BUSCANDO A QUALIDADE NO ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO: Análise Crítica de
um Projeto de Curso de Graduação.
AUTORES
Prof. Dr. Paulo Sérgio Grave*
Prof. Osmar Gasparetto**
Av. Colombo, 3690 – Depto. de Administração – CEP: 87020-900
Maringá – Pr. Fone (0442) 262727 Ramal 306
INSTITUIÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
RESUMO
Este texto compreende um “ensaio” a respeito de um projeto que busca elevar a qualidade na formação
de administradores.
Foi desenvolvido através de três grandes partes denominadas: introdução, análise do projeto e
considerações finais.
Na parte “Introdução” foram abordados os tópicos: histórico, justificativa, objetivos, orientações
didático-pedagógicas e currículo de um Curso de Administração.
Na parte “Análise do Projeto”, considerações preliminares a respeito do mesmo, a estratégia do curso
em que foi caracterizada a filosofia, os objetivos, os procedimentos didático-pedagógicos e os meios para a
execução em que se discutiu o regime acadêmico, os recursos docentes e a reestruturação departamental.
Por fim, a título de “Considerações Finais”, os autores apresentaram algumas questões que estariam
diretamente associados com o possível êxito do curso em discussão.
*
Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo, Professor de Administração Geral e Estratégia
Empresarial do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá.
**
Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Coordenador do Curso de
Administração DAD/CSE/UEM, Professor na Área de Recursos Humanos.
BUSCANDO A QUALIDADE NO ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO: Análise Crítica de
um Projeto de Curso de Graduação.
AUTORES
Prof. Dr. Paulo Sérgio Grave*
Prof. Osmar Gasparetto**
INSTITUIÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
Maringá-Paraná
INTRODUÇÃO
HISTÓRICO
O Curso de Administração, a nível de graduação, na Universidade Estadual de Maringá, foi criado aos
15 de Fevereiro de 1971 pela Resolução 01/71 do Conselho Universitário da referida Universidade. Aos 28 de
Setembro de 1976 foi reconhecido pelo Ministério da Educação através do Decreto 78440/76, inicialmente em
regime seriado, posteriormente transformado em regime de créditos que perdurou até 1991. O currículo era
essencialmente voltado para a formação de "Técnicos de Administração” em conformidade com a Resolução s/
n° do Conselho Federal de Educação, de 8 de julho de 1966, em que está fixado os mínimos conteúdos e duração
do curso.
Ao longo do tempo, um número significativo de docentes do Departamento de Administração da
Universidade Estadual de Maringá vêm demonstrando "insatisfações" ou "incômodos" com esta formação
oficializada. Finalmente, esforços isolados ou de pequenos agrupamentos para um aperfeiçoamento curricular,
em 1991, convergiram para uma reforma de natureza estrutural, apesar de, manter-se em conformidade com a
legislação oficial. A partir de 1992, a Universidade Estadual de Maringá passa a oferecer um novo Curso de
Administração - nova filosofia, novos objetivos, novos procedimentos educacionais.
JUSTIFICATIVA
De acordo com o que prescreve o Processo, do "Currículo do Curso de Administração - Regime Seriado
Anual" - Caracterização da Filosofia Subjacente à Proposta, o novo currículo seguiu dois pontos de referência: 1)
uma decisão dos órgãos superiores da Universidade em adotar o regime acadêmico único de seriado anual: e 2) a
necessidade de atualização curricular para atender as novas exigências no campo profissional da administração.
Segundo tal referência, "o novo milênio se aproxima e ao mesmo tempo as organizações e o ambiente
estão sofrendo mudanças a um ritmo cada vez mais veloz, carecendo os dirigentes das organizações de uma
capacitação cada vez maior para fazer frente a estas mudanças. Portanto, a preparação dos administradores
das organizações do futuro obriga que a educação superior em administração oportunize aos alunos a
aquisição de uma série de conhecimentos novos para que possam atuar adequadamente: o que deverá em
contrapartida provocar alterações, tanto na atuação dos docentes quanto na dos discentes no processo de
aprendizagem".
*
Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo, Professor de Administração Geral e Estratégia
Empresarial do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá.
