ANAIS
MÉTODO DAS UNIDADES DE ESFORÇO DE PRODUÇÃO: UM
LEVANTAMENTO DAS FINALIDADES DE SEUS ESTUDOS DE CASO
FÁBIO WALTER ( [email protected] , [email protected] )
UFPB - Universidade Federal da Paraíba
KLIVER LAMARTINE ALVES CONFESSOR ( [email protected] )
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco
SIDNEI VIEIRA MARINHO ( [email protected] )
UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí
RESUMO
O método das Unidades de Esforço de Produção é indicado como útil para auxiliar as
empresas manufatureiras no custeio e gerenciamento de produção. O objetivo deste trabalho é
identificar o perfil das aplicações deste método nos artigos publicados em eventos acadêmicos
brasileiros, com um foco especial no uso para o gerenciamento da produção. A investigação é
descritiva, fazendo uso de uma pesquisa bibliográfica por revisão sistemática de literatura.
Como principal resultado, destaca-se que as aplicações visam majoritariamente o custeio de
transformação, sendo que em apenas metade dos casos houve algum tipo de referência ao uso
para a gestão da produção. Ao final apresentam-se sugestões para trabalhos que procurem
compreender a pouca aplicação do método no gerenciamento da produção.
Palavras-chave: Unidades de Esforço de Produção, Método das UEPs, Gestão da Produção,
Gestão de Custos.
1. Introdução
Métodos de custeio são instrumentos aplicados para uma alocação mais justa dos
custos indiretos aos produtos, sendo objetos de profissionais e pesquisadores das áreas de
contabilidade gerencial, gerenciamento da produção e engenharia econômica.
Entre os mais conhecidos, pode-se citar o método dos Centros de Custos (RKW), o
Custeio baseado em Atividades (ABC), o Custeio por Absorção - que no âmbito da
Engenharia de Produção é tratado apenas como um “princípio” de custeio (BORNIA, 2010) e o Custo-Padrão, que é mais voltado ao controle dos custos. Outros métodos menos
disseminados são o (relativamente recente) Custeio baseado em Atividades e Tempo
(TDABC) (KAPLAN; JOHNSON, 2007) e o método das Unidades de Esforço de Produção
(UEPs) (ALLORA, 1985, ANTUNES JUNIOR, 1988, BORNIA, 1988, KLIEMANN NETO,
1994), este aparentemente aplicado apenas no Brasil.
O método das UEPs é uma evolução do método francês G.P., que foi trazido ao Brasil
pelo consultor Franz Allora nos anos 60 e aplicado em empresas catarinenses a partir da
década seguinte. Após análise e validação acadêmica por pesquisadores de Engenharia de
Produção da Universidade Federal de Santa Catarina nos anos 80, o método disseminou-se
pelo Sul brasileiro (BORNIA, 2010), onde ainda é mais conhecido.
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ANAIS
Este método é estruturado em torno de uma unidade de referência de produção, o que é
comum em outros métodos, como os franceses G.P. (PERRIN, 1963) e Unités de Valeur
Ajoutée (UVA) (FIEVEZ; KIEFFER; ZAYA, 1999) e o alemão Äquivallenzziffern (STEIN,
1907). Allora e Oliveira (2010) mencionam que o uso de uma unidade de medida abstrata
para quantificar a produção industrial é antigo, sendo que contribuições relevantes neste
sentido estão presentes em métodos como o americano Ponto Bedeaux, o russo Throud, o
francês Chrone, o americano Standard-Hour, a francesa Unité d´Equivalence, a alemã
Arbeitseinheit e a italiana Unitá-base (ALLORA; OLIVEIRA, 2010).
O método das UEPs tem como grande vantagem, em relação aos demais métodos de
custeio, a relativa simplicidade de mensuração dos custos de transformação dos produtos.
Como relevante diferencial está, contudo, a possibilidade de geração de diversos indicadores
para o controle e o planejamento da produção. Assim, além de informações relacionadas ao
custeio de produtos, o método das UEPs pode sustentar um sistema de indicadores
operacionais apoiado em uma unidade de referência: a UEP.
Contudo, enquanto o método das UEPs é conteúdo de livros-texto brasileiros sobre
gestão e contabilidade de custos (p. ex: BORNIA, 2010, DIEHL; SOUZA, 2010, MARTINS,
2010, RIBEIRO, 2011, WERNKE, 2008), não está presente em obras que tratam de
Administração da Produção (p. ex. ARAÚJO, 2009; CORRÊA; CORRÊA, 2012; FUSCO;
SACOMANO, 2007; MARTINS; LAUGENI, 2005; PENOF; MELO; LUDOVICO, 2013;
TUBINO, 2009, VENANZI; SILVA, 2013), o que parece indicar desinteresse ou
desconhecimento do método.
