menu ICTR20 04 | menu inic ial ICTR 2004 – CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Costão do Santinho – Florianópolis – Santa Catarina OTIMIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO PARA RECUPERAÇÃO DO MERCÚRIO DO AMÁLGAMA DENTÁRIO Flávia Godoy Iano Ovídio S. Sobrinho Marlus Alves Pereira Thelma L. Silva Jesus D. Pécora José M. Granjeiro PRÓXIMA Realização: ICTR – Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável NISAM - USP – Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP menu ICTR20 04 | menu inic ial OTIMIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO PARA RECUPERAÇÃO DO MERCÚRIO DO AMÁLGAMA DENTÁRIO Flávia Godoy Iano1; Ovídio S. Sobrinho2;Marlus Alves Pereira 3; Thelma L. Silva4, Jesus D. Pécora5; José M. Granjeiro6 1. RESUMO As alternativas para recuperação e reciclagem de resíduos na área odontológica têm se desenvolvido rapidamente no ambiente universitário. No Laboratório de Resíduos Químicos (LRQ) do Campus da USP em Bauru foi implementando um projeto de recuperação de resíduos de amálgama dentário, originário das clínicas da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) e do Hospital de Anomalias Craniofaciais (HRAC). O amálgama é constituído, aproximadamente, de mercúrio (50%), prata (30%) e outros metais. A metodologia utilizada é uma adaptação daquela proposta por Pécora em 1998, e baseia-se na utilização de mantas de aquecimento envolvendo o frasco Kjedahl e inserção de um sistema de segurança para o aprisionamento de vapor de mercúrio em cristais de enxofre. As duas mantas, com capacidade para 500mL e temperatura no ninho ao redor de 400ºC, foram colocadas de forma a cobrir o Kjedahl. Todo o processamento é feito em capela com exaustão. Este protocolo permitiu a redução do tempo de processamento em cerca de 10 vezes (240-300 minutos para 30 minutos) e permite a recuperação de até 96% do mercúrio presente no amálgama. O processo atenuou também a exposição do técnico aos riscos físicos, químicos e ergonômicos que a metodologia original proporcionava, bem como proporcionou melhoria ambiental e economia de recursos energéticos necessários para execução do processo modificado, substituindo uma fonte energética finita, orgânica fóssil, por uma fonte elétrica ambientalmente mais adequada. Concluímos que as modificações implementadas resultaram em significativa melhoria do procedimento para recuperação do mercúrio do amálgama. Palavras Chaves: Resíduo químico, Amálgama, Mercúrio, lmpacto ambiental. 1 Aluna de Graduação Farmácia-Bioquímica (UNIP-Campus Bauru); Bolsista de Iniciação Científica – Depto Ciências Biológicas/Bioquímica - FOB-USP 2 Químico; Técnico em Laboratório – Depto Ciências Biológicas/Bioquímica - FOB-USP 3 Educador Ambiental - Depto Ciências Biológicas/Bioquímica - FOB-USP 4 Doutoranda em Biologia Funcional e Molecular – Técnica Especialista em Laboratório – Depto Ciências Biológicas/Bioquímica - FOB-USP 5 Professor Titular - Depto de Odontologia Restauradora/Endodontia - Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - USP 6 Professor Associado - Depto Ciências Biológicas/Bioquímica - FOB-USP 2815 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial 2. INTRODUÇÃO De um modo geral a atividade humana sempre gerou alguma forma de resíduo, alguns deles nocivos ao meio ambiente e, por conseguinte, ao próprio homem. Entretanto, alguns fatores, dentre os quais podem-se destacar aqueles relacionados ao crescimento populacional e desenvolvimento industrial, acentuaram notavelmente a geração de resíduos no mundo (BENDASSOLLI, 2003). Nas últimas décadas tornou-se evidente a necessidade de se tomar providências para o controle da emissão de resíduos, evitando que os recursos naturais como água, solo e ar tornem-se ainda mais degradados. Os efeitos desta geração indiscriminada que atingem também o homem têm levado a sociedade à maior conscientização do real perigo para a sua subsistência (BENDASSOLLI, 2003). Diversas instituições, inclusive as Universidades, vêm buscando gerenciar e tratar seus resíduos de forma a diminuir o impacto causado ao meio ambiente, criando também um novo hábito: a consciência