Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.24, n.2,p.95-98, 2009. AVALIAÇÃO DAS RESPOSTAS FISIOLÓGICAS EM FRANGOS DE CORTE CRIADOS EM GALPÕES COMERCIAIS CLIMATIZADOS Flávio A. Damasceno1; Tadayuki Y. Junior 2; Raphaela C. C. Gomes3; Renato R. Lima2; Leonardo Schiassi2 1 Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Agrícola, Campus, CEP 36570-000 - Viçosa, MG , Brasil, [email protected] 2 Universidade Federal de Lavras, [email protected]., [email protected], [email protected] 3 Universidade Federal de Goiás, [email protected] RESUMO O objetivo principal desta pesquisa foi avaliar a resposta produtivas de aves criadas em dois galpões comerciais, situados no município de Itaberaí – GO, equipados com dois sistemas de resfriamento diferentes: placas porosas umedecidas de celulose associadas à nebulização (SRPN) e placas umedecidas de sombrite associadas a nebulização (SRSN). O desempenho fisiológico foi avaliado pela temperatura retal (TR), temperatura da pele (TP) e freqüência respiratória (FR). De acordo com os resultados, conclui-se que as TP, FR e TR das aves nos galpões SRPN e SRSN, de forma geral, na maioria das semanas avaliadas, foram estatisticamente iguais, sendo que no caso da freqüência respiratória, os valores médios foram estatisticamente iguais ao longo do comprimento dos galpões avaliados, durante o período experimental avaliado. PALAVRAS-CHAVE: avicultura, produtividade, galpões avícolas EVALUATION OF PHYSIOLOGICAL RESPONSES IN BROILER CHICKENS PRODUCED IN TWO COMMERCIALLY CLIMATIZED BROILER HOUSES ABSTRACT The main objective of this study was to evaluate the productivity response of broiler chickens raised in two commercial facilities, located in the Itaberaí Country, Goiás, Brazil, equipped with two different cooling systems: wet cellulose pads associated with misting (SRPN) and wet black screen pads associated with misting (SRSN). Physiological performance was evaluated by rectal temperature (TR), skin temperature (TP) and respiration rate (FR). According to the results, it was concluded that TP, FR and TR for the birds in buildings with SRPN and SRSN were for the most part statistically equal for the majority of weeks evaluated. Average respiration rate was statistically equal throughout both facilities during the studied period. KEYWORDS: poultry, productivity, broiler housing 96 F. A. Damasceno et al. INTRODUÇÃO Uma das maneiras de se analisar a eficiência de um sistema de criação e o bem-estar das aves é através da avaliação das respostas fisiológicas, uma vez que estes parâmetros sofrem interferência direta do ambiente de criação (Silva, 2001). Desse modo, as respostas fisiológicas podem ser avaliadas nas aves por meio da temperatura retal (TR), temperatura da pele (TP) e freqüência respiratória (FR). Durante o estresse calórico, as aves aumentam sua freqüência respiratória para incrementar a perda evaporativa de calor e manter o equilíbrio térmico corporal. Este aumento constitui a principal e mais eficiente forma de dissipar calor em aves submetidas a altas temperaturas e pode resultar em alcalose respiratória, provocando redução no desempenho zootécnico. O aumento da temperatura do ar (tbs) e umidade relativa (UR) provoca também, o aumento da TR das aves, sendo este, um ótimo indicador de estresse (Marchini et al., 2007). Com base no exposto, objetivou-se, com a presente pesquisa, avaliar o ambiente térmico e o desempenho produtivo de frangos de corte criados em dois galpões climatizados. