ARTIGO TÉCNICO UTILIZAÇÃO DA RESPIROMETRIA NO CONTROLE OPERACIONAL DE SISTEMAS AERÓBIOS DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS - A EXPERIÊNCIA DA CETREL JOSÉ GILSON SANTOS FERNANDES M.Sc. Recursos Hídricos (Eng. Ambiental) e Químico Industrial da Fontes & Haandel ADRIANUS VAN HAANDEL Ph.D, professor do Departamento de Engenharia Civil do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba. PAULA FRASSINETTI FEITOSA CAVALCANTI M.Sc., professora do Departamento de Engenharia Civil do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba. LINDAUBERTO R. COURA M.Sc. Recursos Hídricos (Eng. Ambiental) e Químico Industrial da Fontes & Haandel RESUMO ABSTRACT No sistema de lodo ativado um dos parâmetros operacionais mais importantes é a taxa de consumo de oxigênio (TCO) que representa a velocidade de respiração dos microrganismos presentes no sistema de tratamento. A respirometria trata da medição e interpretação da TCO em sistemas aeróbios de tratamento. A TCO é o parâmetro mais indicado para avaliar a toxicidade de um afluente, porque o lançamento de cargas tóxicas resultará numa diminuição da velocidade de consumo de oxigênio pelos microrganismos intoxicados e, portanto, da TCO. O respirômetro automatizado utilizado na investigação experimental, media a TCO a partir da variação da concentração de oxigênio dissolvido no licor misto de um sistema de lodo ativado em escala de laboratório, operado paralelamente ao sistema de tratamento em escala real, mantendo-se as mesmas condições operacionais nos dois sistemas. Durante a operação houve vários casos onde variações da TCO indicava a presença de material potencialmente tóxico que podem abalar a estabilidade operacional do sistema de tratamento e esta toxicidade foi de fato constatada no sistema em escala real. Portanto, na CETREL o respirômetro funcionou principalmente como um toxímetro. One of the most important parameters in activated sludge systems is the oxygen uptake rate (OUR), which represents the respiration velocity of the microorganisms present in the wastewater treatment system. The respirometry deals with the measure and interpretation of the OUR in aerobic treatment systems. The OUR is the most indicated parameter for evaluating the toxicity in the influent, because any toxic load into the system results in a reduction of the microorganisms oxygen consumption rate and, thus, in a reduction of the OUR. We have carried out experimental investigations using an automated respirometer, which calculates the OUR from measures of the concentration of the dissolved oxygen in a reactor, working with an laboratory scale activated sludge system. The laboratory scale system operated in parallel with a real scale wastewater treatment system, using the same operational conditions. During the experiments, several cases of variation of the OUR indicating the presence of potentially toxic materials that could affect the operational stability of the scaled system could be observed. These toxic materials where indeed verified in the real scale treatment system. Thus, for CETREL, the respirometer worked mainly like a toximeter. PALAVRAS-CHAVE: lodo ativado, respirometria, automação, toxicidade, controle operacional. KEYWORDS: activated sludge, respirometry, automation, toxicity, operational control. INTRODUÇÃO Toxicidade no sistema de lodo ativado resulta numa diminuição da capacidade metabólica da biomassa, sem estar relacionada a uma diminuição da carga orgânica aplicada. O metabolismo ou utilização do material orgânico pelas bactérias nos sistemas de lodos ativados tem duas vertentes: (1) anabolismo, que é a conversão de material orgânico em massa bacteriana e (2) catabolismo, que é o consumo de oxigênio para oxidação de ma- terial orgânico e geração de energia, necessária ao anabolismo (van Haandel