Oncologia com Dr. Eduardo Johnson Câncer de próstata: prevenir ainda é o melhor remédio Especialista aconselha os homens, sobretudo os que já passaram dos 50 anos, a procurar um urologista. O trabalho conjunto deste com um oncologista são fundamentais no tratamento Revista Ponto Cirurgico - Apesar de todo o avanço na pesquisa do câncer, o número de óbitos e pessoas afetadas pela doença continua elevado e preocupante. Qual a sua explicação para este fato? Dr. Eduardo Johnson - O câncer, na verdade, é uma alteração de células normais, levando a um crescimento 44 Revista Ponto Cirúrgico desordenado ese ramificando para outros órgãos diferentes daquele em que a doença se manifestou inicialmente. Tratase de patologias completamente diferentes de acordo com o local do tumor inicial, fatores genéticos e biológicos específicos de cada neoplasia, o momento em que a doença é descoberta e características distintas de cada paciente. Os avanços terapêuticos foram muito significativos num período de tempo curto (duas décadas). Atualmente, procuramos estudar de uma forma aprofundada a genética do tumor e do paciente, definir uma terapia mais personalizada com maior eficácia e menos efeitos colaterais. Outro fator a ser considerado é o período da descoberta de uma molécula aparentemente capaz de atuar numa doença e a sua liberação no mercado; a duração média atual é de sete anos, muito tempo para quem não tem tempo para esperar. No Brasil a burocracia enfrentada para se colocar pacientes em estudos de novas drogas é muito maior do que qualquer outro país e dificulta o acesso de pacientes que poderiam se beneficiar de um novo tratamento. Os médicos que atuam nos protocolos de pesquisa procuram sempre avaliar se determinada pesquisa pode trazer benefícios reais para o paciente e oferecem todas as informações necessárias para que ele aceite participar. Temos um compromisso de, primeiramente, garantir a qualidade de vida e nunca utilizar pacientes como “cobaias” humanas, termo utilizado poralguns responsáveis pela liberação das pesquisas no Brasil. RPC - O que são drogas-alvo e anticorpos monoclonais? Dr. Eduardo Johnson - Terapias definidas como “drogas alvo” são aquelas que atuam diretamente em moléculas relacionadascom a biologia do tumor, sendo, portanto, mais específicas e poupando grupo de células sadias. Os anticorpos monoclonais são uma das terapias alvo, em que um anticorpo manufaturado através de técnicas sofisticadas que oproduzem em escala industrial atua bloqueando receptores localizados na membrana da célula tumoral ou em antígenos circulantes, acarretando um efeito especifico de acordo com o alvo escolhido. É importante salientar que esses medicamentos também apresentam efeitos colaterais, que devem ser monitorizados pelo médico assistente e, em alguns casos, estas reações podem ser até mais importantes que as causadas pelos quimioterápicos clássicos, ainda a pedra fundamental na terapia oncológica. RPC - O que o senhor acha do desenvol-vimento da quimioterapia? Dr. Eduardo Johnson - De uma maneira geral, a quimioterapia antineoplásica (antibióticos são “quimioterápicos” antibacterianos) age em diversos pontos dos mecanismos de divisão celular e por isso podem afetar outras células que se dividem com frequência no nosso organismo, como as células de defesa do sangue, os leucócitos. Existem várias classes de quimioterápicos e continuam a ser desenvolvidos, e para cada tipo de tumor determinados quimioterápicos são mais eficazes. No momento, se procura personalizar o tratamento de modo a, através de testes genéticos no tumor e no paciente, definir o grau de resistência, a toxicidade e o real benefício de determinado quimioterápico para um tipo de tumor e paciente. Durante muitos anos ainda será bastante utilizada, com novas drogas, novas formulações e principalmente em combinação com “drogas alvo”. RPC - O Brasil foi o país pioneiro na América Latina a implantar uma política pública de saúde específica para os homens.Mesmo assim, muitas das campanhas e reportagenssobre o câncer são direcionadas às mulheres porque isso ocorre? Dr. Eduardo Johnson - No Brasil, em especial, as mulheres exercem um papel fundamental, pois, além de se preocuparem mais com a sua saúde e realizar exames preventivos, são elas, esposas, filhas,que levam o homem a procurar atendimento médico. Recentemente, proferimos uma palestra com título:“O que as mulheres devem saber sobre prevenção do câncer em homens”, exatamente por esta característica. Entretanto, vem crescendo o número de homens que se preocupam em realizar prevenção do câncer de próstata e observamos uma maior procura em fases mais precoces de outras doenças, mas ainda vão ao médico em companhia da esposa ou filha. RPC - A descoberta do câncer ainda é uma notícia que abala emocionalmente o paciente, mas hoje em dia as chances de cura são bem maiores. No caso do câncer de próstata qual é a expectativa do paciente? Dr. Eduardo Johnson - O câncer de próstata é extremamente frequente, muitas vezes como tem um crescimento lento, em pacientes com mais de 80 anos, o diagnóstico não chega a ser feito. A partir da utilização da dosagem doPSA, um número maior de pacientes faz um diagnóstico precoce. Vale a pena ressaltar que o PSA também se eleva na hiperplasia benigna da próstata, devendo o urologista complementar a investigação e realizar biopsia para confirmação do diagnóstico. Alguns casos selecionados, em determinados pacientes se adota uma conduta conservadora de apenas observar sem intervenção terapêutica, antes de indicar um tratamento. Na fase precoce, o índice de cura é muito elevado, com a cirurgia ou, em casos selecionados, radioterapia. realizado através de medicamentos que