando tem nuvem nuvado. A criança fez um erro construtivo, porque ela pensou no processo certo de criar o adjetivo, mas errou na expressão da palavra. Na área da Saúde não me parece tão simples falar de erro construtivo, uma vez que temos que lidar com uma pessoa, um ser humano. Me perguntam muito sobre a criatividade. Uma das questões é de que se defino critérios, eu limito a criatividade do aluno. Trabalhei numa área do SENAC - de Beleza e poderia dizer que se a cabeleireira for muito criativa, mas não prestar atenção na química adequada para a pintura dos cabelos, pode provocar sérios problemas. Então a criatividade, para mim, tem que ser definida de acordo com a natureza da área. Tem áreas que não dá para sermos muito criativos. Imagine se o médico resolver ser muito criativo e mudar o fígado de lugar? Outra coisa: os critérios são relativos. Os critérios mudam tecnicamente, com relação ao tempo, com relação à cultura. Por exemplo, em São Paulo em 1963 era exigido o exame de virgindade para professoras ingressantes que fossem solteiras. Hoje, ainda bem, esse critério não existe mais. Os critérios também variam de acordo com a cultura. Culturas são diferentes, a gente pode até não concordar com determinada cultura, mas se deve considerá-la no contexto. Eu ainda não me conformo com a cultura árabe que faz a operação na vagina, para que a mulher não sinta prazer. Já que meu tempo já ultrapassou, vou tocar no tema da análise dos resultados que pode ser feita de duas maneiras: relativa e absoluta. 108 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Eu, quando falo nesse assunto, gosto de mostrar esses dois quadros um de Monet e outro de Frida Kalo. Quando pergunto o que as pessoas preferem, quase 100% respondem que é o quadro do Monet. Quando eu comparo os dois pintores, eu faço uma comparação que, em avaliação, chamamos de relativa. Eu comparo um quadro com o outro. Na escola, se eu comparo um aluno com o outro, eu estou fazendo uma comparação relativa. Quando conto a história da Frida, que ela foi uma mulher extraordinária, forte que sofreu um grave acidente e que em virtude disso não pode mais ter filhos e teve que ficar acamada durante oito meses, tempo em que se aperfeiçoou na técnica da pintura. Ela mandou colocar um espelho em cima de sua cama e começou a se autoretratar, as pessoas começam a mudar de opinião sobre o melhor quadro. Neste caso, estou comparando a Frida de antes e depois do acidente. É uma comparação que chamamos de absoluta. Na escola quando comparo um aluno face às competências que ele deve alcançar, tenho uma avaliação absoluta. Nas áreas que exigem muitas competências é melhor fazermos uma avaliação absoluta, porque todos deveriam alcançar aquelas exigidas no perfil profissional. De nada me adianta comparar João com Maria, porque não é esta a comparação que deve ser feita, é a comparação do trabalhador com o que é capaz de fazer na profissão. Eu tinha um professor de estatística que aplicava uma prova. E era meio ruim de estatística e tirei 60, eu estudava que nem uma louca, tirava 90 e ele me puxava para baixo da média do grupo, que tinha sido 80, por exemplo. Por mais que eu me esforçasse não saía de uma posição abaixo da média. Na abordagem de critérios absolutos e todos os alunos deveriam alcançá-los. Todos não vão conseguir, porque nós não temos esse fascismo determinante, graças a Deus, mas todos deveriam chegar a alcançar o mínimo de qualidade profissional, para não estarmos formando trabalhadores desempregados. O fator fundamental, em qualquer currículo e em qualquer avaliação e em qualquer ação educativa, é a ética, principalmente em áreas como a educação e a Saúde estão formando, nós estamos 109 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. formando pessoas que vão lhe dar com gente, não estamos formando peça. Para terminar vou ler uma crônica muito interessante do Luis Fernando Veríssimo que fala dos critérios. 110 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. CURRÍCULO INTEGRADO: UMA CONSTRUÇÃO DE SUJEITOS, UM PROCESSO E UMA PRÁXIS. Regina Aurora Trino Romano13 INTRODUÇÃO O tema central deste 6º SENADEn, Educação e Mudanças: discutindo os contextos, textos, lições e propostas , inicialmente já nos desafia a desvelar a Trajetória dos sujeitos da educação e a tessitura do conhecimento . No interior desta temática abordar Currículo por competências e Currículo integrado, diz respeito, portanto: Aos múltiplos sujeitos em permanente diálogo com os múltiplos saberes presentes na dinâmica de aprender e de ensinar , desafios permanentes para a formação em qualquer campo de saber. Como estamos tratando nesta Mesa Redonda de tessitura do conhecimento nos coube abordar um território contestado que é O Currículo . Coube a mim tratá-lo, especificamente, na perspectiva de uma organização curricular pouco usual que é a do Currículo Integrado . Parto, portanto, de uma concepção e de um referencial de Educação diferentes daquela que sustenta o Currículo por competências. É necessário identificar as diferenças para ser viável buscar as possíveis interfaces. A concepção de Currículo que sustento, baseada em Sacristán(1998), é que ele se constitui em Uma práxis e não em um objeto estático - o que significa compreendê-lo como Um processo, que ocorre no interior de condições concretas configuradas no mundo de interações culturais e sociais da Educação . 13 Professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual do Rio de Janeiro- UERJ 111 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Eu me refiro portanto a um universo construído por sujeitos, - e esta construção não é independente de quem tem o poder para construí-la, ou desconstruí-la-. Conseqüentemente, por se tratar de um espaço da Educação, e de sujeitos da Educação, envolve tanto a reprodução quanto a resistência, em uma permanente tensão entre movimentos de conservar e de transformar. Ao falar de currículo integrado, estou me referindo a uma escolha por uma determinada concepção de currículo, que não é mera opção técnica, pois trata-se de uma decisão que envolve questões éticas e visões de homem e de mundo . Trata-se de uma determinada concepção filosófica que sustenta esse sistema de opções, ao mesmo tempo, estou me reportando a uma construção concreta, que se deve à ação interdisciplinar de sujeitos que atuam em uma área de formação. Uma questão se coloca nesse cenário: O que se quer; porque se quer; a favor de quem se quer a Educação . e também reflexões como: - O que leva uma Instituição de ensino e os sujeitos que nela transitam, a optar por um currículo integrado? Opção consciente? Escolha intuitiva? Insatisfação com as tradicionais formas de organização curricular por disciplinas estanques? Ou um misto de todas essas variáveis, a depender de cada um dos atores sociais envolvidos. É premente ter clareza do que se quer, que concepções de Homem e de Trabalho nos norteiam. Praticar a Educação verdadeiramente como direito universal e construir uma Escola democrática, que não produza e reproduza desigualdades no seu interior; formando cidadãos trabalhadores, críticos e criativos, para a construção de uma sociedade democrática e não tão somente para o mercado. 112 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Uma vez explicitados os referenciais que norteiam esta opção curricular, posto que nenhum currículo é neutro, já é tempo de refletir criticamente acerca dos Currículos tradicionalmente adotados na formação do Enfermeiro. É possível verificar que, entre nós, tem sido bastante freqüente reduzir o currículo à grade curricular e aos programas, como uma lista de conteúdos a serem transmitidos a partir de uma determinada seqüência e organização. Também as reformas curriculares que vem ocorrendo nas Escolas estão freqüentemente centradas no conteúdo a ser ensinado, desarticulado de uma proposta pedagógica e de um processo de avaliação. Os dois últimos parecem não ser a tônica nos planejamentos curriculares ficando a cargo de cada professor, ou quando muito, mencionados nos planejamentos de ensino como uma carta de intenções . Na maioria delas, o aluno vivencia a dicotomia entre as disciplinas classificadas como científicas e as disciplinas ditas aplicadas. Nessa lógica, espera-se que os alunos, uma vez detentores da teoria, nível abstrato, sejam capazes de aplicá-la automaticamente a uma realidade, nível concreto. Nesse tipo de estrutura são enfatizados os aspectos técnico científicos em detrimento dos filosóficosideológicos. Em geral, o estudo dos problemas ocorre isolado do contexto em que eles se inserem e a realidade cotidiana aparece desfigurada, visto que tem por base saberes sem ideologia aparente. Nessa concepção de educação, a organização curricular costuma ter por base um conjunto de disciplinas isoladas e estanques, justapostas de forma arbitrária, fragmentando e isolando o conhecimento, o que reforça uma visão de realidade atomizada: Pensa-se que os alunos sozinhos poderão depois reorganizar essas informações fragmentadas e captar seu verdadeiro significado e sentido (Santomé,1998:38). Na verdade, nessa organização curricular cada disciplina constitui-se em uma caixa preta estabelecendo disputas entre si 113 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. quanto a sua importância, sendo-lhes conferido status diferenciado decorrente do seu caráter científico , tendo por base o que o modelo positivista estabelece quanto ao que vem a ser ciência. A hierarquização do conhecimento que este tipo de currículo promove com diferença de valoração entre as disciplinas, dificulta aos alunos ver a necessidade das disciplinas menos importantes para compreensão da realidade. A aprendizagem dá-se em geral por acumulo de informações, que devem ser memorizadas, obtidas em livros didáticos produzidos em outros contextos sociais diversos dos nossos, e em aulas centradas em uma metodologia da transmissão, que secundariza a discussão, a reflexão e a pesquisa O currículo é influenciado pelo mercado de trabalho em detrimento da formação integral do ser humano, da capacidade de compreender a sociedade na qual se vive e da preparação de cidadãos de pleno direito. Para um estudioso da sociologia do currículo, como Bernstein, o conhecimento em um currículo por disciplinas tem um caráter de propriedade privada, com sua própria estrutura de poder e situação de mercado, gerando um tipo de socialização onde o conhecimento é algo sagrado e impermeável . As conseqüências desta socialização fazem-se sentir nas relações sociais existentes nas Instituições Formadoras onde a ordem social emerge da natureza hierárquica das relações de autoridade, fortemente marcadas entre a direção e os chefes de departamento, entre professores novos e antigos e entre alunos e professores. Resulta também em forte isolamento entre os departamentos com conseqüente relações competitivas entre seus atores, ficando o conflito contido nas várias hierarquias isoladas e nas ideologias não explicitadas (Bernstein,1995). O que preocupa é que, por tradição, vai-se reproduzindo essa clássica organização por disciplinas, com todas as conseqüências por ela geradas, contribuindo para a existência de profissionais com pouca capacidade de apreender a realidade, e sem a competência política necessária para intervir na trágica realidade educacional e de 114 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. saúde brasileira, tendendo a assumir uma atitude profissional acrítica e precocemente acomodada.. A seguir, passo a defender uma outra forma, não hegemônica, de organização do conhecimento, por considerar que a organização do conhecimento no currículo não vem sendo suficientemente explorada e que é preciso desconstruir a presente ordem curricular. O CURRÍCULO INTEGRADO: UMA MATRIZ DE MUDANÇA POTENCIAL Quando nos referimos ao currículo integrado estamos utilizando exatamente qual conceito e nos apoiando em que categorias? Quanto as categorias que sustentam esta proposta são Totalidade ( Kosik,1986); Interdisciplinaridade ( Veiga-Neto,1997) e Classificação e Enquadramento do conhecimento educacional (Bernstein,1995). No que diz respeito ao conceito adotarei o de Bernstein, que diz que: um currículo é de integração se o conhecimento está organizado em conteúdos que mantêm uma relação aberta entre si, existindo uma subordinação das disciplinas previamente isoladas a uma idéia central relacionadora. Essa articulação reduz o isolamento entre as disciplinas, agregando os conhecimentos em um todo mais amplo. A redução no isolamento entre os conteúdos gera uma redução na autoridade de cada um deles, o que por decorrência, traz perturbações nas estruturas de autoridade existentes, nas identidades educacionais e nos conceitos de propriedade (Bernstein,1995). No desenvolvimento de um currículo integrado as diferentes áreas do conhecimento e as diferentes disciplinas devem entrelaçar-se, reforçando-se mutuamente para contribuir de modo significativo com a construção e reconstrução do conhecimento, de 115 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. forma que esteja a serviço de uma vida mais digna autônoma e democrática (Santomé,1998). Tomando como referência o pensamento de Kosik (1989), ousaria inferir que o conhecimento concreto dos problemas de saúde, e de educação, dificilmente dar-se-á a partir da apropriação de conceitos isolados de ciências que se somam (conhecimento disciplinar), visto que transcende o que pode estar contido aprisionado e isolado em uma disciplina, dado que a sua natureza constituí-se de múltiplas determinações e mediações históricas, mas poderá ocorrer por meio da mútua penetração de seus conceitos, da inter-relação entre os conhecimentos oriundos dessas diversas disciplinas necessárias ao conhecimento da realidade que se apresenta (conhecimento integrado). Essa problemática requer para sua compreensão, que o estudo ocorra a partir do contato com a realidade, o que demanda que vá gradativamente sendo problematizada e teorizada, com um imediato retorno à prática para fins de exercitar as possíveis medidas que tal situação requer. A base ideológica dos códigos de integração permite que no campo da saúde a práxis pedagógica se identifique com a mudança do paradigma sanitário, no interior do qual a saúde deixa de ser um estado estático, biologicamente definido, para ser compreendido como estado dinâmico, socialmente produzido, fenômeno articulado ao contexto histórico, cultural e político. Quanto ao tipo de socialização gerada pela adoção de um currículo integrado, Bernstein (1995) e de Santomé (1998), apontam que favorece a redução no isolamento dos atores sociais da instituição e a superação das disputas tão comuns nos currículos por disciplinas. As relações de trabalho tendem a se tornar mais horizontais entre os professores de diferentes departamentos, contribuindo para que estes sintam-se partícipes de uma equipe com 116 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. metas comuns, de forma cooperativa e responsável, a partir de um planejamento comum. A integração altera também a relação professor-aluno, que se pautará no diálogo, aumentando o poder do aluno. Entre os alunos, as relações igualmente tenderão a ser horizontais, baseadas na interajuda. A apropriação do saber, antes privada, torna-se coletiva, compartilhada entre os professores e entre estes e os alunos. Cabe ainda considerar que esta opção curricular possibilita o aumento da capacidade de reflexão do aluno e seu posicionamento de sujeito ativo devido a uma concepção pedagógica e de avaliação comuns, ambas centradas no modo como o conhecimento é adquirido. Evidencia-se a importância da experiência e da ação na aprendizagem, considerando-se que a experiência inclui a reflexão como componente indispensável. Desloca o ensino da simples memorização dos conteúdos para a capacidade de tratar e aplicar os conhecimentos, baseando-se nos processos que a escolarização precisa desenvolver tais como as capacidades de observação, comunicação, dedução, organização da informação, tomada de decisões e avaliação (Santomé:1998) CONSIDERAÇÕES FINAIS Retornando e tomando como referência o título deste texto: Currículo integrado uma construção de sujeitos, um processo e uma práxis; convém relembrar que nem o conhecimento, nem o currículo são neutros, tampouco são construídos no vazio, ao contrário, são construções sociais produzidas por homens concretos para sociedades e práticas sociais concretas. Fica patente que dado a natureza do currículo integrado de projeto contra-hegemônico, e por se constituir em uma construção de sujeitos, este requer algumas condições para sua consecução. Selecionarei algumas delas: 117 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Primeiramente recorro a Bernstein (1995), que nos alerta que os códigos de integração só realizar-se-ão a contento se houver um elevado nível de consenso ideológico, o que cria exigências especiais quanto a seleção de professores e à competência política do professor, essencial a todo projeto político-pedagógico que se pretende emancipador. Outra condição, imprescindível, é que o planejamento do currículo tenha a participação de todos os professores envolvidos e, à medida que novos professores sejam admitidos na Instituição, eles participem de processos de discussão coletiva que os situem no currículo e que propiciem o estabelecimento de compromissos explícitos com essa proposta. Uma outra questão que se impõe, diz respeito a estar atento para que a concepção de currículo integrado não sofra apropriação deformada por grupos ideologicamente contrários. Caso isso ocorra, o currículo pode vir a se transformar em mero slogan servindo a fins sócio-políticos ocultos. Este risco existe principalmente se ele não resultar de uma construção e reconstrução de todos os atores sociais envolvidos. Popkewitz (apud Santomé,1998) alerta quanto à força de um slogan , que pode gerar ilusões de que uma instituição esteja a serviço da sociedade, embora na realidade sirva a outros interesses. Portanto, para que o currículo integrado e toda a sua base ideológica em prol da emancipação e do estabelecimento de relações sociais mais autônomas e democráticas na escola não se transforme em um discurso vazio, é preciso ter claro que não é suficiente apenas a renovação do currículo como plano estruturado. Para provocar mudanças substanciais na realidade, faz-se necessário que venha acompanhada de mudanças nas condições que mediatizam a prática pedagógica. Concluindo esta apresentação destaco que a base ideológica que este currículo traz, significa uma tentativa de alterar as estruturas de poder e os mecanismos de controle da e na Escola, descongelando a estrutura do conhecimento e mudando as fronteiras da consciência. 118 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Se o tradicional currículo por disciplinas produz sistemas de mensagens de manter as coisas separadas , e esta separação não encoraja a busca de uma nova ordem, permitindo a repetição do passado, o currículo integrado emite um sistema de mensagem juntem-se as coisas , constituindo-se em uma matriz de mudança potencial da práxis pedagógica (Bernstein,1977). Concluir um tema é sempre um desafio, principalmente em um tempo no qual o pensamento único ocupa um lugar de hegemonia quase absoluta, mesmo que a história nos ensine acerca da transitoriedade das hegemonias. Um tempo em que pensar diferente pode-se constituir em risco de ter seu discurso desqualificado. Ainda mais, se o discurso produzido não se incluir na lógica de significação do mercado e da nova ordem mundial. Esta lógica que decretou o fim das utopias, esqueceu, entretanto, que a utopia é inerente à condição humana. Pensar a Educação abdicando da utopia é reduzi-la a um conjunto de normas, regras e objetivos a serviço de um paradigma curricular tecnocrático, acrítico e homogêneo. A defesa do currículo integrado se vincula ao campo das utopias por justiça social, democracia e libertação. Não podia ser diferente, em razão do currículo estar ligado ao saber, ao poder e a identidade, portanto, os educadores e educadoras não podem mais ignorar esses nexos. Foi pensando nos educadores e educadoras que desenvolvi esse estudo, partindo do pressuposto de que não há teoria final, nem verdade absoluta, seja devido à provisoriedade do conhecimento, seja porque nunca esgotamos a realidade. BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Naomar F. Transdisciplinaridade e Saúde Coletiva. Revista Ciência e Saúde Coletiva II , v. 1-2, [ S.l. : s.n.], 1997. APPLE, Michael W. Ideologia e Currículo. São Paulo: Brasiliense, 1982. ______. Repensando Ideologia e Currículo, In: Currículo Cultura e Sociedade. 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Tive a preocupação de não me deter muito nos aspectos teórico-metodológico da dissertação, embora também vá falar deles aqui, avançando na possibilidade de articular o perfil do enfermeiro com qualidade formal e política às Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação da área de saúde, visando a construção desse novo profissional. Então, é preciso entender como é que é esse perfil, o que é esse enfermeiro com qualidade formal e política, e como isso pode ajudar na formação e prática da enfermagem. Primeiramente, uma introdução sobre a inserção do enfermeiro na política social de saúde. É importante a gente fazer esse resgate porque o enfermeiro tem, a exemplo das profissões em geral, acompanhando o contexto de transformação por qual tem passado o processo de trabalho. Ele tem ampliado a sua área de atuação, ampliado o seu objeto de cuidar. Hoje o enfermeiro está sendo cada vez mais requisitado a ocupar espaços que antes e até bem pouco tempo não existiam. Este fato pode ser bem estratégico para a construção da autonomia (ou não). O discurso de autonomia que eu faço aqui é na perspectiva da relatividade que o encerra, porque 1 PIRES, Ma. Raquel G. Maia, Enfermeiro com Qualidade Formal e Política: Em Busca de um Novo Perfil , Programa de Pós-graduação em Política Social/Departamento de Serviço Social/UnB (Dissertação de Mestrado), BrasíliaDF, 2001 123 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. autônomo todos nós somos, dentro do contexto de correlação de forças que a constrói. O enfermeiro é um ator essencial na atenção a saúde das pessoas, seja em âmbito individual ou coletivo. Ele capacita, forma, treina e coordena grande maioria dos trabalhadores da saúde. Também assumimos a gestão e gerência de programas e projetos sociais, especialmente de saúde, mas também de ensino e pesquisa. Nesse ponto estamos resgatando as características de flexibilidade e polivalência que as transformações no mundo do trabalho vêm requerendo. Eu não quero aqui me deter ao viés neoliberal presente nestas características, mas ressaltá-las como um espaço importante de atuação, se concebidos de maneira crítica, constituindo-se em possibilidade para influenciar cenários históricos. Quero me deter nessa possibilidade estratégica que as transformações do mundo do trabalho tem nos revelado. Essa diversidade de atuação potencializa uma intervenção crítica em contextos específicos. O enfermeiro pode vir a ser um ator estratégico dentro das políticas sociais (não só de saúde) se ele tiver qualidade política e qualidade formal. E o que seria essa qualidade política e essa qualidade formal? Na verdade, não se tratam de duas qualidades, mas de uma totalidade com faces formal e política, muito mais difícil de definir do que de sentir. Qualidade política diz respeito a capacidade de intervenção crítica e criativa das pessoas em cenários sócio-históricos. Já a dimensão formal da qualidade refere-se a instrumentalidade do saber, traduzidas em técnicas, procedimentos, métodos e conhecimentos mais cognitivo do fazer, da prática em si e do conhecimento como tal. A qualidade política seria o uso que se faz desse conhecimento, sua ética interventiva e desconstrutiva. A qualidade política do enfermeiro traduz-se na possibilidade de intervenção crítica e criativa do enfermeiro em contexto sócio histórico específico. É bom delimitar isto porque a prática da enfermagem ocorre dentro de uma conjuntura maior mediada pelo cuidado. Uma outra reflexão que eu faço é que a gente diz que tem cuidado como objeto mas não reflete muito sobre esse cuidado, nem 124 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. na formação e nem na prática profissional. Cuidado aqui é visto como uma relação partilhada de ajuda que envolve conflito e contradição. É uma relação social de ajuda ambígua e contraditória que se reelabora na dispensa da ajuda, ou seja, ele se refaz na autonomia do outro, não para deixar de cuidar, mas para cuidar de forma mais complexa. Tratase, neste sentido, do cuidado emancipatório. Pedro Demo gosta de fazer sínteses de coisas que a gente faz um arrodeio danado para chegar. Ele tem uma frase que eu gosto muito: a emancipação é a gestão inteligente do poder. Porque poder, sendo estrutural, faz parte dos convívios humanos. Sendo o cuidado uma relação de poder, a grande questão é como tornar esse cuidado, essa relação assimétrica, o mais próximo da autonomia do outro e de mim mesmo, entendendo aí uma relação dialética. A capacidade de intervenção crítica e criativa do conhecimento no contexto histórico, mediadas pela relação de ajuda em prol da autonomia do outro, pode alargar as chances e oportunidades das pessoas. Um outro conceito que trago que é o de desenvolvimento humano. É um conceito da ONU que, a despeito do viés neoliberal intrínseco, é possível abstrair-lhe a possibilidade de alargar as chances das pessoas. Desenvolvimento Humano significa a construção autônoma de oportunidades, a partir de projetos próprios. Abro aqui um parêntese em forma de pergunta: será que nós, na formação em enfermagem, estamos desenvolvendo essa autonomia, ou minimamente, essa capacidade de elaboração própria nos alunos ? Apesar de não me deter nos aspectos mais metodológicos da tese, pondero aqui alguns achados relevantes para a discussão sobre cuidado. Durante a coleta de dados eu investigava um pouco sobre a concepção de cuidado, a concepção que cada enfermeiro tinha de cuidado. No geral, sobressaiu-se a noção do auto-cuidado, que a gente vê na graduação mas não vai ao fundo da teoria, pouco refletindo criticamente. É preciso contemporizar que a teoria do auto-cuidado, de Orem, foi importante num determinado tempo histórico, mas precisa ser redimensionada, redescoberta e revisitada no contexto de transformações em curso. 125 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Faço um ensaio de dessemelhanças entre a noção de autocuidado e de cuidado emancipatório, sabendo-os também complementares, por meio de uma análise da teoria de Orem. O autocuidado expressa uma clara dicotomia entre o adulto incapaz e a enfermeira capaz, ou seja, eu cuido de você porque você é incapaz de cuidar de si, a partir do momento que você cuida de si eu não mais cuido de você. É um enfoque biológico e individual de cuidado, uma concepção mais centrada na doença que na saúde. Precisamos ampliar essa concepção de cuidado à idéia de cuidado emancipatório, entendido como uma relação partilhada de ajuda ambígüa e processual que busca desconstruir relações assimétricas de poder. Neste cenário, desconstrói-se a verticalidade do eu cuido de você enquanto você não pode cuidar de si próprio e quando você cuida de si próprio então aí eu não cuido mais de você. Ao contrário, o cuidado emancipatório é uma relação conflituosa em prol da autonomia do outro que se refaz na dispensa relativa da ajuda. Porque, sendo poder, a gente nunca dispensa ajuda, a gente re-elabora essa ajuda, a gente tem uma gestão mais inteligente dessa ajuda. Enquanto o auto-cuidado tem um enfoque no individual, especificamente do indivíduo em uma situação de enfermidade, o cuidado emancipatório tem uma abordagem ecológica e epidemiológica. O que seria isso? É o cuidado visto como relação e não só relação entre os homens, mas como relação de vida. Se a gente for pensar bem e se aprofundar mais nessa concepção ecológica, a própria vida tem relação de cuidado. Ao observarmos a natureza, a ecologia ou a sustentabilidade do planeta, vê-se que a vida é essencialmente relação de cuidado integral e sistêmica entre os seres. Aqui eu faço outro parêntese para colocar dinâmica também na abordagem sistêmica (propensamente funcionalista), no sentido de que o sistemismo pode dar conta da integralidade, mas deixa de lado o conflito e seus contrários. O conflito é o motor da história, motor do conhecimento e parte integrante do cuidado. A abordagem ecológica amplia a abordagem e inclui a integralidade no cuidado. Fala-se muito sobre esta visão holística , mas discute-se e teoriza-se pouco sobre o que significa ou como se 126 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. realiza este cuidado. As diversas visões e teorias sobre cuidado precisam ser refletidas e elaboradas constantemente na academia. Ë comum, na enfermagem, pregar-se o mito de atender o ser humano em todas as suas necessidades bio-psico-social (como se isto fosse possível) e chegar num hospital reproduzindo poderes e práticas hegemônicas. Chegar num estágio e fazer as mesmas rotinas, aprisionado o cuidado a normas, técnicas, procedimentos e tarefas encerradas em si mesmo. Precisamos repensar esse cuidado formal e politicamente. Essa forma com que a gente vem cuidando tutela e submete o outro, ao invés auxiliá-lo a traçar projetos próprios de cura, saúde e desenvolvimento humano. É preciso dizer também que o cuidado da enfermagem está ficando cada vez mais complexo, amplo em abordagens e perspectivas. Além do espaço tradicional da assistência, o cuidado está inserido nos vários espaços de atuação do enfermeiro nas políticas sociais, requerendo abordagens epidemiológicas críticas e interventivas. Temos que conhecer e refletir cada vez mais sobre esse cuidado, pensando que ele se reconstroi e se refaz continuamente. A teoria do auto-cuidado tende a dispensar a enfermagem quando as demandas e ofertas do cuidado estiverem satisfatórias, na avaliação da enfermeira. O cuidado emancipatório tem centralidade no sujeito e emancipa mais pela provisoriedade das certezas. O componente da certeza deve ser re-elaborado na própria relação, essa certeza deve ser partilhada e reconstruída na busca de outras certezas. É um cuidado que se refaz nessa dispensa da ajuda, ou seja, na autonomia do outro, não para eu deixar de cuidar mas para que eu cuide de forma mais elaborada e reflexiva. A noção emancipatória do cuidado nutre-se da discutibilidade como critério de verdade, entendendo conhecimento científico como um saber dentre tantos que podem desencadear processos de cura e reabilitação. Passemos agora a algumas exemplaridades, advindas da coleta de dados, dos enfermeiros próximos da qualidade política e daqueles com fragilidades na qualidade política. Falando um pouco da metodologia utilizada no estudo, tratou-se de uma pesquisa qualitativa com o enfoque dialético de abordagem. A coleta de dados constou de 127 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. duas fases, uma incursão introdutória mais quantitativa para se fazer um panorama geral da amostra, e uma segunda mais qualitativa, com entrevistas de profundidade para os grupos mais aproximados e com maiores distanciamento da qualidade política. Para proceder a análise dos depoimentos, utilizei um quadro de referência sobre a qualidade política no enfermeiro. Fundamentei a análise na hermenêutica de profundidade (Thompson,1995) e na análise do discurso (Orlandi, 1996). As exemplaridades possíveis de abstrair desse universo investigado, no que se refere a enfermeiros próximos da qualidade política, foram: 1- a maioria deles tem uma vivência em movimento social organizado e aprendizagem fora do espaço formal de educação; 2-cuidado e autonomia é visto como correlação de forças (entendimento de que cuidado é uma relação de poder) - a gente tem que discutir e refletir sobre essas questões, inclusive na graduação; e finalmente ele percebe criticamente a inserção social da prática de enfermagem nas políticas de saúde. Ou seja, como é que tem se dado a inserção da enfermagem, a historicidade da profissão, o entendimento da enfermagem como prática social, conflituosa, com divisão social de poderes, divisão social do trabalho e com qual relação de força, enfim, dentro de que cenário ocorre a minha prática no campo profissional. Esse entendimento foi uma exemplaridade de enfermeiros próximos de qualidade política. Em relação aos enfermeiros com fragilidades políticas, observou-se: primeiro, homogeneidade no discurso, ou seja, associa a autonomia ao espaço estritamente profissional. O que é isso? sobre as questões referente a autonomia estes atores fizeram uma análise linear de autonomia, como se esta não envolvesse disputa por espaços num contexto histórico maior. Vêm a autonomia para si, mais para manter que para romper com assimetrias de poder. Ou seja, uma autonomia profissional do enfermeiro dentro de uma lógica de atenção de atenção à saúde que é vertical, autoritária e que restringe a autonomia das pessoas, dos usuários, clientes, pacientes, ou como se queira classificar os cidadãos. Segundo, o cuidado é visto sob o enfoque reducionista da teoria do auto-cuidado. Terceiro, uma análise linear 128 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. das políticas de saúde a partir de sua vivência profissional, curiosamente sempre melhor que a dos outros. É incrível como os enfermeiros com fragilidade pouco realizam análise de conjuntura. Acho que a discussão das diretrizes veio num momento bom para se discutir Sistema Único de Saúde, discutir políticas de saúde, conjuntura, se fazer todo esse resgate porque, infelizmente, na formação a gente não aprende isso, e é importante porque a gente vai estar atuando no SUS, vai estar formando profissional para o SUS. E que perfil é esse de enfermeiro com qualidade formal em política? Contemporizo-o em três dimensões fundamentais. Primeiro, o enfermeiro com qualidade formal e política tem compreensão e crítica de contexto sócio-histórico apurada, percebendo as ambigüidades e historicidades da inserção da prática de enfermagem nas políticas sociais, e analisando conjunturalmente as desigualdades decorrentes do processo de produção social da saúde. Segundo, faz parte desse perfil um entendimento da unidade dialética autonomia-poder, superável e conquistável pelas vias do conhecimento e da participação de sujeitos sociais amparadas pela qualidade formal e política. É importante destacar que nessa pesquisa eu trabalhei com um público muito privilegiado, porque dos 100 enfermeiros dessa primeira fase quantitativa 77% tinham pós graduações, incluindo especializações, mestrado e doutorado. Mesmo assim se viu muita fragilidade política, tudo isso para dizer que não necessariamente o conhecimento formal é político, ou traduz-se em qualidade política. Uma terceira dimensão seria a intervenção crítica, reflexiva e criativa desses enfermeiros em contextos sócio-históricos específicos, por meio do cuidado emancipatório. E aí cabe toda aquela discussão de cuidado emancipatório que se opera na politização de espaço em que se insere, potencializando a desconstrução da assimetrias de poder e a redução de desigualdades sociais. Politizar espaço significa partilhar poderes, reordenar formas de atuar, reordenar formas de agir e interagir. 129 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Daqui para frente faremos um exercício procurando visualizar como este perfil do enfermeiro com qualidade formal e política gente pode ser trabalhado na formação do enfermeiro, na graduação A primeira dimensão do perfil, compreensão e crítica de contexto sócio- históricos apurada, traduz-se em estimular a capacidade de análise de conjuntura desse profissional. Neste prisma, por exemplo, vem toda a discussão sobre a relação Estado/sociedade, sobre como ocorre a inserção da enfermagem na política de saúde. Ou seja, de como é que foi construída essa profissão dentro do contexto de política social, não somente de saúde como também de educação. A segunda dimensão autonomia e poder como correlação de força e disputa de espaços, poderia ser trabalhada despertando o entendimento das relações sociais e correlações de forças no cenário institucional em que ele está inserido. Essa vivência institucional de você perceber um contexto maior da sua prática é algo que precisa realmente de maior reflexão. Como é que se dão essas relações institucionais dentro do espaço profissional da prática? Na graduação, precisamos refletir mais sobre o que é poder, sobre a dialética que existe entre poder e autonomia, enfim, estar formando profissionais com capacidade de análise dos diversos atores que fazem parte da práxis. A partir de uma compreensão e crítica de contexto sóciohistóricos apuradas, entendendo as correlações de forças traduzidas na autonomia e o poder desses atores, enfocamos a terceira dimensão deste perfil. Ou seja, como é que eu, inserido nesse contexto e com todos esses atores em correlação de forças, intervenho criticamente por meio do cuidado emancipatório. Aqui se prioriza a formação para práticas desconstrutoras de assimetrias de poder. Práticas mais partilhadas e menos verticalizadas. Uma coisa que me preocupa muito é que a enfermagem tem crescido no campo de atuação e os nossos estágios, se eu falar alguma coisa que não seja do geral vocês me corrijam, mas os estágios continuam ocorrendo nos mesmos espaços de sempre, ou seja, dentro do hospital, dentro das unidades de saúde. Pouco se faz estágio junto às gerências e espaços de gestão. Dentro das Secretarias de Saúde, por 130 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. exemplo, como é que esse gestor enfermeiro está agindo? e como é que a formação pode estar aprendendo ou refletindo sobre esse espaço de atuação ? Quando formamos um enfermeiro, ele pode muito bem cair na gestão de sistemas de saúde. Aí não entende nada de SUS, pouco entende da prática social deste contexto. E aí, como é que a formação acompanha a dinamicidade da inserção profissional? As gerências de programas que são eminentemente hoje ocupadas por enfermeiros, até que ponto nós estamos gerenciando ou administrando decisões dos outros ? ou aonde é que nós estamos efetivamente decidindo dentro de uma conjuntura de gestão e gerência ? Acho que essas reflexões fazem parte da ampliação do perfil de enfermeiro com qualidade política e de como posso reinventá-lo na formação desse profissional. Alguns dilemas a serem refletidos na formação. O trabalho em equipe, o que é esse trabalho em equipe? como é que se trabalha essa interdisciplinalidade? A atuação clínica, como estamos articulando-a a ampliação do cuidado? A nossa relação de poder com o auxiliar de enfermagem, com o Agente Comunitário de saúde e com o usuário, nós reproduzimos esse poder. É aquela história, o médico manda na enfermeira e a enfermeira manda no auxiliar e quem está lá embaixo é quem leva o pato, temos que refletir isso, temos que desconstruir isto. Eu ouvi aqui na fala anterior que a gente tinha que potencializar essa atitude crítica do aluno, de incentivá-lo a estar questionando, etc. e etc. Eu sempre fui uma aluna problema porque tive alguns professores, entre elas esta senhora de cabelos brancos que está nesta mesa, que resolveu dar muita trela ao aluno. Vinham sobre ela todo tipo de cobranças e questionamentos: como é que uma professora que ensinava enfermagem médico-cirúrgico poderia ser minha orientadora num projeto de saúde pública ? Como é que uma professora de enfermagem em médico-cirúrgico pode orientar saúde pública? Esses paradigmas têm de ser quebrados na formação, e na enfermagem em especial. De repente aquele professor mais ousado, que dá trela para o aluno, é quem mais está contribuindo para a formação dele. Mas alguns professores têm medo dos questionamentos do aluno, por que é difícil lidar com o conflito, é 131 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. difícil lidar com a polêmica. Fomos formadas no paradigma do conhecimento moderno, com toda a racionalidade moderna, e estamos muito mais treinadas a resolver problemas do que assumí-los como objeto de reflexão. Esse é o grande desafio. Porque problema nunca vai deixar de existir, ele tem que ser transcrito como um objeto de reflexão dentro da qualidade política do conhecimento. Continuando nosso exercício reflexivo, peguei uma diretriz curricular nacional, uma competência e habilidade especifica do enfermeiro, e fiz uma articulação com o perfil do enfermeiro com qualidade política. Minha intenção é discutir como é que poderiamos estar trabalhando estes direcionamentos na graduação em enfermagem. A diretriz é: compreender a política de saúde no contexto das políticas sociais reconhecendo os perfis epidemiológico das populações. Isso é riquíssimo, é uma coisa que se precisa aprofundar na formação e até capacitando professores para fazê-lo. Muitas vezes, o docente está tão distante de toda legislação, regulamentações e operacionalizações do SUS que precisa realmente se aproximar mais dos serviços de saúde. Algumas questões que poderiam ser trabalhadas a partir desta diretriz: como a assistência a saúde tem se organizado nas políticas sociais ? como se dão as desigualdades sociais na saúde ? como é que eu analiso essas desigualdades ? Se observarmos bem, tudo isso faz parte da primeira dimensão do perfil de enfermeiro com qualidade formal e política, ou seja, compreensão e crítica de contexto sócio-histórico apurada.. Já na segunda dimensão do perfil, unidade dialética autonomia-poder, poderíamos refletir: quem são os autores e instituições envolvidas no contexto das políticas sociais? como ocorrem as correlações de forças e disputa por espaços? refletir sobre isso é teorizar sobre as práticas, é alavancar processos de reflexão transformadores. E por ultimo, a dimensão intervenções dinamizadoras de contexto. Nesse contexto sócio-histórico, com esses sujeitos sociais, como compartilhar poderes a partir da concepção de cuidado emancipatório? que estratégias e atores fortalecer ? Temos uma 132 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. grande potencialidade para mobilizar atores dentro do setor saúde e da educação. Estamos formando pessoas, formamos e gerenciamos a maioria dos trabalhadores em saúde, e isso é uma posição estratégica muito importante, se redimensionada dentro da qualidade política. Por fim, elenco algumas possíveis práticas desconstrutoras de assimetrias de poder. Ou alguns limites-possibilidades do cuidado emancipatório, entendidos como unidade dialética. São eles: acompreender a pessoa como sujeito de seu processo de saúde-doença; b-valorizar os saberes e diversidade da equipe como ricas possibilidades do cuidar da profissão (acho que a gente aprende muito com equipe de enfermagem exatamente por ela ser diversa); c-assumir os mitos e ritos da profissão, reconstruindo-os; (Costumamos nos debater muito sobre isto. A enfermagem é cheia de mitos na profissão: a santa, a prostituta, o leigo, o religioso, o militar, etc.. Não adianta negá-los, porque eles fazem parte da instituição da enfermagem. Temos que assumí-los, desconstrui-los, recontextualiza-los na prática social); d-recriar vínculos entre as pessoas ampliando a dimensão do cuidar; e- politizar o espaço de atuação do enfermeiro partilhando poderes, reordenando valores, símbolos, idéias; f-reinventar a criatividade dos sujeitos como substrato do cuidar. Como conclusão, diria que a prática social da enfermagem, capaz de alargar oportunidades e cidadanias, traduz-se sobretudo na rica potencialidade do cuidado da profissão, se for assumido e conhecido enquanto relação interativa, ambígua e reconstrutiva em prol da autonomia do outro. Propõe-se, pois, ampla politização dessa prática nos diversos espaços em que ela se insere (na assistência, gestão, gerência, ensino, pesquisa ou consultorias), compartilhando e reordenando poderes, desconstruindo, por meio do conhecimento inovador e do cuidado emancipatório, processos de dominação. Obrigada a todos e todas ! 133 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. OFICINA DIRETRIZES CURRICULARES DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM: DE QUE MUDANÇAS (POLÍTICAS E PEDAGÓGICAS) ESTÃO FALANDO? ACERCA DE DIRETRIZES CURRICULARES E PROJETOS PEDAGÓGICOS: UM INÍCIO DE REFLEXÃO16 Dagmar Estermann Meyer17 Maria Henriqueta Luce Kruse18 Introdução Não sejas nunca de tal forma que não possas ser também de outra maneira.(...) E não perguntes quem és àquele que sabe a resposta, nem mesmo a essa parte de ti mesmo que sabe a resposta, porque a resposta pode matar a intensidade da pergunta e o que se agita nessa intensidade. Sê tu mesmo a pergunta (Larrosa, 1998, p. 53)19. Discussões que envolvem a implementação de mudanças curriculares usualmente se concentram na busca de respostas que delimitem, com uma certa segurança, o que deve ser transmitido e como deve se dar essa transmissão, em determinado nível de formação. Com esse procedimento, permanecemos sempre muito próximos daquilo que já está instalado e tendemos a reproduzir, em grande medida, as mesmas verdades e as mesmas situações. Com as 16 Texto elaborado para subsidiar as discussões da Oficina de Trabalho sobre as Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Enfermagem, durante o 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem, realizado em Teresina, Piauí, de 27 a 30 de maio de 2002. Circulação restrita ao evento. 17 Enfermeira, Doutora em Educação, Professora Adjunta da Faculdade de Educação da UFRGS. 18 Enfermeira, Doutoranda em Educação (PPGE/UFRGS), Professora Adjunta da Escola de Enfermagem da UFRGS. 19 LARROSA, Jorge. Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas. Porto Alegre: Contrabando, 1998. 134 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. palavras de Larrosa, que abrem esse texto, estamos indicando nosso desejo de experimentar uma mudança de foco: das respostas para as perguntas, da certeza para a dúvida, da prescrição para a problematização. Com tal postura não estamos, aqui, nos propondo a re-escrever uma história dos currículos de enfermagem ou pretendendo recolocar a discussão sobre as circunstâncias políticas em que se produziram as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais, ou, ainda, questionando a sua legitimidade, uma vez que as mesmas foram elaboradas com base em uma multiplicidade de propostas20 construídas no âmbito da própria Enfermagem, ao longo dos últimos anos. O que desejamos, ao desalojar a dúvida e a incerteza dos redutos em que costumamos encarcerá-las, é sensibilizar o nosso olhar para outros tipos de expressão e de possibilidade. E isso significa, em determinados momentos, retomar alguns conceitos, pressupostos ou procedimentos e relacioná-los, de modo direto ou através de indagações, com a história, com as condições de sua emergência, com aquelas condições que lhes garantiram sua materialidade. Uma primeira observação a ser resgatada é que, nos últimos anos, as críticas e avaliações acerca dos pressupostos que têm norteado o ensino têm enfatizado que a incorporação intensiva de tecnologia e a centralidade do hospital para o desenvolvimento das práticas de saúde não tem produzido os impactos que desejaríamos nos indicadores sanitários e, nem sequer, uma maior satisfação dos usuários. Embora reconhecendo que os avanços tecnológicos têm sido úteis para a humanidade, melhorando a qualidade e a expectativa de vida de determinados grupos, não temos sido capazes de fazer com que estas conquistas atinjam majoritáriamente a população. Em países com as características do Brasil isso fica ainda mais difícil, devido às grandes desigualdades sociais e à pesada carga financeira que um sistema de saúde com essas características agrega para uma grande parcela da sociedade. Faz todo o sentido, então, a proposição de outras referências para a formação profissional, as quais 20 Ver, por exemplo, a Carta de Florianópolis, Congresso Brasileiro de Enfermagem .51, 1999.Anais. Florianópolis: ABEn, 1999. 135 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. deveriam estar sustentadas em estratégias de renovação capazes de fazer frente ao desafio de qualificar enfermeiras/os que contribuam, de forma efetiva, para a implantação e/ou aprimoramento de uma proposta de atenção à saúde mais justa, mais igualitária e de melhor qualidade. E isso implica, também, repensar as relações entre enfermagem e sociedade brasileira e, sobretudo, repensar o seu lugar e a sua responsabilidade no contexto das políticas públicas de saúde e educação, em sua configuração atual. Com essa perspectiva, não deveríamos perder de vista determinadas características deste tempo que estamos vivendo, porque elas podem dimensionar melhor a discussão que estamos propondo, aqui. As reformas educacionais instituídas no Brasil desde a promulgação da LDB21, dentre outros aspectos, vêm determinando novas configurações aos padrões curriculares que, até recentemente, vigoravam em todos os níveis e modalidades de ensino. A tais medidas têm se contraposto movimentos de alguns segmentos da sociedade civil e, no campo específico da educação superior, podemos encontrar um exemplo concreto disso nos debates desencadeados a partir das proposições que emanaram do MEC para reformular a formação, em nível superior, de professores para atuarem na educação básica. No contexto da educação básica e da formação de professores, tais debates e movimentos têm-se consolidado desde 1994/5, quando o MEC propôs ao país os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN s), cujo processo de elaboração e promulgação guarda muitas semelhanças com este que estamos vivendo, hoje, no ensino superior. Exatamente por isso, poderia ser útil mencionar algumas das indagações que nortearam o movimento de contraposição das entidades representativas dos/as educadores/as aos PCN s, porque tais indagações deveriam servir de pano de fundo para a discussão que estaremos efetivando nesta oficina. Tomando como referência a questão Faz sentido a idéia de um currículo nacional? , um dos documentos de contestação, então elaborados, enfatizava que a 21 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 136 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. pergunta que deveria anteceder toda a discussão acerca da própria proposição de um currículo nacional o que as diretrizes curriculares também pretendem ser, nas diferentes áreas de formação no ensino superior diz respeito, exatamente, à pertinência de se ter um currículo nacional, sobretudo se tal discussão for inserida no bojo da teorização mais recente desenvolvida no âmbito das Teorias do Currículo (FACED/UFRGS, 199622). As demais questões colocadas naquele documento também poderiam ser re-elaboradas para pensarmos esse contexto que estamos vivendo, aqui: estamos nos defrontando com diretrizes curriculares ou com um currículo nacional? Onde e como tais diretrizes se distanciam ou modificam, substantivamente, os currículos mínimos nacionais que elas vêm substituir? Quais são as vozes presentes e quais são as vozes ausentes neste texto que chama para si a autoridade e a competência para apresentar uma posição de consenso acerca dos pressupostos que devem nortear a formação profissional em enfermagem, em nível nacional? A promulgação de diretrizes curriculares para os cursos de formação profissional em nível de graduação está inserida em um discurso que anuncia uma ampla reforma educacional do ensino superior brasileiro. Gimeno Sacristán23 (1996, p. 51-3) alerta que, sob a denominação de reforma se abrigam uma infinidade de tipos de iniciativas e programas com propósitos muito variados , desde a adequação do ensino às demandas do mercado de trabalho até a descentralização da administração do sistema, passando pela incorporação de novas tecnologias educacionais ao currículo ou visando melhorar o rendimento dos alunos ou, ainda, melhorar a qualidade do trabalho docente. Apontando para uma situação que também nos é muito familiar, qual seja, a de que a área da educação é, 22 FACED/UFRGS. Análise do documento Parâmetros Curriculares Nacionais. In: Silva, T. T.; Gentili, P. (org. ) Escola S. A Brasília: CNTE, 1996. 23 Sacristán, G. Reformas educacionais: utopia, retórica e prática. In: Silva, T. T.; Gentili, P. (org. ) Escola S. A Brasília: CNTE, 1996. 137 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. em geral, preterida e desvalorizada na concretude da escala de prioridades estabelecida pelas forças econômicas, políticas e sociais, Sacristán constata que é, exatamente, por isso que todo programa de reforma encontra rapidamente ecos e esperanças nos mais diretamente interessados na educação, ou, ao menos, nos que vivem dela [as escolas e os professores] ; ecos e esperanças que estão sujeitas a inevitáveis decepções, uma vez que se põe mais fé na hermenêutica e no discurso do que na análise crítica e na experiência histórica (op. cit., p. 52). Então, mesmo que não estejamos, nesse momento, contestando a urgência histórica que nos incita a buscar formas de traduzir tais diretrizes em currículos ou projetos pedagógicos, o processo mesmo de sua tradução exige um questionamento mais abrangente dos pressupostos básicos que as atravessam e constituem, porque em educação [e, em especial, na enfermagem] sobrevive, em grande medida, uma forma de entender a mudança social que se nutre de um certo messianismo e da mentalidade burocrática tradicional. Isso consiste em atribuir ao discurso que se difunde uma força capaz de transformar a prática, um discurso cuja realização se tornará realidade pela própria força de evidência de suas virtudes e através de intervenção administrativa (...) Se existisse uma análise constante das demandas sociais, se existissem formas de envolvimento dos diferentes grupos que participam do sistema educacional [e do sistema de saúde] (...) se fosse realizada uma constante avaliação da cultura escolar [e sanitária], se existisse um sistema eficaz de aperfeiçoamento de ação contínua, se existisse uma comunicação fluida entre a cultura externa e aquela que é enlatada nos currículos, não haveria necessidade de se utilizar com tanta freqüência esse rito [de reformas] recorrentes (Sacristan, 1996, p.53-4). Tendo feito estas considerações, passamos agora, a discutir o texto das diretrizes curriculares. Diretrizes curriculares e currículo: um olhar mais próximo do texto 138 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Um dos conceitos chave para iniciar qualquer discussão acerca da implementação de reformas educacionais é o conceito de currículo. No campo da educação, o currículo se constitui como sendo um dos elementos centrais em torno do qual giram os debates sobre a escola (em sentido amplo) e seu significado social. A teorização educacional crítica, há muito tempo, consolidou a idéia de que o currículo não envolve apenas questões técnicas, relativas a conteúdos de ensino, procedimentos didáticos e métodos e técnicas pedagógicas, tal como ele era concebido pelas pedagogias tecnicistas dos anos 70 ou 80, enfatizando que ele é um artefato social e cultural que precisa ser compreendido e discutido considerando-se as suas determinações históricas, sociais e lingüisticas. No Brasil, Tomaz Tadeu da Silva e Antônio Flávio Moreira têm publicado muitos trabalhos nos quais desenvolvem a perspectiva de que o currículo não é um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social disponível (ver, por exemplo: 199424, 199525a, 199526b e199827). Eles enfatizam que o currículo está implicado em relações de poder, [que ele] transmite visões sociais particulares e interessadas e desta forma está envolvido com a produção de identidades individuais e sociais particulares. Sendo assim o currículo, qualquer que seja ele, têm uma história que o vincula a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e da educação(1994, p.8). No contexto desse debate, currículo passa a ser entendido como sendo o núcleo que corporifica o conjunto de todas as experiências cognitivas e afetivas proporcionadas aos estudantes e às estudantes no decorrer do processo de formação, o que significa entendê-lo como sendo um espaço conflituoso e ativo de produção cultural (Silva, 1995b). No currículo confrontam-se diferentes culturas e linguagens, e professoras e professores, estudantes e administradores 24 MOREIRA, A F. & SILVA, T. T. Sociologia e teoria crítica do currículo: uma introdução. In Moreira, A F. & Silva, T. T. (org.). Currículo, Cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994. 25 MOREIRA, A F. O currículo como política cultural e a formação docente. In: Silva, T. T. & Moreira, A F. (org.) Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis: Vozes, 1995a. 26 SILVA, T. T. Os novos mapas culturais e do lugar do currículo numa paisagem pós-moderna. In Silva, T. T. & Moreira, A F.(org.) Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis: Vozes, 1995b. 27 MOREIRA, A F. A crise da teoria curricular crítica. In Costa, M. V. O currículo nos limiares do contemporâneo. Rio de Janeiro: DP&A, 1998. 139 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. freqüentemente divergem em relação às aprendizagens e práticas que devem ser escolhidas e valorizadas. Isso pode ser reconhecido, facilmente, se pararmos para pensar um pouco nesse processo que estamos vivendo, aqui, ao nos reunirmos para discutir quais são as diferentes possibilidades de implementação das diretrizes curriculares. A Nova Sociologia da Educação, desde as suas origens na década de 70, na Inglaterra, vem apontando para a importância de se discutir os processos que envolvem a produção, seleção, distribuição, ensino/aprendizagem e avaliação do conhecimento escolar e a sua relação com o controle e a dominação sociais. O que se tem enfatizado mais recentemente é a importância de se interrogar o que Antônio Flávio Moreira chamou de conexões entre linguagem e poder (1995a, p.11), a fim de se compreender como o currículo, com sua autoridade textual, está implicado com a produção de representações e identidades culturais (e profissionais) e, portanto, com a produção, transformação e/ou manutenção de diferenças e de desigualdades sociais. Isso aponta para a necessidade de se analisar, criticamente, uma gama de questões que envolvem os processos de formação, para além da (já complicada) operação de transposição de determinados pressupostos e princípios para um projeto pedagógico ou para uma grade curricular. Alguns exemplos de tais questões: quais são as concepções de sociedade, educação, saúde e enfermagem que estão explícitas e/ou subjacentes nestas Diretrizes Curriculares? Elas convergem ou conflituam com as concepções dos diferentes grupos (ou escolas) encarregados de traduzi-las em currículos ou em projetos pedagógicos, como quer a linguagem oficial? Como se pode pensar essa relação entre diretrizes nacionais que devem ser seguidas por todas as instituições de ensino superior e projetos pedagógicos coletivamente construídos (portanto projetos locais ), em um contexto diverso e multifacetado como esse com que nos defrontamos no Brasil contemporâneo? Não precisaríamos, aqui, questionar a idéia de um currículo nacional, uma vez que os objetivos e conteúdos relacionados nas diretrizes parecem estar a constituir o currículo, o que deslocaria, exatamente, esta idéia mais ativa e local de currículo? 140 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Onde e como se pode localizar e/ou produzir espaços que permitam às instituições formadoras potencializar as condições específicas de cada uma, em especial no que se refere à qualificação de seu corpo docente, à sua capacidade de desenvolver pesquisa e extensão, à sua inserção no sistema público de saúde e às condições da infra-estrutura de que dispõem? Trata-se, aqui, de buscar abarcar o amplo espectro da formação proposta pelas diretrizes ou de escolher e verticalizar aquelas áreas priorizadas no Projeto Pedagógico da Instituição formadora? Diretrizes Curriculares: um olhar por dentro do texto O documento das Diretrizes Curriculares28 para a graduação em Enfermagem admite variadas leituras. Uma das possíveis leituras envolveria problematizar algumas expressões ou conceitos que aparecem de forma mais recorrente, porque esse exercício nos permitiria observar seus sentidos ou funções naquele contexto. Por exemplo, destacaríamos a expressão enfermeiro29 com formação generalista . Qual é o significado desta expressão? No que ela se diferencia de formação geral? A expressão generalista comporta múltiplas interpretações, o que, por si só, determina uma indefinição sobre o tipo de profissional que se deseja formar. Está-se enfatizando, com ela, um conhecimento geral de enfermagem em contraposição a um conhecimento especializado? Ou podemos pensar que ela encerra uma idéia de que o egresso de um currículo deste tipo deveria ser capacitado a atuar em todos os cenários de prática? Seu objetivo seria o de enfatizar a importância da formação ir além dos aspectos técnicos, do saber fazer, atingindo outras competências? Lima30, por exemplo, ao refletir sobre as diretrizes curriculares propostas para os cursos de Nutrição, supõe que a mudança de formação generalista 28 Trata-se da Resolução CNE/CES Nº3, de 7 de Novembro de 2001. Apesar da enfermagem ser uma profissão predominantemente feminina, o profissional é sempre referido no masculino. 30 LIMA, E. Problemas concretos, dinâmica e movimentos de mudança nos cursos de Nutrição com base nas diretrizes Curriculares. Cadernos CE Nutes/UFRJ. Rio de Janeiro, v. II, nº 04. Dez. 2001. 29 141 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. para formação geral talvez expresse o que se pretende fazer de uma forma mais adequada, já que o caráter geral da formação se refere tanto a uma base filosófica que fundamenta a idéia de humanismo, como a um conjunto de conhecimentos que possibilitaria o domínio da argumentação e das práticas. Outros termos que aparecem de forma recorrente nas Diretrizes são: interdisciplinaridade, competências e habilidades, autonomia institucional e flexibilidade. A interdisciplinaridade, vista como solução para muitos dos males que acometem o ensino desde a segunda etapa da educação básica, em geral é manejada como uma solução mágica , principalmente quando se trata de justificar mudanças curriculares ou propor novos currículos, inclusive com a finalidade de legitimar tanto discursos renovadores, quanto os defensores destes discursos. Mesmo reconhecendo a importância da ênfase em uma formação interdisciplinar no contexto da educação (e concordando com ela), é preciso lembrar que a interdisciplinaridade ou a integração curricular não configura uma proposta nova no âmbito da formação profissional em saúde e nem da Enfermagem31. As experiências que foram levadas a efeito e que foram divulgadas não permitem dizer que tal modalidade de ensino tenha produzido resultados concretos ou, mesmo, relevantes, uma vez que não se conhecem exemplos, na educação superior, que tenham conseguido manter essa modalidade de ensino em funcionamento, por muito tempo. De uma forma bastante simplificada, podemos dizer que o movimento pela interdisciplinaridade propõe uma integração entre os diferentes campos do conhecimento, a qual seria possível a partir de novos arranjos curriculares e diferentes maneiras de se trabalhar os conteúdos disciplinares, para alcançar uma unidade do saber. Esta fusão disciplinar faria com que desaparecesse a própria disciplinaridade. Considerando-se a própria organização política, 31 Cf., por exemplo, GASTALDO, D.;MEYER, D.; BORDAS, M. Ensino Integrado: uma revisão histórico-crítica do modelo implantado no ensino superior da área da saúde no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 72, n.170, p.122, jan/abr, 1991. 142 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. funcional e burocrática das instituições de ensino superior, parece bastante difícil pensar um processo de formação profissional que não seja baseado em alguma estrutura, em unidades de algum modo estanques e repetíveis, com algum tipo de articulação entre si. Assim, as unidades propostas, sejam quais forem os nomes que elas tenham disciplinas, eixos temáticos, núcleos conceituais, grandes temas etc. estão normalmente presentes no currículo, para lhe emprestar um arcabouço, uma estrutura que permita a sua organização. Desta forma, mesmo que possamos imaginar um saber que não seja organizado pelas disciplinas, provavelmente teremos sempre um saber dividido segundo algum eixo, elemento ou categoria32. Se quisermos romper com essa forma de organização do saber, quais são os elementos que temos em termos de quantidade e qualidade do corpo docente, em termos de condições de trabalho, em termos de infra-estrutura, em termos de articulação com o sistema público de saúde, etc. - para pensar ou propor estratégias que possibilitem uma inter-relação ou uma efetiva integração entre as disciplinas do curso, em contraposição a um olhar disciplinar isolado? Será que, ao contarmos com o subsídio de muitas disciplinas, atuando convergentemente, num processo transdisciplinar articulado, podemos dar novos sentidos ao conhecimento? Que outras condições seriam necessárias para apoiar o desenvolvimento de tais propostas? O discurso sobre competências, por sua vez, atravessa a discussão sobre a formação de pessoal para o setor saúde desde que foi introduzido pela LDB. Mesmo assim, ainda que sua adoção esteja legalmente sustentada e seja oficialmente incentivada, há espaço, aí, para um caloroso debate acerca da pertinência de sua incorporação nas propostas de formação profissional. Portanto, existe ainda um longo caminho a ser percorrido para que se estabeleçam modos de formação profissional pertinentes com suas propostas. Desta forma, poderíamos perguntar, quais são os (múltiplos) sentidos contidos no termo competência? Em relação às tão faladas novas competências para o 32 Estas notas são inspiradas em VEIGA NETO. Currículo e Interdisciplinaridade In: MOREIRA, A. F. (Org.). Currículo: questões atuais. Campinas: Papirus, 1997. 143 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. trabalho , quais seriam os cenários de trabalho que deveríamos projetar e como incluir esta projeção em nossos projetos político pedagógicos? Quais seriam as competências cognitivas e comportamentais requeridas? Na maioria das vezes, um currículo por competências pode estar apenas tomando por base uma determinada noção de competência, sem que seja possível estabelecer o que caracterizaria uma formação profissional relacionada a determinado tipo de atenção à saúde Como se poderia organizar um projeto político pedagógico que contemplasse o conjunto de competências cognitivas e comportamentais e que, ao mesmo tempo, tivesse relação com as peculiaridades regionais e a vocação institucional? Isso seria possível? Isso seria desejável? Como se poderia pensar um currículo que contemplasse, também, competências comunicativas, comportamentais, sociais e políticas? Estas questões não pretendem, necessariamente, colocar em xeque as competências previstas nas Diretrizes Curriculares, mas apontar para o fato de que o exercício da problematização é indispensável nesse processo de proposição de uma formação que responda, por exemplo, à necessidade de competências para o trabalho 33. Ainda com relação a este mesmo tópico, observamos que ao lado da expressão competência é utilizada reiteradas vezes a expressão habilidades, significando uma complementaridade entre uma expressão e a outra, competências e habilidades. A consulta a um dicionário da língua portuguesa34, nos diz que este verbete tem o significado de ser apto, competente, capaz; enquanto competência seria a qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa; capacidade, habilidade, aptidão e idoneidade. Tais palavras têm uma longa história no campo da educação e da pedagogia e não seria inadequado perguntar-nos o que significa a sua recolocação no documento das Diretrizes Curriculares. O que elas 33 Para mais informações sobre a noção de competência ver MOTTA, J. I.; BUSS, P.; NUNES, T. Celeste.Novos desafios educacionais para a formação de recursos humanos em saúde. Olho Mágico, Londrina, v.8, n.3, p.4-8, set./dez.2001. 34 FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1995. 144 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. podem estar a representar e para que direções apontam, no contexto da formação? Nossa memória temporal, histórica ou política, poderia nos ajudar a resgatar, através destas palavras - muitas das quais fizeram muito sucesso em outros tempos (por exemplo, poderíamos relembrar a taxonomia dos objetivos instrucionais de Bloom ou as propostas de qualidade total em educação) - sentidos que re-emergem no presente, com outras denominações. O último aspecto que gostaríamos de problematizar, para este início de conversa, é que a resolução que institui as Diretrizes Curriculares prevê, explicitamente, em seu Artigo 14, inciso IV, que a estrutura do curso de graduação em Enfermagem deve assegurar os princípios da autonomia institucional, da flexibilidade, de integração estudo/trabalho e de pluralidade, no currículo . Que sentidos podem ser atribuídos aos termos autonomia e flexibilidade, considerando-se a estrutura e a linguagem dessa resolução? A formação profissional nela proposta delineia-se em torno de alguns tópicos apresentados de forma seqüencial, quais sejam: perfil do formando egresso, competências e habilidades gerais, competências e habilidades específicas (33!), conteúdos essenciais, obrigatoriedade do estágio, integração com o serviço de saúde, previsão de atividades complementares de diferentes tipos, busca da articulação entre ensino, pesquisa e extensão/assistência, respeito ao pluralismo e à diversidade cultural, dentre outros, e proporcionar tudo isso considerando a inserção institucional do curso, a flexibilidade dos estudos e os requerimentos, demandas e expectativas de desenvolvimento do setor de saúde na região (CNE/CES n.3, artigo 10, parágrafo 2º). A linguagem utilizada é, quase sempre, imperativa, universalizante e pontual. Caberia, então, perguntar se autonomia e flexibilidade se configuram como possibilidades de fato ou como recurso de retórica, nesse contexto Como tais noções poderiam ser politicamente significadas e exploradas, para abrigar interesses, necessidades ou a vocação dos diferentes grupos e instituições, considerando-se o deslizamento entre obrigatoriedade e flexibilidade que permeia todo o texto? Sobretudo se considerarmos as políticas nacionais de avaliação, como o Provão , que as escolas e cursos de enfermagem deverão enfrentar de 145 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. forma quase concomitante à implementação das diretrizes curriculares nacionais? Quais os efeitos políticos, acadêmicos, sociais e, também, econômicos derivados do possível distanciamento do espaço de manobra com que a noção de flexibilidade parece acenar? Diretrizes curriculares: a intencionalidade da problematização O questionamento dessas (e de outras) proposições a nosso ver nucleares - contidas no texto que constitui as diretrizes, que procuramos estimular a partir destas reflexões iniciais, não indica que estamos desconsiderando os esforços que muitas/os colegas tem dispendido para favorecer modificações que possibilitem uma efetiva melhoria na formação do pessoal da área da saúde. Entretanto, o que estamos tentando é tornar problemático, e, portanto histórico, um documento que apresenta determinados pressupostos como naturais e/ou consensuais. Como se eles não tivessem uma filiação, um domínio e uma vontade de produzir enfermeiras e enfermeiros com uma dada identidade profissional. Exatamente por isso, pensamos que as diretrizes curriculares podem ter a finalidade de fornecer referências para as discussões a respeito da formulação, desenvolvimento e avaliação do projeto político pedagógico dos cursos de enfermagem, e, não necessariamente, a função de estabelecer currículos e formatações para estes cursos. Uma vez que o recorte a ser efetivado pelas instituições formadoras deveria vincular-se, como procuramos sugerir no texto, às condições de inserção social específicas de cada uma, entre as quais a existência de um corpo docente qualificado, a capacidade de desenvolver pesquisa e extensão, condições de trabalho e infraestrutura adequada, não se pode deixar de enfatizar a importância de docentes e discentes trabalharem em equipe e participarem ativamente de todo o processo e não, apenas, de algumas partes do mesmo, para que a discussão das diretrizes e do projeto político-pedagógico se configure como um espaço de reflexão e de construção coletiva, na instituição. 146 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Desta forma, as referências e parâmetros contidos nas diretrizes poderiam auxiliar as escolas/faculdades/cursos para que, no exercício de sua autonomia, formulassem e organizassem seus projetos pedagógicos, elegessem estratégias e modos de fazer articulados, ao mesmo tempo, às demandas políticas e sociais da sociedade brasileira mais ampla e às necessidades e interesses dos locais onde se inserem de modo a reordenar a formação dos recursos humanos em saúde e, em especial na enfermagem, no sentido de criar outras possibilidades de desenhar um modelo de atenção à saúde que contemple práticas sanitárias relacionadas a um conceito ampliado de saúde e de justiça social. Delinear esta trajetória político-pedagógica, por dentro das diretrizes, sem colar-se ou subsumir-se nelas, é o desafio maior que está posto, a partir de agora. 147 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. RELATÓRIO DA OFICINA DE DIRETRIZES CURRICULARES DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM: DE QUE MUDANÇAS (POLÍTICAS E PEDAGÓGICAS) SE TRATA AQUI? Maria Henriqueta Luce Kruse35 Dagmar Estermann Meyer2 Realizada durante o último SENADEN, em Teresina, a oficina em que se discutiram as novas Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação em Enfermagem teve o propósito de reunir os/as agentes envolvidos na educação de enfermagem (docentes, discentes, enfermeiros/as dos campos de prática, gestores de enfermagem/saúde e outros) em um espaço que possibilitasse, em primeiro lugar, a discussão e a compreensão desse documento e, em segundo lugar, o delineamento de propostas coletivamente construídas, para embasar o processo de reformulação curricular que, a partir delas, deverá ser desencadeado nas escolas de Enfermagem do País. Para uma maior produtividade da oficina proposta, a ABEn sugeriu que fossem realizadas discussões prévias nas escolas acerca de alguns eixos norteadores, quais sejam: a vinculação entre a política de saúde e os projetos de formação dos trabalhadores de enfermagem, a dimensão política dos projetos pedagógicos de cada curso e as estratégias de construção de projetos político pedagógicos que consolidem o SUS. Participaram da oficina 186 coordenadoras/es de curso, docentes, discentes e gestores de ensino e saúde que foram distribuídos em 6 grupos, os quais trabalharam tomando como referência um texto base intitulado Diretrizes Curriculares um início de conversa (de nossa autoria) que foi distribuído para leitura inicial pelos integrantes dos grupos. A discussão propriamente dita foi desencadeada, em cada 35 Enfermeira, Doutora em Educação, Professora Adjunta da Faculdade de Educação da UFRGS. 2 Enfermeira, Doutoranda em Educação (PPGE/UFRGS), Professora Adjunta da Escola de Enfermagem da UFRGS. 148 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. grupo, em torno de um dos seguintes temas norteadores extraídos do texto-base: em que diretrizes diferem de currículo mínimo e/ou projeto pedagógico? Em que as diretrizes se distanciam dos currículos mínimos?(grupo 1) Concepções de saúde, enfermagem, sociedade e educação presentes nas diretrizes. Convergências ou conflitos com as das escolas/grupos de origem (grupo 2 e 3). Significados da expressão formação generalista . No que ela se diferencia ou aproxima de formação geral? Estratégias para sua implementação (grupo 4). Currículo interdisciplinar ou integrado. Elementos que temos para propor estratégias que viabilizem sua implementação (grupo 5) Competências e habilidades. Significados atribuídos a esses termos e estratégias de implementação (grupo 6). Autonomia e flexibilidade dos projetos pedagógicos x obrigatoriedade das diretrizes (grupo 7). O resultado do trabalho realizado em cada grupo foi sistematizado e apresentado por relatores, em um encontro final. Sem ter a pretensão de dar conta da totalidade das discussões realizadas nos grupos, apresentamos, neste artigo, parte dessa sistematização. Quanto às diferenças e distanciamentos entre diretrizes e currículo mínimo, foi destacado que diretrizes devem nortear o projeto pedagógico e apontar caminhos considerando contextos e concepções amplas e abrangentes, enquanto que o currículo mínimo é mais estruturante e privilegia o saber fazer. Foi realçada a necessidade de se associar ensino, pesquisa e extensão nos projetos pedagógicos, considerando a transdisciplinaridade e enfatizando-se a importância da construção coletiva de projetos diferenciados e singulares, que permitam repensar tanto as relações entre a Enfermagem e a sociedade, quanto os processos de qualificação docente e de avaliação institucional. Embora as diretrizes tenham sido construídas com a participação da sociedade organizada, no caso da Enfermagem através da ABEn, considerou-se que a legislação resultante desse processo não foi ainda bem discutida e avaliada. Foi referida, ainda, a necessidade de se estabelecer uma carga horária mínima para a duração dos cursos. A discussão relativa às concepções de saúde, enfermagem, sociedade e educação, explícitas ou subjacentes nas diretrizes, foi 149 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. considerada difícil e abstrata já que ela demanda conhecer mais a fundo teorias sociais e educacionais não muito difundidas na área da Enfermagem. Nesse sentido, considerou-se que a discussão realizada pelo grupo representa um avanço na área. Durante os trabalhos do grupo foram discutidos alguns conceitos e apontou-se a dificuldade que as escolas/docentes enfrentam no sentido de criar condições para que estes permeiem, de fato, o currículo e as situações de ensino. Enfatizou-se, ainda, que tais conceitos norteadores são apropriados de forma diferenciada por docentes e discentes, questionando-se os prós e contras dessa diversidade. Concluiu-se que a pluralidade é mais rica do que a homogeneidade e que há uma efetiva necessidade de promover uma melhor integração da universidade com a sociedade mais ampla. Assinalou-se, também, que as diretrizes apresentam avanços, com sua ênfase em uma formação crítica, na inclusão de atividades complementares e na flexibilização curricular, e retrocessos quando apresenta, por exemplo, listagens dos conteúdos a serem desenvolvidos. Quanto ao significado da noção de formação generalista , entendeu-se que seria formar enfermeiros/as aptos/as a cuidar do indivíduo (cliente, paciente ou usuário) de forma integralizada, vendoo como um ser inserido no processo social e que apresenta suas necessidades básicas afetadas por contingências epidemiológicas, econômicas, financeiras, educacionais, sociais e/ou políticas. Essa noção supõe, também, a capacidade deste profissional buscar, permanentemente, sua autoqualificação. Quanto às estratégias para implementar o projeto político pedagógico, o grupo reforçou que o mesmo deve ser construído coletivamente com a participação de todos os envolvidos, destacando a importância da disponibilidade interna de cada um para a mudança. Também entendem que o mesmo deve estar em constante avaliação e que as experiências vivenciadas com sua implementação precisam ser socializadas em âmbito local e regional. A proposição de implantação de currículos integrados, explícita nas diretrizes curriculares, foi questionada, uma vez que essa não é uma experiência nova na área da saúde. Nesse sentido, sugeriu-se discutir com mais profundidade o que se entende por currículo e por 150 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. integração e, ainda, os fatores que emperraram e/ou inviabilizaram a continuidade dos projetos já implementados em anos passados. Questionou-se, ainda, por que a integração docente assistencial (IDA), estreitamente vinculada aos propósitos dos currículos integrados, não deu certo na maioria dos locais em que se buscou implementá-la. Desde essa perspectiva, o grupo considerou que não se pode impor currículos nacionais , que é necessário que se respeite as especificidades locais e institucionais e que isso envolve uma política de sensibilização do corpo docente e discente e o desenvolvimento de capacidade de liderança e de negociação. Isso envolve, também, melhorar a comunicação intra e inter-institucional, buscando apoio financeiro para viabilizar as discussões, criar grupos de discussão na internet, fazer teleconferências, unir esforços em rede organizada pela ABEn, e em reuniões regionais. Envolve, sobretudo, a necessidade de rediscutir as políticas de distribuição de encargos e os critérios de avaliação docente, uma vez que tais políticas e critérios implicam em uma sobrecarga de trabalho que, por si só, inviabiliza qualquer proposta de integração. Em relação às noções de competências e habilidades, reiteradamente citadas nas diretrizes curriculares, foi enfatizada a importância da formação de profissionais aptos a intervir na realidade, não apenas para atuar no mercado de trabalho, reproduzindo a assistência à saúde atual, mas com condições de propor alternativas de mudança desse modelo. Também se reforçou o papel dos/as docentes no desenvolvimento da competência discente. Apontou-se que a pósgraduação é fundamental para auxiliar em todo esse processo enfatizando-se, com preocupação, a dificuldade de acesso aos cursos de mestrado e doutorado em algumas regiões do país. Em relação ao documento das diretrizes, foram colocadas dúvidas quanto ao rol de competências específicas aí arroladas, questionando-se tanto a necessidade de contemplá-las na totalidade quanto as formas mais adequadas para avaliá-las, considerando-se, especialmente, o fato de que o Exame Nacional de Cursos (Provão), do modo como está proposto, poderá vir a funcionar como um dos principais instrumentos 151 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. de avaliação das competências e habilidades para a formação profissional. Na discussão que buscou problematizar a existência de diretrizes que, ao mesmo tempo, enfatizam fortemente a autonomia e flexibilidade dos projetos político pedagógicos foi questionada a ênfase que tem sido dada à construção de currículos integrados, baseados na pedagogia da problematização, que é percebida como algo que engessa as escolas/cursos, quando são tomados como receitas . Manifestou-se, inclusive, a preocupação de que tais soluções sejam tomadas como inovação em futuras avaliações de projetos como o PROENF. Considerou-se que as experiências de alguns cursos são sugestões que podem motivar ou inspirar, mas a cada escola cabe procurar o seu caminho, até porque existem amarras institucionais que impedem determinadas mudanças. Apontam os SENADEn como fundamentais e legítimos para realizar essas trocas e discussões. Entendem que tanto flexibilidade como autonomia se chocam com a proposta de um perfil nacional de competências e habilidades especificas, com a forma de avaliação dos egressos (Provão) e com a própria avaliação dos cursos (Avaliação das condições de ensino). Destas discussões podemos destacar como encaminhamentos para atividades futuras, a promoção de estratégias que ampliem os contatos entre as escolas/cursos, tanto em rede como em encontros estaduais, regionais e nacionais, promovidos pela ABEn, com o objetivo de criar espaços de partilhamento de experiências, avanços e dificuldades. Também foi indicada a importância de publicar um número especial da REBEn (ou outra publicação organizada pela ABEn) sobre Educação em Enfermagem, onde seja possível aprofundar a discussão conceitual e apresentar experiências diversificadas e exitosas de implementação das diretrizes curriculares. 152 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. CONFERÊNCIA - DEBATENDO A ESPECIALIZAÇÃO DOS TRABALHADORES DE NÍVEL TÉCNICO: RAZÕES E POSSIBILIDADES PARA EXISTIR Francisco Aparecido Cordão36 Bom dia a todos, Primeiro eu queria dizer da minha grande satisfação por estar aqui hoje no SENADEn , discutindo sobre a especialização do trabalhador de nível técnico, explicitando as razões e as possibilidades para existir essa especialização profissional no nível técnico da educação profissional. Só começamos a falar em especialização para o nível técnico a partir da atual LDB, a Lei nº 9394, de 1996, e esta Lei, a atual LDB, propõe uma mudança radical em relação ao entendimento anterior da educação profissional. Vocês se lembram muito bem que, na legislação anterior, a educação profissional se constituía em mera parte diversificada do ensino médio, quer dizer, ela não era propriamente educação, era a parte da formação especial do ensino de segundo grau. Nós tínhamos, no ensino médio, antigo segundo grau, uma parte de educação geral, que dava garantias de continuidade de estudos no nível superior, e uma parte diversificada, que era a da formação profissional ou formação especial. Essa educação profissional de nível técnico, no Brasil, sempre foi considerada como algo de segunda categoria, de menor qualidade. Sempre houve um certo preconceito em relação à educação profissional. Esta sempre foi considerada como coisa para pobre, para os filhos dos outros, não para os nossos filhos. Tanto isto é verdade, que antes da Lei nº 5692/61 nós tínhamos a educação profissional apenas nas escolas técnicas e nas instituições especializadas em educação profissional. Essas instituições eram conhecidas como instituições de formação profissional, porque não era utilizado o termo educação profissional para a parte profissionalizante. A parte da formação profissional, ou parte especial do currículo, de natureza profissionalizante, 36 Presidente da Câmara de Educação CEB CNE/MEC 153 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. complementava,de forma integrada, a educação geral,como parte diversificada do currículo escolar. Educação mesmo era aquela parte do currículo escolar que possibilitava a continuidade de estudos. A educação, de acordo com o explicitado no conjunto das Leis Orgânicas propostas pelo Ministro Gustavo Capanema, é destinada à formação das elites condutoras do País. A formação profissional, por outro lado, é para aqueles que necessitem ingressar precocemente na força do trabalho.Tanto isto é verdade, que a grande briga enfrentada pelos defensores da Lei nº 5.692/71, que é uma das leis que reformou a nossa primeira LDB ,que é a Lei nº 4.024, editada em 1971, foi porque juntou a formação profissional com a educação de nível de 2o grau, de nível médio. Não foi por conta da necessidade ou não, da razão ou não de se enfatizar a formação do técnico de nível médio. A grande briga mesmo foi porque juntou a formação profissional com a educação geral do cidadão. Bom. Esta nova LDB, ao mesmo tempo em que separou de novo essa parte específica da formação profissional da educação geral do ensino médio, ela considerou que a educação profissional não é mais etapa ou parte diversificada do ensino médio. O ensino médio ganhou uma cara nova, como etapa de consolidação da educação básica. A educação profissional, por seu turno, passou a incorporar uma nova concepção, mais moderna e atual, articulando as diferentes formas de educação, trabalho, ciência e tecnologia, É por conta desta nova concepção de educação profissional, articulando as várias dimensões de educação, trabalho, ciência e tecnologia, que nós podemos começar a falar em especialização também no nível técnico. E porque também nesse nível? Porque até esta lei de ensino, portanto, anteriormente à atual LDB, o termo especialização era utilizado somente para o nível superior. Só era possível se falar em especialização para o nível superior. Apenas profissional de elite poderia se especializar. Profissional de nível técnico, aquele que bota a mão na massa, aquele que suja a mão, esse não pode se especializar. Ele é um profissional subalterno. Ele é técnico, e tem limites para a sua atuação. Tem que atuar sob supervisão de um profissional de nível superior, ainda que da mesma área. Fica claro que todos os profissionais têm limites para 154 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. a sua atuação, mas limites definidos pelo perfil da sua formação, definido pelas suas competências e não definido a priori pelos preconceitos em relação a quem está numa escala considerada menor, em termos de nível de escolaridade e profissionalização. A partir da promulgação da atual LDB, a educação profissional, seja no nível básico, seja no nível técnico, seja no nível superior, toda ela tem que articular as diferentes formas de educação, trabalho, ciência e tecnologia. Nenhuma educação profissional,de qualquer nível, pode se restringir a treinamento operacional. Aqui, também, a LDB promoveu uma outra mudança significativa, porque a formação profissional antiga tinha como objetivo principal o de treinar para o fazer. Durante muito tempo, o conteúdo quase que completo e o cerne da formação profissional era entendido como esse treinamento para o fazer. Isto quer dizer que as pessoas deviam adquirir certos automatismos que facilitassem o seu fazer. O melhor exemplo desse entendimento é o do treinamento ou formação profissional do datilografo à base do a s d f g a s d f g , até você adquirir um grau de automatismo que facilite o ato de datilografar, hoje digitar no computador, de maneira automatizada, sem olhar no teclado, porque isso facilitaria o exercício profissional específico. Então, a força da formação profissional estava na preparação para esse exercício profissional competente, traduzido como treinamento operacional, para aquisição de automatismos técnicos facilitadores. O profissional era treinado para agir desta maneira ou daquela maneira, em termos de preparo para o exercício profissional em postos de trabalho bem delimitados. Tanto isto é verdade que o trabalho de formação profissional era freqüentemente caracterizado como de formação de mão de obra. Educação era para os níveis superiores. Para o nível técnico ou para o nível básico era destinada a formação de mão de obra. O que a LDB está sinalizando com esta nova concepção de Educação Profissional? Ela está sinalizando que não precisamos mais de formação de mão de obra, mas de cabeças condutoras da mão de obra. A educação profissional acontece a partir do desenvolvimento de competências profissionais. Por competência profissional entendemos aquela capacidade do indivíduo de articular, mobilizar e colocar em ação os conhecimentos, 155 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. habilidades, valores e atitudes para resolver os desafios da vida profissional. Competência profissional é essa capacidade de articular conhecimentos, articular educação, trabalho, ciência e tecnologia, se beneficiar dos avanços científicos e tecnológicos de toda a humanidade. Então, não basta saber fazer. Saber fazer é importante, mas o curso profissional não deve se preocupar apenas com o ensinar a fazer, porque não basta saber fazer, é preciso saber porque se está fazendo dessa maneira e não de outra. É preciso ter o conhecimento tecnológico que informa o fazer, e é preciso desenvolver uma cultura do trabalho, com os valores inerentes ao exercício daquela profissão, desenvolver o que já foi chamado de o ethos da profissão , quer dizer, aquele gosto pelo trabalho bem feito, aquele orgulho pelo trabalho que faz e ao mesmo tempo aquele desgosto por um trabalho mal feito, inacabado, sujo; quer dizer, a pessoa tem que cultivar os valores inerentes à cultura do trabalho, comportamento ético, cultivar o conhecimento que informa o fazer. Não basta saber fazer, é preciso saber porque se está fazendo dessa maneira e não de outra. É preciso saber que existem outras maneiras para se fazer, e ao se fazer alguma coisa fazer intencionalmente. A escola precisa assumir intencionalmente suas responsabilidades em relação ao processo educativo. Trata-se daquela intencionalidade da qual a Léia falou ontem na palestra dela: é essencial ter condições de decidir intencionalmente o que fazer, saber porque está fazendo desta ou daquela maneira e não de outra. Caso não saiba tenha condições de buscar saber. O indivíduo não vai tirar pressão daquele jeitinho sempre igual porque falaram que é para fazer daquele jeito. Vai procurar saber porque está fazendo isto daquela maneira e não de outra.Vai procurar saber os fundamentos do seu fazer. Não vai se contentar com o fazer mecânico e rotineiro, sem saber o porque se suas ações profissionais. É como aquela história do aprendiz do SENAI na área de estrada de ferro. Não sei se vocês conhecem essa piada. Dizem que um aprendiz no SENAI foi trabalhar numa estação ferroviária e, então, a pessoa que fazia o serviço há mais de trinta anos e ia se aposentar foi passar o serviço para o novato e falou para ele: olha, o trabalho aqui é muito simples. Veja, aqui, este 156 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. martelinho de borracha. Toda vez que chegar um trem você vai com esse martelinho de borracha batendo na roda do trem, vai de um lado batendo em todas as rodas. É claro que ele tinha que bater e perceber se, de qualquer maneira, ouvisse um som diferente era sinal de que a roda estava rachada e tinha que ser trocada e tal. Mas o velho funcionário continuou: você vai batendo até o fim e volta batendo do outro lado. Na hora que você bater na última roda, você cumprimenta o maquinista e ele vai embora. Aí o jovem aprendiz falou. Tudo bem, mas a troco de que eu tenho que bater em todas as rodas do trem com este martelinho de borracha ? O velho funcionário retrucou: Veja bem, menino, eu estou me aposentando e você vai ficar no meu lugar. Faça o seu serviço da maneira como eu estou te ensinando a fazer. Chega de perguntas para as quais não se têm respostas. Você está chegando hoje e já vai querer saber porque se deve bater em todas as rodas do trem ? O importante é você fazer o seu serviço rapidamente e liberar logo o trem. Deixe ele andar. Não vai criar caso com coisas que não são importantes. Durante mais de trinta anos eu fiz direitinho o serviço que mandaram eu fazer, sem criar caso e sem ficar bisbilhotando naquilo que não é de minha conta. Vejam. Esta piada é paradigmática de um tempo que já passou, espero que definitivamente. O que eu quero dizer com isto. Quero dizer que não se pode mais, hoje em dia, simplesmente bater na roda do trem sem saber porque que está batendo na roda do trem com aquele martelinho de borracha. Ele tem que saber o que está fazendo, e mais do que saber o que está fazendo, ele tem que ter condições de decidir e de decidir sem a presença do chefe, na hora que algo der errado O profissional antigo era preparado para fazer tudo aquilo que o chefe mandava ele fazer, e ele tinha que fazer do jeitinho que o chefe mandou, mas tem hora que não dar para fazer aquilo que o chefe mandou, sem bisbilhotar naquilo que não era de sua conta. Esta atitude, hoje, é absolutamente incompatível com as exigências profissionais. O novo profissional precisa saber tudo ou o máximo que puder sobre o seu fazer. Tem que bisbilhotar, sim.Tem que questionar o chefe sobre as ordens recebidas, até entendê-las perfeitamente e tem que ter condições de decidir o que fazer numa dada circunstância se o 157 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. chefe não está ali para orientar e decidir. Aí você tem que decidir, e tem que decidir com consciência, com intencionalidade, com responsabilidade. Quero, com isto, dizer que a nova educação profissional deve preparar profissionais que tenham condições de decidir pela própria cabeça, porque não aprenderam apenas a fazer. Eles aprenderam porque estão fazendo dessa maneira e não de outra, e têm condições de buscar novos conhecimentos para aperfeiçoar a sua ação, têm condições de monitorar o seu próprio desempenho pessoal. Essa é uma questão importante: saber se colocar numa equipe de trabalho e fazer o que deve ser feito com intencionalidade e consciência. Quando nós definimos as diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional de nível técnico, aqui na resolução CNE/CEB nº 4/99 e no parecer CNE/CEB nº 16/99 essa orientação focou muito clara. Essas diretrizes foram definidas por área profissional, quer dizer, o auxiliar de enfermagem e o técnico de enfermagem, antes de ser um auxiliar ou um técnico de enfermagem, ele é um profissional da área de saúde, que integra uma equipe de saúde e que tem que ter condições, tem que ter consciência do que significa ser um profissional da área de saúde. Não pode ficar restrito ao seu mundinho da enfermagem. É exatamente por isso que nós podemos pensar em especialização não apenas no nível superior, no nível da pós graduação, mas também no nível técnico. E quando falo também no nível técnico significa que esse assunto foi bastante discutido no âmbito do Conselho Nacional de Educação, porque de início a maioria dos conselheiros não aceitava essa especialização de nível técnico. Estavam acostumados com o fato da especialização ser, apenas, desenvolvida no nível superior. Nós todos estávamos acostumados a isso. Quem se especializa é a elite, formada no nível superior de ensino. Nem o peão e nem mesmo o técnico precisam se especializar.Acontece que esta mentalidade está mudando. Técnico não é mais encarado apenas como mão de obra, que precisa apenas daquela especialização dos pacotes tecnológicos, quer dizer, de aprender a fazer isto ou aquilo, aprender a manejar esta ou aquela máquina, aprender a manejar este ou aquele equipamento, 158 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. mecanicamente. Não é desta especialização que estamos falando, da especialização que pode ser obtida através de um treinamento operacional de uma máquina, de um equipamento. Estamos falando de uma outra especialização, daquela que complementa a qualificação ou habilitação profissional de nível técnico. Estamos falando da especialização que está prevista na nova LDB e nas suas regulamentações. Trata-se de uma especialização que se dá como complemento da qualificação ou da habilitação profissional. Não se trata apenas de aprender a fazer algo, mas do desenvolvimento do conhecimento tecnológico e da cultura do trabalho que acompanha o fazer técnico. Trata-se daquele trio composto por competência técnica, conhecimento tecnológico e cultura do trabalho, os quais devem ser trabalhados no seu conjunto. Eu não posso separá-los, nem no nível técnico, nem no nível superior. Em qualquer dos níveis de ensino posso prever a especialização. Por exemplo, o indivíduo faz um curso de técnico de enfermagem e depois ele se especializa em UTI. O que significa isso? Significa que ele tem todas as competências para ser um bom técnico de enfermagem e mais as competências adicionais relacionadas especificamente com UTI. Essa especialização pode ocorrer, perfeitamente. Ocorre que muitos conselhos de educação ainda encontram muitas dificuldades para entender isso, tanto em relação ao técnico quanto e principalmente em relação à qualificação profissional. A dificuldade maior está em entender qual que é a regra para a oferta de cursos de especialização. Eu entendo que, quando for de utilidade no mercado do trabalho, no mundo do trabalho, para a sociedade, para os trabalhadores e para o mercado, então é possível a oferta de programas de especialização profissional. Havendo necessidade efetiva é possível, mas essa necessidade tem que ser detectada pela escola ao analisar a realidade do mundo do trabalho. Por exemplo, auxiliar de enfermagem é uma ocupação claramente definida no mundo do trabalho, tanto quanto o técnico e o enfermeiro. No mundo do trabalho na área de enfermagem, hoje, eu tenho o auxiliar, o técnico e o enfermeiro. Então, eu posso ter especializações planejadas como complemento dessas qualificações no nível do auxiliar, do técnico e 159 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. do enfermeiro.Por exemplo: auxiliar de enfermagem com especialização em enfermagem do trabalho na linha do auxiliar, técnico de enfermagem com especialização de enfermagem do trabalho no nível técnico.E assim por diante. O que é preciso, também, é utilizar o bom senso, para não oferecer um programa de especialização no nível do auxiliar para uma técnica de enfermagem que seja privativa do técnico de enfermagem. Isto quer dizer que se eu for oferecer uma especialização para o auxiliar, esta tem que estar calibrada para o nível do auxiliar. Uma especialização técnica deve estar calibrada para o nível técnico. Uma especialização superior será calibrada para o nível superior. Até hoje não existia alternativa de especialização no nível técnico por puro preconceito, porque dizia-se que especialista era apenas aquele profissional de nível superior. Agora é diferente - nós temos a legislação e a especialização do trabalhador de nível técnico está situada no nível da educação permanente, naquela perspectiva de contínuo desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva, como muito bem define a nova LDB, em termos de criar condições para vencer os novos desafios profissionais esperados e inesperados, de monitorar os seus próprios desempenhos profissionais, com crescentes graus de autonomia intelectual, porque essa é uma das condições para o desenvolvimento de competências para a laborabilidade, para se ter condições de navegar livremente no mundo do trabalho. Então, é nesse desenvolvimento de competências profissionais com crescente autonomia intelectual, na perspectiva da educação permanente, é aí que está a justificativa maior para a possibilidade de existência de cursos de especialização no nível técnico. Isto porque a nova LDB coloca para nós uma nova situação, uma nova configuração para o ensino técnico. Nós estamos assistindo à emergência de um novo modelo de educação profissional centrado na noção de competência profissional, porque cada vez menos no mundo do trabalho e na área de enfermagem idem, cada vez menos nós temos aquela clássica separação entre quem planeja, supervisiona, controla a qualidade e quem executa. Cada vez mais, aquele que executa uma ação é 160 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. chamado também a planejar essa mesma ação profissional, bem como sua ação junto com outros profissionais. Cada vez mais ele é chamado a monitorar os seus próprios desempenhos, controlar a qualidade do seu desempenho, e cada vez menos depender do supervisor, depender de alguém mandando fazer. Neste sentido, auxiliar e técnico de enfermagem não devem mais ser encarados como simples mão de obra do hospital, mas como profissionais que têm condições de assumir os seus papéis junto com a equipe de saúde que atua naquele hospital ou naquele posto, quer dizer, ele não está preso àquele posto de serviço porque só sabe fazer aquilo; mas ele que sabe se situar adequadamente na equipe de saúde e sabe porque que ele está fazendo tal atividade dessa maneira e não de outra. É sobre isso todo aquele discurso do Parecer CNE/CEB nº16/99 sobre condições de articular e mobilizar conhecimentos, valores, habilidades e atitudes para colocar em ação na hora que for preciso, para atender aos requerimentos e desafios da vida profissional de modo original e criativo, com eficiência e eficácia. A LDB vê a Educação Profissional como complementar à Educação Básica, articulando as dimensões de Educação, Trabalho, Ciência e Tecnologia, no sentido de desenvolvimento de aptidões para uma vida ativa e produtiva. Neste sentido, o ensino médio, enquanto etapa de consolidação da educação básica , está desvinculado da educação profissional. A educação profissional é independente, articulada e complementar ao ensino médio. Ela não é mais mera etapa, mera parte diversificada do ensino médio e a duração dos cursos está vinculada ao perfil profissional de saída, de conclusão do curso. Isso vale tanto para a habilitação, quanto para a qualificação, quanto para a especialização profissional. A escola define a duração efetiva do seu curso. Na legislação anterior a situação era diferente, até porque, também, nós tínhamos mínimos curriculares definidos pelo antigo conselho federal da educação. A escola tinha que obedecer ao que era previamente definido nos Pareceres instituidores de habilitação profissional. Nessa circunstância era fácil planejar um curso, de acordo com a legislação anterior: bastava ir buscar no respectivo parecer quais os mínimos definidos e copiar, fazer as 161 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. adaptações de acordo com a realidade de sua escola. Agora não, a escola tem que ter muita clareza de qual é o perfil do profissional do curso que ela planeja oferecer.Por exemplo, se vou formar técnico de enfermagem, com que perfil? para atender que realidade? qual é a necessidade do técnico de enfermagem aqui? quais são os desafios do técnico de enfermagem aqui? eu quero fazer especialização em UTI, em oncologia? por que? qual a utilidade? qual é o perfil desse profissional? qual é o diferencial desse profissional especializado atuando nos hospitais, nas casas de saúde daqui da região? se eu vou fazer um curso de especialização ou de técnico, por exemplo, em perfusão, onde tem necessidade do perfusionísta. Não vou fazer nem um e nem outro onde o pessoal nem sabe o que é isso. Isto significa que se exige, sempre muita clareza quanto à definição do perfil profissional de conclusão do curso. Definido o perfil,é importante ter muita clareza de que competências devem ser desenvolvidas para dar conta desse perfil profissional de conclusão. No caso de uma profissão regulamentada, como é o caso da enfermagem, nesse curso,referindo-se a uma ocupação regulamentada, a escola tem que ver também, na lei do exercício profissional, quais são as atribuições desse profissional. A escola não pode desconsiderar essa lei. Essa lei do exercício profissional não define competências, define atribuições. Para o desempenho daquelas atribuições definidas na lei a escola define competências profissionais a serem desenvolvidas e que deêm conta de todas essas atribuições e mais todas aquelas que forem exigidas pela realidade. Nós estamos vivendo num mundo em constante mutação, sempre com crescentes e novas exigências. Também não vamos ficar presos àquilo que foi definido na lei do exercício profissional na décadas de 20, 30, 40, 80, porque de 20 anos para cá mudou muito no mundo do trabalho; de 30 ou 40 para cá mudou muito mais. Dizem que, com quase toda certeza, 80% da tecnologia que utilizaremos em 2010, daqui há pouquinho, 80% era totalmente desconhecida em 1996 ou 97. Para provar isto, basta ver por exemplo o uso que nós fizemos hoje do celular. O pessoal não desliga celular nem em palestra, missa, casamento, 162 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. enterro. O celular permanece sempre ligado, porque muitas pessoas já que muitas pessoas não conseguem mais e não entendem mais como viveria sem o celular. Há 10 anos atrás nem se pensava em celular. Eu ainda sou do tempo de que fazer interurbano era um programa. Eu reservava o dia em São Paulo para fazer um interurbano para Avaré, para os meus amigos. Hoje o celular incorporou-se na vida das pessoas. As comunicações ficaram muito mais fáceis. Tem muita gente que não consegue mais entender como conseguia viver sem a Internet. Quem usava internet há 10 anos atrás? Quem imagina o uso que poderia ser feito da internet há 10 anos atrás? Há 10 anos atrás, por exemplo, quem imaginava clonagem ? Hoje até já virou assunto de novela. Como vemos, o mundo está mudando muito rapidamente. Eu tenho um caso que eu conto sempre que mostra muito bem isso. Na década de 70, e olha que a década de 70 está muito próxima, embora a maioria aqui não fosse nascida ainda na década de 70. Mas aqueles que já eram nascidos na década de 70 se lembram que quando apareceu o telex, o telex representava a grande inovação na área da comunicação, porque se o interurbano era um programa o telex tinha a vantagem adicional de ainda documentar por escrito. Eu costumo contar a história daquele profissional, o pior é que a história é verdadeira, e ele decidiu ser o maior especialista do Brasil em telex, investiu tudo no telex, sabia tudo do telex e acabou recebendo a sua demissão por fax, por que o telex tinha virado sucata, e ele não tinha percebido. Ele jogou todas as suas fichas profissionais para ser o maior especialista num artefato tecnológico que foi para o espaço. Os nossos computadores tais quais conhecemos hoje irão todos para o espaço no máximo em até 2010 porque serão substituídos por computadores não com chips, mas com redes neurais, que eu não consigo nem entender como seria isso. Já é difícil de entender o chips, esse que vai para o lixo em 2010. Estou dizendo tudo isto para que vocês tenham uma idéia do contexto no qual trabalharão os nossos alunos. É nesse contexto que tem que ser trabalhado o especialista, mas não o especialista no artefato x, não o especialista no equipamento y, mas o especialista em serviços, em condições de ir monitorando o seu próprio desempenho, com crescentes graus de 163 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. autonomia intelectual. É essencial que o novo profissional tenha condições de ir assumindo responsabilidades cada vez maiores na equipe aonde ele está atuando. É nessa perspectiva de atuação permanente que tem ser trabalhado o especialista de nível técnico. Vocês não podem esquecer, e aí a duração do curso então é vinculada a esse perfil, esta visão nova da escola. Não se trata de fazer um cursinho de atualização, aperfeiçoamento ou especialização. As escolas poderão continuar fazendo esses cursos. Eles são livres, não formais. A especialização, entretanto, não é livre,não. O plano de curso de especialização tem que ser planejado dentro do itinerário de profissionalização de nível técnico, e tem que ser aprovado pelo conselho de educação competente e ser inserido no cadastro nacional de curso de nível técnico. Ou a escola já planeja o curso de especialização quando está planejando todo o itinerário formativo de profissionalização da área de saúde, por exemplo, quando planeja a qualificação profissional de auxiliar de enfermagem ou a habilitação profissional de técnico. Neste cãs, planeja conjuntamente as especializações a b c d. Outra alternativa é a escola já tem aprovação para a qualificação e habilitação , porque modulou o seu curso, e ela decide depois fazer a especialização. Neste caso, a escola planeja a especialização para aquele curso referenciado, seja aquele curso de qualificação ou de habilitação profissional que ela já tem autorizado e em pleno funcionamento. Neste caso, então, a única coisa que está proibido é fazer somente a especialização profissional, desvinculada da qualificação e habilitação devidamente autorizadas; e ela não consegue inclusive entrar no cadastro nacional de curso de nível técnico. A escola não pode fazer só especialização. Se ela oferece habilitação ela pode fazer especialização, se ela oferece a qualificação ela pode oferecer especialização. Ela não pode fazer só especialização. Ela não pode ser uma escola de especialização em enfermagem. Ou ela é uma escola de enfermagem que oferece habilitação modulada com qualificação e etc. e que oferece também a especialização, o itinerário inteiro, ou ela tem que ter condições de oferecer o itinerário inteiro, e não exclusivamente a especialização, ou não pode oferecer programas especiais de especialização profissional. 