AVALIAÇÃO DA DISPOSIÇÃO DE FOSSAS EM RELAÇÃO AOS POÇOS DOMICILIARES NO PERÍMETRO URBANO DE JI-PARANÁ-RO Anderson Paulo Rudke ¹ Graduando em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia - UNIR, Campus de Ji-Paraná. Atua na linha de pesquisa Geomática do grupo de pesquisa da Engenharia Ambiental – UNIR. Amauriny da Silva Graduanda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia - UNIR, Campus de Ji-Paraná. Henrique Riça Mourão Borges Graduando em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia - UNIR, Campus de Ji-Paraná. Renata Gonçalves Aguiar Graduada em Licenciatura Plena em Matemática pela Universidade Federal de Rondônia e mestrado em Física Ambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso (2005). Atualmente é professora do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Rondônia - Campus de Ji-Paraná e desenvolve pesquisas no âmbito do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia - LBA. Endereço ¹ : Rua Menezes Filho nº: 1939 – Bairro: Jardim dos Migrantes – Ji-Paraná RO - CEP: 76900-791 - Brasil - Tel: (69) 9217-8259 - e-mail: [email protected]. . AVALIAÇÃO DA DISPOSIÇÃO DE FOSSAS EM RELAÇÃO AOS POÇOS DOMICILIARES NO PERÍMETRO URBANO DE JI-PARANÁ-RO INTRODUÇÃO O crescimento de núcleos urbanos e o aumento de atividades industriais e agropastoris causam cada vez mais problemas na disponibilidade e consumo de água para populações, devido à intensificação da introdução de resíduos domésticos e de natureza diversa no meio ambiente. Muitas cidades brasileiras não possuem um sistema de coleta de esgotos que permita um destino ecologicamente correto para as excretas produzidas por essas populações. Os produtos orgânicos e inorgânicos são lançados em sistemas rudimentares como fossas negras ou em fossas sépticas, e por esse motivo contaminantes chegam a muitos casos, com relativa facilidade ao lençol freático. Em contrapartida, a mesma população que usa um sistema rústico de esgotamento sanitário, capta a água subterrânea através de sistemas empíricos, como poços tipo cacimba ou amazonas, que são escavados em seus quintais para os múltiplos usos domésticos (SILVA, 2008). Nesse sentido, a disposição adequada de fossas sépticas é fundamental para a proteção da saúde pública. Muitas infecções podem ser transmitidas de uma pessoa doente para outra sadia por diferentes caminhos, um dos quais é representado pelas excreções humanas, pois o conteúdo das fossas sépticas ao se misturar ao do lençol superficial, atua como veículo de contaminação hídrica (BRAGA, 2005). Neste contexto, o presente trabalho teve a finalidade de quantificar a distância média entre fossas utilizadas para esgotamento sanitário e poços de captação de água subterrânea nos domicílios do Bairro Nova Brasília, município de Ji-Paraná-RO e estimar se a disposição está devidamente adequada aos parâmetros recomendados por Carvalho (1997). Vale ressaltar que este estudo foi motivado pela tese de doutoramento do Professor Doutor Ariveltom Silva, a qual servirá de subsídio para as conclusões do trabalho. MATERIAL E MÉTODOS O município de Ji-Paraná está localizado na região centro-leste do Estado de Rondônia, entre os meridianos 61°30` e 62° 22` longitude oeste e entre as coordenadas geográficas de 8° 22` e 11° 11` latitude sul, e apresenta uma área territorial de 6.922,05 km², proporcional a cerca de 3% de todo o território estadual. Ji-Paraná apresenta estações chuvosa e seca bem definidas, sendo a primeira compreendida entre os meses de dezembro a março, e a posterior compreendida entre os meses de junho a setembro. O clima é de florestas tropicais, alcançando elevados índices pluviométricos em torno de 1700 a 1800 mm/ ano, umidade relativa média do ar em torno de 85 % e temperatura média anual de 26°C (FERNANDES; GUIMARÃES, 