A Existência das Cidades: um enfoque com base na
teoria da economia urbana
Paulo J. Körbes1
Resumo
Neste trabalho, buscou-se encontrar fundamentos econômicos que expliquem
a existência das cidades. Encontrou-se conceitos econômicos que sustentam
que, apesar de as cidades oferecerem amenidades sociais negativas
(violência, engarrafamentos, poluição ambiental e sonora, elevado custo de
vida...), os indivíduos são atraídos para elas em função de as mesmas
ofertarem postos de trabalhos. E, estes últimos são ofertados por empresas
que se localizam próximos aos centros urbanos, objetivando usufruir de
economias de escala e economias de aglomeração. Finalmente, aplicou-se os
fundamentos teóricos à análise do comportamento da evolução da população
do Brasil e do Município de Sinop (MT). Conclui-se que os fundamentos
teóricos são sólidos, e se aplicam a ambos os casos.
Abstract
In this work, we research to find economic fundamentals that explain the
existence of cities. We found economic concepts who argue that, in spite of the
fact that cities offer negative social amenities (violence, traffic congestion,
environmental pollution and noise, high cost of living and so on), people prefer
to live in cities because they offer jobs. And, the jobs are offered by companies
that are located close to urban centres, in order to take advantage from scale
economies and agglomeration economies. Finally, we apply the theoretical
principles to analyze Brazil's and Sinop city’s population evolution We conclude
that the theoretical foundations are solid, and are applied in both cases.
1
Doutorando do PIMES/UFPE, no Programa DINTER UFPE/UFMT e Professor do Curso de
Economia da Universidade do Estado de Mato Grosso/Campus de Sinop
a
1
1 – A Economia Urbana
No mundo moderno, a maior parte da população global reside em
cidades. Nelas as pessoas moram, trabalham e convivem socialmente. Nelas
também estão localizadas as sedes de governos, instituições e centros de
produção, negócios e serviços. De fato, na maioria dos países, os centros
urbanos abrigam expressiva parcela da população. Apenas uma pequena
minoria reside no meio rural. Mas, quais seriam as explicações para a
aglomeração de pessoas em um espaço restrito?
Certamente os centros urbanos, principalmente aqueles com elevada
taxa de densidade populacional, não representam necessariamente a melhor
alternativa de residência aos indivíduos, em termos de qualidade de vida. Entre
muitas das desvantagens de se viver numa grande cidade, limitamo-nos a citar
a questão da violência urbana, congestionamentos, poluição ambiental e
sonora, elevado custo de vida, dentre outras. Afora a constatação destas
desvantagens, as cidades existem e, hoje, aglutinam a maior parcela da
população mundial. Qual a explicação desta aparente contradição?
Existem, na literatura, diferentes explicações sobre o surgimento das
cidades, nos moldes em que as conhecemos, hoje. Uma delas é a constatação
de que, ao abandonar as cavernas e passar a povoar vales e planícies, que
ofereciam maior proximidade com a fartura de alimentos, o homem sentiu a
necessidade de construir abrigos para se proteger das intempéries, bem como
construir, ao redor dos mesmos, cercas ou muros para se proteger da ameaça
de ataques de animais selvagens.
Outros cientistas sociais argumentam que o homem é, por natureza,
um ser social e que, portanto, tem uma necessidade nata de viver em
coletividade. Brueckner (2011), afirma que cientistas sociais podem dar
diferentes explicações para a existência das cidades. Por exemplo, um
historiador militar poderia afirmar que, embora a população se concentre nas
cidades, a defesa contra ataques seria mais difícil. Por sua vez, um sociólogo
poderia argumentar que as pessoas gostam de interagir socialmente e que,
para tanto, precisam estar espacialmente concentrados nas cidades. Já a
2
explicação econômica para a existência de cidades estaria focada em
empregos e na localização da renda.
Para o autor, os economistas argumentam que existem certos
mecanismos econômicos que fazem com que a renda seja concentrada no
espaço. A concentração de empregos leva à concentração das residências,
uma vez que as pessoas procuram morar próximas aos seus postos de
trabalho. E o resultado desse processo é a existência das cidades.
Brueckener prossegue, afirmando que os mecanismos que levam à
concentração espacial dos postos de trabalho, identificados por economistas,
consistem em economias de escala e economias de aglomeração.
