As Visões da Criação Extraído da Enciclopédia Apologética Norman Geisler Editora Vida Subsídio para a 12ª Conversa Teológica Visões da Criação. Três visões básicas procuram ex- plicar a origem do Universo. Os teistas (v. teísmo) afir- mam que todas as coisas foram criadas ex nihilo, “do nada”. Os panteístas (v. panteísmo) acreditam que 0 Universo material surgiu ex Deo, “de Deus”, uma par- te de um Deus impessoal, em vez da obra de um ser sábio que age alem de si mesmo. O materialismo (v. materialismo) afirma uma criação ex materia (de ma- terial preexistente). Os materialistas, inclusive os ateus (v. ateísmo) e dualistas (v. dualismo), acreditam que as origens nem envolvem criação, se criação for definida como 0 tra- balho executado por um ser. Para efeito de compara- cao, todavia, 0 materialismo e 0 panteísmo podem ser colocados sob 0 titulo da criação. A origem materia- lista pode ser chamada de Criacao ex materia,“a par- tir da materia”. Criacao ex materia. Visao materialista (ou dualista) das coisas existentes geralmente afirma que a materia (ou energia fisica) e eterna. A materia sem- pre existiu e, por isso, sempre existira. Como 0 fisico afirma na primeira lei da termodinamica; “a energia não pode ser criada nem destruida”. Ha duas subdivisoes básicas na visao da “criação- da-materia”: aquela que envolve um Deus e a que não envolve. Deus criou a partir de materia preexistente. Muitos gregos antigos (dualistas) acreditavam na criação por Deus a partir de certo “monte de barro” preexistente e eterno (v. Platao, 27s.). Isto e, Deus e a materia do uni- verso material (cosmo) sempre existiram. A “criação” e 0 processo eterno pelo qual Deus tem dado forma continuamente a materia do universo. Platao denominou a materia forma (ou caos). Deus era 0 Formador (ou demiurgo). Usando um mundo eter- no de ideias, Deus deu forma ou estrutura a massa sem forma de materia. O Formador (Deus), por meio dessas ideias (que fluiam da forma), transformou 0 que era sem forma (materia) no que e formado (cosmo). Em termos gregos, 0 demiurgo, por meio dos eidos (ideias), que fluiam do agathos (bem), transformou 0 chaos em cosmos. Os elementos do dualismo platonico podem ser facilmente separados: A materia e eterna. A materia basica do universo sempre existiu. Nunca houve uma epoca em que os elementos do universo fisico não existissem. A “criação” significa formacao, não origem. “Cria- cao” não significa fazer algo surgir e sim formacao ou ordenacao. Deus organiza a materia que existe. 0 “criador” e 0 Formador, não um Produtor. Por- tanto, Criador não significa Originador, e sim Cons- trutor. Deus e um Arquiteto do universo material, não a Fonte de todas as coisas. Deus não e soberano sobre todas as coisas. Tal Deus não esta no controle absoluto, pois ha algo eterno alem de Deus. A materia eterna esta em conflito dualista com Deus, e ele não pode fazer nada a respeito. Ele pode formar a materia dentro de certos parametros. Assim como ha limites sobre 0 que pode ser feito com papel (ele e bom para fazer pipas, mas não espaconaves), a propria natureza da materia e uma deficiencia. Tanto a existencia quanto a natureza da materia impoem li- mites a Deus. Nao havia Deus para criar. Uma segunda visao geralmente e chamada de ateismo, apesar de muitos agnosticos (v. acnosticismo) terem praticamente a mesma visao de mundo. 0 ateu diz que não ha Deus; 0 agnostico afirma não saber se ha um Deus. Mas nenhum deles acredita ser necessario supor um Deus para explicar 0 universo. A materia simples- mente existe. O universo e tudo que existe. Ate 0 espirito veio da materia. 