Temase.PsicologiildaSBP -20D1.VoI9.'2.125-1J5 ISSN141J·J89X Avaliação da qualidade de vida em pacientes com cãncer de cabeça e pescoço' Sebastião 8enício da Costa Neto e Terel:! Cristina Cavalcanti Fe....eira de Araujo! Universidade Federal de Goiás, Universidade Católica de Goiás e Universidade de Brasília Resumo A presente pesquisa teve por objetivo geral avaliar instrumentos de medida da ql.lalidade de vida para pacientesquedesenvolveramcâncerdecaoc<;:aepescoço_Participardffidainvestiga<;:ilo4lsujeitosentre20e 85 anos de idade, atendldosem uma instituiçãoespccializadaem oncologia noCentro-Oeste. Foram aplicadas a Escala Análoga-Visual de Qualidade de Vida (Fom & Costa Neto. [999) e duas escalas da Europeall Organiza/íon for Re.<earch and Trearmenr of Cancer - EORTC QOL-CJO e H&N-35 (versão 3.0). Os instnlmentos possibilitararn a idcntificaçiiodc pcrdas na qoalidadc de vi da da amostra,moslrando-sc. portanto. adeqllados para avaliar as condições dessa clieme[a, visand oauma interrençãoterapêutica e preventiva em oncologia. Foi possível constatar, também , que muitos pacientes têm uma percepção difercnciadadasnoçOesde saudegcra[eqlla[idadedevida. Pa[nru-ãlll: quahdade de vida. onco[ogla. cirurgia. caocça c pcseoço. Oualityllllifeevaluationolpatientswithheadandlleckcancer AIIStfacl The general objective or the prescm study is to evaluate instruments which measure lhe qllality or life of paticntswhohavedcvelopcdheadandneckcancer.Atotalor41individuals,aged20to85,participatedinthis study. Ali ofthem were patienl5 ofa speçia[ized oncology institute in the Brazilian mid-west arca, with diagnosis or oral tumors. At the time oftheir medicar consultation, patienl5 were subjected to Qua[ity ofLife Visual Ana[ogous Scale (Font & Costa Neto, 1999), as wellas the scales EORTC QOL-C30 and H&N-35 (vcrsion 3.0) from the Europcan Organization for Research and Trcatment of Canca. The instruments pcnnittedrheidenrificationof[ossesin thequalityoflifeofslIbjects,ocing.therefore,adequatcloo[sto eva[uatethegenera[eonditionofthegroup.cnvisioningprevcntive andtherapeutieinlerventioninoncology. In many patients, wc eould also .... ~'Tify that they had a differemiated pcreeption between general health and quaJiryoflife I"WQ~s:qlla[ityof1ife.onco[ogy.surgel)'.headandneek. I.Traba[ho apresentado no Simpósio Qualidade de vida e saude. XXX Reunião Anua[ de Psicologia da Sociedade Brasilcirade Psico[ogia, Brasília, DF. outubro de 2000 2. Endcreço para corrcspond~nci3: T.C.C.F. Araújo. Universidade de Brasilia, Instituto de l'slco[ogia. Campus Darcy Ribeiro.ICC Sul. Asa None. ecp 70910-900, Brasllia, OF, e_mail: [email protected] Apoio financeiro CAPES. Ui u'lWühtIlI.U,I.ArJújl Estudos sobre a qualidade de vida de portadores ças entre as expectativas de uma pessoa e sua expe- de câncer têm sido úteis tanto para orientar as práticas riência atual. Contudo, na esfera da saúde, parece es- profissionais, quanto para reflexao e desenvolvimento senci31 destacar também os aspectos mteracionais da psicologia aplicada ao campo da salide. Neste con- envolvidos desde a organização do sistema de salide texto, qualidade de vida pode ser comprecndida como até as relaçõcs estabelecidas entre o doente e equipe uma configuração da realidade do enfermo ontológico de salide que lhe presta atendimento numa dada uni- tomada como objeto dc investigação com propósitos dade hospitalar ou ambulatorial (CosIa Neto, Araujo clinicos, sobretudo pela Psieo-oncologia. e Curado, 1999). Três diferentes níveis podem ser considerados ao se analiSM a relação saUde - qualidade de vida: (I) A gestão politiea de salide e a alocação de recursos (Kaplan, 1995; Schuttinga, 1995; Erickson, Wilson e Instrumentos de medida de~ualidadede vida Shannon, 1995); (2) Os interesses da indústria farmacêutica (Epsteín e Lydick, 1995; Fret:man, 1995) e (3) A avaliação de doenças cspecificas (Moinpour, Savage, Hayden, Sawerse Upchun:h, 1995; GanzeCoscarclli, 1995; Shapiro, Muldoon, Waldstein, Jennings e Manuck, 1995, Shapiro, Hui, Oaklcy e Pasie, 1995; Elias e cols., 1995; Rosen e Kostis, 1995). Apesar dessa vasta abrangência e inúmeras pesquisasja realizadas, não tcm sido possível fundamentar programas de intervenção e acompanhamento a partir de uma perspectiva conceitual integrada e Uma breve perspectiva histórica permite constatar que a noção de qualidade de vida cstà fortemente associada na literatura à intenção de obter medidas e desenvolver instrumentos de avaliação. Se, desde os anos 30 e 40, e possível notar o interesse pelo tema, é a partir dos anos 50 que li expansão toma-se mais evidente (Tabela I), sendo marcada. inclusive. pelo surgimento do primeiro instrumento voltado para pacientes oneológicos, em 1948, denominado Performance Sl(jlu~' Seale, de Karnotski e Burehenal (Cummins, 1998) coercnte. Ainda hoje, persiste uma grande diversidade acerca da noção de qualidade de vida Assim, para muitos autores, qualidade de vida Talwla I. Distribuição de instrumentos principais de qualidade de vida e áreas corretaw, segundo a dtcada. COlTesponderia a uma entidade vaga e etérea. Algo s0bre o que muito se fala, mas ljut: não se pode claramen- Dita" te conhecer (Campbell e cols., 1976; citados por Cella li. 1.1 e Cherin, 1988, De Haes e Van Knippenberg,1 989). 1141 I,' Em contrapartida, alguns pesquisadores vêm respondcndoao desafio e dedicam-se à tarefa de organização conceitual, mesmo que de foona controversa. Neste sentido, eabe assinalar que os elementos >" 1961 1,1 1m 11.1 subjetivos do enfenno vêm sendo progressivamente \til 11l 31.1 enfatizados por aqueles que se dispõem a afinar cons- 1191 m lU "' 111 lructo. Propõe-se, por exemplo, que seja considerado como um bem-estar subjetivo que reflete as diferen- bali"'" II MI' tI-e"'1 Wtp I ,moll 121 Tomando por base: o levantamento realizado Nol3rasil,aspcsquisasvêmadOlandodiferentcs porCununins (1998), abrangendo o periodo de 1930 a instrumentos, dentre os quais: o Inventário de: Qualida- 1990, foi possível identificar 503 instrumentos deava- de de Vida de Lipp, a Escala Análoga-Visual de Font, liação de qualidade de vida, dentre os quais 58% se as escalas da European Organizatianfar Rescarch and destinavam a pessoas adultas sem transtorno físico ou Treatmel1t ofCul1cer - EORTC QOL-C30 e H&N-35 mental. Ao se considerar apenas os 446 instrumentos (versão 3.0), a Rotrerdam Symptom ChecJdist, o instru- principais (descartando-se as versões derivadas) e memo desenvolvido pelo World Heu/th OrganÍU1tian classificando-os de acordo com a década de publica- Quality of Li/e, além de questionários produzidos em çlio, observa-se que, em 1930, havia apenas dois ins- algumas unidades de saúde. Em geral, tais projetos, trumentos, sendo que, na década de 1980, são citados executados por diferentes instituições acadêmicas dou 180 instrumentos na literatura. Entre 1940 e 1960, as assistenciais, têm porobjetivocomum conuibuirpara o investigações começam a incluir a pcrspeçtiva do aprimoramento da intervenyão terdpêutica e preventiva sujeitoavaliado,mesmoqueemáreasrestritasdaexis- e,talvez,nofuturo,pclTTlitamarealizaçliodeestudosde tência. Possivelmente, associado ao intenso desenvol- meta-análise