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HIGIENE ORAL: ATUAÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM EM PACIENTE
COM DÉFICIT NO AUTOCUIDADO
ORAL HYGIENE: TEAM OF ACTION FOR NURSING IN PATIENT WITH DEFICIT
IN SELFCARE
Grasiele Cristina Martins
Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG.
[email protected]
Neide Oliveira dos Santos
Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG.
Everton Teixeira Gomes
Enfermeiro-Especialista em Farmacologia Aplicada/UNIFENAS-MG. Docente do Centro Universitário
do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG.
RESUMO
A cavidade bucal sendo parte integrante do corpo humano deve receber igual atenção na elaboração
do planejamento de enfermagem. A promoção da higiene oral é a temática analisada nesta pesquisa,
por ser considerada fator de grande relevância na assistência ao paciente com déficit no autocuidado,
pois a realização de uma higiene oral satisfatória contribui para minimizar os riscos de complicações
e o tempo de internação do paciente. O trabalho teve como objetivo avaliar a realização da higiene
oral pela equipe de enfermagem da Unidade de Cuidados Intensivos-UCI de um hospital da cidade de
Ipatinga-MG, à luz do protocolo da instituição pesquisada e literaturas científicas. Este estudo trata-se
de uma investigação com abordagem qualitativa. A coleta de dados foi realizada através de um
check-list baseado no protocolo da própria instituição pesquisada. Foram exploradas a técnica de
higiene oral e seu registro no prontuário, dos 20 profissionais observados cinco realizaram o
procedimento. Percebeu-se que todos os profissionais deixaram de fazer etapas importantes da
técnica, como lavagem das mãos, posicionamento do paciente e explicação do procedimento ao
paciente, portanto há dificuldade no entendimento das conseqüências que a não promoção da
higiene oral e seu adequado registro no prontuário podem acarretar na evolução clínica dos
pacientes.
PALAVRAS-CHAVE: Higiene Bucal. Autocuidado. Assistência de Enfermagem.
ABSTRACT
The oral cavity is an integral part of the human body should and receive equal attention in the
elaboration of the nursing planning. The promotion of oral hygiene is the theme examined in this
study, because it is considered very important factor in patient care with a deficit in self-care, because
the achievement of a satisfactory oral hygiene helps to minimize the risks of complications and time of
stay of the patient in hospital. The study aimed to evaluate the performance of oral hygiene by the
people of nursing of ICU of a hospital in the city of Ipatinga-MG. This study deals with research with a
qualitative approach. Data collection was performed through a check-list based on the protocol of the
institution investigated. Was explored the technique of oral hygiene and its record in patient randbook,
of the 20 observed professionals five accomplished the procedure. It was noticed that all the
professionals failed to make important steps in technique, like washing of the hands, alteration of the
position of the patient and explanation of the procedure the patient, so there is difficulty in the
understanding of the consequences that not promotion of the oral hygiene and his appropriate register
in the handbook can bring in the clinical evolution of the patients.
KEY WORDS: Oral Hygiene. Selfcare. Nursing care.
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INTRODUÇÃO
Segundo Almeida et al (2006) há vários anos encontra-se na literatura
suspeita da associação entre algumas patologias sistêmicas e cavidade oral.
Egípcios, hebraicos, gregos e romanos já relacionavam a saúde da boca com o
bem-estar geral dos indivíduos.
De todos os sítios do corpo humano a cavidade bucal é aquela que
apresenta os maiores níveis e diversidade de microrganismos. As
características anátomo-fisiológicas da boca são responsáveis por esta
diversidade, uma vez que a boca apresenta diferentes tipos de tecidos e
estruturas que variam quanto à tensão de oxigênio, disponibilidade de
nutrientes, temperatura e exposição aos fatores imunológicos do
hospedeiro. O dorso da língua funciona como um reservatório de diversos
microrganismos, os quais vão posteriormente ocupar outros nichos nas
superfícies dentárias supra e subgengivais. Muitos microorganismos Gramnegativos e Gram-positivos encontrados em altas proporções no dorso da
língua podem ser patogênicos ao colonizar a placa dental supra e
subgengival (GRANER et al, 2005, p. 4).
Doenças do foro respiratório têm vindo a ser associadas à doença
periodontal, em especial a Pneumonia Bacteriana e a Doença Pulmonar Obstrutiva
Crônica (SCANNAPIECO, 1996; LIMEBACK,1988 apud ALMEIDA et al, 2006).