e Marais, 1999). Os resultados do metabolismo são o crescimento do lodo ativo (microorganismos) e o consumo de oxigênio. A velocidade com que o oxigênio é consumido ou a Taxa de Consumo de Oxigênio, TCO pode ser medida num teste respirométrico. A TCO é um parâmetro muito importante para controle de operação e acompanhamento do desempenho de sistemas com lodo em Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 suspensão, especificamente sistemas de lodo ativado. Uma diminuição do valor da TCO, quando não há redução da carga orgânica aplicada, pode ser indicativa da presença de substâncias tóxicas ou inibidoras no afluente. Nesse caso o teste respirométrico é também chamado de toximetria (van Haandel et al, 1998). A CETREL é uma empresa de proteção ambiental que, na sua estação central-ETE, trata os efluentes líquidos de mais de 50 empresas do Pólo Petroquímico de Camaçari. A CETREL utiliza o siste- engenharia sanitária e ambiental 131 ARTIGO TÉCNICO JOSÉ GILSON SANTOS FERNANDES , ADRIANUS VAN HAANDEL, PAULA FRASSINETTI FEITOS A CAVALCANTI, LIND AUBER TO R. COURA EITOSA INDAUBER AUBERTO ma de lodo ativado para o tratamento de uma carga orgânica de 300 tDQO.d-1 correspondente a uma vazão de 120.000 m3.d-1. Os efluentes industriais, antes de chegarem aos tanques de aeração, passam por uma bacia de equalização que amortece tanto as cargas hidráulicas como orgânica e, inclusive, a toxicidade de alguns dos efluentes industriais. Para avaliar a toxicidade dos efluentes gerados no Pólo Petroquímico de Camaçari, foi instalado, na CETREL, um sistema de lodo ativado em escala de bancada com as mesmas características operacionais do sistema em escala real funcionando da ETE da CETREL. O sistema é constituído de dois tanques de aeração, R1 e R2, operando com volume de 20 litros cada, recebia o lodo de retorno de um dos tanques de aeração da CETREL e os efluentes industriais bruto (R1) e equalizado (R2). Os tanques de aeração estão ligados a quatro bombas peristálticas para dosagem do lodo, efluentes industriais e bruto. A TCO em cada reator era medida continuamente através de microcontroladores ligados a um computador formando, junto com os reatores um respirômetro. Assim, uma diminuição repentina da TCO indicava uma diminuição na taxa de oxidação de material orgânico que, por sua vez, significa que a taxa do metabolismo se tornara mais baixa ou, em outras palavras, que havia presença de material com características inibidoras e/ou tóxicas, já que não havia limitação de substrato. Para medir a TCO foi adotado, neste experimento, o princípio da determinação semi contínua que é bastante simples e se baseia em interrupções da aeração em um reator de lodo ativado. Durante R e to rno d e ca rg as tó x ica s a flu en te b ru to os períodos sem aeração se observa a diminuição da concentração de OD. Estabelece-se duas concentrações de referência: um "set point" superior, ODsup e um inferior, ODinf. Quando se aplica aeração, a concentração de OD tenderá a subir e quando chega ao valor ODsup a aeração é interrompida, observando-se uma diminuição da concentração de OD, por causa do consumo pelas bactéria. Quando a concentração de OD chega ao valor ODinf após um intervalo t de respiração, reinicia-se a aeração. Durante o período em que não há aeração a diminuição da concentração de OD se deve ao consumo de oxigênio pelas bactérias de maneira que: rOD = dODl/dt = rc = (dODl/dt)c = TCO ou TCO = rc = rOD = (ODsupODinf)/t (1) Com a operação contínua do respirômetro na CETREL, os resultados mostraram que, no caso de uso do efluente equalizado sob condições normais, a curva da TCO em função do tempo exibe uma variação senoidal diária. A variação nestas condições pode ser atribuída a variações diárias na concentração do material orgânico e na temperatura, que também tinha um perfil