A VIDEIRA E OS RAMOS – HISTÓRIAS DE VIDA DA COMUNIDADE CRISTÃ VIDEIRA: Relatos do processo de criação do livro-reportagem Ingrid Matela BRAQUEHAIS1 Resumo: O presente trabalho tem por objetivo relatar o processo de criação do livro-reportagem “A Videira e os Ramos - Histórias de vida da Comunidade Cristã Videira”, realizado como projeto experimental do curso de Jornalismo. O foco deste artigo é explorar as etapas de produção do livro como: a escolha do tema, a metodologia de pesquisa e os relatos dos processos de pauta, apuração, reportagem e edição. O trabalho explora as motivações de tratar de um tema abordado com pouca frequência na grande mídia: como funciona uma igreja evangélica, que áreas de atuação possui e, especialmente, as histórias de vida que abriga. A igreja Comunidade Cristã Videira, fundada em Fortaleza, foi escolhida por ser considerada uma igreja moderna, com uma mensagem considerada leve, possuindo uma grande quantidade de jovens e também pelo foco em trabalhos sociais nas comunidades carentes próximas à congregação. Palavras-chave: Igreja evangélica; entrevista; Comunidade Cristã Videira Introdução O número de evangélicos no Ceará mais que dobrou em dez anos, segundo o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesta pesquisa, 14,63% da população do Estado se declarou evangélica, o que representa 1.236.435 de pessoas. Em 2000, eram 612.847 evangélicos, 8,2% da população. Diversas são as igrejas evangélicas presentes no Estado, com diferentes estilos e denominações, que tem trazido transformação na vida das pessoas e da sociedade. Nestes lugares, as pessoas têm buscado se conectar a Deus e dizem ter encontrado razões para serem felizes. Dentre estas instituições, a atuação da Comunidade Cristã Videira tem se destacado à sua maneira na cidade de Fortaleza por diversos motivos: o foco na atuação em obras sociais, em especial através do Instituto Vida Videira (IVV), que atende comunidades carentes com diversos projetos sociais, o forte uso das ferramentas de comunicação e de tecnologia, a grande quantidade de jovens e por prezar pela igreja como um ambiente leve, descontraído e prazeroso de se estar. A sede da Comunidade Cristã Videira fica localizada na Rua Eliseu Oriá, nº 1553, no bairro José de Alencar, em Fortaleza. A congregação foi fundada pelo 1 Graduanda em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected] contador, advogado, executivo e pastor Costa Neto e a esposa Nenen Costa, em 2001. A igreja também conta com uma sede em Natal, localizada no Largo Interventor Ubaldo Bezerra, nº 1996, no bairro Candelária. A extensão foi fundada em 2007, tendo como pastor fundador Edmílson Rocha. Em fevereiro de 2014, foi inaugurada mais uma extensão da Videira em Fortaleza, localizada na Avenida Dom Manuel, nº 929, no Centro. O Instituto Vida Videira foi fundado pelo pastor Costa Neto em 2005, com o objetivo de assistir comunidades carentes em situação de vulnerabilidade social da comunidade Piçarreira e adjacências. Localiza-se na Rua São João Del Rei, nº 1764, no bairro Alagadiço Novo. O instituto tem como mantenedores a Comunidade Cristã Videira, a Caixa Econômica, o Banco do Nordeste e pessoas físicas. 1 Escolha do tema Ao ponderar sobre qual assunto abordar no projeto experimental, refleti que queria tratar de algo positivo, que pudesse tocar as pessoas e fazê-las refletir. Vivendo em meio a uma sociedade cearense cada vez mais violenta retratada exaustivamente pelos noticiários, quis dar destaque à acontecimentos que batem de frente com essa realidade: ações positivas de transformação da sociedade realizadas por igrejas evangélicas. Para isso, quis contar histórias de vida de pessoas que afirmam terem sido mudadas por Deus. Decidi relatar como os cristãos evangélicos enxergam a Deus, a si mesmos, a igreja e os acontecimentos da própria vida. Escolhi então, tratar de um tema pouco explorado pela grande mídia: a igreja evangélica. Como cristã e evangélica, percebia muita hostilidade aos cristãos evangélicos tanto no ambiente acadêmico como na mídia de forma geral. Diversas eram as críticas sobre evangélicos, mas pouco era o conhecimento do