Almeida et al (2006) acrescenta que outras patologias como diabetes mellitus,
doenças cardiovasculares, artrite reumatóide e partos prematuros podem advir da
colonização da cavidade oral e orofaringe por potenciais patógenos respiratórios.
De acordo com Jaber et al (2007) o controle de placa tornou-se uma
necessidade de Saúde Pública, uma vez que a presença de patógenos bucais
podem interferir negativamente no status de saúde do paciente.
Para Brito, Leal e Vargas (2007) as complicações decorrentes da falta ou
inadequação do procedimento de higiene oral podem aumentar o tempo de
permanência hospitalar em 6,8 a 30 dias. Diante do exposto há necessidade de
medidas adjuntas ao controle mecânico da placa bacteriana (escovação e uso de fio
ou fita dental) como, por exemplo, o uso de substâncias químicas (JABER et al,
2007).
É neste contexto que a equipe de enfermagem está inserida, prestando o
cuidado de acordo com o grau de dependência do paciente.
Para Mosby (1995 apud Silva, 2001) de acordo com Dorothea Elizabeth
Orem, autocuidado é o conjunto de ações que o ser humano desenvolve consciente
deliberadamente, em seu benefício, no sentido de promover e manter a vida, o bem
estar e a saúde. Quando ocorre incapacidade ou limitação do autocuidado,
caracteriza-se déficit de autocuidado, em que se insere a atuação da enfermagem.
Esta atuação se dá em três diferentes sistemas: totalmente compensatório,
parcialmente compensatório e sistema apoio-educação.
Além de realizar os procedimentos os profissionais de enfermagem devem
estar atentos para sua adequada anotação no prontuário.
Timby (2007) discorre que os registros em prontuários servem como relatórios
permanentes dos problemas de saúde de um indivíduo, forma de partilhar
informações entre os profissionais de saúde, garantindo, assim, a segurança do
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paciente e da continuidade dos cuidados. Descreve a doença ou a enfermidade de
uma pessoa de forma cronológica e os cuidados oferecidos, desde o surgimento do
problema até a alta hospitalar ou sua morte.
Du Gas (1983) afirma que o objetivo principal do registro em prontuário é
proporcionar uma anotação escrita de todos os dados acerca do paciente. É um
documento legal, portanto serve como evidência diante do tribunal, e também como
fonte de pesquisa. É uma fonte de comunicação e mantém um relato escrito
contínuo dos fatos essenciais ocorridos durante um período de tempo.
Portanto indaga-se se a equipe de enfermagem realiza a higiene oral em
pacientes com déficit no autocuidado conforme protocolo da instituição e registra tal
procedimento no prontuário do paciente.
Diante do exposto, esta pesquisa pretendeu-se observar a técnica do
procedimento de higiene oral à luz do protocolo e literatura científica, bem como seu
registro no prontuário. O estudo teve como objetivo geral avaliar a realização da
higiene oral pela equipe de enfermagem da Unidade de Cuidados Intensivos-UCI de
um hospital da cidade de Ipatinga-MG, à luz do protocolo da instituição pesquisada e
literaturas científicas.
METODOLOGIA
A pesquisa baseou-se em um estudo descritivo e uma abordagem qualitativa.
Segundo Gil (2002) as pesquisas descritivas são as que habitualmente realizam os
pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática. De acordo com Andrade
(2003) nesse tipo de pesquisa, os fatos são observados, registrados, analisados,
classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira neles. Isto significa
que os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas não manipulados
pelo pesquisador. Uma das características da pesquisa descritiva é a técnica
padronizada da coleta de dados, realizada principalmente através da observação
sistemática.
Marconi e Lakatos (1996) afirmam que pesquisa descritiva delineia o que é,
aborda também quatro aspectos: descrição, registro, análise e interpretação de
fenômenos atuais, objetivando o seu funcionamento no presente.
Segundo Oliveira (1999) a abordagem qualitativa não emprega dados
estatísticos como centro no processo de análise de um problema, não tem pretensão
de numerar ou medir categorias homogêneas, mas em contrapartida nos leva a uma
série de leitura sobre o assunto da pesquisa. Apresenta contribuições no processo
de mudança, criação ou formação de opniões.
A coleta de dados foi realizada na UCI de um hospital público do município de
Ipatinga, nos dias 01, 02, 28 e 30 de julho e 08 de agosto de 2008, no turno da
manhã, de 08:00 às 11:00h, respeitando rotina e horários definidos pela instituição.