variável, sendo observados valores altos de dia e valores baixos de noite. No caso do efluente industrial as curvas de TCO geradas eram muito mais irregulares e imprevisíveis exibindo, algumas vezes, em 24 horas, tanto grandes elevações como quedas significativas da TCO. Foi possível correlacionar os aumentos da TCO aos aumentos repentinos da concentração de material orgânico no efluente industrial. As quedas repentinas da TCO indicavam que material tóxico poderia estar sendo descarregado. MATERIAL E MÉTODOS Para o monitoramento qualitativo da presença de substâncias tóxicas no afluente da ETE da CETREL, foi utilizado um respirômetro cujo "hardware" e "software" foram desenvolvidos pelo Departamento de Engenharia Elétrica DEE da Universidade Federal da Paraíba - UFPB. O respirômetro era constituído de dois reatores biológicos com suas unidades periféricas (aeradores, agitadores e bombas), duas unidades de controle para determinação direta da concentração de OD em função do tempo e um computador para controle dos períodos de aeração e interrupção da aeração, realização do cálculo da TCO a partir do perfil da concentração de OD e armazenamento de dados e controle das outras unidades do sistema. A parte experimental desta pesquisa foi desenvolvida na Estação de Tratamento de Efluentes Líquidos - ETE da CETREL, sendo utilizado dois tipos de águas residuárias industriais: (1) o efluente industrial bruto(Ei) que vinha direto do Pólo Petroquímico de Camaçari, e (2) o efluente equalizado (Ee) que é o efluente industrial bruto após passar pela bacia de equalização da ETE da CETREL. Procurou-se manter nos reatores do respirômetro as mesmas condições operacionais do sistema em escala real operado na CETREL, principalmente com relação ao tempo de permanência do líquido e a idade de lodo. Desta maneira, a TCO determinada no sistema em B a cia d e E m e rg ê nc ia B a cia d e e qu aliza çã o a flu en te e qu aliza do T a nq ue d e a eraç ão R2 e flu en te lic or D e ca n ta do r m isto L od o d e re to rn o M ic ro co n to le e co m p utad o r P a rsha ll R1 Figura 1 - Esquema do sistema de tratamento da CETREL e da locação do respirômetro ali instalado. 132 engenharia sanitária e ambiental Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 de banc ada p a ra d e s c a rg a r e a t o r e m e s c a la (b ru to ) I E f lu e n t e d e e f lu e n t e B o m ba d os ad ora de banc ada m is t o lo d o d e r e t o r n o B o m ba d os ad ora r e to r n o Lodo de Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 C Figura 2 - Esquema do respirômetro utilizado durante o período experimentalPeL dos componentes. II r e a t o r e m e s c a la L ic o r L ic o r m is t o M o to r de O D de O D M o to r E le t r o d o E le t r o d o dor Aera- ( e q u a liz a d o ) d e e f lu e n t e B o m ba d os ad ora r e to r n o lo d o d e r e t o r n o B o m ba d os ad ora dor AeraM ic r o - c o n t r o la d o r M ic r o - c o n t r o la d o r C o m p u ta d o r p a ra o p e ra ç ã o S in a l d e a la r m e E f lu e n t e Levando-se em consideração as condições particulares da ETE da CETREL e, tendo-se um respirômetro com dois reatores em escala de bancada, operou-se um reator com o efluente industrial bruto (Ei) e outro com efluente equalizado (Ee). A Figura 1 mostra um esquema da Lodo de escala de bancada seria igual à do tanque de aeração em escala real. Os termos "efluente industrial" e "efluente equalizado", usados na CETREL, foram mantidos, apesar destes, na verdade, constituírem afluentes para as unidades experimentais operadas na pesquisa. ETE da CETREL e a posição do respirômetro, destacando-se os reatores R1, alimentado com o efluente industrial bruto e R2, alimentado com o efluente industrial equalizado. Nos dois reatores foi aplicado o mesmo tempo de detenção do líquido (1,5 d) e