0 materialista rigido responde a pergunta de onde veio 0 universo com a pergunta: De onde veio Deus? A visao de mundo do materialista considera a pergunta absurda, porque 0 universo preenche grande parte do lugar conceituai normalmente reservado para 0 Cria- dor (v. CAUSALIDADE,PRINCIPIO Da). A ideia da criação vinda da materia tem sido de- fendida desde os primeiros atomistas (v. atomismo). Karl Marx (1818-1883) foi 0 filosofo moderno que tentou levar 0 materialismo a sua conclusao final no socialismo (Marx, p. 298). Um seculo depois, 0 as- tronomo Carl Sagan popularizou a teoria na televi- sao e nos livros destinados ao grande publico. Gran- de parte do mundo ocidental ouviu 0 credo de Sagan: Ό cosmo e tudo que existe, ou existiu, ou existira” (Sagan, p. 4). A humanidade e apenas poeira cosmi- ca. Os seres humanos criaram Deus. Como disse Marx, a mente não criou a materia; a materia criou a mente (Marx, p. 231). Ao supor a existencia eterna da materia e do movi- mento,o ateu explica todo 0 resto pelas doutrinas da evo- lucao natural (v. evolucao cosmica) e das leis naturais. A evolucao natural (v. evolucao biologica) funciona pela interacao de materia, mais tempo, mais acaso. Ate as complexidades da vida humana podem ser explicadas por leis puramente naturais do universo fisico. Dado 0 tempo suficiente, macacos com uma maquina de escrever po- dem produzir obras de Shakespeare. Nenhum Criador inteligente e necessario. Os dogmas da criação ex materia. O conceito ateu das origens pode ser resumido em quatro temas: A materia e eterna. Conforme comentado acima, a premissa central do materialismo e que a materia sem- pre existiu. Ou, como um ateu disse, se a materia sur- giu, surgiu do nada epelo nada (Kenny, p. 147). O uni- verso material e um sistema fechado auto-sustentavel e autogerado. Isaac Asimov especulou que havia uma chance igual de que nada viria do nada ou que algo viria do nada. Por acaso, algo surgiu (Asimov, p. 148). Entao ou a materia e eterna ou veio do nada esponta- neamente sem uma causa. Os primeiros materialistas, os atomistas (v. atomismo) acreditavam que a materia era uma massa de inumeras particulas indestrutiveis de realidade chamadas atomos. Com a divisao do verdadeiro atomo e 0 surgimento da - teoria e=mc2 (energia igual a massa vezes a velocidade da luz ao quadrado) proposta por Albert Einstein, os materi- alistas modernos falam da indestrutibilidade da energia (a primeira lei da termodinamica). Energia não deixa de existir; ela simplesmente assume novas formas. Ate na morte, todos os elementos do nosso ser sao reabsorvidos pelo ambiente e reutilizados por outras coisas. Entao 0 processo continua. Nenhum Criador e necessario. O materialismo rigido exige a premissa do ateismo ou naoteismo. Nao ha Deus, nem ao menos necessidade de um Deus. O mundo se ex- plica. Como Ο π manifesto humanista disse: “Como não- teistas, comecamos com os humanos, não com Deus, com a natureza e não com a divindade” (Kurtz, p. 16). 05 humanos não sao imortais. Outra implicacao e que não ha alma imortal (v. imortalidade) ou um as- pecto espiritual nos seres humanos. 0 / manifesto humanista rejeitou 0 dualismo tradicional de mente e corpo [...] A ciencia moderna desacredita tais conceitos historicos como 0 espi- rito na maquina’e alma separavel” (ibid., p. 8,16,17). 0 materialista rigido não acredita em espirito nem mente. Nao ha mente, apenas uma reacao química no cerebro. Thomas Hobbes (1588-1679) definiu assim a materia: O mundo (não quero dizer a terra apenas, que denomi- na os seus amantes “homens mundanos”, mas 0 universo, isto e, toda a massa de todas as coisas que existem) e corporeo, ou seja, corpo; e tem as dimensoes de magnitude, a saber, comprimento, largura e profundidade: e todas as partes do corpo tambem sao 0 corpo, e tem as mesmas di- mensoes; e consequentemente todas as partes do universo sao 0 corpo, e aquilo que não e corpo não e parte do univer- so: e porque 0 universo e tudo, 0 que não faz parte dele não e nada, e consequentemente não esta em lugar algum (Hobbes, p. 269). Materialistas menos rigidos admitem a existencia da alma, mas negam que ela possa existir independen- temente