Catequese
A felicidade
Solange Maria do Carmo - Assessora da catequese da Paróquia São José
De novo o tema
da felicidade, tão caro
nos tempos atuais. Já
repararam como não
é incomum alguém
nos dar uma notícia
que a princípio soa
meia estranha sobre
um amigo ou parente e a gente logo diz: “Mas ele
tá feliz?”. Se ele está feliz, parece valer tudo.
Muitos teólogos, sociólogos e outros estudiosos abominam esta característica da pós-modernidade. Chamam-na de hedonista, narcisista, individualista, presentista e todos os istas
que pudermos imaginar. Mas será que a busca
da felicidade é mesmo um perigo e algo contra o
evangelho? Será que a boa-nova de Jesus não é
fonte de alegria e paz? Ou a vida cristã deve ser
triste e penitente, cada um com sua cruz, sofrendo
os males da vida e conformado com a sorte que
Deus lhe deu?
Vamos dar um passeio pelas Escrituras Sagradas, a bíblia.
A felicidade é o projeto de Deus para todos
nós. Desde o Livro do Gênesis percebemos isto
(cf. Gn 1–2). Ao falar da criação do mundo, o autor
sagrado afirma que Deus criou todas as coisas
primeiro, preparou um belo jardim, para só depois criar o homem e a mulher e colocá-los nele.
Enquanto o povo politeísta – que cultuava muitos
deuses – pensava que a vida humana era castigo
dos deuses e entendia o mundo como um deserto no qual deveríamos
peregrinar aceitando
passivamente este destino implacável, o autor
do Gênesis mostra que
a fé monoteísta pensa
diferente: Deus criou o
ser humano e viu que
era bom, colocou nele
o seu sopro, colocou-o
num jardim maravilhoso cheio de árvores
frutíferas, rios e pedras
preciosas. São imagens,
símbolos, para dizer
como a vida é bela e como a felicidade faz parte
dos planos de Deus. Viver é uma dádiva, apesar de
suas dores, e não um castigo, uma sina que não
podemos evitar. O mundo é belo – como um jardim
– e temos elementos para nos proporcionar esta
felicidade: água, frutos, pedras preciosas – como
preciosa é a vida.
E não faltam no Antigo Testamento textos que
mostram a importância da felicidade e a palavra
de Deus como fonte de alegria e força. O livro do
Eclesiástico chega a dizer que a gente não deve entregar a alma à tristeza. Ao contrário, deve buscar
a alegria pois ela é a vida da pessoa. E adverte os
leitores para tomar muito cuidado, pois a tristeza
e a raiva já mataram a muitos, enquanto que a
alegria revigorou os ânimos (cf. Eclo 30,22-27).
E os Evangelhos? Eles não se cansam de mostrar que a presença de Jesus é boa notícia: “Eis que
eu vos anuncio uma boa notícia que será motivo de
alegria para todo o povo” (Lc 2,10), escreve Lucas
no anúncio do nascimento do menino Jesus aos
pastores. E a motivação para a alegria continua. O
apóstolo Paulo diz: “Alegrai-vos sempre no Senhor.
Repito: alegrai-vos!” (Fl 4,4). E para completar, o
papa Francisco escreveu a bela exortação “A alegria
do evangelho”. Bem em tempo! Em época em que
a felicidade tornou-se um bem precioso atrás da
qual todos acorrem, Francisco lembra que o evangelho é fonte de alegria, e que a vida carrancuda
não condiz com a proposta de Jesus Cristo.
Uma vez que entendemos que a Escritura
mostra a vida humana criada para a felicidade,
não faz sentido viver atolado na tristeza, como se
a felicidade não fosse para nós. Deus nos chama
para a felicidade. Esta é nossa vocação e ela se
concretiza em Cristo.
E o que a catequese tem a ver com isto? Muita
coisa! Se a felicidade é vocação do ser humano, é
tarefa da catequese transmitir essa alegria. Se nossa catequese realmente proporciona a experiência
do encontro com Jesus ressuscitado, a alegria será
inevitável. Não é possível fazer o encontro com
Jesus e continuar o mesmo. Sua presença nos
transforma, nos anima, nos restaura. Sua força nos
sustenta na caminhada e uma vida nova começa
para quem o acolhe. É só ler os relatos do evangelho. Cada pessoa
que encontrava Jesus
descobria dentro de
si a alegria e a força
para recomeçar. Uma
energia nova era desprendida de dentro
dela e sua inércia era
vencida por causa do
amor que Jesus lhe dedicava. É essa energia
transformadora que
nossos encontros precisam gerar. Ao sair
da catequese, nossos
catequizandos – crianças, jovens ou adultos –
devem sentir que uma energia nova os invade e
que eles têm força para viver mais uma semana,
enfrentando os desafios da vida, pois não estão
sozinhos. O Deus da vida, aquele que fortalece os
ânimos do abatido, está sempre junto de cada um
de nós. Isso não significa certamente que a vida vai
virar um mar de rosas, sem espinhos ou atropelos.