Na medida em que a produção acadêmica envolvendo o método das UEPs é mais
volumosa nos anais de eventos - especialmente o Congresso Brasileiro de Custos (CBC) e o
Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP) -, espera-se verificar, a partir de
uma análise destes artigos, se as aplicações do método têm explorado sua potencialidade para
a geração de indicadores para a gestão da produção.
O objetivo do presente trabalho, assim, é identificar o perfil das aplicações do método
das UEPs nos artigos publicados em eventos acadêmicos brasileiros. O estudo justifica-se
pela necessidade dos pesquisadores do método de compreender sua aplicabilidade real.
Confirmando-se a premissa de que o Método das UEPs não receba um destaque para outros
fins que não os de custeio, pode-se suscitar questionamentos sobre, por exemplo, sua real
adequação aos fins intencionados ou sobre as causas de sua pouca utilização.
2. O Método das UEPs
O método das Unidades de Esforço da Produção (UEPs) se apoia na lógica de
unificação da gestão da produção por meio de uma unidade comum: a própria UEP. Após
uma fase de implantação, em que se traduz o desempenho dos potenciais produtivos dos
postos operativos e o custo de transformação dos produtos em uma unidade comum - a UEP , o método pode ser aplicado para diversas finalidades na fase de operacionalização, como
atividades de custeio periódico e controle de desempenho da área produtiva. A seguir são
descritas as características básicas do método, assim como as possibilidades básicas de
aplicação do mesmo.
2.1 A Implantação do Método das UEPs
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O método das UEPs considera que os produtos “consomem” esforços de produção na
medida em que os postos produtivos agregam valor a eles (segundo o “Princípio do Valor
Agregado” - KLIEMANN NETO, 1994). Estes esforços de produção, medidos em UEPs,
convertem as matérias-primas em produtos acabados, por isto este método limita-se a tratar
apenas do “custo de transformação”, sendo que outros gastos, como aqueles com matériasprimas, despesas administrativas e outros gastos não-manufatureiros, devem ser mensurados à
parte (BORNIA, 1995).
O método é implantado a partir da definição dos “postos operativos” (POs) e do
cálculo do potencial de realização de esforços destes postos, o que é feito usualmente com
base no custo horário de operação. Os POs podem ser definidos em torno de máquinas, seus
agrupamentos, setores ou até mesmo operações manuais, desde que realizem operações
similares para os distintos produtos. Após a identificação dos POs, calculam-se seus custos
operacionais por unidade de tempo, denominados de “Foto-Índice do Posto Operativo”, ou
“FIPO”). Para este cálculo, somente devem ser considerados os custos que se diferenciam
entre os diversos postos operativos, permitindo uma melhor comparação do potencial dos
esforços de produção realizados por eles (“Princípio das Estratificações” - KLIEMANN
NETO, 1994).
A partir da definição de um valor monetário para a UEP (por exemplo: 1 UEP equivale
a R$ 5,00), adotado apenas na fase de implantação, convertem-se todos os custos para valores
em UEP e estes permanecem estáveis enquanto a estrutura produtiva se mantiver: o que muda
será o valor da UEP em cada período de mensuração.
A implantação do método será ilustrada a seguir por meio de um exemplo publicado
por Kliemann Neto (1994). Na Tabela 1 representa-se um exemplo de cálculo dos FotoÍndices dos Postos Operativos (FIPOs), os quais se referem ao custo horário de cada P.O..
Tabela 1 – Cálculo dos Foto-Índices dos Postos Operativos (“FIPOs”)
Postos Operativos ($ / h)
P.O. 1
Item de Custo
Mão de Obra Direta
5
Mão de Obra Indireta
4
Depreciação
10
Energia Elétrica
5
Manutenção
8
Utilidades
8
FIPO
40
Fonte: Kliemann Neto (1994, p. 18)
P.O. 2
10
3
20
15
10
2
60
P.O. 3
5
10
2
3
10
30
P.O. 4
3
10
7
5
5
20
50
Um requisito básico para a implantação do método das UEPs é a disponibilidade dos
roteiros de fabricação e dos tempos de passagem dos produtos pelos diversos POs (Tabela 2),
o que restringe o uso do método a empresas com produtos padronizados.
