A VIDEIRA E OS RAMOS – HISTÓRIAS DE VIDA DA COMUNIDADE
CRISTÃ VIDEIRA:
Relatos do processo de criação do livro-reportagem
Ingrid Matela BRAQUEHAIS1
Resumo:
O presente trabalho tem por objetivo relatar o processo de criação do livro-reportagem
“A Videira e os Ramos - Histórias de vida da Comunidade Cristã Videira”, realizado
como projeto experimental do curso de Jornalismo. O foco deste artigo é explorar as
etapas de produção do livro como: a escolha do tema, a metodologia de pesquisa e os
relatos dos processos de pauta, apuração, reportagem e edição. O trabalho explora as
motivações de tratar de um tema abordado com pouca frequência na grande mídia:
como funciona uma igreja evangélica, que áreas de atuação possui e, especialmente, as
histórias de vida que abriga. A igreja Comunidade Cristã Videira, fundada em Fortaleza,
foi escolhida por ser considerada uma igreja moderna, com uma mensagem considerada
leve, possuindo uma grande quantidade de jovens e também pelo foco em trabalhos
sociais nas comunidades carentes próximas à congregação.
Palavras-chave: Igreja evangélica; entrevista; Comunidade Cristã Videira
Introdução
O número de evangélicos no Ceará mais que dobrou em dez anos, segundo o
Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesta pesquisa,
14,63% da população do Estado se declarou evangélica, o que representa 1.236.435 de
pessoas. Em 2000, eram 612.847 evangélicos, 8,2% da população. Diversas são as
igrejas evangélicas presentes no Estado, com diferentes estilos e denominações, que tem
trazido transformação na vida das pessoas e da sociedade. Nestes lugares, as pessoas
têm buscado se conectar a Deus e dizem ter encontrado razões para serem felizes.
Dentre estas instituições, a atuação da Comunidade Cristã Videira tem se
destacado à sua maneira na cidade de Fortaleza por diversos motivos: o foco na atuação
em obras sociais, em especial através do Instituto Vida Videira (IVV), que atende
comunidades carentes com diversos projetos sociais, o forte uso das ferramentas de
comunicação e de tecnologia, a grande quantidade de jovens e por prezar pela igreja
como um ambiente leve, descontraído e prazeroso de se estar.
A sede da Comunidade Cristã Videira fica localizada na Rua Eliseu Oriá, nº
1553, no bairro José de Alencar, em Fortaleza. A congregação foi fundada pelo
1
Graduanda em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Ceará.
E-mail: [email protected]
contador, advogado, executivo e pastor Costa Neto e a esposa Nenen Costa, em 2001. A
igreja também conta com uma sede em Natal, localizada no Largo Interventor Ubaldo
Bezerra, nº 1996, no bairro Candelária. A extensão foi fundada em 2007, tendo como
pastor fundador Edmílson Rocha. Em fevereiro de 2014, foi inaugurada mais uma
extensão da Videira em Fortaleza, localizada na Avenida Dom Manuel, nº 929, no
Centro.
O Instituto Vida Videira foi fundado pelo pastor Costa Neto em 2005, com o
objetivo de assistir comunidades carentes em situação de vulnerabilidade social da
comunidade Piçarreira e adjacências. Localiza-se na Rua São João Del Rei, nº 1764, no
bairro Alagadiço Novo. O instituto tem como mantenedores a Comunidade Cristã
Videira, a Caixa Econômica, o Banco do Nordeste e pessoas físicas.
1 Escolha do tema
Ao ponderar sobre qual assunto abordar no projeto experimental, refleti que
queria tratar de algo positivo, que pudesse tocar as pessoas e fazê-las refletir. Vivendo
em meio a uma sociedade cearense cada vez mais violenta retratada exaustivamente
pelos noticiários, quis dar destaque à acontecimentos que batem de frente com essa
realidade: ações positivas de transformação da sociedade realizadas por igrejas
evangélicas. Para isso, quis contar histórias de vida de pessoas que afirmam terem sido
mudadas por Deus. Decidi relatar como os cristãos evangélicos enxergam a Deus, a si
mesmos, a igreja e os acontecimentos da própria vida.
