ESCOLA PRÁTICA DE ARTILHARIA as armas e as munições Na artilharia de campaNha Boletim de informação e divulgação ano XI / II sérIe Boletim da Escola Prática de Artilharia Ano XI / IIª Série Propriedade Escola Prática de Artilharia Director Comandante, COR ART Henrique José Pereira dos Santos Supervisão e Edição 2º Comandante, TCOR ART Vitor Hugo Dias de Almeida Redacção e Coordenação Director de Formação, Cmdt do Grupo Operacional e de Apoio à Formação TCOR ART João Alberto C. Q. Furtado de Almeida Colaboração TCOR ART António José Ruivo Grilo TCOR ART Manuel Bento Gomes Chanca MAJ ART Hélder Pilar Estriga MAJ ART José Carlos Pinto Mimoso CAP ART Nuno Miguel Lopes Duarte Salvado CAP ART Jorge Mendes Ribeiro de Sousa Alves CAP ART Joaquim Maria Madruga Pisco TEN ART Pedro Filipe Carrazedo Barbosa Gabinete de Artilharia da Academia Militar Direcção de Formação / EPA Capa Direcção de Formação Grafismo, Paginação e Impressão SecurityPrint-Sociedade de Indústria Gráfica Depósito Legal 219647/04 ISSN 1645-8516 Tiragem 500 Exemplares Periodicidade Anual NOTA: Os artigos desta publicação periódica exprimem apenas a opinião dos seus autores. AS ARMAS E AS MUNIÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA Sumário Editorial 3 Prefácio 5 Servir 7 A evolução nas Armas da Artilharia de Campanha em Portugal até à criação da OTAN 9 As Armas na Artilharia de Campanha em Portugal: Da criação da OTAN à actualidade 23 As inovações nos Sistemas de Armas de Artilharia de Campanha 31 A evolução nas Munições de Artilharia de Campanha em Portugal 47 As novas Munições de Artilharia de Campanha 53 A evolução nas Armas e Munições: Implicações para a Artilharia de Campanha portuguesa 65 Actividades da EPA 75 Militares e Civis da EPA 87 BRASÃO DE ARMAS DA EPA – DESCRIÇÃO HERÁLDICA Escudo: − De vermelho, dois canhões antigos de oiro passados em aspa acompanhados de três lucernas flamejantes do mesmo, uma em chefe e uma em cada flanco. Elmo: − Militar de prata, forrado de vermelho, a três quartos para a dextra. Correia: − De vermelho, perfilada de oiro. Paquife e virol: − De vermelho e de oiro. Timbre: − Uma granada de negro flamejante de vermelho. Condecorações: − Circundando o escudo, o Colar do Grau de Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor; Lealdade e Mérito. Divisa: − Num listel de branco, ondulado, sotoposto ao escudo, em letras de negro, maiúsculas, de estilo elzevir “MAIS AFINANDO A FAMA PORTUGUESA”. Simbologia e alusão das peças: − Os canhões são o emblema da Artilharia. − As lucernas caracterizam as actividades de ensino da Escola Prática. − O vermelho do campo é a cor tradicional da Artilharia. Representação e significado dos metais e Cores − O oiro significa poder e fé. − O vermelho significa valor, confiança e generosidade. − O negro significa firmeza e sabedoria. EDITORIAL A Escola Prática de Artilharia (EPA) tem como uma das tarefas nobres, no âmbito da sua missão geral de formação, o desenvolvimento de estudos e o aprofundamento das temáticas de âmbito técnico da Artilharia de Campanha (AC), acompanhando o que se vai fazendo por esse mundo fora e, em simultâneo, contribuindo para uma melhor preparação dos Quadros e Tropas de Artilharia, através do desenvolvimento e melhoramento do conhecimento das diferentes componentes práticas da Arma. O tradicional sistema de apoio de fogos, baseado nos seus três componentes essenciais “distintos, mas inseparáveis” (tal como referido no Manual de Táctica de AC, pág 1-5), de aquisição de objectivos, comando, controlo e coordenação e de armas e munições, tem constituído ao longo dos anos uma base fértil da investigação e estudo desta Escola, com natural preponderância dos aspectos de maior desenvolvimento tecnológico. É pois neste espírito que, ao celebrar mais um dia da Arma e da EPA, se lança a presente edição deste Boletim, subordinado ao tema “As Armas e as Munições na Artilharia de Campanha”. O conjunto de artigos que constitui a parte central desta edição do Boletim da EPA revela, de uma forma particularmente interessante, a importância e a actualidade do tema dado que, ao caracterizar o ambiente operacional contemporâneo e as implicações que o mesmo tem na evolução dos sistemas de armas e nas munições, bem como as tendências mais recentes verificadas nesta área e as suas consequências na doutrina, na formação, na organização e no emprego de unidades, a par de uma retrospectiva histórica e de uma prospectiva futura neste subsistema do apoio de fogos, condensa muito do saber artilheiro nacional, permitindo uma consulta fácil, objectiva e clara de um conjunto de informação, que normalmente não se encontra disponível de uma forma tão imediata. É nesta fusão entre o estudo do passado, o conhecimento do presente e a previsão do futuro, que se enriquece a formação dos nossos artilheiros, contribuindo igualmente para uma melhor compreensão das opções a tomar na área do reequipamento, da organização e da formação. A par da caracterização genérica da realidade da AC nacional (intenção desde logo identificada na própria capa do Boletim), em particular no período que corresponde aos últimos cem anos do seu percurso, é feita uma análise assaz curiosa aos sucessivos impulsos que têm caracterizado a evolução da nossa Arma, em grande medida estimulados por períodos de crise ou de guerra; se dúvida houver sobre esta intermitência, ela será rapidamente sanada com a leitura dos artigos apresentados. Importa também salientar a importância do tratamento do tema “Armas e Munições”, que ficou bem clara durante a realização do seminário de Artilharia, que este ano teve lugar na EPA, subordinado ao tema “A Artilharia nas Operações em Áreas Edificadas”. De entre as diversas conclusões e ensinamentos destaco, pela sua natural importância, o ênfase dado à necessidade de aquisição de munições guiadas de precisão, com sistemas de correcção de trajectória e de trajectória assistida, bem como do incremento da importância dos sistemas de armas de calibre 155 mm e de Lança Foguetes Múltiplos, nos conflitos onde os nossos aliados e amigos combatem as ameaças da actualidade. Também neste aspecto é de extrema importância a cuidadosa avaliação das decisões e opções a tomar num futuro, que se deseja breve, em particular no que se refere à prevista substituição do “velhinho” Obús M114A1. Serão ainda de considerar outras áreas no âmbito da investigação relativa às “Armas e Munições”, incluindo aspectos tão diversificados como a formação, as infra-estruturas de tiro, a organização das unidades e a doutrina, para só mencionar algumas das questões mais relevantes. A Escola, como é da sua natural vocação, continuará a estudar e a acompanhar todas estas questões, mantendo-se na vanguarda do saber artilheiro e honrando o percurso feito pelos nossos antecessores. BOLETIM DA EPA - 3 EDITORIAL Cumpre ainda deixar aqui uma breve palavra sobre o trabalho realizado ao longo do presente ano, em grande parte detalhado no artigo “Servir”, da autoria do Adjunto do Comandante. A par da sua missão primária de Formação, a Escola desenvolveu um conjunto muito vasto e diversificado de tarefas, incluindo no âmbito operacional (com o envolvimento da 1ª Bateria de Bocas de Fogo, do Grupo de Artilharia de Campanha da Brigada de Intervenção e a da recém criada Bateria de Aquisição de Objectivos, das Forças de Apoio Geral), de investigação e desenvolvimento doutrinário, de outras missões de interesse público (designadamente no âmbito dos Planos Lira, Vulcano e Aluvião), em apoio das populações e de ligação ao meio onde se insere, em particular à Sociedade e aos cidadãos. É ainda de salientar particularmente o esforço desenvolvido no sentido da melhoria do ordenamento do espaço rural do Polígono de Tiro de Vendas Novas e todas as tarefas de planeamento e de programação, no âmbito das comemorações dos 150 anos da nossa Casa-Mãe e dos trabalhos preparatórios da candidatura do património histórico da EPA ao Programa de Regeneração Urbana da Cidade de Vendas Novas. Todo este trabalho foi desenvolvido com grande dedicação e empenho de todo o pessoal, civil e militar, que continua a dedicar à nossa Escola o melhor do seu saber, dedicação e profissionalismo. É pois de toda a justiça que este esforço e o mérito do trabalho desenvolvido seja reconhecido e valorizado, pelo que quero deixar uma palavra de particular estímulo a todo o pessoal que, no dia-a-dia, muitas vezes em condições de grande exigência pessoal, dão cumprimento à nobre missão de formar os artilheiros de hoje e do porvir. No futuro que se avizinha, os projectos já em curso e que irão ter seguimento nos próximos meses e anos, concentrarão a parte mais significativa dos recursos da Unidade. A par da instrução, onde a EPA continuará a desenvolver a sua natural apetência, incluindo no seu contributo para a acreditação do Sistema Nacional de Formação, o Programa de Regeneração Urbana, como uma excepcional oportunidade de recuperação de infra-estruturas e as Comemorações dos 150 anos da mais antiga Escola Prática do Exército, irão centrar todo o nosso esforço, saber e atenção. Uma última referência a todos quantos tornaram realidade a edição do presente Boletim: autores, colaboradores e patrocinadores. Uma vez mais o envolvimento, o interesse e a participação voluntária e desinteressada permitiu concluir este projecto, que é agora deixado ao escrutínio do leitor. A todos o meu bem-hajam. Vendas Novas, 04 de Dezembro de 2010 O Comandante Henrique José Pereira dos Santos Coronel de Artilharia 4 - BOLETIM DA EPA PREFÁCIO N a passagem de mais um aniversário da Escola Prática de Artilharia (EPA), começaria por felicitar o respectivo Comando por mais uma edição do “Boletim da EPA”, desta vez dedicada à evolução dos sistemas de Armas de Artilharia de Campanha, à inovação verificada nos respectivos materiais e nas munições, bem como nas implicações que, necessariamente, estas tendências terão no futuro da Artilharia Portuguesa. A actual tipologia dos conflitos têm vindo a confirmar a constante procura de maiores alcances e precisão, a par de uma crescente mobilidade e rapidez de resposta, com os correspondentes ganhos em termos de eficácia, sobrevivência e capacidade para influenciar, decisivamente, o combate. Efectivamente, a Artilharia, desde o seu aparecimento nos campos de batalha, tem acompanhado e incorporado, no seu emprego, os avanços tecnológicos que têm vindo a conduzir a evolução dos armamentos e dos equipamentos, com os consequentes reflexos no domínio da sua intervenção. Devido à estreita correlação entre os materiais e equipamentos e a evolução da doutrina e da táctica, são levantadas, permanentemente, novas exigências para os sistemas de armas e munições de Artilharia, impondo novos desafios às indústrias de armamento, obrigando a modificações de emprego, e exigindo das guarnições uma adequada formação e adaptação a novas técnicas e procedimentos. Face a estes desígnios, têm vindo a ser apresentadas novas soluções, no domínio dos armamentos e das munições, quer apostando na evolução dos tradicionais sistemas rebocados ou autopropulsados, quer testando o desenvolvimento de novos materiais, continuando a assegurar, deste modo, à Artilharia, um papel determinante nos modernos teatros de operações. Os desenvolvimentos verificados induziram, entretanto, o aparecimento de munições adaptadas a múltiplos cenários, com predominância para objectivos em áreas urbanas, e com o imperativo de minimizar os efeitos colaterais. Deste modo, a acção combinada das elevadas potências explosivas, que vêm permitindo a redução do número de salvas, com as diversas modalidades de funcionamento das espoletas, vêm proporcionando vantagens significativas às unidades de manobra apoiadas, possibilitando bater os mais diversos objectivos, desde forças apeadas, a coberto ou a descoberto, até forças blindadas, passando pelas estruturas e locais fortificados. Por sua vez, as exigências do actual quadro de beligerância, com a extrema proximidade entre adversários, quando em combate próximo, requerem progressivamente graus de precisão mais elevados no batimento dos objectivos atribuídos à Artilharia, procurando obter-se resultados decisivos na neutralização das forças inimigas, com a garantia da integridade das nossas forças, recorrendo, para o efeito, a tecnologias que permitem monitorizar, de modo continuo, os objectivos, e ajustar trajectórias durante o voo, utilizando guiamentos por infravermelhos e por laser semi-activo, entre outros meios. Entretanto, as apostas de desenvolvimento verificadas não se têm limitado ao âmbito das plataformas, tendo visado, sobretudo, o aperfeiçoamento das munições e dos sistemas de comando, controlo e direcção de tiro, garantindo, deste modo, o reforço da flexibilidade e da autonomia das unidades de tiro, permitindo a sua entrada em acção de forma mais rápida, bem como a execução de missões de tiro de elevada cadência e precisão, agilizando, assim, a sua movimentação, de modo a não sofrerem os efeitos da contra-bateria, realidade que a tecnologia actual permite desencadear em curtíssimos espaços de tempo. Naturalmente, que perante os elevados custos envolvidos, para manter as capacidades de apoio de fogos adequadas ao actual quadro de missões da Arma, e evitar a sua obsolescência, a Indústria vem procurando parcerias que visam fornecer a integração de vários projectos, que possam tornar compatíveis os diversos sistemas de armas e de comando e direcção de tiro existentes, assegurando a necessária interoperabilidade, e rentabilizando, desta forma, BOLETIM DA EPA - 5 PREFÁCIO os investimentos efectuados. Por tudo isto, se destaca a importância da temática versada no presente Boletim, num momento de encruzilhada em que se encontra a Artilharia portuguesa, num quadro de grande incerteza, quanto à forma e ao tempo da sua tão necessária, como obrigatória modernização, decisivamente condicionada pelo estrangulamento dos orçamentos disponíveis, onde se evidenciam os pesados cortes que se têm feito sentir na LPM. Finalizaria, deixando uma saudação particular a todos os Militares e Funcionários Civis da EPA, pela forma como, num quadro de crescentes e reconhecidas dificuldades e constrangimentos, vêm cumprindo a sua missão, com competência, rigor e empenhamento, a todos exortando à continuação do seu trabalho e dedicação em prol da Artilharia, para bem servir o Exército e o País. Lisboa 04 de Dezembro de 2010 O Director Honorário da Arma de Artilharia Joaquim Formeiro Monteiro Tenente-General 6 - BOLETIM DA EPA SERVIR A o findar o ano importa reflectir sobre o muito que se serviu, e bem, resultado do empenhamento, dedicação e muito profissionalismo de todos os Oficiais, Sargentos, Praças e Pessoal Civil desta Escola. Com repetido entusiasmo, certos das nossas capacidades e limitações, iniciámos desafios com determinação e querer. Os inerentes e excelentes resultados são bem patentes e servem de estímulo a futuras missões. Quem teve o privilégio de assistir e participar nas diversas jornadas de limpeza e conservação de recursos do Polígono de Tiro, compreenderá melhor a dimensão da missão e o esforço e sacrifício dispendido. Para aqueles que visitam a área e a conheciam anteriormente, fica a certeza do bom trabalho executado e a noção da sua extensão. A vontade de bem servir e a crença que os trabalhos a executar trarão um futuro com maior segurança, quanto a riscos de incêndio, e uma melhor gestão dos diversos recursos, foram os tónicos necessários para que a obra avançasse e os resultados aparecessem. Todos, sem excepção, trabalhando arduamente, lado a lado, deram o seu contributo. Muito ainda está por fazer, mas o caminho já está desbravado e é uma questão de tempo até o vermos terminado. Durante o presente ano foi executada a ampliação da pista de atletismo, com nivelamento, alargamento e escoamento de águas pluviais dos terrenos em torno do campo de futebol, trabalho que muito beneficiará a prática desportiva e a correcta avaliação de provas. Obra de vulto, empenhou importantes recursos financeiros e humanos, estando em fase de acabamento. As instalações da Bateria de Aquisição de Objectivos sofreram um avanço significativo na recuperação das suas áreas de implementação. A antiga Cozinha da Messe de Sargentos deu lugar às funcionais instalações do Comando da Bateria. Este esforço de recuperação terá continuação nas restantes instalações de modo a que a mais recente Bateria da Escola consiga, cada vez mais, condições de trabalho condizentes com o seu elevado desempenho e prontidão. Os alojamentos mereceram uma atenção muito especial e permanente por parte do Comando. Ao longo do ano, os melhoramentos nos alojamentos das Baterias e nas suas instalações sanitárias, foram notórios e vão continuar durante o próximo ano com a recuperação da antiga Caserna da 1ªBBF. A aquisição de novo mobiliário veio melhorar qualitativamente as condições de habitabilidade das nossas Praças, tornando possível o estabelecimento do conceito de Quarto Modelo. Este conceito terá continuação durante o próximo ano. Está a ser feito um esforço muito significativo para que as instalações de Sargentos localizadas no Edifício de Comando e as situadas no Edifício de Sargentos do aquartelamento da formação, sofram importantes intervenções de beneficiação e de aproveitamento dos espaços, criando melhores condições para os utilizadores. Aliado a toda esta panóplia de trabalhos, e de muitos e muitos mais não mencionados, não podemos deixar de referir a missão primordial da Escola: a Formação. Tendo sempre presente que só com uma formação de excelência se conseguem Oficiais, Sargentos e Praças, capazes de executarem as missões que lhes são confiadas e de as levarem ao seu cabal cumprimento, com elevado profissionalismo, a Direcção de Formação enveredou todos os esforços para planear e levar à execução o extenso calendário de cursos programados e as sucessivas incorporações do CFGCPE. Foi também com este espírito que foi encarado, posteriormente, pelo GOAF e Bateria de Formação, a difícil organização, preparação e execução, em conformidade com as directivas difundidas, de todas as actividades de formação a ministrar. Imbuídos nos mesmos princípios éticos, muita dedicação e elevado sentido de missão e de bem servir, as diversas equipas de formação formadas internamente e as que vieram em seu reforço, provenientes do CID e das Unidades sob o seu comando, transmitiram, com padrões de excelência, os conhecimentos propostos, formando com elevado nível várias centenas BOLETIM DA EPA - 7 SERVIR de militares. O âmbito operacional foi uma das vertentes do nosso servir. A 1ª Bateria de Bocas de Fogo e a Bateria de Aquisição de Objectivos tiveram excelentes prestações nos exercícios em que tomaram parte e nas diversas demonstrações, guardas de honra, salvas regulamentares e exposições de materiais em que foram chamadas a intervir, merecendo rasgados elogios por parte das mais diversas e elevadas entidades civis e militares, prestigiando a Escola, a Artilharia e o Exército Português. Na base de todos estes afazeres está a Bateria de Comando e Serviços com a sua permanente disponibilidade, entusiasmo e “saber fazer”, dando o apoio necessário a tudo e a todos para que, em conjunto, se cumpram as missões atribuídas. A sua acção estende-se a toda a Escola e para além dos portões desta, prestando serviço prestimoso a diversificadas entidades. Só com a sua total entrega foi possível levar a cabo eventos tão importantes como o 3ºConcurso Nacional Combinado ou a tradicional Sardinhada, não esquecendo todas as recepções de convidados e culminando na organização e execução do Dia da Arma de Artilharia e da Escola Prática de Artilharia, só para referir algumas das suas actividades. O planeamento e rigor que nortearam todas as decisões e empenhamentos, tendo em conta os escassos recursos de que dispomos, colocados em marcha pelos diversos órgãos de Estado-Maior em apoio a directivas emanadas pelo Exmº Comandante, são, em conjunto com o anteriormente mencionado, garante que o SERVIR na Escola Prática de Artilharia não é apenas uma palavra mas um vastíssimo conjunto de acções que dão a dimensão e o brilho patentes na nossa divisa “Mais Afinando a Fama Portuguesa”. Muito mais se fez, e que não foi mencionado, mas que ocupou milhares de horas de labor e atenção, tornando-se não menos importante. São as actividades diárias de manutenção e limpeza, a confecção da alimentação, o cuidar dos materiais e equipamentos, o Mapa Diário, o soldar e o pintar, a Folha de Matrícula, a Guia de Marcha, a gestão das verbas, a doutrina da nossa Arma, a ligação telefónica, o substituir ou arranjar e………….. e muitas e muitas outras que embora sejam menos visíveis não são menos importantes e se tornam imprescindíveis ao funcionamento da Escola e ao apoio das missões. Existe nesta actividade, que não tem fim, muita da capacidade de bem servir dos nossos militares e civis. Encontramo-nos no limiar de 2011, ano em que se comemoram os 150 anos de existência da Casa Mãe da Artilharia Portuguesa, estando já em curso diversas actividades inseridas nas Comemorações desta efeméride. Os trabalhos vão ser redobrados mas existe a certeza que todas as actividades merecerão de todos o seu melhor, e serão cumpridas ao mais alto nível, como é nosso apanágio. Só assim se compreende servir na Escola. Tudo dar, e receber o contentamento da missão cumprida. Conforme referi no ano transacto, neste mesmo espaço, e hoje com repetida confiança, estou convicto que o ano que se avizinha será um ano pautado por intensa e exigente actividade, mas rico de significado e afirmação da nossa identidade artilheira, garantindo ao meu Comandante todo o empenho, dedicação e profissionalismo da Categoria de Sargentos à qual me orgulho de pertencer. Vendas Novas, 04 de Dezembro de 2010 O Adjunto do Comandante Henrique José Rosa de Carvalho Sargento Mor de Artilharia 8 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN Cap Art Nuno Miguel Lopes Duarte Salvado1 Ten Art Pedro Filipe Carrazedo Barbosa2 1. INTRODUÇÃO12 No presente artigo optámos por abordar a evolução das armas de Artilharia de Campanha (AC) em Portugal, apenas a partir dos finais do século XIX, por se entender que foi o período a partir do qual se verificou uma evolução mais acentuada em termos tecnológicos e doutrinários, nomeadamente na forma de construção das peças e obuses e no emprego táctico da Arma de Artilharia. Assim, o período compreendido entre meados do século XIX e a segunda metade do século XX foi aquele que dotou a Artilharia das principais características que ainda hoje mantém. De facto, este período marca uma era de progresso, de desenvolvimento, estudos e experiências sem par até então, de tal forma que influenciou o rumo a seguir nos anos subsequentes. Além do mais, trata-se de um período que fica definitivamente marcado pelas duas maiores catástrofes da história da Humanidade contemporânea: a Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Desta forma, existe uma correlação indissociável entre a evolução do armamento e estes dois conflitos, pelo que importa fazer um breve, mas importante enquadramento geopolítico acerca da situação na Europa nos finais do século XIX e início do século XX particularizando, posteriormente, a situação portuguesa de forma a permitir um entendimento mais claro das razões que estiveram subjacentes às reestruturações do Exército e, consequentemente, das aquisições de materiais, no caso particular, da AC. Recuando à segunda metade do século XIX, constatamos que, desde o triunfo alemão na Guerra Franco-Prussiana, em 1870, a Europa vivia tensões de diversa ordem entre as suas maiores potências, designadamente a Inglaterra, a Alemanha, a França e a Rússia. Estas tensões tinham como pano de fundo as colónias dos três primeiros países em África, o que motivava um conjunto de alianças entre diversos países no seio da Europa e, dissimuladamente, levava a uma corrida ao armamento e mobilização dos seus Exércitos, tendo em vista a preparação de um conflito que parecia cada vez mais iminente, acabando por assolar a Europa a partir de Agosto de 1914. Paralelamente, em Portugal, dá-se a implantação da República, em 1910 e surge, cinco meses depois, a 11 de Março de 1911, uma reestruturação profunda no Exército, que dá origem à queda nos efectivos das Praças de 45 000 para 12 000 e o serviço militar obrigatório passa de três anos, para um máximo de trinta semanas, devido ao conceito de Exército miliciano, em detrimento do Exército profissional e permanente. De facto, Portugal participa no Primeiro Conflito Mundial com um Exército vocacionado para a defesa do seu território, e não para ser projectado para o exterior, constituído por oito Regimentos de Artilharia equipados com material moderno3, adquirido entre os anos de 1904 e 1906, através de um enorme esforço financeiro, durante a Monarquia, já que, a partir do momento em que o aço substitui as outras ligas no fabrico de peças de Artilharia, Portugal entra em franco declínio no que concerne ao fabrico próprio de armamento. Após a Primeira Guerra Mundial (I GM), onde a AC teve um papel fundamental, e até ao início da Segunda Guerra Mundial (II GM) não houve grandes desenvolvimentos na Arma já que a Artilharia portuguesa manteve, até início dos anos quarenta, a maior parte dos materiais com que terminou a I GM. Os obuses e peças tinham maior alcance e menor peso, mas os princípios técnicos eram o seguimento do trabalho feito até 1918. Os maiores desenvolvimentos verificaram-se sob o ponto de vista táctico, dando-se maior importância à mobilidade da Arma, generalizando-se a tracção através de veículos motorizados, sendo que durante 1 Adjunto dos Estudos Técnicos da SPAET / DF. 2 Adjunto do Gabinete de Cursos / DF. 3 Peça de 7,5 cm, Peça de montanha de 7 cm e Obus de 15 cm, todos de tiro rápido de origem francesa da firma Schneider. Todas estas armas tinham alma estriada, recuo óleo-pneumático e retrocarga. BOLETIM DA EPA - 9 A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN a II GM surgiu a Artilharia autopropulsada. Este artigo encontra-se dividido em dois períodos: o primeiro, desde os finais do século XIX até ao final da I GM e o segundo, desde o fim da I GM até à criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em 1949. Em cada um destes são abordadas as evoluções técnicas mais significativas e os materiais que equiparam a AC portuguesa, bem como as suas principais características técnicas. 2. PRIMEIRO PERÍODO: FINAIS DO SÉCULO XIX ATÉ AO FINAL DA I GM a. Evolução Técnica A segunda revolução industrial4 permitiu a generalização da indústria do aço, a motorização através do motor de combustão interna e o aparecimento do petróleo como combustível, o que potenciou grandes progressos, em particular na Artilharia. O estriamento das bocas-de-fogo5 foi, segundo alguns peritos, o maior aperfeiçoamento jamais introduzido na Artilharia (Lopes, 2001). Como consequência, o aparecimento da retrocarga, que surgiu como uma necessidade imposta pelo estriamento das armas, após a resolução de problemas como a obturação e o travamento, permitiu à AC um aumento significativo do alcance, da precisão e do poder de destruição. As próprias munições, que passaram a adoptar um formato alongado, melhoraram grandemente os seus coeficientes balísticos e, consequentemente, o alcance. A indústria química permitiu o desenvolvimento de pólvoras sem fumos, aumentando a sua optimização, o que permitiu uma maior ocultação e incremento do alcance das bocas de fogo. A inovação da independência dos aparelhos de pontaria face ao tubo, passou a permitir a execução de tiro a descoberto e do tiro mascarado, aproveitando-se melhor o terreno e incrementando igualmente a precisão. Contudo, a maior invenção estava destinada à França: o aparecimento de uma Peça de 7,5 cm com recuo óleo-pneumático, que absorvia o recuo e, posteriormente, um conjunto de molas reposicionava a peça pronta para novo tiro, sem necessidade de a recolocar em posição e refazer a pontaria, como era hábito. Com o “7,5 francês” obtinham-se cadências de doze tiros por minuto, ou mesmo mais, com precisão. Este facto fez com que os materiais existentes até então ficassem quase obsoletos. Este foi o grande ponto de viragem na AC à entrada do século XX, já que o seu poder de fogo e precisão aumentou exponencialmente, com o aparecimento do sistema de absorção do recuo montado sobre o reparo. Esta inovação estendeu-se rapidamente às maiores potências no fabrico de armamento, como foi o caso da Alemanha e da Inglaterra. b. Materiais que equiparam a Artilharia Portuguesa (1) Peça 7,5 cm T.R. m/904 Entre 1899 e 1908, o Exército Português absorveu parcialmente a vaga militar, que varria a Europa, com a chegada de uma importante série de novidades. Uma das vertentes mais significativas relaciona-se com o armamento, que foi amplamente renovado através de quatro programas. Um desses programas dizia respeito à Artilharia, nomeadamente com a chegada de uma peça revolucionária para a época: a Schneider Canet, modelo 1897 de tiro Figura 1 – Peça 7,5 cm T.R. m/904 rápido. A Peça (figura 1) tinha o sistema de Fonte: Arquivo dos autores 4 Iniciada na segunda metade do século XIX (1850 - 1870), foi uma segunda fase da Revolução Industrial, envolvendo uma série de desenvolvimentos dentro da indústria química, eléctrica, do petróleo e do aço. 5 As armas de alma estriada surgiram na Guerra Civil Americana, que decorreu entre 1861 e 1865, nos EUA. 10 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN recuo absorvido pelo primeiro sistema hidráulico eficaz, o que permitia que a guarnição não tivesse de tornar a apontar a arma depois de cada disparo. Associada a este sistema simples, a culatra de parafuso interrompido Nordenfelt podia ser aberta e expulsar o cartucho usado com um pequeno movimento da mão, o que permitia, teoricamente, quinze disparos apontados por minuto, uma cadência muito superior à praticada até aí. Esta Peça, devido ao secretismo das experiências realizadas em França, foi adquirida apenas em 1904 para substituir a peça de igual calibre da fábrica Krupp, adquirida quatro anos antes (Barata; Teixeira, 2004: p. 359). Este material passou a equipar a AC com trinta e seis Baterias, substituindo os materiais A.E. 8 cm (MP) m/74 e A.E. 9 cm (MK) m/78 nos Regimentos Ligeiros de Campanha. Tratou-se de uma Peça que, a par do modelo/917, equipou o nosso Exército até aos anos quarenta. Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Tubo Francesa 1897 1904 75 mm 1 160 Kg 2,7 m (36 calibres) Granada • 7,24 kg (Fragmentação) • 5,3 kg (HE) Campo de Tiro • Vertical: -11º a + 18º1 • Horizontal: 6º Cadência de Tiro Velocidade Inicial 15 t.o.m. 500 m/s Alcances • Granada fragmentação: 6 800 m • Granada HE: 8 550 m Guarnição Tracção Campanhas Unidades que equipou 6 Militares Hipomóvel: 6 cavalos I GM EPA, CEP e Regimentos Ligeiros de Campanha Quadro 1 – Características da Peça 7,5 cm T.R. m/904 Fonte: http://en.wikipedia.org Para além do modelo aqui caracterizado, foram recebidos no Exército outros modelos com ligeiras diferenças (m/906), ainda antes da I GM sendo terminado o fornecimento pelos franceses, já em plena guerra, da mesma peça modernizada (m/917), de onde se destaca o aumento do alcance para cerca dos treze quilómetros, um menor peso e o aperfeiçoamento dos aparelhos de pontaria. Esta peça equipou três das quatro Baterias de cada um dos Grupos de Baterias de Artilharia do Corpo Expedicionário Português (CEP), que constituíam a sua Artilharia Divisionária. Depois da Guerra serviu, conjuntamente com o m/904-906 até princípios dos anos quarenta. (2) Obus 11,4 cm T.R. M/917 A participação portuguesa na I GM, materializada através do CEP, fez com que a Artilharia portuguesa estivesse muito equiparada, em termos tecnológicos, às suas congéneres de potências bem mais desenvolvidas, nomeadamente a França e a Inglaterra. Assim, para além da versão mais moderna da Peça 7,5 cm T.R. Figura 2 – Obus 11,4 cm T.R. m/917 francesa, à Artilharia média portuguesa é entregue o Obus 11,4 Fonte: http://en.wikipedia.org BOLETIM DA EPA - 11 A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN cm T.R. m/917 (figura 2) pelos Britânicos, com o intuito de equipar a 4ª Bateria dos Grupos de Artilharia Divisionária (as outras três eram equipadas com o material T.R. 7,5 cm). Este Obus ficou conhecido em Portugal como o Bonifácio. Serviu até aos primeiros anos da década de quarenta. Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Tubo Granada Reino Unido 1908 1917 114,3 mm 1 365 Kg 1,78 m (16 calibres) 15,88 Kg (HE) Campo de Tiro • Vertical: -5º a + 45º • Horizontal: 6º Cadência de Tiro Velocidade Inicial Alcance Guarnição Tracção Campanhas Unidades que equipou 4 t.o.m. 308 m/s com carga 5 (máx.) Granada HE MK2: 6 680 m 6 Militares Hipomóvel I GM EPA, CEP.6 Quadro 2 – Características do Obus 11,4 cm T.R. m/917 Fonte: http://en.wikipedia.org (3) Obus 15 cm Schneider-Canet-Du Bocage6 Este Obus foi adquirido na mesma época em que foi adquirida a Peça 7,5 cm T.R. m/904. À semelhança desta última, o sistema de recuo hidropneumático francês fez com que tornasse, quase de imediato, todos os seus congéneres de outras origens obsoletos. O Canet-Du Bocage (figura 3) era um Obus de Artilharia média que se destinaria a equipar as duas Figura 3 – Obus 15 cm Schneider-Canet-Du-Bocage Fonte: www.network54.com/Forum/330333/thread/1156338277/The+Portug Bateria de Obuses do CEP, já que todas uese+army+and+arms as restantes foram equipadas com a Peça 7,5 cm m/904. No entanto, optou-se, aquando da remodelação de Maio de 1917, pelo Bonifácio, Obus de 11,4 cm de origem inglesa. O nome Du Bocage é uma designação “unicamente portuguesa e deve-se ao facto do Coronel Roma do Bocage ter sido pioneiro em testar o reboque deste Obus com um camião tractor importado, em detrimento da tracção hipomóvel” (Barata; Teixeira, 2004: p. 360). Não obstante, a escolha recaiu na tracção animal pelo simples facto do motor de combustão estar, à data, a dar os primeiros passos. Portugal foi assim, no início do Século XX, o primeiro país a fazer este tipo de testes em Baterias operacionais, tal como é referido no folheto produzido nessa altura pela fábrica Schneider-Canet. De referir que, o Campo de Tiro de Alcochete foi pela primeira vez utilizado, em 18 de Setembro de 1904, para testar os recém adquiridos Obuses de tiro rápido, consideradas as melhores armas no seu tipo que à época se fabricavam. 6 Não nos foi possível apurar quais as outras Unidades de Artilharia, em Portugal, que foram equipadas com este material. 12 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Tubo Granada França 1897 1904 150 mm 3 365 kg 14 calibres 40 kg (HE) Campo de Tiro • Vertical: -5º a + 45º • Horizontal: 4º Velocidade Inicial Alcance Tracção Campanhas 350 m/s 8 000 m Hipomóvel I GM Quadro 3 – Características do Obus 15 cm Schneider-Canet-Du-Bocage Fonte: www.network54.com/Forum/330333/thread/1156338277/The+Portuguese+army+and+arms (4) Obus 15 cm T.R. M/9187 Inicialmente entregue pela Inglaterra, em 1918, para equipar o Corpo de Artilharia Pesada do CEP, o Obus 15 cm T.R. m/918 (figura 4) veio a equipar alguns Regimentos de Artilharia, após a I GM, até aos anos quarenta, data em que foi substituído pelo 14 cm inglês e 15 cm alemão. Figura 4 – Obus 15 cm T.R. m/918 Fonte: Arquivo dos autores Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Tubo Granada Reino Unido 1915 1918 152,4 mm 3 693 Kg 2,22 m (14 calibres) 45,36 Kg (HE, química e incendiária) Campo de Tiro • Vertical: -0º a + 45º • Horizontal: 8º Cadência de Tiro Velocidade Inicial Alcance Guarnição Tracção Campanhas Unidades que equipou 2 t.o.m. 430 m/s 8 700 m 10 Militares Hipomóvel I GM EPA, CEP7 Quadro 4 – Características do Obus 15 cm T.R. m/918 Fonte: http://en.wikipedia.org 7 Não nos foi possível apurar quais as outras Unidades de Artilharia, em Portugal, que foram equipadas com este material. BOLETIM DA EPA - 13 A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN (5) Peça 7 cm M.T.R. m/906-911 O primeiro material de montanha, de origem francesa, com ligação elástica óleo-pneumática (figura 5), representou uma grande melhoria sobre o anterior material de montanha, a Peça 7 cm m/1882, não só devido ao facto de poder ser desmontado em diversas cargas, para transporte ao dorso mas, sobretudo, devido ao seu maior alcance, estabilidade, cadência de tiro e precisão (quadro 5). Foi adquirido a partir de 1906, substituindo progressivamente o material Figura 5 – Peça 7 cm M.T.R. m/906-911 7 cm m/1882. Durante a I GM, serviu em Angola e Fonte: Arquivo dos autores Moçambique integrado nas Forças Expedicionárias que ali combateram contra os Alemães. Continuou ao serviço no Continente nas Unidades de Montanha até ao início dos anos quarenta, quando foi substituído pelo material 7,5 cm m/940 de origem italiana. Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Granada França 1901 1906 70 mm 520 Kg 5 Kg (HE e Granada com balas) Campo de Tiro • Vertical: -10º a + 20º • Horizontal: 5º Velocidade Inicial ND Alcance • Inclinação a + 20º: 4 800 m • Inclinação a + 30º: 5 480 m Tracção Campanhas Unidades que equipou Hipomóvel Angola e Moçambique Todas as Unidades de Montanha Quadro 5 – Características da Peça 7 cm M.T.R. m/906-911 Fonte: Arquivo dos autores 4. SEGUNDO PERÍODO: DO FINAL DA I GM ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN Como podemos constatar, da análise do primeiro período, a AC sofreu alterações significativas, tornando-se numa arma decisiva no decorrer da I GM. O período que se seguiu a este conflito caracterizou-se pela debilidade económica e política, o que originou uma despreocupação com o instrumento militar. Prova disso, foi a aquisição nacional, de material excedente da I GM. No entanto, com o decorrer da II GM o protagonismo da AC aumentou, decorrente da necessidade de acompanhar a manobra, garantindo uma estreita coordenação entre armas (Gomes, 2005). Neste período, a AC Portuguesa adquiriu novos materiais, que viriam mais tarde a ser utilizados nas colónias portuguesas (Índia, Timor e África), bem como nas várias Unidades a nível nacional. No período que medeia entre o final da II GM (1945) e a criação da OTAN (1949) não se verificou nenhuma evolução significativa no que concerne à AC. a. Evolução Técnica Em Portugal entre 1918 e 1930, foram identificadas algumas inovações ao nível do panorama técnico da Artilharia. De facto, a Topografia teve um grande desenvolvimento no período que mediou a transição entre as duas guerras, 14 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN tendo por objectivo a preparação cartográfica nacional. De referir que neste período, mais precisamente em 1932, iniciou-se o transporte das peças a reboque de viatura automóvel, que se traduziu num aumento significativo da mobilidade da AC (Henriques, 2008). Neste período, os materiais de Artilharia sofreram diversas alterações com o objectivo de proporcionar uma maior flexibilidade e velocidade de emprego e, assim, permitir um melhor acompanhamento das Unidades de manobra. Nesta perspectiva as alterações mais relevantes ocorreram a vários níveis, designadamente (Espirito Santo, 2005): • Aperfeiçoamento das munições; • Maior precisão dos materiais; • Aumento da gama de trajectórias; • Aumento dos alcances (para 11 e 14 km, respectivamente nos materiais ligeiros e pesados de campanha); • Aumento dos campos de tiro horizontal (cerca de 60º) e vertical (45º); • Aumento da cadência de tiro. b. Materiais que equiparam a Artilharia Portuguesa (1) Obus M7,5 cm /18 m/940 Este material (figura 6) foi adquirido à firma Ansaldo, em Itália, no início dos anos quarenta, para substituir a Peça 7 cm M.T.R. m/906911, vindo a equipar Unidades hipomóveis e rebocadas por tractor ou viatura. De concepção italiana, destacou-se pelo seu alcance dentro da categoria em que se insere, pela possibilidade de ser transportado em módulos, podendo ser Figura 6 – Obus M7,5 cm /18 m/940 rebocado por um tractor ou transportado em Fonte: Arquivo dos autores muares, pela capacidade de executar tiro vertical (elevação> 45º), bem como pela sua excelente mecânica, características que fizeram deste material um dos mais avançados da sua época (quadro 6). Tendo servido no Continente, em Timor e Angola, saiu de serviço no final da década de quarenta, sendo o directo antecessor do Obus Otto – Melara, de 105 mm. Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Tubo Granada Alcance Campanhas Unidades que equipou Itália 1934 1940 75 mm 820 Kg 18 calibres 6 Kg (HE) 7990 m (+ 43º) Timor e Angola Grupo de Artilharia de Montanha (Guarda) Quadro 6 – Características do Obus M 7,5 cm /18 m/940 Fonte: www.italie193545.com/RE/photoscopes/ photoscopeobice 75-18 BOLETIM DA EPA - 15 A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN (2) Obus K 10,5 cm / 28m/ 941 Este material (figura 7), proveniente da Alemanha, foi recebido em 1941 coincidindo com o ano da sua entrada ao serviço. O “K” (KRUPP) significa que o material foi concebido para tracção hipomóvel, apesar de muitos modelos serem posteriormente adaptados para serem rebocados por viaturas. Figura 7 – Obus K 10,5 cm/28 m/ 941 Fonte: Arquivo dos autores Em 1962, o tubo de origem de alguns dos obuses do tipo K e R foram substituídos por um de fabrico francês, apto a receber a munição M1 10,5 tipo americano (OTAN). Gradualmente, o material adaptado (quadro 7) foi substituindo o original alemão das Unidades de Campanha do Continente. Este material serviu nas campanhas de África 1961-74, na sua fase inicial, tendo sido substituído pelo Obus M101A1, em 1978. Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Granada Alcance Tracção Campanhas Alemanha 1933 1941 105 mm 1 930 kg 14,8 Kg (HE) 10 810 m Rebocado África Quadro 7 – Características do Obus K 10,5 cm/28 m/ 941 Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/10.5cm_leFH_18 (3) Obus R 10,5 cm m/941 O Obus de calibre 10,5 cm (figura 8) foi adquirido, no início dos anos quarenta, na Alemanha, às firmas KRUPP RHEINMETTAL, vindo a ser integrado nas Unidades de Artilharia para substituir o 7,5 TR m/917. Existiam igualmente vários modelos do Obus, designadamente: Obus R 10,5 m/941 e Obus R 10,5 m/943. Figura 8 – Obus R 10,5 cm / m/ 941 O material K era de tracção hipomóvel e o R de Fonte: Arquivo dos autores tracção automóvel, embora alguns dos primeiros fossem posteriormente adaptados a reboque auto (quadro 8). Este material equipou as Unidades de Artilharia do Continente, tendo sido desactivado em 1979 e substituído pelo Obus M101A1 sendo que, actualmente, apenas existem dois exemplares deste material (Obus R 10,5 cm / m/ 941), que se encontram no Museu da Escola Prática de Artilharia (EPA). 16 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN Alemanha 1933 1941 105 mm 1 930 kg 28 calibres 14,8 Kg (HE) 10 810 m Rebocado Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Tubo Granada Alcance Tracção Quadro 8 – Características do Obus R 10,5 cm / m/ 941 Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/10.5cm_leFH_18 (4) Obus K 15 cm / 30m/ 941 Este material (figura 9) foi adquirido, em 1941, à casa alemã KRUPP para, numa fase inicial, equipar as Unidades de campanha pesadas. No entanto, apenas o Regimento de Artilharia Pesada n.º2 (actualmente Regimento de Artilharia nº 4 – Leiria) e o Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) de Luanda o receberam. Foi substituído pelo material 14 cm/43. Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Tubo Granada Campo de Tiro Cadência de Tiro Velocidade Inicial Alcance Tracção Unidades que equipou Figura 9 – Obus K 15 cm/30 m/ 941 Fonte: Arquivo dos autores Alemanha 1933 1941 149.1 mm 5 530 kg 4.5 m (30 calibres) 43,5 kg (HE) • Vertical: -3º a + 45º • Horizontal: 64º 4 t.o.m. 495 m/s 13 250 m Rebocado Regimento de Artilharia Pesada n.º2 e GAC de Luanda Quadro 10 – Características do Obus K 15 cm/30 m/ 941 Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/15_cm_sFH_18 BOLETIM DA EPA - 17 A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN (5) Obus 14 cm m/943 O Obus 14 cm (figura 10), de origem inglesa, foi recebido em Portugal, em 1943, para equipar as Unidades de Artilharia pesada, substituindo os Obuses 15 cm T.R. m/918 e 15 cm / 30 m/41. O Obus foi concebido para tracção auto exercida pelo camião tractor de 8 ton A.E.C. (Matador) 4x4 MA/46 e pelo camião tractor de 8 ton Magirus – Deutz 4x4 MA78. Serviu operacionalmente nos teatros de guerra da Guiné, Angola e Moçambique, entre 1961 e 1974, tendo sido substituído, em 1987, pelo Obus M114 155mm/23. Figura 10 – Obus 14 cm m/943 Fonte: Arquivo dos autores Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Tubo Granada Campo de Tiro Cadência de Tiro Velocidade Inicial Alcance Guarnição Tracção Unidades que equipou Reino Unido 1941 1943 139,7 mm 6 190 kg 4.2 m (30 calibres) • 45,5 kg (HE) • 37 kg (HE) • Vertical: -5º a + 45º • Horizontal: 30º 2 t.o.m. • 45,5 kg (HE) – 510 m/s • 37 kg (HE) – 594 m/s • 45,5 kg (HE) – 14 800 m • 37 kg (HE) – 16 550 m 10 Militares Rebocado Unidades de Artilharia Pesada Quadro 10 – Características do Obus 14 cm m/943 Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/BL_5.5_inch_Medium_Gun (6) Obus 8,8cm m/46 Com o início da II GM, Portugal procedeu a um estudo com vista ao reequipamento da Artilharia, que culminou com a aquisição de vários tipos de materiais de diversas origens. Entre estes materiais, destacase o Obus 8,8 cm (figura 11), que foi adquirido à Grã-Bretanha em 1943 (modelo sem freio de boca) e, posteriormente, em 1946 (modelo com freio de boca), para substituir, em conjunto com o Obus 10,5 cm/4143, o material 7,5 T.R. m/17. Este Obus já tinha demonstrado possuir um conjunto de mais-valias em combate, designadamente extrema mobilidade, campo de tiro de 360º que se constituía como uma inovação técnica importante e, para além do aparelho de pontaria para tiro indirecto, possuía também outro para tiro anti-carro. Todas estas características contribuíram para a sua fama na luta contra os alemães no norte de África. Serviu nas Unidades de 18 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN Figura 11 – Obus 8,8cm m/46 e respectivo carro de munições Fonte: Arquivo dos autores Artilharia do Continente, na Índia, Macau, Timor e nas campanhas de Angola, Moçambique e Guiné, tendo sido desactivado em 1976. Actualmente, encontra-se ao serviço na EPA e no Regimento de Artilharia Antiaérea n.º 1, para a execução de salvas em Cerimónias Militares. Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Granada Alcance Tracção Campanhas Unidades que equipou Reino Unido 1939 1946 88 mm 1 796 kg 11,3 Kg (HE) 12 250 m Rebocado Campanhas de África Grupo de Artilharia de Montanha (Guarda) Quadro 11 – Características do Obus 8,8cm m/46 Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Ordnance_QF_25_pounder (7) Peça 11,4 cm m/46 A Peça 11,4 cm m/46 (figura 12), era um material de Campanha, em aço, de origem britânica com o maior alcance que existiu em Portugal, com excepção do novo Obus AP de 155 mm. Foi adquirido à Grã-Bretanha logo a seguir à II GM para equipar a Artilharia do Corpo do Exército e esteve ao serviço até 1976, ano em que foi desactivado. Foi utilizada operacionalmente em África, de 1961 a 1974 e, tal como os materiais anteriormente descritos, recebeu também algumas modificações, com vista a melhorar a sua utilização no Campo de Batalha. Como principais características (quadro 12), apresenta as seguintes: Figura 12 – Peça 11,4cm m/46 Fonte: Arquivo dos autores BOLETIM DA EPA - 19 A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN Nomenclatura de origem Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso do tubo (com reparo) Finalidade ou Emprego Peso da Munição (HE) Alcance Velocidade inicial Cadência de Tiro Tipo de recuo Mecanismo de elevação Unidades que equipou Ord. Q.F. 4.5 Inch gun MKII (Grã-Bretanha –1938/41) Grã-Bretanha 1941 1946 114 mm 6.350 kg Artilharia do Corpo de Exército 25 kg 18 740m 690 m/s 2 a 3 tom hidropneumático -5º a 45º EPA Quadro 12 – Peça 11,4 cm m/46 Estes materiais permitiram o levantamento da Artilharia Divisionária, a quatro GAC e um GAC pertencendo a um Corpo do Exército. Antes das campanhas coloniais em África de 1961-1974, a AC estava principalmente distribuída em Regimentos, na Metrópole e em Angola, Moçambique e Guiné. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Até meados do século XIX a AC mantinha praticamente todas as características que a caracterizavam cerca de cinco séculos antes, designadamente: o fabrico de bocas de fogo em bronze de alma lisa, fraca precisão e curto alcance. Contudo, a segunda revolução industrial, no ano de 1850 que, entre outros desenvolvimentos, generalizou a indústria do aço e do motor de combustão interna, foi o catalizador de progressos exponenciais na indústria de armamento. De facto, o primeiro “laboratório” para alguns dos desenvolvimentos introduzidos foi a Guerra Civil Americana onde surgiram, entre outros progressos, as armas de alma estriada, contribuindo decisivamente para que o alcance e a precisão fossem melhorados. No entanto, é na viragem do século XIX para o século XX que a AC adquire enormes valências do ponto de vista tecnológico, fazendo com que na primeira metade do século XX se tivesse desenvolvido mais do que nos seis séculos anteriores, senão vejamos: • A introdução do aço no fabrico das bocas de fogo conferiu aos tubos uma maior resistência às enormes pressões provocadas pela deflagração das pólvoras. Em paralelo, a indústria química desenvolveu pólvoras sem fumos, mais estáveis e com maior capacidade de deflagração; a combinação destes dois factores favoreceu, e muito, o incremento do alcance; • Os projécteis de Artilharia adquirem uma forma oblonga, o que melhora bastante o seu coeficiente balístico e, consequentemente, o seu alcance e precisão; • O ponto de viragem surgiu quando um génio francês inventou o primeiro sistema moderno de amortecimento do recuo do tubo; de facto, a firma francesa Schneider desenvolveu um sistema hidropneumático que absorvia o recuo provocado pelo disparo e que levava a massa recuante novamente a entrar em bateria, sem necessidade de reapontar a arma; nascia, então, o designado “75 Francês”, as vantagens foram enormes, das quais se destacam as cadências de tiro exponencialmente superiores (cerca de 12 tiros por minuto), que permitiam um maior poder de fogo na frente, em apoio da Infantaria. No caso concreto de Portugal, constatamos que foram adquiridos à firma Schneider, entre 1904 e 1906, diversos 20 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO NAS ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL ATÉ À CRIAÇÃO DA OTAN tipos de armas com esta tecnologia, ficando a par dos seus congéneres e europeus no que de melhor havia, à época, na AC ligeira e média, embora em menores quantidades. De facto, os materiais adquiridos nos últimos anos da Monarquia permaneceram ao serviço do Exército Português até inícios da década de quarenta, pelo que podemos afirmar que o período que mediou entre os dois conflitos mundiais não trouxe desenvolvimentos técnicos e/ou tácticos significativos. A excepção passa pela necessidade de melhorar a mobilidade da Artilharia, de forma a que esta possa acompanhar as Unidades de manobra. Assim, a partir de 1932, começaram a ser realizados testes em Portugal, para rebocar peças e obuses através de viatura automóvel. Por seu turno, na década de quarenta, o reequipamento na Arma de Artilharia permitiu substituir a totalidade dos obuses e peças, ainda provenientes da I GM, quase obsoletos, fazendo com que a Arma ganhasse um novo “fôlego”, nomeadamente em termos de alcances e mobilidade, tendo muitos destes materiais servido nas Campanhas de África. Referências Bibliográficas: • ABREU, Asp Al de Artilharia Filipe da Silva (2008). A Evolução Técnica da Artilharia Portuguesa: Início do século XX, Trabalho de Investigação TPOA, Janeiro, Vendas Novas. • EME, (1982). Síntese histórica da Artilharia Portuguesa, Estado-Maior do Exército, Exposição comemorativa do VI centenário da Artilharia no Museu Militar do Porto, Julho, Porto. • GOMES, Ten Art Rodolfo; CALHAÇO, Ten Art Nuno; PEREIRA, Ten RC Bruno (2005). A Artilharia de Campanha ao longo dos tempos, in Boletim da Escola Prática de Artilharia, Ano VI / II Série, p. 55-70. • HENRIQUES, Asp Al de Artilharia André (2008). 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PUB 22 - BOLETIM DA EPA AS ARMAS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL: DA CRIAÇÃO DA OTAN À ACTUALIDADE Maj Art Hélder Pilar Estriga Cap Art Artur Jorge Mendes R. de Sousa Alves1 1. INTRODUÇÃO1 O presente artigo resume os principais desenvolvimentos ocorridos na Artilharia de Campanha (AC) desde a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), destacando os aspectos associados à evolução do armamento da AC em Portugal, nomeadamente de Peças e Obuses, alusivos a dois períodos distintos: um período que remete até 1974, com principal foco de evolução na Guerra do Ultramar e outro período, referente ao PósGuerra Ultramarina, até aos nossos dias. Com a entrada de Portugal na OTAN, em 1949, começou a notar-se no Exército a assimilação de métodos de tiro americanos, substituindo de forma progressiva a “teorica” da Escola Francesa, que tinha sido utilizada até à 1ª Guerra Mundial (GM). Os métodos de tiro Americanos não tardaram a ser implementados em Portugal, embora com as adaptações aos manuais de tiro nacionais, tendo a primeira compilação surgido em 1956, com a designação de “Instruções Gerais sobre o Tiro de Artilharia”. As inovações técnicas dos métodos de tiro americanos abrangiam várias partes: desenvolvimento dos métodos de tiro gráficos, designadamente a utilização da prancheta topográfica, Transferidores de Distâncias e Direcções (TDD), utilização de Tábuas de Tiro Gráficas (TTG) e de Réguas de Sítio. Tendo sido necessário adaptar as características do material americano para o material existente em Portugal, com a criação de TTG e Réguas de Sítios para os materiais Ingleses (8,8 cm e 14 cm) e Alemão (10,5 cm). O período Pós-Guerra Ultramarina, é caracterizado por um espaço temporal de grandes desenvolvimentos nos sistemas de protecção e mobilidade, fixando-se sobretudo no calibre 155 mm, na aquisição de armas e munições de maior alcance e precisão para baterem mais longe e com maior eficácia e permitir uma maior autonomia às Subunidades de bocas de fogo descentralizadas (Espírito Santo, 2005:100). Nos últimos trinta anos foram vários os desenvolvimentos e melhoramentos verificados (melhoria das tecnologias de fabrico de tubos, com melhor obturação, desenvolvimento do cálculo automático, desenvolvimento das comunicações, da informática, da transmissão automática de dados, adopção de processos automáticos de tiro, utilização de munições de precisão, entre outros), que em muito influenciaram e determinaram as possibilidades técnicas e as missões da AC em Portugal. A disposição apresentada no decorrer deste artigo versa pela ordem cronológica, para que o leitor possa melhor compreender a evolução dos materiais. 2. DA CRIAÇÃO DA OTAN À GUERRA DO ULTRAMAR O fim da 2ª GM e a entrada de Portugal na OTAN, deu origem a uma reestruturação do panorama militar nacional, com acesso a uma vasta gama de componentes bélicos, mais evoluídos e desenvolvidos, marco de reestruturação das Forças Armadas Portuguesas, com a aquisição de equipamentos ao estrangeiro, para fazer face aos novos compromissos assumidos ao abrigo da Aliança. Criaram-se novas estruturas militares, tendo Portugal, no período compreendido entre a criação da OTAN e a Guerra do Ultramar, adquirido o Obus 8,8cm Autopropulsado (AP) m/54 Campanha. a. Obus 8,8cm Autopropulsado m/54 O Obus 8,8 cm AP (figura 1), foi fabricado no Canadá, entrou ao serviço no Exército Português no ano de 1 Adjunto do Gabinete de Táctica e Técnica de Estado-Maior, da Secção de Formação. BOLETIM DA EPA - 23 AS ARMAS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL: DA CRIAÇÃO DA OTAN À ACTUALIDADE 1954 e serviu no nosso Exército até 1976. O Obus surge da junção de uma viatura de lagartas com o Obus 8,8 cm m/943, cujo primeiro modelo, sem freio de boca, foi recebido em 1943. De uma forma resumida e no que respeita ao material, é de referir que a arma presente no Obus 8,8 cm AP era a versão Mark II, com freio de boca, ao contrário da versão rebocada, já existente, que era a versão Mark I, sem freio de boca. O material 8,8 cm AP foi o primeiro Obus AP a ser introduzido em Portugal, tornando-se extremamente vantajoso para a Figura 1 – Obus 8,8cm Autopropulsado m/54 Artilharia Portuguesa, pois o seu emprego conferia vantagens Fonte: Arquivo da EPA consideráveis, designadamente: extrema mobilidade (utilização em todo o terreno), capacidade do material transportar as suas próprias munições, sem a necessidade de ter uma viatura auxiliar, maior rapidez na entrada e saída de posições e, para além do seu aparelho de pontaria normal (tiro indirecto), possuía um aparelho de pontaria para tiro anti-carro. Entre as características do Obus 8,8 cm AP m/54, destacam-se as seguintes (quadro 1): Nomenclatura de Origem Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso do Tubo (com reparo) Finalidade ou Emprego Peso da Munição (Granada HE) Alcance máximo (Granada HE) Cadência de tiro Tipo de recuo Mecanismo de elevação Velocidade máxima da viatura Unidades que equipou Q.F.-25 PR Mark II Canadá 1941 1954 88 mm 1.796 kg Artilharia Divisionária 11,3 kg 12.250 m 6 a 8 tom Hidropneumático -9º a 40º 38 km/h EPA e os Regimentos de Artilharia Ligeira Quadro 1 – Obus 8,8 cm AP m/54 3. PÓS-GUERRA DO ULTRAMAR ATÉ À ACTUALIDADE Após a revolução de 25 de Abril de 1974, dá-se a readaptação militar Portuguesa, aquando da criação da 1ª Brigada Mista Independente (1ªBMI), em 1978, que predispunha a implementação de um GAC em Apoio Directo da Brigada com Obuses 155mm AP, mas que só acabaram por chegar a Portugal em 1982. O Obus M109 A2 155 mm AP, ao equipar a Artilharia Portuguesa, facultou-lhe um maior alcance, que antes não dispunha. Neste período foram recebidos diversos materiais, que se apresentam de seguida. a. Obuses M101 A1 105mm/22 e M101 A1 L 105mm/32 No ano de 1978, deu-se a aquisição de material, proveniente dos Estados Unidos da América (EUA), mais concretamente dos Obuses M101 A1 105 mm/22, destinados a equiparem as Unidades de AC Ligeira. O Obus M101 A1 veio substituir o robusto 10,5 alemão, da era de 40, vindo a equipar a 1ªBateria de Bocas de Fogo (Btrbf ), da Escola Prática de Artilharia (EPA) e duas Btrbf do GAC da 1ª BMI (1 Btrbf sediada em Santa Margarida e 1 Btrbf em Leiria). 