2002). O presente trabalho foi realizado por meio de entrevistas a respeito do tipo de água utilizada e quando era informada a existência de poço, era realizada a medição simples da distância entre os poços e fossas nas residências por meio de uma trena longa – Fomastil – 30 metros. Em locais onde não havia a possibilidade de uma medição retilínea, foi feito um procedimento de medição por meio da composição de um triangulo retângulo com as respectivas medidas, sendo possível assim estimar a distância pelo teorema de Pitágoras (Equação 1): dr² = dv² + dh² dr = distância real dh= distância horizontal dv= distância vertical . (1) Os pontos escolhidos para a coleta de dados seguiram o método estatístico de amostragem aleatória simples e por conglomerado, onde foram selecionadas quadras do Bairro Nova Brasília por sorteio, e nessas quadras sorteadas todas as residências foram visitadas . O sorteio foi feito baseando-se nas margens direita e esquerda da Avenida Brasil, ao qual foram sorteadas seis quadras na margem direita, onde se encontra menor número de quadras, e oito quadras da margem esquerda. No dia 15 de outubro de 2010 iniciou-se o primeiro contato com os moradores buscando realizar um cadastro com as pessoas que gostariam de participar da pesquisa, foram cadastrados ao final desta primeira etapa 42 casas com poços. Na segunda visita foram iniciadas as medições. Após a coleta de dados foram realizados cálculos estatísticos para melhor demonstrar os dados obtidos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na análise dos dados foi observado que a distância dos poços em relação às fossas tem uma grande variação, entre 10 e 60 m, variação essa comprovada pelo elevado desvio padrão, em torno de 8,7 m. A distância média é em torno de 20 m, valor não adequado, visto que as fossas de Ji-Paraná em sua maioria são fossas negras, fossas essas que não são aconselháveis por se tratar de um meio de disposição de dejetos não seguro. A fossa negra é praticamente um buraco no chão onde os dejetos são acumulados, sem qualquer revestimento que impermeabilize a infiltração de contaminantes no solo ou no lençol freático. Esse meio de eliminação de resíduos deve ser mantido a uma distância de 45 m do poço, porém, como se pode observar esse espaçamento não foi respeitado, pois além da falta de instrução dos moradores, deve-se considerar também que em Ji-Paraná a maioria dos terrenos apresentam medidas reduzidas, geralmente com 10 m de frente por trinta de cada lateral. Na Tabela está descrito a porcentagem dos dados obtidos “in situ”, cujo total corresponde a 218. Tabela 1 – Meios de captação de água das residências do Bairro Nova Brasília, 2010. Meios de captação de água Porcentagem Poço 19,27% CAERD 47,71% Não tinha poço ou não quis participar 33,02% Vale salientar que em todas as residências analisadas o meio de disposição final de dejetos é a fossa, pois a cidade não dispõe de esgotamento sanitário, o que pode contribuir para a contaminação. Segundo Camargo (2009), a pouca distância entre fossas e poços pode ser considerada um dos grandes causadores do alto índice de contaminação, indicando que o lençol freático pode estar contaminado. A variação na distância dos poços em relação às fossas pode ser observada na Figura 1, sendo perceptível que em algumas quadras não houveram medições devido à existência de moradores que não quiseram participar da pesquisa, ou de moradores que não estavam presentes no dia da coleta de dados. Entretanto, em nossa primeira visita às quadras selecionadas, foi possível observar que em cada quadra há pelo menos um poço. 70 Distância (m) 60 50 40 30 20 10 0 . 