Nada disso, mas, nas intempéries da vida, não
estamos abandonados à própria sorte: Jesus está
conosco e nos ampara, dando-nos força pra viver.
A felicidade não vem da ausência de problemas,
mas da certeza do amor que Deus nos dedica.
Cf. outros artigos no www.fiquefirme.com.br
Reflexão
Pág.2
Jovem, deseja ser
Missionário Redentorista,
Padre ou Irmão?
Escreva para: Secretariado de
Vocações Redentoristas
R. Capitão Leonídio Soares, 751
Planalto Caixa Postal 1125
BH – MG - CEP: 30161-970
Tel. (31) 3494-4519
E-mail: [email protected]
www.vocacionalredentorista.com.br
Programação
Semana Santa 2014
Pág.3
Especial
O relato do sepulcro
vazio e o anúncio da
ressurreição
(Mc 16, 1-8)
Pág. 4 e 5
Aconteceu na
Paróquia
Pág. 6
Em Foco
Pág.7
Catequese
A Felicidade
Pág. 8
Nossa Família - Informativo da Paróquia São José
Pároco - Pe. José do Carmo Zambom, C.Ss.R.
Editor - Pe. Paulo Sérgio Carrara, C.Ss.R.
Rua Tupis,164 - Centro - BH
Fone: (31) 3273 - 2988 / Fax: (31) 3226 - 4138
E - mail: [email protected]
Informativo elaborado pela Equipe de Comunicação da Igreja São José - Centro - Belo Horizonte
Projeto Gráfico: Laboratório de Design da UEMG
Diagramação, Impressão: Lanna Projetos Gráficos. Tiragem: 6.000 exemplares.
Fotos: Pe. Flávio, Paulo e Esther.
www.igrejasaojose.org.br
Informativo da Paróquia de São José - Centro - Belo Horizonte. ANO IX. Nº 136 - Abril de 2014
Reflexão
Em Foco
Agenda
paroquial
permanente
EDITORIAL
Este ano tivemos a primeira Festa de
São José depois da restauração. E não
houve que não admirasse a beleza do
Templo. Como a restauração pronta, nossa homenagem a São José foi ainda mais
intensa. O cenário não podia ser outro:
missas lotadas, barraquinhas concorridas,
leigos e leigas, jovens e adultos trabalhando incansavelmente. Muita gente ‘suando
a camisa’ pra fazer bonito.
E isto sem falar das presenças ilustres, que abrilhantaram nossa festa: Dom
José Maria Pires, Dom Geraldo Gusmão,
Dom Justino e Dom Walmor, nosso pastores de nossa Igreja particular, Pe. Vicente,
Pe. Dalton, Pe. Paulo Roberto. Quantas
pessoas? 5.000? 10.000? Mais de 20.000,
com certeza. A todos nosso agradecimento, nossa oração. Juntos, fazemos a
Igreja São José uma referência na cidade
de Belo Horizonte. Juntos anunciamos a
Copiosa Redenção de Jesus Cristo sob a
inspiração e seu Pai adotivo, São José.
Louvado seja Deus! E viva São José, nosso
querido padroeiro!
Neste número você encontra a
PROGRAMAÇÃO DA SEMANA SANTA.
Atenção às celebrações. As mais importantes são as prescritas pela Liturgia da
Igreja. Mas todos os eventos nos ajudam
a entrar no clima da SEMANA SANTA.
Fiquemos unidos a Jesus para celebrarmos
bem os dias que se aproximam. E não nos
esqueçamos que estes dias terminam na
ressurreição de Jesus, sobre a qual apresentamos o artigo principal. Um breve texto sobre um relato do evangelista Marcos.
O que ele nos ensina sobre a ressurreição?
A professora Solange segue com seus
artigos, esclarecedores sobre nossa experiência de fé. Ela nos propõe um cristianismo adulto, pessoalmente assumido. Eis o
objetivo da catequese: levar a crianças a
crescer na sua experiência cristã de Deus.