**
Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Coordenador do Curso de
Administração DAD/CSE/UEM, Professor na Área de Recursos Humanos.
OBJETIVOS
De acordo com o mesmo processo, o Curso de Administração tem como objetivo geral formar bacharéis em
Administração, onde a partir de uma forte base de conhecimento de ciências humanas e sociais, aliado ao
conhecimento técnico especifico, estejam capacitados a intervirem no processo sócio-político-econômico, seja
atuando à frente de organizações como administradores de alto nível, seja como administradores dos níveis
intermediários; e até mesmo operacionais; e mais ainda como cidadãos conscientes de suas responsabilidades
sociais. Especificamente em conformidade com a referência "...a partir do núcleo de natureza geral e
conceptual, propiciar a formação da capacidade analítica - explicar certos esquemas de compreensão da
realidade, criar hábitos de pensar rigorosos - do estudante". Aliado aos objetivos de capacidade conceptual,
proporcionar que o estudante desenvolva a capacidade de criar novas técnicas ou utilizar os métodos disponíveis
inerentes ao seu campo de atuação como profissional.
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Com base na Estrutura do Departamento de Administração, o curso seguirá as seguintes diretrizes
básicas:
1) Opção para a formação do Profissional generalista, porém, com competência para desenvolver
atividades nos diversos tipos de organizações, e áreas funcionais;
2) formação continuada: busca incessante de novos conhecimentos;
3) caracterização do perfil do profissional que se pretende formar é o ponto de referência da ação
pedagógica;
4) o conhecimento configurado através de três elementos: o fundamento, o instrumento e o aplicativo.
CURRÍCULO DO CURSO (Disciplinas, c.h. e ementas)
1ª SÉRIE
Fundamentos de Administração.........68
Ementa: A administração como ciência social aplicada. O fato administrativo: conceito e características,
papel e função do administrador, ética profissional. Postulados e pressupostos da teoria administrativa.
Pesquisa em Administração............68
Ementa: Discussão das principais tendências de reflexão teórica das metodologias da pesquisa científica
na administração. Momentos de investigação nas organizações. Técnicas de pesquisa nas organizações.
Filosofia............................136
Ementa: Estudo da história e evolução do pensamento filosófico e científico e sua integração no
contexto da administração.
Psicologia..........................136
Ementa: Estudo do comportamento humano: motivação e valores. Estudo da liderança, poder e conflito
Teorias sobre o comportamento em contextos organizacionais.
Sociologia..........................136
Ementa: Estudo das teorias sociológicas explicativas da estrutura e da mudança social e suas
implicações sobre as organizações, especialmente as implicações da divisão do trabalho, da tecnologia e da
automação sobre as relações de trabalho.
Matemática.........................136
Ementa: Fundamentos do Cálculo Diferencial e Integral. Fundamentos da Geometria Analítica e da
Álgebra Linear.
2ª SÉRIE
Pensamento Administrativo...........136
Ementa: Análise Histórica da Evolução do Pensamento Administrativo através da escolas.
Economia........................136
Ementa: Introdução á História do Pensamento Econômico e as principais teorias econômicas. A análise
microeconômica e macroeconômica.
Política............................68
Ementa: Estudo dos conceitos fundamentais da Ciência Política (poder, dominação, legitimidade e
hegemonia), visando a compreensão das relações travadas no interior do aparelho de estado e na administração
das políticas públicas (na perspectiva da compreensão da sociedade brasileira).
Antropologia Cultural................68
Ementa: Estudo das representações sócio-culturais produzidas nas relações de mercado da sociedade
brasileira.
Estatística.........................136
Ementa: Estatística Descritiva e Inferencial aplicada à Administração.
Contabilidade Geral e de Custos.....136
Ementa: O conceito de contabilidade, as noções de elaboração das demonstrações Contábil-Financeiras.
Os conceitos básicos de custos e seus sistemas contábeis e a importância de sua utilização na tomada de decisão.
3ª SÉRIE
Métodos e Medidas em Administração.136
Ementa: Utilização de métodos e medidas administrativas como instrumento auxiliar em todos os
campos da atividade do administrador para formulação de alternativas de soluções no processo decisório, nos
diversos problemas contidos nas áreas administrativas.