24 - BOLETIM DA EPA AS ARMAS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL: DA CRIAÇÃO DA OTAN À ACTUALIDADE O Obus M101 A1 105mm/22 (figura 2) é uma boca de fogo ligeira, rebocada por uma viatura de 2,5 ton, podendo ser helitransportado em carga única e dispondo, ainda, da possibilidade de adaptação ao tubo de um dispositivo para tiro reduzido. O Obus serviu operacionalmente desde 1978 até 1999 quando foi retirado do Sistema de Forças Nacional. Este Obus revelou grande fiabilidade e precisão, possuindo uma constituição simples e de fácil operação e manutenção, características que se revelaram excelentes em termos didácticos, para a formação base dos Artilheiros. Relativamente às suas características (quadro 2), destacam-se as seguintes: Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso do tubo (com reparo) Finalidade ou Emprego Peso da Munição Alcance Unidades que equipou Figura 2 – Obús M101 A1 105mm/22 Fonte: Arquivo da EPA EUA 1941 1978 105 mm 2.270 kg Campanha Ligeira 15 Kg 11.000 m EPA e GAC/BMI Quadro 2 – Obus M101 A1 105mm/22 Possuía um mecanismo de desnível das rodas que permitia, através de fechos de bloqueamentos do eixo, tornar o sub-reparo independente do eixo das rodas durante o tiro e solidário durante o deslocamento. O Obus M101 A1L 105/32 (figura 3), foi um material adaptado pelo Exército alemão, a partir do Obus M101A1 105/22. Foi adoptado pelo nosso Exército em 1979, nunca tendo servido operacionalmente em nenhuma Unidade, pois apresentava como limitações não utilizar a munição OTAN M1. Equipou a EPA e o Regimento de Artilharia Nº4 (RA4). Tinha como características gerais, as seguintes (quadro 3): Origem Entrada ao serviço Calibre Peso total Finalidade ou Emprego Peso da Munição Alcance Unidades que equipou Figura 3 – Obus M101 A1L 105/32 Fonte: Arquivo da EPA EUA 1979 105 mm 2.500 kg Campanha Ligeira 15 Kg 14.100 m (com munição alemã) EPA e RA4 Quadro 3 – Obus M101 A1L 105mm/32 BOLETIM DA EPA - 25 AS ARMAS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL: DA CRIAÇÃO DA OTAN À ACTUALIDADE b. Obus Otto - Melara 105mm/14 Em 1979 chegam ao Exército Português os Obuses Otto-Melara (OM) 105mm/14 (figura 4), de origem Italiana, da firma Otto Melara/La Speza, destinados a equipar Unidades de montanha. Este material resultou de melhorias técnicas e do aumento do calibre do Obus M 7,5cm/18 m/940, que foi adoptado pelo Exército Português em 1941. Era decomposto em cargas, para efeitos de transporte, podendo também ser deslocado em Figura 4- Obus OM 105mm/14 Fonte: Arquivo da EPA suspensão em helicóptero e ser lançado em pára-quedas. Apresentava como limitações o seu reduzido alcance e não poder ser rebocado para além de 30 km seguidos. Foi fornecido pela Grã-Bretanha, tendo equipado em Portugal, até 2004, o Grupo Operacional do Regimento de Artilharia Nº5. O seu emprego permitia o apoio das forças de manobra apeadas, motorizadas, mecanizadas ou aerotransportadas, quer em operações aeromóveis, quer em acções anti-carro. Pode ser rebocado, aerotransportado ou transportado por muares, sendo nesta situação desmontado em 12 cargas separadas. Apresenta as seguintes características (quadro 4): Nomenclatura de origem Origem Entrada ao serviço Calibre Peso total (com reparo) Finalidade ou Emprego Peso da Munição (HE) Alcance Unidades que equipou 105/14 mod.56 Pack Howitzer Italiana 1979 105 mm 1.362 kg Campanha Ligeira 15 Kg 10.000 m EPA e RA5 Quadro 4 – Características do Obus OM 105mm/14 c. Obus M114 155mm/23 Em 1983 Portugal adquiriu o Obus M114 A1 155mm/23 (figura 5), de origem americana, essencial à Acção de Conjunto e Reforço de Fogos. Trata-se de uma boca de fogo média rebocada por uma viatura de 5 ton 4x4. Este Obus veio substituir o então “velhinho” Obus 14 cm. Equipou operacionalmente a EPA com obuses correspondentes a um GAC, como Figura 5 – Obus M114 A1 155mm/23 Fonte: Arquivo da EPA Artilharia da Brigada de Defesa Territorial Sul e o Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS) com material correspondente a outro GAC, como Artilharia do Corpo do Exército, ambos desde 1983. Com a extinção do RALIS em 1993, o GAC foi transferido para a EPA, que passou a ter material correspondente a dois GAC, mantendo-se activo no Sistema de Forças Nacional até 2006. Em 2008 foi constituído um GAC 155 mm Reb para a Brigada de Intervenção (BrigInt), levantado no 26 - BOLETIM DA EPA AS ARMAS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL: DA CRIAÇÃO DA OTAN À ACTUALIDADE Regimento de Artilharia nº5 (RA5), sediado em Vila Nova de Gaia. Nos EUA, esteve ao serviço desde a 2ª GM até à Guerra no Vietname. No final da década dos anos 60, o equipamento era considerado ineficaz, não só pelo seu curto alcance, como pelas vantagens que ofereciam os sistemas AP do mesmo calibre. A sua principal vantagem reside na sua potência, pois este Obus pode disparar um projéctil com uma carga quase três vezes maior que uma arma de calibre 105mm. Das suas características mais importantes, importa destacar as seguintes (quadro 5): Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Finalidade ou Emprego Peso da Munição Alcance Unidades que equipou/ equipa EUA 1942 1983 155 mm 5.760 kg Artilharia de Corpo de Exército 43 Kg 14.600 m EPA, RALIS e RA5 Quadro 5 – Características do Obus M114 A1 155mm/23 d. Obús 155mm M109A2 AP O Obus 155mm M109A2 AP (figura 6), é uma boca de fogo média de AC, desenvolvida pelos EUA na década de 50. O chassis, onde a boca de fogo assenta e que constitui o reparo, é o veículo blindado M109 A2. Este material entrou ao serviço do Exército Português em 1982, tendo equipado o GAC /1ª BMI até ao ano de 2002. O Obus actua em conjunto com veículos de transporte de munições e de logística, embora possua a capacidade para transportar até 36 projécteis. Apresenta, de uma forma geral, as seguintes características: Figura 6 – Obus 155mm M109 A2 AP Fonte: Fortunecity Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso da Munição Munição que utiliza EUA Década de 60 1982 155 mm 42 Kg G.E.M. 107 TNT 155mm Alcances • De apoio: 14.600 m • Máximo: 19.300 m Pontaria • Em direcção: 360º • Em elevação (Max/min): +1.333/-53 mils) Unidades que equipou GAC da 1ªBMI Quadro 6 – Características do Obus 155mm M109 A2 AP BOLETIM DA EPA - 27 AS ARMAS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL: DA CRIAÇÃO DA OTAN À ACTUALIDADE e. Obus M119 105mm Light Gun Figura 7 – Obus M119 105mm Light Gun numa sessão de tiro real e em posição de helitransporte. Fonte: Arquivo da Btrbf da EPA No ano de 1998, o Exército Português adquiriu 21 Obuses M119 Light Gun 105mm/30/98 (figura 7), de fabrico Inglês, que passou a equipar o GAC da BAI com 18 Obuses e a EPA com 3 Obuses para a formação. Posteriormente, em 2005, o material passou a equipar o GAC da BrigInt e desde 2009 passou de novo a equipar o GAC da BrigRR. Trata-se de um Obus de AC Ligeira, com possibilidades de ser rebocado, helitransportado em uma ou duas cargas, e aerotransportado. Permite utilizar munições especiais do tipo Base Bleed (BB), Hollow Base (HB) e Rocked Assisted Projectile (RAP). O seu reparo é do tipo monoflecha, possui culatra fixa de cunha vertical e o seu campo de tiro é de 360 graus. Apresenta ainda como características gerais as constantes do quadro 7. Nomenclatura de origem Origem Entrada ao serviço Calibre Peso da Munição Finalidade ou Emprego Munição que utiliza 105mm Field Gun 119 Inglesa 1998 105 mm 15 Kg Campanha Ligeira G.E.M. 107 TNT 105mm Alcances máximos • M1/Carga M67: 11.400 m • ERM1 da RO: 19.500 m Cadência de tiro • 12 tom no primeiro minuto • 6 tom nos 2 minutos seguintes • 3 tom nos minutos seguintes Unidades que equipa RA4 e EPA Quadro 7 – Características do Obus M119 105mm Light Gun f. Obus M109 A5 155mm Autopropulsado Em 2001, chegaram a Portugal, os Obuses M109 A5 155mm AP (figura 8), de fabrico americano, destinados a equipar o GAC/BMI, encontrando-se até hoje a cumprir a sua missão. Integrados na doutrina de mobilidade da BMI, a versão M109 A5 constitui-se um meio relevante de apoio de fogo às Unidades de combate do Exército. O M109 foi desenvolvido na década de 50, tendo-se tornado num dos Obuses mais usados do mundo. O M109 A5 é uma versão melhorada do modelo A4, com um canhão M284 que permite um maior alcance. 28 - BOLETIM DA EPA Figura 8 – Obus M109 A5 AP Fonte: phpBB, 2008 AS ARMAS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL: DA CRIAÇÃO DA OTAN À ACTUALIDADE Apresenta as seguintes características gerais (quadro 8): EUA 1992 2001 155 mm 25.000 Kg G.E.M. 107 TNT 155mm Máximo: 22.000 m • Em direcção: 6400 mils • Em elevação (max/min): 1333 a -53 mils 56 Km/h GAC/BrigMec Origem Ano de fabrico Entrada ao serviço Calibre Peso Total Munição que utiliza Alcance máximo Pontaria Velocidade máxima Unidades que equipa Quadro 8 – Características do Obus 155mm M109 A5 AP 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desde a criação da OTAN até à actualidade, os materiais de AC sofreram uma evolução constante, com tendência para eleger o calibre 155mm como padrão e o calibre 105mm vocacionado para as Unidades de Infantaria Ligeira, Aerotransportadas, de Montanha e para Forças de Intervenção Rápida. A natureza das missões leva a que a Artilharia se adapte às novas realidades, com a necessidade de um constante melhoramento e reequipamento, por forma a que Portugal, como membro da OTAN, possa estar num patamar elevado. A entrada de Portugal para a OTAN muito contribuiu para a renovação dos materiais de AC utilizados em Portugal. Actualmente, a Força Operacional Permanente do Exército (FOPE) tem como Unidades de AC, três GAC: o GAC de 105mm Rebocado da BrigRR, o GAC de 155mm AP da BrigMec e o GAC de 155mm Rebocado da BrigInt. O GAC da BrigMec encontra-se equipado com o Obus M109 A5 155mm AP e com as viaturas de transporte de munições M548, o GAC da BrigRR com o Obus M119 Light Gun 105mm/30/m98 e o GAC da BrigInt, com o Obus M114A1 155mm/23. Está prevista a substituição do Obus 155mm rebocado que equipa o GAC/BrigInt por Obuses 155mm Light Weight. PUB BOLETIM DA EPA - 29 AS ARMAS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL: DA CRIAÇÃO DA OTAN À ACTUALIDADE Referências Bibliográficas: - ARMY TECHNOLOGY. Internet: http://www.army-technology.org, consultado em 21 de Julho de 2010. - CARDOSO, Maj Art Oliveira (2008). A Artilharia de Campanha e a Lei de Programação Militar. In Vários, Boletim de Informação e Divulgação da EPA, Ano IX/II Série. - EPA (2004). Museu da EPA. Vendas Novas. EPA. - FEDERATION OF AMERICAN SCIENTISTS. Internet: http://www.fas.org, consultado em 21 de Julho de 2010 - FORTUNECITY. Algum do armamento existente no Exército. Internet: http://members.fortunecity.com/ exercitoluso/armamento.htm, consultado em 02 de Setembro de 2010. - GARCIA, Maj Art Américo (1997). Organização Táctica e Serviços de Artilharia. Lisboa. - JOÃO MENDES. Fotografias que fazem história (2). Internet: http://sites.google.com/site/wwwccac3372/ fotografiasuefazemhist%C3%B3ria2, consultado em 02 de Setembro de 2010. - phpBB (2008). 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PUB 30 - BOLETIM DA EPA AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA Gabinete de Artilharia, da Academia Militar 1. INTRODUÇÃO Quando nos propusemos realizar este artigo, apontámos como objectivo inicial de investigação tentar caracterizar o ambiente operacional contemporâneo, de forma a concluir sobre as implicações que este terá, quer sobre a Artilharia de Campanha (AC), quer mais especificamente na evolução dos seus Sistemas de Armas. Para cumprirmos com este desiderato apoiámo-nos, sobretudo, no que tem sido a actuação da Artilharia nas operações que têm decorrido ao longo das últimas duas décadas no Afeganistão e no Iraque, após o que investigámos os principais projectos desenvolvidos ou em desenvolvimento no âmbito dos Sistemas de Armas. Nesta fase, a maior dificuldade com que nos defrontámos foi a selecção dos Sistemas a apresentar neste artigo, sendo que optámos pelos materiais que acrescentam novas capacidades à AC, ou reforçam de sobremaneira as já existentes. Dos vários Sistemas Canhão e Míssil abordados, nem todos são o resultado de novos projectos, resultando alguns de evoluções de sistemas já com provas dadas. Como iremos ver mais à frente no artigo, os Artilheiros estão actualmente numa encruzilhada. Ao mesmo tempo que têm de aprender a integrar as tecnologias emergentes, não podem perder de vista a táctica e a técnica tradicionais, pois no fundo é isso que nos caracteriza perante as outras Armas, o saber fazer em todas as circunstâncias. O que está em causa é a necessidade de evolução e não a mudança radical das competências do Artilheiro. Os requisitos para um Apoio de Fogos preciso ao nível do Targeting e da Direcção Técnica e Táctica do Tiro devem ser mantidos e aplicados a todas as missões de Apoio de Fogos, quer as tradicionais, quer as conduzidas com as novas munições de precisão. Analisemos então como chegar à capacidade desejada pela manobra, “One-round, one-hit”1. 2. A MUDANÇA NO AMBIENTE OPERACIONAL E AS IMPLICAÇÕES PARA A ARTILHARIA O novo Ambiente Operacional apresenta-se extremamente dinâmico, podendo assistir-se em simultâneo num mesmo Teatro de Operações (TO) a Operações Militares de Guerra e Operações Militares que Não de Guerra. Estes modernos TO requerem uma adaptação rápida e contínua de procedimentos, aos quais a AC não pode ficar indiferente. Com o final da Guerra Fria, ocorreu uma mudança gradual na natureza dos conflitos armados. Actualmente, os Exércitos já não se defrontam em enormes formações, nas quais a chave para o sucesso no que diz respeito à AC eram os fogos de massa planeados com o máximo detalhe e desencadeados com a maior flexibilidade que as Comunicações e o Comando e Controlo (C2) o permitissem. Para que esta situação ocorresse, muito contribuiu a hegemonia da Super-potência actual, único país capaz de possuir umas Forças Armadas, com possibilidade de intervir em qualquer lugar do mundo, com força suficiente para derrotar um opositor. Outro dos factores que contribuiu, também, para esta mudança foi o de que os Exércitos actuais estão organizados segundo o princípio da modularidade e de acordo com capacidades, havendo naturalmente menos Unidades de Artilharia. 1 Um tiro disparado, um tiro no objectivo, tradução livre. BOLETIM DA EPA - 31 AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA O último argumento elencado, resulta da própria tipologia das operações contemporâneas. No combate contra o terrorismo, de natureza assimétrico, em que muitos dos combates têm lugar em áreas urbanas densamente habitadas, contra um inimigo que se mistura com a população, os fogos de Artilharia tradicionais são cada vez menos utilizados, devido ao necessário cumprimento das Regras de Empenhamento (ROE)2, ao requisito essencial de minimizar os danos colaterais3, bem como logicamente às baixas que um Comandante aceita ocorrerem nas suas próprias forças devido às curtas distâncias das Unidades em contacto e que derivam da Estimativa da Distância de Risco (RED)4. Em operações NATO, todo o Apoio de Fogos tem, ainda, de obedecer às Leis do Conflito Armado (LOAC)5. Os TO do Iraque e do Afeganistão colocam novas dificuldades ao Apoio de Fogos prestado pela AC às operações. Quer o terreno montanhoso, quer as áreas urbanas, propiciam combates isolados de pequenas Unidades, obrigando à descentralização das operações, à horizontalização do C2 e, no caso específico do Afeganistão, a necessidades específicas em termos de mobilidade dos materiais de Artilharia, pois o terreno montanhoso obriga à necessidade da utilização intensiva do helitransporte. A AC, está desta forma colocada perante um dilema: ou evolui e encontra de novo o seu lugar no Campo de Batalha, ou fica marginalizada, impossibilitada de acompanhar e dar o seu contributo às operações militares. Na verdade, a lentidão no desenvolvimento de novas armas e munições que se adaptassem às exigências do combate moderno, fez com que cada vez mais os Artilheiros começassem a desempenhar missões “não Artilheiras”, como é o caso dos Assuntos Civis, das Operações Psicológicas, das Operações de Informação, entre outras. Lenta mas progressivamente começam a ser dados os primeiros passos nos Exércitos ditos de referência, para adaptar a AC a esta nova realidade. Um desses passos prende-se com a crescente relevância dada ao contributo da AC na coordenação e execução dos fogos não letais. Outro, talvez o mais importante, passa pela utilização crescente de munições inteligentes. Actualmente, munições como a granada 155mm M982 Excalibur e o míssil GMLRS6 são a arma de eleição do Comandante da manobra. A munição Excalibur tem-se revelado muito útil no combate em áreas edificadas devido, principalmente, à verticalidade da parte final da sua trajectória, enquanto que o GMRLS, considerado “o Sniper de 70 km”, tem sido um verdadeiro sucesso contra os DBIED7 ou HBIED8. A Excalibur, originalmente planeada para ter um erro provável circular de 10 metros, tem apresentado na prática valores na ordem dos 6 metros, o que permite por exemplo pedir fogos para o edifício situado no outro lado da rua. O GMLRS tem permitido, também, valores de distância mínima em relação aos Observadores Avançados (OAv), chegando a valores de 50 metros de distância ao objectivo. A entrada em breve ao serviço de armas como o NLOS-LS9, além de reforçar a capacidade de ataque com munições inteligentes, permitirá à AC uma capacidade há tanto tempo desejada, a de atacar com precisão alvos móveis. Outra característica, que o extremo dinamismo destes novos TO coloca, é a necessidade de atacar com extrema 2 Rules Of Engagement. 3 Os riscos de danos colaterais são calculados pelas forças Americanas nos TO do Afeganistão e Iraque através de uma ferramenta designada por Collateral Damage Estimation (CDE), cuja metodologia vem expressa no documento conjunto CJCSM 3160.01A, não sendo este de divulgação pública. O CDE funciona meramente como suporte à decisão do Comandante. Existem 5 níveis, sendo que à medida que se vai subindo de nível, o Comandante aceita um nível de análise de risco maior. O nível 1, determina se um objectivo pode ser positivamente identificado e ser um alvo militar válido. O CDE 1 refere, assim, uma estimativa inicial de danos colaterais para o emprego de todas as munições convencionais. O CDE 2, determina a estimativa para munições guiadas de precisão. O CDE 3, apresenta os valores de EMD (Effective Miss Distance) para todas as munições de forma a garantir os efeitos desejados no objectivo mitigando os danos colaterais. O CDE 4, refina o CDE 3, enquanto o CDE 5 é empregue apenas quando os danos colaterais são inevitáveis. No Afeganistão para ser autorizada uma missão de tiro com AC contra um objectivo, esse objectivo terá de constar de uma lista de objectivos e terá de estar restrito ao CDE nível 1. Logo a partir do CDE Nível 2, essa missão só será possível através do uso de Munições Guiadas de Precisão. 4 Risc Estimate Distances (RED), usando como guia a Distância de Segurança Mínima (MSD - Minimum Safe Distances) a qual é uma distância de segurança que não tem em linha de conta os riscos que as forças no terreno aceitam correr. O RED, pelo contrário apresenta essas distâncias com 10% e 0,1% de probabilidades de ocorrerem baixas em pessoal com o perfil de um combatente no lançamento de um ataque (de pé). Assim e unicamente por curiosidade para o material 105mm HE/PD a RED é de 90 e 275m, respectivamente e para o material 155mm HE/PD a RED é de 200 e 475m, respectivamente. 5 Law Of Armed Conflict. Estas Leis obedecem aos princípios da Distinção, das Necessidades Militares, Proporcionalidade e Humanidade. 6 Guided Multiple-Launch Rocket System. 7 Deep Buried IEDs. 8 House-Borne IEDs. 9 Non-Line-of-Sight Launch System. 32 - BOLETIM DA EPA AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA rapidez (embora dentro dos CDE) os chamados alvos de oportunidade, pelo que muitas vezes o processamento destas missões tem de ser muito rápido, passando quase directamente dos meios de aquisição de objectivos para as Baterias de Tiro, sem que os sistemas de C2 tenham uma intervenção demorada, naquilo que é designado por missões “Sensor-to-shooter”. A maior relevância dada ao emprego de pequenas forças de operações especiais infiltradas, leva a que seja de especial importância a integração dos fogos com a manobra, pois como já vimos estas forças estarão muito perto dos objectivos e a utilização de munições inteligentes, por vezes até distâncias de 70 km, obriga a uma coordenação do espaço aéreo bastante precisa. O aparecimento destas novas munições de precisão implica, também, o aparecimento de novas armas que, além de sistemas de auto-posicionamento extraordinariamente precisos em conjunção com sistemas automáticos de cálculo de tiro, as pudessem disparar adaptando-se desta forma às especificações do novo Ambiente Operacional. 3. SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA a. Non-Line-of-Sight Cannon (NLOS-C) O NLOS-C (figura 1) fornecerá de forma continuada, fogos de apoio próximo e fogos de destruição para empenhamentos tácticos. Está a ser desenvolvido para apoiar prioritariamente os Batalhões de Armas Combinadas das FCS BCT10 e as suas subunidades com Line of Sight (LOS) e Beyond Line of Sight (BLOS). Como o Crusader11, o NLOS-C, será capaz de executar MRSI12 (tiros simultâneos no objectivo). Um único Obus efectuará uma série de disparos com diferentes elevações, com a rapidez necessária para ter impactos em simultâneo num único objectivo – (Fogos de Massa13 com uma boca de fogo). A capacidade MRSI, juntamente com a sua elevada cadência de tiro permitirá obter efeitos nunca antes alcançados por outros materiais. O NLOS-C é um dos oito veículos terrestres tripulados das FCS Brigade. Terá um tubo com o calibre de 155mm, com um comprimento de 38 calibres e alcance de 30 km. Pode ser transportado por um C-130, com 25% da sua dotação orgânica de munições. O NLOS-C poderá disparar toda a gama de munições 155mm existentes e em desenvolvimento, com uma cadência até seis TOM14 durante todas as missões no Campo de Batalha. Aquando dum deslocamento, será capaz de responder a pedidos de tiro, com a primeira salva a ser disparada 20 segundos depois de se imobilizar. O Obus transportará uma dotação de 24 munições a bordo da viatura. O compartimento dos dois elementos que fazem parte da guarnição, facilita o emprego táctico do Obus em operações prolongadas. O reabastecimento automático do NLOS-C permitirá que o Obus seja Figura 1 – NLOS-C Fonte: FCS, Program Manager (2008a) reabastecido completamente em menos de 12 minutos. O Sistema de Seguimento do Projéctil (PTS)15 melhora dramaticamente a precisão das munições disparadas pelo Obus. Este sistema consiste num estreito feixe de radar e detector, que segue o projéctil e compara a localização onde o tiro deveria cair com aquela onde efectivamente irá cair, antes mesmo de o projéctil completar a sua 10 Future Combat System, Brigade Combat Team 11 Projecto de desenvolvimento de um Obus de Artilharia, que tinha como finalidade a substituição do M109A6 Paladin, principal meio de Apoio de Fogos autopropulsado de calibre 155mm e que englobava as mais recentes inovações tecnológicas. Este projecto foi entretanto abandonado, tendo muitos dos estudos e desenvolvimentos amadurecidos no âmbito do projecto Crusader sido transpostos para o sistema FCS, facto que levou inclusivamente, a que o NLOS-C fosse dos primeiros equipamentos FCS a ficar concluído. Entre esses desenvolvimentos, contam-se o sistema ignidor laser para o propelante e uma Common Operational Picture (COP) para os veículos terrestres tripulados do programa FCS. 12 Multiple Round Simultaneous Impact. 13 Na doutrina portuguesa, consideram-se fogos de massa, os fogos realizados por mais do que um GAC para um objectivo. Neste caso, um único Obus irá equivaler quase a uma Bateria de Bocas de Fogo. 14 Tiros Obus Minuto. 15 Projectile Tracking System. BOLETIM DA EPA - 33 AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA trajectória, fazendo com que o desvio provável em direcção e alcance seja entre 33% a 50% menor do que o do Paladin. O NLOS-C receberá e calculará as missões de tiro de todos os sistemas de aquisição de objectivos e sistemas de C2 actuais e em desenvolvimento. Estará ainda apto a calcular os seus próprios elementos de tiro, bem como fornecer a direcção táctica limitada à restante Bateria, se necessário. A blindagem de estrutura compósita é substancialmente melhor do que a do Paladin. O sistema de protecção activo (APS)16 protege a guarnição de ataques com granadas foguete (RPG)17, mísseis anti-blindagem e munições anti-tanque HEAT. O Sistema de Comando18 da FCS alertará as viaturas próximas para uma ameaça inimiga, permitindo uma resposta comum enquanto esta está activa. O programa FCS utiliza uma aproximação holística para minimizar a exposição à ameaça. Por exemplo, utilizará em primeiro lugar a COP em conjunto com outras tácticas, para evitar deparar-se com sistemas que o consigam deter. Se não conseguir evitar deparar-se com forças inimigas (In), tentará evitar a sua aquisição gerindo a sua assinatura térmica, visual e acústica. Se for atacado, tentará evitar um impacto ou penetração do casco através do APS e da estrutura compósita. Se for atingido, tentará não ser destruído através da utilização de sistemas redundantes e colocação inteligente dos sistemas críticos. O NLOS-C terá, também, uma arma para o combate próximo capaz de atacar alvos estacionários ou em movimento até 1500 metros. O NLOS-demonstrator, um protótipo do NLOS-C, efectuou o primeiro tiro com sucesso em Setembro de 2008 no campo de treinos de Yuma. Em 2010, serão entregues 18 obuses que serão postos à prova em cenários de combate, com o intuito de efectuar melhoramentos e, desta forma, finalizar o NLOS-C e o resto das viaturas tripuladas da mesma família (Tolbert, 2006). b. Non-Line-of-Sight Launch System (NLOS-LS) O NLOS-LS (figura 2) será o único sistema de AC a garantir ao Comandante de Brigada ataques de precisão a grandes distâncias contra objectivos blindados ou não, em movimento ou estacionários, durante o dia, noite e em condições atmosféricas desfavoráveis. O NLOS-LS (XM-501) consiste num CLU (Contentor/lançador), um CCS (Sistema de Computação e Comunicações) e 15 Mísseis de Ataque de Precisão (PAM)19. O NLOS-LS é um sistema lançador de mísseis em contentores, não dependente de um veículo, podendo ser disparado a partir do solo, de uma viatura ou ainda de um atrelado. A finalidade do CLU é o transporte dos mísseis e da plataforma de tiro, bem como o link de C2 pré-lançamento. O CLU é uma plataforma com uma fonte de alimentação interna, que lhe permite operar de forma independente por mais de 24 horas, sendo o principal critério para a escolha da sua localização, a ligação rádio com a célula de controlo. O CLU dispõe de um CCS num contentor de forma e tamanho idêntico ao CLU. Este sistema tem todos os subsistemas necessários ao processamento e comunicações de uma missão (antena, autolocalização, interface, fonte de alimentação interna) e um sistema antiintrusão, quando é operado sem a intervenção humana. A configuração do CLU nos testes que se encontram a decorrer tem sido de dois contentores com 15 mísseis cada, montados numa viatura táctica de seis toneladas. Pode, no entanto, ser transportado por helicóptero ou C-130 e ser disparado de cima da viatura de transporte, ou removido Figura 2 – NLOS-LS Fonte: FCS, Program Manager (2008b) da viatura e disparado a partir do solo (Nelson e Field, 2007). 16 17 18 19 Active Protection System. Rocket Propelled Granade Battle Command System. Precision Attack Missiles 34 - BOLETIM DA EPA AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA Os PAM são mísseis de combustível sólido, lançados verticalmente, com um perfil de voo variável e passíveis de serem usados contra uma grande variedade de alvos com um alcance entre 0,5 e 40km, utilizando sensores de dual-mode Infra-Vermelho (IR)20 e um laser semi-activo. Planeado para receber updates em voo através de meios rádio, os sensores IR detectam as fontes de calor existentes, sendo a selecção do melhor objectivo baseada na sua velocidade, direcção e localização, fornecendo uma imagem terminal do alvo imediatamente antes do impacto. Em qualquer momento é possível cancelar uma missão, após o que o míssil escolhe uma área de fogos livres pré designada para o impacto, ou se esta não tiver sido escolhida de antemão, tem a capacidade de evitar objectos “quentes” e atingir terreno vazio na vizinhança da localização inicial do objectivo a atingir. Parte da flexibilidade destes mísseis advém dos seus cinco modos de empenhamento. Em adição aos três métodos de guiamento por laser e um outro por sensores IR, o míssil dispõem ainda de um quinto modo de ataque por coordenadas GPS21. A altitude máxima pode ser controlada e o seu plano de voo pode ser desenhado com o recurso a waypoints para uma adequada gestão e controlo do espaço aéreo. O planeamento e execução das missões do NLOS-LS são efectuados através do AFATDS22, localizado num Pelotão de direcção de tiro dedicado, designado por célula de controlo. A célula de controlo tem a possibilidade de contactar directamente com um observador para processar uma missão de tiro, ou utilizar o tradicional método de comunicações através do Posto Central de Tiro (PCT) do Grupo de Artilharia de Campanha (GAC). Foram efectuadas diversas alterações ao software do AFATDS e FOS23 no processamento dos pedidos de tiro, para aproveitar a vantagem da flexibilidade encontrada no NLOS-LS. O FOS permite que o observador peça especificamente o míssil PAM, defina o modo de empenhamento e a direcção de aproximação do míssil ao objectivo. A célula de controlo analisa a missão, dados meteorológicos, cartografia digital e as medidas de coordenação de Apoio de Fogos em vigor para a escolha do CLU que melhor pode apoiar a missão. O AFATDS, parte deste processo, utiliza uma ferramenta de optimização no planeamento da rota do míssil que evita o espaço aéreo congestionado e o terreno que pode condicionar a missão. Após o cálculo da melhor rota de voo, a missão é enviada da célula de controlo para o CLU. O tipo de objectivo pedido pelo observador é também enviado para que os sensores IR procurem a categoria correcta de alvo. Para objectivos em movimento é enviado, também, a velocidade e rumo, permitindo que o míssil voe numa rota de intercepção, aumentando assim a possibilidade de que os seus sensores detectem o objectivo ou a energia reflectida. Depois de lançado, o míssil voa ao longo da rota escolhida para a zona do objectivo (conhecida ou prevista), comunicando directamente com a célula de controlo, enviando a sua posição para que esta apareça na consola do AFATDS. À medida que se aproxima da localização prevista de um objectivo em movimento, o observador envia um update da localização do alvo para a célula de controlo. Esta verifica se existem restrições ao nível das medidas de coordenação de Apoio de Fogos, enviando esses dados para o míssil em voo. O míssil ajusta a parte final da trajectória para interceptar o objectivo e, mesmo antes do impacto, transmite uma imagem do alvo com o tempo e localização para a célula de controlo (Nelson e Field, 2007). Nos testes efectuados a organização de uma Secção do NLOS-LS, tem sido a seguinte: Uma Secção de Comando (quatro militares), a Célula de Controlo (três militares) e três Esquadras de Tiro (dois homens cada), num total de 11 militares. Estão a decorrer testes a todos os aspectos relacionados com a táctica, técnica e procedimentos do sistema em missões de tiro. Está previsto a entrada ao serviço das primeiras unidades em 2010 (Shield e Weeks, 2008). 20 21 22 23 Infrared Global Positioning System. Advanced Field Artillery Tactical Data System Forward Observer System, dispositivo onde o observador avançado efectua o seu pedido de tiro, o qual é de seguida enviado digitalmente para o AFATDS. BOLETIM DA EPA - 35 AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA c. GMLRS (Guided Multiple-Launch Rocket System) O GMLRS consiste em duas novas variantes dos mísseis M26 e M26A2 disparados, quer pelo Sistema Lançador M270A1 (figura 3), quer pelo High Mobility Artillery Rocket System (HIMARS) as quais, além de serem mais precisas, têm um alcance muitíssimo superior. O Míssil M30 Dual-Purpose Improved Conventional Munition (DPICM) transporta 404 sub-munições, enquanto o M31A1 Unitary transporta uma ogiva explosiva de 90 kg. Ambas as variantes utilizam um sistema de guiamento com uma unidade de medição inercial (IMU)24 e um receptor GPS, auxiliado por um conjunto de fins e aletas. Figura 2 – NLOS-LS Com um alcance útil entre os 15 e 70 km tornam-se, assim, nas únicas Fonte: FCS, Program Manager (2008b) munições de precisão de tiro indirecto de longo alcance disparadas da superfície para o apoio de tropas em combate em áreas urbanas no Exército Americano. O GMRLS Unitary dispõe de uma espoleta que permite três tipos de funcionamento diferente: espoleta de aproximação, para utilização contra pessoal em campo aberto, espoleta de percussão e espoleta de percussão com atraso, para obter capacidade de penetração de cerca de 1 metro. O sensor de proximidade pode ser seleccionado para uma altura de rebentamento de 3 ou 10 metros a velocidades de Mach 2,5. O GMLRS é adequado para objectivos de precisão ou destruições pré-planeadas de edifícios ou Sistemas de Armas In. Não se revela adequado para fogos de Contra-Bateria e a sua elevada duração de trajecto faz com que também não seja adequado contra objectivos em deslocamento. O GMLRS necessita, tal como qualquer outra arma de precisão, de uma localização do objectivo extremamente precisa. O pedido de tiro pode ter como origem toda a panóplia de sensores e observadores, desde os UAV25, equipas COLT26, OAv, JTAC27, radares, entre outros elementos de Aquisição de Objectivos. O software utilizado nos pedidos de tiro tem sido maioritariamente o PSS-SOF28, originalmente utilizado pelas forças especiais para localizar o objectivo com precisão suficiente para disparar rapidamente uma munição inteligente, através de uma grelha de coordenadas a 3 dimensões obtida através de um conjunto de lasers29. Uma vez enviada a localização do objectivo pelo OAv, o PCT do GAC ou a Célula de Apoio de Fogos da Brigada transmite o pedido de tiro digital, via AFATDS, para o PCT da Bateria. Recebida a missão de tiro, o PCT calcula e transmite a duração de trajecto e a ordenada máxima, dados necessários para se iniciar a coordenação do espaço aéreo. Estes dados são da mesma forma transmitidos para o AFATDS da Unidade que pediu os fogos. A Bateria de Tiro necessita de 3/4 minutos para estar pronta a executar o tiro. Após a autorização de tiro são necessários 12 segundos adicionais para actualizar o GPS da munição antes do disparo. Entre o pedido e a autorização de tiro, o OAv pode refinar a localização do objectivo desde que não ultrapasse o valor angular de 100 milésimos em relação à linha de tiro (Globalsecurity, 2010). d. Obus M777 155mm Lightweight O Obus M777 (figura 4), é um Obus rebocado desenvolvido pela BAE Systems, tendo entrado ao serviço pela primeira vez em 2005 no Exército dos Estados Unidos da América (EUA). De então para cá, equipa os Exércitos de vários países e outros equacionam a sua aquisição. O Obus equipado com o Sistema de Controlo de Tiro Digital, tomou a designação de M777A1, tendo os Obuses que receberam o upgrade de software para poderem 24 Inertial Measurement Unit. 25 Unmanned aerial vehicle. 