Deus nos ajude nesta SEMANA
SANTA! Seja esta semana tempo de oração e contemplação do mistério maior de
nossa fé: o MISTÉRIO PASCAL DE CRISTO.
FELIZ PÁSCOA PARA TODOS!
Pe. Paulo Carrara, C.Ss.R.
[email protected]
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NossaFamília
Primeira Eucaristia. Aconteceu no
dia 16 de março, na missa das 11h30. Um
grupo de crianças, depois de longa preparação, fez sua primeira eucaristia, numa
celebração bem preparada e muito bonita.
Pe. Carrara presidiu. Obrigado as catequistas da Paróquia por sua dedicação e
empenho. Graças a vocês, a catequese
segue dando muitos frutos.
Com os nossos sofrimentos,
Imitemos a paixão de Cristo.
Com o nosso sangue,
Honremos o sangue de Cristo.
Se tu és Simão Cirineu,
Toma a cruz e segue Cristo.
Se tu és José de Arimatéia,
Assume aquele corpo e torna tua
A expiação do mundo.
Se tu és Nicodemos,
Sepulta o corpo de Cristo,
E unge-o com os unguentos do rito.
E se és uma das Marias,
Derrama de manhã as tuas lágrimas.
Seja o primeiro a ver a pedra que rolou,
Vai de encontro aos anjos e ao próprio Cristo.
São Gregório Nazianzeno
Profissão Perpétua. No sábado, 15 de
março, dia de São Clemente, os Fratres Paulo Roberto, Fagner Dalbem e Bruno Alves realizaram sua
Profissão Perpétua com a presença de familiares,
amigos, seminaristas e confrades redentoristas,
além dos leigos e jovens que estavam presentes
no encontro. “Nós fizemos a Profissão Religiosa
na Família Redentorista há três anos, na qual emitimos nossos votos de forma provisória. Hoje, nós
dizemos o nosso SIM de forma perpétua, não que
anule a primeira profissão, pelo contrário, esse é
um ‘sim’ definitivo que nós queremos dizer a Deus
e, juntamente com os votos de castidade, pobreza
e obediência, fazermos o juramento de perseverança por toda a vida na Congregação, servindo o
povo de Deus com alegria e simplicidade”, disse
Frater Bruno.
Missas
Segunda, quarta, quinta e
sexta: 7h, 8h, 18h, e 19h
sábado: 7h, 8h, e 18h
Terça-feira: a Igreja permanece
aberta até às 18 horas, só havendo
celebração às 7h da manhã.
Aos domingos:
7h, 8h30 (Missa das Crianças) 10h
(no 4º domingo: Missa da Família),
11h30, 16h, 17h30 e 19h (Missa
dos Jovens).
Todo 1º domingo do mês: Missa
Vocacional às 19h.
TODO 4º DOMINGO DO MÊS: Missa
das Famílias às 10h
Adoração ao Santíssimo Sacramento
Todas as quintas-feiras às 12h e na
véspera da 1ª sexta-feira do mês, às
12h e 17h.
Confissão
Confissões individuais: segunda, quarta e sexta-feira das 7h às
9h e das 16h às 18 horas (exceto na
primeira sexta-feira do mês). E aos
sábados das 7h às 9h.
Confissão comunitária: sábado
às 17h. Na véspera da primeira sexta-feira do mês às 18h e na primeira
sexta-feira do mês, às 7h30 e às 18h
– Salão Paroquial.
Novenas
Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro: toda quarta-feira às 08h
12h 15h e 18h.
São Geraldo: toda segunda-feira
às 08h e 18 horas.
São José: Todo dia 19 de cada mês
às 08h e às 18h
Batizados
O Batismo será realizado no 3º
sábado do mês, num período de 02
(dois) meses.
O curso acontecerá na quintafeira que precede a Celebração do
Sacramento do Batismo.
Catequese:
As informações sobre Catequese de
adultos, Catequese infantil e Crisma
podem ser adquiridas na Secretaria
da Igreja.
Casamentos
Informações na secretaria da Igreja.
Encontro dos missionários leigos
em Juiz de Fora. No ano dedicado à promoção vocacional redentorista, Missionários Leigos, Coordenadores da Juventude Redentorista e
Religiosos se reuniram no Seminário da Floresta
(Juiz de Fora - MG), entre os dias 14 e 16 de
março, para um encontro de espiritualidade redentorista, que trabalhou, de maneira especial,
a vocação, o chamado de Deus à humanidade.
