BUSCANDO A QUALIDADE NO ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO: Análise Crítica de um Projeto de Curso de Graduação. AUTORES Prof. Dr. Paulo Sérgio Grave* Prof. Osmar Gasparetto** Av. Colombo, 3690 – Depto. de Administração – CEP: 87020-900 Maringá – Pr. Fone (0442) 262727 Ramal 306 INSTITUIÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ RESUMO Este texto compreende um “ensaio” a respeito de um projeto que busca elevar a qualidade na formação de administradores. Foi desenvolvido através de três grandes partes denominadas: introdução, análise do projeto e considerações finais. Na parte “Introdução” foram abordados os tópicos: histórico, justificativa, objetivos, orientações didático-pedagógicas e currículo de um Curso de Administração. Na parte “Análise do Projeto”, considerações preliminares a respeito do mesmo, a estratégia do curso em que foi caracterizada a filosofia, os objetivos, os procedimentos didático-pedagógicos e os meios para a execução em que se discutiu o regime acadêmico, os recursos docentes e a reestruturação departamental. Por fim, a título de “Considerações Finais”, os autores apresentaram algumas questões que estariam diretamente associados com o possível êxito do curso em discussão. * Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo, Professor de Administração Geral e Estratégia Empresarial do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá. ** Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Coordenador do Curso de Administração DAD/CSE/UEM, Professor na Área de Recursos Humanos. BUSCANDO A QUALIDADE NO ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO: Análise Crítica de um Projeto de Curso de Graduação. AUTORES Prof. Dr. Paulo Sérgio Grave* Prof. Osmar Gasparetto** INSTITUIÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ Maringá-Paraná INTRODUÇÃO HISTÓRICO O Curso de Administração, a nível de graduação, na Universidade Estadual de Maringá, foi criado aos 15 de Fevereiro de 1971 pela Resolução 01/71 do Conselho Universitário da referida Universidade. Aos 28 de Setembro de 1976 foi reconhecido pelo Ministério da Educação através do Decreto 78440/76, inicialmente em regime seriado, posteriormente transformado em regime de créditos que perdurou até 1991. O currículo era essencialmente voltado para a formação de "Técnicos de Administração” em conformidade com a Resolução s/ n° do Conselho Federal de Educação, de 8 de julho de 1966, em que está fixado os mínimos conteúdos e duração do curso. Ao longo do tempo, um número significativo de docentes do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá vêm demonstrando "insatisfações" ou "incômodos" com esta formação oficializada. Finalmente, esforços isolados ou de pequenos agrupamentos para um aperfeiçoamento curricular, em 1991, convergiram para uma reforma de natureza estrutural, apesar de, manter-se em conformidade com a legislação oficial. A partir de 1992, a Universidade Estadual de Maringá passa a oferecer um novo Curso de Administração - nova filosofia, novos objetivos, novos procedimentos educacionais. JUSTIFICATIVA De acordo com o que prescreve o Processo, do "Currículo do Curso de Administração - Regime Seriado Anual" - Caracterização da Filosofia Subjacente à Proposta, o novo currículo seguiu dois pontos de referência: 1) uma decisão dos órgãos superiores da Universidade em adotar o regime acadêmico único de seriado anual: e 2) a necessidade de atualização curricular para atender as novas exigências no campo profissional da administração. Segundo tal referência, "o novo milênio se aproxima e ao mesmo tempo as organizações e o ambiente estão sofrendo mudanças a um ritmo cada vez mais veloz, carecendo os dirigentes das organizações de uma capacitação cada vez maior para fazer frente a estas mudanças. Portanto, a preparação dos administradores das organizações do futuro obriga que a educação superior em administração oportunize aos alunos a aquisição de uma série de conhecimentos novos para que possam atuar adequadamente: o que deverá em contrapartida provocar alterações, tanto na atuação dos docentes quanto na dos discentes no processo de aprendizagem". * Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo, Professor de Administração Geral e Estratégia Empresarial