Tabela 2 – Tempos de passagem dos produtos pelos postos operativos
Tempos-Padrão (h / unidade)
Produto
A
B
C
D
P.O. 1
0,10
0,10
0,15
0,05
P.O. 2
0,10
0,05
0,05
3/15
P.O. 3
0,10
0,30
0,05
P.O. 4
0,20
0,30
0,07
ANAIS
Fonte: Kliemann Neto (1994, p. 18)
Calcula-se na sequencia o custo unitário (“foto-custo”) dos produtos nos diversos POs
a partir da multiplicação dos FIPOs pelo tempo-padrão de passagem de cada produto, como
representado na Tabela 3.
Tabela 3 – Cálculo do Foto-Custo dos produtos (em $ / unidade)
Foto-custos (FIPO * tempos-padrao)
P.O. 1
P.O. 2
Produto
A
4,00
6,00
B
4,00
3,00
C
6,00
D
2,00
3,00
Fonte: Kliemann Neto (1994, p. 18)
P.O. 3
3,00
9,00
1,50
P.O. 4
10,00
15,00
3,50
Total
20,00
10,00
30,00
10,00
É necessária agora a definição de um “produto-base”, cujo foto-custo total será
considerado o valor da UEP para a fase de implantação do método. Kliemann Neto (1994)
define que o produto-base deve amortecer eventuais variações de custos dos postos produtivos
ao longo do tempo, o que se procura fazer pela escolha de um produto que passe por todos os
postos operativos ou então por um “mix” de produtos que utilizem todos os postos operativos.
No exemplo apresentado na Tabela 3 o produto-base deve ser o “D”, então o valor de uma
UEP é (momentaneamente) igual a $ 10,00 e com base neste valor são calculados os custos
em UEP de cada produto (Tabela 4).
Tabela 4 – Cálculo do valor dos produtos em UEPs
Custo em $
Valor em UEPs
Produto
A
20,00
2
B
10,00
1
C
30,00
3
D
10,00
1
Fonte: Kliemann Neto (1994, p. 20)
A partir do FIPO de cada Posto Operativo (Tabela 3) e do valor da UEP deve-se
calcular também os “potenciais produtivos” dos postos operativos (Tabela 5), os quais
apresentam entre si uma estável relação ao longo do tempo, de acordo com o “Princípio das
Relações Constantes” (KLIEMANN NETO, 1994).
Tabela 5 – Cálculo dos potenciais produtivos dos postos operativos
P.O. 1
P.O. 2
P.O. 3
Postos Operativos
FIPO ($ / h)
40
60
30
Valor-base da UEP ($ / UEP)
10
10
10
Potenciais produtivos (UEP / h)
4
6
3
Fonte: Adaptado de Kliemann Neto (1994, p. 20)
P.O. 4
50
10
5
A lógica desenvolvida na implantação do método estabelece valores fixos para os
potenciais produtivos (UEP/h) e para o custo em UEPs de cada produto, que é a soma dos
“esforços de produção” absorvidos nos postos operativos. O potencial produtivo dos postos
operativos e o valor em UEP de cada produto permanecerão estáveis enquanto não houver
modificações nos postos operacionais e nos tempos de passagem dos produtos, independente
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ANAIS
de variações nos itens de custos considerados, inclusive em economias inflacionárias
(KLIEMANN NETO, 1994).
Cabe ressaltar que o “potencial produtivo” também é um indicador de capacidade de
produção, o qual sustentará as diversas possibilidades de aplicação do método das UEPs na
fase de operacionalização.
2.2 A Operacionalização do Método das UEPs
O método das UEPs permite diversas aplicações para a gestão operacional.
Inicialmente, pode-se calcular o custo de transformação dos produtos em um dado período, o
que é somente possível a partir da mensuração do total produzido (em UEPs) e dos custos
totais de transformação neste período, conforme o esquema representado na Figura 1.
Calcular o total de UEPs
produzidas em
determinado período
Dividir os custos totais de
transformação pelo total
de UEPs produzidas
Calcular custos por produto
de acordo com a respectiva
quantidade de UEPs
Figura 1 – Esquema básico do custeio pelo método das UEPs
A produção total (em UEPs) de uma manufatura é calculada a partir do total de UEPs
consumidos na fabricação de cada produto (ilustrada na Tabela 4) e das quantidades
produzidas no respectivo período. A Tabela 6 ilustra a mensuração da produção a partir de um
dado volume de produção para os dois meses comparados.