a mesma proporção vazão afluente/vazão de lodo de excesso (0,6) que no reator em escala real. O tempo de permanência no tanque de equlização da CETREL é de 12 horas. A alimentação dos reatores com Ei e Ee nos reatores R1 e R2 abriu a possibilidade de se avaliar a influência da atenuação de eventuais cargas tóxicas no tanque de equalização. O valor da TCO foi determinado pelo método semi contínuo durante 24 horas por dia. O computador que armazenava os resultados estava ligado com o centro de controle operacional do sistema de tratamento (distante cerca de 500 m), podendo-se dali em qualquer momento, ser observado a TCO nos dois reatores. Observa-se que os reatores em escala de bancada eram aproximadamente 2.600.000 vezes menores que o tanque de aeração TA-3, de onde vinha o lodo de retorno. Da maneira que os reatores do respirômetro foram operados, a TCO obtida no reator com efluente equalizado era indicativa também para a TCO no reator TA-3. A diferença no perfil da TCO nos dois reatores ( R1 e R2 ) do respirômetro era indicativa para a influência do tanque de equalização sobre a TCO. A Figura 2 mostra o esquema dos componentes que formam o respirômetro. Distinguem-se os seguintes componentes: · dois reatores em escala de laboratório; · quatro bombas dosadoras: duas para os dois efluentes e duas para o lodo de retorno; · dois microcontroladores que recebiam os sinais dos eletrodos de OD e enviavam o valor da concentração de OD e da temperatura para o computador, recebendo deste, comandos para ligar ou desligar os aeradores, agitadores e as bombas dosadoras; · um micro computador que recebia os sinais de OD e de temperatura e usava um programa para calcular a TCO, os quais podiam ser observados, graficamente, na tela do monitor. O "software" Toxim-D foi desenvolvido pelo DEE da UFPB para aten- engenharia sanitária e ambiental 133 ARTIGO TÉCNICO UTILIZAÇÃO DA RESPIROMETRIA NO CONTROLE OPERA CIONAL DE SISTEMAS AERÓBIOS DE TRA TAMENTO DE ÁGU AS RESIDUÁRIAS - A PERACIONAL RAT GUAS EXPERIÊNCIA DA CETREL ARTIGO TÉCNICO JOSÉ GILSON SANTOS FERNANDES , ADRIANUS VAN HAANDEL, PAULA FRASSINETTI FEITOS A CAVALCANTI, LIND AUBER TO R. COURA EITOSA INDAUBER AUBERTO der simultaneamente a dois microcontroladores. De cada reator operado o Toxim-D, armazenava dados da concentração do oxigênio dissolvido e da temperatura em função do tempo (uma leitura por segundo) e controlava as ações de agitação do licor misto, aeração e bombeamento de efluentes e lodo de retorno. A partir dos dados da variação da concentração de OD com o tempo, calculava a TCO. Os períodos de amostragem gráfica eram de 10 s para OD e de 60 s para TCO e temperatura, a não ser que fossem especificados outros valores. Quando se ativava o "software" no computador, o Toxim-D gerava automaticamente duas janelas gráficas, nas quais se podia apresentar, em cada janela dois dos três parâmetros: OD, TCO e temperatura. A Figura 3 é uma representação da tela que se apresentava quando se escolhia representar a concentração de OD e da TCO (o que geralmente se fazia). As curvas correspondentes aos dois reatores controlados se distinguiam por meio da cor. Simultaneamente os dados obtidos eram armazenados no disco rígi- do e podiam posteriormente serem apresentados através de programas de planilhas eletrônicas como "Excel" ou "Matlab". Assim, tinha-se a possibilidade de gerar relatórios diários ou imediatos quando preciso fosse. Uma vez preparadas as unidades, era procedida a realização dos testes de determinação "on line" da TCO. O respirômetro tanto podia determinar a TCO pela medição semi contínua (períodos de aeração seguidos por períodos com a aeração interrompida). Este método tem a vantagem de não depender a constante de transferência de oxigênio no reator, o que, dada a variabilidade do afluente (e portanto a constante de transferência) constitui uma vantagem importante. No caso do método semi contínuo só é necessário especificar os valores dos limites superior e inferior ("default" 3 e 1 mg.L1 , respectivamente). Depois de ser dado o comando "iniciar" eram gerados, automaticamente, diagramas da concentração de OD e da TCO dos dois reatores que estavam sendo monitorados. Simultaneamente aos diagramas de OD e TCO eram armazenados os diagramas da tempera- tura na memória do computador, para consulta posterior. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS O respirômetro instalado na CETREL produzia continuamente respirogramas onde podia ser observado continuamente o valor da concentração de oxigênio dissolvido (OD), a TCO e opcionalmente a temperatura. Como exemplos de diagramas da TCO num dia de funcionamento tipicamente normal (sem registro de cargas tóxicas na CETREL) do respirômetro usado nesta investigação, apresenta-se a Figura 4 que mostra perfis típicos dos valores das TCO nos reatores R1 (efluente equalizado) e R2 (efluente industrial). As curvas típicas dos valores da TCO são apresentadas em função do tempo. Durante o período de setembro de 1997 a abril de 1998 foram gerados 240 destes respirogramas. A partir dos respirogramas da TCO obtidos, justificam-se os seguintes comentários genéricos: Figura 3 - Tela em tempo real com o Toxim-D. 134 engenharia sanitária e ambiental Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 A Figura 6 mostra o comportamento da DQO no dia 28/11/97. Nesta figura também se encontram os valores da TCO onde se nota, claramente, que há uma relação entre a concentração da DQO e a TCO, embora esta relação não seja linear. As grandes variações da DQO no Ei refletem em grandes oscilações da TCO. Essa influência era esperada, uma vez que mais material orgânico significa uma intensificação do metabolismo que, por sua vez, acelera o consumo de oxigênio. T C O ( m g . L - 1 . h - 1 ) n o E f lu e n t e E q u a liz a d o e In d u s t r ia l ( 2 1 / 0 4 / 9 8 ) . 60 E i. 40 30 20 10 0 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 T e m p o (h o ra s) Figura 4 - Respirograma mostrando o perfil típico da TCO com o tempo, no reator com (Ee) curva azul e com (Ei) curva vermelha. Relação da TCO com a temperatura Relação da TCO com a DQO Para avaliar se existia uma relação entre as cargas orgânicas momentâneas, aplicadas nos reatores do respirômetro, e os perfis da TCO, os valores da DQO dos efluentes industrial e equalizado foram determinadas em função do tempo. 60 32 50 31 40 30 30 29 20 28 T CO-E e. T emperatura-Ee. 10 27 0 26 0 A temperatura do conteúdo dos reatores também exibia uma variação senoidal como pode ser observada na Figura 5 que mostram, respectivamente, o comportamento da variação da tempera- Na CETREL, embora o controle da qualidade dos efluentes das indústrias do Pólo Petroquímico seja bastante rígido, acidentes que resultam em cargas tóxicas podem ocorrer, pondo em perigo o sistema de lodo ativado. Durante o período experimental, houve alguns casos de redução temporária da eficiência do tratamento devido à toxicidade do afluente (efluentes do Pólo) mas, em nenhum momento a estabilidade operacional do sistema esteve em perigo, graças a bacia de equalização. O acidente de maior gravidade se deu no período de 16 a 22 de setembro de 1997. No dia 16 de setembro a TCO do reator que recebia o efluente Ee era normal, média de 45 mg . L -1 h -1 com uma queda no final do expediente, nos dias 17 e 18 a TCO continuava a cair em média de 40 para 30 mg . L -1 h -1, Figura 7. Resolveu-se, portanto, fazer a monitoração do efluente industrial (Ei) nos quais foram gerados os toxogramas da Figura 8, os três toxogramas referentes VARIAÇÃO DA TCO EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA NO Ee.