do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá. ** Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Coordenador do Curso de Administração DAD/CSE/UEM, Professor na Área de Recursos Humanos. OBJETIVOS De acordo com o mesmo processo, o Curso de Administração tem como objetivo geral formar bacharéis em Administração, onde a partir de uma forte base de conhecimento de ciências humanas e sociais, aliado ao conhecimento técnico especifico, estejam capacitados a intervirem no processo sócio-político-econômico, seja atuando à frente de organizações como administradores de alto nível, seja como administradores dos níveis intermediários; e até mesmo operacionais; e mais ainda como cidadãos conscientes de suas responsabilidades sociais. Especificamente em conformidade com a referência "...a partir do núcleo de natureza geral e conceptual, propiciar a formação da capacidade analítica - explicar certos esquemas de compreensão da realidade, criar hábitos de pensar rigorosos - do estudante". Aliado aos objetivos de capacidade conceptual, proporcionar que o estudante desenvolva a capacidade de criar novas técnicas ou utilizar os métodos disponíveis inerentes ao seu campo de atuação como profissional. ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS Com base na Estrutura do Departamento de Administração, o curso seguirá as seguintes diretrizes básicas: 1) Opção para a formação do Profissional generalista, porém, com competência para desenvolver atividades nos diversos tipos de organizações, e áreas funcionais; 2) formação continuada: busca incessante de novos conhecimentos; 3) caracterização do perfil do profissional que se pretende formar é o ponto de referência da ação pedagógica; 4) o conhecimento configurado através de três elementos: o fundamento, o instrumento e o aplicativo. CURRÍCULO DO CURSO (Disciplinas, c.h. e ementas) 1ª SÉRIE Fundamentos de Administração.........68 Ementa: A administração como ciência social aplicada. O fato administrativo: conceito e características, papel e função do administrador, ética profissional. Postulados e pressupostos da teoria administrativa. Pesquisa em Administração............68 Ementa: Discussão das principais tendências de reflexão teórica das metodologias da pesquisa científica na administração. Momentos de investigação nas organizações. Técnicas de pesquisa nas organizações. Filosofia............................136 Ementa: Estudo da história e evolução do pensamento filosófico e científico e sua integração no contexto da administração. Psicologia..........................136 Ementa: Estudo do comportamento humano: motivação e valores. Estudo da liderança, poder e conflito Teorias sobre o comportamento em contextos organizacionais. Sociologia..........................136 Ementa: Estudo das teorias sociológicas explicativas da estrutura e da mudança social e suas implicações sobre as organizações, especialmente as implicações da divisão do trabalho, da tecnologia e da automação sobre as relações de trabalho. Matemática.........................136 Ementa: Fundamentos do Cálculo Diferencial e Integral. Fundamentos da Geometria Analítica e da Álgebra Linear. 2ª SÉRIE Pensamento Administrativo...........136 Ementa: Análise Histórica da Evolução do Pensamento Administrativo através da escolas. Economia........................136 Ementa: Introdução á História do Pensamento Econômico e as principais teorias econômicas. A análise microeconômica e macroeconômica. Política............................68 Ementa: Estudo dos conceitos fundamentais da Ciência Política (poder, dominação, legitimidade e hegemonia), visando a compreensão das relações travadas no interior do aparelho de estado e na administração das políticas públicas (na perspectiva da compreensão da sociedade brasileira). Antropologia Cultural................68 Ementa: Estudo das representações sócio-culturais produzidas nas relações de mercado da sociedade brasileira. Estatística.........................136 Ementa: Estatística Descritiva e Inferencial aplicada à Administração. Contabilidade Geral e de Custos.....136 Ementa: O conceito de contabilidade, as noções de elaboração das demonstrações Contábil-Financeiras. Os conceitos básicos de custos e seus sistemas contábeis e a importância de sua utilização na tomada de decisão. 