18/11/2013
Dois cafés e a conta com Fernando Gouvêa
Mauro Ventura
A coluna é publicada aos domingos na Revista O GLOBO
Dois cafés e a conta com Fernando
Gouvêa
O ex-executivo de marketing que está lançando um projeto para integrar o Rio, unindo favela e asfalto
O gaúcho Fernando Gouvêa, o Tchê, de 38 anos, ex-executivo de marketing de uma multinacional, tem uma
vontade: ajudar a integrar o Rio. Em 2011, ele foi um dos organizadores do TEDxRio, evento em que os
palestrantes transmitem ideias que valem a pena ser compartilhadas. Um convidado, o professor Paulo
Magalhães, do Iets, levou 20 moradores de comunidade. Eles adoraram as palestras, mas disseram que aquilo
não funcionaria na periferia e na favela, onde as pessoas já têm as ideias, mas não o poder de conexão e
articulação para desenvolvê-las. Faltava criar algo semelhante ao TEDxRio, mas que não fosse elitizado. Algo
que, além de inspirar as pessoas, fizesse as coisas acontecerem na prática. Nascia ali o projeto AR, que reúne
a empresa Outra Coisa, de Fernando e Rossana Giesteira, o Iets, a produtora WeDo e a ONG Museu de Favela.
A primeira edição é sábado, das 9h às 17h, no Morro do Cantagalo, com 22 palestrantes e representantes de
empresas e de oito favelas: Santa Marta, Borel, Alemão, Maré, Coroa, Manguinhos, Cidade de Deus e Cantagalo.
É grátis, com inscrições no site www.ar.wiki.br.
REVISTA O GLOBO: Qual o objetivo do projeto AR?
FERNANDO GOUVÊA: Há uma quantidade enorme de conhecimento represado nas favelas. Paulo Magalhães,
do Iets, diz que não há nada mais novo hoje do que o pensamento que emerge das comunidades. O AR quer
ser um canal para pessoas, projetos e ideias circularem numa via de mão tripla: da favela para o asfalto, do
asfalto para a favela e entre favelas. Na origem, as palestras eram para “inspirar”. Mas na primeira reunião com
o Museu de Favela disseram: “A gente não precisa de inspiração, e sim de maneiras de botá-la para fora.”
Mudamos para ‘compartilhar’.”
O projeto é feito de dentro para fora, a partir da favela, não?
Em vez de pensar que temos algo para ensinar à favela, queremos dar espaço para ela mostrar seu
conhecimento e sua inteligência. Às vezes a gente não vê essa riqueza porque está bloqueado por preconceitos.
Muitas empresas e marcas pensam em ações mirabolantes nas favelas, para ficar bonito na foto, mas a melhor
maneira de ajudar é potencializar o que já é reconhecido ali.
Além das palestras, o que mais haverá?
O objetivo é não ficar só no âmbito das ideias. É apresentar caminhos concretos para elas acontecerem. Assim,
na Feira das Conexões as pessoas poderão conhecer melhor os projetos. No workshop Rodada de Visibilidade,
oito projetos serão apresentados para uma banca com integrantes de oito empresas e instituições, como
Instituto Coca-Cola, L’Oreal, Fundação Telefônica, Instituto Oi e Comlurb. Elas não têm obrigação de patrocinar,
mas cada uma dará o feedeback sobre o que achou e o que pode ser aperfeiçoado. Outra novidade é Ensinando
a Fazer, com os bastidores dos negócios. Exemplo: executivos do Google e do Facebook darão dicas para você
empreender no mundo digital e usar melhor as duas empresas para desenvolver sua atividade.
Haverá palestrantes do asfalto?
Sim, como Dorly Neto, da Benfeitoria (site de financiamento coletivo para desenvolvimento de projetos). O
crowdfunding pode ser uma ferramenta para qualquer empreendimento na favela.
Os palestrantes foram indicados pelas favelas. Cite alguns.
Marcelo Lopes, do Morro do Borel. Ele criou o restaurante de massas Borelleto, que está bombando. Marcelo
almoçou um dia no Esquilleto, em Rocha Miranda, que copiava o modelo do Spoleto. Abriu seu negócio sem
saber que era inspirado no Spoleto. Tem a Sheila Souza, do Santa Marta, da empresa Brazilidade, que faz
turismo não-exploratório de favela. Não é aquele turismo safári, do visitante no jipe que dá uma olhada e vai
embora. Ela trabalha a cultura e a memória do local. Outro é Leonardo Silva, do Cantagalo, que criou o site Lugar
para Ficar, de aluguel de apartamentos na favela. Tivemos a preocupação de encontrar exemplos que podem
ser replicados em outras comunidades do Rio, para que todo mundo possa crescer junto.
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18/11/2013
Dois cafés e a conta com Fernando Gouvêa
Coluna publicada em 16/11/13 - 15h54 Atualizada em 17/11/13 - 11h23 Impressa em 18/11/13 - 16h33
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