O assessor do encontro, Padre Alfredo Avelar,
C.Ss.R., questionou os participantes sobre a
maneira com a qual eles podem contribuir para
que o Reino de Deus aconteça, cada vez mais,
no meio de nós.
Grupos de Jovens
Domingo às 10h: Comunidade Jovem de Oração Santíssimo Redentor.
Sala 6, Salão Paroquial
Domingo às 17h: Pastoral da
Juventude. Sala 1, Salão Paroquial
Venha
participar da Missa
das Famílias,
domingo, dia 27
de abril,
às 10h.
São Geraldo Magela: Todo dia 16
São José: Todo dia 19
Hora da Misericórdia: TODA
Sexta-feira ao meio dia
Domingo do Dízimo: TODO 2º
domingo do mês
Domingo da Partilha: 4º domingo do mês: (Participe oferecendo
alimentos não perecíveis)
Grupos de Oração e de Serviços:
Mais informações na Secretaria da
igreja (31) 3273-2988 ou nos quadros
de avisos.
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Aconteceu na Paróquia
A festa de São José, mais uma vez,
atraiu quase 30.000 pessoas. Os devotos
de São José não mediram esforços para
celebrar a solenidade de seu Santo de
devoção. A Igreja esteve lotada o dia
todo. Contamos com a presença dos
bispos: Dom Geraldo, Dom José Maria
Pires, Dom Justino e Dom Walmor. Nosso
provincial, Pe. Vicente, também presidiu
uma eucaristia. Agradecemos a Deus o
dom de mais uma linda festa de São José.
Obrigado a todos aqueles que participaram do serviço litúrgico ou do serviço
nas barraquinhas. Deus abençoe vocês!
Semana San
gr
o
r
P
amação
13 de abril: Domingo de Ramos
Dia da Coleta da Campanha da Fraternidade. Traga sua oferta generosa!
Missas: 07h – 08h30 – 10h – 11h30 – 16h – 17h30 – 19h.
*Haverá a bênção dos ramos no início de cada missa! Procissão: 11h30 e 19h.
ta 2014
14 de abril: Segunda – Feira Santa
Missas: 07h – 08h - 18h.
Confissão Individual: 07h às 09h - 16h às 18h - 19h às 21h.
15 de abril: Terça – Feira Santa
Missa: 07h.
Sermão das Sete Dores de Nossa Senhora: às 19h, na Igreja.
Confissão Individual: 07h às 09h e 16h às 18h.
Celebração da Penitência: 20h, no Salão Paroquial.
16 de abril : Quarta – Feira Santa
Missas: 07h – 08h e 18h.
Confissão Individual: 07h às 09h.
16h às 18h.
Celebração da Penitência: 18h, no Salão Paroquial.
Procissão e Sermão do Encontro: às 19h, na Igreja.
*A imagem de Nossa Senhora das Dores sairá, com as mulheres, da entrada da Rua Tupis, e o Senhor dos
Passos, com os homens, da entrada da Rua Tamoios.
17 de abril: Quinta - Feira Santa
Missa da Unidade: 09h
Celebração Eucarística dedicada à terceira idade, pessoas com deficiência e enfermos: 16h
Solene Missa da Instituição da Eucaristia e “Lava-Pés”: 20h
A seguir: Vigília de Adoração ao Santíssimo Sacramento até meia noite.
18 de abril: Sexta - Feira Santa
VIA SACRA, no interior da Igreja (sob a coordenação dos Ministros da
Eucaristia): 09h
Celebração da Penitência: 10h e 14h, no Salão Paroquial.
Solene Ação Litúrgica da Paixão do Senhor: 15h
Sermão do Descendimento da Cruz (no interior da Igreja): 19h
Em seguida, Procissão do “Senhor Morto” pelo adro da Igreja. Ao final da Procissão, veneração
do Senhor no interior da Igreja. * Traga uma vela para a Procissão.
19 de abril: Sábado Santo
Celebração da Penitência: 17h e 18h, no Salão Paroquial.
SOLENE VIGÍLIA PASCAL: 20h
Bênção do Fogo, do Círio Pascal, da Água Batismal, Renovação das Promessas do Batismo e
Missa Solene Concelebrada da Ressurreição.
20 de abril: Domingo de Páscoa
Missas: 07h - 08h30 – 10h – 11h30 – 16h – 17h30 e 19h.