A população foi constituída de 20 auxiliares de enfermagem da UCI, que se
revezavam em uma escala francesa, sendo quatro funcionários por letra. A amostra
foi composta por 5 profissionais, pois apenas estes realizaram o procedimento de
higiene oral em pacientes debilitados. A ala pesquisada é composta por seis leitos,
sendo a mesma ocupada por pacientes adultos com déficit no auto-cuidado.
O instrumento de pesquisa utilizado foi um check-list baseado no protocolo
da instituição e complementado por outras literaturas. Foi observada a realização da
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técnica do procedimento de higiene oral, freqüência, solução utilizada, bem como
registros em prontuários.
Os aspectos éticos foram baseados na Resolução n° 196 de 10 de outubro de
1996 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta pesquisa envolvendo seres
humanos (BRASIL, 1996). Para realização deste estudo, foi obtida uma carta de
autorização da direção da instituição e da coordenação do setor. Os participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Após coleta e análise dos dados, os mesmos foram apresentados na forma
de relatórios de pesquisas, tabelas e discutidos utilizando a literatura pesquisada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram observados um total de 20 profissionais, sendo dois do gênero
masculino e 18 do gênero feminino. Destes, apenas 5 (25%) dos profissionais
observados realizaram o procedimento de higiene oral aos pacientes com déficit de
autocuidado na UCI de um Hospital de Ipatinga-MG.
A realização do procedimento é feito uma vez ao dia, logo após o banho de
leito. Porém, Yako (2000) afirma que o intervalo depende da avaliação do
profissional de enfermagem, contudo o tempo mínimo deve obedecer o intervalo de
4 horas quando o paciente estiver intubado.
Veloso, Barbosa e Loures (2002) descrevem que a higiene oral deve ser feita
pela manhã, à noite e após as refeições, para evitar a proliferação de bactérias.
Koch et al (2004) acrescenta ainda que, esta deve ser feita pela manhã, após as
refeições, e a cada duas horas em pacientes graves, febris ou com sonda
nasogástrica.
Pacientes que forem submetidos à procedimentos invasivos pela cavidade
oral deveriam antes dos mesmos receberem o cuidado de higiene oral, uma vez
que pode haver uma migração de microrganismos pelo atrito através dos
equipamentos, materiais e instrumentais utilizados. As soluções de continuidade na
mucosa oral representam portas de entrada desses patógenos na corrente
sanguínea.
A técnica de higiene oral foi observada e as etapas realizadas pelos
profissionais são demonstradas na TAB. 1.
TABELA 1 Distribuição dos participantes quanto a freqüência das principais etapas do
procedimento de higiene oral
Procedimento
Frequência
%
Lavagem das mãos
0
0%
Posicionamento do paciente
0
0%
Explicação do procedimento ao paciente
1
0%
Utilização do antisséptico
5
100%
Troca da gaze a cada uso
5
100%
Higienização de língua e bochechas
5
100%
Organização do ambiente
5
100%
Registro nos prontuários
5
100%
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Da amostra, 5 (100%) dos profissionais observados não realizaram a prática
de lavagem das mãos antes do procedimento. Como este era realizado logo após o
banho de leito, mantinha-se a mesma luva.
As infecções nosocomiais são um grande problema nas UTI’s, e o ato de
lavar as mãos é a maneira mais eficiente de minimizá-lo (MICHELS JÚNIOR et al,
2002). Para Yako (2000), essa prática torna-se essencial à prevenção e controle das
doenças infecciosas. Pelas mãos, pode-se carrear microrganismos capazes de
disseminar a infecção hospitalar. É fundamental a conscientização de todos os
profissionais de saúde sobre o assunto.
Quanto à posição do paciente, todos estavam com a cabeceira do leito
elevada, porém não foram posicionados em decúbito lateral. Essa prática deveria
ser aplicada, pois, além de proporcionar conforto, minimiza os riscos de aspiração
de secreções provenientes da cavidade oral, que podem carrear potenciais
patógenos respiratórios. Segundo Veloso, Barbosa e Loures (2002); Koch et al
(2004) e Yako (2000) dizem que o decúbito indicado é a posição de fowler. Brito,
Vargas e Leal (2007) salientam que a técnica em decúbito lateral é imprescindível
para que a higiene bucal seja executada com eficácia. Contudo, em seus estudos
verificaram que essa não aparece na prática.