Processos e Téc. Administrativas...136
Ementa: O estudo dos Processos e Técnicas Administrativas e suas aplicações nas organizações.
Análise Financeira e Orçamento Empresarial................136
Ementa: Análise de custos para controle de decisão Administrativa. Análise das demonstrações Contábil
Financeiras. Planejamento Econômico, Financeiro.
Direito Administrativo e Aplicado..136
Ementa: Instituições do Direito Público e Privado. Os conhecimentos básicos de Direito Privado e
Comercial. Trabalhista. Tributário e Administrativo.
Economia Brasileira e Regional..... 68
Ementa: Estudo da Economia Regional e Brasileira.
Sistemas de Apoio à Decisão.........68
Ementa: O estudo da informação e utilização da informática como instrumento de apoio á decisão.
4ª SÉRIE
Administração Mercadológica.......136
Ementa: O ambiente gerar dos negócios, o ambiente tarefa, a filosofia e as funções de Marketing.
Sistemas de informações e decisões relacionadas aos compostos. Organização para o Marketing Internacional.
Administração Financeira..........136
Ementa: Estudo da gestão financeira de forma a permitir a análise contextualizada e integrada do
processo decisório com as demais áreas funcionais da empresa e com o mercado. Isto implica também, no estudo
de mercado financeiro, de capitais c cambiar.
Administração da Produção..........136
Ementa: Estudo da função de produção nas organizações, ressaltando sua importância e iterdependência
com as demais áreas administrativas, utilizando-se as técnicas de PCP (Planejamento, Análise e Controle da
Produção), e CTQ (Controle Total da Qualidade) e Lay-Out
Administração de Material...........68
Ementa: Gestão de estoque, sistemas básicos de estocagem, movimentação e manuseio de materiais.
Compra: procedimentos e lote econômico.
Administração de Recursos Humanos...136
Ementa : Gerenciamento de Recursos Humanos nas organizações, tendo como referência a importância
das pessoas e sua integração para que as organizações atinjam seus objetivos, sobrevivam e cresçam.
Diagnóstico Organizacional e Elaboração de Projetos...........136
Ementa: O diagnóstico
implementação de mudanças.
das
organizações.
Elaboração
de
programas,
projetos
e
processos
de
5ª SÉRIE
Diretrizes e Prát. Administrativas...136
Ementa: O estudo das várias funções administrativas. Estudos e implementos de estratégias e políticas
que condicionam o crescimento e a sobrevivência das organizações a longo prazo, particularmente diante das
susceptíveis transformações do mundo.
Tópicos Especiais de Administração...136
Ementa: A Administração dos diversos tipos de organizações.
Estudos Recentes de Administração...136
Ementa: Os avanços recentes do conhecimento no campo da administração e suas aplicações virtuais
nas organizações
Estágio Supervisionado.............270
Ementa: Diagnóstico e análise das organizações visando consolidar, de forma integrada e globalizada,
Os conhecimentos adquiridos durante o curso.
Estudos de Problemas Brasileiros....68
Ementa: A realidade brasileira: o homem brasileiro, formação étnica e cultural; traços características.
Problemas morfológicos. Sistema econômico brasileiro. As estruturas políticas. Características da democracia
brasileira. Problemas de desenvolvimento que, pela sua importância, significado e atualidade, merecem destaque
especial junto ao estudante do curso de Administração.
DA ANÁLISE
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
A questão de um curso superior em administração é percebida por questões elementares que a
referendam. Por exemplo, os conceitos de Universidade, de educação superior e de administração que estão
implícitos na estratégia do curso. Não há dúvida que tais conceitos serão levados em conta, diferentemente,
conforme a perspectiva do homem, de vida e de mundo de quem esteja tratando o assunto. É por isso mesmo que
se ouve falar "aquela escola é mais pragmática do que...". Portanto, a concepção de um curso está fortemente
eivada da concepção filosófica dos que o concebem. Eis uma das razões da diferenciação dos cursos da mesma
natureza.
Universidade, para uns, é onde se apreende os conhecimentos instrumento-profissionais; para outros, os
conhecimentos de explicação do homem da vida e do mundo sob as várias perspectivas e óticas. Logo, para uns,
um caráter eminentemente utilitarista; para outros, um caráter que transcende a vida prática.