164 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A especialização profissional está prevista nas diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional de nível técnico, no parecer CNE/CEB nº16/99 e na resolução CNE/CEB nº 4/99. O artigo 7o, parágrafo 2o, prevê cursos de especialização profissional vinculados à qualificação e à habilitação profissional. Atenção: vinculados à qualificação e à habilitação profissional. Então, por exemplo, se uma escola oferece o curso de técnico de enfermagem como modulo único, sem a modulação de auxiliar mais a complementação para o técnico, ela não pode fazer a especialização de auxiliar, no nível de auxiliar da enfermagem, por que? porque o plano de curso dela não prevê o auxiliar de enfermagem. Agora, se no plano de curso a escola prever oferecer auxiliar de enfermagem e modulo de complementação para técnico de enfermagem, ela pode planejar também, vinculada à qualificação ou à habilitação, a correspondente especialização no nível do auxiliar de enfermagem e especialização no nível do técnico de enfermagem. O item 7 do Parecer CNE/CEB nº16/99 também diz que a educação profissional de nível técnico abrange cursos de especialização para pessoal já qualificado ou habilitado nesse nível,de ensino, então auxiliar ou técnico. Mas a especialização tem que estar intimamente vinculada às exigências e realidade do mundo do trabalho. O certificado deve explicitar essa situação de vinculo com a habilitação ou qualificação profissional. São Paulo decidiu que a carga horária da especialização profissional deverá ser de, no mínimo, 20% da carga horária mínima da habilitação profissional, além da carga horária reservada para o estágio. Então, por exemplo, uma habilitação profissional de técnico de enfermagem tem que ter no mínimo 1200 horas; então São Paulo não aprova nenhum curso de especialização que não tenha pelo menos 240 horas, 20% de 1200 horas mais o estágio exigido pela ocupação. Cada Estado tem a sua regra especifica. Isto vale tanto para o nível técnico quanto para o nível superior, porque a educação profissional, de acordo com o Decreto nº 2208/97, que regulamentou o capítulo da educação profissional na LDB, ela se dar em três níveis : no nível básico,como educação não formal, não 165 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. sujeita à regulamentação curricular onde a capacidade de aproveitamento prevalece sobre o requisito de escolaridade. Esse é o nível da educação não formal, então, o auxiliar de enfermagem por exemplo não pode ser enquadrado nesse nível de ensino, por ser ocupação regulamentada, no âmbito da profissionalização técnica. Essa foi uma briga com vários conselhos de educação e de enfermagem no início do ano, logo depois da promulgação da LDB, com aqueles que entendiam que auxiliar de enfermagem seria no nível básico. Auxiliar de enfermagem não é nível básico. O nível básico é essencialmente educação não formal, não sujeito a nenhuma regulamentação curricular. Auxiliar de enfermagem é uma ocupação regulamentada, que integra um itinerário de profissionalização técnica. Então, é curso de nível técnico, porque o nível técnico inclui habilitação, qualificação e especialização profissional. As atualizações, aperfeiçoamentos etc são livres, porque se encaixam no nível básico , para atender as necessidades emergentes e circunstanciais do mercado de trabalho, em termos de atualização, treinamento e aperfeiçoamento profissional. A especialização profissional complementa a qualificação e a habilitação de nível técnico e por isso mesmo precisa ser devidamente aprovada pelo órgão próprio do respectivo sistema de ensino, sempre vinculada a determinada qualificação ou habilitação profissional. Sra. Milta: (avisos, não falou no microfone). Sr. Francisco Aparecido Cordão: Para os cursos de especialização é muito importante lembrar que a prática constitui e organiza a educação profissional. Não dá para pensar a educação profissional exclusivamente teórica, pois teoria e prática devem ser trabalhadas num currículo integrado e articulado. Não dá para pensar: agora é aula teórica, agora é aula prática. A teoria informa a prática e a prática informa a teoria, porque desenvolver competência profissional é desenvolver a capacidade de articular e mobilizar conhecimentos, habilidades, valores e atitudes. Nesse sentido, a prática profissional está incluída nas cargas horárias mínimas do curso, incluindo a parte específica de laboratório, porque toda a escola tem que se tornar um laboratório de aprendizagem, um laboratório de desenvolvimento de 166 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. competências profissionais. Agora, a carga horária do estágio supervisionado, que se dá em situação real de trabalho, ela é acrescida ao mínimo, à carga horária mínima, a carga horária definida pela escola, orientada pelo respectivo conselho. Entretanto, essas atividades curriculares de estágio profissional supervisionado, embora com carga horária acrescentada aos mínimos curriculares exigidos legalmente, devem ser incluídas no plano de curso, no item organização curricular, mantendo coerência com o projeto pedagógico do curso e, claro, ser planejado em função da natureza do curso. Todos os cursos, inclusive os de especialização, devem seguir a regra geral para apresentação de planos de curso à superior apreciação dos órgãos próprios dos respectivos sistemas de ensino. A única coisa que o conselho fechou foi o modelo de plano do curso, para poder inserir no cadastro nacional de cursos de nível técnico, o qual deve: justificativas e objetivos, requisitos de acesso, perfil profissional de conclusão, organização curricular, critérios de aproveitamento de competências adquiridas, critérios e procedimentos de avaliação, equipamentos e instalações, pessoal docente e técnico, certificados e diplomas. Trata-se da mesma estrutura, tanto para a qualificação e habilitação quanto para a especialização profissional. Vocês vão ver que nas diretrizes curriculares gerais para a educação tecnológica o projeto de curso tem algumas pequenas mudanças, mas conserva, na essência, a mesma estrutura básica do nível técnico. É claro que, no nível superior também está se exigindo, por exemplo, no item instalações e equipamentos, dados relativos a biblioteca etc. Os dados relativos a docentes também conta com exigências específicas. As a orientação básica é praticamente a mesma, dando a necessária unidade ao todo da Educação Profissional, a qual deve articular as várias dimensões de Educação, Trabalho, Ciência e Tecnologia. É isso aí, e eu estou à disposição para as perguntas, dúvidas e comentários. Podem afiar a metralhadora giratória, que estou à disposição de todos... 167 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A LICENCIATURA COMO ESTRATÉGIA PARA A FORMAÇÃO DO FORMADOR EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: MUDANÇAS E SUAS POSSIBILIDADES LICENCIATURA EM ENFERMAGEM: DA POLÊMICA À PROPOSTA Maria Teresa M. Amaral37 Gostaria de aproveitar a oportunidade para registrar meus agradecimentos ao convite da ABEn, para participar do 6° SENADEN Seminário de Diretrizes para a Educação em Enfermagem, cuja relevância do tema - Educação e Mudanças: discutindo contextos, textos, lições e propostas -, abriu uma agenda de debates e de desafios para a Formação de docentes na área da saúde para os próximos anos. Afirmo que é necessário focalizar a formação de professores de maneira muito lúcida para que não percamos o fio condutor do debate. Quando falamos em formação de professores é preciso distinguir formação inicial e formação continuada. É preciso distinguir as estratégias apropriadas para cada uma delas. Assim como, é preciso distinguir a formação de professores para a escola básica da formação para a Educação Profissional, ainda não contemplada de forma específica. A complexidade dos desafios e das propostas exigirá de todos os profissionais da área da educação e da saúde um empenho histórico para resignificarmos o processo de forma competente, articulado e bem estruturado. O que temos no momento, enquanto regulamentação, diz respeito à formação inicial de professores para a Educação Básica. É dela que devemos partir e hoje estamos diante do Parecer CNE/CP 9/2001 e o Parecer CNE/CP 28/2001 já homologados pelo CNE em 17/1/2002 publicados no Diário Oficial da União de 18/1/2002, Seção 1, p.31, deixando, portanto, de ser uma hipótese. Segundo o 37 Professora da Faculdade de Educação da UFMG. 168 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Conselheiro Carlos Roberto Jamil Cury relator do Parecer CNE/CP 28/2001 a nova legislação para a formação inicial de professores nos coloca diante de uma outra cultura: formar profissionalmente os professores para atuarem no ensino básico. Algumas questões são cruciais e vão necessariamente causar um impacto nas universidades sobretudo nas universidades federais. De imediato poderíamos apontar quatro questões que causarão impacto. A primeira das questões diz respeito ao fato de que, a partir de agora, formar professores não é mais uma modalidade de curso (licenciatura) mas sim um curso com todas as suas implicações, um curso de licenciatura plena, numa estrutura com identidade própria. E as implicações são bem marcadas se caminhamos pela letra da lei. Sendo um curso deve prever uma entrada específica com vestibular separado, com colegiado próprio, integralização própria e certificação única. O Projeto de Resolução para o Parecer CNE/CP 9/2001 em seu Art. 7º que fala da organização institucional da formação dos professores, a serviço do desenvolvimento de competências , não deixa dúvidas para as instituições formadoras. Assim diz o Art. 7° em seu primeiro item I. a formação deverá ser realizada em processo autônomo, em curso de licenciatura plena, numa estrutura com identidade própria . No segundo item também não há dúvida II. as instituições constituirão direção e colegiados próprios, que formulem seus próprios projetos pedagógicos, articulem as unidades acadêmicas envolvidas e, a partir do projeto, tomem as decisões sobre organização institucional e sobre as questões administrativas no âmbito de suas competências ; A segunda questão é a carga horária prevista. Matéria específica regulada pelo Parecer CNE/CP 28/2001 resultado de um longo e tumultuado debate entre uma carga horária máxima e uma mínima tendo o CNE aprovado uma carga de 2800 horas na integralização da formação inicial de professores. Sendo que dessa carga horária 2000 horas estão previstas para a execução de atividades científicoacadêmicas somadas às 400 horas da prática como componente curricular e às 400 horas de estágio curricular supervisionado 169 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. compondo o campo da duração formativa em cujo terreno se plantará a organização do projeto pedagógico planejado para um total mínimo de 2800 horas. A terceira questão é que formar professores tornou-se um desafio profissionalizante dentro de uma nova cultura e para tal será necessário construir um projeto político pedagógico próprio. A seleção e o ordenamento dos conteúdos dos diferentes âmbitos de conhecimento serão de competência da instituição de ensino devendo pois, ser discutido, estruturado como proposta pedagógica dentro de princípios metodológicos. Na nova legislação o que é básico é a autonomia da instituição, portanto, construir um projeto político pedagógico implicará em ousadia e proposição coerente e integrada, construída coletivamente. A quarta questão é a mais polêmica, ou seja, como formar professores para as áreas profissionalizantes, sobretudo da área de saúde? Historicamente nunca fizemos isto. A história da licenciatura em enfermagem existe desde 1969 como uma habilitação da graduação neste campo profissional, porém sem atrativos suficientes para evitar a evasão dos graduandos, portanto, não conseguiu superar a prática hegemônica de utilização de um técnico que ensina . No entanto diante das novas exigências de profissionalização do professor, qual será a postura para construir um projeto político pedagógico de licenciatura que contemple não uma adaptação mas uma efetiva reforma na profissionalização dos docentes da Educação profissional da área da saúde: enfermagem. Poderemos construir modelos diferenciados? Qual seria a lógica desses modelos, principalmente em relação às Diretrizes Curriculares que hoje estão sendo implantadas nesta área? Seria processo flexível e contextualizado admitindo ofertas diferenciadas nas escolas e convivendo com tranqüilidade com o processo de avaliação e perfil dos egressos? Como elas conviverão com a graduação em Enfermagem? Concomitante ou posteriormente? Serão cursos compartilhados efetivamente pelas unidades acadêmicas de educação e enfermagem? Sendo a Educação Profissional de nível técnico em 170 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Enfermagem o alvo desta formação pedagógica, qual (ais) o(s) marco(s) teórico-metodológico(s) que nortearão o projeto político pedagógico desta licenciatura o(s) da unidade acadêmica de educação ou de Enfermagem? O Parecer CNE/CP 9/2001 propõe no item 3.5 o eixo articulador que facilite a transformação dos objetos de conhecimento em objetos de ensino que supere a velha polêmica de conteudismo ou pedagogismo com uma proposta de integração curricular. Sabemos historicamente as dificuldades que se construir essa integração, portanto resta a pergunta com qual visão sobre o formador será construído o perfil do egresso? O que teremos que conservar ou abandonar para construirmos projetos que de fato articulem teoria e prática nesta formação? Estes são os primeiros desafios para começarmos a pensar uma maneira de formar docentes para a área profissional, principalmente para a saúde, sobretudo para a enfermagem, com criatividade, responsabilidade e compromisso. Espero ter contribuído para a provocação de um debate fundamental visando um salto qualitativo na formação de professores e na formação dos formadores. Agradeço o convite e me coloco à disposição para a continuidade desses espaços de debate profícuos, gestores de novas ações, construtores de projetos pedagógicos ousados e consistentes. 171 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A LICENCIATURA COMO ESTRATÉGIA PARA A FORMAÇÃO DO FORMADOR EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: MUDANÇAS E SUAS POSSIBILIDADES1 Anne Mary Tinoco Rosas2 Boa tarde a todos, é um prazer estar aqui falando sobre a licenciatura e a nossa experiência com este curso dentro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), junto a Escola Anna Nery e a Faculdade de Educação na UFRJ. Estou adorando o Piauí, muito interessante essa nossa estada aqui, muito obrigado pelo convite de estar aqui, discutindo, falando, semeando idéias para um momento novo em relação à licenciatura em enfermagem, podemos começar Estratégia para a formação do formador: mudanças e possibilidades . O formador em educação profissional em enfermagem é esse o enfoque que vamos dar com a nossa experiência, até então, cinco anos militando nessa área. O formador em educação profissional em enfermagem, na realidade o curso inicia do Decreto 19852, nº 31 de 11.04.31 que cria a Faculdade de Educação, Ciências e Letras para qualificar pessoas aptas para o exercício do magistério através de curriculum seriado. A efetivação desse decreto só ocorreu em 1939, alguns anos depois. A lei 452 do Governo Getúlio Vargas de 05.07.1937, organiza a Universidade do Brasil, constata a Faculdade Nacional de Educação com o curso de Educação. O Decreto Lei Nº 190 de 04.04.1939, na Sessão de Pedagogia criou o curso de três anos com o título de Bacharel e a Sessão Especial de Didática, de um ano, cursado por Bacharéis com o título de Licenciatura, como o exercício do 38 magistério. Com este esquema de 3+1 e posteriormente de 4+1, ou seja, a medida que os cursos de graduação tiveram o seu aumento de 3 para 4+1, que seria um ano de intensivo de Licenciatura. Evidentemente, com a carga horária bem menor do que a vigente 1 2 Texto não revisado. Transcrição de apresentação oral. Professora da EEAN/UFRJ. 172 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. atualmente. O Decreto Lei Nº 53 de 1966, a unidade está voltada para a formação de professores para o ensino secundário de especialistas em Educação da Faculdade de Educação e no âmbito das licenciaturas. A Portaria Nº 13 d 10.04.69cria a Licenciatura em Enfermagem, o Ministro de Estado de Educação e Cultura, usando de suas atribuições legais e na de que dispõe o Artigo -- , parágrafo nono, de dezembro de 1961, tendo em vista a indicação feita pelo Conselho Federal de Educação, através do processo Nº 245449, resolve no Artigo I: o diplomado em curso superior em enfermagem em parte geral e estados regulares, a formação pedagógica pesando para o curso de licenciatura, fará jus o título e o competente diploma de Licenciatura em Enfermagem. Ainda, até hoje é essa portaria que regula essa Licenciatura em Enfermagem. Continua o parágrafo único, a formação pedagógica de licenciatura, na hipótese prevista no artigo deverá ser feita em outro estabelecimento, desde que legalmente reconhecido para tanto. Poderá também desenvolver paralelamente ao curso de graduação, mediante o acréscimo de horas aula correspondente. No artigo II, o licenciado em enfermagem obterá registro definitivo, para ensino em escola de segundo grau das disciplinas e práticas educativas relacionadas com essa especialidade, inclusive higiene. No artigo III, essa portaria entra em vigor na data de sua publicação, renovadas as disposições em contrário. Na realidade o curso de licenciatura e a Escola Anna Nery, junto a Faculdade de Educação, através da Professora Dolores Lígia de Andrade iniciam essa formação pedagógica. Posteriormente a Professora Dolores veio a Professora Alvina que limitou as licenciaturas em enfermagem na Escola Anna Nery até 1995, quando aí entrei para a escola e me coube esta herança. Como acontece essa licenciatura em enfermagem na Escola Anna Nery? Anteriormente os alunos seguiam esse modelo 4+1. Terminando o curso de enfermagem, eles iniciavam o curso de licenciatura com uma carga horária menor, prática de ensino possuía 90 horas, completamente diferente do momento atual. A partir de 1995, a Faculdade de Educação, responsável por toda as disciplinas básicas desse curso de Licenciatura, Filosofia, 173 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Psicologia e os módulos da Psicologia. Os alunos de enfermagem da Escola Anna Nery eram isentos de cursarem porque já constava em seus currículos. Porém a Didática que é ministrada pela Faculdade de Educação nunca foi possível ser dispensada, embora em nosso currículum de graduação tenha essa disciplina. A justificativa é que a Faculdade de Educação quer exercer uma didática crítica, diferenciada, e que faz parte desse modelo de ensino constituído por eles, da Faculdade de educação e aceito pela Escola e até então continua sendo dessa forma. A partir de 1995, junto a Universidade já começava uma reestrutura em relação a carga horária para essa licenciatura, principalmente em enfermagem. Na realidade há uma recomendação do aumento de carga horária, da própria Faculdade de Educação em relação a prática de ensino, mas ficava a critério da unidade viabilizar esse aumento dessa carga horária. Então chegamos 95, 96, 97 e tínhamos uma carga horária que chegava a um pouco mais. Começamos a aumentar a carga horária de prática de ensino aos poucos, até porque a situação de nossos alunos, eles iniciam a disciplinas básicas da licenciatura a partir do quinto período, porém não é vetado ao enfermeiro, já formado, dar início a licenciatura posterior a graduação. O vinha ocorrendo! Primeiro é exigido pela UFRJ que o aluno não ultrapasse 28 créditos e o que ocorria? Havia um momento em que o aluno iniciava o curso de licenciatura e as disciplinas básicas, mas em algum momento ele teria que parar a licenciatura porque ultrapassava muitas vezes 32 créditos e aí não registravam as disciplinas que ele estava cursando. Evidentemente, se esse aluno sai do curso de licenciatura, se ausenta nesse momento, as dificuldades de retorno para ele são bem maiores, porque ele começa a vida profissional. Ele começa a trabalhar e a carga horária não bate, fica impossível. Então havia um abandono do curso constante. Assim, junto a Faculdade de Educação a viabilização foi a seguinte: vamos tentar manter esses alunos com o maior tempo possível e que eles terminem o curso de licenciatura. Quando eles chegavam para fazer prática de ensino, eles estavam no final do curso, prestes a se graduarem, ou seja seis meses antes da graduação. Com a 174 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. monografia que tem de fazer uma série de outras coisas e na realidade eles só tinham uma tarde para estar fazendo uma licenciatura. Esse curso ia aumentando, um ano e meio de licenciatura, passava para dois anos e isso onera um curso, desmotiva, cria problemas com quem esta entrando, dificulta, e no fundo a licenciatura é opcional, o aluno faz a licenciatura se quiser. Embora todo nosso discurso como enfermeiros é que, na realidade, nos estamos tratando como enfermeiro e educador. É um dado em que se precisa pensar. Para isso existe um colégio de aplicação da UFRJ, a necessidade desse colégio, a sua necessidade de criação, é realmente abrigar as licenciaturas. Ele não é um colégio comum, embora seja um colégio da Universidade, não é um colégio com a mesma finalidade das outras escolas, do mesmo porte. No colégio de aplicação da UFRJ, pequeno não se abrigam todo os licenciandos, de todos os cursos. As turmas de 30 alunos com mais 17 alunos, vamos supor, fica difícil de aceitar. Então alguns cursos em que existe viabilidade de desenvolver sua prática de ensino em outras localidades, mesmo no Pedro II, onde a noite é colégio federal, houve uma divisão e nessa divisão não foi aceito. O curso de enfermagem, licenciatura de enfermagem, dentro do campus parecia que ia ser tudo fácil, tudo fechadinho e aí vários professores d o campus, principalmente professores de biologia, que hoje não há uma designação de separação entre a disciplina programa de ensino e ciência por falta de professores e por economia, o programa de (......) passou a ser uma unidade. Dentro da disciplina de ciências, e evidentemente aquele problema! Chegarão enfermeiros, começarão ministrar aulas e nós biólogos como fazemos? Até então somos professores concursados, estamos aqui trabalhando, nós vamos coordenar. Para os enfermeiros ministrarem sulas, como é que vai ser isso? O que um enfermeiro na realidade faz? Qual é a prática social do enfermeiro que nós conhecemos em relação a essa prática na área de educação? No Rio de Janeiro, em 1997, ocorreram negociações com o colégio de aplicação da UFRJ e evidentemente até a proposta de desmembrar esse conteúdo de prática de ensino de ciências para que nós enfermeiros assumíssemos enquanto disciplina foi proposto. 175 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Posterior a isso, não é bem isso o que queremos fazer, nós queremos integrar, nós queremos participar da prática de ensino, tem que acontecer como o momento dentro do colégio, para que nós possamos somar e no colégio de aplicação cada professor é especial depois da história do sigma isso se fortificou muito. Cada professor tem um projeto e os nossos alunos licenciandos de enfermagem teriam que integrar esse projeto dos professores de ciências. Além disso, existe toda a influência em relação a prática de ensino de participar de aula, participar de conteúdo e aí ficou acertado e vem sendo feito dessa forma. Os nossos alunos integram o projeto pedagógico do colégio de aplicação da UFRJ, eles ministram as aulas, fazem parte da unidade da disciplina programa de saúde junto à disciplina de ciências e o conteúdo dado pra esse grupo em relação à prevenção da saúde. Fora isso eles participam de todas as reuniões com pais de alunos para mostrar como é feito o trabalho de campanhas. Uma vez ou outra são criados campanhas, tipo detecção da glicemia capilar de todas as crianças ou daquelas que tenham alguma indicação para diabetes e outras campanhas sucessivas. Fora isso existe um núcleo, foi criado um núcleo de estudo da saúde do escolar, onde não só dentro da UFRJ, não só os cursos que tem licenciatura, como é o nosso caso da enfermagem, biologia, matemática, física, educação física, mas também a escola de serviço social, a escola de nutrição e a escola de medicina compõem esse núcleo de saúde escolar, viabilizando onde o enfermeiro detectaria algum problema, até em sal de aula essas crianças fariam encaminhamento. Alguns casos o Instituto (......) atende, outros os centros Municipais de Saúde e onde há freqüência constante para palestras ocorre a junção da equipe multidisciplinar, junto aos pais e ao grupo dessa escola. Uma parte do conteúdo seria as entrevistas com o corpo docente da escola, par saber quais são as necessidades que poderíamos estar também associando com os trabalhos paralelos ou também com os projetos de extensão junto aos professores e aos próprios alunos, que tipo de trabalho nós estaríamos fazendo? Uma das colocações feitas pela coordenadora do segundo grau foi: porque não campanhas? Porque não palestras? Juntos, integrando, quem sabe em um sábado 176 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. juntar os pais e professores e listarem uma série de temáticas na área de educação, voltadas para a prevenção para que os alunos de licenciatura proferissem. E os alunos propuseram que além dessa necessidade vista por pais e professores, também fosse feito um levantamento junto aos alunos e aí as necessidades vistas pelos professores não batiam com as necessidades dos alunos. Uma das temáticas foi surpresa para nós, a automedicação. Esperávamos qualquer coisa, mas a automedicação! Mas, foi uma necessidade sentida pelo grupo de alunos, eles justificaram que as pessoas tomam muito analgésico, tomam muita medicação sem saber a procedência. No semestre passado houve um seninário: Primeiro Seminário Integrado de Licenciatura da UFRJ, no qual a Faculdade de Educação provou junto ao (....) que a Faculdade de Educação já era um de seus trabalhos, a sua competência, todo o seu histórico, o Centro Superior de Educação, porque inicialmente havia a idéia dentro da UFRJ da criação de uma forma diferenciada de Instituto Superior de Educação, não vinculado a Faculdade de Educação. E na realidade hoje, no nosso dia-a-dia com essa disciplina prática de ensino, a gente percebe que tem trabalhado, tem feito junto a essa escola especificamente também no (......), junto aos técnicos e auxiliares de enfermagem, participando das aulas teóricas e práticas com a licenciatura e na formação desses profissionais, percebemos assim uma necessidade muito grande dos componentes da enfermagem, especialmente dos enfermeiros, dos conteúdos pedagógicos do curso de licenciatura de como formar as escolas técnicas. Muitas dessas escolas, num levantamento feito no Rio de Janeiro, no módulo que existe dentro da prática de ensino, que é um conhecimento das escolas formadoras. Grandes partes dos professores, alguns não são enfermeiros e outros que são enfermeiros e não possuem curso de licenciatura, é dito por eles a necessidade desse conteúdo, dessa formação. Tudo isso tem sido possível para nós na Escola Anna Nery porque há um trabalho de anos em relação à faculdade de Educação. Nesse momento, estamos pensando e repensando a enfermagem em relação às normas, as mudanças, as possibilidades, onde cada escola terá que rever os seus conteúdos. Um dado importante, sempre em 177 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. nossas reuniões internas, junto a Faculdade de Educação, no Departamento de Didática, é colocado que a Faculdade de Educação sente-se com a obrigação de estar dando continuidade os seus trabalhos e participando junto a formação do licenciando, seja em qualquer área. Porém quem vai viabilizar essa possibilidade em relação ao curso de graduação são as próprias unidades. No caso da enfermagem, são os próprios enfermeiros que vão ter de discutir e ver como irão viabilizar isso nas suas escolas, e que cada um possa ter um projeto pedagógico nessa área, de forma que eles possam ir alcançando com o passar do tempo dentro das suas possibilidades. Não sei se as escolas em termo de Brasil podem ou tem essa possibilidade, isso é uma questão sobre a qual precisamos pensar. O outro momento também é que pelo Conselho Nacional de Educação essa 300 horas que para nós tem sido tão difícil, mesmo com a infraestrutura, mesmo com essa prática, mesmo com o Hospital Universitário, com o curso de técnicos e auxiliares de enfermagem, com o Hospital Escola São Francisco de Assis, com projetos específicos na área de educação, também recebendo alunos da rede estadual e municipal, adolescentes que estão cursando 1º e 2º graus e que chegam até a fazer testagem anônima para o vírus HIV, que é um projeto novo, que estamos iniciando também com os alunos de licenciatura junto ao Hospital Escola e esse projeto é da Faculdade de Educação junto a enfermagem, a escola de psicologia e a escola de educação física, dando orientações, promovendo educação, mesmo com todos esses projetos fica um tanto quanto difícil. Ainda é um problema para a Escola Anna Nery reter esses alunos em relação ao curso de licenciatura, pois muitos deles ao terminarem o curso já tem emprego, já vão trabalhar e a carga horária é intensa, então o curso de licenciatura fica pendente. Fora isso é (....) outro problema que estamos nos defrontando, são mais 400 horas, na realidade a educação em relação ao ensino de formação profissional, nos cursos de licenciatura. Nós ainda não atingimos um grupo que tem necessidade e que esse licenciando também comece a conhecer que são os diferentes. Atualmente as escolas estão abertas para os diferentes para a educação especializada, 178 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. e que na realidade não conseguimos ainda esse conteúdo, assim como desenvolver um projeto nessa área que é algo previsto para em algum momento termos sucesso. Na realidade as 400 horas previstas até entõ é algo que temos que viabilizar sim porque temos dois anos para decidirmos como é que essa coisa vai ficar, como vamos viabilizar isso. Como é que esse curso será implementado, como é que a enfermagem vai viabilizar isso? Como é que a escola em si vai pensar em relação a tudo isso? E uma das recomendações é que cada uma unidade tenha a sua comissão de licenciatura, coisa que em nossa escola estamos tentando através da coordenação de graduação uma mobilização para sua criação talvez junto ao núcleo de educação e enfermagem. Essa é a nossa (....) experiência até o momento com o curso de licenciatura de enfermagem junto a Faculdade de Educação e a Escola de Enfermagem Anna Nery. Muito obrigada! 179 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. AGENDA COMUM ABEn MOVIMENTO ESTUDANTIL: UMA CONSTRUÇÃO DESEJÁVEL EM BUSCA DE POSSIBILIDADES Maria da Glória Lima1 Jane Lynn Dytz2 A dinâmica adotada nessa oficina foi acordada entre os participantes e contemplou quatro momentos: 1º - Apresentação individual feita pelos participantes, totalizando cerca de 45 participantes, sendo três da Diretoria da ABEnNacional, 2 professores (Maria Cristina Melo da BA e Mauro Antônio Dias da Silva da UNICAMP/SP) e 40 estudantes vinculados, na maioria, ao movimento da Executiva Nacional dos Estudantes e, em menor número, ao Movimento Unificado. 2º - Contextualização do desenvolvimento profissional da enfermagem no país, feito pela Presidente da ABEn Nacional, que iniciou sua fala com um breve resgate da trajetória dos 75 anos da ABEn na qual ressaltou a natureza da entidade, organização sem fins lucrativos, de filiação voluntária que congrega enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e estudantes de enfermagem. São 75 anos de história da ABEn, trajetória de conquistas e lutas importantes na construção social da categoria, que se confundem com a luta da própria profissão. A seguir, foi apresentado o Plano de Trabalho da gestão 2001 2004, aprovado durante o 38o CONABEn, cuja meta central é fortalecer internamente a própria entidade e, para tanto, necessita buscar articulações com outras entidades de enfermagem, tais como: Federação Nacional de Enfermagem, Movimento Sindical dos Profissionais de Enfermagem, Movimento Estudantil, Fórum de Entidades Nacionais dos Trabalhadores da Área de Saúde (FENTAS) e, ainda, com órgãos governamentais (CNS, MS, MEC e OPAS) e entidades 180 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. científicas (SBPC). A atual diretoria entende que a inserção da ABEn na sociedade civil deve ocorrer por meio de uma participação ativa nos movimentos sociais: movimentos populares, movimento dos trabalhadores, reforma agrária, Rede Unida, Fórum Social. Ressaltou ainda que a enfermagem, como prática social, se insere na sociedade, portanto, estabelece relação com o Estado e o mercado, dentro de um contexto globalizado, atualmente sob a influência do poder neoliberal, o que acarreta freqüentemente o surgimento de conflitos entre o discurso predominante e os interesses da entidade que visa trabalhar em prol das práticas sociais, priorizando a promoção em saúde e a qualidade de vida. Outro ponto destacado por Francisca Valda da Silva foi de que existe consenso entre os associados de que a ABEn teve buscar alianças visando o crescimento político e técnico-científico da entidade; trabalhar com a diversidade de idéias e as diferenças, buscando o pluralismo representado pela participação de todos os elementos da categoria; estabelecer parcerias com outros atores, desde que, não haja antagonismos de princípios ou que firam direitos, citando entre outros, os projetos que estão sendo desenvolvidos com programas oficiais, tais como: PSF, PITS, PROFAE, Diretrizes Curriculares, Avaliação das Políticas Governamentais de Cursos, bem como aqueles vinculados à sociedade civil, como, por exemplo, a Rede Unida, Movimento Estudantil, Andes. Em relação aos estudantes, a ABEn tem como objetivo desenvolver uma parceria que possibilite a construção de uma proposta conjunta, trabalhando e planejando juntos, de acordo com as especificidades de cada um dos parceiros - movimento estudantil e movimento profissional pois a entidade reconhece os estudantes como atores coletivos mportantes dentro da própria trajetória de luta pela enfermagem. 3º - Manifestação espontâneas por parte dos participantes frente a três questões norteadoras lançadas pela coordenadora da oficina: Como está a enfermagem na atual conjuntura de saúde e 181 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. educação? Como os estudantes de enfermagem estão se posicionando frente às demandas atuais? Que estratégias estão usando? Nas falas dos estudantes de enfermagem apareceram, repetidamente, preocupações com a predominância da formação tecnicista, a baixa consciência social dos profissionais, a relação autoritária dos professores sobre os alunos, a abertura indiscriminada de cursos, sem atendimento das condições exigidas para uma formação de qualidade, a dificuldade de articulação interna da categoria, a baixa formação política dos profissionais e estudantes de enfermagem, a dificuldade dos profissionais da enfermagem em intervir efetivamente nos problemas de saúde, a dificuldade de intervenção de saúde orientado na concepção de saúde como processo social e do pouco conhecimento da política do SUS, em suas diretrizes e propostas. Os estudantes reiteraram a responsabilidade e a preocupação com os rumos da educação de enfermagem, num contexto social de muitos conflitos, e a necessidade de posicionamento frente às políticas educacionais, como o Provão e a avaliação institucional, crescimento excessivo do número de cursos, a proposta de formação do tecnólogo, projeto políticopedagógico dos cursos, entre outros. Os alunos entregaram o documento Eixos de uma Avaliação Institucional para a Enfermagem , elaborado pela Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem, para ser distribuído aos membros participantes do 6º SENADEn. 4º - Elaboração de uma agenda estratégica comum entre a ABEn e Movimento Estudantil. Após um período de debate, as seguintes propostas foram definidas para serem apreciadas na Plenária Final do SENADEN e no ENEENF, que acontecerá em julho p.f., em Brasília: - Formação de núcleos locais de formação política nas Escolas de Enfermagem, com a participação das ABEns locais; - Criação de Fóruns de Estudantes de Enfermagem junto à ABEN- Seções; 182 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. - Participação dos estudantes nos Seminários Regionais do Projeto de Sustentabilidade; - Participação ativa dos estudantes nas atividades dos eventos nacionais, tais como: SENADEn, CBEn; - Espaço do estudante no BI/Site da ABEn; - Participação dos estudantes no Fórum Social Mundial, possibilitando a construção de espaços de articulação e discussão de estratégias conjuntas; - Discussão conjunta sobre alternativas para a avaliação institucional de curso, - Estudar a elaboração de projeto de pesquisa para avaliar o Movimento Estudantil no Brasil e suas implicações para a enfermagem. - Captação de novos sócios especiais. 183 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. MESA REDONDA A PÓS GRADUAÇÃO EM ENFRMAGEM: CONTRIBUIÇÕES PARA AS MUDANÇAS AS CONTRIBUIÇÕES PARA A MUDANÇA : EM BUSCA DA RELEVÂNCIA DO ENSINO NA PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM39 Marta Lenise do Prado40 Falar de contribuições para mudanças implica em refletir acerca de questões inerentes ao processo educativo que cerca a formação dos profissionais da enfermagem, no nosso caso da formação em nível de pós-graduação strictu sensu. Pensar em mudanças nos leva a refletir acerca do seu sentido e significado: Mudança implica em inovação? Ou mudança implica em reforma? Que diferença há entre inovação e reforma? . Carbonell (2002)41 afirma que a diferença entre inovação e reforma está relacionada a magnitude da mudança que se quer empreender. Para o autor, inovação consiste num conjunto de intervenções, decisões e processos, com certo grau de intencionalidade e sistematização, que buscam modificar atitudes, idéias, culturas, conteúdos, modelos e práticas. Ou seja, quando falamos em mudanças no ensino de pósgraduação precisamos refletir criticamente acerca do sentido e do significado dessas mudanças, e esta reflexão nos remete a discussão entre novidade e criatividade. Criamos quando descobrimos e exprimimos uma idéia, um artefato ou uma forma de comportamento que seja nova para nós 39 Palestra proferida no 6o SENADEn, Teresina, Piauí, 2002. Enfermeira. Doutora em Filosofia da Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSC. Coordenadora Didática-pedagógica do Curso de Mestrado em Enfermagem da UFSC. Membro do Grupo de Pesquisa em Tecnologias Convergentes-assistenciaisGIATE. 41 CARBONELL, Jaime. A aventura de inovar a mudança na escola. Porto Alegre: Artmed, 2002. 40 184 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. (Kneller, 1994)42. O pensamento criador é inovador, exploratório, aventureiro; é impaciente frente a convenção; é atraído pelo desconhecido e indeterminado. A novidade criadora emerge em grande parte do remanejo ou da reflexão sobre o conhecimento existente, que se configura em acúmulo de conhecimento. Por sua vez, a criatividade não se limita a determinada área do conhecimento humano. Ela se expressa de diferentes modos. Tão criador quanto o artista é o cientista. Ambos se inspiram nas experiências anteriores para transformá-las em ato criador. O artista transforma suas experiências cotidianas em peças de teatro ou obra de arte, o cientista verifica e aprofunda dados/ informações de que dispõem, observa a realidade procedendo aproximações e distanciamentos para construir algo na forma de uma nova teoria, um novo equipamento, um novo artefato, um novo modo de fazer algo ( o cuidado de enfermagem, por exemplo). Tanto as descobertas da ciência quanto às obras de arte são explorações; tanto o descobridor quanto o artista trabalham pela intuição e pelo intelecto; ambos caminham a partir de idéias que são sentidas mais do que compreendidas, que têm tanto de sensações quanto de pensamentos e determinam a ação humana. Entretanto, a novidade por si só não torna criador um ato ou idéia. Toda novidade precisa ter relevância. Isto porque todo ato criador é resposta a uma situação particular, ele precisa resolver, ou ao menos favorecer a compreensão, da situação que o fez surgir. Ou seja, um ato ou idéia é criador não apenas por ser novo, mas porque imprime significado ao contexto em que se insere (Kneller, 1994). Toda inovação, portanto, só tem sentido quando imprime significado ao contexto em que se insere, respaldado por uma atitude ética. Ou seja, quando carrega consigo elementos para uma nova compreensão ou re-ordenação de uma dada realidade, determinando uma novo modo de fazer, um novo modo de ser no nosso caso a enfermagem. Como afirma Morin (2000) o conhecimento pertinente é o que é capaz de situar qualquer informação em seu contexto; o 42 KNELLER, George F. Arte e ciência da criatividade. 12ª ed. São Paulo: Ibrasa, 1994. 185 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. conhecimento progride não tanto por sofisticação, formalização e abstração, mas principalmente, pela capacidade de contextualizar e englobar. Se assim o é, precisamos refletir criticamente acerca da relevância das mudanças que buscamos na Enfermagem e que contribuição cabe ao ensino de pós-graduação mestrado e doutorado. Para Morin (2000, p. 55)43 a maior contribuição do conhecimento do século XX foi o conhecimento dos limites do conhecimento. A maior certeza que nos foi dada é a da indestrutibilidade das incertezas, não somente na ação, mas também no conhecimento. Um único ponto quase certo no naufrágio (das antigas certezas absolutas): o ponto de interrogação, diz o poeta Salah Stétié. Refletir, então, acerca dessa relevância implica numa revisão de valores e das relações éticas na profissão, numa reflexão acerca das questões de poder /autonomia e no fortalecimento à identidade profissional; no fortalecimento do conhecimento político, expresso pelas articulações dos profissionais e na organização das entidades de classe.(Prado & Souza, 2002)44 A Enfermagem, na revisão de valores e das relações éticas na profissão, precisa buscar modos de refletir sobre os valores da existência dos seres no universo e de posicionamentos responsáveis em relação aos conflitos inerentes ao cotidiano das práticas de educação e saúde. Precisamos construir o conhecimento ético, como afirmam Trentini & Paim (2001)45, compreendido como um dos pilares do conhecimento profissional; um espaço de construção teórica ancorado nas situações humanas de vida cotidiana, onde a liberdade e 43 MORIN, Edgar. A cabeça bem feita repensar a reforma, reformar o pensamento.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000 44 PRADO, Marta Lenise do, SOUZA, Maria de Lourdes. Inovações e avanços no cuidado de enfermagem: ousadia e irreverência para o ato de criação. Conferência proferida no XVI Congreso Argentino de Enfermería. Córdoba, maio de 2002. (não publicado) 45 TRENTINI, Mercedes, PAIM, Lygia.Assistência e pesquisa em Enfermagem: uma abordagem convergente-assistencial. Texto & Contexto Enferm. Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 11-31, jan/abr., 2001. 186 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. a responsabilidade tornam-se visíveis exigências éticas, onde há que se buscar o encontro do respeito pela dignidade de todos com a construção de uma vida digna de ser vivida como uma existência estética (idem, p.22). A construção desse conhecimento ético precisa estar fundado na democracia, no respeito mútuo e na responsabilidade coletiva. Precisamos estar comprometidos com o desenvolvimento da competência humana, que inclui: - saber intervir na realidade com autonomia e resolutividade, respeitando as regras democráticas; - reconstruir permanentemente o conhecimento, imprimindo sentido e significado; - desenvolver atitudes de competência emocional e políticosocial; - compreender a importância da aprendizagem permanente; - vivenciar o processo de reconstrução do conhecimento com autonomia individual e respeito coletivo; - reconhecer a unidade e a complexidade humanas, reunindo e organizando conhecimentos dispersos nas diferentes disciplinas, colocando em evidência o ele indissolúvel entre a unidade e a diversidade de tudo que é humano. No cenário do trabalho em saúde, refletir sobre poder e autonomia implica em olhar a partir de uma perspectiva ético-filosófica, reconhecendo no exercício de uma prática coletiva, as inerentes questões que aí se apresentam, fortemente delimitadas por questões sociais, econômicas históricas e culturais. As questões estruturantes do trabalho em saúde conformam, assim, o trabalho da enfermagem determinando inclusive as relações de dominação e subordinação nas relações profissionais. É preciso, portanto, descortinar esse cotidiano de modo a permitir a Enfermagem constituir-se como sujeito (no sentido, apontado por Morin46, como aquele que se posiciona no 46 MORIN, Edgar. A cabeça bem feita repensar a reforma, reformar o pensamento.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. 187 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. centro do seu mundo para lidar com ele, considerá-lo, realizar nele todos os atos de preservação, proteção e defesa) superando a fragmentação de sua prática, legitimando-se como disciplina e como profissão, fundando sua identidade profissional, nos princípios da ética da solidariedade e da compreensão. O estabelecimento de relações éticas dentro da própria categoria é condição primeira para seu fortalecimento e reconhecimento na sociedade Uma identidade profissional assim forjada nos auxiliará a sairmos da acomodação e da atitude contemplativa, possibilitando experiências de práticas multiprofissionais e exercício interdisciplinar. A prática profissional precisa ser exercida num processo de açãoreflexão cooperativo, de indagação e experimentação, no qual o profissional se coloca como um eterno aprendiz, intervém para facilitar, e não para impor nem subtrair a individualidade dos envolvidos. Constrói, assim, espaços de solidariedade e cooperação, onde o diálogo e o respeito são fundamentos das relações interpessoais. Nesse sentido, precisamos reconhecer a importância do conhecimento político, expresso pelas articulações dos profissionais e pela organização das entidades de classe, na habilidade de comunicação, de mobilização e de participação em movimentos coletivos, alicerçadas no diálogo democrático, reconhecendo as pluralidades e antagonismos aí implicados. A natureza do homem não prescinde da política como atitude, a qual marca suas ações e destinações O conhecimento político é, pois, o alicerce indispensável para avançar em nossa desalienação quanto a ideologia das propostas de saúde, as relações entre economia e saúde, nas práticas educativas, na assistência em aliança com os usuários dos serviços de saúde, no engajamento aos movimentos organizados da sociedade civil (Trentini & Paim, 2001). Por isso, é, também, determinante o modo como nós enfermeiros estabelecemos nossa relação com a sociedade, ocupando espaços políticos representativos, no cenário local, regional e nacional, exercendo influência no estabelecimento de políticas públicas, bem como, o modo como estabelecemos as relações internas da categoria. 188 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Isso implica compreender que há de se estabelecer uma real parceria - enfermagem / clientela, de modo a construir novas maneiras de intervenção na realidade quer no ensino, quer no cuidado de enfermagem, com tecnologias que respondam aos requerimentos do contexto em que se inserem. Novas tecnologias de ensino e de cuidado precisam ser experimentadas, adequando-as as necessidades específicas e particulares de cada contexto, embora muito freqüentemente sejam inspiradas em experiências já realizadas. A importação de tecnologias sem uma afinada adequação ao contexto tende a revelar-se imprópria e ineficaz. Nesse sentido, a Enfermagem da UFSC têm desenvolvido tecnologias de ensino e de cuidado, desenvolvendo estudos e implementando ações, nos seus espaços acadêmicos em interface com a sociedade, fortemente ancoradas na realidade local e regional, buscando criar novos modos de fazer o trabalho de enfermagem. Também, novas ações de cuidado com a Enfermagem têm sido preocupação desse grupo, especialmente no tocante a qualificação profissional, ampliando oportunidades, em especial o acesso aos cursos de mestrado e doutorado. A política de expansão da PEn, implantada no início da década de 90 assumiu esse importante compromisso histórico, com o Curso de Doutorado e a Modalidade de Mestrado Expandido para as Universidade parceiras, integrantes da REPENSUL uma rede de promoção da Enfermagem da Região Sul.. Essa iniciativa foi alicerçada num reconhecimento da necessidade de investir em menor espaço de tempo, na titulação de mestres e doutores, no campo da Enfermagem, na Região Sul do Brasil, numa perspectiva de parceria interinstitucional, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da enfermagem e para a melhoria do setor saúde na região, estabelecendo parcerias em pesquisas e promovendo o intercâmbio da produção do conhecimento. (Padilha, Pires, 2001). Dessa forma concretiza-se um importante princípio filosófico, que precisa nortear nossas ações no ensino de pós-graduação: educar para a solidariedade, fundamentado nos princípios democráticos, buscando estratégias de inclusão e valorização coletiva. 189 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Precisamos pensar numa formação colaborativa ou cooperativa, criando tempos, oportunidades, espaços e estímulos para aprender e enriquecer-se uns aos outros e avançar profissionalmente e democraticamente como coletivo.(Carbonell, 2002). Precisamos construir uma prática educativa alicerçada numa cultura colaborativa, criando redes que se transformem em coletivos de renovação da prática profissional da Enfermagem. É por isso, também, que o compromisso da pós-graduação não se esgota em si mesmo. É preciso reconhecer os diferentes níveis de formação que compõem a categoria da Enfermagem; reconhecer que o trabalho de Enfermagem é realizado em equipe, cujos integrantes têm formação profissional diversificada e, portanto, as oportunidades de crescimento precisam ser ampliadas a todos, buscando o fortalecimento da escolarização, através da formação ao longo da vida, investindo em tecnologia inovadoras de ensino que tragam novas possibilidades de educação no trabalho para Enfermeiros, bem como para os profissionais de nível médio. É por pensar assim, que a Enfermagem da UFSC concretiza e fomenta a formação de auxiliares e técnicos de Enfermagem, através do Projeto Curso Supletivo Auxiliar de Enfermagem e do Curso Técnico de Enfermagem, ambos concebidos e implementados pelo grupo de enfermeiros da UFSC. A proposta promove uma articulação interinstitucional, com participação de instituições de ensino e assistência, públicas e privadas do Estado de Santa Catarina e de entidades de classe, com o intuito de potencializar recursos e talentos, visto que nenhuma instituição de modo isolado poderia provocar impacto e contribuir verdadeiramente para mudança no panorama histórico. A opção filosófica e a decisão dos caminhos da operacionalização dessas experiências materializam outro princípio: constituir-se num espaço de construção da consciência crítica e 190 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. libertadora, através do exercício da autonomia e valorização da Enfermagem em suas múltiplas dimensões.47 Há que se reconhecer, ainda, o compromisso com a difusão de experiências inovadoras, valorizando o intercâmbio de idéias, para que se oportunize a re-criação a partir da análise dos contextos particulares, resguardando uma postura ética no tocante ao respeito aos direitos autorais. Nesse sentido, precisamos favorecer o fortalecimento dos mecanismos de disseminação da produção científica da enfermagem, construindo formas solidárias de acesso, tanto para divulgação quanto para consumo. As publicações periódicas, livros, teses e dissertações precisam estar disponíveis aos profissionais de enfermagem, considerando a adequação aos contextos em que o conhecimento produzido é aplicável. O consumo da produção científica da enfermagem precisa ser um compromisso do ensino de pós-graduação. Surge aqui outro princípio: compromisso com a difusão de idéias e experiências, para a socialização de saberes e fazeres. Para concretizar esse princípio, a Pen/UFSC investiu em duas estratégias centrais, a publicação de um periódico Revista Texto & Contexto e a Série Teses. Ambas publicações tem se configurado como importante estratégias ao consumo da produção científica, numa maior abertura ao debate com a comunidade científica e ao acesso aos profissionais da área. Outras estratégias também tem sido utilizadas, como publicação de livros decorrentes dos trabalhos terminais do Curso de mestrado, da Série Enfermagem, e apresentação de trabalhos em eventos nacionais, internacionais. Certamente, estas são algumas das muitas estratégias que podemos pensar no sentido de operacionalizar nossos princípios, reconhecendo nosso papel, nosso compromisso com o fortalecimento da profissão. Tais estratégias, entretanto, precisam ser pensadas a partir do contexto a que se dirigem, ou seja, para quê e porquê 47 SOUZA, Maria de Lourdes, HORR, Lidvina; REIBNITZ, Kenya S. Fazendo a diferença: profissionalização em Auxiliar de Enfermagem no Estado de Santa Catarina. Florianópolis: NFR/SPB, CCS UFSC, 1997. 191 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. produzimos conhecimento? Voltamos novamente a questão da relevância. Qualquer uma delas ou outras que possam ser pensadas, só se justificam a partir do momento que asseguram a relevância do que fazemos e produzimos no ensino de pós-graduação. Contudo, para assegurar a relevância no ensino de pósgraduação de enfermagem, em muitas situações, precisamos ser irreverentes. Irreverência entendida como um componente psicológico, que permite ter consciência de que há momentos em que as regras e as normas nem sempre devem ou podem ser seguidas com o rigor que se prescreve; é preciso sempre partir do reconhecimento da realidade, da situação específica, da temporalidade e dos sujeitos envolvidos em cada situação. E, para refletirmos um pouco sobre isso, vou me permitir reproduzir uma narrativa apresentada no Livro Criatividade no trabalho e na vida, de Menna Barreto. O autor ao discutir a importância de sermos irreverentes nas nossas ações no trabalho e na vida, protagonizou o seguinte diálogo, do qual extraí alguns fragmentos : - Roberto, saiba que sou um engenheiro responsável pelos sistemas de segurança de uma plataforma submarina. Como é fácil imaginar, uma plataforma submarina é exatamente uma bomba, com explosivo estocado e um pavio aqui fora, no ar. Só falta acendê-lo, para acontecer uma catástrofe, que pode consumir dezenas de vidas! Saiba que todo engenheiro, nesse meu cargo, para desempenhar minha função, recebe um grosso manual em que se lê: EM CASO DE EMERGÊNCIA NÃO PENSE. SIGA O MANUAL! Agora diga-me, sinceramente: no meu caso devo usar de irreverência na hora do expediente ? - O que esse engenheiro deve fazer, em caso de emergência? - Pombas! Não pense siga o manual. - Entretanto esse engenheiro, sabe da importância do manual, mas sabe, também, de que o petróleo, o mar e o fogo nunca leram o manual. Ele sabe que há uma possibilidade, no mínimo de 1 %., mas crucial, de que o manual esteja incompleto.! 192 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. - O que deve então fazer, sabendo disso tudo, em caso de emergência? - ORA, SIGA O MANUAL - Mas talvez aquele caso específico não esteja no manual... - Que fazer então? Consulte o manual de novo (é possível que ele esteja lá e voce não o achou) - Não, não está... Consulte-o novamente se der tempo mais uma vez para ter certeza! Não, realmente não está... - Então jogue aquela droga ao mar e trate de agir, diante do imprevisto, do inesperado, com o máximo de presença de espírito possível! Um profissional como esse capaz de continuar agindo em face do inesperado, isto é, além do manual é exatamente aquele que poderá contribuir, depois do sufoco, com mais um valiosa página para o próprio manual, em sua próxima edição. E o que dizer daquele que não for capaz de agir assim, nesse caso crucial de 1% além do Manual? Bem, aquele será encontrado mais tarde, abraçado ao Manual, ambos carbonizados, junto com outros cadáveres, merecendo, no enterro, um epitáfio sincero: Ele sempre seguiu o Manual . Portanto, precisamos reconhecer que a prática docente é um processo de ação e reflexão cooperativa, de indagação e experimentação, no qual o professor aprende a ensinar e ensina porque aprende, intervém para facilitar, e não para impor nem substituir a compreensão48.; precisamos reconhecer que o espaço pedagógico não se esgota na sala de aula, ele se contextualiza nos espaços do mundo do trabalho. Para isso, reconhecemos o importante papel da Filosofia como suporte reflexivo, já que ela traz consigo a liberdade e a responsabilidade, contribuindo para a construção de sujeitos críticoscriativos, comprometidos com as questões fundamentais que 48 GOMEZ, A.I. Pérez. A função e formação do professor no ensino para a compreensão- diferentes perspectivas. In: SACRISTÀN, J. Cimeno; GOMEZ, A.I. Pérez. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artes Médicas. 1998. P.353-380 193 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. permeiam nosso exercício profissional e o contexto em que esse se insere. Precisamos tornar criador um ato ou idéia, buscando sua relevância,.de forma a responder a uma situação particular, resolvendo ou favorecendo sua compreensão. Nosso desafio, portanto, consiste em sermos irreverentes, quando o manual for insuficiente para apontar saídas e caminhos relevantes para a Enfermagem e para a sociedade, pois, como nos diz Peter McLaren (1997)49, cada descrição está ideologicamente carregada, codificada e, intertextualmente, relacionada a contextos interpretativos maiores. Nada que possa ser observado ou citado é ideologicamente neutro ou inocente. Nenhum pensamento, idéia ou teoria é transparente, autônomo, solto no espaço (...). Saber alguma coisa é sempre um efeito das relações poder/saber. A questão é: quem tem o poder de tornar algumas formas de conhecimento mais legítimas do que outras? . 49 McLAREN, Peter. A vida nas escolas Uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos da educação. Porto Alegre: Artmed, 1997. 194 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O EXAME NACIONAL DE CURSOS: VISÕES, DESAFIOS E PROPOSTAS. VAMOS (DES)AFINAR?* Prof. Dra. Abigail Moura** Inicio saudando a todos e explicando a razão da minha presença nessa mesa. Na certa outras pessoas foram convidadas para essa tarefa, mas por vários motivos não puderam está aqui. Assumo, portanto, o desafio de falar sobre avaliação a partir de algumas ponderações. Em primeiro lugar não considero que refletir sobre avaliação seja tarefa de uma só pessoa e, muito menos só minha. Não sou diretora de escola, não sou coordenadora de curso, mas a minha experiência, de 30 anos, no ensino e na militância na enfermagem, me credencia a estar coordenando esse debate. Outro motivo que me autoriza a falar sobre educação em enfermagem tem haver com a minha situação profissional que considero ímpar e privilegiada. Trabalho numa instituição de ensino superior, Fundação Educacional Serra dos Órgão, particular, na cidade de Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro Região Sudeste e, até fevereiro desse ano, fui professora visitante da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, Rio Grande do Norte, Nordeste, e continuo como assessora dessa instituição. Moro na região sudeste e trabalho na região nordeste, vivo essas duas realidades abrindo possibilidade para uma leitura crítica das mesmas, que são iguais e diferentes. Tornam-se iguais pelos problemas estruturais da sociedade brasileira. Mas ** Doutora em Enfermagem EEUSP. Professora Honóris Causa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Profa. Titular da Fundação Educacional Serra dos Órgãos Teresópolis, RJ. Membro da Comissão Permanente de Graduação da ABEn Nacional. Assessora da Faculdade de Enfermagem da UERN. A organização dessas reflexões contou com a colaboração das professoras Dra. Rosalba Pessoa de Souza Timóteo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela Ms Moêmia Gomes de Oliveira Miranda 195 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. diferentes pelas especificidades regionais. E são essas especificidades que aproximam a seca do nordeste da violência do Rio de Janeiro. Essas regiões marcadas pela exclusão social constituem realidades complexas, diferentes e ao mesmo tempo iguais. Vamos (des)afinar é muito mais que um convite. É compreender que o desafio de pensar a avaliação é uma responsabilidade de todos nós e não só dos diretores de escola ou coordenadores de curso. Além de ser uma questão teórica é, acima de tudo, uma questão política. Vamos (des)afinar, nesse momento, é uma convocação para assumirmos o compromisso de pensar a nossa responsabilidade como enfermeiras (os), brasileiras (os), cidadãs (ãos), comprometidas (os) com a produção de serviços que atenda as necessidades sociais da maioria dos brasileiros, responsáveis pela construção do projeto político da enfermagem brasileira de intervenção na sociedade. MITO DA AVALIAÇÃO: é que narciso acha feio o que não é o espelho... Pensar o mito da avaliação, é antes de tudo assumir o medo do enfrentamento do espelho. Por que estamos com tanto medo de enfrentar o espelho? O espelho é mágico, no dizer da Profa. Mara Regina Di Sordi, o espelho é mágico, por permitir acomodações, ou seja, retoques imediatos que nos possibilitam a visualização da imagem que queremos, sem mudanças profundas, mas retocando o que nos desagrada. A imagem dos nossos cabelos, ao espelho, permite que um simples toque de mão corrija o que nos desagradou. Percebemos que alguma coisa mudou e nos agradou. No entanto essa mudança não foi profunda. Para enfrentar as imperfeições apontadas pelo espelho necessitamos de coragem. Enfrentar o espelho significa, também, conhecer o nosso passado. O passado imprime marcas no presente. Qual foi o passado da nossa formação como docentes? Não tivemos o privilégio que os nossos alunos estão tendo agora. Quando durante a graduação tivemos oportunidade de discutir avaliação de igual para 196 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. igual, com os nossos professores, com a profundidade e a segurança que a aluna aqui colocou? Quem de nós teve a oportunidade de contestar qualquer lei, qualquer decreto, qualquer questão que fosse colocada, pelo MEC, pela Universidade, pelo Curso ou por qualquer outra instância de poder? Como que foi a nossa formação docente? Todas essas questões têm reflexos nas nossas decisões. Não podemos simplesmente passar uma borrachinha no nosso passado e dizer: acabou. A partir de agora somos enfermeiras(os) críticas(os) reflexivas(os) comprometidas(os) com as transformações sociais etc. e etc. A origem da enfermagem, e a formação da maioria dos docentes aqui presentes, foi exatamente o contrário. Marcada pela submissão, mulheres muito presas as normas, as leis, como ontem, a Profa Milta Torrez colocou aqui, alguém que cuida da casa para outra pessoa fazer alguma coisa. O desafio é muito grande, se é grande para os alunos, compreenderem as mudanças que ocorrem na sociedade, para nós docentes é muito maior. Implica não só em compreendermos esses momentos, mas, avançarmos para enfrentar o espelho, romper com as aparências e buscar a essência dos fenômenos. A ansiedade diante do que, superficialmente, consideramos (in)evitável nos impede de visualizarmos o evitável . Na prática, nos deparamos com a realidade do provão , (in)evitável. Como vamos trabalhar esse momento como evitável ou inevitável. Aparentemente, a preocupação com o provão é como se (in)evitavelmente, no dia 09 de junho, esse fato determinasse toda a nossa vida, exageros à parte. Onde está a nossa capacidade de (des)afinarmos? pois bem, o que é o (in)evitável para nós? a Professora Nair Portela ontem foi brilhante e segura quando desafiadoramente ela disse: vamos mudar a lei50, mas por que nós tivemos tanta segurança para dizer vamos mudar a lei em relação ao provão ? Na afirmação da Profa. Nair a 50 Referindo-se a possibilidade da licenciatura em enfermagem não ter como obrigatoriedade a graduação em enfermagem 197 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. enfermagem brasileira sabe exatamente o que defende e o que não defende e não aceita em relação à licenciatura. Em relação a avaliação temos clareza do que defendemos? será que nós nos permitimos ser avaliadas, nós docentes, nós alunos, nós enfermeiros? qual a certeza que temos para transformar esse momento - redução da avaliação dos cursos ao provão em evitável ? Ou melhor, em momento de avaliação do processo de produção de enfermeiras(os)? Diante de todas as nossas fragilidades, em relação à avaliação, o que é mais importante permanecermos no processo, assegurando o avanço dos mesmos, ou, simplesmente, dizermos não a esse processo? Não queremos afirmar que agora o inevitável é o provão. E por ser inevitável , vamos entrar. Muito pelo contrário, temos que entender o que significa hoje para, o docente, entrar ou não no provão. Mas nunca acharmos que as nossas dificuldades diante da avaliação, justifica transformar esse momento em inevitável. AVALIAÇÃO X PODER (será que nunca faremos senão confirmar, a incompetência da América católica que sempre precisará de ridículos tiranos...) A avaliação é uma relação de poder, e o poder sempre esteve nas mãos dos docentes. Por que? Porque sempre avaliamos os alunos e nem sempre fomos avaliados. Fazendo uma relação desse momento de reflexão sobre a avaliação e o momento de reflexão anterior sobre as concepções de homem, sociedade e educação que perneiam as diretrizes curriculares, objeto dos trabalhos da tarde de ontem, algumas questões merecem ser ressaltadas. Porque não aceitamos explicitar as nossas concepções? O que nos leva a negar que, a nossa aderência a determinadas propostas tem haver com a nossa visão social de mundo? O que determinam posturas de docentes que, afirmam para os discentes: hoje você diz isso como aluna, amanhã você vai se ver no meu lugar? Será que essas negações não significam, 198 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. também, uma forma de não permitirmos consequentemente, não abrir mão do poder? o confronto e, Na verdade no processo ensinar/aprender não pode existir, dois lugares diferentes. Mas o que representam esses dois lugares? Representa o lugar do poder e o lugar da submissão. Desse modo a avaliação é uma relação de poder. E nesse momento, pela primeira vez, os docentes também estão sendo avaliados. E essa é uma avaliação que nós não enfrentamos. E quando eu digo nós não estou falando somente da direção da ABEn e nem da Executiva dos Estudantes, estou falando nós enfermeiros, nós médicos, nós professores, em fim todos que direta ou indiretamente fazem educação no Brasil. A avaliação está presente em todas as pautas dos SENADENS. E a postura adotada sempre foi de pequenos arranjos, para que a imagem no espelho se tornasse mais aceita. Esse arranjo materializava-se na proposta de ratificar o PAIUB, como processo de avaliação. Mas parava por aí. Se perguntarmos aqui o que é o PAIUB talvez, alguns docentes, não vão saber nem a sigla. Mas, foi cômodo para nós, dentro do nosso poder de docentes, que vem se reunindo nos SENADEns, ratificarmos o PAIUB, sem de fato conhecermos esse processo, intervirmos e construirmos estratégias que possibilitassem a definição de processos de avaliação concernente ao projeto político de educação em enfermagem. Como explicitarmos essa dificuldades se ainda não temos clareza do projeto político para a educação em enfermagem que estamos construindo? A avaliação não é algo descolado das concepções. Se não temos clareza das concepções que norteiam os processos de formação das enfermeiras (os), as propostas de avaliação passam a ser fora desses processos e não avaliação dos processos. A avaliação, nesse caso, é tomada como uma etapa posterior ao processo e não como interpretação e reinterpretação da realidade apontando a possibilidade de mudança dessa realidade. A avaliação que estamos acostumadas(os) a trabalhar é reduzida a aplicação de instrumentos. A construção e a aplicação dos mesmos passam a ser a finalidade da 199 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. avaliação e não um meio par consegui-la. O problema não está nos instrumentos mas, o que se faz com os resultados. A avaliação é uma relação de poder porque sempre foi dado aos docentes a possibilidade de premiação ou punição. O processo de avaliação ao desconsiderar a realidade fica reduzido a atribuir notas ou conceitos. Perde a possibilidade de ser o momento de superação e continua sendo um momento de estagnação. A participação da enfermagem no provão possibilitará o avanço da discussão de ser contra ou a favor desse processo. Oportuniza uma nova relação, com os alunos, que ultrapasse o imediatismo de ser contra ou a favor boicote. Possibilitará, também uma estratégia de rompimento do poder do professor e da dominação sobre os alunos. As estratégias, não estão dadas. Somente a construção coletiva apontará as possibilidades reais para a superação e rompimento com a estagnação que parece presente nos movimentos relacionados à educação. A explicitação da relação de poder presente na avaliação, encaminha para a reflexão sobre os movimentos docentes e dissentes. Esse movimentos são contrários ou são apenas diferentes? Sesão duas formas de luta que se encaminham para a mesma finalidade essas não podem ser consideradas como contrárias. O medo de sair do lugar confortável do poder acaba gerando dificuldades de lidar com aquele aluno que se rebela, e que no caso particular do provão, ameaça entregar a prova em branco o que teria uma interferência direta na média do curso. A questão é bem mais profunda do que só a média do curso. A questão é que os docentes também serão avaliados. O medo dessas avaliações é gerado pela punição do E ou do D e pela premiação do A ou do B que não retratam a realidade, tornam os diferentes como iguais ou diferentes como contrários e não apontam possibilidade de avanços. Porque ainda não construímos alternativas para superar esse momento? Vale ressaltar que as alternativas que se apresentam, em alguns casos, parecem ser muito mais para dar conta do imediatismo do provão e não como espaço para discussões sérias e profundas sobre 200 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. que enfermeira(o) estamos formando, como estamos formando e para que estamos formando. Se a preocupação fosse com estas questões, as alternativas seriam outras bem diferentes das que presenciamos. Sou totalmente contrária, absolutamente contrária a qualquer escola que vai dar um cursinho aligeirado para preparar o aluno para a prova. Se vamos entrar nessa avaliação nós podemos maquiar a realidade. Seria desonesto e anti-ético fazer qualquer tipo de adaptação (construções rápidas de laboratórios e/ou outros meios) somente com a finalidade da fiscalização assegurando um conceito apenas na aprência. Esse momento de avaliação que se apresenta pontualmente como provão, deve servir como um meio para irmos à raiz do problema. Para ser radical. Ser radical significa ter a coragem de irmos para o provão tal qual chegamos lá, com o nosso aluno boicotando ou não, com o que o aluno for capaz de responder. Ser radical é compreender que o resultado do provão não pode e não deve ser parâmetro de avaliação, único e exclusivo do processo de formação. Lembrar sempre que esses resultados são apenas alguns elementos de avaliação e não o processo de avaliação que necessitamos. Não podemos perder de vistas que essa prova produz hierarquizações (rankings) entre os curso, e, não considera os avanços que alguns tiveram em relação a outros. Não é possível mensurar com os mesmos parâmetros realidades distintas. Estamos entendendo que as realidades e as necessidades são diferentes, daí porque os processos de avaliação devam contemplar essas diferenças. Contemplar essas diferenças não significa desqualificar o processo mais avançado para se nivelar ao menos avançado. Pelo contrário é ter como horizonte a formação da(o) enfermeira(o) comprometida(o) com transformação da realidade de saúde de modo a atender às necessidades sociais. Desse modo a avaliação passará a ser o acompanhamento e o monitoramento desse processo e não apenas um momento que fiscaliza, mensura, castiga ou premeia os cursos e seus atores. 201 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Os avanços referidos anteriormente podem ser considerados como etapas de superação das dificuldades encontradas. Por exemplo: realizar o processo investigar por um curso que não tem tradição de pesquisa torna-se muito mais complexo do que outro curso que tem uma sólida tradição em pesquisa. Mas a produção do conhecimento do primeiro representa um avanço muito maior do que o segundo, se levarmos em conta o processo de superação das próprias dificuldades do primeiro. É completamente diferente a formação de Doutores nas grandes Universidades como USP, UFRJ da formação na Faculdade de Enfermagem, em Mossoró ou em Teresópolis. As dificuldades são muito maiores. Mas não significa dizer que só devemos Ter Doutores nos grandes centros. Ou que a exigência de Doutores é só para os grandes centros. Pelo contrário. E é aí que entra a importância da avaliação como acompanhamento e monitoramento porque longe desses pequenos cursos serem castigados, por não terem docentes qualificados, essa mesma avaliação deverá apontar estratégias para superação dessas dificuldades. O que não pode se feito é colocar como iguais os cursos que são ministrados em Teresópolis com os da UFRJ, por exemplo. E a partir do resultado do provão definirmos que o curso de Teresópolis é de baixa qualidade em comparação com o da UFRJ ou da UERJ, caso os conceitos do provão sejam diferentes. A estratégia restrita do provão torna-se insuficiente para medir se um determinado curso atende ou não às necessidade da realidade no qual o mesmo está inserido. Nesse momento não cabe mais a discussão vamos entrar ou não no provão? já entramos. Estamos lá. É a realidade, é o inevitável mas que pode se tornar evitável, de que forma? Criando propostas de avaliação que ultrapasse os versos do poeta será que nunca faremos se não confirmar a incompetência da América católica que sempre precisará de ridículos tiranos. FAZER O QUE DEVE SER FEITO (eu ponho fé nessa juventude, que não foge da raia a troco de nada...e constrói a manhã desejada) 202 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Então se nós estamos diante do inevitável ou evitável vamos fazer o que deve ser feito. Também não temos receitas mas a convicção de que a ruptura se concretiza pela explicitação da contradição. Ninguém concretiza rupturas fazendo reparos no espelho. Se não tivermos a coragem de vermos as nossas contradições, a nossa história, o significado de uma prática exercida na grande maioria por mulheres, um trabalho que ele deveria ser coletivo mas ele é subalterno, subalternidade essa determinada pela sociedade, não conseguiremos efetuar rupturas. A movimento de explicitação dessas contradições abre a possibilidade construção de estratégias de transformação capazes de romper com as adaptações. Romper com as adaptações significa também o rompimento com o cumprimento de leis, ordens apenas porque elas são determinadas. A dialeticidade existentes nas contradições devem ser visualizada como possibilidade de superação. Esse conhecimento apontam os pontos de vulnerabilidade tornando possível a construção de projetos de intervenção mais forte, mais sólidos. As normas não podem prejudicar a qualidade, e não podemos Ter a postura de pelo fato da lei está dada, não podemos fazer nada. É necessário compreendermos que a rebeldia e a transgressão são instrumentos de luta para enfrentarmos os aspectos legais quando esses interferem na qualidade dos processos. Muitas vezes justificamos a acomodação ou o medo de perder o poder como imposições legais. O MEC não permite, a direção unidade não permite, o que é de fato não é permite? O que foi apresentou como contraposição ao instituído? Que proposta ou projetos foram construídos coletivamente para fazer frente aos aspectos legais definidos em relação à avaliação? Que fatos foram criados para tornar inevitável evitável? Ou será que não estamos apenas legitimando os processos por acharmos que as coisas devem continuar dessa forma? Em se tratando da avaliação esse é um momento impar. Nunca se falou tanto em avaliação como agora. A avaliação sempre foi uma bandeira do movimento docente, do movimentos dos professores, do movimento da enfermagem. O que precisamos urgentemente fazer é 203 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. um grande movimento que envolva todos os atores: Diretoria da ABEN, Executiva dos estudantes, Federação dos Enfermeiros, Comissão de Especialistas do Ensino de Enfermagem criando possibilidade da construção de projetos de intervenção, concepções formadas que se antecipem às determinações legais, como exemplo a licenciatura e os cursos sequenciais que já temos concepções definidas e lutamos pelo, que coletivamente, consideramos de interesse para a produção dos serviços de saúde/enfermagem. Lembramos que o papel da direção desse movimento é garantir o encaminhamento das estratégias que forem definidas. Não adianta essas direções pactuarem alguma forma de luta, alguma pauta se essas não forem encampadas por todos os envolvidos. Do contrário ao invés de ser um movimento coletivo passa a ser movimentos deslocados. A mudança ocorre quando a organização política se torna mais forte que a própria lei. Para que de fato essa organização possa dar respostas políticas às questões legais torna-se necessário vencermos todas as etapas de explicitações e construção de projetos. Não podemos perder de vistas que não se trata de adaptações ao projeto oficial de avaliação do ensino superior particularmente, de enfermagem. Mas a construção de um projeto de avaliação que não seja externo ao projeto político pedagógico. Essa construção nos obriga a retomar todo trajeto percorrido pela enfermagem brasileira avançando nas propostas políticas emanadas do movimento social da enfermagem. Quando enfatizamos a necessidade de refazermos os caminhos já percorridos é na perspectiva de que cada vez mais estejamos firmes no que já construímos para que esses produtos não sejam apenas rótulos ou formas que se proclamam sem de fato compreendermos o verdadeiro sentido dos mesmos Essa preocupação é pertinente uma vez que corremos o risco de estarmos falando de projetos políticos pedagógicos ou diretrizes curriculares sem compreendermos a essência e/ou as possibilidades dessas mudanças. Mais do que nunca devemos questionar a serviço de quem está a enfermagem? Reafirmamos o compromisso com a 204 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. maioria da população prioritariamente com os excluídos. Desse modo o projeto de avaliação que devemos construir não tem dois lados. O lado do estudante e o lado do docente. Terá que ser democrático, includente, preocupado com a construção da cidadania. Deve ter como base as diretrizes curriculares, não porque elas representam somente a lei, mas porque elas refletem parte das nossas lutas e conquistas. Não vamos adaptar o processo de avaliação ora proposto. Vamos nega-lo mas de outra maneira, organizadamente, politicamente, e com toda segurança. Eu ponho fé nessa juventude, que não foge da raia a troco de nada...e constrói a manhã desejada Obrigada. 205 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A CONTRIBUIÇÃO DOS SENADENS PARA A CONSTRUÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES DA ENFERMAGEM Joel Rolim Mancia51 Maria Itayra C. S. Padilha52 Kenya Schmidt Reibnitz53 Considerações Iniciais Inicialmente, gostaríamos de agradecer ao convite da Comissão Organizadora do 6o SENADEn para participar deste momento e falar de um tema tão importante, que é a historicização da contribuição destes Seminários para a construção das diretrizes curriculares de enfermagem. A concretização do SENADEn se dá em 1994 com a realização do primeiro na cidade do Rio de Janeiro, porém a educação em enfermagem sempre foi uma preocupação da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) nestes 76 anos de existência, o que pode ser comprovado nos seus diversos estatutos, congressos, comissões e pela Revista Brasileira de Enfermagem. Já em 1945 foi criada a Divisão de Ensino de Enfermagem, posteriormente designada Divisão de Educação da ABEn, com os objetivos de organizar o ensino quanto ao currículo mínimo, a duração dos estágios e estabelecer normas para a formação da (o) enfermeira (o) e para a formação de auxiliares de enfermagem (CARVALHO, 1976). A Divisão de Educação da ABEn, assumiu a responsabilidade de elaborar o currículo e determinar o regime escolar dos cursos 51 Enfermeiro. Mestre em Enfermagem pela UFSC. Membro do Grupo de Estudos da história do conhecimento da enfermagem-GEHCE . 52 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professor Adjunto do Departemento de Enfermagem da UFSC.Membro do GEHCE 53 Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professor Titular e coordenadora do Curso Técnico de Enfermagem do Departamento de Enfermagem da UFSC. Membro do Grupo de Estudos sobre Inventos e Adaptações Tecnológicas-GIATE. 206 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. previstos, atividade esta, desenvolvida pela Subcomissão de Currículo que contribuiu para a elaboração e a discussão do projeto que deu origem à Lei número 775/49, que regulamentou o ensino de enfermagem em todo Brasil, substituindo o Decreto 20.109/31 que instituía a Escola de Enfermagem Anna Nery como escola oficial padrão . Após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 4.024/61) e fundação do Conselho Federal de Educação (CFE), é criada por este último, uma Comissão de Peritos de Enfermagem para discutir as diretrizes do ensino de enfermagem no Brasil. Esta comissão juntamente com a ABEn, e com as 19 escolas existentes, discutiu o currículo mínimo de 1962, reivindicando a inclusão do conteúdo de saúde pública no currículo e ampliação da duração do curso para quatro anos. Nesta mesma década, inicia-se os estudos para implantação da Reforma Universitária, que passa a ser instituída a partir da Lei 5.540/68. Neste mesmo ano, 1968, a Comissão de Educação da ABEn, tendo como um dos fatores desencadeantes a Reforma universitária, revitaliza os estudos para uma nova proposta de revisão do currículo mínimo do Curso de Enfermagem e Obstetrícia, propondo a distribuição semestral das disciplinas. Este currículo contemplou o aumento do tempo de duração do curso e apresentava-se em três partes: uma parte com disciplinas básicas tronco pré-profissional, outra parte com disciplinas profissionalizantes e a terceira parte, com as habilitações em Enfermagem Médico-cirúrgica, Saúde Pública e Licenciatura (opcional) (CARVALHO, 1976) e este novo currículo é aprovado em 1972, pelo parecer 163/72, e manteve-se até 1994. Na época em que foi aprovado o parecer n 163/72/CFE, ele representou uma conquista da categoria, contudo, com o passar do tempo, algumas distorções se evidenciaram, dentre as quais destacamos: o paradigma biomédico (reforço nas patologias e nas técnicas); a dicotomia entre os conteúdos de enfoque curativos os preventivos e a fragmentação das disciplinas e do currículo. Uma grande lacuna deste parecer ainda é a ausência da disciplina de Enfermagem em Saúde Pública no currículo obrigatório da 207 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Graduação; esta disciplina só consta como obrigatória na Habilitação em Saúde Pública. Como destaques positivos podemos ressaltar a importância, na época, da delimitação da carga horária dos estágios, não podendo ser inferior a 1/3 da carga horária profissionalizante (que embora não sendo o ideal, fornecia na época, um parâmetro para as escolas de Enfermagem); além disso, foi instituído a habilitação em licenciatura , que possibilitou alguns enfermeiros capacitarem-se pedagogicamente (REIBNITZ at al, 1999). A atuação da ABEn na conformação dos currículos de enfermagem foi criticada por Germano (1993), quando afirma que a Associação influi decisivamente, ao longo do tempo, na histótria do ensino de enfermagem no Brasil, sem ter uma crítica, facilitando as políticas oriundas do estado. Essas, nem sempre resolutivas para os segmentos menos favorecidas da sociedade. Por outro lado, também é impossível negar o papel dessas políticas na formação dos profissionais de enfermagem. A década de 80 é importante para a transformação desta visão de enfermagem a partir do movimento chamado de participação (MP). Este é considerado um dos mais importantes movimentos sociais da história Enfermagem Brasileira que, ao fazer uma ruptura com a prática política que vinha sendo desempenhada pela ABEn, representou um salto qualitativo na história da profissão no país. O MP surgiu com o intuito de criar uma nova visão sobre a profissão de Enfermagem. Uma profissão que se compromete com o desenvolvimento de uma prática criativa, com o exercício constante de avaliação crítica da mesma; que compreende a sua prática como uma prática social que é parte de um contexto histórico-social pelo qual é constituída e, também, constituinte. Uma profissão formada por trabalhadores especializados em um campo do saber técnico-científico, com competência para cuidar de indivíduos e grupos no seu processo de viver. Uma profissão que defende um conjunto de valores morais para 208 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. todos os seres humanos, sem qualquer discriminação, destacando-se o direito à saúde, à liberdade e a uma vida digna. Uma profissão que defende um agir cotidiano voltado para o atendimento das necessidades da maioria da população usuária dos serviços de saúde, defendendo, especialmente, a opção de aliança com as pessoas que precisam de cuidados de saúde (OLIVEIRA, 1990, p. 48 49). Ainda, segundo Oliveira (1990, p. 100) o período de 19821986 foi o momento de explosão da oposição no interior da ABEn, de explicitação dos conflitos e das posições divergentes [...] Um clima de grande mobilização e de efervescente participação da categoria, com dinâmica e práticas diferentes das vivenciadas até então, caracterizadas pela passividade e pelo imobilismo . Esta preocupação com a identidade profissional da Enfermagem manifestava-se nas críticas ao currículo vigente e preocupação com a definição de novas diretrizes educacionais como um todo. As discussões tomaram corpo com a criação da Comissão de Especialistas de Enfermagem da Secretaria da Educação Superior, do Ministério da Educação e Cultura. Esta comissão foi uma das responsáveis diretas pela criação dos SENADENs em 1994, porque a partir desta, juntamente com a Comissão Permanente de Educação em Enfermagem da ABEn, foi elaborado um Plano de Ação, com vistas a promover e ampliar a discussão, sobre a graduação da(o) Enfermeira(o) em todo o país, e traçar uma política de formação para a enfermagem brasileira. Este plano de ação incluiu eventos regionais e nacionais, integrando todas as escolas de enfermagem do país para discutirem temas importantes como a situação das Escolas/Cursos de enfermagem, análise do perfil e competência do enfermeiro e suas 209 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. implicações para definição de um Perfil Nacional e subsidiar a construção de uma nova proposta de currículo mínimo. O quadro abaixo esquematiza estas atividades, contemplando os encaminhamentos realizados para a concretização da proposta de Currículo Mínimo. Quadro 1- Eventos regionais e nacionais promovidos pela ABEn e pela Comissão de Especialistas em Enfermagem/MEC. Quadro 1- EVENTOS REGIONAIS E NACIONAIS PROMOVIDOS PELA ABEN E PELA COMISSÃO DE ESPECIALISTAS EM EDUCAÇÃO/MEC54 1. Seminários sobre Ensino Superior de Enfermagem 1.1. Norte/nordeste 24 a 26/09/1986 1.2. Centro/oeste 25 a 27/03/1987 1.3. Sul 27 a 29/07/1987 1.4. Sudeste 09 a 11/09/ 1987 1.5. Nacional Rio de Janeiro 20 a 23/10/1987 2. Seminários sobre perfil e competência 2.1. Nacional/Brasília UnB 28/09 a 02/10/1988 2.2. Centro-oeste 2.3. Sul 2.4. Norte/nordeste 2.5. Sudeste 3 - Oficina de Trabalho 1988. ABEn Nacional/CEEF SESU/MEC 4 - Seminário Nacional de Currículo Mínimo para a formação de Enfermeiro - RJ/1989 5 - 41o, 42o e 43o Congressos Brasileiros de Enfermagem (Florianópolis/SC, Natal/RN e Curitiba/Pr, em 1989, 1990 e 1991, respectivamente. Sendo que no último foi criado o Comitê de Graduação. 6. Oficina de Trabalho Maio/ 1991 Brasília/DF 7. Encaminhamento da proposta de reformulação de currículo mínimo para a formação de Enfermeiro, ao MEC- setembro de 1992 8. Publicação da Portaria MEC no 1721/1994 que dispõe sobre o currículo mínimo do curso de graduação em enfermagem (16/12/1994. 54 Quadro atualizado por Kenya Schmitd Reibnitz, a partir do relatório da Oficina de Trabalho acontecida em maio de 1991. 