que realmente estas pessoas vivenciam em suas vidas, de como as igrejas funcionam, do que elas seguem e do que elas realizam na sociedade através da mensagem que levam e de atitudes de generosidade social. Como afirma Lage (2011), a reportagem deve ser escrita quando existem fatos geradores de interesses à sociedade. Para o autor, muitas reportagens resultam da observação de fatos que geralmente passam despercebidos. “O novo é aquilo que o público ainda não conhece; o inédito, aquilo que não faz parte do acervo de informações da imprensa” (LAGE, 2011, pp.125-126). Refleti então que a grande mídia confere pouco destaque em seus noticiários e reportagens, ou até mesmo não conferem nenhuma atenção à essas igrejas. Principalmente, não se propondo a investigar histórias de transformação de pessoas cristãs evangélicas, que dizem respeito à mudanças sociais, de caráter e estilo de vida. Atentava para o fato de que através da mensagem que levam, igrejas em geral têm, de alguma forma, promovido bem-estar social na vida das pessoas e da comunidade local. Para abordar este tema, escolhi dar voz a uma igreja específica: a Comunidade Cristã Videira, fundada na cidade de Fortaleza em 2001. O livro conta a história e o atual funcionamento da igreja através de ministérios. A Videira, como também é chamada, começou a atuação com menos de 20 membros. Hoje, quase 13 anos depois, conta com cerca de 4000 pessoas. A igreja se destaca à sua maneira entre a grande variedade de igrejas evangélicas na sociedade cearense atual por diversos motivos. Umas das características que mais chamam atenção são sua modernidade tecnológica, a grande presença de jovens, uma forte ênfase no uso das ferramentas de comunicação e uma mensagem voltada para a generosidade e ações sociais, em especial através do Instituto Vida Videira (IVV). A criação da Videira surgiu de um chamado e desejo do pastor Costa Neto de trazer uma nova proposta igreja, que transmitisse a mensagem do evangelho de Jesus Cristo de uma forma bastante prática e seguindo os princípios bíblicos. Há uma preocupação não apenas com o conteúdo que é transmitido, mas da forma como é feito: descontraída, atraente, moderna, alegre. A Comunidade Cristã Videira passa a mensagem de viver o cristianismo não somente dentro da igreja, ao lado dos próprios membros, mas fora dela, levando cada membro a agir com generosidade. Tem, portanto, grande foco em impactar a sociedade através de obras sociais e atitudes de amor às pessoas. Este objetivo é expresso na visão de “Ser uma igreja relevante na sociedade” e na missão de “Amar a Deus, e servir ao próximo”. Assim, o livro-reportagem realizado pôde relatar como a igreja Videira foi criada, como funcionam as áreas de atuação que possui – chamadas de ministérios –, e, principalmente, mostrar relatos de como os membros tiveram as histórias de vida transformadas espiritualmente. O trabalho mostrou também como a igreja atua em ações sociais voltadas a comunidades carentes no entorno do bairro Alagadiço Novo, através do IVV, contribuindo para uma melhor qualidade de vida de crianças, jovens, adultos e idosos. 2 Metodologia e Procedimentos Técnicos Segundo Vargas (1985), a participação-observação é uma técnica de investigação social em que o observador já está imerso no grupo de pessoas ou comunidade que pretende investigar, partilhando atividades, interesses e afetos. Por participar dos cultos da igreja, situei-me como participante-observadora ao escolher o tema. Na escrita do texto, orientei-me pelas regras do fazer jornalístico, com transmissão de opiniões e informações dadas por outrem com precisão, clareza e simplicidade. Relatei também, ao final do livro, meu testemunho de caráter pessoal, contando minha história de transformação de vida através de Jesus Cristo em que a igreja Videira teve contribuição. O principal procedimento técnico utilizado neste trabalho foram as entrevistas, o processo clássico de apuração de informações do jornalismo com a finalidade de coletar interpretações e/ou reconstituir de fatos (LAGE, 2011). Ao todo foram 17 entrevistas realizadas, com pastores, líderes, voluntários e membros da