UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ Anderson Pontes Arruda ANÁLISE CITOGENÉTICA DE PACIENTES COM SUSPEITA DE SÍNDROME DE ULLRICH-TURNER NO ESTADO DO CEARÁ BRASIL Fortaleza-CE 2007 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ Anderson Pontes Arruda ANÁLISE CITOGENÉTICA DE PACIENTES COM SUSPEITA DE SÍNDROME DE ULLRICH-TURNER NO ESTADO DO CEARÁ BRASIL Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico em Ciências Fisiológicas do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Fisiológicas. Orientador: Prof. Dr. Krishnamurti de Morais Carvalho Fortaleza-Ceará 2007 A773a Arruda, Anderson Pontes. Análise citogenética dos pacientes com suspeita de Síndrome de UIIrich-Turner no estado do Ceará – Brasil/Anderson Arruda Pontes. Fortaleza, 2007. 150p. Orientador: Prof. Dr. Krishnamurti de Moraes Carvalho. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Ciências Fisiológicas) – Universidade Estadual do Ceará. Centro de Ciências da Saúde. 1. Infantilismo sexual. 2. Baixa estatura. 3. Aberrações cromossômicas. 4. Síndrome de Turner. 5. Monossomia. I. Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde. CDD: 574.1 Universidade Estadual do Ceará Curso de Mestrado Acadêmico em Ciências Fisiológicas Título do Trabalho: Análise citogenética de pacientes com suspeita de Síndrome de Ullrich-Turner no estado do Ceará - Brasil Autor: Anderson pontes Arruda Defesa em: 13/11/2007 Banca Examinadora ___________________________________ Prof. Dr. Krishnamurti de Morais Carvalho (Orientador) ____________________________________ Prof. Dr. Danilo Moretti-Ferreira (Co-orientador) ____________________________________ Prof. Dr. Bruno Andrade Cardi (Examinador) Conceito Obtido: 10 com louvor O pessimista se queixa do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas (William George Ward). Aos meus queridos pais Moisés e Aparecida Arruda, e a minha querida irmã Vanusa, pelo carinho, força e estímulos permanentes. Ao meu cunhado Rogério, pela compreensão e apoio constantes. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Krishnamurti de Moraes Carvalho, pelo estímulo à pesquisa, pela amizade e orientação cuidadosa e permanente. Ao Prof. Dr. Danilo Moretti-Ferreira, pela co-orientação, apoio e amizade constantes permitindo que eu pudesse crescer na carreira científica. À Deise Helena Souza, pela ajuda na realização do estudo cromossômico das pacientes do trabalho, pela discussão dos aspectos citogenéticos, pela gentileza e amizade. À Rosana Bicudo e a Nádia Bérgamo, do laboratório de citogenética da UNESP de Botucatu, pela colaboração na realização do estudo cromossômico e amizade. Ao amigo Rodrigo Cabral Luiz pelo apoio fotográfico e pela amizade. À grande amiga Dra. Erlane Marques Ribeiro, pela triagem e encaminhamento das pacientes, pela constante força, eterno ensino e amizade. À Dra. Ana Paula Montenegro, pela triagem e encaminhamento das pacientes. À amiga Evelane Marques Ribeiro, pela ajuda com as pacientes e amizade. À amiga Aline Silva, pelos artigos e constante força. Aos amigos Renata Lima e Gustavo Vieira, pelo apoio e amizade. À minha técnica e amiga Raquel, pela ajuda na coleta do material. Ao Prof. Dr. Afonso Bruno, diretor da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte (FMJ), pela oportunidade de realização deste trabalho. Ao Dr. Renan Magalhães Montenegro Junior, pela participação na banca e encaminhamento das pacientes. Às amigas Fabiana Vilar e Flávia D’aguiar, pelo incentivo, apoio espiritual e amizade. AGRADECIMENTOS ESPECIAIS À Deus e meus guias espirituais que estão sempre comigo em todos os momentos me guiando em todas as minhas tomadas de decisão e dificuldades. Às minhas pacientes e familiares, pela colaboração indispensável nesta pesquisa. SUMÁRIO LISTA DE QUADROS............................................................................................................................ 11 LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................................. 12 LISTA DE TABELAS............................................................................................................................. 14 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS............................................................................................. 15 RESUMO................................................................................................................................................... 16 ABSTRACT.............................................................................................................................................. 17 1. INTRODUÇAO.................................................................................................................................... 18 1.1. Aberrações cromossômicas............................................................................................................ 18 1.2. Conseqüências das anomalias cromossômicas em abortos espontâneos, natimortos e nativivos...................................................................................................................................... 22 1.3. Histórico.......................................................................................................................................... 25 1.4 Incidência......................................................................................................................................... 27 1.5 Prevalência....................................................................................................................................... 27 1.6 Aspectos clínicos.............................................................................................................................. 28 1.6.1 Alterações de cabeça e pescoço................................................................................................ 28 1.6.2 Baixa estatura............................................................................................................................ 29 1.6.3 Alterações esqueléticas............................................................................................................. 30 1.6.4 Amenorréia................................................................................................................................ 31 1.6.5 Hormônios................................................................................................................................. 35 1.6.6 Outros achados......................................................................................................................... 37 1.7 Diagnóstico diferencial................................................................................................................... 42 1.8 Aspectos genéticos........................................................................................................................... 43 1.8.1 Citogenética............................................................................................................................... 43 1.8.2 Biologia Molecular.................................................................................................................... 53 1.9 Tratamento...................................................................................................................................... 55 1.9.1 Hormônio de crescimento......................................................................................................... 55 1.9.2 Hormônios sexuais..................................................................................................................... 56 1.9.3 Cirurgico.................................................................................................................................... 58 2. JUSTIFICATIVA................................................................................................................................ 59 3. OBJETIVOS........................................................................................................................................ 60 4. MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................................ 61 4.1 Grupo amostral............................................................................................................................... 61 4.2 Avaliação clínica............................................................................................................................. 62 4.3 Análise Citogenética....................................................................................................................... 63 5. RESULTADOS.................................................................................................................................... 70 5.1 Grupo Amostral.............................................................................................................................. 70 5.2 Avaliação genético-clínica............................................................................................................... 71 5.3 Análise Citogenética........................................................................................................................ 75 6. DISCUSSÃO......................................................................................................................................... 91 6.1 Grupo amostral................................................................................................................................ 91 6.2 Quadro clínico.................................................................................................................................. 93 6.3 Citogenética...................................................................................................................................... 94 7. CONCLUSÃO....................................................................................................................................... 104 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................... 105 9. ANEXOS............................................................................................................................................... 119 LISTA DE QUADROS Quadro 1. quadro de procedência de pacientes do presente estudo........................................... 70 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Metáfase em bandamento GTG mostrando a presença de apenas um cromossomo X, em um caso estudado com cariótipo 45,X....................................... 76 Figura 2. Metáfase em bandamento GTG mostrando a presença de um cromossomo X em forma de isocromossomo de braço longo e um cromossomo X normal, de um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,i(Xq)......................................................... 80 Figura 3. Metáfase em bandamento GTG mostrando a presença de um cromossomo Y, em um caso estudado com cariótipo 45,X/46,XY............................................................. 81 Figura 4. Metáfase em bandamento CBG mostrando a presença de um cromossomo Y, em um caso estudado com cariótipo 45,X/46,XY............................................................ 82 Figura 5. Metáfase em bandamento GTG mostrando a presença de um cromossomo X em forma de anel de braço longo e um cromossomo X normal, de um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,r(Xq)................................................................... 83 Figura 6. Metáfase em FISH mostrando um sinal circular brilhante acima indicando o cromossomo X em anel, e outro sinal circular abaixo mostrando o centrômero do cromossomo X normal, em um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,r(Xq10)......................................................................................................... 84 Figura 7. Metáfase em bandamento GTG mostrando a presença de um cromossomo Y em forma de anel dicêntrico e um cromossomo X normal, de um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,rdic(Y)................................................................ Figura 8. Metáfase em FISH mostrando os dois centrômeros (duplo sinal brilhante) do cromossomo Y em anel, em um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,rdic(Y).......................................................................................................... 85 86 Figura 9. Metáfase em bandamento CBG mostrando a presença de um cromossomo Y em forma de isocromossomo dicêntrico, de um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,idic(Y)/47,X,idic(Y),idic(Y)........................................................................ 87 Figura 10. Metáfase em FISH mostrando os dois centrômeros (duplo sinal brilhante) do cromossomo Y isodicêntrico, em um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,idic(Y)/47,X,idic(Y),idic(Y)........................................................................ 88 Figura 11. Metáfase em bandamento CBG mostrando a presença de dois cromossomos Y em forma de isocromossomo dicêntrico, de um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,idic(Y)/47,X,idic(Y),idic(Y)........................................................ 89 Figura 12. Metáfase em bandamento GTG mostrando a presença de um cromossomo X em forma de isocromossomo de braço longo e um cromossomo X normal, de um dos casos estudados com cariótipo 46,X,i(X)(q10)............................................................ 90 Figura 13. Caso 01 .......................................................................................................................... 123 Figura 14. Caso 02 .......................................................................................................................... 124 Figura 15. Caso 03 .......................................................................................................................... 125 Figura 16. Caso 04 .......................................................................................................................... 126 Figura 17. Caso 05 .......................................................................................................................... . Figura 18. Caso 06 .......................................................................................................................... 127 Figura 19. Caso 08 .......................................................................................................................... 130 Figura 20. Caso 09 .......................................................................................................................... 131 Figura 21. Caso 10 .......................................................................................................................... 132 Figura 22. Caso 11 .......................................................................................................................... 133 Figura 23. Caso 12 .......................................................................................................................... 134 Figura 24. Caso 13 .......................................................................................................................... 135 Figura 25. Caso 14 .......................................................................................................................... 136 Figura 26. Caso 15 .......................................................................................................................... 137 Figura 27. Caso 16 .......................................................................................................................... 138 Figura 28. Caso 17 .......................................................................................................................... 139 Figura 29. Caso 18 .......................................................................................................................... 140 Figura 30. Caso 19 .......................................................................................................................... 141 Figura 31. Caso 20 .......................................................................................................................... 142 Figura 32. Caso 21 .......................................................................................................................... 143 Figura 33. Caso 23 .......................................................................................................................... 145 Figura 34. Caso 25 .......................................................................................................................... 147 Figura 35. Caso 26 .......................................................................................................................... 148 Figura 36. Caso 27 .......................................................................................................................... 149 Figura 37. Caso 28 .......................................................................................................................... 150 128 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Correlação genótipo x fenótipo na SUT................................................................................... 72 Tabela 2. Alterações cromossômicas encontradas no estudo atual........................................................ 75 Tabela 3. Correlação genótipo x fenótipo dos pacientes com monossomia do X (45,X)....................... 77 Tabela 4. Freqüência dos cariótipos encontrados no presente estudo................................................... 79 Tabela 5. Distribuição dos casos por grupo de idade.............................................................................. 92 Tabela 6. Achados fenotípicos de SUT na infância e adolescência......................................................... 