sobre o contexto de saúde brasileiro. vimento da árca daPsieologia da Saúde, o número de instrumentos dobra na década de 1970einieia-seuma diver.iificada aplicação a populações eom diferentes diagnóstieos médicos. Nas décadas de 1980 e 1990, a proliferação instromental prossegue, sendo a designa- AspeclOs clínicos e psicossociais do tâncer de cabeça e pescoço ção qualidade de vida adotada sistematicamente Elementos de natureza diversa e complexa slio pro- Cabe explicar que estes tumores englobam a gressivamente abarcados nas avaliações, abor- cavidade oral, orofaringe, hipofaringe, laringe, dando-se, inclusive, a relação do indivíduo avaliado nasofaringe. fossanasal,sciosparanasais,glándulas com a comunidade e sua atuaçlio como cidadão. salivares e tireóide (Brandão e Ferraz, 1989). Os Apesar do amplo reconhedmento da importân- sintomas mais comuns são: disfonia, dispnéia, disfa- da da subjetividade n~ avaliação da qualidade de vida, gia, presença de gânglios no pescoço e axilas. otalgia ainda predominam pesquisas de natureza psieométrica rdlexa, perda de peso e trismo (nos casos mais que não possibilitam tal perspc:ctiva. De modo geral, é graves, dificuldade para abrir a boca devido à invasão possível supoc a existência de duas tendências nos tumoral na estrotura da mandibula). As modalidades processos de mcnsuração. Uma tendencia centrípeta, terapêuticas mais comuns são radioterapia, quimio- em que os dados são gerados a partir da percepçlio do terapia, honnonioterapia e cirorgia. ou uma associa- profissional de saúde (médico, psicólogo, enfelTTleiro, ção entre elas (sobretudo, dc cirorgia e radioterapia), assistente social) e uma tendência centrífuga em que as cada uma delas com efeitos colaterais elou conse- avaliações slio feitas pelo próprio sujeito-alvo. qllêndas fundonais, estéticas c psicossociais Cerca da metade desses paeientes, ao ser diagnosticada,ja apresenta tumores avançados, o que con- gem corpornl e desencadeamento de wn processo dinãmico, em quc a pessoa aprende, gradualmente, a corn- dm: a intervenções terapêuticas mais agressivas, como pensar as scqUclasdasmutilaçOesanatômicas e a otimi- cirurgias, ainda hoje bastantemutilatórias, pois provo- 7..31" o cam alterações estéticas e funcionais significativas da disponibilidade de sua rede de apo io social (Costa Neto e cols., 1998). Neste caso, pode-se supor (Mu1grew e Dropkin, 1991; Morton, 1995; Costa Neto que as formas de adaptação psicossocial ecols.,I999).Portanto,apesardenãoeonstituircatego- '11\0 estar uso da estrutura e funcionalidade residuais, além intimamente associadas ao grau de desfiguração acat- ria diagnóstica de maior incidência epidemiológica, os retado tanto pela evolução da doença, quanto pela te- dncen:s de cabc1;a e pescoço representam uma catego- rapêutica adotada e ao grau de disfunção d«orrenteda ria clínica com importantcsedesafiadorasdemandas de mesma. Todavia não é possível estabelecer uma rela- intcrvençãono plano psicológico esocial, para as quais ção linear entre uma dada disfunçãO e uma forma osprofissiooaisdasequipcsdesaúdenemscmprecstão específica de adaptação psicossocial, o que podcria ser em condições de atendcr, tendo em vista os atuais recur- explicado pela presença mediadora de variáveis 50S teóricos, metodológicos e práticos como, por exemplo, as estratégias de enfrentamento Assim sendo, a presente pesquisa teve por adotadas por cada paciente (Breitbard e Holland, obetivo principal examinar a aplicabilidade de ins- 1988; Costa Neto e cols., 1998; Costa Neto e cols., trumentos sistematizados de avaliação