Por fim, a década de 90, é iniciada com esforços não mais isolados para uma alteração estrutural na
formação do administrador. Os Conselhos Regionais e algumas Universidades e faculdades proeminentes no
Brasil, no estudo da administração, juntaram-se e estabeleceram um "movimento de reformulação". Encontros
regionais foram finalizados em um encontro nacional para apresentar uma "Proposta Global de Reformulação"
encaminhada ao Conselho Federal de Educação.
Efetivamente, as mudanças ainda não se tornaram um "padrão", mas esforços de alteração curricular já
pedem ser observados conforme se verifica nos escritos dos Anais do II e III encontros nacionais dos cursos de
graduação em administração (ENANGRAD, 1991, 1992)
Há uma tendência, em um grupo significativo de docentes do Departamento de Administração da
Universidade Estadual de Maringá. conceber a universidade como um "centro de discussões além tecnoprofissional, das grandes questões do homem, da vida e do mundo, como o instrumento social de produção do
novo conhecimento que influirá marcadamente na cultura, vigente no sentido de transformá-la, criando as
condições para uma nova e melhor sociedade, de forma contínua e permanente, e uma ambiência artificialmente
criada para participar na formação do homem como cidadão e profissional desta nova ordem, nova sociedade.
Nesta perspectiva, a formação de natureza universitário profissional é um grande avanço em relação a
formação tecno-profissional, que apresenta uma característica muito distinta de outras formações profissionais:
um processo educacional centrado fortemente no desenvolvimento do indivíduo como pessoa e como ser social,
onde a preocupação é com o desenvolvimento humano - ênfase no saber; e não no treinamento - ênfase no fazer.
Cabe aqui comentar que o treinamento em administração, as organizações desenvolvem em seu âmbito
"adestrando" seus futuros profissionais de acordo com sua cultura e especificidades – p.ex. programa de trainees.
E um curso de formação superior em administração? Ora. precede aos formuladores seu entendimento
do que seja administração e de qual seja o seu objeto de estudo. Diferentes escolas do pensamento administrativo
diferenciam-se, principalmente, quanto ao entendimento do mencionado objeto. Este aspecto é por demais
compreensível dado a natureza variada de elementos que constituem a formação das pessoas, que influi
sobremaneira em sua perspectiva sobre um dado objeto
Existe uma corrente no referido Departamento que entende ser o objeto de estudo da administração
circunscrito às organizações, ao comportamento humano nas organizações ou em torno das relações que se
desenvolvem entre as pessoas no ambiente de trabalho, que pedem ser caracterizadas como relações
organizacionais.
Nesta perspectiva, a formação ou educação centrada fortemente no desenvolvimento do indivíduo como
pessoa, como ser de uma sociedade, é um grande avanço em relação ao que vinha ocorrendo.
A ESTRATÉGIA DE CURSO
Algo que parece estar cada vez mais sendo entendido pelos docentes do Departamento em referência é
que eles precisam encontrar uma estratégia própria de curso, que dará a orientação condizente com suas
competências, seus valores e suas intenções, o que permitirá que os mesmos possam maximizar sua contribuição
no processo de educação superior em administração a que se propõem, sem contudo, fugir a um padrão que
possa ser comumente aceito.
A Filosofia como Postura Estratégica
Pretenciosamente, alguns docentes do Departamento de Administração resolveram "ousar": buscar uma
identificação ou contribuir para uma formação que há muito é, pelo menos, "sonhada" por uma parcela nacional
significativa de estudiosos da administração1, conforme se pede constatar pelo "Seminário Nacional de
Reformulação Curricular dos Cursos de Administração de 28 a 31 de outubro de 1991, no Rio de Janeiro, sob a
coordenação do Departamento de Administração da Faculdade de Economia e Administração da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Não há dúvida que a tendência é para um curso que potencialize o "administrador", e não, que apenas
habilite como técnico. Muito mais do que dominar algumas restritas técnicas de "fazer isto ou aquilo", apreender
certos conhecimentos inerentes a quem exerce a função de administrador na sociedade, em geral, ou na
organização de negócios, em particular, é uma postura exigida do profissional, Exige-se um domínio de
conhecimento conectado com várias áreas do conhecimento humano, a partir de leitura da relação que se
desenvolve entre os indivíduos no ambiente de trabalho, nas organizações em si, tanto a nível ambiental interno
quanto externo.