Escolhi então, tratar de um tema pouco explorado pela grande mídia: a igreja
evangélica. Como cristã e evangélica, percebia muita hostilidade aos cristãos
evangélicos tanto no ambiente acadêmico como na mídia de forma geral. Diversas eram
as críticas sobre evangélicos, mas pouco era o conhecimento do que realmente estas
pessoas vivenciam em suas vidas, de como as igrejas funcionam, do que elas seguem e
do que elas realizam na sociedade através da mensagem que levam e de atitudes de
generosidade social.
Como afirma Lage (2011), a reportagem deve ser escrita quando existem fatos
geradores de interesses à sociedade. Para o autor, muitas reportagens resultam da
observação de fatos que geralmente passam despercebidos. “O novo é aquilo que o
público ainda não conhece; o inédito, aquilo que não faz parte do acervo de informações
da imprensa” (LAGE, 2011, pp.125-126).
Refleti então que a grande mídia confere pouco destaque em seus noticiários e
reportagens, ou até mesmo não conferem nenhuma atenção à essas igrejas.
Principalmente, não se propondo a investigar histórias de transformação de pessoas
cristãs evangélicas, que dizem respeito à mudanças sociais, de caráter e estilo de vida.
Atentava para o fato de que através da mensagem que levam, igrejas em geral têm, de
alguma forma, promovido bem-estar social na vida das pessoas e da comunidade local.
Para abordar este tema, escolhi dar voz a uma igreja específica: a Comunidade
Cristã Videira, fundada na cidade de Fortaleza em 2001. O livro conta a história e o
atual funcionamento da igreja através de ministérios. A Videira, como também é
chamada, começou a atuação com menos de 20 membros. Hoje, quase 13 anos depois,
conta com cerca de 4000 pessoas.
A igreja se destaca à sua maneira entre a grande variedade de igrejas evangélicas
na sociedade cearense atual por diversos motivos. Umas das características que mais
chamam atenção são sua modernidade tecnológica, a grande presença de jovens, uma
forte ênfase no uso das ferramentas de comunicação e uma mensagem voltada para a
generosidade e ações sociais, em especial através do Instituto Vida Videira (IVV).
A criação da Videira surgiu de um chamado e desejo do pastor Costa Neto de
trazer uma nova proposta igreja, que transmitisse a mensagem do evangelho de Jesus
Cristo de uma forma bastante prática e seguindo os princípios bíblicos. Há uma
preocupação não apenas com o conteúdo que é transmitido, mas da forma como é feito:
descontraída, atraente, moderna, alegre.
A Comunidade Cristã Videira passa a mensagem de viver o cristianismo não
somente dentro da igreja, ao lado dos próprios membros, mas fora dela, levando cada
membro a agir com generosidade. Tem, portanto, grande foco em impactar a sociedade
através de obras sociais e atitudes de amor às pessoas. Este objetivo é expresso na visão
de “Ser uma igreja relevante na sociedade” e na missão de “Amar a Deus, e servir ao
próximo”.
Assim, o livro-reportagem realizado pôde relatar como a igreja Videira foi
criada, como funcionam as áreas de atuação que possui – chamadas de ministérios –, e,
principalmente, mostrar relatos de como os membros tiveram as histórias de vida
transformadas espiritualmente. O trabalho mostrou também como a igreja atua em ações
sociais voltadas a comunidades carentes no entorno do bairro Alagadiço Novo, através
do IVV, contribuindo para uma melhor qualidade de vida de crianças, jovens, adultos e
idosos.
2 Metodologia e Procedimentos Técnicos
Segundo Vargas (1985), a participação-observação é uma técnica de
investigação social em que o observador já está imerso no grupo de pessoas ou
comunidade que pretende investigar, partilhando atividades, interesses e afetos. Por
participar dos cultos da igreja, situei-me como participante-observadora ao escolher o
tema.
Na escrita do texto, orientei-me pelas regras do fazer jornalístico, com
transmissão de opiniões e informações dadas por outrem com precisão, clareza e
simplicidade. Relatei também, ao final do livro, meu testemunho de caráter pessoal,
contando minha história de transformação de vida através de Jesus Cristo em que a
igreja Videira teve contribuição.
O principal procedimento técnico utilizado neste trabalho foram as entrevistas, o
processo clássico de apuração de informações do jornalismo com a finalidade de coletar
interpretações e/ou reconstituir de fatos (LAGE, 2011). Ao todo foram 17 entrevistas
realizadas, com pastores, líderes, voluntários e membros da igreja.