Tabela 6 – Cálculo da Produção Total em UEPs
Produção em setembro
Produção em outubro
Produto
Em unidades
Em UEPs
Em unidades
Em UEPs
A
100
200
100
200
B
200
200
180
180
C
300
900
350
1050
D
200
200
170
170
Total
800
1500
800
1600
Fonte: Kliemann Neto (1994, p. 22)
Valor em
UEPs
2
1
3
1
Observa-se que apesar do volume de produção em unidades físicas ter sido igual nos
meses de setembro e outubro, isso não permite concluir que a produção foi igual nestes
períodos, pois não se levou em consideração os esforços realizados pela manufatura. Já com a
mensuração em UEPs a quantidade produzida em cada mês pode ser comparada, indicando
que em outubro houve uma maior produção (1600 UEPs) do que em setembro (1500 UEPs).
Tem-se aqui uma aplicação do método para fins de controle de produção.
Conhecendo-se o custo total de transformação e o volume produzido em um respectivo
período pode-se obter o custo correspondente de cada UEP (Figura 2).
Valor da UEP ($ / UEP) = Custo total de transformação no período ($)
Produção total do período (em UEPs)
Figura 2 – Fórmula de Cálculo do Valor da UEPs
Fonte: Adaptado de Kliemann Neto (1994, p. 22)
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Caso os custos de transformação tenham sido de $ 30.000 e $ 32.800 nos meses de
setembro e outubro, respectivamente, os valores de cada UEP nestes meses serão de $ 20,00 e
$ 20,50, como apresentado na Tabela 7.
Tabela 7 – Cálculo da Produção Total em UEPs
Setembro
Outubro
Custos de
Produção em
Custo por
Custos de
Produção em
Transformação
UEPs
UEP
Transformação
UEPs
$ 30.000
1500
$ 32.800
1600
$ 20,00
Fonte: Adaptado de Kliemann Neto (1994, p. 22)
Custo por
UEP
$ 20,50
Sabendo-se dos valores da UEP, os custos monetários dos diversos produtos no
respectivo período podem ser calculados, como apresentado na Tabela 8.
Tabela 8 – Custo de transformação dos produtos
Valor em UEPs
Setembro ($ / un)
Outubro ($ / un)
Produto
A
2
40,00
41,00
B
1
20,00
20,50
C
3
60,00
61,50
D
1
20,00
20,50
Fonte: Adaptado de Kliemann Neto (1994, p. 22)
A disponibilidade de um indicador de referência para o custeio (a própria UEP) e outro
de capacidade (o “potencial produtivo”) possibilita a avaliação de diversas medidas de
desempenho baseadas nas UEPs. Indicadores de eficiência, eficácia e produtividade técnica
(Figura 3) podem ser facilmente calculados, em relação a postos operativos, seções produtivas
e/ou toda fábrica, conjugando outros dados operacionais, como ociosidade e produção
(KLIEMANN NETO, 1994).
Produção Real (em UEPS)
Eficiência = ________________________________
Capacidade máxima teórica (em UEPs)
Produção Real (em UEPS)
Eficácia = ____________________________
Nível de atividade real (em UEPs)
Produção Real (em UEPS)
Produtividade Técnica = _______________________
Total de horas trabalhadas
Figura 3 – Equações de medidas de desempenho com base em UEPs
Fonte: Kliemann Neto (1994, p. 16)
O método das UEPs possibilita então, por meio da unificação da produção, a sustentar
diversas tarefas do gerenciamento de produção, como, por exemplo, estudos para definição de
preços, comparação de processos, programação de produção, definição de capacidades de
produção, definição de indicadores de incentivo, etc. (ALLORA; OLIVEIRA, 2010;
KLIEMANN NETO, 1994), como ilustrado na Figura 4.
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ANAIS
VIABILIDADE DE
AQUISIÇÃO DE NOVOS
EQUIPAMENTOS
DEFINIÇÃO DO PREÇO
DOS PRODUTOS
MEDIDAS DE
DESEMPENHO
EFICÁCIA DAS
HORAS EXTRAS
COMPARAÇÃO DE
PREÇOS
POTENCIAIS
APLICAÇÕES
DO MÉTODO
DAS UEPs
PRÊMIOS DE
PRODUTIVIDADE
PROGRAMAÇÃO
DA PRODUÇÃO
MEDIÇÃO DA
PRODUÇÃO
ANÁLISE DE
VALORES
DEFINIÇÃO DE
MÁQUINAS E PESSOAL
CUSTEIO DA
PRODUÇÃO
DEFINIÇÃO DAS
CAPACIDADES DE
PRODUÇÃO
Figura 4 – Potenciais aplicações do método das UEPs
Fonte: Kliemann Neto (1994, p. 11)
2.3 Vantagens e Desvantagens do Método das UEPs
Conforme Bornia (2010), as vantagens mais marcantes do método das UEPs são (i) a
simplicidade de operacionalização, (ii) a geração de diversos índices físicos para mensuração
de desempenho e (iii) a adoção de uma linguagem comum (a UEP) para controle de
desempenho e outras funções da manufatura.