da materia. Para eles a alma e para 0 corpo 0 que a imagem no espelho e para quem 0 olha. Quando 0 corpo morre, a alma tambem morre. Quando a mate- ria se desintegra, a mente tambem e destruida. Os humanos não sao singulares. Entre os que de- fendem a criação a partir da materia, ha diferencas com relacao a natureza dos seres humanos. A maio- ria concede um status especial aos humanos, como 0 ponto mais alto no processo evolutivo. .Mas pratica- mente todos concordam que os humanos diferem apenas em grau, não em tipo, das formas de vida mais inferiores. Os seres humanos sao apenas a forma mais elevada e mais nova da escada evolutiva. Tem habili- dades mais desenvolvidas que os primatas. Certa- mente os humanos não sao peculiares em relacao ao resto do reino animal, mesmo que sejam os seres mais elevados nele existentes. Uma avaliacao da criação ex materia. Para uma critica do dualismo, veia finito, deismo. A visao ateista e criticada em ateismo. Alem disso, a evidencia a favor do teísmo e evidencia contra um universo eterno (v. COSMOLOGICO, argumento; KaLaM, ARGUMENTO COSMOLOGICO de; teísmo). A ciencia contemporanea deu argumentos poderosos contra a eternidade da materia com base na teoria cosmologica do big-bang (v.tb. evolucao cosmologica). Criacao ex Deo. Enquanto ateus e dualistas acre- ditam na criação ex materia, 0 panteísmo defende a cri- acao ex Deo, a partir de deus. Todos os panteístas po- dem ser enquadrados em duas categorias: panteísmo absoluto e nao-absoluto. Panteismo absoluto. O panteísmo absoluto afir- ma que apenas a mente (ou espirito ) existe. O que chamamos “materia” e ilusao, como um sonho ou uma miragem. Parece existir, mas na verdade não existe. Essa visao foi defendida por dois represen- tantes classicos, Parmenides, do Ocidente (um gre- go), e Shankara, do Oriente (um hindu). Parmenides argumentou que tudo e um (v. monismo), porque supor que mais de uma coisa existe e absurdo (Parmenides, p. 266-283). Duas ou mais coi- sas teriam de ser diferentes umas das outras. Mas as unicas maneiras de diferir sao por alguma coisa (exis- tencia) ou por nada (inexistencia). E impossivel dife- rir por nada, ja que diferir por nada (ou inexistencia) e apenas outra maneira de dizer que não ha diferenca nenhuma. E duas coisas não podem ser diferentes por existencia porque existencia e a unica coisa que tem em comum. Isso significaria que diferem exatamente naquilo em que sao iguais. Logo, e impossivel haver duas ou mais coisas; so pode haver um ser. Tudo em um, e um em tudo. Nada mais realmente existe. Na terminologia da criação, isso significa que Deus existe e 0 mundo não existe. Ha um Criador, mas não ha criação. Ou, no minimo, so podemos dizer que ha uma criação pelo reconhecimento de que a criação vem de deus como um sonho vem de uma mente. 0 universo e apenas 0 que deus pensa. Deus e a totalidade de toda realidade. E 0 nao-real sobre 0 que ele pensa e que aparece para nos e como um zero. E literalmente nada. Shankara descreveu a relacao do mundo para Deus, da ilusao a realidade, pela relacao do que parece ser uma cobra, mas, por um exame mais acurado, descobrimos ser uma corda (v. Prabhavananda, p. 5). Quando olha- mos para 0 mundo, 0 que esta ali não e a realidade (Brahman). E apenas uma ilusao (maya). Da mesma forma, quando uma pessoa olha para si, 0 que parece ser (corpo) e apenas uma manifesta- cao ilusoria do que realmente existe (alma). E quando alguem olha para sua alma, descobre que a profundi- dade da sua alma (Atma) e realmente a profundidade do universo (Brahman). Atma (humanidade) e Brahman (Deus). Pensar que não somos Deus e parte da ilusao ou sonho do qual devemos acordar. Mais cedo ou mais tarde devemos todos descobrir que tudo vem de Deus, e tudo e Deus. Panteismo nao-absoluto. Outros panteístas tem uma visao mais flexivel da realidade. Ao mesmo tempo que acreditam que tudo e um