igreja. Para Lage (2011), existem quatros tipos de entrevistas quanto ao objetivo: ritual, temática, testemunhal e em profundidade. Para este livro, foram utilizadas: 1) a entrevista temática, quando o entrevistado aborda um tema o qual tem autoridade para discorrer; 2) a entrevista testemunhal, quando há o relato do entrevistado sobre algo que ele assistiu ou vivenciou. As entrevistas temáticas foram realizadas para tratar da história da igreja e da atuação através dos ministérios nas partes um e dois do livro. Já as entrevistas testemunhais deram oportunidade aos membros de contarem as histórias de transformação de suas vidas atribuídas a Jesus Cristo através da Videira na parte três. Além das entrevistas, foram utilizadas fontes oficiais, como os Censos 2000 e 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados que registram a porcentagem de evangélicos no Ceará e no Brasil, além de pesquisa sobre o perfil dos membros da Videira, realizada pela Consultoria, Sistema, Projetos e Pesquisa Limitadas (CONTASP) com 636 membros da igreja em agosto de 2013. Como ferramenta de ilustração da reportagem, utilizei fotografias cedidas pela própria Comunidade Cristã Videira com câmeras profissionais, além de algumas tiradas por mim com uma câmera fotográfica simples. As fotografias retrataram tanto os ministérios quanto os entrevistados. A qualidade das fotos de arquivo da Videira era bastante elevada, o que me motivou a optar por utilizá-las. Além disso, os voluntários da igreja que tiraram as fotos, haviam tido uma maior liberdade de se movimentar durante os eventos e cultos da igreja para capturar as fotos, o que não era tão fácil para mim. Por exemplo, fotos com flash atrapalhariam os cultos, portanto optei por não utilizá-las no templo. Já as fotos que tirei sem flash, acabavam saindo tremidas, devido à baixa qualidade da câmera, ao movimento das pessoas e à pouca iluminação em alguns momentos. Colocar uma maior quantidade de fotos cedidas pela Videira em detrimento das tiradas por mim foi opção também da diagramadora Yohanna Pinheiro, objetivando uma melhor impressão gráfica do livro. O projeto gráfico teve atributos de modernidade e simplicidade, características da igreja Videira, por isso, fontes leves e modernas foram selecionadas. Outra característica idealizada foi que o livro possuísse elementos visuais que remetessem à árvore videira, já que o trabalho trata de uma igreja que tem o nome de uma árvore. Assim, elementos gráficos de frutinhas, arabescos e folhas foram colocados nos começos das partes e capítulos e próximos à paginação do livro, representando a árvore videira como a própria igreja. 3 Pauta, apuração, reportagem e edição de texto No projeto do livro-reportagem “A Videira e os Ramos”, relatei as motivações para tratar do tema e expliquei como se deu o início da igreja e como se dá a atuação nos dias de hoje através dos ministérios e do Instituto Vida Videira. Para tal, a fonte de pesquisa principal foi o site oficial da Videira, que contém uma grande quantidade notícias e informações sobre os ministérios, além de breve histórico de criação da igreja, contendo a visão e a missão da congregação. O próprio conhecimento prévio que eu possuía do estilo da igreja, através da minha experiência pessoal de participação nos cultos, permitiu-me discorrer sobre o tema com mais facilidade: O repórter terá de levantar um breve histórico sobre a pessoa ou o tema que irá relatar. É a partir de tópicos que consegue resgatar que o jornalista fica apto a ir além do óbvio em uma reportagem ou entrevista. Claro que a experiência em determinada área, muitas vezes, poderá “liberar” o repórter de uma pesquisa mais profunda. (FLORESTA E BRASLAUSKAS, 2009, p. 49). O projeto continha também reflexão teórica da escolha do livro-reportagem como meio de contar a história, bem como prazos estabelecidos para o trabalho. O processo de apuração efetiva do livro começou quando entrei em contato com o pastor sênior da Videira, Costa Neto, através de e-mail, solicitando autorização para realizar o trabalho na Videira, em setembro de 2013. O enviei o esboço do projeto do livro-reportagem, e o