210 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Participaram dos Seminários Regionais um total aproximado de quinhentos representantes de escolas e/ou Cursos de enfermagem, de instituições de saúde, de entidades representativas, e de estudantes de enfermagem. O Seminário nacional foi organizado por representação, onde cada curso encaminhava seus delegados, representante dos docentes (geralmente Coordenador do Curso) e representante dos alunos. Do primeiro Seminário Nacional, em 1987, como Delegados das várias regiões, estiveram presentes cerca de cento e quarenta participantes. Porém, a concretização da nova proposta de currículo mínimo para a formação do enfermeiro , que se deu com a integração dos resultados dos seminários anteriores, no Seminário Nacional sobre Currículo Mínimo para a formação do enfermeiro (SENFE), na cidade de Niterói/RJ, em 1989. Este período de discussão (1986 a 1989) mobilizou a Enfermagem brasileira, mais especificamente, as Escolas de Enfermagem, onde por critério de representatividade, poderiam colocar e defender suas idéias com relação à formação do profissional. Os embates políticos e ideológicos, como não poderia deixar de ser, se fizeram presentes, provocando ricos momentos de discussões, em que as votações acirradas traduziam o anseio de uma coletividade. A partir do relatório do SENFE, foi elaborado um documento base para ser novamente discutido com as escolas, sendo então utilizado o espaço dos Congressos Brasileiros de Enfermagem (1989 e 1990), nos Comitês de Graduação, para calibrar e sistematizar o documento final de elaboração do Currículo mínimo. Com intuito de formular um documento que contemplasse, não só a proposta curricular, mas que também representasse o esforço da Enfermagem para discussão e participação coletiva na elaboração desta proposta, a ABEn Nacional realizou uma oficina de trabalho em maio de 1991. Esta oficina contou com a participação da Comissão Permanente de Educação, de Serviço, legislação e pesquisa da ABEn; convidou representantes do COFEN; Federação Nacional dos enfermeiros; e exmembros componentes da Comissão de Especialistas da SESU/MEC para elaboração de um documento a ser enviado ao MEC, como proposta da categoria para a formação do enfermeiro. Sendo assim, em 1991 foi encaminhada esta proposta de reformulação do currículo mínimo fundamentada em discussões sobre o 211 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. perfil sanitário e epidemiológico da população, a organização dos serviços de saúde, o processo de trabalho em enfermagem e a articulação entre o ensino e os serviços. Desta, resultou o Parecer no 314/94 de 6 de abril de 1994, que contemplava na sua essência a proposta encaminhada pela ABEn, contudo apresentava também algumas distorções que precisavam ser estudadas pela categoria. Com esta preocupação, a ABEn Nacional passa a estudar a possibilidade de criação de espaços de discussão sobre o Ensino de enfermagem, agora não só de graduação, mas em todos o níveis de formação. Mais uma vez, é a comissão de educação da ABEn que vai plasmar e veicular a concepção de educação a ser adotada. No entanto, diferentemente do que ocorrera em momentos anteriores, a concepção de educação veiculada pela comissão vai estar comprometida com a construção da contra-hegemonia na enfermagem (MOURA, 1997). A Concretização do Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem Finalmente, um mês após a aprovação do Parecer no 314/94 é realizado na Universidade do Rio de Janeiro - UERJ, o 1o Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem no Brasil 1º SENADEN, promovido pela Associação Brasileira de Enfermagem - ABEn Nacional e Seção Rio de Janeiro, e organizado pelas Comissões Permanentes de Educação. Teve como Tema Central - Diretrizes para a educação em Enfermagem , com simpósios específicos de formação de Nível médio, Graduação e Especialização. De acordo com Souza(2000,p.33) o primeiro SENADEn realizado no Rio de Janeiro em maio de 1994 teve em seu cerne as discussões sobre a formação de nível médio, de graduação e de pósgraduação lato sensu em enfermagem . Nesse momento o nova LDB estava em construção e apresentava inúmeras polêmicas, as quais já conhecíamos. Esta portaria (MEC 1721/94), mereceu algumas discussões da categoria, tendo em vista que, diferentemente do proposto pela ABEn, ficou estabelecido um percentual obrigatório de distribuição de carga horária nos núcleos temáticos (desviando da formação generalista e 212 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. amarrando as Escolas com relação a estruturação de seu currículo pleno). É importante destacar também, que as disciplinas da área pedagógica, necessárias a formação da(o) Enfermeira (o) como educador em saúde, não foram contempladas nesta proposta de currículo mínimo (REIBNITZ at al, 1999). Conclusões: Determinação de diretrizes gerais para formação, envolvendo o nível médio, graduação e pós-graduação lato sensu, contemplando a necessidade de realização de cursos de formação pedagógica para as (os) enfermeiras(os) e programas de capacitação permanente para as(os) enfermeiras(os) dos serviços focalizando os princípio do SUS; Recomendações: - Reconhecimento de especialistas através da prova de títulos em processo a ser realizado pela ABEn através de departamentos científicos ou por entidades vinculadas, explicitando critérios; - Encaminhar ao plenário do COFEn proposta de modificação no artigo 4o relativo ao registro de título de especialista. O 2º SENADEn realiza-se em 1997, na cidade de Florianópolis e, tem a proposta de ampliar as discussões sobre currículo mínimo com o acompanhamento das políticas de educação do país. Tendo sido um fórum idealizado também com a finalidade de ampliar, democratizar e estimular a participação destes profissionais no processo de construção de novas diretrizes educacionais. Teve como objetivos: Refletir sobre a realidade estrutural da sociedade brasileira no contexto do mundo em transformação com vistas a subsidiar a definição das diretrizes para a educação em enfermagem no Brasil; Discutir e estabelecer as diretrizes para a educação em enfermagem e articulando os diversos níveis de formação; Avaliar a operacionalização das propostas do 1ºSENADEn, a partir das diretrizes estabelecidas; Reconhecer e analisar os eixos norteadores da formação de enfermagem nos diferentes níveis; 213 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Discutir a implantação do currículo mínimo nas escolas de graduação de Enfermagem Discutir as propostas de currículo mínimo para formação de profissionais de nível médio; Analisar as relações dos programas de pós-graduação com os demais níveis de ensino da enfermagem. Surge a necessidade de se estabelecer uma periodicidade e uma regularidade para os seminários, referentes ao aprofundamento e acompanhamento da nova LDB, entendido que este espaço seria o fórum deliberativos da enfermagem. No relatório final deste SENADEn foram traçados diagnósticos preliminares sobre os problemas relacionados ao ensino da enfermagem no Brasil (quadro 2) e a partir daí indicadas as diretrizes gerais para a enfermagem brasileira, contemplando estratégias para a articulação dos diferentes níveis de formação (quadro 3). Quadro 2 - Problemas relacionados ao ensino da enfermagem no Brasil Pouco avanço da profissão na solução dos seus problemas Dificuldade de uma intervenção compartilhada na realidade Crítica da LDEB ainda inicial tem gerado apreensão no meio acadêmico O novo currículo mínimo deixa lacunas nas atividades educativas Posicionamento da enfermagem brasileira sobre as categorias profissionais viáveis na enfermagem Pouca participação do nível médio nesta discussão e no próprio SENADEn Escolas e cursos de nível médio , em sua maioria, estão funcionando de modo isolado e desarticulado e também não proporcionam requalificação do corpo docente Na graduação falta articulação entre os conteúdos/ Enfermeiros de serviços, excluídos do processo de produção e divulgação do conhecimento. O papel da pós-graduação para a profissão Democratização dos recursos para a pesquisa/ Ausência da CEEEnf./MEC. 214 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Quadro 3- Estratégias sugeridas pela plenária do 2ºSENADEn - Viabilizar a articulação do ensino nos diferentes níveis, num processo de retroalimentação, considerando a graduação como foco; - Na formação da enfermeira sugere-se que se vise um produto final com domínio dos conhecimentos disponíveis para habilitá-la a intervir de forma criativa na realidade; - Capaz de apresentar soluções para problemas; - Incluir n a formação a reflexão sobre a profissão; - Compreender o processo de trabalho da enfermagem e, também no contexto do trabalho em saúde. - A participação dos alunos da graduação e da pós-graduação no processo de formação dos diversos níveis; - dDiscussão integrada com enfermeiras, auxiliares e enfermagem e técnicas de enfermagem; - Que a CEEnf./MEC esteja presente nos próximos SENADEns; - Continuar discutindo a inclusão dos Aux. na ABEn; - Ratificar as propostas do 1ºSENADEn; - Referendar o currículo aprovado; - Recomendar a implementação de licenciatura; - Facilitar o acesso à pós-graduação; - Divulgar e vincular a produção de conhecimento da pós-graduação aos serviços e ao ensino. Conclusões: identificação de problemas de caráter geral para todos os níveis de formação e de caráter específico para os níveis médio, graduação e pós-graduação propostas para enfrentamento dos problemas apontados: definição de estratégias de caráter geral e específicos para cada nível fato marcante foi a ausência da CEEEnf./MEC 215 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Recomendações: viabilizar a articulação do ensino nos diferentes níveis, num processo de retroalimentação, considerando a graduação como foco; compreender o processo de trabalho da enfermagem e, também no contexto do trabalho em saúde a participação dos alunos da graduação e da pós-graduação no processo de formação dos diversos níveis; discussão integrada com enfermeiras, auxiliares e enfermagem e técnicas de enfermagem que a CEEnf./MEC esteja presente nos próximos SENADEns continuar discutindo a inclusão dos Auxiliar de Enfermagem na ABEn ratificar as propostas do 1º SENADEn referendar o currículo aprovado recomendar a implementação de licenciatura facilitar o acesso à pós-graduação divulgar e vincular a produção de conhecimento da pós-graduação aos serviços e ao ensino O 3º SENADEn, teve como tema central as diretrizes para a educação em Enfermagem no contexto da LDB, e ocorre em 1998 na cidade do Rio de Janeiro. Objetivo Geral: Discutir o ensino-aprendizagem da enfermagem em seus diferentes níveis, a luz da LDB, com vistas a formulação de propostas de diretrizes curriculares para formação de profissionais de enfermagem Objetivo Específico: Estudar o edital número 04/98/SESU/MEC a fim de subsidiar as escolas e a ABEn para uma manifestação junto ao MEC Conclusões: - definição do perfil de conclusão dos cursos nos níveis médio, graduação e pós-graduação 216 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. - assegurar a formação do auxiliar de enfermagem ao nível técnico de formação profissional - reafirmar os conteúdos essenciais para a graduação em enfermagem nas 04 áreas já estabelecidas: Ciências Biológicas, Ciências Humanas, Administração em Enfermagem, Ensino de Enfermagem; Carga Horária mínima de 3500 horas, com estágio supervisionado nos dois últimos semestres - maior flexilibilidade nos currículos, principalmente nos cursos de pós-graduação Recomendações: a CAPES, o CNPq, os programas de pós-graduação e os membros da Comissão de Especialistas participem dos SENADEns e outros fóruns nacionais de definição da política de educação em enfermagem os cursos de enfermagem acatem as deliberações da plenária final a ABEn promova um evento sobre avaliação. as escolas ofereçam cursos de licenciatura as escolas de enfermagem e serviços de saúde ofereçam cursos de formação pedagógica a ABEn promova amplo debate nacional sobre a qualificação dos trabalhadores de enfermagem de nível médio O 4º SENADEn, tem como tema central Enfermagem: estratégias e perspectivas político-pedagógicas e ocorre no ano 2000 na cidade de Fortaleza. Objetivos: discutir a aplicação das novas diretrizes para o ensino de enfermagem junto aos órgãos formadores; discutir projetos político-pedagógicos que viabilizem uma enfermagem voltada para as necessidades de sua clientela; fortalecer o espírito corporativo da enfermagem através de mecanismos que viabilizem a integração do ensino nos três níveis médio, de graduação e de pós-graduação. 217 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Este encontro teve como ponto forte de discussão as regulamentações advindas da LDB, com destaque para as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Graduação em Enfermagem e os Cursos Seqüenciais. De acordo com Kruse (2000, p.58) os enfermeiros discutiram este assunto polêmico, tendo como horizonte as fragilidades da formação na área da enfermagem e seus desdobramentos em relação à qualidade da assistência à saúde prestada à população. Por unanimidade, decidiram desaconselhar a criação destes cursos, entendendo que os mesmos poderiam representar a criação de mais uma categoria profissional na enfermagem, representando um desmerecimento das demais bem como à precarização da formação profissional e do trabalho . Para Xavier (2000, p.53) Estes pressupostos apresentados nesta exposição e os que estão no documento de Florianópolis da ABEn evidenciam uma posição clara, responsável e competente da Enfermagem brasileira pela não adoção dos cursos seqüenciais como modalidade de formação superior de enfermagem . Acreditamos que estas autoras subsidiaram os participantes do 4º SENADEn em sua decisão de refutarem os cursos sequenciais para área de enfermagem. Gesto construído coletivamente e, que influiu positivamente para que o Conselho Federal de Enfermagem se manifestasse não reconhecendo os profissionais formados exclusivamente em cursos seqüenciais. Conclusões: criação de espaços e estratégias para capacitação docente, que favoreçam o ensino crítico-reflexivo, nos três níveis de formação; ratificação do projeto pedagógico proposto pela Carta de Florianópolis, com mobilização da /ABEn e Escolas para sua aprovação; carga horária do estágio supervisionado, em 500 horas, e desenvolvido no final da graduação; 218 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. o não reconhecimento dos /cursos seqüenciais tendo em vista natureza do trabalho; exigência de Monografia como trabalho de conclusão do Curso Recomendações: haja ampla participação da ABEn e das Escolas nas audiências públicas referentes ao processo de formação em enfermagem; a ABEn organize um cadastro das escolas de cursos dos níveis médio, graduação e pós-graduação com disponibilidade dos dados na Internet; as diretorias de Educação das ABEns se responsabilizem pelo assessoramento em todas as fases deste processo. mais espaço para a discussão do ensino médio nos Senadens Em estudo realizado por Mancia e Padilha(2001) com o objetivo de avaliar as convergências e dispersões nas recomendações dos primeiros quatro SENADEns, os autores concluíram que há um encadeamento nas temáticas dos vários seminários apontando a continuidade da discussão. No entanto, quanto às recomendações, estas se referem basicamente a questão do sistema COFEN/COREN, estando muito presentes nos primeiros três eventos. Com isto é possível afirmar que os SENADEns se conformam como um grande espaço político de discussão. O 5º SENADEn tem como tema central a Avaliação no contexto das diretrizes curriculares para a educação em Enfermagem: prioridades, implicações e desafios; acontece na cidade de São Paulo, em 2001. Objetivos: Discutir e avaliar propostas e diretrizes relativas: avaliação de competências relacionada ao processo ensinoaprendizagem e ao desenvolvimento de habilidades e conhecimentos; avaliação institucional no âmbito do projeto político-pedagógico e do corpo docente; políticas de formação dos recursos humanos em enfermagem; 219 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. implicações do exame nacional de cursos para o ensino, pesquisa e assistência; avaliação da educação profissionalizante, da graduação e da pósgraduação em enfermagem. ABEn continua assumindo seu papel histórico na articulação nacional do processo de construção coletiva das políticas e propostas que dizem respeito à educação em enfermagem. ...um projeto pedagógico, construído coletivamente, que articula com organicidade, a competência científica e técnica com a inserção política e a postura ética; Em parceria com a Comissão de Especialistas de Ensino de Enfermagem da SESu/MEC a ABEN, empreenderam uma luta no sentido de aprovar as diretrizes para a educação em enfermagem consensuadas no documento proposto pela carta de Florianópolis( outubro/99) ratificada no 4ºSENADEn( abril/2000) e na reunião de cursos e escolas de graduação em enfermagem( outubro/2000). A proposta de Diretrizes Curriculares apresentada e discutida na audiência pública pelo CNE, contou com a análise do CNS, da ABEn e da CEENF dentre outras. A referida proposta mostra aderência às reivindicações e posições que vêm sendo defendidas pela ABEn. Quanto a qualificação dos profissionais em cursos e programas de pós-graduação percebeu-se que houve avanços na modalidade latosensu por meio do estímulo à ampliação temática de cursos; o stritosensu apresentava carências que precisavam ser solucionadas no que se refere tanto a distribuição geográfica dos cursos, quanto ao estabelecimento de novas parcerias que possam assegurar uma política efetiva da produção científica da enfermagem(VALE,2001). A Comissão de Especialistas de Ensino de Enfermagem neste momento uma grande parceira da ABEn assumiu de acordo com Xavier(2001a,p.7): ...como atividade prioritária a apresentação à SESu/MEC e o acompanhamento no Conselho Nacional de Educação( CNE) da proposta de Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Enfermagem(DCEnf.) que foi elaborada coletivamente pelos docentes de enfermagem e 220 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. enfermeiros(as) nos Seminários Nacionais de Educação em Enfermagem no Brasil (SENADEn) e nos Congressos Brasileiros de Enfermagem promovidos pela Associação Brasileira de Enfermagem. (...) a construção dessa proposta de DCEnf. tem como elemento nuclear a integração entre conteúdos teóricos e práticos, competências e habilidades objetivando sólida formação acadêmica que estimule o(a) aluno(a) a refletir sobre a realidade social e aprender a aprender. Traz como ponto básico a definição de estratégias pedagógicas que articulem o saber(conteúdos); o saber fazer(atitudes/habilidades) e o saber conviver(competências), visando desenvolver o aprender a ser, a fazer, a viver juntos e a conhecer que constituem aprendizagens indispensáveis no mundo contemporâneo.(...) neste contexto, o projeto pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem precisa garantir a indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, tendo a pesquisa como eixo integrador da formação acadêmica do(a) enfermeiro(a).... (...) buscando estabelecer diálogo com os conselheiros da CES/CNE que emitirão pareceres sobre as DCEnf., a COESP/Enf. e a ABEn solicitaram uma reunião para apresentarem o posicionamento da Enfermagem em relação às diretrizes. Esse seminário ocorreu entre dois marcos muito próximos e importantes para a categoria de enfermagem, estávamos discutindo as diretrizes e estas seriam aprovadas no CNE logo após o evento. Iniciávamos o Seminário já com a inclusão da enfermagem no Exame Nacional de Curso(provão). Todos esse fatores tensionaram a ABEn e os participantes do encontro. Logo após o SENADEn, seria realizada uma oficina de trabalho da comissão de especialistas com as diretorias 221 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. de educação das ABEns, para discutir critérios para autorização e avaliação dos cursos. A realização desta oficina constava do programada do plano de trabalho da CEE/Enf. Que foi apresentado à comunidade acadêmica no 52ºCongresso Brasileiro de Enfermagem em Recife, em outubro de 2000. A oficina de trabalho foi avaliada pelos participantes positivamente com recomendação explícita para que esta parceria entre a ABEn e a CEE/Enf. Se consolide e avance cada vez mais. Foi solicitado que a CEE/Enf. E a ABEn continuem promovendo oficinas de trabalho para tratar de temas relacionados com a educação superior em enfermagem: exame nacional de cursos(provão); articulação graduação e pós-graduação; capacitação em forma de treinamento, dos consultores AD HOC da CEE/Enf.; projeto pedagógico para a graduação em enfermagem e licenciatura em enfermagem. Quadro 4- Seminários, Local..N. de incritos, Temas Livre, Anais e Relatório Seminário- Local/ano Nº de inscritos Temas livre Anais Relatório 1º SENADEn R. de Janeiro-1994 166 - - Sim 2º SENADEn Florianópolis- 124 - Sim - 1997 3º SENADEn R. de Janeiro-1998 139 - - Sim 4º SENADEn Fortaleza-2000 252 145 Sim - 5º SENADEn São Paulo-2001 398 100 Sim - Contribuições dos SENADEn Estes encontros mobilizaram a enfermagem brasileira com relação a necessidade de discutir coletivamente as questões pertinentes 222 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. a formação dos profissionais de enfermagem, tendo por base, uma política de formação coerente com os princípios estabelecidos pela Aben, entidade representativa da categoria. Muitas são as suas contribuições, contudo destacamos aquelas que sintetizam as vitórias conquistadas coletivamente: Mobilização para continuidade das discussões realizadas nos SENADEns em Oficinas e Seminários específicos por nível de formação, para compatibilizar as recomendações; Fortalecimento das Diretorias de Educação das ABEns; Fortalecimento da ABEn como representante da enfermagem, junto ao MEC, CNE e CNS, nas questões pertinentes ao processo de formação; Articulação com a COESP/MEC/SESU-2000/02 para aprovação das diretrizes curriculares contemplando as recomendações dos SENADEns, sem ferir a sua essência; Articulação com o CNS e o SEMTEC/MEC para aprovação dos referenciais curriculares para a educação profissional da área da saúde; Reconhecimento do SENADEn como um fórum de educação permanente para os docentes/enfermeiros assistenciais e alunos, reforçando as discussões e reflexões acerca do processo de formação em enfermagem; Consolidação de uma cultura de discussão coletiva sobre os problemas e encaminhamentos referentes a educação em enfermagem no Brasil. Considerações Finais Falar da contribuição do SENADEn para a construção das diretrizes curriculares em enfermagem no Brasil é falar do compromisso da ABEn com a educação em enfermagem. Compromisso explicitado por meio do próprio SENADEn, bem como das outras atividades/encontros/oficinas realizadas no CBEn, nos SENPE, nos ENFs e, principalmente no acompanhamento das questões emergenciais que surgem e demandam respostas imediatas, tais como as audiências públicas, muitas geradas por discussões encampadas pela ABEn. 223 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. É nesse contexto que buscamos apreender a educação em enfermagem como parte da história dessa entidade. ABEn tem conduzido de maneira ampla e participação sobre educação e currículo, desde a sua criação busca parcerias com segmentos representativos da enfermagem para discutir, analisar, definir, posicionar-se, comprometer-se com a profissão. Na última década foram produzidos documentos importantes, de forma coletiva, que tem balizado as discussões da categoria de enfermagem. Os seminários nacionais para discussões das diretrizes para a educação em enfermagem, identificada como SENADEn, promovidos e coordenados pela ABEn desde 1994, constituíram-se no fórum de representação da enfermagem brasileira, para as discussões das questões relacionadas ao ensino, à saúde, à educação e a formação do profissional de enfermagem(ALVES,2000). Referências ABEn/RJ. Documento Final. 1. SENADEN, 02 a 06 de maio, Rio de Janeiro, 1994. ALBUQUERQUE, Gelson Luiz de. O Movimento Participação na Associação Brasileira de Enfermagem - Seção Santa Catarina, na visão de suas principais lideranças, 2001. 170p. Tese (Doutorado em Enfermagem) Florianópolis (SC): UFSC, 2001. ALVES, E. D. O agir comunicativo e as propostas curriculares da enfermagem. Tese (Doutorado) 200f. UFSC. Enfermagem, 2000. CARVALHO, A. C. Associação Brasileira 1926/1976: documentário. Brasília: ABEn,1976. de Enfermagem- GERMANO, R.M. Educação e ideologia da Enfermagem no Brasil. 3. ed. 1993. KRUSE, M. H. L. Cursos seqüenciais - implicações para a prática de Enfermagem. SEMINÁRIO NACIONAL DE DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM NO BRASIL. 4, 2000. Anais... Fortaleza: ABEn, 2000. p. 54-58. 224 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. MANCIA,J.R.; PADILHA, M.I.C.de Souza. O consumo e a socialização da pesquisa em enfermagem. SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISA EM ENFERMAGEM,11, 2001. Anais...Belém: ABEn,2001.1CD-ROM. MOURA, A. Produção da força de trabalho da enfermagem no nível de terceiro grau, 1997. 197 f. Tese (Doutorado em Enfermagem) São Paulo. Universidade de São Paulo.2001. OLIVEIRA, Francisca Valda Silva de. Associação Brasileira de Enfermagem: Mudanças e Continuidades - A propósito do Movimento Participação (1979-1989). 1990. 203p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Natal. SOUZA, Í. E. de. O. Discurso. In: SEMIN/ÁRIO NACIO/NA/L DE DIRETRIES PARA A EDUC/AÇÃO EM ENFERMAGEM NO BRASIL. 4, 2000. Anais...Fortaleza: ABEn, 2000. p.33. REIBNITZ, K. S.;HORR, L.; SOUZA,M. de L. de. O ensino de Enfermagem In: REIBNITZ, K. S.; HORR, Li.; SOUZA, M. de L. de. (Org). As políticas de educação e de saúde e a Enfermagem. Florianópolis: UFSC, CCS, NFR, SPB, 1999. p. 89-111 [Módulo 2. Curso de Especialização em metodologia do ensino para profissionalização em Enfermagem] VALE.E.G. Discurso.SEMINÁRIO NACIONAL DE DIRETRIZES PARA EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM NO BRASIL, 5, 2001.Anais... São Paulo: ABEn,2001. XAVIER, I. de M. Cursos seqüenciais - implicações para a prática da enfermagem. SEMINÁRIO NACIONAL DE DIRETRIZES PARA EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM NO BRASIL, 4,2000. Anais... Fortaleza: ABEn,2000. XAVIER, I.de M. Diretrizes Curriculares de Enfermagem: um projeto em construção. Informativo ABEn ano 43,n.1,jan./mar./2001 a. 225 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. XAVIER,I.de M. Padrões de Qualidade para Avaliação dos Cursos de Graduação em Enfermagem: construção coletiva e democrática.Informativo ABEn ano 43,n.2,abr./jul.,2001b. 226 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. SESSÃO DE ENCERRAMENTO DELIBERAÇÕES DA PLENÁRIA FINAL A plenária final aprovou os seguintes encaminhamentos em relação às questões colocadas em pauta por docentes, estudantes, dirigentes de escolas e da ABEn, pela relevância social e estratégica, em termos técnicos, políticos, éticos e organizacionais, visando a atualização da agenda política da ABEn para a Educação em Enfermagem no Brasil: Aos Conselhos Nacionais de Saúde (CNS) e de Educação (CNE), que analisem a abertura indiscriminada de criação de novos cursos de Enfermagem, com vistas ao aperfeiçoamento do sistema. Ao CNS e CNE, que seja construída uma pauta conjunta com a ABEn, sobre a formação de recursos humanos para o SUS, visando o fortalecimento do processo de criação do Programa de Incentivo às Mudanças nos Cursos de Graduação de Enfermagem PROEnf. Ao CNS, com cópia ao FENTAS, que avalie, com a devida urgência, e apresente à sociedade e ao Congresso Nacional o seu posicionamento sobre o Projeto de Lei nº 25/2002 que regulamenta o ato médico. Ao Conselho Nacional da ABEn (CONABEn), que seja avaliada a possibilidade de que os SENADEn´s sejam anuais, pelo menos até 2006. A ABEn, em consonância com o CONABEn, que promova iniciativas nos sentido de que sejam respeitadas a autonomia, a governabilidade e os procedimentos de avaliação didáticoadministrativa das instituições e sistemas educacionais e descaracterizada a exigência de responsabilidade técnica dos docentes/escolas, regulamentada pelo sistema COFEN/COREN´s. A ABEn, em consonância com suas Seções e Regionais, que promova a discussão, em todos os estados, principalmente nos fóruns de escolas, sobre a impropriedade da implantação do exame 227 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. de ordem para a Enfermagem, a ser proposto pelo Sistema COFEN-CORENs, para que se tenha discussão acumulada sobre o tema que possibilite uma tomada de posição no próximo CBEn, em Fortaleza, no mês de novembro próximo vindouro. A ABEn, suas Seções e Regionais, que realizem campanhas para ampliar o nº de sócias(os), com o objetivo de fortalecer a entidade, para que mais escolas sejam vinculadas possibilitando a criação dos Fóruns de Escolas e de Estudantes nos Estados, bem como dos Conselhos Consultivos Estaduais e Nacional de Escolas de Enfermagem. A ABEn e Escolas de Enfermagem, que organizem e implantem núcleos de formação política nas escolas, através de parcerias locais, para que a ABEn seja fortalecida organizacional e politicamente nos Estados e as(os) futuras(os) enfermeiras(os) tenham qualidade política para intervir criticamente nas decisões, principalmente em relação as políticas de saúde, educação e trabalho na área da Saúde/Enfermagem. A ABEn, que dê continuidade à participação dos estudantes nas atividades dos próximos SENADEn´s, bem como assegure espaço para que as(os) estudantes de enfermagem possam veicular notícias de seu interesse no Boletim Informativo da ABEn (BI). 228 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. MOÇÕES E MANIFESTOS APROVADOS Moção de reconhecimento a ABEn como a entidade que historicamente coordena, promove e representa a Enfermagem brasileira nas questões educacionais, em todos os níveis de ensino da profissão, não reconhecendo a necessidade de criação de outras entidades para atuar neste campo. Moção de repúdio à criação de cursinhos preparatórios ao ENC (Provão). Moção de repúdio ao atual modelo de avaliação do ensino, proposto e desenvolvido pelo MEC. Moção de repúdio ao Projeto de Lei 25/2002, em tramitação no Congresso Nacional, que trata da definição do Ato Médico, pois o mesmo poderá implicar na descontinuidade das ações dos profissionais da saúde, principalmente na rede básica de saúde. Manifesto dos estudantes de enfermagem, presentes ao evento, relacionando temas de uma agenda comum, a ser implementada pela ABEn e pelo Movimento Estudantil que envolve a discussão e construção conjunta de um projeto de avaliação institucional, a participação no Programa de Sustentabilidade ABEn/MS para a Implantação das Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação, a participação conjunta no Fórum Social Mundial e a formação de núcleos de formação política junto às IES. 229 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. AVALIAÇÃO DO 6º SEMINÁRIO NACIONAL DE DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM Dos 316 inscritos, 69 (22%) responderam ao formulário de avaliação. Quanto à caracterização dos respondentes, 63,6% são de escolas, destes 42,5% na graduação e pós-graduação, 32,5% na graduação e 15,0% no nível médio; 23, 8% atuam em serviço e escola, 11% são acadêmicos e 1,6% no serviço. A quase totalidade dos respondentes (67) considerou que as temáticas abordadas contribuíram para ampliar a sua visão como ator social, destacando como pontos fortes do evento: a possibilidade de socialização de dúvidas e ansiedades, as trocas de experiências e a discussão coletiva das dificuldades no âmbito da enfermagem. As temáticas foram consideradas como bem desenvolvidas e interrelacionadas com o atual contexto da enfermagem, fornecendo subsídios quanto ao conhecimento e aplicabilidade do currículo integrado numa abordagem comprometida com as necessidades de saúde da população e a busca de parcerias na construção de projetos políticos nas instituições. Em relação às estratégias metodológicas do evento (mesas redondas, pôsteres animados e oficinas), os respondentes, na sua maioria, consideraram que estes foram positivos no que se refere à coordenação, conjunção de pessoas motivadas para discussão, trocas de experiências e apresentação de resultados. Quantos aos pontos negativos, foram citados: as condições logísticas, o espaço pequeno e a má operacionalização do som e controle do horário das atividades. A maioria dos respondentes considerou que suas expectativas foram atendidas e, até mesmo, superadas na medida que os participantes puderam exercitar a liberdade da construção de uma nova proposta , tendo em vista a dinâmica adotada nas oficinas e, ainda, a troca de experiências pela diversidade da representatividade das regiões brasileiras. Entre as expectativas não atendidas e também apresentadas como sugestões foram citadas: 230 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. a necessidade de aprofundar a discussão sobre o projeto político pedagógico, currículo integrado, a operacionalização e avaliação dos currículos orientados pela formação de competências, a implatação das Diretrizes Curriculares e do processo de avaliação institucional, articulação entre os três níveis de ensino, discussão sobre Licenciatura e Especializações em enfermagem, explicitar a participação da ABEn nas parcerias desenvolvidas com os projetos do PROFAE/MS, a necessidade da participação da CEENF no evento, a realização de encontros regionais conduzidos pelas ABEn Seções. Quanto as temáticas sugeridas para o próximo SENADEn, foram citadas: A socialização do conhecimento e as universidades como propulsoras nesse processo , Desafios atuais da educação , Diretrizes Curriculares , Projeções futuras de atuação do enfermeiro no contexto nacional e internacional (mediante este momento vivido no SENADEn, com foco no ensino e no mercado de trabalho), Qualidade de vida, trabalho e saúde mental, mudanças na psiquiatria , Avaliação das condições de oferta dos cursos , Avaliação das novas propostas de projeto político pedagógico , A construção do conhecimento na formação em enfermagem: metodologias, participação de ensino, novos cenários e novas tecnologias , A pós-graduação qualificando os docentes para a graduação com base nas novas determinações e demandas do ensino superior . 231 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. CARTA DE TERESINA O 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem SENADEn, realizado de 27 a 30 de maio de 2002, em Teresina, Piauí, teve como tema central Educação e Mudanças: discutindo os contextos, textos, lições e propostas. Reuniu enfermeiras(os), técnicas(os), docentes, alunas(os), gestores do ensino de Enfermagem e de Centros de Ciências da Saúde, além de convidados provenientes dos Ministérios da Saúde e Educação, Organização Pan-americana da Saúde, Rede Unida, Universidades, Cursos de Enfermagem e Educação, dentre outros. Neste cenário e com estes atores, desenvolveu-se uma discussão plural sobre o que pensa, analisa e propõe a Enfermagem brasileira frente aos atuais rumos da educação nacional, destacando-se as mudanças a serem implementadas na formação dos(as) profissionais de saúde, e dentre eles as(os) trabalhadoras(es) de enfermagem, assim como, as parcerias políticas e institucionais necessárias para consolidar as mudanças propostas e em processo de regulamentação. Dentre os fatos da conjuntura educacional que merecem análise profunda e detalhada nas discussões estão a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Enfermagem e o Exame Nacional de Cursos. As proposições oriundas dos debates e oficinas específicas, respaldadas pela plenária final, revelam perspectivas diversas para o encaminhamento destas questões, orientadas, fundamentalmente, pela compreensão de que: As Diretrizes Curriculares para o curso de graduação em enfermagem devem ser tomadas como um ponto de partida para as mudanças necessárias, em construção, e não como uma exigência normativa que imobilize os processos em curso, que estão orientados na mesma perspectiva. Assim, as diretrizes devem nortear a construção coletiva dos processos políticos pedagógicos de cada instituição de ensino, de forma a contemplar a 232 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. especificidade institucional e do local onde se realiza o curso, bem como, o perfil desejado para um enfermeiro crítico, participativo, com qualidade política e humanista. Em relação às universidades públicas, foi apontada a necessidade de superação das limitações advindas de sua estrutura que muitas vezes inviabilizam a implantação de modelos curriculares menos tradicionais. Além disso, foi, mais uma vez, apontada a grave crise financeira que perpassa estas instituições, gerada pelo modelo neoliberal que orienta as políticas de educação, que tem ocasionado a redução progressiva dos quadros docentes, bem como a deterioração de suas instalações físicas, o que certamente compromete a qualidade do seu ensino. Também é observada a implantação indiscriminada de novos cursos, principalmente nas instituições privadas, havendo uma preocupação com a qualidade dos mesmos, tanto no que se refere às condições de infraestrutura como em relação à qualificação de seu corpo docente. Em relação aos docentes, foi enfatizada a importância da sua capacitação, para que as mudanças cheguem até a sala de aula e aos campos de prática, bem como a integração com a pósgraduação. Quanto à carga horária, tempo de integralização e duração dos cursos de graduação entende-se ser necessário definir um parâmetro de referência nacional. Propõe-se que os cursos tenham a duração mínima de 4.000 horas, com um tempo de integralização de no mínimo 8 semestres ou 4 anos letivos. Quanto à proposta do Conselho Nacional de Educação, contida nas Diretrizes Curriculares para a educação profissional de nível tecnológico, que aponta para a formação do tecnólogo também na área de enfermagem, caracterizado como profissional com formação superior, de curta duração e voltada para o trabalho, a posição coletiva é de que seja excluída a referência à Enfermagem. 233 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Tal posição está baseada nas especificidades do trabalho em saúde e sua regulamentação, nas implicações sobre a equipe de enfermagem podendo, inclusive, determinar a criação de uma outra categoria profissional. Esta inclusão ampliaria a fragmentação do processo de trabalho, não contribuindo para uma melhor qualidade na prestação dos cuidados e na organização dos serviços de saúde/enfermagem, uma vez que observamos limitações na implantação dos princípios de integralidade e interdisciplinaridade que, em nossa opinião, estão relacionadas com a excessiva divisão do trabalho no interior de um mesmo recorte do conhecimento em saúde. Quanto ao Exame Nacional de Cursos (Provão), o mesmo não foi considerado capaz de promover uma avaliação consistente da formação das(os) enfermeiras(os), já que entendemos que esta estratégia de avaliação não é a mais adequada, tendo em vista a especificidade do ensino de enfermagem. Propõem-se múltiplas intervenções neste processo, que vão desde o boicote proposto pelo movimento estudantil até as iniciativas para a construção de uma avaliação institucional que abranja todo o processo de formação e se dê ao longo do desenvolvimento do currículo. Tal movimento se daria em articulação com outras áreas de formação, e de forma compatível com os pressupostos que fundamentam as Diretrizes Curriculares Nacionais. Quanto à formação da(o) Enfermeira(o) que irá atuar como docente em Educação Profissional de nível técnico, reconhece-se que as atuais diretrizes curriculares para a formação de professoras(es) para a educação básica não atendem as necessidades do ensino de enfermagem. Tais diretrizes propõem que os cursos tenham uma carga horária mínima de 2.800 horas e tempo de integralização de 3 anos e impedem que a formação pedagógica seja uma complementação do bacharelado em Enfermagem, uma vez que determinam que a formação pedagógica se dê, integralmente, em cursos de licenciatura. Assim, 234 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. considerando que na formação de profissionais de enfermagem, em qualquer nível, a ação de ensinar não pode ser dissociada do ato de saber-fazer, saber, ser, é necessário que o(a) licenciado(a) em Enfermagem seja também bacharel. Desta forma, considerando-se a importância, qualitativa e quantitativa, do pessoal de enfermagem nas ações de saúde, de sua qualificação profissional formal e contínua, propõe-se uma discussão para encontrar alternativas que contemplem as especificidades da licenciatura em enfermagem, garantindo que não haja solução de continuidade na formação dos demais profissionais que compõem a equipe de enfermagem, sem prejuízo de outras possibilidades de formação de docentes para atuarem no nível técnico. 235 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. POSTERES ANIMADOS 236 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. MUDANÇAS NA FORMAÇÃO EM ENFERMAGEM O PROJETO PEDAGÓGICO: TRANSFORMADAS EM AÇÕES IDÉIAS COLETIVAS Beatriz Sebben Ojeda55 Marion Creutzberg56 Valéria Lamb Corbellini57 Trata-se de um relato de experiência de vivências da trajetória de implantação do Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Os objetivos deste relato são apresentar as estratégias utilizadas na operacionalização de alguns objetivos do curso, bem como subsidiar permanentes reflexões sobre o processo de ensino da enfermagem. O trabalho tem como referencial o Projeto Pedagógico e seus pressupostos teóricos. São utilizados como fonte de dados para o relato da experiência os relatórios de seminários de professores, os relatórios de disciplinas e documentos relativos a reuniões e discussões com o corpo docente e discente do Curso. Identifica-se uma diversidade de estratégias que são implantadas para que os objetivos sejam alcançados. Percebe-se que os desejos implícitos nos objetivos do Projeto Pedagógico estimulam, continuamente, a busca individual e coletiva de uma ação renovada, em constante transformação. Palavras-chaves: Projeto Pedagógico, ensino em Enfermagem. 55 Enfermeira. Mestre em Educação (PUCRS). Doutoranda em Psicologia (PUCRS). Diretora Da Faculdade de Enfermagem, Fisioterapia e Nutrição da PUCRS. E-mail: [email protected] 56 Enfermeira, Coordenadora e Professora assistente da Faculdade de Enfermagem/ PUCRS. Mestre em Educação/ PUCRS. Doutoranda em Educação/PUCRS. 57 Enfermeira, Professora assistente da faculdade de Enfermagem/PUCRS. Mestre em Enfermagem/UFRGS. Doutoranda em Gerontologia Biomédica/PUCRS. 237 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 1 Introdução O relato apresenta vivências da trajetória de implantação do Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Compartilhando com Bicudo (1995), no sentido de que projeto lança idéias para serem transformadas em ações no cotidiano da Universidade, o presente trabalho aborda as estratégias de operacionalização de alguns objetivos do curso propostos em seu Projeto Pedagógico. Acreditamos que os objetivos expressam os desejos, aspirações, buscas e oportunidades de criação do corpo docente por intermédio de diálogo permanente com as diferentes redes e relações que perpassam o processo ensino-aprendizagem. Na forma de um relato de experiência, resgatamos esse processo no momento em que a primeira turma chega à fase de conclusão do curso, lançando um olhar retrospectivo, crítico e reflexivo; tendo a preocupação com permanentes reflexões tão necessárias ao papel do educador e constantemente alicerçadas das legislações que orientam o processo de ensino da Enfermagem. Assim, os objetivo deste relato são: apresentar as estratégias utilizadas na operacionalização de alguns objetivos do curso, bem como subsidiar permanentes reflexões sobre o processo de ensino da Enfermagem. São utilizados como fonte de dados para o relato da experiência, os relatórios de seminários de professores; os de disciplinas e documentos relativos a reuniões e discussões com o corpo docente e discente do curso. 2 Tópicos de uma trajetória O Curso de Graduação em Enfermagem/PUCRS foi criado em 1998. A construção e implementação de seu Projeto Pedagógico (Ojeda et al., 1998) são fruto de trajetórias profissionais, reflexões e amadurecimento de idéias do grupo de profissionais/docentes, 238 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. enfermeiros assistenciais, corpo discente e funcionários. O aprofundamento dessas discussões culminou na escolha dos princípios norteadores do curso, expressados nos referenciais teóricos do Cuidado Humano. Encontros, visitas a instituições de ensino e de saúde, reuniões, seminários, propiciaram o amadurecimento de idéias e estratégias que estão em permanente reconstrução, fonte de ensinamentos constantes e essenciais neste processo. Concordamos com Lunardi (1998, p.170) quando se refere ao Projeto Pedagógico como: ...ação e movimento em que o planejamento passa a ser encarado não como uma exigência burocrática, mas como a conscientização, fruto do ato de pensar e refletir, do que buscar frente ao estabelecido no Projeto Pedagógico do curso de cuja elaboração participamos, entendido, desse modo, como um processo revestido de dinamicidade. Para a referida autora a implementação do projeto pressupõe o entrelaçamento dos objetivos e princípios norteadores nele propostos. Neste sentido, partindo do planejamento do curso, em conjunto com o corpo docente e discente, delineou-se estratégias que abarcassem essas dimensões. Entendemos que, permeada à implementação conjunta de um Projeto Pedagógico, está a concepção de um grupo que oportuniza a criação de uma nova identidade, como um exercício de liberdade que se desprende do discurso e da prática usual da profissão; oportuniza também um recomeçar ainda imune da ordem empírico-discursiva da instituição, sendo, portanto, a possibilidade de transformação profissional e institucional. Constituir um novo grupo de trabalho pressupõe princípios éticos que respeitem a cultura institucional e seus valores. O respeito à cultura e à singularidade de cada integrante oportuniza-lhe a expressão da diversidade de visões de mundo, como complementaridade. Através desse grupo constituído no contexto do curso é que as propostas foram sendo desenvolvidas num movimento de ir e vir. Assim, elegemos algumas dessas estratégias visando compartilhar as 239 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. vivências. Para isso destacamos quatro dentre os objetivos do curso, incluindo algumas das estratégias relacionadas a eles: Objetivo: Desenvolver competências que possibilitem a reflexão crítica, a inovação e criatividade no cuidado à saúde do ser humano. (Ojeda et al, 1998) Estratégias operacionais integradas ao cotidiano acadêmico: - Dinâmicas grupais com vivências e possibilidades de expressão corporal criativa na introdução das diferentes disciplinas teórico-práticas; - Espaços lúdicos, culturais e de criatividade com o corpo docente e discente; - Engajamento do corpo discente no processo amplo de implementação do Projeto Pedagógico. Objetivo: Desenvolver competências para o comprometimento com a investigação científica, como consumidor de conhecimento e propiciador de novos conhecimentos, inserido no cotidiano profissional, privilegiando o desenvolvimento da profissão. (Ojeda et al, 1998) Estratégias operacionais integradas ao cotidiano acadêmico: - Inserção do desenvolvimento de habilidades em pesquisa desde o primeiro semestre, culminando com o desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso. Objetivo: Desenvolver competências que comprometam os profissionais com a prevenção, promoção, manutenção ou recuperação da saúde, com resolutividade, compatível com a situação da pessoa e da família em seu ciclo vital e da comunidade, respeitando os princípios éticos e bioéticos liderando, coordenando e executando as ações planejadas em todas as instâncias do Sistema de Saúde. (Ojeda et al, 1998) 240 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Estratégias operacionais integradas ao cotidiano acadêmico: - Inclusão de reflexões bioéticas em todos os semestres, além da disciplina Bioética; - Em todas as disciplinas teórico-práticas são previstas atividades acadêmicas integradas aos diversos níveis de atenção à saúde; - Temáticas como família e ciclo vital são abordadas de forma transversal ao longo do curso. Objetivo: Desenvolver competências para o desenvolvimento das relações interpessoais, grupais, incluindo as relações e ações interdisciplinares, que envolvem o processo do cuidar e gerencial. (Ojeda et al, 1998) Estratégias operacionais integradas ao cotidiano acadêmico: - A disciplina "Seminário Integrado", presente em todos os semestres, propicia aos alunos reflexão sobre a convivência grupal, os desafios das relações interpessoais, do viver pessoal e profissional; - Atividades que assistencial; - Espaços de construção grupal com o corpo docente contemplando os diferentes olhares do conhecimento e a interdisciplinaridade; - Seminários, reuniões e cursos, com o corpo docente, que oportunizam a construção de conceitos e pressupostos teóricos, a discussão e criação de tecnologias pedagógicas. favorecem a aproximação docente- 3 Considerações finais Os desejos implícitos nos objetivos do Projeto Pedagógico estimulam, continuamente, a busca individual e coletiva de uma ação 241 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. renovada, em constante transformação. Dessa forma o Projeto Pedagógico é, antes de tudo, um instrumento que potencializa o processo acadêmico e o compromisso social da Universidade. 4 Referências bibliográficas BICUDO, Maria A. V. Acompanhamento e avaliação dos cursos de graduação da UNESP. São Paulo: UNESP, 1995. LUNARDI, Valéria; BORBA, Marta R. O pensar e o fazer da prática pedagógica: a busca de uma nova enfermeira. In: SAUPE, Rosita (org.). Educação em Enfermagem: da realidade construída à possibilidade em construção. Florianópolis: Editora UFSC, 1998. OJEDA, Beatriz S. et al. Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem. Porto Alegre: FAENFI/PUCRS, 1998. 242 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A IMPLANTAÇÃO DO CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA UFSM Carmem Lúcia Colomé Beck58 Stela Maris de Mello Padoin 59 Eliane Tatsch Neves Vernier60 Este projeto objetivou a qualificação dos Auxiliares de Enfermagem com ensino médio completo do Hospital Universitário de Santa Maria, a partir da implantação do Projeto de Educação Profissional de Nível Técnico em Enfermagem. A metodologia incluiu parceria entre Colégio Técnico-Industrial, Pró-Reitoria de Recursos Humanos, Hospital Universitário e Departamento de Enfermagem. A primeira turma iniciou as aulas em dezembro/2000, com término em agosto/2001. A modalidade de ensino foi a metodologia problematizadora e educação no trabalho, com a tecnologia educacional fornecida pela Universidade Federal de Santa Catarina. A primeira turma foi formada por 70 alunos selecionados por sorteio público que atuaram em diferentes setores do Hospital Universitário. Os alunos desenvolveram atividades teórico-práticas, preferencialmente, no horário de trabalho, em unidades complexas (unidades de terapia intensiva, pronto-atendimento, etc) sob a supervisão de enfermeiros facilitadores. Alguns resultados foram evidenciados ao término da primeira turma do Curso Técnico, 58 Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria- UFSM. Enfermeira, Doutora em Filosofia da Enfermagem- UFSC. Membro do Grupo de Pesquisa GEPES/UFSM. Endereço: Rua Duque de Caxias, 1361/401. Santa Maria- RS. Cep: 97015-190. e- mail: [email protected]. 59 Professora Assistente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria- UFSM. Mestre em Enfermagem- UFSC. Membro do Grupo de Pesquisa GEPES/UFSM. 60 Professora Auxiliar de Ensino do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria-UFSM. Especialista em Saúde Coletiva, Mestranda em Enfermagem- UFRGS. Membro do Grupo de Pesquisa GEPES/UFSM. 243 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. destacando-se: - fortalecimento das parcerias construídas com vários segmentos; - conclusão de 65 alunos do Curso; - início da segunda turma em dezembro de 2001 (95 alunos), incluindo novas alianças (20 alunos auxiliares de enfermagem de um Hospital Municipal); proposta do Colégio Técnico-Industrial para criação de curso regular na instituição (inclusão de clientela externa à Universidade). Pode-se destacar a qualificação dos profissionais observada nas reflexões críticas e nas mudanças de atitudes, o que interferiu na melhoria da qualidade da assistência oferecida à população. INTRODUÇÃO O Estado do Rio Grande do Sul, assim como outros Estados da federação, também se encontra carente de profissionais habilitados para o exercício da enfermagem em todos os níveis de formação. Segundo o Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (COREN-RS), em 2000 existiam 7.612 enfermeiros (14,61%), 7.115 técnicos de enfermagem (13,66%) e 37.073 auxiliares de enfermagem (71,17%). Além da Lei 7.498/86 que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências, um outro aspecto legal que respalda a formação de Técnicos de Enfermagem é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996). Esta recomendação estabelece que o curso seja realizado concomitante ou seqüencialmente ao ensino médio acompanhando, desta forma, não apenas uma tendência do mercado de trabalho, mas também a expectativa de aumentar os níveis de formação existentes. A FORMAÇÃO DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM O perfil profissional desejado para este profissional Técnico de Enfermagem inclui ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação, referenciadas nas necessidades de saúde individuais e 244 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. coletivas, determinadas pelo processo saúde-doença, especialmente com referência aos pacientes gravemente enfermos. A visão crítico-reflexiva e o conhecimento da realidade social na qual está inserido é importante pois favorece seu compromisso com as necessidades de saúde da população. Prevê também a aplicação das habilidades cognitivas, psicomotoras e afetivas, fundamentadas nos conhecimentos técnicocientíficos, éticos, políticos e educativos, que contribuem para o alcance da qualidade do cuidar em Enfermagem, desempenhando suas atividades profissionais com responsabilidade, justiça e competência, considerando os princípios básicos de universalidade, eqüidade e integralidade da assistência à saúde. As competências para a formação de Técnico em Enfermagem, tem como base legal as atividades previstas na Lei do Exercício Profissional e são apresentadas a seguir: participar do planejamento, programação, orientação das atividades de assistência de Enfermagem; desempenhar ações de Enfermagem, inclusive a pacientes em estado grave, nos níveis de promoção, proteção, recuperação e de reabilitação da saúde de indivíduos e/ou grupos sociais, excetuandose os cuidados requeridos por pacientes com risco de vida; participar da prevenção e controle sistemático dos danos físicos decorrentes da assistência à saúde; participar da prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar; atuar nos programas de higiene e segurança no trabalho; participar da implementação do programas de vigilância à saúde; participar de programas /projetos de pesquisa. Já no que diz respeito às Diretrizes Pedagógicas estabelecidas para este curso as mesmas foram: privilegiar a metodologia de integração ensino-serviço, tornando o processo ensino-aprendizagem aderido à realidade do trabalho, de 245 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. modo que as experiências do aluno sejam respeitadas como ponto de partida de sua formação; usar metodologias de ensino que exercitem a aprendizagem para a solução de problemas não somente clínicos mas também sociais: trabalhos comunitários, diagnósticos participativos e de outras formas que promovam a reflexão sobre a realidade e a prática da abordagem coletiva; incentivar os gestores das instituições prestadoras de assistência à saúde, através de mecanismos de sensibilização, quanto à importância do envolvimento dos serviços no processo ensinoaprendizagem, visando a melhoria da qualidade e produtividade no atendimento ao cliente, com o objetivo de criar condições mínimas para capacitação conjunta de profissionais docentes e de serviço em metodologias participativas, buscando soluções a problemas comuns; implementar processos metodológicos, com enfoque clínicoepidemiológico que propiciem a articulação teoria-prática envolvendo profissionais docentes e de serviço; estimular nos alunos, através dos conteúdos das disciplinas, a reflexão sobre a sua inserção enquanto seres sociais, propiciando meios para que se tornem críticos a partir de suas próprias vivências enquanto cidadãos; estimular experiências de integração/correlação dos conteúdos das diversas disciplinas necessárias para a formação do profissional de Enfermagem, na perspectiva da compreensão do processo de trabalho da Enfermagem em sua dimensão particular e no contexto do trabalho em saúde; implementar avaliações curriculares participativas, envolvendo professores, alunos e profissionais do serviço, para juntos, trocarem experiência, serem co-partícipes nas decisões e buscarem alternativas para a formação dos profissionais; proporcionar o contato dos alunos com a realidade de saúde, já no início do curso, para que possam perceber a necessidade da 246 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. interdisciplinaridade na resolução de problemas, valorizando, desta forma, os conteúdos das disciplinas; estimular a participação em projetos de pesquisa durante o curso, reforçando a construção da visão crítica do aluno fomentando sua participação na produção do conhecimento, reforçando a interdisciplinaridade de modo contínuo, articulado com experiências práticas vivenciadas; garantir que a avaliação do aluno ocorra passo a passo no processo ensino-aprendizagem, a fim de identificar e superar as dificuldades detectadas e de reorientar o trabalho (avaliação e recuperação do/no processo). A IMPLANTAÇÃO DO CURSO NA UFSM A formação de recursos humanos para a área da saúde, no presente caso, Técnicos em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria- UFSM, órgão público federal, constituiu base para assegurar o que determina a Constituição Federal de 1988. De outra parte, a UFSM, enquanto órgão de ensino, pesquisa e extensão assumiu um dos seus compromissos políticos e sociais que é promover e articular o desenvolvimento do ensino, principalmente, nas áreas consideradas prioritárias. Também é importante destacar que a educação continuada do trabalhador é compromisso ético do enfermeiro, ressaltando-se que esta capacitação tem reflexos na qualidade de assistência de enfermagem prestada, bem como no aspecto da empregabilidade do profissional de saúde. A implantação do Curso Técnico de Enfermagem na UFSM ocorreu em dezembro de 2001, sendo que este grupo concluiu suas atividades em julho de 2002. A turma foi composta por 70 alunos sendo que 65 foram aprovados e concluíram as atividades propostas pelo curso, titulando-se Técnico de Enfermagem. A parceria estabelecida com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi essencial para a realização do curso na UFSM, 247 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. uma vez que já haviam realizado este trabalho naquela universidade e que possibilitaram o uso da tecnologia educacional. A tecnologia educacional foi composta por seis livros, sendo que cinco compõe o módulo I formação do Auxiliar de Enfermagem e o sexto corresponde ao módulo II formação do Técnico de Enfermagem. Este curso também contribuiu com a realização da capacitação técnico-pedagógica (em vários momentos) das enfermeiras facilitadoras e supervisoras. O hospital Universitário de Santa Maria é um hospital público, federal e de referência regional e observou-se que no HUSM havia uma demanda reprimida de auxiliares de enfermagem que desejavam se qualificar, o que justifica a iniciativa de se iniciar este curso capacitando o pessoal da UFSM. Nesta universidade, para se efetivar a primeira turma de Técnicos de Enfermagem foi necessário estabelecer parcerias dentro da instituição as quais envolveram a Pró-Reitoria de Recursos Humanos, o Colégio Técnico-Industrial (CTISM), o Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e o Departamento de Enfermagem da UFSM. Os critérios que envolveram a seleção dos alunos-auxiliares de enfermagem que poderiam candidatar-se para realizarem o curso incluíram: ser Auxiliar de Enfermagem e ter concluído o ensino médio; estar cursando ou ter concluído o ensino médio; ser servidor do Hospital Universitário na área de enfermagem. Tendo em vista a demanda elevada de candidatos e a oferta restrita de vagas, optou-se por realizar um sorteio público envolvendo todos os interessados previamente inscritos. O curso teve uma carga horária total de 690 horas, sendo 400 horas ensino teórico-prático e 290 horas de estágio supervisionado. A educação no trabalho e a metodologia problematizadora foram utilizadas como pilares neste curso. Para tanto, foram contactadas 12 enfermeiras, denominadas facilitadores, todas com atuação no Hospital Universitário que participaram junto aos alunos na realização das atividades propostas pelo curso. 248 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. As atividades teórico-práticas foram realizadas em diversas unidades do Hospital Universitário, atendendo ao critério de oferecer um cuidado de enfermagem de maior complexidade o que também incluía pacientes com doenças graves, entretanto, sem risco de vida. Portanto, foram selecionados locais em que a enfermeira realizasse o acompanhamento dos alunos, necessitando capacitá-las somente quanto à metodologia problematizadora. Assim, a matriz curricular compreendeu um conjunto de disciplinas desenvolvidas nos Módulos II, num total de 690 horas, destinadas ao ensino teórico e ensino teórico-prático. Além disso, é acrescida ao módulo a carga horária do estágio supervisionado em função da natureza da qualificação. Nesta proposta, entendeu-se por Ensino teórico aquele que dá maior ênfase à fundamentação teórica, entretanto, aderente à realidade com qual estabelece relações e aproximações, contextualizando-o pela reflexão. Já no Ensino teórico-prático ocorreu ênfase maior ou menor para a teoria ou para a prática, de acordo com o conteúdo. Este tipo de ensino está fortemente ligado à realidade, podendo ocorrer em sala de aula, em laboratório e instituições de saúde ou na própria comunidade. Esta modalidade de ensino foi desenvolvida ao longo do curso, com objetivo de propiciar a relação teoria-prática na consolidação dos conhecimentos teóricos e das habilidades técnicas específicas de cada conteúdo programático. O Estágio supervisionado foi o período em que, com acompanhamento do docente capacitado pedagogicamente, os alunos vivenciaram a prática, consolidando os conteúdos teóricos e aprimorando as suas habilidades no exercício prático do cuidado de Enfermagem. O planejamento das atividades teórico-práticas foi articulado com o desenvolvimento dos conteúdos e com a realidade do campo de prática para que se efetivasse um ensino contextualizado, por nível de complexidade e segundo as competências a serem adquiridas no Módulo Profissional. Os Critérios de Avaliação, nesta modalidade de ensino, envolveram a aprendizagem de conteúdo e da prática e o crescimento 249 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. integral do aluno nas dimensões cognitiva, afetiva e psicomotora, sendo o aluno considerado o protagonista do seu desenvolvimento pessoal e profissional. O processo de ensino-aprendizagem foi medido pelas avaliações mensais, auto-avaliações e avaliação do desempenho final por Área de disciplinas. A avaliação mensal forneceu informações importantes que permitiram a reorientação do aluno ao longo de sua trajetória, levando em conta o perfil projetado, os conhecimentos e habilidades, as atitudes e os comportamentos esperados. Na avaliação de processo, o aluno e o enfermeiro-facilitador procederam a avaliação em conjunto e estabeleceram estratégias de superação, quando necessário. A auto-avaliação permitiu a reflexão do aluno acerca do seu desempenho, a identificação dos seus avanços e dificuldades e o replanejamento das suas ações, segundo a situação. A avaliação do desempenho final foi realizada com base em parâmetros construídos para cada Área. Esta avaliação legitimou todo o processo, ou seja, indicou a aprovação ou a reprovação do aluno. CONSIDERAÇÕES FINAIS Muitos desafios foram encontrados ao longo do caminho por todos os sujeitos deste processo, ou seja, enfermeiros supervisores, enfermeiros facilitadores, alunos e coordenação. Cada obstáculo foi compartilhado em reunião mensal e mais amiúde com os coordenadores, quando necessário. O aprendizado foi interessante uma vez que não tínhamos experiência com cursos de complementação bem como com a metodologia problematizadora e com a educação em serviço. Para avaliar esta experiência, após o encerramento das atividades da primeira turma de técnicos de enfermagem foi realizado um processo de avaliação deste processo considerando o início da segunda turma em dezembro de 2001. 250 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA - Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Conselho Regional de Enfermagem, Porto Alegre, 1996. - Lei Nº 7.498/86 e Decreto Nº 94.406/87 publicada pelo Conselho Regional de Enfermagem, Porto Alegre, 1996. - GISI, M.L. e ZAINKO, L. In SAUPE, Rosita. Educação em Enfermagem. Florianópolis. Ed. da UFSC, 1998. - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. Pró-Reitoria de Pós Graduação. Estrutura da dissertação/tese e sua apresentação gráfica. [Organizado por] Dominguita Lüthers Graça, Zilda Rossetto de Moraes, Ana Rosa Dal Santo Casarin. 4. ed. Santa Maria: UFSM, 1995. - BACKES, V.M.S. et al. Construindo tecnologias educacionais para a capacitação de recursos humanos na saúde: a realidade da educação à distância na região centro-oeste e noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Santa Maria, 1999. Projeto de Pesquisa. UFSM. 251 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ENSINANDO E CUIDANDO EM CAMPO DE PRÁTICA EM ENFERMAGEM NEUROLÓGICA Alexsandra Rodrigues Feijão1 Cibelly Aliny Siqueira Lima2 Izabelle Mont Alverne Napoleão Albuquerque3 61 Avaliar o ensinar e o cuidar de enfermagem tem sido preocupação constante das instituições de ensino, como reflexo de uma vertente de valorização da avaliação do ensino superior brasileiro nos últimos anos. Assim, tivemos como objetivo analisar criticamente o processo ensino-aprendizagem do campo de prática em enfermagem neurológica da disciplina Enfermagem no Processo de Cuidar II. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, onde a amostra foi constituída de dezessete alunos, um professor e duas enfermeiras da Unidade de Neurologia. A coleta de dados foi realizada nos meses de abril a junho de 2001, através de observação participante e questionário, este contendo questões que possibilitaram a obtenção de informações que atenderam aos objetivos propostos pelo estudo. A experiência nos proporcionou novas aspirações científicas, culturais e tendências que levam ao pensamento crítico e reflexivo da enfermagem, enquanto prática técnico-científica e social. Compartilhamos momentos valiosos para a construção do conhecimento, do saber e fazer em enfermagem. Percebemos que há valorização do saber, além de valorização pessoal, tornando o ensino participativo, em que há a formação de profissionais compromissados em consonância com a qualidade e a evolução técnico-científica. 61 Enfermeira Mestranda em Enfermagem em Saúde Comunitária da UFC. Bolsista da CAPES. E-mail: [email protected] 2 Enfermeira Mestranda em Enfermagem em Clinico-cirúrgica da UFC. Bolsista da CAPES. 3 Enfermeira Mestranda em Enfermagem em Clinico-cirúrgica da UFC. Bolsista da CAPES. 252 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 1 INTRODUZINDO A TEMÁTICA Avaliar o ensinar e o cuidar de enfermagem tem sido preocupação constante das instituições de ensino, como reflexo de uma vertente de valorização da avaliação do ensino superior brasileiro nos últimos anos. A avaliação é atividade essencial do processo educativo, estando articulada com o desenvolvimento do currículo e, conseqüentemente, com prática pedagógica. Gondim et al (2000) reforçam afirmando que a avaliação deverá ser sempre interativa, corresponsiva, envolvendo todas as partes, nas quais podemos constatar necessidades, compreender os fenômenos acadêmicos/pedagógicos com vistas à superação de dificuldades e transformação da realidade educacional. Pensamos que o propósito principal da avaliação é assistir o desenvolvimento do trabalho profissional e melhorar as estratégias de administração, com o intuito de buscar o controle e a garantia da qualidade. Nessa perspectiva, o processo avaliativo apresenta-se como forma de análise para fazer julgamentos, visando a busca da qualidade; e não apenas uma crítica de caráter punitivo, comparativo ou de exposição de fracassos. Assim, a avaliação qualitativa subsidiará a realização do nosso estudo, desenvolvida na disciplina Enfermagem no Processo de Cuidar II do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do CearáUFC, tendo uma unidade neurológica de um hospital de grande porte em Fortaleza-Ce como campo de prática para reflexão. A escolha desse campo de prática se deu devido à pouca atenção dispensada ao ensino dos conteúdos de enfermagem neurológica nos cursos de graduação, tendo constituído uma lacuna para o desenvolvimento da prática profissional, tornando-se uma limitação no planejamento do cuidado desta clientela. 253 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 2 OBJETIVOS DO ESTUDO Analisar criticamente o processo ensino-aprendizagem do campo de prática em enfermagem neurológica da disciplina Enfermagem no Processo de Cuidar II; Conhecer a percepção da enfermeira de serviço quanto à importância do aluno e professor no campo de prática; Identificar facilidades e dificuldades desse processo na disciplina durante as aulas práticas. 3 DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO Optamos pela aplicação do método descritivo-exploratório, desenvolvido a partir de exames pertinentes em literatura e contatos repetitivos com pessoas ligadas ao fenômeno estudado. De acordo com Gil (1999), as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. O estudo foi desenvolvido no campo de prática em Enfermagem Neurológica, onde são realizadas atividades da disciplina Enfermagem no Processo de Cuidar II do 5o semestre do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará-UFC. A disciplina é constituída de 360 horas, sendo 48 teóricas e 312 práticas, tendo como objetivos: habilitar o estudante para cuidar do adulto nos contextos preventivo, curativo, de recuperação e reabilitação à saúde; capacitar o aluno para implementar a metodologia da assistência de enfermagem, centrando as ações nas necessidades bio-psico-sócio-espiritual, no contexto cultural. A amostra foi constituída de dezessete alunos, um professor e duas enfermeiras da Unidade de Neurologia. A coleta de dados foi realizada nos meses de abril a junho de 2001, durante as manhãs de segunda a quarta, no referido serviço, através de observação participante e questionário, este contendo questões que possibilitaram 254 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. a obtenção de informações que atenderam aos objetivos propostos pelo estudo. Os dados foram agrupados e organizados de acordo com a convergência de significados. As informações obtidas através dos questionários subsidiaram a abstração de áreas temáticas que fomentaram os resultados da pesquisa, e em seguida foram analisados à luz de literaturas pertinentes sobre a temática. 4 APRESENTANDO E ANALISANDO OS ACHADOS A experiência nos proporcionou novas aspirações científicas, culturais e tendências que levam ao pensamento crítico e reflexivo da enfermagem, enquanto prática técnico-científica e social; além de termos compartilhado momentos valiosos para a construção do conhecimento, do saber e fazer em enfermagem. Destacamos a seguir as áreas temáticas selecionadas para o estudo: Conhecendo o Campo de Prática; Percepção da Enfermeira quanto à Importância do Aluno e do Professor em Campo de Prática; Visão do Aluno sobre o Campo de Prática. CONHECENDO O CAMPO DE PRÁTICA A unidade em questão é especificamente neurocirúrgica e situase no 20 andar de um hospital de grande porte no município de Fortaleza-Ce. Unidade essa constituída de cinco enfermarias (sendo que duas são femininas e três masculinas, cada uma contendo seis leitos e banheiro), posto de enfermagem, sala de procedimentos, repouso de enfermagem, sanitário dos funcionários, copa e uma sala utilizada pelos médicos para prescrição. Cada enfermaria possui materiais fixos (saídas de oxigênio, ar comprimido e vácuo, aspiradores, etc), mobiliário e iluminação 255 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. adequados. No entanto as enfermarias não possuem janelas (presentes apenas nos corredores), prejudicando a ventilação e circulação do ar, apesar da presença de ventiladores de teto. Quanto a recursos humanos em enfermagem, são locados na unidade, em cada período, uma enfermeira e quatro auxiliares, sendo que uma fica responsável pela requisição, controle e armazenamento do material e dos medicamentos. Este número de funcionários da equipe de enfermagem não é o ideal, levando em consideração o tipo de pacientes que a unidade recebe (paraplégicos, tetraplégicos, hemiplégicos, desorientados, em repouso absoluto no leito, em observação rigorosa e/ou que necessitam de cuidados especiais). Isso sobrecarrega o pessoal de enfermagem; apesar disso, a assistência é feita com um bom nível de qualidade. PERCEPÇÃO DA ENFERMEIRA QUANTO À IMPORTÂNCIA DO ALUNO E DO PROFESSOR EM CAMPO DE PRÁTICA VANTAGENS OFERECIDAS PELO CAMPO DE PRÁTICA (...) demanda muito boa de procedimentos e técnicas para o aprendizado (...) os alunos podem aprender a cuidar dos pacientes acamados, com risco de vida (...) ver coisas interessantes que não são muito comuns em outras unidades, como a punção lombar, os exames neurológicos, as tomografias computadorizadas, etc. Percebemos, no depoimento da enfermeira do serviço, uma gama de vantagens que o campo oferece ao aluno, como procedimentos e técnicas mais especializadas, oportunizando uma prática mais diversificada e rica, uma vez que os conteúdos em enfermagem neurológica são pouco explorados durante a graduação. CONTRIBUIÇÕES DO ALUNO PARA O SERVIÇO (...) é uma ajuda muito grande na unidade (...) a presença dos alunos desperta na gente a vontade de estudar, ou se atualizar. 256 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Observamos a importância dada ao aluno no serviço. Sua contribuição supera a simples realização de técnicas e procedimentos, pois sua presença na unidade desperta o interesse dos profissionais em buscar conhecimentos e a necessidade de estar sempre se atualizando sobre todos os aspectos. CONTRIBUIÇÕES DO PROFESSOR PARA MELHORAR ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM E A APRENDIZAGEM DO ALUNO A (...) trouxe excelentes conhecimentos novos, com relação ao controle da PIC e o exame neurológico (...) ela tem uma didática muito boa e deve continuar assim. É possível notar que a professora já traz contribuições valiosas para melhorar significativamente a assistência de enfermagem na referida unidade. A enfermeira enfatiza ainda, a importância da didática adotada para a aprendizagem do aluno. Visão do Aluno Sobre o Campo de Prática RELAÇÃO COM OS USUÁRIOS MULTIPROFISSIONAL E PROFESSOR DO SERVIÇO, EQUIPE A relação aluno-professor foi ótima, com os pacientes também. Mas não tive muito contato com os neurologistas, com o resto da equipe foi tudo bem. Os profissionais da unidade nos ajudaram muito, foi muito bom. Os pacientes foram muito compreensivos e atenciosos. A professora nos ajudou muito, nos orientou e incentivou, ela é ótima. Tive uma relação agradável tanto com os usuários do serviço, quanto com a equipe, inclusive o pessoal da limpeza e da copa, e a professora. Visto que tive a oportunidade de enriquecer meus conhecimentos. Todos os alunos colocam que tiveram boas relações com os pacientes, relatando que nunca tiveram nenhum tipo de atrito com os mesmos. Com relação à equipe multiprofissional, a maioria coloca 257 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. que mantiveram uma relação cordial, inclusive alguns citaram que tiveram boas relações até com o pessoal da limpeza e da copa. Apenas três relataram não terem se relacionado com os médicos da unidade. Quanto ao relacionamento com a professora, todos relataram que houve bom relacionamento, sem nenhuma espécie de atrito ou desentendimento. Para Vasconcelos (1995) é necessário que haja no processo ensino-aprendizagem uma relação harmônica e consciente entre professor e aluno, através do planejamento e de estratégias de ensino que favoreçam a integração do estudante de forma a ajudá-lo a desenvolver um senso crítico, para que possa crescer, assim, na consciência, caráter, cidadania e ser competente na profissão. RELEVÂNCIA DO CAMPO DE PRÁTICA Considero a neurologia muito importante para a disciplina de Cuidar II, pois se trata de um campo complexo e rico. É um campo bastante rico, onde as patologias estudadas na teoria podem ser vistas na prática. Com isso, a aprendizagem se torna mais eficaz e as intervenções de enfermagem são realizadas objetivamente. O campo de prática em neurologia é importante para o nosso aprendizado, pois convivemos com situações e realizamos procedimentos que não existem em outros campos de prática. Como podemos observar nas falas dos alunos, todos consideram o campo de prática importante para disciplina de Enfermagem no Processo de Cuidar II. Alguns colocaram ainda que a neurologia oferece muitas oportunidades de aprendizado, sendo um campo rico de procedimentos e situações que exigem do aluno a associação da teoria com a prática. Rezende (1989) quando relata sobre a temática, coloca que o ensino deve centrar-se em situações de vivência práticas reais e concretas, a partir delas, desenvolver-se-ão os conteúdos acadêmicos, devendo ser assegurada a participação ativa do aprendiz no processo. 258 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. FACILIDADES E DIFICULDADES COM RELAÇÃO À PRÁTICA Sim, mas infelizmente nem sempre podemos realizar todos os procedimentos que gostaríamos, por falta de pacientes que necessitassem deles. Totalmente. As facilidades é que no campo de prática o aluno tem conhecimento de quase todos os problemas neurológicos. As dificuldades são a falta de experiência e medo dos alunos. Poderia ser melhor atendida se fosse mudada a metodologia (de assumir paciente) a este. As opiniões dos alunos são bastante diversificadas, visto que cada grupo passa por períodos diferentes na unidade e passam por experiências diferentes. Apenas um aluno comentou que suas necessidades seriam melhor atendidas, caso fosse mudada a metodologia utilizada em campo de prática. Todos os outros alunos colocaram que o campo atende às necessidades de aprendizado. As facilidades mais citadas foram: o bom acesso a materiais e procedimentos, possibilidade de associar teoria e prática, abertura e bom relacionamento com a equipe multiprofissional. Quanto às dificuldades, as mais citadas foram: o pouco tempo de prática, a rotatividade dos pacientes que dificultava a realização do plano de cuidados, falta de experiência e medo dos alunos na realização dos procedimentos. Rodrigues et al (1999) ressaltam que são comuns os sentimentos de medo e ansiedade, uma vez que os alunos se deparam com situações novas, com a possibilidade de deficiência de conhecimentos necessários à prestação daquele cuidado ou, até mesmo, de não saberem responder às dúvidas da família de maneira condizente com as demandas da clientela. 259 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. SUGESTÕES PARA A MELHORIA DAS ATIVIDADES EM CAMPO Fazer mais procedimentos. Aumentar o tempo em campo de prática. Realizar outras atividades em outras unidades. De maneira alguma assumir paciente, sem fazer todos os procedimentos seja ele neurológico ou não. Não fazer banho no leito. Os alunos terem oportunidade de observar o procedimento antes de realizá-los. Os depoimentos supracitados foram os que mais nos chamaram atenção, pois evidenciam uma característica própria do aluno quando iniciam as disciplinas teórico-práticas: a ânsia de realizar procedimentos. Entretanto a maioria sugeriu que o tempo de prática na unidade neurológica fosse ampliado para que houvesse um melhor aproveitamento do campo. A partir do momento em que é dada ao aluno a oportunidade de avaliar o seu campo de prática, ele passa a refletir sobre o seu verdadeiro papel junto à clientela e aos profissionais com quem está vivenciado. 5 REFLEXÕES SOBRE A VIVÊNCIA O estudo realizado favorece a reflexão na tentativa de construir a universidade que se pretende, ou seja, não uma mera consumidora e repetidora de informações importadas para profissionalizar, mas um recanto onde possamos cultivar a reflexão crítica sobre a realidade e criar conhecimentos com bases científicas. ENFATIZAMOS QUE NAS RELAÇÕES ENTRE PROFESSOR/ALUNO/ENFERMEIRO DE SERVIÇO, A INTEGRAÇÃO DO ENSINO E ASSISTÊNCIA DEVE SER NORTEADA PARA O CONHECIMENTO TEÓRICO-PRÁTICO, PERMITINDO CONSOLIDAÇÃO DE UM E OUTRO. O PROFISSIONAL ASSISTENCIAL E O DOCENTE SÃO CAPAZES DE ASSUMIR AS FUNÇÕES QUE SÃO INERENTES, NO SENTIDO DE FORTIFICAR A RESPONSABILIDADE DE DAR FORMAÇÃO ADEQUADA AO ESTUDANTE DE 260 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ENFERMAGEM, TORNANDO-OS PROFISSIONAIS CRÍTICOS E CONSCIENTES DA IMPORTÂNCIA DE SUA ATUAÇÃO ENQUANTO CUIDADOR. A PRÁTICA SE FUNDAMENTA NA TEORIA E ESTA SE SEDIMENTA COM A PRÁTICA. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DALMÁS, Angelo. Planejamento Participativo na Escola: Elaboração, Acompanhamento e Avaliação. 5 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1994. 142p. DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. 5.ed. São Paulo: Cortez, 1995. 102p. _____________. Participação é Conquista. São Paulo: Cortez, 1988. GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. GONDIM, Maria Fátima B., ARAÚJO, Liduína Maria, SILVA, Raimunda Magalhães da. Análise Crítica da Disciplina Semiologia e Semiotécnica do Curso de Enfermagem da Universidade de Fortaleza. In: SILVA, Raimunda Magalhães da, BARROSO, Maria Grasiela Teixeira, VARELA, Zulene Maria de Vasconcelos. Ensino na Universidade: Integrando Graduação e Pós-Graduação. Fortaleza: Pós-graduação: DENF/UFC/FFOE/FCPC, 2000. GRANT, Mary. Desenvolvimento do corpo docente em departamentos universitários: avaliando o trabalho de um departamento. Mimeo: Fortaleza, 2000. REZENDE, A. L. M. Saúde: Dialética do Pensar e Fazer. 2.ed.São Paulo: Cortez, 1989. RODRIGUES, Dafne Paiva, CAPELO, Sáskia Cipriano, BARROSO, Maria Grasiela Teixeira, SILVA, Raimunda Magalhães. Enfermagem no Processo de Cuidar: Experiência de Ensino-Aprendizagem. In: SILVA, Raimunda Magalhães da, BARROSO, Maria Grasiela Teixeira, VARELA, Zulene Maria de Vasconcelos. Ensino na Universidade: Integrando Graduação e Pós-Graduação. Fortaleza: Pós-graduação: DENF/UFC/FFOE/FCPC, 2000. 261 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. SOUZA, S. M. Z. L. et al. Avaliação educacional e gestão: iniciativas no âmbito do município e estado de São Paulo. Relatório de Pesquisa, Faculdade de Educação/USP. São Paulo, 1999. Disponível em: <http://www.anped.org.br/0508p.htm> Acessado em: 19, mai. 2001. 262 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A EDUCAÇÃO PELA ARTE NA ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA Claudia Tavares62 A educação artística está radicada na vivência que temos do mundo, no desenvolvimento da capacidade crítica para compreender e selecionar conhecimentos que permitam o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. O objetivo do presente estudo é apresentar alguns elementos pedagógicos para o ensino da psiquiatria a partir de pressupostos artísticos, destacando o sentir enquanto forma básica de conhecimento. Trata-se de uma reflexão teórica sobre as possibilidades da arte na educação de enfermeiras psiquiátricas, tomando como referencial teórico Pain & Jarreau, que analisam princípios e técnicas de arte aplicada à área de saúde. Como resultado da discussão destacamos que na educação da enfermeira psiquiátrica a arte é uma perspectiva fundamental. Ela serve como guia no reconhecimento da alteridade de pessoas em sofrimento psíquico ou de sua experiência e para compreender situações de cuidar, que em quase sua totalidade é representativa, são ao mesmo tempo singulares e complexas. Na perspectiva artística, as ambigüidades e as múltiplas possibilidades de sentido são desejadas. Ao contrário da perspectiva científica, que está centrada na objetividade. Conclui-se que a educação artística requer que os cursos de graduação em Enfermagem incentivem o pensamento divergente, a independência e a autonomia do aluno. Por mediação da arte, busca-se no ensino da enfermagem psiquiátrica uma contínua assimilação de saberes novos, o desenvolvimento do pensamento crítico e dialético, além de reconhecimento do sentir como forma de conhecimento. 62 Doutora em Enfermagem. Mestre em Educação. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiatria da Escola de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense. Coordenadora do Núcleo de Estudos Imaginário, Criatividade e Cuidado em Saúde - NEICCS. 263 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. INTRODUÇÃO Historicamente, a formação da enfermeira psiquiátrica é baseada em regras de ação técnica, claras e definidas, correspondendo ao modelo positivista, hegemônico no meio acadêmico e vigente nas sociedades capitalistas. Desde sua implantação, o ensino de enfermagem psiquiátrica enfatiza os aspectos clínicos do adoecer, tendo no biológico a explicação dos distúrbios psíquicos. O ensino da prática de enfermagem psiquiátrica é centrado nos aspectos curativos, em conformidade com regulamentos do hospital psiquiátrico tradicional e características dos tratamentos por ele estabelecidos. Na década de 90, o ensino de enfermagem psiquiátrica passa por mudanças significativas, decorrentes da medida ministerial que define o perfil do novo currículo mínimo dos cursos de graduação em enfermagem e das medidas e portarias da reforma psiquiátrica (Braga & Fraga, 2000). Novas diretrizes curriculares para o curso de enfermagem, aprovadas em 2001, propõem uma perspectiva mais humanista, crítica e criadora na formação profissional, destacando no perfil do enfermeiro a capacidade para atuar como promotor da saúde integral do ser humano, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania (Brasil, 2001). Também na década de 90, o movimento de reforma psiquiátrica passa a trazer para enfermagem novas motivações. A cultura antimanicomial propagada na reforma exige divergência, mudança, criação de formas expressivas de atuação profissional, desenvolvimento do papel político, etc. O ponto crucial desta cultura é a descoberta de novos sentidos que ampliem a compreensão da loucura e possam gerar novas práticas assistenciais capazes de delinear um outro lugar social para os doentes mentais em nossa cultura. São, portanto, múltiplas as possibilidades de atuação profissional da enfermeira, na nova rede de atenção a saúde mental. A despeito da lentidão do processo de reforma psiquiátrica no Brasil, ela já fez surgir inúmeros serviços distintos dos hospitais 264 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. psiquiátricos. Desse modo, uma rede composta de Centros e Núcleos de Atenção Psicossociais (CAPS e NAPS), Hospitais-dia, Unidades Psiquiátricas em hospitais gerais, entre outros serviços, constituem a nova realidade da assistência às pessoas que apresentam transtornos mentais. Contudo o fato de os serviços substitutivos ao manicômio ainda não representarem o principal dispositivo assistencial no Brasil, têm levado muitos cursos de Graduação em Enfermagem a formarem enfermeiros psiquiátricos dentro de uma mentalidade hospitalocêntrica, com o argumento de formar profissionais para atender às exigências do mercado de trabalho. Assim, na enfermagem, ainda se discute as bases de um bom cuidado manicomial . Constitui, portanto, em um desafio para o ensino de enfermagem psiquiátrica, formar enfermeiros capazes de atuar em espaços alternativos ao manicômio, de modo diferente do tradicional, tendo a cidadania e a criatividade como desafios da formação. Tavares (2000) destaca a arte e a imaginação criadora como uma necessidade para os enfermeiros psiquiátricos, um recurso para gerar equilíbrio no cuidar, uma forma de fazer a enfermagem trabalhar levando em consideração o sonho, a fantasia e a magia; um meio de gerar respostas terapêuticas mais criativas frente a demanda do paciente. No presente artigo refletiremos sobre a importância da educação artística para a formação do enfermeiro na perspectiva da reforma psiquiátrica. Apresenta-se alguns elementos pedagógicos para o ensino da psiquiatria a partir de pressupostos artísticos, destacando o sentir enquanto forma básica de conhecimento. A ARTE NA PSIQUIÁTRICAS EDUCAÇÃO DE ENFERMEIRAS A visão de mundo adquirida na própria cultura, o modelo tradicional de ensino centrado no conteúdo e na perspectiva positivista, que elegeram as construções científicas como a única maneira de se chegar 265 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ao conhecimento verdadeiro, são aspectos a serem enfrentados para o desenvolvimento de uma educação criadora. A educação artística está radicada na vivência que temos do mundo, no desenvolvimento da capacidade crítica para compreender e selecionar conhecimentos que permitam o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. Educar numa perspectiva artística é pautar-se numa pedagogia da autonomia como propôs Freire (1997). Significa permitir ao indivíduo a eleição de um sentido que norteie sua existência, fazendo com que ele conheça as múltiplas significações e as compreenda a partir de suas vivências, aliando sua existência dinâmica à dinâmica de cada paciente, que é a fonte de toda arte e criação na enfermagem. Contudo educação artística não significa a mera inclusão da arte no currículo de enfermagem. A responsabilidade da educação criativa deve ser entendida como decorrência da função globalizadora da universidade, é, portanto, responsabilidade de todas as disciplinas e de todos os professores. A arte é um fator importante na vida humana, na medida em que permite o acesso a dimensões não reveladas pela lógica e pelo pensamento discursivo. Além disso, é através dela que se opera a educação dos sentimentos, auxiliando, dialeticamente, na educação do pensamento lógico, conforme destacou Duarte Junior (1981). A arte é uma linguagem, como tal, possui meios para a sua configuração, embora seu domínio não se restrinja aos seus meios de expressão. Assim, um elemento importante para a educação artística da enfermeira é a aquisição de conhecimentos de técnicas artísticas. Um outro elemento pedagógico para uma formação na perspectiva da arte é a experimentação do material artístico. Pain & Jarreau (1996) destacam que a competência técnica é a verdadeira fonte da imaginação criadora. É, portanto, necessário experimentar atividades artísticas para conhecer seu impacto, limite e possibilidades. Conhecer profundamente tudo aquilo que se propõe nas atividades terapêuticas junto ao paciente (materiais, instrumentos, suporte), para flexibilizar a visão. 266 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Mas o domínio da técnica por si só não educa artisticamente o indivíduo. Adquirir cultura artística é o terceiro elemento de base artística que julgamos necessário na formação da enfermeira. Reconstruindo o caminho que permitiu ao artista encontrar o que tinha a dizer e a maneira de dizê-lo amplia-se a possibilidade de compreensão da enfermeira, dos sentimentos do paciente e de sua cultura. A história da arte apresenta os diferentes códigos de significação , onde as produções individuais podem encontrar seu sentido. Por isso deve fazer parte da educação artística do enfermeiro, freqüentar museus, exposições, espetáculos, cinema, para enriquecer o vocabulário sobre inúmeras formas de expressão plástica. Realizar reflexão sobre as questões que dizem respeito à função estética das diversas maneiras de representar, é o quarto elemento a ser considerado para a formação da enfermeira em bases artísticas. Através da arte pode-se participar dos elementos do sentimento que fundam a cultura. Cada estilo (modo de exprimir-se, uso, costume) constitui uma tentativa plástica de dar respostas aos grandes problemas humanos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A sensibilidade para captar os meandros dos sentimentos das pessoas em sofrimento psíquico é básico para um bom desempenho do papel profissional da enfermeira psiquiátrica. A educação artística desse profissional oferece meios para a expressão estética e configuração cultural das experiências vividas no cotidiano do cuidar, favorecendo o entendimento e leitura dos sentimentos e emoções expressas pela pessoa em sofrimento psíquico. Por isso a arte é uma perspectiva fundamental na psiquiatria. Ela serve como guia no reconhecimento da alteridade da pessoa em sofrimento psíquico ou de sua experiência e para compreender situações de cuidar, que quase em sua totalidade representativa são ao mesmo tempo, singulares e complexas. Na perspectiva artística, as ambigüidades e as múltiplas possibilidades de sentido são desejadas. 267 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Ao contrário da perspectiva científica, que está centrada na objetividade. A educação artística requer que os cursos de graduação em Enfermagem incentivem o pensamento divergente, a independência e a autonomia do aluno. Por mediação da arte, busca-se, no ensino da enfermagem psiquiátrica, uma contínua assimilação de saberes novos, o desenvolvimento do pensamento crítico e dialético e o reconhecimento do sentir como forma de conhecimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRAGA, Violante; FRAGA, Maria de Nazaré. Região Nordeste. In: ALENCASTER, Marcia. (Org.) Estudos sobre o ensino de enfermagem psiquiátrica e saúde mental no Brasil. Rio Grande do Sul: Ed. UNIJÍ, 2000. p. 43-56. BRASIL, Ministério da Educação. Brasília, Parecer n0 1.133/2001, de 10 de outubro de 2001. 22 p. DUARTE JUNIOR, João Francisco. Fundamentos estéticos da educação. São Paulo: Cortez, 1981. 128 p. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997. 165p. LANGER, Susanne. Sentimento e forma. São Paulo: Perspectiva, 1980. 280 p. PAIN, Sara; JARREAU, Gladys. Teoria e técnica da arte-terapia: a compreensão do sujeito. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. 264 p. TAVARES, Claudia Mara. A imaginação criadora como perspectiva do cuidar na enfermagem psiquiátrica, 1998. 195 p. Tese (Doutorado em Enfermagem) - Escola Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998. 268 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A CONSTRUÇÃO DE UM PLANO PEDAGÓGICO PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM Rita de Cássia G. de Alencar Cleide Oliveira Gomes Edilene Rodrigues da Silva Atendendo as inquietações dos docentes e discentes diante de um currículo defasado e da nova legislação da Educação Profissional. Teve inicio no ano de 1999, a construção do Projeto Político Pedagógico da Escola de Enfermagem de Natal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O projeto contempla inovações como a organização curricular descrito em forma de competências, habilidades e bases tecnológicas, apresentado em três módulos, sendo o primeiro módulo básico de saúde, e os módulos seguintes específicos para enfermagem. A metodologia, o processo de avaliação, requisitos de acesso ao curso e o perfil profissional foram elaborados, objetivando a construção de um plano de curso que capacite o Técnico em Enfermagem, com competências técnicas, cientificas, política e ética, para atuar nos diversos níveis de atenção à saúde. A proposta curricular prevê um ensino voltado para os princípios da integralidade, flexibilidade, interdisciplinaridade e terminalidade, remetendo a uma prática pedagógica reflexiva, crítica e democrática, garantindo aos alunos espaço para a construção de seu conhecimento. Pretende-se, portanto romper com os padrões mecanicistas, favorecendo a formação do cidadão e preparando-o para a vida. PALAVRAS CHAVES: Ensino, Projeto Pedagógico, Currículo. Enfermeira, Mestre, Docente da Escola de Enfermagem de Natal - UFRN. Enfermeira, Especialista, Docente da Escola de Enfermagem de Natal UFRN Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFRN, Docente da Escola de Enfermagem de Natal - UFRN. Av. Nilo Peçanha, 619, Petrópolis, Natal. [email protected] 269 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Introdução A nova proposta curricular do curso Técnico em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Natal/UFRN é resultado de ampla discussão e reflexão entre o corpo docente, discente e administrativo, para atender as exigências da nova legislação da Educação Profissional bem como as inquietações dos docentes e discentes diante de um currículo defasado frente ao compromisso de formação de recursos humanos para o SUS. Teve inicio no ano de 1999, a construção do Projeto Político Pedagógico da Escola de Enfermagem de Natal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Este projeto contempla inovações como a organização curricular descrito em forma de competências, habilidades e bases tecnológicas e distribuída em três módulos, sendo o primeiro módulo básico de saúde, e os módulos seguintes específicos para enfermagem. A metodologia, o processo de avaliação, requisitos de acesso ao curso e o perfil profissional foram elaborados, objetivando a construção de um plano de curso que capacite o Técnico em Enfermagem, com competências técnicas, cientificas, política e ética, para atuar nos diversos níveis de atenção à saúde. A proposta curricular prevê um ensino voltado para os princípios da integralidade, flexibilidade, interdisciplinaridade e terminalidade, remetendo a uma prática pedagógica reflexiva, crítica e democrática, garantindo aos alunos espaço para a construção de seu conhecimento. Pretende-se, portanto romper com os padrões mecanicistas, favorecendo a formação do cidadão e preparando-o para a vida. Objetivo Qualificar o Técnico em Enfermagem com competências e habilidades técnicas, políticas e éticas, para atuar sob a supervisão do enfermeiro, na assistência à saúde coletiva e individual, através de um ensino contextualizado, tendo como propósito a formação do cidadão, numa concepção de educação por competência, preparando-o para o trabalho e para a vida. 270 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Metodologia Optou-se por uma metodologia que busca preparar o aluno como sujeito ativo, reflexivo, criativo e solidário criando condições para que possa construir o seu próprio conhecimento a partir de sua realidade, numa relação dinâmica entre o sujeito que aprende e o objeto a ser aprendido, tendo o professor como facilitador do processo ensino aprendizagem. Organização Curricular A proposta curricular está organizada em módulos, com núcleos, funções e sub-funções, de forma articulada em nível crescente de complexidade de modo a garantir a partir de sucessivas aproximações que o aluno possa desenvolver atitudes éticas e habilidades técnicas na assistência à saúde, possibilitando uma melhor compreensão do mundo em que vive tendo como eixo norteador o processo de trabalho na sociedade, em saúde, na enfermagem e os determinantes do processo saúde-doença. O Curso Técnico em Enfermagem compreende: Módulo 1: núcleo comum da área da saúde. Não confere terminalidade, fornecendo ao aluno ao término, declaração de conclusão. Módulo 2: núcleo específico da enfermagem. Ao concluir este módulo o aluno recebe a certificação em Auxiliar de Enfermagem. Módulo 3: núcleo específico da enfermagem. Ao concluir este módulo o aluno receberá o diploma de Técnico em Enfermagem na Área Profissional da Saúde. A avaliação é concebida como mais uma oportunidade de aprendizagem, na qual o aluno participa, acompanha e contribui de maneira efetiva. A avaliação de competências será desenvolvida de forma transformadora, reflexiva, contínua, investigativa, participativa e democrática, abrangendo todo o processo educativo. 271 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Nesta proposta de ensino,a avaliação compreende fases que são complementares: Avaliação do processo, Avaliações parciais e Avaliação do desempenho final. Considerações Finais No momento está sendo implementado o módulo 2, da nova proposta curricular em construção que se justifica e vai muito além das competências, habilidades e base tecnológica a comporem o curso técnico. Ela implica na identificação dos principais problemas da vida escolar em face de realidade atual, a explicitação das divergências, o enfrentamento de conflitos e, finalmente a construção de um projeto coletivo, que embora reconheça a importância da preparação do indivíduo para o trabalho, não reduz a Educação profissional ao atendimento às necessidades emergenciais do mercado, mas se compromete com a formação do cidadão para a vida. Bibliografia BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Educação Profissional. Legislação Básica, 5ª ed. Brasília, 2001. BAGNATO, Maria Helena S. Formação Crítica dos Profissionais da Área de Enfermagem. Texto e Contexto Enferm.Florianópolis,v.8,n.1,p.31-42, jan./abr.1999. BORDENAVE, J. E. D. Alguns fatores pedagógicos. In: BRASIL, Ministério da Saúde. Coordenação Geral de Desenvolvimento de Recursos Humanos para o SUS. Capacitação Pedagógica para Instrutor / Supervisor Área de Saúde. Reimpr. da 1º ed. Brasília, Ministério da Saúde, 1994. GERMANO, R.M. Educação e Ideologia em Enfermagem no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 1993. LIMA, Júlio César França. Tecnologias de Educação do Trabalhador em Saúde. In: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (Org.). Formação de Pessoal de Nível Médio para a Saúde: desafios e perspectivas. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1996. 272 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. SOUZA, Alina Maria de Almeida. Profissionalização de trabalhadores de saúde de nível médio: Problemas e Desafios. In: AMANCIO Filho, Agenor (Org.). Saúde, Trabalho e Formação Profissional. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1997. 273 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. VIVENCIANDO NOVAS METODOLOGIAS DE ENSINO COM ALUNOS DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM: RELATO DE EXPERIÊNCIA Izabelle Mont Alverne Napoleão Albuquerque1 Cibelly Aliny Siqueira Lima2 Raimunda Magalhães da Silva3 Pensar sobre o processo ensino-aprendizagem nos faz refletir sobre novas formas de ensino que desenvolvam o pensamento crítico63 reflexivo do aluno em sala de aula. Assim objetivamos promover novas dinâmicas, como facilitadoras desse processo, para o ensino da disciplina Introdução à Enfermagem, respeitando o programa proposto. Este estudo é de caráter exploratório e descritivo relativo ao ensino de alunos do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA, em Sobral CE. Ele foi desenvolvido na referida disciplina, tendo sido realizado em cinco encontros. A amostra foi composta por quarenta alunos que fazem a disciplina, na faixa etária entre dezessete e vinte e três anos. As dinâmicas de ensino foram distintas em cada dia do estudo, sendo realizadas da seguinte forma: no primeiro dia foi utilizado o método de colagem; no segundo foi o método de grupos de estudo; no terceiro foi proposto o método de visitas; no quarto foi utilizado o método expositivo; no quinto foi feita uma avaliação final, visando diagnosticar os momentos vividos nos encontros. Para a análise dos dados, agrupamos as falas dos sujeitos em cinco categorias, conforme a convergência de significados: 1) Experiência com colagem; 2) Compartilhando idéias; 3) Visitando a prática; 4) Conhecendo a prática; 5) Avaliando os métodos. Com este trabalho pudemos 63 Enfermeira Mestranda em Enfermagem Clinico-Cirúrgica da UFC. Bolsista do CNPq. E-mail: [email protected]. 2 Enfermeira Mestranda em Enfermagem Clinico-Cirúrgica da UFC. Bolsista da CAPES. 3 Enfermeira Doutora em Enfermagem. Professora do DENF/FFOE/UFC. 274 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. perceber que para que se consiga atingir as metas no processo ensinoaprendizagem, é necessário que o professor mude as suas estratégias e promova novas formas de ensinar. 1 INTRODUÇÃO Pensar sobre o processo ensino-aprendizagem nos faz refletir sobre novas formas de ensino que desenvolvam o pensamento críticoreflexivo do aluno em sala de aula. Para que haja conhecimento por parte dos alunos, são necessárias mudanças no ensino de modo a envolver vários fatores, dentre eles o processo ensino aprendizagem. Isso exige que o método de ensino utilizado esteja de pleno acordo com o aprendizado do aluno, para um melhor aproveitamento do curso. Silva et al (2000) ressaltam que é importante haver no processo de ensino-aprendizagem uma relação harmônica e consciente entre professor e aluno, através do planejamento e de estratégias de ensino que favoreçam a integração do estudante de forma a ajudá-lo a desenvolver um senso crítico, para que com isso possa crescer, assim, na consciência, caráter, cidadania e ser competente na profissão . Dentro desse aspecto é importante que o professor monte estratégias de ensino que envolvam o aluno em sala de aula, pois de acordo com Zampieri (1992) a educação se dá através de um processo dinâmico e flexível, que possibilita ao ser humano, diverso e singular, no âmbito individual e coletivo, o desenvolvimento de suas potencialidades, podendo atingir autonomia e decidir sobre seus objetivos e ações. O educar se dá com base no conhecimento de si e através das relações com os outros seres humanos, mediante o compartilhamento de conhecimentos e ações, sendo que a afetividade, o envolvimento, a comunicação, a alegria, a empatia são fatores essenciais para que se inicie e se mantenha o processo educativo. Uma das experiências mais gratificantes do ser humano é a de ensinar e aprender, facilitar ou ter facilitado a tomada de consciência de mundo, principalmente quando não se dá ao outro ou se recebe do outro o conhecimento, mas quando se descobre junto ao outro e se constrói junto do outro (Moreira at al, 1992). 