ESTIMATIVA DA RETENÇÃO DE ÁGUA ATRAVÉS DE PEDOFUNÇÕES PARA ALGUNS SOLOS BRASILEIROS Fabiana de Medeiros Silveira 1, Giovana Rossato Santi 2, Dalvan José Reinert 3, José Miguel Reichert 3, Reimar Carlesso 4, Paulo Ivonir Gubiani 5, Gilberto Loguercio Collares 6. As dificuldades de determinação das propriedades hidráulicas do solo em laboratório promoveram a utilização de funções de pedotransfêrencia (FPTs), as quais expressam a dependência da retenção de água no solo e a condutividade hidráulica do solo com parâmetros disponíveis nos estudos do solo. O objetivo deste trabalho foi elaborar curvas de retenção de água para alguns solos brasileiros e determinar as funções de pedotransferências para esses solos em função das propriedades físicas. Os solos analisados estão localizados em diferentes estados brasileiros, como Bahia, Goiás, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, em um total de 572 amostras, Para a determinação da densidade, macroporosidade e microporosidade do solo, foram coletadas amostras com estrutura preservada em anéis metálicos com 5,36 cm de diâmetro e 3 cm de altura, em profundidades que variaram de: 0 a 10, 10 a 30 e 30 a 60 cm. Para a determinação do potencial matricial do solo (MPa), utilizou-se um psicrômetro de termopar (WP4 Dewpoint potentiaMeter), para os potenciais de -1500 e -500 KPa, conforme Decagon (2000) e na câmara de Richards para os potencias de -6, -33 e -100 kPa. Os dados foram submetidos à análise estatística, através do pacote SAS, Fez-se análise de correlação simples, observando-se parâmetros como argila, areia, silte, densidade e porosidade, Após realizou-se análise de regressão múltipla com opção de seleção das variáveis “stepwise”, envolvendo-se todas as propriedades do solo avaliadas e constantes na Tabela 1 ou apenas dados texturais e de densidades do solo. 1 Acadêmica de Agronomia, Bolsista do Laboratório de Solos, UFSM. email: [email protected]. Acadêmica de Agronomia, Bolsista FAPERGS no Laboratório de Física de Solos, UFSM. 3 Agrônomo, PhD, Professor Titular do Departamento de Solos, UFSM. 4 Agrônomo, PhD, Professor Titular do Departamento de Engenharia Rural, UFSM. 5 Acadêmico de Agronomia, UFSM. 6 Engº Agrícola, M.S., Prof. Depto. Ciências Agrárias, CAVG/UFPEL, Doutorando em Ciências do Solo, UFSM. 2 A correlação da granulometria dos solos com a retenção de água no solo é alta para o conjunto de dados estudados, sendo negativa para as areias, areia/argila e silte/argila e positiva para silte e argila, Observa-se que a areia total apresenta maior associação com a retenção de água, sendo seguida pelo teor de argila, A associação da densidade do solo com a retenção de água a correlação foi negativa, indicando maior retenção de água em solos menos densos. TABELA 1 – Matriz de correlação entre retenção de água a distintos propriedades do solo. Propriedades θ6 θ 33 θ 100 1 θ6 0,9533 1 θ 33 0,9476 0,9861 1 θ 100 0,8147 0,8213 0,8266 θ 500 0,8398 0,8462 0,8543 θ 1500 -0,7466 -0,7163 -0,7292 Areia -0,5768 -0,5402 -0,5407 Areia fina -0,7532 -0,7282 -0,5471 Areia grossa 0,2266 0,2614 0,2514 Silte 0,6886 0,6651 0,6823 Argila -0,6832 -0,6577 -0,6671 Areia/Argila -0,3534 -0,3322 -0,3544 Silte/Argila 0,4316 0,3074 0,2785 Porosidade total 0,9225 0,8673 0,8643 Microporosidade -0,4326 -0,5085 -0,5354 Macroporosidade -0,4316 -0,3074 -0,2785 Densidade do solo potenciais matriciais e θ 500 θ 1500 1 0,9438 -0,6663 -0,4992 -0,6783 0,2288 0,6219 -0,5873 -0,3449 0,2637 0,7239 -0,4030 -0,2637 1 -0,7401 -0,5804 -0,7431 0,2497 0,7038 -0,6530 -0,3959 0,2880 0,7549 -0,4225 -0,2830 Todas as correlações são altamente significativas (P<0,0001). As equações obtidas da análise de regressão, usando o método de seleção das variáveis por “stepwise”, indicam que os atributos areia, porosidade total e microporosidade foram melhores estimadores da retenção de água (Tabela 2). Com a inserção somente dos dados de textura e densidade do solo, observa-se que os melhores estimadores foram a areia e areia/argila (Tabela 3), mas co R2 inferior. A capacidade preditiva das equações também pode ser aferida visualmente comparando os dados estimados com os dados de curvas obtidas, em um gráfico 1:1 (Figura 1), obtido com as equações da Tabela 4. Observa-se que as funções de pedotransfêrencia para a estimativa da umidade do solo retida aos potencias -6 kPa, -33 kPa, -100 kPa, -500 kPa, -1500 kPa, apresentaram boa relação dos valores estimados aos observados (Figura 1), sem tendência clara de sub ou superestimação em determinados valores de umidade. TABELA 3 - Equações lineares múltiplas para estimar a retenção de água no solo a distintos potenciais matriciais, empregando todas as variáveis da Tabela 1. Pot θ6 θ 33 θ 100 θ 500 θ 1500 Inter. 0,066 0,073 0,112 0,126 0,123 Areia Arg 0,000294 0,000415 -0,00055 -0,00094 -0,00108 Ar/arg -0,0049 -0,0060 -0,0059 Sil/Arg Pt -0,00058 -0,00215 -0,00277 -0,00183 -0,00171 -0,0141 -0,0204 Micro 0,00917 0,00973 0,00995 0,00667 0,05710 R2 0,86 0,79 0,80 0,60 0,67 TABELA 4 - Equações lineares múltiplas para estimar a retenção de água no solo a distintos potenciais matriciais, incluindo somente dados de textura e densidade do solo. Pot θ6 θ33 θ100 θ500 θ1500 Inter. 0,513 0,412 0,360 0,312 0,246 Areia -0,00153 -0,00169 -0,00189 -0,00172 -0,00174 Silte Ar/Arg -0,00757 -0,00885 -0,00943 -0,00447 0,000069 Sil/arg Ds -0,0470 0,0284 -0,0402 0,0190 0.6 0.6 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 33 kPa Umidade volumetrica (cm-3cm-3) estimada 6 kPa Umidade volumetrica (cm-3cm-3) estimada Umidade volumetrica (cm-3cm-3) estimada 0.5 0.4 0.2 0.1 100 kPa 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 Umidade volumetrica (cm-3cm-3) observada 0.5 0 0.6 0 0.6 0.1 0.2 0.3 0.4 Umidade volumetrica (cm-3cm-3) observada 0.5 0.6 0 0.1 0.2 0.3 0.4 Umidade volumetrica (cm-3cm-3) observada 0.6 0.5 0.5 Umidade volumetrica (cm-3cm-3) estimada 500 kPa Umidade volumetrica cm-3cm-3) estimada R2 0,54 0,50 0,53 0,45 0,55 0.4 0.3 0.2 0.1 1500 kPa 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 Umidade volumetrica (cm-3cm-3) observada 0.5 0.6 0 0.1 0.2 0.3 0.4 Umidade volumetrica (cm-3cm-3) observada 0.5 0.6 Figura 1. Umidade volumétrica estimada versus a observada em distintos potenciais matriciais do solo, usando a equação da Tabela 4. 0.5 0.6 Referência Bibliográfica DECAGON DEVICES, INC. Operator’s manual version 1.3 WP4 dew point-meter, USA: Decagon Devices, 2000. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos. Manual de Métodos de Análise de Solos. Rio de Janeiro, 1979. HILLEL, D. Environmental soil physics. Massachusetts, USA, 1998. OLIVEIRA, L,B. Determinação da macro e microporosidade pela mesa de tensão em amostras de solo com estrutura indeformadas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.3, p. 197-200, 1968. PACHEPSKY, Y.; RAWLS, W. Accuracy and reliability of pedotransfer functions as affected by grouping soils. Soil. Soc. Am.J. 63: 1748-1757. USA, 1999.