profissional e o senso crítico dos alunos, funcionários e professores (AFONSO, 2003). Os impactos causados no ambiente hoje estão previstos em leis rígidas e convergem para a adequação de procedimentos que preservem a vida de forma geral (MALTHUS, 1982). É importante salientar que uma das mais recentes leis que trata do tema Política Ambiental, diz respeito aos crimes cometidos contra o meio ambiente – Lei de Crimes Ambientais – 9.605 de 12/02/98, incutindo ao causador do dano as sanções civis e penais através de um processo em cascata, desde o causador até o responsável pelo empreendimento ou entidade constituída, conforme os artigos 2o. e 3o. das disposições gerais da lei. Nas clínicas odontológicas privadas e nas instituições de atendimento ou de ensino, o amálgama é um resíduo sólido importante e significativo; composto de metais pesados, tais como mercúrio (50-55%), prata (32,5-37%), estanho (1214,5%), cobre (0-3%) e zinco (0-1%). Dentre estes metais o mercúrio, metal líquido e pesado, é tido como o mais perigoso, pois tem ponto de fusão de 38,6 oC e ponto de ebulição de 356,9 oC e, mesmo na temperatura ambiente, volatiliza vapores tóxicos, atingindo vegetais e animais (LEITE, 1996; SAQUY, 1997) e oferecendo altos riscos de contaminação durante o seu manuseio, uma vez que a principal via de penetração desse metal no organismo é a via respiratória (GLINA; ANDRADE; SATUT, 1998). Os profissionais da equipe de saúde bucal estão diariamente expostos ao mercúrio e aos riscos de contaminação, que pode ocorrer através da manipulação do amálgama, de gotas do metal derramadas acidentalmente, da remoção do excesso de mercúrio da massa de amálgama, de amalgamadores com vazamento, de condensadores ultra-sônicos, de falhas do sistema de sucção quando da remoção de restaurações antigas (SAQUY, 1996), ou ainda dos vapores emanados das “sobras” de amálgama armazenado inadequadamente nos consultórios (RUPP; PAFFENBARGER, 1971). O amálgama foi introduzido na odontologia moderna por TAVEAU (1876), que utilizava uma “pasta prateada”, constituída pela simples combinação de prata e mercúrio, em restaurações dentárias permanentes. Devido às dificuldades encontradas para a obtenção de prata purificada, o autor passou a misturar o mercúrio com a limalha de moedas, as quais continham prata e outros metais em sua composição, para a obtenção da pasta. Apesar de intensa controvérsia (STOCK, 1926; WANNAG e SKJAERASEN, 2816 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial 1975; LARINI e SALGADO, 1981; VIMY; TAKAHASH e LORSCHEIDER, 1990) DODES (2001), sabe-se que muitas doenças têm como causa a contaminação por mercúrio (WINDHOLZ et al 1983; SAQUY et al., 1997). O efeito do mercúrio na cavidade bucal pode provocar o sangramento gengival, a perda do osso alveolar, a perda dos dentes, o excesso de salivação, o mau hálito, gosto metálico, leucoplasias, estomatites e pigmentação nos tecidos. Contudo, um problema muito grave é o destino da sobra de amálgama ou daquele removido de restaurações antigas. É fato notório que o destino final deste resíduo é o lixo comum, em confronto direto com a legislação ambiental vigente. JOSELOW (1968) pesquisando 50 consultórios dentários encontrou, em 14% destes, concentrações de mercúrio no ar acima dos limites de tolerância estabelecidos. WILSON e WILSON (1982) avaliaram, pela espectrofotometria de absorção atômica, o vapor de mercúrio emanado durante a trituração do amálgama e após a abertura da cápsula, em diversos modelos de amalgamadores mecânicos. Concluíram que o vazamento de vapores durante a trituração com cápsula é muito pequeno, enquanto que, após a abertura da cápsula, os níveis de vapores ficaram em níveis bastante aceitáveis. Contudo, NASCIMENTO et al. (1991) testaram a perda de mercúrio ocorrida durante a trituração mecânica do amálgama em diferentes cápsulas e concluíram que nenhuma delas pôde ser considerada hermética. SAQUY & PÉCORA (1996) ressaltam que alguns cuidados devem ser tomados, tais como: a) evitar derrame de mercúrio no piso e nos móveis do consultório; b) manipulação com mão enluvada, uso de máscara e de óculos; c) consultório dotado de