275 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Freire (2000) nos chama a atenção quando diz que é importante o silêncio no espaço da comunicação, pois de um lado, proporciona que ao escutar como sujeito e não como objeto a fala comunicante de alguém, essa fala entre no pensamento como linguagem, e do outro lado, proporciona a quem fala, escutar a dúvida, a indagação e a criação de quem o escutou. Sabendo que é importante para o processo ensino-aprendizagem que haja uma maior participação do aluno em sala de aula, surgiu a nossa inquietação por este estudo, em que, através experiências anteriores com o ensino da disciplina Introdução à Enfermagem, observamos que era necessário utilizar-se de novas estratégias de ensino que envolvessem os alunos de modo mais participativo e reflexivo dentro do programa proposto. A disciplina é dada no primeiro período do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA, com uma carga horária de 60 horas teóricas. O programa da disciplina enfoca aspectos históricos do Curso de Enfermagem, tais como: evolução histórica da enfermagem no mundo e no Brasil; o surgimento da enfermagem moderna e seus aspectos; ações dependentes e interdependentes da enfermagem; o enfermeiro e seu campo de trabalho e enfermagem; saúde e sociedade, dando uma visão de como a enfermagem atua dentro desses aspectos. A partir do exposto objetivamos promover novas dinâmicas em sala de aula na disciplina Introdução à Enfermagem, como facilitadoras do processo ensino-aprendizagem, respeitando o programa proposto. 2 METODOLOGIA Este é um estudo de caráter exploratório e descritivo relativo ao ensino de alunos do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA, em Sobral CE, na disciplina Introdução à Enfermagem. O programa da disciplina aborda: aspectos históricos do Curso de Enfermagem da UVA, corpo docente, estrutura da Universidade, o currículo do curso, a evolução 276 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. histórica da Enfermagem, todo o surgimento da Enfermagem Moderna, ações independentes e interdependentes da Enfermagem, o Enfermeiro e seu campo de trabalho e Enfermagem e o panorama sócio-sanitário brasileiro. É uma disciplina de quatro créditos com carga horária de 60 horas e é oferecida no primeiro período do curso. O estudo foi realizado em cinco encontros, às segundas-feiras, no período da tarde das 14:00 às 17:00 horas, durante o mês de outubro de 2001. A amostra foi composta por quarenta alunos que fazem a disciplina, na faixa etária entre dezessete e vinte e três anos, sendo trinta e oito solteiros, um casado e um divorciado. A maioria é proveniente de Sobral-CE e cidades vizinhas. Os procedimentos utilizados para o alcance de nossos objetivos foram: a) análise documental, a partir da consulta do programa da disciplina; b) dinâmicas de ensino, para facilitar o processo ensinoaprendizagem e melhor integração grupal; c) avaliação da dinâmica, aplicada aos alunos no final de cada aula, avaliando o processo ensino-aprendizagem de cada método utilizado e uma avaliação final. As dinâmicas de ensino foram distintas em cada dia do estudo, sendo realizadas da seguinte forma: no primeiro dia foi utilizado o método de colagem, onde os alunos se dividiram em equipes, receberam textos, leram-nos, fizeram recortes de revistas sobre o assunto e colaram em folhas de papel madeira formando painéis, depois cada equipe falou e expôs o seu painel; no segundo dia foi o método de grupos de estudo, onde os alunos se dividiram em equipes, foram distribuídos textos com temas abordando o programo proposto, os alunos leram-nos e depois discutiram e opinaram sobre cada assunto; no terceiro foi proposto o método de visitas, em que os alunos foram visitar postos de saúde e hospitais para conhecer um pouco da prática do exercício profissional do Enfermeiro nesses campos de atuação; no quarto dia foi utilizado o método expositivo, para este encontro foram convidados três enfermeiros de áreas de atuação distintas, sendo um do Programa Saúde da Família, outro da área de clínica cirúrgica e o último da área do ensino, em que eles falaram um pouco da prática de cada um no seu ambiente de trabalho; 277 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. no último encontro foi feita uma avaliação final para diagnosticar os momentos vividos nos encontros. Agrupamos as falas dos sujeitos para a análise dos dados em cinco categorias, conforme a convergência de significados: 1) Experiência com colagem; 2) Compartilhando idéias; 3) Visitando a prática; 4) Conhecendo a prática; 5) Avaliando os métodos. 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Relataremos os resultados de acordo com as dinâmicas construídas em sala de aula, dividindo-os em categorias distintas e apresentando as falas dos alunos em relação às atividades desenvolvidas. 3.1 Experiência com colagem Durante a aplicação dessa dinâmica, percebemos o entusiasmo dos alunos ao trabalhar com colagem e a importância do uso da criatividade na construção dos painéis, como podemos verificar nas falas seguintes: A colagem é um método de estudo muito eficaz, pois incentiva o uso da criatividade dos alunos, assim como dinamiza o entendimento dos expectadores. É um bom método de estudo, pois nos permite dar a nossa opinião sobre o assunto, assim como debatê-lo, além fazer com que os alunos reflitam, tenham idéias, exercitando com isso a capacidade de raciocínio. É muito importante, pois valoriza a nossa criatividade, dandonos o direito de criar livremente e depois expor nossas idéias em um painel de forma clara. É um método muito didático que dinamiza a aula, aumentando o entusiasmo da turma. Foi bastante aceito por todos nós, pois facilitou o aprendizado. Podemos verificar nas falas que os alunos pesquisados realmente participaram de maneira dinâmica no desenvolvimento da aula em que 278 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. foi utilizada a colagem para abordar o assunto proposto pelo programa. Percebe-se que essa integração grupal foi de grande valia para os alunos, pois além do aprendizado do assunto, eles puderam expor suas idéias e se envolveram de modo participativo em seus grupos. Concordamos com Alonso (1999) quando nos diz que o professor deve instrumentalizar os alunos para que percebam criticamente a sua realidade e suas necessidades individuais e grupais, também para que desenvolvam as suas potencialidades e busquem, num trabalho conjunto, os caminhos e os meios para um enfrentamento eficaz dos seus desafios cotidianos. 3.2 Compartilhando idéias Quando questionamos sobre o aprendizado adquirido nos estudos em grupos, pudemos constatar que além do conhecimento adquirido houve uma rica troca de idéias e reflexões entre os alunos nesse momento, como podemos constatar: É uma metodologia eficiente, uma vez que grupalmente a matéria é mais bem absorvida pelos alunos. É menos cansativo e nos dá a oportunidade de debater mais sobre o assunto, possibilita uma visão crítica ao estudante. Além de facilitar o aprendizado difunde a idéia da comunicação na sala, o que é bastante aceito, devido à dificuldade que muitos têm de falar em público. Trabalhando em grupo pudemos associar as idéias, questionálas, fundamentá-las e até mudar o nosso ponto de vista sobre determinados assuntos. Trabalhar em grupo nos dá um ar de familiaridade, aproximação, contato. Ensina-nos a entender o outro e aceitar outras opiniões. Faz com que venhamos a interagir e até perder inibições prejudiciais a nossa vida profissional. A visão dos alunos relatadas aqui nos mostra que no estudo de grupos os alunos tiveram um aprendizado relevante havendo troca de 279 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. opiniões a cerca dos assuntos propostos, e isso enriquece o conhecimento. Cada componente é uma parte essencial dentro de um grupo; o processo educativo ocorre justamente quando estas partes contribuem para formar o conjunto, ou seja, quando no ato de compartilhar os saberes e experiências, cada um traz a sua contribuição e seus questionamentos na construção de um novo conhecimento, na transformação dos saberes e das atitudes (ALONSO, 1999). 3.3 Visitando a prática Os alunos visitaram um hospital e um posto de saúde, onde observaram como era realizada a prática da enfermagem e como os profissionais atuavam de modos diferentes nas duas áreas. A maioria considerou essa experiência muito rica, como podemos ver a seguir: Na visita aprendemos na prática tudo o que posteriormente exerceremos. A visita ao hospital e ao posto de saúde me fez conhecer como é o trabalho dos profissionais de enfermagem. Esta metodologia aplicada, na minha opinião, é muito proveitosa, pois faz com que o aluno tenha logo no primeiro período, um contato maior com a profissão, observando o trabalho realizado pelos profissionais e o local no qual iremos trabalhar. Essa metodologia é muito válida, pois trás mais conhecimentos. Nela a gente mantém contato com o ambiente onde futuramente iremos trabalhar. Nesse método vimos como é exercida a prática do enfermeiro nesses dois campos, isso foi de grande importância para nossa realidade. As visitas à prática dos Enfermeiros foram de grande importância para os alunos e resultaram num melhor aprendizado. Ao se depararem com a prática profissional, os alunos conheceram melhor os campos de atuação da enfermagem. Diante disso concluímos que houve uma somatização de conhecimentos nessa metodologia. Concordamos com Becker (2000) quando nos diz que o conhecimento é uma reação intelectual a um 280 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. estímulo cuja forma varia de uma simples proposta até uma imposição, onde o exercício das operações mentais está, portanto, na estreita dependência do estímulo. 3.4 Conhecendo a prática Quanto à aprendizagem dos alunos, quando indagados sobre o método expositivo, foram de certa forma unânimes em dizer que essa estratégia de ensino foi muito rica, como podemos constatar nas falas a seguir: A forma pela qual a disciplina vem nos colocando a oportunidade de conquistar conceitos faz de nós acadêmicos mais bem preparados, deixando de lado aquela forma arcaica de ensino dentro de uma sala de aula. É muito importante logo no primeiro período ter a chance de conhecer a prática vivenciada de alguns enfermeiros e conhecer como eles atuam nas suas áreas. Foi uma experiência muito importante, pois nos mostra a realidade por que passam os profissionais de enfermagem, o ambiente em que atuam e suas experiências. Com essa metodologia pude conhecer o sentido de ser enfermeiro e saber de que modo ele atua. Os enfermeiros, ao descreverem a sua prática, estão de certo modo contribuindo para o engrandecimento da profissão, pois dessa forma os alunos conhecem qual o verdadeiro papel desenvolvido na sua prática. A tendência observada e já evidenciada nas abordagens das pesquisas mais recentes é a de uma abordagem mais humanista na enfermagem. O caminho natural é uma convergência entre ciência e arte, principalmente por revelar o cuidar como o modo de ser da enfermagem (Waldow, 2001). Diante dessas considerações da autora podemos confirmar verdadeiramente a importância dos alunos conhecerem como o enfermeiro vivencia a sua prática atual, e como se faz o cuidado na enfermagem. 281 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 3.5 Avaliando os métodos Perguntamos como os alunos percebem o conhecimento adquirido através das dinâmicas aplicadas em sala e obtivemos respostas diversas, mas sempre positivas como podemos ver a seguir: Tive um grande conhecimento através das dinâmicas da disciplina pude aprender sobre a enfermagem, sua história e suas ações de um modo bem administrado, diminui minha timidez e isso será importante para o meu futuro profissional. O meu conhecimento aumentou através do dinamismo promovido pela disciplina. O conhecimento adquirido através de dinâmicas é mais participativo. E nós aprendemos sem a necessidade de decorar, decorar e sempre decorar. Adorei essas metodologias. Essas dinâmicas têm um papel importante na nossa formação profissional, pois nos proporciona uma chance para trabalhar esse lado da comunicação, possibilitando que seja desenvolvida nossa capacidade de nos integrarmos com as pessoas. Pudemos verificar nas falas que as dinâmicas aplicadas contribuíram significativamente para o desenvolvimento dos alunos. Essa avaliação é muito importante para nos direcionar sobre o aprendizado dos alunos, pois nos possibilita um diagnóstico situacional das dinâmicas aplicadas. O professor deve ter presente que ele é apenas o organizador da aprendizagem; para isso é necessário que haja uma relação interpessoal e harmoniosa entre sua pessoa e o educando (SANT ANNA, 2001). 282 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com esse trabalho pudemos perceber que para se atingir as metas no processo ensino-aprendizagem, é necessário que o professor mude as suas estratégias e promova novas formas de ensinar. As aulas interativas trazem muitas vantagens e uma das principais é a harmonia e a integração grupal em sala de aula. Ao descobrir novas maneiras de aprender, o aluno se sente útil e percebe o quanto a sua participação e opinião são importantes para que ocorra o processo ensino-aprendizagem. O professor é o agente facilitador da aprendizagem, ele deve ser criativo e dinâmico na medida em que proporcione alternativas para melhorar o rendimento do grupo em sala de aula. A experiência de ensinar a disciplina Introdução à Enfermagem realmente foi muito gratificante. Constatamos que podemos promover conhecimentos de modo dinâmico e participativo se utilizarmos boa vontade e criatividade. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALONSO, Ilka L. Keller. O processo educativo em saúde na dimensão grupal. Revista Texto e Contexto Enfermagem/ UFSC. Volume 8, número 1, Florianópolis, 1992. BECKER, Fernando. A epistemologia do professor. 8a edição, Vozes, Petrópolis, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 14a edição, Editora Paz e Terra, 2000. MOREIRA, Thereza Maria Magalhães et al. Inovação no processo ensino-aprendizagem na pós-graduação: relato de experiência. Revista Texto e Contexto Enfermagem/ UFSC. Volume 8, número 1, Florianópolis, 1992. SANT ANNA, Ilza Martins. Por que avaliar? Como avaliar? Critérios e Instrumentos. 7a edição, editora vozes, 1995. SILVA, Raimunda Magalhães da; BARROSO, Maria Grasiela Teixeira; VARELA, Zulene Maria de Vasconcelos. Ensino na 283 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Universidade: Integrando graduação e pós-graduação. FCPC, Fortaleza, 2000. ZAMPIERI, Maria de Fátima Mota. Vivenciando o processo educativo em enfermagem com gestantes de alto risco e seus acompanhantes. Revista Texto e Contexto Enfermagem/UFSC. Volume 8, número 1, Florianópolis, 1992. WALDOW, Vera Regina. Cuidado humano: o resgate necessário. 3a edição, Porto Alegre, Sagra Luzzatto, 2001. 284 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. REFLETINDO SOBRE O PROCESSO ENSINOAPRENDIZAGEM EM CAMPO DE PRÁTICA ONCOLÓGICA Izabelle Mont Alverne Napoleão Albuquerque1 Raimunda Magalhães da Silva2 Cibelly Aliny Siqueira Lima3 Neste trabalho, o processo ensino-aprendizagem influenciará de forma marcante no desenvolvimento do estudante de graduação. Isso exige que o método utilizado para o ensino esteja de pleno acordo com o aprendizado do aluno para que haja um melhor aproveitamento do curso. Torna-se necessário analisar criticamente no momento em que 64 questionamos como está se desenvolvendo esse processo ensinoaprendizagem. Neste estudo, tivemos como objetivo analisar as atividades práticas de alunos de enfermagem em um hospital de oncologia. A pesquisa teve caráter descritivo e foi desenvolvida no curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará - UFC, especificamente na disciplina de Enfermagem no Processo de Cuidar II - prática oncológica com vinte e dois alunos. Nos resultados obtidos constatamos que o campo de prática contribui de forma bastante engrandecedora para a aquisição do conhecimento dos alunos. Observamos uma certa insatisfação dos alunos com relação à metodologia utilizada; através dos depoimentos constatamos que várias são as vertentes para que possamos melhorar a atuação dos enfermeiros e alunos em campo de prática. 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento do estudante de graduação depende de vários fatores, dentre eles o processo ensino-aprendizagem. Isso exige 64 Enfermeira Mestranda em Enfermagem Clinico-Cirurgica da UFC. Bolsista do CNPq. E-mail: [email protected]. 2 Enfermeira Doutora em Enfermagem. Professora do DENF/FFOE/UFC. 3 Enfermeira Mestranda em Enfermagem Clinico-Cirurgica da UFC. Bolsista da CAPES. 285 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. que o método utilizado para o ensino esteja de pleno acordo com o aprendizado do aluno, para que haja um melhor aproveitamento do curso. Silva et al. (2000) ressaltam que é importante haver no processo ensino-aprendizagem uma relação harmônica e consciente entre professor e aluno, através do planejamento e de estratégias de ensino que favoreçam a integração do estudante de forma a ajudá-lo a desenvolver um senso crítico, para que com isso possa crescer, assim, na consciência, caráter, cidadania e ser competente na profissão. É por meio da avaliação que descobrimos como o grupo está entre o que foi proposto pela disciplina (objetivos) e a vivência do grupo (resultados obtidos). Diante disso, avaliar é posicionar-se frente ao realizado, confrontando-o com o desejado e decidir-se por qualificar ainda mais o vivenciado para aproximá-lo do idealizado (DALMÁS, 1997). Seria muito importante que o professor se interessasse por cada aluno, buscasse conhecer suas motivações e seus contextos culturais, estabelecesse com ele um relacionamento de confiança mútua tranqüila, sem decair em abusos e democratismos. Seria uma aprendizagem mútua, instituindo o ambiente de uma obra comum participativa. A experiência do aluno comum seria sempre valorizada, inclusive a relação natural hermenêutica do conhecer a partir do conhecido. O que se aprende na escola deve aparecer na vida (DEMO, 1996). Deste modo pretendemos, neste trabalho, avaliar a disciplina Enfermagem no Processo de Cuidar II, especificamente na prática oncológica, que está inserida no programa desta disciplina, cujo objetivo é atender às necessidades humanas básicas do cliente em situações clínico-cirúrgicas, nos contextos: preventivo, curativo, de recuperação e reabilitação da saúde. Princípios científicos, métodos e procedimentos técnicos relacionados ao processo de cuidar do adulto. É importante salientar que nessa avaliação professores e alunos serão ouvidos e questionados. Gondim, Araújo e Silva (2000) dizem que a avaliação deve ser negociada, corresponsiva, envolvendo todas as pessoas do serviço, na qual podemos constatar necessidades, 286 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. compreender os fenômenos acadêmico-pedagógicos com vistas à superação das dificuldades e transformação da realidade educacional. Dessa forma, pretendemos compreender como está sendo esse processo ensino-aprendizagem a partir da metodologia usada na disciplina. De acordo com Santos e Silva (1999), para obtermos informações em relação aos processos de ensino-aprendizagem é necessário considerar a importância de uma diversidade de instrumentos e situações, para possibilitar, por um lado, avaliar as diferentes capacidades e conteúdos curriculares em jogo, e, por outro lado, contrastar com os dados obtidos e observar as transferências das aprendizagens em contextos diferentes. O campo de prática colabora na formação do enfermeiro e levao a assumir uma postura com base técnico-científica para o cuidar. Dessa forma, consideramos importante avaliar criticamente o campo de prática para compreender como se desenvolve o processo ensinoaprendizagem do mesmo e quais os recursos disponíveis para o aprendizado na prática oncológica. Diante dessas considerações, tivemos como objetivo analisar as atividades práticas de alunos de enfermagem em um hospital de oncologia. 2 METODOLOGIA Estudos desta natureza têm caráter descritivo, uma vez que determina características da população a qual queremos pesquisar. A pesquisa foi desenvolvida no curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará-UFC, especificamente na disciplina Enfermagem no Processo de Cuidar II - prática oncológica. Essa prática é realizada em um hospital especializado em câncer no Ceará, localizado na cidade de Fortaleza, nos dias de segunda a sexta, no período de 7:30 às 11:30 da manhã, onde cada aluno tem duas semanas de estágio. A disciplina é ofertada no 5o semestre da estrutura curricular do currículo atual, constituída de 120 horas teóricas e 240 horas práticas. A amostra foi constituída de vinte e dois alunos que cursam a disciplina, uma professora e uma enfermeira do referido serviço. Os 287 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. procedimentos usados para o alcance dos nossos objetivos foram: a) análise documental, a partir da consulta do programa da disciplina; b) observação direta, realizada às quartas-feiras, nos meses de maio a junho, no período da manhã; c) entrevista semi-estruturada, com perguntas abertas, aplicada aos alunos, à professora da prática e à enfermeira do serviço, abordando questões direcionadas à metodologia de ensino utilizada, aprendizagem no campo de prática, relacionamento com a professora e demais colegas, contribuição do campo de prática para o exercício profissional e melhoria do processo ensino-aprendizagem. Lakatos e Marconi (1991) explicam que na observação direta o pesquisador presencia o fato, mas não participa dele; não se deixa envolver pelas situações; faz mais o papel de espectador. Com relação à entrevista, Cruz Neto (2000) diz que esta é o procedimento mais usual no trabalho de campo. Através dela o pesquisador busca obter informes contidos nas falas dos atores sociais. 3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A vivência no campo de prática nos ofereceu suporte para o desenvolvimento de um pensamento crítico sobre a enfermagem. Para melhor compreensão dos resultados, algumas áreas temáticas emergiram durante o estudo, as quais embasaram a nossa análise: Caracterizando o campo de prática; O processo ensino-aprendizagem para o aluno/enfermeira/professora: Aprendizagem no campo de prática; Metodologia de ensino utilizada; Contribuição para a melhoria do campo de prática; Relacionamento com as pessoas envolvidas no campo de prática. 288 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. CARACTERIZANDO O CAMPO DE PRÁTICA O campo de prática da disciplina fica localizado em uma enfermaria oncológica de um hospital especializado em câncer na cidade de Fortaleza-CE. A enfermaria tem trinta e quatro leitos e fica localizada no 4o andar do hospital. A equipe responsável pela enfermaria é composta de duas enfermeiras, sendo uma no período da manhã e outra no período da tarde; quatro auxiliares de enfermagem (três assistenciais e uma para a medicação) e uma secretária de unidade. As enfermarias são distribuídas em: cirúrgica e clínica, cabeça e pescoço, mama, ginecologia e gastroenterologia. Os procedimentos da unidade são realizados na maioria das vezes pelos alunos quando estão na prática, mas a enfermeira do setor auxilia em alguns casos e realiza procedimentos mais complexos. Dentre os principais procedimentos estão: medicação; todos os tipos de sondagem; retirada de pontos; retirada de drenos; punção de catéter; curativo de traqueostomia; irrigação; enema; cistostomia; jejunoileostomia; curativo de colostomia e troca de bolsa; banho no leito; curativos cirúrgicos de pequena, média e alta complexidade; além de auxílio em drenagem torácica. Não faltam recursos materiais para os procedimentos que são realizados. A quantidade de material disponível supre as necessidades dos pacientes e dos alunos para realizarem a prática. O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM ALUNO/ENFERMEIRA/PROFESSORA PARA O Aprendizagem no Campo de Prática Os depoimentos sobre essa temática envolveram aluno, enfermeira e professora, situação em que todos relataram que a prática oncológica contribui consideravelmente para o ensino, como podemos ver a seguir: 289 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A prática aqui é bastante proveitosa, existe uma diversidade de procedimentos interessantes para se fazer, além de aprendermos as rotinas da clínica oncológica. Aluno. Gostei desse campo de prática. Foi um campo rico que me proporcionou a aprendizagem e o interesse por uma patologia específica. Saímos também aptos a fazer qualquer tipo de curativo, uma vez que este é o procedimento mais comum neste campo. Aluno. Gostei muito. Aprendi a fazer todos os curativos existentes. Pude fazer sondagem, banho no leito, verificar sinais vitais. Aluno. O hospital oferece muitas oportunidades de aprendizagem, basta o aluno procurar os conhecimentos que são passados pela professora, associando-os à prática. Observo muitos alunos interessados tentando aproveitar tudo que podem. Enfermeira. O campo é bastante diversificado. O aluno tem oportunidade de efetuar cuidados de pequena, média e grande complexidade. O cliente cirúrgico oncológico diverge no que se refere ao aspecto assistencial dado. Professora. Nas opiniões acima expressadas, constatamos que o campo de prática contribui de forma bastante engrandecedora para a aquisição de conhecimento pelos alunos, oferecendo atividades diversificadas para a construção desse conhecimento. Para Ranieri (1999) o professor e o aluno são seres interativos, comprometidos com práticas pedagógicas dinâmicas que levam à construção do conhecimento mediante a orientação, a ajuda, a organização das atividades, o questionamento, a problematização e o meio em que estão inseridos. Metodologia de Ensino Utilizada Neste tema somente os alunos expressaram suas considerações, havendo uma certa divergência de opiniões como podemos observar: Regular. Pois acho que antes da prática teria que haver mais aulas teóricas de embasamento para a prática, para que nós não cheguemos tão perdidos. 290 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. É coerente em alguns pontos, mas deveríamos ter mais base teórica (laboratório) antes de vir para a prática. Boa, pois nos dá oportunidade de atuar diretamente nas áreas de prática, correlacionando com a teoria. Deveria ser algo mais próximo ao câncer, tipo medicação, integração com o paciente e não apenas procedimentos. É boa, mas acho que poderia ser melhor. Diante do exposto constatamos certa insatisfação dos alunos com relação à metodologia utilizada. Concluímos aqui que a prática realizada em aulas de laboratório pode ajudar ainda mais os alunos, dando-lhe mais segurança com relação aos procedimentos que irão realizar no campo de prática. Souza e Santos (1989) afirmam que a enfermagem como profissão essencialmente aplicada, exige em seu desenvolvimento curricular uma grande parcela prática, que propicie a utilização dos conhecimentos teóricos. Contribuição para a Melhoria do Campo de Prática Dentro dessa temática foram ouvidas as opiniões dos alunos, da professora e da enfermeira da unidade, como podemos observar nas falas: Quando o aluno mostra interesse pelo conjunto (hospital - tipo de assistência - tipos de doenças, etc) poderá contribuir tanto com o seu trabalho como também apresentando sugestões para melhorar a assistência de enfermagem. Enfermeira. O aluno se presta a intensificar os cuidados da área emocional quando faz o preparo para a cirurgia tirando dúvidas e minimizando os anseios. Professora. Com mais prática eu ganharia mais tempo. Às vezes, demoro um pouco para realizar alguns procedimentos. Aluno. Primeiro ampliando o conhecimento do aluno sobre o assunto para só depois colocá-lo na prática, tipo aula teórica-prática. Aluno. 291 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Melhorando a relação dos funcionários do próprio campo de prática, pois observei que é um ambiente tenso. E também um maior número de dias. Aluno. Foi possível constatar, através dos depoimentos, que várias são as vertentes para que possamos melhorar a atuação dos enfermeiros e alunos em campo de prática. Foram citados argumentos que englobam desde um significativo interesse na aquisição de conhecimentos, até um maior período de tempo dispensado no estágio, além de um melhor relacionamento interpessoal entre as pessoas envolvidas no processo ensino-aprendizagem. De acordo com Ranieri (1999), teoria e prática devem ser operacionalizadas como um todo, em uma relação articulada e progressiva, uma depende da outra e juntas concorrem para um processo educativo integral. Relacionamento dos alunos com as Pessoas Envolvidas no Campo de Prática Com referência a esta temática os alunos colocam o seu relacionamento com a professora, equipe de enfermagem, mestranda, clientes e demais colegas: Amigável, profissional e respeitoso com todos os membros e demais alunos. Aluno. Meu relacionamento com todos é ótimo. Aluno. O relacionamento que foi difícil e resistente foi o que tivemos com as auxiliares. Com todos os outros acima citados foi um relacionamento tranqüilo. Aluno. O meu relacionamento com a professora, com a enfermeira chefe, com a mestranda, com o cliente e com os demais alunos foi satisfatório. Entretanto, com as auxiliares foi péssimo Aluno. O relacionamento com todos foi muito bom. Existiu um equilíbrio e harmonia entre a equipe. Aluno. 292 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Pudemos constatar que a maioria dos alunos enfatizou um relacionamento interpessoal bastante harmonioso, apesar de ter havido alguns impasses com relação às auxiliares de enfermagem. Kenski (1992) coloca que é nas relações cotidianas entre professor, alunos e usuários dos serviços que vai se dar a aprendizagem. Dessa interação vão surgir condições mais efetivas para que os envolvidos possam ser capazes de se avaliarem, de avaliarem o conteúdo em questão e de tomarem decisões quanto ao prosseguimento do processo ensino-aprendizagem. 5 REFLEXÕES CRÍTICAS Ao analisar criticamente o campo de prática oncológica, consideramos que a avaliação, num contexto de construção, não deve ser resumida a uma ação mecânica, mas ser uma atividade racionalmente definida; com encaminhamento didático, político, social e decisório em favor da aprendizagem dos alunos e do redimensionamento das atividades. Constatamos que o campo de prática contribui de forma bastante engrandecedora para a aquisição do conhecimento pelos alunos, oferecendo-lhes atividades diversificadas para a construção desse conhecimento. Observamos uma certa insatisfação dos alunos com relação à metodologia utilizada. Concluímos aqui que a prática realizada em aulas de laboratório pode ajudar ainda mais os alunos, dando-lhes mais segurança com relação aos procedimentos que irão realizar no campo de prática. Através dos depoimentos constatamos que várias são as vertentes para que possamos melhorar a atuação dos enfermeiros e alunos em campo de prática. Foram citados argumentos que englobam desde um significativo interesse na aquisição de conhecimentos, até um maior período de tempo dispensado no estágio e um melhor relacionamento interpessoal entre as pessoas envolvidas no processo ensino-aprendizagem. 293 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Vimos que a maioria dos alunos enfatizou um relacionamento interpessoal bastante harmonioso, apesar de ter havido alguns impasses com relação às auxiliares de enfermagem. O professor e o aluno são seres interativos, comprometidos com práticas pedagógicas dinâmicas que levam à construção do conhecimento mediante a orientação, a ajuda, a organização das atividades, o questionamento e a problematização. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CRUZ NETO, Otávio. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 16a edição. Petrópolis-RJ, Vozes, 1994. DALMÁS, Ângelo. Planejamento participativo na escola. 5a edição. Petrópolis - RJ, Editora vozes, 1997. DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Campinas - SP, Editora autores associados, 1996. GONDIM, Maria Fátima B.; ARAÚJO, Liduína Maria; SILVA, Raimunda Magalhães da. Análise Crítica da disciplina de semiologia e semiotécnica, do Curso de Enfermagem da Universidade de Fortaleza. In: SILVA, Raimunda Magalhães da; BARROSO, Maria Grasiela Teixeira; VARELA, Zulene Maria de Vasconcelos. Ensino na Universidade: integrando graduação e pós-graduação. Fortaleza, FCPC, 2000. KENSKI, V. M. A formação do professor-pesquisador: experiências no grupo de pesquisa "Memória, Ensino e Novas Tecnologias (MENT)", In: FAZENDA, I. A. C. (Org.). Didática e Interdisciplinaridade. Campinas: Papirus, 1998, 192p. p. 133-145. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos da metodologia científica. 3a edição revista e ampliada. Editora Atlas S/A, São Paulo, 1991. RANIERI, Maria Santana Soares. A construção do conhecimento em sala de aula: um estudo sobre o curso de enfermagem da Universidade do Estado do Pará - UEPA. Cejup, Belém, 1999. 294 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. SANTOS, Ana Soraya; SILVA, Euzeliz Nascimento. Metodologia do ensino de estudos sociais para o ensino fundamental. Fortaleza - Ce, UVA-CETREDE, 1999. SILVA, Raimunda Magalhães da e cols. Grupo de auto-ajuda para o cuidado de enfermagem - experiência de pesquisa, ensino e extensão. In: SILVA, ________; BARROSO, Maria Grasiela Teixeira; VARELA, Zulene Maria de Vasconcelos. Ensino na Universidade: integrando graduação e pós-graduação. Fortaleza, FCPC, 2000. SOUSA, Regina Márcia de; SANTOS, Vera Lúcia C. de Gouveia. Reflexões sobre o ensino de fundamentos de enfermagem. Atheneu: Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1989. 295 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. CRIATIVIDADE E SENSIBILIDADE COMO RECURSO PEDAGÓGICO JUNTO AOS ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM NO PROCESSO DE CUIDAR DE FAMÍLIAS DE CRIANÇAS HOSPITALIZADAS Maria da Graça Corso da Motta65, Helena Becker Issi66, A vivência com acadêmicos de enfermagem no cuidado às famílias com crianças hospitalizadas motivou a utilização de novas estratégias pedagógicas, partindo do pressuposto de que podemos pensar e cuidar da família, a partir de uma ótica que privilegia os movimentos internos e externos dos alunos/cuidadores; através da inserção de recursos facilitadores para o desvelar das possibilidades de enfrentamento da facticidade existencial de ter um filho doente e hospitalizado. Trata-se de um relato de experiência que utiliza o Método Criativo e Sensível (Cabral, 1998), com o objetivo de criar um espaço de reflexão e de vivências sobre a realidade da família que experiencia a doença do filho, bem como oferecer subsídios aos acadêmicos nas abordagens de cuidado à família no mundo do hospital. A análise compreensiva dos materiais qualitativos obtidos nas oficinas (criações artísticas, depoimentos escritos e verbais) revela que a reflexão dos acadêmicos de enfermagem acerca de suas próprias experiências no mundo familiar, possibilita a compreensão da complexidade e diversidade de cada família e o real significado da sua dor e sofrimento ao enfrentar a doença de um filho. 65 Doutora em Enfermagem. Professora Ajunta do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Coordenadora da Comissão de Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 66 Mestre em Educação. Professora Assistente do Departamento de Enfermagem Mterno-Infantil da Escola de Enfermagem do Rio Grande do sul e Chefe do Serviço de Enfermagem Pediátrica do Hospital de Clinicas de Porto Alegre. 296 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. INTRODUÇÃO A trajetória profissional e acadêmica, articulando o saber e o fazer científico, expressivo, ético e estético, num confronto de vivências que se intercruzam no envolvimento acadêmico e assistencial, revela a importância de oferecer um espaço de reflexão e vivências no processo ensino-aprendizagem. Nesse cenário, as vivências dos acadêmicos podem ser articuladas com a vida profissional, traduzindo um contexto onde eles são os atores e sujeitos da pesquisa. A Enfermagem é uma ciência e arte humanística que lida com experiência de seres humanos no processo saúde/doença, através de ações de cuidado (Nunes, 1996). O ser que cuida estabelece uma relação de ajuda com e o ser cuidado, sendo constituída de respeito, liberdade, compromisso e pelo entendimento do significado da experiência saúde/doença. A família é o referencial da criança em qualquer momento ou qualquer situação, intermediando sua existência como ser-no-mundo. A doença provoca uma ruptura no mundo da criança e uma desarticulação na organização familiar. Enfrentam um mundo novo, onde o sofrimento e o estresse são a tônica de seu movimento interno e externo. A criança precisa da mediação da família nessa realidade nova e conflitante. Para a família que vivencia a doença, os seus projetos de futuro são ameaçados. Ao enfrentar a possibilidade de perda do filho, os sentimentos de medo e de culpa são aflorados. A vida cotidiana é abalada, afasta-se da casa e dos outros filhos, o mundo familiar se desestrutura, a dinâmica familiar necessita ser redimensionada, passa a enfrentar um mundo estranho, o mundo do hospital. No complexo e multifacetado mundo da doença, a busca do equilíbrio exige a participação de todos os seres envolvidos: a família, a criança e em especial a equipe de saúde e os acadêmicos que vivificam também sua inserção no caminho do hospital. Concordamos com Ângelo, citado por Wernet (2000), quando discorre a respeito de alguns desafios na área de enfermagem da 297 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. família, destacando o pensar família e a grande responsabilidade que o ensino de Enfermagem tem pela maneira como os estudantes e, conseqüentemente, os enfermeiros pensam família. A autora afirma que é esse pensar inicial que favorece uma posterior continuidade da exploração de possíveis ações e intervenções nesta área. No processo de cuidar, o cuidador necessita estabelecer uma relação de ajuda com o ser cuidado e sua família, pautada no respeito, na liberdade, no compromisso e no entendimento do significado da experiência da doença e da realidade existencial que vivencia o grupo familiar. Com compaixão, o cuidador passa a desempenhar um papel de facilitador na adaptação da criança e da família no enfrentamento de tal facticidade existencial. Considerando a relevância do cuidado à família que enfrenta a doença do filho, é um compromisso dos docentes, durante a formação acadêmica, sensibilizar e instrumentalizar os futuros profissionais para que desenvolvam abordagens de cuidado ao núcleo familiar. Para darmos início a este estudo elaboramos o objetivo: Conhecer e desvelar o processo ensino-prendizagem para o cuidado da família da criança hospitalizada a partir das vivências e percepções de aspectos da vida em família dos acadêmicos de enfermagem. METODOLOGIA Tipo de Estudo A investigação caracteriza-se como um estudo qualitativo, utilizando o Método Criativo e Sensível ( Cabral, 1998, 1999). A pesquisa qualitativa possibilita ao pesquisador compreender o problema em seu próprio contexto (Trivinos, 1987). Polit e Hungler (1995, p.270) caracterizam a pesquisa qualitativa como holística e naturalística, que busca compreender a complexidade dos indivíduos e de seu ambiente. Acrescentam que o conhecimento sobre os indivíduos só são possíveis com a descrição da experiência humana, tal como ela é vivida e tal como ela é definida por seus próprios atores . 298 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O Método Criativo e Sensível associa a coleta de informações com as dinâmicas de criatividade e sensibilidade. Cabral (1999) descreve que nesta modalidade de pesquisa busca-se combinar ciência e arte com criatividade e sensibilidade, utilizando diferentes dispositivos para a coleta de informações, tais como: observação, entrevista e oficinas de criatividade, buscando criar uma relação dialógica-dialética entre os participantes e o pesquisador. A autora acrescenta que o método possibilita a manutenção da singularidade de cada participante do grupo que coletivisa suas experiências (Cabral, 1999, p.63). Contexto O estudo é realizado na sala de aula e Laboratório da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e na Unidade de Oncologia Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Participantes Os participantes do estudo são acadêmicos da disciplina Cuidado à Criança, oferecida no sétimo semestre do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que concordarem em participar da pesquisa. Coleta das Informações A coleta das informações ocorre em duas etapas. Na primeira etapa são realizadas oficinas com cada grupo de acadêmicos. As dinâmicas de criatividade possibilitam aos participantes e pesquisador explorarem os problemas ou questões básicas quando verificam os conceitos e as vivências dos alunos. Nesta etapa, a coleta dos dados é feita através da produção artística, depoimentos por escrito e verbal dos sujeitos sobre experiências positivas e negativas vivênciadas em família. A segunda etapa ocorre através do relato escrito dos acadêmicos após o seu contato com as famílias no hospital, onde é retratada a experiência vivenciada junto às famílias no hospital. 299 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Aspectos Éticos Os participantes são esclarecidos sobre os objetivos do estudo ao serem convidados a fazer parte da pesquisa, sendo garantido o sigilo, anonimato e a possibilidade de retirar-se em qualquer etapa da pesquisa. (Goldim,1997). É garantido ao acadêmico a liberdade da participação no estudo, sem que interfira no seu conceito. Os participantes recebem o Termo de Consentimento Informado ao dar o seu aceite em participar do estudo. O Termo de Consentimento é assinado, ficando um cópia com o pesquisado e outra com o pesquisador. Acreditamos que este estudo nos dará subsídios para avaliar o uso desta técnica no processo ensino-aprendizagem e ao mesmo tempo identificar em que medida contribui para a abordagem de acolhimento à família pelo aluno. Análise e Interpretação das Informações Para análise e interpretação das informações utiliza-se a análise de conteúdo do tipo temático, proposto por Bardin (1977). Este tipo de análise é um conjunto de técnicas que busca evidenciar os significados dos conteúdos que emergem dos depoimentos dos informantes. A análise de conteúdo de Bardin (1977) apresenta três etapas cronológicas, intimamente ligadas entre si. A primeira refere-se à préanálise, quando são organizados e escolhidos os materiais que serão utilizados, com enfoque nos objetivos da investigação. A segunda etapa é caracterizada como a exploração do material que corresponde basicamente à codificação das informações, visando a compreensão do texto. A etapa final corresponde à interpretação. Desvelando os Significados O registro que os acadêmicos fizeram das lembranças significativas vivenciadas no mundo familiar é permeada de muita emoção, tanto nas situações consideradas boas quanto nas desagradáveis . 300 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O grupo participa de forma interativa mantendo uma atitude de acolhimento, expressando seus sentimentos e, por vezes, compartilhando da vivência dos colegas, além de estabelecer relações com o seu papel de cuidador da família. ... cada um explicou o desenho e falou um pouco sobre a sua família, a cada momento uma surpresa nos emocionava e tornava aquele momento único ... a cada palavra expressa, um sentimento diferente se anunciava e dúvidas surgiam como se refletíssemos toda a nossa vida, e como nossos sentimentos se parecem e se tornam tão normais quando compartilhamos com outras pessoas. refletir sobre família que está doente , proposta da disciplina, não podemos deixar de entender tudo o que os familiares passam quando alguém da família está internado, é essencial cuidar dessa pessoa como se estivéssemos naquele lugar necessitando de apoio A forma descontraida com que o tema é abordado oferece ao grupo um momento de cuidado de si, percebendo a importância e a necessidade de cuidar do cuidador para que ele possa adquirir condições de cuidar do outro, valorizando suas particularidades e atentando para o seu entorno, isto é, seu contexto familiar, social e cultural. Para Motta (1997, p79) a equipe de saúde revela-se uma mescla de ser que cuida e, ao mesmo tempo, necessita ser cuidado. É ser de preocupação que, ao cuidar-se , cria um sistema de autorealimentação que fornece energia para centrar-se no cuidado da criança e família, vivienciadores da complexidade e difícil dimensão existencial: a enfermidade . .o método criativo/senisível despertou em mim um prazer pelo qual eu tenho, que é desenhar, então, através da pintura no papel expressei os meus sentimentos em relação à família que eu tenho . 301 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. importância do cuidar também está na compreensão dos sentimentos da família como ser humano e pessoa envolvida na doença, por isso a necessidade do profissional cuidar da família e ser compreensivo com a situação vivenciada ...concluí que todas as famílias são diferentes , mas independente do número de pessoas, todas sempre têm um mesmo ideal. Como é bom dar uma parada e refletir sobre um tema tão especial . Outro aspecto salientado nos relatos é a importância do suporte que a enfermagem pode oferecer à família que vivencia a doença do filho, principalmente a doença crônica com prognóstico reservado. ...essa oficina foi uma experiência muito rica para mim , pois descobri uma nova cara da enfermagem até hoje desconhecida " O ponto mais importante foi quando a mãe referiu que é ótimo quando se pode conversar com alguém, pois ela se sente aliviada, é uma forma de conforto..." ...na experiência vivenciada com a mãe, pude me sentir útil e acima de tudo percebi que consigo desenvolver a escuta terapêutica, recurso esse indispensável no cuidado humanizado . A reflexão leva os acadêmicos a valorizarem suas famílias, a compreenderem as diferenças e as dificuldades que elas enfrentam ao longo do seu processo evolutivo, levam-nos também a perceber, a partir de sua própria vivência ou de seu colega, que a doença no mundo familiar é uma facticidade existencial que gera sofrimento e altera a dinâmica da família, obrigando-a muita vezes a reorganizarse e desempenhar novos papéis. 302 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. REFLETINDO SOBRE OS RESULTADOS A utilização do Método Criativo e Sensível como um recurso pedagógico, tem revelado ser significativo para os acadêmicos de enfermagem e para nós docentes. Nas oficinas são criados momentos para pensar e repensar sobre as diferentes dimensões do cuidado, ampliando a compreensão da complexidade e diversidade das famílias que vivenciam a dor e sofrimento de ter um filho doente. Refletir sobre o processo de desenvolvimento das famílias, a partir da experiência do próprio acadêmico, possibilita vivenciar a humanização do cuidado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, Laurence.Análise de Contúdo.Lisboa: Edição 70, 1977. CAERAL, Ivone Evangelista. Aliança de Saberes no Cuidado e Estimulação da Criança Bebê. Rio de Janeiro: Ed. da Escola de Enfermagem Anna Nery, 1999. ______________________O Método Criativo e Sensível: Alternativa de Pesquisa em Enfermagem. In: GAUTHIER, Jacques Henri Maurice et al. Pesquisa em Enfermagem: Novas Tecnológias Aplicadas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998, p.177-203. MOTTA, Maria da Graça Corso. O Ser Doente no Tríplice Mundo da Criança, Família e Hospital: uma descrição fenomenológica das mudanças existenciais.Florianóplis: SC/ Centro de Ciências da saúde, 1997. 210p.Tese (Doutorado) Universidade Federal de Santa Caratrina, 1997. NUNES, Ana Maria Pereira. Concepções sobre o processo saúde-doença na enfermagem: ciência e arte. Texto Contexto Enfermagem. Florianóplis , v.5,n1, p.34-45, jan./jun., 1996. POLIT, Denise e HUNGLER, Bernadete. trad. Galcez, Regina Machado. Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem. 3* ed. Porto Algre: Artes Médicas, 1995. 303 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. WERNET, Monika. Enfermagem e Família: Investindo no Primeiro Passo. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v.53, n. especial, p.87-89, dez., 2000. 304 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. OS MOTIVOS DE INGRESSO EM UM CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM NA PERCEPÇÃO DE SEUS ALUNOS Thereza Maria Magalhães Moreira67 Objetivou-se investigar os motivos que levam as pessoas a procurarem um curso técnico de enfermagem.Trata-se de um estudo exploratóriodescritivo, com pesquisa qualitativa desenvolvida em fevereiro de 2002, com 56 alunos de um curso técnico de enfermagem. Os achados foram organizados em categorias temáticas e interpretados. Os aspectos éticos foram considerados. Os achados mostram que os motivos alegados pelos alunos para a procura pelo curso foram: Preocupação social, ou seja, o desejo de ajudar o próximo; Contato anterior com a profissão, por ter membros da família, ou amigos que são enfermeiros ou auxiliares de enfermagem; Gosta de cuidar, caracterizada como a aptidão natural para o cuidar; Interesse pela área, destacando o fato de já ter sido sensibilizado para o exercer suas atividades como técnico de enfermagem e o fato de sentir-se confortável nesta posição; Interesse por áreas afins, sendo esta categoria representada pelos alunos que desejam fazer o curso superior de medicina ou enfermagem; Oferta de trabalho, o que é um fator bastante forte e positivo para a área; e Vocação/ vontade própria ou de outrem, fato que já era esperado, uma vez que a vocação e vontade são condições que impulsionam o homem a tomar decisões. Conclui-se que os achados são importantes para orientação dos cursos técnicos de enfermagem, recomendando-se sua realização em outros município e estados, e também em cursos públicos de técnicos de enfermagem. 67 Enfermeira do Hospital Maria José Barroso de Oliveira (Frotinha da Parangaba), Professora de Curso Técnico em Enfermagem, Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. R. 95, 171 2ª etapa José Walter Fortaleza Ceará- CEP: 60751-110 305 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. INTRODUÇÃO No campo das políticas públicas, o setor saúde tem se destacado pela efetiva proposta de mudança, sendo um dos que mais tem avançado nas reformas administrativas, políticas e organizativas a partir do novo desenho de modelo público de oferta de serviços e ações, traduzido em instrumentos gerenciais, técnicos e de democratização da gestão. No entanto, por si sós, essas realizações não foram ainda suficientes para transformar a prática sanitária brasileira e suas reais condições de garantir a melhoria da qualidade de vida e saúde dos brasileiros (Saupe, 1998). Somos obrigados a repensar os serviços públicos, a rediscutir sua burocratização, emperramento e ineficiência, propondo alterações radicais dos seus padrões de funcionamento. E da mesma forma, chegou o tempo de inventarmos novos modos de organizar as práticas da clínica e da saúde pública.Temos que criar movimentos, situações e contextos, que favoreçam a constituição de sujeitos coletivos, ainda que inacabados, e sempre presos a diversas contradições e limitações, mas maduros o suficiente, tanto para realizar as mudanças indicadas, como para sustentá-las e renová-las no curso da vida. Vislumbrando estas mudanças na enfermagem, temos que a enfermagem teórica, representada pelas escolas e institutos de pesquisa na área, tem avançado muito no Brasil, sendo hoje conceituada e respeitada. Mas a enfermagem prática, representada pelo corpo de enfermagem (enfermeira, técnicos e auxiliares de enfermagem) dos hospitais e unidades básicas de saúde, ainda está muito aquém deste momento. É certo que a aproximação entre teoria e prática de enfermagem vem ocorrendo, mas este é um movimento lento, especialmente no que tange ao melhoramento das categorias de técnico e auxiliar de enfermagem, pois seus salários ainda são muito baixos e a jornada de trabalho é muito extensa. Além disto, em muitas capitais brasileiras, por não existir ainda a criação do cargo de técnico em enfermagem em 306 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. editais de concursos, muitos técnicos trabalham e recebem seus salários como auxiliar de enfermagem. Baseado nisto e na experiência de ensino técnico de enfermagem, objetivou-se investigar os motivos que levam as pessoas a procurarem um curso técnico de enfermagem. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, realizado por meio de pesquisa qualitativa. Esta foi desenvolvida em fevereiro de 2002, com 56 alunos de um curso técnico de enfermagem em seu primeiro dia de aula, onde lhes foi perguntado: o que o trouxe a um curso técnico de enfermagem? Os achados foram organizados em categorias temáticas e interpretados com base na literatura e na experiência da pesquisadora na área. Os aspectos éticos foram considerados, conforme se recomenda às pesquisas que envolvem seres humanos. ACHADOS Foram encontradas sete categorias temáticas: 1.Preocupação social, 2.Contato anterior com a profissão, 3.Gosta de cuidar, 4.Interesse pela área, 5.Interesse por áreas afins, 6.Oferta de trabalho e 7.Vocação/ vontade própria ou de outrem. As mesmas serão abordadas a seguir. Ajudar o próximo "Além da beleza dessa profissão, foi a sensação de ser útil e poder ajudar as pessoas, principalmente as crianças, que eu adoro". "Porque cuido de duas crianças, acho essa profissão muito bonita e gosto de ajudar as pessoas". "Ajudar as pessoas é uma coisa que eu gosto muito e este curso vai me ajudar nisto". "Nasci para ajudar o próximo e tinha que aprender como fazer isto". 307 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Um dos pontos que ainda prevalecem na área de enfermagem, especialmente no nível médio, é a associação da profissão com o ato de "ajudar o próximo". É verdade que esta é uma preocupação social louvável, mas contribui para que a enfermagem deixe de ser vista como ciência, passando a ser percebida como caridade, o que não é bom para a profissão, nem para seus profissionais. A enfermagem precisa ser vista como uma profissão como outra qualquer, que deve custear as despesas de quem a exerce, não sendo colocada como um "voto de pobreza". Esta visão da enfermagem tem associação com a origem da profissão, arraigada nos preceitos religiosos. Saupe (1998) afirma que é a partir do ano 335, quando Constantino dá liberdade de culto aos cristãos pelo Édito de Milão, que a enfermagem inicia um período de grande desenvolvimento e, até a decadência da Igreja Católica no século XIV, verificamos que, enquanto outras profissões ligadas à saúde vão se firmando por meio de experimentos e descobertas científicas, a enfermagem permanece tendo como maior suporte os aspectos da arte, do amor ao próximo e da religiosidade. Contato anterior com a profissão "Tenho uma prima que trabalha como auxiliar e me incentivou". "Minha tia é enfermeira e fala muito sobre o assunto, foi então que me interessei". "Um amigo que faz o curso à noite". "Fiz vestibular para história, não sei se vou passar, espero que sim, mas precisava fazer alguma coisa na vida e achei que enfermagem seria legal. Tenho uma irmã que é enfermeira". "Tenho uma irmã que é auxiliar de enfermagem". Vemos que, não raro, as pessoas procuram um curso técnico de enfermagem por já conhecerem mais fielmente a enfermagem, seja pelo contato com enfermeiras diretamente, ou com auxiliares e técnicos de enfermagem na família e entre amigos. Isto pode representar uma boa percepção da profissão e do profissional que lhes é conhecido, contribuindo para a formação de 308 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. um retrato mais fidedigno da enfermagem e uma escolha mais consciente do curso. Gosta de cuidar "O que me motivou a fazer o curso foi trabalhar com idosos, dando medicamentos passados pelo médico, enfim muitas outras coisas. Tive muitas dificuldades, mas com amor, responsabilidade conseguir superar tudo. Então, um dia pensei: por que não entrar para a enfermagem? Amo lutar com as pessoas, apesar de ser muito difícil". "Eu me identifico muito com esta profissão porque gosto de cuidar de gente". "Gosto de cuidar de pessoas". Observa-se que algumas pessoas referem gostar de praticar o cuidado, o que é bastante positivo, uma vez que ele é o foco da ciência de enfermagem. Mas é necessário que esta aptidão pelo cuidar receba o aprimoramento do conhecimento científico. Cianciarullo (1996) afirma que o saber específico do cuidar e do cuidado faz com que a competência e o domínio do fazer e do saber reflitam sobre o cuidado prestado. Interesse pela área "Porque admiro e gosto da profissão e gostaria de através deste alcançar os meus objetivos". "A vontade de trabalhar na área de saúde". "Porque eu acho uma profissão muito bonita e eu sempre tive vontade de trabalhar na área de enfermagem". "Adoro tudo o que se relaciona com a vida". "Quero seguir a profissão de enfermeira técnica". "É uma profissão boa e adequada". "Porque gosto da área de saúde e por curiosidade em como lidar com determinados acidentes". É notório o interesse que a enfermagem vem despertando cada dia mais nos jovens. No Ceará, observa-se um aumento da procura 309 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. pelos cursos de técnico. Isto pode ser decorrente da abertura cada vez maior de trabalho para essa área. Isto aumenta a concorrência no mercado de trabalho e serve para elevar o nível dos técnicos de enfermagem que adentraram realmente na profissão, o que é bastante positivo. Mas, deve-se destacar, conforme Lima, Araújo e Moreira (2000a) que há necessidade de avaliação contínua e da educação em serviço como forma de complementação e atualização do conhecimento da equipe de enfermagem. Interesse por áreas afins "Minha paixão pela medicina". "Estou estudando para prestar o vestibular em medicina ou fisioterapia e sou voluntária em uma escola de dança, pratico esporte e faço academia, ajudo minha mãe em casa e no trabalho dela e do meu pai, que é medico e ela é atendente dele. Além disso, o amor pela área de saúde, é ser mais um aprimoramento para o curso que eu quero me formar. As pessoas falam que área de saúde é um dar sem receber, mas gosto de ajudar enquanto eu não me formo em medicina". "A semelhança que ele tem com a profissão que eu gostaria de praticar - a medicina". "É uma forma de ir me adaptando à minha profissão, pois pretendo ser enfermeira". Vemos que muitos dos alunos que procuram o Curso Técnico de Enfermagem na verdade têm interesse em buscar uma formatura na área de saúde e, enquanto aguardam este momento, vão se aproximando da área de saúde por meio destes cursos. Outro fator observado nas universidades é o aumento expressivo da concorrência no vestibular para enfermagem. O Programa de Saúde da Família, além de outros programas do Ministério da Saúde têm contribuído para a maior valorização deste profissional, elevando a concorrência no vestibular e, conseqüentemente no mercado de trabalho, o que já está iniciando uma corrida aos cursos de pós- 310 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. graduação em enfermagem. Lima, Araújo e Moreira (2000) referem que o conhecimento científico contribui para um maior crescimento e desempenho profissional. Oferta de trabalho "Pretendo ir para a África e lá trabalharei como enfermeira, pois lá é muito carente de profissionais". "Gosto da área e quero fazer concursos públicos". "Para ingressar na vida militar". "Para adquirir uma profissão diferente, porque gosto desta profissão e já trabalho como atendente odontológica". "Tenho interesse em ingressar na aeronáutica na área de enfermagem". A oferta de trabalho realmente é um dos pontos forte em favor da maior divulgação e procura pelos cursos técnicos de enfermagem, inclusive por profissionais que já são bacharéis em outras áreas, como é o caso de uma das integrantes da pesquisa. As forças armadas têm aberto vagas para técnico de enfermagem continuamente. Além disto, são muitas as vagas para auxiliar de enfermagem nos concursos públicos, não havendo vaga para técnicos ou havendo em número menor, o que leva alguns técnicos a trabalharem como auxiliares de enfermagem, pela "segurança" do emprego público. Como vemos, não é somente o preparo profissional a chave para a solução dos problemas de enfermagem. Backes (1998) refere que o processo educacional por si só não possibilita uma transformação social, haja vista as articulações com as relações sociais de produção e os antagonismos presentes nas instituições. É necessário, portanto, que se busque maior espaço em outras áreas também, como a política, para melhorar as condições oferecidas ao trabalhador de enfermagem. Vocação/ vontade própria ou de outrem "Vocação própria, pois cancelei a faculdade de telecomunicações para buscar o que realmente sinto vontade de executar". 311 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. "Há mais de quatro anos tenho essa vontade. Agora que consegui, não vou desistir, se Deus quiser". "A grande vontade de realizar o sonho de ser técnico de enfermagem". "Sempre quis me envolver na área de saúde. Adoro, a paixão brasileira é a enfermagem". "Sempre tive vontade de fazer este curso. Agora estou tendo esta oportunidade". "Minha mãe me mandou fazer o curso". "Incentivo de amigos, familiares e também por gostar dessa área". A vocação é um fator bastante referido pelos participantes do estudo. Isto é importante porque a vocação para uma determinada área é condição básica para um bom desempenho profissional. Embora somente a vocação não seja suficiente, pois são necessários conhecimento científico e dedicação para exercer uma profissão. Complica um pouco quando esta vocação ou vontade de fazer algo é imposta por outro ou é vontade de outro. No âmbito profissional, cada um deve fazer suas próprias escolhas, pois é algo com o que teremos que conviver sempre, por isto é muito pessoal, influindo na vida profissional futura e, em uma dimensão macro, no futuro do processo cuidativo. Este, para Cianciarullo (1996) depende da estrutura de saber constituída a partir das realidades estudadas e explorada exaustivamente, o que deve ser valorizado pela equipe de enfermagem, tendo o enfermeiro como seu líder. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os motivos alegados pelos alunos do curso técnico de enfermagem para a procura pelo curso foram: Preocupação social, ou seja, o desejo de ajudar o próximo, revestido de uma percepção religiosa da enfermagem; Contato anterior com a profissão, por ter membros da família, como tia ou irmã, ou ainda amigos que são enfermeiros ou auxiliares de enfermagem; Gosta de cuidar, caracterizada como a aptidão natural para o cuidar, que requer ainda o aprimoramento técnico-científico; 312 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Interesse pela área, destacando o fato de já ter sido sensibilizado para o exercer suas atividades como técnico de enfermagem e o fato de sentir-se confortável nesta posição; Interesse por áreas afins, sendo esta categoria representada pelos alunos que desejam fazer o curso superior de medicina ou enfermagem, mas que ainda não conseguiram passar no vestibular e desejam ter uma aproximação inicial maior com a área de saúde; Oferta de trabalho, o que é um fator bastante forte e positivo para a área; Vocação/ vontade própria ou de outrem, fato que já era esperado, uma vez que a vocação e vontade são condições que impulsionam o homem a tomar decisões, no caso, de fazer o curso. Conclui-se que os achados são importantes para orientação dos cursos técnicos de enfermagem, recomendando-se sua realização em outros município e estados, e também em cursos públicos de técnicos de enfermagem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACKES, V.M.S. Relação Estado, Sociedade e Educação. In: SAUPE, R. (org.) Educação em enfermagem: da realidade construída à possibilidade em construção. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1998, Cap. 2, p. 77-86. CIANCIARULLO, T.I. Os instrumentos básicos no desenvolvimento do processo cuidativo: aprendizagem e aplicação. In: CIANCIARULLO, T.I. (org.) Instrumentos básicos para o cuidar: um desafio para a qualidade de assistência. São Paulo: Ed. Atheneu, 1996, Cap. 11, p. 151-154. LIMA, F.E.T.; ARAUJO, T.L.; MOREIRA, T.M.M. Conhecimento dos auxiliares e técnicos de enfermagem quanto aos fatores relacionados à pressão arterial. Revista Nursing, ano 3, n. 24, p. 18-23, Maio/2000. ________. Aferição da pressão arterial: conhecimento teórico e prático dos auxiliares e técnicos de enfermagem. Rev. RENE, Fortaleza, v.1, n. 2, ano 3, p. 100-106, jul.-dez./2000a. 313 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. SAUPE, R. Ação e reflexão na formação do enfermeiro através dos tempos. In: SAUPE, R. (org.) Educação em enfermagem: da realidade construída à possibilidade em construção. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1998, Cap. 1, p. 29-73. 314 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. INTEGRAÇÃO ENSINO-ASSISTÊNCIA-PESQUISA: EXPERIÊNCIA NA GRADUAÇÃO DE ENFERMAGEM Beatriz Sebben Ojeda68 Marion Creutzberg69 Valéria Lamb Corbellini70 As diretrizes para o ensino de graduação em enfermagem prevêem a inclusão de disciplinas teórico-práticas, com atividades de ensino supervisionadas, em serviços de saúde ao longo de todo o curso. Considerando as diretrizes e o Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem, Fisioterapia e Nutrição da PUCRS, desencadeou-se um processo de integração ensino-assistência-pesquisa, com o objetivo de aproximar os profissionais ao curso, às disciplinas teórico-práticas e às atividades de pesquisa desenvolvidas nas diferentes áreas do exercício profissional. O presente estudo teve como objetivos identificar a opinião dos enfermeiros assistenciais dos campos de estágio quanto aos encontros com os docentes do curso de graduação em enfermagem e analisar a percepção dos enfermeiros assistenciais quanto a sua contribuição, subsidiando o aprimoramento desta atividade. Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa. A coleta de dados foi realizada com a utilização de um instrumento contendo três questões abertas, respondido por vinte enfermeiras da área assistencial de diversos serviços conveniados. Os dados foram analisados através do método de análise de conteúdo. As categorias emergentes da análise de dados referem-se à relação docente-assistencial, à contribuição das enfermeiras assistenciais na formação do futuro enfermeiro e à contribuição na atualização contínua da equipe de 68 Enfermeira. Mestre em Educação (PUCRS). Doutoranda em Psicologia (PUCRS). Diretora Da Faculdade de Enfermagem, Fisioterapia e Nutrição da PUCRS. E-mail: [email protected] 69 Enfermeira, Coordenadora e Professora assistente da Faculdade de Enfermagem/ PUCRS. Mestre em Educação/ PUCRS. Doutoranda em Educação/PUCRS. 70 Enfermeira, Professora assistente da faculdade de Enfermagem/PUCRS. Mestre em Enfermagem/UFRGS. Doutoranda em Gerontologia Biomédica/PUCRS. 315 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. enfermagem. A partir dos resultados ficou evidenciada que a integração ensino-assistência-pesquisa é uma estratégia fundamental para unir o ser, o saber e o fazer no processo ensino-aprendizagem. Palavras-chaves: pesquisa. ensino em enfermagem, ensino-assistência- 1 INTRODUÇÃO O presente estudo apresenta percepções de enfermeiros assistenciais que participam do processo de integração ensinoassistência-pesquisa do curso de graduação em Enfermagem, da Faculdade de Enfermagem, Fisioterapia e Nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Rio grande do Sul (FAENFI / PUCRS). Ao longo da implantação do Projeto Pedagógico do Curso (Ojeda et al, 1998), iniciado em 1998, desencadeou-se uma estratégia com o propósito de aproximar os enfermeiros assistenciais, que recebem acadêmicos em seu serviço, à proposta pedagógica do curso, que inclui disciplinas teórico-práticas desenvolvidas nas diferentes áreas do exercício profissional. 2 OBJETIVOS Identificar a opinião dos enfermeiros assistenciais dos campos de estágio quanto aos encontros com os docentes do curso de graduação em Enfermagem. Analisar a percepção dos enfermeiros assistenciais quanto a sua contribuição para aprimorar esta atividade. 3 FUNDAMENTANDO O ESTUDO O acadêmico de Enfermagem, ao desenvolver estágio clínico e curricular, além de ter o enfermeiro docente como mediador na construção do seu referencial teórico-prático, conta também com o enfermeiro assistencial dos diversos serviços de saúde nesse processo. 316 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Para Nakamae (1997) o desafio que a educação do enfermeiro nos impõe relaciona-se não só a sua competência técnica, mas a sua competência crítica e política que o inclua como participante do contexto das relações no âmbito de sua atuação. Nesse sentido, no processo de ensino acadêmico observa-se que o enfermeiro assistencial, tão próximo do aluno, permanece à margem, não percebendo que ele tem um papel importante na construção da identidade profissional desse aluno. Para Medeiros, Stédile e Claus (2001), a participação do enfermeiro assistencial frente a essa complexidade pode ser feita tanto por meio de sua produção de conhecimento, como pelas relações de cuidado que ele desenvolve no seu dia-a-dia de trabalho. 4 PERCORRENDO UM CAMINHO 4.1 Tipo de Estudo É um estudo do tipo descritivo com abordagem qualitativa. 4.2 Sujeitos Participaram do estudo vinte enfermeiras da área assistencial de diversos serviços conveniados à FAENFI / PUCRS. 4.3 Coleta de dados Coleta de dados foi realizada através de um instrumento, na forma de questionário, contendo três questões abertas referentes: a sua avaliação dos encontros docente-assistenciais; a sua percepção quanto à participação dos acadêmicos e professores em sua unidade e a sua percepção quanto à contribuição no processo ensino-aprendizagem. 4.4 Análise dos dados Os dados foram analisados através do método de análise temática, apresentado por Minayo (1996). 4.5 Procedimentos éticos Respeitando os procedimentos éticos previstos pelo Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 1996), as enfermeiras que participaram, voluntariamente, preencheram o instrumento de coleta de dados que continha as informações sobre o estudo. 317 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 5 CONHECENDO OS RESULTADOS A partir da análise dos dados emergiram categorias que se referem à vivência da relação docente-assistencial, à contribuição do enfermeiro assistencial na construção da identidade profissional, à contribuição na atualização contínua da equipe de enfermagem. 5.1 Vivência da relação docente-assistencial Analisando as falas das entrevistadas, observou-se que a relação ensino-assistência-pesquisa, ao proporcionar a integração do enfermeiro assistencial ao conjunto do Projeto Pedagógico, permite que ele contribua na construção da complexidade do conhecimento. Morim (2000) enfatiza que a fragmentação das disciplinas dificulta a percepção do global e do essencial. Desta forma, as falas das entrevistadas expressam o exposto acima: Considero de suma importância a integração da faculdade com os profissionais assistenciais . ... congregam a prática e a docência . ... é preciso que haja integração, sincronia e conhecimento . ... falar a mesma linguagem para formar bons profissionais . 5.2 O enfermeiro assistencial contribuindo na construção do conhecimento Nesta categoria, através das falas, emergiu o importante papel do enfermeiro com seu exercício profissional: aproximar o aluno da prática, permitindo a relação desta com a teoria. ... o meu conhecimento... desejo de compartilhar com eles . ... é o exemplo diário em campo de estágio... ... ser o modelo para os futuros enfermeiros . Promover o aprendizado do aluno... Mostrar o melhor do meu trabalho. A paixão que eu tenho em trabalhar... Percebe-se através dos relatos o compromisso que o enfermeiro assistencial tem em compartilhar a sua prática com o aluno em campo de estágio, o que para Demo (1996) significa que a teoria precisa da 318 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. prática para ser real e a prática precisa da teoria para continuar inovadora. 5.3 Contribuição na atualização contínua da equipe de enfermagem Nesta última categoria ficou evidenciado que a presença do aluno e docente no serviço de saúde desencadeia processos de ensinoaprendizagem entre os profissionais da enfermagem, conforme os relatos abaixo: ... interagirem o profissional da Instituição e o docente, de uma forma mais estreita, com trocas freqüentes ... experiências de quem trabalha na área e atualização que a Universidade tem . Atualizar-se permanentemente... A boa comunicação entre os grupos sempre é produtiva e faz crescer . ... questionar a minha prática e mudar para o melhor... Neste sentido, utilizando as palavras de Demo (1996), a vivência prática promove o questionamento, re-elaboração constante, e como processo de inovação, precisa remeter-se continuamente à teoria. 6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Através da breve explanação sobre este estudo, nos resultados ficou evidenciada a integração ensino-assistência-pesquisa como uma estratégia fundamental para unir o ser, o saber e o fazer neste processo. Portanto se acredita que desenvolver espaços de aproximação entre ensino-assistência-pesquisa requer parceria e ousadia no sentido de encontrar alternativas para potencializar esta relação. Pelo diálogo, conforme Freire e Shor (1986), refletir juntos sobre o que sabemos e o que não sabemos, poderá, em um segundo momento, contribuir para a transformação da realidade da saúde. 319 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Referências bibliográficas DEMO, Pedro. Pesquisa e construção do conhecimento. São Paulo: Tempo Brasileiro, 1996. FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e Ousadia. O cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. MINAYO, M.C. de S. O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo Rio de Janeiro: Hucitec Abrasco, 1996. MEDEIROS, Mª. R.; STÉDILE,N. L. R.; CLAUS, S.M. Construção de competências em enfermagem. Caxias do Sul: EDUCS, 2001. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2000. OJEDA, Beatriz S. et al. Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem. Porto Alegre: FAENFI/PUCRS, 1998. NAKAMAE, Djair Daniel. Prefácio. In: SAUPE, Rosita (org.). Educação em Enfermagem: da realidade construída à possibilidade em construção. Florianópolis 320 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. REFLEXÕES SOBRE A DISCIPLINA HISTÓRIA DA ENFERMAGEM NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA NOVAFAPI Ana Maria Ribeiro dos Santos 1 Maria Eliete Batista Moura 2 O estudo é um relato de experiência referente à disciplina História da Enfermagem. Considerando a avaliação de uma disciplina de fundamental importância na reconstrução do processo ensinoaprendizagem, o trabalho objetivou: refletir sobre a importância da disciplina para o curso de graduação; conhecer os conteúdos considerados mais importantes; além de identificar pontos positivos e negativos presentes na disciplina. Os dados foram levantados através de um questionário, com perguntas abertas. Os resultados mostraram que a disciplina é muito importante pelo conhecimento que propicia sobre a Enfermagem como um todo. Como pontos positivos foram citados: a forma como a disciplina foi ministrada e os recursos utilizados. Como pontos negativos foram relatados: a falta de companheirismo e cooperação entre colegas; a insuficiência de material para pesquisa sobre a história da Enfermagem piauiense e a carga horária que deveria ser maior. Os conteúdos considerados mais importantes foram: a história de Florence; a história da Enfermagem piauiense; campos de trabalho e órgãos de classe da Enfermagem. Assim, as reflexões nos fizeram entender que a disciplina é importante, porque propicia uma visão ampla e atual da Enfermagem. Também compreendemos que algumas estratégias de ensino devem ser alteradas, de forma a proporcionar maior interação entre os alunos. Palavras-chave: História da enfermagem, ensino-aprendizagem e NOVAFAPI. 1 Professora de História da Enfermagem da NOVAFAPI, Mestre em Enfermagem. Rua Professor Madeira,1519 Horto Florestal / Teresina (PI) (86) 232-5905. Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí NOVAFAPI. 2 Professora de Fundamentação Básica da UFPI, Doutora em Enfermagem 321 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 1. Introdução Desde o início da disciplina História da Enfermagem na Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí NOVAFAPI, que nos ocorreu o questionamento sobre a importância da referida disciplina para o curso de graduação em enfermagem. Assim sendo, nos perguntávamos com certa freqüência: será importante voltar ao passado e analisar histórias tão remotas? Será isso importante na formação de um profissional consciente e transformador como é o perfil profissional traçado para o enfermeiro por esta faculdade? Concordamos com Lima (1997, p.8 e 9) quando esta autora define enfermagem como: ... arte e ciência de pessoas que convivem e cuidam de outras. É uma profissão dinâmica, sujeita a transformações e que está continuamente incorporando reflexões sobre novos temas, problemas e ações, porque seu princípio ético é o de manter ou restaurar a dignidade do corpo em todos os âmbitos da vida. Assim, compreendemos que ela deve sair das salas de aula e interagir com a sociedade, pois teoria e prática são indissociáveis e o cuidado ao cliente é fruto de reflexões profundas praticadas por uma enfermagem inserida em seu contexto histórico e social. Acreditamos também que a avaliação de uma disciplina é de fundamental importância na reconstrução do processo ensinoaprendizagem, fazendo parte, portanto de todo esse processo reflexivo. Desta forma, foi considerando todo este contexto, que o presente trabalho objetivou: Refletir sobre a importância da disciplina História da Enfermagem para o curso de graduação em enfermagem; 322 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Conhecer os conteúdos mais importantes na visão dos alunos; Identificar pontos positivos e negativos presentes na disciplina. Os dados do estudo foram levantados através de questionário com questões abertas, que foi aplicado ao final da disciplina para os alunos do período 2001 1 do curso de graduação em enfermagem da faculdade acima citada. De um total de 50 alunos, 33 responderam ao questionário que constava dos seguintes aspectos: importância da disciplina para o curso de graduação; conteúdos mais importantes; pontos positivos e negativos da disciplina. (Anexo I) As respostas foram analisadas qualitativamente procurando encontrar o núcleo das informações, sendo que a análise da questão relativa aos conteúdos mais importantes foi realizada também através de freqüência simples. 2.Reflexões De acordo com a literatura, os momentos decisivos para a história também tem sido para a enfermagem. (DONAHUE, 1985, p.2) Também Collière (1999, p.235), afirma que: para compreender a natureza dos cuidados de enfermagem temos, pois, que os situar no único contexto que lhe dê todo o seu sentido, a sua real significação, o contexto da vida, ou mais exatamente, o contexto do processo de VIDA e de MORTE a que o homen, os grupos humanos são afrontados cada dia, em todo desenrrolar de sua existência. ...Cuidar, prestar cuidados, tomar conta, é, primeiro que tudo, um ato de VIDA, no sentido de que representa uma variedade infinita de atividades que 323 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. visam manter, sustentar a VIDA e permitir-lhe continuar a reproduzir-se. Desta maneira, compreendemos que faz-se necessário estudarmos a natureza destes cuidados de enfermagem desde os seus fundamentos iniciais, pois eles tem sido permanentes na história da humanidade, para que assim possamos entender e encontrar respostas para fatos da atualidade. Nesse sentido, as respostas do questionário relativas a importância da disciplina para o curso de graduação reafirmaram este pensamento, como: É importante conhecer a história para entendermos melhor a evolução da enfermagem até os nossos dias. O estudo da história da enfermagem foi muito positivo para nossa vida futura, pois conhecendo o passado podemos compreender melhor o futuro. Foi importante para saber realmente qual a nossa função, para lutarmos pelo nosso verdadeiro espaço. Entendemos também que enquanto necessitamos manter e reforçar determinadas estratégias de ensino há outras nas quais é preciso realizar alterações para assim promover uma maior integração entre os alunos e facilitar a aprendizagem, conforme pudemos observar nas respostas abaixo em que os alunos listaram pontos positivos e negativos presentes na disciplina. Como pontos positivos citaram: Os seminários foram uma forma de aperfeiçoar a nossa comunicação com o público A forma como a disciplina foi dada nos faz ter pontos de vista Os seminários foram um incentivo à pesquisa. Os pontos negativos mais referidos foram: Existe falta de companheirismo e cooperação entre colegas, principalmente na preparação dos seminários. Há muito pouco material para pesquisa sobre a história da enfermagem piauiense É preciso explorar mais o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. 324 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A disciplina deveria ter uma carga horária maior. Entretanto, esta reconstrução do processo ensinoaprendizagem é natural e enriquecedora, e novamente citamos Collière (op.cit. p.254 e 255), que diz: Nenhum conhecimento poderia escapar ao que caracteriza os seres vivos, isto é, passar por diferentes fases de transformação e de estruturação. O problema crucial é o do princípio organizador do conhecimento, e o que é vital, nos dias de hoje, não é só aprender, não é só reaprender, não é só desaprender, mas reorganizar o nosso sistema mental para reaprender a aprender. Buscamos ainda conhecer os conteúdos considerados mais importantes na visão dos alunos sendo que estes foram analisados também através de freqüência simples, pois alguns alunos consideraram mais de um assunto como mais importante, conforme gráfico abaixo. Gráfico I Conteúdos mais importantes da disciplina História da Enfermagem, na visão dos alunos. NOVAFAPI (PI), junho de 2001. História de Florence História da Enfermagem Piauiense Campos de trabaho da enfermagem Órgãos de classe da enfermagem Fonte: NOVAFAPI 325 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Com isso observamos que, embora passados mais de cem anos, os ensinamentos de Florence Nightingale nas enfermarias militares de Scuttari e depois no St. Thomaz Hospital, em Londres, continuam oportunos e enriquecedores conforme certas afirmações contidas nos questionários, tais como: A disciplina é o alicerce para a formação profissional. A disciplina é uma preparação para ingresso no campo de trabalho. A disciplina é uma porta para o conhecimento do curso. Compreendemos também ter sido bastante oportuna a introdução da história da enfermagem piauiense no plano de curso da disciplina, que assim proporcionou uma aproximação do alunado ao seu campo de trabalho, corroborando com Germano(1993, p.21) que afirma: a compreenção de qualquer área do conhecimento se encontra estritamente relacionada com suas origens, suas raízes, tornando-se necessário buscar na história explicações para fatos ocorridos na atualidade. 3. Conclusões O estudo realizado nos permitiu fazer algumas reflexões sobre a disciplina História da Enfermagem na NOVAFAPI e nos proporcionou condições de afirmar ser a referida disciplina importante na formação de um enfermeiro consciente, transformador e inserido em seu contexto histórico e social. Algumas mudanças necessitam ser introduzidas em suas estratégias de ensino, porém todas viáveis e aplicáveis a curto prazo. Concluímos citando o que foi afirmado por alunos: A disciplina História da Enfermagem é importante pois estudando o passado e relacionando com o presente, podemos com certeza aprimorar, melhorar o futuro desta profissão. A disciplina História da Enfermagem nos deu uma visão ampla e atual para o progresso nesta caminhada profissional. 326 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 4. Bibliografia COLLIÈRE, Marie-Françoise. Promover a Vida. 2 ed. Lisboa:Lidel, 1999. DONAHUE, Patrícia M. Historia de la Enfermeria. Madri: Egdesa, 1993. GERMANO, Raimundo Medeiros. Educação e Ideologia de Enfermagem no Brasil, São Paulo: Ed. Cortez, 1985. LIMA, M. J. O que é enfermagem. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. 327 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À FAMÍLIA NO NÍVEL PRIMÁRIO DE ATENÇÃO À SAÚDE: UMA PROPOSTA DE ENSINO PARA A 2ª SÉRIE DO CURSO DE ENFERMAGEM Cristina Peres Cardoso Elaine Morelato Vilela Márcia Rosely Miyakawa Dadalti Este trabalho propõe apresentar a proposta de ensino aprendizagem para a 2 série do curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília, com a finalidade de superar as inadequações identificadas em relação a integração teórico-prática, ensino/serviço e na seleção de conteúdos durante a implementação do currículo integrado através da metodologia problematizadora que ocorre desde 1997. Enfocando para a 2 série do curso, as seqüências de suas atividades alicerçadas em grandes temas abrangendo o indivíduo nas diferentes fases do desenvolvimento humano. Tendo como estratégia a capacitação dos professores com profissionais de saúde e educação com experiência no processo ensino-aprendizagem, da metodologia problematizadora. Mestre em Enfermagem e docente da Disciplina de Enfermagem Pediátrica e atuação em Saúde Coletiva. Docente em enfermagem na disciplina gineco-obstétrica e atuação em Saúde Coletiva. Mestre em enfermagem, Doutoranda e Docente na Disciplina de Saúde Coletiva. Endereço: Rua Monteiro Lobato, 317 São Geraldo Marília/SP CEP 17.501-010 Email- cristinacard @ terra.com. Br 328 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ENSINAR FARMACOLOGIA INTEGRANDO SEU CONTEÚDO COM A PRÁTICA DA ENFERMAGEM NO CENTRO CIRÚRGICO, NA FAMEMA. Carlos A. Lazarini1 & Sueli M. Pirolo2 Objetivos A inovação do ensino de Enfermagem no Centro Cirúrgico, integrando com a Farmacologia, tornando-o motivador, levou o grupo de docentes dessas disciplinas a elaborar um programa de ensino para graduação que pudesse desenvolver um conteúdo teórico de Farmacologia tendo como referência a prática clínica de Enfermagem que ocorre no Centro Cirúrgico. O Curso de Enfermagem da Famema está estruturado para desenvolver o ensinoaprendizagem com base na metodologia da problematização, com a realidade motivando a aprendizagem. Metodologia Os 40 alunos do curso foram distribuídos em 4 grupos de 10, com 80h neste estágio, sob supervisão da docente de Enfermagem Clínica. Após aproximadamente 40h de atividade prática de cada grupo, com leitura direcionada do conteúdo específico de Farmaco (anestésicos gerais e locais, e medicação pré-anestésica), o grupo discutia este conteúdo com o docente desta disciplina a partir das experiências vividas. Ao final do estágio, o grupo era submetido a uma avaliação, com base em caso clínico, justificando as condutas. Finalizava-se o processo com a devolutiva desta avaliação e rediscussão dos conteúdos que ainda apresentavam dúvidas. Resultados e Conclusões Este processo foi aplicado aos 04 grupos observando-se que o conteúdo foi contemplado de diversas maneiras sob a vivência prática de cada um. Após a devolutiva do 2º grupo, necessitou-se retomar os conteúdos teóricos por meio de outro encontro com o docente de Farmaco. Ao término do estágio, os estudantes preencheram formatos de avaliação em que demonstraram que esta nova metodologia foi considerada satisfatória por todos os alunos. Unitermos: Enfermagem Centro Cirúrgico Farmacologia 329 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 1 Disciplinas de Farmacologia, 2Enfermagem Clínica Medicina de Marília Famema Marília SP Faculdade de INTRODUÇÃO: O movimento de mudança pelo qual o Curso de Enfermagem vem passando nos últimos 10 anos tem buscado qualificar profissionais de uma maneira inovadora que atendam às reais necessidades do mercado de trabalho, sejam críticos e éticos e tenham uma sólida formação técnico-científica. O desenvolvimento de uma metodologia de ensinoaprendizagem mais dinâmica e ativa, por parte dos estudantes, e mais contextualizada nas situações reais do mundo do trabalho, contribuiu para a revisão e reformulação da prática educacional do corpo docente do Curso de Enfermagem, redefinindo os papéis de professor e estudante e ampliando parcerias com os serviços de saúde do município (Rosa et al., 2002). Esse movimento marca um passo de intensa reflexão e análise, além de representar o permanente desenvolvimento curricular pela busca de melhoria na formação dos profissionais de saúde, em consonância com as diretrizes de graduação em Enfermagem. O Curso de Enfermagem da Famema está estruturado sob a forma de currículo integrado, e busca favorecer a articulação dinâmica entre teoria/prática e trabalho/ensino/comunidade, estando, portanto, organizado por unidades educacionais que envolvem várias disciplinas. As unidades educacionais foram planejadas de forma articulada e integrada em ralação às disciplinas, promovendo a interdisciplinaridade e favorecendo a correlação teoria e prática. A metodologia problematizadora de ensino-aprendizagem foi escolhida como estratégia para o desenvolvimento do currículo integrado, uma vez que ela considera os conhecimentos prévios do estudante e promove condições para aprender a aprender. O ensinoaprendizagem é compreendido como um processo contínuo de sucessivas aproximações. Nesta abordagem metodológica, a aprendizagem é concebida em três níveis de operações mentais: a 330 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. representação, a relação e ação, que são consideradas para que o estudante possa desenvolver e usar seu potencial intelectual. Além disso, essa aprendizagem precisa ser significativa para o estudante, ou seja, o novo conhecimento só ganha sentido (significado) quando o estudante consegue articulá-lo a um conjunto de conhecimentos prévios e perceber sua aplicabilidade. Para que isso aconteça, os estudantes precisam estar motivados no processo de ensino-aprendizagem (Ausubel et al. 1980). Portanto problematizar é o ato de buscar, relacionar um novo conjunto de informações à estrutura cognitiva do estudante. O problema, no âmbito prático ou teórico, caracteriza uma situação que envolve múltiplas possibilidades ou alternativas para sua solução. A análise do problema requer espírito crítico, reflexão, planejamento e informação para que possa buscar alternativas de solução (Rosa et. al., 2002). Uma outra estratégia que utilizamos para viabilizar nossa proposta pedagógica foi o estudo em pequenos grupos. Isto permite a troca de experiências, favorece o crescimento pessoal e profissional, permite uma relação estudante/docente mais próxima, além de proporcionar a vivência do trabalho em equipe. Sabe-se que o trabalho em grupo favorece o pensamento crítico, a criatividade, a habilidade de comunicação, a interação humana e possibilita a tomada de consciência de nossas reações no trabalho coletivo. Diante do exposto, consideramos que os papéis do professor e estudante, dentro dessa proposta ativa de aprendizagem, buscam uma aproximação com os seguintes fins: Estudante: ativo, criativo, crítico, reflexivo e participativo. Procura construir seu conhecimento a partir de indagações sobre a prática e realiza análise, interpretação e síntese do que está aprendido; Professor: orientador, provocador de dúvidas, responsável pelas tarefas de ensino-aprendizagem e considera o estudante no seu contexto social, político, econômico e outros. Deve ser o mediador do processo de ensino-aprendizagem. Com o objetivo de viabilizar esta proposta, a disciplina Enfermagem Clínica Unidade Centro Cirúrgico - que faz parte da 331 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. unidade educacional Cuidado ao Adulto Hospitalizado, desenvolveu atividades integradas com a disciplina de Farmacologia na abordagem do conceito chave: A atuação de Enfermagem no ato anestésico . METODOLOGIA: Para atender à proposta integradora de ensino-aprendizagem entre as disciplinas de Enfermagem Clínica e Farmacologia, foram realizadas atividades, no primeiro semestre de 2001, para estudantes da 3ª série, quando os mesmos tinham por objetivo de aprendizagem cuidar do adulto hospitalizado, desenvolvendo atividades teórico/práticas nas enfermarias e centro cirúrgico. Os 40 estudantes foram distribuídos em 4 grupos de 10 alunos, com uma carga horária de 80 horas no estágio do centro cirúrgico, sob supervisão da docente de Enfermagem Clínica. A experiência de aprendizagem que envolveu esta proposta está descrita a seguir: Experiência de Aprendizagem na área de Enfermagem no Centro Cirúrgico Conceito-chave Atuação da Enfermagem no ato cirúrgico. Atividades desenvolvidas no estágio de Centro Cirúrgico: 1- O aluno entra em contato com os materiais utilizados na anestesia: a) Kit anestesia há material de consumo e medicamentoso para realizar qualquer anestesia; b) Material de intubação; c) Aparelho de anestesia. 2- Observa a realização dos vários tipos de anestesia, com a explicação do ato visto pelo anestesista que realiza; 3- Busca de informações teóricas, individualmente, sobre os medicamentos utilizados para anestesia. Para isto, recordar conceitos sobre fisiologia da dor, sistema nervoso autonômico, biofísica de membrana, neurotransmissores e interação de drogas, sempre com base no mecanismo de ação das drogas; 4- Participa de discussão teórica a partir da vivência do estágio sobre anestesia e a atuação da Enfermagem no ato anestésico, com o professor de Farmacologia e de Enfermagem em Centro Cirúrgico; 332 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 5- Esclarece as dúvidas com o professor de Farmacologia no próprio campo de estágio (centro cirúrgico); 6- Realiza avaliação cognitiva escrita individual (anexo 1); 7- Participa da devolutiva da avaliação escrita, com tempo para avaliar o que escreveu na própria prova, e corrigir/complementar de maneira oral; 8- Se necessário, após devolutiva da prova, retoma discussão teórica sobre o tema, sob a forma de um novo encontro entre os estudantes e o professor de Farmacologia. RESULTADOS: Observamos que os 04 grupos apresentaram diferenças na forma de contemplar esta proposta de trabalho, uma vez que a vivência prática de cada grupo que realizava seu estágio no centro cirúrgico era diferente, ou seja, dependendo do agendamento dos diferentes tipos de cirurgia em cada período, e estes norteavam o estudo. Em relação às avaliações cognitivas, observou-se que após a devolutiva do 2º grupo, necessitou-se retomar os conteúdos teóricos por meio de outro encontro com o docente de Farmacologia sobre biofísica de membrana para um melhor entendimento do mecanismo de ação dos anestésicos locais. Ao término do estágio, os estudantes preencheram formatos de avaliação, adotados pelo curso, os quais demonstraram que esta nova metodologia foi considerada satisfatória por todos os alunos. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Esta nova proposta de integração disciplinar (Enfermagem Clínica no Centro Cirúrgico e Farmacologia) teve seu início há alguns anos atrás, por meio de algumas tentativas de integração entre estas duas disciplinas. Ao longo do tempo, e com avaliação das experiências anteriores, o grupo de docentes conseguiu elaborar o processo de aprendizagem aqui relatado até chegar a este relato de experiência aqui apresentado. Esta atividade de ensino-aprendizagem causou um certo desconforto para os estudantes, em que o principal anseio era ter que 333 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. abordar diferentes assuntos, que não estavam consolidados por todos, e que haviam sido abordados em unidades educacionais anteriores. Dessa forma, os estudantes teriam necessidade de buscar conhecimentos prévios, tais como: anatomia, fisiologia, biofísica, etc., para preencher lacunas na construção dos conhecimentos. Nesse sentido, os alunos relataram que se sentiram inseguros e angustiados pelo fato de não acreditar que fossem capazes de abordar o tema anestesia de maneira multidisciplinar e com o especialista. Ao final do estágio, no momento da devolutiva da avaliação, o relato dos estudantes estava embasado numa experiência vivida de maneira tranqüila, apesar de ter iniciado com descrédito, considerando esta nova proposta de aprendizagem bastante válida e produtiva. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Ausubel, D.P.; Novak, J.D. & Hanesian, H. Psicologia educacional. Rio de Janeiro, Interamericana, 1980. Rosa, R. S. L. et al. Introdução ao curso de enfermagem 2002. Faculdade de Medicina de Marília. Marília SP Brasil. 2002. 334 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ANEXO 01 Exemplo de 01 avaliação utilizada nesta proposta AVALIAÇÃO DE CENTRO CIRÚRGICO ENFERMAGEM 3ª SÉRIE DE NOME: _______________________________________________DATA _________ Leia e responda com atenção o caso descrito abaixo: Maria, na visita pré-anestésica para cirurgia de colicistectomia, relata que alguns anos atrás precisou fazer uma sutura na mão por acidente doméstico e que, na ocasião, sentiu a agulha entrar e sair do corte. Por este motivo, nesta cirurgia, quer dormir do começo ao fim da mesa. Ao chegar ao centro cirúrgico, relata estar com medo. Verificado sinais vitais observou-se PA= 160x120mmHg, FC= 96bpm, STO2= 96%, sendo administrado diazepam e.v. 1 ampola. Iniciou-se ato anestésico com PA= 130x90mmHg, FC= 84bpm, fazendo-se analgesia peridural e a seguir anestesia geral. Passado sonda vesical de demora, com presença de urina. O ato cirúrgico ocorreu sem intercorrências. Encaminhada para recuperação pósanestésica sonolenta, com curativo limpo no hipocôndrio direito e relatando estar com frio. Responda: 1 Como você explicaria para a Sra. Maria o fato dela ter sentido a realização da sutura sem sentir dor? Responda com base no mecanismo de ação dos anestésicos locais. 2 Qual foi o objetivo da administração do diazepam neste caso? 3 O procedimento anestésico geral é dividido em três fases. Quais são as duas primeiras, e quais são os anestésicos mais utilizados no centro cirúrgico HC1 em cada uma destas fases? 335 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 4 Descreva os cuidados a serem realizados no procedimento da sondagem vesical de demora. 5 Descreva os cuidados de enfermagem que devem ser realizados para a Sra. Maria na sala de cirurgia. 6 Justifique os cuidados de enfermagem a serem executados na recuperação pós-anestésica com relação a anestesia e os principais sinais e sintomas apresentados nesta fase. 336 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A CONTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM NA PERSPECTIVA DO APRIMORAMENTO DA QUALIDADE DE VIDA DO ENFERMEIRO Francisca Sônia de Andrade Braga Farias1 Inácia Sátiro Xavier de França2 Tanara Távora Sobreira3 O estudo teve como objetivo investigar a qualidade de vida pós-curso das doutoras egressas do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará UFC. Trabalhamos com as oito doutoras da primeira turma, as quais desempenham funções docentes e/ou assistenciais. Coletamos os dados através de questionários com seis itens abertos e seis fechados, aplicados no período de outubro a novembro de 2001. Desenvolvemos o estudo à luz do conceito de qualidade de vida a partir das necessidades humanas básicas (NHBs) segundo Maslow. As respostas colhidas evidenciaram mudanças de comportamento das doutoras em nível intra e interpessoal, bem como a conquista de maior reconhecimento profissional por parte das famílias, amigos e das instituições onde trabalham. Concluímos que a pós-graduação contribui para a promoção da auto-estima, status social, maior valorização, além de segurança pessoal e profissional, levando à melhoria da qualidade de vida dos enfermeiros. 1 Enfermeira, Doutoranda do Curso de Enfermagem da UFC, Enfermeira da Secretaria de Justiça do Ceará e Docente da Universidade de Fortaleza UNIFOR 2 Enfermeira, Professora da UEPB, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFC 3 Enfermeira, Professora da UFC, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFC 337 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 1. Introdução Como doutorandas do curso de Enfermagem estamos sempre nos questionando sobre nossa qualidade de vida no decorrer do curso. Qualidade essa que fica comprometida pela sobrecarga de trabalho e estudo. Por conta de tantas atividades as quais desempenhamos, sejam elas como profissionais, estudantes, mães, mulheres ou donas de casa, e que de repente falhamos em algo, geralmente esta falha ocorre no âmbito familiar ou social. Passamos a nos privar de atividades a que gostaríamos de nos dedicar, mas pelo fator tempo não podemos absorvê-las. Daí as interrogações: Até que ponto tanta renúncia vale a pena em troca de um título de doutora? Será que este título vai trazer algo que recompense a nossa qualidade de vida que se encontra atualmente aquém do que desejamos? Seremos reconhecidas e recompensadas nos nossos trabalhos ou ficará este título só em nível de satisfação pessoal? Pelo menos, esta última alternativa há de valer a pena. Considerando todas essas questões é que despertou em nós o interesse por trabalhar o referido tema, entre outros sugeridos pelas docentes da disciplina Avaliação Processual I, com A contribuição do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFC, na perspectiva do aprimoramento da qualidade de vida do enfermeiro . Sabemos que uma boa ou má qualidade de vida do ser humano vai refletir em todos os outros tipos de qualidade: qualidade no trabalho, na família, nas relações intra e interpessoais. Não esquecendo que a qualidade de vida que temos é de fundamental importância para nossa auto-estima, que por sua vez determina nosso bem-estar, eficiência, atitudes e comportamentos. Para Moller (1994) a palavra qualidade é utilizada de formas e significados diferentes; dependendo da cultura, da educação, da idade e da formação do indivíduo. Concordamos com o pensamento do autor, já que qualidade de vida pode ser percebida de diferentes formas por pessoas diferentes e até pela mesma pessoa, dependendo do momento e da situação. Pois como seres em permanente evolução, mudamos nossos conceitos internos e absorvemos mudanças constantes no meio que nos cerca. 