com deus, aceitam uma multiplicidade na unidade de Deus. Acreditam que tudo e um como todos os raios de um circulo estao no centro desse circulo, ou como todas as gotas juntam-se numa poca infinita. Os representantes dessa visao incluem 0 filosofo neoplatonico do seculo 11, Plotino (205-270), 0 filosofo moderno, Baruch Espinosa (1632-1677), e 0 con- temporaneo hindu, Radhakrishnan. Conforme 0 Panteismo nao-absoluto, ha muitas no mundo, mas todas vem da essencia de deus. Os mui- tos estao no Um, mas 0 Um não esta nos muitos. Isto e, todas as criaturas sao parte do Criador.Elas vem dele assim como uma flor vem Elas vem dele assim como uma flor vem de uma semente ou fagulhas vem do fogo. As criaturas sao apenas gotas que se esparramam da poca Infinita, eventualmente caindo de volta e jun- tando-se ao Todo. Todas as coisas vem de Deus, sao parte de Deus e se unem de volta a Deus. Tecnicamen- te falando, para 0 panteista, não ha criação, mas ape- nas uma emanacao de todas as coisas de Deus. 0 uni- verso não foi feito do nada (ex nihilo), nem de algo preexistente (ex materia). Foi feito de Deus (ex Deo). Elementos importantes dessa visao panteista das origens podem ser resumidos brevemente: Nao ha diferenca absoluta entre Criador e cria- cao. Criador e criação sao um. Eles podem ser dife- rentes em perspectiva, como os dois lados de um pi- res, ou relacionalmente, como causa e efeito. Mas cri- ador e criação não sao mais diferentes que 0 reflexo num lago e diferente do cisne que nada nele. Um e uma imagem no espelho e 0 outro a coisa real. Ate para quem acredita que 0 mundo e real, Criador e criação sao apenas dois lados da mesma moeda. Nao ha diferenca real entre eles. A relacao entre Criador e criação e eterna. Os pan- teistas acreditam que Deus causou 0 mundo, mas in- sistem em que ele sempre 0 causou, assim como rai- os brilham eternamente de um sol eterno. O univer- so e tao antigo quanto Deus. Assim como uma pedra poderia ficar para sempre sobre outra num mundo eterno, 0 mundo tambem poderia ser dependente de Deus para sempre. O mundo efeito da mesma substancia que Deus. Os panteístas acreditam que Deus e 0 mundo sao feitos da mesma substancia. Ambos sao compostos de ma- terial divino. A criação e parte do Criador. E uma em essencia com Deus. Deus e agua. Deus e arvores. Como Marilyn Ferguson disse, quando leite e derramado no cereal, Deus e derramado em Deus (Ferguson, p. 382)! No final ha apenas uma substancia, um material no universo, e e divino. Somos todos feitos dele, entao somos todos Deus. A humanidade e Deus. Se toda a criação e a ema- nacao de Deus, entao a humanidade tambem e. A teologa popular do panteísmo da Nova Era, Shirley MacLaine, acredita que se pode dizer com a mesma veracidade: “Eu sou Deus ”, ou “Eu sou Cristo ”, ou “Eu sou 0 que sou”(MacLaine, p. 112). No seriado espe- ciai de televisao, “Out on a limb” (janeiro de 1987), ela acenou para 0 oceano e declarou: “Eu sou Deus. Eu sou Deus!”. 0 Senhor Maitreya, considerado por muitos 0 “Cristo” da Nova Era, declarou por meio de Benjamin Creme, seu agente de imprensa: Meu proposito e mostrar ao homem que ele não precisa mais ter medo, que toda Luz e verdade esta dentro do seu coracao,que quando esse fato simples for conhecido 0 ho- mem se tornara Deus. Uma avaliacao da criação ex Deo. Ha varias ma- neiras de avaliar a ex Deo. Ja que e parte de uma visao panteista, as criticas ao panteísmo se aplicam a ela. Por exemplo, ha uma diferenca real entre 0 finito e 0 infinito, 0 contingente e 0 necessario, 0 mutavel e 0 imutavel. E ja que não sou um Ser necessario e imuta- vel, entao devo ser um ser contingente. Mas um ser contingente e aquele que pode não existir. E tal ser re- almente existe apenas porque foi causado por Deus, quando de outra forma não existiria. Em resumo, exis- te a partir do nada (ex nihilo). Segundo, como 0 argumento cosmologico kalam