93 Tabela 7. Alterações cromossômicas mais freqüentes na SUT............................................................... 94 Tabela 8. Comparação com os 14 maiores estudos realizados sobre a SUT......................................... 95 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ACSS: ausência de caracteres sexuais secundários AP: Amenorréia primária BE: Baixa estatura BIC: Baixa implantação dos cabelos na nuca CV: Cúbitus valgo EB: Epicanto bilateral EPN: Excesso de pele na nuca FISH: Hibridização por fluorescência in situ H: Hipotireoidismo HC: Higroma cístico LPM: Linfedema de pés e mãos p: Braço curto PC: Pescoço curto PP: Ptose palpebral q: Braço longo SUT: Síndrome de Ullrich-Turner TE: Tórax em escudo V: Virilização 4MC: 4º metacarpo curto +: Presente -: Ausente O: Não avaliado ANÁLISE CITOGENÉTICA DE PACIENTES COM SUSPEITA DE SÍNDROME DE ULLRICH-TURNER NO ESTADO DO CEARÁ - BRASIL RESUMO A Síndrome de Ullrich Turner (SUT) é o mais comum distúrbio cromossômico que causa baixa estatura em mulheres. Em 50% dos casos, um cromossomo do par sexual inteiro (cariótipo 45,X) é perdido. Os outros 50% das mulheres possuem um nível de anormalidades cariotípicas incluindo a ausência parcial do segundo cromossomo X e mosaicismos. Não há relação com o aumento da idade materna. Mosaicismos freqüentes incluem 45,X/46,XX, 45,X/46,X,i(Xq), 45,X/46,XY. A presença de material de cromossomo Y pode causar o desenvolvimento de gonadoblastoma. Pacientes com cariótipo 45,X mostram fenótipos mais diversificados em relação outras formas de cariótipos. Portanto há uma enorme variação fenotípica que pode ser relatada pelas diferentes formas de cariótipos. Os pacientes deste estudo foram avaliados por geneticista e/ou endocrinologista. Estudos com citogenética convencional foram realizados em linfócitos de sangue periférico. Os cariótipos foram feitos através de metáfases com bandamento GTG e CGB, e as anormalidades citogenéticas foram descritas de acordo com o ISCN (International Standing Committee on Human Cytogenetic Nomenclature). A análise através da técnica de hibridização com fluorescência in situ (FISH) foi feita utilizando sondas de pintura total para cromossomo X e sondas centroméricas para cromossomos X e Y. Das 43 pacientes suspeitas para essa anormalidade, 15 apresentaram cariótipos normais (46,XX). Das outras 28 pacientes, 14 (50%) apresentaram o cariótipo clássico 45,X, 5 (17,87%) 45,X/46,XX, 1 (3,57%) 45,X/46,X,i(X)(q10), 2 (7,14%) 45,X/46,X,r(X)(q10), 1 (3,57%) 45,X/46,X,i(X)(q10)/46,X,r(X)(q10), 2 (7,14%) 46,X,i(X)(q10), 1 (3,57%) 45,X/46,XY, 1 (3,57%) 45,X/46,X,r(Y) e 1 (3,57%) 45,X/46,X,idic(Y)/47,X,idic(Y),idic(Y) raro na literatura. Dentre as 28 pacientes com diagnóstico positivo, 28/28 (100%) apresentaram baixa estatura, 22/28 (78,57%) tórax em escudo, 17/23 (73,91%) ausência de caracteres sexuais secundários, 15/23 (65,22%) amenorréia primária, 18/28 (64,29%) cubitus valgus, 15/28 (53,57%) pescoço curto, 14/28 (50%) baixa implantação dos cabelos, 7/28 (25%) 4º metacarpo curto, 5/28 (17,86%) linfedema de pé ou mãos, 5/28 (17,86%) hipotireoidismo. Assim concluímos que mulheres com baixa estatura, tórax em escudo, ausência de caracteres sexuais secundários devem ter seu cariótipo analisado. Palavras-chave: Infantilismo sexual, Baixa estatura, Aberrações cromossômicas, Síndrome de Turner, Monossomia. CYTOGENETIC ANALYSIS OF PACIENTS WITH SUSPECT OF ULLRICHTURNER SYNDROME IN CEARÁ STATE - BRAZIL ABSTRACT Ullrich Turner syndrome (UTS) is the most common chromosomal disorder causing short stature in females. In 50% of cases, an entire sexual pair chromosome (45,X karyotype) is missing. The other 50% of females possess a range of karyotypic abnormalities, including partial absence of the second X chromosome and mosaicism. There is no relationship with increasing maternal age. Frequent mosaic forms includes 45,X/46,XX, 45,X/46,X,i(Xq) and 45,X/46,XY. The presence of Y chromosome material may cause the development of gonadoblastoma. Patients with karyotype 45,X show more diversified phenotypes in relation to the ones who present other karyotype forms. Thus, there is a huge phenotypic variation that can be related with the different forms of karyotypes. The patients of this study were screened by the geneticist and/or the endocrinologist. Conventional cytogenetic studies were performed in peripheral blood lymphocytes. Karyotyping was done on GTG and CBG banded metaphases, and cytogenetic abnormalities were decribed according to the International Standing Committee on Human Cytogenetic Nomenclature. Fluorescence in situ hybridization (FISH) analysis was carried out on metaphases using a commercially avaliable whole X chromosome painting probe and centromeric Y chromosome probe. From the 43 patients suspected to have the disease, 15 presented normal karyotype (46,XX). From the other 28 patients, 14 (50%) presented the classic karyotype 45,X, 5 (17,87%) 45,X/46,XX, 1 (3,57%) 45,X/46,X,i(X)(q10), 2 (7,14%) 45,X/46,X,r(X)(q10), 1 (3,57%) 45,X/46,X,i(X)(q10)/46,X,r(X)(q10), 2 (7,14%) 46,X,i(X)(q10), 1 (3,57%) 45,X/46,XY, 1 (3,57%) 45,X/46,X,rdic(Y) and 1 (3,57%) presented a karyotype 45,X/46,X,idic(Y)/47,X,idic(Y),idic(Y) rare in literature. Among the 28 patients with diagnostic positive, 28/28 (100%) presented short stature, 22/28 (78,57%) flat chest (“in shield”), 17/23 (73,91%) absence of secondary sex characteristics, 15/23 (65,22%) primary amenorrhea, 18/28 (64,29%) cubitus valgus, 15/28 (53,57%) webbed neck, 14/28 (50%) low posterior hairline, 7/28 (25%) short fourth metacarpal, 5/28 (17,86%) edema of hands or feet and 5/28 (17,86%) hypothyroidism. Thus we conclude that women with short stature, flat chest (“in shield”), absence of secondary characteristics should be analyzed her karyotype. Key words: Sexual infantilism, Short stature, Chromosome aberrations, Turner syndrome, Monosomy. 1. INTRODUÇÃO 1.1. Aberrações Cromossômicas – aspectos gerais A análise dos cromossomos humanos teve grandes avanços a partir da década de 60, quando TJIO & LEVAN (1956) demonstraram em fibroblastos embrionários que seres humanos possuíam 46 cromossomos e, não 48 como se julgava até então. Em 1959, LEJEUNE e colaboradores observaram que as crianças com idiotia mongólica (síndrome de Down) possuíam 47 cromossomos em suas células somáticas ao invés de 46 habituais. No mesmo ano, FORD et al. (1959) e JACOBS & STRONG (1959) detectaram anomalias dos cromossomos sexuais em pacientes com distúrbios do desenvolvimento sexual. O desenvolvimento de técnicas citogenéticas de bandeamento na década de 70 tornou possível a identificação mais acurada das anomalias cromossômicas e serviu também para o conhecimento das anormalidades estruturais que não podiam ser detectadas pelas técnicas anteriores. As anormalidades cromossômicas são classificadas em dois grupos: anormalidades numéricas (aneuploidias) e estruturais, podendo envolver um ou mais autossomos, cromossomos sexuais ou ambos (THOMPSON & THOMPSON, 1991). A aneuploidia é a anomalia cromossômica mais freqüente e clinicamente mais significativa em que se observa um número anormal de cromossomos. Na prática, ela geralmente consiste na presença de uma cópia extra de um único cromossomo, ou seja, trissomia, como na trissomia 21 ou síndrome de Down, ou ausência de um único cromossomo, isto é, monossomia, como na síndrome de Ullrich-Turner (SUT), 45,X, onde 18 falta o segundo cromossomo do par sexual. A trissomia ou a monossomia podem estar presentes em todas as células do indivíduo ou na forma de mosaico (presença de duas ou mais linhagens celulares com cariótipos diferentes, derivadas de um único zigoto). A aneuploidia resulta da não-disjunção, ou falha da separação normal dos cromossomos durante a divisão celular, e pode ocorrer durante a meiose ou a mitose. Quando ocorre a não-disjunção após a fertilização, ou seja, não-disjunção mitótica, esperase verificar mosaicismo. A não-disjunção meiótica pode ocorrer na primeira ou na segunda divisão meiótica com conseqüências diferentes. Se a não-disjunção ocorre durante a primeira divisão meiótica, os gametas formados conterão ambos cromossomos parentais que não se separam, ou nenhum deles. Quando ocorre não-disjunção na segunda divisão meiótica, os gametas conterão duas cópias idênticas do mesmo cromossomo, ou nenhuma. A não-disjunção dos cromossomos pode resultar em dois diferentes tipos de anormalidades cromossômicas nos conceptos: aqueles com cromossomo a menos que o normal, ou monossomia, ou com cromossomo adicional, ou trissomia. Nos seres humanos, a monossomia, exceto para os cromossomos sexuais, é virtualmente inexistente, presumivelmente devido à morte fetal em estágios precoces da gestação (THOMPSON & THOMPSON, 1991). As anormalidades ou rearranjos estruturais resultam de quebras cromossômicas seguidas de reconstituição numa combinação anormal. Os rearranjos podem ocorrer de várias formas, todas elas mais raras que a aneuploidia, e podem envolver um ou mais cromossomos. Quando apenas um cromossomo está envolvido, pode haver uma deleção (perda de segmento cromossômico), uma inversão pericêntrica (envolvendo o centrômero) 19 ou paracêntrica (sem envolver o centrômero), a formação de um cromossomo em anel e a formação de isocromossomo. O envolvimento de dois ou mais cromossomos nos rearranjos estruturais pode resultar em duplicação de uma parte de um cromossomo (inserção de material de um cromossomo ao homólogo) ou translocação, que é a troca de material entre dois ou mais cromossomos. Duas formas principais de translocação cromossômica são conhecidas: translocação recíproca e translocação robertsoniana ou fusão cêntrica que ocorre nos cromossomos acrocêntricos. Os rearranjos estruturais podem ser balanceados, se o material cromossômico essencial não for perdido, ou não-balanceados, se houver perda ou adição de material. Alguns rearranjos são estáveis, capazes de passar inalterados por divisões celulares, enquanto outros são instáveis. Os rearranjos estáveis possuem elementos cromossômicos estruturais normais, incluindo um único centrômero funcional e dois telômeros. Os cromossomos envolvidos em rearranjos numéricos e estruturais grosseiros são facilmente identificados usando-se as técnicas habituais de bandeamento cromossômico. No entanto, a determinação da origem de deleções ou duplicações muito pequenas podem ser mais difíceis, particularmente, se a aberração cromossômica for não-balanceada e tiver surgido de novo. Além disso, a identificação de rearranjos cromossômicos complexos envolvendo vários cromossomos pode ser impossível usando-se somente técnicas de bandeamento. No final de década de 80 surgiram técnicas moleculares como a hibridização in situ com fluorocromos (fluorescent in situ hybridization - FISH) que permitem a solução desses problemas (CONNOR & FERGUSON-SMITH, 1993). A FISH é uma técnica que envolve a hibridização molecular de uma seqüência clonada de DNA com células em metáfase em lâminas. A sonda é marcada de tal modo que 20 sua presença possa ser detectada, seja radioativamente, seja por marcação fluorescente. Os cromossomos metafásicos são desnaturados na lâmina (in situ) e a sonda marcada é hibridizada em relação a eles. O excesso de material que compõe a sonda é lavado e a localização da mesma é feita por um filme de raio X. Nos últimos tempos, o procedimento de marcação radioativa vem sendo substituído por um método de fluorescência. A sonda de DNA pode ser marcada com uma vitamina, a biotina, a seguir ela é hibridizada aos cromossomos metafásicos, e posteriormente ela é visualizada usando-se a ligação de estreptavidina marcada com fluorocromo à biotina. A resolução de hibridização in situ usualmente permite a localização de uma seqüência de DNA específica numa banda cromossômica, sendo essa uma das maiores vantagens do método. Isto, no entanto, só pode ser feito se a seqüência clonada de DNA estiver disponível. Há vários tipos de sondas cromossomo-específicas que podem ser usadas: sondas repetitivas, alfóides, que são centrômero-específicas, sondas de cosmídeos e sondas de cromossomos artificiais de leveduras (YACs – yeast artificial chromosomes) (GELEHRTER & COLLINS, 1990). Os indivíduos portadores de rearranjos balanceados geralmente são clinicamente normais, uma vez que todas as informações estão presentes, embora acondicionadas de uma maneira diferente. Tais indivíduos, no entanto, correm um risco aumentado de ter uma prole anormal com rearranjos não-balanceados. 21 1.2. Conseqüências das anomalias cromossômicas em abortos espontâneos, natimortos e nativivos. A incidência das diferentes formas de anormalidades cromossômicas foi avaliada em vários estudos por análise citogenética em abortos espontâneos, natimortos e nativivos. A freqüência e os tipos de anormalidades cromossômicas variam em cada uma dessas populações estudadas. A espécie humana, entre os mamíferos, parece ser a única que apresenta um alto índice de perda reprodutiva ao longo de todo o período gestacional. Cerca de 25% de todos os conceptos são perdidos antes de sua implantação no útero, 30% no período pósimplantação precoce com gestação clinicamente reconhecida, 15% entre a 6ª e a 28ª semanas de gestação e 1% é constituído de natimortos em período mais tardio da gestação. As razões das perdas gestacionais em estágios de pré e pós-implantação são pouco conhecidas, devido a dificuldade de estudo nessa fase. No entanto, admite-se que muitas dessas perdas possam ser atribuídas a anormalidades cromossômicas incompatíveis com a sobrevivência (JACOBS, 1990). Vários estudos estimam que a freqüência total de anormalidades cromossômicas nos abortos espontâneos é de pelo menos 50% (CARR, 1967; BOUÉ & BOUÉ, 1970; BOUÉ et al., 1975; HOOK, 1982; JACOBS, 1990). Em um estudo brasileiro, CAVALCANTI (1986) encontrou uma incidência de 44,4% de anormalidades cromossômicas em uma amostra de 62 abortos espontâneos do 1º e 2º semestres de gestação. Admitindo-se que aproximadamente 15% das gestações clinicamente reconhecidas na população terminam em aborto espontâneo e que a freqüência total de anormalidades 22 cromossômicas nos abortos espontâneos é de cerca de 50%, calcula-se pelo menos, 7,5% de todas as gestações diagnosticadas clinicamente devem ter anormalidades cromossômicas (HASSOLD et al., 1986). As anormalidades cromossômicas numéricas são as mais freqüentes entre os abortos espontâneos, sendo representadas pelas aneuploidias (trissomias e monossomias) e pelas poliploidias (triploidias e tetraploidias). Das aneuploidias as mais freqüentes são as trissomias que ocorrem em cerca de 50% dos abortos espontâneos com cromossomos anormais, aproximadamente 27% de todos os abortos. As monossomias vêm em seguida, com freqüência de 16% nos abortos espontâneos com cromossomos anormais (BOUÉ et al., 1985). Em cerca de 9% do total de abortos submetidos a estudo citogenético verifica-se a monossomia do X ou síndrome de Turner ( CREASY et al., 1976; HASSOLD et al.,1980). As anomalias cromossômicas estruturais ocorrem em uma freqüência de 3 a 6% dos abortos espontâneos com cromossomos anormais (BOUÉ et al., 1985), e em cerca de 2% dos abortos em que se realizaram o estudo citogenético (JACOBS, 1990). Os rearranjos estruturais balanceados e não-balanceados são encontrados em 0,28% e 1,54% dos abortos, respectivamente (JACOBS, 1981). A maioria das anormalidades cromossômicas são causas de alta letalidade em estágios precoces do desenvolvimento fetal. Cerca de 50% dos fetos com anomalias cromossômicas são perdidos entre a 8ª e 15ª semanas de gestação, 24% entre a 16ª e 19ª semanas, e 12% após a 20ª semana (WARBURTON, 1987). Desse modo, as anormalidades cromossômicas constituem causa importante de mortalidade perinatal (mortes ocorridas entre a 20ª semana de gestação e 28 dias após o nascimento) (JACOBS, 1990). Os estudos citogenéticos em natimortos são mais escassos quando comparados aos realizados em nativivos devido ao baixo índice de sucesso na obtenção de cultura de tecidos 23 macerados, para a análise cromossômica. Estima-se em 6% a freqüência global de anormalidades cromossômicas em natimortos. A freqüência entre os natimortos macerados (morte fetal antes do parto) e não-macerados (morte fetal intra-parto) é de 10% e 3,5%, respectivamente segundo JACOBS (1990). Alguns autores, encontram freqüências mais elevadas de anormalidades cromossômicas entre os natimortos, variando de 14,3% (MacLEOD et al., 1979) a 38,8% (KOVAK, 1987). Mais recentemente, PAULI & REISER (1994) encontraram 24,9% de anormalidades cromossômicas em uma população de 193 natimortos. Cerca de 66% das anormalidades cromossômicas dentre os natimortos consistem em trissomias e os cromossomos envolvidos são os mesmos observados nos nativivos, isto é, quase todas as anormalidades apresentam um cromossomo 13, 18, 21 ou X adicionais (JACOBS, 1990). As freqüências de anormalidades cromossômicas na população geral de recémnascidos vivos consecutivos foi estimada em vários estudos: SERGOVICH et al. (1969), 0,48%; LUBS & RUDDLE (1970), 0,50%; FRIEDRICH & NIELSEN (1973), 0,85%; JACOBS et al. (1974), 0,56%; HAMERTON et al. (1975), 0,46% e FERRARI et al. (1982), 0,53%. A incidência global de anormalidades cromossômicas em nativivos é aceita como sendo 1:160 nascimentos ou 0,7% (THOMPSON & THOMPSON, 1991). Os tipos de anormalidades cromossômicas com nativivos diferem daqueles associados aos abortos e à mortalidade perinatal. Vários estudos mostram que a incidência de anormalidades cromossômicas na mortalidade perinatal é cerca de dez vezes maior que aquela observada entre os nativivos: MACHIN & CROLLA (1974), 5,6%; KULESHOV (1976), 6,9%; ALBERMAN & 24 CREASY (1976), 5,7%; SUTHERLAND et al. (1978), 5,6%; SUTHERLAND & CARTER (1983), 7,5% e ANGELL et al. (1984), 4,8%. Um aspecto importante das anormalidades cromossômicas é seu ônus para os hospitais infantis. As crianças com anormalidades cromossômicas clinicamente significativas constituem cerca de 1% das admissões pediátricas hospitalares (SCRIVER et al., 1973; HALL et al., 1978; CARNEVALE et al., 1985). 1.3. Histórico O anatomista italiano Morgani foi o primeiro a descrever a Síndrome de Ullrich-Turner (SUT) em 1768. Posteriormente, o Dr. Charles Pears descreveu uma mulher de 29 anos com baixa estatura, ausência de caracteres sexuais secundários, características comportamentais incomuns tentando unir esses achados de alguma forma (apud ROVET, 2004). Funke em 1902 relatou o aparecimento do Pterygium colli, e Ullrich em 1930, seguido por Henry Turner em 1938 (GORLIN et al., 2001; OSTBERG & CONWAY, 2003; TURNER, 1938). Otto Ullrich, um pediatra alemão, em 1930, publicou um artigo na revista, chamada atualmente de “European Journal of Pediatrics”, relatando a existência de uma garota de 8 anos de idade com características clínicas que incluíam redundância de pele no pescoço proveniente de um linfedema congênito, junto com linfedema congênito de mãos e pés (apud WIEDEMANN,1991). Além dessas características ela apresentava também: palato em ogiva, ptose palpebral, orelhas de baixa implantação. Por essa razão essa síndrome pode ser conhecida também como síndrome de Ullrich (WANDERLEY et al., 2004). 