Para Lage (2011), existem quatros tipos de entrevistas quanto ao objetivo: ritual,
temática, testemunhal e em profundidade. Para este livro, foram utilizadas: 1) a
entrevista temática, quando o entrevistado aborda um tema o qual tem autoridade para
discorrer; 2) a entrevista testemunhal, quando há o relato do entrevistado sobre algo que
ele assistiu ou vivenciou. As entrevistas temáticas foram realizadas para tratar da
história da igreja e da atuação através dos ministérios nas partes um e dois do livro. Já
as entrevistas testemunhais deram oportunidade aos membros de contarem as histórias
de transformação de suas vidas atribuídas a Jesus Cristo através da Videira na parte três.
Além das entrevistas, foram utilizadas fontes oficiais, como os Censos 2000 e
2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados que registram
a porcentagem de evangélicos no Ceará e no Brasil, além de pesquisa sobre o perfil dos
membros da Videira, realizada pela Consultoria, Sistema, Projetos e Pesquisa Limitadas
(CONTASP) com 636 membros da igreja em agosto de 2013.
Como ferramenta de ilustração da reportagem, utilizei fotografias cedidas pela
própria Comunidade Cristã Videira com câmeras profissionais, além de algumas tiradas
por mim com uma câmera fotográfica simples. As fotografias retrataram tanto os
ministérios quanto os entrevistados. A qualidade das fotos de arquivo da Videira era
bastante elevada, o que me motivou a optar por utilizá-las. Além disso, os voluntários
da igreja que tiraram as fotos, haviam tido uma maior liberdade de se movimentar
durante os eventos e cultos da igreja para capturar as fotos, o que não era tão fácil para
mim. Por exemplo, fotos com flash atrapalhariam os cultos, portanto optei por não
utilizá-las no templo. Já as fotos que tirei sem flash, acabavam saindo tremidas, devido
à baixa qualidade da câmera, ao movimento das pessoas e à pouca iluminação em
alguns momentos. Colocar uma maior quantidade de fotos cedidas pela Videira em
detrimento das tiradas por mim foi opção também da diagramadora Yohanna Pinheiro,
objetivando uma melhor impressão gráfica do livro.
O projeto gráfico teve atributos de modernidade e simplicidade, características
da igreja Videira, por isso, fontes leves e modernas foram selecionadas. Outra
característica idealizada foi que o livro possuísse elementos visuais que remetessem à
árvore videira, já que o trabalho trata de uma igreja que tem o nome de uma árvore.
Assim, elementos gráficos de frutinhas, arabescos e folhas foram colocados nos
começos das partes e capítulos e próximos à paginação do livro, representando a árvore
videira como a própria igreja.
3 Pauta, apuração, reportagem e edição de texto
No projeto do livro-reportagem “A Videira e os Ramos”, relatei as motivações
para tratar do tema e expliquei como se deu o início da igreja e como se dá a atuação
nos dias de hoje através dos ministérios e do Instituto Vida Videira. Para tal, a fonte de
pesquisa principal foi o site oficial da Videira, que contém uma grande quantidade
notícias e informações sobre os ministérios, além de breve histórico de criação da igreja,
contendo a visão e a missão da congregação. O próprio conhecimento prévio que eu
possuía do estilo da igreja, através da minha experiência pessoal de participação nos
cultos, permitiu-me discorrer sobre o tema com mais facilidade:
O repórter terá de levantar um breve histórico sobre a pessoa ou o tema
que irá relatar. É a partir de tópicos que consegue resgatar que o
jornalista fica apto a ir além do óbvio em uma reportagem ou
entrevista. Claro que a experiência em determinada área, muitas vezes,
poderá “liberar” o repórter de uma pesquisa mais profunda.
(FLORESTA E BRASLAUSKAS, 2009, p. 49).
O projeto continha também reflexão teórica da escolha do livro-reportagem
como meio de contar a história, bem como prazos estabelecidos para o trabalho.
O processo de apuração efetiva do livro começou quando entrei em contato com
o pastor sênior da Videira, Costa Neto, através de e-mail, solicitando autorização para
realizar o trabalho na Videira, em setembro de 2013. O enviei o esboço do projeto do
livro-reportagem, e o requisitei para realizar uma entrevista com ele, além de outras
pessoas da igreja. O pastor apoiou o trabalho e colocou à minha disposição a assessora
de imprensa dele e da igreja, a jornalista Juliana de Fátima, que cuidaria da agenda dele
e me passaria os contatos de outras pessoas da igreja.