demonstra, 0 universo não e eterno. Logo, surgiu. Mas antes dele existir não era nada. Ou, mais adequada- mente, não havia nada (exceto Deus), e depois que ele criou 0 mundo havia algo (alem de Deus). E isso que se quer dizer com criação ex nihilo. Portanto, 0 que surge (como 0 universo surgiu) surge do nada, isto e, ex nihilo. Criacao ex nihilo. Ex nihilo vem do latim e signi- fica “a partir do ou do nada”. E a visao teista das ori- gens que afirma que Deus criou 0 universo sem usar material preexistente. O teísmo declara que so Deus e eterno, que ele criou tudo sem usar material preexistente e sem fazer 0 universo com “pedacos” da sua propria substancia. Pelo contrario, 0 universo foi feito “do nada” (ex nihilo). A coerencia da criação ex nihilo. Alguns criticos afirmam que a criação ex nihilo e um conceito sem sentido. Outros afirmam que não e biblico, um suple- mento filosofico ao pensamento cristao. 0 argumento que a criação ex nihilo e incoerente e este: 1. Criar “de” implica material preexistente. 2. Mas a criação ex nihilo insiste em que não havia material preexistente. 3. Logo, a criação ex nihilo e uma contradicao. Em resposta, os teistas negam a primeira premissa, mostrando que “do nada” e apenas uma maneira positiva de afirmar um conceito negativo —“não de algo”. Isto e, Deus não criou 0 universo com material preexistente. O ditado “nada vem do nada” não e absoluto. Significa que algo não pode ser causado por nada, não que nada não pode vir depois do nada. Isto e, algo pode ser cria- do do nada, mas não por nada. Deus fez 0 universo exis- tir a partir da inexistencia. Ex nihilo simplesmente de- nota movimento de um estado de nada para um estado de algo. Nao implica que 0 nada e um estado de exis- tencia do qual Deus formou algo. Nada (alem de Deus) e um estado de inexistencia que precedeu 0 surgimento do universo. Quando ateus e panteístas usam a prepo- sicao ex eles querem dizer “de” no sentido de uma cau- sa material. Com ex um teista quer dizer uma causa eficiente. O meio-dia vem “da manha”, depois da ma- nha, mas não literalmente dela. A logica da criação ex nihilo. A base para a criação ex nihilo e dupla: primeiro, as unicas alternativas logi- cas sao inaceitaveis. Segundo, e a conclusao logica do argumento da Primeira Causa da existencia de Deus (v. COSMOLOGICO, ARGUMENT0). As tres possibilidades. Ja foi demonstrado que as cri- acoes ex Deo e ex materia sao incompativeis com 0 teísmo. Logo, a criação ex nihilo deve ser verdadeira. Em primeiro lugar, 0 Deus do teísmo não pode criar exDeo. Ja que Deus e um ser simples (v. Deus, natureza de), ele não pode pegar uma “parte” de si mesmo e fazer 0 mundo. Simplicidade significa sem divisao ou partes. Logo, não ha como 0 mundo criado ser uma parte de Deus. Esse ponto de vista e panteísmo, não teísmo. Alem disso, 0 Deus do teísmo e um Ser Necessario, isto e, um ser que não pode não existir. Ele não pode ser criado nem deixar de existir. A criação e um ser contin- gente; a criação e um ser que existe, mas pode não exis- tir. Entao, e impossivel que a criação seja parte de Deus, ja que ela e contingente e Ele e necessario. Em resumo, um Ser Necessario não tem elementos desnecessarios de seu ser a partir dos quais possa fazer algo. Pode-se dizer que Deus não tem partes que possa partilhar. Se pudesse ficar sem elas, não seriam necessarias. Se sao necessarias Ele não pode abrir mao delas. Assim, a cria- cao ex Deo e impossivel para um Deus teista. Alem disso, um Deus teista não pode criar ex materia. Pois a crenca de que ha algo eterno fora de Deus não e teísmo, mas sim dualismo. Nao pode ha- ver outro ser infinito alem de Deus, ja que e impossi- vel haver dois seres infinitos. Se ha dois, eles devem ser diferentes, e dois seres infinitos não podem ser diferentes na sua existencia, ja que sao 0 mesmo tipo de existencia. Dois seres univocos não podem ser