26 Combat Observation Lasing Team; 27 Joint Terminal Attack Controllers; 28 Precision Strike Suite – Special Operations Forces; 29 Na verdade uma das maiores dificuldades numa missão com munições de precisão é a localização do objectivo ter a precisão necessária que justifique o emprego duma munição deste tipo. Se as coordenadas do objectivo não tiverem precisão a munição atingirá uma localização errada com toda a precisão. Se pensarmos no combate urbano e de mísseis que têm uma trajectória de 70 km, o objectivo terá de ser representado a três dimensões. 36 - BOLETIM DA EPA AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA disparar a munição XM982 Excalibur passado a designar-se por M777A2. O M777 é normalmente operado por uma guarnição entre os 5 e os 8 serventes. Tem um tempo de entrada em posição de 2/3 minutos, pronto a fazer tiro e um tempo de saída de posição de 1/2 minutos, dados obtidos com uma guarnição de 5 serventes. A sua construção recorre ao uso extensivo de materiais leves como o titânio, fazendo com que tenha um peso de 3745 kg, que lhe permite ser transportado por uma grande variedade de helicópteros, aeronaves e navios de transporte. A viatura tractora deverá ser 4x4 e ter mais de 2,5 toneladas. O Obus é equipado com um tubo de calibre 155 mm e com um comprimento de 39 calibres. O alcance máximo, com uma munição normal, é de 24,7 km e de 30 km com munição assistida. Pode disparar a munição Excalibur, a qual tem um alcance de 40 km. Com uma cadência máxima de 5 TOM e uma cadência de tiro contínuo de 2 TOM, o M777 utiliza o sistema LINAPS30 o qual Figura 4 – Obus M777 155mm Lightweight Fonte: MOC 421, 2010 permite apontar o Obus utilizando um sistema inercial de recepção e giroscópios apoiado por GPS. Os Obuses que equipam o Exército Canadiano utilizam um Sistema Digital de Controlo de Tiro de origem inglesa (Gun Management System), o qual permite realizar a direcção técnica do tiro. O Exército Americano irá utilizar o Sistema TAD31. Este sistema além da direcção do tiro, dispõe de um sistema ignidor a laser, mecanismos eléctricos para apontar o Obus em direcção e elevação e um soquete automático. Este Obus desde a sua entrada ao serviço, tem vindo a ser utilizado com grande sucesso no TO do Afeganistão devido ao seu reduzido peso e consequente capacidade de ser helitransportado, ao mesmo tempo que permite a utilização da munição Excalibur. Estas duas capacidades reunidas têm feito com que seja uma das armas de excelência no Apoio de Fogos fazendo, até, com que Unidades equipadas anteriormente com Obuses 105mm tenham requerido a sua substituição pelo M777, antes de se deslocarem para este TO (Army-techonology, 2010a). e. Panzer Haubitze (PzH 2000) O PzH 2000 (Panzer Haubitze 2000) (figura 5) é um Obus 155mm autopropulsado, desenvolvido pela empresa “Krauss-Maffei Wegmann” (KMW) em conjunto com a “Rheinmetall Landsysteme”, e que presentemente equipa os Exércitos da Alemanha, Itália, Holanda e Grécia. Este Obus teve o seu baptismo de fogo em Setembro de 2006, ao serviço do Exército Holandês, no âmbito da Operação Medusa, onde Haubitze (PzH 2000) Fonte: 3 obuses executaram missões de tiro sobre objectivos Talibã situados Figura 5 – Panzer army-technology.com a mais de 30 km. A torre do obus PzH2000 foi ainda montada no convés de uma fragata da Marinha Alemã (conceito designado por MONARC), como uma demonstração da exequibilidade do sistema para emprego naval. O sistema de controlo eléctrico da arma compreende os mecanismos automáticos de elevação e direcção, bem como a pontaria directa com instrumentos de controlo eléctrico ou manual. O tubo-canhão 155mm L52 do PzH2000 tem um comprimento de 52 calibres, sendo municiado por uma calha de carregamento semi-automática e por um alimentador (acoplado) com 32 munições. Este é revestido a crómio, tem 8 m de comprimento, dispõe de um freio de boca (destinado a aumentar a velocidade inicial ao projéctil e reduzir o clarão), bem como sensores que monitorizam automaticamente os parâmetros da arma, tais como a 30 Artillery Pointing System. 31 Towed Artillery Digitisation System. BOLETIM DA EPA - 37 AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA temperatura da câmara de combustão. A velocidade inicial é determinada automaticamente através de um radar cronógrafo, sendo utilizada no cálculo computorizado dos elementos de tiro. O municiador permutável, acoplado à culatra do tipo “cunha”, dispõe de uma esteira de transporte que efectua a sua substituição, carregamento ou descarregamento. Este sistema utiliza um sistema de cargas propulsoras modulares (DM72), de 6 zonas (MTLS), que facultam um rápido carregamento, menor gastamento do tubo, menor risco de ignição acidental e maior alcance. O alcance máximo do Obus, obtido com 6 MTLS, cifra-se em 30 km, utilizando a munição convencional L15A2, e cerca de 40 km com munições assistidas. O sistema de posicionamento e pontaria, instalado no berço do Obus, determina automaticamente a posição, orientação e cota da arma. Por sua vez, o receptor do GPS integrado e os sensores existentes no motor da viatura constituem o sistema híbrido de navegação. O sistema de carregamento automático do PzH2000 retira as granadas, armazenadas no contentor situado na retaguarda da viatura, e insere-as automaticamente no alimentador de 60 munições existente no centro do chassis. Este sistema é alimentado por um motor eléctrico e inclui um soquete pneumático com controlo digital automático, gestão de municiamento e graduação de espoleta por indução, permitindo deste modo cadências de tiro de 3 salvas em menos de 10 segundos e o carregamento de 60 munições, por 2 operadores, num tempo inferior a 12 minutos. No âmbito dos testes de tiro realizados em Outubro de 1997, utilizando um municiador automático melhorado, foram obtidas cadências de tiro de 12 salvas em 59,74 segundos e de 20 salvas num minuto e 47 segundos. O PzH2000 pode utilizar o modo de operação automático, requerendo apenas 2 operadores, modo este que inclui a transmissão rádio de dados para um sistema de C2. Os elementos de tiro são calculados pelo computador balístico, sendo a arma automaticamente apontada durante a missão de tiro. Este Obus dispõe ainda de diversos modos de operação alternativos, de modo a garantir a sustentabilidade do sistema em caso de falha de uma das suas componentes. Ao nível mais baixo, encontra-se disponível um sistema óptico/mecânico. O Comandante dispõe de um periscópio panorâmico, com capacidade para visão diurna e nocturna, que inclui um distanciómetro laser, permitindo assim a designação de objectivos para tiro directo. O apontador dispõe igualmente de um telescópio para tiro directo, com capacidade de visão diurna e nocturna (Army-techonology, 2010b). f. AGM O “Obus Modular de Artilharia” (Krauss-Maffei Wegmann's Artillery Gun Module - KMW AGM) (figura 6), constitui um Obus autopropulsado (AP), aerotransportável, de peso médio, baseado na tecnologia comprovada do obus AP PzH2000 (Panzer Howitzer 2000). O sistema é totalmente autónomo e apresenta o mesmo desempenho que o PzH2000, com um preço, guarnição e peso mais reduzidos, podendo ser transportado pela aeronave de transporte Airbus A400M, com o tubo-canhão rebatido sobre a cabine. O Obus modular pode ser instalado numa viatura de rodas ou lagartas em serviço no país de destino, ao abrigo de acordos de co-produção com o produtor nacional da viatura. Tal possibilita a obtenção de uma plataforma de tiro indirecto, de peso médio e com uma boa relação custo-eficácia. Embora o AGM tenha por base o tubo-canhão 155 mm de 52 calibres, este sistema pode ser igualmente adaptado a um obus ligeiro como o 105 mm ou o 155 mm de 39 calibres (como é o caso do M777 LightWeight). Figura 6 – KMW AGM Fonte: army-technology.com 38 - BOLETIM DA EPA AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA O módulo pode ser montado numa viatura pesada 6x6 ou 8x8, no chassis da viatura de lagartas M993, que equipa o Sistema de Lançamento de Foguetes Múltiplo (MLRS)32 ou no chassis de um carro de combate, sendo necessário montar estabilizadores hidráulicos e ferrões a estas plataformas, de modo a conter o recuo. Quando instalado na viatura do MLRS, o AGM tem um peso de 27 ton, baixando para as 22,5 ton quando montado numa viatura 6x6. Em ambos os casos o peso para combate é significativamente inferior às 55 ton do PzH2000. O sistema é operado por uma guarnição de 2 homens e utiliza o mesmo tubo-canhão, sistema de elevação e sistema de carregamento do Obus PzH2000. A torre blindada é constituída por uma liga leve de alumínio, pesa 12,5 ton e alberga 30 granadas e respectivas cargas. O sistema de carregamento automático, que constitui uma versão alterada do PzH2000, comporta um sistema elevatório que permite o remuniciamento pela guarnição, um soquete pneumático e um sistema automático de graduação de espoleta por indução. O sistema pode, no entanto, ser carregado e disparado manualmente. A cabine encontra-se separada do módulo de tiro, fornece protecção contra o tiro de armas ligeiras, minas antipessoal, submunições de Artilharia (bomblets) e ataques Nucleares Biológicos e Químicos (NBQ), e está equipada com um sistema computorizado de controlo do tiro. Este sistema opera com o software balístico Kernel, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) (STANAG 4537), e pode ser conectado ao sistema de C2 da KMW ou a outros sistemas nacionais de C2. O AGM pode executar tiro sobre objectivos estacionários ou em movimento, com uma cadência de 6 a 8 tiros por minuto, incluindo TSO33. O alcance cifra-se entre os 30 km, utilizando munições convencionais, e os 40 km utilizando munições base bleed. Os tempos de entrada e saída de posição do AGM são idênticos aos do PzH2000: aproximadamente 30 segundos. O sistema recebe os dados sobre o objectivo via TSF, durante o deslocamento ou quando em posição, determina os elementos de tiro através do computador balístico, ao que se segue a execução do Comando de Tiro e a subsequente saída de posição para evitar a contrabateria In (Army-techonology, 2010c). g. DONAR O projecto DONAR (figura 7), apresentado e testado com sucesso em 2008, resulta da parceria entre as empresas General Dynamics Santa Bárbara Systems (GDSBS), de Espanha, e a KMW, da Alemanha. Este sistema constitui uma evolução do AGM, acima descrito, e combina uma torre da KMW dotada de um canhão de 155mm L/52 da Rheinmetal (que equipa o obus PzH2000), totalmente automatizada, com uma plataforma móvel ASCOD2 (que equipa o Obus Pizarro). Estas características proporcionam ao sistema um maior desempenho, mobilidade e poder de fogo, bem como um custo e um peso (31,5 toneladas) relativamente reduzidos, quando comparados com o PzH2000. O DONAR possui uma alta cadência de tiro (6 disparos por minuto) e grande precisão, tendo um alcance de 30 km com munições convencionais e de 40 Km com munições assistidas. O sistema opera com uma guarnicão de apenas 2 homens e dispõe de uma mobilidade equiparável a qualquer veículo blindado médio. É aero-transportável no Airbus A400M e o seu elevado nível de protecção (contra armas ligeiras, estilhaços e NBQ) possibilita a sua participação em todo tipo de missões, apresentando ainda um elevado nível de interoperabilidade com outras Unidades e forças aliadas. Os protótipos do DONAR dispõem de Sistemas de Protecção Activa (APS)34 e torres de controlo remoto para metralhadoras de 12,7 mm 32 Multiple Launch Rocket System 33 Tiro Simultâneo no Objectivo 34 Active Protective System Figura 7 – DONAR Fonte: military-today.com BOLETIM DA EPA - 39 AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA ou similares. O canhão AP irá operar conjuntamente com um veículo de municiamento (Pinto, E.M., 2009). h. CAESAR O sistema Caesar (figura 8), instalado numa viatura de rodas, é um Obus 155 mm de 52 calibres, autopropulsado, desenvolvido pela empresa Nexter Systems (antiga Giat) em cooperação com a empresa Lohr Industrie of Hangenbieten, tendo o primeiro Obus sido entregue ao Exército Francês em Julho de 2008. O sistema de Artilharia Caesar constitui uma evolução do obus AP 155 AM F3, que utilizava o chassis do Carro de Combate ligeiro AMX-13 e está equipado com todos os sistemas necessários a uma operação autónoma, uma cabine com protecção contra estilhaços e tiro de armas ligeiras para uma guarnição de 5 homens35, um suprimento inicial de 16 munições completas e instrumentos de navegação, pontaria, cálculo balístico e apoio ao comando. O sistema está equipado com um tubo-canhão 155 mm de 52 calibres Figura 8 – CAESAR Fonte: army-technology.com e pode manter uma cadência contínua de tiro de 6 a 8 salvas por minuto, ou de 3 tiros em 15 segundos em cadência máxima. O Caesar compreende um sistema computorizado de controlo do tiro, um radar cronógrafo e um sistema de navegação e posicionamento global, pelo que não requer levantamentos topográficos para determinação do Centro de Bateria ou Goniómetros de Bússola para efeitos de pontaria inicial. A arma dispõe de um sistema hidráulico de entrada em posição e de um sistema semi-automático de carregamento, podendo entrar e sair de posição em menos de 1 minuto. Uma unidade equipada com 8 sistemas Caesar pode lançar, em menos de 1 minuto, mais de uma tonelada de projécteis, 1.500 bomblets ou 48 munições anti-carro, sobre objectivos situados até aos 40 km. O sistema fornece terminais internos para comunicações e controlo do tiro em tempo real, incluindo o envio de pedidos de tiro e transmissão de ordens de tiro de acordo com o tipo de objectivo, tipo de munição e armas disponíveis. Este sistema tem capacidade para utilizar uma vasta tipologia de munições contra objectivos com ou sem protecção, para criar obstáculos de contra-mobilidade e para ocultar ou iluminar uma dada área, podendo para tal disparar munições explosivas convencionais (HE) ou a nova geração de munições como a Ogre e a Bonus, facultando esta última uma precisão adicional e eficácia terminal. O Caesar utiliza como sistema de propulsão a viatura Daimler-Benz Unimog 6x6 (no caso dos sistemas adquiridos pela Arábia Saudita) ou a viatura Sherpa 5 6x6 da Renault Trucks Defense (no caso dos sistemas destinados a França e à Tailândia). Na versão francesa, o Caesar tem uma autonomia de 600 km, e velocidades máximas de 100 km/h em estrada e de 50 km/h em terra batida (facultada pelo sistema centralizado de distribuição de pressão no solo), podendo ser transportado por uma aeronave de transporte C-130 Hércules (excluindo a guarnição e as munições) (Armytechonology, 2010d). i. ARCHER O sistema Archer (figura 9), tem por base o Obus 155 mm AP FH77 BW L52, montado num chassis 6×6, desenvolvido pela BAE Systems Bofors, situada em Karlskoga, Suécia. Este sistema, concebido para o empenhamento sobre objectivos terrestres e navais, estacionários ou em movimento, foi contratualizado em Março de 2010 pelos Ministérios da Defesa da Suécia e da Noruega, prevendo-se o fornecimento de 24 Obuses e 24 veículos de transporte de munições a cada um destes países (Defence IQ, 2010). 35 O Comandante de Secção (Sargento), Servente Apontador (S1, Cabo), Servente municiador (S2, Soldado), Servente de Munições (S3, Soldado) e o Condutor (Servente das cargas). 40 - BOLETIM DA EPA AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA O termo “Archer” designa o sistema completo, compreendendo o Obus autopropulsado 77BW L52 e as respectivas viaturas de remuniciamento e apoio. O Obus tem um alcance entre os 40 km (empregando munições convencionais) e os 60 km (utilizando a munição M982 Excalibur), podendo ainda disparar a munição Bonus, de ataque vertical, desenvolvida pela Bofors (agora designada BAE Systems Bofors) e pela Nexter (antiga Giat). O Obus, totalmente autónomo, é operado por uma guarnição de 3 ou 4 homens e pode ser empregue no apoio de fogos às missões Fonte: PROTEC, Rewind 2006 Figura 9 – ARCHER convencionais de combate, bem como às actuais missões internacionais de manutenção ou imposição de paz. A larga utilização de componentes civis e o reduzido peso propiciam uma maior liberdade no que respeita à logística do veículo. Quando comparado com muitos dos Obuses AP de lagartas, o Archer é suficientemente leve para aerotransporte numa aeronave A400M O armamento principal consiste no canhão 155 mm de 52 calibres, que utiliza o berço e a ligação elástica do Obus rebocado FH 77B (figura 10). Para um alcance adicional, o Archer utiliza um tubo idêntico ao do Obus 77B, mas 2 metros mais longo, medindo pouco mais de 8 metros. Para além do tubo, existem poucas similaridades entre estes dois Obuses. Uma das principais diferenças reside no facto de o Archer dispor de um rápido sistema de carregamento automático. O reduzido tempo de carregamento, associado ao rápido reajustamento do ângulo de tiro, permitem ao Archer colocar 2 granadas em simultâneo sobre o objectivo em 10 segundos, desde que o compartimento das munições esteja preparado com a carga adequada a cada tiro. O antigo 77B apenas conseguia disparar 2 granadas nesse intervalo de tempo (PROTEC, 2006). A partir do interior da cabine, os operadores têm total controlo do sistema, podendo o operador direccionar e disparar quer o canhão, quer a metralhadora montada no tecto da viatura. As comunicações, por voz ou escritas, o cálculo dos elementos de tiro, as informações relativas ao escalão superior, a navegação, cálculo balístico, segurança, gestão de munições e situação operacional, são geridas por computador. Este sistema está, ainda, equipado com um dispositivo de aquisição de objectivos ou designador laser (que lhe confere capacidade de tiro directo até aos 2 km), sistemas de controlo do tiro e de navegação inércial / GPS, e com um radar cronógrafo, que envia para o sistema computorizado de controlo do tiro os valores relativos à velocidade inicial dos projécteis. O sistema assegura fogos precisos, contínuos e de elevado volume, bem como fogos em profundidade, possibilitando o lançamento de mais de 25 toneladas de munições (432 tiros) por arma, em 24 horas de operação. O Obus tem uma cadência de tiro contínuo de 75 salvas por hora, uma cadência intensiva de tiro de 20 salvas (capacidade do compartimento das munições) em 2,5 minutos, e uma cadência Figura 10 – Obus rebocado FH 77B Fonte: GlobalSecurity.org normal de tiro de 3 tiros em 15 segundos. A capacidade máxima de TSO é de 6 tiros. O veículo transporta 20 projécteis no carregador automático e outros 20 para recarga, podendo utilizar cargas modulares OTAN ou cargas modulares Bofors Uniflex 2. O alcance com as munições Bonus da BAE Bofors / Nexter é de 35 km, podendo chegar aos 60 km com as BOLETIM DA EPA - 41 AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA munições de precisão M982 Excalibur da Raytheon / Bofors. Esta ultima dispõe de um dispositivo de guiamento por GPS, que corrige a trajectória de voo pré-programada. Com as novas munições Excalibur e Bonus, o Archer poderá executar fogos de precisão sobre os objectivos, podendo realizar fogos sobre um único edifício, ao invés de áreas de maiores dimensões. A cabine e o compartimento do motor são totalmente blindados. A primeira, com capacidade para 4 elementos, dispõe ainda de vidros à prova de bala e estilhaços, proporcionando protecção contra projécteis 7,62 mm, munições perfurantes, minas de 6 kg (protecção de nível 2 - STANAG 4569) e protecção NBQ. No tecto da cabine encontra-se instalado o sistema de armas de controlo remoto Lemur, que inclui um sistema de visão diurna/ nocturna, um sistema giro-estabilizador e uma metralhadora 7,62 mm, operados a partir do interior da mesma. A plataforma veicular constitui uma modificação da viatura articulada todo-o-terreno Volvo A30D 6×6, que confere ao sistema uma rápida mobilidade estratégica, permitindo uma velocidade máxima (em estrada) de 70 km/h. A estrutura articulada da viatura de transporte propicia ainda uma rápida entrada e saída de posição (num tempo global inferior a 1 minuto). Com o Archer, são apenas necessários 2 minutos para entrar em posição e apontar o Obus, executar 6 tiros, sair de posição e efectuar um deslocamento de 500 m (cada uma destas operações carece apenas de 30 segundos) (Army-techonology, 2010e). j. ATMOS 2000 O Atmos 2000 (figura 11), foi desenvolvido pela Soltam Systems, sedeada em Haifa, Israel, tendo os primeiros testes ocorrido em 2006, a cargo das Forças de Defesa de Israel. Concluída a fase de desenvolvimento e teste, o sistema encontra-se em fase de produção. O sistema de Artilharia Atmos encontra-se disponível com os tubos-canhão 155 mm de 39, 45 e 52 calibres. Opcionalmente, o Atmos 2000 155 mm de 45 calibres pode, igualmente, ser equipado com o Obus M-46 de 130mm, de origem russa. Este sistema pesa 22 toneladas e pode ser aerotransportado pela aeronave de transporte C-130 Hércules. O sistema Atmos utiliza todas as munições convencionais de 155 mm da OTAN e comporta 27 granadas e respectivas cargas. Com o tubo de 52 calibres, o Atmos atinge um alcance máximo de 41 km, empregando o projéctil Extended Range Full Bore Base Bleed (ERFB-BB). Utilizando a munição L15 da OTAN, o alcance cifrase nos 30 km. Este alcance diminui para os 22 km quando emprega a munição M107 High Explosive (HE). O sistema hidráulico de que dispõe destina-se a auxiliar nas Figura 11 – ATMOS 2000 operações de carregamento, pontaria e posicionamento dos Fonte: army-technology.com ferrões. O novo dispositivo de auxílio de carregamento faculta uma cadência máxima de tiro de 3 projécteis em 20 segundos, e uma cadência de tiro contínuo de 70 projécteis em 60 minutos. O sistema é operado por uma guarnição de 4 a 6 homens, incluindo dois carregadores. Uma vez ocupada a posição de tiro, os dois ferrões laterais, operados hidraulicamente, são colocados em posição. O sistema de controlo do tiro (Advanced Fire and Control System - AFCS), acoplado ao Atmos 2000, inclui sistemas de navegação, pontaria e computação balística. O AFCS apresenta a informação sobre o objectivo, selecciona a direcção e elevação da arma e aponta o tubo ao objectivo, sendo a elevação e direcção executadas hidraulicamente. No entanto, o sistema pode também ser operado manualmente. A viatura Tatra 6x6, seleccionada para a produção inicial do sistema de Artilharia Atmos 2000, dispõe de uma 42 - BOLETIM DA EPA AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA cabine blindada que assegura protecção contra tiro de armas ligeiras e estilhaços, atinge uma velocidade máxima em estrada de 80 km/h e tem uma autonomia de 1.000 km. A selecção de uma viatura de rodas, em detrimento de uma viatura de lagartas, foi efectuada de modo a obter uma maior mobilidade estratégica, menores custos de aquisição e manutenção, maior facilidade de operação e manutenção, maior rapidez nos deslocamentos e superior autonomia operacional. O Atmos pode ainda ser instalado numa vasta gama de viaturas de rodas, de acordo com os requisitos do país de destino (Army-techonology, 2010f ). 4. CONCLUSÕES As mudanças sentidas no Ambiente Operacional, obrigaram a que a AC tivesse de evoluir e adoptar novos Sistemas de Armas e tecnologias, evitando assim ficar marginalizada perante outros meios de Apoio de Fogos capazes de reagirem mais rapidamente e com maior precisão no ataque a um objectivo, como é o caso dos meios aéreos tripulados ou não. Apontámos ao longo do trabalho alguns aspectos onde essa intervenção se tem observado, como é o caso dos fogos não letais e da sua integração com os restantes, bem como a necessidade de uma maior integração do Apoio de Fogos com as necessidades e principalmente o ritmo da manobra. Achamos, no entanto, que o factor que relançou a importância da AC no Campo de Batalha foi o aparecimento das chamadas munições inteligentes, que permitiram a execução de fogos em situações até há bem poucos anos impensáveis. Estas munições deram um novo impulso a todo o sector de armamento, pois para disparar estas munições são necessários Sistemas de Armas com Sistemas de C2 de Tiro Digitais. Pode-se dizer com alguma certeza que, praticamente, qualquer arma de calibre 155mm pode disparar uma munição M982 Excalibur se possuir os sistemas que permitam receber os pedidos de tiro digitais, efectuar o cálculo dos elementos de tiro e introduzir os dados do objectivo na espoleta da munição. Por isso mesmo, as empresas de armamento apressam-se a modificar os sistemas existentes e a projectar outros que satisfaçam essas especificações. Por outro lado, a tipologia das operações e a própria modularidade das forças tem provocado o aparecimento de todo o tipo de Sistemas de Armas, desde mísseis até uma enorme variedade de sistemas canhão, como ficou bem espelhado ao longo deste artigo. Assiste-se por último, na opinião do autor, a uma tendência da generalização do calibre 155mm em detrimento do calibre 105mm, naturalmente devido ao facto deste último não dispor de capacidade de emprego de munições de precisão, das quais se destaca a munição Excalibur. Na verdade, em diversos artigos constatámos que Unidades de Artilharia anteriormente equipadas com Obuses 105mm foram reequipadas com calibres 155mm antes de entrar nos respectivos TO, até porque Obuses como o M777 têm um peso que lhes permite ter a mobilidade dos Obuses 105mm. Pensamos até que esta situação se irá manter, pois a nova espoleta PGK36 tem previsto um Erro Provável Circular de 50 metros, inaceitável no combate urbano. Existe ainda todo um caminho por desbravar, no que diz respeito ao planeamento e coordenação do Apoio de Fogos com este tipo de munições e mísseis. Para o fazer, continuará a ser necessário que o Artilheiro disponha das competências técnicas e tácticas que sempre deteve e que lhe permitiram e continuarão a permitir ser o verdadeiro especialista, no que diz respeito ao Apoio de Fogos. 36 Precision Guidance Kit. BOLETIM DA EPA - 43 AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA Guarnição 55 ton 5 PZh2000 27 ton 2 AGM 31,5 ton 2 Donar 27 ton 2 NLOS-C 18,5 ton 5 Caesar 33,5 ton 3 /4 Archer HE 22 BB 41 22 ton 4 /6 Atmos HE 24,7 RAP 30 km Excalibur 40 3,748 ton 5 /8 M777 2 NLOS-LS TABELA COMPARATIVA DOS PRINCIPAIS DADOS NUMÉRICOS DOS OBUSES Peso (em combate) Bónus 35 Excalibur 60 < 30 segundos 2 / 3 min c/ 5 homens --- C-130 Hércules 1.000 km C-130 Hércules helicóptero 0,5-40 km BB 42 Bónus 34 3 tiros em 20 seg. HE 30 Excalibur 40 5 t/o/m HE 30 BB 40 3 tiros em 15 seg. HE 30 BB 40 3 tiros em 15 seg. HE 30 BB 36,5 RAP 40 6 t/o/m 3 tiros em 9 seg. 6 t/o/m Máxima 6a8 t/o/m 30 seg. 70 tiros por hora 20 tiros em 130 seg. 30 seg. < 30 segundos 1 / 2 min c/ 5 homens Rebocado 400 a 500 km Heli CH53 Heli CH47 V22 Osprey C-130 50 km/h Airbus A400M Rodas 30 seg. C-130 Hércules Semi-automático --- Semi-automático Rodas 2 t/o/m Contínua 30 seg. 30 seg. C-130 Hércules Semi-automático Rodas Airbus A400M Automático Lagartas 75 tiros por hora Entrada em posição 30 seg. Lagartas 6a8 t/o/m Saída de posição Lagartas 50 km/h 20 seg Propulsão > 45 km/h 600 km Automático Lagartas Velocidade tipo 420 km Transporte aéreo Carregamento Navegação inércial / GPS Opcional Armas Lig Estilhaços Computador balístico Automático Autonomia Alcance (km) Cadência de Tiro Mobilidade Sistemas 7,62 mm Minas 6 kg NBQ Opcional Armas Lig Estilhaços Radar cronógrafo NBQ Opcional RPGs Mísseis ABlind HEAT Pontaria automática Protecção GMRLS 15-70 km 3/4 minutos 44 - BOLETIM DA EPA AS INOVAÇÕES NOS SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA DE CAMPANHA Referêncas Bibliográficas - ARMY-TECHONOLOGY (2010a). M777 155mm Ultralightweight Field Howitzer, United Kingdom. Internet: http://www.army-technology.com/projects/ufh/, consultado em 24 de Setembro de 2010. - ARMY TECHNOLOGY (2010b). PzH 2000 155mm Self-Propelled Howitzer, Germany. 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BOLETIM DA EPA - 45 ÁREAS RADARES PARA LOCALIZAÇÃO DE ALVOS (WLS) E SISTEMAS DE DEFESA EOD RÁDIOS E SISTEMAS DE NRBQ COMUNICAÇÕES EQUIPAMENTO TÁCTICO E PROTECÇÃO PESSOAL PDAs E TABLET PCs ROBUSTECIDOS SISTEMA DE ALVOS MÓVEIS ‘’LIMO’’ PROTECÇÃO ALOJAMENTO E SUBSISTÊNCIA EM CAMPANHA BALÍSTICA VISÃO NOCTURNA COMUNICAÇÕES E ELECTRÓNICA MILITAR BÚSSOLAS MILITARES CAMUFLAGEM VIATURAS AQUISIÇÃO DE ALVOS INTELIGÊNCIA E CONTRAMEDIDAS VIATURAS GERADORES ILUMINAÇÃO ÓCULOS DE PROTECÇÃO BALÍSTICA CAPACETES COM INTERCOMUNICAÇÕES ALÇAS TELESCÓPICAS E CÂMARAS TÉRMICAS JAMMERS’ VIGILÂNCIA E OPTOELECTRÓNICA EQUIPAMENTOS PARA AERONÁUTICA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL Rua Bento de Jesus Caraça, nº 5 A-B Te r c e n a - 2 7 3 0 - 0 2 7 B A R C A R E N A Te l . : 2 1 4 3 8 9 4 1 0 | F a x : 2 1 4 3 8 0 5 9 2 Email: [email protected] www.lasi.pt PUB Eco.Patrol Controlo e ProtecçãoAmbiental ACTIVIDADE DA EMPRESA Contingência, Controlo e Protecção Ambiental Intervenção de emergência Remoção de derrame no solo Protecção ambiental de eventos Limpezas Industriais Limpeza de naves industriais Limpeza de espaços exteriores Limpezas Especiais Limpeza de tanques de combustível Limpeza de separadores de hidrocarbonetos Gestão Global de Resíduos Prestação de serviços de triagem Transporte e encaminhamento de resíduos Triagem e Armazenamento temporário de resíduos Parque Industrial Sapec Bay, Apartado 2044, 2911-801 Setúbal Telefone: +351 265 720 030 Fax: +351 265 720 039 Web: www.ecopatrol.pt Email: [email protected] A EVOLUÇÃO NAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL TCor Art Manuel Bento Gomes Chanca Cap Art Joaquim Maria Madruga Pisco 1. INTRODUÇÃO O presente artigo pretende caracterizar, de forma sucinta, a evolução das munições de Artilharia de Campanha (AC), utilizadas pelo Exército Português, desde os primórdios da Artilharia Portuguesa pirobalística, nos finais do século XIV, até à actualidade. Desde a origem da Artilharia, onde eram utilizadas simples pedras de forma arredondada como projécteis, até às munições explosivas convencionais, actualmente utilizadas pela Artilharia portuguesa, as munições de AC acompanharam a evolução tecnológica das bocas de fogo (canhões, peças e obuses) nos conflitos onde foram empregues. 