25 Henry Turner foi um endocrinologista americano pioneiro. Em 1938 descreveu uma síndrome em sua mulher, tendo ela apresentado características como: baixa estatura e pouco desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, ou seja, seios pequenos e poucos pelos pubianos. Ele também encontrou essas características em 7 pacientes que ainda apresentavam: pescoço alado e cúbitos valgo (WANDERLEY et al., 2004). Publicou na revista “Endocrinology” intitulado “A syndrome of infantilism, congenital webbed neck, and cubitus valgus” (RYNEARSON,1971), onde fez a descrição do caso de 7 mulheres portadoras da síndrome de idades entre 15 e 23 anos (TURNER, 1938; WIEDEMANN, 1991), sendo 6 adolescentes e um adulta (SCHAEFER & RILEY JR., 2004). Reconheceu como uma entidade distinta os casos que tinham uma combinação de infantilismo sexual, pescoço alado e cúbitos valgo (SCHAEFER & RILEY JR., 2004), interpretado inicialmente como uma deficiência pituitária pregressa (WIEDEMANN, 1991). Em 1942, Albrigth e colaboradores provaram a falência ovariana ao demonstrarem elevação de gonadotrofinas urinárias nas portadoras de SUT. Neste mesmo ano, Wilkins e Fleschman analisaram pacientes com a anomalia e observaram a presença de ovários rudimentares. Em 1959, Ford e colaboradores acharam uma relação entre as características fenotípicas e a anomalia cromossômica (cariótipo 45,X). Em 1956, Polani, Lessoff e Bishop, já haviam sugerido que a SUT podia ser causada pela ausência de um cromossomo X (ROVET, 2004). Em 1959, Ford e colaboradores descreveram uma paciente de 14 anos de idade que apresentava baixa estatura, amenorréia primária, ausência dos caracteres sexuais secundários e cromatina sexual negativa. Analisando 102 células metafásicas foi encontrado uma constituição de 45,X. Foram os primeiros a demonstrarem que, as 26 pacientes com os mesmos sinais clínicos descritos por Ullrich e Turner tinham a ausência de um cromossomo sexual (45,X) (WIEDEMANN, 1991). A síndrome que atualmente é conhecida como Síndrome de Ullrich-Turner (SUT) consiste em baixa estatura, gônadas em fita, pescoço alado, tórax em escudo, linfedema de mãos e pés no período neonatal, coarctação da aorta, unhas hipoplásicas, metacarpos curtos, nevus pigmentados (GORLIN et al., 2001; OSTBERG & CONWAY, 2003;). 1.4. Incidência A cada 2.500 nascimentos do sexo feminino uma criança apresenta o fenótipo característico da SUT atingindo 1.500.000 mulheres no mundo. No máximo 1% dos embriões femininos com monossomia do X se mantêm vivos (WANDERLEY et al., 2004). Cerca de 98-99 % dos fetos com SUT são abortados espontaneamente. Aproximadamente 20 % de todos os fetos abortados têm SUT, sendo que 10% possuem cariótipo 45,X e os outros 90% possuem cariótipos variados envolvendo mosaicismos, isocromossomo, cromossomo em anel, deleção parcial de cromossomo X, dentre outras ocorrências (SAENGER et al., 2001; WILLARD, 2001). 1.5. Prevalência A prevalência da SUT pré-natal é muito maior do que a prevalência pós-natal, indicando que ocorre uma alta taxa de concepção de fetos. Este fato pode ser ilustrado pela alta prevalência de cariótipos de SUT, em amostras de vilosidades coriônicas (coletados na 11ª semana de gestação), que é de 392/100.000 fetos femininos, comparados com a prevalência de cariótipos de SUT, em amostras de amniocentese (coletados na 16ª semana) que é de 176/100.000 (GRAVHOLT, 2005) 27 A prevalência de SUT é baseada no número de estudos citogenéticos com taxa estimada de 25-210/100.000 mulheres e uma proporção hipotética de 50/100.000 meninas caucasianas. Atualmente, porém, o diagnóstico de SUT é feito mais raramente do que se poderia esperar nas pesquisas citogenéticas originais e com isso foi detectado um considerável atraso no diagnóstico de meninas e adolescentes com a SUT (GRAVHOLT, 2005). A morbidade é aumentada em SUT. Um estudo feito na Dinamarca comparando mulheres com SUT e mulheres normais detectou um aumento na incidência na taxa de aparecimento de doenças que se suspeitava ocorrer em alta freqüência. O risco relativo de doenças endócrinas aumentou em 4,9% e este risco foi detectado pelo aumento do risco de doenças como hipotireoidismo (5,8%), tireoidites (16,6%), diabetes tipo 1 (11,6%) e diabetes tipo 2 (4,4%), assim também como o risco de doenças isquêmicas do coração e arteriosclerose (2,1%), hipertensão (2,9%) e doenças vasculares cerebrais (2,7%). O risco de outras condições, como cirrose hepática (5,7%), osteoporose (10,1%) e fraturas (2,2%), também estão aumentados, assim como, o risco de malformações congênitas do coração, sistema urinário, da face, orelhas e pescoço. O risco relativo para todos os tipos de cânceres foi de 1,35%, com um aumento significante no risco de câncer intestinal (4,94%) (GRAVHOLT, 2005). 1.6. Aspectos Clínicos 1.6.1. Alterações de cabeça e pescoço Pregas epicânticas (25%), ptose palpebral, orelhas proeminentes e micrognatia são achados faciais comuns em mulheres 45,X (GORLIN et al., 2001). 28 Na infância é comum encontrar excesso de pele no pescoço. Durante a vida embrionária o higroma cístico é comum. Com o aumento da idade, o excesso de pele no pescoço evolui para pterigium colli. (GORLIN et al., 2001). Os defeitos no sistema linfático ocorrem por anormalidades no clearence linfático. Enquanto o pescoço alado pode resultar do retrocesso do higroma, em muitos casos o higroma é tão severo sendo causa de morte fetal. Muitos neonatos apresentam um severo edema que freqüentemente é a razão para o diagnóstico da SUT (ROVET, 2004). As orelhas podem ser proeminentes e a linha de implantação do cabelo na nuca é baixa, e o pescoço é curto em 74% dos casos (GORLIN et al., 2001). 1.6.2. Baixa Estatura A baixa estatura é uma das características mais comuns em pacientes com SUT. Aproximadamente 6% dentre todas as mulheres com baixa estatura são Turner (WILLARD, 2001; MORENO-GARCIA et al., 2005). Na prática clínica pediátrica, deve-se ter em mente que a baixa estatura não é somente um dos sinais mais constantes da SUT, podendo ser de fato o único. Conseqüentemente, a análise cromossômica está sempre indicada nas meninas com deficiência de crescimento abaixo do terceiro percentil (P<3) (VIGUETTI & MACIEL-GUERRA, 1994). O crescimento intra-uterino é retardado, com a velocidade de crescimento normal nos primeiros anos de vida e uma progressiva desaceleração do crescimento na infância devido a um atraso na maturação óssea, com a ausência do estirão do crescimento (GORLIN et al., 2001). Fatores não genéticos, como o linfedema, podem influenciar no crescimento intra-uterino devido ao aumento da pressão tissular uterina (HAVERKAMP et al., 1999). 29 A estatura dos pais tem influência na estatura final do paciente com SUT. A estatura final encontra-se entre 122 e 152 cm (BINDER et al., 2000; GORLIN et al., 2001; OSTBERG & CONWAY, 2003). A estatura adulta das pacientes com SUT é aproximadamente 20 cm abaixo da média da população feminina. Não há relação entre o cariótipo e a altura ou qualquer outra medida antropométrica. A composição antropométrica da mulher com SUT é muito distinta. O crescimento destas mulheres é inicialmente retardado em seu eixo longitudinal, enquanto as medida do eixo horizontal são comparáveis ao de mulheres normais. Isto significa que enquanto a altura, altura sentada, a envergadura do braço estão diminuídos em aproximadamente 3-4 desvios padrão comparada com a população referência, mãos e pés são diminuídos no tamanho, enquanto o perímetro craniano, o diâmetro biacromial e biiliacal são comparáveis aos de mulheres saudáveis. O índice de massa corpórea, a relação peso/altura e a massa gorda encontram-se aumentados em pacientes com SUT em comparação com controles de mesma idade (GRAVHOLT, 2005). A antropometria e a composição corporal são anormais na SUT. O hormônio do crescimento (GH) e o tratamento de reposição hormonal (TRH) exercem efeito positivo na composição corporal na SUT e a descontinuidade do uso de ambos estão associados a um efeito prejudicial (GRAVHOLT, 2005). 1.6.3. Alterações esqueléticas Anormalidades esqueléticas comuns na SUT incluem cúbitos valgo (aproximadamente 75%) e quarto metacarpo curto (65%). Osteoporose em graus variados é encontrada em aproximadamente 50% dos casos (GORLIN et al., 2001). Outras anormalidades incluem mesomelia, micrognatia, palato ogival. Defeitos no gene SHOX, 30 localizados em Xp22.3, são conhecidos como causa da baixa estatura mesomélica associada com variados achados fenotípicos (RANKE & SANGER, 2001). 1.6.4. Amenorréia A amenorréia é um dos sintomas mais comuns nas pacientes com cariótipo 45,X, porém um dado interessante é a incidência de amenorréia primária (42,3%) e secundária (23%) em deleções do braço curto do cromossomo X. Na deleção do braço longo os percentuais são 55% e 37,3%, respectivamente (MIYAHIRA & RAÍCES, 1992). 1.6.4.1. Disgenesia Gonadal Em fetos humanos normais o desenvolvimento gonadal começa durante a 4ª semana de gestação com a migração de células germinativas primordiais através do intestino primitivo posterior para a diferenciação da crista genital. a célula germinativa primordial prolifera por mitose e entra em meiose assincromicamente (10ª -14ª semanas). os primeiros oócitos em estágio de diplóteno são encontrados muitas semanas após a iniciação da meiose, aproximadamente na 16ª semana. Da 12ª a 20ª semana de gestação, oogônias e oócitos estão presentes em grande número (muitos milhões) no ovário, e os folículos primordiais são formados aproximadamente até a 20ª semana de gestação. oócitos perdem suas conexões intercelulares neste estágio e são circundados por uma única camada de células planas. Entre a 23ª e 26ª semanas, os folículos primários primordiais e pré-antrais estão presentes e, após a 35ª semana de gestação, todos os estágios foliculares (do primordial ao antral) podem ser observados nos ovários fetais (REYNAUD et al., 2004). os ovários aparentemente se formam normalmente até a concepção e involuem prematuramente na 4ª a 5ª semanas de gestação em meninas com SUT. A disgenesia 31 gonadal resulta numa ausência da produção de estrógeno e andrógeno não havendo assim maturação puberal espontânea e conseqüentemente infertilidade (ROSS et al., 2003). Nas populações com SUT poucas gravidezes “espontâneas”, ou seja, sem indução pelos médicos, têm sido relatadas, mas mais de 80% das mulheres com SUT sofrem de falhas ovarianas ou desenvolvimento sexual incompleto na adolescência. é sugerido que a perda em massa das células germinativas ocorram durante a vida fetal. Entretanto, pouco é conhecido sobre as células germinativas e o conteúdo folicular dos ovários das mulheres com sut, bem como seus estágios de desenvolvimento e diferenciação fetal. Poucos ovários dos fetos 45,x têm sido histologicamente examinados. Porém, quando estudados, são encontrados histologicamente normais até a 18ª semana de gestação. Muitos autores sugerem que a maioria dos oócitos se degenera nos primeiros meses ou anos da vida pósnatal, mas poucos folículos podem ser encontrados em ovários de adolescentes com SUT (REYNAUD et al., 2004). Em 1978, Rivelis e colaboradores estudaram ovários de 17 mulheres com SUT (de 5 a 30 anos) e relataram gônadas bilaterais rudimentares em todas as pacientes. Quando eles analisaram o conteúdo ovariano microscopicamente não encontraram folículos em quatro ovários de mulheres com SUT (45,X), enquanto apenas um único folículo em 3 de 13 ovários de mulheres com mosaicismo (45,X/46,XX). Esta informação sugere que os folículos podem sobreviver em pacientes SUT com cariótipo em mosaico, e é conhecido que pacientes com mosaicismo podem manter a função ovariana até o inicio da idade adulta e podem ter mais gravidezes “espontâneas” ou “naturais” que as mulheres com S (45,X). entretanto essas mulheres têm freqüentemente menopausa precoce (REYNAUD et al., 2004). 32 A informação histológica do estudo feito por Reynaud et al. em 2004 em tecido ovariano de material de fetos com SUT (45,X) o qual foi focado na segunda parte da gestação, enfatizou a ausência significante de formação folicular. Os achados de pouco número de oogônias e ocasional presença de único folículo primordial em fetos 45,X aponta para um defeito durante as meioses iniciais e para a inabilidade de obter reunião de folículos e foliculogênese (REYNAUD et al., 2004). Histologicamente, gônadas rudimentares consistem de tecido conectivo fibroso com um verticilo padrão que se assemelha ao estroma ovariano e é coberto com epitélio germinal consistindo de células cubóides ou aplanadas. A distinta túnica albugínea não pode ser encontrada abaixo do epitélio germinal. O tecido conectivo cortical escasso é carente em células germinativas e primordiais (folículos de graafian). Abaixo do estroma periférico existe a medula de frouxo tecido conectivo e o hilo contém um grande número de vasos sanguíneos e nervos entre os grupos de células hilo e resto de elementos fetais, isto é, redes de ductos de ovários e ductos para-ovarianos (GAAL, LASZLO & BOSZE, 1974). Contudo, nas gônadas de muitos pacientes com monossomia sexual Carr, Hagger e Hart (1968) puderam mostrar células germinativas degeneradas e atresia folicular. esta observação foi a base para os autores explicarem a rara ocorrência de menstruação (GAAL, LASZLO & BOSZE, 1974). Márquez-Monter e colaboradores (1972), baseado na morfologia e citogenética relacionada a disgenesia ovariana, descreveram a presença de elementos ovarianos especiais associados com a inativação do cromossomo x em todas as instâncias, ambos como forma mosaica ou como gonossomo com aberração estrutural. folículos primários não tem sido encontrado em casos 45,x (GAAL, LASZLO & BOSZE, 1974). 33 A disgenesia gonadal ocorre em várias condições como 45,X, 45,X/46,XX ou 46,XY mosaicos. disgenesia gonadal mista é considerada a mais comum manifestação do mosaicismo 45,X/46,XY, embora possa estar presente também em outras variedades de mosaicismo. os pacientes com cariótipo 45,X não têm nenhum aumento do risco de virilização nem no desenvolvimento do gonadoblastoma, mas pacientes com linhagens celulares contendo o cromossomo Y tem um alto risco de desenvolvimento de gonadoblastoma. A gonadectomia é fortemente recomendada logo que o diagnóstico é feito, pois tumores podem se desenvolver até a idade jovem (antes da puberdade) e têm um alto potencial de malignidade. isto sugere que deve ser atribuído o gênero feminino a esses pacientes, a menos que haja um extremo grau de virilização da gônada (KRIPLANI et al., 2003). Pacientes com mosaicismo 45,X/46,XY podem mostrar um amplo espectro de expressões fenotípicas que são provavelmente explicadas pela predominância de células 45,X ou 46,XY nas gônadas e tecidos somáticos. Elas podem ser fenotipicamente femininas com ou sem estigmas da SUT, indivíduos com genitália externa ambígua ou fenotipicamente masculina. A linhagem 45,X supõe ter determinado o desenvolvimento abdominal de gônadas rudimentares porém com resultados 46,XY em testes disgenéticos (KRIPLANI et al., 2003). Numa série de 10 casos de mosaicismo 45,X/46,XY, três tiveram disgenesia gonadal pura e se apresentavam como meninas e os outros sete foram criados como meninos. Fora isto, três tinham disgenesia gonadal mista, três eram homens pseudohermafroditas e um era homem fenotipicamente normal. Foi relatado também, hermafroditismo verdadeiro com ovotestis e um caso de hérnia inguinal uterina em pacientes com mosaicismo 45,X/46,XY. Muitos dos pacientes com este tipo de mosaicismo 34 tem um certo desenvolvimento do útero, mas há exemplos em que não tem sido encontrada estrutura uterina (KRIPLANI et al., 2003). os estigmas de SUT sugerem a expressão somática da linhagem 45,X e são mais comumente vistos em disgenesia gonadal pura. Em disgenesia gonadal mista, não têm sido freqüentemente encontrados estigmas de SUT com exceção da baixa estatura (KRIPLANI et al., 2003). Outros aspectos do gerenciamento na SUT incluem a terapia de reposição hormonal, cirurgia plástica (genitoplastia) de genitália ambígua após a designação do gênero. Todos os pacientes com amenorréia primária e altos níveis de FSH e LH, devem ter uma análise cariotípica após a classificação dos estigmas de SUT. A presença de linhagens celulares de cromossomo Y em cariótipo deve incitar uma precoce gonadectomia a qual previnirá a morbidade nestes indivíduos devido ao aparecimento de tumores (KRIPLANI et al., 2003). 1.6.5. Hormônios 1.6.5.1. Crescimento Meninas com SUT não tem deficiência de hormônio de crescimento (GH) verdadeiramente, embora sejam vistas anormalidades após os 9 anos de idade. Entretanto, estudos provendo a terapia de reposição com hormônio do crescimento para crianças e adolescentes com SUT mostram um aumento na estatura (ROVET, 2004). Só deveriam ser executados testes com GH em meninas com SUT cujo crescimento relativo é claramente anormal ao esperado para SUT. Não há razão clínica para testar a terapia com GH em meninas com SUT cujo crescimento é consistente com o padrão esperado (SAENGER et al., 2001). 35 1.6.5.2. Sexuais Quarenta anos atrás, ovários de fetos com SUT e cariótipo 45,X mostraram ter um número normal de células germinativas até a 18ª semana de gestação, após esse tempo parece haver uma aceleração na degeneração. A insuficiência gonadal é associada com altos níveis de hormônio folículo estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH) na infância (2-5 anos) e após o tempo normal de inicio da puberdade (11 anos), enquanto no período neonatal e infância tardia os níveis de FSH e LH são comparáveis a esse em meninas saudáveis. Na maioridade, assim como em outras condições de hipogonadismo hipergonadotrófico, os níveis de FSH e LH estão aumentados em relação aos níveis da menopausa. A visão de que a apoptose de células germinativas em SUT é quase completa no primeiro ano de vida foi recentemente mudada por Hreinsson et al. (2002), que obteve biópsias ovarianas de nove mulheres com SUT, com idades entre 12 e 19 anos de idade sendo 4 delas com cariótipo 45,X, e encontraram 1,5-128 folículos por mm3 no tecido ovariano cortical. Os autores concluíram que a criopreservação para tratamento futuro da infertilidade pode ser uma opção na SUT. Esses dados podem ser explicados também, pois 30% ou mais de mulheres com SUT mostram sinais de puberdade, sugerindo produção residual de hormônios sexuais ovarianos. Deste modo, a completa avaliação da capacidade reprodutiva é relevante em mulheres na puberdade e adolescentes jovens com SUT. Porém, outro estudo recente, feito por Modi e colaboradores (2003), encontrou um alto índice apoptose em oócitos de fetos com 15 a 20 semanas de gestação (50-70% de células, em comparação com 3-7% de oócitos em fetos normais), enquanto Reynaud e colaboradores (2004), examinaram recentemente 10 fetos abortados com cariótipo 45,X e encontraram uma redução na formação e crescimento folicular. 