A partir daí, conversei pessoalmente com a assessora da igreja, transmitindo o
que eu desejava no trabalho. Expliquei a ela o formato do livro, que contaria com três
partes. A primeira contaria o início da fundação da igreja, através de entrevista com o
pastor fundador Costa Neto. A segunda parte trataria da atuação da Videira nos dias de
hoje por meio das áreas de atividade da igreja, chamadas de ministérios. Contaria com
entrevistas com os líderes de cada uma das áreas. A terceira e última parte trataria de
testemunhos de membros da igreja, contando suas histórias de transformação de vida
escritas por eles próprios.
A assessora me passou então todos os contatos dos líderes dos ministérios da
igreja e comecei a entrevistá-los em setembro de 2013. Como o pastor Costa Neto,
estava com a agenda cheia naquele momento, devido à mudanças que a igreja estava
passando, como reformas, ela sugeriu que eu esperasse a disponibilidade da agenda
dele.
Elaborei as pautas, e assim, fui entrevistando um a um os líderes dos ministérios
da Videira: Berçário, Crianças do Reino, A13 (jovens), Amistad (pessoas acima de 25
anos), Voluntários, Surdos, Academia Videira de Excelência Cristã (escola de ensino
teológico evangélico), Trabalho de evangelização no Instituto Penal Feminino
Desembargadora Auri Moura Costa, MMI (ministérios internacionais de casamento),
Celebrando a Recuperação (recuperação de traumas, vícios e maus hábitos), Louvor,
Oração, Aconselhamentos pastorais, Casamentos, Cultos fúnebres e Comunicação.
As entrevistas foram registradas com gravador com a autorização dos
entrevistados. Iniciava sempre explicando o motivo do encontro: contando um pouco
sobre o trabalho que eu estava desenvolvendo para a faculdade. Além disso, informava
quem eu já havia entrevistado até então, para descontrair e dar um pontapé inicial nas
conversas, que ocorreram de forma amistosa e com receptividade.
Ao todo, foram dez líderes entrevistados; alguns deles cuidavam de mais de um
ministério. Alguns eram voluntários e outros trabalhavam efetivamente na igreja. Todas
as entrevistas foram realizadas na igreja, exceto uma marcada no local de trabalho da
entrevistada líder do Berçário, uma imobiliária. Os locais foram sugeridos pelos
próprios entrevistados. “Se a conversa tiver de ser em outro local, deixe que o
entrevistado indique onde vai ser. Ele precisa estar à vontade. Só sugira o local se ele
quiser” (FLORESTA E BRASLAUSKAS, 2009, p.96).
Assim, desenvolvi a entrevistas com os líderes de cada ministério tratando de
dois aspectos principais: 1) como era o funcionamento do ministério, 2) qual era a
relação pessoal dele com o ministério e à igreja. O segundo ponto tornou o assunto das
entrevistas mais humano. O objetivo era relatar as histórias de vida das pessoas com
Jesus Cristo, para além de contar as atividades da igreja. Os dois temas se entrelaçavam,
um não existia sem o outro.
Para tratar do funcionamento dos ministérios, priorizei também a apuração de
informações quantitativas, que se mostraram de fácil acesso através dos líderes, pela
própria visão executiva do pastor sênior de ter em mão dados numéricos da igreja, como
quantidade de envolvidos nos ministérios e quantidade de voluntários. A intenção foi
dar o máximo de detalhes, explicando o modo e o tempo das atividades da Videira,
como horários, dias da semana e valores. “Quanto mais exemplos o leitor tiver para
entender os fatos, sobretudo números e explicações que simplifiquem a compreensão,
melhor” (FLORESTA E BRASLAUSKAS, 2009, p.18).
A entrevista com o pastor sênior Costa Neto foi realizada em dezembro de 2013
na igreja, no gabinete pastoral. No mesmo dia, ele teria uma viagem a fazer, o que me
impulsionou a otimizar o tempo da melhor maneira possível, priorizando as perguntas
mais importantes.