di- ferentes na sua existencia, ja que existencia e 0 pro- prio aspecto em que sao identicos. Eles so poderiam ser diferentes se fossem tipos diferentes de seres (v. um e muitos, problema de). Logo, não pode haver dois seres infinitos E se ha um infinito e um (ou mais) ser(es) fmito(s), entao 0 ser finito não pode ser um Ser Necessario eterno. Ele não pode ser necessario ja que e limitado na־sua potencialidade, e qualquer ser com a potencialidade de não existir não e um Ser Necessario. Nao pode ser eter- no, ja que 0 que e limitado na sua existencia jamais al- canca a eternidade. Portanto, não poderia ter preexistido eternamente (v. Deus, evidencias de). No entanto, se 0 universo não e eterno, e se Deus não pode criar de si mesmo, entao não ha alternativa. Para um teista, a criação ex nihilo fica assim demonstrada. 0 argumento da Primeira Causa. A forma horizon- tal do argumento cosmologico (v. kalam, argumento cosmologico de) sustenta que ha um principio do uni- verso material de espaco e tempo. Mas, se 0 universo tem um principio, ele nem sempre existiu. Isso elimi- na a criação ex materia (de material preexistente), ja que não havia nenhum material antes de a materia surgir. Nao havia nada, e entao havia materia que foi criada por Deus, mas não de alguma materia preexistente. Em outras palavras, se todo ser finito foi criado por uma Primeira Causa que sempre existiu, entao “antes” de qualquer ser finito existir não havia nada alem da Primeira Causa eterna. Logo, todo ser finito veio a existir a partir da inexistencia. Elementos da criação ex nihilo. A diferenca ab- soluta entre Criador e criação. O teísmo cristao afirma que ha uma diferenca fundamental entre 0 Criador e sua criação. As seguintes comparacoes enfatizarao es- sas diferencas. Criador nao-criado infinito eterno necessário imutável Criacao criada finita temporal contingente mutável Deus e 0 mundo sao radicalmente diferentes. Um e 0 Criador e 0 outro e a criação. Deus e a Causa e 0 mun- do e 0 efeito. Deus e ilimitado e limitado. 0 Criador e auto-existente, mas a criação e completamente depen- dente dele para sua existência. Algumas ilustracoes podem ajudar a esclarecer a distincao real entre 0 Criador e a criação. No panteísmo, Deus e para 0 mundo 0 que um lago e para as gotas de agua nele, ou 0 que um fogo e para as fagulhas que saem dele. Mas no teísmo Deus e para 0 mundo 0 que 0 pintor e para uma pintura ou 0 autor e para uma peca. Enquanto 0 artista e, de certa forma, manifesto na arte, ele tambem esta alem dela. 0 pintor não e a pintura. Seu criador esta alem, sobre e acima dela. O Criador do mundo 0 faz existir e e revelado nele; mas Deus não e 0 mundo. A criação teve um principio. Outro elemento crucial da visao teista da criação a partir do nada e que 0 uni- verso (tudo exceto Deus) teve um principio. Jesus fa- lou de sua gloria com 0 Pai •gantes que 0 mundo exis- tisse•h (Jo 17.5). O tempo não e eterno. O universo de espaco e tempo foi criado. O mundo nem sempre exis- tiu. 0 mundo não comecou no tempo. 0 mundo foi 0 principio do tempo. 0 tempo não existia antes da cria- cao, e entao, em algum momento no tempo, Deus criou 0 mundo. Na verdade, não foi uma criação no tempo, mas sim a criação do tempo. Isso não significa que tenha havido um tempo em que 0 universo não existia. Pois não havia tempo an- tes do tempo comecar. A unica coisa •ganterior•h ao tem- po foi a eternidade. Isto e, Deus existe eternamente; 0 universo comecou a existir. Logo, ele e anterior ao mundo temporal ontologicamente (na realidade),mas não cronologicamente (no tempo). Dizer que a criação teve um principio e mostrar que ele surgiu do nada. Primeiramente ele não existia, e entao passou a existir. Nao estava la, e entao apare- ceu.A causa desse surgimento foi Deus. Ilustrando a criação ex nihilo. Realmente não ha ilustracoes perfeitas da criação ex nihilo, ja que e um evento