Da amostra, apenas 1 (20%) profissional explicou o procedimento para o
paciente. A aceitação e colaboração do paciente dependem da sua abordagem.
Quando essa é feita de forma humanizada, as chances de obter sucesso na
intervenção, e consequentemente na recuperação são infinitamente maiores. Para
Vila e Rossi (2002) humanizar o atendimento significa identificar o paciente pelo
nome, informá-lo a respeito do procedimento a ser realizado, afim de personalizar o
atendimento.
O antisséptico utilizado na higiene oral é o Cloreto de Cetilpiridínio (Cepacol),
de forma generalizada, substituindo a escovação. O uso deveria ser avaliado de
acordo com a necessidade do paciente. Quanto à diluição, o método utilizado vai de
encontro ao que é preconizado no protocolo, podendo ser diluído em igual volume
de água. Ida (s.d.) indica que esse deve ser usado logo após escovação de manhã
e a noite. Gebran e Gebert (2002) afirmam que os efeitos colaterais encontrados em
uso excessivo são: manchas nos dentes, queimação e ulceração da mucosa,
aumento da formação de cálculo e descoloração da língua.
Durante o procedimento observou-se que 5 (100%) dos profissionais trocaram
a gaze, porém mantiveram a mesma espátula. Esse ato não condiz com o protocolo
da instituição, que preconiza o descarte desses materiais a cada uso. A troca desses
materiais é fundamental para que não ocorra contaminação.
Ao realizar a técnica de higiene oral houve uma preocupação de todos
profissionais em limpar língua e bochechas. Para Moore (2000 apud Querido et al.,
2004) a cavidade oral humana é naturalmente habitada por inúmeros
microrganismos. As bactérias possuem características que permitem sua
colonização não só em superfícies dentárias, como também na língua e bochechas.
Todos os profissionais que realizaram o procedimento deixaram o ambiente
organizado. Para Koch (2004), oferecer um ambiente limpo, em ordem e agradável,
evita a infecção hospitalar, economiza material, previne doenças e acidentes.
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Os registros nos prontuários são realizados diariamente após o término de
todos os cuidados. Limita-se apenas em registrar “realizado H.O. no leito”, sigla
padronizada pela instituição e que significa Higiene Oral. Sabe-se que as anotações
referentes aos cuidados prestados são tão importantes quanto a realização dos
mesmos. Essas devem conter dados descritos, incluindo definição de características
como tamanho e forma, especificando os dados de forma concreta e objetiva. É
baseado nelas que a equipe de enfermagem pode traçar planos de cuidados
específicos de acordo com cada caso.
Santos et al (2005) destacam uma preocupação centrada na completude e na
compreensibilidade dos registros. Este deve ser completo e conciso, incluindo todos
os detalhes importantes, devendo ser de fácil leitura e compreensão. Timby (2007)
ressalta que o registro é uma forma de partilhar informações entre os profissionais
de saúde, garantindo assim, a segurança do paciente e continuidade dos cuidados.
Devem ser utilizadas apenas abreviaturas aprovadas pela instituição. Du Gas (1983)
acrescenta ainda que o registro serve como documento legal, evidência diante do
tribunal e como fonte de pesquisa.
CONCLUSÃO
Considerando a visão holística na assistência de enfermagem em pacientes
adultos com déficit no autocuidado, percebeu-se que há na equipe de enfermagem
do setor pesquisado uma queima de algumas etapas no procedimento de higiene
oral acarretando prejuízos ao paciente. Há um distanciamento entre preconizações
teóricas e realidade.
Diante do exposto torna-se fundamental que a equipe de enfermagem
promova atenção especial no que diz respeito à higiene oral, de forma técnicocientífica e humanizada, através de educação permanente e socialização das
informações. Assim, profissionais que atuam em ambientes que requerem esse
cuidado oferecem um atendimento ao paciente em toda sua totalidade.
Destaca-se ainda a necessidade de pesquisas clínicas, correlacionando
índices de infecções nosocomiais e doenças sistêmicas em UCI, à falta de higiene
oral.
A higiene oral é de responsabilidade da equipe de enfermagem, sendo assim
profissionais comprometidos com a qualidade na assistência anseiam em promover
um atendimento integral, minimizando os riscos de complicações e o tempo de
hospitalização dos pacientes.
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