Evangelho segundo S. João 1,1-18. No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus. No princípio Ele estava em Deus. Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência. Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens. A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam. Apareceu um homem, enviado por Deus, que se chamava João. Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz. O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram de laços de sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus. E o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória, a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: 'O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.'» Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer. Santo Ireneu de Lyon (cerca de 130- cerca de 208), bispo, teólogo e mártir. Contra as Heresias Cristo revela o Pai “Ninguém jamais viu a Deus; o Filho Unigénito que está no seio do Pai no-l’O deu a conhecer” (Jo 1, 18). Quem desde o princípio nos dá a conhecer o Pai é o Filho, porque desde o princípio está com o Pai: as visões proféticas, a diversidade de graças, os ministérios, a glorificação do Pai, tudo isto, como uma sinfonia bem composta e harmoniosa, Ele o manifestou aos homens, no tempo próprio, para seu proveito. Porque onde há harmonia tudo sucede no tempo próprio; e quando tudo sucede no tempo próprio, há proveito. Por isso o Verbo tornou-Se o administrador da graça do Pai em proveito de homens, em favor dos quais Ele pôs em prática a sua tão sublime economia da graça, mostrando Deus aos homens e apresentando o homem a Deus. Manteve, no entanto, a invisibilidade do Pai, para que o homem se conserve sempre reverente para com Deus e tenha um estímulo para o qual deve progredir; mas, ao mesmo tempo, mostrou também que Deus é visível aos homens por meio da economia da graça, para não suceder que o homem privado totalmente de Deus, chegasse a perder a sua própria existência. Porque a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem, é a visão de Deus. Com efeito, se a manifestação de Deus, através da criação, dá a vida a todos os seres da terra, muito mais a manifestação do Pai, por meio do Verbo, dá a vida a todos os que vêem a Deus! São Basílio (c. 330-379), monge e bispo de Cesareia na Capadócia, Doutor da Igreja Homilia sobre o nascimento de Cristo; PG 31, 1471s (trad. Bouchet, Lectionnaire, p. 62) «Nós contemplámos a Sua glória, a glória que possui como Filho Unigénito do Pai» «Ao ver a estrela, os magos sentiram uma grande alegria» (Mt 2, 10). Hoje, também nós acolhemos essa grande alegria nos nossos corações, alegria que os anjos anunciam aos pastores. Adoremos com os magos, demos glória com os pastores, cantemos com os anjos: «Nasceu-nos um Salvador que é o Messias Senhor; o Senhor Deus que nos apareceu» [...] Esta festa é comum a toda a criação: as estrelas correm no céu, os magos chegam dos países pagãos, a terra recebe-a numa gruta. Não há nada que não contribua para esta festa, nada que não chegue lá com as mãos cheias. Façamos rebentar em nós mesmos um canto de alegria [...]; festejemos a salvação do mundo, o dia do nascimento da humanidade. Hoje foi abolida a condenação que afligia Adão. Que nunca mais se diga: «Tu és pó e em pó te hás-de tornar» (Gn 3, 19) mas: «unido àquele que desceu do céu serás exaltado no céu». [...] «Um menino nasceu-nos, um filho nos foi dado, eterno é o seu poderio» (Is 9, 5). [...] Que abismo de bondade e de amor para os homens! Une-te, então àqueles que, na alegria, recebem o seu Senhor que desce do céu e que adoram o Grande Deus neste menino. O poder de Deus manifesta-se neste corpo como a luz através das janelas, e resplandece aos olhos dos que têm um coração puro (Mt 5, 8). Com eles, poderemos então, «de rosto descoberto, contemplar, como num espelho, a glória do Senhor, e sermos nós próprios transfigurados de glória em glória» (2Cor 3, 18), pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Seu amor pelos homens. S. Gregório Nazianzeno (330-390), bispo, doutor da Igreja Sermão n° 38, para a Natividade «Tu, que maravilhosamente criaste o homem, mais maravilhosamente ainda restabeleceste a sua dignidade» (Oração colecta) Jesus Cristo nasceu, rendei-lhe glória! Cristo desceu dos céus, correi para ele! Cristo está sobre a terra, exaltai-o! “Cantai ao Senhor, terra inteira. Alegria no céu; terra, exulta de alegria!” (Sl 96,1.11). Do céu, ele vem habitar no meio dos homens; estremecei de temor e de alegria: de temor, por causa do pecado; de alegria, por causa da nossa esperança. Hoje, as sombras se dissipam e a luz se eleva sobre o mundo; como outrora no Egipto envolto em trevas, hoje uma coluna de fogo ilumina Israel. O povo, que estava sentado nas trevas da ignorância, contempla hoje essa imensa luz do verdadeiro conhecimento porque “o mundo antigo desapareceu, todas as coisas são novas” (2 Co 5,17). A letra recua, o espírito triunfa (Rm 7,6); a prefiguração passa, a verdade aparece (Col 2,17). Aquele que nos deu a existência quer também inundar-nos de felicidade; essa felicidade que o pecado nos havia feito perder, a incarnação do Filho nos devolve… Tal é esta solenidade: saudamos hoje a vinda de Deus ao meio dos homens para que possamos, não chegar mas regressar para junto de Deus; a fim de que nos despojemos do homem velho e nos revistamos do Homem novo (Col 3,9), a fim de que, mortos em Adão, vivamos em Cristo (1 Co 15,22)… Celebremos pois este dia, cheios de uma alegria divina, não mundana, mas uma verdadeira alegria celeste. Que festa, este mistério de Cristo! Ele é a minha plenitude, o meu novo nascimento. S Tomás de Vilanova (cerca de 1487-1555), eremita de Santo Agostinho, mais tarde bispo “No começo era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1,1) “Se eu não vir nas suas mãos a marca dos pregos, diz Tomás, se não introduzir o meu dedo no lugar dos pregos e a minha mão no seu lado, não acreditarei”. Endurecimento espantoso no discípulo: o testemunho de tantos irmãos e mesmo a visão da sua alegria não são suficientes para lhe dar a fé. E eis que para tomar conta deste o Senhor aparece. O bom Pastor não suporta a perda da sua ovelha, ele que dissera a seu Pai: “Estes, tu mos destes, não deixo que se perca nenhum” (Jo 17,12). Que os pastores aprendam pois que solicitude devem manifestar às suas ovelhas, uma vez que o Senhor apareceu por uma só. Toda a solicitude e todo o labor são pouca coisa em comparação com o interesse de uma só alma... Aquele que reconduz uma ovelha errante ao aprisco é seguramente um advogado poderoso junto de Deus. “Introduz aqui o teu dedo e vê as minhas mãos, põe a mão no meu lado, e não sejas incrédulo mas crente”. Feliz mão que escrutou os segredos do coração de Cristo! Que riquezas não terá ela aí encontrado? Foi repousando sobre este coração que João tinha extraído os mistérios do céu. Escrutando-o, Tomás descobriu aí grandes tesouros. Admirável escola que formou tais discípulos! Graças a ela, o primeiro exprimiu sobre a divindade maravilhas mais altas que os astros quando disse: “No começo era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1,1), e o outro, tocado pelo raio da Verdade, lançou este grito sublime; “Meu Senhor e meu Deus!”. Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja Tratado sobre a primeira epístola de João A Vida manifestou-se na carne ”O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que contemplámos com os nossos olhos, o que as nossas mãos tocaram, é o Verbo da vida” (1 Jo 1,1) Há alguém que toque com as suas mãos o Verbo da vida se não for porque “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”? (Jo 1,14) Ora este Verbo que se fez carne para ser tocado pelas nossas mãos começou a ser carne no seio da Virgem Maria. Mas não começou nesse momento a ser o Verbo, porque o era “desde o princípio”, diz S. João... Talvez alguns entendam a expressão “Verbo de vida” como uma fórmula, igual a outras, para designar Cristo, mas não concretamente o corpo de Cristo, que as mãos tocaram. Mas vede o que se segue. “Sim, a Vida manifestou-se.” Cristo é então o Verbo da vida. E como é que esta vida se manifestou? Porque, embora ela existisse desde o princípio, não se tinha manifestado aos homens; tinha-se manifestado aos anjos, que a viam e dela se alimentavam como que de pão. É o que disse a Escritura: “O homem comeu o pão dos anjos” ( Sl 78,25). Portanto, a própria vida se manifestou na carne: na verdade, foi posta em estado de manifestação para que uma realidade apenas visível pelo coração pudesse ser também vista pelos olhos, para curar os corações. Apenas pelo coração se vê o Verbo, ao passo que a carne é vista também pelos olhos. É a carne que nos permite ver o Verbo. O Verbo fez-se carne, uma carne que pudéssemos ver, para que seja curado em nós aquilo que nos torna capazes de ver o Verbo. S. Romano o Melódio (? - cerca de 560), compositor de hinos Hino 13, a Natividade "O Verbo era Deus... O Verbo fez-se carne" Escutai, pastores, o som das trombetas… O Verbo foi gerado, Deus manifestou-se ao mundo! E vós, filhas de reis, entrai na alegria da Mãe de Deus (cf Sl 44,10). Povos, digamos: “Bendito sejas, nosso Deus recém-nascido, glória a ti!” A Virgem, que não conhece homem (Lc 1,34), deu ao mundo a alegria, a tristeza ancestral acabou. Hoje, o Incriado foi gerado, aquele que o mundo não pode conter entra no mundo. Hoje, a alegria manifestou-se aos homens; hoje o erro foi lançado no abismo. Povos, digamos: “Bendito sejas, nosso Deus recém-nascido, glória a ti!” Pastores, cantai o Mestre que nasceu em Belém…, aquele que resgata