Daí, uma concepção de curso que abranja uma gama de conhecimentos universais e particulares, sóciohumanos e sócio-técnicos, generalistas e especialistas. Uma preocupação estritamente voltada para a transmissão
e conhecimentos que tocam no interior do indivíduo, procurando seu desenvolvimento, muito mais do que os
conhecimentos que tocam em sua superfície e que apenas aumenta a sua habilitação de fazer algo, sem mesmo
entender porquê, sem aumentar sua capacidade de efetiva transformação das organizações, da sociedade e do
mundo.
O Objetivo como um Alvo Estratégico
O que, efetivamente, se quer como curso de formação universitária em Administração? Eis uma questão
complexa, apesar de aparente simplicidade. Primeiramente, um ser humano desenvolvido, ou seja, consciente de
si mesmo e do coletivo, do social, segundo, habilitado para determinado exercício profissional como cidadão de
uma determinada coletividade; e terceiro, competente no exercício de tal função para provocar as transformações
necessárias que redundam em crescente aumento do bem estar tanto individual como coletivo.
1
- Seminários da USP, Criação da ANGRAD.
Nesta linha, o curso de Administração em análise pretende contribuir para a formação de um
Administrador, e não, de um Técnico em Administração, de um ente social que seja um agente de mudança
coletiva para o bem estar geral; e uma pessoa capaz de produzir os mecanismos convenientes ao seu exercício
profissional a partir da assimilação dos próprios mecanismos existentes.
Procedimentos Didáticos como Medidas de Cunho Estratégico
Conceitualmente, uma formação desta natureza, que propõe toda a apreensão do conhecimento, seja do
sujeito (na perspectiva idealista) seja do objeto (na perspectiva realista) se dê orgânica, apesar de sua aparência
mecânica, integrada e evolutivamente através de três elementos que configuram o próprio conhecimento: O
Fundamento, o Instrumento e o Aplicativo. O aspecto fundamental, como o elemento de origem, de justificativa
ou de explicação da essência: o instrumental, aquele que favorece o desenvolvimento dos meios de ação em uma
relação: e o aplicável, aquele que estabelece a utilidade sócio-técnica do conhecimento apreendido.
A nível macro, teríamos a seguinte reestruturação curricular:
a) o início do curso é constituído de disciplinas destinadas a dar fundamentação teórica aos alunos para
que eles possam absorver a base teórica das disciplinas das sedes seguintes;
b) a fase intermediária é composta por disciplinas que tem o objetivo de instrumentação, ou seja,
disciplinas para fornecer ao aluno conhecimentos de áreas que aliadas às disciplinas básicas lhes darão apoio
para o desenvolvimento das disciplinas profissionalizantes;
c) a fase final do curso é compreendida por disciplinas que, integradas com as disciplinas das lª, 2ª e 3ª
séries, habilitarão o aluno ao exercício da profissão de administrador;
d) a quinta série finaliza o curso através do estágio supervisionado e de disciplinas que terão por
objetivo, integrar o aluno ao mercado de trabalho, além de ser um processo de transição na vida do bacharelando,
onde ele passa de estudante a profissional.
Resumindo (e repetindo), o curso em si, se compartimenta organicamente em três divisões ou conjuntos
de conhecimentos modulados e dependentes, seqüênciais e paralelos: Parte 1 – Fundamental; Parte 2 –
Instrumental; Parte 3 - Profissional propriamente dito. A parte fundamental compreende os conhecimentos
elementares que irão originar, justificar e compor tanto os conhecimentos de natureza instrumental quanto
profissional; a instrumental, o conhecimento associado a arte (conjunto de técnicas gerais) tomada emprestada de
outras áreas do conhecimento humano, mas adequáveis à área de conhecimento administrativo; e a profissional,
o conhecimento referente aos campos de aplicação e de ação administrativa propriamente dito.