As entrevistas tiveram duração média de 1h13min, com duração total de
13h35min de entrevistas. A mais curta durou 43 minutos, com o líder voluntário
Moyzes Araújo, e a mais longa durou 2h39min, com a coordenadora da escola teológica
da igreja e líder do projeto no presídio feminino, a publicitária Diana Timbó. Foi difícil
tornar a entrevista de Moyzes mais detalhada, pois o estudante dava respostas mais
curtas. Ele organizava o pensamento de forma bem objetiva, respondendo com poucas
palavras. Desta forma, tinha de “puxar” mais assuntos para fazê-lo discorrer sobre eles,
o que acabou resolvendo a dificuldade da entrevista. Já a entrevistada Diana foi bastante
detalhista, contando seu processo de conversão de forma cronológica, o que se tornou
um ponto positivo, pois seu pensamento era organizado e cheio de detalhes pessoais que
enriqueceram a reportagem.
Para fazer as transcrições dos áudios das entrevistas, levei uma média de 1 hora
transcrevendo cada 10 minutos de entrevista. Como meu objetivo inicial era terminar o
trabalho em dezembro de 2013 e as transcrições demandaram bastante tempo, decidi
entrevistar alguns dos últimos entrevistados por e-mail.
Comecei com o Carlos Henrique, do Celebrando a Recuperação. No entanto, ao
fazer a entrevista por e-mail, notei que acabava sendo menos detalhada do que face à
face, havendo a necessidade de um novo e-mail com novas perguntas. Apesar de Carlos
Henrique ter explicado todas as minhas dúvidas posteriores, não fiz mais outras
entrevistas de líderes por e-mail. Para Floresta e Braslauskas (2011), pessoalmente, você
terá atenção exclusiva, e este tipo de entrevista acaba rendendo mais. Além disso,
estando frente a frente com o entrevistado, houve a possibilidade de perguntar sobre as
respostas de maneira instantânea e natural, o que não acontecia por e-mail:
De modo geral, é estimulante para o entrevistado, nos momentos em
que a fala se interrompe, perceber que o entrevistador está
compreendendo o enunciado. Para isso, produzem-se questionamentos
que constituem, na verdade, inferências imediatas a partir do que
acabou de ser dito. (LAGE, 2011, p. 82).
O prazo final do trabalho foi alterado então para junho de 2014. Com o material
das partes um e dois em mãos, faltava começar a escrever a reportagem. Além disso,
comecei a entrar em contato com membros da igreja para escreverem os testemunhos da
parte três. Escolhi as pessoas assistindo aos próprios vídeos da igreja, chamados de
“Generosidade que Transforma”, que mostram um membro contando o testemunho de
vida, exibidos todos os domingos nos cultos. Selecionei cinco membros homens e
mulheres de diferentes idades com histórias diversas e tocantes.
Consegui o contato das pessoas com a assessora e jornalista da equipe de
comunicação, Juliana de Fátima. Contatei os membros por telefone e, depois, por email, explicando-os sobre o livro-reportagem e os pedindo para participar do trabalho
com o testemunho escrito por elas, relatando a transformação de vida por Jesus Cristo
através da atuação da Videira. Expliquei que o tamanho sugerido era de uma a duas
páginas do Word. Os membros aceitaram participar, mas alguns deles demoraram quase
dois meses para me enviar. Os lembrava para me mandar, mas eles não haviam feito
ainda. Em abril de 2014, mandei um último e-mail, dizendo: “Ainda no aguardo do seu
testemunho para fechar o livro”. Depois disso, eles me enviaram o texto poucos dias
depois, acredito que pelo aviso de iminência da chegada do prazo final do trabalho. O
último testemunho foi recebido no início de maio.
Comecei a escrever a livro-reportagem em janeiro de 2013. Optei por fazer o
texto em forma de reportagem, ordenando ora a partir das informações mais relevantes a
menos relevantes, ora por ordem cronológica de acontecimentos, tornando o texto mais
agradável de ser lido. Alternei também os discursos direto e indireto. (LAGE, 2011).
Quando estava entrevistando as pessoas, achei que seria difícil selecionar os
fatos mais importantes para incluir na reportagem. Porém, no momento de selecionar o
texto transcrito, logo percebia que muitas coisas que pareciam interessantes no
momento da entrevista, não eram tão relevantes assim. “O importante é ter em mente
que nem tudo de uma entrevista precisa estar no texto. É de grande valia saber o que de
melhor o entrevistado falou” (FLORESTA E BRASLAUSKAS, 2009, p.126).