de qualidade 1999). de vida em pessoas diagnosticadas com câncer de caAs diferentes etapas da experiência oncológica beçaepeseoço. (diagnóstica,ternpêuticalreabilitação e sobrevivéncia) têm sido associadas a dificuldades dc natu re7..3 psicológieaepsiquiátrica.Naáreaespecíficadocâncer METODOLOGIA de cabeça e pescoço, há várias décadas. tem-se enfatizado que o medo da nlIo aceitação social e o Sujeitos isolamento, vinculados à desfiguração induzida pela doença e seu trntamento,estãonaorigem dos quadros Participaram desta investigação 41 pacientes, de tensão e tristeza observados em muitos pacientes deambosossexos,entre20e85anosdeidade,aten- Desfigurações da face produzem intensas reações didos no Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do emocionais,dadoograndevalor- destaZOilacorporal no Hospital Araújo Jorge da Associação de Combate ao estabelecimento e regulagem das interações pessoais, Câncer de Goiás. profissionais e sociais, em razão do substrato que constitui para a expressllo da personalidade ou estado emocional (Adsen 1963; Breitbard e Holland, 1988; Bayés,I99I). Instrumentos A Eseala Análoga-Visual de Font e Costa A etapa de reabilitação após a cirurgia estaria, Neto (Costa Neto, 2001) foi originalmente desenvol- conseqüentemente, relacionada à integração da ima- vida por Font (1988) para câncer de mama e, poste- rionncntc,adaptadaparacâncerdecabeçaepescoço. rnt:tidos, individualmente e em local previamente São apresentadas 34 questões abrangendo quatro preparado, à apl icação das escalas análogo-visuais dimensões de qualidade de vida: física, indepcndén- de Font e Costa Neto(Costa Neto, 2001), QLQ-C30 e eia/dependência, social/familiar e psicológica. Ao H&N-35 da EORTe. final,o sujcitodcve realizar uma avaliação geral de sua qualidade de vida. As medidas obtidas correspondem a perdas ern relaçãoã condição de saúdt:; As escalas da Eurupeun Organizaliof/ for Research and Treatmenl of Cancer (EORTC) são do tipo Likert e compostas por um módulo com itens gerais e outros específicos de acordo com o tipo d~ m:oplasia Auto-aplieáveis e relativamente breves têm condições de validade, fidedignidade e responsividade para mudanças clínicas ao longo do tempo, além de contemplar características transcuhurais (Aaronson, 1988; Bjordal e Kaasa, 1992; Bjordal e cols., 1994; EORTC Quality OfLife Study Group, 1997). A versão em lingua portuguesa para o Brasil denomina-se - EORTC Quulity o/Li/e - elO e Head & Neck-l5 (versão 3.0). Nestes instrumento.s, quanto maior os e.scores das escalas funcionais e condição geral de saúde e qualidade de vida, maior a satisfação, ao passo que. quamo maior os escores nas escalas de sintomas, maior a perda RESULTADOS EOISCUSSAO Houve um predomínio de mulheres (54%) na composição da amostra(Tabela2), apcsarda literatura 3pontar tendência inversa, visto que existem mais casos de homens com câncer de cabeça e pescoço que mulheres, numa proporção de quase 3 por I (Ministério da Saúde, 1998,2000). No mesmo grupo, ointervalodeidadeprcdominantefoide41 a50anos (29%), seguido pelo intervalo posterior de 51 a 60 anos (19,5%), coerente com os dados epidemiológicos disponíveis. Os casados predominaram (61%), seguidos por peSSOas solteiras (14,6%) e separadas (14,60/0). A maior parte dos sujeitos estava empregada (41,S%),seguidapela categoria das donas de casa (21,9%). Quarenta e dois por cento da amostra relaluu ter interrompido a atividade de trabalho em virtude da doença elou do tratamento. Mais de 50% residiam em cidade Oll Estado diferente de onde se Procedimentos Após autorização formal da