requisitei para realizar uma entrevista com ele, além de outras pessoas da igreja. O pastor apoiou o trabalho e colocou à minha disposição a assessora de imprensa dele e da igreja, a jornalista Juliana de Fátima, que cuidaria da agenda dele e me passaria os contatos de outras pessoas da igreja. A partir daí, conversei pessoalmente com a assessora da igreja, transmitindo o que eu desejava no trabalho. Expliquei a ela o formato do livro, que contaria com três partes. A primeira contaria o início da fundação da igreja, através de entrevista com o pastor fundador Costa Neto. A segunda parte trataria da atuação da Videira nos dias de hoje por meio das áreas de atividade da igreja, chamadas de ministérios. Contaria com entrevistas com os líderes de cada uma das áreas. A terceira e última parte trataria de testemunhos de membros da igreja, contando suas histórias de transformação de vida escritas por eles próprios. A assessora me passou então todos os contatos dos líderes dos ministérios da igreja e comecei a entrevistá-los em setembro de 2013. Como o pastor Costa Neto, estava com a agenda cheia naquele momento, devido à mudanças que a igreja estava passando, como reformas, ela sugeriu que eu esperasse a disponibilidade da agenda dele. Elaborei as pautas, e assim, fui entrevistando um a um os líderes dos ministérios da Videira: Berçário, Crianças do Reino, A13 (jovens), Amistad (pessoas acima de 25 anos), Voluntários, Surdos, Academia Videira de Excelência Cristã (escola de ensino teológico evangélico), Trabalho de evangelização no Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura Costa, MMI (ministérios internacionais de casamento), Celebrando a Recuperação (recuperação de traumas, vícios e maus hábitos), Louvor, Oração, Aconselhamentos pastorais, Casamentos, Cultos fúnebres e Comunicação. As entrevistas foram registradas com gravador com a autorização dos entrevistados. Iniciava sempre explicando o motivo do encontro: contando um pouco sobre o trabalho que eu estava desenvolvendo para a faculdade. Além disso, informava quem eu já havia entrevistado até então, para descontrair e dar um pontapé inicial nas conversas, que ocorreram de forma amistosa e com receptividade. Ao todo, foram dez líderes entrevistados; alguns deles cuidavam de mais de um ministério. Alguns eram voluntários e outros trabalhavam efetivamente na igreja. Todas as entrevistas foram realizadas na igreja, exceto uma marcada no local de trabalho da entrevistada líder do Berçário, uma imobiliária. Os locais foram sugeridos pelos próprios entrevistados. “Se a conversa tiver de ser em outro local, deixe que o entrevistado indique onde vai ser. Ele precisa estar à vontade. Só sugira o local se ele quiser” (FLORESTA E BRASLAUSKAS, 2009, p.96). Assim, desenvolvi a entrevistas com os líderes de cada ministério tratando de dois aspectos principais: 1) como era o funcionamento do ministério, 2) qual era a relação pessoal dele com o ministério e à igreja. O segundo ponto tornou o assunto das entrevistas mais humano. O objetivo era relatar as histórias de vida das pessoas com Jesus Cristo, para além de contar as atividades da igreja. Os dois temas se entrelaçavam, um não existia sem o outro. Para tratar do funcionamento dos ministérios, priorizei também a apuração de informações quantitativas, que se mostraram de fácil acesso através dos líderes, pela própria visão executiva do pastor sênior de ter em mão dados numéricos da igreja, como quantidade de envolvidos nos ministérios e quantidade de voluntários. A intenção foi dar o máximo de detalhes, explicando o modo e o tempo das atividades da Videira, como horários, dias da semana e valores. “Quanto mais exemplos o leitor tiver para entender os fatos, sobretudo números e explicações que simplifiquem a compreensão, melhor” (FLORESTA E BRASLAUSKAS, 2009, p.18). A entrevista com o pastor sênior Costa Neto foi realizada em dezembro de 2013 na igreja, no gabinete pastoral. No mesmo dia, ele teria uma viagem a fazer, o que me impulsionou a otimizar o tempo da melhor maneira possível, priorizando as perguntas mais importantes. As entrevistas tiveram duração média de 1h13min, com