Procissão da Ressurreição com o Santíssimo Sacramento: após a Missa das 11h30 e
das 19h (no Adro da Igreja).
* Traga uma flor para acompanhar esta Procissão das 11h30 e uma vela para a Procissão das 19h..
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NossaFamília
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Especial
O relato do sepulcro vazio e o anúncio da ressurreição
O
evangelho de Marcos culmina
com a visita das mulheres ao
túmulo de Jesus e com o anúncio de sua ressurreição (16, 1-8). Os versículos 9 a 20 não constam nos manuscritos
mais antigos, o que permite aos exegetas
de concluírem que o final do evangelho de
Marcos se dá nos versículos 1 a 8, o que
é perfeitamente coerente com a narrativa
de Marcos.
A ressurreição é o núcleo da fé.
Marcos afirma a ressurreição de Jesus. Os
versículos 1-2 apresentam os personagens
e o local onde se passa a cena: Maria
Madalena, Maria, a de Tiago, e Salomé
vão ao túmulo de Jesus com intenção de
embalsamá-lo. O versículo 3 prepara a
surpresa do versículo 4, ao que segue o
espanto do versículo 5. O versículo 6 é o
centro da perícope, a afirmação decisiva:
Jesus ressuscitou, por isto o túmulo está
vazio. O versículo 7 remete ao que havia
sido prometido aos discípulos e a Pedro em
Mc 14, 28: “irei na frente de vós, na Galiléia”. O
versículo 8 é, por sua vez, desconcertante,
cheias de “temor e espanto”, as mulheres não
dizem nada a ninguém.
Segundo alguns autores, o texto de
Mc 16, 1-8 contém contradições que nos
permitem questionar sua historicidade. As
mulheres vão ao túmulo de madrugada ou
4
NossaFamília
bem cedo? Madrugada e bem cedo significam a mesma coisa? Se há uma grande
pedra, como podem imaginar que encontrarão alguém para removê-la? E se não
contaram sua experiência para ninguém,
como o evangelista chegou a sabê-la? Tais
perguntas revelam que nosso evangelista
está mais preocupado com a teologia do
que com a história. Claro que não nega a
experiência histórica da ressurreição, mas
não está interessado em descrevê-la em
termos de visões, aparições ou iluminação
interior. Marcos constrói a ‘sua teologia’ da
ressurreição, de modo coerente com toda
sua cristologia.
As mulheres que vão ao túmulo
são as únicas testemunhas de sua morte
na cruz, as que seguem Jesus até o fim. A
unção, como a da mulher de Betânia (Mc
14, 3-9), remete ao discipulado autêntico,
que não abandona Jesus no sofrimento. A
madrugada é o momento da ajuda divina,
em que se manifestam as ações salvíficas. A
pedra do túmulo removida remete também
à ação poderosa de Deus, único capaz de
remover os obstáculos para que o evento
seja compreendido. O jovem vestido de
branco é o intérprete do acontecimento,
indicando a origem divina da fé eclesial na
ressurreição de Jesus. O centro do relato da
ressurreição segundo Marcos é, sem dúvida,
o versículo 6a, quando o jovem vestido de
branco anuncia a ressurreição: Ele lhes diz:
“Não fiqueis cheias de espanto. Buscais Jesus, o Nazareno, o crucificado? Ressuscitou, não está aqui”.
O lugar do reencontro com o ressuscitado é
a Galiléia, onde teve início a experiência dos
discípulos com Jesus. O silêncio das mulheres remete-nos ao segredo messiânico
de Marcos, a revelação de Deus em Jesus é
um mistério de luz e obscuridade, que não
pode ser compreendido por qualquer um,
mas só num contexto de conversão e de
seguimento.
O “crucificado ressuscitou”. O termo crucificado não é apenas um adjetivo, ele nos
reenvia, de maneira explícita, à história de
Jesus como constitutiva de sua identidade.
Não é possível separar o ressuscitado do
crucificado. A crucifixão é, por sua vez, fruto
da história de Jesus. Mas a ressurreição não
é uma invenção humana, é um ato de Deus
que não pode deixar de ser revelado. Mc 6a
deve ser lido em relação imediata com a
narração da paixão, sobretudo com Mc 15,
39: “o centurião, que estava em frente dele, vendo
que assim expirava, disse: verdadeiramente este homem era Filho de Deus”. A mensagem do jovem
vestido de branco completa a exclamação
do centurião: “o crucificado ressuscitou”. Em Mc
16, 6a a revelação do Filho de Deus chega
à sua conclusão: Jesus de Nazaré, Filho de
Deus crucificado, ressuscitou (foi ressuscitado pelo Pai e elevado à sua direita).