2. A ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL A primeira utilização da Artilharia em Portugal é referenciada por Fernão Lopes, em 1381, e foi trazida pelos ingleses. De meados e até final desse ano, bocas de fogo terão sido utilizadas no cerco de Lisboa, a bordo dos navios ingleses e nas fortificações em terra, contra as investidas dos castelhanos. A pólvora negra então utilizada, conhecida na Europa por ”serpentina”, tinha como composição aproximada 75% de salitre, 12,5 % de enxofre e 12% de carvão, sendo já fabricada em Portugal no século XV; no entanto a maioria era importada. Nesta mistura o salitre é o elemento comburente, dado que é ele que fornece o oxigénio necessário, o carvão de madeira é o combustível e o enxofre, embora não estritamente necessário à reacção, serve para tornar rápida e regular a combustão, assegurando ainda a conservação da pólvora. Os projécteis utilizados eram balas, pelouros em pedra (figura 1) de forma irregular (granito ou calcário), que tinham de ser feitos por canteiros especializados e possuíam qualidades balísticas medíocres, o que limitava significativamente o seu alcance e precisão. Para a sua projecção, era necessária uma carga de pólvora negra em pó, que seria colocada entre o projéctil e o fundo do tubo, a qual, ao ser inflamada por uma acção exterior, produziria um volume de gases em quantidade suficiente para o lançamento do projéctil à distância desejada, que Figura 1 - Pelouro raramente excederia, em tiro praticamente horizontal, 200 a 250 metros. Essa acção iniciadora em pedra Fonte: Museu da EPA era efectuada através do contacto de um ferro em brasa, com uma pequena porção de pólvora, que se encontrava num orifício na parte anterior do tubo, ao qual se chamava ouvido e que, por sua vez, estava em contacto com a carga de pólvora propulsora. Com a preparação das operações do norte de África, onde se destaca a tomada de Arzila (1471), a Artilharia em Portugal veio a sofrer um notável desenvolvimento e uma substancial utilização. Entre os anos de 1461 e 1485, realizou-se na Europa a substituição dos pelouros de pedra e de chumbo por ferro fundido; com o aparecimento da Artilharia de bronze a Artilharia de ferro fundido foi sendo substituída. No entanto, já em 1471 tinha sido utilizada pelos portugueses Artilharia em bronze, certamente importada (bombardas, colubrinas, bocas de fogo de bronze) (figura 2). Figura 2 – Bombarda e respectivo projéctil Fonte: Wikipédia, 2010 BOLETIM DA EPA - 47 A EVOLUÇÃO NAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL Durante o século XVIII, assiste-se à regularização dos calibres, constituindo-se as peças segundo o modelo inglês, sendo para a campanha os calibres 3, 6 e 9 libras e obuses de 6 polegadas. Para a Artilharia pesada os calibres de 12 e 18, de peças o calibre de 24 libras e os obuses de 8 e 11 polegadas e os morteiros de 10, 12 e 16 polegadas. Este foi o material que perdurou até ao início da segunda parte do século XIX. Mas as munições também evoluíram. A pólvora ainda fabricada pelos processos de 200 anos antes, passou a ser colocada em sacos, primeiro de papel ou pergaminho, a partir do século XVI, e depois de linho, a fim de facilitar o carregamento, a partir do século XVII. Os primeiros sacos de metralha para a AC, surgem também no século XVII, sendo utilizados nas peças e obuses. Dada a irregularidade das pedras e à sua incapacidade de resistir ao choque do impacto sem quebrar, foi necessário criar algo mais consistente e de forma mais regular, passando a ser utilizado o ferro maciço. No entanto, estas munições de Artilharia nem sempre causavam o efeito desejado no inimigo (In), tendo por isso sido criados outros tipos de munições, adaptadas ao objectivo, de diferentes tamanhos, conforme a boca de fogo pela qual seriam utilizadas, tendo em conta a capacidade de destruição e a mobilidade. Se o objectivo fosse uma fortificação, seria suficiente para a destruir um projéctil metálico de grandes dimensões, mas se o objectivo fosse uma formação humana (Infantaria), esse projéctil tornar-se-ia quase inofensivo. Assim, foi criada a metralha, que não era mais do que um saco de serapilheira cheio de estilhaços que, disparada a curtas distâncias, teria um efeito devastador contra o assalto da força In. No desenvolvimento da adequação das munições ao objectivo, foram criadas as “bombas de esclarecer”, esféricas, em corda ou em cartão, cheias de resina e que, após o disparo, iluminavam tudo à sua passagem e incendiavam o objectivo, tendo assim uma dupla função. Foram as antepassadas das actuais granadas iluminantes e incendiárias. Com o passar do tempo, verificou-se uma evolução, tanto no aumento da sua eficácia ao atingir o objectivo, como a prática do seu carregamento, sempre acompanhando a evolução das bocas de fogo. Surgiram os projécteis esféricos de carga oca (Figura 3), preenchidos com explosivo que, dispondo de um dispositivo iniciador, rebentavam no local e Projecteis esféricos de carga oca no momento desejado, destruindo o projéctil em centenas de fragmentos, Figura 3 -Fonte: Wikipédia, 2010 que se tornavam verdadeiras armas mortais. 3. O ESTRIAMENTO DOS TUBOS Foi no século XIX que surgiram as primeiras bocas de fogo estriadas (figura 4), ainda de carregar pela boca. Os projécteis eram introduzidos pela boca, depois de se ter carregado com a pólvora, já ensacada. A evolução do aparecimento das almas estriadas nas bocas de fogo (tubos com ranhuras na parede interior para imprimir ao projéctil o movimento de rotação e, assim, aumentar o seu alcance e precisão), trouxe também a solução para o problema do carregamento. Até então, o carregamento era efectuado pela antecarga, procedimento que provocava acidentes graves, facto que levou à implementação do sistema de carregamento por Figura 4 - Boca de fogo estriada retrocarga. Fonte: Museu da EPA Os primeiros projécteis, usados na Artilharia estriada e de antecarga, tinham no corpo um certo número de aletas, ou botões salientes, que entrando nas estrias, davam-lhe a direcção e imprimiam-lhes o necessário movimento de rotação. Esse sistema, apresentava o gravíssimo inconveniente de deixar entre o projéctil e a alma um espaço considerável pelo qual escapavam parte dos gases da carga de projecção 48 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO NAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL o que, além de diminuir o alcance e afectar a precisão, provocava uma rápida corrosão dos tubos. A primeira tentativa, de evitar este escape, consistiu na adopção de um prato de bronze côncavo de diâmetro igual ao da alma. Este prato, fixo à base dos projécteis por um parafuso central, expandia-se sobre a pressão dos gases e penetrava nas estrias. Um outro sistema, consistia em encapar a base do projéctil com uma segunda base postiça e com o fundo esférico, de chumbo ou outro metal mole. No momento do disparo a base móvel, aplicada de modo a ficar um pouco destacada da fixa, movia-se para diante, penetrando pela base do projéctil e fazendo expandir a faixa de chumbo que, plasmando-se nas estrias, determinava a rotação do mesmo. Em 1870, a empresa Krupp experimentou as primeiras cintas ou coroas de forçamento. Eram anéis de cobre, de secção mapezoidal, ligados em cauda de andorinha no projéctil, tanto junto à ogiva como no fundo do mesmo. Posteriormente, uma vez que este sistema não permitia o emprego do estiramento progressivo, eliminou-se a cinta de cobre junto à ogiva, dando um diâmetro ligeiramente maior no projéctil nessa mesma zona. Durante o mesmo período, graças a novos aperfeiçoamentos conseguidos no campo das espoletas, pensou-se em criar um único projéctil para toda a AC, de forma a facilitar o problema do reabastecimento. 4. A EVOLUÇÃO DAS MUNIÇÕES O desenvolvimento das munições foi obtido através da utilização de pólvoras progressivas, com grãos de espessura variada consoante a vivacidade da combustão desejada (pólvoras químicas – explosivos de manejo e estabilidade seguras), e pela solução para o recuo da boca de fogo, com a consequente melhoria da repontaria após cada disparo, abandonando os reparos rígidos e implementando recuperadores e ligação elástica, que veio permitir o aumento das cadências de tiro. Através destas evoluções das bocas de fogo, a forma da munição sofreu uma grande alteração, passando a ser cilíndrica com uma ponta bicuda, para diminuir a resistência ao ar, onde era adaptada a espoleta. Estas munições, para o perfeito acoplamento ao interior do tubo, tinham várias saliências exteriores ou mesmo cintas de metal maleável em zinco e depois em cobre que, entrando nas estrias, davam-lhe a direcção e imprimiamlhe o necessário movimento de rotação, impedindo a saída dos gases do tubo antes da munição. As espoletas passam a ser metálicas, de forma cónica, e a ter um funcionamento muito mais preciso e estável, quando baseados no princípio do funcionamento por inércia. As cargas passam a ser colocadas dentro de uma caixa metálica cilíndrica, chamada de caixa de cartucho (Figura 5), onde é encaixada a parte anterior da granada, e que tem na sua base uma pequena carga iniciadora chamada escorva. A pólvora de propulsão passa a ser utilizada em cargas de tamanho fixo e, mais tarde, Figura 5 – Caixa de cartucho acopladas ao próprio projéctil, de forma a facilitar o seu carregamento na http://commons.wikimedia.org/wiki/Category: QF_4.5_inch_Howitzer boca de fogo, constituindo assim a munição completa. 5. A EVOLUÇÃO DAS ESPOLETAS Este dispositivo iniciador de carga explosiva, chamado de espoleta, começou por ser um tubo de madeira forrado de latão, cheio de uma substância explosiva que ardia lentamente, sendo acoplado à munição, que colocada dentro da boca de fogo e em contacto com a carga propulsora, era acesa aquando do disparo, e conforme o seu tamanho rebentaria a uma maior ou menor distância do objectivo. Devido ao grande número de detonações prematuras e de espoletas não inflamadas, foi necessária a sua substituição por um dispositivo metálico mais seguro e eficiente, que continha vários orifícios, os quais correspondiam às diferentes graduações da espoleta, e que era inflamada separadamente da carga propulsora. BOLETIM DA EPA - 49 A EVOLUÇÃO NAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL A espoleta, utilizada nas munições de Artilharia, é um mecanismo ou dispositivo destinado ao controlo da ignição, ou da detonação da carga explosiva transportada por uma munição. É uma espécie de cérebro, que comanda o funcionamento da munição em que está aplicada, razão pela qual é a sua parte mais importante e delicada, embora cada uma das restantes tenha uma indispensável missão específica a realizar. Pela função que desempenha é, normalmente, um órgão complicado, tanto mais quanto maior for a segurança nas suas diferentes modalidades. Com efeito, deve ser suficientemente resistente para suportar as forças de inércia de recuo e de rotação, desenvolvidas dentro da boca de fogo e todas as demais, até ao momento de fazer funcionar a munição, deve armar na ocasião própria, já fora da boca de fogo e a uma distância conveniente; deve funcionar com toda a segurança, sem falhas nem rebentamentos prematuros; deve ter dimensões e forma que se adaptem perfeitamente bem à munição e ser suficientemente aerodinâmica para assegurar uma balística exterior correcta; finalmente, deve ser de manufactura relativamente simples, de fácil carregamento, montagem não susceptível de erros, com capacidade de embalagem e transporte seguros, e capaz de resistir à deterioração durante vários anos de armazenagem. O progresso das espoletas, até metade do século XIX, foi muito reduzido. As primeiras espoletas, eram denominadas “boquinhas”. No momento de carregar a peça furava-se lateralmente a espoleta, com uma agulha apropriada, num ponto tal que a substância inflamada no momento do disparo fosse ardendo desse ponto até à carga de rebentamento, gastando nessa queima o tempo justo de duração do trajecto. Um aperfeiçoamento, destinado a facilitar a operação, consistia numa graduação de espoleta em segundos, e em cada divisão um orifício que desempenhava o papel de escorva. Porém, apesar das falhas serem frequentes, a “boquinha” perdurou por muito tempo, como o único artifício capaz de comunicar o fogo às cargas de rebentamento das granadas explosivas. As munições com estas espoletas frequentemente rebentavam dentro dos tubos. Para impedir que os gases incandescentes da carga de projecção penetrassem no interior do projéctil, era imperativo que este, na posição de carregamento, tivesse a “boquinha” voltada para a boca da peça. Como a “boquinha” estava virada para a boca da peça, algumas vezes a chama da carga não acendia a mistura da combustão lenta e com o choque do disparo inflamava, produzindo o rebentamento violento do projéctil na arma. A fim de evitar a inflamação da mistura e doseá-la de modo que queimasse exactamente durante o tempo necessário, foi preciso colocá-la num tubo. Para disparar projécteis explosivos com eficácia sobre as obras fortificadas, era preciso que eles penetrassem no alvo, antes do rebentamento. Na prática, isto era extremamente difícil, pois tornava-se necessário introduzir no projéctil uma quantidade de mistura, de modo que a sua combustão durasse exactamente poucos segundos mais que a duração do trajecto. Já no século XIX, tendo em vista a necessidade de certas munições estarem prontas a cumprir missões de tiro, tanto em tempos como em percussão, surgiram as primeiras espoletas que reuniam os dois sistemas, o de tempos e o de percussão (figura 6). Figura 6 – Espoleta Todos os modelos eram enroscados à ogiva das munições. Para as perfurantes, com o Fonte: http://www. fim de lhes preservar a ogiva, deixando-lhe toda a agudeza conveniente ao trabalho de ammunitionpages.com/ penetração, foram idealizados diversos modelos de espoletas, chamados de “culote” por se download/576/British%20fuze %20percussion%20DA%20No. %20363.pdf fixarem à base do projéctil, e armadas com atraso, a fim de garantirem mais tempo para a perfuração da couraça, antes do rebentamento. Desde a origem da Artilharia as espoletas têm sido objecto de longos e cuidadosos estudos, e a relativa perfeição alcançada pelos modelos actuais, são consequência da evolução por que vêm passando através dos tempos. 50 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO NAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL 6. CLASSIFICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA a. Classificação das Munições de Artilharia As munições de Artilharia classificam-se de acordo com o seu emprego em munições de guerra, munições do exercício, munições de manobra e munições de salva. As munições de guerra (ou de serviço), são as que se destinam ao combate e, como tal, as que se empregam nos exercícios de fogos reais, o que requer as necessárias e severas medidas de segurança. As munições de exercício, são destinadas a simular as condições de combate e, por isso, dotadas dos meios necessários à prática da regulação do tiro. Para o efeito, o projéctil pode conter uma pequena carga de um baixo-explosivo (pólvora negra, por exemplo), ou uma ampola de um produto fumígeno que, na altura do impacto, geram uma bola de fumo que vai facilitar a observação. Um lastro especial, permite que o projéctil tenha a mesma balística exterior que a munição de guerra. As munições de manobra, são totalmente inertes e destinam-se exclusivamente ao treino do pessoal no que respeita ao manuseamento e carregamento do serviço de guarnição, organizadas de modo que o peso seja o regulamentar e as regiões de contacto com a alma da boca de fogo não causem danos nem desgastes. As munições de salva, sem projéctil, empregadas apenas nos materiais de pequeno e médio calibres, destinam-se aos cerimoniais da ordenança (honras de hierarquia, honras fúnebres, etc.) e, também, ao tiro simulado em certos exercícios e demonstrações. b. Organização sumária das munições de Artilharia O conjunto de todos os componentes que permitem a execução de um tiro por uma boca de fogo, recebe o nome genérico de “tiro completo”. Tais componentes podem encontrar-se reunidos formando uma unidade (cartucho com granada) ou, então, separados, sempre que haja necessidade de alterar o peso da carga propulsora, ou em particular, quando o peso e as dimensões do conjunto dificultarem as operações de preparação e do carregamento. As munições, quanto à operação de carregamento podem ser do “tipo fixo”, “semi-fixo”, “tipo separado” e do “tipo de carregamento separado”. As munições do “tipo fixo” formam uma unidade, de modo que a operação de carregamento pode ser realizada num só tempo. Pelo que é a solução mais adequada para o tiro rápido contra alvos móveis terrestres, navais e aéreos. As caixas de cartucho são, normalmente, empregues neste género de munições. O latão é a liga empregada por excelência, embora já esteja generalizado o emprego do aço com tratamento anti ferrugem em muitas munições. Dado o valor técnico-económico das caixas de latão, preconiza-se que o seu emprego se possa fazer várias vezes, o que exige, naturalmente, que os serventes lhes dediquem os convenientes cuidados de manuseamento durante o tiro, evitando que sofram golpes ou acentuadas deformações, em especial na manobra de extracção, e profundas oxidações ulteriores em consequência do abandono a que, normalmente são votadas, até à altura de serem remetidas, no caso Português, ao Depósito Geral de Material do Exército. No que respeita à oxidação, ela pode e deve ser desde logo atenuada, mergulhando as caixas num recipiente com água quente e, após algum tempo, secá-las bem. As munições de “tipo semifixo” diferem das anteriores pelo facto de o projéctil não se encontrar fixo à caixa de cartucho, mas sim ajustado à mesma, o que permite a sua separação fácil, na ocasião do ajustamento da carga, de acordo com a ordem recebida para a execução do tiro. Para o efeito, a carga total apresenta-se repartida por vários sacos (cargas parciais ou incrementos), havendo sempre uma carga-base (carga nº1) com o respectivo ignidor, à qual se adicionam, os restantes sacos observando as indicações, normalmente números, para a formação das cargas 2, 3, 4, ... Uma tampa de cartão, por vezes, garante o aconchego dos sacos dentro da caixa de cartucho, a fim da acção de escorva não ser prejudicada pelo afastamento da pólvora. Como é evidente, torna-se indispensável chamar a atenção dos serventes das bocas de fogo para a grande responsabilidade BOLETIM DA EPA - 51 A EVOLUÇÃO NAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA EM PORTUGAL das cargas de tiro, porquanto um erro na sua manipulação pode acarretar sérias consequências, quer para a segurança das forças amigas, quer pela perturbação causada na regulação do tiro. As munições do “tipo separado”, são aquelas em que os projécteis, depois de devidamente espoletados, são carregados na boca de fogo, fixos na posição de carregamento por meio de soquete, seguindo-se a introdução na caixa de cartucho escorvada. Finalmente, as munições do “tipo de carregamento separado”, são caracterizadas por as cargas de tiro serem fornecidas em sacos alongados, com rigidez suficiente para o carregamento se fazer com facilidade, após a fixação do projéctil na posição correcta pelo soquete. Posteriormente, fechada a culatra móvel, a escorva é introduzida no alojamento próprio. Normalmente a colocação da espoleta e, eventualmente, de algum ou alguns outros elementos da cadeia de fogo, é feita na altura própria do tiro. 7. CONCLUSÕES Face às inovações tecnológicas, os artilheiros sempre procuraram maximizar o potencial das suas bocas de fogo, desenvolvendo munições mais eficazes, rentabilizando assim os seus materiais. No alvorecer do século XX a AC portuguesa estava equipada com modernas peças de 7,5 cm de retrocarga, as quais vieram substituir os antiquíssimos canhões de alma lisa e os canhões de carregar pela boca. Com a evolução dos materiais, das munições e com a necessidade de se acompanhar o progresso, surgiram assim as primeiras munições alongadas e de forma cónica, que devido à sua forma ofereciam menor resistência ao ar. Apesar das estrias, as munições não obtinham, nem criavam o efeito desejado no campo de batalha, pois verificavase que os gases libertados pela combustão da pólvora escapavam entre o espaço ocupado pela granada e o tubo. Desta forma, para suprimir o escape de gases, a solução passou pela criação de cintas de travamento, primeiro em zinco e depois em cobre. Com esta alteração conseguiu-se evitar o escape dos gases e, ainda, imprimir ao projéctil o necessário movimento de rotação, garantindo um maior alcance e uma maior precisão face os projecteis esféricos. O desenvolvimento da Artilharia notava-se em grande parte na própria munição onde, não esquecendo os conceitos básicos utilizados desde o início, era aplicada a mais avançada tecnologia, com vista a aumentar a precisão e eficácia dessas armas. Referências Bibliográficas - CAVALEIRO, António. A Evolução das Munições de Artilharia do Sec. XIV ao Séc. XIX (1ª Parte), Revista de Artilharia. - CAVALEIRO, António. A Evolução das Munições de Artilharia do Sec. XIV ao Séc. XIX (2ª Parte), Revista de Artilharia. - MATOS, Virgílio. O Artilheiro e as Munições, Revista de Artilharia. - WIKIPÉDIA (2010). Artilharia. Internet: http://pt.wikipedia.org/wiki/Artilharia, consultado em 19 de Setembro de 2010. - AMMUNITIONPAGES (2010). Artillery Ammunition. Internet:http://www.ammunitionpages.com/ categories.php?cat_id=109, consultado em 19 de Setembro de 2010. 52 - BOLETIM DA EPA AS NOVAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA Direcção de Formação/EPA 1. INTRODUÇÃO “É com fogo que se ganham as batalhas; logo, aumente a Artilharia!” Frederico, o Grande A Artilharia sempre acompanhou a evolução do combate ao longo dos tempos, de modo a manter o apoio de fogos eficaz, eficiente e oportuno aos elementos de manobra. Por outro lado, em virtude do aumento crescente da violência nos campos de batalha, a sociedade internacional, com vista a diminuir as atrocidades da guerra, estabeleceu limites aos procedimentos a serem utilizados nos conflitos, tendo como essência a primazia do ser humano. Nesse contexto e face à complexidade do Teatro de Operações (TO), sobretudo o urbano, os meios de apoio de fogos deverão considerar os danos nas infra-estruturas civis de capital importância para a população, a ocorrência de danos colaterais sobre civis, as consequências sobre a população e os efeitos causados pelas munições. Consequentemente, com a grande e constante evolução tecnológica, foram desenvolvidos diversos tipos de munições inteligentes, com o intuito não só de bater uma área, conforme é a concepção da doutrina da Artilharia de Campanha (AC), mas sim um ponto específico. Neste artigo, serão abordadas as principais tendências mundiais, no que diz respeito ao que poderemos chamar de “futuro” das munições de Artilharia e apresentado um panorama da situação actual, bem como a tendência de evolução a curto prazo. 2. MUNIÇÃO DE ARTILHARIA Existe uma grande panóplia de munições de AC, para bater os mais diversos objectivos que poderão surgir no Espaço de Batalha, sendo estas classificadas, para uma melhor especificidade e organização, quanto ao carregamento, finalidade e tipo. Quano ao carregamento, as munições poder ser químicas, inertes ou explosivas. Quanto à finalidade podem ser de combate, de exercício, de salva e simuladas. E quanto à ao tipo podem ser fixas, semi-fixas, separadas e de carregamento separado. Importa ainda lembrar o conceito de tiro completo, o qual consiste no conjunto de componentes necessários ao lançamento do projéctil e ao seu accionamento e efeitos na área do objectivo, e tem por componentes fundamentais a escorva, a carga propulsora, o projéctil e a espoleta, cada um destes elementos com uma função específica, existindo uma panóplia diversa de combinações possíveis e de componentes, a fim de produzir o efeito desejado no objectivo. Actualmente, as munições utilizadas pela Artilharia Portuguesa não permitem introduzir correcções na sua trajectória, após a sua saída pelo tubo da boca de fogo, sendo apenas possível influenciar na trajectória das munições, com o objectivo de atingir o alvo, através da escolha da carga propulsora e da direcção e elevação do tubo para a execução do tiro. Após a saída da munição pelo tubo não são feitas mais correcções na trajectória e o projéctil apenas sofre influência de diversos factores, que levam a munição a atingir um ponto não previsto inicialmente. A experiência demonstra que, se com determinada boca de fogo, for executada uma série de tiros em condições BOLETIM DA EPA - 53 AS NOVAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA reputadas como idênticas em direcção, velocidade inicial, lote de munições e estado da atmosfera, por maiores que sejam os cuidados adaptados, não se obtém o mesmo ponto de impacto, antes tantos pontos quantos os disparos efectuados. Este fenómeno, denominado por dispersão do tiro, deve-se a factores diversos conhecidos por causas de dispersão, que produzem a não coincidência das trajectórias. As causas deste fenómeno podem ser as seguintes1: - Variações no ângulo de levantamento ou abaixamento; - Estabilidade do reparo da boca de fogo; - Variações no lote das munições em termos de homogeneidade na composição das pólvoras, variações no peso, forma e superfície dos projécteis; - Erros na pontaria resultantes de erros fortuitos do apontador; - Variações na posição do carregamento do projéctil; - Alterações das condições atmosféricas de tiro para tiro. Tais variações, que não podem ser controladas, prejudicam a precisão do tiro e consequentemente, prejudicam a precisão da Artilharia quando o objectivo é atingir alvos pontuais, mesmo após a realização de regulações, as quais nem sempre são permitidas, devido à situação táctica ou à restrição no consumo de munições. 3. MUNIÇÕES INTELIGENTES a. Generalidades Uma munição convencional consiste numa determminada quantidade de material explosivo envolvido num invólucro resistente com um mecanismo detonador. O mecanismo detonador tem um dispositivo de gatilho, normalmente um sistema de retardamento, um sensor de impacto ou um sensor de proximidade, que dispara a munição. Quando o gatilho é disparado, o detonador faz o material explosivo entrar em ignição, o que resulta numa explosão. A extrema pressão e fragmentos que voam da explosão destroem as estruturas das proximidades. Esta munição é considerada "burra" porque simplesmente cai no solo sem ser direccionada de modo activo. Logo, é extremamente difícil atingir um alvo com precisão se usarmos este tipo de munição. Para o êxito no combate acaba-se tendo que lançar dúzias ou até centenas dessas munições para destruir um alvo de maneira eficaz (Harris, 2007). Uma munição inteligente é, essencialmente, uma munição comum com algumas modificações. Além do detonador comum e do material explosivo, dispõe: - Um sistema com sensor electrónico; - Um sistema de controlo integrado (um computador de bordo); - Um conjunto de aletas de voo ajustáveis; - Uma bateria. O sistema de controlo e as aletas ajustáveis proporcionam à munição uma maneira de se direccionar enquanto plana no ar. Enquanto ela está "em voo", os sistemas de sensor e controle rastreiam o alvo desejado. O sensor alimenta o sistema de controlo quanto à posição relativa do alvo e o sistema de controlo processa essas informações e calcula como a munição deve virar para que se direccione ao alvo. (Harris, 2007) Para efectivamente virar a munição, o sistema de controlo envia uma mensagem aos mecanismos que ajustam as aletas de voo. Essas aletas funcionam da mesma maneira que os diferentes flapes de um avião. Inclinando as aletas na direcção pretendida, o sistema de controlo aumenta a resistência actuando naquele lado da munição, e como resultado, a munição vira naquela direcção. As munições inteligentes costumam ter detonadores de proximidade, que disparam o explosivo um pouco antes da munição atingir o alvo, ou detonadores de impacto que disparam o explosivo quando a munição atinge algo. (Harris, 2007) 1 Não são consideradas como causas da dispersão, os enganos ou erros sistemáticos, dado serem susceptíveis de correcção. 