duração total de 13h35min de entrevistas. A mais curta durou 43 minutos, com o líder voluntário Moyzes Araújo, e a mais longa durou 2h39min, com a coordenadora da escola teológica da igreja e líder do projeto no presídio feminino, a publicitária Diana Timbó. Foi difícil tornar a entrevista de Moyzes mais detalhada, pois o estudante dava respostas mais curtas. Ele organizava o pensamento de forma bem objetiva, respondendo com poucas palavras. Desta forma, tinha de “puxar” mais assuntos para fazê-lo discorrer sobre eles, o que acabou resolvendo a dificuldade da entrevista. Já a entrevistada Diana foi bastante detalhista, contando seu processo de conversão de forma cronológica, o que se tornou um ponto positivo, pois seu pensamento era organizado e cheio de detalhes pessoais que enriqueceram a reportagem. Para fazer as transcrições dos áudios das entrevistas, levei uma média de 1 hora transcrevendo cada 10 minutos de entrevista. Como meu objetivo inicial era terminar o trabalho em dezembro de 2013 e as transcrições demandaram bastante tempo, decidi entrevistar alguns dos últimos entrevistados por e-mail. Comecei com o Carlos Henrique, do Celebrando a Recuperação. No entanto, ao fazer a entrevista por e-mail, notei que acabava sendo menos detalhada do que face à face, havendo a necessidade de um novo e-mail com novas perguntas. Apesar de Carlos Henrique ter explicado todas as minhas dúvidas posteriores, não fiz mais outras entrevistas de líderes por e-mail. Para Floresta e Braslauskas (2011), pessoalmente, você terá atenção exclusiva, e este tipo de entrevista acaba rendendo mais. Além disso, estando frente a frente com o entrevistado, houve a possibilidade de perguntar sobre as respostas de maneira instantânea e natural, o que não acontecia por e-mail: De modo geral, é estimulante para o entrevistado, nos momentos em que a fala se interrompe, perceber que o entrevistador está compreendendo o enunciado. Para isso, produzem-se questionamentos que constituem, na verdade, inferências imediatas a partir do que acabou de ser dito. (LAGE, 2011, p. 82). O prazo final do trabalho foi alterado então para junho de 2014. Com o material das partes um e dois em mãos, faltava começar a escrever a reportagem. Além disso, comecei a entrar em contato com membros da igreja para escreverem os testemunhos da parte três. Escolhi as pessoas assistindo aos próprios vídeos da igreja, chamados de “Generosidade que Transforma”, que mostram um membro contando o testemunho de vida, exibidos todos os domingos nos cultos. Selecionei cinco membros homens e mulheres de diferentes idades com histórias diversas e tocantes. Consegui o contato das pessoas com a assessora e jornalista da equipe de comunicação, Juliana de Fátima. Contatei os membros por telefone e, depois, por email, explicando-os sobre o livro-reportagem e os pedindo para participar do trabalho com o testemunho escrito por elas, relatando a transformação de vida por Jesus Cristo através da atuação da Videira. Expliquei que o tamanho sugerido era de uma a duas páginas do Word. Os membros aceitaram participar, mas alguns deles demoraram quase dois meses para me enviar. Os lembrava para me mandar, mas eles não haviam feito ainda. Em abril de 2014, mandei um último e-mail, dizendo: “Ainda no aguardo do seu testemunho para fechar o livro”. Depois disso, eles me enviaram o texto poucos dias depois, acredito que pelo aviso de iminência da chegada do prazo final do trabalho. O último testemunho foi recebido no início de maio. Comecei a escrever a livro-reportagem em janeiro de 2013. Optei por fazer o texto em forma de reportagem, ordenando ora a partir das informações mais relevantes a menos relevantes, ora por ordem cronológica de acontecimentos, tornando o texto mais agradável de ser lido. Alternei também os discursos direto e indireto. (LAGE, 2011). Quando estava entrevistando as pessoas, achei que seria difícil selecionar os fatos mais importantes para incluir na reportagem. Porém, no momento de selecionar o texto transcrito, logo percebia que muitas coisas que pareciam interessantes no momento da entrevista, não eram tão relevantes assim. “O