36 1.6.6. Outros achados 1.6.6.1. Diabetes Muitas mulheres adolescentes e adultas com SUT, apresentam uma intolerância a glicose ou diabetes tipo 2 durante o teste de tolerância à glicose. Em recente estudo cruzado com 71 pacientes adultas com SUT os níveis em jejum de glicose e insulina foram também comparados e os autores concluíram que o risco de fatores metabólicos (como elevada glicose em jejum) não foi importante na SUT, porém foi encontrada uma secreção insuficiente de insulina apontando para uma deficiência na função das células beta (GRAVHOLT, 2005). A diabetes tipo 2 é freqüente, verificando-se um aumento nos níveis de glicose em jejum e ainda a permanência destes níveis durante a estimulação incluindo a elevada glicose após 2 horas e assim uma presumível hiperglicemia pós-prandial (GRAVHOLT, 2005). Muitas mulheres com SUT são tratadas com terapia de reposição hormonal (TRH) após a indução da puberdade, tendo este tratamento uma moderada influência no metabolismo dos carboidratos (GRAVHOLT, 2005). As informações disponíveis indicam que grande proporção de mulheres com SUT tem uma intolerância à glicose e altos níveis de insulina circulante com ou sem tratamento de reposição dos hormônios sexuais, o que pode indicar degeneração das células beta do pâncreas (BAYLEY & AHMED, 1980). Em modelos animais, a liberação de insulina estimulada por glicose é reduzida após a ovariectomia e é reparada pela reposição com hormônios sexuais. Assim sendo, durante o tratamento com hormônios sexuais em longo 37 prazo pode haver uma melhoria no metabolismo dos carboidratos, talvez em parte, por efeito do TRH na aptidão física, composição corporal e pressão sanguínea (GRAVHOLT, 2005). Embora os trabalhos disponíveis evidenciem um número de defeitos conhecidos que levam em direção a diabetes tipo 2, é necessário que sejam feitos estudos prolongados para examinar os possíveis efeitos do TRH (preferivelmente com 17-estradiol) sobre a prevalência do aumento da intolerância a glicose e diabetes tipo 2. Outros estudos adicionais são necessários para o conhecimento da história natural do desenvolvimento do diabetes tipo 2 e SUT. O tratamento com GH induz a resistência insulínica em SUT, bem como em outras condições onde haja a diminuição quando o tratamento é descontinuado. O tratamento de reposição hormonal induz pequenas mudanças na homeostase da glicose e parece ter influencia em longo prazo no desenvolvimento do diabetes tipo 2. As presentes recomendações são para mulheres portadoras de SUT que fazem o tratamento de reposição hormonal contínuo até a idade normal do aparecimento da menopausa (50-55 anos) (GRAVHOLT, 2005). 1.6.6.2. Função Tireoidiana A disfunção tireoidiana é comum em SUT. O hipotireoidismo é freqüente e a formação de anticorpos tireoidianos especialmente em um subgrupo que apresenta isocromossomo de braço longo de cromossomo X {i(Xq)} onde 30% ou mais desenvolvem hipotireoidismo. Muitas pacientes adultas com SUT parecem sofrer de hipotireoidismo compensado, o qual freqüentemente progride para um hipotireoidismo evidente. Entretanto, permanece o enigma pelo qual muitas mulheres com SUT desenvolvem tireoidite autoimune. A explicação para o aumento do risco de auto-imunidade em SUT (incluindo 38 também a doença celíaca e a diabetes tipo 1) é inexplicável, mas há uma provável base genética. Estudos recentes mostraram pequenas deficiências na imunidade humoral e celular, podendo explicar o aumento do risco da auto-imunidade (GRAVHOLT, 2005). 1.6.6.3. Insuficiência Androgênica Como metade da produção de testosterona em mulheres normais é originada das gônadas, poderíamos então antecipar que nas mulheres com SUT deve haver uma deficiência, a qual realmente ocorre. A suplementação androgênica parece ter efeitos benéficos perante os problemas de desenvolvimento sexual, os quais têm sido descritos na SUT. Além disso, a suplementação androgênica possibilitaria efeitos positivos na redução do conteúdo mineral ósseo manifestando osteoporose e aumento na incidência de fraturas, bem como nas características antropométricas e composição corporal na SUT (GRAVHOLT, 2005). 1.6.6.4. Função Hepática Mulheres com SUT apresentam alta freqüência de parâmetros bioquímicos do fígado. Um estudo encontrou elevados níveis de enzimas hepáticas em 80% das mulheres de meia idade com SUT, mas não puderam associar estes achados com alguma doença hepática evidente. Foram encontrados altos níveis de alanina-aminotransferase, glutamiltransferase, fosfatase alcalina total, no soro de pacientes com SUT em comparação com os controles. Os níveis elevados dessas enzimas hepáticas não estão associados a uma doença hepática evidente e deve ser enfatizado que mulheres com SUT não mostram maior consumo de álcool que outras mulheres sem a afecção. Um recente estudo epidemiológico realizado com 27 mulheres com SUT sugere que estas mulheres apresentam cirrose 39 hepática mais freqüentemente que mulheres normais devido aos persistentes níveis elevados de enzimas hepáticas. Vários autores concluíram que as principais causas de anormalidades hepáticas na SUT são desordens vasculares de origem congênita, e doença do fígado adiposo não-alcoólico com sinais de hepatotoxicidade concomitante com a terapia de reposição estrogênica (GRAVHOLT, 2005). 1.6.6.5. Função Cardíaca Muitos dos aumentos na morbidade e mortalidade na SUT são atribuídos a diferentes condições cardíacas. Muitas destas de origem congênita e outras adquiriras. As malformações congênitas relatadas no coração e grandes vasos são freqüentes na SUT e especialmente com o cariótipo 45,X. Essas malformações envolvem os vasos de ambos os lados, direito e esquerdo, do coração e mostram um padrão característico quando comparados com a população normal (GRAVHOLT, 2005). Em um grande estudo realizado por Sybert (1998), mostrou que as malformações cardíacas são mais prevalentes entre o subgrupo de pacientes com cariótipo 45,X (39%) que entre outros subgrupos com cariótipos que incluem isocromossomo de braço longo do cromossomo X {i(Xq)} (1112%) com ou sem mosaicismo. As causas das malformações cardíacas congênitas na SUT parecem desconhecidas. Um aumento no diâmetro da raiz aórtica, o qual é um fator de risco para o desenvolvimento de dilatação da aórta e posterior ruptura, é freqüentemente visto e provavelmente depende da pressão sanguínea, porém estudos prospectivos são necessários para saber como o risco de dissecação aórtica pode ser reduzido (GRAVHOLT, 2005). Cerca de 30% de meninas com SUT apresentam uma suave hipertensão quando tem sua pressão sanguínea monitorada por 24 horas e 50% têm perfil anormal da pressão 40 sanguínea diurna. Mulheres com SUT têm uma significante elevação na pressão sanguínea quando comparadas com um grupo controle de mesma idade, como também, 50% delas tem hipertensão clínica. O tratamento com hormônios sexuais causa uma significante redução na pressão sanguínea medida por 24 horas. Entretanto é essencial estabelecer o tratamento e quais os medicamentos devem ser escolhidos como de primeira e segunda linha (GRAVHOLT, 2005). Os fatores de risco na população geral para dissecação da aorta incluem hipertensão sistêmica, a qual está presente em mais 90% dos casos, válvulas aórticas bicúspide ou unicomissurais congênitas e coarctação da aorta, assim como, gravidez, trauma e trauma iatrogênico induzido são também fatores de risco. Usualmente, mas nem sempre, estes fatores de risco para dissecação aórtica supracitados, estão presentes também em pacientes com SUT. A dilatação da raiz aórtica, a qual é o fator de risco da ruptura tardia é visto freqüentemente e parece estar associado com a elevação da pressão sanguínea sistólica. Indubitavelmente a SUT deve ser incluída na lista de fatores de risco para dissecação aórtica. Até o presente momento nenhuma anormalidade de parede aórtica foi identificada na SUT. A gravidez é um raro acontecimento na SUT, porém devido ao aumento no programa de doação de óvulos, muitas pacientes podem ter a expectativa de engravidar no futuro. Devido à associação entre a gravidez e as mudanças na pressão sanguínea e carga de trabalho cardíaco, há um aumento no risco provável de dissecação aórtica. Alguns casos de gravidezes têm sido descritos na SUT, bem como casos de dissecação aórtica fatais e nãofatais (GRAVHOLT, 2005). A deficiência crônica de estrógeno afetando muitas mulheres adultas com SUT está provavelmente associada com a morbidade cardiovascular. Parte do aumento da morbidade e mortalidade na SUT pode ser explicada pelo não uso de estrógenos (GRAVHOLT, 2005). 41 Hipertensão é freqüente entre pacientes com SUT, e o tratamento com terapia de reposição dos hormônios femininos causa uma pequena, mas não significante redução na pressão sanguínea em 24 horas (GRAVHOLT, 2005). Até o presente momento não há um consenso em relação a um número de aspectos envolvidos, especialmente durante a adolescência devido ao pouco seguimento dos estudos em longo prazo, do quão intensivo deve ser feito o tratamento da hipertensão, e quais drogas escolher no tratamento de primeira linha? Qual efeito a terapia de reposição dos hormônios sexuais causa em longo prazo, e como o tratamento anti-hipertensivo afeta a aorta? (GRAVHOLT, 2005). O risco do perfil cardiovascular deve ser determinado ao diagnóstico durante adolescência e na maioridade, e o paciente deve ser informado sobre os riscos e benefícios do hormônio do crescimento e terapia de reposição dos hormônios sexuais. As pacientes devem ser vistas pelo cardiologista e uma ecografia deve ser realizada junto com o exame clínico. Quando a indução puberal é realizada pode ser prudente fazer uma nova avaliação cardiovascular, bem como na maioridade. Se alguma malformação cardíaca é encontrada, deve-se fazer uma análise apropriada através de exames detalhados e o seguimento deve ser feito em intervalos regulares. (GRAVHOLT, 2005). 1.7. Diagnóstico Diferencial Dentre o diagnóstico diferencial para essas pacientes, inclui-se a Síndrome de Noonam, que é conhecida como a afecção com algumas características clínicas muito semelhantes às de SUT, porém com função gonadal geralmente preservada e associada a cariótipo normal (MARUI et al., 2002). Outra associação é bastante feita com a Síndrome 42 de Léri-Weill devido à baixa estatura causada pela monossomia do gene SHOX (REINEHR et al., 2001). 1.8. Aspectos Genéticos 1.8.1. Citogenética 1.8.1.1. O Cromossomo X A SUT tem sido encontrada tanto nas deleções de braço curto (Xp-) quanto nas deleções de braço longo (Xq-) do cromossomo X. A presença de disgenesia ovariana tem sido associada em 93% as portadores de deleções no braço longo do cromossomo X, e em 65%, a deleções no braço curto. A falta da extremidade do braço curto do cromossomo X tem sido associada á baixa estatura em 88%, enquanto que a falta do braço longo do mesmo cromossomo em apenas 43% (MIYAHIRA & RAÍCES, 1992). As amenorréias primárias e a maioria das secundárias têm cariótipos com deleções no braço longo do cromossomo X nas regiões Xq13-q14 (regiões de inativação do cromossomo X em anel). Esses fatos sugeriram que a região Xcen-p11 seria inativada nas deleções do cromossomo X, sobretudo quando esta ocorresse no braço longo. Em alguns casos, essa inativação poderia separar a extremidade do braço curto (Xp11), explicando a baixa estatura destes portadores (MIYAHIRA & RAÍCES, 1992). As anormalidades estruturais do cromossomo X são menos comuns, sendo a mais freqüente o isocromossomo de braço longo (iXq), que é visto em 10 a 15% das pacientes com SUT na forma completa ou em mosaico (RIBEIRO, 1995). Deleções distais a região Xq25 não ocasiona fenótipo da SUT, a exceção de poucos casos de amenorréia secundária ou menopausa precoce. Foi 43 verificado em algumas pacientes com disgenesias gonadais a presença de um cromossomo X em anel (rX) (MIYAHIRA & RAÍCES, 1992). 1.8.1.2. O Cromossomo Y O cromossomo Y é necessário para o desenvolvimento das células germinativas masculinas. A perda de seqüências de regiões eucromáticas do braço longo (Yq) é a maior causa de infertilidade masculina. Entre 10% e 20% de homens normais com infertilidade idiopática e cromossomo Y aparentemente intacto, possuem microdeleções no braço longo do cromossomo Y (Yq) resultando na perda de genes necessários para fertilidade (fator de azoospermia, ou AZF). Microdeleções Yq podem estar associadas a instabilidade do cromossomo Y, levando a formação de linhagens celulares 45,X (PAPADIMAS et al., 2001). Análise citogenética detecta a presença de 6-9% de cromossomo Y em mosaicismo na SUT (KIM et al., 2000). O cromossomo Y é um dos menores cromossomos do genoma humano (~60 Mb) e representa em torno de 2-3% do genoma haplóide. Observações citogenéticas baseadas nos estudos de bandas cromossômicas permitiram que diferentes partes do cromossomo Y pudessem ser identificadas: a região pseudoautossômica (dividida em duas regiões: PAR1 e PAR2) e as regiões de eucromatina e heterocromatina (QUINTANA-MURCI & FELLOUS, 2001). A região pseudoautossômica (PAR): PAR1 está localizada na região terminal do braço curto (Yp), e a PAR2 na ponta do braço longo (Yq). PAR1 e PAR2 cobrem aproximadamente 2600 kb e 320 kb de DNA, respectivamente. As regiões pseudoautossômicas, e em particular PAR1, são regiões onde ocorre o pareamento e troca 44 de material entre o cromossomo Y e a região pseudoautossômica do cromossomo X durante a meiose masculina. Conseqüentemente, genes localizados dentro de PAR são herdados da mesma maneira que os genes autossômicos. A região eucromática é distal ao PAR1 e consiste da região paracentromérica do braço curto, do centrômero e da região paracentromérica do braço longo. Finalmente, a região heterocromática abrange a parte distal do braço longo do cromossomo Y (Yq) correspondente a Yq12. Esta região é geneticamente inerte e polimórfica em diferentes populações masculinas e é composta por duas famílias de seqüências altamente repetitivas, DYZ1 e DYZ2, contendo cerca de 5000 e 2000 cópias de cada respectivamente (QUINTANA-MURCI & FELLOUS, 2001). Considerando que PAR1 e PAR2 representam 5% de todo o cromossomo, a maioria do comprimento do cromossomo Y (95%) pode ser chamado de região “não-recombinante” (NRY). Isto exclui as regiões eucromáticas e heterocromáticas do cromossomo. Tendo em vista que a região heterocromática é geneticamente inerte, a região eucromática tem numerosas seqüências altamente repetitivas, mas também contém muitos genes responsáveis por importantes funções biológicas (QUINTANA-MURCI & FELLOUS, 2001). Os primeiros indícios de que o cromossomo Y está envolvido na diferenciação sexual masculina veio da observação de que os indivíduos XY ou XXY (síndrome de Klinefelter) desenvolvem testículos e os indivíduos XX ou X (SUT) desenvolvem ovários. Posteriormente, estudos mostrando que ratos XX apresentavam um fenótipo masculino devido a uma pequena porção do cromossomo Y apoiando a proposição de que um gene principal envolvido na determinação sexual masculina foi transportado do cromossomo Y. Em 1990, o gene responsável pela determinação sexual chamado SRY (Sex-determining Region on the Y chromosome), foi finalmente identificado. O gene SRY foi clonado pelo 45 isolamento de pequenos fragmentos translocados do cromossomo Y em pacientes XX com reversão sexual. Este gene está localizado no braço curto do cromossomo Y próximo ao limite da região pseudoautossômica. Ele é composto por um único éxon que codifica uma proteína de 204 aminoácidos a qual apresenta um domínio de ligação ao DNA (HMG-box: High Mobility Group), sugerindo que esta proteína regula a expressão gênica. Este gene tem mostrado ser essencial para o inicio do desenvolvimento e diferenciação testicular na gônada bipotencial indiferenciada. Além disso, o SRY é proposto ser o principal gene que regula a cascata da determinação testicular. Embora muitos genes e loci interajam com a proteína SRY, assim como WT-1 (gene do tumor de Wilm), SF-1 (fator 1 esteroidogênico) e SOX-9, a questão é como esses genes são regulados, nesse caso, pelo SRY está ainda sem resposta (QUINTANA-MURCI & FELLOUS, 2001). Danos e rearranjos no cromossomo Y tem sido associados com diferentes tipos de câncer, como por exemplo, câncer de bexiga, tumor de estroma de cordão sexual masculino, câncer de pulmão, câncer de esôfago. Embora os danos e rearranjos deste cromossomo sejam relativamente freqüente em diferentes tipos de câncer, não há uma evidência direta no papel do cromossomo Y na progressão tumoral, pois não foi localizado nenhum proto-oncogene, gene supressor tumoral ou gene de reparo neste cromossomo (QUINTANA-MURCI & FELLOUS, 2001). Porém, é presumível que ambos, oncogenes e genes supressores tumorais, devam estar neste cromossomo, tendo um significado patogênico principalmente em órgãos específicos masculinos como o testículo. Um lócus que predispõe ao câncer foi atribuído ao cromossomo Y, o locus do gonadoblastoma (GBY). O gonadoblastoma é um raro tipo de câncer que consiste de agregados de células germinativas e elementos do cordão sexual. Ele se desenvolve em mais de 30% de gônadas disgênicas de mulheres com reversão sexual que 46 contém algum material de cromossomo Y. Esta observação leva a postular a existência de uma predisposição no locus de Y (GBY) que aumenta o desenvolvimento de gonadoblastoma em gônadas disgênicas. Este locus pode atuar como oncogene em gônadas disgênicas, tendo uma função normal no testículo e um efeito patogênico quando expresso fora do seu ambiente natural (testículo normal). Muitos genes têm sido propostos como candidatos para GBY de acordo com sua localização, função e perfil de expressão. Dentre eles o mais provável candidato parece ser o TSPY. Este gene apresenta varias cópias localizadas na região crítica onde o gene GBY tem sido mapeado e expresso no gonadoblastoma, em espermatogônias com estágios iniciais de tumorigênese testicular, em carcinomas localizados de testículo, em seminomas e cânceres de próstata. Estas observações sugerem fortemente que estes genes ligados ao cromossomo Y podem predispor células germinativas a outros eventos oncogênicos no processo de tumorigênese (QUINTANA-MURCI & FELLOUS, 2001). 