Na criação do texto, agi como tradutora de discursos (LAGE, 2011). No meio
evangélico, a qual eu dei voz em meu trabalho, há linhas de pensamento, palavras e
expressões que são próprias desse público. Por vezes, expliquei expressões evangélicas
em notas de rodapé. Desta forma, tentei traduzir o texto para que qualquer tipo de leitor
o pudesse compreender facilmente:
Quase sempre aquilo que é óbvio para o jornalista – que está na cena de
uma notícia ou que já vem acompanhando determinado caso – é
novidade para o leitor. Então, mesmo que pareça repetitivo, informe em
seu texto pontos essenciais da história para que o leitor compreenda o
porquê de toda a abordagem do texto. (LAGE, 2011, p. 82).
Depois de receber a correção do texto do livro-reportagem pelo meu orientador
Daniel Dantas Lemos, notei que os principais erros cometidos foram relacionados a
colocar o que o entrevistado estava falando em uma frase sem usar o discurso indireto.
Com o objetivo de ser fiel ao que o entrevistado dizia, acabava sem querer utilizando a
fala dele como um fato da reportagem. Um dos exemplos aconteceu no capítulo do
ministério dos Surdos, em que entrevistei o líder Ivan Machado, e escrevi: a recompensa
do que o professor faz é dada por Deus. No entanto, ele era quem havia dito isso,
portanto eu não poderia afirmar isso como se fosse um fato. Alterei então para: o
professor crê que a recompensa do que faz é dada por Deus. Assim, a edição do texto
foi conduzida de maneira a deixar sempre claro que as pessoas é que estavam falavam
determinadas coisas, não eu. “Ouvindo tantos especialistas, também é fácil ficar
influenciado pela linguagem deles” (FLORESTA E BRASLAUSKAS, 2009, p.119).
CONCLUSÃO
A criação do livro-reportagem “A Videira e os Ramos – Histórias de Vida da
Comunidade Cristã Videira” passou pela escolha do tema, pela elaboração do projeto do
livro-reportagem, pela criação das pautas de cada entrevista, pela apuração, pela criação
e edição do texto. Além disso, também contou com as fotos cedidas pela igreja e fotos
tiradas por mim, que ilustraram o trabalho visualmente. O projeto gráfico e a
diagramação foram feitos a partir de ideias que transmiti a jornalista Yohanna Pinheiro,
responsável pela programação visual do livro.
A Comunidade Cristã Videira foi abordada de maneira a mostrar a relevância
desta igreja na sociedade, que atinge pessoas de maneira espiritual, social e material.
Para isso, foi dada voz a membros, voluntários, líderes e pastores da igreja, que tiveram
a chance de explanar como funcionam a igreja e seus ramos. Os entrevistados também
puderam relatar a participação da Videira na transformação de vida deles próprios e de
outros, em especial, pessoas de comunidades carentes atendidas pelo Instituto Vida
Videira. O livro se limitou a mostrar o pensamento e a visão de cristãos evangélicos
sobre igreja Videira e as experiências pessoais deles com Jesus Cristo.
REFERÊNCIAS
ANJOS, Samaísa dos. Número de evangélicos mais que dobra e chega a 1,2 milhão no CE.
Disponível em:
<http://www.opovo.com.br/app/opovo/fortaleza/2012/06/30/noticiasjornalfortaleza,2869311/nu
mero-de-evangelicos-mais-que-dobra-e-chega-a-1-2-milhao-no-ce.shtml>. Acesso em: 16 de
abril de 2014.
Comunidade Cristã Videira. Igreja. Disponível em: <http://ccvideira.com.br/igreja>. Acesso
em: 09 de maio de 2014.
FLORESTA, Cleide; LÍGIA Braslauskas. Técnicas de reportagem e entrevista: roteiro para
uma boa apuração. São Paulo: Saraiva, 2009.
G1 CE. Número de evangélicos cresce no Ceará e representa 14% da população.
Disponível em: <http://g1.globo.com/ceara/noticia/2012/06/numero-de-evangelicos-cresce-noceara-e-representa-14-da-populacao.html>. Acesso em: 16 de abril de 2014.
Instituto Vida Videira. Institucional. Disponível em:
<http://www.institutovidavideira.com.br/site/ivv/institucional>. Acesso em: 09 de maio de
2014.
LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de
Janeiro: Record, 2011.
VARGAS, José. Sociologia. Porto: Porto Editora, 2002.
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