Deve-se compreender também as limitações do método, como por exemplo (i), que ele
“não fornece a parcela dos custos devida a desperdícios” (BORNIA, 2010, p. 153),
principalmente porque os postos operativos não consideram as operações auxiliares à
produção.
Outra limitação do método é (ii) o não reconhecimento das melhorias continuamente
realizadas no processo produtivo, assim, os potenciais produtivos e os tempos podem estar
continuamente se modificando, o que exigiria uma reavaliação permanente da relação entre os
postos operativos. Contudo, segundo Bornia (2010, p. 154), “pode ocorrer que, uma vez
atingido certo nível de excelência, as melhorias que modificam a estrutura de produção da
empresa tornam-se irrelevantes para efeitos práticos, sendo possível a convivência do método
da UEP com esse ambiente”.
Por último, (iii) deve-se destacar que o método das UEPs trata apenas dos custos de
transformação, necessitando-se outros métodos para lidar com outros custos e despesas
empresariais, o que é uma limitação deste instrumento, na medida em que custos indiretos e
despesas vêm aumento historicamente sua participação nos gastos organizacionais.
Pode-se também mencionar com limitação do método (iv) o seu uso apenas em
sistemas de manufatura com produção padronizada, ou seja, onde se tenha disponíveis os
7/15
ANAIS
roteiros de fabricação, assim como os tempos médios para produção de cada produto.
Processos de fabricação sob encomenda parecem assim inadequados para a implantação deste
método.
Considerando (i) as alternativas disponibilizadas pelo método das UEPs para auxiliar o
gerenciamento da produção, que (ii) o método é de origem da área de Engenharia de Produção
e que (iii) sua fundamentação não é recente (ex: ALLORA, 1985; ALLORA, 1988;
ALLORA; ALLORA, 1995, ANTUNES JUNIOR, 1988, BORNIA, 1988; GANTZELL;
ALLORA, 1996; IAROZINSKI NETO, 1989; KLIEMANN NETO, 1994; XAVIER, 1998)
seria natural se esperar que aplicações deste método para auxiliar a gestão de manufatura não
sejam raras. Contudo, uma pesquisa nos anais disponíveis on-line do SIMPOI - edições de
2002 a 2014 - encontrou apenas um estudo de caso sobre a aplicação do método e, mesmo
assim, tratava apenas da finalidade “custeio”, sem outros objetivos. Além disso, como
mencionado no capítulo 1 deste trabalho, o método não vem sendo objeto de livros-texto
brasileiros que tratem de gestão da produção, o que suscita um questionamento natural sobre o
grau de aplicação do método das UEPs, independente da finalidade.
3. Aspectos Metodológicos
3.1 Classificação
O presente estudo pode ser classificado, quanto ao seu objetivo, como descritivo.
Estudos descritivos “têm como objetivo primordial a descrição das características de
determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis” (GIL,
2008, p.28) e no presente trabalho procura-se traçar um perfil dos estudos de caso do método
das UEPs em eventos brasileiros.
Quanto à abordagem do problema, esta pesquisa é qualitativa, pois não busca
quantificar dados dos estudos de caso (o que a classificaria como quantitativa), mas
identificar um perfil dos estudos de caso coletados, especialmente no que se refere ao uso do
método das UEPs para o gerenciamento da produção.
3.2 Método de Pesquisa e Seleção da Amostra
Esta pesquisa utiliza como método a pesquisa bibliográfica, pois por meio desta “é
que tomamos conhecimento sobre a produção científica existente” (RAUPP; BEUREN, 2013,
p.86). Este método de pesquisa pode ser definido como um “estudo sistematizado
desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas
(...)” (VERGARA, 2009, p. 43), sendo que na presente investigação serão analisados artigos
publicados em anais de eventos acadêmicos brasileiros.