singular que não ocorre no nosso cotidiano. So conhecemos coisas que vem de algo. No entanto, ha analogias imperfeitas, mas uteis. Uma e a criação de uma nova ideia, que faz surgir algo que não existia an- tes. Nos literalmente a concebemos ou arquitetamos. Nos a criamos, por assim dizer, do nada. E claro que, ao contrario do universo fisico, as ideias não sao ma- teria. Mas, como a criação ex nihilo de Deus, sao cria- das por uma inteligencia criativa. Outra ilustracao de ex nihilo e um ato de livre-arbi- trio, pelo qual 0 agente livre inicia uma acao que não existia. Ja que uma livre escolha (v. livre-arbitrio) e autodeterminada, ela não surgiu de condicoes anterio- res. Entao, quase como ex nihilo, não flui de estados an- teriores. Em vez disso, a livre escolha não e determina- da por nada; literalmente cria a acao em si. Apoio para a criação ex nihilo. Uma das afirma- coes extrabiblicas mais antigas sobre a criação conhe- cida pelos arqueologos, com mais de 4 mil anos de ida- de, esclarece a afirmacao sobre a criação ex nihilo•¡. •gSe- nhor do ceu e da terra: a terra não existia, tu a criaste, a luz do dia não existia, tu a criaste, a luz da manha [ain- da] não fizera existir•h (Ebla archives, p. 259). A criação do nada e expressa claramente fora da Biblia em 2 Macabeus 7.28, que diz: •gOlha para os ceus e para a terra e ve tudo que neles ha, e reconhece que Deus não os criou a partir de coisas que existiam” Ainda que a palavra hebraica para “criação”, bara, não signifique necessariamente criar do nada (v SI 104.30), em certos contextos so pode significar isso. Genesis 1.1 declara: “No principio Deus criou os ceus e a terra”. Dado 0 contexto de que se fala da criação original, subentende- se ex nihilo. Da mesma forma, quando Deus ordenou: “Haja luz”, e houve luz (Gn 1.3), a criação exnihilo estava envolvida. Pois a luz, de forma literal, e aparentemente de maneira instantanea, surgiu onde anteriormente não estava. Salmos 148.5 declara: “[Os anjos] louvem todos eles 0 nome do Senhor, pois ordenou e eles foram criados. Jesus afirmou: “E agora, Pai, glorifica-me junto a ti, com a gloria que eu tinha contigo antes que 0 mundo existisse”(Jo 17.5). Essa frase e repetida em 1 Corintios 2.7 e 2 Timoteo 1.9. Obviamente, se 0 mundo teve um principio, entao ele nem sempre existiu. Literalmente surgiu da inexistencia. Nesse sentido, toda passagem do nt que fala do “principio” do universo supoe criação ex nihilo (v. Mt 19.4; Mc 13.19). Romanos 4.17 afirma a criação ex nihilo em termos bem claros e simples: “...0 Deus que da vida aos mortos e chama a existencia coi- sas que não existem, como se existissem”. Em Colossenses 1.16, 0 apostolo Paulo acrescentou: “Pois nele foram criadas todas as coisas nos ceus e na terra, as visiveis e as invisiveis”. Isso elimina a visao de que 0 universo visivel e apenas feito de materia invisivel, ja que ate 0 dominio invisivel foi criado. Em Apocalipse, Joao expressou 0 mesmo pensamen- to ao declarar: “Porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas” (Ap 4.11). De Genesis a Apocalipse, a Biblia declara a doutri- na da criação divina de tudo que existe, alem dele, a partir do nada. Critica a criação ex nihilo. Ha varias implicacoes importantes quanto a criação ex nihilo. A maioria vem de compreensoes erradas desse ponto de vista. Ela não implica tempo antes do tempo. Alega-se que esse ponto de vista implica que havia tempo antes de 0 tempo comecar, ja que afirma que 0 tempo teve um principio e ao mesmo tempo Deus existia antes (um termo temporal) de 0 tempo comecar. Essa objecao e respondida pelo teista com a demonstracao de que an- tes não e usado aqui como um termo temporal, mas para indicar prioridade ontologica. O tempo não existia an- tes do tempo, mas Deus existia. Nao havia tempo antes do tempo, mas havia eternidade. Para 0 universo, a inexistencia veio “antes” da existencia