338 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Falar da qualidade de vida de uma pessoa é falar de seu trabalho, de sua família, de sua vida social; de seu estado físico, mental, espiritual e emocional; do seu estilo de vida: alimentação saudável, atividade física, fuga do estresse, manutenção de um relacionamento intra e interpessoal agradável. A visão e o conceito de qualidade de vida são tão diversificados e tão abrangentes que resolvemos abordar as necessidades humanas básicas, segundo Maslow (Campos, 1989), como referencial para o nosso trabalho. O autor determina que todo indivíduo possui necessidades inúmeras que em algum momento leva a um tipo de comportamento e que a necessidade com maior força impulsiona o indivíduo para um tipo de ação. Assim, compreendemos que para se ter uma boa qualidade de vida é necessário que as NHBs estejam preenchidas. Partindo do exposto, perguntamo-nos: Como anda a qualidade de vida das colegas enfermeiras? Poderemos ter uma qualidade de vida com regime de trabalho de no mínimo oito horas? Poderemos ter uma qualidade de vida com um salário considerado irrisório por nós pós-graduandas? Como anda a nossa necessidade de segurança diante de tantas incertezas? E a nossa auto-estima? Somos reconhecidas e aceitas como deveríamos? Qual a importância de conquistar o título de doutora para a nossa qualidade de vida? Este título nos levará a uma auto-realização? Sabemos que hoje, diante da grande competitividade, faz-se necessário buscarmos um grau de qualificação cada vez mais elevado, quer o enfermeiro atue na docência quer na assistência.I Para responder a esses questionamentos é que traçamos como objetivo deste trabalho: investigar a qualidade de vida pós-curso das doutoras egressas do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFC e até que ponto a referida titulação contribuiu para melhorar sua qualidade de vida. 2. Metodologia O estudo caracteriza-se como exploratório/descritivo e realizou-se no período de outubro a novembro de 2001 em FortalezaCeará. Desenvolveu-se em três momentos: no primeiro fizemos um levantamento das teses nos arquivos do Programa de Pós-Graduação 339 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. em Enfermagem da UFC a fim de colhermos os nomes e endereços das doutoras egressas; em seguida, entramos em contato com as mesmas através de telefone para sabermos da disponibilidade de participarem do nosso trabalho. Aceito o convite, partimos para a terceira etapa, enviando, pelo correio, fax ou e-mail, o rapport (Anexo I) junto com o questionário (Anexo II), com seis perguntas abertas e seis fechadas, tendo sido previamente testado a fim de identificar alguma dificuldade na compreensão das perguntas. No prazo de oito a dez dias, recebemos os questionários devidamente preenchidos. Trabalhamos assim com as oito doutoras egressas da primeira turma de doutorado em Enfermagem. O estudo foi desenvolvido à luz do conceito de qualidade de vida a partir das NHBs segundo Maslow. 3. Discussão dos resultados Qualidade de vida é uma das necessidades humanas que requerem políticas governamentais centradas nas questões sociais como o modo de instrumentalizar as instituições e a coletividade para um eficiente desenvolvimento de estratégias direcionadas à otimização do bem-estar individual e coletivo. Por pensarmos assim, analisamos os dados coletados neste estudo à luz de uma articulação das respostas dos sujeitos aos nossos questionamentos e à literatura referenciada, sem perder de vista o contexto sócio-histórico no qual estamos inseridas. No cômputo dos dados coletados, o primeiro resultado a nos chamar a atenção foi o fato de todos os sujeitos do estudo serem do sexo feminino. Esse fenômeno reforça as afirmações da literatura de Enfermagem quando evidenciam que essa profissão possui um contingente majoritariamente feminino, o que é decorrente do processo cultural e social de tipificação sexual dos papéis a serem desempenhados pela mulher. No caso da enfermeira, a profissão é entendida como uma extensão do cuidado que as mulheres têm dispensado, historicamente, à saúde dos familiares e da comunidade, sendo esse papel transmitido através do processo de socialização (Avendaño et al, 1997, p. 116). 340 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O fenômeno nos chamou a atenção para a garra com que a mulher contemporânea, responsabilizando-se pelo próprio desenvolvimento, elabora ações sistêmicas perseguindo o alcance dos seus objetivos pessoais e profissionais. Isso nos reportou ao pensamento de D Elia (1997, p. 31), quando afirma que os profissionais que alcançam o sucesso em suas carreiras correspondem àqueles que são extremamente ativos, questionadores, responsáveis pelo próprio desenvolvimento. Esse perfil certamente é compatível com aquele de um pós-graduado, pois o indivíduo que persiste na busca do conhecimento manifesta inquietação e insatisfação profissional conseqüentes à percepção da desarticulação entre o seu presente vivido e as suas reais potencialidades. A faixa etária dos sujeitos do estudo também foi alvo de destaque. Duas doutoras encontram-se na faixa dos 31 a 35 anos; duas dos 36 a 40 anos e quatro dos 41 a 45 anos. Lozinsky (2001, p. 175) ao analisar o comportamento de profissionais inseridos em outras profissões, na mesma faixa etária da amostra desse estudo, explica que a pessoa na faixa dos trinta anos já testou as suas habilidades e começa a executar um plano de realizações profissionais definindo metas a serem atingidas nos próximos dez anos. O maior desafio é ascender profissionalmente, alcançar uma posição de responsabilidade. Normalmente esse objetivo é alcançado aos 35 anos. Profissionais nessa fase da vida não se sentem desconfortáveis em ambientes de constantes cobranças; ao contrário, sentem-se estimulados. Ainda segundo Lozinsky (2001, p.175), a partir dos 40 anos ocorre um perceptível declínio físico e o profissional procura selecionar aqueles valores pelos quais acha interessante viver. É o momento em que percebe com maior clareza as suas habilidades e limitações. Se as experiências de vida são canalizadas positivamente, essa pessoa pode ser considerada pelos demais como um expert em determinados temas, o que ajuda a rejuvenescer mentalmente. Se as experiências são canalizadas negativamente, o profissional passa a buscar metas inatingíveis que por sua vez transformam-se em instrumentos da velhice precoce e do estresse. 341 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Nas entrelinhas do pensamento de Lozinsky transparece o imaginário de que, para o mercado de trabalho, uma pessoa na faixa dos quarenta anos é alguém desacreditado, portanto com menos chance de conquistar aqueles espaços de maior status e reconhecimento social. O mercado de trabalho contemporâneo tem predileção pela ousadia e a impulsividade dos trabalhadores mais jovens em detrimento da experiência e prudência dos mais velhos. Uma conseqüência dessa atitude discriminatória é o subemprego ou a exclusão do trabalhador, cujo resultado é a contaminação da sua qualidade de vida. Em virtude desse fato, convém considerar a possibilidade de tipificação em relação àqueles pós-graduados que estão na faixa dos quarenta anos e qual a construção de sentidos desses profissionais acerca da sua qualidade de vida. Com essa intenção, perguntamos aos sujeitos do estudo: Para você, o que significa qualidade de vida? E obtivemos as seguintes respostas: É a condição de vida de um ser humano contemplando aspectos que retratam o seu bem-estar físico, psíquico, emocional, afetivo e material . Viver razoavelmente bem do ponto de vista holístico . A construção de sentidos dos sujeitos acerca do que seja qualidade de vida mantém estreita ligação com o pensamento holístico que considera o todo e as partes como formas fundantes do conjunto indissociável que é o homem. Nessa perspectiva, a qualidade de vida é sinônimo de positividade existencial, ou seja, o indivíduo precisa usufruir um viver bem e em paz, onde a tônica é a integralização do ser humano com o cosmo. A concepção holística de pessoa transcende a fragmentação reducionista que permeia a alteridade quando de sua manifestação negativa. Analisando as respostas, percebemos que as egressas, sujeitos deste estudo, falam de qualidade de vida de modo sistematizado e organizado em direitos civis, políticos e sociais, onde a conquista do direito ao bem-estar bio-psico-afetivo e econômico constitui-se o pano de fundo dessa qualidade. Esse pressuposto se confirmou durante a análise das respostas à questão: Que palavras você associa imediatamente a qualidade de vida? As respostas foram as seguintes: 342 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Saúde, paz interior, família, alegria e trabalho . Independência, moradia, família, trabalho e amor . Saúde, bem-estar, remuneração digna, amar e ser amado, paz interior . Considerando essas respostas, apreendemos que qualidade de vida é uma condição que implica reciprocidade. No bojo dessa economia simbólica, precisa estar presente a conscientização de que todos têm o direito e o dever de fazer com que os direitos conquistados prevaleçam e sejam respeitados. Como a qualidade de vida está atrelada ao posicionamento político de todos os cidadãos, no contexto societário, em defesa dos seus direitos, acreditamos que os enfermeiros também precisam articular as suas lutas com aquelas de outros profissionais e demais movimentos sociais, como o modo de buscar a transformação social que todos almejam. Reportando-nos ao modo como a categoria dos enfermeiros se mobiliza em sindicatos, pensamos que essa mobilização, em geral por parte desses sindicatos, fundamenta-se muito mais no interesse de caracterizar a diferença de formação e articulação social da categoria enfermeiro em relação às demais do que em se organizar como classe trabalhadora na defesa dos interesses do grupo contra a exploração e opressão exercida pelos empregadores. Somando-se as questões de gênero que secularmente estão impregnadas no repertório histórico dessa profissão, a postura sindical desprovida de uma visão holística e a despolitização de um número expressivo de enfermeiros, vamos detectar os elementos contaminantes e desagregadores da qualidade de vida da maioria dos profissionais de enfermagem. Numa economia capitalista, a qualidade de vida caminha de braços dados com o valor da remuneração mensal do trabalhador. São as cifras do holerite que sinalizam para o trabalhador se ele pode ou não investir em saúde, alimentação, moradia digna, educação, lazer e outras regalias do mundo das necessidades humanas básicas satisfeitas. Por essa razão, os enfermeiros submetem-se a dupla e até a tripla jornada de trabalho, buscando as condições econômicas que lhes assegurem assistência condigna e aos familiares; a conquista dos bens móveis e imóveis que atestem o seu bem-estar; o direito de constituir família; de usufruir o 343 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. lazer e perceber-se amando e sendo amado. Perseguindo esses direitos é que quatro doutoras egressas desenvolvem uma dupla jornada de trabalho como docente/assistencial. Sabe-se que o exercício de uma dupla jornada exige a organização do tempo de modo racional para o cumprimento de funções, tarefas e turnos. O fato de trabalhar em turnos provoca efeitos sobre o organismo nocivos ao ritmo biológico, ao desempenho de funções, ao sono, ao apetite e ao aparelho digestivo (Rutenfranz, 1989, p. 41). O agravo é fermentado pela impossibilidade dos trabalhadores assumirem um comportamento livre, conceituado por Dejours (1998, p. 26), como um padrão comportamental que persegue a transformação da realidade circundante em busca de uma vida mais prazerosa. Assim, o sofrimento provocado pela organização do trabalho empobrece e anula o comportamento livre, prejudica as relações psicoafetivas com os familiares, mas passa despercebido, pois os trabalhadores encontram explicação na luta pela sobrevivência para justificar as rupturas e lacunas no processo de cuidar de si e do outro em benefício da manutenção da qualidade de vida. Quando questionadas acerca da satisfação com o salário, seis egressas, envolvendo docentes e docentes/assistenciais, manifestaramse satisfeitas com a sua renda mensal. As duas que demonstraram insatisfação com a sua renda são docentes com dedicação exclusiva. A postura desse grupo é compreensível em virtude dos baixos salários que são pagos pela universidade. Se fosse realizado um estudo comparativo entre os salários de trabalhadores de nível médio, que trabalham na iniciativa privada, com os salários dos docentes de nível superior, teríamos o desprazer de constatar que em muitos casos estes ganha tanto quanto ou até menos que esses trabalhadores. Assim sendo, o consolo docente é enveredar pela pós-graduação como estratégia de melhoria salarial, manutenção do emprego e melhoria da qualidade de vida. Sabemos que durante o processo da pós-graduação, o profissional se submete ao estresse motivado pelas exigências que um curso dessa natureza requer: o afastamento dos familiares, a renúncia ao lazer e ao convívio com os amigos, entre outras. Ao refletir sobre 344 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. as considerações daí decorrentes há que ponderar os benefícios que a pós-graduação confere à qualidade de vida das egressas. Na busca de respostas a essa inquietação, perguntamos às pós-graduadas: Você percebe alguma evidência de mudança na sua qualidade de vida após o doutorado? Ao confrontar as respostas a essa questão, constatamos que quatro egressas confirmam a hipóteses de que a pós-graduação confere qualidade ao viver, pois assim se expressaram: Sim! Tenho reconhecimento, ampliação dos relacionamentos aluno-profissional-cliente, segurança e conforto para a família . Percebo uma melhora na auto-estima que, de certa forma, influencia no bem-estar pessoal. Embora não sendo uma grande quantia, a renda mensal aumentou, o que proporciona um maior conforto em nível material, satisfação pelo reconhecimento da família e de alguns amigos . Ao considerar que a relação doutorado versus qualidade de vida se sustenta no tripé do reconhecimento social, auto-estima e melhoria salarial, esse grupo reafirma a colocação anterior de que a pós-graduação é uma estratégia de manutenção do emprego, melhoria da qualidade de vida e do salário. O reconhecimento social é uma condição imprescindível para a boa aceitação do indivíduo em sociedade. Por sua vez, para ser reconhecido socialmente, o individuo precisa apresentar para os outros os símbolos que confirmem aquelas qualidades das quais se diz detentor. A conseqüência natural do reconhecimento é a elevação da auto-estima e a valorização pessoal e profissional desse indivíduo. Por fim, o reconhecimento e a autoestima elevados são pré-requisitos básicos para a manutenção da empregabilidade e conseqüente majoração salarial. Para duas das egressas, a conquista do título de doutor influenciou beneficamente na qualidade de vida, pois graças a ele o grupo obteve: ... redução da demanda de mão de obra... em outras palavras, não sou mais peão. Trabalho muito, mas tenho mais qualidade de vida . Nas sociedades capitalistas contemporâneas, a economia representa um fim em si mesmo e o processo firma suas bases nos 345 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. grupos fundamentais representados pelos trabalhadores, a quem cabe produzir e fazer circular os bens e o dinheiro, e nos grupos fundamentais dominantes formados pelos empresários cujos interesses e privilégios são preservados. Os grupos representados por políticos, dirigentes sindicais, profissionais, entre outros, criam as condições para atender aos interesses dos grupos fundamentais e dos grupos fundamentais dominantes. Como conseqüência das desigualdades que se estabelecem neste processo, a concorrência, a sobrevivência do mais forte e a insatisfação se instalam. Certamente essa é a causa básica que motivou duas das egressas a afirmarem categoricamente que o doutorado não trouxe qualquer mudança para a sua qualidade de vida. Por entendermos que a socialização do conhecimento produzido na pós-graduação contribui para modificar a realidade e melhorar a qualidade de vida da comunidade, investigamos junto aos sujeitos a incorporação dos resultados à prática e/ou sua aplicabilidade no serviço sob a forma de projetos, questionando: De que maneira o seu trabalho mudou com o doutorado? As respostas dos sujeitos sinalizaram a existência de dificuldades para que a incorporação do conhecimento aconteça. Detectamos que duas das respostas obtidas dão conta de tentativas frustradas de incorporação dos resultados: Na equipe multiprofissional (hospital) as relações se estreitam, porém ainda não visualizei o momento de se efetivar o que proponho: educação em saúde, equipe interdisciplinar, espaço institucional. Mas o tempo vai mostrar . Na universidade vou galgando um espaço de atuação profissional professor doutor e, com tal espaço, reconheço a responsabilidade na formação e aperfeiçoamento do profissional . Como esses sujeitos são profissionais que atuam no campo assistencial, compreendemos que as barreiras que cerceiam a incorporação do novo conhecimento podem fundamentar-se num leque de justificativas que vão desde o fato de a temática estudada na pós-graduação não ser do interesse da instituição; haver a possibilidade de a incorporação dos resultados onerar a instituição, ocorrer a acomodação dos demais profissionais que compõem o 346 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. quadro institucional às rotinas do serviço; desestímulo do pósgraduado para continuar tentando modificar o instituído até a incompatibilidade ideológica entre o enfoque do conhecimento produzido e aquele adotado pelos demais profissionais. Para os demais profissionais, em número de seis, que atuam no magistério, a incorporação é entendida como uma mudança de performance a estimular o melhor desempenho profissional no processo ensino-aprendizagem: As responsabilidades para com a instituição aumentaram quando assumi disciplinas na pós-graduação e orientação de mestrandas. Maior nível e qualidade de leituras, maior exigência, estudo e interesse para com a enfermagem . As respostas evidenciaram que a incorporação do conhecimento no processo ensino-aprendizagem se dá com facilidade, até porque atende à filosofia do programa, que é formar profissionais qualificados. Por isso, na medida em que o sujeito se qualifica e obtém reconhecimento é cobrado e estimulado a inovar o conhecimento para transformar a prática. Acreditamos que a incorporação e socialização do conhecimento não só contribui para o desenvolvimento científico da enfermagem como para melhorar a qualidade de vida dos profissionais. Por isso perguntamos aos sujeitos: Você adquiriu um nível adequado de conhecimentos no doutorado para ajudar na promoção da sua qualidade de vida? Obtivemos respostas que se fazem representar pelas verbalizações abaixo: Os conhecimentos adquiridos aparecem como um somatório aos conhecimentos pré-existentes. São repassados no doutorado através de leituras, discussões em grupo, discussão orientador x orientanda . Foram informações relevantes para mudanças na perspectiva de vida, evidenciando sobremaneira nas atitudes e comportamentos decisórios. Isso implica indiretamente na qualidade de vida . O grupo deixou transparecer a relevância da interação orientador-orientando na construção do conhecimento como ferramenta essencial para alicerçar e dar forma ao posicionamento dos 347 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. sujeitos da aprendizagem. A figura do orientador é vista como de fundamental importância para a formação do pesquisador. Ele é o maestro que, através de uma economia simbólica, lança mão da interação para construir conhecimento, apoiando o orientando e estimulando-o a comprometer-se com o desenvolvimento de pesquisas e contribuir para o desenvolvimento da ciência e da sociedade. Como a vida social é permeada pela economia de trocas e esta economia não é anárquica, a estruturação social decorre das ações em curso, movidas pela gramática social para fazer trocas visando o exercício do poder que implica, também, em qualidade de vida. Considerando a importância da atuação do Programa de PósGraduação no processo de construção do conhecimento no qual a presença de um clima de confiança e entendimento deve assegurar ao pós-graduando o alcance dos seus objetivos, perguntamos aos sujeitos: Na sua percepção, quais os pontos fortes do doutorado da UFC em relação à qualidade de vida das doutorandas? As posições assumidas pelos sujeitos dão conta da valorização que seis egressos imputam ao programa. O grupo aponta comportamentos tidos como positivos, que se constituem pré-requisito para a formação de novas gerações de cientistas. Incentivo à persistência na pesquisa, qualificação profissional... é uma fase de cobranças e comprometimento do aluno. É bastante estressante, podendo ser gratificante no final . Adequação e equilíbrio entre o tempo dedicado ao curso e às outras atividades. Relacionamento harmônico e produtivo entre doutorando e orientador; busca da tranqüilidade e o primor pela qualidade do curso através do coordenador e colegiado da pósgraduação . Pela análise, verifica-se que as egressas consideram como pontos fortes do Programa a relação harmônica orientador-orientanda, as características técnico-científicas e o estilo de liderança do corpo administrativo como elementos de um modelo integrativo no qual a troca de experiência, a construção coletiva e o crescimento mútuo são a tônica do processo de pós-graduação na UFC. 348 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Destoando do posicionamento do grupo anterior, duas das egressas reconhecem a positividade das características técnicocientíficas e o estilo de liderança, mas referem animosidade ao processo interativo grupal: Na minha época houve o incentivo para a leitura, publicação, discussões reflexivas, uma certa disciplina que se tornou saudável para atuação no pós-doutorado. Contudo, em certos momentos, não senti ambiente saudável, conseqüentemente não tive paz interior . Não notei um clima familiar e não tinha alegria na jornada. Mas também senti que me dedicando ao trabalho seria o meio de conseguir e entender que era uma situação adversa e relativisei o absoluto . Uma turma de pós-graduação é composta geralmente por profissionais de regiões diversas que, além de preservarem a sua individualidade, carregam consigo crenças e valores inerentes à cultura regional. Assim sendo, é comum se estabelecer a diversidade de idéias e comportamentos que, se não relativisados, desencadearão conflitos grupais baseados em características pessoais. Nessa eventualidade, é imprescindível a assunção de comportamentos que priorizem a disponibilidade, a cooperação entre os pares, a empatia e o acolhimento do diferente como o modo de quebrar as arestas que obstaculizam a instauração da amenidade grupal. 4. Conclusão Ao final do estudo, podemos constatar que, embora o conceito de qualidade de vida se apresente de formas e significados diferentes, dependendo da cultura, dos valores e da visão de cada indivíduo, os sujeitos pesquisados deixaram evidente que a pós-graduação contribuiu de forma relevante para a melhoria da qualidade de vida. Para estes, a qualidade de vida pós-curso fundamenta-se no tripé reconhecimento profissional e social, melhoria salarial e aumento da auto-estima. Na escala das NHBs de Maslow, a auto-estima se encontra a um passo da auto-realização. Isto nos leva a concluir que a pósgraduação abre caminho para que as egressas do curso de doutorado 349 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. em Enfermagem atinjam o nível mais elevado de suas necessidades, dependendo de continuarem trabalhando seu potencial, autodesenvolvimento e criatividade. 5. Considerações finais Os profissionais de enfermagem não só precisam munir-se das ferramentas que lhes assegurem a continuidade do emprego como criar estratégias que garantam o usufruto de sua qualidade de vida. As dificuldades para minimizar a ação dos estressores que podem afetar a qualidade de vida dos indivíduos constituem um problema de difícil resolução em virtude da sua gênese sócio-política-cultural. Cremos que os caminhos para a superação das dificuldades enfrentadas no exercício de qualquer profissão requerem politização, mobilização da categoria e articulação entre a categoria, a sociedade e as autoridades governamentais. Na maioria das vezes a superação dos estressores que contaminam a qualidade de vida dos profissionais depende da vontade política da categoria, dos dirigentes institucionais ou transitam no campo das ações e estratégias governamentais em prol da saúde coletiva. Sendo assim, é preciso que o enfermeiro cada vez mais assuma uma postura politizada e crítico-reflexiva como o modo de ocupar o seu espaço social e fazer valer aqueles direitos que lhe são outorgados, mas não respeitados. Pensamos que um primeiro passo para a assunção dessa conduta consiste em desenvolver as potencialidades e a criatividade individual, investir na própria capacidade, perseguir os objetivos traçados e exercitar a parceria. 350 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AVENDAÑO, Cecília et al. Riscos para a saúde das enfermeiras do setor público no Chile. In: BRÊTAS, Ana Cristina Passarela [et al]. Trabalho, saúde e gênero na era da globalização. Goiânia: AB, 1997. CAMPOS, Vicente Falconi. Gerência da Qualidade Total: estratégia para aumentar a competitividade da empresa brasileira. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1989. 187p. D ELIA, Maria Elizabete. 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A relação pedagógica para uma concepção pedagógica inovada, requer um redimensionamento dos papéis do aluno e do professor, já que eles, agora, se confundem. Nesse sentido, aplicando o princípio da simetria invertida (MEC, 2000; SHON, 2000), não são apenas os alunos que precisam conquistar competências, mas também se faz necessário que o professor conquiste competências que favoreçam a construção de uma sociedade educativa. Com o objetivo de refletir sobre estas competências que entendemos serem essenciais para a formação docente numa prática pedagógica inovada, destacamos: planejar e administrar a progressão das aprendizagens, conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação, envolver os alunos na aprendizagem, aprender e ensinar a trabalhar juntos, dominar e fazer uso das tecnologias, vivenciar e superar conflitos éticos da profissão e administrar sua própria formação como um processo contínuo (Antunes, 2000). Acreditamos que os indivíduos constróem seus conhecimentos permanentemente em interação com a realidade, com os indivíduos e colocando suas capacidades pessoais. Nessa concepção pedagógica o que se busca desenvolver não é a quantidade de conhecimento adquirido, mas a competência para acioná-los e para buscar outros a fim de construir uma sociedade igualitária e justa, num 71 Enfermeira. Doutora em Filosofia da Enfermagem. Docente do Programa de Pósgraduação em Enfermagem e do Departamento de Enfermagem da UFSC. E-mail: [email protected] 72 Enfermeira. Mestre em Assistência de Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da UFSC e Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSC. Coordenadora Pedagógica ProjetoTécnico de Enfermagem UFSC/PROFAE.e-mail: [email protected] 352 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. constante aprender a aprender. A formação do professor deve reconhecer a sua atemporalidade e permanência, ou seja, uma formação ao longo da vida. 1. A construção do Projeto Político-Pedagógico Dentre os atuais requerimentos na formação de enfermeiros está a recomposição, rediscussão e redirecionamento do Projeto PolíticoPedagógico dos cursos, quer sejam de nível profissional ou superior. Não só por determinação legal, mas, sobremaneira pela necessária articulação da formação com as perspectivas do novo mundo globalizado, o qual requer mais do que nunca o pleno exercício da cidadania, de forma que a individualidade não seja anulada e o coletivo não seja sinônimo de massificado. Como diz Gadotti e col (2000), o projeto da escola representa um desafio para todos os educadores, pois o questionamento vai além dos métodos; é preciso pensar nos seus fins. Nessa perspectiva é preciso reconhecer a importância do Projeto Político-Pedagógico para sustentar a formação profissional. Ao reconhecer que toda ação educativa é uma ação política, estamos compreendendo que a ela cabe a preparação e a capacitação política dos cidadãos. Para tanto, precisamos ter clareza de porquê, para quê e como vamos fazer a formação desses profissionais, reconhecendo o tipo de homem que queremos formar e o tipo de sociedade que queremos promover. E essa responsabilidade é nossa dos enfermeiros, quer essa formação/qualificação se dê numa relação formal, quer se dê no cotidiano do trabalho. E se queremos mudar, a construção de um Projeto Político-Pedagógico deve estar fundada nos princípios norteadores da igualdade, da qualidade, da gestão democrática, da liberdade e da valorização dos sujeitos desse processo. Portanto toda a ação de formação, toda prática educativa deve ter explícitas suas diretrizes, sua filosofia e o perfil do profissional que se deseja. O que se apresenta então é: estamos preparados para assumir este desafio? Qual foi a preparação que recebemos para assumir o papel de professores? Será que as disciplinas pedagógicas por si só podem dar 353 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. conta dessa preparação? Que papel têm as licenciaturas e os cursos de pós-graduação? E os cursos de formação pedagógica? A preparação do professor tem uma peculiaridade muito especial: ele aprende a profissão no lugar similar àquele em que vai atuar, porém numa situação invertida. Isso implica que deve haver coerência absoluta entre o profissional que deseja formar e como se constrói como professor. É preciso então, pensar a formação do professor para capacitá-lo no exercício da prática reflexiva, capaz de estimular no aluno o exercício da pergunta, possibilitando a imersão consciente do homem no mundo de sua experiência, um mundo carregado de conotações, valores, intercâmbios simbólicos, correspondências afetivas, interesses sociais e cenários políticos (Gomez, 1998, p.369).E a partir desta imersão exercitar o desenvolvimento articulado do pensamento divergente necessário para a implementação de mudanças. A relação pedagógica, nesta concepção, requer um redimensionamento dos papéis do aluno e do professor, já que eles, agora, se confundem. E então o que muda? Ambos são sujeitos do processo ensinoaprendizagem. O aluno passa a ser protagonista e co-responsável por sua aprendizagem. Sua participação ativa nesse processo é uma das condições para o alcance dos objetivos educacionais. O papel do professor consiste em facilitar esse processo; ele é um criador de oportunidades para as situações de ensino, um oportunizador das experiências necessárias, suficientemente intensas e adequadas, capazes de despertar no aluno uma atitude investigativa para fundamentar sua intervenção na realidade. 2. Competências para o professor A capacitação para o desempenho da docência precisa guardar estreita relação com os princípios que orientam o Projeto PolíticoPedagógico e favoreçam o exercício de uma prática pedagógica inovada capaz de contribuir para a construção do sujeito questionador. Esta prática pedagógica precisa estar centrada no diálogo, 354 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. fundamentada na relação dialógico-dialética entre educador e educando, numa perspectiva de educação problematizadora, como definiu Freire (1995). Numa prática pedagógica inovada é fundamental a prática da pergunta. É através desta possibilidade de abertura, de perguntar e responder, que o diálogo se estabelece. Assim, um programa de capacitação de professores precisa estar fundamentado na atitude investigativa, desenvolvendo um método pedagógico crítico-criativo, em oposição ao simples domínio do conhecimento técnico; como afirma Asmann (1998, p. 33) toda educação implica doses fortes de instrução, entendimento e manejo de regras e reconhecimento de saberes já acumulados pela humanidade. Embora importante, essa instrução não é o aspecto fundamental da educação já que este reside nas vivências personalizadas de aprendizagem (...) No mundo de hoje, o aspecto instrucional da educação já não consegue dar conta da profusão de conhecimentos disponíveis e emergentes mesmo em áreas específicas. Por isso não deveria haver tanta preocupação com a memorização dos saberes instrumentais, privilegiando a capacidade de acessá-los , decodificálos e manejá-los . Esta busca do conhecimento, este estímulo à curiosidade permite que se consolide a formação crítico-criativa do professor. Falamos da curiosidade epistemológica, aquela que busca o sentido das coisas, que impulsiona para a descoberta. É a constante necessidade de compreender para explicar, de buscar a razão de ser dos fatos. Esse desejo sempre vivo de sentir, viver, perceber o que se acha no campo de suas visões de mundo (Freire, 1995, p. 76). A formação crítica requer o despertar da curiosidade como uma predisposição para o existir. Sem a curiosidade que nos torna seres em permanente disponibilidade à indagação, seres de pergunta, não haveria possibilidade concreta do conhecer. A formação do professor precisa capacitá-lo para o pensamento crítico-criativo, para uma prática de autocrítica e adoção de uma atitude investigativa. Que competências precisa o professor conquistar para responder aos requerimentos dessa prática pedagógica? 355 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Antunes (2001), em seu livro Como desenvolver as competências em sala de aula , reflete sobre as competências do professor, reforçando que a sugestão de novos caminhos, em geral, está apontando que a essencialidade está em aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser . Ou seja, nos quatro pilares da educação propostos pela UNESCO, compreendendo que a educação se processa ao longo da vida e precisa contribuir para a realização pessoal e participação na vida em sociedade, tornando-se, então, uma dimensão da própria vida (DELORS, 2000). Nesse sentido, aplicando o princípio da simetria invertida, não são apenas os alunos que precisam conquistar competências, mas também se faz necessário que o professor conquiste determinadas competências que favoreçam a construção de uma sociedade educativa. Antunes (2001), tomando as obras de Perrenoud como referência, aponta oito competências que o professor precisa conquistar, como linhas de princípios de alguém que, necessitando definir-se a um outro, define-se antes a si mesmo (p. 81). São elas: a - Organizar e dirigir situações de aprendizagem: o professor precisa ser especialista em aprendizagens, conhecer os meios, adaptálos a sua disciplina, ao nível dos seus alunos e as condições contextuais. Para isso é necessário: Eleger e selecionar os conteúdos de acordo com os objetivos da aprendizagem; Trabalhar a partir das representações dos alunos; Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos da aprendizagem; Construir e planejar dispositivos e seqüências didáticas; Envolver os alunos em atividades que despertem a curiosidade. b - Administrar a progressão das aprendizagens: o professor precisa reconhecer a dinamicidade da relação pedagógica, do contexto em que ela se insere, tanto micro quanto macro, e das transformações que se processam ao longo da aprendizagem. Por isso necessita: 356 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Conceber e administrar situações-problema ajustadas ao nível e às possibilidades dos alunos; Adotar uma visão longitudinal dos objetivos do ensino; Estabelecer relações com as teorias subjacentes às atividades de aprendizagem; Observar e avaliar os alunos, tendo em mente sua formação ; Fazer permanente balanço de competências e tomar decisões de progressão. c - Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação: reconhecer as diferenças entre os alunos, os diferentes níveis de aprendizagem, as diferentes experiências de cada um, pensando num espaço de aprendizagem onde as diferenças sejam um recurso de otimização e enriquecimento do espaço pedagógico. Para isso o professor precisa: Ampliar a gestão de classe trabalhando a heterogeneidade; Fornecer apoio integrado e organizar espaços de recuperação; Desenvolver a cooperação entre os alunos. d - Envolver os alunos na aprendizagem, conscientizando-os de sua reestruturação de compreensão do mundo: ao professor cabe a difícil tarefa de motivar os alunos para gostar de aprender, mostrandolhes o significado daquilo que aprendem para serem sujeitos no mundo. Entusiasmar-se pelo que ensina, suscitar no aluno a paixão de aprender; Explicitar a relação entre a aprendizagem e o saber. Convidar o aluno para o desafiante jogo da transformação e estimular a alegria pelas suas conquistas; Fazer os alunos se sentirem agentes do processo; Oferecer estratégias diferentes e atividades opcionais. 357 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. e - Aprender e ensinar a trabalhar juntos: o professor precisa favorecer a compreensão de nossa condição de seres sociais e relacionais, ensinando a trabalhar juntos e aprender com nossos colegas como construir uma sociedade colaborativa. Para isso precisa pensar em: Elaborar projetos pedagógicos verdadeiramente em equipes; Buscar a instrumentalização e exercitar técnicas de ensino que favoreçam os trabalhos em grupo; Analisar em conjunto situações complexas e confiar na equipe para administrar crises interpessoais. f - Dominar e fazer uso das tecnologias disponíveis no seu tempo: reconhecer a importância das novas tecnologias da informação, compreendendo-as como importantes ferramentas para desenvolver o senso crítico do aluno, ensiná-lo a pensar melhor, aguçar suas faculdades de observação e pesquisa, sua imaginação, suas memórias e os novos horizontes de sua comunicação (p. 66). Assim precisa: Usar e ensinar os alunos a usarem editores de texto; Explorar as potencialidades didáticas do mundo virtual; Usar a internet como ferramenta de pesquisa e estimular a comunicação à distância. g - Vivenciar e superar conflitos éticos da profissão e administrar sua formação contínua e permanente: o professor precisa trazer para o espaço pedagógico o ensinamento da justiça, da beleza, da verdade e da moral, levando para a sala de aula a educação cidadã, uma formação solidária, buscando: Prevenir toda forma de violência; Lutar contra todas as formas de preconceito e discriminação; Participar da criação de regras de conduta e normas disciplinares; Desenvolver a consciência de sua profissão e o sentimento de responsabilidade, solidariedade e justiça. 358 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. h - Administrar sua própria formação como um processo contínuo: reconhecendo as diferentes dimensões do processo educativo, devendo ser criativo (buscar outras alternativas, ousar), dinâmico (ensinar a pensar, pois os conhecimentos envelhecem muito rapidamente) e reflexivo (prática de ação-reflexão cooperativa, de indagação e experimentação). Devendo o professor buscar: Libertar-se da rotina, adquirindo a ousadia e a coragem de buscar novos caminhos; Identificar e modificar aquilo que dá sentido aos saberes e às atividades escolares; Gerenciar a classe como uma comunidade educativa; Trabalhar em aula na perspectiva de formação mais ampla; Possuir um projeto pessoal de formação continuada e procurar envolver os colegas; Suscitar e animar trabalhos que estimulem projetos, animem dúvidas, despertem interrogações; Observar os alunos como indivíduos em formação para a vida Definir suas limitações técnicas, culturais e pedagógicas e identificar formas de superação; Acolher as experiências dos colegas e envolver-se nas mesmas; Buscar novas estratégias para o desenvolvimento do processo ensinar aprender; Reconhecer os limites pessoais, mas jamais renunciar ao objetivo de melhorar a sua prática pedagógica; Servir-se da avaliação dos desempenhos dos alunos como diagnóstico das limitações, propondo estratégias de superação; Auto-avaliar-se no uso e conquista das competências. 3 A educação ao longo da vida A capacitação do professor frente aos requerimentos para construção de uma sociedade educativa requer a exploração das sinergias possíveis entre o saber e o saber fazer, ou entre o viver e o saber viver juntos. Deve existir uma dinâmica entre a instituição escolar e as diferentes alternativas educativas que além de serem 359 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. complementares e de parceria, seja também um processo de transformação e um questionamento das práticas educativas tradicionais, como afirma Delors (2000). É imprescindível que haja coerência entre a formação oferecida e a prática esperada, pois ninguém promove o desenvolvimento daquilo que não teve a oportunidade de desenvolver em si mesmo (simetria invertida). Os indivíduos constróem seus conhecimentos permanentemente, em interação com a realidade, com os demais indivíduos e colocando suas capacidades pessoais. Por isso a concepção da aprendizagem deve reconhecer a sua a temporalidade e permanência. Nessa concepção pedagógica o que se procura avaliar não é a quantidade de conhecimento adquirido, mas a capacidade de acioná-los e de buscar outros para construir uma sociedade igualitária e justa, num constante aprender a aprender. Referências bibliográficas ANTUNES, Celso.Como desenvolver as competências em sala de aula. Petrópolis/RJ: Vozes, 2001. ASMANN, Hugo. Reencantar a educação-rumo a sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 33. DELORS, Jacques et all. Educação um tesouro a descobrir. 4ª ed. São Paulo: Cortez: Brasília: MEC: UNESCO, 2000. FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho d Água, 1995, p. 76. GADOTTI, Moacir e col. Perspectivas atuais da educação. Porto alegre: Artes Médicas Sul, 2000. GOMEZ, A.I. Pérez. A função e formação do professor no ensino para a compreensão> diferentes perspectivas. In: SACRISTÀN, J. Cimeno; GOMEZ, A.I. Pérez. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artes Médicas. 1998. P.353-380 360 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. COMPREENDENDO A COMPETÊNCIA INTERPESSOAL NA VIVÊNCIA DO SER-DOCENTE NO CONTEXTO RELACIONAL COM O ALUNO DE GRADUAÇÃO Rosali Isabel Barduchi Ohl* Maria Madalena Januário Leite** Este estudo teve como objetivo compreender a percepção das professoras da disciplina Enfermagem na Saúde do Adulto Institucionalizado quanto ao desenvolvimento de sua competência interpessoal na relação estabelecida com o aluno. A abordagem metodológica utilizada foi a Fenomenologia, a partir do referencial teórico de Merleau-Ponty, que permitiu destacar três temas nos discursos das docentes, referentes às suas percepções, sentimentos e reflexões. O fenômeno foi desvelado a partir das experiências subjetivas, relatadas pela professora, sobre suas vivências no relacionamento interpessoal estabelecido, sendo assim evidenciado seu mundo-vida na relação com o aluno, que pode ser refletida na síntese: a compreensão da vivência da professora de Enfermagem na Saúde do Adulto Institucionalizado quanto à sua competência para o estabelecimento da relação interpessoal junto ao aluno de graduação, que se consolidou como o fenômeno deste estudo. A conscientização da professora acontece quando, ao relatar suas experiências de relação com o aluno, reconhece ter competências e limitações quanto ao desempenho de seu papel como educadora de Enfermagem. Essa constatação possibilita o entendimento de que a docente desta disciplina necessita aprofundar a reflexão e o conhecimento a respeito do desenvolvimento de suas competências, tendo em vista o ensino do aluno como um Ser-adulto em formação, tanto em relação aos aspectos técnico-didáticos, quanto aos aspectos * Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo - SP. Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem - UNIFESP ** Professora Livre Docente do Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem da U.S.P. Endereço para Correspondência: Rua Napoleão de Barros, nº 754 - CEP: 04024002 - São Paulo - SP E-mail - [email protected] 361 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. relacionais, para que possa assim, conhecer de forma concreta como o seu ser Docente se manifesta, o que lhe possibilitará estar mais bem preparada para enfrentar as dificuldades de relacionamento vivenciadas no processo ensino-aprendizagem na Enfermagem. UNITERMOS: Relações Interpessoais, Docente de Enfermagem, Alunos de Enfermagem, Percepção. I - MINHA TRAJETÓRIA COMO DOCENTE Desde que comecei a atuar como docente na UNIFESP, tenho trabalhado junto aos alunos do curso de graduação em Enfermagem em várias disciplinas curriculares, principalmente naquelas referentes à área de Fundamentos de Enfermagem. Através desse contato, há muito tenho verificado que os alunos vivenciam diversas situações que suscitaram indagações, levando-me ao estudo deste assunto. Por assumir alguns cargos administrativos dentro do Departamento nesses últimos anos, tenho-me envolvido bastante nas questões curriculares de uma forma mais dinâmica e participativa. Pelo fato de as novas diretrizes para o ensino de Enfermagem terem sinalizado para uma mudança no paradigma vigente, baseado na estrutura de currículo mínimo, estamos hoje diante de uma nova proposta curricular, cujo fio condutor tem sido direcionado no sentido da interdisciplinariedade. Dessa forma, os professores do curso de graduação em Enfermagem da UNIFESP sentiram a necessidade de se adequarem a essa nova realidade, estabelecendo uma nova forma de desenvolvimento do ensino. E é nesse contexto que destaco a fusão ocorrida entre as disciplinas de Fundamentos de Enfermagem; Semiologia e Semiotécnica de Enfermagem; Enfermagem Clínica e Enfermagem Cirúrgica em uma única disciplina denominada Enfermagem na Saúde do Adulto Institucionalizado, que atualmente é uma das disciplinas que ministro no curso. Portanto, neste meu trabalho, busquei a reflexão e o conhecimento da realidade de ensino de minhas colegas que ministram essa disciplina formada, para que possa assim estar 362 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. colaborando para o desenvolvimento de um ensino eficaz junto aos alunos e um bom desempenho de minhas colegas docentes. II - A COMPETÊNCIA INTERPESSOAL E SUAS RELAÇÕES COM O ENSINO DE ENFERMAGEM Penso que todo profissional que lida com a educação necessita estar constantemente aprimorando seus conhecimentos para melhorar o seu modo de agir, e dessa forma poder contribuir para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem com qualidade. Assim, vejo a necessidade de o docente de Enfermagem proceder como agente formador de recursos humanos que vai lidar com o outro, desenvolvendo suas potencialidades educacionais através de uma formação específica, ampliando seu conhecimento em relação às teorias de ensino e às referentes ao relacionamento humano. Acredito também ser importante uma revisão a respeito de algumas definições vinculadas ao desenvolvimento da relação professor-aluno, o que é competência interpessoal e andragogia. Sendo assim, encontrei os trabalhos de MOSCOVICI (1985), PERRENOUD (1993,1999), PAQUAY et alli (2001) e RIOS (1995) que estabelecem estes conceitos: MOSCOVICI (1985) aborda a competência do ponto de vista das relações interpessoais, definindo competência interpessoal como a habilidade em lidar eficazmente com as relações interpessoais, de lidar com as pessoas de forma adequada à necessidade de cada uma e às exigências da situação , destacando que, para ocorrer o desenvolvimento da competência interpessoal, torna-se necessária a percepção (autopercepção, autoconscientização, auto-aceitação), habilidades relacionadas à flexibilidade perceptiva e comportamental. PERRENOUD (1999) dá sua definição de competência num sentido mais amplo, como "capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles . PAQUAY et alli (2201) também colocam sua definição a respeito de competência do ponto de vista profissional, conceituando competência profissional como "conjunto formado por 363 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. conhecimentos, savoir-faire (saber-fazer) e posturas, mas também as ações e atitudes necessárias ao exercício da profissão de professor". RIOS (1995) observa que falar de competência significa falar em saber fazer bem , sendo que ela deve ser compreendida levando-se em conta as dimensões técnica, política e ética. Procurei também encontrar trabalhos referentes a essa temática na Enfermagem que pudessem discutir quais são as competências esperadas que o professor demonstre para o ensino de nossa profissão, no contato com o aluno de graduação. Nesse sentido, o estudo de MATHEUS (1995) destaca que para superar os desafios que tem de enfrentar, nas primeiras experiências práticas de aprendizagem, a aluna sente que precisa ser notado, ser tratada como alguém em processo de crescimento e ser ajudada pela professora". Também posso destacar o trabalho de LUIZ; DAMKAUSKAS e OHL (1997) onde, ao discutirem sobre a importância da relação aluno-professor na vivência do Exame Físico de Enfermagem, observam que o aluno terá subsídios para atuar no campo de forma menos traumática e estressante a partir do momento em que o professor perceber suas dificuldades decorrentes da execução da prática, e mostrar-se disponível a buscar soluções junto com ele. Por considerar que o aluno de graduação é uma pessoa que se encontra no início de sua vida adulta, procurei também fazer uma reflexão a respeito da competência interpessoal, relacionando-a com os estudos desenvolvidos que utilizam os referenciais pertinentes ao processo de educação de indivíduos adultos. Nesse sentido, busquei os trabalhos de KNOWLES (1990) que versam sobre o ensino direcionado para indivíduos adultos, conceituando a arte e a ciência de ajudar adultos a aprenderem, como Andragogia, que tem como princípio as diferenças básicas existentes entre o Ser-adulto e o Ser-criança . Este autor ainda observa que a educação difere entre crianças e jovens, principalmente no que diz respeito à necessidade de saber, à prontidão para aprender, ao autoconceito, à orientação para a aprendizagem, à motivação e às experiências de vida, salientando que 364 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. os adultos aprendem para uma aplicação imediata nas atividades que executam, no sentido de resolver problemas e não para estocar conhecimento de utilidade eventual futura. Acredito assim que os referenciais estudados demonstram claramente a importância do desenvolvimento de competências específicas para o ensino, dentre elas a competência interpessoal, que se faz necessária tanto para professores como para os alunos, no sentido de que o processo educativo alcance seus objetivos. III - MINHAS INQUIETAÇÕES A partir do exposto, foram surgindo alguns questionamentos referentes aos sentimentos das professoras que ministram a disciplina Saúde do Adulto no estabelecimento da relação professor-aluno. A influência do relacionamento interpessoal entre professor e aluno no desenvolvimento do processo de ensino, e o preparo dos docentes do ponto de vista do conhecimento e utilização de pressupostos teóricos vinculados ao ensino é que me ajudaram a pensar este estudo. Frente a esses questionamentos e colocações, neste meu trabalho, pretendi atingir o seguinte objetivo: Compreender a percepção da docente da disciplina Enfermagem na Saúde do Adulto Institucionalizado quanto ao desenvolvimento de sua competência interpessoal na relação estabelecida com o aluno. IV - TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 1.O Porquê da Opção pela Fenomenologia de Merleau-Ponty Dentre as abordagens qualitativas, sempre tenho procurado utilizar os pressupostos da Fenomenologia, pois acredito que ela seja pertinente à concepção que tenho a respeito da realidade de mundo em que me encontro inserida. Ao pesquisar sobre a adequação da abordagem fenomenológica nos estudos educacionais, pude também constatar que as concepções apresentadas por Merleau-Ponty seriam muito adequadas ao propósito deste meu trabalho, uma vez que sua 365 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. perspectiva sempre esteve direcionada no sentido de descrever a essência dos fenômenos, sem que haja uma explicação. Sendo assim, utilizei os pressupostos da pesquisa fenomenológica, tendo como base o referencial proposto por MERLEAU PONTY (1990), o que me possibilitou uma certa segurança quanto a sua utilização. Acredito que ele é pertinente aos estudos educacionais, pois permite o alcance de uma visão mais abrangente sobre o fenômeno em questão, e dessa forma, pude fazer uma interpretação mais realista sobre o mesmo. 2. O Trilhar de uma Longa Jornada O projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa de uma instituição federal de Ensino Superior, em que foi avaliado quanto à pertinência do estudo, tendo sido aprovado sem nenhuma restrição. 2.1. Região de Inquérito Fizeram parte deste estudo sete docentes que ministram a disciplina Enfermagem na Saúde do Adulto Institucionalizado, a qual faz parte do curso de graduação em Enfermagem de uma instituição pública federal de ensino superior. Os relatos foram colhidos por meio de entrevistas gravadas, sendo norteados por uma questão básica, conforme o objetivo proposto para este trabalho: Como você percebeu a sua competência interpessoal na vivência da relação estabelecida com o aluno de graduação nos situações de ensino? 3 - Momentos da Análise Realizei a análise individual de cada depoimento obtido a partir das colocações das docentes na busca da perspectiva individual sobre o fenômeno situado na compreensão da vivência do professor de Enfermagem na Saúde do Adulto Institucionalizado junto ao aluno de graduação. 366 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. V ESTRUTURAÇÃO DOS RESULTADOS Após extrair as unidades de significado de cada discurso, foi realizado o agrupamento dessas unidades por semelhança, sendo que foram destacados os pontos-chave do estudo, referentes às percepções, sentimentos e reflexões da professora. Esses aspectos deram origem a três categorias temáticas: 1. A professora percebe a sua realidade como docente no contexto relacional com o aluno; 2. A professora demonstra vivenciar sentimentos diversos na relação com o aluno; 3. A professora faz reflexões sobre sua vivência como docente de Enfermagem. VI - DESVELANDO O FENÔMENO Acredito que, ao descrever a inter-relação existente entre os temas, pude alcançar o entendimento mais profundo sobre o tema central: a compreensão da vivência do professor de Enfermagem na Saúde do Adulto Institucionalizado quanto à sua competência para o estabelecimento da relação interpessoal junto ao aluno de graduação, que se configurou como fenômeno deste estudo. Utilizando a perspectiva fenomenológica de Merleau Ponty, pude interpretar e compreender o mundo-vida das professoras como sujeitos deste estudo a partir da relação com o aluno, tendo como base três conceitos fundamentais utilizados nos estudos fenomenológicos, que são: percepção, sentimentos e reflexão. Acredito que a compreensão das categorias temáticas, a percepção sobre sua realidade como docente no contexto relacional com o aluno, a vivência de sentimentos na relação com o aluno, e as reflexões sobre sua vivência como docente de Enfermagem, revelam a concepção de mundo-vida das professoras da referida disciplina, que é determinada pelo conjunto de significações ou de sentidos que se manifesta através das falas, demonstrando assim sua conscientização a respeito das experiências vivenciadas no contexto da relação com os alunos. 367 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O relato da professora sobre sua competência interpessoal junto ao aluno de graduação foi resultante de um ato reflexivo no momento em que foi questionada. Daí ela pôde verbalizar suas idéias e valores, a respeito de sua realidade, que norteiam o seu agir como Ser-docente. Dessa forma posso afirmar que a percepção que a docente tem de si na relação com o aluno e sobre sua realidade de ensino, foi elaborada a partir da reflexão sobre seu comportamento no cotidiano de ensino junto ao aluno. Também fica evidenciado que a conscientização que a professora demonstra ter sobre seu modo de Ser-Docente fez com que houvesse a expressão de vários sentimentos que vivencia neste contexto relacional. Esses sentimentos são revelados quando ela se mostra sensibilizada por compreender os significados emergentes do seu vivencial. Percebo, assim, que essas significações apresentadas através dos discursos traduzem, na realidade, sua consciência a respeito do seu modo de Ser-Docente, caracterizando-se como a intencionalidade proposta por Merleau-Ponty que a define como a "abertura ao mundo e a si. Logo, se penso ou tenho consciência de penso alguma coisa. Pensar exige complemento direto. O pensamento ou a consciência, para o ser, tem forçosamente um conteúdo, nem que esse conteúdo seja o próprio pensamento. Penso pensamentos... . Com base nesse referencial, imagino que a conscientização que a professora manifesta sobre sua competência interpessoal revela que essa percepção está voltada e direcionada para fora dela mesma. Essa percepção sobre si mesma só pode acontecer se estiver representada de forma concreta, sendo que o conteúdo dessa representação é real e passa a existir como fenômeno, mesmo que seja somente idealizado. Sendo assim, observo que na temática referente à percepção sobre sua realidade como docente no contexto relacional com o aluno, a professora, ao identificar suas características como docente de Enfermagem, compreende a realidade do Ser-aluno e explicita sua visão do ser-profissional enfermeiro a partir da relação estabelecida com seus alunos, demonstrando ser consciente, quanto as suas 368 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. competências técnicas ou interpessoais para o ensino, no desempenho de sua função como educadora. Essas competências são evidenciadas através da descrição das atitudes facilitadoras que adota no ensino, ao estabelecer uma relação interpessoal transparente com o aluno, dando-lhe a oportunidade de mostrar-se como pessoa, procurando ainda conhecê-lo para que possa estabelecer um vínculo mais próximo e ser capaz de compreender sua realidade como pessoa, podendo aconselhá-lo quando houver necessidade. Ao descrever essas atitudes, a professora deixa evidente a manifestação de sentimentos positivos, como a satisfação ao perceber que o seu desempenho como docente foi favorável. Dessa forma, pôde contribuir para o processo de formação profissional do aluno. Por outro lado, a professora indica também ter consciência de suas limitações quando relata situações em que ocorrem conflitos, como por exemplo, quando se percebe com menos paciência com o aluno no momento em que se sente insegura em relação à atuação desse aluno no campo, ou mesmo quando reflete sobre sua atuação e constata não haver recebido nenhum tipo de preparo formal para o exercício da docência, ou ainda para lidar com as dificuldades emocionais que o aluno demonstra vivenciar no campo de estágio. Torna evidente também que a vivência dessas situações conflitantes faz com que haja o surgimento de sentimentos negativos, como a ansiedade, insegurança, incerteza e culpa; que podem, por sua vez, suscitar outros problemas relacionais com o aluno. Dessa forma, posso inferir que o segundo tema referente à vivência de sentimentos na relação com o aluno denota que a professora tem consciência sobre as emoções positivas e negativas que experiencia no contato com o discente, principalmente porque elas estão relacionadas ao seu prazer por vivenciar o processo educativo junto ao aluno, e a existência de limitações e obstáculos referentes ao seu despreparo para lidar com situações conflitantes dessa relação. Posso também inferir que a professora demonstra ter consciência sobre a necessidade de aprimoramento quanto a sua competência técnico-didática e interpessoal-afetiva para que possa desenvolver 369 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. habilidades quanto ao saber-fazer e saber-relacionar-se, no sentido de conferir aptidão para trabalhar com as situações críticas emergentes no decorrer do processo de ensino. Acredito que, se o professor de Enfermagem tiver um ambiente favorável de relação, onde possa partilhar as dificuldades vivenciadas no processo de ensino, discutindo as possíveis alternativas para atuação, poderá ser efetivado o desenvolvimento da sua autopercepção, autoconscientização e auto-aceitação, proposto por MOSCOVICI (1985). Considerando o terceiro e último tema levantado, Reflexões da professora sobre sua vivência como docente de Enfermagem, pude perceber que a professora, ao manifestar suas opiniões quanto à estrutura universitária na qual está inserida, revela a influência desse sistema no tipo de relação que estabelece junto ao aluno no processo de ensino. Entendo também que as crenças que a mesma manifesta em relação à formação profissional do enfermeiro é que determinam o seu modo de perceber a sua realidade como Ser-docente, sendo que essas convicções, muitas vezes, podem interferir no seu comportamento junto ao aluno. Penso que as opiniões da professora refletem os princípios e valores que fundamentam seu modo de agir como educadora, desvelando, dessa forma, a compreensão mais ampla que possui a respeito do que considera importante para o exercício da docência no processo ensino-aprendizagem em Enfermagem. Acredito que as reflexões realizadas pela docente, na verdade, permeiam todo o processo de conscientização sobre seu mundo-vida, pois, ao analisar as experiências vivenciadas junto aos alunos, tendo como parâmetros suas crenças e valores, ela teve a oportunidade de alcançar o discernimento e a compreensão sobre a sua realidade como Ser-Docente no contexto das relações estabelecidas. Portanto acredito que assim tenha sido desvelado o fenômeno do estudo, evidenciado através da compreensão do mundo-vida da professora da disciplina Enfermagem na Saúde do Adulto Institucionalizado em relação ao desenvolvimento de sua competência 370 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. interpessoal com o aluno de graduação, sintetizada a partir de suas percepções, sentimentos e reflexões. VII NA BUSCA DA COMPETÊNCIA INTERPESSOAL Com base na análise e síntese realizadas, posso concluir que o objetivo proposto para este estudo, no sentido de alcançar a compreensão da vivência do professor de Enfermagem na Saúde do Adulto Institucionalizado quanto à sua competência para o estabelecimento da relação interpessoal junto ao aluno de graduação foi atingido, uma vez que as professoras revelaram seu mundo-vida na relação com o aluno, permitindo, assim, o conhecimento de sua realidade como docente na vivência da relação com o aluno através do seu modo de perceber, de sentir e de refletir sobre essa vivência. Pude perceber que a junção das disciplinas envolvidas no ensino da temática Saúde do Adulto produziu efeitos muito significativos; não somente no sentido da modificação curricular, mas principalmente no que diz respeito à dinâmica das relações estabelecidas na disciplina, entre professores e alunos bem como entre os próprios professores que a compõem. Percebi também as diferentes concepções de ensino apresentadas pelas professoras, quando nos relatos ficam evidenciadas suas crenças e valores a respeito da estrutura de ensino universitária, da própria Enfermagem como profissão, ou mesmo ao fazerem questionamentos sobre seu modo de agir junto ao aluno. Como professora que sou dessa disciplina, acredito que também se torna necessário ampliar essa reflexão no sentido de que possamos considerar o relacionamento interpessoal como uma importante ferramenta a ser trabalhada nesse grupo, não só em relação ao contato estabelecido com nossos alunos e com nossos pacientes; também, principalmente, entre nós mesmas como professoras que fazemos parte de um mesmo grupo de ensino o qual deve ser coeso quanto à linha de condução do ensino. Como professora desta disciplina, também penso ser importante ampliar a reflexão sobre nosso papel como educadoras, no sentido de 371 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. identificar nossas reais necessidades de formação para o ensino, a fim de que possamos buscar os meios para aprimorarmos nossa atuação junto aos alunos. Ao tomarmos como referência a experiência de vida do aluno, considerando-o como Ser-adulto em formação, bem como as nossas experiências como docentes, estaremos assumindo um ensino com características andragógicas, e dessa forma acredito que haverá oportunidade para o desenvolvimento das competências necessárias ao processo de formação profissional. Para que isso aconteça, penso que deverá existir abertura para poder conhecer e compartilhar nossa forma de agir como docente entre nós, professoras da disciplina, onde possamos, através da reflexibilidade e da aprendizagem, buscar o alcance da competência interpessoal para o aprimoramento do nosso Ser-docente de Enfermagem. Sendo assim, vejo que se faz necessária a criação de um espaço onde haja abertura para discutirmos, entre nós, no sentido de que possamos conhecer e desenvolver as inovações educacionais, proporcionando mudanças na didática que empregamos como educadoras, também para que possamos compartilhar nossas existências como seres humanos, expondo nossas diferenças como pessoas e como docentes de Enfermagem. Dessa forma, estaremos nos conhecendo melhor, evidenciando quais são as necessidades e capacidades especificas de cada uma, e assim, poderemos valorizar a pessoa do outro ser-docente, além de contribuir para o desenvolvimento de nossa competência interpessoal. Penso ainda que as professoras da disciplina Enfermagem na Saúde do Adulto Institucionalizado, devam ter sempre em mente que para saber-ensinar com competência, além do saber-fazer, é essencial reconhecer-se como um ser em evolução que necessita saber-aprender, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento das relações interpessoais no contexto do ensino. Concluo então este trabalho, considerando que se torna importante criarmos oportunidades para a discussão de nossas vivências, onde, através da reflexão, iremos conhecer melhor a nós 372 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. mesmos e aos outros colegas, compreendendo de forma concreta a nossa prática docente, e assim estaremos mais bem preparados para, conjuntamente, enfrentarmos as dificuldades de relacionamento que experienciamos no contato humano, seja ele pessoal ou profissional. XIV - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, R.C.G.;MONTEIRO, B.N. 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AS TRANSFORMAÇÕES NO ENSINO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM: CONSTRUINDO COMPETÊNCIAS PARA PRÁTICAS INOVADORAS EM SAÚDE COLETIVA Maria Amélia de Campos Oliveira1 Maria Teresa Silva de Freitas2 Romy Giovanazzi2 Esta investigação integra a linha de pesquisa que estuda as bases teórico-metodológicas da enfermagem em saúde coletiva. Sua finalidade é refletir sobre as transformações no ensino de graduação em Enfermagem ensejadas pelas novas Diretrizes Curriculares emanadas da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação, suas possibilidades e limites para a construção de competências necessárias à proposição e à implementação de práticas inovadoras no campo da saúde coletiva. Justifica-se a sua realização face ao acúmulo de conhecimentos da enfermagem em saúde coletiva no Brasil, especialmente na última década, para fazer frente às transformações e às ampliações do campo da saúde coletiva direcionada ao atendimento das necessidades de saúde da população. Há ainda que considerar a institucionalização do Sistema Único de Saúde que, no momento atual, se vale da estratégia do Programa de Saúde da Família para viabilizar a reorganização das práticas assistenciais no âmbito dos serviços de saúde, demandando assim a constituição de novos perfis profissionais em consonância com as transformações do processo de produção em saúde. Palavras-chave: saúde coletiva, competências, ensino. 1. 2. Professora doutora do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da USP. E-mail: [email protected]. Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da USP. Bolsista de Iniciação Científica do CNPq. E-mail: [email protected] e [email protected]. 378 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. INTRODUÇÃO A nova Lei de Diretrizes Bases da Educação, de 23 de dezembro de 1996, atribui a responsabilidade da educação à família e ao Estado e reforça a tendência profissionalizante hoje vigente, na qual a formação global é escassamente considerada. A LDB trouxe novas responsabilidades para as Instituições de Ensino Superior (IES), docentes, discentes e sociedade, pois permite a formação de diferentes perfis profissionais a partir da vocação de cada curso/escola, esperando melhor adaptação ao mundo do trabalho , já que as instituições passaram a ter liberdade para definir parte considerável de seus currículos plenos. No 20 SENADEN, realizado em Florianópolis em 1997, dentre os problemas identificados relacionados ao ensino de enfermagem no Brasil, estava o fato de não estarem sendo formado profissionais (nos três níveis) com capacitação para intervir criticamente na realidade da saúde. Assim, deixava-se de produzir um impacto positivo nas condições da vida da população. Nos problemas referentes ao ensino de graduação, destacava-se a existência de muitos cursos com ênfase no modelo biomédico, com dissociação entre teoria e prática. Já em 1998, foi realizado o 30 SENADEN, no Rio de Janeiro, que delineou o perfil da enfermeira cujas características foram assim sintetizadas: profissional generalista, crítico e reflexivo, com competência técnico-científica, ético-político, social e educativa (SENADEN, 1998). Nessa ocasião, deliberou-se que as IES deveriam compor cursos respeitando o mínimo de 4.000 horas/aula e oito semestres letivos. O estágio curricular deveria ser no mínimo de 500 horas, sob coordenação docente e contando com a participação de enfermeiras dos serviços de saúde. Esse estágio não poderia substituir o ensino clínico e deveria contar com a presença de docente, sendo previsto como atividade complementar (BRASIL, 1999). A flexibilidade contida na nova LDB dá às IES liberdade para determinar o perfil do aluno que desejam formar, porém o ensino tem sido determinado pelos interesses dominantes, voltados para um 379 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. mercado de trabalho que atende às necessidades de uma minoria. Profissionais e educadores devem estar atentos e compromissados com um ensino que proporcione mudanças capazes de atender à sociedade e às suas necessidades de saúde. A Enfermagem tem procurado construir um corpo específico de conhecimentos em busca de autonomia e especificidade. As teorias de Enfermagem representam uma tentativa nessa direção, porém enfocam predominantemente a prática hospitalar, o combate às doenças e a recuperação da saúde. A dimensão coletiva voltada para a promoção da saúde e da prevenção do adoecimento dentro da perspectiva do ensino tem sido praticamente desvinculada das teorias da Enfermagem. A compreensão mais crítica da articulação entre educação e saúde é enfatizada no âmbito da Saúde Coletiva que procura situar o indivíduo em um contexto sócio-cultural específico, bem como compreender a determinação social do processo saúde-doença (MEYER, 1998). Frente às Diretrizes Curriculares é necessário analisar a proposta atual e redimensioná-la para garantir a flexibilidade prevista na Lei, sem, contudo, se desviar dos eixos norteadores definidos coletivamente. Segundo MOURA; MEDEIROS (1997) as instituições formadoras da força de trabalho em enfermagem devem construir marcos teóricos que tenham como base o paradigma da determinação social do processo saúde-doença e o potencial transformador da educação. Para ARANTES (1999), as mudanças conceituais em direção aos pressupostos da Saúde Coletiva dependem da formação dos docentes, e não apenas das mudanças das terminologias contempladas no currículo mínimo e posteriormente nas diretrizes curriculares. Há necessidade de formação e requalificação dos trabalhadores da saúde, em especial os da enfermagem, visando: o desenvolvimento de habilidades e competências para o diagnóstico das condições de vida e saúde dos grupos sociais de um determinado território, o planejamento da intervenção em saúde no enfrentamento dos 380 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. determinantes do processo saúde-doença, a prestação da assistência e o desenvolvimento de ações educativas que fomentam a autonomia e a eqüidade. Devendo as políticas sociais assumirem a defesa de outros interesses que não os de natureza lucrativa e acumulativa em prol da promoção da eqüidade. As IES devem, contudo, propiciar o desenvolvimento de competências, no sentido que lhes atribui (PERRENOUD, 1999): as capacidades de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, com base nos conhecimentos adquiridos, mas sem restringir-se a eles, pois os conhecimentos são representações da realidade, construídos e armazenados em função da experiência e da formação, enquanto que as competências são capacidades para os utilizar, integrar ou mobilizar, a depender do problema em questão . As competências implicam encontrar, identificar e mobilizar conhecimentos que darão suporte à solução de problemas. Os processos de ensino-aprendizagem proporcionam situações nas quais os conhecimentos atuam como recursos necessários para a realização de tarefas. O saber da enfermagem, expresso sob a forma de conhecimentos, habilidades e competências, constitui um dos instrumentos de trabalho em enfermagem e mantém uma relação de estreita vinculação com os objetos recortados para a intervenção. A Saúde Coletiva, campo de saberes e práticas, permite recortes mais inclusivos desses objetos, na medida em que procura apreendêlos nas suas dimensões: singular, particular e geral. Este trabalho consta de pesquisa-ação que tem por finalidade possibilitar a reflexão sobre as transformações ensejadas pelas novas Diretrizes Curriculares no ensino de graduação em Enfermagem, emanadas da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação, bem como suas possibilidades e limites para a construção de competências necessárias à proposição e à implementação de práticas inovadoras no campo da saúde coletiva. 381 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. OBJETIVOS - Identificar e problematizar os conhecimentos, as habilidades e as competências necessários à intervenção de enfermagem em saúde coletiva; - Confrontar tais instrumentos com aqueles identificados nos discursos de enfermeiras assistenciais de serviços públicos de saúde; - Definir e validar os conhecimentos, as habilidades e as competências necessários para a intervenção de enfermagem no processo de produção em saúde no contexto do SUS; - Identificar os limites e possibilidades ensejadas pelos projetos pedagógicos para o desenvolvimento desses conhecimentos, habilidades e competências nos cursos de graduação em Enfermagem. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DE O referencial teórico-metodológico adotado para este estudo é a vertente aplicativa para a pesquisa da Teoria de Intervenção Práxica da Enfermagem em Saúde Coletiva (EGRY, 1996). As âncoras epistemológicas desta teoria estão no conceito de historicidade, de dinamicidade e de práxis. A historicidade pode ser expressa através da compreensão da superestrutura político-ideológica e das transformações do modo de produção da sociedade. Por dinamicidade entende-se que toda a realidade social está em contínua transformação, sofrendo sucessivas modificações no tempo e no espaço. As categorias de análise do estudo são: a) saber-instrumental: superação do modelo clínico para o modelo epidemiológico; b) perfis epidemiológicos: processos de produção e reprodução sociais, decompostos a partir das formas de vida e trabalho, demografia, perfis de saúde-doença dos grupos sociais; c) categorias sociais: classe social, gênero, geração e raça/etnia. 382 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: BASE EMPÍRICA DE DADOS A base empírica dos dados é constituída primordialmente pelos cenários de operacionalização dos projetos que vem desde 1994, sendo estudados pela autora do projeto matriz: São Paulo Capital, João Pessoa e Belo Horizonte. Os cenários alvos desta pesquisa foram selecionados a partir do critério de ter desenvolvido o Projeto de Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva (CIPESC) com a participação intensa dos profissionais da academia e dos serviços, além de ser campo de prática de alunos dos cursos de enfermagem nos níveis de graduação, pós-graduação e de pesquisa de enfermagem. Justifica-se a adoção de tal critério pelo fato de haver possibilidades maiores de discussão e reflexão da prática, além do incremento de produção e renovação do saber, propiciando a construção e revisão dos marcos teórico-conceituais da enfermagem em saúde coletiva através da compreensão dos instrumentos e processo de trabalho. Adicionalmente das instituições ou serviços utilizados como referência para o ensino de campo das atividades teórico-práticas desta área, serão levantados: estrutura e organização; programas e atividades desenvolvidas; inserção do estudante de graduação nas atividades; perfis epidemiológicos da população da área de abrangência e perfil assistencial do serviço. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ARANTES, C. I. S. Saúde coletiva: os (des)caminhos da construção do ensino de enfermagem. São Paulo, 1999. 202p. Tese (Doutorado) Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo. 2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM. Documento final da Reunião Nacional de Cursos e Escolas de 383 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Graduação em Enfermagem: Carta de Florianópolis. Florianópolis, 1999. 3. BELLONI, I. A educação superior na nova LDB. In: BRZEZINSKI, I (org.) LDB Interpretada: diversos olhares se intercruzam. São Paulo, Cortez, 1997. p.123-40. 4. 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A educação profissional de nível técnico e a estratégia Saúde da Família renova-se o desafio. Ver. Brás. Enf., v.53, n.especial, p.61-9, d 385 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO CURRICULAR Daniele Catelan1 Fabiana Diniz Lameira2 Renata Shimizu Locatelli da Rosa3 A Faculdade de Medicina de Marília, diante das mudanças na formação de recursos humanos e impulsionada pelo ideário UNI, passou por processo de mudanças para a enfermagem e medicina. Em 1998, implementou o novo currículo para enfermagem, que visa através da realidade viabilizar o aprendizado ativo. A Interação Comunitária (IC) é uma Unidade Educacional comum dos dois cursos que, consolida as metas dos projetos políticos pedagógicos no campo da prática. É baseada na problemática de saúde com enfoque na comunidade, preparando o aluno para o trabalho em equipe multiprofissional e interdisciplinar. Esta dinâmica está em contínuo 73 processo de ação-reflexão-ação dos componentes (ensino-serviçocomunidade). Neste processo, deparou-se com diversos problemas e desafios que surgem apontados no Fórum IC . Este, organizado pelo Diretório Acadêmico de Enfermagem, surgiu da necessidade discente de caracterizar as fragilidades e fortalezas da Unidade Educacional IC. Houve a participação do 1º ao 3º ano de enfermagem 2001, docentes, coordenadores de curso, graduação e IC. O Fórum aconteceu em dois períodos, no 1º foi apresentado a IC e os participantes divididos em 4 grupos de discussão (GD), no 2º foram expostos e discutidos, os resultados em plenária, para confecção de um relatório para ser enviado aos órgãos competentes. As propostas obtidas foram: o perfil do docente-instrutor; a maior autonomia do grupo; conteúdo da IC; quantidade ou qualidade e avaliação. Na realização deste trabalho, foi 73 Estudante de Graduação em Enfermagem. Estudante de Graduação em Enfermagem. Docente da Disciplina em Saúde Mental/Psiquiátrica e Coordenadora do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília. 2 3 386 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. possível adquirir uma visão global da Unidade IC, para a contribuição ativa dos discentes nas mudanças curriculares. Introdução A formação de recursos humanos para a área de saúde apresenta uma série de problemas que tem sido assunto de debates, estudos e pesquisas. Dessa forma, as formações profissionais sofrem mudanças a cada momento histórico. Principalmente a partir da década de 70, uma seqüência de projetos, planos e programas foram apresentados, mas ainda eram insuficientes, pois mantiveram o exemplo e o modelo das escolas tradicionais. É importante destacar dois programas que tiveram muita influência na formação de recursos humanos na saúde: Programa de Integração Docente-Assistencial (PIDA) e o UNI - Uma Nova Iniciativa na educação de profissionais de saúde em união com a comunidade. O PIDA, da década de 80, veio como tentativa de articulação ensino-serviço, porém nos estudos de avaliação, segundo ALMEIDA (1997) não foi suficiente para mudanças mais profundas e duradouras. Durante esse período, vários outros estudos e propostas surgiram de transformação na educação. O UNI, da década de 90, que é composto por três parceiros: academia, serviço e comunidade. O propósito do programa seria o desenvolvimento integrado de modelos inovadores na educação e atenção a saúde e o desenvolvimento de lideranças. Novos modelos de ensino-aprendizagem para a formação de melhores profissionais de saúde, novos modelos de sistemas locais de saúde para melhorar a qualidade da assistência prestada e novas lideranças que, com ênfase na ação comunitária, contribuam para desenvolver, institucionalizar e difundir os modelos . (KISIL E CHAVES 1994). O ideário UNI impulsionou a discussão e transformação curricular do curso de enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA). Esta, entre os anos de 1992 a 1997, passou por processo de mudanças e em 1998 o novo currículo de Enfermagem foi 387 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. implementado. Esta transformação curricular passou a ser inovadora para os docentes do curso, do ponto de vista pedagógico, a partir do momento que passou a ser realizado coletivamente. A partir dessas discussões coletivas definiu-se que: currículo é a totalidade das situações de ensino aprendizagem, planejadas, intencionalmente pelo coletivo da escola, que visa proporcionar experiências direcionadas aos objetivos educacionais desse curso. Deverá ser repensado constantemente. E desta forma não se constituindo em um conteúdo cristalizado . (CHIRELLI et al, 1997). No curso da Enfermagem, a metodologia problematizadora estimula o(a) estudante a buscar o embasamento teórico, ou seja, construir seu conhecimento, de modo ativo num exercício contínuo e formular estratégias com base na visão crítica, reflexiva e humanizada na qual o problema é obtido através da realidade. O curso de Medicina, utiliza o método baseado em problemas ( PBL), ou seja , casos em forma de problemas de papel , com base nos perfis demográfico e epidemiológico, que devem antecipar os problemas cotidianos da prática profissional. Em ambos os currículos, os eixos norteadores são: aprendizagem baseada em problemas, orientados a comunidade e centrado no aluno. De acordo com o eixo de orientação à comunidade surge à proposta de uma unidade educacional Interação Comunitária comum dos dois cursos que, consolida as metas dos projetos políticos pedagógicos no campo da prática. (anexo 1). Interação Comunitária Interação Comunitária (IC) é uma nova proposta educacional baseada na comunidade, com estratégia de ensino-aprendizagem ativa, interdisciplinar, seguindo os três componentes citados anteriormente (anexo 3). Esta unidade educacional está no contexto dos dois currículos e é desenvolvido nas três primeiras séries dos cursos conjuntamente e na quarta série atua separadamente, cuja carga horária anual é de 120 horas. Esta Unidade visa o desenvolvimento e aprimoramento integrado de conhecimentos, atitudes e habilidades. Os 388 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. estudantes trabalham em grupo durante os três anos, formado cada um por 8 alunos da Medicina e 4 alunos da Enfermagem (80 e 40 respectivamente), sob a orientação de um docente-instrutor. Nessas novas propostas pedagógicas dos currículos, os estudantes são inseridos em campo desde as primeiras séries através da IC, visando preparar os alunos para o trabalho em equipe multiprofissional, formando profissionais críticos e comprometidos com os problemas sociais e de saúde do país e municípios. Marília possui atualmente 180.000 habitantes, a zona urbana foi dividida em regiões 1 e 2 e as pertencentes ao Programa de Saúde da Família, todas as USF`s (7) e 10 das 22 UBS s são cenário de aprendizagem da IC ( anexo 2). Justificativa A idéia de se realizar o Fórum IC surgiu a partir das situações vividas e demandadas frente às dificuldades enfrentadas pelos discentes de enfermagem em uma reunião com a coordenadora do curso. Objetivos Identificar as fragilidades e fortalezas da Unidade Educacional Interação Comunitária como transcurricular dos cursos de enfermagem e Medicina, seguindo a percepção dos estudantes e docentes envolvidos na IC. Metodologia Este Fórum IC teve como propósito à socialização e debate de assuntos pertinentes ao currículo e a IC da Enfermagem. Foi previsto para os períodos: 22/08/2001 e 11/09/2001 e organizado pelo Diretório Acadêmico de Enfermagem (DAEnf), que contou com representantes do 1º ao 3º ano, docentes-instrutor, coordenadora da IC, coordenador de graduação e de curso. 389 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. No primeiro período, seriam as apresentações sobre a Interação Comunitária, e em seguida expostas pelos estudantes (um representante de cada série) e instrutores as fortalezas e fragilidades da IC. A partir desta apresentação, os participantes se dividiriam em quatro grupos de discussão (GD) com o intuito de discutir as deficiências e elaborar propostas para intervenções. Cada grupo relataria, no segundo período, suas propostas e dúvidas esclarecidas pela coordenadora da IC. Desta forma os participantes poderiam se posicionar, visando um documento que permita o diagnóstico da realidade e ressalte os pontos negativos a fim de implementar ações transformadoras que viabilizem a qualidade de ensino. Resultados Serão apresentados a seguir os resultados produzidos pelos estudantes e docentes nos GD s e consolidados em plenária. 1. Perfil dos Docentes-instrutores. O perfil dos docentes é de suma importância, pois este é o sujeito que tem por competência proporcionar o elo de relação entre instituição de ensino (estudantes x estudantes x professores x professores) e serviço. Portanto esta proposta indica a necessidade, para os alunos, de serem professores da área de saúde e interessados, pois se defrontam com docentes que serão inseridos na IC para completar o quadro docente. 2. Autonomia do grupo. Até então, da primeira à quarta série, era exigido um trabalho científico na conclusão do ano letivo. O início desta produção científica se dava durante o segundo semestre, desta forma as atividades junto à comunidade eram interrompidas, o que prejudicava principalmente no segundo ano, que tem por objetivo, a atenção ao 390 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. adulto, mulher e criança, através de visitas domiciliares, compreendendo os problemas da população no seu contexto social. Portanto, será interessante que cada grupo proponha como serão trabalhadas as atividades do ano seguinte, sem prejudicar os laços adquiridos com a comunidade e continuidade dos trabalhos anteriores. 3. O conteúdo da IC. Uma das propostas do Projeto político pedagógico é a abordagem horizontal nas interações dois a dois, com objetivo de "trocas entre os discentes, docentes e comunidade. Esta inovação, nesta Unidade Educacional, demonstra a necessidade de representantes: acadêmicos, coordenadores de série dos cursos na construção da IC. Previne-se a repetição de conteúdos que tem incomodado, principalmente, o primeiro ano de enfermagem, não respeitando o papel de transcurricular. 4. Avaliação As avaliações de desempenho da Unidade ocorrem no final do primeiro e segundo semestre, e segue dois conceitos: satisfatório e insatisfatório. O aluno também preenche a auto-avaliação e é avaliado pelos docentes e colegas. Porém a periodicidade destas avaliações, principalmente as de grupo, deveriam ser mais freqüentes para possibilitar a maior articulação e resolução de problemas que possam vir acontecer. A ausência de retorno, através de resolução de problemas detectados, gera o descrédito no formato avaliativo. Outro aspecto importante é identificação dos formatos, pois isto inibe e prejudica a finalidade da avaliação. 5. Quantidade ou qualidade? Os alunos atuam em Unidade Básica de Saúde ou Unidade de Saúde da Família, de acordo com a área de abrangência, e desta há uma seleção de microárea que é dividida entre seis duplas de alunos, 391 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. responsabilizando-os por cerca de 35 famílias. Diante deste número, houve grande discussão a respeito do objetivo a ser alcançado: quantidade ou qualidade? Se considerado a preservação dos laços com a comunidade , o número de famílias x tempo era inadequado. Desta forma a qualidade da assistência é comprometida, provocando insatisfação e estresse dos três componentes e em conseqüência o baixo rendimento das atividades de ensino-aprendizagem e retorno para a comunidade. Considerações Finais Os pesquisadores deste estudo, no papel de participantes desta Unidade Educacional Interação Comunitária e Fórum IC, entendem esta como um processo constante de reflexão e construção. Assim, através dos resultados obtidos do Fórum IC, buscou-se a abordagem qualitativa, na perspectiva se aproximar dos propósitos traçados pelo Projeto Político Pedagógico. Os resultados obtidos no Fórum IC foram utilizados para confecção de um documento que continha as propostas extraídas da plenária. Contribuiu para que os órgãos competentes soubessem das necessidades/problemas vividas pelos discentes de enfermagem. Proporcionou a visão global da Unidade Educacional, além de fortalecer e fundamentar as propostas de transformação, que antes não tinham um espaço válido, deixando de serem apenas críticas soltas . Foi possível, nos GD s e plenária, caracterizar os problemas através de situações vividas e sanar dúvidas de discentes, ainda é relevante expor que este Fórum proporcionou alívio, ou seja, sentiram-se ouvidos. Neste sentido, pode-se verificar o quanto ainda se tem para modificar e a importância da continuação deste evento, pois como foi aprendida neste estudo, esta dinâmica (IC) é transformada em processo contínuo de ação-reflexão-ação pelos estudantes no contexto da experiência. Nos resultados do Fórum IC, notou-se a exposição de fragilidades o que é compreensível visto que a necessidade de expor 392 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. as dificuldades era maior no momento. Na realização deste trabalho, observou-se a riqueza estrutural da Unidade Educacional IC e a importância da clareza de objetivos educacionais da mesma, para que os integrantes, no coletivo, possam contribuir nas modificações oportunas. Referências ALMEIDA, M. J. Educação médica e saúde: limites e possibilidades das propostas de mudanças. 1997. Tese (Doutorado) - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo. CHIRELLI, M. Q. et al. Trilhando novos caminhos: uma experiência inovadora. In: ALMEIDA, M.; FEUERWERKER, L.; LLANOS, M.editores. A educação dos profissionais de saúde na América latina: teoria e prática de um movimento de mudanças. Tomo 2: As vozes dos protagonistas. São Paulo: Hucitec; Buenos Aires: Lugar Editorial; Londrina: Editora UEL; 1999. p. 307-316. Faculdade de Medicina de Marília. Diretrizes para apresentação de trabalhos científicos: guia resumido. Marília: Faculdade de Medicina de Marília, 2001. 19p. KISIL, M. CHAVES, M. M., editores. Programa UNI: uma nova iniciativa na educação dos profissionais de saúde. Battle Creek: Fundação W.K. Kellogg; 1994. KISIL, M. Uma estratégia para a reforma sanitária: a iniciativa UNI. Divulg Saúde Debate 1996; (12); 5-14. KOMATSU, R. S. et al. Manual FAMEMA 1999. Marília: Faculdade medicina de Marília, 1999. 21p. 393 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Projeto UNI Marília: Relatório de Avaliação Fase de consolidação 2º ano, maio/98 a julho/99/ Faculdade de Medicina de Marília... / et al. / Marília: Faculdade de Medicina de Marília, 199. 98p. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico: diretrizes para o trabalho didático científico na universidade. 11ed. São Paulo: Cortez e Autores Associados, 1984. 195p. (Coleção educação contemporânea: série metodologia e crítica da ciência). SILVA, R. F. Interação Comunitária: IC Medicina de Marília, 2000. 6p. 1. Marília: Faculdade de SILVA, R. F. Prática educativa transformadora: a trajetória da unidade educacional de interação comunitária. 2000. 143p. Tese (Doutorado) Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo. SILVA, R.F.; PEREIRA, S.M.S.F; PADILHA, R.Q. Os serviços e a comunidade como parceiros: inovando conteúdos e cenários. In: ALMEIDA, M.; FEUERWERKER, L.; LLANOS, M, editores. A educação dos profissionais de saúde na América latina: teoria e prática de um movimento de mudanças. Tomo 2: As vozes dos protagonistas. São Paulo: Hucitec; Buenos Aires: Lugar Editorial; Londrina: Editora UEL; 1999. p. 193-199. 394 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Anexo 1 395 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Anexo 2 Mapa de Marília divido por regiões 1 e 2 e USF 396 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Anexo 3 Fonte : KISIL e CHAVES 1994 397 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: A TRAJETÓRIA DO CURSO DE GRADUAÇÃO DE ENFERMAGM DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Maria Ribeiro Lacerda* Maria de Fátima Mantovani** Magda Nanuck G. R. Pinto*** A discussão do projeto político pedagógico do Curso de Graduação de Enfermagem da UFPR teve como um dos determinantes as novas diretrizes curriculares para o Curso de Graduação de Enfermagem. A partir das discussões nacionais para a construção das diretrizes o grupo de professores optou por construir coletivamente o projeto político pedagógico. A metodologia dos trabalhos foram pôr meio de encontros mensais, quinzenais, semanais e em oficinas em diferentes locais para aglutinação de idéias e sugestões com a presença de acessores da área de educação. Foram realizadas ao redor de 25 encontros e 4 oficinas, desde setembro de 2000. Os temas discutidos abrangeram desde as facilidades e dificuldades advindas da implantação do projeto político pedagógico, como o que é um projeto político pedagógico; qual a concepção do curso proposto; qual profissional enfermeiro que se gostaria e poderia formar; que competências deverá ter este enfermeiro; quais conteúdos seriam necessários para compor o programa do curso; a proposição de uma primeira versão da grade curricular e as concepções pedagógicas e metodológicas para o desenvolvimento do curso. *Doutora em Filosofia de Enfermagem pela UFSC, Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da UFPR, R. Padre Anchieta, 198/902-Cep: 80410030 Curitiba Email [email protected] **Doutora em Enfermagem pela USP, docente do Departamento de Enfermagem da UFPR, coordendora do Grupo de Estudos Multiprofissional em Saúde do Adulto *** Mestranda em Educação pela UFPR, Professora em Materno- Infantil do Departamento de Enfermagem da UFPR 398 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. As primeiras reuniões para implantação do Projeto Político Pedagógico do Curso de Enfermagem da UFPR foram marcadas pela necessidade em discutir; conhecer e implantar as novas diretrizes curriculares. Constatou-se inicialmente o avanço que se havia feito na modificação curricular anterior, no que diz respeito ao currículo mínimo para os cursos de Graduação de Enfermagem, recomendado pela Associação Brasileira de Enfermagem e pelo Ministério da Educação, em 1996, servindo de referência agregada as propostas das novas diretrizes curriculares que tramitavam no Conselho de Educação Superior, propostas pela comissão de Especialistas em Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem. Foram feitos vários levantamentos, as dificuldades apontadas pelos docentes para a construção do projeto eram: o envolvimento dos docentes e discentes para chegar a um consenso com o objetivo de fortalecer o relacionamento interpessoal, quanto ao aspecto do apoio institucional, a elaboração de um plano viável e factível com a realidade de uma instituição pública. Como também, foi considerada a falta de um projeto político pedagógico da instituição, para viabilizar a articulação entre os meios, instrumentos, pessoas e burocracia institucional. As facilidades apontadas foram a existência do espaço para o debate, qualificação docente, interesse da comunidade e da instituição. Para que fossem respondidas essas inquietações, procurou-se ler sobre o projeto, e em nova reunião identificou-se as dificuldades de implantação do currículo em 96, começou-se a discutir competências para enriquecer o debate, listou-se as que foram atingidas com os conteúdos que trabalhados nas disciplinas, verificou-se dificuldades para analisá-las e compreendê-las. Nesse momento foi feita a primeira listagem das competências que se queria atingir com o Curso de Graduação em Enfermagem. Passou-se, então a pensar na construção do marco teórico desejado, para nortear o novo currículo, que enfermeiro se queria formar, em quanto tempo, e com qual metodologia. Começou-se a responder essas perguntas, optando por um curso em quatro anos no período da manhã, com os dois últimos semestres 399 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. de estágio, estruturou-se novos grupos de trabalhos para compor trechos do documento e desenvolveu-se o: histórico do curso; a justificativa; os princípios filosóficos e pedagógicos; o perfil profissional e a estrutura curricular para dar seguimento aos trabalhos. Os grupos foram aos poucos apresentando os resultados dos seus trabalhos, que resultou em uma primeira versão dos itens que compõem o Projeto Político Pedagógico do Curso, esses pôr sua vez auxiliaram a discussão e aprofundamento, e alguns resultados podem aqui ser descritos. O perfil do enfermeiro que o corpo docente do Curso de Graduação de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná( UFPr) pode formar é: O (a) enfermeiro (a) é um profissional humanista que possui competência técnico- científica e política para cuidar do ser humano, nos diferentes momentos da sua trajetória de vida, capaz de conhecer, entender, analisar e transformar a realidade social respeitando os princípios éticos e legais da profissão . A concepção pedagógica do curso de Graduação de Enfermagem da UFPr, baseia-se na formação generalista, humanista e crítico-reflexiva, favorecendo o desenvolvimento das dimensões, técnica, científica, ética, política e social, gerencial e educativa, com vistas a autonomia, sensibilidade e empreendedorismo. Inserida nesse contexto, a concepção pedagógica articula-se ao cuidado e pesquisa de enfermagem, relacionados a todas as etapas da trajetória de vida do indivíduo, da família e da comunidade. Tem como princípios pedagógicos relevantes: o trabalho de enfermagem como práxis; o compromisso social e ético embasado no cuidado ao ser humano em sua trajetória de vida e a pesquisa como principio construtivo do conhecimento. O cuidado de enfermagem se dá na conexão íntima entre o ser que cuida e o ser cuidado, gerando ações em busca de um propósito: a manutenção ou restabelecimento da saúde. O cuidar é um processo de desvendamento realizado por quem cuida, por meio da capacidade de sentir, para alcançar as reais necessidades do ser cuidado. A formação do enfermeiro para o cuidado e a pesquisa implica compreender a educação como um processo contínuo de 400 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. desenvolvimento do ser humano, mediado pela prática social global que atende as necessidades da população. A atividade de pesquisa é um dos compromissos sociais da enfermagem. A investigação assume seu sentido ao qualificar o fazer, o cuidar, contemplando-o em suas diferentes dimensões. Cuidar e pesquisar tornam-se instrumentos de ação e transformação. Atualmente o desafio é discutir os conteúdos a serem trabalhados para atingir as competências propostas advindas do perfil proposto. O seguimento do trabalho aponta um detalhamento e compreensão do grupo sobre as concepções metodológicas. No momento sentiu-se que o esse caminhar, as reuniões com o grupo de docentes, as oficinas com especialistas, as conversas em grupos informais auxiliaram à avançar nas discussões do que se quer para o Curso de Graduação de Enfermagem, mas acredita-se que "o projeto pedagógico ao lado de ser obra do engajamento comum e signo de mobilização coletiva, carece representar a capacidade de inovar, para transformar." (DEMO, 1996). Referência Bibliográfica: DEMO, P. Projeto pedagógico ensaio metodológico. In: FINGER, A. P.et al.. Educação: conceitos e perspectivas. Curitiba, : Champagnat, PUC/PR, 1996. 401 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. CONSTITUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS A SEREM DEENVOLVIDAS PARA INTERVENÇÃO DOS PROCESSOS SAÚDE-DOENÇA DA POPULAÇÃO: UM DESAFIO AOS EDUCADORES DA ENFERMAGEM Cesar Cavalcanti Silva 74 Emiko Yoshikawa Egry 75 Sônia Barros 76 Tomando como objeto de estudo a prática educativa [ensino e avaliação] operada no Estágio Rural Integrado da Universidade Federal da Paraíba, os autores discutem acerca da centralidade dos conhecimentos nesta prática educativa e consideram a possibilidade de implantar processos de ensino e avaliação transformadores, ancorados no referencial pedagógico das competências, como orientadores dos processos de formação de recursos humanos de saúde e em particular de enfermagem, visando a produção de sujeitos críticos e reflexivos que atendam aos requerimentos do Sistema Único de Saúde, nesta área. Palavras-chave: Formação de recursos humanos de saúde. Referencial pedagógico das competências. Prática educativa [ensino e avaliação]. 74 Enfermeiro. Mestre em Enfermagem. Aluno do Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem da EEUSP e EERP-USP, campus da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Docente do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica e Administração do DEMCA/UFPB. Av. Umbuzeiro, 209 Manaíra, João Pessoa/PB. [email protected]. 