A revisão bibliográfica utilizou a abordagem da revisão sistemática de literatura
(RSL), a qual vem sendo de crescente uso na Engenharia de Produção (GOHR ET AL., 2013).
Diferentemente de uma revisão narrativa (tradicional) de literatura, a qual é extremamente
flexível, os procedimentos da RSL “apresentam a vantagem de desenvolverem um passo a
passo rigoroso, o que confere credibilidade à amostra dos materiais selecionados para a
pesquisa (GOHR ET AL., 2013, p. 6). A seleção dos trabalhos para a RSL adotada baseou-se
nos procedimentos adotados por Gohr et al. (2013) e Lacerda, Ensslin e Ensslin (2012).
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ANAIS
A primeira etapa da RSL foi a seleção do universo de pesquisa, que neste caso são
todos os anais disponíveis on-line dos eventos Congresso Brasileiro de Custos (CBC),
Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP); Simpósio de Administração da
Produção, Logística e Operações Internacionais (SIMPOI); Congresso da Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis (ANPCONT); Encontro da
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD) e
Congresso USP de Controladoria e Contabilidade. O universo envolveu então os anos de 1994
a 2013, com diferenças em relação ao ano de início. O Quadro 1 apresenta os anos para os
quais os eventos disponibilizam seus anais eletrônicos on-line.
Quadro 1 – Disponibilização de anais on-line
Evento
Período
SIMPOI
2002 – 2014
ENEGEP
1996 – 2014
CBC
1994 – 2014
EnANPAD
2005 – 2014
Congresso USP
2001 – 2014
Congresso ANPCont 2007 – 2014
Fonte: Dados da pesquisa.
Cabe ressaltar que o universo da pesquisa se limitou aos anais dos principais eventos
brasileiros na medida em que estes são os principais canais de divulgação de pesquisas sobre
o método das UEPs e, aparentemente, o número de publicações relacionadas em periódicos
não é representativa (uma busca com os descritores “unidade de esforço de produção” e
“unidades de esforço de produção” no portal de periódicos da CAPES resultou em apenas 5
artigos).
Na segunda etapa ocorreu a definição de quais descritores poderiam selecionar o maior
número de trabalhos que tratassem de aplicações do método das UEPs. Neste momento, a
estratégia definida foi de inicialmente selecionar trabalhos que mencionassem o método para,
posteriormente, filtrar os que tratassem de estudos de caso. Para tanto, foram utilizados três
diferentes descritores: “UEP”, “unidade de esforço de produção” e “unidades de esforço de
produção”. A busca foi executada de modo especifico para cada sítio de evento, visto que os
mecanismos de busca apresentaram variações quanto à existência de filtros. A delimitação da
revisão consistiu na identificação de trabalhos que contivessem em seu título, resumo e/ou
palavras-chaves os descritores, procedimento semelhante ao adotado por Liszbinski et al.
(2013).
Após a busca em cada sítio, realizou-se uma leitura dos artigos selecionados e
descartaram-se aqueles que não tratavam de estudos de caso, que continham o termo “UEP”
com outro sentido ou que representavam apenas relatos narrativos. Realizou-se o filtro final
dos trabalhos com base na sua leitura integral, a fim de verificar se contribuiriam com os
objetivos de pesquisa, descartando-se os que não estivessem alinhados com estes. Ao final,
restaram apenas 26 trabalhos alinhados com a temática deste trabalho. 19 da CBC, 6 do
ENEGEP, 1 do SIMPOI e nenhum do ENAnPAD, ANPCont e Congresso USP (Tabela 9).
A amostra selecionada indica que a grande maioria dos estudos de caso sobre o
método das UEPs é publicada nas edições do Congresso Brasileiro de Custos, que é um
evento frequentado principalmente por pesquisadores de Contabilidade, Administração e
Engenharia de Produção. De forma um tanto surpreendente, a ausência de trabalhos
selecionados nos anais do Congresso USP e ANPCont não parece condizer com a função do
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ANAIS
método das UEPs como instrumento de custeio, revelando um certo desinteresse por parte dos
frequentadores destes eventos.
Tabela 9 – Distribuição da Amostra por Evento
Anais
Total de Artigos
CBC
19
ENEGEP
6
SIMPOI
1
EnANPAD
0
Congresso USP
0
Congresso ANPCont
0
Fonte: Dados da pesquisa.
4. Resultados
Analisando-se os 26 artigos selecionados, pode-se obter uma estrutura para a análise, a
qual os classificou em relação à área de atuação da empresa em que o método foi aplicado e à
finalidade para a qual os resultados da aplicação do método das UEPs foi gerada (relacionadas
ao custeio e/ou a indicadores de gestão) (Quadro 2).