Com relação às economias de escala, estas estão fortemente
associadas a ganhos de produtividade. De fato, se a produção depende dos
fatores de produção, quanto maior o uso de fatores, maior os níveis de
produção. Para o caso de um único fator de produção (por exemplo, o trabalho
humano, representado por L) a função de produção pode ser expressa pela
equação y = f(L). Desta equação pode-se obter a produtividade média
(dividindo-se ambos os lados da equação pelo fator de produção L):
௬
௅
=
௙(௅)
௅
.
Neste caso, quando a produtividade marginal for maior que a produtividade
média, o acréscimo de uma unidade do fator (L) aumenta a produtividade.
Na prática as empresas, por utilizarem o fator de produção trabalho,
preferencialmente devem localizar-se próximas aos centros urbanos2. E, em
assim fazendo, têm maior probabilidade de ter seus postos de trabalho
ocupados, bem como promovendo a divisão do trabalho com o objetivo de
aumentar sua produtividade3. Concomitantemente, como os indivíduos
procuram residir próximos aos postos de trabalho, ocorre a concentração
urbana.
2
Este argumento não é válido quando insumos e produto final estão em locais diferentes. Ver
Brueckner (2011), pág. 10, em sua abordagem sobre custos de transporte e localização das firmas,
classificando o produto final das mesmas como “Weight-Gain” e “Weight-Losing”.
3
Tal qual abordado por Adam Smith (1776), enfatizando que a riqueza das nações é consequência do
trabalho humano, e que a divisão do trabalho aumenta a produtividade (em seu clássico caso das
fábricas de alfinetes).
3
Com relação às economias de aglomeração, Brueckener as divide em
Pecuniárias (quando ocorre a redução dos custos de produção, mas a
produtividade não é afetada), e Tecnológicas (quando ocorre o aumento da
produtividade,
sem
que
os
custos
de
produção
sejam
afetados).
Adicionalmente, a economia de aglomeração pecuniária é subdividida em três
categorias:
Matching: o que pode ser interpretado como o melhor “casamento”
entre oferta e demanda. Um exemplo clássico é o caso de uma esposa que
acompanha o cônjuge, transferido de cidade por seu empregador. Se ela for
qualificada, terá maior probabilidade de arrumar um emprego se o esposo for
transferido para uma grande cidade, do que se transferido para uma pequena
cidade do interior.
Sharing: Literalmente significa compartilhamento. Observável nos
casos em que o aumento do uso diminui os custos de produção, e
consequentemente os preços. Assim como o aumento da concorrência tende a
diminuir os preços.
Custo de Transportes: Nas grandes cidades, observa-se um elevado
número de consumidores e de firmas ofertantes. Como os consumidores estão
próximos aos ofertantes, os custos de transportes são relativamente menores.
Em suma, no caso do custo de transportes, a economia da aglomeração deriva
da menor utilização, e não do menor preço.
Já com relação à economia de aglomeração tecnológica, o autor as
qualifica como fontes de ganhos advindos das cidades, uma vez que os fatores
de produção apresentam-se mais produtivos nos grandes centros. Estas
externalidades são classificadas, pelo autor, como sendo:
Learning: Nos grandes centros existe uma maior interação e troca de
informações entre agentes de determinados setores, bem como de setores
totalmente distintos, resultando em inovação e aplicação de novas ideias.
Incentivos de Mercado de Trabalho: com a maior oferta de mão de
obra, o trabalhador é induzido a um maior esforço (em função do risco de
4
demissão, bem como em função da competição com trabalhadores de outras
firmas), o que aumenta sua produtividade.
Assim, o autor conclui que a decisão entre concentrar ou desconcentrar
a produção depende dos retornos constantes de escala vis a vis aos custos de
transporte, bem como das economias de aglomeração.
O’Sullivan (2009) também indaga as motivações para a existência de
cidades. Por que agora existem grandes metrópoles, se a menos de duzentos
anos o mundo mal vislumbrava esboços de cidades modernas? Em sua obra
(Urban Economics), o autor afirma que as cidades existem porque a tecnologia
humana criou sistemas de produção e troca que aparentam desafiar a ordem
natural. E prossegue: “(...) a transformação de uma sociedade rural em urbana
ocorreu porque os avanços tecnológicos proporcionaram um significativo
aumento da produção agrícola4, um incremento na produtividade dos
trabalhadores urbanos, bem como expressivas melhorias na eficiência dos
meios de transportes e trocas”.
Esta importante abordagem da contribuição da inovação tecnológica
para a explicação da existência das cidades, aparentemente passou
desapercebido por Brueckner (ou ele deve tê-lo considerado inerente ao
próprio processo), e constitui-se em importante contribuição da abordagem de
O’Sullivan.