75 Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutor em Saúde Pública. Livre-docente em Enfermagem em Saúde Coletiva. Professora Titular do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Pesquisadora do CNPq. Orientadora. E-mail: [email protected] 76 Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutor em Enfermagem. Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Co-orientadora. 402 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 1 INTRODUÇÃO As contradições entre o discurso hegemônico do ensino e a prática profissional acentuam-se na medida em que o Estado redefine as prioridades de atenção à saúde e a sociedade, reclama um novo perfil profissional; diferente do forjado no paradigma tradicional. A superação destas contradições existentes, tanto nas políticas de saúde, como no ensino na área de saúde, devem passar também por um processo de reflexão coletiva dos agentes de ensino e sobre seu trabalho de reprodução ideológica. BARROS (1) O espaço de realização dos estágios curriculares supervisionados tem se constituído num lugar privilegiado para reconhecer essas contradições e promover transformações nas práticas educativas de modo que, em contato com a realidade, os professores, os alunos e os profissionais de saúde dos serviços locais sejam despertados para a necessidade de pensar acerca desta realidade. É, pois, pertinente promover discussões mais aprofundadas na universidade, particularmente na formação em terceiro grau das áreas profissionais da saúde acerca da possibilidade de implementação de processos pedagógicos transformadores, tais como o ensino baseado em competências, visando, assim, a produção de sujeitos críticos que atendam às necessidades de implantação efetiva do Sistema Único de Saúde - SUS. O presente ensaio trata de aproximar os campos teóricos para a construção de categorias de análise para a investigação do objeto de estudo a Prática Educativa no Estágio Rural Integrado da Universidade Federal da Paraíba*, descortinando as noções de: coletivo como objeto de intervenção das práticas de saúde; competência como centralidade nas práticas educativas; e Teoria de Intervenção Práxica de Enfermagem em Saúde Coletiva TIPESC, como marco teórico orientador da transformação. * O presente estudo está inscrito dentro da linha de pesquisa bases teórico metodológicas e conceituais da enfermagem em saúde coletiva e constitui parte da tese de doutorado do autor, a ser apresentada à Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. 403 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. II - CENÁRIO E PROBLEMATIZAÇÃO DA PRÁTICA EDUCATIVA NO ERI A escolha do Estágio Rural Integrado da Universidade Federal da Paraíba ERI/UFPB como cenário desta discussão advém do fato de que este Estágio é uma atividade obrigatória para todos os alunos dos cursos de graduação da área da saúde, do Campus I, da UFPB, e constitui a última etapa a ser cumprida, antes da conclusão do curso. As atividades teórico-práticas são desenvolvidas em municípios conveniados do interior do Estado da Paraíba e procura privilegiar a integração ensino x serviço. Estas características conferem ao ERI/UFPB a possibilidade de ser utilizado como um verdadeiro laboratório para experimentação de tecnologias alternativas em prática de ensino, na área da saúde, no âmbito da UFPB. A obrigatoriedade do ERI está determinada pelo Regimento Interno do Centro de Ciências da Saúde - CCS e aprovado pelos Conselhos Universitário e de Ensino Pesquisa e Extensão por meio da Resolução 284/79 (2). A citada resolução determina ainda, uma carga horária de 160 horas para os alunos dos cursos de Enfermagem, Farmácia, Odontologia, Nutrição, e Fisioterapia, e de 320 horas para os alunos do curso de Medicina. Como pré-requisito para a realização deste estágio, os concluintes dos cursos do CCS/UFPB, são submetidos a um treinamento no qual recebem informações sobre sua permanência nos municípios onde irão estagiar e a documentação necessária para sua inserção no sistema de saúde local. Com o propósito de desenvolver nos estagiários e nos profissionais de saúde locais uma perspectiva crítica do contexto sócio-político regional, o ERI é hoje um braço vivo da UFPB, no que concerne às atividades de saúde extramuros, colocando-se desta forma, na privilegiada posição de elo entre a universidade, os serviços de saúde e as comunidades onde se insere. O ERI está respaldado pela Lei 8080/90 (3), que prevê a criação de comissões permanentes de integração entre os serviços de saúde e 404 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. as instituições de ensino, de modo a propor prioridades, métodos e estratégias para a formação de recursos humanos para o SUS. Decorridas pouco mais de uma década desde a aprovação da Lei Orgânica da Saúde, as instituições formadoras continuam lançando no mercado de trabalho um grande número de novos profissionais de nível superior, que, na sua maioria, desconhecem ou não se interessam pelo que significa Reforma Sanitária e muito menos SUS, municipalização, universalidade, eqüidade, deixando claro que com relação à formação de recursos humanos para a sustentação dos programas de saúde, a contribuição das instituições de ensino tem sido mínima GARRAFA (4). Há experiências inovadoras e tentativas de reformulação na formação e capacitação de profissionais na área da saúde, mas ainda não há no campo do ensino para a formação de recursos humanos de saúde, procedimentos capazes de responder substantivamente aos interesses da reforma sanitária SCHRAIBER; PEDUZZI (5). Neste sentido, formados a partir de paradigmas educacionais descompassados com os requerimentos da nova formulação política e organizacional dos serviços e ações de saúde, e colocados desta forma no mercado de trabalho, estes novos profissionais de saúde dificilmente poderão atuar engajados, e com uma visão crítica, em relação aos pilares teóricos de sustentação do Sistema Único de Saúde, contribuindo para sua total efetivação. Especificamente em relação à formação de enfermeiros, às práticas educativas [ensino e avaliação] freqüentemente baseadas em planejamentos normativos e ancoradas em referenciais pedagógicos tradicionais, têm conflitado com a necessidade de formar sujeitos críticos, reflexivos e questionadores, em resposta aos requerimentos do Sistema Único de Saúde. O exercício da docência na UFPB, ministrando aulas teóricas e práticas no curso de graduação em enfermagem e o exercício da supervisão de alunos no interior do Estado da Paraíba junto ao Estágio Rural Integrado desde 1987, permite observar a utilização de práticas educativas tradicionais, amparadas em referenciais pedagógicos funcionalistas e a dificuldade da maioria dos alunos em exercitar a 405 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. crítica da realidade de saúde dos municípios onde atuam, e por conseqüência, contribuírem pouco para o processo de consolidação do SUS no Estado. III O PROCESSO EDUCATIVO NA FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS DE SAÚDE E A INFLUÊNCIA DOS REFERENCIAIS PEDAGÓGICOS Segundo VALENTE (6) nos dias atuais, a grande certeza na questão educacional como um todo é a urgência de se redefinir o papel das instituições escolares no âmbito da formação. PINHEIROS; RODRIGUES (7) assinalam que, as redefinições dos órgãos formadores perpassam a experimentação de novas tendências teóricas e de novas estratégias de ensino nos processos formativos. Acreditam que a dificuldade de implementar transformações na prática profissional surge ainda na graduação, adiantando que, se o ensino formal tem interesse de graduar profissionais questionadores e reflexivos é fundamental repensar as práticas educativas e seus referenciais teóricos, além de fomentar reflexões e discussões acerca do papel dos docentes e discentes nesses processos. O ensino para a formação de profissionais de saúde orientado para os requerimentos do SUS pressupõe entre outras coisas, mudanças nos processos pedagógicos, e isso implica na revisão e compreensão do alcance de seus referenciais pedagógicos, bem como das práticas educativas que deles se originam. A reflexão sobre as transformações necessárias nas práticas educativas têm importância estratégica neste momento histórico, pois dentre as transformações necessárias para a consolidação do SUS está a qualificação de seus trabalhadores, e ela pode convergir ou distanciar-se deste objetivo, conforme o desenvolvimento das práticas educativas. Especificamente em relação à enfermagem, considerando que esta profissão congrega um dos maiores contingentes da força de trabalho em saúde e configura-se como um importante segmento na luta pela 406 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. consolidação do SUS, conforme afirma EGRY (8) torna-se imperativo que o processo de formação de seus recursos humanos adote um referencial pedagógico diferenciado e práticas educativas transformadoras, onde os pilares teóricos do SUS*, consubstanciados por seus princípios doutrinários e organizativos, norteiem os processos de formação. Todavia, conforme assinala MENDES (10) é mais fácil defender princípios que aplicá-los, chamando a atenção para a formação de recursos humanos sensíveis a estes princípios. O referido autor considera que o SUS não tem sido capaz de acompanhar e adaptar-se à velocidade das transformações ocorridas no mundo e no Brasil e afirma que, sem rejeitar os pilares teóricos do SUS, é preciso reconhecer que sua materialidade depende de um conjunto de transformações. MANDU; ALMEIDA (11) assinalam que, fazer avançar os processos de formação de modo que eles sejam compatíveis com os requerimentos dos processos de mudanças das ciências da saúde e, em particular, dos movimentos políticos de inclusão social, é o que se reclama no presente. * Baseado em preceitos constitucionais, a construção do SUS segue os princípios doutrinários da Universalidade, que garante a atenção de saúde a todo e qualquer cidadão; Equidade, que assegura a igualdade de todo cidadão perante o sistema, bem como seu atendimento, conforme suas necessidades, e Integralidade, que estabelece o reconhecimento do homem como ser integral e prevê seu atendimento como ser bio-psico-social. Quanto à organização, o Sistema Único de Saúde se encontra amparado pelos princípios da Regionalização e Hierarquização, que estabelecem que os serviços de saúde devem ser organizados em níveis de complexidade tecnológica crescente, e dispostos numa área geográfica delimitada; Resolubilidade, que prevê a capacidade dos serviços em resolver os problemas até o nível de sua competência; Descentralização, que parte da idéia de que quanto mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto; Participação dos Cidadãos, que garante a inclusão da população na formulação das políticas de saúde e no controle de sua execução, através dos Conselhos de Saúde, e finalmente, pela Complementaridade do setor privado, que prevê a contratação de serviços privados mediante insuficiência do setor público, desde que respeitadas as normas do Direito Público BRASIL (9) 407 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Os autores supra mencionados prosseguem afirmando que o desafio que se coloca para a renovação das práticas educativas frente às necessidades sociais que se configuram na efetivação do SUS, é considerar o aspecto técnico necessário à viabilização do trabalho específico de enfermagem, sem, contudo, negligenciar as dimensões educativas e políticas, como componentes capazes de dar suporte a uma intervenção práxica na prática profissional. Segundo ANTUNES (12) as práticas educativas carregam consigo uma ideologia, e por meio dos referenciais pedagógicos, nos quais estão ancorados, promovem e embasam as práticas do educando no sistema em que vive. A utilização do referencial conceitual da Medicina Comunitária e as implicações pedagógicas que marcaram o processo educativo de enfermagem nas décadas de 70 e 80 são exemplos clássicos dessa afirmação. O modelo pedagógico posto em prática neste período apontava para a integração das unidades formadoras de pessoal aos serviços de saúde sem, contudo, considerar as diferenças sociais da população alvo e muito menos as competências demandadas naquele espaço. Isso propiciou a formação de profissionais de enfermagem acríticos, resultante de uma formação baseada no modelo preventivista, ancorado na multicausalidade e centrada na parcela do corpo social constituída pelos grupos sociais excluídos do cuidado médico privado, conforme estudo de SALUM; BERTOLOZZI; OLIVEIRA (13). Na atualidade, a formação de recursos humanos de saúde e em particular de enfermagem precisa acompanhar as transformações em curso no setor saúde, quer seja no plano macro das políticas sociais, quer seja nos micro espaços institucionais que interferem no processo saúde x doença, considerando, sobretudo, os pilares teóricos de sustentação do SUS e o coletivo, como objeto de intervenção das práticas de saúde. Não se trata de superespecializar os trabalhadores, mas de prepará-los, desde a graduação, para que sejam sensíveis aos problemas da realidade de saúde atual. Apoiado em Bordenave, ANTUNES (12) relata que a escola pode optar pelo uso de três referenciais pedagógicos para a consecução das práticas educativas, no âmbito da formação de recursos humanos: o da 408 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. transmissão de conhecimentos; o tecnicista ou de condicionamento e da problematização da realidade, citando o primeiro, como o mais amplamente difundido e utilizado pelos docentes na atualidade. O referencial pedagógico da transmissão de conhecimentos considera o aluno como um receptáculo vazio no qual conhecimentos externos são impressos, tendo como objetivo fundamental a transmissão de conceitos, idéias e procedimentos recebidos e adotados por repetição BORDENAVE (14) A pedagogia conducionista ou tecnicista difere da primeira, por considerar mais importante o aprender a fazer e não o aprender a saber . O principal objetivo dessa pedagogia é a formação de indivíduos eficientes do ponto de vista da produtividade, daí sua grande preocupação com a técnica. O processo educativo neste referencial procura ser o mais objetivo e operacional possível, o que explica as opções pelas técnicas do micro-ensino e da instrução programada BORDENAVE (14). O terceiro referencial procura superar a concepção do aluno como receptor de informações ou reprodutor de técnicas, para dar lugar ao aluno construtor do seu conhecimento a partir da reflexão sobre sua própria prática BORDENAVE (14). A análise destes modelos educacionais permite evidenciar que, o repasse de conhecimentos aparece sempre como elemento central na operacionalização das três opções pedagógicas. A superação desta centralidade pode ocorrer pela adoção de um referencial pedagógico para a formação de recursos humanos de saúde que utilize o conhecimento, mas não se limite a ele. Neste novo modelo, os conhecimentos cedem lugar às competências como foco de atenção principal, nas práticas educativas. ANTUNES (12) aponta distorções nos processos de formação de recursos humanos, tanto no âmbito individual quanto coletivo que se manifestam como conseqüência do uso prolongado e dominante da opção pedagógica da transmissão de conhecimentos. O autor relaciona no âmbito individual a passividade, a falta de atitude crítica, a relação dogmática com as fontes de informação, a valorização isolada do saber intelectual e o desinteresse para transformar a realidade. No 409 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. âmbito coletivo relata a ocorrência de grupos passivos e acríticos que adotam indiscriminadamente modelos e padrões de outras regiões, manipuláveis por comunicação de massa ou reprodutores de padrões historicamente estabelecidos e desvinculados do contexto social de sua realidade. IV O PROCESSO EDUCATIVO NA FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS DE SAÚDE EM UM NOVO ENFOQUE Conforme já foi frisado anteriormente, em termos pedagógicos, a prática educativa sempre oscilou entre os que optam apenas pela transmissão de conhecimentos, e os que querem ligá-los imediatamente às práticas sociais. Como alternativa para superação dos modelos clássicos de ensino e avaliação, centrados apenas na transmissão de conhecimentos, propõe-se a abordagem por competências, estudada por PERRENOUD (15) e já amplamente difundida na França, Bélgica e Canadá. Ao definir competência como uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiado em conhecimentos, mas não exclusivamente neles, PERRENOUD (15) estabeleceu uma diferença entre competências e conhecimentos. Para este autor, enquanto os conhecimentos são representações da realidade que construímos e armazenamos ao sabor de nossa experiência e de nossa formação, as competências são capacidades para as utilizar, integrar ou mobilizar, visando à solução dos mais diversos problemas com os quais nos deparamos em nosso dia-a-dia. A inserção da abordagem por competências, como proposta para a formação em terceiro grau das áreas profissionais de saúde, coloca para os docentes na atualidade a possibilidade de escolha entre duas formas de ensino e avaliação: uma prática educativa baseada apenas no repasse de conhecimentos, que não se preocupa com sua mobilização em certas situações, confiando na formação profissionalizante para construir competências, ou uma prática 410 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. educativa que aceita limitar a quantidade de conhecimentos ministrados, para exercitar de maneira intensiva, sua mobilização em situações complexas. Particularmente, o ensino para a formação de enfermeiros baseado na abordagem por competências pode responder a uma demanda social dirigida para o SUS, dado que toda competência está ligada a uma prática social de certa complexidade, e evoca uma prática profissional instituída, emergente ou virtual PERRENOUD (15) A TIPESC - Teoria da Intervenção Práxica da Enfermagem em Saúde Coletiva EGRY (16) propõe uma forma sistematizada para captar, interpretar e intervir neste fenômeno no caso as práticas educativas tendo em vista suas dimensões singular, particular e estrutural. A dimensão singular, relativa aos processos de ensino e avaliação, é onde em última instância são operacionalizados os referenciais pedagógicos (dimensão particular), que levam o formando a integrar-se ao sistema em que vive, com resultados previsíveis sobre sua conduta posterior. Ambos se articulam aos processos de produção e reprodução social da coletividade na qual se inserem, cujo contexto é historicamente determinado, constituindo assim a dimensão estrutural. Depois da captação, interpretação e intervenção, segue-se a contínua reinterpretação do fenômeno, de forma práxica, constituindo a unidade dialética teoria-prática. IV CONSIDERAÇÕES FINAIS As resistências internas de alguns docentes e as contradições verificadas no aparelho formador em relação às mudanças políticosociais, geradas pela trajetória das estratégias rumo à unificação do sistema de saúde, leva a universidade e, particularmente, os cursos de saúde, a caminharem praticamente a reboque dos acontecimentos nesta área, gerando mais contradições que dificultam o processo de consolidação do SUS nos municípios conveniados com a UFPB, nos quais os alunos do CCS desenvolvem o ERI. Por tudo isso, as práticas educativas, no âmbito dos cursos de graduação em saúde, requerem a experimentação de novas teorias pedagógicas e, sobretudo a coragem para implementá-las. 411 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A inspiração para mostrar a possibilidade de utilização de processos educativos transformadores, apoiados na abordagem por competências, nos cursos de graduação da área da saúde, e particularmente de enfermagem, se origina do desejo de contribuir para promover transformações no processo de formação de RH, de modo a ampliar seu alcance e tornar presente, um futuro possível e desejável, que é a solução dos problemas relacionados à carência de profissionais de saúde com perfis que atendam aos requerimentos do SUS nesta área. Uma prática profissional crítica, reflexiva e questionadora, consciente de suas raízes teóricas e filosóficas, dar-se-á quando esta mesma prática for exercida com Competência. Todavia, nenhuma transformação ocorrerá isoladamente sem a correspondente e fundamental participação das instituições formadoras, unidas por práticas educativas diferenciadas, que preparem desde logo, estes profissionais para o novo paradigma que se apresenta. V REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 - BARROS S. O Louco, a loucura e a alienação institucional: o ensino de enfermagem sub judice. [Tese] São Paulo (SP): Escola de Enfermagem da USP; 1996. 2 PARAÍBA. Resolução 284/79, de 31 de Setembro de 1979. Dispõe sobre o Regimento Interno do Centro de Ciências da Saúde e dá outras providências. Documento Mimeografado, 1979. 3 BRASIL. Lei 8080 de 19 de Setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Ministério da Saúde, Assessoria de Comunicação Social. Lei Orgânica da Saúde, Brasília, 1991. 4 - GARRAFA V. Desafios éticos na política de recursos humanos frente as necessidades de saúde. IN: 2º Conferência Nacional de Recursos Humanos para a Saúde - Textos apresentados; 1993 nov. 0918; Brasília. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria Executiva; 1993. 412 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 5 - SCHRAIBER L.B, PEDUZZI M. Tendências e possibilidades da investigação de recursos humanos em saúde no Brasil. Rev. Educ. Méd. Salud 1993; 27: 295 313. 6 - VALENTE SMP. Do currículo às diretrizes curriculares. Rev. Olho Mágico 1999; 20:6-7. 7 - PINHEIROS VE, RODRIGUES ARF. O processo ensino/aprendizagem na Enfermagem. Rev. Enferm. Belo Horizonte 1999; 9/10: 62-79. 8 - EGRY EY. O ensino da enfermagem em saúde coletiva diante do SUS: as transformações conceituais, metodológicas e pedagógicas no âmbito das escolas de enfermagem; 1999. (Relatório Científico FAPESP 1996/6662-8). 9 Ministério da Saúde (BR). Secretaria Nacional de Assistência à Saúde. ABC do SUS Doutrinas e Princípios. Brasília (DF); 1990. 10 - MENDES EV. Uma nova agenda para a saúde. São Paulo: Hucitec; 1999 11 - MANDU ENT, ALMEIDA MCP. Necessidades em saúde: questões importantes para o trabalho da enfermagem. Rev. Brás. Enfer 1999, 52:54-66. 12 - ANTUNES MJM, SHIGUENO LYO, MENEGHIN P. Métodos pedagógicos que influenciaram o planejamento das ações educativas dos enfermeiros: Revisão Bibliográfica. Rev. Esc. Enf. USP 1999, .33:165-174 13 - SALUM MJL, BERTOLOZZI MR, OLIVEIRA MAC. O coletivo como objeto do conhecimento e prática de enfermagem: as continuidades e descontinuidades da história. Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva. Escola de Enfermagem. Universidade de São Paulo USP, s.d. / Mimeografado/. 14 BORDENAVE JED, PEREIRA AM. Estratégias de ensinoaprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1994. 15 - PERRENOUD P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 1999. 413 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 16 - EGRY EY. Saúde Coletiva: construindo um novo método em enfermagem 414 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. CONSTRUINDO A EDUCAÇÃO DO FUTURO Márcia Gabriel77 Claudia Melo78 O presente trabalho visa relatar a experiência do Curso de Enfermagem da Universidade Severino Sombra com a construção do Projeto Político-Pedagógico. Entre as finalidades deste projeto destacamos: a organização da ação pedagógica; a melhoria do ensino; e a construção de uma nova realidade pela transformação da prática. Estão sendo desenvolvidas oficinas de trabalho com os docentes do curso. Posteriormente serão realizadas oficinas com a participação dos discentes e enfermeiros. O planejamento participativo vem sendo o referencial e instrumento básico no processo de construção do projeto. Com base nas oficinas realizadas o grupo vem avançando na integração do conhecimento e na relação com o contexto, investindo no desenvolvimento da capacidade metodológica e teórica para a produção do conhecimento. Assim, se espera formar um enfermeiro capaz de: conhecer a realidade de forma reflexiva e crítica; estabelecer relações humanas com a clientela; família, comunidade e equipe multiprofissional. Como também reconhecer a relação de trabalho e sua influência sobre a saúde, identificando seu papel social e político; respeitar as características individuais e grupais no planejamento; e implementação das ações em saúde; responsabilizar-se pela construção de novos conhecimentos em enfermagem; gerenciando a assistência com iniciativa e criatividade, intervindo assim no processo saúde/doença. Concluindo pode-se ressaltar que a sensibilidade, a solidariedade, a capacidade de conviver em grupos, a participação ativa na vida social, política e cultural visando a construção da cidadania é a marca do enfermeiro que se deseja formar. 77 Enfermeira. Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Severino Sombra. 78 Enfermeira. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da USS. 415 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. INTRODUÇÃO A necessidade de elaborar o Projeto Político-Pedagógico (PPP) surge por força da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (Lei N.º 9.394 de 20/12/96). Quando se edita uma lei de ensino se está determinando um modelo, uma concepção de organização da prática. A enfermagem brasileira discutiu e interpretou a LDB, se posicionou propondo diretrizes curriculares; que foram aprovadas com algumas alterações pelo Ministério da Educação e publicadas em 3/10/2001. Agora as Escolas de Enfermagem vão elaborar, segundo a nova lei, uma proposta pedagógica. Cabe as escolas definir as ferramentas, formas de agir, relações entre resultados pretendidos e meios a serem utilizados, configurar um processo para tornar práticas (para tornar ações e modos de ser) as idéias que elas mesmas explicitam, e supõem. O planejamento é o processo de transformar idéias em ação, ou seja, é o processo de intervir na realidade existente, retirando, incluindo, enfraquecendo ou reforçando idéias, e assim transformando estruturas. Para que a escola cresça no processo de planejamento, a própria lei recomenda como instrumento disponível o planejamento participativo. Este modelo básico de planejamento inclui distribuição do poder, inclui possibilidade de decidir na construção não apenas no como ou no com que fazer, mas também no o que e no para que fazer. O planejamento participativo desenvolve um conjunto de modelos, de processos, de instrumentos e de técnicas para dar importância ao crescimento (do coletivo e do pessoal) e, nesse crescimento, construir o referencial, avaliar a prática, propor e realizar uma nova prática. A construção coletiva necessita de processos rigorosos que incluem trabalho individual, trabalhos em pequenos grupos e plenárias para reencaminhamentos. Para o planejamento participativo, o diagnóstico é a intermediação entre a proposta ideal do sonho, e a proposta de prática. Nesse sentido o diagnóstico é um juízo continuado sobre a prática, 416 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. para verificar a distância em que ela está do ideal estabelecido em seu referencial (Gandin e Gandin, 1999). O objetivo do PPP é organizar as ações e o modo de ser que são necessários para suas realizações. Existem vários níveis de elaboração do PPP, esse trata de elaborar e executar um plano geral de ação político-pedagógica. As finalidades do PPP são: organizar a ação pedagógica; melhorar o que está fazendo em termos de ensino; construir uma nova realidade pela transformação da realidade existente. O planejamento sozinho não realiza aquilo que se pretende fazer e vivenciar; mas contém os elementos necessários a transformação da realidade. Naturalmente é preciso que exista o saber que vem de um conjunto de idéias e um querer que nasce da paixão. O presente trabalho visa relatar a experiência de construção do Projeto Político-Pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Severino Sombra. A estratégia metodológica estabelecida para construção do PPP foi a realização de oficianas pedagógicas e vivenciais com o conjunto dos professores do curso. A 1.ª OFICINA: O DIAGNÓSTICO O objetivo do encontro foi discutir a prática políticopedagógica dos professores enfermeiros da Universidade Severino Sombra (USS) e os principais fatores intervinientes no desenvolvimento desta prática. Embora divididos em subgrupos, houve uma semelhança entre os relatos, tendo o grupo privilegiado a discussão sobre os problemas enfrentados no cotidiano em detrimento da concepção de prática adotada pelo professor. Concepções norteadoras da prática Para elaboração de um programa é necessário adequar as expectativas do curso às da sociedade, da comunidade, dos usuários dos serviços de saúde e às políticas de saúde. 417 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A universidade tem a missão social de integrar, extensão, pesquisa e assistência, devendo serem levadas em conta estas dimensões no PPP. Os docentes precisam possuir potencial de participação, flexibilidade e qualificação técnica para operacionalização das estratégias delineadas. É preciso pensar o PPP a partir das necessidades locais, identificadas com os diversos segmentos da sociedade, na globalização dos eixos temáticos a serem desenvolvidos pelas diversas disciplinas em suas especialidades. As ações pedagógicas devem ser programadas visando a resolutividade dos problemas identificados. A Universidade viabilizará os processos de integração, ensino, pesquisa e assistência, através do seu corpo docente. Deste forma, as atividades docentes não se restringem a sala de aula ou ao campo de estágio, mas à comunidade como um todo. A avaliação é um outro elemento a ser repensado. Avaliação emerge como um processo crítico e reflexivo de mudança, com possibilidade de transformação da relação educacional. O estabelecimento de parcerias com diferentes instituições sociais (ONG s, hospitais públicos e privados, secretarias de saúde, etc.) nas instâncias local, municipal, estadual e nacional é fundamental para o desenvolvimento do PPP do Curso de Enfermagem da USS. O ensino deve estar aberto à mudanças, pautado nos princípios de flexibilidade, integralidade e interdisciplinaridade, orientado pela pedagogia crítica. Problemas evidenciados Forma evidenciados os seguintes fatores intervenientes no desenvolvimento da prática pedagógica dos professores da USS: disciplinas ministradas por apenas um professor; prática pedagógica centrada no professor; aumento do número de alunos sem aumento correspondente de professores; desarticulação docente-docente; desarticulação docente-assistencial; campo de estágio insuficiente e processo de avaliação insatisfatório. 418 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A 2.ª OFICINA: O PERFIL DO ENFERMEIRO O objetivo do encontro foi discutido o perfil do enfermeiro que se deseja formar. O grupo acordou que o enfermeiro deverá ser capaz de conhecer a realidade de forma reflexiva e crítica; estabelecer relações humanas com a clientela, família, comunidade e equipe multiprofissional; reconhecer a relação de trabalho e sua influência sobre a saúde, identificando seu papel social e político; respeitar as características individuais e grupais no planejamento e implementação das ações em saúde; responsabilizar-se pela construção de novos conhecimentos em enfermagem, gerenciando a assistência com iniciativa e criatividade, intervindo assim no processo saúde/doença. A sensibilidade, a solidariedade e a capacidade de conviver em grupos deve ser o diferencial do enfermeiro, tornando o capaz de respeitar as diferenças culturais e individuais. Como problematizador, sua participação na vida social, política, científica e cultural vida a construção da cidadania, através de compromissos firmados já na vida acadêmica. A 3.ª OFICINA: ANÁLISE DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM O objetivo do encontro foi analisar o curso de enfermagem da USS à luz das diretrizes nacionais dos cursos de graduação em enfermagem. O referencial proposto pelas novas diretrizes é o históricocrítico tendo a saúde coletiva como perspectiva. Até o momento o ensino de enfermagem é baseado no modelo bio-médico e hospitalocêntrico. Assim, os professores não estão suficientemente preparados para atuar dentro desta nova perspectiva, necessitando inclusive de capacitação pedagógica e de outras estratégias para consolidação e compreensão do modelo proposto. 419 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O trabalho interdisciplinar é apontado como horizonte, como objetivo a perseguir, apesar das dificuldades inerentes ao processo de trabalho em grupo e as diferenças de formação. O grande desafio é compatibilizar as características profissionais dos agentes da equipe de enfermagem com as diferentes demandas dos usuários dos serviços de saúde, além de reconhecer o papel social do enfermeiro para atuar em atividades políticas e de planejamento em saúde. O enfoque epidemiológico constitui uma dificuldade para o grupo de docentes e consequentemente para os discentes. Foi ressaltada a necessidade de responder com a formação do enfermeiro às especificidades regionais de saúde. É preciso pensar que embora tenhamos um curso inserido numa comunidade bem delimitada e específica, os alunos provêm de outras regiões. Assim, fica a dúvida sobre a região a ser tomada por referência, uma vez que os alunos do curso pertencem a diferentes cidades e até estados. Uma estratégia pensada pelo grupo para a resolução desse problema é a busca de parcerias com as prefeituras e instituições de saúde das cidades de origem dos alunos. A partir daí, o curso de enfermagem poderia oferecer programas de assessoria, ensino e pesquisa favorecendo a integração do aluno junto a sua comunidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com a determinação da LDB N.º 93394/96 os professores do Curso de Graduação em Enfermagem da USS vêem participando com entusiasmo e competência da construção da proposta pedagógica da sua unidade de ensino. Muito se tem avançado, mas essa caminhada ainda é longa. Precisa-se discutir melhor o marco referencial, realizar com mais clareza e cientificidade o diagnóstico educacional e institucional para finalmente integrar todas essas idéias e ideais à prática concreta através de uma programação participativa. Dos resultados finais a serem alcançados, precisa-se definir a indicação do tipo de sociedade que se quer ajudar a construir, expressa sob a forma de uma hierarquia de valores que leva em conta, 420 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. dialeticamente, os princípios da instituição e as circunstâncias da realidade. Entre a utopia e a realidade, através da indicação de como a instituição vai contribuir para estes resultados irá se desenvolver com sucesso esse projeto político-pedagógico. É preciso lembrar que mudanças sociais e educacionais ocorrem juntas, contruindo esse projeto pedagógico se estará construindo uma nova sociedade, uma nova profissão, e quem sabe construindo o novo profissional de enfermagem. BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Ana. O significado do projeto pedagógico. Boletim Educação, V.1, n.1, fev., 1997. BORDENAVE, Juan. Estratégias de ensino aprendizagem. 2.ª ed. Petropólis: Vozes, 2000. BRASIL. 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UFMG, 1999. 422 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O PROBLEMA DO DESCARTE DAS PILHAS E BATERIAS E A INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM Eliane Mendes Charleaux Fabiane Suzuki Geni Varéa-Pereira 1 O consumidor desinformado contamina o lixo doméstico com pilhas e baterias, que apresentam produtos químicos e metais pesados como chumbo, cádmio e mercúrio em sua composição e trazem sérios problemas à saúde e ao meio ambiente. O objetivo desse estudo, compreende a avaliação do problema e a proposição de medidas que 79 ajudem a reduzir o impacto causado pelo descarte inadequado de pilhas e baterias. Foram aplicados 200 questionários de maneira aleatória na população londrinense, além de entrevista a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização, empresas privadas (de telefonia celular, fabricantes e distribuidores de pilhas e baterias), no período de 19 a 25 de julho de 2001, averiguando a utilização, descarte, destino e riscos à saúde e meio ambiente. Observou-se que 86% da amostra da população entrevistada desconhecia qualquer tipo de instrução para o descarte seguro de pilhas, e que 81,5% realizavam dispensação deste material no lixo doméstico. As práticas multiprofissional e interdisciplinar aplicadas atualmente no Currículo Integrado do curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina, oportunizou a diversificação do cenário de aprendizado e atuação, permitindo a exploração da capacidade criativa e inovadora dos alunos para a busca de soluções. 79 Docente de Bioquímica do Departamento de Bioquímica. Universidade Estadual de Londrina. 423 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 1. INTRODUÇÃO A descoberta de novas tecnologias nas últimas décadas vem proporcionando facilidade, conforto e segurança para o homem. O mundo capitalista moderno vive cercado de constantes inovações científicas e tecnológicas que rapidamente são consumidas pela sociedade, tornando-as indispensáveis para o seu cotidiano. Assim, computadores, forno de microondas, aparelhos eletrônicos movidos à controle remoto, brinquedos movidos à pilhas e baterias, aparelhos de telefone celular, entre outros, fazem parte do dia a dia de milhões de pessoas no mundo. Acompanhando essa produção tecnológica, houve um aumento no consumo de pilhas e baterias, segundo dados do jornal O Globo, o Brasil produz cerca de 1 bilhão de pilhas e de 15 a 17 milhões de baterias de celular ao ano. As pilhas e baterias de celular descartadas juntamente com o lixo doméstico representam um grave problema para a saúde, envolvendo a cultura, hábitos de vida, política e economia de uma população. Se todas as pilhas produzidas anualmente fossem descartadas junto ao lixo doméstico, 8 quilos de mercúrio iriam diariamente para aterros e lixões. O material poluidor tem sido destinado de maneira indiscriminada a lixões e aterros sanitários sem levar em conta que em seus componentes encontra-se metais pesados que são tóxicos ao ser humano e tem efeito acumulativo. Estando as pilhas e baterias em lixões e aterros, expostas a condições oxidantes como o sol, chuva, chorume e ar, o envoltório protetor se rompe liberando os metais pesados que chegam ao solo podendo contaminar lençóis d água, rios riachos, entrando na cadeia alimentar do homem pela ingestão desta água ou de produtos agrícolas irrigados com a mesma, acumulando-se nos organismos vivos e assim produzindo vários tipos de contaminação. A Contaminação por metais pesados ocorre de três formas: exposição ocupacional, exposição acidental e por exposição crônica. A exposição crônica decorre do descarte inadequado de pilhas e 424 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. baterias e os sintomas da contaminação pelo ar, solo, água e alimentos só se manifestam em longo prazo. A intoxicação pelo CHUMBO ocorre por via digestiva e respiratória podendo causar cefaléia, anemia, irritabilidade, nefropatia, lentidão de raciocínio, insônia entre outros. O CÁDMIO pode se acumular nos rins causando distúrbios metabólicos que levam ao câncer e osteoporose. A inalação do mercúrio pode causar vertigens, tremores, danos aos pulmões e cérebro. Sua ingestão provoca distúrbios renais e neurológicos, elevação da pressão arterial, dispnéia e deficiência nos órgãos sensoriais. As pilhas e baterias contem ainda outros metais: COBRE: Causa anemia acompanhada de necrose hepática e renal. LÍTIO: Afeta o sistema nervoso central. ZINCO: Vômitos e diarréias. DIÓXIDO DE MANGANÊS: Provoca dores abdominais, náuseas, vômitos, crise nervosa, dores de cabeça, impotência. NÍQUEL: Provoca dermatite, problemas respiratórios, estomatites, efeito carcinogênico, fibrose e cirrose. Considerando os impactos negativos a saúde e ao meio ambiente, a enfermagem deve tomar medidas de promoção e proteção à saúde através da educação encorajando a modificar hábitos pessoais, estilo de vida e ambiente de modo a reduzir os riscos e desenvolver comportamento que afetam de modo positivo a qualidade de vida. 2. OBJETIVOS 2.1. Geral: - Avaliar o problema e propor soluções que ajudem a reduzir a poluição causada pelo descarte inadequado de pilhas e baterias 2.2. Específicos: - Avaliar o conhecimento da população sobre os riscos e danos à saúde causados pelo descarte inadequado e indiscriminado das pilhas e baterias no lixo doméstico. 425 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. - Investigar a existência de coleta seletiva, destinação ambientalmente adequada e reciclagem para pilhas e baterias. - Empregar o senso crítico e investigativo, para buscar soluções com a intenção de transformar a realidade e exercer a autonomia. 3. METODOLOGIA Aplicou-se aleatoriamente um questionário de 12 perguntas a 200 pessoas na cidade de Londrina, no período de 19 a 25 de julho de 2001. Realizou-se entrevistas a órgãos públicos como Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), empresas privadas de telefonia celular; coleta de informações junto ao serviço de atendimento ao consumidor de fabricantes e distribuidores de pilhas e baterias e análise de rótulos de pilhas para averiguar quais as orientações ao consumidor sobre coleta, destino e reciclagem de pilhas e baterias; análise crítica de leis federais e resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). 4. RESULTADOS 4.1. Aplicação do roteiro de entrevista: A análise dos dados obtidos através da aplicação dos roteiros permitiu observar que 94,5% das pessoas entrevistadas utilizavam pilhas e baterias em aparelhos domésticos de uso diário e contínuo, ou de uso esporádico, conforme apresentado no gráfico 1. 426 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Figura 1 Utilização das pilhas e baterias pela população, entrevistados pelos pesquisadores, em Londrina em julho de 2001. 30 Telefone 40 Lanterna 45 Brinquedo 53,5 Rádio Controle remoto 84,5 Relógio 91 0 20 40 60 80 100 Porcentagem Do total dos usuários entrevistados, 81,5% descartavam as pilhas e baterias utilizadas no lixo doméstico, apenas 6,5% armazenavam em casa, por desconhecer a destinação adequada e 4% encaminhavam o material usado juntamente com o lixo reciclável. (gráfico 2) Figura 2 Descarte de pilhas e baterias após utilização pela população de Londrina em julho de 2001. Não lembra 1,5 Lixo reciclável 4 Lixo doméstico e em casa 6,5 Armazerna em casa 6,5 81,5 Lixo doméstico 0 20 40 60 80 100 Porcentagem 427 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Figura 3 Conhecimento dos riscos do descarte inadequado de pilhas e baterias da população entrevistada em Londrina, julho de 2001. Câncer 3,9 4,5 Polui o ambiente Intoxicação 6,7 Contamina água 9 Metais pesados 9,16 Contamina o solo 10 Sabe que existe 29,8 Desconhece 50,5 0 10 20 30 40 50 60 Porcentagem O gráfico 3 mostra que um total de 49,5% citaram algum dano à saúde e ao meio ambiente resultante do descarte inadequado de pilhas e baterias, porém 50,5% desconhecia ou nunca ouviu falar de qualquer dano. Através de outro dado obtido observou-se que 55% dos entrevistados relataram vazamento das pilhas e dentre estes 61,82% fizeram o descarte sem proteção pessoal favorecendo a contaminação. 4.2. Legislação vigente: Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 257 30/06/1999. Art. 1º- As pilhas e baterias após seu esgotamento deverão se entregues pelos usuários aos estabelecimentos que a comercializam, para repasse aos fabricantes que deverão adotar procedimentos de reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final ambientalmente adequada. 428 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Art. 3º- Os comerciantes de pilhas e baterias ficam obrigados a aceitar dos usuários a devolução das unidades usadas. Art. 6º- Foram estabelecidos limites de metais pesados: 0,010% em peso de mercúrio, 0,015% em peso de cádmio, 0,200% e peso de chumbo quando forem do tipo alcalina-manganês e zinco-manganês. Art. 8º- Ficam proibidas as seguintes formas de destinação final de pilhas e baterias usadas de quaisquer tipos ou características: in natura a céu aberto, em corpos d água, praias, manguezais, terrenos, poço, esgoto, rede de drenagem de águas pluviais ou queima-las de maneira inadequada. Art. 13º - As pilhas e baterias que atenderem aos limites previstos no Art.6º poderão ser dispostas, juntamente com os resíduos domiciliares, em aterros sanitários licenciados. 4.3. Opiniões sobre a legislação A resolução não leva em conta que 96% das cidades brasileiras não possuem aterro sanitário, ou seja, quase todas essas pilhas estão indo para os lixões, o que é proibido pela mesma resolução (FADINI apud ANDRADE, 2000). O Professor exemplifica que o descarte de 1 kg de pilhas, em torno de 56 unidades pode liberar 100 mg Hg no solo do aterro sanitário, capaz de contaminar 200 kg de peixe, 16,67 milhões de litros de água que poderia abastecer 66,67 mil pessoas/dia. Segundo (TENÓRIO apud ANDRADE, 2000), docente do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da USP, os efeitos dos metais pesados depende muito de seu estado no material. A resolução permite até 0,010% de mercúrio nas pilhas, mas não considera que o mesmo está em sua maioria solúvel nestes materiais. A taxa máxima permitida para as pilhas pela resolução é mil vezes maior do que a taxa permitida para resíduos industriais .Mesmo seguindo os limites de metais pesados estabelecidos, não significa evitar a contaminação do meio ambiente. 429 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 4.4. Órgão público Urbanização (CMT) Companhia Municipal de Trânsito e A Companhia Municipal de Trânsito e Urbanismo (CMTU), responsável pela organização da coleta seletiva de lixo na cidade de Londrina informou que o as pilhas e baterias descartadas juntamente com o lixo reciclável têm sido armazenadas em um local para posterior destinação adequada, sendo esta, a alternativa temporária encontrada pela CMTU enquanto medidas legais que obrigam a coleta e destinação adequada pelos fabricantes e revendedores não forem aplicadas. Por outro lado, o material que é descartado com o lixo comum é dirigido ao aterro sanitário da cidade, o que é proibido pela Legislação vigente. Na região sul de Londrina, existe uma Organização não Governamental (ONG) que tem realizado a separação do lixo reciclável e tóxico, inclusive de pilhas e baterias, mas estas também vão se acumulando sem destinação adequada. 4.5. Serviço de Atendimento ao Consumidor de empresas fabricantes de pilhas: As informações recebidas estão sendo relatadas na íntegra: As pilhas estão livres de chumbo, cádmio e mercúrio, podendo ser dispensadas em lixo doméstico . As quantidades de metais pesados estão dentro dos limites estabelecidos pela lei, podem ser dispensadas no lixo doméstico . As informações obtidas quanto às baterias foram: Já existe uma campanha ecológica para o recolhimento de baterias usadas . As baterias são recolhidas pelas revendedoras e repassadas aos representantes locais para serem enviadas para o fabricante . Baterias são destinadas para reciclagem . 430 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 4.6. Reciclagem: Duas empresas executam a reciclagem de pilhas e baterias: a Sílex, com uma unidade no Rio Grande do Sul e outra em Santa Catarina; e a Suzaquim, com sede em Suzano, São Paulo, com contratos com empresas como a Motorola, Philips, Ericsson, Petrobrás e Telesp Celular; recicla todo tipo de pilhas e baterias. O engenheiro eletrônico e consultor técnico da empresa Suzaquim, Everaldo Arruda informou que os contratos implicam no pagamento, por parte da indústria produtora de resíduos, sendo o preço atual de R$ 2,60 o quilo de pilha. A reciclagem de pilhas realizada pela Suzaquim é feita há sete anos, com capacidade de reciclar 250 toneladas de baterias e pilhas por mês, mas atualmente está operando com uma média de 100 toneladas por mês. 4.7. Observações de rótulos de pilhas e baterias. Através de uma análise dos rótulos de pilhas de diferentes marcas disponíveis no comércio pode-se observar que: a. Não apresentam informações sobre a forma e/ou local ambientalmente correto para o descarte das pilhas usadas; b. Não apresentam informações sobre os danos que as pilhas podem causar a saúde e ao meio ambiente; c. Não apresentam a composição e a concentração dos componentes que constituem as pilhas; d. As orientações contidas nos rótulos são apresentadas em letras praticamente ilegíveis. 5. CONCLUSÕES Os resultados obtidos no presente trabalho permitem concluir que: A maioria da população entrevistada na cidade de Londrina faz uso de pilhas e baterias, desconhecendo qualquer instrução sobre o descarte adequado sendo que 81,5% faz o descarte no lixo doméstico. 431 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Em torno de 86% da população desconhecia que as pilhas e baterias continham metais pesados tóxicos na sua composição, porém 49,5% possuíam uma noção de que eles podem causar algum dano à saúde e ao meio ambiente. A resolução em seu artigo 13º tira a responsabilidade dos fabricantes sobre o fim adequado das pilhas e baterias, tornando a reciclagem não necessária legalmente. No Brasil existem empresas que reciclam todos os tipos de pilhas e baterias, atualmente trabalhando aquém de suas capacidades operacionais, provavelmente devido ao elevado custo de reciclagem. Considerando os impactos negativos causados ao meio ambiente, faz-se necessário um rigoroso cumprimento da resolução no que se refere à disposição final adequada, através da organização da coleta, reutilização e reciclagem de pilhas e baterias. Através do exercício da Prática de Entrevistas aplicada em várias oportunidades no Currículo Integrado de Enfermagem, os alunos mostraram-se capacitados a elaborar, aplicar e analisar um instrumento de pesquisa que resultou no levantamento de um problema. O Currículo proporcionou ainda, o estímulo e a autonomia para a busca de soluções juntamente com a comunidade, o que deverá ser realizado através de um Projeto de Pesquisa, em fase de elaboração, sem ligação direta com o Departamento de Enfermagem, e que será protocolado junto à Coordenadoria de Extensão a Comunidade (CEC) da Universidade Estadual de Londrina. Não basta somente detectar um problema, deve-se também tomar medidas para que este seja amenizado ou resolvido, visando assim, o exercício da Enfermagem: educação, prevenção e promoção da saúde. 432 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Anexo 1: Questionário para análise do conhecimento da população em relação às pilhas e baterias 1. Idade: 2. Sexo () masculino () feminino 3. Escolaridade: ____________________________ 4.Profissão:_______________________________ 5. Tem o costume de utilizar pilhas e/ou baterias em seu lar? ( ) sim ( ) não Se não, pelo menos já utilizou? ( ) sim ( ) não 6.Para quê é utilizado as pilhas e as baterias? ( ) Controle remoto ( ) Brinquedos ( ) Lanterna ( ) Barbeador ( ) Radio ( walkman, disc man, etc) ( ) Telefone ( ) Relógio( de parede, despertador) ( )Outros (quais) -----------------------------------7.Após utilização, onde as pilhas e/ou baterias são dispensadas? ( ) Lixo doméstico ( ) Guarda em casa ( ) Lixo apropriado para pilhas e baterias ( ) Outros ( onde? )_________________________ 8. Conhece alguma instrução para o descarte seguro das pilhas e baterias? ( ) sim ( ) não Qual__________________________________________ 9.Conhece / já ouviu falar dos riscos do contato das pilhas e/ou baterias para sua saúde e meio ambiente? ( ) sim ( ) não Qual____________________________________________ 433 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 10.Já aconteceu da pilha estourar, vazar? ( )sim ( )não Se sim, o que você fez? _________________________________ ( ) Como pegou a pilha ( ) Jogou fora 11.Conhece / já ouviu falar de algum componente das pilhas? ( ) sim ( )não ( ) chumbo ( ) lítio ( ) cádmio ( ) níquel ( ) mercúrio ( ) cobre ( )outros ( ) zinco 12.Já leu o rótulo de embalagem das pilhas à respeito de segurança e descarte? ( ) sim ( )não Qual era a instrução? ----------------------------------------- 434 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 6. Referências Bibliográficas ANDRADE, F.C. Você usou, e agora? BOL, <http:/br.geocites.com/voceusou.html> cap2, 3, 4 e 5. Acesso em 29/07/2001. BRADY, J.E. Química Geral. Rio de Janeiro: Editora LTC Técnicos e Científicos. Editora S. A, 1986. p.630-633. Livros BRAILE, P.M. Manual de Tratamento de águas residuárias industriais. São Paulo: CETESB, 1979.p 19-31 BRASIL. Resolução CONAMA nº257, de 30 de junho de 1999. Lei nº6.938, de 31 de agosto de 1981 e pelo Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990. Diário Oficial da República federativa do Brasil. Brasília. < http:/Br.geocites.com/voceusou.html > Acesso em 29/07/2001. JARDIM, N.S. Manual de Gerenciamento Integrado. (IPT. Instituto de Pesquisa Tecnológica). São Paulo: CEMPRE, 1995, p23-27,215. JOHN, L. Reciclagem de baterias e pilhas ainda é incipiente. BOL, jul. 2001. Agência Estado. Disponível e < http//www.doispts.hpg.com.br/artigos/reciclagem-baterias.htm >. Acesso em 22 jul.2001. VILHENA, Guia de coleta seletiva de lixo. São Paulo: CEMPRE, 1999.p14-19 435 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. DIAGNÓSTICO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE ENFERMAGEM DA UNIOESTE: RELATO DE EXPERIÊNCIA1 Beatriz Rosana Gonçalves de Oliveira2 Maria Lúcia Frizon Rizzotto3 Rosa Maria Rodrigues4 O trabalho objetivou diagnosticar internamente as condições de oferta e funcionamento do Curso de Enfermagem da UNIOESTE, utilizando-se de metodologia quali-quantitativa para análise dos prognosticadores pesquisados com os acadêmicos, docentes, egressos e profissionais de saúde do município e região, obtidos por meio de 1 2 3 4 Resultado parcial do projeto de pesquisa do Colegiado do Curso de Enfermagem da UNIOESTE para subsidiar a avaliação do PPP, com a participação dos seguintes docentes: Adriana Romão da Costa; Alcy A. L. Souza; Cláudia S. Vieira; Débora C. I Alves; Elizabeth Braz; Elizabeth M. Lazzarotto; Gessi M. Cardoso; Guerti S. Berto; Jacó F. Schneider; Lili M. Hofstatter; Lorena M. G. Gemelli; Luciana M. Fernandes; Luiz F. Reis; Márcia R. S. B. Mendes; Maristela S. Marsachin; Marister Picolli; Marlei de F. C. Fiewski; Nelsi S. Tonini; Neusa Collet; Patrícia R. Mateus; Ronaldo Luiz Barbosa; Rosemary A. G. Stuchi; Sebastião Caldeira; Solange de F. Reis Conterno; Solânia Durman; Terezinha Alves Dias; Vanda M. Paes Scopel. Enfermeira, mestre em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP, docente da disciplina de Assistência de Enfermagem VI, coordenadora do Curso de Enfermagem do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Estadual do oeste do Paraná. End: Rua mato Grosso, 1637, apto 1401, Centro, Cascavel, Pr. CEP: 85840-110. Email: [email protected] Enfermeira, mestre em Educação pela Faculdade de Educação Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP, Doutora em Saúde Coletiva pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, Sub-Coordenadora do Colegiado do Curso de Enfermagem, docente da disciplina de Saúde Coletiva do Curso de Enfermagem do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Estadual do oeste do Paraná. E-mail: [email protected] Enfermeira, mestre em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNICAMP, docente da disciplina de Enfermagem Fundamental, do Curso de Enfermagem do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Estadual do oeste do Paraná. End: R. Marquês de Três Rios, 242, Aptº 32, Bl A, Botafogo, Campinas, São Paulo, CEP: 13 020 030. E-mail: [email protected] 436 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. análise documental do acervo da universidade e de entrevista semiestruturada com os sujeitos. Obteve-se dados que refletem a realidade do Curso e subsidiam a proposta de alteração do projeto político pedagógico, levando em consideração as Diretrizes Curriculares, na versão discutida no início dos trabalhos e que foi definitivamente aprovada em novembro de 2001, mas sem a certeza, ainda, de que elas serão totalmente contempladas, pois não conseguimos um acúmulo de discussão que nos permitisse ter segurança de que as orientações são todas imprescindíveis. A partir dos dados agrupados e analisados obteve-se subsídios para a continuidade da discussão coletiva envolvendo docentes e discentes do curso para a proposição das transformações no encaminhamento do ensino de graduação de enfermagem de nossa universidade. O Curso de Enfermagem da UNIOESTE foi autorizado no ano de 1978, iniciou sua primeira turma no ano de 1979 e teve diversas mudanças na sua estruturação curricular desde então. O projeto de pesquisa Resgate histórico das alterações curriculares do curso de enfermagem da UNIOESTE Campus de Cascavel 1979 1999 , identificou quatro alterações na sua grade curricular, quase sempre buscando ajustes técnicos estruturais nas referidas grades (Rodrigues & Pereira, 2001). A partir de 1990, houve mudança efetiva na grade sendo implantado o regime seriado e, em 1995, foi elaborado, pela primeira vez, o Projeto Político Pedagógico (PPP) do Curso de Enfermagem, que é vigente até o momento. É sobre esse projeto que os professores e alunos do curso têm se debruçados e realizado reflexões com vistas a sua avaliação e possíveis propostas de mudanças, caso seja essa uma necessidade identificada pelos atores envolvidos. Um Projeto Político Pedagógico - PPP busca definir as diretrizes de um curso de graduação abarcando as esferas política e pedagógica do ensino, de forma indissociada. Tais aspectos estão presentes no projeto em vigor do Curso de Enfermagem, em que se procura formar o enfermeiro generalista, com visão crítica em relação ao trabalho que executa e compromisso com a transformação social. 437 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O projeto pedagógico em vigor no Curso de Enfermagem da UNIOESTE (UNIOESTE, 1995), seguiu a normatização do Parecer 314/94 CFE (Santos, 1997), cujos pressupostos tentavam dar conta da superação da dicotomização do ensino de enfermagem, bem como da inversão do modelo de assistência à saúde, preconizando um currículo mínimo para os cursos de graduação em enfermagem, com parâmetros tais como: processo de trabalho incluindo atividades terapêuticas/propedêuticas específicas, administrativas e educativas, em serviços de saúde e na comunidade; consideração das especificidades do campo de trabalho na enfermagem; formação orientada pelo perfil epidemiológico da população; acompanhamento e produção de novos conhecimentos na enfermagem oriundos das mudanças científicas e tecnológicas na área da saúde e estudo teórico emanado dos problemas práticos vivenciados. Preconiza ainda que o enfermeiro atua como integrante da equipe de saúde, e sua formação contempla conhecimentos técnicocientíficos desenvolvidos num processo pedagógico voltado para o conjunto das relações sociais e produtivas na relação ensino aprendizagem. As diretrizes curriculares pretendem oferecer uma base filosófica, política, conceitual e metodológica que explicitem um conjunto de habilidades e competências de uma determinada área de conhecimento. Os parâmetros propostos para as diretrizes curriculares apontam: a construção coletiva de um projeto pedagógico; flexibilidade para a observação de transformações na ciência e na sociedade; formação integral que possibilita a compreensão das relações de trabalho e de alternativas sócio-políticas de transformações sociais; graduação, como etapa inicial formal, que possibilita a construção da base para o permanente e necessário processo de educação continuada; incorporação ao eixo fundamental do currículo de atividades complementares; articulação entre teoria e prática; predomínio da formação sobre a informação; interdisciplinaridade; incorporação da pesquisa como atividade regular, sistemática e continuada; promoção de atividades educativas de natureza científica e de extensão; a indissociabilidade entre ensino, 438 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. pesquisa e extensão; conhecimento do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, e a promoção da extensão aberta à participação da população (Conselho Nacional de Educação, 2001). As novas diretrizes curriculares desencadearam o debate em algumas instituições de ensino, ou em alguns cursos de algumas instituições de ensino, como é o caso do curso de Enfermagem desta universidade, e ainda em entidades profissionais, como a Associação Brasileira de Enfermagem. No entanto, como já mencionamos anteriormente, há um descompasso entre as discussões realizadas na Comissão de Especialistas da SESu/MEC e as desenvolvidas nas instituições de ensino e entidades de classe, especificamente no caso da formação do enfermeiro. Nesse sentido, nos propusemos, nesta pesquisa, se propõe traçar um diagnóstico da realidade de funcionamento do curso de Enfermagem da UNIOESTE, em relação ao atual projeto políticopedagógico, no intuito de identificar os aspectos positivos desta proposta pedagógica e aqueles em que se faz necessária à reformulação. Os objetivos desse trabalho foi estudar e analisar a atual proposta pedagógica do Curso de Enfermagem da UNIOESTE; fazer um levantamento de projetos políticos pedagógicos de outras universidades com cursos de Enfermagem; identificar os aspectos positivos da grade curricular em vigor e identificar aspectos que necessitem de reformulação no atual currículo. Quando pensou-se em avaliar o PPP do curso, a idéia foi lançada em reunião de Colegiado e daí saíram os primeiros encaminhamentos. Assim, no ano de 2000, realizou-se a primeira atividade nesse sentido que foi o evento: Projeto Político Pedagógico do Curso de Enfermagem: impasses e perspectivas , realizado nos dias 31 de maio de 2000 e 01 de junho de 2000. O evento visou fundamentar o processo de avaliação com discussões teóricas acerca do processo de avaliação de uma forma genérica. No ano de 2001, já no seu início, formou-se uma comissão de avaliação do PPP que encaminhou o início dos trabalhos. Essa comissão elaborou um encontro entre todos os docentes do Curso que 439 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. se realizou nos dias 08 e 09 de fevereiro de 2001. Dentre os encaminhamentos definidos neste encontro estava a proposta metodológica de formação de dois grupos de trabalho para efetivar a avaliação. Constituíram-se, assim, o grupo 1 e grupo 2. Ao grupo 1 coube o encaminhamento da proposta de trabalho que faria a aplicação de questionários aos alunos, egressos, docentes, enfermeiros do município e região, visitas a outras escolas, análise de currículos de outras escolas. Ao grupo 2 coube a tarefa de reflexão e re-elaboração dos pressupostos teóricos, justificativa, objetivos do curso, perfil profissional, ementas e objetivos das disciplinas. Feito a divisão das ações de cada grupo, os mesmos passaram a desenvolver suas atividades em separado, uma vez por semana. Ë importante destacar que, dos grupos de trabalho faz parte a totalidade dos docentes do curso de Enfermagem e os discentes se fazem representar de acordo com sua disponibilidade. Além destes encaminhamentos houve a realização de um evento com a presença da Dr.ª Iara de Moraes Xavier Presidenta da Comissão de Especialistas em Enfermagem do MEC sobre as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Enfermagem no Brasil. Esse evento aconteceu no dia 19 de abril de 2001, no anfiteatro da UNIOESTE, campus de Cascavel, contando com 215 inscrições, tendo a presença de educadores da enfermagem de todo o Paraná. O grupo 2 reuniu-se pela primeira vez no dia 16 de fevereiro de 2001, quando avaliou uma metodologia de trabalho. As ações do mesmo se iniciariam pela realização do cronograma, repasse dos itens que seriam trabalhados (pressupostos teóricos, objetivos, justificativa, etc.), leitura conjunta da proposta 2 de diretrizes curriculares que estava em tramitação no Conselho Nacional de Educação, na ocasião. As atividades foram iniciadas com a leitura da proposta 2 de Diretrizes Curriculares (DC) discussão que levaram dois dias de trabalho. A leitura desse documento serviu de base para reflexão dos nossos pressupostos teóricos, objetivos do curso, que foi a atividade posteriormente encaminhada. No dia 23 de fevereiro, o grupo discutiu a respeito do envio de moção de apoio ao Conselho Nacional de Educação em torno da proposta 2 de DC, envio esse aprovado em Assembléia do Colegiado do Curso do dia 15 de fevereiro de 2001. O 440 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. grupo pontuou os itens que deveriam conter na moção, quais sejam: a importância da proposta enquanto um documento construído pela categoria; ela mantém a possibilidade de formação do enfermeiro generalista preconizado em todas as discussões da enfermagem, contrapondo-se à especialização precoce presente na proposta 1 de DC; a formação do enfermeiro generalista contribui para a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). Após essas discussões sobre as DCs, o grupo deteve-se na discussão e elaboração dos pressupostos teóricos do curso. Nesse momento, teve-se dúvida em relação de como proceder, ou seja, se apenas deveriam ser revistos os conceitos implícitos no atual PPP, ou se deveriam ser discutidos em maior amplitude um a um. O grupo entendeu que as definições presentes nos pressupostos teóricos deveriam continuar implícitas e que não haveria necessidade de definição um a um dos conceitos. Diante disso, foi procedido à leitura e reconstrução do que já havia sido elaborado em 1995. Da mesma forma procedeu-se com os objetivos e perfil profissional. Nesse momento dos trabalhos, os componentes dos grupos sentiram a necessidade de uma reunião em conjunto para apresentação do que já havia sido produzido e para definir novos encaminhamentos. Nessa reunião ampliada o grupo 1 apresentou um condensado do seu trabalho até aquele momento e o grupo ampliado avaliou a necessidade de se retomar os conceitos sendo que indicaram como essencial a definição dos conceitos um a um a constarem no PPP, como também o resgate dos conceitos já elaborados no Projeto do Marco Conceitual do Curso de Enfermagem, entendendo que aquela foi uma construção coletiva e que não poderia ser perdida nesse momento também coletivo de discussão do PPP. Assim, no dia 15 de maio de 2001, foram reapresentados os conceitos de trabalho, processo de trabalho, elementos do processo de trabalho, forças produtivas ou forças de produção, modo de produção capitalista, mais valia, relações de produção divisão técnica e social do trabalho, e relações sociais, homem e sociedade. Esses conceitos foram resgatados do marco conceitual e adotados como conceitos fundamentais dos docentes e alunos do Curso de Enfermagem. Nesse 441 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ponto houve uma discussão, alertando para a profundidade dos conceitos que estavam sendo abraçados e que eles deveriam permear todas as ações das pessoas envolvidas no processo de formação do curso. Os docentes avaliam que não há como estabelecer uma única linha de pensamento e que deve-se tomar esses conceitos como sendo um consenso mínimo das pessoas envolvidas. Além desses conceitos faltavam os conceitos de processo saúde doença, profissão enfermagem, processo de trabalho, relação teoria e prática, assistência/cuidado, interdisciplinaridade, universidade/ensino. Esses conceitos foram elaborados pelos docentes que mais tinham trabalhado com os mesmos e posteriormente apresentados em reunião ampliada dos dois grupos (salientamos que a partir dessas discussões, os grupos passaram a trabalhar em conjunto sendo esse um consenso retirado em reunião, pois as etapas subseqüentes do projeto eram interdependentes). Após a elaboração, os conceitos foram apresentados nas reuniões, submetidos à apreciação e feitos os devidos ajustes. É preciso registrar que, após o evento realizado sobre as DCs, houve a indicação de conhecimento e leitura de alguns documentos essenciais quando da construção de um PPP, tais como: a Constituição Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB 9394/96, Plano Nacional de Educação Lei 10171 de 09 de janeiro de 2001, além dos documentos da UNESCO para a educação no mundo. Diante disso, os grupos se reuniram e procedida a leitura e discussão desses documentos, continuando posteriormente com a apresentação dos pressupostos teóricos do PPP. Após a elaboração conjunta dos conceitos houve a condensação dos mesmos e sua nova apresentação ao grupo, que sugeriu novamente mudanças. Percorrido esse caminho, foi-se para a plenária ampliada com todos os docentes e alunos no dia 03 de agosto de 2001, quando novamente foi apresentado, todo o resultado do trabalho dos grupos 1 e 2. Nesse dia ainda foram feitas muitas sugestões ao texto final do PPP, as quais foram incorporadas. O encaminhamento posterior a essa plenária ampliada foi o de discussão da grade curricular com todos os docentes e com as 442 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. representações dos acadêmicos. Para tanto, foi nomeado um docente para operacionalizar a discussão de cada área do curso (áreas básicas, ciências humanas, enfermagem fundamental, assistência de enfermagem, administração, licenciatura em enfermagem). Esses docentes se encarregaram de distribuir os planos de ensino atuais com os seus pares de área e discutir internamente os possíveis encaminhamentos, à luz dos dados apresentados na pesquisa e dos pressupostos teóricos, objetivos do curso. O Projeto de avaliação do PPP foi uma atividade proposta e construída para a participação de todos os docentes. Isso ganha maior importância à medida que, compromete as pessoas com o processo e com o produto do trabalho, para tanto, foi destinada carga horária a todos os docentes do curso que foi liberada em todas as sextas-feiras. Outro aspecto de fundamental importância nesse encaminhamento da avaliação é que, até então nunca havia sido feito uma discussão tão ampliada, envolvendo todos os atores do processo ensinoaprendizagem do Curso de Enfermagem desta universidade. Contudo, há que se ressaltar que nem todos os envolvidos buscaram comprometer-se com o processo. Isso pode ser averiguado pelas muitas ausências nas reuniões de trabalho, embora houvesse destinação de carga horária e as atividades tivessem sido concentradas sempre em um mesmo dia em que os docentes enfermeiros não tivessem atividades docentes de ensino. Acredito-se que o Grupo 2 produziu discussões importantes sobre os temas que lhe foi proposto e que recebeu também muitas contribuições tanto do grupo 1, quando da apresentação dos resultados parciais ou finais, quanto na construção conjunta dos conceitos dos pressupostos teóricos, quanto dos alunos representantes de turma que, sempre que possível estiveram presentes. Isso nos permite avaliar que, até o momento, o processo de avaliação do PPP do Curso de Enfermagem da UNIOESTE, tem se constituído em uma construção coletiva, o que leva a considerar que estar se consolidando em uma prática positiva e que não será mais possível realizar o caminho inverso. 443 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O grupo 2, paralelamente aos trabalhos do grupo 1, viabilizou o diagnóstico do currículo vigente, na forma de coleta de dados junto aos enfermeiros dos campos de estágios e atividades práticas supervisionadas com objetivo de identificar dificuldades nas relações entre universidade e os campos de prática, aos egressos e aos alunos do 2o, 3o, e 4o ano do curso. Mediante um instrumento com questões abertas e especificas para cada grupo e consulta a outros currículos e grades das principais escolas de Enfermagem nacionais. Após a apresentação do modelo do instrumento de coleta de dados para discussão e possíveis alterações este foi reestruturado e decidiu-se pela realização de um estudo piloto. Após a aprovação dos instrumentos, o grupo 2 foi subdividido entre seus componentes para a coleta de dados, destinando-se os meses de março para a aplicação dos instrumentos e abril para a tabulação dos dados. Em seguida os membros do grupo se reuniram a fim de preparar os resultados obtidos para apresentação a todos os envolvidos com o trabalho. Os dados agrupados foram apresentados para a comunidade e estão sendo utilizados como referência para a reformulação do projeto político pedagógico. A partir da metodologia inicial adotada, obteve-se subsídios necessários para a propostas de reformulação, que vem ocorrendo nos encontros semanais entre os docentes que compõe as sub-áreas do saber na graduação em enfermagem, etapa atual de nosso trabalho, em que estão sendo discutidos e reapresentados os conhecimentos, habilidades e competências necessários a formação do enfermeiro na reconstrução do processo de formação que passa necessariamente pela transformação do projeto político pedagógico do curso, que se não é uma proposta inovadora, foi a proposta possível de se realizar em nossa realidade e levando em consideração o contexto em que o curso se insere. Avalia-se nesse momento que, apesar de haver uma normatização aprovada em nível nacional, preconizando mudanças na formação; que apesar de se ter feito um processo amplo de discussão do projeto político pedagógico; de haver uma preocupação efetiva com a formação de um enfermeiro comprometido com a saúde do 444 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. povo brasileiro, não se tem ainda, um acúmulo de experiência que deixe os enfermeiros seguros de que essa mudança curricular deve ser totalmente ajustada à orientação teórico-filosófico-ideológica presente nas Diretrizes Curriculares. BIBLIOGRAFIA CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, CÂMARA DE EDUCAÇÃOO SUPERIOR. Resolução n .º 3 de 07 de novembro de 2001. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. RODRIGUES, R. M.; PEREIRA, R. C. F. Resgate histórico das alterações curriculares do curso de enfermagem da UNIOESTE, Campus de Cascavel 1979-1999. Pesquisa, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2000. SANTOS, E. F. et. al. Legislação em enfermagem: Atos normativos do exercício e do ensino de enfermagem. São Paulo, Atheneu, 1997. p. 241-47: PARECER Nº 314/94. UNIOESTE. Colegiado do Curso de Enfermagem. Projeto Político Pedagógico do Curso de Enfermagem. Cascavel, 1995. 445 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O ENSINO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA NO CURRÍCULO INTEGRADO DOS CURSOS DE ENFERMAGEM DA FAMEMA E DA UEL M. A. P. OTANI1 D. R. CARMO2 R. S. L. ROSA3 A necessidade de um novo perfil profissional do enfermeiro para promoção qualitativa e quantitativa das ações de saúde, as propostas 80 do Ideário UNI e a aprovação de um novo currículo mínimo para os Cursos de Enfermagem, como também, os princípios da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação impulsionaram as mudanças curriculares dos Cursos de Enfermagem da FAMEMA e UEL. Adotando o Currículo Integrado e a Metodologia da Problematização, estas Instituições buscam uma formação mais crítica e reflexiva, que proporcione ao estudante autonomia e capacidade para resolução de problemas. Esta proposta de ensino-aprendizagem tem como pilares a interdisciplinaridade, a prática multiprofissional; a inserção precoce do estudante na rede de serviços de saúde e na comunidade; o ensino centrado no estudante e o professor com o papel de facilitador; além do ensino e pesquisa orientados pelos problemas prevalentes de saúde da população, procurando articular ensino, pesquisa e assistência. Nessa nova proposta a Disciplina de Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica desenvolve seus conteúdos durante as quatro séries do currículo, partindo do que é mais geral para o mais específico; 1 Mestre em Enfermagem Psiquiátrica pela EERP-USP. Professora Assistente da Disciplina Enfermagem em Saúde Mentl e Psiquiátrica FAMEMA. 2 Doutorando em Enfermagem Psiquiátrica da EERP-USP. Professor Adjunto da Disciplina de Enfermagem Psiquiátrica UEL. 3 Mestre em Enfermagem Psiquiátrica pela EERP-USP. Professora da Disciplina Enfermagem em Saúde Mentl e Psiquiátrica FAMEMA. Machado, R. C.B.R e Siqueira Junior, A. C - Colaboradores 446 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. buscando através da associação com outros conteúdos, que o estudante sistematize os conhecimentos em nível crescente de complexidade, de forma a garantir que a partir de sucessivas aproximações, o aluno possa aprendê-los e aplicá-los, tornando-os então problematizados. 1. Introdução Atualmente, a educação busca inovações que atendam às necessidades do mundo moderno. Há um entendimento internacional que o ensino tradicional, nos cursos de graduação na área da saúde, já não é suficiente para atender às exigências de formação dos futuros profissionais. O ensino tradicional caracteriza-se pela aprendizagem centrada na figura do professor, que detém a autonomia do conhecimento e cria um fluxo unilateral de comunicação, o que dificulta o desenvolvimento do pensamento crítico por parte do estudante, que assimila as informações sem muitos questionamentos. A partir de 1998, após Relatório da Comissão Internacional Sobre a Educação para o Século XXI, (DELORS, 1998) a educação brasileira recebeu com entusiasmo as novas propostas que passaram de alguma forma a integrar os eixos norteadores da política educacional. Dentre estas propostas, as instituições de ensino teriam como metas educacionais: aprender a ser, a fazer, a viver juntos e a conhecer. Entende-se que estas se constituem em aprendizagens indispensáveis e que precisam ser perseguidas na educação de nosso país. Com este trabalho pretende-se relacionar o ensino e a prática da Enfermagem no Brasil, que segundo SENA-CHOMPRÉ (1998) têm sido historicamente marcado, por concepções que sustentam e orientam os modelos de atenção à saúde centrada no biológico, curativo e individual, com uma forte característica de subalternidade no conjunto das práticas deste setor. O Projeto UNI (Uma Nova Iniciativa na formação de profissionais de saúde) desenvolvido nos Cursos de Enfermagem em Marília (FAMEMA) e em Londrina (UEL), a partir da década de 90, 447 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. impulsionou um fazer inovador que considera os serviços de saúde, a comunidade e as instituições de ensino como atores imprescindíveis para efetivas mudanças, seja no aspecto educacional ou de assistência à saúde. Frente a esse movimento desencadeado nessas instituições de ensino, iniciou-se um processo de reflexão sobre a formação do enfermeiro e, consequentemente, a prática de ensino, considerando que ambas estão interligadas e, portanto, uma pressupõe a outra. Comunga-se com STACCIARINI (1999) ao defender que os profissionais formadores de recursos humanos, devem preocupar-se mais com o como ao invés do que ensinar, sem esquecer é claro, dos objetivos educacionais, ou seja, do porque ensinar. A mudança proposta para o currículo de enfermagem, aqui descrita, tem como propósito a formação de um profissional crítico e reflexivo, ativo, formulador de questionamentos e com características generalistas em detrimento da formação de especialistas que durante muitos anos caracterizaram o ensino na Enfermagem. Escolhe-se, então, o Currículo Integrado e a Interdisciplinaridade como pano de fundo para essas mudanças, onde a organização curricular não se dá por disciplinas, mas sim, por núcleos de conhecimento que são desenvolvidos por um conjunto de disciplinas que buscam o significado da aprendizagem para o estudante, procurando então, contextualizá-la. Currículo Integrado é definido por DAVINI (1983) como um plano pedagógico que articula dinamicamente trabalho e ensino, prática e teoria, ensino e comunidade . As relações entre trabalho e ensino, entre os problemas e suas hipóteses de solução devem levar em conta as características sócio-culturais do meio em que este processo se desenvolve. Assim, entende-se o currículo como a totalidade das situações de ensino-aprendizagem planejadas intencionalmente; e que possa proporcionar experiências direcionadas para o alcance dos objetivos educacionais definidos. 448 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A construção do novo currículo iniciou-se pela delimitação do perfil do profissional que se deseja formar, ou seja, descrevendo as suas competências. Como estratégia de ensino-aprendizagem optou-se pela metodologia da Problematização. Nesta metodologia o estudante é o construtor do seu conhecimento, a partir da reflexão e indagação da sua prática. A participação do estudante no processo de formação ocorre de modo ativo, criativo e crítico, onde há um contínuo exercício que o estimula a realizar análise, interpretação e síntese do objeto a ser apreendido. O professor tem o papel de facilitador deste processo. Ele é orientador, condutor do processo, provocador de dúvidas e deve compreender o estudante como pessoa, que determina e é determinado por questões políticas, econômicas e por sua história de vida. Assim, o professor problematizador deve conhecer e considerar o conhecimento prévio do estudante, lançar questões norteadoras que facilitem à elaboração dos problemas, orientar o método da busca de respostas e, orientar a elaboração da síntese dos conteúdos construídos pelos estudantes (CHIRELLI et al., 1999). 2. Objetivos O presente trabalho tem como objetivos relatar a experiência dos docentes da disciplina de Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica, dos Cursos de Enfermagem da FAMEMA e UEL, frente às mudanças curriculares e apresentar a nova inserção de temáticas desta área, frente ao Currículo Integrado. 3. Metodologia Trata-se de um estudo descritivo focalizando a experiência vivenciada pelo grupo de docentes envolvidos. A decisão de mudança curricular se deu coletivamente, ou seja, todos os docentes dos Cursos de Enfermagem das Instituições envolvidas participaram e puderam opinar frente a decisão tomada. 449 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Mas, ao se efetivar realmente, outros argumentos humanos surgiram, levando-os a observar que os momentos para a adesão à mudança, e conseqüentemente, à transformação, são individuais e únicas. Impulsionados pelas propostas do ideário do Projeto UNI, o processo de repensar o modelo pedagógico iniciou em 1993 na FAMEMA e, em 1996 na UEL. A partir daí os docentes participaram de várias capacitações pedagógicas que em muito contribuíram para a compreensão da metodologia da problematização. No currículo tradicional, o conteúdo da Enfermagem em Saúde Mental e Enfermagem Psiquiátrica estavam fixados num momento determinado na grade curricular. Na FAMEMA concentrava-se na 3ª série o curso teórico (60 h/aula), e na 4ª série o estágio prático (180 h/aula). Na UEL o conteúdo era ofertado no 2º ano com Saúde Mental (34 h/aula), e no 4º ano com o curso teórico ( 34h/aula) e estágio prático de Enfermagem Psiquiátrica (102h/aula). Sabe-se que a antiga estrutura curricular que envolvia estratégias de ensino-aprendizagem que valorizavam o conteúdo, a individualidade, a transmissão do conhecimento de maneira unidirecional e muitas vezes descontextualizada, não se dissolvem apenas com a decisão de mudar ou com a vontade de fazer diferente. Foi necessário muito mais do que as assessorias e capacitações que possibilitaram construir um referencial filosófico da metodologia utilizada, foi preciso construir uma outra política institucional de ensino. Tomada a decisão de mudar se deparou com questionamentos e dificuldades inerentes ao processo de mudança, ao qual nos se propõe: O que o estudante precisa aprender durante a graduação, para tornar-se um profissional apto ao mundo moderno e suas inovações? As propostas atuais deixam conteúdos de fora? Se conseguirá atingir a proposta do Currículo Integrado e a Interdisciplinaridade? As outras disciplinas (áreas de conhecimento) reconhecem a importância dessa área? 450 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Há um reconhecimento? Adota-se posturas flexíveis ou são acobertados suas inúmeras titulações? Estar-se abertos a modificar essa prática? Ou o conhecimento especializado sobrepõe tudo isso? E a especialidade? Que encaminhamento terá? Quem ocupará o espaço destinado ao especialista? Quando? Com estas inquietações ante à efetivação das mudanças, iniciouse em 1998 e 2000, na FAMEMA e na UEL, respectivamente a implementação do currículo integrado e problematizador. Inicialmente, a preocupação girou em torno da escolha dos conteúdos, e esse, provavelmente, tenha sido o meio mais acessível para que se compreendesse o significado de currículo integrado e a interface com as outras disciplinas, indicando o caminho da interdisciplinaridade. Na FAMEMA, e posteriormente, na UEL ocorreu uma aproximação com a disciplina de Psicologia possibilitando a delimitação dos conteúdos pertinentes à cada área de conhecimento. 4. Resultados 4.1 Curso de Enfermagem da FAMEMA Após quatro anos de implantação do novo currículo, os conteúdos ministrados nas disciplinas de Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica foram organizados em áreas temáticas ao longo das quatro séries, proporcionando intervenções e interações com as outras áreas de conhecimento da enfermagem. 1ª Série: Iniciou-se aqui a discussão sobre trabalho em grupo, que é uma estratégia de ensino-aprendizagem utilizada pela escola, para desenvolver a metodologia da problematização. Abordou-se portanto, aspectos de relacionamento interpessoal e comunicação. De acordo com o propósito desta série, os estudantes desenvolvem as suas atividades em grupos, realizam entrevistas, dramatizam situações hipotéticas. Portanto, os conteúdos acima citados, passam a adquirir um caráter mais técnico e com objetivos 451 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. bem definidos. Inicia aí também a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), aproximando o estudante ao cliente na realização do exame psíquico deste. 2ª Série: A prática de vivenciar o trabalho em grupo como estratégia pedagógica facilita ao estudante desta série o desenvolvimento de trabalhos com grupos de clientes nos locais de atuação prática. Inicia-se aqui a abordagem das principais dependências: tabaco, álcool e outras drogas, como também o entendimento de crise nas diversas fases do desenvolvimento humano. As diferentes abordagens, realizadas em entrevistas, no contexto familiar e suas peculiaridades, bem como a atuação da enfermagem ora prevenindo situações, ora realizando ações curativas nos aspectos relacionados ao emocional. 3ª Série: Nesta série o estudante tem a oportunidade de desenvolver as atividades de enfermagem psiquiátrica propriamente ditas, a saber: na Unidade de Internação Psiquiátrica no Hospital Geral, no Ambulatório de Saúde Mental e, em uma Unidade Básica de Saúde do município onde se desenvolve um programa de saúde mental comunitário. Em cada um destes locais tem um docente da área de Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica desenvolvendo atividades docente-assistenciais. O propósito deste trabalho é possibilitar ao estudante entrar em contato com serviços de atenção à saúde mental e psiquiátrico que não reforcem o modelo manicomial e de exclusão da pessoa em sofrimento mental. São desenvolvidos os temas da história da psiquiatria e enfermagem psiquiátrica, as políticas públicas de saúde mental, as urgências psiquiátricas, a morte, transtornos mentais mais prevalentes, como também, como a assistência de enfermagem realizada. Há também, intervenções interdisciplinares, onde o professor da enfermagem psiquiátrica atua em conjunto com o professor de outra área e com o grupo de estudantes realizando consultorias, abordandose aspectos clínicos e emocionais que envolve a vivência do grupo. 452 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 4ª Série: Nesta série o estudante tem a oportunidade de realizar o estágio eletivo nesta área de conhecimento. Além disso, pode se contribuir pontualmente em discussões que priorizem a interdisciplinaridade, principalmente relacionadas ao trabalho em equipe. 4.2 Curso de Enfermagem da UEL O currículo integrado encontra-se na implantação do 3º ano da primeira turma. A organização dos conteúdos do curso são organizados por ano, em módulos, e estes divididos em unidades que trabalham as competências que o aluno deverá alcançar. Possibilitando dessa forma, que as disciplinas de Saúde Mental e Enfermagem Psiquiátrica possam ser inseridas nas áreas temáticas ao longo dos 4 anos, de forma integrada com as outras áreas de conhecimento da enfermagem e das áreas básicas. Disciplinas modulares Saúde Mental e Enf. Psiquiátrica 1º Ano Módulos: I A Universidade e o curso de Comunicação; Enfermagem; Técnicas de entrevista; II Processo saúde e doença; Trabalho em grupo; III Processo saúde doença a Desenvolvimento da personalidade; partir do núcleo familiar; Mecanismos de defesa; IV Avaliação do estado de saúde Exame do estado mental. do indivíduo. 453 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 2º Ano Módulos: I Introdução à saúde do adulto; II Saúde do adulto I; III Organização dos serviços de saúde e de Enfermagem. 3º Ano Módulos I Da Concepção à adolescência; II Saúde do adulto II ( término de construção). 4º Ano Módulos X Internato de Enfermagem : Urgências e emergências; Gerência dos serviços de Enfermagem e de saúde; Estágio supervisionado em gerência nos Serviços de Enfermagem. ( Em construção) Comunicação terapêutica; Relacionamento interpessoal; Perfil epidemiológico dos transtornos mentais; Crises evolutivas e acidentais no ciclo vital; Semiologia e Semiotécnica dos transtornos mentais; Dependências ( álcool e drogas); Distúrbios psicossomáticos. Políticas públicas de saúde mental; Transtornos mentais mais prevalentes no adulto e idoso; Assistência de Enfermagem ao paciente com transtorno mental; Sistematização da assistência em enfermagem Psiquiátrica. Urgências e emergências psiquiátricas; Oferta de campo da área para Estágio Supervisionado em gerência nos serviços de Enfermagem. 1º Ano Para atingir as competências e desempenhos propostos para este ano ocorre a inserção dos conteúdos listados oportunizando aos alunos instrumentos (comunicação, relacionamento interpessoal, técnicas para entrevistas, trabalho em grupo) para que possam desenvolver a metodologia da problematização, compreender o ser humano e desenvolver a capacidade de realizar o exame do estado mental. 454 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A assistência de enfermagem acontece nível primário Unidades Básicas. Comunidade e 2º Ano Ocorre uma continuidade dos assuntos já iniciados e a oferta crescente de conteúdos que possam favorecer ao aluno condições necessárias para a assistência de enfermagem ao indivíduo adulto , com ênfase nas crises do ciclo vital, dependências e distúrbios psicossomáticos, nos níveis primário e secundário de atenção à saúde. 3º Ano Os conteúdos de enfermagem psiquiátrica neste ano permite que o aluno possa planejar, implementar e avaliar a assistência de enfermagem ao indivíduo com transtornos mentais em níveis secundário e terciário de atenção à saúde. Os serviços de saúde utilizados como campos de estágio prático, possibilitam demonstrar uma assistência ao doente mental dentro dos propósitos da reforma psiquiátrica. 4º Ano O propósito destes assuntos, é capacitar o aluno para atuar em situações de urgência e emergências psiquiátricas que acometem o indivíduo, família e comunidade destacando assistência adequada de acordo com grau de complexidade. Oferece ainda, a possibilidade de vivenciar práticas de enfermagem assistencias, gerenciais, de pesquisa e educativas em serviços de saúde de atendimento psiquiátrico, integrando ensino, serviço e pesquisa. 5. Conclusões Percebeu-se que a educação do futuro exige um esforço que procura romper com paradigmas que o homem sempre preservou; é o que apresentou-se aqui, não indica certezas, mas sim a inexistência do pensamento único e a possibilidade de um fazer diferente. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação no Brasil (LDB), acredita-se na importância de um projeto políticopedagógico para o ensino de enfermagem no Brasil, projeto esse que 455 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. tenha objetivos claros e definidos de onde se quer chegar, ou seja, que contribuições pode-se dar para uma profissão com novas práticas. O reconhecimento da importância da área da enfermagem psiquiátrica, como também, a possibilidade de interfaces com outras disciplinas é desafiador e requer constantes ajustes, o que na verdade caracteriza um currículo dinâmico e inovador. 6. Referências bibliográficas CHIRELLI, M.Q. et al. Introdução ao curso de enfermagem. Faculdade de Medicina de Marília. Curso de Enfermagem, 1999. DAVINI, M.C. Currículo integrado. Brasília. OPS/OMS. 1983. DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo, UNESCO/Cortez, 1998. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo, UNESCO/Cortez, 2001. SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre, Art Med, 2000. SENA-CHOMPRÉ, R.R. A enfermagem no projeto UNI: redefinindo um novo projeto político para a enfermagem brasileira. São Paulo, Hucitec, 1998. STACCIARINI, J.M.R. ; ESPERIDIÃO, E. Repensando estratégias de ensino no processo de aprendizagem. Rev. Latino-am. Enfermagem. Ribeirão Preto, v.7, n.5, p.59-66, 1999. 456 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. SABERES PRÁTICOS NA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO Luciana Guimarães Assad1 Lígia de Oliveira Viana281 O estudo, realizado com enfermeiros do Hospital Universitário Pedro Ernesto/Universidade do Estado do Rio de Janeiro, se propôs a refletir sobre os saberes práticos, na formação do enfermeiro. Na construção do referencial teórico, foram muito relevantes as contribuições de Patrícia Benner, Phillipe Perrenoud e Donald Shon. Do ponto de vista metodológico, a pesquisa constitui-se de estudo de caso, com abordagem qualitativa; a partir de entrevistas semi-estruturadas com enfermeiros envolvidos diretamente na assistência ao cliente. Os resultados demonstram que, devido à diversidade e complexidade dos problemas característicos da prática da enfermagem na atualidade, a formação obteve maior amplitude. Nesse contexto, as competências que dão suporte ao exercício profissional são construídas a partir dos saberes práticos, dos conhecimentos teóricos, da experiência de vida e da socialização profissional. Com fundamento nesses achados, sugerimos que enfermeiros e serviços envolvidos com a educação continuada utilizem instrumentos que busquem preencher lacunas existentes entre o conhecimento profissional e a demanda da prática, buscando a prática da reflexão desde a ação, para que os profissionais possam agir em situações de incerteza, instabilidade e conflito de valores, tendo em vista garantir a qualidade da assistência. Introdução A partir da experiência pessoas, entende-se que a formação do enfermeiro atuante na área hospitalar está diretamente relacionada à sua experiência assistencial. Os resultados do processo formativo 1 Doutoranda em Enfermagem pela EEAN/UFRJ. Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estácio de Sá Campus Barra-akxe 2 Doutora em Enfermagem pela EEAN/UFRJ. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da EEAN/UFRJ. 457 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. podem ser mais ou menos fecundos, de acordo com a intensidade e fundamentação teórica, que alicerça a reflexão sobre as ações. Quando sistemática, intensa e crítica, facilita avanços no sentido de conhecer a si mesmo e ao ambiente que o cerca, desenvolver o poder de argumentação, a capacidade de equilibrar teoria e prática e, finalmente, intercambiar experiências com a equipe. Co-existem nesse movimento o conhecimento teórico e a experiência prática, cuja transação gera conhecimento pessoal, particular e coletivo. Cada profissional traz para o ambiente que o educativo, as peculiaridades de seu potencial intelectual e de conhecimentos apreendidos, e a bagagem acadêmica. Nesse processo, é compreensível que haja diferenças na facilidade de movimentar-se e refletir criticamente sobre as diversas situações com que se defrontam os enfermeiros na prática. A integração do conhecimento pessoal e experiência no trabalho interfere decisivamente nas escolhas relativas aos cuidados a serem prestados aos clientes. Decorre do exposto que o enfermeiro não constrói conhecimentos somente por meio de estudos acadêmicos, pois que o reconstrói no dia-a-dia, a partir dos desafios da realidade. Ao transformar o saber teórico em prática assistencial, está construindo novo conhecimento; reelabora antigas aprendizagens, segundo critérios derivados do cotidiano da assistencial. Assim concebido, o trabalho do enfermeiro pode ser visto como princípio educativo, a ser explorado no processo de formação profissional permanente, o que propicia subsídios à formulação de políticas institucionais para educação continuada. Para Shön (1998:65) e Perrenoud (2001:18), através da experiência, o profissional constrói o seu conhecimento, definido como o conjunto de esquemas de pensamento e de ação de dispõe o ator. Esse processo determinará as suas percepções, interpretações e as direcionará na tomada de decisões que lhe permitirão enfrentar os problemas do cotidiano de trabalho. Para que o conhecimento gere competências, é necessário que os saberes dos profissionais sejam mobilizados através de seus esquemas de ações, decorrentes da percepção, avaliação e decisão, desenvolvidos na prática. 458 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Apesar dessa concepção teórica dominante no contexto mundial relativo à formação profissional, a atuação do enfermeiro na área da educação continuada, ainda apresenta lacunas no que concerne a incluir a aprendizagem como elemento de discussão e de reflexão, enquanto se trabalha. Via de regra, os programas de atualização concentram-se em atividades de treinamento, operacionalizadas por meio de cursos sobre temas pontuais, privilegiando-se a racionalidade técnica. Para reverter esse equívoco, como foi assinalado faz-se necessário combinar teoria e prática e, desse modo, transformar o ambiente de trabalho em laboratório de aprendizagem, promovendo-o infra-estrutura para partilhar, construir e divulgar o conhecimento profissional. Estudos na área de enfermagem vêm sendo realizados com esse enfoque. Neste sentido, destaca-se Pereira (1999:100) que, preocupada com a relação teoria e prática na enfermagem, desenvolveu uma dissertação que teve por objeto as vivências da enfermeira recémformada, na prática hospitalar. Seus achados remetem, entre outros, às dificuldades de ordem técnica e teórica, encontradas pelas enfermeiras no ambiente de trabalho; à ambigüidade relacionada às suas funções; à adaptação do conhecimento apreendido no meio acadêmico à realidade encontrada e à atribuição de funções profissionais que não lhes são pertinentes. Partindo dessas evidências, a autora conclui que a formação acadêmica propicia a base para que o enfermeiro possa atuar junto ao cliente, mas somente o cotidiano da prática parece ser capaz de oferecer a experiência necessária para fortalecer esse conhecimento. Entender o trabalho como fonte de formação é compreendê-lo como parte da vida do ser humano e como estrutura que influencia a composição do ser no plano individual, assim como o núcleo familiar, a escola ou outras instituições que venham a fazer parte de sua vida. Como refere Freitag (19994:85), a formação é um processo amplo e não se limita ao simples desenvolvimento de aptidões e faculdades, mas tem uma amplitude que se refere a um processo de construção e 459 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. realização de um Eu em ascensão, esforçado em adquirir consciência do mundo e apreendê-lo em sua essência. Apoiadas no pressuposto de que existe diferença entre teoria e prática, apesar desses conceitos evidenciarem relação umbilical, pensa-se que se torna necessária intensificar estudos sobre a formação do enfermeiro na prática hospitalar, discutindo, criticamente a continuidade da sua formação profissional. Com tal propósito, desenvolveu-se esse estudo cujo objetivo foi refletir sobre a influência dos saberes práticos na formação do enfermeiro. Considerando a natureza desse objeto, optou-se por um estudo qualitativo, do tipo descritivo, que tomou com cenário o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE). Na operacionalização da investigação, foram entrevistados seis enfermeiros atuantes na assistência direta ao cliente, conforme anexo1. Os dados foram analisados a partir da análise de conteúdo. A Aprendizagem no Ambiente de Trabalho Como referido, o propósito orientou-se para refletir sobre os saberes práticos na formação do enfermeiro. Define-se saberes práticos como o conjunto de instrumentos aos quais os enfermeiros recorrem no dia-a-dia do exercício da profissão; em outras palavras, abrange o conjunto de conhecimentos elaborados pelo próprio enfermeiro, a partir das suas experiências na labuta cotidiana. Eis porque assume-se que não se pode admitir a existência de um único saber acadêmico, ético, cultural, multifacetado; enfim, ele relaciona a teoria e a prática em seu dia-a-dia. Para Shön (1998:100), ao se organizar para realizar uma intervenção, o profissional não pode fazer abstração daquilo que a ciência diz sobre as condições dessa intervenção. Porém, depois de uma experiência mais longa na prática, o saber acadêmico ocupa plano secundário, em favor da prática profissional, que se torna a primeira referência na conduta empreendida pelo trabalhador, a fim de prestar cuidados e dar continuidade à construção de suas competências. 460 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Essa perspectiva pode ser confirmada com facilidade, por meio de observações do cotidiano e de manifestações verbais de colegas, militantes da Enfermagem. Para ilustrar, transcrevemos o depoimento de uma participante dessa pesquisa, que detinha dezesseis anos de experiência na área de enfermagem: ...o peso maior é da prática, onde você vivencia e atua a teoria, você consegue colocá-la na prática...você vivencia o ato de fazer, de ver...( entrevista 1) Essa evolução do saber teórico, a partir de sua aplicação na prática, acontece progressivamente, à medida que se avança no ciclo da vida profissional. Em outra entrevista, a enfermeira, com dezessete anos de experi6encia em Neonatologia, exemplificou as mudanças que ocorrem com o profissional experiente, a partir do conceito de prematuridade. Para ela, quando um enfermeiro experiente se prepara para receber um prematuro em sua unidade, ele se baseia em conhecimentos teóricos que supostamente, prevêem todas as necessidades possíveis desse cliente; então um aparato imenso é organizado. Agora quando você tem experiência tudo fica mais fácil . Na sua concepção, a facilidade decorre das conclusões acerca das diferenças evidentes entre os prematuros, obtidos a partir das observações desenvolvidas no ambiente de prática da Neonatologia: ...mas aí a gente pergunta para o pediatra se a criança que vai chegar tem algum comprometimento, se existe um ultra-som dessa criança......porque não quer dizer que todo prematuro vai apresentar aquele problema...