EORTC para uso encontrava a instituição de saúde em que faziam diagnóstico elou tratamento. Quanto à escolaridade, pessoas sem qualquer instruÇãO fonnal compunham das escalas e realização de estudo piloto, os sujeitos 19,5% de todaaamostra, dado semelhante aos obtidos foram abordados durante a consulta ambulatorial em estudos anteriores (Costa Neto, 1997; Costa Neto, médica, durante a fase de formulação diagnóstica ou Araujo. Curado e Silva, 1998). preparo para cirurgia. Depois de informados sobre os A Tabela 2 a seguir, apresenta, também, alguns objetivos do estudo e deterem assinado o TemlO de indicadores clínicos da amostra. Constatou-se que Consentimento Livre e Esclarecido, em eonfonnida- aquela era a primeira vivencia oncológica dos sujeitos de com as recomendações da Resolução 196/96 da abordados. Apesar da maior parte encontrar-se em fase Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) de conclusão de exames diagnósticos (73,2%), muitos do Ministüio da Saúde, os participantes foram sub- já haviam recebido alguma advertência do médico lO $,I.t,Coslihl'llltI.Ari. Tabela 2. Caracterização sociodemográfica e clínica dos sujeitos (N"'41) hCl"rilll~1 SUl '.' 1',alcMpllta lU 14.1 11.1 1.3 U lU 1.1 r".iu..,ltll 14.1 l"'li11C,,'18 1J,l 11,1 l" 'I. ilnl,hrtl ,.. lU lU 1.3 ti rlr.c"~11I 1., nuHilllÍlHI Priúri.iletII,khl Pri.íriln.,11I1 l'".itc,.,11I1 1~ld. li-li 11·H 31·" 41·51 51·" 51-li 11-" 11·" Esta_.cioriI ""', .... $tp~. "" rlst_etm ••• lltl Dii!Mstin Jl.l úirgin 21.1 li~i"lIl.in " 11.1 QIÍlli"'rl~ 14.' 14.1 $íll,1I_.1 1.1 CniNilllIJ1 41.5 lIriJg. Par6tillil 1.1 H'o!ir'" 1.' lU 11.5 lirlÍÍIII C•• lfiçHtltltr..... ...f."",."ElprIIoIj. 1'-5 '.' UII'lfretdl 1.1 1.' 11.' AplSlltdl Estldu\e "., lU lU 1.3 '.' Oflliri'II em.iIMNUI U U 1.1 Bu,i,U'!liI Priairi,incollltciH ht'ÚlIIII"1 SitUçH 1tU1_. Ir.'" NII~abalu,.r.llirlj,joIAÇil MII~ablllll,lI.klSlIOIinl '.' !mMI I211ltMlJ 1l11G1II+ mlOl U 1.1 13.1 141'Oljt+ UIIDI NHtUuiMO PriII,irt hI-.r: 111 % quanto à possibilidade de submeterem-se a procedi- TrJ!ulIsI ....:ZJ'Ii (UICe, 1997), 01.1 seja, a definiyão do tamanho do ru- mento cinírgico. Vinte e quatro por cento dos enfennos mor principal ("D. a cxistência de nódulos no pescoço rect:beram diagnóstico de câncer de boca, 19,5% de lu- (N) e a presença de metastases (M), verificou-se que mor de tireóide, 14,6% de câncer de laringe e 12,2% de l3,2%eramT4(comesem doença no pescoço) e 9,2% n rumor de parótida, entre outros. Em 7,7% dos sujeitos, eram não se havia concluído quanto ã região anatõmica onde cientes com estadiamento T3 e T4 e, ponanto, portado- se desenvolveu o Iwnor primário. Quanto ao estadia· res de tumores considerados extensos e com grande (com e sem doença no pescoço). Entre os pa- mento realizado pelo sistema de classificação TNM possibilidade de tr.uer alterações estéticas e funcionais nllli~aje~niillcllcerdttiIIÇlI~!ctÇl 131 significati,·as. apenas um sujeito estava traqueostomizadoemrazão do bloqueio das vias aéreas superiores. A Tabela 3 apresenta os resultados da Escala do mais dc 30 episódios. Sett:nla t: cinco por cento dos pacientes relataram ter experimentado dur local ou loco-regional, considerando o sitio tumoral análogo-visual de Font e Costa Neto (Costa Neto, Na Dimensão dos Hábitos Cotidianos, obscr- 2001). Todos os sujeitos apresentaram simomas fisi- vam-se, como mais frequentes, as alterações nas eos nas 24 horas que antecederam a avaliaç~o. A mé- rotinas de trabalho (32,82%), dificuldades com a de- dia de aumento de náuseas foi de 16,87% c de dor, glutição (25,95%). diminuição do apetite (22,41 %) e 44,06%. Quatro sujeitos manifestaram vômitos no aumento de fadiga (20,46%). De outro lado, a dimi- mesmo periodo, sendo que um deles relatou tcr sofri- nuição da mobilidade e cuidados pessoais foi o que Tabela 3. Perdas em qualidade de vida. segundo a Escala análogo-visual de Fonl e COSIa Neto (N=41), por aumento (+) ou diminuição (-) do fator. htGf Média "'I ~jll'õ 1+111." 