Em suma, O’Sullivan aponta quatro principais motivos que explicam a
existência das cidades, a saber:
As pessoas não são auto suficientes
As pessoas preferem se aglomerar para poder adquirir, com
maior facilidade, bens que elas não poderiam produzir
individualmente.
Com a aglomeração, ocorre a especialização, que leva à
produção em alta escala
A produção ocorre nas cidades
4
David Ricardo (1772-1823) viu frustrada sua previsão pessimista sobre o futuro do capitalismo, por não
prever, em sua Teoria dos Rendimentos Decrescentes, a inovação tecnológica na produção agrícola
como inibidora do aumento da renda da terra. (Grifo nosso)
5
Além de Bruekner e O”Sullivan, também Fujita (1989) e Wheaton
(1989) abordam a questão da explicação da existência de cidades. A partir das
arguições dos autores, fundamentando suas explicações (do ponto de vista
econômico) da existência das cidades, e munidos do domínio de uma modesta
retrospectiva histórica, podemos deduzir a sequência dos eventos: Em
determinado momento, as cidades substituíram o campo como principal fonte
de postos de trabalho e moradia. Isto só foi possível porque, graças ao avanço
tecnológico, a humanidade passou a disponibilizar de alimentos em quantidade
e qualidade de tal magnitude que, de um momento para o outro5, se deu conta
que dispunha de tempo para fazer outras coisas. A luta pela sobrevivência já
não lhe consumia a integralidade do tempo6. E, com tempo disponível, a
humanidade deu-se conta de que havia outros pontos que poderiam melhorar
também. Daí, para superar a máquina à vapor e descobrir a eletricidade, foi só
um passo. Da carruagem ao automóvel, à estrada de ferro e aos transatlânticos
e cargueiros... às linhas de montagem e ao desenvolvimento do comércio e
casas de negociações de títulos (bolsas de valores)...
Na prática, num curto espaço de tempo, as pessoas passaram a
abandonar suas fazendas ou sítios interioranos, e passaram a migrar para
centros urbanos em busca de ofícios ou profissões que lhes provinham mais do
que meramente o necessário para a subsistência. E, a aglomeração desse
contingente em centros urbanos, aqueceu o comércio. E os beneficiados nesse
processo não se limitavam aos comerciantes das cidades, como também aos
agricultores remanescentes no campo, que forneciam alimentos para esta
população urbana toda.
2 – A Urbanização no Brasil
A população brasileira nem sempre foi urbana. De acordo com o
IBGE/Sidra7, o senso populacional realizado em 1960 indicava que o Brasil
ainda era um país predominantemente rural, uma vez que os levantamentos
5
Evidentemente que, numa linha de tempo, este processo deve ter demorado algumas gerações.
Tempo: talvez o mais precioso dos ativos do homem moderno.
7
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/Sistema Ibge de Recuperação Automática
(população)
6
6
apontavam uma população rural de quase 39 milhões de pessoas, frente a 32
milhões de cidadãos urbanos, totalizando uma população de aproximadamente
71 milhões de pessoas.
Mas, já no senso seguinte, o de 1970, esta situação encontrava-se
invertida. O Brasil contava com uma população total de mais de 94,5 milhões
de habitantes, sendo que dos mesmos 41,6 milhões permaneciam no campo,
enquanto que 52,9 milhões ocupavam os centros urbanos. A partir deste ano,
não ocorreram mais reversões, e a relação campo/cidade foi sendo deteriorada
ano após ano. Este período (sendo de 1960) também é uma espécie de “divisor
de águas” com relação à tendência da evolução da população rural. Enquanto
até aquele ano ela apresentava tendência ascendente, a partir do mesmo a
tendência reverteu-se drasticamente, passando a ser ininterruptamente
descendente. Isto implica deduzir que o país sofreu um expressivo processo de
migração campo/cidade, a partir de 1960. A Tabela 1 demonstra isso, com os
números dos sensos populacionais decenais realizados pelo IBGE, entre 1950
a 2010:
Ano
1950
1960
1970
1980
1991
1996
2000
2010
Tabela 1 - População - Brasil - 1950 a 2010
Urbana
Rural
Total
18.782.891
33.161.506
51.944.397
32.004.817
38.987.526
70.992.343
52.904.744
41.603.839
94.508.583
82.013.375
39.137.198
121.150.573
110.875.826
36.041.633
146.917.459
123.076.831
33.993.332
157.070.163
137.953.959
31.845.211
169.799.170
160.925.804
29.829.995
190.755.799
Note-se que a reversão desta relação (população rural versus urbana)
ocorreu entre os anos de 1960 e 1970. Como os sensos são realizados a cada
dez anos, inexistem os dados necessários para demonstrar, com precisão, em
qual ano esta reversão ocorreu. Resta-nos, para minimizar a dúvida, recorrer à
visualização gráfica para estimar (aproximadamente) o ano em que este evento
ocorreu. O Gráfico 1 se propõe a tanto:
7
250.000.000
Urbana
Rural
Total
200.000.000
150.000.000
100.000.000
50.000.000
0
1950
1960
1970
1980
1991
1996
2000
2010
Figura 1 – Evolução da População Brasileira – 1950 a 2010
Com o auxílio da visualização gráfica, podemos deduzir que a
população brasileira passou a caracterizar-se como predominantemente
urbana entre meados de 1962 a meados de 1963.