o mundo. Eis que a maldição de Eva foi anulada, graças àquele que nasceu da Virgem… “Batamos palmas em aclamações” (Sl 46,2); formemos um coro com os anjos. O Senhor nasceu da Virgem Maria para “levantar os que tinham caído e erguer os abatidos” (Sl 144,14), aqueles que gritam com fé: “Bendito sejas, nosso Deus recém-nascido, glória a ti!” O autor da Lei incarnou sob a Lei (Ga 4,4), o Filho intemporal nasceu da Virgem, o Criador do universo está deitado no presépio. Aquele que o Pai gera eternamente, sem mãe nos céus, nasceu da Virgem, sem pai sobre a terra. Povos, digamos: “Bendito sejas, nosso Deus recémnascido, glória a ti!” Na verdade, a alegria acaba de nascer no estábulo. Hoje os coros angélicos rejubilam; todas as nações celebram a Virgem imaculada; o nosso antepassado Adão dança de alegria, porque hoje nasceu o Salvador. Povos, digamos: “Bendito sejas, nosso Deus recém-nascido, glória a ti!” Bem-aventurado Guerric de Igny (cerca de 1080 - 1157), abade cisterciense Sermões para o Natal "O Verbo fez-se carne, habitou entre nós e nós vimos a sua glória" Reunistes-vos, meus irmãos, para ouvir a palavra de Deus. Mas Deus preparou-nos qualquer coisa de melhor: permitiu-nos hoje, não só que ouvíssemos, mas que víssemos o Verbo de Deus, desde que "partamos até Belém para ver essa palavra que Deus realizou e nos mostrou" (Lc 2,15)... Se é verdade que "a fé nasce a partir do que se ouve" (cf. Ro 10,17), Deus sabia bem que ela nasce ainda mais facilmente e mais depressa a partir do que se vê, como nos ensina o exemplo de S. Tomé... Deus, querendo ser condescendente para com o nosso coração pesado, tornou hoje visível a nossos olhos o seu Verbo, que antes já tinha tornado audível. Tornou-o mesmo palpável, a ponto que alguns de entre nós puderam dizer: "O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que contemplámos com os nossos olhos, o que vimos e as nossas mãos tocaram, é o Verbo, a Palavra de vida" (1 Jo 1,1)... Portanto, se entre nós se encontrar algum irmão que sofra de fadiga espiritual, eu não quero que as suas orelhas se cansem durante mais tempo a escutar a minha palavra sem préstimo. Que ele se dirija a Belém e que aí contemple "aquele que os anjos desejam contemplar" (1 Pe 1,12), que contemple "o Verbo que o Senhor nos mostrou" (Lc 2,15). Que torne presente ao seu espírito a forma como "a Palavra de Deus, viva e eficaz" (He 4,12), está ali deitada, numa manjedoura. São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, doutor da Igreja Comentário sobre São João, I, 178ss. (trad. Cerf 2002, t. 1, p. 122) O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. «O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos apalparam acerca do Verbo da vida [...], isso vos anunciamos» (1Jo 1, 1-3). [...] O Verbo encarnado deu-Se a conhecer aos apóstolos de duas maneiras: eles reconheceram-No, em primeiro lugar, pela vista, recebendo do próprio Verbo o conhecimento do Verbo; e, em segundo lugar, pelo ouvido, recebendo do testemunho de João Baptista o conhecimento do Verbo. Acerca do Verbo, João Evangelista começa por dizer o seguinte: «Nós contemplámos a sua glória.» [...] Para São João Crisóstomo, estas palavras estão relacionadas com a frase anterior do evangelho de João: «O Verbo fez-Se homem»; o evangelista pretende dizer que a encarnação nos conferiu, para além do benefício de nos tornarmos filhos de Deus, o benefício de vermos a Sua glória. Com efeito, olhos fracos e doentes não são capazes de, por si mesmos, contemplar a luz do sol; mas, quando o sol incide numa nuvem, ou num corpo opaco, já são capazes de o contemplar. Antes da encarnação do Verbo, os espíritos humanos eram incapazes de olhar directamente para a luz que «a todo o homem ilumina». Assim, e para que não fossem privados da alegria de a verem, a própria luz, o Verbo de Deus, quis revestir-Se de carne, a fim de que fôssemos capazes de a ver. Então, estando os homens «voltados para o lado do deserto, a glória do Senhor apareceu, de repente, na nuvem» (Ex 16, 10); isto é, o Verbo de Deus encarnou. [...] E Santo Agostinho observa que, para que pudéssemos ver a Deus, o Verbo sarou os olhos dos homens, fazendo da Sua carne um colírio salutar. [...] Eis por que motivo, logo após ter dito: «O Verbo fez-Se homem», o evangelista acrescenta: «E nós contemplámos a sua glória», como que para explicar que, mal se aplicou este colírio, os nossos olhos ficaram sarados. [...] Era esta glória que Moisés desejava ver e da qual viu apenas uma sombra e um símbolo. Os apóstolos, pelo contrário, viram-na em todo o seu esplendor. Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo PPS, t. 2, n° 3 «E o Verbo fez-se carne» O Verbo era, desde a origem, o Filho Único de Deus. Antes que os mundos fossem criados, mesmo antes que o tempo existisse, Ele era, no seio do Pai eterno, Deus de Deus e Luz da Luz, supremamente bendito no conhecimento que tinha do Pai e no conhecimento que o Pai tinha dele, recebendo dele toda a perfeição divina, mas sempre um com aquele que o tinha gerado. Tal como se diz no início do Evangelho: «No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus»... Ele teria podido, em verdade, quando o homem caíu, permanecer na glória que tinha junto do Pai. Mas esse amor insondável que se tinha manifestado na origem da nossa criação, insatisfeito por ver a sua obra estragada, fê-lo descer do seio de Seu Pai para cumprir a Sua vontade e reparar o mal de que o pecado era a causa. Com uma admirável indulgência, veio, já não revestido de poder mas de fraqueza, sob a forma de um servo, sob a aparência do homem caído que Ele tinha por desígnio erguer. Assim se humilhou, sofrendo todas as enfermidades da nossa natureza, semelhante à nossa carne pecadora, parecido com o pecador à excepção do pecado, puro de toda a falta mas sujeito a toda a tentação e, por fim, «obediente até à morte e morte de cruz» (Fl 2,8)... Assim, o Filho de Deus tornou-se Filho do homem - mortal, mas não pecador; herdeiro das nossas enfermidades, mas não da nossa falta; rebotalho da antiga raça mas «começo da nova criação de Deus» (Ap 3,14). Maria, sua mãe, ... deu uma natureza criada àquele que era o seu Criador. Desta forma, veio a este mundo, não sobre as núvens do céu mas nascido cá em baixo, nascido de uma mulher; Ele, filho de Maria, e ela, mãe de Deus... Ele era verdadeiramente Deus e homem, mas uma só pessoa..., um só Cristo. „E o Verbo se fez carne e habitou entre nós“ (Jo 1,14) Envia tua Palara / Palavra de salvação / que vem trazer esperança / aos pobres libertação. 1. Tua Palavra é vida / é como a chuva que cai / que torna o solo fecundo / e faz nascer a semente. 2. É água viva da fonte / que faz florir o deserto / é uma luz no horizonte /é novo caminho aberto. 3. Ela nos vem no silêncio / no coração de quem crê / no coração dos humildes / que vivem por teu poder. 4. Aos fracos ela dá força / aos pobres, sabedoria / e se tornou nossa carne / nasceu da Virgem Maria. 5. Vem visitar nossa terra / ó Sol de um novo dia / que rasga a treva da noite / e todo mundo alumia. 6. Olha os teu povo cativo / tem pena de sua dor / porque és nossa esperança / és nosso Deus Salvador. Pe. José Weber - Cantemos ….. n° 49 Jean Tauler (cerca de 1300-1361), dominicano em Estrasburgo Sermão para o Natal "O Verbo era a verdadeira luz que, ao vir ao mundo, ilumina todo o homem" "Quando tudo estava envolvido em profundo silêncio, o teu Verbo todo-poderoso desceu." (Sb 18,14-15) É deste Verbo que se trata hoje... Qual é então o lugar em que Deus vem pronunciar a sua Palavra e gerar o seu Filho? O coração em que tal nascimento deve cumprir- se há-de guardar uma grande pureza, viver uma intensa vida interior, um profunda união com Deus. Se não se dispersar com o exterior mas permanecer recolhido, unido a Deus no mais profundo do seu ser, aí Deus escolhe habitar. Como cooperar para este nascimento, para esta inspiração misteriosa do Verbo? Como merecer que ele se realize em nós? Temos que nos aplicar a isso através de imagens ou de pensamentos acerca de Deus? Podemos apressar este novo nascimento de Deus em nós? Ou será melhor, pelo contrário, esvaziarmo-nos de qualquer pensamento, de qualquer palavra, de qualquer acção e de qualquer imagem e postarmo-nos diante de Deus no silêncio total para O deixarmos agir em nós?... A própria Palavra respondeu: "Foi no meio do silêncio que uma palavra secreta me foi dirigida." (Jb 4,16) Recolhe-te pois, se o podes fazer; esquece tudo na tua oração; liberta-te das imagens de que estás cheio. Quanto mais esqueceres o resto, mais és capaz de receber esta Palavra que é para ti tão misteriosa... Evita pois a actividade e os pensamentos que te agitam, porque eles impedem a paz interior. Para que Deus fale o seu Vrbo em nós, é preciso que nós mesmos estejamos na paz e no silêncio. Assim, Ele pode fazer-nos ouvir a sua Palavra - Ele próprio se fala em nós. S. Basílio (c.330-379), monge e bispo de Cesareia na Capadócia, doutor da Igreja Homilia para o nascimento de Cristo O Nascimento do Salvador, morte da morte Deus na terra, Deus entre os homens! Já não é aquele que dá a Sua Lei no meio dos relâmpagos, ao som da trombeta, sobre a montanha fumegante, na obscuridade de uma trovoada aterradora (Ex 19,18), mas aquele que se relaciona com doçura e bondade, dentro de um corpo humano, com os seus irmãos de raça. Deus na nossa carne!... Como veio a luz a todos? De que maneira está a divindade na carne? Como o fogo no ferro,...comunicando-se. Permanecendo no seu lugar, o fogo comunica ao ferro o seu ardor próprio. Com isso, ele não fica nada diminuído, mas enche o ferro ao qual se comunica. Da mesma forma, Deus, o Verbo que «habitou entre nós», não saiu de Si mesmo; o Verbo que se fez carne não se submeteu à transformação; o Céu não ficou privado daquele que o continha... Entra plenamente neste mistério: Deus veio à carne para matar a morte que nela se escondia. Assim como os medicamentos nos curam logo que são assimilados pelo corpo, assim como a obscuridade que reina numa casa se dissipa qu ando a luz lá entra, assim também a morte que nos tinha em seu poder foi anulada pela vinda do nosso Deus. Assim como o gelo formado durante a noite se funde sob o calor dos raios solares, assim também a morte reinou até à manifestação de Cristo. Mas logo que o sol de justiça se elevou, a morte foi absorvida pela vitória (1 Co 15,54); ela não podia suportar a presença da verdadeira vida... Demos glória com os pastores, dancemos em coro com os anjos «pois um Salvador nos nasceu hoje, que é Cristo Senhor» (Lc 2, 11)... Festejemos a salvação do mundo, o dia do nascimento da humanidade. Evangelho segundo S. João 1,6-8.19-28 Apareceu um homem, enviado por Deus, que se chamava João. Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz. Este foi o testemunho de João, quando as autoridades judaicas lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntarem: «Tu quem és?» Então ele confessou a verdade e não a negou, afirmando: «Eu não sou o Messias.» E perguntaram-lhe: «Quem és, então? És tu Elias?» Ele disse: «Não sou.» «És tu o profeta?» Respondeu: «Não.» Disseram-lhe, por fim: «Quem és tu, para podermos dar uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?» Ele declarou: «Eu sou a voz de quem grita no deserto: 'Rectificai o caminho do Senhor', como disse o profeta Isaías.» Ora, havia enviados dos fariseus que lhe perguntaram: «Então porque baptizas, se tu não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?» João respondeu-lhes: «Eu baptizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. É aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias.» Isto passou-se em Betânia, na margem além do Jordão, onde João estava a baptizar. Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja Sermões sobre o Evangelho de S. João, nº 2, §5-7 (trad. Bibliothèque augustinienne, t. 71, p.183s rev.) «Ele veio para dar testemunho da Luz» Como é que Cristo veio? Apareceu como homem. Porque Ele era homem quase ao ponto de Deus estar escondido nele, foi enviado à sua frente um homem notável, para obrigar a reconhecer que Ele, Cristo, era mais do que um homem... Quem era ele, esse que, assim, devia dar testemunho da Luz? Um ser notável, este João, um homem de um alto mérito, de uma graça eminente, de uma grande elevação. Admira-o, mas como se admira uma montanha: a montanha fica nas trevas até que a luz venha envolvê-la: «este homem não era a Luz». Não tomes a montanha pela luz; não vás quebrar-te contra ela, muito longe de aí encontrares socorro. E o que devemos, então, admirar? A montanha, mas como montanha. Eleva-te até àquele que ilumina esta montanha que se ergueu para ser a primeira a receber os raios do sol, a fim de os reenviar para os teus olhos... Dos nossos olhos se diz também que são luz; e contudo, se não se acender a lâmpada à noite, ou o sol não nascer durante o dia, os nossos olhos abrem-se em vão. João foi também trevas antes de ser iluminado; só se tornou luz por essa iluminação. Se não tivesse recebido os raios da Luz, teria ficado nas trevas como os outros. E a própria luz, onde está ela? « A Luz verdadeira que ilumina cada homem ao vir a este mundo»? (Jo 1,9). Se ilumina cada homem, iluminava também João, através de quem se queria manifestar... vinha para inteligências enfermas, para corações feridos, para almas com olhos doentes..., gente incapaz de O ver directamente. Ela cobriu João com os seus raios. Proclamando que ele próprio fora iluminado, João deu a conhecer Aquele que ilumina, Aquele que aclara, Aquele que é a fonte de todos os dons. Evangelho segundo S. João 1,11-18. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram de laços de sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus. E o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória, a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: 'O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.'» Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer. Bem-aventurado Guerric de Igny (cerca de 1080 - 1157), abade cisterciense 4º sermão do Advento "Uma voz que grita no deserto" "No deserto, uma voz grita: Preparai o caminho do Senhor!" Irmão, primeiro que tudo temos de reflectir sobre a graça da solidão, sobre a beatitude do deserto que, desde o início da era da salvação, mereceu ser consagrado ao repouso dos santos. É certo que o deserto foi santificado para nós pela voz do profeta que ali pregava e administrava o baptismo da penitência. Mas, antes dele, já os maiores profetas tinham tido sempre a solidão como amiga, enquanto auxiliadora do Espírito. Contudo, uma graça de santificação incomparavelmente mais excelente ficou ligada a este lugar a partir do momento em que Jesus aí sucedeu a João. Quando chegou a sua vez, Jesus, antes de ir pregar aos penitentes, achou por bem dever preparar um lugar para aí os acolher; foi ao deserto para consagrar uma vida nova nesse lugar renovado... e isso, menos por ele mesmo do que por aqueles que, após ele, habitarão no deserto. Por isso, se te fixaste no deserto, permanece aí e espera aquele que te salvará da fragilidade do teu espírito e da tempestade... De maneira ainda mais maravilhosa do que fez quando a multidão o seguia (Lc 4,42), o Senhor te saciará, a ti que o seguiste... No momento em que acreditares que ele te abandonou já há muito tempo, é então que, sem esquecer a sua bondade, ele virá consolar-te e dirá: "Lembrei-me de ti, tocado pela tua juventude e pelo teu primeiro amor, quando me seguiste até ao deserto" (Jr 2,2). E o Senhor fará do teu deserto um lugar de delícias; e tu proclamarás (como o profeta) que lhe foi dada a glória do Líbano, a beleza do Carmelo e do Saron (Is 35,2)... Então, da tua alma saciada brotará o hino do teu louvor: "Que o Senhor seja glorificado pelas suas maravilhas para com os filhos dos homens! Ela saciou a alma sedenta e cumulou a alma faminta!" Santo Agostinho (cerca de 354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja Sermão 293,5 « Nós vimos a sua glória » Cristo devia vir ao mundo na nossa carne; não podia ser outro - quer seja anjo, ou embaixador - mas era o próprio Cristo que devia vir para nos salvar (Is 35,4)... Devia nascer numa carne mortal: uma criancinha, deitada num presépio, envolvido em panos, amamentado, que cresceria com os anos e por fim morreria cruelmente. Tantos testemunhos de humildade profunda. Quem nos dá estes exemplos? O Altíssimo. Qual é, portanto, a sua grandeza? Não procures na terra, sobe acima dos astros. Quando tiveres chegado às legiões dos anjos, ouvi-los-às dizer: Sobe ainda acima de nós. Quando tiveres subido até aos Tronos, Dominações, Principados, Potestades (Col 1,16), ouvi-los-ás dizerem, ainda: Sobe mais acima, nós próprios somos criaturas «porque todas as coisas foram feitas por Ele» (Jo 1,3). Eleva-te, pois, acima de toda a criatura, de tudo o que foi formado, de tudo o que recebeu a existência, de todos os seres que se transformam, corpóreos ou incorpóreos, numa palavra, acima de tudo. A tua visão não pode, ainda, alcançar tudo isso; é pela fé que tens de chegar lá, é ela que deve conduzir-te ao Criador… É lá que contemplarás «o Verbo, que era desde o princípio»… Ora, este Verbo que estava em Deus, este Verbo que era Deus, por quem todas as coisas foram feitas, sem o qual nada foi feito, e em quem estava a vida, desceu até nós. Quem éramos nós? Merecíamos nós que Ele descesse até nós? Não, nós não éramos dignos de que Ele Se compadecesse de nós, mas Ele era digno de ter piedade de nós. Evangelho segundo S. João 1,19-28. Este foi o testemunho de João, quando as autoridades judaicas lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntarem: «Tu quem és?» Então ele confessou a verdade e não a negou, afirmando: «Eu não sou o Messias.» E perguntaram-lhe: «Quem és, então? És tu Elias?» Ele disse: «Não sou.» «És tu o profeta?» Respondeu: «Não.» Disseram-lhe, por fim: «Quem és tu, para podermos dar uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?» Ele declarou: «Eu sou a voz de quem grita no deserto: 'Rectificai o caminho do Senhor', como disse o profeta Isaías.» Ora, havia enviados dos fariseus que lhe perguntaram: «Então porque baptizas, se tu não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?» João respondeulhes: «Eu baptizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. É aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias.» Isto passouse em Betânia, na margem além do Jordão, onde João estava a baptizar. Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja Sermão 293, 7e para a Natividade de João Baptista «Sou a voz que clama no deserto» João era a voz, mas «no princípio era o Verbo» (Jo 1, 1). João, uma voz para um tempo; Cristo, a Palavra desde o princípio, a Palavra eterna. Sem a Palavra, o que é a voz? Onde não há nada para compreender, há um ruído vazio. A voz sem a palavra entra no ouvido, mas não chega ao coração. Mas descubramos como as coisas se encandeiam no nosso coração, que é necessário edificar. Se eu penso naquilo que devo dizer, a palavra está já no meu coração; mas, quando te quero falar, procuro como fazer passar para o teu coração o que já existe no meu. Se procuro como pode a palavra que já existe no meu coração encontrar-te e ficar no teu coração, sirvo-me da voz, e é com esta voz que te falo: o som da voz conduz até ti a ideia contida na palavra. Então, é verdade que o som se esvai; mas a palavra que o som conduziu até ti está doravante no teu coração, sem ter abandonado o meu. Logo que a palavra passa para ti, não é verdade que o som parece dizer, como João Baptista, «Ele deve crescer e eu diminuir»? (Jo 3, 30). O som da voz ressoou para realizar o seu serviço, e desaparece como se dissesse: «Essa é a minha alegria, que agora é completa» (29). Guardemos então a Palavra; não deixemos partir a Palavra concebida no mais profundo do nosso coração. Santo António (cerca de 1195-1231), franciscano, doutor da Igreja Sermões para os domingos e festas dos santos, 3º domingo do Advento «Está no meio de vós» “O Senhor está próximo, não vos inquieteis com nada" (Fil 4,5-6). No profeta Isaías, Deus Pai fala assim: “Faço aproximar a minha justiça” – isto é o seu Filho; “ele não está longe e a minha salvação não se fará esperar. Darei a Sião a salvação e a minha glória a Israel” (46,13). É o que se diz no evangelho de hoje: “No meio de vós está aquele que não conheceis”. Mediador entre Deus e os homens, um homem (1 Tm 2,5), Jesus Cristo, eleva-se no campo de batalha do mundo para combater o diabo; vencedor, ele liberta o homem e reconcilia-o com Deus Pai. Mas vós não o conheceis. “Alimentei e criei filhos, mas eles desprezaram-me. O boi conhece o seu dono, o burro conhece o estábulo do seu senhor, mas Israel não me conheceu e o meu povo não me compreendeu” (Is 1,2-3). Como o Senhor está perto de nós! E nós não o conhecemos! Alimentei os meus filhos com o meu sangue, diz-nos ele, como uma mãe alimenta os seus filhos com o seu leite. Elevei acima dos coros dos anjos a natureza humana que tomei, a quem me uni. Poderia dar-vos maior honra? E eles desprezaram-me. Vede se há dor comparável à minha (Lm 1,12)… Então, "não vos inquieteis com nada", uma vez que é a preocupação com as coisas materiais que nos faz esquecer o Senhor. „No meio de vós, está alguém que não conheceis“ – Jo 1,26 1. Seu nome é Jesus Cristo e passa fome / e grita pela boca dos famintos: / e a gente, quando vê, passa adiante / às vezes, pra chegar depressa à Igreja. / Seu nome é Jesus Cristo e está sem casa / e dorme pela beira das calcadas; / e a gente, quando o vê, apressa o passo / e diz, que ele dormiu embriagado. [:Entre nós esta e não o conhecemos / entre nós está e nós o desprezamos:]. 2. Seu nome é Jesus Cristo e e analfabeto / e vive mendigando um sub-emprego; / e a gente, quando o vê, diz: „É um à-toa, / melhor que trabalhasse e não pedisse“. / Seu nome é Jesus Cristo e está banido / das rodas sociais e das Igrejas / porque dele fizeram um Rei potente / enquanto que ele vive como pobre. 3. Seu nome é Jesus Cristo e está doente / vive atrás das grades da cadeia; / e nós, tão raramente, vamos vê-lo/ sabemos que ele é um marginal. / Seu nome é Jesus Cristo e anda sedento / por um mundo de amor e de justiça / mas, logo que contesta pela paz / a ordem o obriga a ser da guerra. 4. Seu nome é Jesus Cristo e é maltrapilho / e vive nos imundos meritrícios / mas muitos o expulsam da cidade / com medo de estender a mão a ele. / Seu nome é Jesus Cristo e é todo homem / que vive neste mundo ou quer viver / pois pra ele não existem mais fronteiras / só quer fazer de nós todos irmãos. Cantemos ….. n° 844 Evangelho segundo S. João 1,29-34. No dia seguinte, ao ver Jesus, que se dirigia para ele, exclamou: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! É aquele de quem eu disse: 'Depois de mim vem um homem que me passou à frente, porque existia antes de mim.' Eu não o conhecia bem; mas foi para Ele se manifestar a Israel que eu vim baptizar com água.» E João testemunhou: «Vi o Espírito que descia do céu como uma pomba e permanecia sobre Ele. E eu não o conhecia, mas quem me enviou a baptizar com água é que me disse: 'Aquele sobre quem vires descer o Espírito e poisar sobre Ele, é o que baptiza com o Espírito Santo'. Pois bem: eu vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus.» São João Crisóstomo (cerca 345-407), padre em Antioquia, depois Bispo de Constantinopla, Doutor da Igreja Catequese 18 sobre o evangelho de São João «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo» «Eis o Cordeiro de Deus», diz João Baptista. Jesus não diz nada; é João que diz tudo. O esposo tem por costume agir assim; ainda não diz nada à esposa, mas apresenta-se e realiza-se em silêncio. Outros o anunciam e lhe apresentam a esposa. Quando ela aparece, o esposo não a toma ele próprio, mas recebe-a das mãos de outrem. Mas logo que a recebe assim das mãos de outro, une-se a ela tão fortemente que ela não se recorda mais daqueles que deixou para o seguir. Foi o que aconteceu em relação a Jesus Cristo. Ele veio para esposar a humanidade; Ele próprio não disse nada, não fez senão apresentar-Se. Foi João, o amigo do Esposo, que pôs na sua mão a da Esposa, ou seja, o coração dos homens, que ele persuadira com a sua pregação. Então Jesus Cristo recebeu-os e cumulou-os de tantos bens, que eles não voltaram para aquele que os tinha levado até Ele. [...] Ele tirou a Esposa da sua muito humilde condição para a conduzir à casa de seu Pai. [...] Foi João, o amigo do Esposo, quem, sozinho, esteve presente nestas bodas; foi então ele quem fez tudo; percebendo Jesus que vinha, disse: «Eis o Cordeiro de Deus.» E assim mostrou que não era apenas pela voz, mas também pelos olhos, que dava testemunho ao Esposo. Ele admirava o Filho de Deus e, contemplando-O, o seu coração exultava de alegria e de felicidade. Antes de O anunciar, admira-O presente, e faz conhecer o dom que Jesus veio trazer: «Eis o Cordeiro de Deus.» É Ele, diz João, quem tira o pecado do mundo, e fá-lo sem cessar, não apenas no momento da Sua Paixão quando sofre por nós. Se oferece apenas uma vez o seu sacrifício pelos pecados do mundo, este sacrifício único purifica para sempre os pecados de todos os homens até ao fim do mundo. São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia e posteriormente de Constantinopla, doutor da Igreja Homilia sobre o baptismo de Jesus Cristo e sobre a Epifania «Eu vi, e dou testemunho : é Ele o Filho de Deus» Cristo manifestou-Se a todos os homens não no momento do seu nascimento mas no momento do seu baptismo. Até esse dia, poucos o conheciam; quase ninguém sabia da sua existência e quase todos ignoravam quem era. João Baptista dizia: «No meio de vós está quem vós não conheceis» (Jo 1, 26). O próprio João partilhava desta ignorância acerca de Cristo até ao dia do seu baptismo : «Eu não O conhecia, mas aquele que me enviou para baptizar na água disse-me: ‘Aquele sobre quem vires descer o Espírito Santo, n’Ele poisando, é o que baptiza com o Espírito Santo’» […]. Com efeito, que razão dá João para o baptismo do Senhor? Era, diz ele, para que todos o conhecessem. São Paulo dizia também: «João Baptista ministrou apenas um baptismo de penitência e dizia ao povo que cresse n’Aquele que iria chegar depois dele» (Act 19,4). Eis porque Jesus recebe o baptismo de João. Ir de casa em casa apresentar Cristo dizendo que era o Filho de Deus, tal seria, para João, dar dificílimo testemunho; conduzi-Lo até à sinagoga e designá-Lo como Salvador teria sido um testemunho pouco credível. É no meio de grande multidão reunida na margem do Jordão que Jesus recebe dos altos céus o testemunho claramente expresso: o Espírito Santo descendo sobre Si na forma de uma pomba. Eis o que confirma o testemunho de João, sem quaisquer dúvidas. «Eu próprio não o conhecia», dizia João. Quem te fez conhecê-Lo? «Aquele que me enviou para O baptizar». E o que é que te disse? «Aquele sobre quem vires descer o Espírito Santo, n’Ele poisando, é o que baptiza com o Espírito Santo». É portanto o Espírito Santo quem a todos revela Aquele de quem João pregou maravilhas, descendo dos céus para, com suas asas de pomba, O designar. S. João Crisóstomo (cerca de 345 - 407), bispo de Antioquia e depois de Constantinopla, doutor da Igreja Comentário sobre S. Joaõ "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" "Eis o Cordeiro de Deus!", diz João Baptista. Jesus Cristo não fala; é João quem diz tudo. O Esposo costuma agir assim; começa por não dizer nada à Esposa mas apresenta-se e fica em silêncio. Outros o anunciam e lhe apresentam a Esposa; quando ela aparece, o Esposo não a toma ele mesmo mas recebe-a das mãos de outro. Depois de assim a ter recebido de outro, prende-se a ela com tanta força que ela já nem se lembra daqueles que deixou para o seguir. É o que se passa com Jesus Cristo. Veio para desposar a Igreja; ele mesmo nada disse, apenas se apresentou. Foi João, o amigo do Esposo, que pôs na sua mão a mão da Esposa - por outras palavras, o coração dos homens que ele tinha convencido com a sua pregação. Então, Jesus recebeu-os e cumulou-os com tantos bens que eles já não voltaram a quem os tinha trazido... Só João, o amigo do Esposo, esteve presente naquelas núpcias. Nessa altura, foi ele quem tudo fez; lançando os olhos sobre Jesus que se aproximava, disse: "Eis o Cordeiro de Deu s!" Mostrava assim que não era só pela voz mas com os olhos que dava testemunho de Esposo. Admirava Cristo e, ao contemplá-lo, o coração estremecia-lhe de alegria. Já não prega, apenas o admira ali presente e dá a conhecer o dom que Jesus veio trazer. E ensina a prepararmo-nos para o receber. "Eis o Cordeiro de Deus!" É ele, diz, quem tira o pecado do mundo. Fá-lo sem cessar; oferece uma só vez o seu sacrifício pelos pecados do mundo e este sacrifício tem um efeito perpétuo. S. Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e doutor da Igreja Ephata «Eis o Cordeiro de Deus» É único, o Cordeiro que morreu por todos, Ele que vela por todos os homens e os guarda para o Seu Deus e Seu Pai, único para todos, a fim de a todos submeter a Deus, único para todos, para a todos ganhar, para que «não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou» (2 Co 5, 15). De facto, quando estávamos mergulhados em numerosos pecados e, por conseguinte, sujeitos à morte e corrupção, o Pai deu o Seu Filho como nossa redenção, o único para todos, pois tudo está n'Ele e Ele é o melhor de todos. Um só morreu por todos, para que todos vivamos n'Ele. Efectivamente, do mesmo modo que a morte possuiu o Cordeiro imolado por todos, assim n'Ele e com Ele, perdeu a força em relação a todos nós. Porque todos estávamos em Cristo que morreu e ressuscitou por nós e para nós; em verdade, abolido o pecado, como é que pode ser que a morte, que vem do pecado, não seja abolida com ele? Morta a raiz, como seria conservado o fruto? Destruído o pecado, que razão hav eria para morrermos? Assim, podemos dizer com alegria falando da morte do Cordeiro de Deus: «Onde está, ó morte, a tua vitória?» (1 Co 15, 55). J. B. Bossuet (1627-1704), bispo de Meaux Elevações sobre os mistérios, 24ª semana, 2ª elevação «Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» João, vendo Jesus vir até ele, mostrou-o a todo o povo dizendo : "Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo". Todos os dias, de manhã e à tarde, imolava-se no Templo um cordeiro e aquilo era o que se chamava o "sacrifício contínuo” ou perpétuo (Ex 29,38). Foi isso que deu a João a oportunidade de pronunciar as palavras que acabamos de ouvir; talvez mesmo Jesus se tenha aproximado dele à hora em que todo o povo sabia que se estava a oferecer esse sacrifício. Fosse como fosse, neste testemunho que presta ao Salvador, ele que o tinha feito conhecer como "Filho único no seio do Pai" (Jo 1,18), cujas profundezas vinha revelar, fá-lo ser conhecido hoje como a vítima do mundo. Não penseis que aquele cordeiro que se oferecia tarde e manhã em sacrifício perpétuo fosse o verdadeiro cordeiro, a verdadeira vítima de Deus; é antes aquele que se colocou “ao entrar no mundo no lugar de todas as vítimas” (cf. He 10, 5.7). É também aquele que é a vítima pública do género humano e que, só ele, pode expiar e tirar esse grande pecado que é a raiz de todos os outros e que, por isso, pode ser chamado "o pecado do mundo", quer dizer, o pecado de Adão, o pecado de todo o universo… Santa Teresa-Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-patrona da Europa As Bodas do Cordeiro, 14/9/1940 "O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" No Apocalipse, o apóstolo João escreve: «Eis o que vi: diante do trono... havia um Cordeiro, de pé e como que imolado» (Ap 5,6). Enquanto contemplava esta visão, uma recordação permanecia nele ainda bem viva: a do dia inesquecível em que, na margem do Jordão, João Baptista tinha designado Jesus como «o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo»... Mas porque é que o próprio Senhor tinha escolhido o cordeiro para ser o seu símbolo por excelência? Porque é que se mostrava mais uma vez sob esta aparência no trono eterno da glória? Porque era inocente como um cordeiro e humilde como um cordeiro, e porque tinha vindo para «deixar-se conduzir ao matadouro como um cordeiro» (Is 53,7). Também isso tinha contemplado o apóstolo João, quando o Senhor tinha deixado que lhe atassem as mãos no Jardim das Oliveiras e se tinha deixado pregar na cruz no Gólgota. Ali, no Gólgota, o verdadeiro sacrifício da reconciliação tinha sido consumado. Os antigos sacrifícios tinham perdido a sua força e, tal com o antigo sacerdócio, cessaram em breve quando o templo foi destruido. Tudo isto João tinha-o vivido. Por isso, não se admirou ao ver o Cordeiro no trono... Tal como o Cordeiro tinha de ser morto para ser elevado ao trono da glória, assim também, para todos os que foram escolhidos para «a boda das núpcias do Cordeiro» (Ap 19,9), o caminho para a glória passa pelo sofrimento e pela cruz. Aqueles que querem unir-se ao Cordeiro devem deixar-se pregar com ele na cruz. Todos os que estão marcados com o sangue do Cordeiro (cf. Ex 12,7) a isso são chamados - e são todos os baptizados. Mas nem todos compreendem o apelo e nem todos o seguem. Pregador do Papa: Jesus deu sentido e fecundidade à dor Comentário do Pe. Cantalamessa sobre a liturgia do próximo domingo ROMA, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, OFM Cap., pregador da Casa Pontifícia, sobre a Liturgia da Palavra do próximo domingo, II do Tempo Comum. *** II Domingo do Tempo Comum Isaías 49, 3.5-6; I Coríntios 1, 1-3; João 1, 29-34 «Eis o Cordeiro de Deus!» No Evangelho, escutamos João o Batista que, apresentando Jesus ao mundo, exclama: «Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!». O cordeiro, na Bíblia, e em outras culturas, é o símbolo do ser inocente, que não pode causar dano a ninguém, mas só recebê-lo. Seguindo este simbolismo, a 1ª carta de Pedro chama Cristo de «o cordeiro sem mancha», que, «ultrajado, não respondia com ultrajes, e sofrendo não ameaçava com vingança». Em outras palavras, Jesus é, por excelência, o Inocente que sofre. Alguém disse que a dor dos inocentes «é a rocha do ateísmo». Depois de Auschwitz, o problema foi proposto de maneira mais aguda ainda. São incontáveis os livros escritos sobre este tema. É como se houvesse um processo em andamento e se escutasse a voz do juiz que ordena ao imputado que se levante. O imputado neste caso é Deus, a fé. O que a fé tem a responder a tudo isso? Antes de mais nada, é necessário que todos, crentes ou não, coloquem-se em uma atitude de humildade, porque se a fé não é capaz de «explicar» a dor, muito menos a razão. A dor dos inocentes é algo puro demais e misterioso como para poder esgotar-se em nossas pobres «explicações». Jesus, que certamente tinha muitas mais explicações para dar que nós, ante a dor da viúva de Naim e das irmãs de Lázaro não soube fazer nada melhor que se comover e chorar. A resposta cristã ao problema da dor inocente está contida em um nome: Jesus Cristo! Jesus não veio para dar-nos grandes explicações da dor, mas veio para tomá-la silenciosamente sobre si. Ao atuar assim, no entanto, Ele a transformou desde o interior: de sinal de maldição, fez da dor um instrumento de redenção. Mais ainda: fez dela o valor supremo, a ordem de grandeza mais elevada deste mundo. Depois do pecado, a verdadeira grandeza de uma criatura humana se mede pelo fato de levar sobre si o mínimo possível de culpa e o máximo possível de pena do próprio pecado. Não está tanto em uma ou outra coisa tomadas separadamente – isto é, ou na inocência ou no sofrimento –, mas na presença contemporânea das duas coisas na mesma pessoa. Este é um tipo de sofrimento que aproxima de Deus. Só Deus, de fato, se sofre, sofre como inocente em sentido absoluto. Contudo, Jesus não deu só um sentido à dor inocente; confiou-lhe também um poder novo, uma misteriosa fecundidade. Contemplemos o que brotou do sofrimento de Cristo: a ressurreição e a esperança para todo o gênero humano. Mas olhemos o que acontece ao nosso redor. Quanta energia e heroísmo são suscitados com freqüência, em um casal, pela aceitação de um filho deficiente, prostrado durante anos! Quanta solidariedade insuspeitada em torno deles! Quanta capacidade de amor que, do contrário, seria desconhecida! O mais importante, quando se fala de dor inocente, não é explica-la, mas evitar aumentá-la com nossas ações e nossas omissões. Mas tampouco basta não aumentar a dor inocente; é necessário procurar aliviar a que existe! Ante o espetáculo de uma menina tremendo de frio que chorava de fome, um homem gritou, um dia, em seu coração a Deus: «Ó Deus! Onde estás? Por que não fazes algo por essa pequena inocente?». E Deus respondeu: «Claro que fiz algo por ela: fiz você». [Traduzido por Zenit] Evangelho segundo S. João 1,35-42. No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!» Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntoulhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi que quer dizer Mestre onde moras?» Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Eram as quatro da tarde. André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!» que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas» que significa Pedra. São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da Igreja Homilia n° 19 sobre São João “Jesus poisou sobre ele o olhar e disse: ‘Chamar-te-ás Cefas, que quer dizer Pedro’” “Tu és Simão, filho de Jonas; chamar-te-ás Cefas, que quer dizer Pedro” […] Eis o nome que Cristo dá a Simão. A Tiago e a seu irmão chamar-lhes-á “filhos do trovão” (Mc 3, 17). A que se devem estas mudanças de nome? Servem para mostrar que Ele, Jesus, é o mesmo que havia estabelecido a antiga aliança, que tinha mudado o nome de Abrão, que passou a ser Abraão, e o de Sarai, que passou a chamar-se Sara, e o de Jacob, que passou a ser Israel (Gen 17, 5 ss; 32, 29). E que também dera o nome a vários, aquando do seu nascimento: a Isaac, a Sansão, aos filhos de Isaías e de Oseias. […] Nós temos um nome muito superior a todos os outros: o nome de “cristãos” – o nome que faz de nós filhos de Deus, amigos de Deus, um mesmo corpo com Ele. Haverá nome que possa tornar-nos mais fervorosos na virtude, encher-nos de maior zelo, levar-nos a fazer o bem? Evitemos, pois, fazer alguma coisa que seja indigna deste nome tão grande e tão belo, derivado do nome do próprio Jesus Cristo. Quantos ostentam o nome de um grande chefe militar ou de alguma personagem ilustre consideram-se honrados por esse facto e tudo fazem para ser dignos dele. Quanto mais nós, que não tiramos o nosso nome de um general nem de um príncipe desta terra, nem sequer de um anjo, mas do Rei dos anjos, quanto mais nós devemos estar dispostos a tudo perder, incluindo a própria vida, em honra deste santo nome! Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja Sermões sobre o Evangelho de São João, nº 7 «Ficaram com Ele nesse dia» «João encontrava-se de novo ali, com dois dos seus discípulos.» João era de tal maneira «amigo do Esposo», que não procurava a sua própria glória, limitando-se a dar testemunho da verdade (Jo 3, 29.26). Ter-lhe-á ocorrido reter os seus discípulos, impedindo-os de seguir o Senhor? De maneira nenhuma. Pelo contrário, aponta-lhes Aquele a Quem devem seguir. [...] «Por que permaneceis ligados a mim?», pergunta-lhes. «Eu não sou o Cordeiro de Deus. Eis o Cordeiro de Deus [...], Aquele que tira os pecados do mundo.» A estas palavras, os dois discípulos que estavam com João seguiram Jesus. «Jesus voltou-Se e, notando que eles O seguiam, perguntou-lhes: "Que pretendeis?" Eles disseram-Lhe: "Rabi, que quer dizer Mestre, onde moras?"» Ainda não O seguiam de maneira definitiva; sabemos que se ligaram a Ele quando os chamou a deixarem a barca [...], quando lhes disse: «Vinde após Mim e Eu farei de vós pescadores de homens» (Mt 4, 19). Foi a partir desse momento que se ligaram a Ele para nunca mais O deixarem. Para já, queriam ver onde Jesus morava, e pôr em prática aquela palavra da Escritura que diz: "Se vires um homem sensato, madruga para ir ter com ele, e desgastem os teus pés o limiar da sua porta. Fixa a tua atenção nos preceitos de Deus» (Ecli 6, 36-37). Jesus mostrou-lhes, pois, onde morava; e eles ficaram com Ele. Que dia feliz aquele! Que noite bem-aventurada! O que eles terão ouvido da boca do Senhor! Construamos, também nós, uma morada no coração, ergamos uma casa onde Cristo possa vir instruir-nos e conversar connosco. Pregador do Papa: Glorificai a Deus em vosso corpo Padre Cantalamessa comenta as leituras do próximo domingo ROMA, sexta-feira, 13 de janeiro de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do padre Raniero Cantalamessa OFM Cap --pregador da Casa Pontifícia-- às leituras da missa do próximo domingo. *** II Domingo do Tempo comum B (1 Samuel 3,3b-10.19; 1 Coríntios 6, 13c-15a. 17-20; João 1, 35-42) Glorificai a Deus em vosso corpo A passagem do Evangelho permite-nos assistir à formação do primeiro núcleo de discípulos, do que se desenvolverá primeiro o colégio dos apóstolos e em seguida toda a comunidade cristã. João está ainda às margens do Jordão junto a dois de seus discípulos quando vê passar Jesus e não se retém de gritar de novo: «Eis aí o Cordeiro de Deus!». Os dois discípulos compreendem e, deixando o Batista, colocam-se a seguir Jesus. Vendo que o seguem, Jesus volta-se e pergunta: «O que buscais?». Respondem-lhe, para romper o gelo: «Mestre, onde vives?». «Vinde e vede», responde-lhes. Foram, viram, e aquele dia ficaram com ele. Esse momento passou a ser para eles tão decisivo em suas vidas que recordam até a hora em que ocorreu: era por volta das quatro da tarde. Na segunda leitura, São Paulo ilustra uma marca que deve caracterizar a vida do discípulo de Cristo: a pureza. «O corpo --diz entre outras coisas-- não é para a fornicação, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo... Glorificai, portanto, a Deus com vosso corpo». Tratando-se de um tema tão ouvido e vital para nossa sociedade atual, vale a pena dedicar-lhe atenção. Talvez quem é capaz de entender melhor o tema da pureza são precisamente os verdadeiros enamorados. O sexo faz-se «impuro» quando reduz o outro (ou o próprio corpo) a objeto, a coisa, mas isto é algo que um verdadeiro amor rejeitará realizar. Muitos dos excessos em andamento neste campo têm algo de artificial, devem-se à imposição externa ditada por razões comerciais e de consumo. Não é, como se quer fazer crer, «evolução espontânea dos costumes», é evolução guiada, imposta. Uma das desculpas que contribuem mais a favorecer o pecado de impureza na mentalidade comum e a descarregá-lo de toda responsabilidade é que não faz mal a ninguém, não vulnera os direitos nem a liberdade dos demais, exceto, diz-se, se se trate de estupro ou violação. Mas não é verdade que o pecado de impureza acabe em quem o comete. Todo abuso, onde quer e por quem quer que seja cometido, contamina o ambiente moral do homem, produz uma erosão dos valores e cria o que Paulo define de «a lei do pecado», e da qual ilustra o terrível poder de arrastar os homens à ruína (Cf. Romanos, 7, 14 ss). A primeira vítima de tudo isso são precisamente os jovens. Fenômenos tão reprovados, como a exploração de menores, o estupro e a pedofilia, mas também certas atrocidades cometidas não sobre menores, mas por menores, não nascem do nada. São, ao menos em parte, o resultado do clima de exasperada excitação no qual vivemos e no qual os mais frágeis sucumbem. Não era fácil, uma vez que se pôs em andamento, deter a avalanche de lodo que tempo atrás se abateu sobre Sarno e outras populações de Campania, destruindo-as [a tragédia, perto de Nápoles, ocorreu em maio de 1998, deixando mais de uma centena de mortos, cerca de 200 desaparecidos e numerosos danificados. Ndr]. Era necessário evitar o corte de árvores e outros danos ambientais que fizeram inevitável o deslizamento de terra. O mesmo vale para certas tragédias de fundo sexual: destruídas as defesas naturais, aquelas se fazem inevitáveis. Mas hoje já não basta uma pureza feita de medos, tabus, proibições, de fuga recíproca entre o homem e a mulher, como se cada um deles fosse, sempre e necessariamente, uma insídia para o outro e um inimigo potencial, em vez de, como diz a Bíblia, «uma ajuda». É necessário enfatizar em defesas já não externas, mas internas, baseadas em convicções pessoais. Deve-se cultivar a pureza por si mesma, pelo valor positivo que representa para a pessoa, e não só pelos perigos de saúde ou de bom nome aos que expõe sua transgressão. A pureza assegura o mais precioso que existe no mundo: a possibilidade de aproximar-se de Deus: «Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus» (Cf. Mt 5, 8. Ndr), disse Jesus. Não o verão só um dia, após a morte, mas já agora: na beleza do criado, de um rosto, de uma obra de arte; vê-lo-ão em seus próprios corações. [Traduzido por Zenit] São Gregório de Nazianzo (330-390), bispo, doutor da Igreja Discurso Teológico 4 Seguir o Cordeiro de Deus Jesus é Filho do homem, por causa de Adão e por causa da Virgem, de quem descende. […] É Cristo, o Ungido, por causa da sua divindade; esta divindade é a unção da sua humanidade […], presença total dAquele que assim O consagra. […] Ele é o caminho, porque é Ele quem nos conduz. Ele é a Porta, porque nos introduz no Reino. Ele é o Pastor, porque conduz o seu rebanho para as pastagens, e o leva a beber nas águas refrescantes; Ele mostra o caminho a seguir e defende-o dos animais selvagens; Ele vai buscar a ovelha errante, encontra a ovelha perdida, trata da ovelha ferida, guarda as ovelhas que estão de boa saúde e, graças às palavras que lhe inspira o seu saber de pastor, reúne-as no aprisco das alturas. Ele é também a Ovelha, porque é a vítima. Ele é o Cordeiro, porque é sem mancha. Ele é o Sumo-Sacerdote, porque oferece o sacrifício. Ele é Sacerdote da ordem de Melquisedeque, porque não tem mãe no céu nem pai nem terra, não tem genealogia nas alturas, porque – diz a Escritura – “quem contará a sua geração?” E também é Melquisedeque porque é o Rei de Salém, o Rei da paz, o Rei da justiça. […] Eis os nomes do Filho, Jesus Cristo “ontem, hoje, o mesmo sempre”, corporal e espiritualmente, “e assim para sempre”. Ámen. Basílio de Seleucia (? - cerca 468), bispo Sermão em louvor de Santo André “Encontrámos o Messias” Tomando Pedro com ele, André conduziu ao Senhor o seu irmão segundo a natureza e o sangue, para que ele se tornasse discípulo como ele; é o primeiro acto de André. Ele fez crescer o número de discípulos; introduziu aí Pedro, no qual Cristo encontrará o chefe dos seus discípulos. É bem verdade que quando, mais tarde, Pedro tiver uma conduta admirável, devê-la-á ao que André semeou. O louvor dirigido a um recai igualmente sobre o outro, porque os bens de um pertencem ao outro, e um glorifica-se dos méritos do outro. Que alegria Pedro deu a todos, assim que respondeu imediatamente à pergunta do Senhor, rompendo o silêncio embaraçado dos discípulos!... Pedro só pronunciou estas palavras: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Ele falava em nome de todos; numa frase, ele proclamou o Salvador e o seu projecto de salvação. Como esta proclamação combina bem com a de André! As palavras que André tinha dito a Pedro assim que o levou a Cristo – “Nós encontrámos o Messias” – o Pai celeste confirma-as quando as inspira ele próprio a Pedro (Mt 16,17): “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Rupert de Deutz (v.1075-1130), monge beneditino Homilia sobre S. João "Pondo o olhar em Jesus que passava" “João estava de pé, com dois dos seus discípulos, quando Jesus ia a passar”. Trata-se, com efeito, de uma atitude corporal mas que traduz alguma coisa da missão de João, da veemência da sua palavra e da sua acção. Mas, segundo o evangelista, trata-se ainda mais profundamente daquela tensão viva, sempre em suspenso no profeta. João não se contentava com cumprir exteriormente o seu papel de precursor; guardava sempre vivo no seu coração