3ª SÉRIE Métodos e Medidas em Administração.136 Ementa: Utilização de métodos e medidas administrativas como instrumento auxiliar em todos os campos da atividade do administrador para formulação de alternativas de soluções no processo decisório, nos diversos problemas contidos nas áreas administrativas. Processos e Téc. Administrativas...136 Ementa: O estudo dos Processos e Técnicas Administrativas e suas aplicações nas organizações. Análise Financeira e Orçamento Empresarial................136 Ementa: Análise de custos para controle de decisão Administrativa. Análise das demonstrações Contábil Financeiras. Planejamento Econômico, Financeiro. Direito Administrativo e Aplicado..136 Ementa: Instituições do Direito Público e Privado. Os conhecimentos básicos de Direito Privado e Comercial. Trabalhista. Tributário e Administrativo. Economia Brasileira e Regional..... 68 Ementa: Estudo da Economia Regional e Brasileira. Sistemas de Apoio à Decisão.........68 Ementa: O estudo da informação e utilização da informática como instrumento de apoio á decisão. 4ª SÉRIE Administração Mercadológica.......136 Ementa: O ambiente gerar dos negócios, o ambiente tarefa, a filosofia e as funções de Marketing. Sistemas de informações e decisões relacionadas aos compostos. Organização para o Marketing Internacional. Administração Financeira..........136 Ementa: Estudo da gestão financeira de forma a permitir a análise contextualizada e integrada do processo decisório com as demais áreas funcionais da empresa e com o mercado. Isto implica também, no estudo de mercado financeiro, de capitais c cambiar. Administração da Produção..........136 Ementa: Estudo da função de produção nas organizações, ressaltando sua importância e iterdependência com as demais áreas administrativas, utilizando-se as técnicas de PCP (Planejamento, Análise e Controle da Produção), e CTQ (Controle Total da Qualidade) e Lay-Out Administração de Material...........68 Ementa: Gestão de estoque, sistemas básicos de estocagem, movimentação e manuseio de materiais. Compra: procedimentos e lote econômico. Administração de Recursos Humanos...136 Ementa : Gerenciamento de Recursos Humanos nas organizações, tendo como referência a importância das pessoas e sua integração para que as organizações atinjam seus objetivos, sobrevivam e cresçam. Diagnóstico Organizacional e Elaboração de Projetos...........136 Ementa: O diagnóstico implementação de mudanças. das organizações. Elaboração de programas, projetos e processos de 5ª SÉRIE Diretrizes e Prát. Administrativas...136 Ementa: O estudo das várias funções administrativas. Estudos e implementos de estratégias e políticas que condicionam o crescimento e a sobrevivência das organizações a longo prazo, particularmente diante das susceptíveis transformações do mundo. Tópicos Especiais de Administração...136 Ementa: A Administração dos diversos tipos de organizações. Estudos Recentes de Administração...136 Ementa: Os avanços recentes do conhecimento no campo da administração e suas aplicações virtuais nas organizações Estágio Supervisionado.............270 Ementa: Diagnóstico e análise das organizações visando consolidar, de forma integrada e globalizada, Os conhecimentos adquiridos durante o curso. Estudos de Problemas Brasileiros....68 Ementa: A realidade brasileira: o homem brasileiro, formação étnica e cultural; traços características. Problemas morfológicos. Sistema econômico brasileiro. As estruturas políticas. Características da democracia brasileira. Problemas de desenvolvimento que, pela sua importância, significado e atualidade, merecem destaque especial junto ao estudante do curso de Administração. DA ANÁLISE CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES A questão de um curso superior em administração é percebida por questões elementares que a referendam. Por exemplo, os conceitos de Universidade, de educação superior e de administração que estão implícitos na estratégia do curso. Não há dúvida que tais conceitos serão levados em conta, diferentemente, conforme a perspectiva do homem, de vida e de mundo de quem esteja tratando o assunto. É por isso mesmo que se ouve falar "aquela escola é mais pragmática do que...". Portanto, a concepção de um curso está fortemente eivada da concepção filosófica dos que o concebem. Eis uma das razões da diferenciação dos cursos da mesma