54 - BOLETIM DA EPA AS NOVAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA A principal diferença entre os diferentes tipos de munições inteligentes está na forma como o sensor efectivamente capta o alvo em primeiro lugar. b. Munições Inteligentes Guiadas por GPS O Sistema de Posicionamento Global (GPS - Global Positioning System) é um sistema de radionavegação constituído por 24 satélites, que permite determinar a posição com grande exactidão em qualquer parte do globo, a qualquer hora e com quaisquer condições atmosféricas. Embora tenha sido concebido para fins militares (permitir o guiamento preciso de mísseis balísticos), o GPS possuiu, desde a sua génese, dois níveis de serviço: - Um nível com melhor performance, disponível apenas aos utilizadores militares autorizados e denominado Precise Positioning Service, com erros de muito poucos metros e grande robustez, traduzida em relativa protecção contra medidas de interferência do sinal (empastelamento) e transmissão dos sinais cifrados, para evitar a utilização não autorizada; - E um nível com performance mais fraca, disponível a todos os utilizadores do GPS e conhecido por Standard Positioning Service, que permite exactidões na ordem de poucas dezenas de metros. O sistema GPS, funciona da seguinte forma: antes de disparar a munição, esta é colocada numa estação de inicialização, que lhe transfere, entre outras informações, a posição do alvo, em menos de 2 segundos. Os micro-receptores GPS instalados nessas munições suportam acelerações 15.000 vezes superiores à aceleração da gravidade e aguentam até 20 anos num paiol de munições, só com uma pilha de 3,3 volts, antes de serem disparadas (Monteiro, 2007). De referir, ainda, que o sistema opera perfeitamente até em temperaturas desajustadas, já que obtém todas as informações dos sinais de satélites, que não correm o risco de serem bloqueados por nuvens ou obstáculos. Deste modo, a munição não precisa de “ver” nada para encontrar o alvo. Esta é uma das grandes diferenças relativamente às munições guiadas a laser e a infravermelho, uma vez que estas munições não são afectadas pelas condições atmosféricas e não necessitam que o alvo seja “iluminado”, o que permite que os alvos sejam atingidos com precisão, desde que as suas coordenadas tenham sido levantadas com rigor previamente. E exemplo disso é que o seu Erro Circular Provável (CEP - Circular Error Probable) é de 10 metros, comparado aos 200-300 metros dos projécteis normais, sem guiamento inteligente. Segundo Monteiro (2007), tais considerações são fruto de experiências em combate. Na Bósnia, em 1995, a maioria dos mísseis americanos já possuía guiamento por GPS, mas o mesmo não acontecia com as munições que, ainda, eram maioritariamente guiadas por laser, tendo sido muito mais ineficientes nesse TO, não só devido às más condições atmosféricas e à má visibilidade mas, também, pelo facto dos alvos estarem dissimulados e camuflados. Nessas situações, o guiamento por GPS apresenta vantagens significativas, pois a partir do momento em que são introduzidas na munição as coordenadas correctas do alvo, nem a má visibilidade, nem a tentativa de camuflagem dos alvos podem evitar o sucesso do disparo. A grande limitação das armas guiadas por GPS é o facto de só poderem ser utilizadas contra alvos parados, sendo sempre necessário, antes do disparo, obter as suas coordenadas. Graças às suas potencialidades, as munições guiadas por GPS impuseram-se definitivamente na segunda metade da década de 90, e o primeiro ataque conduzido inteiramente com munições guiadas por GPS ocorreu a 3 e 4 de Setembro de 1996. Foi durante a operação Desert Strike, num ataque coordenado ao Iraque em que quatro navios de superfície, um submarino e dois aviões B-52 lançaram 31 Tomahawks e 13 outros mísseis de cruzeiro sobre alvos iraquianos, como retaliação por ataques de forças iraquianas a rebeldes curdos (Monteiro, 2007). b. Munições Inteligentes de Artilharia de Campanha Nos últimos anos, tem-se vindo a verificar um importante conjunto de desenvolvimentos no que respeita BOLETIM DA EPA - 55 AS NOVAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA ao sector das munições de AC. Estes desenvolvimentos devem-se essencialmente, ao facto da primordial utilização da AC nos recentes TO, em que a existência de diversos factores externos, como por exemplo os danos colaterais que a AC poderia causar nestes teatros, levaram a um investimento para a melhoria da precisão das munições. Posto estes considerandos, neste artigo serão apenas abordadas as munições de AC, consideradas mais “recentes” e que têm sofrido alguns melhoramentos, o que demonstra a aposta e orientação que se perspectiva nas munições de AC num breve futuro. (1) Munição XM 982 Excalibur A munição de 155 mm, XM 982 Excalibur (figura 1) é um dos tipos de munições que pertence à nova geração de “Projécteis de Artilharia de Longo Alcance Guiados com Precisão”, pois possui um sistema de guiamento que utiliza o GPS. A Excalibur foi desenvolvida pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América (EUA), num esforço de Figura 1 – XM 982 Excalibur cooperação com as empresas Raytheon Missile Systems e Fonte: Wikipedia, 2010 BAE Sistems Bofors, sendo utilizada actualmente, entre outros, pelos EUA, Canadá, e Austrália. O seu protótipo foi criado e desenvolvido em 2005. Contudo, o seu primeiro e bem sucedido teste em massa, ocorreu em meados de 2006, na Base de testes em Ohio, Texas (Raytheon, 2008). Com um peso de 48Kg, o seu alcance eficaz é da ordem dos 40 Km, com sistema “base bleed”, sendo que dentro de pouco tempo, com o advento de novos tubos passará a 60 Km. O CEP chega a ser inferior a 10 metros para todos os alcances, o que possibilita o ataque a um grande número de objectivos remuneradores, em todo o tipo de terreno e condições atmosféricas, designadamente no apoio ao combate urbano, sem provocar danos colaterais não desejados. Trata-se de uma munição que pode ser disparada por obuses de calibre 155 mm e que, para além de um sistema de GPS, possui um Sistema de Navegação Inercial (INS – Inertial Navigation System), no qual são gravadas as coordenadas do alvo, sendo que ambos são accionados no momento em que o projéctil atinge System Test High Angle Fire to Optimize Performance - Power - Gun & Target Location - Trajectory Information - GPS Crypto Keys - GPS Time & Ephemeris - Fuze Mode Figura 2 - Funcionamento da Munição XM 982 Excalibur Fonte: Wikipedia, 2010 56 - BOLETIM DA EPA AS NOVAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA a sua flecha máxima. A partir de então, as quatro aletas de estabilização acopladas ao próprio projéctil, na secção anterior, para além de aumentarem o alcance, vão realizar correcções na sua trajectória, durante o seu voo, proporcionando-lhe um guiamento preciso até ao objectivo, de modo a atacar o alvo quase na vertical, ou seja, com um ângulo de queda elevado (figura 2). A espoleta irá depois cumprir a sua função de acordo com o pretendido e seleccionado, fazendo com que o explosivo detone no objectivo. A munição pode ser compatível com os seguintes sistemas: M109A6 Paladin, Obus M198, Obus M777 e outros. A munição é capaz de atacar uma série de objectivos, desde bunkers reforçados, tropa apeada e veículos blindados ligeiros a carros de combate e Artilharia, podendo com essa finalidade comportar diversas cargas explosivas, nomeadamente (figura 3): Block I, com uma ogiva perfurante; Block II, que transporta submunições Dual-Purpose Improved Conventional Munitions (DPICM) ou Sense and Destroy Armor (SADARM) e Block III, que transporta uma quantidade indeterminada de submunições capazes de localizar, identificar e descriminar objectivos. Durante os ensaios, a Excalibur demonstrou uma elevada precisão, alcançando uma média de erro circular de 4,5 metros, num total de lançamentos de 12 munições. Foi testada em combate pela primeira vez em 2007, no Iraque, obtendo 92% de munições no alvo com 4 metros de CEP em áreas edificadas. Comparativamente com as munições convencionais, possui como uma grande vantagens a excelente precisão, o que leva a uma diminuição dos efeitos colaterais do impacto e o reduzido consumo de munições necessários para bater um objectivo. Porém, apresenta como Figura 3 - Munições Excalibur seccionadas desvantagem o custo muito elevado, designadamente a Block II. Fonte: Deagel, 2010 (2) Geração BONUS A BONUS é uma munição anti-carro, com carga de efeito dirigido, destinada a ser disparada por materiais de calibre 155 mm e concebida para ataque a objectivos blindados estacionados ou em movimento. Pesa 44,6 kg, mede 898 mm, é composta por duas cargas anti-carro de efeito dirigido, com peso de 6,5 Figura 4 - Munição inteligente 155mm BONUS kg cada, capazes de perfurar 130 mm de aço, e Fonte:http://www.baesystems.com possui um alcance máximo de 35 km. O dia 15 de Abril de 2008 ficará gravado, na história da Artilharia francesa, como o dia em que se efectuou tiro pela primeira vez com a munição inteligente 155 mm BONUS (Figura 4). A BONUS foi testada em condições meteorológicas extremas, com rajadas de vento superiores a 80 km/h, tendo-se obtido resultados bastante positivos. Disparada a partir de um Obus localizado a 14 km do objectivo, demonstrou ser capaz de destruir nove carros de combate, com apenas 3 tiros, e sem provocar danos de maior a uma viatura civil colocada no centro do dispositivo. Esta munição foi fabricada em 2 versões, F1 e F2. Utiliza três sistemas de detecção por infravermelhos multibanda, sendo necessária a existência de um contraste térmico entre o objectivo e o fundo, para que a detecção se realize em perfeitas condições. Contrariamente à versão F1, a F2 utiliza um sistema de identificação de designador laser, conferindo-lhe uma maior capacidade de detecção de objectivos (Figura 5). O sensor detecta e identifica alvos, através do processamento de imagens recebidas pelos sensores BOLETIM DA EPA - 57 AS NOVAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA infravermelhos numa vasta frequência e combina os resultados obtidos com um sensor de perfis. Através da medição do perfil do alvo e comparação com os resultados dos infravermelhos, os objectivos remuneradores conseguem ser separados de objectivos falsos, evitando assim danos colaterais contra alvos não militares. Este sistema de sensores faz com que a munição BONUS seja eficaz contra qualquer tipo de alvo, mesmo que esteja equipado com sistemas de protecção activos ou passivos. As submunições, após expelidas da granada-mãe, descem verticalmente, pesquisando objectivos numa área circular de 100 m de raio (figuras 6 e 7). Detectado o objectivo, inicia-se a explosão Figura 5 - Sistema de detecção BONUS Fonte: http://www.baesystems.com da carga provocando a perfuração da blindagem. Os seus efeitos traduzem-se por um aumento brusco da temperatura no interior da viatura, provocando um efeito letal imediato no equipamento e a destruição do alvo. A BONUS pode ser disparada por todos os sistemas de Artilharia, actuais e futuros, desde que em conformidade com os padrões balísticos internacionais, assim como por outros sistemas, desde que utilizando as cargas propulsoras respectivas do material. Esta munição permite um ganho de 75%, relativamente às munições convencionais, para conseguir os mesmos efeitos no objectivo, com um risco mínimo em termos de danos colaterais. (3) Míssil Guiado Unitário M31 GMLRS Devido aos grandes alcances dos sistemas de lançamento e Figura 6 – BONUS em funcionamento Fonte: http://www.baesystems.com foguetes, tornou-se indispensável muni-los de sistemas capazes de garantir um apoio em profundidade com uma elevada precisão, de modo a conseguir limitar ao máximo os danos colaterais. O Míssil Guiado Unitário M31 GMLRS (Figura 8) pode ser disparado pelos lançadores Multiple-Launch Rocket System (MLRS) e High Mobility Artillery Rocket System (HIMARS) e dispõe de um sistema complementado por um GPS integrado na munição, que o torna muito eficaz em ambiente urbano. A sua constituição inclui uma espoleta com diversas funções (rebentamento em percussão, percussão com atraso ou por aproximação) e uma carga principal explosiva, com cerca de 90 Kg de peso. Dispõe de um alcance compreendido entre os 15 e os 70 Km e uma elevada precisão, inferior a 10 metros, sob quaisquer condições meteorológicas. Figura 7 – Área de pesquisa das submunições da BONUS Os danos colaterais produzidos por esta munição, embora sejam Fonte: http://www.baesystems.com inferiores aos produzidos pelas bombas guiadas de aviação JDAM2 (de 500, 1000 e até 2000 libras de carga explosiva) e SDB3 (de 250 libras de carga explosiva), são superiores aos correspondentes das PGM (com cerca de 50 libras de carga explosiva). 2 Joint Direct Attack Munition, trata-se de uma bomba guiada por GPS 3 Small Diameter Bomb 58 - BOLETIM DA EPA Figura 8 – GMLRS Fonte: http://www.diehl-bgt-defence.de AS NOVAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA Esta munição tem a capacidade de atingir apenas certas partes de um edifício, sem ter que destruir toda a estrutura, usando o modo de atraso para poder penetrar na estrutura cerca de um metro antes do rebentamento evitando, assim, que a destruição do edifício cause danos colaterais indesejados. Pode também ser disparada em tiro próximo, com um risco mínimo para as Nossas Forças (NF) e as estruturas envolvente do TO. Para isso, torna-se crucial que seja feito um levantamento tridimensional rigoroso pelas Equipas de Observadores Avançados (OAv), que processado pelo sistema AFADTS4 e enviado para as Unidades de tiro, possa levar a cabo a missão com o máximo efeito e com o mínimo de dispersão do tiro, o que origina a necessidade de um treino contínuo por parte das equipas de OAv. Uma missão deste género, com uma Unidade operacional com treino regular, consegue um nível de proficiência de seis minutos (com levantamentro tridimensional do objectivo) entre o pedido de tiro e o impacto no objectivo, com uma precisão na ordem dos 10 metros. Por outro lado, a antiga espoleta electromecânica, foi substituída por uma nova com dispositivo Electronic Safe and Arm Device (ESAD) (figura 9), de nova geração que funciona através de alta voltagem em detrimento dos interruptores mecânicos. Este tipo de sistema torna-se mais fiável e seguro uma vez que deixa de necessitar recorrer a explosivos de alta sensibilidade para iniciar a cadeia de fogo da munição. Este novo sistema tem também um novo interface de utilizador, que permite programar uma graduação de espoleta de segurança mínima (GESM), verificar o estado da munição em tempo real e armar/detonar até 200 metros do ponto de detonação (o que Figura 9 – Espoleta com dispositivo permite abortar a missão até essa distância). Permite ainda que a Electronic Safe and Arm Device Fonte: http://www.diehl-bgt-defence.de munição/espoleta seja armazenada de forma hermética garantindo uma maior fiabilidade do sistema de funcionamento e maior duração da mesma. Este sistema substituiu todos os dispositivos mecânicos por dispositivos electrónicos, de modo a garantir uma maior precisão e eliminar erros mecânicos devido a problemas de construção e permite, também, realizar testes de ensaio na própria munição, de modo a verificar o bom funcionamento da mesma. A reformulação da espoleta possibilita que esta possa ser aplicada em zonas de proximidade das NF com o mínimo risco e com a possibilidade, como já referido anteriormente, de a poder desarmar até 200 metros do objectivo em caso necessidade, aumentando o controlo sobre a munição e minimizando possíveis baixas nas NF e efeitos colaterais indesejados. d. Sistemas de Correcção da Trajectória Considerando as necessidades dos actuais TO – máxima precisão ao primeiro e provavelmente único tiro (num objectivo pontual), diminuição do consumo de munições e redução dos danos colaterais – começam a surgir alternativas às munições inteligentes de AC, a custo mais reduzido: as espoletas com Sistema e correcção de trajectória. Estas espoletas, dependentes de um sistema de programação, foram desenhadas para serem acopladas à maioria das munições convencionais existentes e visam garantir uma maior precisão, especialmente no que concerne à diminuição da dispersão do tiro, conseguido garantir bons resultados em precisão, mesmo a grandes distâncias. (1) XM 1156 Precision Guidance Kit No que se refere aos Sistemas de Correcção da Trajectória, a XM 1156 PGK (figura 10), desenvolvida pela BAE Systems, é um tipo de espoleta especial que possui aletas, um GPS integrado, que determina a localização da granada e um INS que permite corrigir a trajectória até ao objectivo, contribuindo para 4 Advanced Field Artillery Tactical Data System - Sistema de Comando e Controlo BOLETIM DA EPA - 59 AS NOVAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA uma melhoria significativa na precisão, especialmente a médio e longo alcance, onde a dispersão do tiro se faz notar de uma forma mais acentuada. Esta tecnologia, de baixo custo, pode ser utilizada em projécteis convencionais, de calibre 105mm e 155mm, sendo capaz de reduzir o CEP a 50 metros ou menos para todos os alcances de materiais com calibre 155mm, através do decréscimo do erro em distância, ou dispersão. Esta capacidade está dependente da precisão que é utilizada para efectuar o levantamento topográfico do objectivo (Target Location Error – TLE). Uma vez recebida a missão de tiro, a espoleta PGK é colocada na munição da mesma forma que as espoletas convencionais. Com recurso ao Regulador de Espoletas (EPIAFS - Enhanced Portable Inductive Artillery Fuze Setter) (Figura 11) a “graduação” é transferida para a PGK, designadamente o modo de funcionamento da espoleta, tipo de Obus e a localização do objectivo. Figura 10 – XM1156 PGK Uma vez disparada a munição equipada com esta espoleta, o GPS Fonte: http://www.hrvatski-vojnik.hr activa-se durante o voo seguindo uma trajectória balística até ao vértice, após o qual o processador começa a calcular a distância restante ao objectivo, de forma a determinar quando deverão ser accionados os dispositivos de controlo (travões ou aletas) na parte descendente para a correcção da trajectória. Quando comparada à munição Excalibur, possui como vantagem o baixo preço e a Figura 11 – EPIAFS - Enhanced Portable Inductive Artillery Fuze desvantagem de apresentar uma precisão Setter Fonte: http://www.dtic.mil.de inferior. Posteriormente será atingida a segunda fase, que visa o desenvolvimento do sistema GPS e a minimização de interferências e empastelamento de sinal, diminuindo o CEP para 30 metros, bem como acrescentar o modo de rebentamento com atraso, a função de rebentamento em tempos e tornar a espoleta compatível com as munições de ejecção pela base. Na fase final, a PGK tornar-se-á compatível também com todas munições 105mm, com todas as funcionalidades anteriores e com CEP inferior a 30 metros para todos os calibres. Figura 12 – Comparação do CEP 155mm nos diversos alcances, Paralelamente, leva à necessidade de dotar as utilizando a munição M549A1-High Explosive Rocket Assisted Equipas de OAv de equipamentos capazes de (HERA), munições com PGK e a munição Excalibur Fonte: http://www.globalsecurity.org fazer um levantamento com um TLE inferior ao próprio CEP da espoleta, de forma a garantir resultados eficazes. 60 - BOLETIM DA EPA AS NOVAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA (2) SPACIDO (Système à Précision Améliorée par Cinémomètre Doppler) Outro exemplo de Sistema de Correcção da Trajectória, mais recente, é o SPACIDO (figura 13), da Nexter Systems. É considerado um sistema 1D porque actua apenas numa dimensão: o alcance. O sistema baseia-se na comparação da medição feita pelo radarcronógrafo e a velocidade padrão. Com base nessa comparação o radar-cronógrafo, efectua o cálculo da correcção a ser aplicada e envia-a à espoleta, que munida de equipamento electrónico concebido para o efeito, calcula numa questão de segundos o Figura 13 – SPACIDO momento da trajectória que deve accionar um freio aerodinâmico Fonte: Microtec, 2008 existente na mesma. Este tipo de sistema permite uma grande diminuição da dispersão em alcance, conseguindo reduzir em cerca de 25% o consumo de munições necessárias, e constitui-se como alternativa a sistemas mais dispendiosos, pois é compatível com a maioria das munições existentes. Foi desenhada para se conseguir adaptar com facilidade a todos os sistemas de Artilharia existentes e futuros segundo os protocolos Standardization Agreement - STANAG 4369 e Allied Operations Publications - AOP22. Não depende de sistema GPS, pois funciona através de comunicação rádio entre o radar-cronógrafo e a espoleta, concebido de modo a resistir a acções de guerra electrónica, como o empastelamento e contra-medidas. O sistema possui dois componentes principais, a espoleta e o ground base. O ground base é constituído por: • Um radar-cronógrafo de efeito doppler, capaz de efectuar medições de velocidades até aos 5 km, com um transmissor para enviar a ordem de correcção de trajectória à espoleta (figura 14); • Computador balístico, para cálculo das correcções a introduzir na trajectória (figura 15); • Um mecanismo de graduação de espoleta (figura 16). Figura 14 – Radar-cronógrafo com transmissor Figura 15 – Computador balístico Figura 16 – Mecanismo de graduação de espoleta Fonte: SPACITO 1D Course Correction Fuze – 51st Annual Fuze Conference, 2007 Nashville Existem duas versões disponíveis. Uma, multifuncional, para munições convencionais, que dispõe de um sensor de radiofrequência para regular a altura de rebentamento (semelhante às espoletas VT – Variable Time), um programador para introduzir as correcções na espoleta e accionar o freio, um dispositivo de radiofrequência para receber os dados enviados pelo ground base, uma bateria para alimentar todo o sistema, um processador de sinal, uma fonte de alimentação e uma carga iniciadora (Figura 17). Esta espoleta tem, ainda, a possibilidade de ser programada para rebentamentos em percussão, em percussão com atraso, em tempos ou por aproximação. BOLETIM DA EPA - 61 AS NOVAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA A outra, destina-se a munições de ejecção pela base em que apenas usa o modo de rebentamento em tempos e está adaptada a esse tipo de munições. Qualquer uma das versões permite usar dois modos de trajectória: a balística, que funciona como uma espoleta convencional e a de trajectória corrigida, em que são aplicadas as correcções. A Figura 18 ilustra o funcionamento do sistema SPACIDO, desde que é graduada a espoleta (0), à medição da velocidade inicial do projéctil (1), cálculo da correcção da duração de trajecto e envio da ordem de correcção à espoleta (2) e accionamento do freio aerodinâmico para correcção de trajectória (3) até à activação da espoleta para o rebentamento programado (4). Sensor de Radiofrequência para regular altura de rebentamento Bateria Programador Dispositivo Radiofrequência Carga iniciadora Processador de Sinal e Fonte de Alimentação Figura 17 – Espoleta Multifuncional SPACIDO Fonte: SPACITO 1D Course Correction Fuze – 51st Annual Fuze Conference, 2007 Nashville 4. PROJECTO DINAMIKA Um novo sistema de guiamento por GPS para munições de Artilharia (variando o calibre de 152 a 203 mm) está em desenvolvimento. O Centro de Projectos Kompas, Figura 18 – Funcionamento do sistema SPACIDO Fonte: SPACITO 1D Course Correction Fuze – 51st Annual Fuze da cidade de Moscovo na Rússia, é o responsável pelo Conference, 2007 Nashville projecto, que, assim como a Excalibur, pode ser guiado por GPS (americano) ou pelo Global Navigation Satellite System (GLONASS) (russo). Essa munição apresentará um CEP de 10 metros, semelhante à munição americana. Porém, poderá ser acoplado um sistema de identificação através de laser, que lhe garantirá uma precisão de apenas 1 ou 2 metros. Existe, ainda, uma grande vantagem deste projecto em relação à munição Excalibur, pois não há a necessidade de reduzir a rotação do projéctil, com o intuito de receber o sinal do GPS, simplificando o sistema de controlo e diminuindo o preço da munição. O projecto Dinamika tem prevista a sua conclusão para 2011 (Kramnik, 2008). 5. CONCLUSÕES A necessidade de reduzir os efeitos colaterais, aumentando a precisão da AC, o aumento dos combates em áreas edificadas e a tentativa de obter a precisão na primeira rajada, apontam para o desenvolvimento de munições com maior tecnologia, para que os Exércitos contem com um apoio de fogos eficaz, eficiente e oportuno. Analisando-se os comentários dos conflitos recentes, identificamos a actuação da Artilharia utilizando munições inteligentes, que atingem alvos com extrema precisão, evitando efeitos colaterais como fratricídio, danos a instalações e pessoal civil e um consumo excessivo de munições. A utilização de tais munições permite o apoio de fogos mesmo com tropas amigas próximas do alvo a bater, sem a necessidade de regulações e poupando a utilização do apoio aéreo. Para a AC Portuguesa poder actuar eficazmente revela-se de extrema importância que esta possua a capacidade 62 - BOLETIM DA EPA AS NOVAS MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA de bater objectivos com grande precisão e em qualquer altura do dia, sob quaisquer condições atmosféricas e com elevada precisão ao primeiro tiro. Sendo que, para possuir esta capacidade, é necessária a utilização de munições inteligentes. Com a utilização de munições inteligentes pela Artilharia Portuguesa, assistir-se-ia a um aumento da distância do apoio de fogos às Unidades de manobra e a uma redução significativa do apoio logístico às Unidades de apoio de Fogos. Contudo, temos de ser realistas e reconhecer que estas munições são de elevado custo, apesar de já existirem outras formas de aumentar a precisão menos dispendiosa, tal como os sistemas de correcção de trajectórias. Referências Bibliográficas - DEAGEL (2010). M982 Excalibur. Internet: http://www.deagel.com/Projectiles/M982-Excalibur_ a001159001.aspx - DTIC: Disponível em: http://www.dtic.mil/ndia/2007fuze/SessionIIIA/grilliot1400.pdf, http://www.dtic.mil/ ndia/2008gun_missile/6484KurtzWilliam.pdf e http://www.dtic.mil/ndia/2002fuze/walker.pdf. - ESTADO MAIOR DO EXERCITO, RC 20 -100, Manual de Tiro de Artilharia de Campanha - ESTADO MAIOR DO EXERCITO, MT 20 - Manual de Munições - FAMAG: http://sill.www.army.mil/famag/2007/MAR_APR_2007/Mar_Apr_07_Pages_34_36.pdf - HARRIS, Tom. Como funcionam as munições inteligentes. How stuff works. Disponível em: < http:// ciencia.hsw.uol.com.br/bombas-inteligentes.htm.> Acesso em: 25jul2010. - HENRIQUES, Paulo Zilberman. A utilização pelo exército Brasileiro de munições inteligentes. Disponível em www.cibld.ensino.eb.br/index.php. Acesso em 05Jul10 - KRAMNIK, Ilya. A resposta Russa a Excalibur. Defesa@net, Novosti, 26Mai2008. Disponível em: <http:// www.defesanet.com.br/ru1/dinamika.htm>. 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Disponível em: http://wikipedia.org/wiki/sadarm. Acesso em: 05Jul2010; http://en.wikipedia. org/wiki/M982_Excalibur BOLETIM DA EPA - 63 PUB INTERMARCHÉ VENDAS NOVAS RUA SÃO JOÃO DE DEUS 7080-031 VENDAS NOVAS TEL. 265 805 511 FAX. 265 805 530 JUNTAMOS O ÚTIL AO AGRADÁVEL A EVOLUÇÃO DO SUBSISTEMA ARMAS E MUNIÇÕES: IMPLICAÇÕES PARA A ARTILHARIA DE CAMPANHA PORTUGUESA TCor Art António José Ruivo Grilo1 Maj Art José Carlos Pinto Mimoso1 1 1 “The only thing worse than obsolete weapons in a war is obsolete thinking.” General James Mattis2 1. INTRODUÇÃO O mundo contemporâneo é marcado pela volatilidade e incerteza, actualmente a violência global é assimétrica e permanente, não sendo possível identificar claramente a sua origem, desenvolvendo-se de forma irregular e caótica. Nesta envolvente, a actual conflitualidade caracteriza-se pela assimetria entre as partes em conflito. O Teatro de Operações (TO) perdeu a sua linearidade e as áreas urbanas passaram a ser o “palco” das principais batalhas. Neste ambiente operacional o emprego da força militar sofreu diversos condicionamentos, dos quais podemos destacar a imposição de evitar os danos colaterais3. O carácter da conflitualidade evoluiu, para guerras assimétricas, sem frentes, sem uniformes, de objectivos pouco claros, estando os combatentes misturados com a população, que é utilizada como escudo ou moeda de troca, se necessário. Estas guerras actuais desenvolvem-se em ambiente operacional de cariz subversivo4 e são guerras fundamentalmente acerca das pessoas, que para além dos estados envolvem organizações de um novo tipo que se opõem entre si. No seu desenvolvimento utilizam todas as formas de coacção disponíveis (política, económica, psicológica e militar) para convencerem os líderes políticos adversários de que os seus objectivos são inatingíveis ou muito caros para os benefícios esperados5. De acordo com a Mensagem de S. Exa. o General Chefe do Estado-Maior do Exército, por ocasião das Comemorações do Dia da Arma de Artilharia no dia 4 de Dezembro de 2009, “A Artilharia revê-se no actual espectro de missões, necessariamente mais alargado e com novas especificidades, exigindo cada vez mais especialização, modernização e flexibilidade. Perante a abrangente dimensão das Operações de Resposta a Crises, pretende-se uma Artilharia adaptada e adaptável que, através da sua diversidade de efeitos, evidencie força, conferindo dissuasão ao sistema, e contribua decisivamente com todos os seus subsistemas para a capacidade ISTAR, que se assume actualmente como uma das apostas estruturantes do Exército.” Após a caracterização do actual ambiente operacional, pretendemos neste artigo analisar o impacto e as implicações que as recentes evoluções no subsistema armas e munições de Artilharia de Campanha (AC) têm a nível nacional. Para atingir o fim a que nos propomos, estruturámos o artigo em 5 partes: A introdução, onde levantamos o tema e enquadramos o ambiente operacional; seguidamente apresentamos o emprego da AC nos principais TO da actualidade; continuamos com uma abordagem genérica sobre a evolução das armas e munições de AC, procurando incidir sobre as tendências tecnológicas, operacionais e comerciais; posteriormente efectuamos a análise acerca das implicações e do impacto para a AC portuguesa; terminamos com a apresentação de algumas conclusões sobre os principais desafios que actualmente se colocam à AC em geral e propondo algumas soluções que se podem aplicar ao caso nacional. 1 2 3 4 5 Professores do Gabinete de Artilharia da Área de Ensino Específico do Exército no Instituto de Estudos Superiores Militares. Actual Comandante do Comando Central Americano (USCENTCOM). Luís Leitão Tomé (2004). Novo Recorte Geopolítico Mundial. Lisboa: EDIUAL. São denominadas por alguns autores como de quarta geração, do terceiro tipo, pós modernas ou guerras novas. TCor Inf Francisco Proença Garcia (2009). A resposta das forças de defesa no actual contexto de conflitualidade - no âmbito da NATO. In, Estratégia. Lisboa: Instituto Português da Conjuntura Estratégica - Volume XVIII 2009, pp. 111 - 124. BOLETIM DA EPA - 65 A EVOLUÇÃO DO SUBSISTEMA ARMAS E MUNIÇÕES: IMPLICAÇÕES PARA A ARTILHARIA DE CAMPANHA PORTUGUESA 2. A ARTILHARIA DE CAMPANHA NOS CONFLITOS ACTUAIS O emprego do apoio de fogos, nos actuais conflitos do Iraque e Afeganistão, veio confirmar a importância da AC. Num TO de carácter predominantemente urbano, a disponibilidade permanente, durante 24 horas, com limitada interferência das condições atmosféricas, associado à elevada precisão das munições inteligentes e dos sistemas por guiamento GPS6, bem como a informatização dos sistemas de comando e controlo, contribuem decisivamente para reposicionar a relevância da AC face aos outros meios de apoio de fogos. A Artilharia teve de se adaptar ao empenhamento sobre alvos em áreas urbanas, com elevada densidade populacional, onde devem ser minimizados os danos colaterais7. Nestes TO, colocam-se ainda outros desafios às Unidades de AC, principalmente na fase em que as operações de estabilização se sobrepõem à conduta de operações ofensivas e defensivas. Estas mudanças, implicaram uma transformação do emprego das forças militares, sendo a AC uma das armas mais afectadas pelo actual paradigma do emprego da força militar. Esta temática tem sido alvo de análise em múltiplos artigos de opinião dos quais podemos destacar “The King and I: The Impending Crisis in Field Artillery´s ability to provide Fire Support to Maneuver Commanders”8, que realça a problemática do emprego da AC como elemento primário de apoio de fogos na actual conduta das operações. Verifica-se que a maioria das Unidades de Artilharia está a ser empenhada em tarefas que não estão relacionadas com a sua missão principal de apoio de fogos e de coordenação dos seus efeitos, nomeadamente: assuntos civis; operações psicológicas; operações de informação; escolta a colunas, defesa de pontos sensíveis e até funções de Polícia do Exército. Esta situação tem provocado uma acesa discussão sobre a eventual perda de prontidão operacional da AC e quebra de transmissão dos conhecimentos técnicos nos quadros de Artilharia9. Colocam-se ainda outros desafios neste tipo de operações, ligados aos critérios de precisão por que se passou a reger a utilização da força e a aplicação dos fogos. O critério da diminuição dos danos colaterais, relevou a importância das munições inteligentes na AC, em comparação com outros sistemas, como é o caso do Apoio Aéreo Próximo (CAS – Close Air Support), face à maior precisão conjugada com o menor efeito explosivo da munição (tabela 1). Munição de Artilharia XM-982 155mm Excalibur XM-31 GMLRS Unitary MGM-186E ATACMS Unitary Peso 22 Kg 89 Kg 226 Kg CEP10 <10m 2-3 m ≈10 m Munição de CAS GBU-12 Paveway II GBU-38 JDAM GBU-39/B SBD Peso 226 Kg 226 Kg 113 Kg CEP ≤ 3m ≈ 10m 1.2m Tabela 1 – Tabela de Munições de Precisão11 A crescente importância dos fogos não-letais ampliou a responsabilidade do artilheiro no desempenho da função de coordenador de todo o apoio de fogos12. A área da coordenação dos fogos não-letais pode afirmar-se como uma “janela” de oportunidade para o acréscimo da importância da AC no actual espectro da conflitualidade. 