Quadro 2 – Classificação dos artigos quanto ao ramo e às finalidades de aplicação do método
Evento
Finalidades
Ramo de aplicação
CBC ENEGEP SIMPOI
Custeio Indicadores de Gestão
Calçados
X
X
X
Colchões
X
X
Confecções/Costura industrial
X
X
X
Confecções/Costura industrial
X
X
Confecções/Costura industrial
X
X
Confecções/Costura industrial
X
X
Cosméticos.
X
X
Esmaltados
X
X
X
Indústria farmacêutica
X
X
Indústria metalmecânica
X
X
X
Indústria metalmecânica
X
X
X
Indústria metalmecânica
X
X
Panificação
X
X
Panificação
X
X
Panificação
X
X
X
Perfis de madeira
X
X
Processamento de carne (embutidos)
X
X
X
Processamento de carne (frango)
X
X
X
Processamento de carne (frango)
X
X
X
Processamento de carne (frigorífico)
X
X
Ração
X
X
Vidros curvados
X
X
(Não informada)
X
X
X
(Não informada)
X
X
X
(Não informada)
X
X
(Não informada)
X
X
Total
19
6
1
24
13
Fonte: Dados da pesquisa
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ANAIS
O Quadro 2 apresenta um perfil dos artigos, do qual pode-se alcançar algumas
inferências dignas de destaque sobre este conjunto de trabalhos:
a) Inicialmente, observa-se que o método das UEPs foi aplicado em diversos ramos
industriais, os quais apresentam características bem distintas entre si, como, por exemplo, a
fabricação de esmaltados, a panificação e a indústria farmacêutica. Essa constatação confirma
a flexibilidade indicada na fundamentação deste método em relação aos ramos de possível
aplicação do mesmo;
b) Em relação aos ramos em que o método é mais aplicado, os dados do Quadro 2
indicam que são os de confecções/costura industrial e processamento de carne, os quais
foram, cada, ambientes de 4 estudos de caso. Há que ressaltar que em 4 artigos não houve a
identificação do ramo em que a empresa atuava, por isso não é possível alcançar conclusões
mais precisas a este respeito;
c) Importante resultado refere-se às finalidades dos estudos de caso. Dos 26 artigos,
em 24 (92,3%) o método das UEPs foi implementado visando o custeio de transformação de
produtos (e suas derivações, como análise de margem de contribuição e lucratividade, por
exemplo), enquanto que em apenas 13 (50%) houve a geração de indicadores para o
gerenciamento da produção. Além disso, apenas em 2 estudos de caso (7,7%) a aplicação
visou exclusivamente a geração destes indicadores.
Estes dados permitem inferir que o método das UEPs é muito mais reconhecido e
aplicado como uma ferramenta de custeio do que de apoio ao gerenciamento de produção.
Esta última constatação pode parecer surpreendente para os estudiosos do método, porque este
tem como (talvez) maior diferencial em relação a outros (como o Centro de Custos, ABC,
Absorção e Custo-Padrão) justamente o apoio à geração de indicadores de desempenho
operacional.
Em relação aos 13 estudos apresentando o método das UEPs no gerenciamento da
produção, buscou-se identificar que tipo ou para qual finalidade específica esses indicadores
eram gerados. A Tabela 10 apresenta, de forma agregada, os dados coletados nesse sentido,
ressaltando-se que cada artigo poderia apresentar indicadores com mais de uma finalidade.
Tabela 10 – Finalidade dos indicadores baseados em UEPs
Uso
CBC ENEGEP TOTAL
Indicadores de capacidade instalada e ociosidade
7
1
8
Gestão de fluxos
1
3
4
Indicadores de eficiência, eficácia e produtividade
5
4
7
Planejamento de Produção
3
3
6
Fonte: Dados da pesquisa
As finalidades apresentadas na Tabela 10 são típicas do gerenciamento cotidiano das
operações de manufatura, indicando a aplicabilidade do método nesse escopo. Com mais
destaque se encontra a geração de indicadores de capacidade instalada e ociosidade, os quais
podem ser obtidos diretamente do potencial produtivo de cada posto operativo e da agregação
destes, para o caso de se avaliarem indicadores relacionados à respectiva seção.