Aqui cabe um ponto de interrogação. Segundo algumas premissas da
Teoria Econômica Urbana, abordada no primeiro tópico desta análise, os
indivíduos se aglomeram em centros urbanos porque estes aglutinam os
postos de trabalho.
Sabe-se que o processo de industrialização do Brasil foi marcado pela
decisão do Governo Federal de aderir à causa dos aliados, por ocasião da II
Guerra Mundial. Esta decisão resultou na adesão da política econômica
brasileira às premissas keynesyanas8, e consequentemente resultou no
surgimento das gigantes empresas estatais brasileiras, bem como na política
da “substituição das importações”. Logo, o processo de industrialização do
Brasil já havia sido deflagrado nos anos de 1940, e somente entre 1962 e 1963
inverte-se a relação “população rural/urbana” do Brasil.
8
Em 1936, John Maynard Keynes publica “A Teoria Geral do Emprego, dos juros e da Moeda”, uma
afronta à teoria clássica liberal do laissez faire (deixar fazer), resgatando a importância da intervenção
do Estado na condução da atividade econômica da nação.
8
Apesar de os números revelarem que a reversão de população rural
para predominantemente urbana só ter ocorrido mais de duas décadas após o
início do processo de industrialização brasileira, o fenômeno de migração
cidade/campo iniciou-se muito antes de 1962 ou 1963. Provavelmente iniciou
juntamente com o processo de industrialização, após a década de 1940, o que
está de acordo com a teoria: “as pessoas se aglomeram nas cidades porque
nelas estão os postos de trabalho”. Para constar isto, analisemos os números
dos censo de 1950 e 1960:
Considerando-se que as taxas de fertilidade e taxas de nascimentos
entre as populações rural e urbana sejam relativamente semelhantes, deduz-se
que o processo de migração campo/cidade já vinha ocorrendo desde 1950 (ou
antes). Note-se que a população urbana aumentou, de 1950 a 1960, de 17,8
milhões para 32 milhões de pessoas, o que representa uma taxa de
crescimento no período de 71%. Neste meio tempo, a população rural
aumentou de 33 milhões para 38,9 milhões de pessoas, o que significa uma
taxa de crescimento de meros 17,8%. Estes números mostram que o país
passou por um expressivo processo migratório campo/cidade, entre 1950 e
1960.
Já na década seguinte, analisando os censos de 1960 e 1970, nota-se
que a população urbana aumentou a uma taxa de 65%, enquanto a rural
aumentou apenas em 6,9%. A migração campo/cidade tornou-se mais
expressiva e, a esta altura (1970) a população urbana já representava 56% da
população total do país.
Este fenômeno migratório observado no Brasil, a partir de meados do
século XX, está em sintonia com as premissas apontadas por Brueckner: as
cidades existem porque as empresas tendem a se localizar próximas às
grandes cidades, beneficiando-se de economias de escala e economias de
aglomeração. Também condiz com a premissa complementada por O’Sullivam,
segundo o qual o avanço tecnológico acelera o processo de desenvolvimento
industrial e, por consequência, abre mais postos de trabalhos junto aos centros
urbanos.
9
Com relação ao avanço tecnológico, vale lembrar que o Brasil foi
afetado fortemente por este processo, a partir de meados do século XX. Com
programas federais de estímulo ao crescimento econômico9, diferentes
indústrias multinacionais foram atraídas para se instalarem no Brasil. Dentre
elas, a indústria automotiva, que arrebatava legiões de trabalhadores braçais
na região sudoeste do país.