(04/04/98) TCO(mgO 2/L/h) (1) há uma tendência de variação cíclica da TCO para os dois efluentes em função do tempo: normalmente era observado um mínimo por volta de 06:0008:00 h e um máximo por volta das 14:00 - 18:00 h, tendo-se valores médios entre um mínimo de 35 mg.L-1h-1 e um máximo de 45 mg.L-1h-1; (2) a variação da TCO com o tempo era maior quando se usava o efluente industrial e não havia uma clara tendência para um comportamento senoidal. As variações eram devidas às repentinas mudanças da carga orgânica aplicada que resultavam em flutuações correspondentes no valor da TCO. Outra possibilidade poderia ser a presença de condições desfavoráveis no efluente industrial como, por exemplo, uma temperatura muito elevada ou um valor de pH extremo ou ainda a presença de substâncias tóxicas em concentrações que afetava os microrganismos; (3) a TCO média nos dois reatores era aproximadamente igual, significando que: (a) não havia remoção de material orgânico na bacia de equalização (senão a TCO média do efluente equalizado seria menor que a TCO média do efluente bruto) e (b) a presença de eventuais cargas tóxicas no efluente industrial tinham só um efeito transitório sobre a atividade de lodo (senão a TCO média no reator com Ei seria menor que a do reator com Ee). tura para o efluente equalizado. Foi verificado para a temperatura um mínimo de 29 0C e um máximo de 32 0C, aproximadamente. Na mesma figura, pode-se ainda observar a TCO medida no mesmo período. O respirograma mostram que, no caso do efluente equalizado, havia uma boa correlação entre a temperatura e a TCO. As variações da TCO (aumento ou diminuição) correspondiam diretamente com as variações da temperatura. Essa correlação não era observada no reator com Ei. No caso do efluente industrial havia interferência de outros fatores na TCO. Relação da TCO com toxicidade C) 1 o 0 Temperatura( Ee 50 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Tem po(horas) Figura 5 - Respirograma apresentando simultaneamente os valores da temperatura e da TCO do reator com Ee. Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 engenharia sanitária e ambiental 135 ARTIGO TÉCNICO UTILIZAÇÃO DA RESPIROMETRIA NO CONTROLE OPERA CIONAL DE SISTEMAS AERÓBIOS DE TRA TAMENTO DE ÁGU AS RESIDUÁRIAS - A PERACIONAL RAT GUAS EXPERIÊNCIA DA CETREL ARTIGO TÉCNICO JOSÉ GILSON SANTOS FERNANDES , ADRIANUS VAN HAANDEL, PAULA FRASSINETTI FEITOS A CAVALCANTI, LIND AUBER TO R. COURA EITOSA INDAUBER AUBERTO VARIAÇÃO DA TCO EM FUNÇÃO DA DQO NO Ee. e Ei.(28/11/97) TCO-Ei. DQO-Ei. DQO-Ee. 4500 70 4000 60 3500 50 3000 40 2500 30 2000 20 1500 10 1000 0 DQO(mg/L) TCO(mgO 2/L/h) TCO-Ee. 80 500 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Tempo(horas) Figura 6 - Respirograma mostrando simultaneamente os valores de TCO e da DQO nos efluentes em estudo. ao Ei desta figura correspondem aos dias 19, 20 e 21 de setembro. No dia 19 de setembro a TCO do Ei era normal com variações entre os valores de 35 a 45 mg . L -1 h -1. No dia 20 a TCO era atípica no reator com Ei, apresentando valores em torno de 30 mg . L -1 h -1 (respirograma marrom), caindo para valores menores que 20 mg . L -1 h -1 durante várias horas no dia 21 (respirograma preto), o que resultou numa situação de alerta na ETE. Portanto, embora se caraterizasse a entrada de uma carga tóxica que chegou a reduzir drasticamente a TCO, ou seja, a atividade biológica do lodo, podendo provocar aumento da DQO no efluente tratado final, a quantidade de material tóxico foi insuficiente para causar instabilidade operacional no sistema em escala real que trata o efluente equalizado, devido à amortização da bacia de equalização. Variação da TCO no 1º caso de indício de Toxicidade no Ee. TCO-Ee.16/09/97 TCO-Ee.17/09/97 TCO-Ee.18/09/97 TCO-Ee.22/09/97 CONCLUSÕES 50 45 TCO(mgO 2/L/h 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Tempo(horas) Figura 7 - Toxogramas do reator 1-Ee, evidenciando a chegada de carga tóxica (poluentes prioritários). Variação da TCO no 1º caso de indício de Toxicidade no Ei. TCO-Ei.19/09/97 TCO-Ei.20/09/97 TCO-Ei.21/09/97 60 TCO(mgO2/L/h) 50 40 30 20 10 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Tempo(horas) Figura 8 - Toxogramas do reator 2-Ei, evidenciando a chegada de carga tóxica (poluentes prioritários). 