importante é ter em mente que nem tudo de uma entrevista precisa estar no texto. É de grande valia saber o que de melhor o entrevistado falou” (FLORESTA E BRASLAUSKAS, 2009, p.126). Na criação do texto, agi como tradutora de discursos (LAGE, 2011). No meio evangélico, a qual eu dei voz em meu trabalho, há linhas de pensamento, palavras e expressões que são próprias desse público. Por vezes, expliquei expressões evangélicas em notas de rodapé. Desta forma, tentei traduzir o texto para que qualquer tipo de leitor o pudesse compreender facilmente: Quase sempre aquilo que é óbvio para o jornalista – que está na cena de uma notícia ou que já vem acompanhando determinado caso – é novidade para o leitor. Então, mesmo que pareça repetitivo, informe em seu texto pontos essenciais da história para que o leitor compreenda o porquê de toda a abordagem do texto. (LAGE, 2011, p. 82). Depois de receber a correção do texto do livro-reportagem pelo meu orientador Daniel Dantas Lemos, notei que os principais erros cometidos foram relacionados a colocar o que o entrevistado estava falando em uma frase sem usar o discurso indireto. Com o objetivo de ser fiel ao que o entrevistado dizia, acabava sem querer utilizando a fala dele como um fato da reportagem. Um dos exemplos aconteceu no capítulo do ministério dos Surdos, em que entrevistei o líder Ivan Machado, e escrevi: a recompensa do que o professor faz é dada por Deus. No entanto, ele era quem havia dito isso, portanto eu não poderia afirmar isso como se fosse um fato. Alterei então para: o professor crê que a recompensa do que faz é dada por Deus. Assim, a edição do texto foi conduzida de maneira a deixar sempre claro que as pessoas é que estavam falavam determinadas coisas, não eu. “Ouvindo tantos especialistas, também é fácil ficar influenciado pela linguagem deles” (FLORESTA E BRASLAUSKAS, 2009, p.119). CONCLUSÃO A criação do livro-reportagem “A Videira e os Ramos – Histórias de Vida da Comunidade Cristã Videira” passou pela escolha do tema, pela elaboração do projeto do livro-reportagem, pela criação das pautas de cada entrevista, pela apuração, pela criação e edição do texto. Além disso, também contou com as fotos cedidas pela igreja e fotos tiradas por mim, que ilustraram o trabalho visualmente. O projeto gráfico e a diagramação foram feitos a partir de ideias que transmiti a jornalista Yohanna Pinheiro, responsável pela programação visual do livro. A Comunidade Cristã Videira foi abordada de maneira a mostrar a relevância desta igreja na sociedade, que atinge pessoas de maneira espiritual, social e material. Para isso, foi dada voz a membros, voluntários, líderes e pastores da igreja, que tiveram a chance de explanar como funcionam a igreja e seus ramos. Os entrevistados também puderam relatar a participação da Videira na transformação de vida deles próprios e de outros, em especial, pessoas de comunidades carentes atendidas pelo Instituto Vida Videira. O livro se limitou a mostrar o pensamento e a visão de cristãos evangélicos sobre igreja Videira e as experiências pessoais deles com Jesus Cristo. REFERÊNCIAS ANJOS, Samaísa dos. Número de evangélicos mais que dobra e chega a 1,2 milhão no CE. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/fortaleza/2012/06/30/noticiasjornalfortaleza,2869311/nu mero-de-evangelicos-mais-que-dobra-e-chega-a-1-2-milhao-no-ce.shtml>. Acesso em: 16 de abril de 2014. Comunidade Cristã Videira. Igreja. Disponível em: <http://ccvideira.com.br/igreja>. Acesso em: 09 de maio de 2014. FLORESTA, Cleide; LÍGIA Braslauskas. Técnicas de reportagem e entrevista: roteiro para uma boa apuração. São Paulo: Saraiva, 2009. G1 CE. Número de evangélicos cresce no Ceará e representa 14% da população. Disponível em: <http://g1.globo.com/ceara/noticia/2012/06/numero-de-evangelicos-cresce-noceara-e-representa-14-da-populacao.html>. Acesso em: 16 de abril de 2014. Instituto Vida Videira. Institucional. Disponível em: <http://www.institutovidavideira.com.br/site/ivv/institucional>. Acesso em: 09 de maio de 2014. LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2011. VARGAS, José. Sociologia. Porto: Porto Editora, 2002.