Ao mesmo tempo, uma nova capital federal estava sendo construída na
região Centro Oeste, atraindo não apenas trabalhadores envolvidos na
construção em si, como profissionais autônomos (motoristas de caminhões),
comerciantes, profissionais liberais e prestadores de serviços os mais diversos.
As cidades demandavam cada vez mais mão de obra. A cada dia, novos
postos de trabalho eram abertos.
Adicionalmente, a inovação tecnológica também proveu atrativos às
cidades que, se não ofereciam empregos diretamente, revelavam-se
irresistíveis aos jovens que insistiam em permanecer no campo. As cidades
ofereciam a televisão, a telefonia e uma gama de opções de laser (dentre elas
o próprio futebol) que se demonstravam irresistíveis à juventude do campo.
Portanto,
as
premissas
teóricas
da
urbanização
econômica
demonstraram-se sólidas para explicar a onda migratória da população
brasileira, de uma vida tranquila e saudável no campo, para a aglomeração das
cidades. Mas, entendemos que o fenômeno verificado no Brasil ocorreu num
período muito particular, que coincidiu com uma mudança na própria vocação
econômica do país: de produtor agrícola (ciclo da cana-de-açúcar e do café),
para a industrialização nascente.
Assim, pretende-se testar as premissas teóricas da urbanização
econômica aplicadas a um período mais recente, para verificar se elas se
sustentam. É o que será feito no próximo tópico.
9
O Plano de Metas “Cinquenta anos em cinco”, do governo de Juscelino Kubitschek (1956 a 1961)
10
3 – O Caso de Sinop (MT)
Comparativamente a outros municípios brasileiros, Sinop é uma cidade
relativamente jovem, já que foi emancipada em 1979. Mas, a fundação do
centro urbano ocorreu em 14 de setembro de 1974, consequência do projeto
de integração nacional do governo militar da época, que expandiu a BR 163 de
Cuiabá (MT) até Santarém (PA) no sentido vertical. Outra obra de integração
do governo foi a execução da Rodovia Transamazônica, cortando os principais
estados da região norte do país, no sentido vertical.
A abertura da BR 163 de Cuiabá a Santarém, despertou o interesse da
empresa Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná10, que adquiriu do governo
militar uma vasta área de terras localizada a 500km ao norte de Cuiabá,
denominada Gleba Celeste, com o objetivo de implantar seus projetos de
colonização. Para atrair agricultores dispostos a adquirirem terras em sua
gleba, principalmente oriundos do sul do país, a empresa colonizadora
implantou núcleos urbanos na região, sendo que o de Sinop foi implantado às
margens da BR 163.
Já município, os números sobre a população sinopense já aparecem
no censo populacional de 1980, e são apresentados na Tabela 2:
Ano
1980
1991
2000
2010
Tabela 2 - População - Sinop - 1980 a 2010
Urbana
Rural
Total
8.590
11.301
19.891
33.253
5.121
38.374
67.706
7.125
74.831
93.753
19.346
113.099
Note-se que, ainda em 1980, a maior parcela da população de Sinop
residia na zona rural. Isto se explica porque o objetivo da empresa colonizadora
consistia em atrair agricultores, que ocupassem a zona rural do município. Para
tanto, a empresa implantou uma usina no município, com o objetivo de produzir
álcool a partir do cultivo de mandioca, fornecida pelos produtores do município.
A Figura 2 possibilita a visualização gráfica da evolução da população de
10
Das siglas iniciais da empresa colonizadora advém o nome da cidade de SINOP.
11
Sinop:
120.000
Urbana
100.000
Rural
Total
80.000
60.000
40.000
20.000
0
1980
1991
2000
2010
Figura 2 – Evolução da População de Sinop – 1980 a 2010
Note-se que a reversão de população predominantemente rural para
urbana ocorreu logo no início da década de 1980. E isto deu-se em função do
fato de o projeto da produção de álcool não ter vingado. O solo da região
mostrou-se inadequado para a produção de mandioca, em função do seu baixo
lençol freático. As raízes da mandioca acabavam apodrecendo por conta do
excesso de umidade do solo. Também outras culturas não vingavam, com
exceção da cultura do arroz de sequeiro.
Isto acabou desestimulando alguns agricultores, que abandonavam
suas áreas e retornavam às suas regiões de origem. Mas, muitos migraram
para o núcleo urbano do município, uma vez que uma nova e promissora
atividade econômica vinha despontando: a atividade madeireira. Forte
demandante de mão de obra, o setor madeireiro passou a ofertar muitos postos
de trabalho aos agricultores frustrados na atividade agrícola. Centenas de
empresas madeireiras se instalaram às margens da rodovia BR 163, no
perímetro urbano de Sinop.