A nível micro, toda e qualquer disciplina do curso guarda esta configuração matriz. Ou seja, todo o
conhecimento contido apresenta aspectos fundamental, instrumental e aplicativo. E, assim sucessivamente, até a
célula menor do discurso docente.
DOS MEIOS PARA A EXECUÇÃO
A questão que precede é quanto aos meios, mecanismo este para a viabilização operacional da referida
estratégia de curso.
O Regime Acadêmico
Dentro do próprio grupo departamental não há entendimento quanto ao regime que seria adequado para
o "Processo de Aprendizagem" Desta forma, o projeto se preocupou com um "Produto” que pudesse contemplar
um ou outro: Regime de Créditos x Regime Seriado. Considerando a decisão superior universitária, o regime em
vigência passou a ser sedado. Desta forma, optando-se por maior "disciplina” ao invés de "liberdade acadêmica";
centrado no processo invés de no indivíduo, no que toca a aprendizagem.
Para compensar as possíveis desvantagens que o regime traria a proposta de curso, medidas
complementares estão em estudo, assim como formação de grupos autônomos de estudos, incentivo a iniciação
científica e um programa extra oficial de eventos que ampliasse o conhecimento do estudante além do currículo
"disciplinado".
Os Recursos Docentes
A proposta de curso exige uma capacitação docente diferenciaria daquela em que a preocupação era a
formação estritamente técnica. Para tanto urgem programas de capacitação docente; de melhoria de Ensino; de
Pesquisa e Extensão em andamento no departamento para ampliar o leque de conhecimentos necessários ao
docente e integra-lo em um projeto de uma amplitude multi e interdisciplinar diferente da anterior.
A Reestruturação Departamento: UM NOVO CONCEITO DE DEPARTAMENTO ACADÊMICO
De acordo com Wanderley (199l) "com a lei da reforma universitária, estabeleceu-se que a universidade
teria como unidade básica uma estrutura orgânica com base em departamentos reunidos ou não em unidades
mais amplas". Ainda, conforme o mesmo autor, com o que concordamos. "uma finalidade central e explícita na
criação dos departamentos foi a de não duplicação de meios para fins idênticos ou equivalente, almejando alterar
a fragmentação das unidades acadêmicas e sua justaposição, bem como eliminar a duplicação de recursos
humanos e materiais" (Wanderley, 1991:64).
Desta forma, o departamento como uma unidade universitária representa a concentração especializada
de recursos, contribuindo para a formação universitário-profissional. Todavia, na prática, apesar de variações
organizacionais, cada curso oferecido pela universidade tenderá a ficar associado a um departamento, mesmo
quando ele tem natureza multidisciplinar. O regime seriado, com ênfase na disciplina acadêmica vem reforçar
esta definição. O projeto do curso de administração que ai está, além de multidisciplinar, tem uma característica
fortemente interdisciplinar, exigindo, então, significativa interação entre diversas áreas do conhecimento
humano.
A estrutura convencional de e do departamento passa a ser não satisfatória para atender aos requisitos
de um curso com tal natureza. Destarte isso, faz-se necessária uma estrutura que contemple tanto a multi quanto
a interdisciplinaridade, dinamicamente; do contrário, teremos uma formação fragmentada - como era a do
técnico de administração. Esta estrutura deve evoluir gradativa, incremental e organicamente, de "agrupamentos
fins", para uma composição inter-relacionada das diversas áreas do conhecimento que irão contribuir para a
constituição do conhecimento administrativo.
Configurativamente, o que observaríamos seria multigrupos e intergrupos no desenvolviment o da
formação requerida. Ainda, automática e sucessivamente, um elemento seria participante de "n" grupos, ou seja
transita entre as diversas áreas do conhecimento ligado ao conhecimento administrativo. Mais ainda o que
observamos é uma unidade acadêmica com a estruturação centrada em um e apenas um só grupo,
"multifacetado".