3. EVOLUÇÃO NAS ARMAS E MUNIÇÕES DE ARTILHARIA DE CAMPANHA Em termos de materiais e munições, a AC deve dispor dos sistemas de armas que lhe permitam o cumprimento da sua missão principal de apoio de fogos. A evolução tecnológica nos meios e equipamentos militares, as reduções orçamentais a nível dos investimentos na defesa e as transformações organizacionais nas forças armadas, para 6 Sistema de Posicionamento Global - Global Positioning System. 7 Michael J. Forsyth (2010). Afghanistan: The first six months. In, Fires Bulletim (Mar-Apr 2010), pp. 13-18. 8 The King and I: The Impending Crisis in Field Artillery´s ability to provide Fire Support to Maneuver Commanders. [em linha] [Referência de 01 de Setembro de 2010]. Disponível na Internet em: http://www.npr.org/documents/2008/may/artillerywhitepaper.pdf. 9 James L. Davis (2009). Intermediate level education: helping to combat field artillery atrophy. In, Fires Bulletim (Nov-Dec 2009), pp. 41-43. 10 CEP - Circular Probable Error - Erro Circular Provável 11 Maj Craig A. McCarty (2007). Urban Joint Fire Support: Air Force fixed-wing and Army Field Artillery Precision Munitions capabilities for Urban Operations, p 29. Kansas: Fort Leavenworth. 12 Mark McDonald (2008). Fires for the 2007 Surge in Iraq: Lethal and Nonlethal. In, Fires Bulletim (May-Jun 2008), pp. 6-11. 66 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO DO SUBSISTEMA ARMAS E MUNIÇÕES: IMPLICAÇÕES PARA A ARTILHARIA DE CAMPANHA PORTUGUESA adequar as estruturas militares às actuais missões, têm motivado diversas evoluções a nível dos materiais e munições de AC, das quais destacamos: • Adopção do calibre 155 mm/52 como requisito NATO, verificando-se um campo de actuação cada vez mais reduzido para o calibre 105 mm, normalmente adoptado para equipar Unidades aerotransportadas; • Utilização de obuses AP em veículos de rodas, em detrimento das viaturas de lagartas; • Emprego de munições inteligentes com alcances e níveis de precisão cada vez maiores; • Disponibilidade de sistemas de Comando e Controlo (C2) cada vez mais desenvolvidos e com maior capacidade de processar informação. No fim dos anos 80 estimava-se que a nível mundial existissem 122.000 obuses, dos quais 78% seriam rebocados (na sua maioria 105 mm, 122 mm, 130 mm, 152 mm e 155 mm) e os restantes 22 % Auto Propulsados (AP) (122 mm, 152 mm, 155 mm e 203 mm). Passados mais de 20 anos, este quantitativo diminuiu cerca de 20 %, para um número estimado de 96.000, maioritariamente armazenados em depósito. Nesta evolução, desde a queda do Muro de Berlim até à actualidade, é importante referir que a diminuição se verificou, essencialmente, nos sistemas rebocados, passando de 95.000 para menos de 67.000 e que, no caso dos sistemas AP se verificou um aumento de cerca de 8 %, passando de 27.000 para mais de 29.00013. a. Tendências tecnológicas, operacionais e comerciais Em termos de tipologia de materiais, no que ao tipo de locomoção diz respeito, as forças terrestres podem ser equipadas com três configurações distintas: rebocados, AP em viaturas de lagartas e AP em viaturas de rodas. As vantagens e desvantagens dos dois primeiros tipos já são conhecidas da “comunidade artilheira”, no seu empenhamento operacional de acordo com as suas especificidades. Enquanto os sistemas rebocados são mais baratos, têm menores custos de manutenção, são por norma utilizados para garantir apoio de fogos a Unidades ligeiras devido ao seu menor peso e consequente maior capacidade de helitransporte. Os meios AP são empregues para apoiar forças mecanizadas e motorizadas, face ao seu maior alcance, mobilidade táctica, protecção da guarnição e tempo de reacção (entrada em posição). Os sistemas AP de rodas apresentam-se, actualmente, no centro do debate no que se refere ao meio de locomoção. Discute-se a sua utilização para substituir os meios rebocados14, verificando-se a conquista de parte do mercado relativamente aos sistemas locomovidos por lagartas, devido à sua maior flexibilidade e facilidade de transporte, e menor pegada logística, permitindo o seu empenhamento no apoio a forças projectadas para TO mais longínquos. Apesar da maioria dos meios AP utilizar viaturas de lagartas, o quantitativo de sistemas 155 mm AP em viaturas de rodas quase quadruplicou nos últimos dez anos. b. Calibres dos obuses A tendência de mercado e desenvolvimento de sistemas passa pela generalização do calibre 155 mm, com múltiplas configurações e modelos de comprimento dos tubos e volume das câmaras (mais de 36 para os sistemas 155 AP). Verifica-se uma uniformização na adopção de sistemas “ultra-lightweight” 155 mm/52 modelo NATO, recorrendo a novas ligas de titânio mais resistentes e leves, o que associado ao princípio de “soft recoil”15 (figuras 1 e 2) e carregamento automático, permite obuses 155 mm mais leves, maior cadência de tiro e alcances na ordem dos 40 km, utilizando munições convencionais. Esta configuração está em utilização na missão da NATO no Afeganistão, permitindo cadências de 6 tpm, alcances na ordem dos 42 km e pode chegar aos 55 km com munições especiais16. 13 Gérard Turbé (2010). The Changing World of Artillery. In, Military Technology 6/2010, p. 150. 14 Excepto em caso do apoio de fogos a forças muito ligeiros, como é o caso de tropas pára-quedistas e aerotransportadas. 15 Nestes sistemas, também designados por armas de disparo fora da posição em bateria (Fire out of battery weapons), antes do obus fazer fogo, a ligação elástica empurra o tubo na direcção do disparo. Desta forma, além do recuo ser menor é possível ter ligações elásticas mais leves, o que se reflecte no peso final do sistema de armas e permite obter maiores cadências de tiro porque a entrada em bateria é mais rápida. Conforme representado nas Fig. 1 e 2. 16 Comando da Logística (2010). O General CEME no Eurosatory 2010. In, Jornal do Exército ( Jul 2010), p. 15. BOLETIM DA EPA - 67 A EVOLUÇÃO DO SUBSISTEMA ARMAS E MUNIÇÕES: IMPLICAÇÕES PARA A ARTILHARIA DE CAMPANHA PORTUGUESA Figura 1 - Sistema “Soft Recoil” Fonte: LtCdr Craig M. Payne (2006) Figura 2 - Sistema “Soft Recoil” Fonte: Soft Recoil System (1) Sistemas rebocados A nível mundial estima-se que a distribuição dos calibres utilizados em sistemas rebocados é: 105 mm utilizado em 83 países; 122 mm em 69 países; 130 mm em 39 países; 152 mm em 36 países; 155 mm em 59 países e 203 mm em 6 países17. Apesar do 105 mm continuar a ser o calibre mais comum, os modelos com maior número de exemplares são o Obus M 56 italiano e o M101 A1 americano que já não se encontram em produção e começaram a ser fabricados há mais de 50 anos. Mais recentemente, os modelos L 118 Light Gun de origem inglesa (existente também na versão M119 de fabrico norte-americano), ainda se encontram em produção e são utilizados para apoiar Unidades ligeiras, como é o caso nacional na Brigada de Reacção Rápida. No entanto, o espaço do calibre 105 mm é cada vez menor, perfilando-se por um lado os sistemas 155 mm “ultra-lightweight” com maior alcance, precisão, raio de acção da granada e alguma capacidade de helitransporte e, por outro lado os morteiros 120mm Long Range (estriados), com algumas configurações AP, que têm as mesmas capacidades que o 105 mm em termos de alcance, apresentam menor peso e maior raio de acção da granada. (2) Sistemas AP de lagartas A nível mundial estima-se que a distribuição dos calibres utilizados em sistemas AP de lagartas é: 105 mm utilizado em 7 países; 122 mm em 33 países; 130 mm em 2 países; 152 mm em 23 países; 155 mm em 46 países; 175 mm em 6 países e 203 mm em 19 países18. Neste tipo de sistemas de armas, considerando o baixo número de países que dispõem deste tipo de material, parece previsível que os meios de 105 mm, 130 mm e 175 mm tenham tendência a desaparecer a curto e médio prazo. Os sistemas 122 mm são utilizados em muitos países ligados ao ex-Pacto de Varsóvia e apesar de serem considerados obsoletos, devem continuar a equipar algumas forças com menos capacidades de investimento na área de defesa, ou exércitos que disponham de requisitos operacionais mais modestos. Neste tipo de sistemas de armas verifica-se “uma competição” entre os meios 152 mm originários da Rússia/ China e o 155 mm de origem ocidental. Neste último tipo de materiais os modelos da família M 109 ainda dominam este espólio; no entanto, a sua existência quase exclusiva nos anos 80 está, actualmente, bastante mais diversificada com outros modelos mais modernos. 17 Gérard Turbé (2010). The Changing World of Artillery. In, Military Technology 6/2010, p. 151. 18 Gérard Turbé (2010). The Changing World of Artillery. In, Military Technology 6/2010, p. 152. 68 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO DO SUBSISTEMA ARMAS E MUNIÇÕES: IMPLICAÇÕES PARA A ARTILHARIA DE CAMPANHA PORTUGUESA (3) Sistemas AP de rodas A nível mundial estima-se a seguinte distribuição destes sistemas AP de rodas: 152 mm utilizado em 4 países e 155 mm em 9 países, verificando-se que a nível comercial também existem ofertas para sistemas 105 mm e 122 mm. Actualmente, existem encomendas de 1.000 sistemas efectuadas por dez países e prevê-se que nos próximos anos este número possa vir a duplicar19. Por diferentes razões este tipo de armas tem vindo a rivalizar com os meios rebocados e os meios AP de lagartas. Relativamente aos primeiros, apresentam maior protecção para a guarnição, menor tempo de entrada e saída em posição, maior mobilidade a nível do seu emprego táctico e um encargo logístico mais simplificado, uma vez que um único tipo de viatura transporta o obus, a guarnição e munições. Em relação aos segundos, têm um menor custo de aquisição, requisitos de manutenção mais simples, são mais facilmente transportáveis, o que lhes confere uma maior mobilidade estratégica, apoiando mais facilmente a função de combate movimento e manobra. c. Munições Para efectuar o apoio de fogos com eficácia e eficiência, são vários os factores que influenciam e contribuem para alcançar este objectivo, nomeadamente o tipo de munições disponíveis20, a correcta selecção da combinação granada espoleta no ataque aos objectivos (Land targeting), desempenho balístico interno e externo da munição, poder de destruição da carga, treino e proficiência da guarnição dos obuses e observadores avançados, assim como todo o processo de sistema de cálculo e transmissão de elementos de tiro. Analisando os factores anteriormente referidos e a tecnologia disponível há maioria dos países, o empenhamento sobre alvos fixos com pouca mobilidade e com fraca protecção é relativamente simples. No entanto, é bastante difícil o empenhamento sobre alvos móveis, de reduzidas dimensões e com algum grau de protecção. Neste considerando, em termos teóricos, são necessários cerca de 30 salvas de 155 mm HE/P para bater três viaturas blindadas numa área de 100x100m. As dificuldades enunciadas deparam-se com dois problemas, nomeadamente a nível logístico/operacional e político. Em termos logísticos, não é exequível o transporte e consumo de um quantitativo tão elevado de munições; por outro lado, nas actuais missões, os danos colaterais devem ser reduzidos ao mínimo, de forma a limitar o impacto negativo na população local e consequentes repercussões estratégicas e políticas. Nestes aspectos, a evolução tecnológica tem-se revelado essencial para colmatar estes problemas. Podendo destacar-se neste âmbito: • A adopção do calibre NATO 155 mm/52 que permite alcançar um bom compromisso entre peso/dimensão do obus e o seu desempenho balístico, e consequente eficácia, colocando a munição convencional a 40 km, de acordo com o quesito operacional focalizado nas actuais dimensões da área de operações; • Os novos sistemas de carregamento automático e tipo de ligas dos materiais que permitem uma cadência de 3 tiros em 20 segundos, e a manutenção de cadências elevadas, que chegam aos 6 tpm durante vários minutos; • O surgimento dos mais variados tipos de munições inteligentes que permitem o guiamento terminal, podem ter sub-munições com sensores na respectiva espoleta e possibilitam a introdução de correcções durante a sua trajectória. Desta forma, a evolução nas munições de AC permite actualmente o seu emprego, de forma “cirúrgica” com um erro circular mínimo, sobre alvos em movimento com elevada protecção, minimizando eventuais danos colaterais na área do objectivo21. Este facto, associado aos baixos tempos de reacção, torna o emprego destas munições essencial para serem utilizadas em alvos de oportunidade, denominados Time Sensitive Targets22 (TST). A generalização do uso dos sistemas de navegação por GPS, associados aos mais variados desenvolvimentos a 19 Gérard Turbé (2010). The Changing World of Artillery. In, Military Technology 6/2010, p. 152. 20 Até a um passado recente as unidades de AC de muitos países, como é o caso de Portugal, basicamente só dispunham do tipo HE para assegurar o apoio de fogos. 21 Brady B. Johnson (2010). Employing special munitions in the contemporary operating environment. Fires Bulletim (Mar-Apr 2010), pp. 37-40. 22 Alvos de oportunidade que pelas suas características em termos de importância e fugacidade requerem um empenhamento imediato. BOLETIM DA EPA - 69 A EVOLUÇÃO DO SUBSISTEMA ARMAS E MUNIÇÕES: IMPLICAÇÕES PARA A ARTILHARIA DE CAMPANHA PORTUGUESA nível das tecnologias da informação e sistemas de C2, permite à AC ocupar posições e efectuar missões de tiro de forma precisa e eficaz em curtos espaços de tempo, bem como o controlo direccional por boca de fogo, com elementos de tiro individualizados, permitindo a utilização corrente dos quadros de tiro adequados à tipologia dos objectivos. A nível de C2 destaca-se a transmissão automática de dados dos elementos de tiro, de forma individualizada para cada unidade de tiro das baterias, o que pode transformar cada um dos obuses em sistemas autónomos, permitindo a execução de fogos de eficácia sem regulação. Além disso, permite rentabilizar a capacidade de cada obus, através do cálculo de dados de carga e trajectória para efectuar Tiro Simultâneo sobre o Objectivo (TSO) a diferentes trajectórias, por cada uma das armas das baterias, maximizando os efeitos de massa no objectivo. Em termos práticos, dependendo do tipo de munições, com munições HE é possível alcançar um TSO, por obus, de 3 a 6 disparos em alcances de 15 a 35 km, com uma precisão de 95 m a 15 km e 275 m a 30 km. Em termos de precisão, estes valores sobem drasticamente para erros inferiores a 10 m quando são utilizadas munições inteligentes. Esta evolução ficou claramente demonstrada com a utilização de munições de precisão com guiamento terminal na Operação “Desert Storm”, onde uma única munição teve a eficácia equivalente a 170 granadas na Guerra do Vietname ou 9.000 granadas durante a 2ª Guerra Mundial23. As munições de precisão e os actuais processos de targeting permitem a identificação, localização e destruição de um alvo pontual até 5 minutos de tempo de resposta, ou seja, bater alvos decisivos, rapidamente, com precisão e eficácia, a curtas e longas distâncias sem infligir danos colaterais, factor essencial no ataque a objectivos voláteis (guerra de 4ª geração).24 A constante preocupação em minimizar os danos colaterais está a provocar o desenvolvimento de munições nãoletais, para neutralizarem e suprimir pessoal e material. Na primeira categoria estão a ser efectuados testes de munições para serem utilizadas em controlo de tumultos, limpeza e interdição de determinadas áreas. Na segunda categoria, para actuar sobre material, estão a ser desenvolvidas munições que utilizam a energia electromagnética para serem empregues com a finalidade de interferir no funcionamento de veículos, instalações e determinado equipamento. Embora estes sistemas de armamento ainda estejam em fase de estudo, tudo indica que a capacidade da Artilharia dispor de munições não-letais num futuro próximo vai ser uma realidade25. 4. IMPLICAÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA NACIONAL a. Situação actual Em termos de organização, o Decreto-Lei 231/2009 de 15 de Setembro define a Organização do Exército, estabelecendo na sua estrutura orgânica os elementos da Componente Operacional do Sistema de Forças que deverão satisfazer três características principais: capacidade de resposta em todo o espectro do conflito; flexibilidade para constituir forças de acordo com as necessidades do ambiente operacional; credibilidade a nível dos meios empregues e formação dos seus quadros. As três Brigadas da Componente Operacional do Sistema de Forças apresentam características próprias que orientam o seu empenhamento de acordo com a situação concreta. Estas Grandes Unidades (GU), assentam na distribuição territorial do Exército e diversas forças de apoio geral que, de forma modular, lhe asseguram capacidades adicionais. Em termos de apoio de fogos os Grupos de Artilharia de Campanha (GAC) que equipam estas unidades são (tabela 2): 1 GAC 155AP M109A5 na Brigada Mecanizada (BrigMec); 1 GAC 155Reb M114 A1/23 na Brigada de Intervenção (BrigInt) e 1 GAC 105 M119 Light Gun na Brigada de Reacção Rápida (BrigRR). Para alcançar esta organização, destacamos a Directiva 13/CEME/08 que determinou a transferência do GAC da BrigInt, sedeado no RA 4, para a BrigRR e a organização e levantamento do GAC da BrigInt, com subunidades sedeadas na EPA e no RA 5. Através da implementação desta Directiva, em 30 de Julho de 2008, a BrigRR passou a dispor de uma capacidade de apoio de fogos autónoma. No caso da BrigInt, numa primeira fase, foi reposta a 23 Brian Steed (2003). Armed Conflit, Lessons of Modern Warfare, p 39. 24 TCor Art António Grilo (2010). A Caracterização das Operações em Áreas Edificadas e os Contributos das Unidades de Artilharia. In, Revista de Artilharia (AbrJun 2010). 25 Richard L. Scott (2010). Full-spectrum artillery. In, Fires Bulletim ( Jan-Feb 2010), pp. 39-41. 70 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO DO SUBSISTEMA ARMAS E MUNIÇÕES: IMPLICAÇÕES PARA A ARTILHARIA DE CAMPANHA PORTUGUESA operacionalidade dos obuses 155 Reb M114 A1/23 e levantado o Comando do Grupo e uma Bateria de Bocas de Fogo (Btrbf ) no RA 5, uma Btrbf na EPA, uma outra Btrbf e a 3ª Btrbf e uma Bateria de Comando e Serviços em Ordem de Batalha (OB). A segunda fase será concluída com a aquisição de obuses 155 mm do tipo Light Weight, após a qual serão levantadas as Baterias em OB26. BrigMec BrigInt BrigRR Alcance máximo – 19.300 m Peso – 27.500 kg Alcance máximo – 14.600 m Peso – 5.800 kg Alcance máximo – 11.400 a 19.500 m (conforme munição) Peso – 1.814 kg Tabela 2 – AC do Sistema de Forças Nacional27 b. Análise do impacto das tendências de evolução Face às tendências de evolução a nível das armas, munições e emprego da Artilharia na actualidade, identificamos os desafios que se colocam a nível nacional no âmbito das armas/munições e da doutrina/formação. (1) Armas e munições No Sistema de Forças Nacional (SFN), através dos respectivos GAC, o apoio de fogos é garantido a forças ligeiras para a BrigRR, médias para a BrigInt e pesadas para a BrigMec, através dos GAC orgânicos das respectivas Brigadas. Em termos de obuses, a tipologia dos materiais é adequada às forças que apoiam; no entanto, o GAC 155 Reb M114 apresenta algumas limitações, principalmente, a nível de peso, alcance e incapacidade de disparar munições especiais, o que condiciona não só a sua mobilidade táctica, mas também a projecção estratégica e emprego operacional. Em termos genéricos, conforme já foi referido, as Unidades de Artilharia devem dispor de sistemas de armas e munições que lhes permitam cumprir a sua missão de apoio de fogos, no actual contexto de conflitualidade. Desta forma, em termos nacionais, torna-se essencial que as Unidades obedeçam a diversos requisitos dos quais destacamos: • Interoperabilidade de meios e sistemas que permitam o seu emprego em todo o espectro das operações a nível conjunto e combinado. Neste âmbito, é fundamental a utilização dos Sistemas de Informação e Comunicações como garante da interoperabilidade entre os países da Aliança e das outras organizações de segurança e defesa de que Portugal faz parte. Convém referir que sendo os GAC do SFN de calibre 105 mm e 155 mm, não se colocam nesta fase obstáculos à interoperabilidade; • Capacidade de projecção rápida, de forma a serem empregues em Forças de Reacção Rápida e Forças de Entrada Inicial. Os materiais, de acordo com o seu peso e volumetria, devem ter a possibilidade de serem facilmente transportados pelos actuais meios de transporte aéreo; • Capacidade de reacção rápida e precisão, fundamental para a afirmação da AC nos actuais TO, conforme referido anteriormente. Embora Portugal não disponha de munições inteligentes, é imprescindível que a nível dos seus quadros se desenvolva a capacidade técnica para operar com esta família de munições. No 26 Gabinete do Chefe do Estado-Maior do Exército (2010). Transformação do Exército no período 2007-2009, p. 135. 27 Fotos e dados referidos nas Fichas de Material da Direcção de Material e Transporte. BOLETIM DA EPA - 71 A EVOLUÇÃO DO SUBSISTEMA ARMAS E MUNIÇÕES: IMPLICAÇÕES PARA A ARTILHARIA DE CAMPANHA PORTUGUESA entanto, com os actuais materiais e munições disponíveis é possível rentabilizar o tempo de reacção e a precisão destes meios até aos limites do erro provável dos materiais. Neste sentido, além da implementação de Tácticas, Técnicas e Procedimentos (TTP) adequados, é também necessário o emprego de meios de transmissão automática de dados entre todos os componentes do Sistema de AC. Em termos de melhoria da eficácia é fundamental a utilização de sistemas integrados que permitam determinar automaticamente o plano de implantação, efectuar pontarias e aferir o tiro; • Aumento dos alcances e campos de tiro. A não linearidade do espaço de batalha conduz à dispersão das Unidades, criando áreas não ocupadas por forças, o que provoca alterações das Zonas de Acção para a AC que deixam de se limitar ao acompanhamento das Unidades de manobra. Esta realidade implica a necessidade de um aumento dos alcances e de uma capacidade de apoio em 360º, garantido uma maior capacidade de resposta. De acordo com os requisitos para a AC, previstos no Minimum Military Requirement dos Capabilities Statements da NATO para o Force Goal Cycle 2008, os alcances com munições convencionais têm como referência os 18, 25 e 40 km para os sistemas rebocados, AP e lança foguetes, respectivamente; • Emprego modular, permitindo o empenhamento a nível escalão GAC, Btrbf, ou até Pelotão de bocas de fogo/aquisição de objectivos. Caso se verifiquem os requisitos de interoperabilidade, estes escalões podem ser empregues separadamente em forças multinacionais. Neste âmbito, poderá ser equacionada a possibilidade de constituir Baterias a 8 bocas de fogo, permitindo a constituição de Pelotões a 4 Secções, de modo a garantir o emprego descentralizado escalão Pelotão. (2) Doutrina e formação No ambiente operacional contemporâneo, a Artilharia passou a desempenhar algumas funções que não estão directamente relacionadas com a sua missão principal de apoio de fogos. Além disso, a crescente importância do targeting e dos fogos não-letais faz com que seja necessário rever e actualizar todo o corpo doutrinário e programas de formação/qualificação, no que à AC diz respeito. Neste domínio salientamos as seguintes necessidades: • Em termos doutrinários os actuais manuais de Artilharia estão direccionados para o emprego da Arma em operações convencionais, concretamente no emprego dos fogos letais no apoio de operações ofensivas e defensivas, tornando-se assim imperativo actualizar e rever os Manuais de Táctica, Tiro e de Aquisição de objectivos, bem como elaborar doutrina de targeting e TTP para os diversos escalões da Artilharia; • Adequar a formação dos quadros a nível das Operações de Informação para permitir um melhor desempenho das funções de Coordenador de Apoio de Fogos (CAF), especialmente nos fogos não-letais, tornando o artilheiro num coordenador de efeitos. Neste âmbito, as células de coordenação de apoio de fogos deveriam incluir um “Elemento de Fogos Não-letais”, que seria guarnecido por elementos da Arma de Artilharia; • Rever os procedimentos relativos à condução das missões de tiro, considerando que a capacidade de resposta do apoio de fogos deve ser compatível com a fugacidade dos objectivos a bater. Actualmente, a duração média das missões de tiro não deve exceder os 2 minutos entre o pedido inicial de tiro e a entrada em eficácia, obrigando a que as regulações sejam abreviadas a 1 ou 2 tiros, facto que só é exequível com a utilização constante de elementos de tiro aferidos e correcções de posição28; • Considerando que em operações de estabilização as Unidades de Artilharia desempenham outras tipologias de missões para além do apoio de fogos, torna-se necessário ajustar os programas de formação de Oficiais, Sargentos e Praças para permitir o seu empenhamento nesta tipologia de operações. Esta realidade também pode ser alcançada através do reforço das preocupações e treino de procedimentos a nível táctico, que se podem manter a par das preocupações de ordem técnica, sempre presentes na execução dos fogos e exercícios de Artilharia; 28 TCor Art António Romão e TCor Art António Grilo (2008). Reflexões Sobre o Emprego da Artilharia de Campanha no Ambiente Operacional Contemporâneo. In, Boletim de Informação e Divulgação da Escola Prática de Artilharia, pp. 7-22. 72 - BOLETIM DA EPA A EVOLUÇÃO DO SUBSISTEMA ARMAS E MUNIÇÕES: IMPLICAÇÕES PARA A ARTILHARIA DE CAMPANHA PORTUGUESA • Perante a necessidade de obter cada vez maior rapidez de empenhamento, o treino das Btrtbf deveria assentar cada vez mais em métodos de controlo positivo e emprego descentralizado das bocas de fogo por escalões de Pelotão, e garantindo que para a determinação de elementos de tiro se recorre cada vez mais ao cálculo e transmissão automática de dados entre todos os sistemas que compõem a AC. 5. CONCLUSÕES A actual conflitualidade provocou profundas alterações no emprego da força. Estas mudanças reflectiram-se inevitavelmente na Artilharia de Campanha, provocando uma alteração do paradigma da massa de fogos para bater objectivos de área que se poderia caracterizar pela frase “a artilharia destrói e a infantaria conquista”, para uma realidade de ataques de elevada precisão sem provocar danos colaterais. Nesta realidade, e conforme procuramos realçar neste artigo “a recente tipologia dos conflitos armados continuou a demonstrar a indispensabilidade do emprego da Artilharia como um incontornável elemento de apoio de fogos à manobra”29. Tendo como referência a citação inicial do General James Mattis, consideramos fundamental para ultrapassar este paradigma, que as unidades de AC superem os seguintes desafios: • Desenvolver capacidades de integração e coordenação efectiva dos fogos letais e não-letais; • Capacidade de reacção rápida, precisa, letal e não-letal no empenhamento sobre todo o tipo de alvos, em especial os TST, sem provocar danos colaterais; • Participar de forma activa e assumir um papel de coordenação a nível do processo de targeting da componente terrestre; • Descentralizar o emprego das subunidades aos mais baixos escalões; • Flexibilidade e adaptabilidade de emprego no cumprimento de outras missões para além do apoio de fogos. Tendo como referência os cinco desafios anteriormente apresentados, concretamente no que respeita à Artilharia portuguesa, as considerações efectuadas permitem-nos concluir que as soluções, além de passarem por rentabilizar os meios disponíveis e investir no capital humano, são: • Recorrendo aos meios e materiais disponíveis, implementar e treinar TTP que permitam cada vez mais uma maior precisão e um menor tempo de resposta no desempenho das missões de apoio de fogos; • Organizar os GAC do SFN de forma flexível e modular, para permitir o seu empenhamento e integração em forças multinacionais; • Organizar os Elementos de Apoio de Fogos das GU de forma a permitir a coordenação dos fogos letais e nãoletais; • Rever e actualizar o corpo doutrinário no que se refere ao emprego das unidades de Artilharia em operações de estabilização; • Assumir um papel de destaque no processo de targeting a nível do Exército; • Adequar os programas de formação dos quadros e treino das unidades para permitir o seu empenhamento no desempenho de outro tipo de missões, de acordo com as actuais exigências do ambiente operacional, sem nunca descurar a essência da sua missão principal que faz com que a AC seja “o principal meio de apoio de fogos terrestres do Comandante da força”30. Concluímos assim, que a Artilharia continua a desempenhar um papel fundamental enquanto elemento de apoio de fogos e coordenador de efeitos, vendo o seu espectro de actuação alargado em face da evolução do contexto de emprego de fogos letais e não-letais, e do desenvolvimento do subsistema de armas e munições. 29 Mensagem do Exmo. Tenente-General Formeiro Monteiro, Director Honorário da Arma de Artilharia, por ocasião das Comemorações do Dia da Arma de Artilharia no dia 4 de Dezembro de 2009. 30 MC 20-100 (2004). Manual de Táctica de Artilharia de Campanha. BOLETIM DA EPA - 73 A EVOLUÇÃO DO SUBSISTEMA ARMAS E MUNIÇÕES: IMPLICAÇÕES PARA A ARTILHARIA DE CAMPANHA PORTUGUESA Referências Bibliográficas Livros e Manuais - BRIAN STEED (2003). Armed Conflit, Lessons of Modern Warfare. Presidio Press - GABINETE DO CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO (2010). Transformação do Exército no período 2007-2009. - LTCDR CRAIG M. PAYNE, US NAVY (2006). Pinciples of Naval Weapons Systems. 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TGen Joaquim Formeiro Monteiro, Comandante da Logística do Exército e Director Honorário da Arma de Artilharia, o Exmo. TGen António José Maia de Mascarenhas, Comandante da Instrução e Doutrina do Exército e o Exmo. MGen Alfredo Nunes da Cunha Piriquito, Director de Formação do Comando da Instrução e Doutrina. Na sequência das comemorações, teve lugar pelas 11H00 na Parada El-rei D. Pedro V, a Cerimónia Militar. Este espaço, localizado na parte exterior da Unidade frente à Porta de Armas, foi escolhido com o propósito de aproximar as festividades da população da Cidade, que assim teve oportunidade de assistir ao evento. Cerimónia Comemorativa do Dia da Arma de Artilharia e da EPA Juramento de Bandeira do 7º CFGCPE de 2009 No dia 22 de Dezembro realizou-se na EPA o Juramento de Bandeira do 7º Curso Formação Geral Comum Praças do Exército. Juramento de Bandeira do 7º CFGCPE de 2009 Outras Actividades: 02Dez – Abertura do Estágio de Transmissões da Arma; 15Dez – Inauguração do Presépio da EPA; 18Dez – Cerimónia de Apresentação do Estandarte Nacional da EPA ao 7º CFGCPE de 2009; 22Dez – Festa de Natal dos militares da EPA e suas famílias. 