alta exaustão; d) reduzir a relação mercúrio/limalha; e) não utilizar amalgamadores com fuga de mercúrio; f) não utilizar condensadores automáticos; g) evitar falha no sistema de alta sucção do consultório. h) uso de alta sucção durante a remoção de uma restauração e utilizar brocas novas e água gelada para este procedimento VALENZUELA (1985) propôs um método para reciclagem do mercúrio presente nos resíduos de amálgama dos consultórios odontológicos. O método consistia em aquecimento dos resíduos de amálgama a 650ºC, produzindo assim a evaporação do mercúrio, que se condensava em outro recipiente, mediante um sistema de refrigeração. Esse mercúrio continha altos graus de impurezas e elementos orgânicos, que depois foram removidos através de lavagem do mercúrio em solução de ácido nítrico a 1% e em soluções de cianureto de potássio e peróxido de sódio a 1%, diluídos em água destilada. Em seguida, ele era submetido à secagem e destilado, resultando em um mercúrio com cerca de 99% de pureza. Em 1998, Pécora et al., propuseram uma metodologia simples e acessível para a recuperação do mercúrio e prata do amálgama utilizando a destilação fracionada do mercúrio e a extração da prata em ácido nítrico concentrado. MAGRO et al (1994) e ELIAZUR BENITEZ et al (1995) salientaram a importância dos resíduos de amálgama odontológico nos consultórios e aconselharam a colocação dos resíduos em recipientes inquebráveis e hermeticamente fechados. MAGRO et al (1994) recomendavam a colocação de solução fixadora sobre os resíduos e ELIAZUR BENITEZ et al (1995) recomendavam a utilização de água. Hoje se sabe que nem a água e nem a solução fixadora impedem a passagem do vapor de mercúrio. Em 1996, SAQUY comparou a eficácia de diversas substâncias na retenção da emissão de vapores de mercúrio, originários dos resíduos de amálgama. Concluiu que a mais eficaz é a solução fixadora de radiografias, que foi capaz de reter a emissão dos vapores por 17 dias, 2817 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial seguida pela água, que reteve durante 14 dias. Engajada no processo de conscientização e reestruturação, a USP vem estimulando e implantando programas de gestão ambiental, a exemplo do programa USP Recicla que se tornou uma alternativa comprovadamente eficaz. Através de um processo educativo o programa utiliza-se da filosofia dos 3 R’s – reduzir, reutilizar e reciclar, onde é feita a gestão dos resíduos sólidos gerados (papel, plásticos, vidros, metais e orgânicos) os quais são encaminhados para reutilização e reciclagem. A Faculdade de Odontologia de Bauru, ciente de seu papel neste processo, implantou o Laboratório de Resíduos Químicos – LRQ que trata alguns resíduos químicos perigosos, dentre eles o amálgama. OBJETIVO Imbuídos do espírito de preservação ambiental e de melhoria nos processos do Campus, objetivamos com este trabalho, elaborar um programa de gerenciamento dos resíduos especiais das FOB/USP e do HRAC, estabelecer procedimentos para o controle e a gestão ambiental dos resíduos de amálgama, minimizando os riscos à saúde dos seres vivos. Os objetivos específicos são: Mapear as áreas geradoras de resíduos de amálgama na FOB/USP; Elaborar o Plano de Gestão que envolva, além do mapeamento e controle da geração dos resíduos, sua recuperação e regresso ao setor produtivo (laboratórios e empresas); Recuperação do mercúrio à partir do amálgama em até 96%; Atender à Legislação Ambiental vigente. 3. MATERIAL E MÉTODO MATERIAL O material deste trabalho é o resíduo de amálgama dentário produzido na clínica odontológica da FOB/USP e do HRAC. O mapeamento inicial elaborado nas clínicas identificou uma produção aproximadamente 1.200 cápsulas/mês. MÉTODO Recuperação do mercúrio de amálgama O processo de recuperação do mercúrio dos resíduos do amálgama será feito através da técnica de destilação a vácuo, tratando-se de uma adaptação da metodologia proposta por Pécora (1998) e implantada na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, USP no Laboratório de Resíduos Odontológicos (LAGRO) com apoio da FAPESP. O sistema (Figura 1) é composto por um frasco Kjedahl (500mL) com abertura esmerilhada, levado à temperatura de aproximadamente 400OC (com auxílio de mantas térmicas) ligado através de um conector com as juntas esmerilhadas a um kitassato. Para evitar a contaminação do ambiente de trabalho, há um sistema de segurança composto por recipiente contendo ácido nítrico e uma bomba de exaustão, protegida por um filtro com enxofre, ambos conectados por mangueiras; todo o processamento é feito em capela de exaustão. Após a destilação do mercúrio onde se obtém o resíduo 2 (composto principalmente por prata); o mercúrio recuperado é bi-destilado para aumentar a pureza. 