o desejo do Senhor que ele tinha reconhecido no baptismo… Sem dúvida alguma, João vivia totalmente uma tensão para com Nosso Senhor. Desejava revê-lo, porque ver Jesus era a salvação para quem o confessava, a glória para quem o anunciava, a alegria para quem o revelava. João estava pois ali, de pé, erguido com todo o ardor do seu coração; estava hirto; esperava o Cristo ainda oculto pela sombra da sua humildade… Com João, estavam dois dos seus discípulos, de pé como o mestre, primícias desse povo preparado pelo precursor, certamente que não para si mas para o Senhor. Vendo Jesus que passava, João diz: “Eis o Cordeiro de Deus!” Notem os termos precisos desta narrativa: à primeira vista tudo é claro mas, para quem penetra o sentido profundo, tudo é denso de mistério. “Jesus passava”… Que quer isto dizer senão que o Filho de Deus veio partilhar a nossa natureza de homem que passa, que muda? Ele, que os homens não conheciam, faz-se conhecer e amar passando no meio de nós. Veio no seio da Virgem. Depois, passou do seio da Mãe para o presépio e do presépio para a cruz, da cruz para o túmulo; do túmulo subiu ao céu… Também o nosso coração, se aprender a desejar Cristo como João, reconhecerá Jesus que passa, se se puser a segui-lo, chegará como os discípulos ao lugar onde Jesus habita – no Mistério da sua Divindade. Evangelho segundo S. João 1,43-51. No dia seguinte, Jesus resolveu sair para a Galileia. Encontrou Filipe, e disse-lhe: «Segueme!» Filipe era de Betsaida, a cidade de André e de Pedro. Filipe encontrou Natanael e disselhe: «Encontrámos aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas: Jesus, filho de José de Nazaré.» Então disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» Filipe respondeu-lhe: «Vem e verás!» Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse dele: «Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.» Disse-lhe Natanael: «Donde me conheces?» Respondeu-lhe Jesus: «Antes de Filipe te chamar, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira!» Respondeu Natanael: «Rabi, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!» Retorquiu-lhe Jesus: «Tu crês por Eu te ter dito: 'Vi-te debaixo da figueira'? Hás-de ver coisas maiores do que estas!» E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo por meio do Filho do Homem.» Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja Sermões sobre São João, nº 7 “Vi-te quando estavas debaixo da figueira” Natanael estava sentado debaixo de uma figueira, como que à sombra da morte. E foi aí que o Senhor o viu, Ele acerca de Quem está escrito: “Para aqueles que habitavam uma terra de sombras, a luz brilhou” (Is 9, 1). Que disse Ele a Natanael? Perguntas-Me como te conheci? Falas-Me agora porque foste chamado por Filipe. Mas, antes de o apóstolo o chamar, já Jesus tinha visto que ele fazia parte da Sua Igreja. Tu, Igreja cristã, verdadeira filha de Israel, […] também tu conheces agora Jesus Cristo por meio dos apóstolos, como Natanael conheceu Jesus Cristo por meio de Filipe. Mas a Sua misericórdia descobriu-te antes de tu O teres conhecido, quando estavas caída, esmagada sob o peso dos teus pecados. Com efeito, fomos nós quem primeiro buscou a Jesus Cristo? Não foi Ele, pelo contrário, Quem primeiro nos procurou? Fomos nós, pobres doentes, que nos apresentámos ao médico? Não foi antes o médico Quem veio ao encontro dos doentes? Não foi a ovelha que se perdeu antes de o pastor, deixando as outras noventa e nove, ter ido à sua procura, a ter encontrado e a ter posto aos ombros cheio de alegria (Lc 15, 4)? Não estava a moeda perdida antes de a mulher ter acendido a lamparina e a ter procurado por toda a casa, até a encontrar (Lc 15, 8)? […] O nosso pastor encontrou a sua ovelha, mas primeiro foi à sua procura; tal como esta mulher, que só encontrou a moeda depois de a ter procurado. Com efeito, nós fomos procurados, e só podemos falar depois de termos sido encontrados; longe de nós, pois, qualquer sentimento de orgulho. Estávamos perdidos para sempre, se Deus não tivesse ido à nossa procura para nos encontrar. S. Gregório o Grande (c. 540-604), papa e doutor da Igreja Catequeses sobre o Evangelho, 34, 8-9 «Bendizei ao Senhor, todos os Seus anjos, sempre dóceis à Sua palavra» (Sl 103,20) Muitas páginas da Sagrada Escritura atestam que os anjos existem... Mas é preciso saber que a palavra «anjo» designa a sua função: ser mensageiro. E chamam-se «arcanjos» os que anunciam os acontecimentos mais importantes. É assim que o arcanjo Gabriel é enviado à Virgem Maria; para esta função, para anunciar o maior de todos os acontecimentos, impunhase enviar um anjo da mais elevada categoria... Semelhantemente, quando se trata de estender um poder extraordinário, é Miguel que é o enviado. Com efeito, a sua acção como o seu nome, querem dizer: «Quem é como Deus?», fazem compreender aos homens que ninguém pode fazer o que pertence apenas a Deus realizar. O antigo inimigo, que desejou por orgulho fazer-se semelhante a Deus, dizia: «Subirei aos céus, estabelecerei o meu trono acima das estrelas de Deus, serei semelhante ao Altíssimo» (Is. 14,13). Mas o Apocalipse diz-nos que no fim dos tempos, assim que ele for abandonado à sua própria força, antes de ser eliminado pelo suplício final, deverá combater contra o arcanjo Miguel: «Travou-se uma batalha no céu: Miguel e os seus anjos pelejavam contra o Dragão. E o Dragão também combatia juntamente com os seus anjos. Mas não prevaleceram; o Dragão e os seus anjos foram precipitados na terra» (Ap 12, 7-9). À Virgem Maria, foi pois Gabriel, cujo nome significa «Força de Deus», que foi enviado; não vinha ele anunciar aquele que quisera manifestar-se num condição humilde, para triunfar do orgulho do demónio? Era pois pela «Força de Deus» que devia ser anunciado aquele que vinha como «o Senhor forte e poderoso, o Senhor herói nas batalhas» (Sl 24,8). Quanto ao arcanjo Rafael, o seu nome significa «Deus cura». Com efeito, foi ele que libertou da escuridão os olhos de Tobias, tocando-os como um médico vindo do alto (Tb 12,14). Aquele que foi enviado para tratar o justo na sua enfermidade bem pode ser apelidado de «Deus cura». Catecismo da Igreja Católica § 328-332 «Os anjos de Deus sobem e descem por cima do Filho do Homem» A existência dos seres espirituais, não-corporais, que Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição. Santo Agostinho diz a respeito deles: Anjo (mensageiro) é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espírito por aquilo que é, é anjo por aquilo que faz". Por todo o seu ser, os anjos são servidores e mensageiros de Deus. Porque contemplam "constantemente a face de meu Pai que está nos céus" (Mt 18,10), são "poderosos executores de sua palavra, obedientes ao som de sua palavra" (Sl 103,20). Como criaturas puramente espirituais, são dotados de inteligência e de vontade: são criaturas pessoais e imortais. Superam em perfeição todas as criaturas visíveis. Disto dá testemunho o fulgor de sua glória. Cristo é o centro do mundo angélico. São seus os anjos: "Quando o Filho do homem vier em sua glória com todos os seus anjos..." (Mt 25,31). São seus porque foram criados por e para Ele: “Pois foi nele que foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Dominações, Principados, Potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele" (Cl 1,16). São seus, mais ainda, porque Ele os fez mensageiros de seu projeto de salvação. "Porventura não são todos eles espíritos servidores, enviados ao serviço dos que devem herdar a salvação?" (Hb 1,14). Cardeal Joseph Ratzinger [Papa Bento XVI] Der Gott Jesu Christi (O Senhor Jesus Cristo) “De Nazaré poderá vir coisa boa?” Nazaré foi-nos escondida pelos pintores. […] O nome evoca excessivamente a maneira sentimental como a vida de Jesus foi transformada num idílio pequeno burguês, enganoso porque atenua o mistério. Temos de procurar noutro sítio a origem da veneração pela Sagrada Família. […] É a partir de Nazaré que descobrimos que a casa e a família são uma igreja, e que nos apercebemos da responsabilidade sacerdotal do chefe da família. Na “Galileia dos pagãos” (Mt 4, 15), Jesus recebe uma educação judaica; sem ir à escola, aprende a conhecer a Escritura em casa. […] As magras alusões de Lucas bastam para nos dar uma ideia do espírito de responsabilidade e de abertura, de fervor e de rectidão, que caracteriza esta comunidade, e que faz dela uma realização do verdadeiro Israel. Mas reconhecemos, antes de mais, na acção de Jesus, que conhece as Escrituras e as tradições rabínicas com a segurança de um mestre, quão fecunda para a sua aprendizagem foi a vida em comum vivida em Nazaré. E não nos dirá isso respeito, a nós que vivemos numa época em que a maior parte dos cristãos é obrigada a viver numa “Galileia dos pagãos”? A Grande Igreja não poderá crescer nem prosperar se ignorar que as suas raízes estão ocultas na atmosfera de Nazaré. […] Nazaré é uma permanente mensagem para a Igreja. A Nova Aliança não começa no Templo, nem na Montanha Santa, mas na pequena moradia da Virgem, na casa do trabalhador, num dos locais escondidos da “Galileia dos pagãos”, de que ninguém esperava nada de bom. Só a partir daí poderá a Igreja começar de novo e ser curada. Ela nunca poderá dar a verdadeira resposta à revolta do nosso século contra o poder da riqueza, se Nazaré não for uma realidade vivida no seu próprio seio. S. Basílio (cerca de 330 - 378), monge e bispo de Cesareia na Capadócia, doutor da Igreja Tratado do Espírito Santo, cap. 16 A santidade dos anjos «Os Céus foram consolidados pela palavra do Senhor e todo o seu exército pelo sopro da