natureza. Universidade, para uns, é onde se apreende os conhecimentos instrumento-profissionais; para outros, os conhecimentos de explicação do homem da vida e do mundo sob as várias perspectivas e óticas. Logo, para uns, um caráter eminentemente utilitarista; para outros, um caráter que transcende a vida prática. Por fim, a década de 90, é iniciada com esforços não mais isolados para uma alteração estrutural na formação do administrador. Os Conselhos Regionais e algumas Universidades e faculdades proeminentes no Brasil, no estudo da administração, juntaram-se e estabeleceram um "movimento de reformulação". Encontros regionais foram finalizados em um encontro nacional para apresentar uma "Proposta Global de Reformulação" encaminhada ao Conselho Federal de Educação. Efetivamente, as mudanças ainda não se tornaram um "padrão", mas esforços de alteração curricular já pedem ser observados conforme se verifica nos escritos dos Anais do II e III encontros nacionais dos cursos de graduação em administração (ENANGRAD, 1991, 1992) Há uma tendência, em um grupo significativo de docentes do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá. conceber a universidade como um "centro de discussões além tecnoprofissional, das grandes questões do homem, da vida e do mundo, como o instrumento social de produção do novo conhecimento que influirá marcadamente na cultura, vigente no sentido de transformá-la, criando as condições para uma nova e melhor sociedade, de forma contínua e permanente, e uma ambiência artificialmente criada para participar na formação do homem como cidadão e profissional desta nova ordem, nova sociedade. Nesta perspectiva, a formação de natureza universitário profissional é um grande avanço em relação a formação tecno-profissional, que apresenta uma característica muito distinta de outras formações profissionais: um processo educacional centrado fortemente no desenvolvimento do indivíduo como pessoa e como ser social, onde a preocupação é com o desenvolvimento humano - ênfase no saber; e não no treinamento - ênfase no fazer. Cabe aqui comentar que o treinamento em administração, as organizações desenvolvem em seu âmbito "adestrando" seus futuros profissionais de acordo com sua cultura e especificidades – p.ex. programa de trainees. E um curso de formação superior em administração? Ora. precede aos formuladores seu entendimento do que seja administração e de qual seja o seu objeto de estudo. Diferentes escolas do pensamento administrativo diferenciam-se, principalmente, quanto ao entendimento do mencionado objeto. Este aspecto é por demais compreensível dado a natureza variada de elementos que constituem a formação das pessoas, que influi sobremaneira em sua perspectiva sobre um dado objeto Existe uma corrente no referido Departamento que entende ser o objeto de estudo da administração circunscrito às organizações, ao comportamento humano nas organizações ou em torno das relações que se desenvolvem entre as pessoas no ambiente de trabalho, que pedem ser caracterizadas como relações organizacionais. Nesta perspectiva, a formação ou educação centrada fortemente no desenvolvimento do indivíduo como pessoa, como ser de uma sociedade, é um grande avanço em relação ao que vinha ocorrendo. A ESTRATÉGIA DE CURSO Algo que parece estar cada vez mais sendo entendido pelos docentes do Departamento em referência é que eles precisam encontrar uma estratégia própria de curso, que dará a orientação condizente com suas competências, seus valores e suas intenções, o que permitirá que os mesmos possam maximizar sua contribuição no processo de educação superior em administração a que se propõem, sem contudo, fugir a um padrão que possa ser comumente aceito. A Filosofia como Postura Estratégica Pretenciosamente, alguns docentes do Departamento de Administração resolveram "ousar": buscar uma identificação ou contribuir para uma formação que há muito é, pelo menos, "sonhada" por uma parcela nacional significativa de estudiosos da administração1, conforme se pede constatar pelo "Seminário Nacional de Reformulação Curricular dos Cursos de Administração de 28 a 31 de outubro de 1991, no Rio de Janeiro, sob a coordenação do Departamento de Administração da Faculdade de Economia e Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Não há dúvida que a tendência