( entrevista 3) Segundo esse enfoque, fica mais claro porque o profissional recém-formado evidencia apego mais forte às teorias, técnicas e modelos de cuidado. À medida que opera na prática, os saberes teóricos vão sendo resignificados, de tal forma que sua rotina é reconstituída em novas bases, mais sólidas e consistentes. A esse respeito, são ilustrativos os depoimentos apresentados a seguir: 461 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ...você sai da graduação com alguma teoria e pouca prática......a prática constesta a teoria porque nem tudo acontece daquele jeito que está lá escrito, fechadinho......então você passa a refletir mais sobre a sua teoria......( entrevista 3) Analisando essa movimentação de saberes teóricos e práticos dos enfermeiros, Benner (1984:29) demonstra que a experiência não significa a mera passagem do tempo, eis que representa o refinamento de noções e teorias preconcebidas através do encontro com várias situações da prática que adicionam nuances a teoria. A autora demonstra, a partir de sucessivos estudos que, quando o enfermeiro é classificado como especialista, ele consegue abandonar as regras e tornar melhor e mais ágil, pois as suas habilidades são transformadas trazendo aperfeiçoamento profissional. Acrescenta que, se alguém insiste para que o enfermeiro especialista use totalmente de regras e guidelines em suas atividade, sua performance tende a diminuir. Percebe-se que as decisões implementadas pelo enfermeiro na prática assistencial são desenvolvidas a partir de uma articulação entre as situações vividas, as teorias que são apresentadas aos profissionais e que tentam explicar sua prática. Por isso, Perrenoud (2001:62) destaca que as formações que têm como eixo principal teorias descoladas da realidade fazem com que o futuro profissional não possa retomar tais conceitos posteriormente quando ele se situa na prática. Decorre desse fenômeno uma grande distância entre a formação acadêmica (que acaba se revelando inútil) e uma prática intuitiva que corresponde aos imprevistos e aos problemas do momento, dando a impressão de um eterno recomeçar. Sob esse enfoque, compreende-se que a teoria oferece o que pode ser claramente explícito e compreendido por todos, enquanto a prática assistencial por sua complexidade e singularidade, é mais rica e produtiva, no sentido de aprendizagens significativas. Por isso, a movimentação e o diálogo entre prática e teoria geram o refinamento necessário para que o enfermeiro desenvolva suas ações com autonomia. A compreensão dessa situação e a reflexão sobre a mesma conduzem o enfermeiro ao abandono de regras artificiais, impostas 462 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. eventualmente pelos manuais e à conseqüente criação de seu próprio esquema de ações, tornando mais ágil e melhor qualificada a assistência que presta aos clientes. Perrenoud (2002:156) descreve essa construção dos saberes, demostrando as modificações que ocorrem nos saberes procedimentais, que se submetem de diversas formas: alguns se extinguem, simplesmente por falta de uso; outros se incorporam à rotina e ampliam o habitus e, finalmente, outros ainda permanecem como representações vivas porque são mantidos nesse nível pela complexidade e pela resistência do real ou por um investimento particular.... Na depuração dos saberes, desenvolvida na interação com o ambiente, o enfermeiro constrói suas competências para o trabalho, compreendidas como o conjunto diversificado de conhecimentos da profissão, de esquema de ação, de posturas que são mobilizados no exercício do ofício. De acordo com essa definição bem ampla, as competências são, ao mesmo tempo, de ordem cognitiva, afetiva, conativa e prática. Nessas condições, para o autor supra citado, desenvolve-se o habitus, constituído pelo conjunto de seus esquemas de percepção, de avaliação, de pensamento e ação. O habitus, permite que sejam capazes de enfrentar uma grande diversidade de situações cotidianas, é o determinante de suas ações e está diretamente relacionado com esses saberes. Assim sendo, compreende-se que, a partir da prática, alguns desses saberes interiorizam-se, automatizam-se e incorporam-se ao que Piaget, citado por Perrenoud (2001:207), chama de inconsciente prático, tornando-se hábito. É pertinente acrescentar que, pelo fato da instituição que foi tomada como cenário dessa pesquisa está situada no contexto universitário, existe um enfrentamento entre enfermeiros docentes e assistenciais, como resultado concreto da discussão em torno dos 463 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. aspectos relacionados a teoria e prática, como não deixa dúvidas o depoimento a seguir: ...eu vejo aqui no hospital por ser universitário: quando entra um grupo de alunos com o professor, o líder fica com um pé na frente e outro atrás, com medo eu acho, que eles façam alguma análise de sua prática, entendeu?...Eles não podem ter medo disso porque a prática deles pode até melhorar a prática do enfermeiro, mas não...nunca ficam ligados na questão... (entrevista 2) Buscando compreender a relação entre docentes e assistentes, é forçoso reconhecer que suas práticas são semelhantes, mas possuem enfoques diferenciados. Ambos, num ambiente de hospital universitário, cuidam e ensinam; porém, o foco do docente é o aluno e o do assistencial o cliente. Trata-se de relação complexa, porque cada pólo da equação tem peculiaridades que demandam tratamento particularizado, embora sejam interdependentes. Se essa interação for devidamente compreendida e trabalhada, no sentido da comunicação produtiva e integrada, a aprendizagem pode ser amplamente enriquecida. Perrenoud (2001:214) refere que aprender a fazer é enfrentar progressivamente a complexidade e dispor de um enquadramento (mecanismo cognitivo e afetivo que permite uma visualização da situação a partir de outra ótica) que conduz o profissional à reflexividade, a falar de suas duvidas e de seus medos, a buscar um apoio ou conselho, dar sentido às vivências práticas e desse forma, confrontar com outros atores, ampliando a sua fonte de aprendizagem, adquirindo novas e enriquecedoras experiências. Aceitando-se que o percurso de formação desses enfermeiros para o aprendizado da profissão exige associação indissolúvel entre teoria e prática, decorrente da teoria, pode-se admitir que a abordagem reflexiva sugere um mecanismo de formação personalizado e relacionado à realidade. A partir dessa abordagem, os enfermeiros poderão determinar continuamente suas próprias competências numa dialética permanente com os desafios da realidade. Nessa perspectiva, 464 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. o encontro de enfermeiros docentes e assistenciais num espaço único, pode significar uma ampliação da possibilidade de aprendizagem, da reflexão e consequentemente de melhoria contínua na qualidade da assistência prestada. Quando o profissional utiliza elementos derivados da reflexão, ele se converte em um investigador, no próprio contexto prático. Assim procedendo, ele não dependerá das categorias e técnicas estabelecidas, porque será capaz de construir novas categorias de interpretação e abordagem de cada caso vivido; ele não irá separar pensamento e ação, pois o seu experimento é um tipo de ação. Shön (1992:67), discorre sobre o aprendizado do profissional, define-o nas suas interações com a prática. O profissional envolvido, que ele denomina de prático, desenvolve suas competências essencialmente na prática e a partir da prática, o que distingue a reflexão na ação e para a ação. A primeira demonstra que o profissional em seu ambiente de trabalho, emite uma resposta rotineira a uma determinada situação, se surpreende com as conseqüências de sua ação (elemento surpresa diferente do imaginado), reflete sobre os acontecimentos e experimentam nova ação, para resolver o problema. No segundo caso, a reflexão para ação, o prático pode igualmente refletir sobre a ação difundida, analisando e tirando partido da experiência passada. Segundo interpretação do autor mencionado, é a prática e suas respostas às ações desenvolvidas, que suscita e valida novas condutas. Perrenoud (2001:45) acrescenta que, no curso da reflexão do profissional (antes, durante e após a ação), ele utiliza representações e saberes de fontes distintas, dando origem às competências profissionais. Segundo essa perspectiva analítica, a formação deveria visar não somente ao desenvolvimento de representações e de teorias, mas especialmente ao enriquecimento dos esquemas de ação. Decorre do exposto que aprender para a prática significa que valorizamos essencialmente os aprendizados que têm incidência direta sobre a sua vida profissional. Para Shön (1992:100), ainda que a reflexão na ação seja um processo extraordinário para a aprendizagem, ele não é um acontecimento freqüente, visto que o profissionalismo 465 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ainda está centrado na técnica e a reflexão ainda não é aceita como forma legítima de conhecimento profissional. Considerações Finais Tanto para os profissionais experiente, quanto para os iniciantes, não há dúvida de que, sem disciplina intelectual, sem rigor e sem criatividade, não há como pensar numa enfermagem reflexiva e autônoma, comprometida com o cuidar com qualidade, pesquisar a aprender cada vez mais, cuidando e cuidando... Por isso, sugere-se que os cenários da prática assistencial sejam valorizados como importante espaço no qual se concretizam e sedimentam os saberes dos enfermeiros. Julga-se recomendável que os Serviços de Educação continuada possam utilizar esses valiosos saberes como elementos significativos para a continuidade da formação do profissional. Referência Bibliográfica SHÖN, Donald A. El Professional Reflexivo. Como piensam los profesionales cuando actúam. Barcelona, Paidós, 1998. PERRENOUD, Philippe; PAQUAY, Léopold; ALTET, Marguerite e CHARLIER, Évelyne. Tradução Fátima Murad e Eunice Gruman. Formando Professores Profissionais. Quais estratégias? Quais competências? Porto Alegre, Artmed, 2001. PEREIRA, Marília de Jesus. Os Desafios da Enfermeira na Prática Hospitalar: Os Nexos com a Formação Acadêmica. Orientação: Lígia de Oliveira Viana. Rio de Janeiro: UFRJ/Escola de Enfermagem Anna Nery. Dissertação de Mestrado, 1999. FREITAG, Bárbara. A Teoria Crítica Ontem e Hoje. São Paulo: Brasiliense, 1994/A 466 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. _______________. O Indivíduo em Formação: Diálogos Interdisciplinares sobre a Educação. São Paulo: Cortez, 1994/B. BENNER, Patrícia. From Novice to Expert. Excellence and Power in Clinical Nursing Practice. California: Addison Wesley Publishing Company, 1984. SHÖN, Donald A. La Formacion de Professionales Reflexivos: hacia un nuevo diseño de la ensenãnza y el aprendizaje en las profissiones. Madri: Ministério de Educacion y Ciencia, 1992. 467 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ANEXO 1: Esclarecido Consentimento Livre e Caro Entrevistado: Estamos solicitando o seu depoimento em forma de entrevista, para dar encaminhamento a nossa tese de doutorado intitulada A Formação do Enfermeiro na Assistência Hospitalar: O Trabalho como Ambiente de Aprendizagem , orientada pela Prof.ª Lígia de Oliveira Viana e desenvolvida na Escola de Enfermagem Anna Nery, na qual o objeto de estudo trata-se da formação do enfermeiro com base em seu aprendizado na prática assistencial. A fim de dar conta desse objeto traçamos como objetivos: Identificar as formas de aprendizagem utilizadas pelo enfermeiro na sua formação durante a prática assistencial. Discutir a formação do enfermeiro e a construção do saber na prática assistencial na organização hospitalar. Trata-se de um estudo de caso visto estar restringindo a minha análise a uma unidade específica, no caso do Hospital Universitário. Acreditamos, estar com esse estudo contribuindo para o hospital, para uma maior compreensão da formação do enfermeiro, além de instrumentalizar o trabalho do enfermeiro em educação continuada. Solicitamos a sua autorização para que os dados colhidos possam ser utilizados nesse e em outros estudos por nós realizados. Esclarecemos que a interrupção de sua participação no estudo poderá ser efetuada a qualquer momento que julgar necessário. Agradecemos por sua participação e nos colocamos sempre a sua disposição para esclarecimentos quanto ao andamento do trabalho, bem como para receber possíveis sugestões. Lembramos que o seu anonimato será preservado no decorrer do estudo e que estaremos utilizando nomes fictícios no desenvolvimento do mesmo. 468 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Certos de contar com a sua participação. Atenciosamente, Rio de Janeiro, ____ de ___________________ de _________. ____________________________ Luciana Guimarães Assad - Autora ______________________________ Lígia de Oliveira Viana - Orientadora Autorizo a utilização dos dados de minha entrevista em trabalhos desenvolvidos pela Enfermeira Luciana Guimarães Assad. Rio de Janeiro, _____ de __________________ de ________. ___________________________________________________ _________________ Nome legível ___________________________________________________ _________________ Assinatura 469 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. NAVEGAR É PRECISO: CURSO DE ENFERMAGEM DA UFF RUMO À CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICOPEDAGÓGICO Claudia Tavares82 Heliane Lopardi83 A perspectiva de avaliar a ação pedagógica para a construção do projeto político-pedagógico do curso de enfermagem da Universidade Federal Fluminense (UFF) é fruto de uma longa trajetória de debates entre docentes e discentes; sistematizada através de oficinas de trabalho e criação de uma Comissão Permanente de Avaliação Curricular (CPAC). O presente estudo tem por objetivo relatar a trajetória de trabalho da CPAC na construção do projeto políticopedagógico do Curso de Enfermagem da UFF. O referencial teórico desse trabalho é a pedagogia histórico-crítica apresentada por Paulo Freire. A comissão dedicou-se inicialmente ao estudo do marco filosófico do curso, o que resultou na redefinição de conteúdos das disciplinas, enxugamento curricular, estabelecimento de atividades complementares etc. Por não ser a avaliação curricular um mar tranqüilo, vivenciou-se inúmeras contradições no processo de construção dessa proposta, entre as quais destaca-se: o conflito entre o enxugamento de conteúdo , visando uma maior racionalização do curso, e a complexificação do núcleo temático das disciplinas, visando a interdisciplinaridade. As reuniões de trabalho da CPAC permitiram construir o marco conceitual do curso, no qual foi destacado: o perfil do egresso, como profissional que possui formação técnica, científica, política, ética e socioeducativa. Esse para administrar, cuidar, pesquisar e ensinar em diferentes locais do país; 82 Enfermeira. Dra. em Enfermagem. Prof. Adjunta da Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa/UFF. Coordenadora do Núcleo de estudos Imaginário, Criatividade e Cuidado em Saúde (NEICCS). Endereço: Praia de Icaraí, 69/301-C. Niterói, RJ.CEP:24230000. E-mail: [email protected] 83 Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da EEAAC/UFF. 470 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. como também, um profissional comprometido com o exercício supremo da cidadania, capaz de compreender o homem na sua totalidade e intervir sobre situações de saúde-doença. INTRODUÇÃO A nova proposta de Currículo do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense, tem como referência o Parecer no 1.133/2001 do CNE/CES, aliado as inúmeras discussões realizadas com o corpo docente, discente e assistencial da instituição. As primeiras discussões de avaliação e reorientação curricular do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa/UFF, ocorreram na década de 80. Desde então esta tem sido uma temática na pauta de discussão da Escola, com momentos de maior envolvimento dos atores no processo e outros de esvaziamento dos espaços de discussão. Em 1993 reestruturou-se a Comissão de Avaliação e Reestruturação Curricular, com os objetivos de avaliar o Curso e elaborar a proposta final de Currículo Pleno. Como as orientações do MEC e da ABEn neste período foram alteradas e como é próprio do currículo estar em constante avaliação, até o momento, esta comissão mantém-se em funcionamento. A perspectiva de avaliar a ação pedagógica para a construção do projeto político-pedagógico do curso de enfermagem da Universidade Federal Fluminense (UFF) é portanto, fruto de uma longa trajetória de debates entre docentes e discentes, sistematizada através de oficinas de trabalho e criação de uma Comissão Permanente de Avaliação Curricular (CPAC). O presente estudo tem por objetivo relatar alguns conceitos resultantes da trajetória de trabalho da CPAC na construção do projeto político-pedagógico do Curso de Enfermagem da UFF. A comissão dedicou-se inicialmente ao estudo do marco filosófico do curso, o que resultou na redefinição de conteúdos das disciplinas, enxugamento curricular, estabelecimento de atividades 471 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. complementares etc. Posteriormente construiu-se o marco conceitual, o qual será apresentado neste estudo. O MARCO CONCEITUAL DO CURSO DE ENFERMAGEM DA UFF O marco conceitual ou fundamentação teórica do projeto foi elaborado pelo conjunto de docentes, membros da comissão de avaliação curricular, tendo como eixo norteador a educação como prática transformadora e comprometida com a realidade social. A crença fundamental do grupo nas múltiplas possibilidades e determinação da realidade humana, e em seu potencial para transformação; serviu também como guia neste trabalho de construção coletiva. A pluralidade de papéis desempenhados pelos enfermeiros exige uma formação correspondente, capaz de orientar o profissional para diferentes inserções no mundo do trabalho, da sociedade e da vida. Precisa-se contudo ressaltar, que nem a formação, nem a inserção social do enfermeiro do mercado de trabalho é neutra, portanto ao expressar os marcos conceituais precisa-se considerar a realidade do contexto social, econômico e cultural no qual o desempenho do papel de enfermeiro se realizará. A educação, tem assim um compromisso com uma antecipação da formulação de políticas que delineiem, demarquem e proporcionem uma nova perspectiva de estar no mundo. A educação tem um compromisso com a paz, o bem estar de todos, a solidariedade entre os seres humanos, a natureza e o cosmo. Assim, como diz Saupe & Alves (2000), o marco conceitual procura contribuir para o entendimento da realidade e subsidiar novas interpretações com vista a sua transformação. Abaixo será apresentado os conceitos elaborados até o momento. HOMEM - Com a totalidade complexa físico, biológica, psíquica, sensual, social e espiritual, antropológica, biosférica, planetária, cósmica. Distinto da natureza pela cultura, pensamento e consciência. Ator social com ativa participação no processo de 472 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. desenvolvimento universal. Como cidadão propositor de soluções criativas para transformar a realidade. SAÚDE - Resultante das complexas experiências sociais, das condições biológicas, mentais, ambientais e culturais, individualizadas em cada sentir. Qualidade de vida determinada pela paz, liberdade, justiça social, equidade, acesso aos serviços de saúde, educação, cultura, lazer, trabalho, moradia, alimentação, renda, ecossistema, transporte, emprego, formas de organização social da produção, mediada na vida cotidiana pela sociabilidade, afetividade, sensualidade, subjetividade e das demais complexas maneiras de relacionar-se com o outro e com o mundo. SAÚDE COLETIVA- Esforço de transformação, veículo de uma construção alternativa da realidade que é o objeto da ação, dos métodos para estudar esta realidade inserida na globalização e meio ambiente e das formas da práxis que se requerem. É de determinação histórica do processo coletivo de produção e estados de saúde-doença; recurso de luta popular e da crítica. Renovação das estratégias do que fazer objetivando a necessidade de uma ação para mudanças. SERVIÇO DE SAÚDE- Instituições descentralizadas e hierarquizadas, prestadoras de serviços de atenção à saúde nos diversos níveis de complexidade, individual, familiar e coletivo, tendo como princípios a universalidade, integridade, resolutividade e a participação da sociedade. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM - Conjunto de ações criativas, planejadas desenvolvidas e avaliadas pelos trabalhadores de enfermagem através do cuidar/cuidado demonstrado e praticado de forma interpessoal e integrada. Resultando no atendimento das necessidades humanas, objetivando a assistência integral à saúde do indivíduo, família e da sociedade. 473 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ENFERMAGEM - É um trabalho coletivo, parcelado no seu interior e, exercido por trabalhadores de formação diferenciada (enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem), que envolve conhecimento técnico-científico em variados campos do saber. Prática social comprometida com a qualidade de vida da população, articulada com diferentes áreas profissionais nos diversos cenários da saúde. ENFERMEIRO - Profissional da saúde que possui formação técnica, científica, política, ética e sócio-educativa para administrar, cuidar, pesquisar e ensinar nesta e demais localidades. Ator social comprometido com o exercício supremo da cidadania, capaz de compreender o homem na sua totalidade e, intervir sobre os problemas/situações de saúde-doença. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por não ser a avaliação curricular um mar tranqüilo, vivenciou-se inúmeras contradições no processo de construção dessa proposta, entre as quais destaca-se: o conflito entre o enxugamento de conteúdo , visando uma maior racionalização do curso e a complexificação do núcleo temático das disciplinas e a interdisciplinaridade. As reuniões de trabalho da Comissão Permanente de Avaliação Curricular permitiram construir o marco conceitual do curso, no qual destacou-se o perfil do egresso como profissional que possui formação técnica, científica, política, ética e socio-educativa para administrar, cuidar, pesquisar e ensinar em diferentes locais do país; comprometido com o exercício supremo da cidadania, capaz de compreender o homem na sua totalidade e intervir sobre situações de saúde-doença. Considerou-se que a discussão, proposição, implantação e acompanhamento curricular é uma exigência pedagógica, não apenas legal. A articulação entre os diferentes professores, alunos, profissionais, líderes comunitários e sociedade são imprescindíveis e 474 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. exigem um movimento contínuo de discussão e avaliação para que se forme um profissional crítico com sensibilidade e responsabilidade social. Contribuir para a formação de um cidadão imbuído de valores éticos que com competência técnica atue no seu contexto social, comprometido com a construção de uma sociedade mais justa, solidária e integrada ao meio ambiente é a proposta institucional da Universidade Federal Fluminense BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Ana. O significado do projeto pedagógico. Boletim Educação, v.1,n.1,fev.,1997. BRASIL. Lei No 9.394 - Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Ministério da Educação. Brasília, 20 de dezembro de 1996. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Brasília, 2001. CARVALHO, V & CASTRO, I.B. Marco conceitual para o ensino e a pesquisa de enfermagem fundamental - um ponto de vista. Reben. Brasília, 38 (1): 76-86, 1985. CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artes médicas, 2000. ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL. Currículo do curso de graduação em serviço social. Niterói: EdUFF, 2000. FAVERO, M. A universidade em questão. São Paulo: Cortez, 1989. 475 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 26a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. ________ . Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Vozes, 1999. MATURANA, H. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. PALLARINI, Francisco et al. Projeto pedagógico institucional: proposta para discussão. Niterói: UFF, mimeo, 2001. SAUPE, Rosita & ALVES, Elioenai. Contribuição à construção de projetos políticos-pedagógicos na enfermagem. Rev. latino-am. enfermagem. Ribeirão Preto, v.8,n.2,p.60-67, abril, 2000. 476 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM ENFERMAGEM DO CAFS Jesanne Barguil Brasileiro Rocha84 Martha Fonsêca Soares Martins85 O presente trabalho é um estudo de natureza qualitativa e tem como objetivo identificar e analisar o processo de formação do Técnico em Enfermagem no Campus Amílcar Ferreira Sobral - CAFS/UFPI, com sede em Floriano (PI). Como procedimento metodológico foi utilizadas a entrevista semi-estruturada e a análise de documentos. A matriz curricular do Curso consta de disciplinas específicas do ensino profissional incluindo estágio supervisionado em unidades de saúde e na comunidade, com carga horária total de 1.800 h. Embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96, direcione a organização curricular para a construção de competências necessárias à atuação profissional eficiente, a prática aponta para um ensino conservador, apoiado na transmissão do conhecimento. Atualmente os docentes do Curso estão empenhados na formulação do Plano de Curso Técnico, tendo como base de construção a integração dos conteúdos e áreas do conhecimento. Percebe-se a necessidade de mudanças no Curso visando a estimulação dos alunos a tornarem-se mais participativo do processo ensino aprendizagem que vivenciam. 84 Professoras do Curso Técnico em Enfermagem do CAFS/UFPI. Mestras em Enfermagem. Campus Amílcar Ferreira Sobral /UFPI Floriano Piauí (64000-000) Fone: (89)522-1768 85 Professoras do Curso Técnico em Enfermagem do CAFS/UFPI. Mestras em Enfermagem. Campus Amílcar Ferreira Sobral /UFPI Floriano Piauí (64000-000) Fone: (89)522-1768 477 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Esta é a síntese de um estudo, de natureza qualitativa, que tem como objetivo identificar o processo de formação do Técnico de Enfermagem no Campus Amílcar Ferreira Sobral CAFS , vinculado à Universidade Federal do Piauí, em Floriano. Está se vivenciando um processo de reforma no ensino técnico profissional, quando os docentes têm repensado a sua prática pedagógica, estimulados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96 de dezembro de 1996. Entretanto, o que acontece com a formação do técnico de enfermagem no CAFS não foge à regra geral dos demais cursos técnicos no Piauí: está estruturado conforme a resolução do CFE nº 07/77 86, através de um currículo com seqüência de matérias e conteúdos, formação que vem sendo questionada por não estar preparando os profissionais para a intervenção de forma crítica e reflexiva, e por desarticular a teoria da prática. A formação do Técnico de Enfermagem é permitida no nível do ensino médio, ou seja, de 2º grau, sendo conquistada pela via regular de ensino. Os estudos correspondentes ao Técnico de Enfermagem, pela via regular de ensino, somam 1.800 horas destinadas à formação profissional, das quais 600, no mínimo, são para o estágio supervisionado. O Conselho Federal de Educação (CFE) define as disciplinas da parte de formação profissional para habilitação em técnico de enfermagem, que consta de disciplinas profissionalizantes e das disciplinas que funcionam como pré-requisito, as instrumentais. Os conteúdos da grade curricular dos Padrões Mínimos determinam apenas as disciplinas a serem cursadas e a carga horária total do curso. A metodologia de ensino e a linha pedagógica ficam a 86 Resolução 07/77 de 18.04.1977, define os Padrões Mínimos para o Curso de Técnicos e Auxiliares de Enfermagem. 478 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. critério de cada estabelecimento de ensino, como também, o conteúdo programático. Em 1996, foi instituída lei87 que estabeleceu novas diretrizes e bases para a educação nacional. Nesta LDB o ensino médio é considerado a etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos. Entre outras finalidades, deverá assegurar a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, a preparação do educando para o trabalho e a cidadania, bem como a compreensão dos fundamentos, científicos e tecnológicos, dos processos produtivos relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. De acordo com o Decreto nº 2.208/97 que regulamentou essa nova lei no que se refere ao ensino de nível médio e ensino profissionalizante, deverão ser realizados estudos de identificação do perfil de competências necessárias à atividade adquirida, em cada um dos níveis profissionais, ouvindo os setores interessados, inclusive trabalhadores e empregadores. A FORMAÇÃO DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM NO CAFS O Campus Amílcar Ferreira Sobral CAFS, dispõe de um prédio próprio, está situado em um terreno de 13 hectares, dispondo de instalações técnicas-administrativas, pedagógicas, sala de aula, biblioteca, sala de vídeo, quadra esportiva, alojamento, laboratório de Introdução à Enfermagem e Anatomia, de Centro Cirúrgico e de Informática, e posto de saúde. O laboratório de Introdução à Enfermagem e Anatomia possibilita o aluno desenvolver as práticas específicas e cuidados básicos de enfermagem e proporciona o conhecimento anatômico e 87 Lei de Diretrizes e Base (LDB) nº 9.394 / 96 de 20.12.1996, estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 479 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. fisiológico das partes constitutivas do corpo humano. Conta com seis canais tubulares que compõe a unidade do paciente; seis suportes de ferro para soro; quatro bonecos especiais que permitem a pratica de procedimentos de enfermagem, possuindo todos os órgãos internos removíveis; um boneco para demonstração do parto normal, incluindo órgão reprodutor feminino, feto com fontanelas e suturas cranianas, apresentação normal, dorso e nádegas, placenta e liquido amniótico; seis braços de infusão que permite ensinar os procedimentos de injeções endovenosas, soroterapia e coleta de amostra de sangue. Dispõe ainda de uma musculatura humana em detalhes, definindo todos os músculos do corpo humano e um esqueleto humano de plástico inquebrável. O laboratório de Centro Cirúrgico possibilita o aluno desenvolver habilidades técnicas na área de instrumentação cirúrgica. Dispõe de uma mesa cirúrgica com acessórios, mesa de mayo, mesa auxiliar, suporte para soro, aparelho de PA, foco central regulável, vários tipos de pinças cirúrgicas, bandejas, cubas e tambores, autoclave de 18 litros e estufa de esterilização. O técnico de enfermagem que o Curso propõe formar deve ser comprometido com a saúde do ser humano e da coletividade, capar de exercer atividades de nível médio técnico envolvendo a orientação e acompanhamento do trabalho em enfermagem em grau auxiliar e participação no planejamento da assistência de enfermagem. Para ingresso no Curso Técnico em Enfermagem do CAFS, o candidato deve ter concluído o ensino médio ou estar cursando o 2o ano do mesmo, para tanto, submete-se a um teste seletivo, com questões de português e de matemática, que tem caráter classificatório. São selecionados os alunos que obtiverem as maiores pontuações, em ordem decrescente, até atingir o numero de vagas oferecidas. Atualmente são oferecidas 50 vagas por ano. No último teste realizado pelo CAFS, foram feitas 254 inscrições para concorrer às vagas do Curso, o que evidencia a importância do curso para a comunidade de Floriano e circunvizinha. 480 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O Curso de formação do técnico de enfermagem do CAFS é ministrado em quatro períodos, cada período correspondendo a um semestre letivo. A matriz curricular é composta por disciplinas que funcionam como pré-requisito, as instrumentais88, e por disciplinas profissionalizantes89. Tem uma carga horária de 1800 horas, destas são destinadas 1200 horas para as aulas teórico-práticas e 600 para o estágio curricular obrigatório. O estágio curricular obrigatório, supervisionado pelas professoras do CAFS, é realizado nos quatro períodos do Curso, de acordo com o conteúdo ministrado. Acontece concomitantemente às aulas teórico-práticas, sendo destinado dois dias da semana com cinco horas de estágio por dia. Os alunos são divididos em grupos de oito a dez por professor. Os estágios são realizados na comunidade e nas unidades de saúde da cidade de Floriano e de Barão de Grajaú. Para realização dos estágios o CAFS/UFPI firmou convênio com o Hospital Regional Tibério Nunes e com a Secretaria Municipal de Saúde. Os alunos também realizam estágio nas clínicas particulares existentes na cidade: Nefroclínica, Gastroclínica e Prevenção do Câncer Cérvico-uterino. No decorrer dos estágios, o aluno integra a equipe de saúde e desenvolve atividades de assistência na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde. Com a reforma da educação, as escolas passam a ter um papel muito importante, pois precisam desenvolver seu projeto pedagógico respeitando a legislação obrigatória assim como definir o seu currículo, com base nos referenciais curriculares do MEC. 88 Higiene e Profilaxia, Estudos Regionais, Anatomia e Fisiologia Humanas, Microbiologia e Parasitologia, Nutrição e dietética, Matemática aplicada à Enfermagem, Informática. 89 Introdução à Enfermagem, Noções de Administração de Unidades de Enfermagem, Enfermagem Médica, Enfermagem Cirúrgica, Enfermagem Maternoinfantil, Enfermagem Neuropsiquiátrica, Enfermagem em Saúde Pública, Psicologia Aplicada e Ética Profissional. 481 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Atualmente os docentes do Curso estão empenhados na reformulação do Plano de Curso Técnico, tendo como base de construção a integração dos conteúdos e áreas do conhecimento. O conjunto das competências específicas do Curso, definido pela escola, é que formará o perfil profissional de conclusão do aluno formado pelo CAFS. Importa ressaltar que se está na fase de transição, com a previsão de conclusão das turmas para dezembro 2002; para o ano de 2003 está prevista a implantação do novo plano do Curso Técnico em Enfermagem do CAFS, que está sendo elaborado com base nos referenciais curriculares do Ministério da Educação. O Curso Técnico em Enfermagem funcionará com ensino modulado, exclusivamente no horário da manhã, de segunda a sábado, com carga horária final de 1.200 horas de aula teórico-prática e 600 horas de estágio curricular obrigatório. Vale ressaltar que cada módulo é pré-requisito para os módulos seguintes, permanecerá com a duração de dois anos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora a LDB nº 9.394/96 direcione a organização curricular para a construção de competências necessárias à atuação profissional eficiente, o processo de ensino aprendizagem, no CAFS, aponta para um ensino conservador, apoiado na transmissão do conhecimento. Percebe-se a necessidade de mudanças no Curso visando a estimulação dos alunos a tornarem-se mais participativo do processo de formação profissional que vivenciam. 482 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. SEMTEC. Reforma do ensino Técnico. Brasília: MEC/MTb, 1996. ______. Conselho Federal de Enfermagem. Força de Trabalho em Enfermagem. Rio de Janeiro: COREN / ABEn, 1985. V. I. ______. Decreto nº2.208, de 17de abril de 1997. Regulamenta a educação profissional da Lei nãoº9394 de 20.12.96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 18.04.97. _______. Leis, etc. Lei nº 7.498, 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a Regulamentação do Exercício da Enfermagem e dá outras providências. DOU. Brasília, 26 jun. 86. seç1. p. 9273-5. _______. Resolução 07/77 de 18.04.1977. Padrões mínimos Curso de Técnicos e Auxiliares de Enfermagem. Diário Oficial da União, p. 6293, 24 de maio de 1977. Seção I, Parte II. ______. Senado Federal. Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional: Lei nº 9.394 de 1996. Brasília: Subsecretaria de Edições Técnicas. 1997, 48p. BRASÍLIA. Conselho Federal de Enfermagem. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. 2002. ROCHA, Jesanne Barguil Brasileiro. A Prática do Técnico de Enfermagem Egresso do Campus Amílcar Ferreira Sobral no Hospital Regional de Floriano-PI. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro / Escola de Enfermagem Anna Nery. 1999. 483 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. OS VINTE ANOS DO CURSO TÉCNICO EM ENFERMAGEM DO CAFS/UFPI Jesanne Barguil Brasileiro Rocha90 Martha Soares Fonseca Martins90 O presente estudo enfoca os 20 anos do Curso Técnico em Enfermagem do Campus Amílcar Ferreira Sobral - CAFS / UFPI. O Curso foi implantado em março de 1981 pelo então reitor da UFPI, Prof. Camilo Filho, com o objetivo de suprir a necessidade de pessoal de enfermagem qualificado na região. Trata-se de uma pesquisa retrospectiva que tem como objetivo contribuir para o levantamento histórico do Curso Técnico em Enfermagem de Floriano e registrar fatos importantes ocorridos nesses vinte anos. Como procedimento metodológico foi utilizada a entrevista semi-estruturada, análise de documentos e de registro fotográfico. Inicialmente, a demanda para o Curso Técnico em Enfermagem era inferior ao número de vagas oferecidas, hoje é superior à oferta . O número de alunos concluintes é bem menor que o de alunos que ingressaram. O CAFS já diplomou 394 técnicos de enfermagem. A grade curricular do Curso consta de disciplinas específicas do ensino profissional, incluindo estágio supervisionado em unidades de saúde. Esta grade curricular permaneceu a mesma desde a implantação do Curso. Em 1998 teve início a reforma curricular para adequar-se às propostas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/96. A organização curricular passa a ser voltada para a construção de Competências necessárias à atuação profissional eficiente e eficaz. O referido curso exerce papel preponderante nas microrregiões abrangidas pela instituição. Este é um estudo de natureza qualitativa e tem como objetivo resgatar os vinte anos de história do Curso Técnico em Enfermagem 90 Professoras do curso Técnico em Enfermagem do CAFS / UFPI . Mestras em Enfermagem. Campus Amílcar Ferreira Sobral/UFPI Floriano Piauí (64.800-000) Fone: (89) 522-1768 484 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. do Campus Amílcar Ferreira Sobral, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Piauí. Visa contribuir para o levantamento histórico do Curso de Enfermagem de Floriano e registrar fatos importantes ocorridos nesses vinte anos. Como procedimento metodológico foi utilizada a entrevista semi-estruturada, a análise de documentos e de registro fotográfico. O estudo encontra-se na fase de coleta de dados e análise preliminar dos dados até então coletados. Em janeiro de 1979, a Universidade Federal do Piauí instalou um campus universitário em Floriano, então denominado Campus Irapuá , com a finalidade de implantar cursos de nível superior para formação de professores de 1º e 2º graus. O primeiro vestibular da UFPI em Floriano aconteceu em julho de 1979, oferecendo 200 vagas, das quais 70 para Língua Portuguesa, 70 para Estudos Sociais e 60 para Ciências, todos considerados cursos de curta duração, funcionando em regime parcelado (período de férias) e mais tarde transformados em cursos de plena duração. Em 1981 foi realizado vestibular para Técnicas Comerciais e Educação Física; estes foram os últimos cursos superiores que ali funcionaram. Entretanto o marco inicial da atuação da UFPI em Floriano foi a implantação, em março de 1979, do Curso Técnico em Agropecuária, de acordo com a resolução 01/79 do Conselho Universitário da UFPI. Por esta razão o Campus Irapuá ficou conhecido como Colégio Agrícola de Floriano. Em março de 1981, foi implantado o Curso Técnico em Enfermagem no então Colégio Agrícola de Floriano , hoje Campus Amilcar Ferreira Sobral - CAFS , no qual passaram a funcionar dois cursos de nível técnico: Agropecuária e Enfermagem. Ambos os cursos funcionavam em tempo integral, em regime de externato, internato (restrito ao sexo masculino) e semi-internato, com duração de três anos. O ingresso nestes cursos ocorria mediante aprovação em teste seletivo para candidatos que tinham o primeiro grau completo. 485 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Comentário: A inserção do Curso Técnico de Enfermagem em Universidade não é uma prática exclusiva da UFPI, existem outras experiências91, como em Uberlândia (MG), Uberaba (MG), Cajazeiras (PB), Natal(RN), e no âmbito da UFPI há um projeto para implantação do Curso Técnico de Enfermagem no Colégio Agrícola de Teresina. A grade curricular de ambos os cursos técnicos, ministrados no CAFS, constava de disciplinas básicas do curso de 2º grau, hoje denominado ensino médio, e das disciplinas específicas do ensino profissionalizante, incluindo estágio supervisionado em unidades de saúde, para os alunos do Curso Técnico em Enfermagem e, nas propriedades rurais com projetos agrícolas, Embrapa, Emater, cooperativas e granjas para os alunos do Curso Técnico em Agropecuária. Esta grade curricular permaneceu a mesma desde a implantação dos Cursos. A formação do Técnico de Enfermagem é permitida no nível do ensino médio, ou seja, de 2º grau, sendo conquistado, no CAFS, pela via regular de ensino. Os estudos correspondentes ao Técnico de Enfermagem, pela via regular de ensino, somavam 2.760 horas de duração mínima, sendo 1.100 horas destinadas à educação geral e 1.660 horas à formação profissional, incluído o estágio supervisionado92. O Curso oferecia uma carga horária maior que o preconizado. De acordo com a antiga grade curricular do Curso Técnico em Enfermagem, os estágios eram obrigatórios e o aluno concluía o curso 91 No Brasil, o Conselho Nacional das Escolas Técnicas vinculadas às Universidades Federais engloba trinta (30) Escolas Técnicas , sendo dezessete (17) pertencentes ao setor agrícola, quatro (04) ao setor industrial e nove (09) ao setor de serviços, atendendo uma população de aproximadamente 15 mil alunos, abrangendo dezenove (19) Universidades Federais. 92 Resolução / CFE nº 07 / 77 de 24.05.1977, que institui a habilitação de Técnico de Enfermagem e de Auxiliar de Enfermagem ao nível de 2º grau. 486 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. profissionalizante após atingir a carga horária de 720 horas de estágio. Tinham como campo de estágio o Hospital Regional Tibério Nunes, a Casa de Saúde Dr. Sebastião Martins e o SESP posteriormente denominado Fundação Nacional de Saúde. Em 1998 teve início a reforma curricular para adequar-se às propostas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação93. Foi elaborada uma matriz curricular, segmentada por períodos, cada período correspondendo a um semestre letivo. Vale ressaltar, que o corpo docente do Curso Técnico em enfermagem, atualmente, está empenhado na formulação do Plano de Curso Técnico com base na Resolução CNE/CBE nº 04/99, para ser inserido no Cadastro Nacional de Cursos de Educação Profissional de Nível Técnico. A organização curricular passa a ser voltada para a construção de Competências necessárias à atuação profissional eficiente e eficaz. É o Perfil Profissional de conclusão proposto que define a identidade do curso. Na nova matriz curricular esta carga horária de estágio curricular obrigatório foi reduzida para 600 horas, seguindo recomendação da ABEn, embora a LDB nº 9.394/96, preconize 400 horas de estágio para os cursos técnicos. Os alunos iniciam sua prática curricular no posto de saúde do CAFS, este é subordinado à prefeitura de Floriano. Como campos de estágio destacam-se o Hospital Regional Tibério Nunes, no qual é desenvolvida a maior parte da carga horária exigida em estágio, a Casa de Saúde Dr. Sebastião Martins, o Hospital Barjonas Lobão, a Fundação Nacional de Saúde e a Secretaria Municipal de Saúde, onde são preenchidas as horas restantes. Na formação do quadro docente do Curso Técnico em Enfermagem foi admitida uma enfermeira94, em 1980, responsável 93 Lei nº 9.394/96 de 20.12.96. estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Trata-se da enfermeira Lígia Beatriz da Costa e Silva Ribeiro, diplomada pela Universidade Federal do Maranhão, em 1978. 94 487 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. pela elaboração do projeto de implantação do curso, e posteriormente, em 1981, ingressaram mais três enfermeiras, contratadas, por horaaula, para ministrar as disciplinas específicas do curso. Ao longo dos vinte anos o corpo docente do Curso Técnico de Enfermagem foi composto por dez professores de 2º grau, e nove docentes enfermeiras. O Curso conta com uma Coordenadora de Enfermagem, responsável pelo acompanhamento do desempenho escolar dos alunos e pelas atividades desenvolvidas pelos professores, e uma Coordenadora de Estágio, responsável pela distribuição de alunos em campos de estágio e de professores que acompanham esses alunos em suas atividades práticas. Inicialmente, a demanda para o Curso Técnico em Enfermagem era inferior ao número de vagas oferecidas. Desde 1991, a situação tem se modificado, ocorrendo uma procura maior, que gradativamente vem superando o número de vagas oferecidas. Hoje a demanda é superior à oferta. O número de alunos concluintes é bem menor que o de alunos que ingressaram. O CAFS, nesses vinte anos, diplomou 394 técnicos de enfermagem. Vale ressaltar que destes, 145 (37%) foram diplomados nos últimos três anos. Através de levantamento da faixa etária dos alunos do Curso com concomitância interna, no ano de 2001, verificou-se uma acentuada presença de adolescentes com idade de 15-16 anos, refletindo uma opção profissional precoce. Para ingresso no Curso no ano de 2002 foi exigida a conclusão do Ensino Médio, antigo 2º grau, acabando com a concomitância externa e interna. Há um consenso entre os professores de retornar a concomitância, passando a ser opção do aluno e não obrigatoriedade como até então era a concomitância interna. Sabe-se que alguns egressos já conseguiram avanços profissionais significativos dentro da própria categoria, cursando graduação e até pós-graduação; muitos se encontram exercendo a profissão em outros estados. Especificamente em Floriano cerca de quarenta técnicos de enfermagem, egressos do CAFS, trabalham na 488 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. área de saúde, principalmente no hospital Regional e clínica particular. Ressaltamos que o referido curso exerce papel preponderante nas microrregiões abrangidas pela instituição. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. SEMTEC. Reforma do ensino Técnico. Brasília: MEC/MTb, 1996. ______. Conselho Federal de Enfermagem. Força de Trabalho em Enfermagem. Rio de Janeiro: COREN / ABEn, 1985. V. I. ______. Decreto nº2.208, de 17de abril de 1997. Regulamenta a educação profissional da Lei nãoº9394 de 20.12.96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 18.04.97. _______. Leis, etc. Lei nº 7.498, 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a Regulamentação do Exercício da Enfermagem e dá outras providências. DOU. Brasília, 26 jun. 86. seç1. p. 9273-5. _______. Resolução 07/77 de 18.04.1977. Padrões mínimos Curso de Técnicos e Auxiliares de Enfermagem. Diário Oficial da União, p. 6293, 24 de maio de 1977. Seção I, Parte II. ______. Senado Federal. Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional: Lei nº 9.394 de 1996. Brasília: Subsecretaria de Edições Técnicas. 1997, 48p. BRASÍLIA. Conselho Federal de Enfermagem. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. 2002. ROCHA, Jesanne Barguil Brasileiro. A Prática do Técnico de Enfermagem Egresso do Campus Amílcar Ferreira Sobral no Hospital Regional de Floriano-PI. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro / Escola de Enfermagem Anna Nery. 1999. 489 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. AVALIAÇÃO DO ENSINO DE GRADUAÇÃO Maria Helena Baena de Moraes Lopes95 Mauro Antônio Pires Dias da Silva96 Enquanto escolas públicas do Estado de São Paulo, temos nos reunido através de um fórum com a finalidade de discutir e analisar os processos relativos ao ensino de graduação frente às novas diretrizes curriculares. Para tanto, através de um projeto interinstitucional, temos promovido seminários que discutem temas específicos da relação ensino-aprendizagem. Apresentamos aqui os resultados das discussões realizadas no seminário sobre o tema "Avaliação do Ensino de Graduação". Este assunto teve como indicativo o fato de que, pela primeira vez, seremos submetidos a um processo de avaliação externa, o que nos leva a refletir como é nosso processo de avaliação interna, como avaliamos o desempenho dos acadêmicos, do corpo docente e do curso como um todo. Participaram do Seminário 48 docentes e discentes de graduação e pós-graduação de diferentes instituições do Estado. Em um primeiro momento, uma enfermeira especialista em educação expôs sobre: "A avaliação no ensino de graduação". Posteriormente, realizaram-se oficinas de trabalho abordando os subtemas: "desempenho do aluno", "dificuldades de aprendizagem" e "o erro no processo de aprendizagem". Finalizando, através de uma plenária foram apresentadas proposições que podem ser implementadas e indicadas temáticas que necessitam de outros momentos de reflexão. 95 Enfermeira. Professora Assistente Doutora e Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 96 Enfermeiro. Professor Assistente Doutor do Departamento de Enfermagem da FCM - Unicamp. Diretor de Educação da Associação Brasileira de Enfermagem Seção São Paulo. 490 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ADENTRANDO AO CÍRCULO EXISTENCIAL HERMENÊUTICO. BUSCANDO SENTIDOS, ATRIBUINDO SIGNIFICADOS...PRECEPTORIA1 Gilberto Tadeu Reis da Silva2 Vitória Helena Cunha Espósito3 O presente estudo descreve a trajetória metodológica vivenciada por dois sujeitos, no desenvolvimento de uma pesquisa de natureza fenomenológica hermenêutica tal como fundamentada no pensar de Heidegger e Gadamer. Não se trata de dizer do tema investigado, mas, do como este ao configurar-se como uma situação educativa enreda os pesquisadores nos meandros do círculo existencial hermenêutico possibilitando a apreensão de diferentes realidades, 97 complexidades, linguagens cuja interpretação demanda metodologias transdisciplinares, literacias. A movimentação no interior do círculo existencial hermenêutico, para além do visível e tangível, deixa ver marcas no in-visível. Possibilita apreender formas, estruturas que se dão à consciência enquanto diagramas da realidade que pelo distanciamento/aproximação do olhar delineiam perfis, perspectividade-configurações. Mas ainda, exigem dos intérpretes os recursos da variação imaginativa, a ausência de pré-conceitos, afetividade, empatia. A leitura proporcionada pelo encontro de horizontes: o mundo do texto e o mundo do leitor mostram-se à consciência tencionada (noema/noesis), respaldada na tradição histórico-teológica e consubstanciando-se em valores ético/filosóficos fazendo emergir princípios norteadores do trabalho institucional. 97 Tema de estudo na Tese de Doutoramento em Enfermagem na Universidade Federal de São Paulo 2 Enfermeiro, Mestre e Doutorando em Enfermagem, Chefe do Departamento de Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina. Rua São João das Duas Barras, 95 Itaquera São Paulo/SP, CEP 08270-080, email: [email protected] 3 Orientadora Professora Titular na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Presidente da Sociedade de Estudos e Pesquisas Qualitativos. 491 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Desenvolvendo-se uma instituição particular confessional, a Faculdade de Enfermagem Santa Marcelina projeta como sua missão garantir a formação daqueles que nela habitam no comprometimento com os ideais de solidariedade, sabedoria, firmeza, suavidade, sensibilidade e uma mente clara para a transformação do mundo, preceitos estes desenvolvidos pelo fundador dessa Congregação Monsenhor Biraghi. Nesta pesquisa pretende-se descrever parte de vivências enquanto docente e preceptor em um curso de graduação em Enfermagem. Sendo assim, relato a trajetória por mim percorrida desde o desencadear do meu ingresso na pós-graduação. Na convicção das minhas experiências e do meu modo de ser, estar e conviver com os outros e no mundo, pretendo olhar mais criticamente meu mundo-vida. Nesta condição é que manifesto a intenção e a ânsia de realizar este estudo, ou seja, dizer do fazer a partir da vivência como preceptor, estruturando os passos percorridos por mim, buscando o que me é mais significativo, e que representa o grão plantado e que deu frutos (textos bíblicos), sendo que repartiremos na proporção maior do que cresce e continuará crescendo. O caminho percorrido em busca da preceptoria4 está marcado no convívio com pessoas que vivem um carisma religioso, descrito por BIRAGHI (1838-1880), alicerçado nas ciências do espírito e de valores cristocêntricos5 . 4 Preceptoria foi focada em publicações anteriores como uma estratégia de ensinoaprendizagem individualizada, que busca promover a integração de conhecimentos, habilidades e atitudes desenvolvidas pelo aluno, ao longo do curso, com vistas à formação de sua identidade profissional. Nessa perspectiva, o papel do professorpreceptor é o de facilitar a percepção, compreensão e ação do aluno em direção à conquista de sua transformação em enfermeiro no presente trabalho coloca-se outra possibilidade interpretativa. 5 Teologicamente centrado nos ensinamentos de Jesus Cristo, 492 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A experiência biraghiana marca-me expressivamente como enfim ser preceptor, ser pessoa, ser profissional e ser humano... Essa expressividade singular torna-se a cada momento de encontro, dedicação, trabalho uma efetiva busca por compreender as nuanças essenciais e singulares que se apresentam no mundo já vivido. (ALMEIDA, 2001) É neste sentido que a compreensão e a interpretação do que se mostra como preceptoria emergem, ainda estranhos e talvez desconhecidos, na sua essência, contudo seus significados foram iluminando-se ao serem vistas marcadas por minhas crenças e aspirações. Propus-me então, a desvelá-la como fenômeno. Fenômeno significa aqui aquilo que se mostra a partir do como é interrogada. (ESPÓSITO, 1993) (BICUDO, 1997) Da essência do fazer da própria preceptoria, pude apreender que este espaço dedicado ao aluno era também um "locus" de atenção e compreensão tanto do outro, como de mim mesmo. Portanto, logo que me coloco, sinto-me na necessidade de exteriorizar o como a vejo e a interpreto, como também expressar de forma clara minha compreensão construída, quase que de maneira imperceptível. Desta forma, no diálogo entre aquele que fala e o que ouve pode proporcionar-se um compartilhar que, de forma geral, para que aconteça subentender a existência de uma prévia compreensão. Na busca de meu caminhar acadêmico após concluir minha dissertação de mestrado (SILVA - 2000), quando interroguei, com o propósito de analisar e compreender os significados para os acadêmicos de enfermagem, que experenciavam a preceptoria para que com as apreensões dos alunos e minhas, pudéssemos delinear como ela se mostra enquanto uma maneira de desenvolvimento humano, que se dá não apenas para o aluno mais também para o professor. Embora não houvesse preestabelecido inicialmente uma 493 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. investigação da relação vivida enquanto professor-preceptor, na pósgraduação na condição de aluno-orientando, e o professor-orientador, esta situação terminou por impor-se a ambos como facticidade (préconcepções) que levou a ambos re-ver seus preconceitos prévios com relação aos princípios subjacentes ao tema investigado (a preceptoria), pois então transformados agora em tema de estudo, mas em algo a ser escolhido enquanto princípio não apenas norteador, mas desafiador, pois se constituindo um algo a ser vivenciado por ambos e a ser resignificada por ambos. É neste sentido que a facticidade de ser ao mundo levou-me a descrever nesta trajetória o percurso realizado por orientando e orientadora a partir do historiar de nossos encontros. É este sentido que passo agora a falar não apenas no singular, mas no plural. É um rememorar histórico dos encontros, tudo que nós temos irá se construindo a partir daí, e esse fazer passa a configurar-se não apenas como uma estratégia de ensino, mas como uma situação educativa enredando a ambos (pesquisador-aluno e professorpesquisador) nos meandros do círculo existencial hermenêutico. A movimentação no interior do círculo existencial hermenêutico, para além do visível e tangível, deixa ver marcas no invisível. Possibilita apreender formas, estruturas que se dão à consciência enquanto diagramas da realidade que pelo distanciamento/aproximação do olhar delineiam perfis, perspectividade-configurações. Mas ainda, exigem dos intérpretes os recursos da variação imaginativa, a ausência de pré-conceitos, afetividade, empatia. A leitura proporcionada pelo encontro de horizontes: o mundo do texto e o mundo do leitor mostram-se à consciência tencionada (noema/noesis), respaldada na tradição histórico-teológica e consubstanciando-se em valores ético/filosóficos fazendo emergir princípios norteadores do trabalho institucional. 494 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Ir. Maria Terezinha de. Caderno de estudo V. Proposta pedagógica de Biraghi. São Paulo: Instituto das Irmãs de "Santa Marcelina", 2001. BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Edição Pastoral. Tradução, introdução e notas STORNIOLO, Ivo; BALANCIN, Euclides Martins. São Paulo : Paulinas, 1990. BICUDO Maria Aparecida Viggiani; ESPÓSITO, Vitória Helena Cunha (orgs.). Joel Martins...um seminário avançado em fenomenologia.São Paulo: Educ, 1997. BIRAGHI, Luigi. Positivo Super Virtutibus. s.l., s.n., 1838. BIRAGHI, Luigi. Linhas de Ação. s.l., s.n., 1880. BOURDIEU, Pierre. Ontologia política de Martin Heidegger. Campinas: Papirus, [1989]. ESPÓSITO, Vitória Helena Cunha. A fenomenológico. São Paulo: escuta, 1993. escola: um enfoque ADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis: Vozes, 1997. HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. 5.ed. Lisboa : Guimarães Editores, 1998. ___________________. Ser e tempo. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. Parte 2. 495 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ___________________. Ser e tempo. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.Parte 1. INSTITUTO DAS IRMÃS DE SANTA MARCELINA. Caderno de estudo IV. Monsenhor Luis Biraghi: virtude da humanidade. São Paulo, 2001. MARTINS, Joel; BICUDO Maria Aparecida Viggiani. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos. 2.ed. São Paulo: Moraes, 1994. MARTINS, Maria Anita Viviani; ESPÓSITO, Vitória Helena Cunha (orgs.). Pedagogo artesão: construindo a trama no cotidiano da escola. São Paulo: Educ, 1995. PALMER, Richard E. Hermenêutica. 70.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1969. SILVA, Gilberto Tadeu Reis da. Os egressos de uma escola de nível médio de enfermagem do Município de São Paulo: repensando a formação profissional. São Paulo, 2000. Dissertação (Mestrado). Universidade de São Paulo Escola de Enfermagem. 496 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. PERFIL E COMPETÊNCIAS DO ENFERMEIRO GENERALISTA: UMA CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE Anna Maria Chiesa98 Maria Amélia de Campos Oliveira2 Amélia Fumiko Kimura3 Apresentam-se os resultados do seminário Desafio da formação do enfermeiro generalista e a elaboração do currículo por competência , atividade prevista no Projeto de Colaboração Interinstitucional para o Estudo das Diretrizes Curriculares para o Ensino de Graduação em Enfermagem, gerado no âmbito das discussões do Fórum de Escolas Públicas de Enfermagem do Estado de São Paulo. Esta síntese resulta da discussão dos grupos de trabalhos que debateram o perfil e as competências necessários à prática deste profissional, os quais serão apresentados a seguir: Desenvolve, com resolubilidade, ações de promoção, prevenção e reabilitação para os problemas mais prevalentes nos serviços de saúde de referência primária e secundária; Identifica necessidades e demandas de saúde, apropria-se dos conhecimentos clínicos e epidemiológicos para aplicá-los no cuidado, na gerência, na pesquisa e no ensino de enfermagem. Situa o cuidado de enfermagem no contexto epidemiológico regional, enfocando os aspectos individual e coletivo no processo saúde-doença; 1 Profa. Doutora do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da USP. Presidente da Comissão de Graduação. 2 Profa. Doutora do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da USP. Membro do Grupo de Articulação Interinstitucional para o Estudo das Diretrizes Curriculares para o Ensino de Graduação em Enfermagem. 3 Profa . Doutora do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da USP. Membro do Grupo de Articulação Interinstitucional para o Estudo das Diretrizes Curriculares para o Ensino de Graduação em Enfermagem. 497 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Gerencia o cuidado, articulando ações nos diferentes níveis e relações interprofissionais. Toma decisões, estabelece comunicação, exerce liderança na equipe de enfermagem e articula o seu trabalho ao contexto multiprofissional; Utiliza conhecimentos e habilidades para atuar em diversos contextos da prática, permeados pelas dimensões ética, política e estética. Realiza movimento constante de busca do que não conhece; A formação do enfermeiro não se limita à competência técnica como foco central, mas produz um profissional capaz de atuar em qualquer situação que demande uma intervenção de enfermagem no contexto do cuidar. INTRODUÇÃO Por iniciativa da Comissão de Graduação da Escola de Enfermagem da USP (EEUSP), em parceria com a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), constituiu-se o Fórum de Escolas Públicas de Enfermagem do Estado de São Paulo. Sua finalidade é discutir, à luz das inovações estabelecidas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e Diretrizes Curriculares para o Ensino de Enfermagem, os projetos pedagógicos adotados pelas escolas, compartilhando experiências de construção e organização dos currículos plenos dos cursos de graduação em enfermagem no contexto da Universidades Públicas. Criado no primeiro semestre de 2001, o Fórum congrega representantes de instituições públicas de ensino de graduação de enfermagem do Estado de São Paulo. Na fase preliminar dos trabalhos, participaram docentes representantes da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP), Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP), Escola de Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (EE-FAMERP), Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). 498 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. As discussões iniciais resultaram na proposição do Projeto de Colaboração Interinstitucional para o Estudo das Diretrizes Curriculares para o Ensino de Graduação em Enfermagem. FINALIDADE, METAS E ESTRATÉGIAS OPERACIONAIS O Projeto de Colaboração Interinstitucional para o Estudo das Diretrizes Curriculares para o Ensino de Graduação em Enfermagem tem como finalidade criar espaços para reflexões sobre as transformações no ensino de graduação em enfermagem ensejadas pelas novas Diretrizes Curriculares emanadas da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação e suas possibilidades e limites para a construção de competências necessárias à proposição e à implementação de práticas inovadoras em saúde. Sua viabilização foi possibilitada pelo auxílio financeiro concedido pelo Fundo do Projeto de Colaboração Interunidades para o Estudo de Problemas Estratégicos de Pesquisa (CIUPE) da Próreitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo, a partir de julho de 2001. Dentre as metas do projeto, programou-se realização de três seminários ao longo do segundo semestre de 2001 e primeiro semestre de 2002. SEMINÁRIO DESAFIO DA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO GENERALISTA E A ELABORAÇÃO DO CURRÍCULO POR COMPETÊNCIAS Em dezembro de 2001, na EEUSP, ocorreu o primeiro Seminário, intitulado Desafio da formação do enfermeiro generalista e a elaboração do currículo por competências , que congregou cerca de 60 participantes, docentes e discentes de graduação e pósgraduação de escolas públicas e privadas. Constou de uma conferência proferida pela Profa Dra. Terezinha Azerêdo Rios, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que abordou o tema A construção do currículo por competências . Após a conferência, seguiu-se um debate com a convidada no qual os participantes discutiram conceitos acerca das dimensões da competência profissional, da identidade profissional e de atributos, 499 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. estrutura e contextos para a construção de competências para a prática profissional de enfermagem. No período da tarde, os participantes constituíram três grupos de trabalho, com a finalidade de discutir o conceito e o perfil do enfermeiro generalista, considerando a construção dos projetos pedagógicos e a atuação profissional do enfermeiro frente ao mercado de trabalho. Para subsidiar as discussões, a cada grupo foi fornecido o documento-base Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, disponível no endereço eletrônico http://www.mec.gov.br/Sesu/diretriz.shtr. Apresenta-se a seguir a síntese dessas discussões, elaborada com base na transcrição do registro em áudio do Seminário. Espera-se que a ampla divulgação desse resultado constitua-se num elemento a mais para fomentar e subsidiar as discussões na elaboração ou avaliação dos projetos pedagógicos de instituições de ensino de enfermagem, de acordo com a sua especificidade e vocação. SÍNTESE DAS DISCUSSÕES Esta síntese resulta da discussão dos grupos de trabalhos que debateram o perfil e as competências necessários à prática do profissional enfermeiro: Desenvolve, com resolutividade, ações de promoção, prevenção e reabilitação para os problemas mais prevalentes nos serviços de saúde de referência primária e secundária. Identifica necessidades e demandas de saúde, apropria-se dos conhecimentos clínicos e epidemiológicos para aplicá-los no cuidado, na gerência, na pesquisa e no ensino de Enfermagem. Situa o cuidado de enfermagem no contexto epidemiológico regional, enfocando os aspectos individual e coletivo no processo saúde-doença. Gerencia o cuidado, articulando ações nos diferentes níveis e relações inter-profissionais. Toma decisões, estabelece comunicação, 500 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. exerce liderança na equipe de enfermagem e articula o seu trabalho ao contexto multiprofissional . Utiliza conhecimentos e habilidades para atuar em diversos contextos da prática, permeados pelas dimensões ética, política e estética. Realiza movimento constante de busca do que não conhece. A formação do enfermeiro não se limita à competência técnica como foco central, mas produz um profissional capaz de atuar em qualquer situação que demande uma intervenção de enfermagem no contexto do cuidar. CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente iniciativa justifica-se face ao acúmulo de conhecimentos da Enfermagem no Brasil e para fazer frente às transformações e às ampliações do campo da saúde, visando o atendimento das necessidades de saúde da população. Há ainda que considerar a institucionalização do Sistema Único de Saúde que, para viabilizar a reorganização das práticas assistenciais no âmbito dos serviços de saúde, demanda a constituição de novos perfis profissionais, em consonância com as transformações do processo de produção em saúde. A discussão sobre o perfil e as competências do enfermeiro generalista no âmbito das escolas públicas, em que pese a sua especificidade, pretende ser uma contribuição ao debate que ora se trava no cenário nacional. BIBLIOGRAFIA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM. Documento final da Reunião Nacional de Cursos e escolas de Graduação em Enfermagem: Carta de Florianópolis. Florianópolis, 1999. BELLONI, I. A educação superior na nova LDB. In: BRZEZINSKI, I (org.) LDB Interpretada: diversos olhares se intercruzam. São Paulo, Cortez, 1997. p.123-40 501 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. BRASIL. Lei n.9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União. Brasília, 23 de dez. 1996. Seção 1, p. 27.833-41. BRASIL. ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Superior-SESu . Chamada de propostas. Brasília, 1997. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Superior. Departamento de Política de Ensino Superior. Coordenação das Comissões de Especialistas de Ensino. Comissão de Especialistas de Enfermagem. Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação de Enfermagem. Brasília,1999. CAMPOS,G. V. de S. Educação médica, hospitais universitários e o Sistema Único de Saúde. Cad. Saúde Públ. v.15, n.1. p.187-93, 1999. KISIL, M. Prefácio. In: CHOMPRÉ, R.R.S.; EGRY,E.Y. A enfermagem nos projetos Uni: contribuição para um novo projeto político para a enfermagem brasileira. São Paulo, Hucitec, 1998. p.7-13. MEYER, D.E. Espaços de sombra e luz: reflexões em torno da dimensão educativa da enfermagem. In: MEYER, D.E.; WALDOW,V.; LOPES, M. J.M.(org.) Marcas da diversidade: saberes e fazeres da enfermagem contemporânea. Porto Alegre, Artes Médicas, 1998. cap.2. p.27-42. MOURA, A; MEDEIROS, L. C. de. Construindo novos paradigmas para o processo ensinar/aprender na enfermagem. Rev. Expressão. v.28, n.2, p.69-86, 1997. PERRENOUD, P. Construindo competências desde a escola. Porto Alegre, Artmédica, 1999. 502 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. SADER, E. Neo-liberalismo e políticas sociais no Brasil. Salvador, Conselho Nacional do Serviço Social, 1995 /Mimeografado/ SEMINÁRIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM NO BRASIL, SENADEN, 3. Rio de janeiro,1998. Relatório. Rio de Janeiro, ABEN/UERJ, 1998. TORREZ, M.N.F.B.; BARROS, L.R. de; GOULART, V.M.P. A educação profissional de nível técnico e a estratégia Saúde da Família renova-se o desafio. Rev. Bras. Enf., v.53, n. especial, p.61-9, dez 2000. 503 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A IMPLEMENTAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DE UM PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DE UM CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM NA CIDADE DE SÃO PAULO Gilberto Tadeu Reis da Silva1 Paulo Cobellis Gomes2 Gislaine Cardoso Alves 3 O relato desta experiência tem por objeto a trajetória da implementação e implantação de um Curso de Graduação em Enfermagem na cidade de São Paulo, perpassando da sua ideologia ao seu constructo. Objetiva demonstrar a necessidade que há em adequar o processo de formação do Enfermeiro às transformações da profissão da área de saúde, do ensino, do mercado de trabalho e, principalmente às necessidades e demandas de saúde da população, expressas pela significante mudança no seu perfil demográfico-epidemiológico. Para atingirmos tais metas optamos por utilizar uma abordagem teóricafilosófica resgatando a missão institucional e os marcos conceitual, referencial e estrutural instrumentalizados da organização curricular proposta. Os resultados demonstraram-se favoráveis considerando-se que o aludido curso foi reconhecido pelo MEC, durante o transcorrer do seu sétimo semestre. 1 Enfermeiro, Mestre e Doutorando em Enfermagem, Chefe do Departamento de Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina Campus Itaquera. E-mail: [email protected] 2 Enfermeiro, Professor Doutor, Vice Chefe do Departamento de Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina Campus Itaquera. 3 Psicóloga, Secretária da Faculdade Santa Marcelina Campus Itaquera, docente da Escola de Formação de Profissionais da Saúde Sophia Marchetti . Rua São João das Duas Barras, 95 Cep: 08270-080 Itaquera São Paulo. 504 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A Missão da Faculdade Santa Marcelina nasceu da inspiração de Monsenhor Luigi Biraghi e da sua lúcida intuição para renovar a sociedade, sempre atenta aos sinais dos tempos. A Faculdade Santa Marcelina, como faculdade católica, para desenvolver uma ação educativa cristã, social e cultural, se rege pelos documentos oficiais da igreja. Aberta às necessidades do mundo atual prepara cidadãos capazes de oferecer, com qualidade, o produto de seus conhecimentos, habilidades e atitudes, de forma compromissada com os ideais de justiça, honestidade, tolerância, simplicidade, alegria, humildade e acolhimento. Por isto o projeto político pedagógico da Faculdade Santa Marcelina Campus Itaquera e seu correspondente programa de desenvolvimento institucional é construído com o objetivo de contribuir na formação do profissional, cidadão a serviço da cidadania; conduzindo a um modelo de atenção à saúde mais justa, equânime, democrático e solidário, tendo como concepção um curso que atenderá um modelo assistencial em nível de atenção primária, desenvolvendo ações integrais de saúde, que atenda às tendências mercadológicas, acompanhando as evoluções proposta pelo tempo, oferecendo ao aluno uma visão objetiva da realidade na qual atuará. A necessidade social do curso se dá pelo fato que, a população da Zona Leste, que é de 2.975.352 habitantes, ou seja, 30% da população de São Paulo apresenta entre seus vários Distritos, um dos piores índices de desenvolvimento humano. Esse índice mede a vulnerabilidade à morte, privação de conhecimento e padrão de vida digno. Sendo que a mortalidade infantil apresentou diminuição em parte dos Distritos Administrativos, com exceção dos Distritos Administrativos do Cangaiba, Cidade Líder, Vila Nova Curuçá, Guaianases, Itaim Paulista, Itaquera, Parque do Carmo, São Rafael e Carrão. A força destes movimentos de saúde, apesar de tudo, tem conseguido vitórias como a implantação do programa de Saúde da Família na região. A população assistida pelos serviços de atenção básica à saúde vem aumentando nos últimos anos com a implantação de equipes de Saúde da Família-Qualis. 505 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Com a municipalização da Saúde na cidade de São Paulo, ocorrida no ano de 2001, é esperado que aumente o número de equipes de saúde da família, assim como o número de profissionais da saúde nas Unidades Básicas de Saúde existentes. Com base nesses fatos, que o Curso de Graduação em Enfermagem tem como objetivo formar profissionais conhecedores dos determinantes sociais das condições de vida da população e da utilização crítica dos conhecimentos sobre promoção, proteção, prevenção, alívio do sofrimento e prolongamento da vida, com vistas à redução de desigualdades e ampliação do controle social devendo assim, lutar por mudança do paradigma da saúde. Por esta razão, que a Faculdade Santa Marcelina se compromete no aprimoramento do Graduando em Enfermagem. A organização curricular do Curso de Graduação em Enfermagem tem como suporte o referencial teórico-filosófico e prático trabalhando em nível local, regional e nacional, sendo que a estrutura básica do currículo explicitasse pelos Marcos filosóficos, conceitual, referencial e estrutural. Marco filosófico é desenvolvido segundo a concepção de Monsenhor Luigi Biraghi que acredita num método evangélico de viver junto no espírito de família , formando e educando mais com a força do amor e do exemplo, do que com palavras, propondo formar pessoas para transformar a sociedade numa perspectiva de busca de indivíduos mais fraternos, solidários, humanos e cristãos. Os enfermeiros responsáveis pela implantação do Curso de Graduação em Enfermagem, pensando em atingir tais objetivos proposto com eficiência; desenvolveram um programa de Preceptoria que visa o docente mais experiente auxiliar o aluno de enfermagem, apontando os caminhos, indicando acessos e sentidos que favoreçam ou possibilitem que venham a se tornar iguais a eles, mostrando a importância do graduando encontrar a sua própria identidade profissional. Marco Conceitual está baseado na busca da cidadania, da reconstrução social e trabalhando mais a saúde do que a doença enfatizando o trabalho em equipe. Seja a Educação Crítica , na 506 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. medida em que o significado de crítica como construtor filosófico está relacionado à categoria de totalidade. Marco Referencial devido o perfil epidemiológico do nosso país ser caracterizado pela presença desde ostensivas doenças controláveis tais como as doenças comuns da infância, até as doenças de países desenvolvidos como a diabete, as doenças cardiovasculares, os acidentes vasculares cerebrais e por fim a AIDS que aparece em nosso meio de forma muito significativa, só comparável aos países do primeiro mundo. Pensando nesta realidade o enfermeiro deve, portanto, responder a esta expectativa de uma forma objetiva e concreta, dentro da sua especificidade na assistência, na administração, no ensino e na investigação. Marco Estrutural os conceitos e/ou pressupostos acima referidos serão conformados em uma estrutura curricular que terá os seguintes eixos integradores: o aluno como sujeito do processo ensinoaprendizagem; estudo do homem no seu ciclo vital; contextualização dos conteúdos teóricos e práticos das áreas de ciências humanas, biológicas e específicas da enfermagem no decorrer do curso; integração dos conteúdos das disciplinas do curso; incorporação do raciocínio epidemiológico no ensino da enfermagem; equilíbrio entre os enfoques de atenção integral ao indivíduo; família e comunidade nos aspectos preventivos e curativos; desenvolvimento de conteúdos de administração de forma gradual e sucessiva para garantir a capacidade de planejamento, administração da assistência e dos serviços de enfermagem em todos os níveis de atenção em saúde; compreensão que este currículo propõe formar o enfermeiro generalista para o desempenho de atividades de 507 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. atenção à saúde comunitária e individual em nível ambulatorial e hospitalar; compreensão de que o curso de graduação tem uma terminalidade para dar respostas às demandas de enfermagem para os serviços de saúde da rede básica e hospitalar; compreensão de que o profissional, após a sua graduação, tenha perspectivas de aprofundar o conhecimento nas várias áreas do saber da enfermagem. Para a Conclusão do Curso de Enfermagem, o aluno deverá elaborar um trabalho de Conclusão sob orientação docente, e submetida a banca examinadora em conformidade com o protocolo regimental. Assim, acredita-se, que a presente proposta privilegia a formação do Bacharel Enfermeiro, critico e reflexivo com competência técnico-científico-ético-legal-político-social-educativa, capaz de: ler a realidade; diagnosticar a situação; estabelecer prioridades; e intervir com competência. A prática das Atividades Complementares é uma determinação da proposta curricular vigente, para todos os alunos do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina - Campus Itaquera desde o ano 1999. 508 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Referência Bibliográfica 1. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ Dados Radis, Dez. 1990. 2. BRASIL, Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social. Secretaria de Medicina Social. Distrito Sanitário: contribuição para um novo tipo de atendimento dos serviços de Saúde. 2 ed. Rio de Janeiro: Coordenadoria de Comunicação Social do INAMPS, 1988. 3. BRASIL, Ministério da Saúde. Lei Orgânica da Saúde. 2 ed. Brasília. Assessoria de Comunicação Social, 1991. 4. _______________________. VIII Conferência Nacional de Saúde Relatório Final - Brasília. 1986. 5. _______________________. IX Conferência Nacional de Saúde Relatório Final - Brasília. 1993. 509 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. AVALIANDO O CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM OBSTÉTRICA NA UNIVERSIDADE FEDRAL DO PIAUI Inez Sampaio Nery99 Lucimar Ramos Ribeiro Gonçalves100 Maria Íris Mendes da Rocha Sá101 Trata-se de um estudo qualitativo cujo objeto foi a avaliação do 1º Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica da UFPI em Teresina-PI. Os objetivos foram: avaliar as disciplinas e sistema de avaliação; descrever os pontos positivos e negativos bem como sugestões e, discutir os aspectos pertinentes à avaliação, Os sujeitos da pesquisa foram dezenove (19) discentes enfermeiras. O instrumento utilizado foi um questionário com onze (11) questões abertas. O resultado revelou: as disciplinas e professores foram considerados excelentes; o sistema de avaliação variou de bom a ótimo; seminário e portifólio foram considerados meios mais justos de avaliar. Dentre os aspectos positivos foram destacados:a inclusão das disciplinas Informática e Enfermagem Perinatal (Neonatologia); os campos de prática pela diversidade de ações; segurança e competência das professoras no campo de estágio. Os pontos negativos evidenciados foram: hostilização e desrespeito por parte de alguns profissionais ocasionando falta de liberdade no desempenho das atividades, insuficiência da carga horária no estágio, disputa na realização de partos normais com a categoria médica. Sugestões apresentadas: melhorar critérios de avaliação em algumas disciplinas e as relações do trabalho enfermagem e equipe multiprofissional; aumentar carga horária de estágio em sala de parto, incluir a disciplina Didática aplicada à Enfermagem e estágio na unidade de internação de 99 Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunto da Universidade Federal do Piauí UFPI. End.: Rua Antônio Chaves, 1896 São Cristóvão, Cep. 64045-340 Fone: (86) 232-4239 Teresina Piauí. 100 Enfermeira, Mestra em Enfermagem, Professora Adjunto da UFPI. 101 Enfermeira, Mestra em Enfermagem, Professora Adjunto da UFPI. 510 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. gestantes e puérperas de risco, Conclui-se que a realização do curso foi de grande valia para a enfermagem obstétrica piauiense e que este ajudou a superar dificuldades enfrentadas no dia a dia profissional dos sujeitos do estudo. INTRODUÇÃO O Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica na Universidade Federal do Piauí UFPI, realizado em Teresina-PI, teve início em outubro de 2000 e término em agosto de 2001. Foi patrocinado pelo Ministério da Saúde MS e promovido pelo Departamento de Enfermagem da referida instituição com o apoio da Associação de Obstetrizes e Enfermeiras (os) Obstetras Seção Piauí ABENFO-PI. Essa entidade de classe sociedade de especialistas elaborou a proposta e, como esta ainda necessitava de documentações para firmar convênios no MS, encaminhou o projeto do Curso ao Departamento de Enfermagem da UFPI que, meio da Fundação de Desenvolvimento e Apoio à Pesquisa, Ensino e Extensão do Piauí FUNDAPE, empresa que dá suporte aos projetos e convênios na Universidade Federal do Piauí, possibilitou a realização do curso. Vale ressaltar que as docentes que ministraram as disciplinas específicas do Curso são, em sua maioria enfermeiras que atuam na área da mulher e sócios da ABENFO-PI; as disciplinas de domínio conexo (básicas) foram ministradas por outros docentes da UFPI. Este estudo foi relevante para as docentes, tendo em vista ser o primeiro financiado pelo Ministério no Estado, embora o Departamento de Enfermagem da UFPI já tivesse oferecido três Cursos de Especialização em Enfermagem Materno-Infantil, com aproximadamente setenta (70) concluintes Sabe-se que, em conseqüência das Portarias Ministeriais n.ºs 2.815/98, 163/98 e 985/99, que incentivam a realização do parto normal por enfermeiras (os), existe uma grande demanda destes profissionais querendo realizar cursos de especialização nessa área. Ressalta-se também que pela Lei n.º 7.498/86, do exercício profissional de enfermagem, no seu artigo 11, nos itens h 511 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. e i , a (o) enfermeira (o) generalista poderá realizar o parto normal e no parágrafo único desta mesma Lei encontra-se que a(o) enfermeira(o) obstetra pode realizar o parto normal com episiotomia (COFEN-PI, 2000). Tendo em vista as altas taxas de mortalidade materna e perinatal no País, tendo como causas obstetras diretas de morte materna sobressaem as toxemias, hemorragias, infecções e aborto. No Brasil, nas últimas décadas, tem sido elevado o número de partos operatórios e o Ministério da Saúde na tentativa de reduzir os altos índices de mortes maternas e de cesareanas, têm estimulado a participação de enfermeiras (os) na realização do parto normal com pagamento dos partos realizados por estes profissionais, conforme a emissão da Portaria n° 2817/98, para a redução do parto operatório (BRASI.1998). De acordo com a política preconizada pelo MS, por meio das ações programáticas priorizando a assistência básica, e a mudança do modelo visando à qualidade e a humanização do parto pelo Sistema Único de Saúde SUS, a área técnica de Saúde da Mulher do MS tem envidado esforços para a melhoria da assistência à clientela feminina (BRASIL,1999). Este estudo tem por objeto a avaliação do I Curso de Especialização na Área Obstétrica na UFPI, em Teresina PI e apresenta como objetivos: avaliar docentes as disciplinas, bem como métodos e técnicas de ensino do Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica; descrever os pontos positivos, negativos e sugestões, assim como discutir os aspectos pertinentes à avaliação. É imprescindível avaliar programas de saúde, cursos e eventos, para que se possa estar sempre melhorando as atividades desempenhadas pelas (os) enfermeiras (os). Quanto ao conceito de avaliação educacional de Popham (1997) apud Barreto (1993: 46) afirma que: embora venha ocorrendo alguma diferença de opinião através dos anos, a maioria dos educadores concebe a avaliação educacional como operação na qual a qualidade de uma iniciativa educacional é julgada. Em outras palavras, para maior parte dos educadores o 512 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. termo avaliação significa julgamento de valor de uma iniciativa organizacional. METODOLOGIA Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa, realizado em Teresina-PI. A pesquisa qualitativa preocupa-se ... com o nível de realidade que não pode ser quantificado . Ou seja, trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, valores e atitudes... (MINAYO, 1994, p. 21). Os sujeitos foram dezenove (19) enfermeiras, discentes do I Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica na UFPI, que trabalhavam nas maternidades públicas estaduais e municipais da referida capital. O instrumento utilizado foi um questionário com onze (11) questões abertas. Este foi previamente validado, feito as possíveis correções e a seguir aplicado às alunas no término do curso. Os questionários foram numerados e entregues aos sujeitos pelas autoras do estudo, tendo-se o cuidado de conferir se todas as questões tinham respostas tinham no momento da entrega. A análise dos dados foi realizada após sua categorização, obtida por meio das respostas das depoentes. RESULTADOS Os resultados apresentados estão contidos nas três (3) categorias: avaliando as disciplinas e professores do curso, pontos positivos e negativos durante o curso e expectativas/sugestões das enfermeiras. Avaliando as disciplinas e professores do curso Esta categoria diz respeito a avaliação das disciplina do curso, bem como dos professores que ministraram aulas teórico-práticas no I Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica. A avaliação das disciplinas, de acordo com os depoimentos, variou de bom a ótimo. 513 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. As disciplinas foram avaliadas como importantes, necessárias e identificadas com a área obstétrica. As disciplinas de que mais gostaram foram: Saúde da mulher, Enfermagem Obstétrica I e II e Enfermagem Perinatal, devido à relação direta com a especialização e por fazerem parte do dia-a-dia profissional. Quanto aos professores, as depoentes quase em sua totalidade consideraram muito bons e assim se expressaram: preparados e competentes para exercer a função de educador (Dep. 1). Os escolhidos realmente são os melhores que dispomos no nosso meio e corresponderam as expectativas (Dep. 7). Se esforçaram bastante para passar segurança, tranqüilidade e base teórico-prática, todos merecem meu respeito, apreço e valem nota 10, sucesso para a professora x que é uma grande aquisição para a UFPI, tanto como profissional como supervisora e professora (Dep.9). A diversidade de tarefas e o esforço das especializandas ajudaram a superar os obstáculos surgidos e melhorar a aprendizagem e, conseqüentemente, favoreceram a melhoria da assistência. As enfermeiras afirmaram ser gratificante voltar à sala de aula e sentiram-se úteis jovens cheias de esperança, para melhorar seu desempenho como profissionais, melhorando conseqüentemente a assistência à saúde da mulher. O curso de Neonatologia realizado pela sociedade de pediatria foi de fundamental importância no aprendizado, segundo os depoimentos das especialistas. Pontos Positivos/ Negativos durante o curso Nesta categoria ressaltaram-se pontos positivos e negativos do curso. Dentre os aspectos positivos destacam-se: a inclusão das disciplinas Enfermagem Perinatal e Informática, e os meios mais justos de avaliação foram seminários e portifólio. 514 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. os campos de prática satisfatórios devido à diversidade de ações por serem referência do Estado e oferecerem excelentes oportunidades de aprendizado, atendendo, portanto aos objetivos do curso. a realização do parto, pois as professoras são seguras e competentes conseguiram superar as dificuldades no decorrer do estágio supervisionado. Quanto aos aspectos negativos destacaram-se: a maneira de avaliação de duas (2) disciplinas não foi adequada; insuficiência na carga horária do estágio para o cumprimento das metas preconizadas no curso; hostilidade de alguns profissionais da área médica na realização do parto; sendo que algumas enfermeiras sofreram discriminação no desempenho de suas funções no início do estágio. Expectativas/sugestões das enfermeiras: Como expectativas/sugestões às enfermeiras destacaram: a melhoria do relacionamento com a equipe médica e os critérios de avaliação em algumas disciplinas; iniciar o estágio em sala de parto logo depois da disciplina Enfermagem Obstétrica I, complementando a carga horária com plantões; a inclusão do estágio no tratamento clínico da Maternidade D. Evangelina Rosa, bem como a disciplina Didática; o aumento da carga horária do estágio para que tenham oportunidade de passar por outras unidades de internação em tratamento clínico com gestantes e 515 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. puérperas de alto risco, a fim de que possam realizar a sistematização da assistência de enfermagem. CONSIDERAÇÕES FINAIS O curso representou um ganho social enorme apesar das dificuldades enfrentadas, bem como significou um salto qualitativo nas ações desenvolvidas pelas enfermeiras. Sabe-se, entretanto, que ainda é necessário que haja um esforço da equipe de assessoria à Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, para que seja otimizado o cadastramento das Enfermeiras Obstetras, nas Secretarias de Saúde dos Estados e municípios, e a criação das casas de partos ou unidades obstétricas a fim de viabilizar o repasse dos recursos referentes aos partos realizados por essa categoria, bem como a realização dos partos naturais e humanizados pelas referidas enfermeiras. O cumprimento das metas preconizadas pela Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiras Obstetras - ABENFONacional e estabelecidas no projeto proporcionou ás estudantes mais segurança e habilidade nas técnicas obstétricas do assistir à mulher e ao neonato. O curso foi de grande valia para a enfermagem obstétrica piauiense porque ajudou a superar as dificuldades no dia-a-dia profissional dos sujeitos do estudo. BIBLIOGRAFIA BRASIL, Ministério da Saúde, Portaria nº 2.815, Brasília, maio, 1988. _________, Portaria nº 163, Brasília, setembro, 1998. _________, Portaria nº 985, Brasília, agosto, 1999. _________, Atenção Integral à Saúde da Mulher, 1999-2002, Brasília, 1999. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Documentos básicos. Rio de Janeiro, 1999, 361p. 516 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. AVALIAÇÃO DO CURSO DE ENFERMAGEM DA NOVAFAPI NA VISÃO DO ALUNO Maria Eliete Batista Moura * Ana Maria Ribeiro dos Santos ** Ivonizete Pires Ribeiro *** Na Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI), a avaliação do ensino do Curso de Enfermagem tem sido uma preocupação constante da Coordenação do Curso e Diretoria da Faculdade. Assim, esta pesquisa tem como objeto de estudo a Avaliação do Curso de Enfermagem da NOVAFAPI, na visão do aluno e objetivou analisar criticamente o processo ensinoaprendizagem da NOVAFAPI, adotado no primeiro período do curso. Trata-se de um estudo descritivo, exploratório. A coleta de dados foi deita no mês de agosto de 2001, através de um questionário com perguntas relacionadas aos professores, à coordenação do curso, á estrutura organizacional e funcional da faculdade, envolvendo o funcionamento da biblioteca, secretaria geral, diretoria, pessoal técnico administrativo. Assim, os alunos indicaram, para análise do processo de ensino-aprendizagem da NOVAFAPI, os conceitos: ruim, regular, bom, ótimo e excelente que melhor representasse a sua percepção sobre os itens indicados e se desejasse expressar outros aspectos que não foram contemplados no instrumento proposto. Os resultados indicaram que os professorem obtiveram conceito bom, a coordenação de curso obteve conceito ótimo, a estrutura organizacional e funcional da faculdade obteve conceito bom e o item relacionado aos alunos e relacionamentos no ambiente da faculdade obteve conceito bom, demonstrando que a avaliação do Curso de * Doutora em Enfermagem pela EEAN da UFRJ, Coordenadora do Curso de Enfermagem da NOVAFAPI, Professora do Departamento de Enfermagem da UFPI. ** Mestre em Enfermagem pela EEAN da UFRJ, professora da NOVAFAPI. *** Mestre em Enfermagem pela EEAN da UFRJ, professora da NOVAFAPI. 517 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Enfermagem da NOVAFAPI, na visão dos alunos foi satisfatória e reforça a viabilidade do Projeto Político Pedagógico proposto. A Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí - NOVAFAPI, é um estabelecimento de ensino superior particular mantido pela Associação de Ensino Superior e Tecnológico do Piauí - AEST, com sede e foro na cidade de Teresina, Estado do Piauí. A NOVAFAPI rege-se pelo seu regimento, pela legislação do ensino superior e pelo Estatuto da Entidade Mantenedora. É uma Sociedade Civil, fundada em 15 de abril de 1999. Como instituição de ensino, tem por objetivo nas áreas dos cursos que ministra: a formação de profissionais e especialistas de nível superior; a realização de pesquisas e estímulo de atividades criadoras e extensão do ensino e da pesquisa à comunidade, mediante cursos e serviços. No exercício de suas funções, a Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí NOVAFAPI assegura a liberdade de estudo e pesquisas, permanecendo aberta a todas as correntes de pensamento, sem envolvimento com movimentos ou grupos ideológicos, político-partidários, religiosos ou raciais. Credenciada junto ao Ministério da Educação, (processo nº 23.000.006301/99-19) foi autorizada a funcionar, inicialmente com os cursos de Odontologia e Enfermagem aprovados com conceito B pela Comissão de Vistoria do MEC e pelo Conselho Nacional de Educação. Em seguida obteve autorização para funcionamento dos novos Cursos conforme o especificado no quadro a seguir: CURSOS ODONTOLOGIA ENFERMAGEM FISIOTERAPIA FONOAUDIOLOGIA DIREITO NUTRIÇÃO ATO LEGAL DE AUTORIZAÇÃO PORTARIA MINISTERIAL Nº 1592 / 2000. PORTARIA MINISTERIAL Nº 1593 /2000. PORTARIA MINISTERIAL Nº 2.882 /2001 PORTARIA MINISTERIAL Nº 2.884 /2001 PORTARIA MINISTERIAL Nº 1.535 /2002 PORTARIA MINISTERIAL Nº 4.068 /2002 518 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A NOVAFAPI está instalada em uma área de 25.000m2 (vinte e cinco mil metros quadrados) onde foram edificados dois blocos arquitetônicos com as dependências e serventias necessárias ao seu funcionamento. Desenvolve suas atividades acadêmicas através do Ensino, Pesquisa e Extensão. O curso de Enfermagem tem como objetivo, formar o graduado em enfermagem, habilitado para desenvolver atividades inerentes ao CUIDAR como objeto específico do trabalho técnico, científico e ético a ser realizado no contexto dos serviços e instituições de saúde. Sua duração será de 04 (quatro) anos divididos em 08 (oito) semestres letivos com 3.702 (três mil setecentos e duas) horas aula, incluindo neste total os estágios. O currículo está organizado em blocos semestrais, com indicação de disciplinas caracterizadas como obrigatórias, optativas e atividades complementares e para sua integralização deverão ser cursadas além das disciplinas obrigatórias, no mínimo 162 (cento e sessenta e duas) horas de disciplinas optativas e 108 (cento e oito) horas de atividades complementares. No que se refere ao Ensino, ministra cursos de graduação, pósgraduação, de extensão e cursos seqüenciais, de acordo com a legislação vigente. Inicialmente, foram oferecidos os cursos de Odontologia e Enfermagem que funcionam no período diurno, em regime de freqüência presencial, com matrícula semestral e conseqüente oferta de disciplina também semestral. A organização e o funcionamento da NOVAFAPI está disciplinada no seu Regimento Geral, cuja estrutura organizacional é a seguinte: Congregação, Diretoria, Colegiados de Curso, Coordenadorias de Cursos, Secretaria, Setor de Informática, Biblioteca Central e Órgãos de Apoio Técnico-Administrativo e Acadêmico. A filosofia que dá sustentação ao curso proposto é considerar como prioridade ações voltadas para a promoção e manutenção da saúde, visando provocar mudanças no perfil epidemiológico das doenças prevalentes, através de práticas onde o biológico se articule 519 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. com o social e o cultural, estabelecendo novos paradigmas para a formação e a ação do profissional enfermeiro. Dessa forma, a NOVAFAPI reconhece que a formação desse profissional deve ser articulada a partir de uma perspectiva multidisciplinar e multiprofissional, na medida em que vê o CUIDAR como a essência da enfermagem, o qual representa uma atitude de ocupação, preocupação, responsabilidade e de envolvimento afetivo com o outro, pois é no cuidar que identificamos os princípios, os valores e as atitudes que fazem da vida um bem-viver. O curso de enfermagem é caracterizado como um contexto de FORMAÇÃO e INFORMAÇÃO onde o aluno deverá habilitar-se a enfrentar o mercado de trabalho entendendo que a questão saúde é sobretudo um valor humano, não deixando que o apelo mercantilista da sociedade, que valoriza o lucro, a produtividade e a eficiência, sejam parâmetros exclusivo para a sua ação. O aluno do curso de enfermagem deve conscientizar-se que as ações educativas preventivas e curativas devem ser estabelecidas a partir de bases técnicas éticas e morais tanto nas ações coletivas quanto individuais considerando sempre que o ser humano é um sujeito que sente, que pensa e que faz e deve ser visto em sua totalidade, não restringindo-o apenas à condição de objeto de análise e estudo científico. O que se deseja é a necessária articulação entre os elementos técnico-científicos, humanos e éticos inerentes a qualquer processo de formação intencionalmente organizado. Coloca-se como diretriz também para todos os envolvidos no processo de formação dos enfermeiros, na NOVAFAPI, a adoção de atitudes que favoreçam o desenvolvimento do ser humano e da sociedade com vistas ao exercício pleno da cidadania. O curso informa e capacita o corpo discente a selecionar, utilizar e avaliar procedimentos e técnicas científicas e competências específicas da área, estimulando o hábito do trabalho intelectual de pesquisa, e prática extensionistas voltadas para a comunidade. Assim, a NOVAFAPI, com a oferta do curso de Enfermagem, se propõe a preparar seus alunos para que possam 520 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. exercer sua profissão com competência e consciência social, tendo como referencial as necessidades locais no setor de saúde e as características sócio-econômicas locais e regionais. Conforme o indicado na Resolução CNE/CES nº 03 de 07 de novembro de 2001 os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Enfermagem estão relacionados com todo o processo saúde/doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar. Os conteúdos contemplam: ciências biológicas e da saúde incluem-se os conteúdos (teóricos e práticos) de base moleculares e celulares dos processos normais e alterados, da estrutura e função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos aplicados às situações decorrentes do processo saúde doença no desenvolvimento da prática assistencial de enfermagem; ciências humanas e sociais inclui-se os conteúdos referentes às diversas dimensões da relação indivíduo/sociedade, contribuindo para a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, no processo saúde doença; ciências da Enfermagem - neste tópico de estudo, incluem-se: fundamentos de Enfermagem: os conteúdos técnicos, metodológicos e os meios e instrumentos inerentes ao trabalho do Enfermeiro e da Enfermagem em nível individual e coletivo; assistência de Enfermagem: os conteúdos (teóricos e práticos) que compõem a assistência de Enfermagem em nível individual e coletivo prestada à criança, ao adolescente, ao adulto, à mulher e ao idoso, considerando os determinantes sócio-culturais, econômicos e ecológicos do processo saúde-doença, bem como os princípios éticos, legais e humanísticos inerentes ao cuidado de Enfermagem; administração de Enfermagem: os conteúdos (teóricos e práticos) da administração do processo de trabalho de enfermagem e da assistência de enfermagem e Ensino de Enfermagem: os conteúdos pertinentes à capacitação pedagógica do enfermeiro, independente da Licenciatura em Enfermagem. 