1.8.1.3. Aneuploidias do par sexual 1.8.1.3.1. Monossomias A maioria dos casos de SUT é causada pela não-disjunção do cromossomo sexual na meiose ou no início da mitose (MIYAHIRA & RAÌCES, 1992). Na prática genética, o fenótipo para SUT é altamente variável incluindo anomalias dos cromossomos sexuais (cromossomo X e/ou Y). O cariótipo típico de uma mulher com SUT é 45,X, ou seja, um cromossomo X ou Y é perdido. Estatisticamente estima-se que dois terços (2/3) das pacientes com cariótipo 45,X devem advir de um cariótipo 46,XX e um terço (1/3) de um cariótipo 46,XY. Em 99% das concepções humanas com cariótipo 45,X ocorre o aborto 47 natural nos primeiros estágios do desenvolvimento embrionário e apenas 1% destas concepções chegam a termo e geralmente mostram sinais característicos de SUT (GRAVHOLT, 2005). Tanto a morte embrionária quanto o fenótipo da SUT são considerados como resultante da monossomia de genes comuns ao cromossomo X e Y. É sabido que em mulheres normais esses genes são expressos em ambos cromossomos X, ativo e inativo, assegurando a quantidade certa do produto gênico (FERNÁNDEZGARCÍA et al., 2000). 1.8.1.3.2. Mosaicismos O termo “Síndrome de Ullrich-Turner” é uma caracterização clínica e não uma diretriz consistente para substituir o diagnóstico, mas os sinais mais comuns incluem retardo do crescimento apresentando redução da estatura final com ou sem achados fenotípicos adicionais, e exceto em raros casos, também insuficiência gonadal, e infertilidade. O fenótipo pode ser acompanhado pelo cariótipo com completa ou parcial ausência de um cromossomo sexual, e apresentando também, mosaicismo com duas ou mais linhagens celulares (GRAVHOLT, 2005). 1.8.1.3.2.1. Mosaicismo 45,X/46,XX ou anomalias de X Hoje é estabelecido que muitas mulheres com SUT não possuem o cariótipo “típico” 45,X, mas sim diferentes variantes que causam sinais clínicos da SUT. Os cariótipos mais freqüentes são 45,X/ cariótipos com isocromossomo de X (i(Xq) ou i(Xp)), cariótipos 45,X mosaicos com anéis de X (45,X/46,X,r(X)), cariótipos com mosaicismo (45,X/46,XX) e cariótipos contendo cromossomo Y inteiro ou parcial. Tem sido postulado que o cariótipo 45,X “puro” não existe, pois tal indivíduo não poderia sobreviver no útero. Essa 48 reivindicação é apoiada por estudos meticulosos examinando mais de um tecido (outros que não só linfócitos) para a presença de mosaicismo (GRAVHOLT, 2005). Muitos médicos acreditam que um cariótipo normal obtido de linfócitos de sangue periférico exclui o diagnóstico de SUT, Entretanto, há pacientes cujos achados dismórficos sugerem fortemente a SUT, porém seus cariótipos obtidos de linfócitos são normais. No passado, estes pacientes teriam sido diagnosticados inapropriadamente como tendo síndrome de Noonan. Os achados clínicos de SUT em pacientes com cariótipo normal obtido de linfócitos apontam para a necessidade da realização de cariótipos em outros tecidos como, por exemplo, a pele. A biópsia de pele para a análise de fibroblastos é rápida e de fácil obtenção, e deixa apenas uma pequena cicatriz. Azcona e colaboradores (1999), descreveram 4 pacientes com achados de SUT, porém com cariótipos normais obtidos de linfócitos. Estas meninas, posteriormente, foram submetidas à biópsia de pele para cultura de fibroblastos e subseqüente realização do cariótipo. Em uma destas pacientes, um cariótipo obtido de linfócitos com resultado normal (46,XX), posteriormente quando analisados seus fibroblastos em uma segunda investigação mostrou um cariótipo 45,X em mais de 100 células analisadas. Este estudo sugere que em muitos casos de SUT as células anormais (45,X) morrem na medula óssea deixando assim apenas as células normais (46,XX), este fenômeno pode ser explicado pela rápida renovação celular que ocorre na medula óssea. É bem conhecido que a distribuição da constituição do cariótipo difere entre tecidos de pacientes com uma constituição cromossômica em mosaico. A SUT deve ser suspeitada em qualquer menina que apresentar dois ou mais achados clínicos característicos e caso o cariótipo obtido de linfócitos se apresente normal, sugere-se a realização em outro tecido com baixa taxa de renovação como, por exemplo, a pele (AZCONA et al., 1999). 49 O grande percentual de perdas fetais e embrionárias com cariótipo 45,X, sugere a necessidade de mosaicismo para sobreviver, tendo em vista que o número de perdas fetais e embrionária é bem menor quando ocorre uma segunda linhagem celular em mosaicismo, entretanto o fenótipo resultante é similar. Porém, com as técnicas disponíveis para a detecção destes genótipos, um grande percentual de pacientes com cariótipo 45,X/46,XX é diagnosticado erroneamente como 45,X. Quando o mosaicismo aparece em baixo percentual não se pode detectá-lo com as técnicas citogenéticas convencionais por causa do grande número de células que devem ser analisadas. A aplicação de técnicas moleculares como a hibridização por fluorescência in situ (FISH) e reação em cadeia da polimerase (PCR), aumenta substancialmente a detecção de linhagens celulares de baixa freqüência e possíveis aberrações estruturais. A detecção do mosaicismo oculto é principalmente influenciada por quatro fatores: o tipo e número de tecidos analisados, o número de células estudadas, a sensibilidade da técnica utilizada e a possível seleção de quaisquer das linhagens celulares. A hipótese da necessidade de mosaicismo para sobrevivência é apoiada pelo argumento da existência do efeito de proteção do feto de um ou mais genes nos cromossomos sexuais (X ou Y). De acordo com este conceito, duas cópias do gene devem estar presentes no feto ou tecidos extra embrionários (FERNÁNDEZ-GARCÍA et al., 2000). Várias formas de mosaicismos envolvendo a aneuploidia do cromossomo X e marcadores cromossômicos ou anormalidades estruturais, como por exemplo 45,X/46,X,r(X), tem sido associadas com SUT. Para marcadores cromossômicos identificados como originalmente derivados de cromossomo X, descrito frequentemente como pequenos anéis de cromossomo X, a falha na inativação do cromossomo X tem sido proposta como o fator primário para o fenótipo atípico dessas pacientes. A falha na 50 inativação de genes presentes no cromossomo em anel resulta numa falta da compensação da dose do cromossomo X e, portanto, uma condição dissômica funcional para o cromossomo X. Tal falha tem sido atribuída a uma perda no centro de inativação do cromossomo X (XIST) durante a embriogênese (GRAY et al., 2001). A transcrição deficiente do gene XIST em mulheres com pequeno anel cromossômico de X é associado com fenótipos severos. Um fator importante nos casos de anéis cromossômicos de X é a determinação da presença ou ausência do gene XIST que tem uma grande influencia na determinação da severidade do fenótipo (LI et al., 2000). O anel cromossômico de X é formado ocasionalmente pela quebra e perda de ambos os braços curtos e longos de um dos cromossomos X (MIGEON et al., 1993; DAWSON et al., 2004, LEPPING et al., 2004). 1.8.1.3.2.2. Mosaicismo 45,X/cromossomo Y Gônadas de pacientes intersexo com cromossomos Y têm risco de desenvolvimento de tumores. Gonadoblastoma é o mais freqüente tumor de gônadas em pacientes com mosaicismo 45,X/46,XY. O risco exato do gonadoblastoma é difícil de quantificar devido a prática da gonadectomia precoce. O risco estimado é de 3-4% aos 10 anos de idade e de 1020% aos 15 anos de idade. O risco global é de 20-25% e pode aumentar para 46% aos 40 anos de idade. O risco é aparentemente baixo em fenótipos masculinos, intermediário em pacientes com genitália ambígua e alto em fenótipos femininos (KRIPLANI et al., 2003; RANKE & SAENGER, 2001). O gonadoblastoma é composto por células germinativas e células do cordão do estroma sexual. Eles são pequenos tumores freqüentemente calcificados e bilaterais em 33% dos casos. O componente da célula germinativa parece propenso a degeneração maligna considerando a ocorrência sincrônica de gonadoblastoma e 51 disgerminoma/seminoma em 50% dos casos de gonadoblastoma. O locus do gonadoblastoma no cromossomo Y (GBY) foi localizado numa pequena região muito próxima ao centrômero e a avaliação de risco mais precisa espera a clonagem deste gene e elucidação do seu papel no desenvolvimento do gonadoblastoma. Por causa de risco alto de tumores de gônadas com linhagens celulares de cromossomo Y a exploração e remoção precoce destas gônadas são recomendadas. Quando o paciente é nomeado como gênero feminino, também é importante prevenir a virilização (KRIPLANI et al., 2003). Após o diagnóstico inicial através da apresentação fenotípica, estudos bioquímicos e citogenéticos a laparoscopia tem um importante papel na confirmação diagnóstica e definição das estruturas internas. A gonadectomia laparoscópica pode também ser feita ao mesmo tempo. As vantagens da gonadectomia laparoscópica são a rápida recuperação, mínima perda de sangue, curto tempo de internação hospitalar e mínimo trauma psicológico devido a ausência de grande cicatriz. A localização das gônadas é facilitada devido a melhor visualização da pélvis comparada a laparotomia tradicional (KRIPLANI et al., 2003). A histereosalpingectomia prévia junto com a gonadectomia tem sido sugerida para prevenir o aparecimento de carcinoma endometrial em útero sem função. Atualmente com o advento da doação de óvulos e a fertilização in vitro, a possibilidade de gravidez existe nestes indivíduos e a abordagem conservativa durante a gonadectomia é preferida. Gravidezes de sucesso têm sido relatadas em pacientes com disgenesia gonadal (KRIPLANI et al., 2003). Reddy e colaboradores (1996 e 1998), relataram uma desigual distribuição e proporção de duas linhagens celulares 45,X e 46,X,der(Y) em vários tecidos causando diferentes fenótipos variando de fenótipos femininos com estigmas de SUT, a homens com 52 disgenesia gonadal mista e/ou genitália ambígua e homens com fenótipo quase normal. Essa variação no fenótipo é supostamente devida, não apenas, ao percentual de células XY, mas também ao padrão de linhagens celulares mosaicas na crista genital (FERNÁNDEZGARCÍA et al., 2000). 1.8.2. Biologia Molecular Os genes candidatos para a afecção são SHOX, ZFX, RPS4X. O gene SHOX, localizado na região pseudoautossômica (PAR1) dos cromossomos X (Xp22.3) e Y (Yp11.32), pode ser responsável pela baixa estatura (GORLIN et al., 2001; SAENGER et al., 2001; MARUI et al., 2002; ROVET, 2004). Pacientes com deleção no gene SHOX (Shot stature HOmeoboX-containing gene) localizado no braço curto do cromossomo X (Xp), são classificados como SUT, apenas se essa deleção ocorrer próxima à junção entre Xp22.2 e Xp22.3 (SAENGER et al., 2001; OGATA et al., 2001). O gene SHOX é importante para o crescimento e se for perdido ou estiver anormal, causa falha no crescimento e baixa estatura idiopática (ROVET, 2004). A haploinsuficiência do gene SHOX parece explicar a maior parte da baixa estatura na SUT, mas ainda não está inteiramente claro. Zinn e colaboradores (2000) sugeriram que há um lócus no intervalo Xp11.1-p22 que codifica o gene ou genes relacionados à determinação da estatura, e têm proposto que o fator de transcrição ZFX é um provável gene candidato (RANKE & SAENGER, 2001). No entanto, os genes regulatórios localizados no braço longo do cromossomo X (Xq13-q16) é que são críticos para o desenvolvimento e manutenção do ovário (LONGUI et al., 2002). USP9X (DFRX) é um segundo gene candidato para disgenesia gonadal na SUT. DFRX (Drosophila Fat facets Related X) é o gene homólogo humano da mosca de fruta envolvido na oogênese e desenvolvimento do olho. DFRX 53 escapa da inativação do X e está mapeado em Xp11.4, uma região proximal ao braço curto do cromossomo X que implica na falha ovariana. Dois outros genes candidatos foram descritos em Xq: RPS4X codifica uma isoforma da proteína ribossomal S4 e DIAPH2 e é o homólogo humano do gene DIA de Drosophila. DIAPH2 está envolvido na função ovariana normal (RANKE & SAENGER, 2001). Estudos recentes sugerem que a região crítica do cromossomo que contem o gene responsável pelo linfedema seja Xp11.4 (LOSCALZO et al., 2005). É clinicamente relevante determinar a origem do marcador cromossômico sexual e identificar especificamente as seqüências X e Y para estabelecimento das correlações fenótipocariótipo e para aconselhamento genético adequado (CERVANTES et al., 2001). Estudos com biologia molecular mostraram que o único X que as pacientes com SUT possuem é de origem materna. A não disjunção ocorre na meiose I paterna, porém a causa dessa disjunção ainda não é conhecida. Não há relação com a idade materna avançada (RIBEIRO, 1995). Recentemente, o mecanismo genético conhecido como imprinting genômico tem recebido considerável atenção. Parece que há uma diferença na expressão de certos genes dependendo de que genitor é originado. Quando o cromossomo X herdado é de origem paterna é notada uma pobre memória de retenção verbal, mas uma memória de retenção visual similar normal. Em contraste, quando o cromossomo X herdado é de origem materna, mostra déficit nos testes de memória de retenção visual, mas uma memória de retenção verbal normal. Em outras palavras, quando há presença do cromossomo X paterno ocorre um prejuízo na memória verbal, e quando o cromossomo X presente é o materno ocorre um prejuízo na memória visual, mas não verbal (ROVET, 2004). 54 1.9. Tratamento 1.9.1. Hormônio de crescimento A SUT foi a primeira desordem, além da deficiência de hormônio de crescimento (GHD), a ter aprovada a terapia com hormônio do crescimento (GH). As doses de GH para o tratamento da SUT são mais altas que a GHD (BAJPAI & MENON, 2005). A idade média da menarca em meninas varia de acordo com o país, ambiente social e etinicidade (GRAVHOLT, 2005). A terapia com GH deve ser feita em meninas com SUT que estejam abaixo do 5º percentil da curva de crescimento normal (BAJPAI & MENON, 2005). Por muitos anos, os autores defendem a postergação da idade para a indução da puberdade contanto que seja possível alcançar uma otimização da resposta ao tratamento com GH. Entretanto, o melhor a ser feito é realizar uma terapia endócrina conjunta a fim de evitar problemas sociais na escola por conta do atraso no crescimento e desenvolvimento psicológico. Isto poderia também otimizar a mineralização óssea (GRAVHOLT, 2005). Não há efeitos adversos do tratamento com GH no metabolismo dos carboidratos. Há um rápido aumento na insulina pós-prandial durante a terapia com GH, mas retorna ao normal após o término da terapia. A terapia de promoção do crescimento com GH recombinante é um método aceito para regular a altura durante a adolescência. A altura final depende da dose, da duração do tratamento puberal e do tempo da reposição do estrógeno. A ilimitada disponibilidade do GH recombinante tem possibilitado a condução cuidadosa de estudos que apontam para uma boa avaliação do crescimento. O diagnóstico tardio da SUT e as baixas doses do GH têm adiado a reposição do estrógeno e resultado no atraso da feminilização das pacientes (RANKE & SAENGER, 2001). O início do tratamento com 55 GH no período correto, junto com o atraso da puberdade combinado com a oxandrolona está associado a uma melhor estatura final na SUT (BAJPAI & MENON, 2005). 1.9.2. Hormônios Sexuais Em muitas meninas normais a puberdade começa em torno dos 12 anos de idade. Entretanto, 30% das meninas com SUT experimentarão o desenvolvimento da puberdade espontânea e 2-5% menstruarão espontaneamente e poderão alcançar uma potencial gravidez sem intervenção médica, indicando que a puberdade deve ser observada antes do inicio da terapia com estrógeno. Quando o FSH e o LH estão claramente elevados e os sinais clínicos de puberdade foram perdidos, deve ser iniciada a indução puberal, porém isso só é aconselhável quando a paciente não sofre de angustia por conta do atraso nos sinais de puberdade e comparação com suas colegas, pois o desenvolvimento puberal pode estar atrasado se isso ocorrer e em muitos casos é acompanhado de falha ovariana prematura (GRAVHOLT, 2005). Para que haja desenvolvimento puberal, a dosagem e o tempo de terapia estrogênica deve mimetizar o desenvolvimento puberal normal tendo em conta o desejo individual do inicio da puberdade. As doses devem ser individualizadas e iniciadas com pequenas doses de estrógeno como monoterapia, a qual pode ser monitorada em termos de desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, dosagem de LH e FSH no soro, maturação óssea ou volume uterino. A terapia com estrógeno deve ser coordenada com o uso de GH, devendo ser individualizado para cada paciente otimizando assim o crescimento e o desenvolvimento puberal de forma conjunta. Quando o crescimento é a prioridade, a terapia estrogênica deve ser retardada para evitar o comprometimento na altura adulta. Um recente hormônio de crescimento tem mostrado que o período de terapia estrogênica não 56 interfere na altura final quando a terapia com GH é iniciada precocemente e a dose é aumentada passo a passo, enquanto outros estudos apontam em direção ao adiamento da terapia estrogênica tanto quanto possível. A reposição do estrógeno durante a puberdade pode ter efeitos positivos na velocidade motora, memória verbal e não-verbal e processamento da informação. Embora própria terapia de reposição hormonal (TRH) durante a adolescência não parece corrigir alguns das deficiências neurocognitivas encontradas na SUT (deficiência nas habilidades visual-espacial, visual-perceptiva, função motora, memória não-verbal e habilidades de atenção), porém não se sabe ainda se estas deficiências são sensíveis à dosagem de estrógeno (GRAVHOLT, 2005). Como muitas mulheres com SUT tem disgenesia ovariana, sendo assim inférteis, este aspecto tem que ser levado em consideração. Muitas mulheres adultas consideram a infertilidade como o principal problema da SUT. Estudos recentes tem mostrado sucesso promissor na resolução deste problema com a doação de oócitos que já é uma opção em muitos países, porém são necessárias altas doses de estradiol (4-8mg de 17-estradiol) para a preparação do útero para implantação. A implantação ovariana de material criopreservado parece ser uma opção no futuro (GRAVHOLT, 2005). O tratamento auxiliar com oxandrolona parece resultar em pequeno mas significante aumento na memória em crianças com SUT, mas sem afetar a cognição espacial, habilidades verbais ou função de execução (ROSS et al, 2003; BAJPAI & MENON, 2005). 