é para um curso que potencialize o "administrador", e não, que apenas habilite como técnico. Muito mais do que dominar algumas restritas técnicas de "fazer isto ou aquilo", apreender certos conhecimentos inerentes a quem exerce a função de administrador na sociedade, em geral, ou na organização de negócios, em particular, é uma postura exigida do profissional, Exige-se um domínio de conhecimento conectado com várias áreas do conhecimento humano, a partir de leitura da relação que se desenvolve entre os indivíduos no ambiente de trabalho, nas organizações em si, tanto a nível ambiental interno quanto externo. Daí, uma concepção de curso que abranja uma gama de conhecimentos universais e particulares, sóciohumanos e sócio-técnicos, generalistas e especialistas. Uma preocupação estritamente voltada para a transmissão e conhecimentos que tocam no interior do indivíduo, procurando seu desenvolvimento, muito mais do que os conhecimentos que tocam em sua superfície e que apenas aumenta a sua habilitação de fazer algo, sem mesmo entender porquê, sem aumentar sua capacidade de efetiva transformação das organizações, da sociedade e do mundo. O Objetivo como um Alvo Estratégico O que, efetivamente, se quer como curso de formação universitária em Administração? Eis uma questão complexa, apesar de aparente simplicidade. Primeiramente, um ser humano desenvolvido, ou seja, consciente de si mesmo e do coletivo, do social, segundo, habilitado para determinado exercício profissional como cidadão de uma determinada coletividade; e terceiro, competente no exercício de tal função para provocar as transformações necessárias que redundam em crescente aumento do bem estar tanto individual como coletivo. 1 - Seminários da USP, Criação da ANGRAD. Nesta linha, o curso de Administração em análise pretende contribuir para a formação de um Administrador, e não, de um Técnico em Administração, de um ente social que seja um agente de mudança coletiva para o bem estar geral; e uma pessoa capaz de produzir os mecanismos convenientes ao seu exercício profissional a partir da assimilação dos próprios mecanismos existentes. Procedimentos Didáticos como Medidas de Cunho Estratégico Conceitualmente, uma formação desta natureza, que propõe toda a apreensão do conhecimento, seja do sujeito (na perspectiva idealista) seja do objeto (na perspectiva realista) se dê orgânica, apesar de sua aparência mecânica, integrada e evolutivamente através de três elementos que configuram o próprio conhecimento: O Fundamento, o Instrumento e o Aplicativo. O aspecto fundamental, como o elemento de origem, de justificativa ou de explicação da essência: o instrumental, aquele que favorece o desenvolvimento dos meios de ação em uma relação: e o aplicável, aquele que estabelece a utilidade sócio-técnica do conhecimento apreendido. A nível macro, teríamos a seguinte reestruturação curricular: a) o início do curso é constituído de disciplinas destinadas a dar fundamentação teórica aos alunos para que eles possam absorver a base teórica das disciplinas das sedes seguintes; b) a fase intermediária é composta por disciplinas que tem o objetivo de instrumentação, ou seja, disciplinas para fornecer ao aluno conhecimentos de áreas que aliadas às disciplinas básicas lhes darão apoio para o desenvolvimento das disciplinas profissionalizantes; c) a fase final do curso é compreendida por disciplinas que, integradas com as disciplinas das lª, 2ª e 3ª séries, habilitarão o aluno ao exercício da profissão de administrador; d) a quinta série finaliza o curso através do estágio supervisionado e de disciplinas que terão por objetivo, integrar o aluno ao mercado de trabalho, além de ser um processo de transição na vida do bacharelando, onde ele passa de estudante a profissional. Resumindo (e repetindo), o curso em si, se compartimenta organicamente em três divisões ou conjuntos de conhecimentos modulados e dependentes, seqüênciais e paralelos: Parte 1 – Fundamental; Parte 2 – Instrumental; Parte 3 - Profissional propriamente dito. A parte fundamental compreende os conhecimentos elementares que irão originar, justificar e compor tanto os conhecimentos de natureza instrumental quanto profissional; a instrumental, o conhecimento associado a arte (conjunto de técnicas gerais) tomada emprestada de outras áreas do