521 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. DIRETRIZES PARA AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL A NOVAFAPI optou pela avaliação institucional permanente, processo que permite a tomada de decisão na busca da qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão. A Avaliação Institucional é incorporada ao cotidiano da Instituição, de maneira a criar uma cultura de avaliação. Todos os que fazem a IES, professores, alunos e pessoal técnico-administrativo, colaborararam ativamente com as atividades de avaliação, de maneira a tornar o processo participativo, coletivo, autônomo, livre de ameaças, crítico e transformador dos sujeitos envolvidos e da Instituição. Dessa forma, todos os alunos do curso de Enfermagem participaram do processo de Avaliação Institucional, dando sua opinião sobre aspectos positivos, negativos, problemas e apontando soluções, de tal forma a promover um crescente compromisso dos sujeitos envolvidos com o Projeto Institucional da NOVAFAPI. OBJETO DE ESTUDO Avaliação do Curso de Enfermagem da NOVAFAPI, na visão do aluno. OBJETIVO Analisar criticamente o processo ensino aprendizagem da NOVAFAPI, adotado no primeiro período do Curso, na visão dos alunos. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo, exploratório. A coleta de dados foi feita no mês de agosto de 2001, através de um questionário com questões relacionadas ao professor, envolvendo o domínio do conteúdo, metodologia utilizada, relacionamento, recursos utilizados, sistema de avaliação, aproveitamento do tempo e cumprimento do horário. No ítem estrutura organizacional e funcional foi investigado o funcionamento da biblioteca e avaliado o acervo disponível, as instaleções físicas e o atendimento dispensado aos alunos pelos 522 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. funcionários. Na secretaria geral foi avaliado o atendimento às solicitações, acesso às informações e o relacionamento interpessoal. Na diretoria foi avaliado a disponibilidade do Diretor da Faculdade para atender os alunos, professores e funcionários, a resolutividade de problemas e o relacionamento interpessoal. Na Coordenação do Curso foi avaliado a assistência ao aluno dispensada pela coordenadora, o atendimento às solicitações e o relacionamento interpessoal. Com relação ao pessoal técnico administrativo foi investigado o atendimento às solicitações e o relacionamento interpessoal. Assim, os alunos indicaram, para análise do processo de ensino da NOVAFAPI, os conceitos, ruim, regular, bom, ótimo e excelente que melhor representasse a sua percepção sobre os itens indicados e se desejasse, expressar outros aspectos que não foram conteplados no instrumento proposto. Com relação ao aluno, avaliou-se a responsabilidade no estudo dos conteúdos propostos, o investimento na realização de atividades propostas e o relacionamento aluno x aluno, aluno x professor, aluno x técnico, aluno x coordenação, a participação nas atividades de grupo e em seminários e a solidariedade e o respeito aos colegas. No final do questionário os alunos apresentaram algumas sugestões para melhoria do Curso. RESULTADOS Os resultados indicaram que a Avaliação dos Professores, Coordenação de Curso, Estrututa organizacional e Funcional envolvendo Biblioteca, Secretária Geral, Diretoria e Pessoal Técnico Administrativo na visão dos alunos apresentou-se como se segue: Avaliação dos Professores: domínio de conteúdo - conceito bom; metodologia utilizada - conceito bom; ralacionamento conceito ótimo; recursos utilizados - conceito ótimo; sistemática de avaliação - conceito bom; aproveitamento do tempo - conceito bom cumprimento do horário - conceito bom. Coordenação de Curso: assistencia ao Estudante - conceito ótimo; atendimento às solicitações - conceito ótimo; relacionamento interpessoal - conceito ótimo. 523 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Biblioteca: acervo - conceito regular; instalações fisícas conceito bom; atendimento - conceito bom. Secretária Geral: atendimento às solicitações - conceito bom; relacionamento intepessoal - conceito ótimo; acesso à informações conceito bom. Diretoria: disponibilidade para atender - conceito bom; resolução de problemas - conceito bom; relacionamento interpessoal conceito bom. Pessoal Técnico-Administrativo: atendimento às solicitações - conceito bom; relacionamento intepessoal - conceito bom. Alunos: responsabilidade no estudo dos conteúdos propostos conceito bom; investimento na realização de atividades e tarefas propostas - conceito bom. Relacionamento: aluno x aluno - conceito regular; aluno x professor - conceito bom; aluno x técnico - conceito bom; aluno x coordenação - conceito ótimo; participação nas atividades de grupo e em seminários - conceito bom; solidariedade e respeito aos colegas conceito bom. ANÁLISE E CONCLUSÕES O Processo de Avaliação da NOVAFAPI centrou-se nos seguintes princípios: conscientização e aceitação da necessidade da avaliação pelos alunos do curso; reconhecimento da legitimidade e pertinência dos critérios e metodologias a serem adotados; envolvimento direto de todos os alunos no processo de avaliação e na implementação de medidas e decisões oriundas deste processo, com vistas à melhoria do desempenho institucional. Seus objetivos voltaram-se basicamente para: promover a permanente melhoria das atividades de Ensino, Pesquisa, Extensão e Gestão no âmbito da NOVAFAPI; aperfeiçoar o projeto políticopedagógico da IES; propor e implementar mudanças no cotidiano das atividades acadêmicas da pesquisa, ensino, extensão e da gestão; sensibilizar constantemente os diferentes segmentos: professores, funcionários e alunos, para a importância da avaliação como 524 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. instrumento de melhoria da qualidade e como recurso a ser utilizado para prestar contas aos próprios alunos, seus pais e a sociedade em que o curso está inserido; fazer um diagnóstico permanente das atividades curriculares e extra-curriculares, a fim de verificar de que maneira elas atendem as necessidades do mercado de trabalho; propor mudanças do projeto pedagógico ouvindo os alunos, professores e funcionários técnico-administrativos e estimulando-os a participarem ativamente do processo. Assim, percebeu-se que para ter sucesso, o processo de avaliação necessita atender a alguns pressupostos básicos: criar uma cultura de avaliação . A adesão à avaliação por parte dos alunos do Curso de Enfermagem da NOVAFAPI foi extremamente importante para o sucesso da qualidade do ensino e da instituição como um todo. Entretanto, a adesão só pode acontecer se houver uma conscientização do papel da avaliação como um processo que não pretende ameaçar ou punir. A avaliação foi coletiva, participativa e livre de ameaças. Não foi imposta pelos dirigentes de cima para baixo, como um processo autoritário e punitivo. Ela foi desejada por todos como um instrumento que ajudará os professores a serem melhores professores e os alunos a serem melhores alunos. A ética do processo e a segurança do propósito de avaliação levou a todos a confiarem e a desejarem que ela faça parte do seu diaa dia. O uso dos resultados foi para subsidiar a tomada de decisões. Os resultados da avaliação proporcionaram mudanças rápidas e correções dos problemas que prejudicavam o desempenho dos alunos, do curso e da instituição. O conhecimento dos resultados pelos alunos produziu um processo de auto-análise, de auto-crítica que fez com que houvesse motivação e desejo de mudar a situação. Nessas condições, os resultados foram utilizados imediatamente como subsídios para promover as mudanças necessárias. 525 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Dessa forma, a avaliação dos professores, coordenação, diretoria, estrutura organizacional e funcional do Curso de Enfermagem da NOVAFAPI, com a secretaria geral, pessoal técnico administrativo, funcionamento da biblioteca e as questões de relacionamento entre os alunos e deles com os outros, na visão dos próprios alunos após o primeiro período do curso, foi satisfatória e reforçou a viabilidade do Projeto Político Pedagógico proposto. BIBLIOGRAFIA BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Ensino Superior. Departamento de Ensino Superior. Comissão de Especialistas em Enfermagem. Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Enfermagem. Brasília, 1999. MOURA, A. Construindo novos paradigmas para o processo ensino/aprender na Enfermagem. Rev. Expressão. v. 28, N.º 2, p. 6986, 1999. 526 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A EXPERIÊNCIA DO 1º CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM OBSTÉTRICA NO PIAUÍ Inez Sampaio Nery102 Lucimar Ramos Ribeiro Gonçalves103 Maria Íris Mendes da Rocha Sá104 Estudo de natureza qualitativa descritiva que teve como objeto capacitar enfermeiras (os) de maternidades em Teresina-PI, para assistência humanizada à mulher no ciclo gravídico puerperal, visando redução da morbi-mortalidade materna e perinatal. Os objetivos do curso foram: realizar consulta de enfermagem: pré-natal, revisão puerperal e clínico-ginecológica; assistir a gestantes, parturientes/puérperas normais e patológicas em unidade de internação; realizar partos normais; prestar assistência aos recémnascidos, e elaborar monografia. Os sujeitos envolvidos foram vinte e duas (22) enfermeiras das quais dezenove (19) concluíram o curso. Os resultados esperados foram satisfatórios pois os critérios estabelecidos pela ABENFO Nacional, as metas e os objetivos planejados foram concretizados quanto ao número de consultas de enfermagem à gestante e revisão pós-parto (20), assistência as puérperas (15) e recém-nascidos (15), realização de partos normais (20), elaboração e apresentação de monografia (08). Concluímos que o curso de especialização na área obstétrica representou um salto quantiqualitativo importante nas atividades específicas de atenção à mulher e ao neonato, propiciando uma contribuição imediata à sociedade uma vez que a produção de conhecimentos e qualificação de pessoal se 102 Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem da UFPI, doutora em enfermagem. 103 Professoras Adjunto do Departamento de Enfermagem da UFPI, mestres em enfermagem. Endereço: Rua Prof. Pires Gaioso, 600, São João, Teresina-PI, Cep. 64046-350, Fone: (0**86) 232-4711, 981-7657, E-mail: [email protected] 104 Enfermeira, Mestra em Enfermagem, Professora Adjunto da UFPI. 527 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. traduzem num aprimoramento do ensino e, conseqüentemente, uma assistência de qualidade nos serviços de saúde prestados à população. INTRODUÇÃO A Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiras (os) Obstetras Seção Piauí ABENFO-PI, há muito tempo vinha almejando investir na formação das (os) enfermeiras (os) que prestam atendimento à mulher por meio de um Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica. O referido curso teve por finalidade qualificar técnica e cientificamente essas profissionais para prestarem assistência de qualidade e humanizada à mulher durante a gestação, parto e puerpério, visando à redução da morbimortalidade materna e perinatal (NERY & GONÇALVES, 2000). Com o empenho da diretoria da ABENFO-PI e do Departamento de Enfermagem da UFPI, essa aspiração transformouse em realidade, a partir do momento que surgiu a iniciativa do Ministério da Saúde em apoiar financeiramente a capacitação dos profissionais de saúde que prestam assistência à população feminina, o que certamente resultou em um grande ganho coletivo, principalmente para a clientela feminina. Sabe-se que uma boa assistência durante o ciclo gravídico puerperal representa indicador de prevenção no combate a morbimortalidade materna e perinatal. Entretanto, a maioria das mortes tem como predomínio as causas obstétricas diretas ocasionadas por toxemias, hemorragias, infecções e aborto, causas estas evitáveis por meio de melhoria na qualidade assistencial (BRASIL, 1999). No Piauí, como nos demais Estados, existe subnotificações dos casos de mortalidade materna, os comitês que tratam dessa temática encontram-se praticamente desativados em todo o Estado, porém em 2000, o Comitê Estadual de Mortalidade Materna do Piauí realizou seminários para reativação destes, o que já evidencia dados mais reais. Dados levantados por meio do livro de relatório em uma maternidade de referência da rede pública do Estado, com capacidade 528 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. para 248 leitos, apresentaram nos anos de 1998/99, respectivamente, 29 e 18 óbitos maternos (MDER, 2000). Entretanto, por esta instituição não possuir UTI de complexa resolutividade, grande parte das mulheres foram transferidas para outros Hospitais, não sendo possível obter-se a contra-referência dos casos encaminhados. No Brasil, nas últimas décadas, o maior pagamento de honorários para o parto eram destinados às cesáreas e muitas delas realizadas sem indicação, apenas para justificar a laqueadura tubária. Por outro lado, nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), no interior do Estado, ainda hoje os partos normais, em sua maioria, são assistidos por auxiliares de enfermagem, parteiras leigas, cujo despreparo na área pode comprometer a saúde da mulher e do recémnascido. Em muitos países a enfermeira obstetra é responsável pelo atendimento ao parto normal, porém em nosso país ainda ocorre pouca valorização desta profissional e, conseqüentemente, os serviços de saúde da área obstétrica não as admitem com essa finalidade, ocorrendo desvio de função, mesmo das enfermeiras qualificadas. A partir das portarias ministeriais nºs. 2.815/98, 2.816/98, 2.817/98, 163/98 e 985/99 que resgatam e incentivam a realização do parto normal por enfermeiras (os) inclusive remunerando-as (os), aumentou a demanda destas (es) profissionais na realização de cursos, inclusive o Ministério da Saúde em 2000 financiou aproximadamente 49 cursos de Especialização em Enfermagem Obstétrica no país. O Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica no Piauí iniciou em outubro de 2000, ocasião em que ocorreu a 1a Jornada de Assistência Humanizada ao Pré-natal, Parto e Nascimento. A conferência magna da jornada e a aula inaugural do referido curso foram ministradas pela Profa. Dra. Janine Schirmer, assessora técnica na área Saúde da Mulher do Ministério da Saúde e coordenadora Nacional dos Cursos em Enfermagem Obstétrica. A iniciativa do Ministério da Saúde em investir na formação de enfermeiras obstetras, justifica-se porque a qualidade da assistência à mulher durante o ciclo gravídico puerperal continua deficiente. 529 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Estudos e pesquisas realizadas em todo o País, incluindo o Piauí, mostram que, além da subnotificação do parto e tipos de parto, a mortalidade materna é elevada mesmo nas regiões onde existe maior cobertura de atendimento. Com base neste contexto torna-se imperativo repensar a assistência diante dos altos índices de cesárea, da despersonificação do parto normal e das intervenções que interferem na fisiologia espontânea e na beleza do processo natural de parturição. É importante salientar a política preconizada pelo Ministério da Saúde por meio de ações programáticas que priorizam atenção básica e mudança do modelo assistencial visando a humanização do parto e nascimento no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) que integram projeto de trabalho de Área Técnica de Saúde da Mulher (BRASIL, 1998). Cerca de 70% a 80% dos partos e nascimentos requerem apenas acompanhamento e não intervenção. A sensibilidade e treinamento dos profissionais, médicos e enfermeiras(os) são fundamentais na mudança do atual modelo de assistência obstétrica existente na grande maioria dos serviços de saúde. Com isto justifica-se a capacitação de enfermeiras (os) para proporcionar assistência obstétrica menos intervencionista e iatrogênica como se tem observado nos últimos vinte (20) anos e, conseqüentemente, tem-se a redução da morbimortalidade materna e perinatal. Os objetivos do curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica foram proporcionar às discentes: realizar consulta de enfermagem durante o pré-natal, na revisão puerperal e clínico-ginecológica; assistir gestantes, parturientes, puérperas normais e patológicas bem como recém-nascidos. realizar partos normais de acordo com o preconizado na lei 7.498/86 do exercício profissional (COFEN, 1999); e, realizar monografia de conclusão de curso. 530 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. METODOLOGIA Este trabalho teve como objetivo descrever a experiência na Especialização em Enfermagem Obstétrica do Piauí na perspectiva das enfermeiras que realizaram o curso. O estudo é de natureza qualitativa e teve como objeto a descrição da experiência do 1o Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica por parte das enfermeiras assistenciais. Os sujeitos foram dezenove (19) discentes (enfermeiras), oriundas das maternidades da rede municipal e estadual em Teresina-PI, participantes do referido curso. Os instrumentos utilizados foram: projeto do curso, livro de registro, relatórios e questionário de avaliação. A seleção para realização do curso foi de acordo com os critérios estabelecidos no projeto. As aulas teóricas e práticas foram ministradas conforme cronograma do curso. O estágio foi realizado na Maternidade D. Evangelina Rosa (MDER) e no Instituto de Perinatologia Social do Piauí (IPS) considerados de referência, uma vez que demandam o maior número de atendimento à mulher no período gravídico puerperal e possuir uma UTI Neonatal na MDER. A maternidade Dona Evangelina Rosa, vinculada à rede estadual e inaugurada em 1976, é conveniada com a UFPI, localizada no bairro Ilhotas em Teresina-PI, e serve de campo de estágio para os diversos cursos da área de saúde de nível médio e superior. Recebeu o título de hospital Amigo da Criança em 1998. Possui 248 leitos obstétricos e berços de alojamento conjunto. Constitui-se dos seguintes setores: sete (7) unidades de internação (alas A, B, C e D), Unidade Especial, Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), alas de apartamentos, UTI Neonatal, Centro Obstétrico, Centro Cirúrgico e vários setores administrativos. O IPS tem ampla estrutura física e é destinado ao atendimento integral à mulher em idade fértil e a criança de 0 a 5 anos. O estágio supervisionado em nível ambulatorial foi realizado no referido Instituto. 531 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O período de realização do curso foi de 10 meses, compreendendo o elenco das disciplinas com as respectivas cargas horárias abaixo relacionadas: Disciplinas obrigatórias 1. Saúde da Mulher 2. Epidemiologia Saúde Mulher 3. Metodologia de Pesquisa 4. Introdução à Informática 5. Enfermagem Obstétrica I 6. Enfermagem Perinatal 7. Enfermagem Obstétrica II 8. Estágio Supervisionado TOTAL Apresentação dos trabalhos monográficos (08) carga horária créditos início término 60 30 45 45 75 45 45 225 570 - 2.2.0 1.1.0 2.1.0 1.2.0 3.2.0 1.2.0 2.1.0 0.0.15 12.11.15 - 04.10.00 21/11.00 12.12.00 18.11.00 16.01.01 06.03.01 28.03.01 02.04.01 21.06.01 16.11.00 07/12/00 11.01.01 20.02.00 01.03.01 27.03.01 30.05.01 03.07.01 06.07.01 As monografias foram apresentadas em agosto de 2001 por meio de exposição oral, tendo na banca examinadora três (03) docentes, incluindo a orientadora, e após apresentação da discente cada membro da mesa fazia as considerações relevantes para qualificar melhor o trabalho. As alunas tiveram trinta (30) dias para realizarem as modificações sugeridas pela banca examinadora, com entrega em setembro de 2001. RESULTADOS Os resultados esperados foram satisfatórios, pois os critérios estabelecidos pela ABENFO Nacional no que se refere às metas e aos objetivos planejados foram concretizados quanto ao número de consultas de enfermagem (15), dentre elas: consulta de pré-natal, consulta de revisão de parto e clínicoginecológica, bem como assistência as puérperas (20) e recém-nascidos em alojamento conjunto (20), realização de partos normais (20), elaboração e apresentação de monografia (TYRRELL, 1998). 532 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A produção cientifica do curso resultou em oito (8) monografias realizadas em equipe de duas (2) ou três (3) especializandas (enfermeiras), cujos títulos foram: Contracepção pós-parto entre mulheres internadas em uma maternidade municipal de TeresinaPI. Aleitamento materno: fatores que influenciam as mães a desistir do aleitamento materno exclusivo; Análise da exposição aos fatores de riscos do câncer do colo uterino entre as usuárias do serviço pública e municipal de Saúde; Gravidez na adolescência vivência do parto na visão da adolescente; Cronograma de vigilância do HIV positivo em gestantes usuárias do IPS/PI; Perfil da mortalidade materna em uma maternidade escola do município de Teresina Pi; Sentimentos vivenciados por mulheres durante o trabalho de parto e parto; Avaliação do controle da infecção hospitalar em um serviço de neonatologia. O curso foi avaliado pelas alunas através de um questionário, objeto que resultou esta pesquisa. Alguns aspectos ressaltados na avaliação do curso: as disciplinas foram consideradas boas, com material atualizado e de qualidade, com metodologia e sistema de avaliação adequada; Professores competentes e preparados para exercer a função de educadores, dentre outros As facilidades relacionadas à estrutura física e logística superaram as dificuldades. As disciplinas foram desenvolvidas de acordo com o cronograma teórico estabelecido, contando com a participação dos docentes referidos no projeto do Curso de Especialização e professores convidados da área de saúde e outras afins, para ministrarem alguns conteúdos importantes na qualificação das enfermeiras. As dificuldades se restringiram ao estágio, especialmente no Centro Obstétrico, pela concorrência em efetuar o parto, até então não realizado, por enfermeiras assistenciais e sim pelas docentes enfermeiras da UFPI em estágios supervisionados na disciplina Saúde da Mulher. Segundo a avaliação das discentes, o curso melhorou e ampliou conhecimentos tanto teóricos como práticos, especialmente em relação ao parto e aos cuidados com o recém-nascido, pois muitos conteúdos estavam esquecidos ou desatualizados. 533 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. CONCLUSÃO Finalizando, podemos adiantar que com a implantação e ou implementação do curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica no Piauí representou um salto de qualidade nas ações específicas de atenção à mulher. A capacitação das enfermeiras na área de assistência à saúde da mulher, especialmente quanto à realização do parto, proporcionou uma assistência obstétrica humanizada e menos intervencionista, como contribuição imediata à sociedade, no sentido de melhoria da qualidade dos serviços de saúde prestados à população feminina. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Ministério da Saúde, Portarias nºs 2.815, 2.816 e 2.817. Brasília, maio, 1998. _________, Portaria nº 163, Brasília, setembro, 1998. _________, Portaria nº 985, Brasília, agosto, 1999. _________, Atenção integral à Saúde da Mulher, 1999/2002, Brasília, 1999. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Documentos básicos. Rio de Janeiro, 1999, 361p. MATERNIDADE DON EVANGELINA ROSA (MDER). Livro de registros de óbitos. Teresina, 2000. NERY, I. S. & GONÇALVES, L. R. R. Projeto do Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica da UFPI. Teresina, 2000. TYRRELL, Maria Antonieta R. A Qualificação formal e os modelos alternativos de capacitação da equipe de enfermagem para assistência aos nascimento e parto. Anais do Seminário Estadual sobre o Ensino de Enfermagem ao Nascimento e Parto, ABENFO, São Paulo, Ribeirão Preto, 1998, 14-18. 534 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A GERÊNCIA DE ENFERMAGEM A EQUIPE DE ENFERMAGEM E O MITO DO TRABALHO EM GRUPO Sueli Moreira Pirolo Eliane Corrêa Chaves A atividade em equipe está presente no trabalho da enfermagem. Atualmente há um interesse crescente por esse tema. Este estudo tem como objetivo a análise do comportamento grupal na realização da tarefa passagem de plantão , a partir da observação da equipe de enfermagem na unidade de internação de clínica médica feminina, recebendo e passando o plantão, através das filmagens das cenas. Na análise dos comportamentos grupais foi utilizada uma lista de indicadores, considerando os conceitos de processo grupal de PICHON-RIVIÉRE, cujos resultados mostraram que os indicadores grupais inadequados foram mais expressivos. Com base nesses resultados, pode-se concluir que a passagem de plantão não se constituiu como uma atividade grupal. Unitermo: Equipe de enfermagem. Processo grupal. INTRODUÇÃO A atividade grupal faz parte do ser humano, pois o homem atua, resolve seus conflitos, vive em grupo, e a enfermagem é fruto dessa mesma lógica, embora apresente peculiaridades oriundas das características dos sujeitos que a desempenham e da própria natureza do trabalho desenvolvido. Nos estudos de enfermagem freqüentemente encontra-se o termo equipe e raramente o termo grupo, embora transpareça que o sentido desses dois termos seja análogo, senão idênticos, mas é Enfermeira Professora Mestre do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília. E-mail: [email protected] Enfermeira Professora Doutora da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. 535 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. importante ressaltar que esses termos aplicam-se a conceitos diferentes, senão opostos. BERSUSA; RICCIO (1996) relata que a palavra equipe originou-se do termo esquif que designava uma fila de barcos amarrados uns aos outros e puxados por homens ou cavalos, em época anterior à dos rebocadores. A imagem dos barqueiros ou cavalos puxados, juntos aos barcos amarrados sugere a idéia de trabalho em equipe. Neste conceito está implícita a idéia de subjugo, de mesma valia e ausência de subjetividade; está implícito ainda o conceito de hierarquia, sendo que os barcos correspondem à base de uma pirâmide, enquanto o barqueiro ou o cavalo corresponde ao ápice. ANZIEU (1993) relata que a palavra grupo surgiu no século XVII, proveniente do italiano groppo , vocábulo utilizado para designar, em Belas Artes, os vários indivíduos pintando ou esculpindo. O vocábulo se estende para a linguagem corrente, designando um conjunto de elementos, uma categorias de seres ou de objetos, formando um todo, um conjunto . Neste conceito está implícita a relação do homem com as artes, com o belo, com o divino, com a expressão livre de seus sentimentos por meio do trabalho criativo. Considerando a etimologia desses termos, percebe-se que não se justifica a indistinção entre eles, e que merece análise o fato de a enfermagem utilizar a palavra equipe em substituição a grupo, uma vez que os termos, embora tenham sofrido modificações temporais, guardam simbolicamente seus significados de origem. PICHON-RIVIÈRE (1991) interessado em discutir e otimizar as relações humanas grupais, visando uma melhor realização do trabalho compartilhado, define grupo como sendo conjunto de pessoas ligadas entre si por constantes de tempo e espaço e, articuladas por uma mútua representação interna, se propõem explícita e implicitamente uma tarefa, que constitui sua finalidade . Há neste conceito a idéia de que a tarefa a que o grupo se propõe é concebida no seu interior. No trabalho formal, a tarefa é concebida na esfera administrativa, e não no interior do grupo que a executará, 536 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. portanto estará bastante distante das representações e dos afetos dos sujeitos desse grupo. A proposição teórica feita por Pichon-Rivière servirá de base deste estudo, para conhecer a maneira como a equipe de enfermagem organiza uma tarefa especifica. A partir da problemática das relações que se estabelecem no contexto da equipe de enfermagem, este estudo teve como finalidade enfocar uma tarefa especifica de enfermagem: a passagem de plantão que tem como objetivo: Analisar o comportamento grupal na realização da referida tarefa, comparando-o com os indicadores do processo grupal proposto por PICHON-RIVIÈRE (1991). MATERIAL E MÉTODO O estudo foi realizado no H.C. de Marília, um hospital escola com 144 leitos, 48 enfermeiras assistenciais e 14 enfermeiras docentes assistenciais. O esquema de trabalho para os auxiliares de enfermagem é de 12 por 36 horas, e 6 horas diárias para os enfermeiros. Os sujeitos foram os trabalhadores da equipe de enfermagem do H.C. alocados na clínica de urgência e emergência feminina do plantão par e as duas equipe, a que passa e a que recebe o plantão no turno diurno par. A coleta de dados foi possível após a provação do Comitê de Ética em pesquisa Envolvendo seres humanos da FAMEMA, e a obtenção do consentimento de cada elemento das equipes envolvidas, e ocorreu no período de 26/06 a 18/07/98. O procedimento da coleta de dados baseou-se na observação das cenas das passagens de plantão das equipes escolhidas. Para garantir maior fidedignidade optou-se pela filmagem das cenas, que deveria ocorrer até a exaustão das possibilidades de informação. Para análise dos comportamentos grupais, a partir das cenas filmadas, foi previamente construída uma lista de indicadores considerando os conceitos teóricos de Pichon-Rivière, com seus respectivos julgamentos, identificando-os como adequados ou inadequados, conforme sua consonância com os indicadores 537 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. apreendidos do referido conceito. Por ser um estudo descritivo através de observação subjetiva, optou-se por tratar os dados numéricos apenas com cálculos percentuais. RESULTADOS E DISCUSSÃO Análise dos comportamentos grupais Ambiente Físico: adequado em 50% das 24 cenas. SILVA (1996) apresenta o conceito de espaço pessoal que representa o quanto nosso corpo agüenta a proximidade de alguém: uma espécie de bolha invisível que existe ao redor de corpo de toda pessoa . Esse resultado pode estar relacionado às passagens de plantão com as equipes diurnas e noturnas incompletas. O espaço restrito força os sujeitos a manterem entre si uma distância íntima, na qual a presença do outro se impõe e pode torna-se invasora. Ambiente Funcional: inadequado em 66,6% das 24 cenas. O que contribuiu para este resultado foi a incidência de ações concomitantes. Pode-se tentar conseguir um lugar que favoreça a concentração da equipe na realização da tarefa Composição da equipe: inadequada em 95,8%. BLEGER (1991) relata que, embora o grupo esteja voltado para uma tarefa, o fator humano tem importância primordial, já que constitui o instrumento de todos os instrumentos . Pôde-se ver que a equipe raramente foi constituída pelos mesmos sujeitos, o que diminui a possibilidade de afiliação e pertinência dos sujeitos com relação à tarefa em questão. Cumprimento da tarefa: inadequado em 100%. Segundo NOGUEIRA (1988) a passagem de plantão pode ser definida como o relatório verbal que representa a síntese de todas as atividades executadas com os pacientes e de todas as ocorrências significativas do plantão . O conteúdo relativo à assistência prestada foi a informação que predominou, com ênfase em informações sobre administração de medicação. Essa divisão do conteúdo caracteriza e explicita a 538 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. realização do cuidado fragmentado ao paciente, ainda baseado no estilo "taylorista". Participação dos elementos-interação: inadequada em 95,8% das 24 cenas. Os sujeitos desfocam sua atenção daquilo que deveria ser a prioridade do grupo, dispersa-se da tarefa, ferindo o que PICHON-RIVIÈRE (1991) identifica como lei básica para caracterizar a produtividade do grupo. Disposição espacial dos sujeitos: inadequada em 100%. ZIMERMAN (1993) aponta alguns requisitos básicos que caracterizam um grupo: o tamanho do grupo não pode exceder a um certo limite que ponha em risco a comunicação visual, auditiva, verbal e a conceitual entre os seus elementos; havendo necessidade de um enquadramento por meio de regras, além do cumprimento das combinações feitas. Isso implica que, além dos objetivos em torno da tarefa, o grupo deve levar em conta uma estabilidade de espaço (local das reuniões), tempo de duração dos encontros, regras acordadas e outras variáveis equivalentes que delimitam e normatizam a atividade grupal proposta. O indicador disposição espacial e os requisitos propostos por ZIMERMAN (1993) colidem quase em sua totalidade, o que compromete sobremaneira a realização da tarefa. Coordenação: inadequada em 95,8% das 24 cenas. NOGUEIRA (1988) afirma que a maior ou menor eficácia da passagem de plantão depende da participação da enfermeira como líder da equipe . A ausência do líder favorece o aparecimento de líderes natos que, por não serem formais, portanto sem preparo, desempenham essa função de modo desqualificado. A ausência da enfermeira implicitamente pode ser interpretada pelos sujeitos como um desvalor institucional na realização dessa tarefa. Oradora: inadequada em 95,8% das 24 cenas. SILVA (1996) lembra que o primeiro passo para o sucesso de falar em público é conhecer e dominar o assunto, o que por si só já oferece segurança necessária à situação. A dificuldade de informar pode estar associada às características do processo de trabalho da enfermagem, isto é, a fragmentação das atividades dificulta o domínio do conjunto absoluto dos fatos 539 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ocorridos. O orador terá, portanto, dificuldades inerentes ao ato de falar em público. Associados a isso estão outras dificuldades decorrentes da falta de domínio sobre a fala, em função de não ter participado ou não ter sido informado a respeito de todas as ações realizadas pela equipe. Pelo fato de a enfermeira possuir maior possibilidade de ter uma visão de conjunto em relação às atividades da equipe, é que se recomenda que seja ela a responsável em relatar as informações na passagem de plantão. Cooperação: adequada em 58,3% das cenas. PICHONRIVIÈRE (1991) pontua a cooperação como um dos princípios básicos que rege a estrutura de grupo. Quando a cooperação está presente junto com a pertença e a pertinência, o grupo está em tarefa , o que possibilita uma aprendizagem da realidade. Na análise dos comportamentos grupais das cenas houve predomínio dos indicadores inadequados em relação aos adequados. Os indicadores considerados inadequados podem estar relacionados com a organização e realização da tarefa em questão e para serem revistos é preciso o empenho dos responsáveis pela passagem de plantão. CONSIDERAÇÕES FINAIS A equipe de enfermagem estudada não se constituiu como um grupo definido por PICHON-RIVIÈRE (1991), entretanto a presença do indicador cooperação entre os sujeitos possibilita atingir este propósito. A enfermagem deve crer que em muitas ações ela é o ator principal, o modificador destas ações, e que a aquisição de novos conhecimentos facilitará a compreensão de muitos conflitos e conduzirá a várias soluções. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ANZIEU, D. O grupo e o inconsciente: imaginário grupal. São Paulo, Casa do Psicólogo, 1993. 540 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. BERSUSA, A.A. S; RICCIO, G.M.G. Trabalho em equipe instrumento básico de enfermagem. In: CIANCIARULLO, T.I., Instrumentos básicos para o cuidar: um desafio para a qualidade de assistência. São Paulo, Atheneu, 1996. cap. 7, p.75 97. BLEGER, J. Grupos operativos no ensino. In: Temas de psicologia. São Paulo, Martins Fontes, 1991. p. 54-82. NOGUEIRA, M.S. Incidentes críticos da passagem de plantão. Ribeirão Preto, 1988. 109p. Dissertação (Mestrado) Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. PICHON RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo, Martins Fontes 1991. SILVA, M.J.P. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. São Paulo, Gente, 1996. ZIMERMAN, D.E. Fundamentos básicos das grupoterapias. Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 1993. 541 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ANEXO 1 Instrumento utilizado para registro dos indicadores de julgamento do comportamento não verbal de cada sujeito. Cena: Data: / / Hora: Indicadores para julgamento do A B C D E comportamento não verbal / sujeito 1 postura 2 contato com os olhos 3 moveis 4 roupas 5 expressão facial 6 maneirismo 7 volume de voz 8 ritmo de voz 9 nível de energia 10 distância interpessoal 11 toque 12 maneio de cabeça 13 postura corporal 14 paraverbal 542 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ANEXO 2 Instrumento de registro de indicadores de julgamento das cenas de passagem de plantão da equipe de enfermagem do diurno par. Cena: _____ data: __ /__ /___ hora: Indicadores para julgamento das cenas Julgamento das cenas Ambiente físico Ambiente funcional Composição da equipe Cumprimento da tarefa Disposição espacial dos sujeitos Participação dos elementos interação Coordenação Oradora Cooperação 543 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. MUDANÇAS NA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM CUIDANDO E SARANDO ADOLESCENTES COM CÂNCRE: MUDANÇAS E PERSPECTIVAS NO CUIDAR EM ENFERMAGEM1 Íris Bazilio Ribeiro² Benedita Maria Rego Deusdará Rodrigues³ Este estudo tem por temática o cuidado humanizado de adolescentes com câncer. O adolescente vê-se como ser imortal, invencível, possui inúmeros projetos de vida, sonhos e expectativas na vida que se inicia.Como é para esse adolescente descobrir-se com câncer? Como ele reage à noticia de que é portador de uma doença que talvez cesse todos os seus ideais? O que pensa? Como se relaciona no mundo social? Tais indagações aguçaram nosso pensamento, levando-nos a desenvolver um trabalho, cujo objeto é o cuidado de enfermagem ao adolescente hospitalizado com câncer, tendo por objetivo apreender as expectativas de vida do adolescente após o diagnóstico de neoplasia. Os sujeitos da pesquisa foram adolescentes de doze a dezenove anos, que estivessem hospitalizados. Utilizamos Jean Watson como Referencial Teórico através de suas concepções sobre o Cuidado Humano e para metodologia a Fenomenologia Sociológica de Alfred Schutz. O estudo evidenciou que o adolescente, após tomar conhecimento do diagnóstico do câncer, tem a esperança da cura e o retorno às atividades cotidianas como expectativas de vida. Palavras-chaves: Enfermagem, cuidar, adolescente, câncer, fenomenologia. ¹ Texto que faz parte do projeto de Dissertação de Mestrado - O significado do câncer na adolescência: uma análise compreensiva por portadores de neoplasia. ² Rua Visconde de Santa Isabel, nº 151/101 - Vila Isabel. Rio de Janeiro. Enfermeira. Especialista em Oncologia. Mestranda em Enfermagem pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ³ Rua Mariz e Barros 856/203 Tijuca. Rio de Janeiro. Enfermeira. Doutora. Professora Titular de Enfermagem Pediátrica do Departamento Materno-Infantil e Vice-Diretora da Faculdade de Enfermagem/UERJ. 544 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Refletindo sobre questões relacionadas ao adolescente com câncer, hospitalizado, percebemos a importância desta clientela no contexto da prática de Enfermagem. Tais adolescentes possuem comportamentos, vivências, visões de mundo e sentimentos diferenciados. Vieira (1976, p.77) cita que: Fazem-se presentes as alterações funcionais psiconeuroendócrinas, as quais ocasionam uma nova modalidade de experiências afetivas em que a noção do próprio existir encontra-se afetada pela instabilidade resultando, não raro, em sentimentos como angústias e desassossego. Nota-se no jovem um estado de alma sui generis podendo resultar numa afirmação própria de inferioridade ou superioridade, podendo alternar-se ou fixar-se, determinando traços definitivos para a personalidade. O adolescente se vê como ser imortal, possui inúmeros projetos de vida, sonhos e expectativas na vida que se inicia. Como é para esse adolescente descobrir-se com câncer? Como ele reage à notícia de que é portador de uma doença que, talvez, cesse todos os seus ideais? O que ele pensa? O que sente? É a equipe de enfermagem que experienciará mais de perto essas vivências do adolescente com câncer. Será que estamos preparados para cuidar dessa clientela? A prática de enfermagem está centrada em duas bases principais, o conhecimento científico e o cuidado humano. Àquele ao qual prestamos tal cuidado, consiste em um ser completo, que sente, que fala (mesmo em silêncio), que tem opinião própria, faz escolhas, que está o tempo todo interagindo conosco, cuidadores. Tal relação precisa ser vista em sua profundidade e complexidade. Mediante tal análise, compreendemos que o cuidar em enfermagem sobrepõe a assistência técnica. Precisamos sanar suas dores físicas, realizar seus curativos, e outras atividades afins. Eles 545 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. precisam de tudo isso, mas não é o bastante. Necessitam de cuidadores que os ajudem a juntar seus pedacinhos, retomarem seu todo e olhar para frente, prosseguindo no caminho do processo saúde-doença de forma positiva. Para tanto, desenvolvemos um trabalho cujo objeto foi: o cuidado de enfermagem ao adolescente hospitalizado com câncer. O objetivo de nosso trabalho foi: apreender as expectativas de vida do adolescente após o diagnóstico da neoplasia. Elegemos adolescentes entre doze e dezenove anos como sujeitos de pesquisa, seguindo o que é preconizado pela OMS. Por compreender a importância do cuidado de enfermagem integral ao adolescente, utilizamos Jean Watson como Referencial Teórico através de sua teoria sobre cuidado humano. Assim, optamos pelo sociólogo Alfred Schutz por ele retratar, com bastante propriedade, as questões sociais inerentes ao indivíduo. REFERENCIAL TEÓRICO: Jean Watson Jean Watson elaborou uma teoria de enfermagem, em 1979, voltada para o cuidado humano. Acredita que o principal enfoque da Enfermagem está nos fatores de cuidado que derivam da perspectiva humanística, combinados com a base de conhecimentos científicos. Watson citada por George (2000) propõe sete pressupostos sobre a ciência do cuidado e dez fatores de cuidado primário para a formação da estrutura de sua teoria. Citaremos os mais pertinentes às nossas crenças pessoais: 1- O cuidado consiste de fatores que resultam na satisfação de determinadas necessidades humanas Para Watson citada por George (2000, p.258): ...uma pessoa valorizada em si mesma e para si mesma para ser cuidada, respeitada, nutrida, compreendida e auxiliada, em geral uma visão filosófica de uma pessoa como um ser completamente integrado 546 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. funcionalmente. O homem é visto como maior e diferente que a soma das partes . As necessidades perpassam o âmbito psicossocial e interpessoal que não se manifestam de forma concreta e palpável, a Enfermagem precisa olhar e ver além daquilo que se mostra, buscando captar a essência das necessidades da alma e espírito, para poder cuidar de fato. 2- O cuidado efetivo promove a saúde e o crescimento individual e familiar Quando cuidamos, buscando captar e compreender as necessidades humanas da matéria, alma e espírito (como um todo), esse cuidar se dará não só ao indivíduo, mas será extensivo à sua família, pois a mesma faz parte da história desse indivíduo. O cuidado, nesta visão, dá-se de forma integradora e eficaz. 3- As respostas do cuidado aceitam a pessoa não como ela é agora, mas como ela poderá tornar-se O ser adolescente está em crescente evolução, transformação. Temos de contribuir de forma atuante, através do cuidado, para seu crescimento. 4- O cuidado é mais healthogenic que a cura O termo heal foi traduzido como ato de sarar. Tal ato reflete o cuidado que é a essência da enfermagem. 5- O ambiente de cuidado é aquele que oferece o desenvolvimento do potencial enquanto permite que a pessoa escolha a melhor ação para si mesma em determinado local Precisamos oferecer um ambiente, externo e interno, que seja de fato terapêutico. 6- A prática de cuidados é essencial para a enfermagem. 547 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A enfermagem tem a arte de cuidar como essência. Um cuidado diferenciado, holístico, que vê o homem na sua complexidade, cuidando da alma, do espírito e do corpo; não dissociando essas partes, mas compreendendo que elas formam um todo. Para tal cuidado, ela também precisa do conhecimento científico e não se abstém dele, mas busca-o a cada dia, procurando conhecimento para embasar-se e compartilhá-lo com os seres cuidados. Os pressupostos utilizados foram: a formação de um sistema de valores humanístico-altruístas; a estimulação da fé-esperança; o cultivo da sensibilidade para consigo e para com os outros. METODOLOGIA: Fenomenologia Sociológica Compreensiva de Alfred Schutz O adolescente, mesmo hospitalizado, não perde as características inerentes à faixa etária. Está inserido no mundo social, relacionando-se o tempo todo. Portanto utilizamos os preceitos de Alfred Schutz, por ele retratar com bastante propriedade as questões sociais relacionadas ao indivíduo. Segundo Capalbo (1979, p.20), a reflexão de Schutz se volta, portanto, para a fundamentação da vida social tal qual ela se apresenta na cotidianidadeb da existência . Schutz busca compreender as relações sociais vivenciadas pelos sujeitos no mundo da vida, em seu cotidiano, entretanto o significado deles nunca é individualizado, mas está contextualizado na intersubjetividade, caracterizando um sentido social (Capalbo, 1979, p.22). A intersubjetividade se dá no nível mais fundamental, na relação face a face. Através de tal relação com os adolescentes portadores de neoplasia, captamos os motivos-para dos sujeitos, ou seja, suas expectativas e projetos referentes ao futuro. Utilizamos a entrevista fenomenológica, livre de pressupostos e pré-conceitos mediante as falas. O termo de consentimento livre foi assinado, tendo sindo garantido o anonimato dos adolescentes. Para melhor apreensão da narrativa, foi utilizado um gravador com 548 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. consentimento dos sujeitos. A questão norteadora da entrevista foi: Quais são suas expectativas em relação à vida depois do diagnóstico do câncer? CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo evidenciou que o adolescente, após tomar conhecimento do diagnóstico do câncer, tem como expectativas a esperança da cura e retorno às atividades cotidianas. Os adolescentes com câncer nutrem dentro de si uma fé muito grande quanto à cura da doença, não pensam em término, mas aguardam ansiosamente o momento em que estarão livres da doença . Participam do tratamento confiando que o fim está bem perto; mas não é o término da vida e sim, a finalização das internações, quimioterapias, radioterapias, enfim, o momento em que estarão curados e a neoplasia será apenas a lembrança de um episódio que vivenciaram. Evidenciamos que a presença dos pais é fundamental nesse anseio pela cura, eles encontram força para lutarem pelo fim do câncer em suas vidas, mediante apoio e sofrimento de seus progenitores. Além da cura, esperam retornar as suas atividades que realizavam anteriormente ao câncer. Vivenciam a neoplasia com um sentimento de estar e não de ser, estão com câncer, alopecias, lesões, edemaciados, entretanto eles não são assim, encontram-se desta forma devido à doença. Durante a realização das entrevistas, os adolescentes sempre iniciavam relatando como eram antes, o que faziam anteriormente ao câncer, e só depois relatavam seus projetos e expectativas de vida. Manifestaram claramente o desejo de retornarem a ser como eram antes , voltando a estudar, trabalhar, conviver com seus amigos, enfim, esperam o retorno às atividades sociais desenvolvidas antes do acometimento neoplásico. Como podemos apreender tais sentimentos e expectativas desses adolescentes cuidados por nós enfermeiros? Durante a realização das entrevistas, foi relatado pelos próprios sujeitos a importância daquele momento, por poderem desabafar, falar e serem ouvidos. Jean Watson 549 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. já nos coloca a necessidade de cuidarmos da alma e espírito de nossos clientes, desenvolvendo um cuidar humanizado e integral. Como cuidar de forma tão individualizada e holística? É através da relação face a face, contextualizada nos preceitos de Alfred Schutz, que cuidamos de tal maneira. A relação face a face, desenvolvida no cotidiano, dá-se de forma individual, consistindo em olharmos para esse ser, buscando conhecê-lo de fato para ajudá-lo a seguir seus próprios caminhos de maneira inteira, enfim, é uma relação de ajuda. A relação face a face consiste em um modo de aproximação e interação na perspectiva de ajudar o outro a verbalizar seus medos, sentimentos, angústias, frustrações, sonhos, perspectivas, além de dar suporte para minimizar tais situações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Capalbo, Creuza. Metodologia das Ciências Sociais: Fenomenologia de Alfred Schutz. Rio de Janeiro: Antares, 1979.102p. George, Julia B. Teorias de Enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4º ed. Porto Alegre. Artes Médicas, 2000.375p. Vieira, Galdino Nunes. Amor, Sexo e Erotismo. 2ºed. São Paulo. Casa Publicadora Brasileira, 1976. 550 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. DETERMINANTES DO DESMAME E INFORMAÇÕES RECEBIDAS PELAS NUTRIZES NO BANCO DE LEITE HUMANO Maria Doralice Evangelista1 No ato de amor, consolidado pela amamentação, o lactente encontra o melhor método de alimentação exclusivo até 4-6 meses de idade. O presente trabalho teve o objetivo de identificar as razões do início da introdução de outros alimentos além do leite materno e correlacionar estas decorrências, avaliando a repercussão para a criança com o desmame precoce. O estudo teve a participação de nutrizes, trabalhadoras da empresa Guadalajara S/A (Teresina-Piauí) no Banco de Leite Humano desta empresa, no período de janeiro/97 a junho/98, e foi desenvolvido através de entrevistas e questionários. Observou-se como resultado do estudo que nenhuma nutriz, após recebimento das informações sobre aleitamento, discordou do início da mudança na alimentação antes dos 4-6 meses (recomendados) e mesmo assim desmotivaram-se a ponto de desistirem do aleitamento nas primeiras dificuldades encontradas. Sugerimos que o Programa Saúde da Família, que já possui elementos significativos para mudanças na assistência de enfermagem, dê continuidade à orientação, quando da visita domiciliar, ao responsável pela oferta do leite ordenhado da forma mais adequada possível. 1 Enfermeira especialista em Enfermagem Materno-infantil, Enfermagem do Trabalho, Administração Hospitalar. Enfermeira do PSF 551 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A cada ano um novo tema relativo à amamentação é proposto para ser estudado, discutido e divulgado. Em 1997, o tema escolhido foi: Amamentar é um ato ecológico , pois o leite materno é um alimento produzido e entregue ao consumidor sem poluir, sem provocar desperdícios e sem necessidade de transportes e embalagens. Durante anos, por vários motivos já estudados e expostos em diferentes trabalhos e teses, o desmame precoce tem levado mulheres a abandonarem a amamentação. Deste fato resultou um grande aumento nas taxas de morbidade e mortalidade infantil em todo o mundo. Assim, governos e organizações não governamentais foram mobilizados para reverter aquela tendência considerada biológica e medicamente regressiva. Antigamente, todo manejo da amamentação era passado de mãe para filho, mas hoje, por muitos motivos, essa cadeia de informação foi interrompida. O modo de vida urbana, a diferente hierarquização de importância entre o ter e o ser, quebrou esse conceito e é urgente que resgatemos essa habilidade. Por isso tal prática deve ser incentivada e apoiada com paciência e informação. Sempre se enfoca a importância da amamentação como nutrição para o bebê. A pesquisa é feita para mostrar o quanto o leite materno pode fazer pelo bebê. Além de alimentá-lo da melhor forma possível, a imunidade que a mãe oferece e garante ao bebê, por meio de transferência materno-fetal de IgA e outros elementos que inibem a aderência bacteriana, diminui a incidência de cólicas, alergias, diarréias e eczemas com a amamentação. Sabemos que a produção do leite materno depende da sucção do mamilo (estímulo neural para a hipófise produzir a prolactina hormônio responsável pela produção do leite); então por que não colocar, o mais precocemente possível, o bebê no peito da mãe? Assim o bebê estabelece um padrão de respiração nasal e aprende a postular a língua. O trabalho da língua durante a amamentação é tão intenso que ela adquire tonicidade, postura e desenvolvimento. A empresa Guadalajara S/A oferece centro médico de acompanhamento pré-natal às suas trabalhadoras, onde não só prepara a gestante trabalhadora para o parto, como também a orienta para o retorno ao trabalho. Neste contexto, a empresa oferece ainda o serviço do Banco de Leite Humano na 552 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. empresa, espaço em que suas funcionárias nutrizes podem ordenhar seu leite ao longo da jornada de trabalho, armazená-lo e no final da jornada transportá-lo para suas residências, onde é deixado para ser oferecido ao seu filho durante o período em que estará trabalhando no dia seguinte. Essas mulheres são incentivadas à continuidade da amamentação, bem como a iniciar o desmame entre 4-6 meses de vida. Entretanto a determinação desta prática pode sofrer influências diversas. Dessa forma, pretende-se identificar os motivos, comparar o impacto da informação recebida e a adoção da prática, como forma de delineamento do perfil materno desse binômio. Tendo em vista que o serviço do Banco de Leite da referida empresa é o único no âmbito da iniciativa privada na região Nordeste; e que a força do trabalho feminino tem desempenhado papel de destaque no contexto da sociedade local, na qualidade de vida da família e sobremaneira da saúde dos filhos dessas mulheres; é fator primordial, no desempenho profissional e social das mães, a amamentação dos seus filhos, sendo a que a introdução precoce e/ou inadequada de desmame é apontada como causa do comprometimento da saúde da criança no meio. Tendo como objetivos: 1)Identificar as razões do início da introdução de outros alimentos além do leite materno; 2)Comparar as informações recebidas pelas nutrizes trabalhadoras e o motivo do início do desmame; 3)Determinar a prevalência do alimento materno das nutrizes trabalhadoras da empresa. Os resultados obtidos neste estudo foram: características sócio-demográficas das nutrizes; neste aspecto verificou-se que 49% das nutrizes pertencem à faixa etária de 21 a 29 anos e que 27% estão em idade entre 30 e 34 anos; em relação ao estado civil, 81% são casadas; quanto à escolaridade, 40% têm 1o grau incompleto e 30% já concluíram o 2o Grau. No tocante à distribuição das nutrizes, segundo informação sobre a realização de consultas e se receberam orientação para lactação, verificou-se que 100% das nutrizes fizeram pré-natal e 95% afirmaram que recebiam orientação sobre aleitamento materno durante as consultas. No que diz respeito à assistência aos bebês das nutrizes, verificou-se que 86% delas levaram seu filho no 1o ano de vida a um serviço de saúde e 85% receberam acompanhamento básico de saúde em unidades que ficam próximas do 553 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. seu domicílio. Sobre as informações relativas ao aleitamento materno recebidas no pré-natal, 45% das nutrizes, através de informações recebidas no pré-natal da empresa, enalteceram as vantagens do aleitamento materno, sendo que 29% falaram da importância de a mãe amamentar até o 6o mês, e 12% acham que não deve dar água, chá e outros alimentos; com as informações citadas sobre alimentação do filho no primeiro ano de vida, pelas nutrizes do BLG, identificou-se a importância dada ao aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e que a introdução de outros alimentos, preferencialmente, deve ocorrer aos 6 meses. Com relação à distribuição das nutrizes de acordo com as opiniões de quanto tempo a criança deve ser amamentada, observando suas respostas, constatou-se que 46% das mães acham que a criança deve mamar até 2 anos, e 14% acham que esse prazo pode ser reduzida para 1 ano. Quanto à idade de introdução de água e alimentação complementar do filho da nutriz do BLG, observou-se que 97% delas introduziram água nos intervalos da alimentação da criança antes de 6 meses, desses 97%, 60% introduziram antes de 4 meses. Acerca da idade de introdução da alimentação complementar, 8% introduziram antes de 4 meses, 67% entre 4 e 6 meses, 22% a partir de 6 meses e 3% não deram respostas. Com relação à distribuição dos motivos alegados pelas nutrizes como necessidade de o bebê iniciar o desmame, identificou-se que 59% apontaram como motivo o leite insuficiente, 23% foram causas não especificadas e 18% incluía motivo diverso. No tocante à distribuição do tipo de apoio que a nutriz recebeu pela empresa para amamentar durante a jornada de trabalho, verificou-se que 48% das nutrizes apontaram que foram encaminhadas ao BLG para facilitar a amamentação, 26% citaram o próprio setor de trabalho como principal apoio para a amamentação e 16% citaram o centro médico da empresa como responsável pelo incentivo à amamentação. Metodologia: O estudo foi realizado no Banco de Leite Humano da Guadalajara S/A, uma indústria de roupas. A população constituiu-se de 37 (trinta e sete) nutrizes, que ainda permanecem na empresa, no período de janeiro de 1997 a junho de 1998. Para a coleta de dados, utilizou-se a técnica de entrevista face a face, com base em formulário elaborado especificamente para este 554 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. fim, constando de 17 (dezessete) itens compreendendo questões abertas e fechadas, sendo 03 (três) questões referentes a dados de identificação, 13 (treze) referentes aos determinantes do desmame e informações recebidas pelas nutrizes no banco de leite humano e 1 (uma) questão destinada à expressão livre a respeito do apoio dado pela empresa para a amamentação. Os dados foram coletados durante o mês de junho de 1998. Conclusão: Refletimos sobre a análise e discussão dos resultados apresentados neste estudo, daí foi possível chegar à seguinte conclusão: Através dos diferentes motivos apresentados pelas mães para o desmame precoce, percebidos durante as entrevistas da pesquisa sobre as informações recebidas pelas nutrizes, percebe-se que alguma coisa errada estava acontecendo com a mulher que amamenta. A causa estaria entre os profissionais de saúde, entre os responsáveis pelas diferentes áreas de apoio à mulher e à amamentação, (incluindo pré-parto, parto e pós-parto), ou com a mãe despreparada, desmotivada, mal informada, que diante da primeira dificuldade desiste da amamentação? Inferiu-se então que a maior parcela de responsabilidade do desmame precoce é das mães. Sugerimos que o Programa de Saúde da Família, que já possui elementos significativos para mudanças na assistência de enfermagem, dê continuidade à orientação, quando da visita domiciliar, ao responsável pela oferta do leite ordenhado, da forma mais adequada possível. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AKRÉ, J. Alimentação Infantil - Bases Fisiológicas. IBFAN e Instituto de Saúde. São Paulo, 1994. BRUNNER, L.S., SUDDARTH, D.S. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 4a edição. Rio de janeiro, Ed. Guanabara Koogan, 1982, v.3. CLARK, Colette. O livro do aleitamento materno. 2a edição, Ed. Maude. São Paulo, 1994. 555 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. DELÁSIO, D., ALMEIDA, M.A.P. de. Propedêutica da Gestação de Alto Risco". Livraria Manole Importação e Comércio Ltda. São Paulo, 1974. KING, F. S. Suplementos e Desmame. In: Como ajudar as mães a amamentar. Universidade Estadual de Londrina. Londrina - PR., 1991 JOVENS MÃES. In Veja, n.16. Ed. Abril. Edição 1284, São Paulo, 21 de abril de 1993. MS/INAN/FIGBE/IPEA. Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição Menores de Cinco Anos. Brasília - DF, 1989. MS/SNPES/DNSMF/PAISM/INAMPS. Assistência Pré-Natal. 2a edição. Brasília DF, 1988. UNICEF. Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição. In: Crianças e Adolescentes no Piauí. VALVES, V.; SANCHES, A. P. et LABBOR, M. Manejo clínico da lactação. Revista. Rio de Janeiro - RJ., 1996. WEHBA, I. et ali. Nutrição da criança. São Paulo, Fundo Editorial Byk, 1991. 556 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. O CUIDAR DE ENFERMAGEM EM TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA: ALGUMAS REFLEXÕES Elisabeth Carla Vasconcelos Barbosa105 Benedita Maria Deusdará Rodrigues106 Destacamos neste estudo as reflexões surgidas no cotidiano da assistência de enfermagem em terapia intensiva pediátrica, realçando aspectos fundamentais deste assistir, tais como: humanização, família, cuidado, interação, assistência, conhecimento científico, domínio das teorias, equipe multidisciplinar e comunicação. Por outro lado, o medo, o desconhecido, o sofrimento e a impotência fazem parte do modo como a família chega nessa unidade e como é atendida pelos profissionais que a recepcionam. Com o objetivo de apreender o típico da relação existente entre a equipe de enfermagem e os familiares de crianças internadas na UTI pediátrica, lançamos mão da Sociologia Fenomenológica de Alfred Schutz. A análise das entrevistas nos aponta que o típico desta relação se caracteriza como: interação criança/família/equipe e qualificação profissional. Desse modo podemos destacar a necessidade de darmos ênfase à relação enfermagem/cliente/família como algo muito especial para alcançar a qualidade no cuidar. Palavras-chaves: Enfermagem, pediatria, terapia intensiva, humanização, família. 105 Enfermeira.Mestranda em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da UERJ Bolsista FAPERJ End: Rua General Pinheiro Machado 55 Parque São Caetano-Campos/RJ CEP 28042200 e-mail [email protected] 106 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Profª Titular em Enfermagem Pediátrica e Vice Diretora da Faculdade de Enfermagem /UERJ, Orientadora da Dissertação. 557 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Considerações Iniciais: O trabalho diário na unidade de terapia intensiva pediátrica nos leva a pensar nas várias temáticas que norteiam o cuidar em enfermagem tais como: humanização, família, cuidado, interação, assistência, conhecimento científico, domínio de técnicas, equipe multidisciplinar, comunicação e suas características próprias. Na terapia intensiva, esse assistir proporcionado pela equipe de enfermagem é bastante diferenciado do realizado nas demais unidades, visto que tem características que são peculiares do setor fechado, como sejam: equipamentos sofisticados, equipe de enfermagem e médica presente 24h, pacientes graves e/ou potencialmente graves, stress, sofrimento, sentimento de impotência em determinadas situações, convívio com a morte e familiares presente. Colocando-nos como observadoras do trabalho desenvolvido nessa unidade, percebemos dificuldades vivenciadas pelos profissionais em relação a situações de stress que envolvem equipe de enfermagem e médica, crianças e familiares. Não temos na equipe um profissional qualificado para desenvolver um trabalho que nos permita repensar nossas atitudes, elaborarmos novas idéias em relação ao nosso convívio e nosso equilíbrio emocional, preparando a equipe para novas dificuldades que surgirão cotidianamente. A família chega à unidade envolvida pelo medo, pelo desconhecido, pelo sofrimento e impotência, deparando-se com um ambiente de stress, rotinas, ruídos, máquinas, pessoas estranhas, um mundo diferente do seu cotidiano. Entendemos que a família deve ser integrada ao cuidado, pois se algum membro adoece, a sua estrutura se desestabiliza, e a saúde é afetada, levando ao stress. Neste sentido, Santos (1998) afirma com muita propriedade em sua tese de doutorado que: 558 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. À medida que a ação do enfermeiro é de aceitação do grupamento familiar, incluindo-o como um cliente em potencial, permitindo-lhe avançar além da participação indireta no processo terapêutico e assistencial, contemplando-o com um atendimento às suas necessidades, surge um redirecionamento na ação do enfermeiro . Satir in Santos (1998 pg.26) declara que quando um membro da família [paciente] abriga uma tensão que termina aflorando em sintomas, todos os membros dessa família estão, de algum modo, sentindo esta tensão . Como equipe interdisciplinar devemos entender que cada família é única e passa por esse processo de maneira própria. A presença da família junto à criança é primordial, entendendo criança e família na sua totalidade. Não podemos deixar de considerar família como um grupo social, cada indivíduo com sua vivência e maneira de ver o mundo. Na sociedade brasileira temos uma variabilidade de arranjos familiares, em decorrência de fatores políticos, econômicos, ocasionando mudanças no modo de vida das pessoas e da sociedade em geral. (Althoff. 2001). Elsen et al, (1992. pg.6) ressalta família como unidade dinâmica constituída por pessoas que se percebem como família, que convivem por um espaço de tempo, com uma estrutura e organização em transformação, estabelecendo objetivos comuns, construindo uma história de vida. Os membros da família estão unidos por laços consangüíneos, de interesse ou afetividade. Tem identidade própria, possui, cria, transmite crenças, valores e conhecimentos comuns, influenciado por uma cultura e nível sócio-econômico. 559 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Cada um com sua história de vida, seu ambiente social, suas crenças, diferenças, vivendo aquele momento único, simultaneamente, tornando muitas vezes o compartilhar em descompartilhar. Devemos contemplar tanto quem é família propriamente dita, como quem a integra. Nistschke (1999. pg.175) nos chama a atenção para a família do coração , identificada como aquela que dá prazer , no sentido de sentir bem, de estar junto com quem te faz bem. A criança quando tem apego por alguém busca a proximidade com esse alguém, principalmente quando assustada, cansada ou doente (Bowlby, 1990). A Enfermagem no Brasil, desde a década de 80, vem desenvolvendo uma assistência voltada para a humanização. Começamos então a discutir o cuidado como objeto da enfermagem, nos apoiamos em antropólogos, filósofos e sociólogos. Os que dissertam sobre o homem, as relações interpessoais, interações, crenças, comportamentos, atitudes, buscando uma Enfermagem humanizada. Boff (1997) nos fala do cuidado como essência, o princípio de tudo, o início da humanidade, e neste sentido a enfermagem também vem do princípio do mundo desde que o mundo é mundo, enfermagem é cuidar, portanto vem da essência. Voltamos à unidade de trabalho e olhamos mais uma vez a atividade desenvolvida pela equipe de enfermagem, em que vemos: arte, amor, compaixão, comprometimento, dedicação, seriedade, porém fica alguma coisa no ar, falta algo para que esse trabalho seja completo. Nos preocupamos com o nosso desempenho diante dos maquinários, na realização de procedimentos, no atendimento às solicitações, na participação em eventos críticos, mas não percebemos o essencial do cuidado, o que é subjetivo, que está na alma do ser. Diante do que foi exposto, na tentativa de compreender o que significa para a equipe de Enfermagem atuar em uma UTI pediátrica, onde divide com os familiares os mesmos espaços cotidianamente, elaboramos o seguinte objetivo para o estudo: Apreender o típico da 560 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. relação existente entre a equipe de enfermagem e os familiares de crianças internadas na UTI pediátrica. O Referencial Teórico-Metodológico Buscando um referencial metodológico encontramos em Alfred Schutz uma possibilidade de compreensão das nossas ações no cotidiano da terapia intensiva. Para ele a ação social é intencional, ativamente voltada para a realização de objetivos e repleta de significados subjetivos. Supõe a análise do comportamento social em relação a motivos e finalidades. A intencionalidade de que nos fala Schutz está diretamente relacionada aos motivos a fim de , dirigidos para o futuro, e os motivos por que , relacionados a experiências passadas. (Schutz, 1962). Para obtenção das falas utilizamos a entrevista fenomenológica dos profissionais que integram a equipe de enfermagem da UTI pediátrica do HMMC/RJ. Após as entrevistas realizamos a análise compreensiva, explorando os conteúdos, captando as inter-relações e agrupando em itens por afinidade do material, de onde surgiram as categorias - o típico desta relação. (Rodrigues, 1998). As categorias que surgiram da análise compreensiva da entrevista foram: interação criança/família/equipe e qualificação profissional. Conclusão: Através deste estudo podemos entender que a equipe de enfermagem considera importante a presença da família junto à criança internada na UTI, o quanto a interação criança/família/equipe de enfermagem é fundamental para um cuidar humanizado. O carinho e a presença da família contribuem para a assistência na UTI, mas muitas vezes essa relação é melindrada pela falta de preparo da equipe em dividir os mesmos espaços com a família nesse cenário. Vemos a necessidade da qualificação profissional que preencha essa lacuna na formação dos profissionais, contribuindo para a efetivação do cuidado humanizado nas UTIs. 561 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Referências Bibliográficas: Althoff, Coleta Rinaldi. Convivendo em família: contribuição para a construção de uma teoria substantiva sobre o ambiente familiar.Florianópolis; Editora UFSC, 2001. Bowlby, John. Apego. São Paulo: Martins Fontes, 1990. Boff, Leonardo. Saber Cuidar. Ed. Vozes, Petrópolis, 1997. Elsen, Ingrid. Desafios da enfermagem no cuidado de famílias. In. BUB, Lydia Ignes Rossi et al. Marcos para a prática de enfermagem com famílias. Florianópolis: Editora UFSC, 1994. p. 61-77. Nitschke, Rosane Gonçalves. Mundo imaginável de ser família saudável: a descoberta dos laços de afeto como caminho numa viagem no quotidiano em tempos pós-modernos. Pelotas: Editora Universitária/UFPEL, Florianópolis; UFSC, 1999. Praeger, Susan G.; HOGARTH, Cristina R. Paterson e Loretta T. Zderad. In: George, Julia B. ( Org.) Teorias de Enfermagem: os fundamentos para a prática profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. p.242-256. Rodrigues, Benedita Maria Deusdará.O cuidar de crianças em creche comunitária: contribuição da sociologia compreensiva de Alfred Schutz. Londrina: Editora UEL, 1998. Santos, Lia Galvão. Necessidade de familiares da pessoa internada em unidade de Terapia Intensiva tese de Doutorado UFRJ 1998. Schutz, Alfred. El problema de la realidad social Martinus Nijhoff, La Haya, Holanda, 1962 Traduccion, Nestor Miguez. 562 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ESTIMULANDO O AUTO CUIDADO EM GRUPO DA TERCEIRA IDADE ATRAVÉS DE JOGO EDUCATIVO TIPO BINGO: RELATO DE EXPERIÊNCIA Maria José Sanches Marin* Patrícia de Cássia C. A. Alcalde ** Lígia Camurça Mazzini*** Visando estimular a prática do autocuidado em um grupo da terceira idade com a proposta de reunir-se quinzenalmente na UBS Costa e Silva , estudantes do curso de enfermagem da FAMEMA e Enfermeiros da UBS realizaram, no primeiro encontro, um jogo educativo através de um bingo, onde utiliza-se tarjetas numeradas de 1 a 40 contendo em cada uma delas frases com situações de auto cuidado. Ao sortear as tarjetas, a condição de autocuidado nela especificada é discutido entre os participantes e aqueles que a realizam marcam um ponto na cartela. Constatou-se, durante a atividade, significativa troca de experiência entre os integrantes do grupo, além de apontar para assuntos que precisam ser mais explorados entre os mesmo, como é o caso da prevenção de quedas na terceira idade, prevenção de osteoporose, dieta equilibrada, atividade física, entre outros. No final da atividade foi entregue brindes para aqueles que obtiverem maior pontuação. Foi possível constatar também que o jogo educativo tipo bingo é uma estratégia que motiva a participação dos integrantes. Termos chaves: Autocuidado. Idoso. Educação em saúde. *Enfermeira, Doutora em Enfermagem e Docente da Disciplina de Saúde Coletiva do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília ** Enfermeira Gerente da Unidade Básica de Saúde Costa e Silva *** Acadêmica da 4ª série do Curso de Enfermagem Endereço:Rua Filomena Otaviano Losasso n.º 50 Jardim Ohara CEP - 17.506 440 Email: [email protected] Fone: 014 - 423 - 8874 563 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 1.0 Introdução Tendências atuais mostram que as pessoas estão vivendo mais tempo. No Brasil, a modificação da expectativa de vida ao nascer ao longo do século chama a atenção. Em 1930, os indivíduos com 60 anos perfaziam um percentual de 3% e a expectativa de vida era de 33,7anos. Em 1970 verificou-se um percentual de 5,2% e uma espectativa de vida de 57,1 anos, sendo que no senso de 1990, esse percentual subiu para 6,5% e a expectativa de vida para 63,5 anos (GOMES; FERREIRA, 1985). Dados da FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (1991) confirmam que em 1990 a população de idosos representam 7,05% da população do Brasil e, conforme VERAS (1994), a expectativa de vida era de 68,6 anos para esse período. No município de Marília, em 1980, a população de idoso representava 7,2% da população geral e, em 1990, esse percentual tinha subido para 7,9%. Em 1998, Marília tinha uma população estimada de 184.832 habitantes, com uma taxa de crescimento da população geral de 0,14 - índice que tem se mantido constante. Desse total, 17.695(9,6) são representados por indivíduos acima dos 60 anos. Já o projeção para o ano de 2001 foi de 9,7% de idosos na população geral. Tem-se constatado que as pessoas envelhecidas, mesmo as que tem saúde, debilitam-se paulatinamente devido às alterações fisiológicas que acontecem com o avanço da idade e limitam as funções do organismo, tornando-as cada vez mais predisposta à dependência para a realização do autocuidado, à perda da autonomia e qualidade de vida. Com isso, também se torna mais suscetível a doença e hospitalização. Considerando então a situação epidemiológica e demográfica atual, cabe aos profissionais da saúde, promover a saúde da população de forma a propiciar em envelhecimento mais saudável e independente. Nesse sentido as ações educativas segundo GUZMÁM et al. (1990) tem contribuindo para mudanças de condutas de forma voluntária favorecendo assim o estado de saúde. 564 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Na atualidade, reconhece-se que a maioria das causas de morbidade e mortalidade estão relacionados a estilo de vida que representam fatores de risco como é o caso do fumo, uso excessivo de bebida alcóolica, obesidade, sedentarismo, dieta rica em colesterol, entre outros. Nesse sentido as ações educativas segundo CUZMÄM et al. (1990) tem contribuído para mudanças de condutas de forma voluntária favorecendo assim o estado de saúde. O processo de ensino/aprendizagem consiste em projetar no indivíduo a possibilidade de apropriar-se de sua própria experiência e compartilhar com as experiências dos outros, o que para o idoso significa melhoria das condições de saúde, independência e capacidade de autocuidado.( SCHUARTZ, 1990). Pela conferência de Alma Ata, a educação se baseia no encorajamento e apoio para Que as pessoas e grupos sociais assumam maior controle sobre sua saúde e suas vidas (VASCONCELOS, 2001) Referindo-se ao idoso GAETE (1990) considera que programas educativos para elevar o nível de saúde, motiva o desenvolvimento de sua criatividade e o encontro de novas formas de participação social. ARAÚJO et al. (2000) apontam que os jogos educativos tem alto poder de fascinações e inventividade por possibilitar transações pessoais, pondo em destaque a sensibilidade e imaginação criativa dos participantes. Diante o exposto o presente estudo propõe-se a relatar a experiência de alunos e enfermeiros da Unidade Básica Costa e Silva com um grupo da terceira idade, na qual propõe-se a estimular o autocuidado através de um jogo educativo tipo bingo. 2.0 Percurso metodológico Trata-se de um relato de experiência, realizado na Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Gustavo Alberto de Godoi Pereira Costa e Silva localizada na Rua Fernando Fontana, nº 300 núcleo Habitacional Costa e Silva, situada na zona Sul da cidade de Marília. 565 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A população da área de abrangência da UBS Costa e Silva no mesmo período é de 10.843, o que representa 5,5% da população do município. A formação do grupo deu-se através de convites entregues pelos agentes comunitários no domicílio e pelos funcionários na própria unidade. Participaram da atividade oito mulheres na faixa etária dos 43 aos 73 anos de idade. Com a finalidade de conhecer as características relativas a capacidade de autocuidado, portanto, foi realizado um jogo educativo tipo bingo, conforme proposto por CANTWELL; HERRERA (1994), o qual foi adaptado às condições de autocuidado que mais comprometem o estado de saúde do idoso. Segundo CANTWELL; HERRERA (1994), as práticas de autocuidado através da forma lúdica de um bingo pretende-se que os participantes autoavaliem suas condições de autocuidado, além de permitir reflexões sobre a necessidade de condutas e estilos de vida saudável. No entanto, sugere-se que os temas discutidos sejam aprofundados de acordo com a necessidade do grupo. O material necessário para a realização da atividade refere-se a 37 tarjetas numeradas com frases que indicam práticas de autocuidado, 10 carões tipo loteria com numeração de 1 a 40 e tarjetas em branco. As instruções para a realização do bingo são as seguintes: dividir as cartelas entre os participantes; colocar as tarjas no centro da mesa; o coordenador do grupo mistura as tarjetas a vai pegando uma a uma. A tarjeta é lida em voz alta e cada participante marca em sua cartela o número correspondente, se realiza essa prática de autocuidado. já os participantes que não realizam não marcam o número na cartela; desta forma procede-se com as tarjas seguintes; no final, cada participante conta o número de seu cartão, o que corresponde ao número de práticas de autocuidado que realiza. Os participantes que conseguiram maior numeração ganham um prêmio. Recomenda-se que antes de iniciar o jogo, os participantes sejam orientados para ser sinceros ao avaliar as práticas de autocuidado. 566 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Após o término do jogo recomenda-se analisar no grupo as práticas de autocuidado dos participantes e os fatores que influenciam sua realização. A dinâmica foi coordenado por alunas da 4ª série do Curso de Graduação em Enfermagem e enfermeira da Unidade Básica de Saúde e enfermeira docente. 3.0 Apresentação dos resultados da aplicação do jogo educativo As 40 frases eleitas para estimular a discussão sobre a capacidade de autocuidado, bem como as sínteses das principais discussões que sugiram no grupo encontram-se no quadro I. Quadro I Distribuição das frases de situações de autocuidado e as respectivas discussões dos participantes 1. Frases de situações de auto cuidado Não Fumo 1. 2. Não permito que fumem em minha 2. casa 3. Sei como me relaxar quando estou 3. tensa Escovo os meus dentes depois de cada 4. refeição Não tomo remédio para dormir 5. 4. 5. 6. 7. Coloco sempre o sinto de segurança quando viajo como acompanhante Sempre levo na minha bolça uma escova de dentes 8. Evito automedicação 9. Evito manter em minha casa tapetes soltos 10. Preocupo-me com que meus filhos aprendam a nadar o antes possível Discussão dos participantes Nenhuma participante era fumante. Conseguiram apontar os malefícios do fumo e preocupação com familiares que fazem uso do mesmo. Apenas 2 participantes afirmam que conseguem solicitar às visitas para fumar fora de casa, pois dizem ser alérgicas a sentem-se mal, as demais apesar de não gostar não conseguem expressar, referindo parecer falta de educação . Aquelas que não permitiam que fumem em sua casa conseguiram mostrar para as demais como fazer isso sem parecer falta de educação . * * Algumas relataram que tomavam com freqüência e diminuíram periódicamente, outra diz que toma 2 a 3 vezes por semana por ser muito ansiosa. Foi discutido alternativas que utilizam para abolir o uso de medicamento. 6. Algumas relataram usar freqüentemente, outras dizem não sentir-se bem por isso não usam. 7. A maioria relatou que leva principalmente em viagens, outra diz que não usa pois não tem dente, em seguida outra levantou a importância de também escovar a língua. 8. Relatam tomar apenas Dipirona sem receita médica. Lembram que isso é bastante perigoso principalmente quando portadora de diabetes. 9. A maioria informa a presença dos mesmos, no entanto, não conseguem identificar como risco. Nas discussões uma participante falou do risco, uma vez que nem sempre conseguem elevar a perna o suficiente para passar pelo tapete. 10. Uma argumentou que nunca deu este tipo de conselho aos filhos pois acredita ser muito perigoso, outras relataram da importância de saber nadar, principalmente em situações de risco, já outra diz que todos os filhos aprenderam a nadar mas que ela nunca incentivou esta atividade. No consenso do grupo considerou-se necessário tal habilidade. 567 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 11. Procuro estar com esquema vacinal 11. Algumas disseram que estão em dia com as vacinas, outra afirmou que em dia precisavam procurar a carteira mas não sabia como estava seu esquema, outra disse que não toma a vacina da gripe. 12. Faço exercício periódicos, 2 vezes por 12. A maioria realiza, uma relata fazer até mais que o necessário. semana, por meia hora 13. Faço o Papanucolaou periodicamente 13. Algumas relataram que havia muito tempo que não faziam, outra disse ter realizado durante a gestação e por ter sido muito dolorido nunca mais realizou, outra afirma fazer periodicamente. 14. Procuro manter em meu banheiro piso 14. Todas afirmam que quando o banheiro fica molhado é perigoso, então antideslizante foram levantadas propostas para evitar quedas: colocar tapetes que não escorreguem ou usar chinelo havaiana durante o banho. 15. Procuro instalar o bujão de gás em 15. A maioria refere colocar longe do fogão em local adequada, mas algumas local com ventilação adequada relataram que fica próximo, mas todas sabem do perigo. 16. Procuro manter em minha casa as 16. Todas relataram manter os fios elétricos em bom estado pois temem por instalações elétricas em bom estado choque elétrico. 17. Preocupo-me por manter meu peso de 17. Algumas disseram que tentam perder peso mas que não conseguem, foi acordo ao sugerido pelo meu porte solicitado outras discussões sobre este assunto. 18. Preocupo-me em fazer controle 18. A maioria faz acompanhamento médico na própria unidade. médico de minha saúde periodicamente 19. Evito consumir gorduras, 19. A maioria evita o uso de gordura justificando ainda que com isso pode especialmente as gorduras animais ocorre destruição das células cardíacas pelas gordura. 20. Tomo leite e os seu derivados todos 20. Uma relata não tomar por não ter condições para comprar, mas todas os dias para previnir a osteoporose sabem da importância para combater o desgaste dos ossos. 21. Atravesso as ruas com luz verde e nas 21. Algumas afirmam que usam a faixa de pedestres outras, dizem que por áreas reservadas aos pedestres conta da pressa atravessam no meio rua. 22. Não vivo apressada pelo tempo 22. * 23. Caminho diariamente dez Quarterões 23. Afirmam caminhar alguns quarteirões. 24. Trabalho o tempo sugerido 24. Todas trabalham apenas em casa e muitas manifestam não gostar dessa atividade. 25. Uso protetores solares para tomar sol 25. Algumas usam sombrinhas, mas não usam protetor, relata a importância do uso deste acessório para evitar o câncer de pele e ressaltaram a importância de tomar sol pela manhã. 26. Dirijo numa velocidade prudente e 26. Nenhuma integrante do grupo dirige. concentrada 27. Ensino os meus filhos a respeitar a 27. Todas relatam orientar filhos e netos a respeitar a natureza. natureza e a não contaminar o ambiente 28. Durmo pelo menos 6 horas durante a 28. Todas afirmaram dormir bem durante a noite e após o almoço também. noite 29. Bebo menos de um copo de bebida 29. Nenhuma integrante de grupo faz uso de álcool. alcóolica por dia 30. Faço controle dentário a cada seis 30. * meses 31. Como coisas variadas, nutrientes e 31. * fibras para estar saudável 32. Tomo café da manhã todos os dias 32. Todas afirmam tomar café da manhã ( leite, café, pão etc...). 33. Preocupo-me em verificar a pressão 33. A maioria verificam a PA duas vezes por semana. arterial periódicamente 34. Faço auto exame de mamas 34. Todas relataram fazer o auto exame da mama e demonstraram como periódicamente realizam. 568 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. 35.preocupo-me em manter na minha casa 35. Foram vária as afirmações: minha casa é bem iluminada ; não tenho uma iluminação adequada medo de ficar no escuro ; é bom ter uma luz acesa na casa ; tem um poste na rua que ilumina minha casa ; quando ando no escuro vou devagar ; se acender uma luz não durmo mais; deixo sempre uma luz acesa quando saio de casa . 36. Preocupo-me em dedicar tempo para 36.* fazer as coisas que gosta 37. Preocupo-me por dedicar tempo 37. Houveram afirmações por quase todas as convidadas sobre a importância de suficiente à minha família para ter uma ter bom relacionamento com os membros da família. melhor comunicação * O tempo foi insuficiente para discussão da situação de autocuidado. 4.0 Considerações gerais Durante a dinâmica do jogo educativo através de bingo entre os integrantes do grupo da terceira idade, foi possível constatar clima de descontração e prazer que possibilitou o envolvimento, tornando signifivativa a troca de informações entre as mesmas. O papel do profissional de saúde, destacou-se na condução do grupo, na medida que propiciou oportunidades para a participação de todos, direcionando os participantes para o assunto em questões, além de intervir para que fossem passadas informações corretas e que contribuíssem para a melhoria da qualidade de vida, articulando, desta forma o saber popular com o saber científico. Assim, constatou-se, durante a dinâmica, a necessidade de esclarecê-las quanto a medidas gerais de segurança como o uso de cinto de segurança, cuidados com o butijão de gás, uso de faixa de pedestre, uso de protetor solar e iluminação adequada na residência. Os cuidados na prevenção de quedas, coleta do periódica do Papanicolaou, manter o esquema vacinal de acordo com as recomendações, medidas para manter o peso dentro do recomendado e atividade foram outros aspectos considerados relevantes para serem abordado em outros encontros. O jogo educativo através do bingo para promover o autocuidado revelou-se como estratégia atraente que possibilita a manifestação da necessidade de novos dos conhecimentos, através de brincadeiras e divertimento. 569 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS ARAUJO, M.F.M.; ALMEIDA, M.I. SILVA. AIDS/educação: proposta metodológica para elaboração de jogos educativos. Ver. Bras. Enferm. V.53, N.4, p.607-613, out./dez.2000. CAMTWELL, M ; HERRERA, L. M Juego: Bingo-práticas de autocuidado. Pontifícia Universidade Católica de Chile, Escuela de Efermagem, Oficina Promocion de salud, y autocuidado (PROSA), 1994. Mimiografado. FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Anuário estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1991 1024p. GAETE, E experiências educativas con adultos mayores. EPAS, V 7, Nº2, 1990 p 21 - 24. GOMES, F.A.A; FERREIRA,P.C.A Manual gereontologia. Rio de Janeiro, EBM, 1985. 361p. de geriatria e GUZMÁM. P; PRECIADO, J; MONTECINOS, L Modelos teóricos en educacíon para la salud. EPAS, V 7, Nº2, 1990 p. 7- 12. SCHUARTZ,M Reflexiones a partir de una experiência educatica com senecentes. EPAS, V 7, Nº2, 1990 p 15 - 17. VASCONSELOS, E. M. Educação popular e a atenção à saúde da família. Ed. HUSCITEC. 2º ed., São Paulo, 2001,336p. VERAS, R.P. Pais jovens com cabelos brancos: a saúde do idoso no Brasil. Rio de Janeiro, Rebume dumará, 1994 224p. 570 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS EM TRAQUÉIAS DE PACIENTES INTUBADOS EM FUNÇÃO DO TEMPO DE INTUBAÇÃO Pedro Marco Karan Barbosa* Branca Maria de Oliveira Santos** Este é um estudo, de caráter analítico descritivo, que teve como objetivo analisar e descrever as alterações morfológicas da traquéia de pacientes intubados com cânulas de alto volume residual e baixa pressão no cuff , mantidos em ventilação mecânica com pressão intra - cuff menor que a capilar da traquéia (20 a 30 mmHg) em função do tempo de intubação. A população constou de 23 pacientes adultos, internados em uma UTI, intubados por períodos entre 27 a 317 horas e que foram a óbito, necessitando de necropsia para identificação da causa mortis. As alterações encontradas limitaram-se apenas à mucosa da traquéia, atingindo somente o epitélio de revestimento e a lâmina própria, sendo que o tempo de intubação foi um fator determinante do agravamento das lesões na parede traqueal. PALAVRAS CHAVE: intubação endotraqueal, pressão do ar. APRESENTAÇÃO Uma situação que tem despertado nosso interesse é a observação de condutas inadequadas na execução do procedimento de intubação endotraqueal, capazes de desencadear e até de perpetuar lesões traqueais e pulmonares que podem comprometer significativamente a recuperação dos pacientes. * Professor Doutor da Faculdade de Medicina de Marília-Curso de Enfermagem. [email protected] (Rua Jorge Bernardoni 414 Jardim Itaipu, Marília SP CEP 17.519-580 ** Professora Livre Docente pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP. Orientador. 571 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Em diversas situações temos nos deparado com evidências de uma prática empírica de intubação endotraqueal, com profissionais preocupados em apenas livrar os pacientes dos riscos de aspiração e hipóxia causados pelo vazamento de ar pela traquéia, sem atentar para os riscos advindos do aumento da pressão do cuff na mucosa da mesma, em conseqüência da hipersuflação do balonete. Outra observação tem sido a de que os pacientes submetidos à intubação endotraqueal, com vistas à manutenção da permeabilidade das vias aéreas, permanecem intubados por longos períodos de tempo, sem uma avaliação dos possíveis danos na parede da traquéia. Estas constatações despertaram o nosso interesse em desenvolver este estudo com o objetivo de analisar e descrever as alterações morfológicas da traquéia de pacientes intubados com cânulas endotraqueais de alto volume residual e baixa pressão no cuff , mantidos em ventilação mecânica com pressão intra cuff menor que a capilar da traquéia (20 a 30 mmHg), em função do tempo de intubação. MARCOS DE REFERÊNCIA Em termos estruturais, a traquéia é constituída por três camadas: mucosa, submucosa e adventícia. A mucosa é constituída pelo epitélio respiratório, lâmina própria e lâmina elástica. O epitélio respiratório ou de revestimento, do tipo pseudo-estratificado colunar ciliado, é constituído por seis tipos celulares: células colunares ciliadas (distribuídas por todas as vias de condução do trato respiratório e que movimentam o muco por ação ciliar); células caliciformes (produzem secreção mucosa que se adiciona a das glândulas localizadas na submucosa); células serosas (possuem microvilos e estão relacionadas com a secreção de um fluido seroso de composição desconhecida); células em escova (apresentam numerosos microvilos em suas superfícies apicais e têm sido associadas com terminações nervosas, com provável função sensorial); células basais (situadas sobre a lâmina basal, consideradas como células fonte que repõem células caliciformes, células colunares ciliadas e células em 572 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. escova) e finalmente, células granulares (atuam como efetoras na integração das secreções mucosa e serosa(1-2-3). Ainda segundo os autores, a lâmina própria é constituída por tecido conjuntivo frouxo fibroelástico, contendo elementos linfóides e glândulas mucosas e seromucosas cujos ductos se abrem na superfície epitelial e uma densa camada de fibras elásticas, que constitui a lâmina elástica, separa a lâmina própria da submucosa subjacente. A submucosa é composta por tecido conjuntivo denso, irregular, fibroelástico, onde se encontram numerosas glândulas mucosas e seromucosas e elementos linfóides. A camada adventícia é composta por tecido fibroelástico e sua característica mais importante são os anéis em forma de C , de cartilagem hialina, com tecido conjuntivo fibroso interposto, sendo responsável por ancorar a traquéia às estruturas adjacentes. O conhecimento dessa estrutura torna-se importante quando da necessidade do procedimento de intubação endotraqueal que subentende a colocação translaringeana de uma cânula dentro da traquéia, através do nariz (intubação nasotraqueal) ou da cavidade oral (intubação orotraqueal), por um tempo determinado, com vistas a suprir as necessidades de manutenção da permeabilidade das vias aéreas, aspiração de secreções pulmonares, ventilação com pressão positiva e manutenção de oxigênio(4- 5) . A cânula endotraqueal mais indicada para a realização do procedimento tem sido a de alto volume residual e baixa pressão, por causar menos complicações, desde que seu diâmetro seja adequado ao diâmetro da traquéia(6). O seu balonete acomoda um grande volume de ar insuflado antes de aumentar a sua pressão que, segundo vários autores(6-7-8-9- 10-11-12), deve ficar entre 20 e 25 mmHg, pressão esta menor que a capilar traqueal (25 a 30 mmHg), de modo a impedir a aspiração pulmonar, permitir o fluxo sangüíneo capilar adequado à mucosa da mesma e minimizar outras complicações como dilatação da traquéia, inflamação da mucosa, ulceração dos anéis cartilaginosos, infecção e destruição da parede traqueal, dentre outras. Os autores consideram ainda a influência do tempo de intubação nas possíveis lesões da parede traqueal. 573 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Nesse sentido, várias pesquisas foram realizadas com vistas a estudar esta relação, isto é, o tempo de intubação com as lesões ocasionadas pelo balonete das cânulas endotraqueais, tanto em humanos como em animais. Seus resultados, ainda que advindos de tempos de intubação e de condições clínicas variáveis, evidenciaram processo inflamatório difuso associado a extensas áreas de necrose em laringe e traquéia(13), extensas áreas de necrose na traquéia, abrangendo o epitélio e a lâmina própria(14), perda de cílios, presença de células inflamatórias, áreas sugestivas de metaplasia escamosa(15), erosão parcial e total da parede traqueal(16) presença de áreas hemorrágicas na submucosa, perda de cílios, perda de células caliciformes, erosão e inflamação(17) e áreas de erosão e necrose epitelial, processo inflamatório difuso associado a extensas áreas de necrose(18) . Vale considerar também as observações de autores que consideraram o aumento do risco de lesão em pacientes intubados, com necessidade de ventilação assistida controlada, devido a umidificação inadequada, concentração inadequada de oxigênio (FiO2), falta de aquecimento adequado da nebulização do ventilador mecânico (30 a 37ºC), alteração da fisiologia neuronal normal, introdução de material estranho na traquéia (catéter de aspiração) e tempo de utilização dos respiradores(16-17-19-20). MATERIAL E MÉTODOS População do estudo Fizeram parte do estudo 23 pacientes adultos (acima de 15 anos), de ambos os sexos, internados na Unidade de Terapia Intensiva (U.T.I.) do Hospital de Clínicas de Marilia, num período de tempo variável de até 13 dias, intubados com cânulas endotraqueais de alto volume residual e baixa pressão, mantidas com pressão intra cuff de 20 a 30 mmHg, independente do diagnóstico médico e que foram a óbito durante a permanência na unidade e submetidos à necropsia por indicação médica. 574 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Procedimento Após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa do hospital, a confirmação da necropsia pelo médico e obtenção da assinatura do termo de consentimento pós-informação pelos familiares, foi feita a retirada da traquéia que era imediatamente acondicionada em frasco contendo formol a 10% e a seguir a análise macroscópica inicial para a detecção de possíveis alterações advindas do contato do balonete com a mucosa. Posteriormente foram confeccionadas as lâminas com cortes histológicos dos seguimentos que haviam permanecido sob pressão do cuff para análise microscópica, por microscopia óptica. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise microscópica evidenciou alterações apenas na mucosa, constituída pelo epitélio respiratório, lâmina própria e lâmina elástica, mais especificamente no epitélio de revestimento e lâmina própria, não chegando a tingir a lâmina elástica. As alterações do epitélio de revestimento caracterizaram-se como perda de cílios, exsulceração, metaplasia escamosa, infiltrado polimorfonuclear (focal e difuso), hiperplasia celular, necrose celular (morte celular, com ou sem infiltrado inflamatório) e erosão (perda do epitélio de revestimento). Na lâmina própria foram identificados infiltrado polimorfonuclear (linfomonocitário, neutrofílico e plasmocitário) e hemorragia. Essas alterações foram identificadas de forma isolada ou simultaneamente e, a título de ilustração, estão apresentadas nos Quadros 1 e 2 na tentativa de demonstrar a associação entre as alterações identificadas e o tempo de intubação, bem como a sua localização no epitélio de revestimento e na lâmina própria, respectivamente. Uma vez ocorrendo lesões no epitélio respiratório e na lâmina própria, as conseqüências poderão estar associadas às funções das células que os compõem assim como à produção, absorção de secreções e lubrificação, bem como o transporte de secreção e/ou 575 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. outras substâncias que também estarão alteradas, comprometendo automaticamente a proteção da traquéia(1). A perda ou ausência de cílios foi uma constante, o que sugere um comprometimento da função ciliar normal que tem como função a propulsão de muco e de outras substâncias sobre a superfície do epitélio através de oscilações rítmicas até a faringe onde são deglutidos ou expectorados. A alteração quantitativa e/ou qualitativa dos cílios pode exigir uma tosse mais intensa e com maior força muscular para eliminação da secreção brônquica, com vistas a obter uma higiene brônquica adequada e facilitar a proliferação de bactérias, infecção bronco-pulmonar e obstrução brônquica(1- 21). Vários autores descrevem a referida perda de cílios em função do próprio ato de intubação. Um deles(9) relata que somente a passagem do tubo endotraqueal já é suficiente para ocasionar a destruição dos cílios e das células do epitélio de revestimento traqueal. Ressalta ainda que o tempo de intubação é um fator determinante desta complicação, ou seja, quanto maior o tempo, maior a gravidade do caso e, mesmo com duas horas de intubação, com o balonete insuflado ou não, os cílios já ficam achatados e esmagados, com possível regeneração após duas horas de extubação. Num estudo com traquéias de cães e humanos (15), intubados com pressão no cuff de 18 a 25 mmHg, por curto período (duas a 12 horas), os autores identificaram, nos cães, alterações como perda de cílios e presença de células inflamatórias na região que permaneceu em íntimo contato com a pressão do balonete, e nos humanos, áreas sugestivas de metaplasia escamosa, caracterizadas por células achatadas, ocorrendo regeneração ciliar primitiva após 48 horas. Outro estudo, objetivando avaliar os efeitos imediatos da intubação (após quatro horas), com cânulas de alto volume residual e baixa pressão, através de cortes histológicos de laringe e traquéia de cães intubados, (22) detectou a ocorrência de alterações nas superfícies livres das células ciliadas do epitélio de revestimento laringotraqueal, o que compromete o funcionamento ciliar normal da mesma. A perda de cílios em toda extensão da traquéia de ratos intubados com cânulas endotraqueais sem cuff também foi 576 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. registrada (23) e alguns autores(21-23-24-25-26-27) dentre outros, consideram que a intubação endotraqueal e a ventilação mecânica aumentam os risco de lesões traqueais, como perda de células caliciformes e até perda parcial e total do epitélio de revestimento, em decorrência do uso de material estranho na traquéia, pressão do cuff na parede endotraqueal, umidificação inadequada, concentração elevada de oxigênio, falta de aquecimento do ar inalado, alteração da fisiologia neuronal e tempo de utilização dos respiradores. 577 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. Quadro 1 Alterações microscópicas no epitélio respiratório das traquéias, em função do tempo de intubação endotraqueal. Alterações Tempo de intubação (em horas) 24 |-- 55 Perda de cílios X 80 |-- 105 X Infiltrado polimorfonuclear X Hiperplasia Celular X Exsulceração Necrose Celular X X 105 |-- 130 130 |-- 155 155 |-- 180 180 |-- 205 205 | 230 230 | 255 255 | 280 280 | + X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Metaplasia Escamosa Erosão X X 578 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. X Quadro 2 Alterações microscópicas na lâmina própria das traquéias, em função do tempo de intubação endotraqueal Tempo de intubação (em horas) Alterações 24 |-- 55 Infiltrado polimorfonuclear Hemorragia X 80 |-- 105 X 105 |-- 130 130 |-- 155 155 |-- 180 180 |-- 205 205 | 230 230 | 255 255 | 280 280 | + X X X X X X X X X X X X 579 6º Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem. Teresina, 27 a 30/05/02. A necessidade de manter a pressão do balonete abaixo de 30 mmHg tem sido reforçada e as variações de pressão (acima 32 mmHg) têm sido relacionadas a variadas complicações, que vão desde a oclusão do fluxo sangüíneo na mucosa, destruição do epitélio de revestimento, até ulceração, dilatação, ruptura e estenose(10). Algumas dessas complicações foram identificadas em traquéias de nosso estudo. A exsulceração do epitélio de revestimento, caracterizada por uma destruição parcial de suas células, foi identificada em diferentes tempos de intubação, desde o menor (27 horas) até 275 horas. Áreas de perda total do epitélio de revestimento (erosão) foram localizadas nas traquéias que permaneceram