57 1.9.3. Cirúrgico Gonadoblastoma é uma neoplasia composta de células germinativas e elementos do cordão sexual. Sugere-se que o locus GBY, localizado na região pericentromérica do braço curto do cromossomo Y (Yp) predispõe ao desenvolvimento deste tipo de tumor. Gonadectomia profilática deve ser recomendada em pacientes com SUT que possuam mosaicismo com cromossomo Y (CANTO et al, 2004; MAZZANTI et al, 2005). 58 2. JUSTIFICATIVA A variabilidade das manifestações clínicas encontradas nas pacientes com suspeita de SUT dificulta a realização do tratamento adequado e do aconselhamento genético. Dependendo da alteração cromossômica o fenótipo da paciente pode ser mais brando, o que dificulta o diagnóstico clínico. A confirmação diagnóstica da suspeita de SUT é fundamental para a indicação do tratamento hormonal (estrógenos e hormônio do crescimento). A baixa estatura é uma das principais causas da baixa auto-estima das pacientes, o que pode ser melhorado com o uso de hormônio do crescimento e o encaminhamento para tratamento psicológico, após a confirmação da afecção pelo estudo citogenético. A presença do cromossomo Y na linhagem celular de uma paciente com SUT é indicativa da retirada de gônadas, pelo risco aumentado de aparecimento do gonadoblastoma. A correlação genótipo-fenótipo informa sobre o prognóstico da paciente, ou seja, é possível inferir sobre a saúde futura do paciente com o resultado do exame citogenético, devido ao abrandamento fenotípico em casos de mosaicismo. Este estudo, além das justificativas apresentadas acima, nunca foi realizado no estdo do Ceará - Brasil. 59 3. OBJETIVOS 3.1. Geral Realizar o diagnóstico citogenético de pacientes com suspeita da síndrome de Ullrich-Turner no estado do Ceará – Brasil. 3.2. Específicos Fazer a correlação genótipo-fenótipo a partir do estudo citogenético. Verificar se a ocorrência dos cariótipos está de acordo com a literatura. Fazer correlação dos achados clínicos do presente estudo com os achados da literatura. 60 4. MATERIAL E METODOS 4.1. Grupo Amostral O grupo amostral constou de 43 pacientes com suspeita de Síndrome de Ullrich Turner (SUT), identificadas nos serviços de genética do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), do Hospital Geral César Cals (HGCC) e do serviço de endocrinologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). 4.1.1. Critérios de Inclusão Foram incluídos na amostra os pacientes que preencheram os seguintes critérios: ♦ Obtenção do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). ♦ Avaliação da criança pelo médico geneticista ou endocrinologista ♦ Pacientes com história sugestiva de SUT, que apresentam baixa estatura (abaixo do percentil 3), acompanhados ou não por algum dos critérios clínicos básicos como: • Linfedema de pés e mãos (recém-nascido) • Pescoço alado • Pescoço curto • Baixa implantação do cabelo na nuca • Distância intermamilar aumentada e/ou tórax em escudo • Amenorréia primária ou secundária • Disgenesia gonadal • Quarto metacarpo curto 61 4.1.2. Critérios de Exclusão Nos casos em que os responsáveis recusaram-se a assinar o termo de consentimento, o resultado do exame citogenético foi inconclusivo, quadro clínico não compatível com os critérios de inclusão. 4.1.3. Aspectos Éticos O projeto de pesquisa teve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Ceará (UECE) (anexo I). Todos os responsáveis pelos pacientes foram informados dos objetivos do projeto e quando aceitavam participar do mesmo assinavam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo II) em duas vias. Uma via ficou com os responsáveis e a outra se encontra com o pesquisador. Uma vez que as características físicas são componentes essenciais ao diagnóstico clínico, foi solicitada autorização dos responsáveis, para publicação das fotografias do paciente. 4.2. Avaliação Clínica A avaliação clínica dos pacientes foi realizada pelo médico geneticista e/ou endocrinologista com base nos critérios de anamnese genético-clínica. Posteriormente, foi preenchido um protocolo contendo as principais características clínicas da Síndrome de Ullrich-Turner (anexo III) e para melhor documentação do caso, todos os pacientes foram fotografados. Os sinais e sintomas da SUT foram tabulados como presentes (+), ausentes (-) 62 4.3. Avaliação Citogenética O estudo citogenético foi realizado em cromossomos metafásicos e prometafásicos obtidos de cultura temporária de linfócitos. Foram utilizadas técnicas como bandamento GTG e bandamento CBG, e para os casos de aparecimento de marcadores ou fragmentos não identificáveis pelas técnicas citogenéticas (bandamento GTG, bandamento CBG, bandamento GTG em alta resolução), foi utilizada a técnica de citogenética molecular hibridação in situ por fluorescência (FISH). Todos esses exames foram realizados no laboratório de citogenética do Serviço de Aconselhamento Genético (SAG) da Universidade Estadual de São Paulo sede Botucatu, pelo autor da pesquisa. 4.3.1. Cultura temporária de linfócitos periféricos As culturas de linfócitos de sangue periférico foram desenvolvidas segundo a técnica proposta por MOORHEAD et al. (1960) modificada. Após assepsia da pele com álcool iodado, foram coletados 5ml de sangue venoso periférico, com seringa estéril descartável e previamente heparinizada (Liquemine Roche 5000u/ml), que foi mantida em posição vertical, à temperatura ambiente, até que ocorresse a sedimentação. Após a sedimentação procedeu-se a suspensão da camada de linfócitos, que juntamente com o plasma (1 ml) foram colocados em frascos de cultura contendo 4,5 ml de meio RPMI (CULTILAB), suplementado com 20% de soro bovino fetal (GIBCO), acrescido de 0,1 ml de fitohemaglutinina (DIFCO) e 0,1 ml de antibióticos penicilina/estreptomicina (GIBCO) (concentração final dos antibióticos 1U/ml e 1µg/ml, respectivamente). 63 Em seguida, os frascos de cultura foram mantidos em estufa a 37 °C, durante 72 horas. Cada amostra sangüínea foi fracionada em, no mínimo 2 e no máximo 4 frascos de cultura, para possibilitar exame em duplicata, se necessário, garantindo o resultado da análise e evitando nova coleta de sangue. Para obtenção de cromossomos metafásicos, após 71 horas de cultivo celular foi adicionado 0,1 ml de colchicina (0.0016-SIGMA) a cada frasco, e estes foram mantidos em estufa a 37 °C por mais 45 minutos. Após esse período, os conteúdos dos frascos foram transferidos para tubos de centrífuga (15 ml) e centrifugados a 1500 rpm por cinco minutos. A seguir foi feita a hipotonização do material acrescentando-se 5 ml de solução hipotônica (KCl 0,075 M) pré-aquecida a 37 °C e após homogeneização, as culturas retornaram à estufa a 37 °C por mais vinte minutos. Seguiu-se a fixação da cultura, acrescentando-se 1 ml de fixador (metanol/ácido acético 3:1) e o material foi submetido à centrifugação por 5 minutos a 1500 rpm. O processo de fixação e centrifugação foi repetido por mais duas ou três vezes, adicionando-se 5 ml de fixador e o sobrenadante foi desprezado a cada operação. O material, uma suspensão do precipitado de linfócitos acrescido de 1 ml de fixador, foi então gotejado em lâminas previamente lavadas e geladas. As lâminas foram secas ao ar e guardadas em freezer (-20 oC), como também o material em suspensão para a análise de FISH. 4.3.2. Coloração e bandamento As metáfases e prometáfases obtidas pela técnica de cultura temporária de linfócitos foram submetidas às técnicas de bandamento GTG, CBG e FISH. 64 4.3.2.1. Bandamento GTG Para obtenção de banda G, foi utilizada a técnica modificada de SEABRIGHT (1971). As lâminas foram imersas em solução de tripsina 0,025% (DIFCO), diluída em tampão fosfato 0,06 M com pH 6,8 em banho–maria a 37 °C por 2 a 3 segundos. A seguir, foram lavadas com água destilada e coradas em solução de Giemsa 4% com tampão fosfato pH 6,8 por aproximadamente 2 minutos. 4.3.2.2. Bandamento CBG Para o estudo da heterocromatina constitutiva, foi utilizada a técnica de SUMNER, 1972. As lâminas foram hidrolizadas por 10 minutos em uma solução de HCl 0,2 N à temperatura ambiente e em seguida lavadas em água destilada e secas ao ar. Depois foram imersas em uma solução de hidróxido de bário 5% a 65 °C durante 5 minutos, lavadas em água destilada e em seguida Incubadas em solução de 2x SSC (cloreto trissódico citratado) pH 7,0 a 65 °C durante 15 minutos. Após a incubação, as lâminas foram lavadas e coradas pelo método convencional. 4.3.2.3. Hibridação in situ por fluorescência (FISH) A técnica de hibridação in situ por fluorescência (FISH) para as sondas comerciais seguiu os padrões do protocolo que acompanham cada produto. Neste estudo foram utilizadas: sonda alpha satellite de cromossomo X e Y (identificação específica da região centromérica) da CYTOCELL. Protocolo da Cytocell (sonda alfa-satélite para centrômero de cromossomo X e Y) Preparação da lâmina 65 • Pingar a amostra de células em uma lâmina limpa • Lavar a lâmina em 2x SSC por 2 minutos a 37 °C (+/- 1 °C) • Desidratar a lâmina em etanol em série (70%, 80% e 95%), deixando por 2 minutos em cada concentração. • Deixar secar ao ar em temperatura de bancada Preparação da sonda • Remover a sonda e solução de hibridização do freezer (-20 °C) e deixe aquecer à temperatura de bancada • Misture ambas as soluções (3 µl da sonda + 7 µl da solução de hibridização - para cada lâmina) em um tubo de microcentrífuga separado, aspirando e descartando repetidas vezes utilizando uma micropipeta • Coloque o tubo em uma microcentrífuga e centrifugue gentilmente Desnaturação • Pré-aqueça a lâmina e a solução da sonda a 37 °C (+/- 1 °C) por 5 minutos • Coloque 10 µl da solução da sonda na área onde foi pingada a amostra de células na lâmina e cubra gentilmente com uma lamínula, pressionando e espalhando a solução da sonda. • Vedar o espaço entre a lâmina e a lamínula com uma cola silicone, deixando secar ao ar • Desnature a lâmina a 75 °C (+/- 1 °C) por 2 minutos em placa aquecedora Hibridização • Incube por 1 hora a 37 °C (+/- 1 °C) em câmara úmida Lavagens pós-hibridização 66 • Remova a cola e a lamínula cuidadosamente • Lave a lâmina em 0,25x SSC pH 7,0 a 72 °C (+/- 1 °C) por 2 minutos sem agitação (Se o sinal estiver fraco, repita o FISH usando 0,4x SSC na lavagem póshibridização) • Lave a lâmina em 2x SSC, 0,05% Tween 20 pH 7,0 a temperatura ambiente por 30 segundos sem agitação. Contra-coloração • Aplique 10 µl do contra-corante DAPI no local onde foi hibridizada a sonda • Cubra o local com uma lamínula e deixe desenvolver a cor no escuro por 10 minutos. • Visualize a lâmina em um microscópio de fluorescência 4.3.3. Análise citogenética As análises cromossômicas foram realizadas em, no mínimo, 25 células metafásicas em bandamento GTG e pelo menos 5 delas foram fotografadas. Nos casos de mosaicismo este estudo foi ampliado para um total de 100 células. Quando houve suspeita de deleção ou translocação foram analisadas, no mínimo, 25 prometáfases por bandamento GTG em alta resolução. As prometáfases apresentaram nível de resolução de no mínimo 550 a 850 bandas. Nos casos onde houve envolvimento do cromossomo Y, foram analisadas, no mínimo, 5 células metafásicas em bandamento CBG para confirmação deste cromossomo através da sua região heterocromática e pelo menos 1 delas foi fotografada. As análises 67 foram realizadas em fotomicroscópio LEICA LEITZ DMRBE, no aumento de 1250X e fotografadas. As análises para técnica de FISH também foram realizadas em fotomicroscópio de fluorescência LEICA LEITZ DMRBE. Em cada paciente, foram analisadas cerca de 25 metáfases e pelo menos uma delas foi fotografadas. Uma vez que a sonda utilizada liga-se especificamente à região centromérica dos cromossomos, o diagnóstico positivo é feito pela presença da hibridação, ou seja, o aparecimento do sinal fluorescente. 4.3.4. Fotomicrografia Para as fotografias em bandamento GTG, CBG e alta resolução, foi utilizado o filme Copex Pan (AGFA) e Imagelink HQ. A revelação foi feita em câmara escura por 7 minutos em solução reveladora (900 ml de água destilada + 730 g de revelador Dektol + 100 ml de água destilada, previamente preparado segundo o protocolo da Kodak) diluída na proporção 1:1 em água destilada. Logo após, o filme foi lavado em água corrente e a fixação foi feita por 7 minutos em solução fixadora (900 ml de água destilada + 185 g de fixador + 100 ml de água destilada, previamente preparado segundo o protocolo da Kodak). As fotos foram copiadas em papel fotográfico kodabrome print RCF3 (Kodak). Após a exposição, as fotos foram submetidas a banhos de revelador na proporção 2:1 (200 ml de água destilada + 100 ml de solução reveladora); em água destilada e em solução fixadora. Depois foram lavadas em água corrente por no mínimo 2 horas e secas a temperatura de bancada. Para as fotografias da técnica de FISH, foi utilizado o filme Kodak Gold Color e a revelação foi realizada automaticamente em laboratório específico. 68 A identificação e classificação dos eventos citogenéticos foi realizada pelo Sistema Internacional de Nomenclatura Citogenética Humana (ISCN, 1995). 69 5. RESULTADOS 5.1. Grupo Amostral Para este estudo foram selecionados 43 pacientes, através dos critérios clínicos, das quais 28 foram incluídas e constituíram o grupo amostral. O motivo para a não inclusão de 15 pacientes foi o resultado normal do exame citogenético. Todas as pacientes foram analisadas clinicamente e realizada a coleta do material (sangue) nos hospitais citados no estudo, e todas foram fotografadas e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Dentre as 28 pacientes selecionadas, 14 moram na cidade de Fortaleza (capital), 9 moram em Juazeiro do Norte (interior), 2 moram em Caucaia (região metropolitana de Fortaleza), 1 mora em Aracoiaba (interior) e 1 mora em Mulungu (interior). Quadro 1. Procedência das pacientes do presente estudo CIDADE No DE PACIENTES Fortaleza 14 Juazeiro do Norte 9 Caucaia 2 Aracoiaba 1 Mulungu 1 TOTAL 28 70 5.2. Avaliação genético-clínica As características da SUT evidenciadas nesta casuística, bem como as descritas na literatura estão apresentadas na tabela 01. Os dados individuais, a documentação fotográfica dos pacientes e analises citogenéticas encontram-se no anexo IV. A idade do início da investigação diagnóstica variou desde 3 meses até 39 anos (mediana de 13 anos e 6 meses). Apenas 5 pacientes iniciaram a investigação antes dos 10 anos de idade, 19 iniciaram entre 11-20 anos e 3 pacientes tinham entre 21-30 anos e apenas uma tinha entre 31-40 anos no primeiro atendimento. 71 Tabela 1 – Correlação genótipo x fenótipo na síndrome de Turner CASO IDADE 1 19a 2 11a 3 5a 4 18a 5 14a 6 13a 7 39a 8 4a 9 17a 10 11a 11 3m 12 6a 13 19a 14 13a 15 13a 16 13a 17 13a 18 21a 19 27a 20 12 a 21 12 a 22 24a 23 23a 24 25 26 27 28 TOTAL % 16a 16a 20a 18a 9a BE + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + CV + + + + + + + + + + + + + + + + + - TE + + + + + + + + + + + + + + + + + + ACSS + + O + + + O O O + + + + + + + + AP + + O + + + + O + O O + + + + + + V - BIC + + + + + + + + + + + + + - PC + + + + + + + + + + + + EPN + + + + - PP + + - EB + + + + + - + + + + + + - + + + + + + + + O + + O + + - + + + - - - - HC LPM + + + + + + + - - H + + + + + 4 MC + + + + + - - + + - 28/28 18/28 22/28 17/23 15/23 1/28 14/28 15/28 4/28 2/28 5/28 2/28 5/28 5/28 7/28 100 64,29 78,57 73,91 65,22 3,57 50,00 53,57 14,29 7,14 17,86 7,14 17,86 17,86 25,00 Cariótipo 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X/46,XX 45,X/46,XX 45,X/46,XX 45,X/46,XX 45,X/46,XX 45,X/46,X,i(X)(q10) 45,X/46,X,r(X)(q10) 45,X/46,X,r(X)(q10) 45,X/46,X,i(X)(q10) /46,X,r(X)(q10) 46,X,i(X)(q10) 46,X,i(X)(q10) 45,X/46,XY 45,X/46,X,rdic(Y) 45,X/46,X,idic(Y)/ 47,X,idic(Y)idic(Y) 72 LEGENDA BE: Baixa estatura CV: Cúbitos Valgo TE: Tórax em escudo ACSS: ausência de caracteres sexuais secundários AP: Amenorréia primária V: Virilização BIC: Baixa implantação dos cabelos PC: Pescoço curto EPN:Excesso de pele na nuca PP: Ptose palpebral EB: Epicanto bilateral HC: Higroma cístico LPM: Linfedema de pés e mãos H: Hipotireoidismo 4MC: 4º metacarpo curto + : Presente - : Ausente O : Não avaliado 73 5.3. Análise Citogenética Das 28 pacientes estudas, 14 apresentaram um cariótipo indicativo de monossomia (45,X), 12 apresentaram mosaicismos de diversas formas incluindo anéis de cromossomos X [r(X)] e Y dicêntrico [r dic(Y)], isocromossomo de braço longo de cromossomo X [i(X)(q10)], cromossomos Y isodicêntricos [idic(Y)], linhagens 46, XX, linhagens 46,XY e 02 apresentaram isocromossomo de braço longo de cromossomo X não mosaico [46,X,i(X)(q10)]. Tabela 2 Tabela 2 – Alterações cromossômicas encontradas no estudo atual Cariótipo Freqüência 45,X 14/28 45,X/46,XX 5/28 45,X/46,X i(X)(q10) 1/28 45,X/46,X r(X)(q10) 2/28 45,X/46,X i(X)(q10)/ 46,X r(X)(q10) 1/28 46,X i(X)(q10) 2/28 45,X/46,XY 1/28 45,X/46,X,rdic(Y) 1/28 45,X/46,X idic(Y)/47,X idic(Y) idic(Y) 1/28 TOTAL 28 75 5.3.1. Monossomias Dentre o grupo amostral, 14 pacientes (50%) apresentaram cariótipos com monossomia completa do cromossomo X. As características clínicas estão representadas na tabela 3 e as mais comuns nesse grupo foram baixa estatura (100%), amenorréia primária (80,00%), tórax em escudo (78,57%), baixa implantação dos cabelos (71,43%), cúbito valgo (71,43%), e ausência dos caracteres sexuais secundários (60,00%) dos casos. Fig.1. Metáfase em bandamento GTG mostrando a presença de apenas um cromossomo X, em um dos casos estudados com cariótipo 45,X 76 Tabela 3 - Correlação Genótipo-Fenótipo dos pacientes com monossomia do X (45,X) CASO IDADE BE CV TE ACSS caso 1 19a + + + + caso 2 11a + + + + caso 3 5a + + + caso 4 18a + + + caso 5 14a + + caso 6 13a + + + caso 7 39a + + + + caso 8 4a + + + caso 9 17a + + + caso 10 11a + + caso 11 3m + caso 12 6a + + caso 13 19a + + + + caso 14 13a + + + 14/14 10/14 11/14 6/10 TOTAL % 100 71,43 78,57 60 AP + + + + + + + + 8/10 80 BIC PC EPN PP EB HC LPM H 4 MC + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + 10/14 6/14 4/14 1/14 4/14 1/14 5/14 3/14 2/14 71,43 42,86 28,57 7,14 28,57 7,14 35,71 21,43 14,28 Cariótipo 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X 45,X LEGENDA BE: Baixa estatura CV: Cúbitos Valgo TE: Tórax em escudo ACSS: ausência de caracteres sexuais secundários AP: Amenorréia primária V: Virilização BIC: Baixa implantação dos cabelos PC: Pescoço curto EPN:Excesso de pele na nuca PP: Ptose palpebral EB: Epicanto bilateral HC: Higroma cístico LPM: Linfedema de pés e mãos H: Hipotireoidismo 4MC: 4º metacarpo curto + : Presente - : Ausente O : Não avaliado 77 5.3.2. Mosaicismos Do grupo amostral, 12 pacientes (42,86%) apresentaram uma série variada de formas mosaicas. Dentre estas, 5 (17,87%) apresentaram cariótipo 45,X/46,XX, 1 (3,57%) apresentou cariótipo 45,X/46,Xi(X)(q10), 2 (7,14%) apresentaram cariótipo 45,X/46,Xr(X)(q10), 1 (3,57%) apresentou cariótipo 45,X/46,X i(X)(q10)/46,X r(X)(q10), 1 (3,57%) apresentou cariótipo46,X i(X)(q10), 1 (3,57%) apresentou cariótipo 45,X/46,XY, 1 (3,57%) apresentou cariótipo 45,X/46,X idic(Y)/47,X idic(Y) idic(Y) tabela abaixo. Tabela 4. Freqüência dos cariótipos encontrados no presente estudo CARIÓTIPO Freqüência 45,X/46,XX 5/12 45,X/46,X i(X)(q10) 1/12 45,X/46,X r(X)(q10) 2/12 45,X/46,X i(X)(q10)/ 46,X r(X)(q10) 1/12 45,X/46,XY 1/12 45,X/46,X,rdic(Y) 1/12 45,X/46,X idic(Y)/47,X idic(Y) idic(Y) 1/12 TOTAL 12/12 79 Fig.2. Metáfase em bandamento GTG mostrando a presença de um cromossomo X em forma de isocromossomo de braço longo (seta abaixo) e um cromossomo X normal (seta acima), de um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,i(Xq) 80 Fig.3. Metáfase em bandamento GTG mostrando a presença de um cromossomo Y, de um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,XY 81 Fig.4. Metáfase em bandamento CBG mostrando a presença de um cromossomo Y, de um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,XY 82 Fig.5. Metáfase em bandamento GTG mostrando a presença de um cromossomo X em forma de anel de braço longo e um cromossomo X normal, de um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,r(Xq). 