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no município de Itaberaí - GO (16º01’ S de latitude, 49º48’ W de longitude, 722 m de altitude), entre os dias 17 de abril a 08 de maio de 2008, em dois galpões comerciais para a criação de frangos de corte: a) galpão equipado com ventilação em modo túnel (pressão negativa) e sistema de resfriamento evaporativo do tipo material poroso umedecido e nebulização (SRPN), cujo material poroso era composto por 2 placas de celulose (10,70 x 1,80 m), além de 16 linhas de nebulizadores distribuídos ao longo do galpão e b) galpão equipado com ventilação em modo túnel (pressão negativa) e com o sistema de resfriamento do tipo material umedecido, com 2 painéis cobertos por sombrite e umedecido por 47 nebulizadores (SRSN), distribuídos na região frontal às placas (10,84 x 2,00 m) associado com sistema de nebulização, composto por 17 linhas transversais, distribuídas ao longo do galpão. Ambos os galpões possuíam dimensões de 12 x 125 x 2,5 m e 13,65 x 125 x 2,5 m, respectivamente, com cobertura de telhas de cimento amianto, alvenarias de tijolo furado, as muretas laterais, piso de concreto, cama de palha de arroz reutilizada, cortinas laterais de cor azul, forro amarelo, 3 linhas de comedouros automáticos e 4 linhas de bebedouros do tipo nipple. Os galpões eram orientados na direção leste-oeste e possuíam como vegetação circundante bananeiras e coqueiros. Foram alojados nestes galpões, frangos de corte da linhagem Cobb, fêmeas, totalizando 21.000 (SRPN) e 21.500 (SRSN) aves. Os dois galpões foram monitorados continuamente do 21° ao 43° dia de vida das aves, sendo avaliadas as variáveis relacionadas ao ambiente térmico e as respostas fisiológicas. O ambiente térmico foi avaliado por meio das variáveis tbs, temperatura de globo negro (Tgn), UR e velocidade do ar (V), sendo que as três primeiras foram medidas por sensores / registradores (± 3 %) programados para coletar estas variáveis ambientais em intervalos de 1 minuto. A Tgn foi medida por meio de sensores de temperatura introduzidos no interior de globos de plástico pintados de preto fosco, previamente calibrados em relação a um globo de cobre padrão. Os sensores / registradores foram instalados em três seções a 0,3 m de altura, ao longo do comprimento de cada galpão, cujas distâncias em relação às placas de resfriamento foram 30, 62,5 e 95 m. Para V foi utilizado um anemômetro de hélice digital (± 3%). As respostas fisiológicas (TR, TP e FR) foram analisadas semanalmente, onde 20 repetições (aves) foram avaliadas na primeira região, 30 na segunda e 10 na terceira, respeitando as subdivisões adotadas pela granja. O experimento foi instalado seguindo o delineamento em blocos casualizados (DBC), em esquema de parcelas subdivididas. Na parcela, foi assumido um esquema fatorial 2 x 3 x 4 (2 galpões, 3 posições de coleta e 4 semanas avaliadas), sendo o fator tempo alocado na subparcela. Os dias de coleta foram considerados como blocos. As análises de variância e regressão linear das variáveis das Revista Educação Agrícola Superior - v.24, n.2, p.95-98, 2009. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Avaliação das respostas fisiológicas em frangos de corte criados em galpões respostas fisiológicas foram processadas pelo software Sisvar 4.6 (Ferreira, 2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 apresenta os valores médios para TP, TR e FR associados aos valores médios de índice de temperatura de glogo e umidade (ITGU), entalpia (H), carga térmica de radiação (CTR) e tbs, nos galpões SRPN e SRSN, em cada semana avaliada. Conforme se pode observar na Figura 1A, a TP nas 3ª e 6ª semana de 97 vida das aves, no galpão SRSN foi estatisticamente menor (teste F, P<0,05), isso provavelmente ocorreu devido a eficiência do sistema de resfriamento promovido pelo