76 - BOLETIM DA EPA A EPA NO ANO DE 2010 ACTIVIDADES JANEIRO Abertura do Curso de Promoção a Capitão de Artilharia 2010 Em 11 de Janeiro decorreu a Cerimónia de Abertura e Boas-Vindas do Curso de Promoção a Capitão de Artilharia (CPCA) de 2010, composto por 10 Tenentes de Artilharia. A Cerimónia, presidida pelo Comandante, decorreu no Salão Nobre da Escola e contou com a presença do 2º Comandante, EstadoMaior, Direcção do Curso, Formadores do Curso e um representante do Regimento de Artilharia Antiaérea Nº1 (RAAA1). Abertura do curso de Promoção a Capitão de Artilharia 2010 Reunião da Comissão Executiva da “Revista de Artilharia” Reunião da Comissão Executiva da “Revista de Artilharia” No dia 14 de Janeiro realizou-se na EPA, mais uma reunião da Comissão Executiva da “Revista de Artilharia”, na qual esteve presente o Ex.mo TGen Joaquim Formeiro Monteiro, na qualidade de Presidente. Na recepção do Ex.mo TGen Formeiro Monteiro, além do Comandante da Escola Prática, Cor Art Henrique José Pereira dos Santos, esteve também presente o Ex.mo TGen António José Maia de Mascarenhas, Comandante da Instrução e Doutrina (CID). A reunião contou ainda com a presença do Ex.mo MGen Frederico José Rovisco Duarte, na qualidade de Vice-Presidente, e dos restantes elementos da Comissão Executiva da “Revista de Artilharia”. Outras Actividades: 07Jan – Marcha Colectiva no Polígono de Tiro de Vendas Novas; 11Jan – Início do Curso de Meteorologia para Sargentos de 2010; 11 a 22Jan – Curso de Operador do Battery Computer System (BCS) 2010; 11 a 15Jan – Exercícios Finais de Campo do 3º CFGCPE de 2009; 13 a 14Jan – Exercício de Fogos Reais “REGULAÇÃO 101”; 14Jan – Participação da EPA nas comemorações da Batalha das Linhas de Elvas; 19Jan – Exercício de Fogos Reais “Regulação 102”; 19 a 28Jan – Campeonato Interno de Futsal; 20Jan – Início do 1º CFO de 2010; 20Jan – Visita do Comandante da Academia Militar, TGen Paiva Monteiro, ao TPOA 09/10; 25 a 29Jan – Curso de Operador do Forward Observer System (FOS) 2010; 28Jan – Despedida do Director de Formação do Comando da Instrução e Doutrina, MGen Cunha Piriquito; 29Jan – Palestra ministrada pelo TCor Art Setoca sobre a sua experiência em Timor-Leste BOLETIM DA EPA - 77 A EPA NO ANO DE 2010 ACTIVIDADES FEVEREIRO Exercício de Fogos Reais “REGULAÇÃO 103” No dia 02 de Fevereiro realizou-se no Polígono da EPA, o Exercício de Fogos Reais “REGULAÇÃO 103”, TPOA 2009/10 e do 37º CFSA. Juramento de Bandeira do 1º CFO 2010 Juramento de Bandeira do 1º CFO 2010 No dia 26 de Fevereiro, realizou-se o Juramento de Bandeira do 1º CFO 2010, o qual foi presidido pelo Ex.mo MGen António Francisco Alves Rosa, Director do Instituto Militar dos Pupilos do Exército. Exercício de Fogos Reais “REGULAÇÃO 103” Inspecção Técnica do Comando do Pessoal Integrada no Plano Anual de Inspecções do Exército (PAIE), decorreu nos dias 2, 3 e 4 de Fevereiro, uma Inspecção Técnica do Comando do Pessoal. Esta Inspecção incidiu sobre o Moral e Bem Estar do Pessoal, Obtenção de Recursos Humanos, Administração de Pessoal, Justiça e Disciplina, Droga e Alcoolismo, Encargos com o Pessoal, Higiene e Segurança do Pessoal e Instalações e Análise da Documentação. Inspecção Técnica do Comando do Pessoal Outras Actividades: 01 a 03Fev – Curso de Operador de GDU; 02Fev – Convívio desportivo ente a EPA e a GNR (Trânsito) de Vendas Novas; 02Fev – Exercício de Fogos Reais “Regulação 103”; 03Fev – Prova Gen Silveira Machado e TCor Passos Ramos; 04Fev – Campeonato interno de Orientação da EPA; 08Fev – Incorporação do 2º CFGCPE 2010; 08 a 11Fev – Inspecção Técnica do Comando da Logística; 08 a 12Fev – Exercícios Finais de Campo do 7º CFGCPE de 2009; 10Fev – Torneio de Voleibol entre a EPA e a Escola Secundária de Vendas Novas; 10 a 26Fev – 1º Curso de Operador de RLA e Operador de RLAM de 2010; 18Fev – Dádiva de Sangue; 19Fev – Apresentação do Estandarte Nacional da EPA ao 1º CFO de 2010; 23Fev – Visita dos cadetes do 2º Ano do Curso das Armas da Academia Militar; 23 a 26Fev – Exercício Táctico e de Fogos Reais de Artilharia dos alunos do 4º ano da Academia Militar; 25Fev – Convívio Desportivo entre a EPA e os Bombeiros Voluntários de Vendas Novas; 26Fev – Cerimónia de Juramento de Bandeira do 1º CFO/10. 78 - BOLETIM DA EPA A EPA NO ANO DE 2010 ACTIVIDADES MARÇO Visita do Director da Formação do CID à EPA No dia 17 de Março, visitou pela primeira vez a EPA, na qualidade de Director da Formação do CID, o Ex.mo MGen António José Pacheco Dias Coimbra. Visita do Director da Formação do CID à EPA Visita do Director da Formação do CID à EPA Curso de Apoio de Fogos e de Introdução ao Targeting 2010 No período de 08 a 19Mar10 decorreu na EPA o Curso de Apoio de Fogos e de Introdução ao Targeting 2010, destinado aos postos de Major e Capitão de Infantaria, Artilharia, Cavalaria, ou postos equivalentes da Armada e da Força Aérea. A acção de formação foi frequentada por dois Capitães de Artilharia, sendo um da EPA e outro do GAC/BrigMec, e um 1º Tenente do Corpo de Fuzileiros e destinou-se a habilitar os formandos a desempenhar as funções inerentes aos cargos de Oficial de Targeting de um Elemento de Apoio de Fogos de escalão Batalhão e Brigada, e de formador das matérias relacionadas com o Apoio de Fogos e o Targeting. Curso de Apoio de Fogos e de Introdução ao Targeting 2010 Outras Actividades: 01 a 12Mar – Curso de Operador do Computador de Tiro de Artilharia GUNZEN MK3 de 2010; 9 a 29Mar – 2º Curso de Operadores de Bocas de Fogo M114A1 155 Rebocadas; 10Mar – Teste ao Plano de Emergência da EPA; 11Mar – Apresentação do Estandarte Nacional da EPA ao 2º CFGCPE de 2010; 16Mar – Campeonato Interno de Corta-Mato; 17Mar – Juramento de Bandeira do 2º CFGCPE de 2010; 18Mar – 1º Convívio entre Militares na Reserva e Reforma residentes em Vendas Novas e os Quadros da EPA; 18Mar – Participação na acção nacional “Projecto Limpar Portugal”; 22 a 26Mar – Estágio de Transmissões para Sargentos de Artilharia de 2010; 23Mar – Dia do Ambiente da EPA; 24 a 26Mar – Participação no Campeonato Militar Desportivo de Orientação – Fase Exército; 25Mar – Exercício de fogos reais “REGULAÇÃO 105”; 30Mar – Visita do Comandante da Instrução e Doutrina TGen Luís Miguel de Negreiros Morais de Medeiros. BOLETIM DA EPA - 79 A EPA NO ANO DE 2010 ACTIVIDADES ABRIL Homenagem aos militares de Vendas Novas mortos na I Grande Guerra No dia 09 de Abril, a EPA deu mais uma vez corpo à celebração da Cerimónia das Comemorações da Batalha de La Lys em homenagem aos Militares mortos pela Pátria. A homenagem constou de uma Cerimónia Militar junto ao Monumento aos Artilheiros Mortos na I Grande Guerra, no jardim da Escola Prática de Artilharia, com uma Guarda de Honra de efectivo Secção e a deposição de coroas de flores. Homenagem aos militares de Vendas Novas mortos na I Grande Guerra Participação da Bateria de Aquisição de Objectivos no Exercício Eficácia 2010 Participação da Bateria de Aquisição de Objectivos no Exercício Eficácia 2010 De 12 a 24 de Abril decorreu no Campo militar de Santa Margarida mais uma edição da serie do Exercício Eficácia. A EPA contribuiu com a participação da Bateria de Aquisição de Objectivos Outras Actividades: 06 a 14Abr – Participação da BBF no Exercício Eficácia; 07 e 08Abr – Tiro de Manutenção; 12Abr – Campeonato de Tiro na EPA; 09Abr – Homenagem aos militares de Vendas Novas mortos na I Grande Guerra; 23Abr – Participação de militares da EPA no Corta Mato fase CID; 30Abr a 02Mai – Participação da EPA na III Feira Internacional do património, em Elvas. 80 - BOLETIM DA EPA A EPA NO ANO DE 2010 ACTIVIDADES MAIO Marcha da Primavera da EPA No dia 11 de Maio realizou-se mais uma Tradicional Marcha Colectiva da Primavera nos terrenos do Polígono da Escola Prática. Tendo por objectivo o desenvolvimento das capacidades físicas de cada militar e o fortalecimento do espírito de camaradagem de entreajuda entre todos, é neste tipo de actividade que se revelam as capacidades de empenho de cada um e a boa disposição, características necessárias para ultrapassar a rudeza da prova. Marcha da Primavera da EPA Seminário de Artilharia No dia 19 de Maio decorreu o Seminário da Arma de Artilharia, subordinado ao tema “A Artilharia nas Operações em Áreas Edificadas”. Este evento, organizado e coordenado pela EPA, teve como finalidade promover o conhecimento sobre o emprego da Artilharia em Operações em Áreas Edificadas, permitindo simultaneamente o debate de ideias e a reflexão sobre a evolução da Artilharia Portuguesa. Seminário de Artilharia Outras Actividades: 05 a 06Mai – Exercício de Fogos Reais dos Cadetes do 4º ano da Academia Militar; 10Mai a 01Jun – Curso do Operador do Simulador de Tiro de Artilharia de Campanha INFRONT IV; 10Mai a 29Jun – Curso do Operador do Advanced Field Artillery Tactical Data System (AFATDS) de 2010; 11Mai – Cerimónia de entrega de prémios dos Campeonatos desportivos internos de 2009; 18Mai a 15Jun – Campeonato Interno de Andebol de 2010; 24Mai – Incorporação do 5º CFGCPE de 2010; 26 e 27Mai – Exercício de Fogos Reais e Treino no Simulador INFRONT, do 4º ano da Academia Militar; 29 e 30Mai – Jornada de Convívio com os militares que serviram na EPA na década de 60 e respectivas famílias. BOLETIM DA EPA - 81 A EPA NO ANO DE 2010 ACTIVIDADES JUNHO III Concurso Nacional Combinado da EPA No dia 25 e 26 de Junho, realizou-se o III Concurso Nacional Combinado (III CNC) EPA, que incluiu no dia 25 as provas de Ensino e no dia 26 as provas de Obstáculos e de Corta-mato. O III CNC foi organizado pela EPA, com a colaboração do RC Nº 3 de Estremoz, do Centro Militar de Educação Física e Desportos de Mafra e da Câmara Municipal da Cidade de Vendas Novas, contando ainda com o patrocínio de algumas entidades empresariais civis. III Concurso Nacional Combinado da EPA Exercício Táctico “REOP 102” No dia 29 de Junho, decorreu no Polígono da EPA e na Herdade da Bragança, o Exercício Táctico “REOP 102”, no âmbito do Curso de Promoção a Capitão de Artilharia de 2010. Apresentação do Estandarte Nacional da EPA ao 5º CFGCPE Decorreu no dia 28 de Junho, na Parada General Bernardo Faria da EPA, a Cerimónia de Apresentação do Estandarte Nacional da EPA ao 5º CFGCPE de 2010. Exercício Táctico “REOP 102” Apresentação do Estandarte Nacional da EPA ao 5º CFGCPE Outras Actividades: 02Jun – Lançamento de semente de arroz por via aérea, a partir do aeródromo da EPA; 15 a 24Jun – Campeonato interno de Voleibol; 19Jun – Convívio Anual dos Militares e Funcionários civis da EPA. 82 - BOLETIM DA EPA A EPA NO ANO DE 2010 ACTIVIDADES JULHO/AGOSTO Juramento de Bandeira do 5º CFGCPE de 2010 No dia 01 de Julho realizou-se o Juramento de Bandeira do 5º CFGCPE de 2010 o qual foi presidido pelo Exmo. MGen Raul Jorge Laginha Gonçalves Passos, Director de Educação do Comando da Instrução e Doutrina. Juramento de Bandeira do 5º CFGCPE de 2010 Juramento de Bandeira do 5º CFGCPE de 2010 Exercício Táctico “REOP 103” No dia 28 de Julho, decorreu no Polígono da Escola Prática de Artilharia, o Exercício Táctico “REOP 103”, no âmbito do Curso de Promoção a Sargento-Ajudante de 2010. Exercício Táctico “REOP 103” Estágio de Introdução à Observação Avançada de 2010 No período de 19 a 23Jul10 decorreu na EPA o Estágio de Introdução à Observação Avançada de 2010, destinado a sete Sargentos do 1º Batalhão de Infantaria Pára-quedista em aprontamento, tendo em vista a projecção para o Teatro de Operações do Kosovo. Estágio de Introdução à Observação Avançada de 2010 Outras Actividades: 07Jul – Limpeza do espaço florestal do Polígono de Tiro da EPA; 12Jul – Início da 2ª Parte do Curso de Promoção a Sargento-Ajudante de Artilharia (CPSA) de 2010; 16Jul – Despedida do CPC de 2010; 18Jul – Entrega de prémio ao vencedor do concurso do Logótipo das Comemorações dos 150 Anos da EPA; 22Jul – Campeonato Interno de Natação de 2010, nas piscinas municipais de Vendas Novas; 26Jul – Início do 2º CEFO/CFO de 2010; 12Ago – Dádiva de sangue na EPA; 20Ago – Apresentação do Estandarte Nacional ao 2ºCEFO/CFO 2010. . BOLETIM DA EPA - 83 A EPA NO ANO DE 2010 ACTIVIDADES SETEMBRO Cerimónia de apresentação das Comemorações dos 150 anos da EPA Em 29 de Setembro decorreu na EPA, a Cerimónia de Apresentação das Comemorações dos 150 anos da Escola Prática mais antiga do Exército Português. A Cerimónia foi presidida pelo Director Honorário da Arma de Artilharia, Ex.mo Tenente-General Joaquim Formeiro Monteiro e contou também com a presença do Director de Formação do Exército, Ex.mo Major-General João Manuel Santos Carvalho. Além de outros Digníssimos Artilheiros que estiveram presentes neste evento, honraramnos com a sua presença, os Ex.mos Generais José Alberto Loureiro dos Santos e Gabriel Augusto do Espírito Santo, referências de toda uma geração de oficiais, sargentos e praças. Cerimónia de apresentação das Comemorações dos 150 anos da EPA Abertura do 2º Ano do 38º CFSA Em 01 de Setembro decorreu na EPA, a Cerimónia de Abertura do 2º ano do 38º Curso de Formação de Sargentos de Artilharia (38º CFSA), composto por 19 Sargentos de Artilharia. Abertura do 2º Ano do 38º CFSA Outras Actividades: 15Set – Cerimónias Protocolares de despedida de Oficiais e Sargentos da EPA; 20Set – Tomada de posse do Comandante do Grupo, TCor Art Furtado de Almeida; 22Set – Dádiva de sangue na EPA; 23Set – Limpeza das Áreas do Polígono; 30Set – Tomada de posse do 2º Comandante da EPA, TCor Art Dias de Almeida. 84 - BOLETIM DA EPA A EPA NO ANO DE 2010 ACTIVIDADES OUTUBRO Apresentação do TPOA 10/11 e Convívio dos Oficiais do TPOA 60/61 No dia 1 de Outubro a EPA realizou uma jornada convívio integrando os Oficiais que prestam serviço nesta Escola, os Oficiais que em 1960/61 frequentaram o Tirocínio para Oficial de Artilharia e os Tirocinantes de 2010/11. Este convívio contou com a presença de diversos Oficiais de Artilharia, do Curso de 1957-61. Esteve ainda presente o TGen Ferreira da Silva, em representação de S. Exa. o General Chefe do Estado-Maior do Exército. De referir ainda a presença de um grande número de esposas (a que um dos convidados apelidou de “Santas Bárbaras”) dos Oficiais, que os acompanharam neste momento alto, de regresso à Casa Mãe dos Artilheiros, passados cerca de 50 anos. Estiveram ainda presentes o TGen Silvino Curado e o Cor José Magalhães, que foram antigos instrutores deste tirocínio. Apresentação TPOA 2010/11 Convívio dos Oficiais do TPOA 60/61 e dos Tirocinantes do POA 2010/11 Juramento de Bandeira do 8º CFGCPE e Visita do Ex.mo MGen Santos de Carvalho, DF do CID No dia 12 de Outubro de 2010, realizou-se na EPA, o Juramento de Bandeira do 8º CFGCPE de 2010 o qual foi presidido pelo Exmo. MGen João Manuel Santos de Carvalho, Director de Formação do CID. Juramento de Bandeira do 8º CFGCPE e Visita do Ex.mo MGen Santos de Carvalho, DF do CID Outras Actividades: 05Out – Visita da delegação dos Oficiais de Artilharia de França; 08Out – Apresentação do Estandarte Nacional da EPA ao 8º CFGCPE de 2010; 11Out a 12Nov – Curso de Radares de Artilharia de Campanha de 2010; 13Out – Início do Ciclo de Conferências no âmbito das comemorações dos 150 Anos da EPA; 25Out – Visita à EPA do Núcleo de Vila Franca de Xira da Liga dos Combatentes; 26 a 27Out – Exercício Táctico de AC “REOP 104”; 28Out – Exercício de Fogos Reais “REGULAÇÃO 107”. BOLETIM DA EPA - 85 A EPA NO ANO DE 2010 ACTIVIDADES NOVEMBRO Encerramento do Curso Radar No dia 12 de Novembro realizou-se o encerramento do Curso Radar. O Curso decorreu entre 11 de Outubro e 12 de Novembro. Encerramento do Curso Radar Dia de Finados Dia de Finados No dia 02 de Novembro realizou-se a Cerimónia de Dia de Finados ou Dia dos Fiéis Defuntos. Esta cerimónia é simples mas plena de significado, e foi constituída por duas fases distintas: uma Cerimónia de Homenagem aos Militares mortos pela Pátria, junto ao Monumento aos Artilheiros Mortos na I Grande Guerra, com uma Guarda de Honra e deposição de coroa de flores; a Romagem ao cemitério de Vendas Novas, junto ao Talhão do Combatente. Fogos Reais 2º CFS 2010 Fogos Reais 2ºCFS 2010 Nos dias 17 e 18 de Novembro, decorreu no Polígono de Tiro da EPA o Exercício de Fogos Reais “REGULAÇÃO 108”, no âmbito das Especialidades de Campanha e Direcção do Tiro, Aquisição de Objectivos e Campanha, do 2º CFS 2010. Outras Actividades: 03Nov – Jogo de Voleibol entre a EPA e a Escola Secundária de Vendas Novas; 10Nov – Visita da Comunidade Educativa; 11Nov – Exercício Úrano 2010; 11Nov – Cerimónia do Armistício; 12Nov – Encerramento do Curso de Radares de Artilharia de Campanha de 2010; 08 a 12Nov – Campeonato Interno de Basquetebol de 2010; 16Nov – Jogo convívio de Futsal entre a EPA e a GNR de Vendas Novas; 18Nov – Limpeza das Áreas do Polígono; 22 a 26Nov – Exercício Finais de Campo do 8º CFGCPE. 86 - BOLETIM DA EPA BOLETIM DA EPA - 87 A EPA NO ANO DE 2010 COMANDO, EM, DIRECÇÃO DE FORMAÇÃO, GOAF E BATERIA DE FORMAÇÃO COMANDO Cor Art Henrique José Pereira dos Santos TCor Art Vítor Hugo Dias de Almeida SMor Art Henrique José Rosa Carvalho Sold RC Isabel de Jesus Coronha Ribeiro SECRETARIA DO COMANDO SCh Art João José Dias Camponês SAJ Art João Manuel Gaspar da Silva Furr RC Carlos Daniel Ferreira Mota Sold RC Pedro Miguel Pereira Sousa Santos Sold RC Rafael Alexandre Dias Neto Sold RV Cátia Marina Pires Almas SECÇÃO PESSOAL Maj SGE João António C. Alves de Sousa SAj Art António A. Prates Rosado SAj SGE Manuel José Santos 1Sarg Art Rodrigo Joaquim Sande Maltez Furr RC Filipa Alexandra M. Costa Furr RC Diana S. da Silva Encarnação 2Cb RC Sofia Reis Quental Sold RC Marisa I. Ribeiro Marques Avelino Sold RC Elsa Maria Azenha Miranda ASS TEC Antónia M. P. Manteigas Telha ASS TEC Juliana R. A. Varanda Medeiros ASS ADM ESP Alda J Ribeiro Silva Ribeiro SOIS TCor Art Vitor Manuel M. F. Afonso Jorge Ten Art António Augusto Silva Almeida SAj Art José Galvão de Moura 1Sarg Art Valdemar António Adriano 1Cb RC Tânia Carina Oliveira Palas 2Cb RC Isabel da Silva Beja ASS TEC Maria Fátima P. Sousa Lopes SECÇÃO DE LOGÍSTICA TCor Art Francisco A F Mexia Setoca Alf AdMil Catarina Gonçalves Cabral SCh Art João Carlos P. Rodrigues da Silva SAj Art António M. Lameira Valadas SAj Art José M Quintaneiro Selorindo SAj Clar José Carlos Martins Mendes Furr RC José Fernando e Ventura Sold RC Vânia Almeida Fortes Sold RC Hugo Manuel Bolim Leitão 88 - BOLETIM DA EPA DIRECÇÃO DE FORMAÇÃO TCor Art João Alberto C. Q. Furtado de Almeida Maj Art Carlos Miguel Siborro Leitão Cap Art Nuno M Lopes Duarte Salvado Cap Art Artur J M Ribeiro Sousa Alves Cap Art João Paulo Catrola Martins Cap Art Joaquim Maria Madruga Pisco Cap Art Carlos Fernando C. B. Lopes Almeida Ten Art Cristina Maria Costa Pereira Ten Art Alexis da Fonseca Vicente Ten Art Pedro F. Carrazedo Barbosa Alf Constantino Mendes Cidade SCh Art António J. Bernardo Carapinha SAj Art Luís Manuel Bulhão Pateiro SAj Art Pedro Jorge Ribeiro Campos 2Sarg Art Joaquim Augusto N Machado 1Cb RC António M. Gonçalves Margaço Sold RC Diana Mafalda O V G Conceição ASS TEC José M. Gordicho Salvaterra ASS OP Mariana Silva Coelho GRUPO OPERACIONAL APOIO À FORMAÇÃO TCor Art João Alberto C. Q. Furtado de Almeida SCh Art Vítor Manuel Caixas Caldeira BATERIA DE FORMAÇÃO Cap Art Humberto M Rodrigues Gouveia Ten Art Nelson Alexandre Charréu Santos Alf Art Luís Miguel de Melo Batista Nunes SCh Art Víctor Manuel Caixas Caldeira SAj Art Manuel F Rodrigues Campino 1Sarg Art Paulo A Costa Lambuzana 2Sarg Art Diogo Alexandre S Filipe Sold RC Jorge Filipe Carriço Piteira Sold RC Ruben Miguel Oliveira Sold RC Paulo Filipe Rodrigues Pinto Sold RV Bruno José de Jesus Carvalho A EPA NO ANO DE 2010 COMANDO, EM, DIRECÇÃO DE FORMAÇÃO, GOAF E BATERIA DE FORMAÇÃO BOLETIM DA EPA - 89 A EPA NO ANO DE 2010 BATERIA DE COMANDO E SERVIÇOS Cap Art Nuno Pedro Leite Gonçalves Ten Art António Augusto Silva Almeida Alf RC Adriana Andreia B. L. Antunes SAj Art Rui Paulo Rosado dos Santos 1Sarg Art Jorge M. Valadas Ferreira 1Sarg Art Adelino C. Andrezo Boleto 1Sarg Mat Luís Miguel Branquinho Serrano 1Sarg Aman Francisco José Sousa Pereira 1Sarg Art Humberto Manuel C. Renga 1Sarg Art José Alberto Ceroula Tavares 1Sarg Mat Custódio M. Louro António 1Sarg Art Hugo Miguel Reis Brandão Fur RC Mário Cândido G. Guerreiro Fur RC Germano Nabais Faustino Fur RC Carlos Manuel F. Macedo Cadj RC Isidro Filipe Almeida Silva 1Cb RC Diogo José Lourinho Valido 2Cb RC Fábio Armando S. Amador 2Cb RC Joaquim Miguel Pires Cid Sold RC Diamantino Silva Antunes Sold RC Sílvia Miguel Faia Vieira Sold RC Gonçalo B. S. Negrão Ogando Sold RC Vasco Rafael Inverno Maduro Sold RC Daniela Sofia Barreto Vieira Sold RC Fábio António Pires Mangas Sold RC João Manuel C. Machado Sold RC Pedro Ribeiro Silveira Sold RC Daniel Martins Gonçalves Sold RC Joaquim António C Guerreiro Sold RC Luís Emanuel Cebola Mendes Sold RC Rui Amador Costa Paiva Sold RC Cláudio J. Mussa de Almeida Sold RC Domingos F M da S Jerónimo Sold RC Carlos Manuel A Menezes Sold RC Valdemar José Real Graça Sold RC Telma Sofia Campaniço Branco Sold RC Marlene Cristina Duarte Domingues Sold RC Sara Isabel Gomes Ferreira Sold RC Carlos Alexandre Pinto Macedo Sold RC André Filipe Bravo Sold RC Fábio Vilhena Silas Sold RC Sérgio André da Costa Miranda Sold RC Dora Sofia de O. Brazão Soares Sold RC Marta Silvina da Silva Amaro Sold RC Luís Miguel Ribeiro Aldrabinha Sold RC Susana Filipe Ferreira Barreto Sold RC Luís Filipe Capucho Rodrigues Sold RC Fábio Alexandre B. Tira-Picos Sold RC Joana Daniela Oliveira Moreira Sold RC Vitor Hugo Moreno Rocha Sold RC Rui António Gonçalves Conchinha Sold RC Bruno Miguel Luz dos Santos Sold RC João Paulo da Costa Sold RC David Alexandre Moreira da Cunha Sold RC Nuno Miguel dos Santos Lopes Sold RC Fabio Manuel Filipe Melo Sold RC Ana Isabel Teixeira Pereira 90 - BOLETIM DA EPA Sold RC Aurora F. Peixoto Lopes Sold RC Antónia A. R. Honrado Sold RC Artur Jorge dos S. Velhinho Sold RC Paula C Gonçalves Oliveira Sold RC Carlos M Pereira Raposo Sold RC Luís M. Azevedo Ramos Sold RC Patrícia S. Campos Rodrigues Sold RC Rui Manuel Pereira Panoias Sold RC Luís Carlos Soares Nogueira Sold RC Joana I. de Beires S. Lopes Veiga Sold RC Daniel de Oliveira Alves Sold RC João Pedro Prates Oliveira Sold RC Nuno Almeida Duarte Sold RC Bruno Miguel Ferreira Nascimento Sold RC Hugo Miguel Ferreira Oliveira Sold RC José Carlos M. dos Santos Reis Sold RC Manuel Ramos Gomes Monteiro Silva Sold RC Ruben Filipe Pepe Fuste Sold RV Mauro André Félix Vigário Sold RV António Luís Santos Lopes Sold RV Cristiano André Felizardo Janota Sold RV Tiago André Mendes dos Santos Sold RV Hugo João Oliveira Romão Sold RV Jorge Wilson Mendonça Menhiça Sold RV Rute Sofia Gomes Carlos Sold RV João Luís de Sousa Sold RV Adulo Ronald Miranda Nogueira Mané Sold RV Ana Raquel Perdigão Landum Sold RV João Alberto Dias Sold RV Stefanie Marques Magalhães Sold RV Emanuel Filipe Mendes Guerreiro Sold RV Nelson Manuel Almeida Farraia Sold RV Miguel António Fonseca Guerreiro Sold RV Andreia Cristina Delgado Frescata Sold RV Flávio Lopes dos Santos Sold RV João Miguel Martins Neno Sold RV Tiago João Lindo Barros Sold RV Adriano Manuel Leitão Melo Sold RV Hugo Miguel Ferreira Oliveira Sold RV Bruno Miguel Pedroso Jorge Sold RV Filipe André Ferreira Lourenço Sold RV Marcelo Manuel Ferras de Sousa Sold RV Fábio Alexandre Pinto da Silva Santos Sold RV Tiago Daniel Agostinho Sousa Sold RV Diana Patrícia Soares Henriques Sold RV Ana Maria da Rocha Silva Barbosa Sold RV Fábio Daniel Carvalho Silva Oliveira ASS CLI GERAL Joaquim Duarte Costa ASS OP CARPINTEIRO João Artur Matias ASS OP PINTOR Amílcar Alves Rosa ASS OP BARBEIRO Luís Manuel Estrela Silva ASS OP Maria Vitória C. C. Carneiro ASS OP Florinda A. B. Cardoso Armando ASS OP Maria do Céu C. F. Remigio ASS OP Maria Adélia A. A. Lopes ASS OP VIGILANTE António M. Silva Valente ASS OP COZINHEIRO Maria Isabel R. C. Branco A EPA NO ANO DE 2010 BATERIA DE COMANDO E SERVIÇOS BOLETIM DA EPA - 91 A EPA NO ANO DE 2010 BATERIA DE BOCAS DE FOGO Ten Art Paulo F Alfaya Ferreira Ten Art Ricardo Valpaços Dias Alf RC Carla A Trindade Nascimento Alf RC Nuno Miguel Deus Espada Asp RC Maria Arlete Sampaio Costa SAj Art José Manuel Sebastião Dias 1Sarg Art José Carlos Diogo Baião 1Sarg Art Nuno Miguel Rijo Bagorro 1Sarg Art Paulo Jorge Amaro Frade 2Sarg Art Ricardo Miguel B Carrasco 2Sarg Art Lídio Mendonça da Costa Miguel 2Sarg RC Cátia V Freitas Ferreira 2Sarg Art Paulo Nuno Semedo Viegas 2Sarg Art Luís Miguel de Sousa Pereira Furr RC João N R de Castro Martins Furr RC Patrícia Margarida T da Silva 2Furr RC André Luciano F Fonseca 2Furr RC Susana Martins Ventura 1Cb RC Marco António Soares Horta 1Cb RC Pedro M Melgueira Nascimento 1Cb RC Rúben E Henriques Lopes 1Cb RC Fábio M Raposeira Borralho 1Cb RC João Paulo Rodrigues Amador 2Cb RC Bruno Rua Oliveira Sold RC Yuri Alexandre Castro Palma Sold RC Rafael Belchior de Almeida Sold RC Diogo Reis Lopes Sold RC Bruno F Fernandes da Silva Sold RC Ivo Manuel S dos Reis Cabrita Sold RC Alfredo D Labutte dos Santos Sold RC Marlene Soutulho C Alves Sold RC Luís Manuel Calado B de Brito Sold RC Hugo Miguel Jara Galguinho Sold RC André Daniel Pires da Cruz Sold RC Andreia Filipa Pereira Palmela Sold RC Rui António Asper Moreira Sold RC Antonio Carlos P F Carinhas Sold RC Tonni Gregorio Gonçalves Pena Sold RC Vitor Hugo da Silva Friaes Sold RC Pedro Jorge Oliveira Lopes Sold RC Luís Paulo Vieira Trancolino Sold RC João G F Gonçalves Afonso Sold RC Susana C Pereira Mateus Sold RC Eduarda Marisa João Inácio Sold RC Sofia Sabarigo Bichardo 92 - BOLETIM DA EPA Sold RC Marcelo T Oliveira Pacheco Sold RC Nuno M Oliveira Gonçalves Sold RC Fábio Alexandre Lopes Marcos Sold RC Nádia Campos Rocha Sold RC João Eduardo F Viegas de Almeida Sold RC Filipe Miguel Silveira Gomes Sold RC Rui João Mendes Veloso Figueiredo Sold RC Pedro A Canelas Vieira Sold RC Mário Jorge Esteves Aparício Sold RC David Jorge Brito dos Santos Sold RC João Ari Silva Ferreira Sold RC André Alexandre Nunes Ferreira Sold RC Tatiana Filipa Oliveira Ribeiro Sold RC Jaime Fernando Silva Costa Lopes Sold RC Marita Duarte Barreiro Sold RV Fábio Miguel da Conceição Silva Sold RV Diogo Filipe Gonçalves Martins Sold RV Filipa Alexandra Josué Areias Sold RV Roberto Manuel Capucho Madeira Sold RV Cláudio Machinho Graça Sold RV Nuno Daniel Rodrigues da Silva Sold RV Fabio A Rodrigues P. Coelho Broa Sold RV Ricardo Filipe Branco Amante Sold RV Ruben Jose Pinto Quadros Sold RV Celso de Melo Leão Sold RV Wilson Miguel Mendes Barradas Sold RV Ricardo Miguel Almeida Soares Sold RV Iria Margarida Baptista Raimundo Sold RV Diogo Nunes Jeremias Sold RV André Manuel Rebelo dos Santos Sold RV Jorge André Barreto Candeias Sold RV Micael António da Silva Cardoso Sold RV Fábio Rafael Loureiro Ribeiro Sold RV João Ari Silva Ferreira Sold RV Sandro Miguel Sobral Meias de Matos Sold RV André Tiago Pereira Reis de Oliveira Sold RV Miguel Brito de Oliveira Sold RV Nuno Miguel Sousa Franco Sold RV André Filipe Trindade Peres Sold RV Claudio Jose A Quendera dos Santos Sold RV Mariano D´Almeida de Sousa Sold RV Sérgio Filipe Regadas Santana Sold RC Susana C Pereira Mateus Sold RV Filipa Alexandra Josué Areias A EPA NO ANO DE 2010 BATERIA DE BOCAS DE FOGO BOLETIM DA EPA - 93 A EPA NO ANO DE 2010 BATERIA DE AQUISIÇÃO DE OBJECTIVOS Ten Art Carlos Eduardo Delgado Godinho Ten Art Simão Manuel de Sousa Moreira Alf Art Fábio Manuel de Jesus Felizardo ASP RC Nuno José Santos Martins Gonçalves ASP RC Rui Sebastião Neves Madaleno SAJ Art Joaquim António Fernandes Piteira 1Sarg Art Rui Manuel Roberto Ferreira 1Sarg Art Jorge Manuel Granjeiro da Fonseca 1Sarg Art Miguel José Chainho 1Sarg SMAT Estevão Ricardo Teixeira Alves 2Sarg Art Ana Paula de Jesus Gago 2Sarg SMAT Ricardo Jorge Sardão Raposo Furr RC Jorge Leandro Correia da Silva Furr RC Tânia Sofia Campos Cunha 2Furr RC Sara Isabel Vilaça Fernandes 2Furr RC Liliana Raquel da Silva Sousa 2Furr RC Susana de Jesus Matos Pereira 2Furr RC João Gilberto Alves Correia 1Cb RC Ana Alexandra de Oliveira Barros 1Cb RC Hugo Miguel Pinheiro Freixo 1Cb RC Nuno Miguel Figo Xarepe 1Cb RC Fábio Rafael Marques Alves Sold RC João Sérgio Correia Gomes Sold RC Tiago Abílio Vieira Silva Sold RC Bruno Soares Costa Santos Sold RC Marco André Gomes Couto Sold RC Sílvia Catarina Santos Antunes Sold RC Pedro Miguel Fernandes de Oliveira Sold RC Filipe João Tavares de Oliveira Reis Sold RC Marcos Gonçalo Rebocho Pereira Sold RC Tiago Filipe Ferreira Anes Sold RC José Gabriel Lopes Sold RC Luís Carlos Bronze Miranda Sold RC Tiago Alexandre Lopes Falcão Sold RC Acácio Funk Marques Sold RC César dos Santos Tadeu Sold RC Ângelo Miguel Moreira Mourato Sold RC Fábio Alexandre Gago Gonçalves Sold RC Frederico Jorge Almeida Quintao Sold RC Djomel Vaz Almeida Sold RC David Ferreira Queiroz Sold RC Rui Guilherme Esteves Simões Alcântara Sold RC Neuza Isabel Vilelas Pereira Sold RV Tânia Raquel Silva Fial 94 - BOLETIM DA EPA Sold RV Ricardo Jorge Beaumont Alves Sold RV João Pedro Oliveira Reis Sold RV Tânia Jesus Santos Domingos Sold RV Carlos Alberto Castro Barbosa Sold RV Tiago Manuel Almeida Sold RV Fábio Alexandre Rodrigues Mendes Sold RV António Manuel Nogueira Rodrigues Sold RV Andreia Filipa Rodrigues Ladeira Sold RV Bruno Ricardo Gamboa Madeira Sold RV Diogo Joaquim Santos Miguel Sold RV Ricardo Miguel Antunes dos Santos Sold RV Fábio Miguel dos Santos Carrilho Sold RV David João Batista do Nascimento Sold RV Rui Alexandre Vieira Vedes Sold RV Jorge Filipe Rosado Martins Sold RV João Miguel Matos da Silva Sold RV João Carlos Costa Dionísio Sold RV Gonçalo Nuno Livramento Nobre Sold RV Ricardo Jorge da Silva Barrosa Sold RV Bruno Miguel Oliveira Portalegre Sold RV Pedro Manuel Serra Oliveira Cardoso Sold RV Carlos Alberto Ribeiro Aniceto Sold RV David Abel Rato Figueiredo Sold RV Ricardo Luís Simões Martins Sold RV Sérgio Miguel Sousa Silva Sold RV João António Gomes Melo de Almeida Sold RV Mário Daniel de Oliveira Maria Sold RV Tiago Rodrigues Gonçalves Sold RV Luís Henrique Filipe de Jesus Sold RV Helder Manuel Valério Ventura Sold RV Vítor Guilherme Pedro Sabas Sold RV Diogo Alexandre Marques Soares Sold RV David José Pascoal Delgado Sold RV Wilson Alexandre de Matos Ventura Sold RV João Tiago dos Santos Pratas Sold RV Milene Andrade Antunes Sold RV Vítor Manuel Almeida Neto Sold RV Aires Alexandre Lota Rodrigues Sold RV Cátia Marina Pires Almas Sold RV Ricardo Romão Guerreiro Sold RV Bruno Alexandre Domingos Fernandes Sold RV Telmo Filipe Carreto Lucas Sold RV Tânia Jesus Santos Domingos A EPA NO ANO DE 2010 BATERIA DE AQUISIÇÃO DE OBJECTIVOS BOLETIM DA EPA - 95