1+141.11i a" H.IIitlStotidw.1I Müilidõde \'i;ii H1.5 H3ZJ3 H 11.11 1+111.4& HII.n 011.51 O/UI 01.11 D II~tiçil OZw C"llicIIII CClltralgillfltal Clididtl,tllOõil (·)15.11 (+114.51 01.11 lrõlõl~o At~Id, lisitl fldip ." AtilNdld.lt!lIiu ~Itite A~ri'~(e mi,1 ~tm,,~o 01l.~1 c.1iII1I DjfIClI"~Hcolj~glis Dmlild!lco.,Ia.i~, SoI~IfIç.\lta. illHIII;iies A\ntm'd, ~'IXII,i~lm •• ica Atiri',i,recreitir, ,,, Allie',dt DI,rnul Cn!IJIUOiÇil Ylliiil ~!ac~,~ç.i.tlllUrirI"iifflica l iIlÇhllir:~ Mel, Alllilçi.&trlluDV (+)31i,32 (+)11.42 (+)J.II (.I2UD (.112.43 (+13l.t1 H 11.11 (+)21.17 1+)21.1] (+)11.54 02l.l1 (-) 1~.tI (+)11.44 I+)S.I( 1+134,Gl (.IU,lI "21.17 41.45 IUJ 4J,19 35.1l 3W 11.13 13.11 35.a, 11.12 31.41 !I.ll 1m 1,(1 lua lI.29 n.11 14,13 3m lI.55 lua ll.IiS lU6 lUZ 3J.ll 31,11 lD.21 3U1 lD,S. 33.16 lUI 132 SHCosI.IhtllUlI,lllijl leve menor impaeto na qualidade de vida (3,5% e venção cirúrgica, De cena forma, este sujeito incorpo- 0,66 %, respectivamente). m, em sua subjetividade, o fator medo, atribuindo um Quanto à Dimensão Social e Familiar, 34dos41 sujeitos apontaram o aumento da preocupação com os significado que lhe permitiu manter niveis gerais de qualidade de vida satisfatórios. filhos (36,32%) comoofatorquemaiscausava impacto Em ambas as escalasda EORTC, o rncnoresco- na ocasião da avaliação. Cerça de 60"10 de toda a amos- re foi atribuído ao Funcionamento Emocional (58% e tra avaliou estar nada ou pouco satisfeita com o conteu- 72%, respectivamente). Na Escala Funcional, a satis- dodasinformaçôes que t:Stavarecebendodurante a fase fação c superior a 50% em todos os fatores analisados, de diagnóstico. O fator menos reduzido foi o das rela- sendo mais pronunciada no Funcionamento Social çõcs familiares (7,9%), exceto quando observado em (80% e 84%, respectivamente para a escala C-30 e pessoas que já conviviam com situações conflituosas H&N-3S) e Funcionamento Físico (79% e 83%) no ciclo familiar na situação prc-mórbida. Em relação à Dimensão Psicológica, em muitos fatores, a perda foi semelhante: aumento de ira T:o.bel:.l 4. Perdas em qualidade de \ida, segundo as Escalas da EORTC C·30 e H & N-35 (N=41) (26,97%), ansiedade (28,93%), depressão ou tristeza mais acentuada (28,54%) e dificuldade de concentração (22,72%), os quais foram cotados com mais in· tensidade, em relação ao passado, quando os sujeitos não percebiam sua saúde ameaçada. Medo foi o fator de maior intensidade, com aumento médio de 34,03%, sendo que alguns participantes atribuíram um crescimento em até 100% A média de perda na qualidade de vida em todo o grupo investigado foi de 19,28%. Na literatura, tem-st: companilhado a idéia de que avaliações globais resgatam fatore:; ou mesmo dimensões nilo privilegiadas por determinados instrumentos de avaliação (Osoba. 1991; QlnU., QlIstin ,., H.·l5 lSi4l.(!.llill C·lI FmIII(+) fMtiNaatIl. Fisicl Fatill.lalltl ."" 