Tratamento de Emissões Gasosas por Oxidação Térmica Regenerativa A Oxidação Térmica Regenerativa trata-se da mais eficiente tecnologia de incineração de gases actualmente disponível. Este tipo de termocombustores, capazes de um funcionamento autotérmico, atingem temperaturas de 850ºC e permitem, com baixos custos de operação, devido à diminuta queda de pressão e a uma eficiência de recuperação de calor de 98%, a eliminação de 99,9% dos compostos orgânicos voláteis presentes em correntes gasosas ou provenientes de emissões fugitivas do processo ou da aspiração de atmosferas poluídas com solventes e odores. António Barreto Archer* e Manuel Fernando Lima** Archer Consulting*** 1. Introdução Os compostos orgânicos voláteis (COV’s) são milhares de espécies individuais de hidrocarbonetos (alcanos, alcenos, alcinos e aromáticos), aldeídos e cetonas, que possuem uma estrutura e reactividade bastante diversificada. Os COV’s estão entre as substâncias emitidas para a atmosfera em resultado das actividades humanas que exercem uma acção mais nociva sobre os seres humanos. Muitos dos compostos que os integram são cancerígenos e podem causar graves danos aos recursos biológicos e aos ecossistemas, deteriorar bens materiais ou prejudicar outras utilizações legítimas do ambiente. Por tudo isto, a legislação ambiental é cada vez mais rigorosa no controlo das emissões destes poluentes atmosféricos, procurando assegurar a protecção das pessoas e do ambiente através da imposição aos industriais da obrigatoriedade de realização de medições fiáveis das suas emissões, cujos resultados exigirão em grande parte dos casos a instalação de tecnologias de tratamento que garantam o respeito pelos limites de emissão estabelecidos por lei, em constante evolução no sentido de restrições mais severas. A tecnologia de tratamento que apresentamos neste artigo, a Oxidação Térmica Regenerativa, é eficiente, económica e versátil no tratamento de emissões gasosas contendo COV’s. As Estações de Tratamento baseadas nesta tecnologia podem estar equipadas com duas ou três câmaras regenerativas. A solução de três câmaras é normalmente adoptada quando a remoção de COV’s requer uma eficiência superior a 99%. Tratam-se de instalações do tipo autotérmico, que 1 permitem conciliar uma elevada recuperação térmica com uma elevada eficiência depurativa (sempre superior a 95%). O princípio de funcionamento da instalação consiste em oxidar a uma temperatura de cerca de 750 – 800 ºC, dentro de uma câmara de combustão, todos os compostos orgânicos existentes na corrente gasosa, recuperando posteriormente o calor do gás oxidado, fazendo-o passar através de um leito de recuperação de calor, de elevada eficiência, constituído por corpos cerâmicos especiais, de grande área superficial. A Oxidação Térmica Regenerativa utiliza um método único de reaproveitamento de energia, reduzindo deste modo, substancialmente, a necessidade de utilização de combustível auxiliar. Nesta linha de equipamentos existem uma série de opções, que permitem ir ao encontro das necessidades de cada utilizador, em termo de espaço, tempo de montagem, instalação, custos e das próprias características do efluente gasoso. 2. Descrição Geral da Instalação e do Processo de Tratamento O efluente gasoso é impulsionado pelo ventilador principal da instalação, cuja velocidade de rotação é regulada através de um inverter e de um sensor de pressão colocado no plenum de entrada da Estação de Tratamento, e entra no termocombustor, onde é oxidado a alta temperatura. A energia originada na reacção química da combustão das substâncias orgânicas, que é altamente exotérmica, é captada através da utilização de elementos cerâmicos estruturados em ninho de abelhas, material que tem uma elevada difusividade térmica e uma alta superfície de transferência de calor (cerca de 850 m2/m3 contra os 250 m2/m3 de selas cerâmicas ou corpos de enchimento semelhantes). Durante a fase de aquecimento inicial, estes elementos são levados à temperatura de exercício (800 a 850 ºC) através da utilização de gás natural ou de outro combustível, mas durante o funcionamento normal (condições de autotermicidade) é a própria combustão das substâncias inquinantes que garante a estabilidade da temperatura. O gás poluído entra no combustão, encontra um dos leitos cerâmicos aquecido e absorve o calor deste, arrefecendo-o. Deste modo o gás atinge a temperatura de activação da autocombustão. Depois de ser queimado, o gás quente passa através do outro leito frio, aquecendo-o através da cedência de calor. Na câmara de oxidação, todos os compostos orgânicos são convertidos em dióxido de carbono e água. A presença de um queimador auxiliar de gás natural ou de outro 2 combustível destina-se a garantir o funcionamento do sistema no caso da concentração de substâncias inquinantes descer abaixo das condições de autotermicidade e na fase de aquecimento inicial do termocombustor. Por exemplo, um gás poluído a 20 - 30ºC de temperatura e com uma concentração máxima de 1 g/Nm3 de solventes não necessita de energia térmica extra para concentrações de COV’s entre 0,5 - 1 g/Nm3 – nesta gama de concentração a instalação funciona autotermicamente. Se a concentração de COV’s for mais baixa, a energia térmica necessária é fornecida pelo queimador instalado. Quando a concentração de COV’s excede os valores para a operação em regime autotérmico, parte do gás quente da câmara de combustão