0 10 20 30 Numeração dos poços 40 50 Figura 1 – Distâncias encontradas entre os poços e as fossas no Bairro Nova Brasília, 2010. Distâncias reduzidas podem não ser o único motivo da contaminação do poço como sugere Simas (2003) que indica que a distância da fossa não é o único fator que determina a segurança de um poço. Deve-se também considerar o posicionamento quanto à fossa (o poço deve estar em um nível mais elevado), procedimentos de construção (tampa, caixa de alvenaria, impermeabilização das paredes), os métodos de tomada de água, entre outros. No entanto, como pode ser observado, foram analisadas apenas as distâncias entre as fossas e os poços, levando em consideração a relevância dessa variável em relação à contaminação do lençol freático. Pesquisa realizada no Bairro Nova Brasília por Silva (2008) demonstra que grande parte do aquífero livre está contaminado (Tabela 2). Tabela 2 – Resultados bacteriológicos dos poços do Bairro Nova Brasília. Fonte: Silva (2008). As siglas NBT e NBE referem-se a poços tubulares e poços amazonas, respectivamente. Souza et al. (2007) observaram uma relação entre o número de coliformes termotolerantes² (toleram temperaturas acima de 40ºC e reproduzem-se nessa temperatura em menos de 24 horas) e o tipo de fossa, indicando uma tendência de maior contaminação quando a fossa é do tipo negra e quando não existe fossa. Rosato, relata que uma fossa construída segundo as normas sanitárias é uma solução adequada para o destino dos dejetos, uma vez que a disposição de excretas a céu aberto é um fator de risco para a poluição dos cursos d’água e um perigo para se contrair helmintoses intestinais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Levando em consideração que 19% das 218 moradias visitadas utilizam poços subterrâneos com captação de águas de aquíferos livres, e que a média da distância entre as fossas e poços nesses domicílios correspondem a 20 metros, pode-se conjeturar a possibilidade dessa população estar consumindo água contaminada. Essa previsão é possível uma vez que os parâmetros recomendados por Carvalho (1997) não são atendidos e os resultados das análises do estudo de Silva (2008) apresentam índices elevados de . contaminação físico-químico e biológicos nas águas dos poços e consequentemente dos aquíferos livres do perímetro em que o presente trabalho foi realizado. Em contrapartida, muitos dos moradores que utilizam poço e que foram entrevistados, afirmaram consumir uma água de qualidade, “cristalina”, e que os serviços da companhia de água são de baixa qualidade, com “muita química”, para aqueles que tiveram acesso a água da CAERD, mas que não a utilizam mais. Relatam também que, quando agentes ou pesquisadores os informam sobre a contaminação da água de seus poços, na verdade querem desativá-los para que paguem por um serviço caro e ineficiente. REFERÊNCIAS 1. BRAGA, Benedito et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 2. CAMARGO, Mairo Fabio.; PALOUSSO, Luciangela Vieira. Avaliação qualitativa da contaminação microbiológica das águas de poços no município de Carlinda – MT. 3. CARVALHO, Anésio Rodrigues de e OLIVEIRA, Maria Vendramini Castrignano de. Princípios Básicos do Saneamento do Meio. São Paulo: SENAC, 1997. 4. FERNANDES, L. C.; GUIMARÃES, S. C. P.Boletim climatológico de Rondônia. Secretariade Desenvolvimento Ambiental (SEDAM). PortoVelho: 36p., il., tab. 2002. 5. SILVA, Ariveltom Cosme da. Estudo da contaminação do Lençol Freático através da integração de técnicas geofísicas e geoquímicas em Ji-Paraná/RO. 136 f. 2008. Tese (Doutorado). Rio Claro: IGCE/UNESP, 2008. 6. SOUZA, L.V.; ARAÚJO, A.J.U.S.; UENO, M. Análise sanitária das águas de poços domiciliares em um bairro da zona rural do município de Pindamonhangaba, SP. Revista Biociência, v.13, n.1-2, p.9-15, 2007. 7. ROSATO, Marina Munhoz, et al. Quantificação dos efluentes domésticos produzidos em uma área rural (cinturão verde, ilha solteira-sp). .