Sua boca» (Sl 32,6)... Como não pensar na Trindade: O Senhor que ordena, a Palavra que cria, o Sopro que consolida? O que quer dizer «consolidar», senão perfazer em santidade, designando seguramente esta palavra o facto de estar solidamente fixado no bem? Mas, sem o Espírito Santo, não há santidade, porque as potestades do céu não são santas pela sua própria natureza, senão não se distinguiriam do Espírito Santo; cada uma delas detem do Espírito a medida da sua santidade. A substância dos anjos é talvez um sopro aéreo ou um fogo imaterial. Um salmo diz: «Tens os ventos por mensageiros, por servidor uma chama de fogo» (Sl 103,4). É por isso que podem estar num sítio e de seguida tornar-se visíveis sob um aspecto corporal para aqueles que são dignos disso. Mas a santidade... é-lhes comunicada pelo Espírito. E os anjos mantêm-se na sua dignidade perseverando no bem, guardando a sua escolha; escolhem nunca se afastar do verdadeiro bem... Como diriam os anjos: «Glória a Deus no mais alto dos céus» (Lc 2,14) senão pelo Espírito? Na verdade, «ninguém pode dizer: “Jesus é o Senhor”, senão no Espírito Santo, e ninguém, se falar no Espírito de Deus, diz: “maldito seja Jesus”» (1Co 12,3). É o que terão dito precisamente os espíritos maus, adversários de Deus... no seu livre arbítrio... Poderiam as potestades invisíveis (Col 1,16) ter uma vida feliz se não vissem incessantemente a face do Pai que está nos céus? (Mt 18,10) Ora essa visão não se pode tê-la sem o Espírito... Diriam os serafins: «Santo, Santo, Santo» (Is 6,3) se o Espírito lhes não tivesse ensinado esse louvor? Se todos os Seus anjos e todas as Suas potestades celestes louvam a Deus (Sl 148,2), se milhares de milhares de anjos e inumeráveis miríades de ministros se conservam perto dEle, é na força do Espírito Santo que rege toda esta harmonia celeste e indizível, ao serviço de Deus e em acordo mútuo. S. Siluane (1866-1938), monge ortodoxo Escritos Na senda de Bartolomeu - Natanael, os apóstolos de hoje Depois da Ascensão do Senhor, os apóstolos ficaram cheios de uma grande alegria, tal como nos diz o Evangelho (Lc 24,52). O Senhor sabe que alegria lhes deu e quão intensamente a alma deles a experimentou. A sua primeira alegria era a de conhecerem o verdadeiro Senhor, Jesus Cristo; a segunda, a de o amarem; a terceira, a de conhecerem a vida eterna e celestial; a quarta, a de desejarem a salvação para todo o mundo, tal como para eles próprios. Por fim, estavam inundados de alegria porque conheciam o Espírito Santo e viam com agia neles. Os apóstolos percorriam a terra e falavam ao povo do Senhor e do Reino dos Céus, mas as suas almas estavam cheias de saudades e aspiravam a ver o Senhor. Por isso, eles não temiam a morte mas iam ao seu encontro cheios de alegria; se desejavam viver na terra, era apenas por amor aos homens. Os apóstolos amavam o Senhor e por isso não receavam qualquer tribulação. Amavam o Senhor, mas amavam também os homens, e esse amor retirava-lhes todo o temor. Não temiam nem as tribulações nem a morte e por isso o Senhor os enviou por todo o mundo para iluminarem os homens. Até aos nossos dias, há gente de oração que experimenta este amor divino e a ele aspira dia e noite. Servem o mundo com a sua oração e com os seus escritos. Mas esta tarefa recai sobretudo nos pastores da Igreja, que têm em si uma graça tão grande que, se os homens lhe pudessem ver o brilho, o mundo inteiro ficaria maravilhado. Mas o Senhor escondeu-o, a fim de que os seus servos não se orgulhem dele mas se salvem na humildade. São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja 11º Sermão sobre o Salmo “Qui habitat” Os anjos sobem e descem «Vereis os Anjos… subir e descer por cima do Filho do homem!» Sobem por eles, descem por nós, ou antes descem connosco. Esses espíritos bem-aventurados sobem pela contemplação de Deus, e descem para cuidar de nós e nos guardarem em todos os nossos caminhos (Sl 90, 11). Sobem até Deus para gozar da sua presença; descem até nós para obedecer às Suas ordens, visto que lhes mandou que cuidassem de nós. No entanto, descendo até nós, não ficam de modo algum privados da glória que os faz felizes: vêem sempre a face do Pai… Quando sobem à contemplação de Deus, procuram a verdade que os enche continuamente ao desejá-la, e que eles desejam sempre ao possui-la. Quando descem, exercem para connosco a misericórdia, já que nos guardam em todos os nossos caminhos. Porque estes espíritos bemaventurados são os ministros de Deus que nos são enviados em nosso auxílio (Heb 1, 14); e, nessa missão, não é a Deus que prestam serviço, mas a nós. Imitam nisso a humildade do Filho de Deus que não veio para ser servido, mas a servir, e que viveu entre os discípulos como seu servidor (Mt 20, 28). O benefício que os Anjos recebem ao seguir tais caminhos é a sua própria felicidade e a perfeição da obediência na caridade; e o que nós próprios recebemos é a comunicação que se nos faz das graças de Deus e a vantagem de sermos guardados por eles nos nossos caminhos… Filoxeno de Mabboug (? - cerca de 523), bispo na Síria Homilias, nº 4 "Vem e verás" Jesus renovou nos santos apóstolos o apelo dirigido a Abraão. A fé deles parecia-se com a de Abraão; porque, assim como Abraão obedeceu logo que foi chamado (Gn 12), também os apóstolos partiram atrás de Jesus logo que ele os chamou e eles o ouviram... Não foi um longo ensinamento que os fez discípulos, mas apenas o facto de terem ouvido a palavra da fé. Porque a sua fé estava viva, logo que ouviram a voz viva, ela obedeceu à vida. Correram logo sem demora atrás dela; assim se vê que eram discípulos no seu coração antes mesmo de terem sido chamados. Eis como age a fé que guarda a sua simplicidade. Não é à força de argumentos que ela é instruída; mas, assim como os olhos sãos e puros recebem o raio de sol que lhes é enviado, sem raciocinar nem trabalhar, e percebem a luz assim que se abrem... também aqueles que têm a fé natural reconhecem a voz de Deus logo que a ouvem. A luz da sua palavra ergue-se neles e lançam-se alegremente ao seu encontro e recebem-na, tal como disse nosso Se nhor no Evangelho: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz e seguem-me” (Jo 10,27). São Gregório Grande (c. 540-604), papa e doutor da Igreja Homilias sobre o Evangelho «Bendizei o Senhor, todos os seus anjos, poderosos executores das suas ordens» (Sl 102, 20) Que existem Anjos, muitas páginas da Escritura o atestam. Deveis saber que a palavra “Anjo” designa uma função, não uma natureza: ser mensageiros. Os que transmitem mensagens de maior transcendência chamam-se “Arcanjos”. Esta é a razão pela qual o Arcanjo Gabriel foi enviado à Virgem Maria; de facto, era justo que para esta missão fosse enviado um Anjo superior, porque vinha anunciar a maior de todas as mensagens. De igual modo, quando se trata de realizar algum mistério que exige um poder especial, verifica-se que é Miguel o enviado. De facto, a sua acção e o seu nome, que quer dizer “Quem como Deus?”, dão a entender aos homens que ninguém pode fazer o que só a Deus pertence realizar. Por isso, aquele antigo inimigo, que na sua soberba pretendeu ser semelhante a Deus, dizendo: “Subirei até ao céu, levantarei o meu trono acima dos astros e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14,13), será abandonado a si mesmo no fim do mundo e condenado ao extremo suplício. É este que S. João no Apocalipse nos apresenta a combater contra o Arcanjo Miguel: “Travou-se um combate no Céu contra o Arcanjo Miguel” (12,7). À Virgem Maria foi enviado Gabriel, que significa “Fortaleza de Deus”, porque veio anunciar aquele que, apesar da sua aparência humilde, havia de triunfar sobre os poderes superiores. Convinha, de facto, ser anunciado pela “Fortaleza de Deus” Aquele que vinha ao mundo como Senhor dos Exércitos e poderoso nas batalhas (Sl 23, 8). Quanto ao Arcanjo Rafael, seu nome significa “Medicina de Deus”, como se compreende na missão que teve junto de Tobias: tocou-lhe os olhos como um médico e dissipou as trevas da cegueira (Tb 11,17). Por isso, aquele que foi enviado para curar, é chamado “Medicina de Deus”. São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja 11º Sermão sobre o Salmo «Qui habitat» «Vereis os anjos subindo e descendo sobre o Filho do Homem» Ascendem por eles e descem por nós, ou melhor, condescendem connosco. Estes espíritos bem-aventurados ascendem pela contemplação de Deus e descem para velar por nós e nos guardar em todos os nossos caminhos (Sl. 90 [91], 11). Ascendem até Deus a fim de gozarem da sua presença; descem até nós obedecendo às Suas ordens, porque Ele lhes mandou que nos guardassem. No entanto, ao descerem até nós não ficam privados da glória que os torna felizes, porque estão sempre a ver o rosto do Pai… Quando ascendem à contemplação de Deus, procuram a verdade, com que se saciam desejando-a ininterruptamente e, possuindo-a, desejam-na sempre mais. Quando descem, exercem para connosco a misericórdia, porque nos guardam em todos os nossos caminhos. Porque estes espíritos bem-aventurados são ministros de Deus que nos são enviados para vir em nosso auxílio (Heb 1, 14); e, nesta missão não é a Deus a quem prestam serviço, mas a nós. Imitam nisto a humildade do Filho de Deus que não veio para ser servido, mas para servir, vivendo entre os seus discípulos como se fosse o seu servo (Mt 20, 28). O fruto que os anjos alcançam seguindo estes caminhos é a sua própria bem-aventurança e a obediência na caridade; e o que nós próprios recolhemos é a comunicação que nos é feita da graça de Deus e a vantagem de sermos guardados por eles nos nossos caminhos…