136 engenharia sanitária e ambiental A determinação da Taxa de Consumo de Oxigênio - TCO, medida continuamente, é um bom parâmetro para avaliar a atividade biológica do sistema de lodo ativado, se comparado com os demais testes que se conhece até o momento como, por exemplo, a turbidez ou a concentração de material orgânico do afluente ou ainda a produção de lodo no sistema. O "toxímetro" instalado na ETE da CETREL, na sua essência, é um respirômetro aberto que permite determinar a TCO de um sistema de lodo ativado. A toxicidade do afluente pode ser detectada num sistema de tratamento porque resulta numa diminuição repentina da atividade bacteriológica, detectada pelo respirômetro. O toxímetro testado na CETREL gerava respirogramas, perfis da TCO em fução do tempo. O respirograma usando efluente equalizado normalmente exibiam um perfil senoidal diário, aumentando durante o dia e diminuindo durante a noite. Este perfil pôde ser atribuído parcialmente à variações da temperatura e parcialmente à carga orgânica também variável. . O perfil da TCO no reator com efluente industrial (não equalizado) exibia um comportamento irregular, indicando que havia introdução de um efluente muito variável em composição e outras caraterísticas (temperatura, pH) e que, além disso, havia entrada freqüente Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 de toxicidade na ETE da CETREL, embora isto normalmente não chegasse a prejudicar o sistema de tratamento por causa do tanque de equalização, onde eram diluídas as cargas tóxicas. A grande diferença entre os perfis da TCO dos reatores com os dois efluentes, mostra a eficácia do tanque de equalização como unidade reguladora e a sua importância na estabilidade operacional do sistema de tratamento. Em algumas ocasiões, o desvio do comportamento normal da TCO em função do tempo, permitiu prever a entrada de material tóxico na estação, assim como de material orgânico excessivo, embora, nestas ocasiões, tenha sido observada uma boa estabilidade operacional e a qualidade do efluente final da CETREL tenha se mantido compatível com as exigências estabelecidas pelas normas de proteção ambiental. Tanto o software quanto o hardware, demonstraram uma boa performance e confiabilidade, o que levou a implementação definitiva da unidade de respirometria na ETE da CETREL. Estas unidades vêm produzindo curvas da TCO, OD e da temperatura que vêm sendo apresentadas como provas da estabilidade e bom desempenho do sistema de tratamento, em relatórios técnicos submetidos às autoridades encarregadas do controle do meio ambiente no Pólo Petroquímico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APHA, AWWA e WEF. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 19th ed. American Public Health Association, American Water Works Association e Water Environment Federation, Washinton, D.C. USA. 1995. DOLD, P. L., EKAMA, G.A. e MARAIS, G. v R. A General Model for the Activated Sludge Process. Prog. Wat. Techn., v. 12, pp. 4777. 1980. ECKENFELDER, W. W. and GRAU. Activated Sludge Process Design and Control: Theory and Practice. Water Quality Management Library. Technomic Publishing Company, Lancaster, v I, 268 p. 1992. ECKENFELDER, W. WESLEY and MUSTERMAN, JACK L. Activated Sludge Treatment of Industrial Wastewater. Technomic Publishing. CO., INC. - Basel. 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