2818 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial 6 1 2 4 5 3 Figura 1 – Sistema para recuperação do mercúrio do amálgama: O processo de destilação é iniciado quando o frasco Kjedahl (1) contendo o amálgama é aquecido pelas mantas (2) até cerca de 400ºC, destilando o mercúrio que é coletado no kitassato (3) mantido em banho de gelo (facilitando a condensação do mercúrio). O sistema está conectado a outro kitassato contendo HNO3 1% (4) para a retenção de possíveis vapores de mercúrio que não tenha condensado em (3). A baixa pressão no sistema é mantido por uma bomba de vácuo (5) cuja saída é protegida por um filtro contendo enxofre (6) eliminado o risco de contaminação do meio ambiente. Destino do Mercúrio e do Resíduo Sólido do Amálgama O mercúrio recuperado será devolvido ao setor produtivo pelo Departamento Financeiro da FOB-USP, sendo os proventos recebido revertidos ao LRQ para custeio parcial do sistema. O resíduo sólido será encaminhado ao LAGRO (Laboratório de Gerenciamento de Resíduos Odontológicos – Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – USP), sendo que o mesmo possui recursos financeiros (FAPESP, proc. 01/01065-1), humanos e infra-estrutura para a recuperação final. Os recursos provenientes da venda dos metais recuperados serão utilizados para custeio do processo realizado pelo LAGRO. 4. RESULTADOS O mapeamento das áreas geradoras de amálgama na FOB e no HRAC (Tabela 1) evidenciam que as principais área geradoras localizam-se nas clínicas de atendimento aos pacientes das diversas especialidades, em particular as localizadas na FOB, além do laboratório de Materiais Dentários da FOB. Ao longo de 10 meses 2 Kg de resíduos de amálgama foram coletados e enviados ao LRQ (Tabela 2). Destes, foi possível recuperar, em média, 879,5 g de mercúrio com uma eficiência média de cerca de 90%. O rendimento mínimo obtido foi de 82,9% contra o máximo de 92,3%. Utilizando mantas semi-esféricas conseguiu-se um rendimento de 86,6% em 10 min, mas dificuldades no ajuste do sistema resultou na destruição da vidraria. A redestilação do mercúrio apresentou rendimento médio de 96,1%, mas consumia, em média, 83 min (Tabela 3). 2819 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial Tabela I – Mapeamento das áreas geradoras de amálgama no Campus da USP em Bauru Área Geradora Unidade Clínica de Prótese FOB Clínica de Dentística FOB e HRAC Clínica de Periodontia FOB Clínica de Odontopediatria FOB e HRAC Clínica de Saúde Coletiva (Área de Campo) FOB Clínica da Pós-Graduação FOB Urgência Odontológica FOB Laboratório de Materiais Dentários FOB Tabela II. Rendimento do processo para recuperação do mercúrio do amálgama Hg Massa Resíduo Tempo de % recuperação Amostra recuperado (g) Sólido (g) processo (min) Hg* (g) 1 200,0 82,9 111,8 36 82,9 2 200,0 84,4 103,4 33 84,4 3 200,0 84,0 105,8 28 84,0 4 200,0 86,3 109,9 35 86,3 5 150,0 69,2 79,4 42 92,3 6 150,0 68,8 77,0 33 91,7 7 150,0 68,2 76,7 31 91,0 8 150,0 65,2 69,8 31 86,9 9 100,0 44,8 47,4 20 89,7 10 150,0 65,0 82,0 10 86,6 11 200,0 91,4 102,3 35 91,1 12 150,0 69,2 116,5 35 92,2 Total: 2000,0 879,5 1081,0 31 88,3 * Estimando-se que o mercúrio representa 50% da massa total de amálgama Tabela III: Rendimento da redestilação do mercúrio do amálgama Hg Massa Resíduo Tempo de % recuperação Amostra recuperado (g) Sólido (g) processo (min) Hg (g) 1 200,0 171,1 28,9 120 85,5 2 215,0 214,8 0,2 90 99,9 3 211,0 209,5 1,5 60 99,3 4 126,5 124,1 2,4 75 98,1 5 127,0 126,0 1,1 70 99,2 Total: 879,5 845,4 34,1 83 96,1 2820 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial 5. DISCUSSÃO O mercúrio, como outros metais pesados, pode provocar graves efeitos no meio ambiente em função de sua bioacumulação e biotransformação em metilmercúrio, sua forma mais tóxica (BOYD et al., 2000). A contaminação de algas e plantas, base da cadeia alimentar, resulta no acúmulo em organismos superiores, definido como bioamplificação, com graves seqüelas como ataxia, disartria, parestesia, constrição do campo visual e perda da audição. A contaminação severa pode causar cegueira, coma e morte (BAKIR et al., 1973). O mercúrio é reconhecidamente teratogênico e genotóxico. É inegável a importância do controle dos resíduos de mercúrio. Na odontologia, o amálgama continua sendo intensamente utilizado e instituições de ensino e clínicas, os quais devem prover destinação correta a fim de evitar a contaminação ambiental. VALENZUELA (1985) utilizando a técnica de aquecimento do amálgama até 650ºC para remoção do mercúrio e em seguida para purificação, o mesmo é tratado com soluções de ácido nítrico 1%, cianureto de potássio e peróxido de sódio 1%. Gerando com isso novos resíduos, dentre eles o cianureto de potássio, extremamente venenoso. PÉCORA (1998) aperfeiçoou esse procedimento, adotando a técnica de destilação a vácuo para a remoção do mercúrio, na qual obtém o mercúrio sem a utilização de reagentes tóxicos, como cianureto, evitando assim a geração de mais resíduos. O aquecimento do sistema era produzido por meio de maçarico e a técnica demandava um período de 4 a 5 horas de processamento. A substituição deste sistema por mantas de aquecimento foi vantajosa por acelerar a destilação em cerca de 10 vezes; além de diminuir os riscos de acidentes. É importante considerar que a comercialização do mercúrio recuperado não é suficiente para cobrir os custos do processo de recuperação, entretato, como descrito por CALDERONI (1997), os custos econômicos e ambientais evitados pelos processos de recuperação de resíduos referem-se à diminuição da necessidade de aquisição de matérias primas e, também, do descarte dos resíduos gerados, resultando em redução do impacto ambiental. Uma vez que o amálgama continua sendo muito usado na odontologia, seu descarte deve ocorrer de maneira adequada, utilizando centros de recuperação de mercúrio e prata como o LAGRO e o LRQ de Bauru, a fim de evitar o dano ambiental e a possível pena com severas multas de crime ambiental, ou até, com o fechamento de clínicas odontológicas. Parece claro que, ainda, falta o desenvolvimento da consciência ambiental e o compromisso com seus preceitos. Porém, é preciso viabilizar o programa de forma simples e eficaz. Alguns aspectos importantes precisam ser discutidos, como o acondicionamento dos resíduos de amálgama em frascos adequados e a baixas temperaturas (geladeira ou freezer), minimizando o risco de volatilização do mercúrio. Estudos sugeriram que o meio mais eficaz para se armazenar amálgama, retendo os vapores de mercúrio, seria glicerina (FORTES, 2000), mas SAQUY (1996) verificou que a solução fixadora de radiografia, seguido de água, seriam mais eficientes. Contudo, tanto a glicerina quanto a solução fixadora de radiografia, somariam mais resíduos. Em função da baixa eficiência da água devemos avaliar outras possibilidades como o congelamento do resíduo para minimizar a formação do vapor de mercúrio. 2821 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial 6. CONCLUSÃO Concluímos que as modificações atenuaram a exposição dos manipuladores aos riscos físicos, químicos e ergonômicos que a metodologia original proporcionava. Tendo também uma melhoria ambiental e economia de recursos energéticos, substituindo uma fonte energética finita, orgânica fóssil, por uma fonte elétrica ambientalmente mais adequada. Resultando em significativa melhoria do procedimento para recuperação do mercúrio do amálgama odontológico. 7. REFERÊNCIAS 1. BENDASSOLLI, J. A.; MÁXIMO, E.; TAVARES, G. A.; IGNOTO, R.F. Gerenciamento de Resíduos Químicos e Águas Servidas no Laboratório de Isótopos Estáveis do CENA/USP. Química Nova, v. 26, n. 4, p. 612-617, julago. 2003. 