83 Fig.6. Metáfase em FISH mostrando um sinal circular brilhante acima indicando o cromossomo X em anel, e outro sinal circular abaixo mostrando o centrômero do cromossomo X normal, em um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,r(Xq10). 84 Fig.7. Metáfase em bandamento GTG mostrando um cromossomo Y em anel dicêntrico (seta acima à direita), e um cromossomo X normal (seta abaixo à esquerda), de um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,rdic(Y). 85 Fig.8. Metáfase em FISH mostrando os dois centrômeros (duplo sinal brilhante) do cromossomo Y em anel, em um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,rdic(Y). 86 Fig.9. Metáfase em bandamento CBG mostrando a presença de um cromossomo Y isodicêntrico, de um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,idicY/47,X,idic(Y)idic(Y). 87 Fig.10. Metáfase em FISH mostrando os dois centrômeros (duplo sinal brilhante) do cromossomo Y isodicêntrico, em um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,idic(Y)/47,X,idic(Y),idic(Y). 88 Fig.11. Metáfase em bandamento CBG mostrando a presença de dois cromossomos Y isodicêntricos, de um dos casos estudados com cariótipo 45,X/46,X,idicY/47,X,idic(Y)idic(Y). 89 5.3.3. Outros Cariótipos Dentre o grupo amostral 02 (7,14%) pacientes apresentaram o cariótipo 46,X,i(X)(q10) sem mosaicismo. Fig.12. Metáfase em bandamento GTG mostrando a presença de um cromossomo X em forma de isocromossomo de braço longo (seta abaixo) e um cromossomo X normal (seta acima), de um dos casos estudados com cariótipo 46,X,i(Xq) 90 6. DISCUSSÃO As pacientes do presente estudo foram selecionadas por especialistas das áreas de genética e endocrinologia, a partir do diagnóstico clínico. Em todos houve a necessidade da realização do cariótipo para a condução terapêutica adequada de cada caso. Das 43 pacientes encaminhadas para o estudo citogenético, 15 (34,8%) tiveram cariótipo normal, o que nos leva a crer que apesar do quadro clínico ser sugestivo de SUT, o diagnóstico definitivo é laboratorial. 6.1. Grupo Amostral 6.1.2. Idade A nossa casuística apresenta a maioria das pacientes (82,14%) entre a primeira e segunda décadas de vida. Apesar da SUT poder ter um diagnóstico mais precoce através do diagnóstico clínico já no período neonatal, e até no período pré-natal através da Ultrasonografia, translucência nucal e teste bioquímico de triagem tripla, a idade média de diagnóstico foi de aproximadamente de 13 anos. Mesmo com o diagnóstico clínico, essas pacientes necessitariam da realização do exame citogenético para a condução adequada do caso, o que não ocorreu devido provavelmente a amostra ser composta por pacientes com baixo poder aquisitivo e sem condições de realizar o exame por meios próprios, tendo que recorrer ao SUS (Sistema Único de Saúde) que restringe o número de cariótipos mensais. Comparando nosso estudo com o de Giraldo et al., 1983, notamos uma inversão nas porcentagens nos intervalos de 10 a 14 anos e entre 15 a 19 anos. Isto provavelmente acontece devido a precocidade do diagnóstico das pacientes avaliadas em nosso estudo, que mesmo assim, ainda é atrasado. Afora estes intervalos os restantes encontram-se de acordo com o estudo. 91 Tabela 5 – Distribuição dos casos por grupo de idade Idade (anos) Menos de 5 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a mais TOTAL Presente estudo No Pacientes 2 3 10 7 4 1 1 28 % 7.1 10.7 35.7 25.0 14.3 3.6 3.6 100 GIRALDO et al., 1983 No Pacientes % 3 7.9 4 10.5 4 10.5 17 44.7 6 15.8 3 7.9 1 2.6 38 100 6.1.3. Procedência Nesse estudo participaram pacientes de vários municípios do estado, pois o diagnóstico e tratamento da SUT do estado são centralizados nas instituições da capital em que este estudo foi realizado. Dentre as 28 pacientes selecionadas, 14 (50%) moram na cidade de Fortaleza (capital). Os outros 50% moram no interior do estado sendo que 9 moram em Juazeiro do Norte, 1 mora em Aracoiaba e 1 mora em Mulungu, ou região metropolitana onde 2 moram em Caucaia. Essa grande porcentagem de pacientes, aproximadamente 82,14%, diagnosticados em Fortaleza e Juazeiro do Norte, ocorre porque apenas nestas duas cidades há profissionais capacitados para o diagnóstico dessa doença. Já a baixa quantidade de pacientes nas outras cidades mostra que por não haver profissionais capacitados para o diagnóstico nestas cidades pode haver um subdiagnóstico desta doença. 92 6.2. Quadro clínico A baixa estatura foi a mais comum característica clínica, encontrada em 100% dos casos, o que está de acordo com a literatura. Outras características importantes foram tórax em escudo (78,57%), ausência de caracteres sexuais secundários (73,91%), amenorréia primária (65,22%), cúbitos valgos (64,29%), pescoço curto (53,57%), além de baixa implantação dos cabelos (50,00%). Essas características vistas no nosso estudo encontramse de acordo com as freqüências achadas no estudo de BATCH, 2002. A maior percentagem para a baixa estatura pode ser um viez no quadro clínico, visto que, a seleção dos pacientes foi feita por endocrinologistas, que avaliam pacientes com esta característica independente de sua etiologia valorizando assim este achado. Porém este achado encontra-se de acordo com um estudo realizado no Rio de Janeiro em 2001 por Guimarães e colaboradores. Tabela 6-Achados fenotípicos de Síndrome de Ullrich-Turner na infância e adolescência FENÓTIPO baixa estatura falha ovariana ausência dos caracteres sexuais secundários amenorréia primária cubitus valgus pescoço alado pescoço curto baixa implantação dos cabelos Linfedema unhas convexidade/displasia palato ogival 4º /5º metacarpo curto tórax em Barril Hipotireoidismo PRESENTE ESTUDO Freqüência % 100 * BATCH, 2002 Freqüência % 88-100 87-96 74 * 65 64 * 54 * * 23-65 * 50 40-80 18 21-47 * 43-83 * 25 79 18 * característica não descrita 35-84 35-77 33-75 10-30 * característica não descrita 93 6.3. Citogenética No estudo que realizamos, encontramos 50% dos resultados como monossomia clássica do cromossomo X e 15% com composição cromossômica do mosaicismo 45,X/46,XX. Já a composição de isocromossomo de braço longo de cromossomo X (46,X,i(Xq)) (7,14%) e o mosaicismo 45,X/46,X,i(Xq) (3,57%) foram aproximadamente a metade do visto na literatura 15% e 5% respectivamente. Porém os mosaicismos 45,X/outras alterações de X (10,71%) e os mosaicismos 45,X/outras alterações diferentes de X (10,71%) mostraram-se o dobro do encontrado na literatura (5%) (tabela 7) (THOMPSON & THOMPSON, 2002). Fazendo uma comparação com os 14 maiores estudos realizados sobre a SUT notamos que apesar do número de pacientes dos estudos serem superiores ao nosso, as percentagens dos tipos de cariótipos encontram-se de acordo com estes estudos. (Tabela 8). Tabela 7–Alterações cromossômicas mais freqüentes na Síndrome de Ullrich Turner. CARIÓTIPO LITERATURA ESTUDO ATUAL Thompson & Thompson, 2002 45,X 50% 50% 46,X,i(Xq) 15% 7,14% 45,X/46,XX 15% 17,87% 45,X/46,X,i(Xq) 5% 3,57% 45,X/outra anomalia de X 5% 10,71% Outros 5% 10,71% mosaicos 45,X/ alterações diferente de X 94 Tabela 8- Distribuição de diferentes cariótipos na Síndrome de Ullrich-Turner nos 14 maiores estudos. Valores Calculados das tabelas em artigos originais. (Fonte: modificado de HANSON et. al, 2001). Distribuição dos cariótipos em %. Cariótipo No de pacientes 45,X 45,X/46,XX 45,X/46,X,d er(X) 45,X/46,X,d er(Y) Outros mosaicism 46,X,der(X) Presen te estudo GRAVHO VLAS LT et al., AK et 2000 al., 1999 28 114 198 MAZZA NTI & CACCI ARI, 1998 592 JACO BS et al., 1997 FLYN N et al., 1996 GOTZS CHE et al., 1995 HELD et al., 1992 KLECZKO WSKA et al., 1990 PARK et al., 1983 RANK E et al., 1983 HAL L et al., 1982 PEL Z et al., 1982 211 43 179 87 417 116 150 129 101 PALME R& REICH MAN, 1976 110 50 17.9 14.3 55 11 22 51 7.6 23 54 10 19 46 4.3 28 35 23 35 58 7.8 21 21 17 34 46 12 - 61 11 10 60 15 12 55 13 11 63 20 11 58 8.2 17 10.7 6.1 3.5 0 6.2 2.3 2.2 2.3 4.6 2.6 0 3.9 0 5.5 0 6.1 3.5 4.2 6.2 4.7 2.8 6.9 4.8 4.3 7.3 9.3 4 1.8 7.1 - 12 13 9 0 7.3 13 32 10 6 7.8 2 9.1 95 6.3.1. Monossomia do X O cariótipo típico da SUT é 45,X (GRAVHOLT, 2005). Essa composição citogenética ocorre em 50% dos casos e essa freqüência também foi encontrada no estudo atual. A etiologia deste achado cromossômico ocorre durante a meiose e 2/3 dos cromossomos X presentes são derivados da mãe (ROVET, 2004). Há discussões entre a existência da monossomia do X puro, ou seja, 45,X ou a presença de mosaicismo de baixa freqüência já que 99% dos indivíduos com SUT são abortados espontaneamente (FERNANDEZ-GARCIA et al., 2000; AZCONA et al., 1999). Dos 14 pacientes (50%) que avaliamos com 45,X puro, apenas 4 tiveram idade inferior a 10 anos o que exclui para elas as características como amenorréia primaria e ausência de caracteres sexuais secundários. Este achado citogenético corrobora o encontrado na literatura. 6.3.2. Mosaicismo 45,X/46,XX No presente estudo encontramos 5/28 (17,86%) das pacientes com cariótipo 45,X/46,XX. Essa prevalência foi aproximadamente semelhante à encontrada na literatura (15%). Essa amostra foi composta por pacientes entre 13 e 27 anos de idade. Nessas pacientes encontramos como características clínicas mais freqüentes a baixa estatura e o cúbitos valgos em 100% dos casos, ausência dos caracteres sexuais secundários em 80%, tórax em escudo em 60%, pescoço curto, amenorréia primária e 4º metacarpo curto em 40% dos casos. A baixa implantação dos cabelos, epicanto 96 bilateral, ptose palpebral e hipertensão apareceram em 20% dos casos. Não houve casos com excesso de pele na nuca, linfedemas de pés e mãos e higroma cístico. Estudos revelam que as pacientes com SUT portadoras de mosaicismo com células normais (46,XX) possuem um fenótipo mais brando. Este abrandamento do fenótipo é mais visualizado em pacientes com maior número de células normais em detrimento de células com monossomia do X (45,X) (FRIAS & DAVENPORT, 2005). Este mosaicismo ocorre nos estágios iniciais da mitose (ROVET, 2004). 6.3.3. Mosaicismo 45,X/46,X,r(X) Indivíduos com constituição citogenética 45,X/46,X,r(X) compreendem 6 a 7% dos casos de SUT e apresentam baixa estatura, deficiência mental, achados faciais dismórficos como: estrabismo, face triangular na adolescência, hipertelorismo, lábio superior fino, narina ante vertida e fissura palpebral longa (LEPPING et al., 2004). Em um estudo realizado por MONROY et al., 2004, foram encontrados, em pacientes com mosaicismo 45,X/46,X,r(X), achados clínicos como pescoço curto, cúbitos valgos, 4º metacarpo curto e tórax em escudo. O fenótipo das pacientes que portam em seu cariótipo o anel de X sem mosaicismo, pode ser similar ao das pacientes que são 45,X pura devido a inativação preferencial do cromossomo X em anel em detrimento do X normal (apud MIGEON et al., 1993). Este tipo de cariótipo geralmente ocorre pela perda do telômero de um dos cromossomos X formando o anel cromossômico. O mosaicismo com células 45,X ocorre pela perda do anel por instabilidade mitótica formando assim uma segunda linhagem (ROVET, 2004). 97 Encontramos 2 casos (7,14%) com mosaicismo 45,X/46,X,r(X). As pacientes tinham respectivamente 12 e 24 anos de idade. Nessas pacientes o quadro clínico mais freqüente foi baixa estatura, pescoço curto, tórax em escudo e cúbitos valgos presente em todas as pacientes. Ausência de caracteres sexuais secundários, amenorréia primária e baixa implantação dos cabelos apareceram na paciente com 24 anos de idade. A amenorréia primária e a ausência dos caracteres sexuais secundários podem não ter aparecido na outra paciente por conta da pouca idade (12 anos) para o aparecimento desses achados clínicos, pois há uma variação individual para o inicio dessas características. Em nossa amostra não foi verificado nenhum caso de deficiência mental, pregas epicânticas, hipertelorismo, estrabismo ou problemas cardíacos, como citado na literatura. O fato de nossas pacientes não apresentarem estas características, sugere uma inativação do anel cromossômico de X. 6.3.4. Mosaicismo 45,X/46,X,i(X)(q10) A mais freqüente anormalidade estrutural presente em pacientes com SUT é o isocromossomo de braço longo de cromossomo X (i(Xq)) que aparece em formas mosaicas ou não-mosaicas. Esta anormalidade cromossômica pode ser originada durante a meiose masculina e feminina com freqüências similares, e acontece pela divisão transversal, em vez do eixo perpendicular, de um dos cromossomos X durante a anáfase (ROVET, 2004). Em um estudo com 15 pacientes com SUT foi encontrado 1 paciente (3,57%) com 23 anos de idade apresentando mosaicismo 45,X/46,X,i(X)(q10). Esta paciente apresentava baixa estatura, baixa implantação dos 98 cabelos, pescoço curto e alado, cúbitos valgos, 4º metacarpo curto (MONROY et al, 2002). No presente estudo encontramos apenas 1 caso com mosaicismo 45,X/46,X,i(Xq). A paciente tinha 12 anos de idade e seu quadro clínico era baixa estatura, tórax em escudo, Ausência de caracteres sexuais secundários, amenorréia primária, baixa implantação dos cabelos, pescoço curto e 4º metacarpo curto. Esses achados clínicos são semelhantes aos encontrados no estudo de Monroy et al., 2002. 6.3.5. 46,X,i(X)(q10) Tivemos 2 pacientes (7,14%) com cariótipo 46,X,i(X)(q10), ambas com 16 anos de idade, cujo quadro clínico foi baixa estatura, tórax em escudo e ausência de caracteres sexuais secundários. Uma delas apresentou ainda amenorréia primária, baixa implantação dos cabelos, pescoço curto e 4º metacarpo curto. As variações fenotípicas entre as pacientes sugere que esta variabilidade provavelmente ocorreu devido a inativação do cromossomo X. 6.3.6. Mosaicismo 45,X/46,X,i(X)(q10)/46,X,r(X)(q10) Detectamos uma paciente (3,57%) com o mosaicismo triplo 45,X/46,X,i(X)(q10)/46,X,r(X)(q10), com 23 anos de idade. Essa paciente apresentava como quadro clínico: baixa estatura, tórax em escudo, ausência de caracteres sexuais secundários, amenorréia primária, pescoço curto e hipertensão. Se compararmos com os mosaicismos de isocromossomo e anel separadamente, vemos que ela apresenta em comum baixa estatura e pescoço curto quando comparada com ambos os casos de anel e isocromossomo, e apresenta tórax em escudo, ausência de 99 caracteres sexuais secundários e amenorréia primária que ocorre apenas na paciente com anel cromossômico que tem 24 anos de idade. Este tipo de mosaicismo ocorre por sucessivos erros em diferentes células, onde em umas, ocorre o erro de divisão do eixo de um dos cromossomos X formando o isocromossomo, em outras ocorre a perda de telômeros de um dos cromossomos X com posterior união dos braços longos e curtos formando o anel e a terceira linhagem (45,X) pode ser formada pela perda do anel cromossômico por instabilidade mitótica (ROVET, 2004). 6.3.7. Mosaicismo 45,X/46,XY Observamos 1 caso de mosaicismo 45,X/46,XY em uma paciente de 20 anos de idade com o quadro clínico de baixa estatura, cúbitos valgos, tórax em escudo, ausência de caracteres sexuais secundários, amenorréia primária, pescoço curto e 4º metacarpo curto. Essa paciente não apresentou virilização que poderia aparecer em casos de mosaicismo com cromossomo Y. A etiologia deste tipo de mosaicismo se assemelha ao mosaicismo 45,X/46,XX diferindo apenas no cariótipo inicial que neste caso indica a formação de um indivíduo de sexo masculino que por erro nas divisões mitóticas iniciais perdeu o cromossomo Y em algumas células e formou células 45,X (ROVET, 2004). A presença de linhagens celulares 45,X nas gônadas previne o desenvolvimento de tecido testicular (FERNANDEZ et al., 2002). A análise convencional indica que 4-20% das pacientes com SUT apresentam um cromossomo Y ou seus derivados A presença de cromossomo Y requer uma atenção especial devido a possibilidade do desenvolvimento de gonadoblastoma ou 100 disgerminoma. Este cariótipo (45,X/46,XY) é presumivelmente causado por uma perda mitótica do cromossomo Y de fetos 46,XY, porem ainda não se sabe ao certo se essa perda ocorre por uma predisposição direcionada ou se é um evento meramente causado por uma instabilidade do pareamento cromossômico XY (YORIFUJI et al., 2005). Pacientes com este mosaicismo podem apresentar um amplo espectro de expressão fenotípica que é provavelmente explicado pela predominância de linhagens celulares 45,X ou 46,XY no tecido gonadal e somático (KRIPLANI et al., 2003). 