conhecimento humano, mas adequáveis à área de conhecimento administrativo; e a profissional, o conhecimento referente aos campos de aplicação e de ação administrativa propriamente dito. A nível micro, toda e qualquer disciplina do curso guarda esta configuração matriz. Ou seja, todo o conhecimento contido apresenta aspectos fundamental, instrumental e aplicativo. E, assim sucessivamente, até a célula menor do discurso docente. DOS MEIOS PARA A EXECUÇÃO A questão que precede é quanto aos meios, mecanismo este para a viabilização operacional da referida estratégia de curso. O Regime Acadêmico Dentro do próprio grupo departamental não há entendimento quanto ao regime que seria adequado para o "Processo de Aprendizagem" Desta forma, o projeto se preocupou com um "Produto” que pudesse contemplar um ou outro: Regime de Créditos x Regime Seriado. Considerando a decisão superior universitária, o regime em vigência passou a ser sedado. Desta forma, optando-se por maior "disciplina” ao invés de "liberdade acadêmica"; centrado no processo invés de no indivíduo, no que toca a aprendizagem. Para compensar as possíveis desvantagens que o regime traria a proposta de curso, medidas complementares estão em estudo, assim como formação de grupos autônomos de estudos, incentivo a iniciação científica e um programa extra oficial de eventos que ampliasse o conhecimento do estudante além do currículo "disciplinado". Os Recursos Docentes A proposta de curso exige uma capacitação docente diferenciaria daquela em que a preocupação era a formação estritamente técnica. Para tanto urgem programas de capacitação docente; de melhoria de Ensino; de Pesquisa e Extensão em andamento no departamento para ampliar o leque de conhecimentos necessários ao docente e integra-lo em um projeto de uma amplitude multi e interdisciplinar diferente da anterior. A Reestruturação Departamento: UM NOVO CONCEITO DE DEPARTAMENTO ACADÊMICO De acordo com Wanderley (199l) "com a lei da reforma universitária, estabeleceu-se que a universidade teria como unidade básica uma estrutura orgânica com base em departamentos reunidos ou não em unidades mais amplas". Ainda, conforme o mesmo autor, com o que concordamos. "uma finalidade central e explícita na criação dos departamentos foi a de não duplicação de meios para fins idênticos ou equivalente, almejando alterar a fragmentação das unidades acadêmicas e sua justaposição, bem como eliminar a duplicação de recursos humanos e materiais" (Wanderley, 1991:64). Desta forma, o departamento como uma unidade universitária representa a concentração especializada de recursos, contribuindo para a formação universitário-profissional. Todavia, na prática, apesar de variações organizacionais, cada curso oferecido pela universidade tenderá a ficar associado a um departamento, mesmo quando ele tem natureza multidisciplinar. O regime seriado, com ênfase na disciplina acadêmica vem reforçar esta definição. O projeto do curso de administração que ai está, além de multidisciplinar, tem uma característica fortemente interdisciplinar, exigindo, então, significativa interação entre diversas áreas do conhecimento humano. A estrutura convencional de e do departamento passa a ser não satisfatória para atender aos requisitos de um curso com tal natureza. Destarte isso, faz-se necessária uma estrutura que contemple tanto a multi quanto a interdisciplinaridade, dinamicamente; do contrário, teremos uma formação fragmentada - como era a do técnico de administração. Esta estrutura deve evoluir gradativa, incremental e organicamente, de "agrupamentos fins", para uma composição inter-relacionada das diversas áreas do conhecimento que irão contribuir para a constituição do conhecimento administrativo. Configurativamente, o que observaríamos seria multigrupos e intergrupos no desenvolviment o da formação requerida. Ainda, automática e sucessivamente, um elemento seria participante de "n" grupos, ou seja transita entre as diversas áreas do conhecimento ligado ao conhecimento administrativo. Mais ainda o que observamos é uma unidade acadêmica com a estruturação centrada em um e apenas um só grupo, "multifacetado". CONSIDERAÇÕES FINAIS A "realidade" observável é que o curso de Administração - sua filosofia, objetivos e procedimentos formacionais, implantados no Brasil a partir da