sai directamente por um by-pass instalado nessa câmara, permitindo um aproveitamento externo do calor em excesso através de um permutador de calor de termo-fluido ou vapor de água (Figura 1). Figura 1 – Diagrama ilustrativo do processo de Oxidação Térmica Regenerativa com três câmaras. As condições de autotermicidade e a configuração peculiar dos corpos cerâmicos nesta tecnologia permitem alcançar uma elevada eficiência de recuperação de calor a baixa pressão, operando-se assim a custo mais baixo. Numa unidade de tratamento de 10.000 Nm3/h, por exemplo, a potência térmica do queimador é inferior a 100 kW (dependendo da concentração COV’s) e o ventilador absorverá um potência eléctrica de, aproximadamente, 15 kW. Na Figura 2 encontram-se explicitados os consumos de energia para uma instalação deste tipo com diferentes capacidades de tratamento em termos de caudal de gás alimentado. 3 1200 A Consumo de Energia (kW) 1000 B 800 C 600 400 200 0 0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 Capacidade (Nm3/h) Figura 2 – Consumos de energia e energia disponível para recuperação na tecnologia de Oxidação Térmica Regenerativa, para diferentes capacidades de tratatamento: A: Consumo de energia do ventilador do gás limpo em operação autotérmica; B: Consumo de energia do queimador a operar com gás poluído sem COV’s; C: “Energia contida” no gás poluído com 1 g/Nm3 de Benzol, Toluol e Xilol. Assim sendo, as principais características técnicas do processo descrito, são as seguintes: Na gama de autotermicidade é possível a recuperação total do calor proveniente da combustão dos COV’s, garantindo-se assim a estabilidade da temperatura e de todo o sistema. A secção de regeneração é revestida por elementos cerâmicos estruturados em ninho de abelhas, com uma elevada superfície de permuta térmica e uma perda de carga irrelevante. O isolamento interno do combustor é garantido por três estratos de material isolante: lã de rocha, fibra cerâmica flexível e uma última camada formada por um painel em fibra cerâmica, perfazendo uma espessura total de cerca de 225 mm. O grupo combustor está equipado com um sistema simples e eficaz de controlo da combustão, permitindo obter uma chama com um óptimo desenvolvimento calorífico. Todo o sistema de alimentação, carburação, injecção e queimador é controlado por intermédio de um PLC central, permitindo minimizar os custos de operação. A construção interna desta instalação permite, pelo controlo do tempo de combustão 4 e do fluxo de ar, minimizar a formação de subprodutos tais como óxidos de azoto (NOx). 3. Campo da Aplicação O tratamento das emissões gasosas por Oxidação Térmica Regenerativa pode ser aplicado em sectores tão variados como a Indústria Química, Farmacêutica, dos Plásticos, Cerâmica, do Papel, Têxtil, Metalúrgica, e da Energia, sendo possível destacar as seguintes situações e processos industriais: Fábricas de tintas, colas e adesivos; Produção e extrusão de plásticos; Produção de pasta e papel; Processos de síntese química e farmacêutica; Processos de produção de componentes electrónicos; Processos de envernizamento, protecção e acabamento industrial; Produção de polímeros; Produção de telhas e tijolos; Emissões fugitivas em unidades petroquímicas; Processos de acabamento têxtil; Processos de fundição refinação, tratamento e limpeza de metais. 4. Conclusão Considerando os efeitos nocivos para a saúde humana e para o ambiente, aliados a uma legislação ambiental cada vez restritiva, das emissões gasosas contaminadas com Compostos Orgânicos Voláteis, impõe-se às empresas a instalação de soluções para o tratamento dos seus efluentes gasosos que sejam tecnologicamente avançadas, eficazes, versáteis, duráveis e capazes de cumprir os limites de emissão legais, em permanente evolução. Neste contexto, a tecnologia de Oxidação Térmica Regenerativa é uma excelente solução, podendo ser aplicada em diversos processos industriais, referidos no capítulo 3, e destacando-se das outras tecnologias de tratamento e eliminação de COV’s nos seguintes pontos: 5 Recuperação de calor - a eficiência é de 97-98% e a recuperação do calor proveniente da combustão dos COV’s é total na gama de autotermicidade, garantindo assim baixos custos de operação. Exigência de espaço – as unidades de tratamento são bastante compactas e podem ser instaladas ao ar livre. Fiabilidade - a secção de regeneração é revestida por elementos cerâmicos estruturados em ninho de abelhas, o que torna este tipo de instalações insensível às poeiras e outros abrasivos. O isolamento é feito para resistir a altas temperaturas e os materiais cerâmicos garantem uma durabilidade e fiabilidade excepcionais. Sistema de controlo - a unidade funciona automaticamente por meio de um PLC e as condições de operação podem ser controladas por PC. Desempenho - a concentração de COV’s à saída depende naturalmente da concentração à entrada, mas as taxas de remoção são superiores a 99.9 %. * Eng.º Químico e do Ambiente, FEUP e OE Advogado ** Licenciado em Engenharia Química, FEUP *** Representante em Portugal da tecnologia de Oxidação Térmica Regenerativa desenvolvida pelo consórcio Italo-Austríaco ACTEA/KVT E-mail: [email protected] 6 QuickTime™ and a Photo - JPEG decompressor are needed to see this picture. Termocombustor Regenerativo de 2 câmaras 7 Termocombustor Regenerativo de 3 câmaras 8 Desenho esquemático de um Termocombustor Regenerativo de 3 câmaras. 9