A ORIGEM - Um Panorama em Gênesis - Parte 1: CRIAÇÃO | 04 de Janeiro de 2015 | João Costa INTRODUÇÃO Literatura mítica para alguns, relato religioso para outros, o fato é que o livro de Gênesis (vindo da tradução do grego: origem, fonte, criação), no seu original bereshit - que remonta aos primórdios do povo hebreu podia ser denominado "No Princípio". E para os que nasceram de novo, Gênesis é o princípio da História do Evangelho, nos apresentando Deus, para além da mitologia de tantos deuses, como alguém singular e inigualado. Vemos Deus, o todo-poderoso, criando o universo inteiro (até mesmo o sol, a lua e as estrelas, que, acreditava-se com frequência, eram eles próprios deuses) mediante uma simples ordem. A) No princípio era… Jesus! - Gn 1.1-3 "No princípio Deus criou os céus e a terra. Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. Disse Deus: "Haja luz", e houve luz." O texto de Gênesis pode ser lido por diferentes lentes. Lemos o primeiro livro da Bíblia como literatura, buscando saber quem é o autor, reconhecendo Moisés como figura basilar para a composição de todo o Pentateuco (os 5 primeiros livros da Bíblia). Lemos como parte da Torá, em seu próprio mundo, considerando as implicações da Lei judaica em contraponto a tantos mitos da cultura do mundo antigo. Lemos como o relato de Deus que organizamos como os primórdios (Cap 1-11), as narrativas patriarcais (Cap 12-36) e a vida de José (Cap 37-50). Mas a grande perspectiva que temos para a leitura deste texto, bem como de todo o Antigo Testamento, é cristológica. Reconhecemos, assim como João deixa claro em todo o capítulo 1 de seu Evangelho, a presença de Jesus Cristo como Deus na criação. R.C. Sproul nos incentiva: "Quanto mais pensamos nesse Criador dentro do Universo, mais ele começa a soar como Deus. Ele não foi criado, criou tudo ou tem poder de ser em si mesmo. O que fica claro como cristal é que se algo existe agora, então tem de haver um ser supremo do qual todas as outras coisas procedem. A primeira declaração da Bíblia é: "No princípio Deus criou os céus e a terra". Esse texto é fundamental para todo o pensamento cristão. Não se trata apenas de uma declaração religiosa - é um conceito racionalmente necessário." B) Imago Dei - Gn 1.26-31 "Então disse Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão". Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus os abençoou, e lhes disse: "Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra". Disse Deus: "Eis que lhes dou todas as plantas que nascem em toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes. Elas servirão de alimento para vocês. E dou todos os vegetais como alimento a tudo o que tem em si fôlego de vida: a todos os grandes animais da terra, a todas as aves do céu e a todas as criaturas que se movem rente ao chão". E assim foi. E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom. Passaram-se a tarde e a manhã; esse foi o sexto dia." O Deus que é revelado em Gênesis estava supremamente interessado no bem-estar da humanidade. Ao contrário dos mitos da Mesopotâmia da antiguidade, que narram a criação da humanidade como improviso dos deuses para atender a necessidade deles de alimento, Gênesis declara que a humanidade foi o objetivo da criação de Deus, para a qual Deus forneceu comida. Toda essa co-existência onde a humanidade tornou-se a obra-prima de Deus, é o cenário onde a imagem e semelhança de homem e mulher revelam a glória do Deus criador. Precisamos compreender que a Escritura e a ciência buscam responder perguntas diferentes. A ciência nos torna conscientes do poder e sabedoria infinitos do Criador, mas não é capaz de explicar nem o propósito de Deus com a criação nem o seu caráter. Genêsis não trata de questões levantadas pela ciência do século XXl, mas de idéias existentes no Antigo Oriente cerca de 3.000 anos atrás. Em oposição ao ponto de vista politeísta que sustentava que havia muitos deuses e deusas com sabedoria e poder variados, Gênesis declara que há apenas um Deus de poder e santidade absolutos. Ao rejeitar a antiga idéia de que a humanidade foi criada como um ato impensado que os deuses mais tarde lamentaram, Gênesis afirma que o homem foi o alvo da criação. Tais princípios são reafirmados repetidas vezes em todas as Escrituras, mas são expostos com clareza exemplar em Gn 1, e são centrais para aquilo que o autor estava tentando dizer. Os leitores modernos devem se concentrar nesses propósitos originários de Gênesis, e não impor ao texto questões científicas que são alheias ao seu propósito. C) Sabbath - GN 2.1-3 "Assim foram concluídos os céus e a terra, e tudo o que neles há. No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou. Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação." Uma mudança impressionante de ritmo realça o caráter distintivo do sábado. Aqui o dia sétimo não é chamado de sábado, mas há uma alusão a ele, pois descansou, pode ser parafraseado por "sabadou", ou mais precisamente, contemplou. Além do mais a importância do sétimo dia é destacada pelo fato de Deus abençoá-lo o chamá-lo santo. Deus é aqui descrito como algué, que descansa no sétimo dia, mas o narrador deixa claramente implícito que se espera que a humanidade , feita à imagem divina, imite seu Criador. Aliás, o contexto deixa implícito que um dia semanal de descanso é tão necessário para a a vida quanto o são o sexo ou o alimento. Essa é a ênfase que parece ter sido esquecida hoje em dia, sobretudo no meio cristão. Precisamos do sabbath, precisamos contemplar. CONCLUSÃO Mergulhar na fascinante narrativa de Gênesis alimenta nossa transcendência, aguça nossa razão por constatar a grande verdade que por vezes tentamos negar: o universo não gira em torno do ser humano, de seus desígnios e capacidades. A idéia que nos faz crer num Deus Criado todo-poderoso, nos liberta de nós mesmos e dá um significado inimaginavelmente mais amplo, pois nos liberta do cativeiro do tempo e do espaço e nos conecta com a realidade da eternidade.