década de 60, não compreendiam uma estratégia de curso "própria", mas sim uma "grosseira aculturação americana", sem a devida redução sociológica "...o ensino baseiase num corpo teórico que explica o modelo capitalista de grande empresa e de realidades econômicas disciplinadas, principalmente a americana" (Medeiros e outros, Anais do III ENANGRAD, 1992: 135). O momento era aparentemente oportuno para tal transposição. Assim foi feito: com erros e com acertos. Já se vão mais de 30 anos insistindo na estratégia do curso de formação de "Técnico de Administração", apesar de possíveis esforços que vem sendo desenvolvidos para mudar a "mentalidade” do curso. O que se espera, efetivamente, de um Projeto como este? O surgimento de um novo profissional, com um perfil mais adequado a uma sociedade mais justa uma sociedade de organizações em que os participantes cada vez mais encontrem orientações bem sucedidas, onde o "sofrimento humano" é minimizado. Por que o conjunto de conhecimentos escolhido, e não outro? Ou seja, porque estudar Filosofia, Psicologia, Sociologia etc.? Toda concepção do curso leva a crer que os "idealizadores" tem as relações organizacionais como objeto de estudo da administração. Neste sentido, a tarefa central da administração é ajustá-la contínua e permanentemente. Ora, relações organizacionais, em princípio, do relações entre pessoas em uma ambiência de trabalho transformativo, produtivo ou coisa que se assemelhe. Para ajustá-las, precede todo um conhecimento delas, entendê-las e desenvolver mecanismos apropriados para intervir junto às mesmas. Desta forma, o conjunto de conhecimentos exigíveis para isto faz-se necessário ou seja de natureza tal que compreenda ou leve o interessado a compreender o homem como pessoa (sob as diversas facetas que lhe são peculiares) e como um indivíduo que convive com outras pessoas, em situações cooperativas, competitivas ou neutras na busca de recursos necessários ao desenvolvimento do trabalho humano. Destarte, áreas de conhecimento como filosofia, psicologia, antropologia etc. são fontes imprescindíveis dos elementos que formarão este novo conhecimento administrativo. A execução do referido projeto de curso apresenta algumas exigências para viabilizar condições mínimas de bom êxito. Esta é uma questão que passa por: 1 - Reestruturação organizacional, pelo menos do Departamento de Administração, Centro de Estudos Sócio-Econômicos, da Universidade Estadual de Maringá. A estrutura vigente existe para uma outra estratégia de curso. O novo curso exige uma forma integrada de agrupamentos docentes, tarefas "ad-hoc" de melhoria continua da aprendizagem e produção de novo conhecimento e avaliação contínua. 2 - Capacitação multi e inter disciplinar. Todos os docentes, de alguma forma, tem que estar envolvido com todas as sub-áreas do conhe cimento administrativo e saber em que, onde e como os seus conhecimentos e os de outros se dependem e integram na formação geral. Isto pode ser conseguido através de uma procura permanente de participação em eventos tanto externos como internos a respeito de estudos da administração. 3 - Avaliação e readequação contínua e permanente do projeto de curso, que pode ser obtida através da constituição de um grupo ou comissão especial neste sentido, composto pelo coordenador do curso, dos coordenadores de áreas de conhecimento e de discentes eleitos ou escolhidos para tal fim. 4 - Postura Disccnte Especificarnenie quanto aos discentes, espera-se um desenvolvimento de "postura" diferente do anterior, a preocupação com o "receituário" perde lugar para uma forte ênfase na absorção do conhecimento que leva ao entendimento da função, ao domínio do "entender"; com esta expectativa, entendemos que o discente buscará o conhecimento que faz sentido à sua pessoa e profissão, exigindo desta forma, entre discente e docente, um novo contrato de aprendizagem FONTES DE CONSULTA Universidade Estadual de Maringá, currículo do Curso de Administração, regime seriado anual, 1992. MaringáPR. Wanderley, Luiz Eduardo. O Que é Universidade. São Paulo, Brasiliense (Coleção Primeiros Passos), 1991. Anais do II Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - 3 a 5/09/91. São Paulo-SP. Anais do III Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - 27 a 29/08/92. Belo HorizonteMG.