'oi FI.eiolalel· tl 'lldual 11alt Fllei.llle. tlClglilin 11.15 Fucillll'. tl mg! Oe _ _ (-) 11111 fHip Hilst!hllitl 11.11111 14115 1111 I Cella, 1995; AaronSOTl, CalaisdaSilvae Voogt, 1988). " " '" '" C·lI OI' 41.51.11.51 51.51.5h51 '" '" '" ., "' JW);, l1.m. 111]( (1.1);, 11.11);, Em outras palavras, uma avaliação gemI é orient.ada por Ofs,.eia fatores desconhecidos pelo investigador, o que explica- III~ lU);, ria a obtenção de um rcsult.ado muito distinto da média ma • • das avaliações realizadas em dimensõcs especificas teutiplç;a Iilrrlg 15.3% 11.3% 4,1'11 Por exemplo, associado ao fator medo da dimensão psicológica, um determinado sujeito relatou, em pesquisa anterior (Costa Neto e cols., 1999), que seu mcdo em benéfico, apesar de tcr aumentado em mais de 60"/0, comparado à fase pré-mórbida, pois o tomava mais alento com os cuidados que deveria manter após a inter- 4!,U l iliCll~I~1I -'" I't(+) II.Ui ll.Ui 4IH fiJlUclim hril ~e,1II .SaiiI •• HN·35 ]4H 5.,55 11131 55.l]\ IU(% III Na avaliação da Saúde Geral e Qualidade de Vida Geral,a media foi de 55,33% nestas dimensões, segundo a escala C-30. Interessante observar que mu itos pacie ntes atribuíram escores diferentes atais dimensões globais, o que reforça a s uposição de que se trata de entidades próximas, mas distintas. De modo geral, os sujeitos tiveram boa recepti- vidadeaosinstrumentosutiliVIdos,reJatandofacilidade na çompreensão das instruÇÕC5. Em swna, as escalas empregadas possibilitaram a identificação daspcrdas de qualidade de vida, sendo, JXlrtanto, adequadas para REflRÉNCIAS818l10GRÁFlCAS Aaronson, N.K. (1988). Methodological issues in psychosocialoncologywithspccialreference!o clinicai trials. Em V. Ventafridda, F. S. A. M. Van Ddam, R. Yancik e M. Tamburini (orgs.),Assessment o/quality o/fife and cancer /reOlmen/ (pp.29-42). Amsterdam: Elscvier. Aaronson, N. K.; Calais da Silva, F. e Voogt, 11. J. (1988). SubjcctivcrcSponsecril~ria:muqualilyoflik EmF H. SchorõU~r (org.), EORTC geniluurinury group monograph J : ProgresJ and cOnlroversiu in oncological urology ii (pp. 261_273). Amsterdam' Alan R. Liss. avaliar as condições desta clientela, visando a uma intervençãoterapêuticaepreventivaemoncologia CONCLUSÃO Qualidade de vida é um constructo multidi· mensionaI que, na área da saúde, exige uma aborda gem interdisciplinar. Isto tem implicações não apenas para a metodologia dos processos avaliali vos, mas, sobretudo, para a intervenção clinica. Assim, na esfera das re\ações intra-equipes de saúde, por exempIo, as medidas de qualidade de vida poderiam facilitar os processos de comunicação cntre os profissionais de fomlaçôes distintas que, ao identificarem areas de perdas ou limitações, se reorganizariam para propor um plano terapêutico de maior interesse para o bem-estar do paciente. Da mesma maneira, indivíduos com baixos escores de qualidade de vida na etapa de admissão e triagem poderiam ser priorizados pelo programa assistencial. Apesar das vantagens demonstradas pelos instnunentos aqui adotados, sugere-seque invesligaçÕt:s futuras incluam uma abordagem qualitativa nos deli- neamentos metodológicos, como, por exemp lo, o desenvolvimento de entrevistas semi-estruturadas, para melhor compreensão c aprofundamento dos aspet:los subjetivoseclínicosjáidentificaUosnestainvcstigação Adse!!, C . A. (1963). Emotional reactions to desfigurement from cancer therapy. Canadian Medicai Assoâa/wn Journal, 89, 385-391. Bayés, R. (1991). Psicologia oncológica - Prevencwn y /uapéulica psicológicas dei L'cincer (13. ed.) llarcdona:MartinezRoca Bjordal, K. e Kaasa. S. (1992). Psychorncuic validation of lhe EORTC core questionnaire, 30 items venion and a diagnosisspecilicmoouleforlreadandneckcanccr paticnts.Acta Oncologica. 31. 31 1-321 Bjordal, K.; Ahlner_Elmqvist. M.; Tollcsson, E.; Jensen, A. 8.; Razavi, D.; Mahcr, E. J. e Kaasa, S. (1994). 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