6.3.8. Mosaicismo 45,X/46,X,rdic(Y) O mosaicismo do cromossomo Y em anel dicêntrico apareceu em nosso estudo em 1 caso de uma paciente com 18 anos de idade. Ela apresentou como quadro clínico: baixa estatura, ausência de características sexuais secundários e pescoço curto como principais características. Virilização não foi encontrada nessa paciente apesar de haver presença de parte do cromossomo Y em forma de anel dicêntrico. Este tipo de mosaicismo provavelmente foi formado a partir de instabilidade do anel dicêntrico de Y que pode ser perdido durante a divisão em muitas células resultando no desenvolvimento de linhagens celulares 45,X (UDLER et al., 2001). A ausência da virilização pode ser por causa da pequena quantidade de células que contem o anel de cromossomo Y, porém foi indicada a retirada das gônadas devido à possibilidade de desenvolvimento do gonadoblastoma com um risco de 730% que é considerado alto (BATCH,2002). 101 6.3.9. Mosaicismo 47,X,idic(Y)idic(Y)/ 46,X,idic(Y)/ 45,X Este triplo mosaicismo foi detectado em uma paciente com 9 anos de idade que chegou ao ambulatório apresentando baixa estatura, tórax em escudo e virilização como características. Pela técnica DAPI, bandamento GTG e CBG identificou-se um cariótipo em mosaico com 3 linhagens de células. Uma linhagem contendo 47 cromossomos onde detectou-se 2 cromossomos isodicêntricos (idic) do cromossomo Y (4%), uma linhagem com 46 cromossomos e a presença de um cromossomo isodicêntrico Y (54%), e uma linhagem de 45 cromossomos (42%). A presença do cromossomo isodicêntrico Y sugere que parte do braço curto do cromossomo Y está presente, ou seja, este segmento contem o gene SRY responsável pela transformação embrionária da gônada indiferenciada em testículo. A anormalidade mais comum do cromossomo Y é a presença de dois centrômeros no cromossomo Y, formando um cromossomo dicêntrico, presente como parte de cariótipos mosaicos incluindo linhagens celulares 45,X. Os cromossomos dicêntricos tem dois centrômeros, porem um deles é inativado. Muitos mecanismos de formação do isocromossomo dicêntrico têm sido descritos e o mais freqüente mecanismo é a quebra e posterior reunião das cromátides irmãs após a fase S do ciclo celular (AKTAS et al, 2006). O evento primário deve ser o cariótipo 46,X,idic(Y) e as duas outras linhagens encontradas ocorreram devido a instabilidade mitótica deste cariótipo. A variabilidade fenotípica é influenciada por vários fatores incluindo o grau de mosaicismo, a exata localização do ponto de quebra, a distância entre os centrômeros e a inativação de um ou ambos os centrômeros (UDLER et al., 2001). 102 Pelo nosso conhecimento nossa paciente é o sexto caso de idic(Y) descrito na literatura até o presente momento (AKTAS et al, 2006). Este mosaicismo, portanto, é raro e até o presente estudo não foi descrito de forma igual. 103 7. CONCLUSÕES 1. O diagnóstico no estado do Ceará é tardio, pois ainda é feito na puberdade e adulto jovem (21/28) devido a queixa da paciente. 2. O número de pacientes diagnosticadas foi maior em Juazeiro do Norte e em Fortaleza por serem estes os locais de referência de atendimento no estado. 3. No grupo estudado a baixa estatura, ausência de caracteres sexuais secundários, amenorréia primária e cubitus valgus foram encontrados em mais de 60% dos casos e está similar a literatura. 4. As freqüências dos cariótipos do presente estudo encontram-se similar a da literatura e em concordância com os 14 maiores estudos realizados. 5. O diagnóstico definitivo da Síndrome de Ullrich-Turner é laboratorial. 104 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AKTAS, D.; ALIKASIFOGLU, M.; GONC, N.; SENOCAK, M. E.; TUNCBILEK, E. Isodicentric Y (p11.32) chromosome in an infant with mixed gonadal dysgenesis. Europ. J. Med. Genet., v. 49, p. 141-149, 2006. ALBERMAN, E. D.; CREASY, M.R. Frequency of chromosomal abnormalities in miscarriage and perinatal deaths. J. Med. Genet., v.14, p.313-5, 1977. ANGELL, R. R.; SANDISOM, A.; BAIN, A.D. Chromosome variations in perinatal mortality: a survey of 500 cases. J. Med. Genet., v.21, p.39-44, 1984. AZCONA, C.; BAREILLE, P; STANHOPE, R. Turner’s syndrome mosaicism in patients with a normal blood lymphocyte karyotype. B.M.J., v.318, p.856-857, 1999. BAJPAI, A.; MENON, P. S. Growth hormone therapy. Indian J. Pediatr., v. 72, p. 139-144. BATCH, J. 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ANEXO I Termo de aprovação do Conselho de Ética em Pesquisa 119 8.2. ANEXO II TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pelo presente instrumento que atende às exigências legais (Resolução CNS nº 196, de 10 de outubro de 1996). Estamos desenvolvendo uma pesquisa intitulada: ANÁLISE CITOGENÉTICA DOS PACIENTES COM SUSPEITA DE SÍNDROME DE TURNER. Com a mesma pretendemos realizar a análise do sangue de pacientes com Síndrome de Turner. Assim, gostaríamos de contar com a sua participação, permitindo que coletássemos seu sangue ou de sua filha. Cláusulas para participação no Projeto: 1. A natureza e o objetivo do projeto de pesquisa, foram explicadas a mim/a meu filho. 2. Eu compreendo que eu (ou meu filho) poderei não ter benefício direto no estudo. 3.Eu entendo que os possíveis riscos e/ou efeitos adversos, desconfortos e inconveniências, foram explicados a mim: dor e/ou tontura passageira na hora da coleta do sangue. 4.Eu compreendo que, apesar das informações obtidas no estudo poderem ser publicadas, elas serão confidenciais e eu (ou meu filho) não serei identificado a partir delas. 5. Eu compreendo que posso me retirar (ou retirar meu filho) do estudo em qualquer etapa e que isto não irá afetar os cuidados médicos ou quaisquer outros aspectos da relação minha (ou do meu filho) com esta Instituição. 6. Eu compreendo que não haverá pagamento para mim (ou meu filho). 7. Eu tive a oportunidade de discutir a minha participação (ou de meu filho) neste projeto de pesquisa com um membro da família ou amigo e/ou tive a oportunidade de ter um membro da família ou amigo presente enquanto o projeto de pesquisa estava sendo explicado pelo pesquisador. 8.Estou ciente de que devo guardar uma cópia do Termo de Consentimento. 120 9 Eu concordo que os seguintes materiais sejam coletados de mim (ou do meu filho) e que sejam utilizados no projeto acima: sangue. 10.Eu estou ciente que os resultados desta análise do sangue pode demorar alguns meses para ficar pronto. Se necessário, pode entrar em contato com o (a) coordenador (a) da pesquisa _Anderson Pontes Arruda, fone: (85) 91172027 ____________________________________ Assinatura do Coordenador da Pesquisa Tendo sido informado sobre a pesquisa ANÁLISE CITOGENÉTICA DE PACIENTES COM SUSPEITA DE SÍNDROME DE TURNER, concordo em participar da mesma. Nome______________________________________________________________ Assinatura__________________________________________________________ Data_______________________________________________________________ 121 8.3. ANEXO III Protocolo de atendimento clínico PROJETO: ANÁLISE CITOGENÉTICA DE PACIENTES COM SUSPEITA DE SÍNDROME DE TURNER Data: ____/____/___ Nome:________________________________________________________ End:_________________________________________________________________ __ F: ____________ DN: ____/____/____ Quadro Clínico Higroma cístico linfedema de mãos e pés excesso de pele na nuca epicanto bilateral ptose palpebral virilização baixa estatura cúbito valgo tórax em escudo nevus ausência de caracteres sexuais secundários pubarca precoce surdez amenorréia primária implantação baixa dos cabelos Outras anomalias Cardiopatia congênita. Qual? Hipotireoidismo Diabetes mellitus Hipertensão Genealogia Exames Idade óssea Ultra-sonografia abdominal Outros: Cariótipo 122 8.4. ANEXO IV Dados individuais e fotos das pacientes Caso 01 MVG, nascida em 30/07/1988, sexo feminino, filha de pais consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, tórax em escudo, ausência de caracteres sexuais secundários, amenorréia primária e pescoço curto. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.13. MVG 123 Caso 02 ABO, nascida em 18/06/1994, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, tórax em escudo, ausência de caracteres sexuais secundários, amenorréia primária, baixa implantação dos cabelos, pescoço curto, excesso de pele na nuca e ptose palpebral. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.14. ABO 124 Caso 03 ACST, nascida em 12/07/2000, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, tórax em escudo, baixa implantação dos cabelos, excesso de pele na nuca, epicanto bilateral, pterigium coli, estenose aórtica. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.15. ACST 125 Caso 04 WKAF, nascida em 23/07/1989, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, ausência de caracteres sexuais secundários e amenorréia primária. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.16. WKAF 126 Caso 05 SGC, nascida em 12/04/1991, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, amenorréia primária, baixa implantação dos cabelos e hipotireoidismo. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.17. SGC 127 Caso 06 MKSS, nascida em 05/01/1992, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, tórax em escudo, ausência dos caracteres sexuais secundários, amenorréia primária, pescoço curto. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.18. MKSS 128 Caso 07 ZMAB, nascida em 26/01/1966, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, tórax em escudo, ausência dos caracteres sexuais secundários, amenorréia primária,pescoço curto. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Paciente não autorizou exposição da fotografia 129 Caso 08 AARS, nascida em 19/12/2001, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, tórax em escudo, baixa implantação dos cabelos, epicanto bilateral, excesso de pele na nuca, higroma cístico e linfedema de pés e mãos. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.19. AARS 130 Caso 09 GLL, nascida em 13/04/1988, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, tórax em escudo, amenorréia primária, baixa implantação dos cabelos, prolapso da válvula mitral e hipotireoidismo. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.20. GLL 131 Caso 10 MRB, nascida em 08/08/1996, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, tórax em escudo, baixa implantação dos cabelos, pescoço curto e linfedema de pés e mãos A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.21. MRB 132 Caso 11 AWVO, nascida em 12/09/2005, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, pterigium coli, excesso de pele na nuca, linfedema de pés e mãos. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.22. AWVO 133 Caso 12 CNOF, nascida em 03/11/2000, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, tórax em escudo, baixa implantação dos cabelos, epicanto bilateral e linfedema de pés e mãos. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.23. CNOF 134 Caso 13 MLN, nascida em 08/09/1987, sexo feminino, filha de pais consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, tórax em escudo, ausência de caracteres sexuais secundários, amenorréia primária e baixa implantação dos cabelos. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.24. MLN 135 Caso 14 LBS, nascida em 12/05/1994, sexo feminino, filha de pais consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, tórax em escudo, baixa implantação dos cabelos e pterigium coli. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 100 células analisadas. Fig.25. LBS 136 Caso 15 TCS, nascida em 25/01/1992, sexo feminino, filha de pais consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, ausência de caracteres sexuais secundários e discreta ptose palpebral A análise citogenética revelou cariótipo 45,X/46,XX, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 62 células e dois cromossomo X normais em 38 células, totalizando 100 células analisadas. Fig.26. TCS 137 Caso 16 MSAL, nascida em 14/05/1994, sexo feminino, filha de pais consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, tórax em escudo, ausência de caracteres sexuais secundários, pescoço curto e 4º metacarpo curto. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X/46,XX, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 28 células e dois cromossomo X normais em 72 células, totalizando 100 células analisadas. Fig.27. MSAL 138 Caso 17 MJGD, nascida em 09/12/1994, sexo feminino, filha de pais consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, tórax em escudo e ausência de caracteres sexuais secundários. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X/46,XX, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 17 células e dois cromossomo X normais em 83 células, totalizando 100 células analisadas. Fig.28. MJGD 139 Caso 18 PDS, nascida em 20/09/1986, sexo feminino, filha de pais consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos e diminuição dos caracteres sexuais secundários. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X/46,XX, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 22 células e dois cromossomo X normais em 78 células, totalizando 100 células analisadas. Fig.29. PDS 140 Caso 19 KPP, nascida em 21/11/1980, sexo feminino, adotada. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos e diminuição dos caracteres sexuais secundários, amenorréia primária, epicanto bilateral, pescoço curto e 4º metacarpo curto. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X/46,XX, por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 14 células e dois cromossomo X normais em 86 células, totalizando 100 células analisadas. Fig.30. KPP 141 Caso 20 LPO, nascida em 01/06/1993, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar baixa estatura, tórax em escudo, ausência de caracteres sexuais secundários, amenorréia primária, Baixa implantação dos cabelos, pescoço curto e 4º metacarpo curto. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X/46,X,i(X)(q10), por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 75 células, e um cromossomo X em forma de isocromossomo de braço longo i(X)(q10) em 25 células, totalizando 100 células analisadas. Fig.31. LPO 142 Caso 21 CSR, nascida em 02/02/1994, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar baixa estatura, baixa implantação dos cabelos e pescoço curto. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X/46,X,r(X)(q10), por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 67 células, e um cromossomo X em forma de anel de braço longo r(X)(q10) em 33 células, totalizando 100 células analisadas. Fig.32. CSR 143 Caso 22 EOM, nascida em 17/07/1981, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, tórax em escudo, diminuição dos caracteres sexuais secundários, pescoço curto e hipertensão. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X/46,X,r(X)(q10), por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 92 células e um cromossomo X em anel em 8 células, totalizando 100 células analisadas. Paciente não autorizou exposição da fotografia 144 Caso 23 MGR, nascida em 21/06/1982, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar baixa estatura, tórax em escudo, ausência dos caracteres sexuais secundários e pescoço curto. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X/46,X,i(X)(q10) /46,X,r(X)(q10), por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 47 células, um cromossomo X em forma de isocromossomo de braço longo i(X)(q10) em 45 células e um cromossomo X em forma de anel de braço longo r(X)(q10) em 8 células, totalizando 100 células analisadas. Fig.33. MGR 145 Caso 24 JTP, nascida em 12/11/1990, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar baixa estatura, tórax em escudo, ausência dos caracteres sexuais secundários. A análise citogenética revelou cariótipo 46,X,i(X)(q10), por bandamento GTG evidenciando um cromossomo X em forma de isocromossomo de braço longo i(X)(q10) em todas as células, totalizando 100 células analisadas Paciente não autorizou exposição da fotografia 146 Caso 25 SSS, nascida em 07/11/1990, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar baixa estatura, tórax em escudo, ausência de caracteres sexuais secundários e amenorréia primária. A análise citogenética revelou cariótipo 46,X,i(X)(q10), por bandamento GTG evidenciando um cromossomo X em forma de isocromossomo de braço longo i(X)(q10) em 100 células analisadas. Fig.34. SSS 147 Caso 26 CRSL, nascida em 09/08/1986, sexo feminino, filha de pais consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, cúbitos valgos, tórax em escudo, ausência dos caracteres sexuais secundários, amenorréia primária, pescoço curto e 4º metacarpo curto. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X/46,XY, por bandamento GTG e CBG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 22 células e um cromossomo X e um Y em 28 células, totalizando 50 células analisadas. Fig.35. CRSL 148 Caso 27 ENM, nascida em 26/04/1988, sexo feminino, filha de pais consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar em sua história clínica baixa estatura, ausência dos caracteres sexuais secundários e pescoço curto. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X/46,X,rdic(Y) por bandamento GTG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 11 células, e em 89 células, um cromossomo X normal e um cromossomo Y em forma de anel dicêntrico, totalizando 100 células analisadas. Fig.36. ENM 149 Caso 28 FBL, nascida em 26/11/1997, sexo feminino, filha de pais não consangüíneos. Foi encaminhada para realização do cariótipo por apresentar baixa estatura e virilização. A análise citogenética revelou cariótipo 45,X/46,X,idic(Y)/47,X,idic(Y),idic(Y), por bandamento GTG e CBG evidenciando a ausência total de um cromossomo X em 21células, um cromossomo Y isodicêntrico idic(Y) e um cromossomo X normal em 27 células e dois cromossomos Y isodicêntricos idic(Y),idic(Y) em 2 células, totalizando 50 células analisadas. A análise citogenética molecular (FISH) utilizando sonda da Cytocell® confirmou a presença dos cromossomos Y isodicêntricos. Fig.37. FBL 150