O lugar do encontro com o ressuscitado é a Galiléia. É possível que a experiência da ressurreição de Jesus se tenha
dado realmente na Galiléia, mas em Marcos
a Galiléia é também um lugar teológico.
Lá Jesus chamou os primeiros discípulos,
manifestou a sua autoridade. Lá Jesus deve
ser buscado, porque novamente ele reúne
os discípulos para dar continuidade ao
seguimento. Na comunidade os discípulos
farão a experiência da ressurreição e verão
a Jesus. Acontecerá um novo início, depois
da dispersão, ocorrida em Jerusalém. Tudo
recomeça a partir da experiência primordial
dos discípulos. A nova reagrupação se dará
em torno do ressuscitado: “Ele vai à vossa
frente à Galileia, ali o vereis” (Mc 16, 7). O ver na
Galiléia significa a compreensão do mistério
de Jesus, depois da conversão. É através
da rememoração da originária pregação do
evangelho que os discípulos encontrarão e
serão encontrados pelo ressuscitado. A ressurreição supõe, portanto, a reconstrução
da história de Jesus. A fé se fundamenta
não somente no anúncio pós-pascal, mas
também no Jesus histórico, na sua vida e
na sua morte. Não só a ressurreição ilumina
a história de Jesus, mas esta história faz
compreender a ressurreição.
O desconcertante relato de Marcos
pode ajudar-nos a anunciar hoje a ressurreição. A linguagem que às vezes usamos para
falar da ressurreição distorce o seu verdadeiro significado. Quando fixamo-nos nos
textos bíblicos como se fossem crônicas
do ressuscitado, caímos no erro de querer
provar a ressurreição como fato histórico
verificável, o mais maravilhoso milagre de
Jesus e a comprovação de sua divindade.
Tal apresentação não condiz com os dados
da exegese e nem com os dados da reflexão
teológica. O pior é que os cristãos ficam
privados do verdadeiro conteúdo da ressurreição, que poderia iluminar sua a vida,
trazendo uma nova esperança para atuar na
história o Reino e para esperar a manifestação plena da ressurreição de Cristo. Claro
que Jesus é divino, o mais importante, no
entanto, é compreender o significado da
ressurreição à luz de toda história de Jesus.
Graças ao avanço da reflexão bíblico-teológica, pudemos redescobrir a riqueza
da ressurreição em seus vários aspectos.
Exatamente esta riqueza precisa ser difundida através da pastoral e das celebrações
litúrgicas, em vista de uma correta compreensão do mistério de Deus que se revela
em Jesus. Mas não basta uma nova reflexão
para corrigir certas visões que se mostram
antiquadas e inadequadas, porque não ex-
(Mc 16, 1-8)
Pe. Paulo Carrara, CSSR
pressam mais o significado do acontecido
em Jesus. A reflexão precisa modificar o
‘agir cristão’, tornando-o mais sóbrio e mais
centrado no essencial.
De maneira simples e sóbria, Marcos
nos leva ao essencial, convidando-nos a
aceitar ou a confirmar com nossa vida a
confissão de fé fundamental: “Este homem
era Filho de Deus”, “Ele ressuscitou” (foi ressuscitado por seu Pai no Espírito). Mas
isto só tem sentido porque se trata de um
personagem bem real, que se submeteu
às forças da história, “Jesus de Nazaré, o
crucificado”. Não podemos ficar no dilema:
verdadeiro ou falso, aconteceu ou não
aconteceu, o túmulo prova ou não prova.
O evangelho de Marcos, com sua catequese
e cristologia narrativas, nada mais é do que
uma leitura teológica de eventos bem reais,
que excluem tanto o ceticismo quanto o
fundamentalismo, mas que nos convidam à
experiência do discipulado, reunidos como
povo de Deus em torno ao crucificado
ressuscitado. A alegria que sentimos com
a ressurreição de Jesus nos leva a refazer
o seu caminho desde a Galileia, onde ele
iniciou a pregação de Jesus sobre o Reino de
Deus. Quem experimenta o Ressuscitado,
assume também a sua causa: a transformação do mundo em Reino de Deus, feito de
paz, justiça e fraternidade.
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Abril/2014 - Igreja São José