2. AFONSO, J.C.; NORONHA, L. A.; FELIPE, R. P.; FREIDINGER, N. Gerenciamento de resíduos laboratoriais: Recuperação de elementos e preparo para descarte final. Química Nova, v. 26, n. 4, p. 602-611, jul-ago. 2003. 3. MALTHUS, T. R. Economia. São Paulo: Ática, 1982. 4. LEITE, J.Y.P. Uma rota tecnológica para recuperação e reciclagem do amálgama oriundo de gabinetes odontológicos. In: CONGRESSO DA ABM, 51, Porto Alegre, 1996. Anais. Porto Alegre, ABM, 1996. 5. SAQUY, P.C. 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Disponível em: http://www.amalgam.ukgo.com/amalgm21.htm Acesso em 30 abril 2004. 10. STOCK, A. Die Gefahrlichkeit des quecksilberdampfes. Z. Angew. Chem., v.39, p.461-488, 1926. 11. WANNAG, A.; SKJAERASEN, J. Mercury accumulation in placenta and fetal membranes. A study of dental workers and their babies. Envirom. Physiol. Biochem., v. 5, n. 5, p. 348-352, 1975. 12. LARINI, L; SALGADO, P. E. T. Exposição de cirurgiões-dentistas ao mercúrio. Rev. Cienc. Farm. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 41-46, 1981. 2822 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial 13. VIMY, M. J.; TAKAHASH, Y.; LORSCHEIDER, F. L. Material fetal distribution of mercury (203 Hg) released from dental amalgam filling. Am. J. Physiol., v. 258, n. 4, p. 939-945, 1990. 14. DODES, J. E. The amalgam controversy. An evidence-based analysis. J. Am. Dent. Assoc., v. 132, n. 3, p. 348-356, 2001. 15. WINDHOLZ, M.; BUDAVARI, S.; BLUMETTI, R.F.; OTTERBEIN, E.S. Merck index . 10. ed. New Jersey: Merck & Co., 1983: 842. 16. 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Amálgama dental: estudo in vitro da liberação de mercúrio através de espectrofotometria de absorção atômica, em função do tipo de ligas, polimento e tempo. Rev. Odontol. Univ. São Paulo, v. 9, n. 1, p. 39-43, 1995. 23. PÉCORA, J.D. Reciclaje de los resíduos de amálgama dental mediante recuperación de mercurio y plata. Revista Fola/Oral, São Paulo, v.4, n.14, p 234-237, 1998. 24. BOYD, SA; SEGER, D; VANNUCCI, S; LANGLEY, M; ABRAHAM,J L e KING JR. LE - Mercury Exposure and Cutaneous Disease. Journal of the American Academy of Dermatology, v.43, n.1, p.81-90, 2000. 25. BAKIR, F, DAMLUJI, S.F., AMIN-ZAKI, L, MURTADHA, M, KHALIDI, A, ALRAWI, N.Y., TIKRITI, S, DAHAHIR, H.I., CLARKSON, T.W., SMITH, J.C., DOHERTY, R.A. Methylmercury Poisoning in Iraq. Science, v.181, n.96, p.230-241, 1973. 26. CALDERONI, S. Os Bilhões perdidos no lixo. São Paulo: Humanitas Editora/ FFLCH/USP, 1997. 27. FORTES, C. B. B.; WERNER, S. M.. Avaliação de meios para armazenagem de resíduos de amálgama de prata. Revista Faculdade de Odontologia Porto Alegre, v.40, n.2; p.36-40, jan.2000. 2823 anter ior próxima ABSTRACT: The alternatives for chemical residues recovery and recycling in the field of Dentistry have been developed quickly at the university environment. The Laboratory of Chemical Residues (LRQ) at USP Campus in Bauru implemented a protocol to recovery mercury from dental amalgam produced in the dental clinics and laboratories of Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) and Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC). Dental amalgam contains, approximately, mercury (50%), silver (30-40%) and other metals. LRQ methodology is an adaptation of a system proposed by Pécora in 1998. Kjedahl bottle, heated to 400ºC, was connected to a system of two erlenmeyers, the first one to receive the liquid mercury and the second with HNO3 1% to retain vapour of mercury. All the system is under negative pressure by the action of a pump connected to a recipient containing solid yellow sulfur. All the processing is conducted in an exhaustion hood. This protocol allowed 10-fold reduction in the original processing time (240-300 minutes for 30 minutes) with 96% mercury recovery. It also attenuated the exposition of the technician to the physical, chemical and ergonomic. Also, improved the ambient quality and reduced costs by changing an organic source of energy to electric energy. We conclude that the implemented modifications had resulted in significant improvement of the mercury recovery from amalgam. KEY- WORDS: dental amalgam; mercury; occupational health; toxicology 2824