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A "realidade" observável é que o curso de Administração - sua filosofia, objetivos e procedimentos
formacionais, implantados no Brasil a partir da década de 60, não compreendiam uma estratégia de curso
"própria", mas sim uma "grosseira aculturação americana", sem a devida redução sociológica "...o ensino baseiase num corpo teórico que explica o modelo capitalista de grande empresa e de realidades econômicas
disciplinadas, principalmente a americana" (Medeiros e outros, Anais do III ENANGRAD, 1992: 135). O
momento era aparentemente oportuno para tal transposição. Assim foi feito: com erros e com acertos. Já se vão
mais de 30 anos insistindo na estratégia do curso de formação de "Técnico de Administração", apesar de
possíveis esforços que vem sendo desenvolvidos para mudar a "mentalidade” do curso.
O que se espera, efetivamente, de um Projeto como este? O surgimento de um novo profissional, com
um perfil mais adequado a uma sociedade mais justa uma sociedade de organizações em que os participantes
cada vez mais encontrem orientações bem sucedidas, onde o "sofrimento humano" é minimizado.
Por que o conjunto de conhecimentos escolhido, e não outro? Ou seja, porque estudar Filosofia,
Psicologia, Sociologia etc.? Toda concepção do curso leva a crer que os "idealizadores" tem as relações
organizacionais como objeto de estudo da administração. Neste sentido, a tarefa central da administração é
ajustá-la contínua e permanentemente. Ora, relações organizacionais, em princípio, do relações entre pessoas em
uma ambiência de trabalho transformativo, produtivo ou coisa que se assemelhe. Para ajustá-las, precede todo
um conhecimento delas, entendê-las e desenvolver mecanismos apropriados para intervir junto às mesmas. Desta
forma, o conjunto de conhecimentos exigíveis para isto faz-se necessário ou seja de natureza tal que compreenda
ou leve o interessado a compreender o homem como pessoa (sob as diversas facetas que lhe são peculiares) e
como um indivíduo que convive com outras pessoas, em situações cooperativas, competitivas ou neutras na
busca de recursos necessários ao desenvolvimento do trabalho humano. Destarte, áreas de conhecimento como
filosofia, psicologia, antropologia etc. são fontes imprescindíveis dos elementos que formarão este novo
conhecimento administrativo.
A execução do referido projeto de curso apresenta algumas exigências para viabilizar condições
mínimas de bom êxito. Esta é uma questão que passa por:
1 - Reestruturação organizacional, pelo menos do Departamento de Administração, Centro de Estudos
Sócio-Econômicos, da Universidade Estadual de Maringá. A estrutura vigente existe para uma outra estratégia
de curso. O novo curso exige uma forma integrada de agrupamentos docentes, tarefas "ad-hoc" de melhoria
continua da aprendizagem e produção de novo conhecimento e avaliação contínua.
2 - Capacitação multi e inter disciplinar. Todos os docentes, de alguma forma, tem que estar envolvido
com todas as sub-áreas do conhe cimento administrativo e saber em que, onde e como os seus conhecimentos e os
de outros se dependem e integram na formação geral. Isto pode ser conseguido através de uma procura
permanente de participação em eventos tanto externos como internos a respeito de estudos da administração.
3 - Avaliação e readequação contínua e permanente do projeto de curso, que pode ser obtida através da
constituição de um grupo ou comissão especial neste sentido, composto pelo coordenador do curso, dos
coordenadores de áreas de conhecimento e de discentes eleitos ou escolhidos para tal fim.
4 - Postura Disccnte Especificarnenie quanto aos discentes, espera-se um desenvolvimento de "postura"
diferente do anterior, a preocupação com o "receituário" perde lugar para uma forte ênfase na absorção do
conhecimento que leva ao entendimento da função, ao domínio do "entender"; com esta expectativa, entendemos
que o discente buscará o conhecimento que faz sentido à sua pessoa e profissão, exigindo desta forma, entre
discente e docente, um novo contrato de aprendizagem
FONTES DE CONSULTA
Universidade Estadual de Maringá, currículo do Curso de Administração, regime seriado anual, 1992. MaringáPR.
Wanderley, Luiz Eduardo. O Que é Universidade. São Paulo, Brasiliense (Coleção Primeiros Passos), 1991.
Anais do II Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - 3 a 5/09/91. São Paulo-SP.
Anais do III Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - 27 a 29/08/92. Belo HorizonteMG.