no sentido logi- co, não no cronologico. O Criador existe desde “antes dos tempos eternos” so por uma prioridade da nature- za, não do tempo. Deus não criou no tempo; ele execu- tou a criação do tempo. Ela não implica que 0 nada fez algo. As vezes a criação ex nihilo e criticada como se afirmasse que 0 nada fez algo. E claramente absurdo afirmar que a inexistencia produziu existencia (v. causalidade, prin- cipio da). Pois a criação exige uma causa existente, mas a inexistencia não existe. Logo, 0 nada não pode criar algo. Somente algo (ou alguem) pode causar algo. 0 nada não causa nada. Em vez do nada produzindo algo, a criação ex nihilo afirma que Alguem (Deus) fez algo do nada. Isso esta de acordo com a lei fundamental da causalidade, que exige que tudo que surge seja causado. O nada não pode criar algo, mas Alguem (Deus) pode criar algo alem de si mes- mo, quando antes não existia. Entao, para 0 teísmo, a cria- cao do nada não significa criação pelo nada. Ela não implica que “nada”e algo. Quando 0 teista declara que Deus criou “do nada”, ele não quer dizer que “nada” era alguma coisa invisivel e imaterial que Deus usou para fazer 0 universo material. Nada signi- fica absolutamente nada. Isto e, Deus, e absolutamen- te nada mais, existia. Deus criou 0 universo e depois fez sozinho algo mais existir. Conclusao. A criação ex nihilo e biblicamente fun- damentada e filosoficamente coerente. E uma verdade essencial do teísmo cristao que claramente 0 distingue das outras cosmovisoes, como 0 panteísmo (ex deo) e 0 ateismo (ex materia). Objeções a criação ex nihilo não resistem diante de uma averiguação cuidadosa. Visões da Criação Norman Geisler Teísmo Ateísmo Deus Um, infinito e pessoal Nenhum Mundo Criado, ex nihilo, finito Eterno (material) Deus e Mundo Deus além do e no universo Possíveis e Milagres reais Natureza humana Alma e corpo imortais Deísmo Teísmo Finito Politeísmo Múltiplo finito e pessoal Finito ou eterno Criado ex materia ou ex nihilo, eterno Criado ex materia e ex Deo, eterno Criado Ex Deo, imaterial Criado ex materia, eterno Só mundo Deus além, mas não do mundo Deus no mundo e além do mundo Deus potencialmente além do mundo, e no mundo realmente Deus é o mundo Deuses no mundo Impossíveis Podem ser possíveis, mas não reais Podem ser possíveis, mas não reais Impossíveis Impossível Possíveis e reais Corpo mortal, alma imortal Corpo mortal, alma imortal Corpo mortal Corpo Corpo Corpo mortal/alma mortal/alma mortal/alma imortal imortal imortal (alguns) Origem do mal Livrearbítrio Ignorância humana Livrearbítrio e/ou ignorância Na luta interna de Deus Fim do mal Será derrotado por Deus Pode ser derrotado por seres humanos Pode ser derrotado por seres humanos ou por Deus Pode ser derrotado por seres humanos Base da Baseada em Baseada na Baseada na ética Deus humanidade natureza Absoluta Panteísmo Um, potencialmente Um, infinito, Um, infinito Um, finito e infinito, impessoal ou e pessoal pessoal realmente pessoal finito Ressurreição Ressurreição Ressurreição para ou e/ou Destino recompensa Aniquilação humano julgamento julgamento ou da alma da alma julgamento Natureza da ética Panenteísmo Relativa Absoluta Linear, Caótica, sem Linear, História proposital, e objetivo, proposital, determinada objetivo eterna eterna por Deus Na memória de Deus Aspecto necessário de Deus Recompensa Reencarnação, e unindo-se a julgamento Deus divinos Ilusão Não pode ser Será derrotado por absorvido por seres humanos Deus ou por Deus Em lutas entre Deuses Não será derrotado pelos deuses Baseada em Baseada em Baseada num manifestações Baseada em Deus ou na Deus mutável menores de deuses humanidade Deus Relativa Relativa Relativa Relativa Linear, proposital, eterna Linear, proposital, eterna Circular, ilusória, eterna Linear ou circular, proposital, eterna Fonte: Enciclopédia de Apologética, Norman Geisler, página 193, Editora Vida.