Esta expressiva migração da agricultura para a atividade industrial, por
significativa parcela da população do município, explica a significativa redução
da população rural do mesmo, apontada pelo censo populacional de 1991.
12
Note-se que a população rural diminuiu em 55% entre 1980 e 1991, enquanto a
população urbana aumentava à estratosférica taxa de 286%.
Novamente as premissas da Teoria Econômica Urbana se aplicam,
desta vez ao caso do Município de Sinop. O projeto de colonização, que tinha
por fundamento a produção agrícola, só não naufragou porque postos de
trabalho passaram a ser disponibilizados por, principalmente, indústrias que
passaram a se instalar nas cercanias da cidade, tirando proveito de ganhos de
escala e ganhos de aglomeração. Destarte, com a atividade econômica
acelerada em função da fartura de matéria prima do setor madeireiro, indústrias
de outros setores e empresas de diferentes ramos de atividade passaram a se
instalar na cidade, atraindo migrantes não mais apenas da região do sul do
país, como também das demais regiões.
Atualmente, o carro-chefe da economia de Sinop não é mais o setor
madeireiro11. Além do agronegócio, o município também transformou-se num
importante polo de serviços, saúde, comércio e, principalmente, de educação
superior. Também passa a ser referência na área da pesquisa científica,
principalmente após a inauguração de um moderno centro de pesquisa da
Embrapa, bem como a implantação de um campus universitário da
Universidade Federal de Mato Grosso.
E, conforme revelam os números dos últimos censos populacionais, a
tendência da população do município é visivelmente ascendente, até mesmo
por constatação empírica, já que os setores imobiliário e da construção civil de
Sinop nunca estiveram tão aquecidos.
11
O setor madeireiro entrou em decadência, na região, com o acirramento da legislação ambiental, a
partir de 2005.
13
4 – Considerações Finais
Neste trabalho, buscou-se na Teoria Econômica fundamentos que
expliquem a existência das cidades.
Os encontrados, sustentam que as
cidades atraem indivíduos por concentrar postos de trabalhos. E, estes últimos
são disponibilizados por empresas que se localizam próximas aos perímetros
urbanos das cidades, com o objetivo de beneficiar-se de economias de escala
e economias de aglomeração. Adicionalmente, os avanços tecnológicos
realimentam todo esse processo.
Em seguida, buscou-se verificar se os fundamentos teóricos se
aplicavam à evolução da população brasileira. Constatou-se que a população
brasileira, outrora predominantemente rural, passa a migrar para os centros
urbanos. E, que este processo de migração coincidiu com a mudança da
vocação produtiva brasileira, de agrícola para industrial, a partir da década de
1940.
Verificou-se, também, se os fundamentos teóricos se aplicavam a um
projeto de colonização realizado em um período mais recente. Escolheu-se o
Município de Sinop (MT) e analisou-se o comportamento da evolução de sua
população (rural e urbana). Concluiu-se que os fundamentos teóricos também
se aplicam a este caso, uma vez que a população do município aumentou
significativamente durante suas décadas de existência, e que esta tendência
ainda é mantida.
Conclui-se que, de fato, o Município de Sinop cresce (em termos
populacionais) em função dos postos de trabalho que são ofertados.
Certamente, existem no Estado de Mato Grosso municípios que oferecem
melhores amenidades, principalmente naturais, do que Sinop. Como exemplo,
pode-se citar o Município de Chapada dos Guimarães (paisagem e clima
ameno), além dos municípios que fazem fronteira com a região do Pantanal.
Apesar das amenidades oferecidas, sua evolução populacional chega a ser
pífia se comparada ao Município de Sinop. A esta constatação, atribui-se a
solidez dos fundamentos teóricos da Economia Urbana.
14
5 – Referências
Brueckner, Jan K. Lectures on Urban Economics. The MIT Press.
Massachusetts, 2011.
Fujita, Masahisa. Urban Economic Theory – land use and city size.
Cambridge: Cambridge University Press, 1989.
O’Sullivan, Arthur. Urban Economics, 7th ed., McGraw-Hill Irwin, 2009
Wheaton , William C. 1998 . Land Use and Density in Cities with
Congestion. Journal of Urban Economics 43 : 258 – 272 .
15
Download

A Existência das Cidades - UNEMAT – Campus de Sinop