inibem a produção de testosterona pelo testículo. O câncer da próstata para se desenvolver necessita da testosterona, hormônio produzido predominantemente pelo testículo, mas em menor quantidade pela suprarrenal. Os medicamentos atuam na hipófise inibindo o hormônio que dá o sinal paraa produção do hormônio masculino. Durante algum tempo, às vezes vários anos, a doença fica totalmente controlada com o PSA em níveis muito baixos; em determinada fase um grupo de células passa a crescer independente da presença da testosterona. Nesta fase é que encontramos mais dificuldade em achar medicamentos para controlar a doença onde se concentram os investimentos de laboratórios de todo o mundo para desenvolver novas terapias. Nos últimos anos passamos a adotar o tratamento hormonal intermitente, ou seja, após a queda dos níveis de PSA, a terapia era suspensa e só reiniciada quando os níveis aumentassem novamente. Este processo visa aumentar o tempo em que o tumor responde ao bloqueio hormonal e permitindo uma melhor qualidade de vida, pois um dos efeitos colaterais é a falta de libido. RPC - Quais as novidades existentes para combater o câncer de próstata nos próximos anos? Dr. Eduardo Johnson - Existem poucas opções de tratamento quimioterápico para o câncer refratário ao tratamento Na maior parte dos casos em que o tumor retorna após a cirurgia ou quando está muito avançado, a primeira opção terapêutica é o bloqueio hormonal, pontocirúrgico.com.br 45 Oncologia com Dr. Eduardo Johnson hormonal, que são a mitoxantrona eo docetaxel. O período de ação também não é longo e o tumor fica resistente a esses medicamentos. Recentemente foi aprovado pelo FDA (Estados Unidos) um novo quimioterápico que se mostrou eficaz nestes casos. Tratase do Cabazitaxel(Jevtana) já aprovado pela Anvisa, mas ainda não comercializado no Brasil ( a Sanofi-Aventis informa uma previsão para Abril de 2011 ). Os resultados foram bons, mas a toxicidade é um fator limitante para certos pacientes. De qualquer forma, será utilizado na maior parte dos casos resistentes ao docetaxel. Outra medicação aprovada é o Sipilucel-T (Provenge) que, na verdade, é um tratamento personalizado para cada paciente. São isoladas células dendriticas do sangue do paciente através de leucoferese e cultura das células. Essas células responsáveis pelo sistema imune são cultivadas por dois dias em laboratório com um antígeno presente na célula maligna do câncer de próstata (fosfatase ácida prostática) e a seguir infundidas no paciente, ativando o seu sistema imunológico contra as células tumorais. O processo de extração de células dendriticas já é feito em Brasília, entretanto a etapa de cultura com o antígeno necessita de aprovação e disponibilização da indústria que possui a patente desse produto. Outra abordagem que deve ser lançada em breve é o Acetato de Abiraterona, que funciona como um bloqueador hormonal que inibe a enzima CYP17 responsável pela biossíntese dos androgênios na suprarrenal. Uma opção já existente no Brasil são os antiangiogênicos, medicamentos que atuam nos vasos tumorais e que mostram resultados animadores. Entre eles, o mais utilizado é o Avastin que em combinação com o docetaxel mostrou excelente resposta e se procura atualmente o grupo de pacientes que terá maior benefício com essa combinação. RPC - O diagnóstico precoce é fator relevante para o sucesso de qualquer tratamento. No caso do câncer de próstata existe alguma forma de prevenção? Dr. Eduardo Johnson - Um estudo realizado com quase 19.000 homens demonstrou que o Finasteride (droga utilizada na Hiperplasia benigna de próstata e em dose menor na queda de cabelos) reduziu em 24,8% a incidência de câncer de próstata quando comparado a placebo. Outro estudo mais recente demonstra que outra substância semelhante ao Duasteride pode ter papel importante na prevenção deste tipo de câncer. Devido a efeitos colaterais relacionados principalmente com a libido é importante a opinião médica para sua utilização. Baixos níveis de vitamina D estão relacionados com aumento da incidência de câncer de próstata. O calcitriol se mostrou eficaz em reduzir tumores de próstata, mas apresenta efeitos adversos como elevação excessiva dos níveis de cálcio no sangue, na dose em que é eficaz. De qualquer forma, beba leite ou derivados para manter os níveis desta vitamina importante no metabolismo. RPC - Qual é sua mensagem final para nossos leitores, principalmente aos homens que sofrem dessa doença e continuam com essa restrição de procurar um médico? Dr. Eduardo Johnson –O diagnóstico precoce do câncer de próstata é possível e deve ser pesquisado a partir dos 50 anos. A atuação conjunta do urologista e o oncologista na condução dos casos são fundamentais. Entendemos o receio de um diagnóstico e o impacto que pode causar. Dr. Eduardo Johnson Buarque 46 46 Revista Revista Ponto Ponto Cirúrgico Cirúrgico CRM -DF 8086, Especialista em Oncologia, Fellow da American Cancer Society, Membro da Sociedade Americana e Européia de Oncologia (ASCO e ESMO) Uma cirurgia bem feita, muitas vezes por laparoscopia, pode curar a doença em fase precoce, preservando a inervação responsável pela ereção. Em casos selecionados, a radioterapia com implante radioativo na próstata também é curativa. Enfim, não adianta esconder, pois a pior situação é quando a doença progride para outros órgãos e o tratamento hormonal, apesar de muito bem tolerado, causa impotência. Mas, se por acaso, você não fez a prevenção e descobre que é portador de câncer de próstata, há tratamento e sempre procuramos manter a melhor qualidade de vida possível. Afinal, se as mulheres tivessem próstata com certeza o índice de cura seria muito maior. Imitem-nas e se cuidem!