sombrite ser menor que àquela ocorrida na placa de resfriamento de celulose. Os valores médios das TPs nos galpões SRPN e SRSN ocorridos nestes dias foram 35,2 e 34,1°C, respectivamente, para ITGU médio de 81,8, H média de 73,4 kJ . kg de ar seco-1, CTR média de 452,2 W m² e tbs média de 36,3°C. Estes valores são inferiores Figura 1. Valores médios semanais de temperatura da pele (A), temperatura retal (B) e freqüência respiratória das aves (C), nos galpões SRPN e SRSN, ao longo do período experimental Revista Educação Agrícola Superior - v.24, n.2, p.95-98, 2009. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 98 F. A. Damasceno et al. aos valores encontrados por Yahav et al. (1997), cujo estudo realizado com frangos de corte machos da linhagem Cobb determinou valores de 39,7 ± 0,2°C, quando a tbs externa foi de 26 ± 1°C. Os valores médios de TR foram estatisticamente iguais (teste F, P<0,05) nos galpões SRPN e SRSN (Figura 1B) durante a 3ª, 4ª e 6ª semana de vida das aves, sendo que na média foram 40,8°C e 40,9°C, respectivamente, para ITGU médio de 83,2, H média de 75,1 kJ . kg de ar seco-1, CTR média de 475,3 W m² e tbs média de 36,8°C. Estes valores médios de TR estão ligeiramente inferiores aqueles dos intervalos de conforto térmico das aves, que é de 41,2°C a 42,2°C (Mount, 1979). As FR nos galpões SRPN e SRSN (Figura 1C) foram estatisticamente iguais (teste F, P<0,05) somente na 4ª semana de vida das aves, sendo que o valor médio encontrado ao longo do período avaliado é 70,1 e 69,4 resp. min-1, respectivamente, para ITGU médio de 80,9, H média de 74,1 kJ . kg de ar seco-1, CTR média de 468,9 W m² e tbs média de 35,2°C. Estes valores são superiores ao mencionado por Medeiros (2001) que é de 40 resp. min.-1, ao avaliar frangos de corte da linhagem Avian Farm em câmaras climáticas com a V igual a 1,5 m.s-1, UR entre 35 e 85% e tbs em torno de 19 a 24 °C. No geral, verifica-se que, apesar da TR média indica que os animais estavam em conforto, a FR revela que as aves já manifestavam algum sinal de estresse, depondo contra a sua condição de bem-estar. CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos, podese concluir que as temperaturas da pele e temperaturas retais das aves nos galpões SRPN e SRSN, de forma geral, na maioria das semanas avaliadas, foram estatisticamente iguais. No caso da freqüência respiratória, os valores médios foram estatisticamente iguais ao longo do comprimento dos galpões avaliados, durante o período experimental avaliado. AGRADECIMENTOS Os autores expressam seus agradecimentos ao CNPq e a FAPEMIG pelo financiamento do projeto e concessão de uma bolsa de mestrado. REFERÊNCIAS FERREIRA, D. F. SISVAR - Sistema de análise estatística para dados balanceados. Lavras: UFLA/DEX, 2000. MARCHINI, C. F. P.; SILVA, P. L.; NASCIMENTO, M. R. B. M.; TAVARES, M. Freqüência respiratória e temperatura cloacal em frangos de corte submetidos à temperatura ambiente cíclica elevada. Archives of Veterinary Science, Curitiba, v. 12, n.2, p. 4146, 2007. MOUNT, L. E. Adaptation to thermal environment. Baltimore: University Park, 1979. 333 p. MEDEIROS, C. M. Ajuste de modelos e determinação de índice térmico ambiental de produtividade para frangos de corte. 2001. 115p. Tese (Doutorado em Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG. SILVA, I. J. O. Ambiência na produção de aves em clima tropical. Piracicaba, v. 1, v. 2, 200 p., 2001. YAHAV, S.; STRASCHNOW, A.; PLAVNIK, I.; HURWITZ, S. Blood system response of chickens to changes in environmental temperature. Poultry Science, Savoy, v. 76, n. 4, p. 627-633, Apr. 1997. 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