Entre os trabalhos selecionados podem-se destacar que os dois trataram
exclusivamente do uso do método das UEPs para a gestão da manufatura. O artigo de
Gottfridson e Vargas (2010) apresenta especificamente o uso do método das UEPs para
auxiliar o controle de produção de uma empresa metalúrgica de médio/grande porte. O
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principal indicador gerado pelo método foi o de produtividade, medido pela razão entre a
quantidade de UEPs gastas e a de UEPs produzidas. Além disso, este estudo menciona como
o método visou um melhor sequenciamento da produção a partir do uso de recursos menos
custosos, lacunas na capacidade e ociosidade de operadores, gerando uma chamada “UEP
ideal”. Dividindo-se o total de UEPs produzidas por este indicador obtém-se um indicador de
eficácia do processo.
Já o trabalho de Wernke e Lembeck (2009) tratou de uma forma mais detalhada do uso
do método das UEPs para a fabricação de perfis de madeira. A aplicação deste método
possibilitou uma análise de balanceamento, a identificação de um gargalo e das capacidades
instalada e ociosa de postos operativos, comparação da produção em momentos distintos,
mensuração da eficiência e eficácia dos postos operativos, entre outras finalidades.
5. Considerações Finais
Este estudo buscou traçar um panorama dos estudos de caso sobre o uso do método
das UEPs publicados nos principais eventos acadêmicos brasileiros, visando com mais
interesse identificar o grau de uso do mesmo para apoiar o gerenciamento da manufatura. O
método das UEPs foi inicialmente pesquisado e divulgado por pesquisadores de Engenharia
de Produção, por este motivo poderia se esperar um destaque para seu uso no contexto do
gerenciamento de manufatura. Constatou-se, contudo, uma relativamente modesta parcela dos
trabalhos com esta finalidade. Tal resultado não surpreendeu, contudo, considerando-se que o
método das UEPs é divulgado apenas em livros sobre gestão de custos, como já mencionado
na introdução deste trabalho.
Caberia à academia, mais especificamente aos estudiosos do uso do método do UEPs,
talvez buscar compreender o(s) motivo(s) para esta aparente relevância secundária das
aplicações do mesmo para o gerenciamento da produção. As seguintes questões poderiam
eventualmente orientar futuras pesquisas a respeito:
• Seriam as potencialidades do método suficientemente conhecidas dos
pesquisadores e profissionais das áreas de aplicação?
• Estariam as limitações do método restringindo muito suas aplicações?
• Poderia o método realmente gerar tanto valor para as empresas, como a sua
fundamentação insinua?
• Estariam os docentes interessados e habilitados a ensinar o método das UEPs?
Em relação à última questão, a ausência de estudos de caso publicados no Congresso
USP de Controladoria e Contabilidade, no Congresso da AnpCont e no ENANPAD (Tabela
9) parece refletir pouca atenção sobre o método das UEPs por parte dos pesquisadores da
Contabilidade e ajudaria a compreender parte dos modestos resultados encontrados. Contudo,
há de ressaltar que especialmente em Santa Catarina há investigadores desta área com várias
publicações sobre o método no Congresso Brasileiro de Custos.
Após mais de 25 anos de publicações acadêmicas demonstrando a utilidade do método
para a simplificação do custeio e para o gerenciamento da produção, o método das UEPs
parece não conseguir se “espalhar” pela academia brasileira. Poderia se esperar então, que ao
menos discussões no sentido de contestar a eficiência do método surgissem, contudo isto
também não foi observado na pesquisa bibliográfica.
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ANAIS
Ao menos quanto à limitação do método em tratar apenas dos custos de transformação,
como sua própria fundamentação indica (BORNIA, 1995), alternativas a este respeito têm
sido apresentadas para complementar o método de uma forma estruturada e adequada à
prestação de serviços - os chamados modelos “híbridos” (p. ex. BELLI ET AL., 2013;
KREMER; BORGERT; RICHARTZ, 2013; SOUZA et al., 2014) -, aumentando o escopo de
aplicação do método.
Como limitação deste trabalho, deve-se ressaltar que a amostra da presente pesquisa se
limitou aos anais dos maiores eventos acadêmicos brasileiros em Administração, Ciências
Contábeis e Engenharia de Produção, áreas que tangem a aplicação do método. Como
complementação a esta pesquisa parece então oportuna estender a busca de estudos de caso
aos periódicos, dissertações e teses publicadas nas áreas relacionadas, para confirmar se
resultados semelhantes também se verificam.
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MÉTODO DAS UNIDADES DE ESFORÇO DE PRODUÇÃO