Universidade Federal Rural de Pernambuco Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal Área de Biofísica Sistema circulatório Prof. Romildo Nogueira 1. Noções básicas O sistema circulatório tem a função transportar e distribuir substâncias essenciais aos tecidos e retirar subprodutos do metabolismo. Além disso, participa de mecanismos homeostáticos, como o controle da temperatura corporal, da comunicação humoral por todo organismo e dos ajustes do suprimento de oxigênio e nutrientes nos diferentes estados fisiológicos. O sistema circulatório é constituído por uma bomba (o coração), que impele o sangue através de uma série de tubos distribuidores e coletores (artérias e veias) e um complexo e extenso sistema de vasos de finas paredes que possibilitam a troca de substâncias entre o sangue e os vários tecidos do organismo. Na verdade, o coração é constituído por duas bombas em série: uma para impelir o sangue através dos pulmões para troca de oxigênio e dióxido de carbono, denominada de circulação pulmonar, e outra para impelir o sangue para todos os outros tecidos do organismo, conhecido como circulação sistêmica. Na circulação sistêmica, apesar do débito cardíaco (quantidade de sangue propelido por cada ventrículo do coração em um minuto), ser intermitente, o fluxo sanguíneo para periferia é contínuo devido à distensão da aorta e de seus ramos durante a contração ventricular (sístole), e a retração elástica das paredes das grandes artérias propulsionando para diante o sangue durante o relaxamento ventricular (diástole). O sangue se move rapidamente pela aorta e seus ramos arteriais. Os ramos se estreitam nas artérias mais periféricas e suas paredes se tornam mais finas e se modificam histologicamente. A partir de uma estrutura predominantemente elástica, a aorta, as artérias periféricas se tornam mais musculares até as arteríolas, cuja camada muscular é predominante. Até as arteríolas, a resistência friccional ao fluxo sanguíneo é relativamente pequena e, apesar do fluxo rápido nas artérias, a queda de pressão da raiz da aorta até o início das arteríolas é pequena. Essas arteríolas são as válvulas reguladoras da árvore vascular, são os principais pontos de resistência ao fluxo sanguíneo no sistema circulatório. Essa resistência oferecida pelas arteríolas se reflete na considerável queda de pressão das arteríolas para os capilares. Os ajustes do grau de contração da musculatura circular desses pequenos vasos permitem a regulação do fluxo sanguíneo tecidual e ajudam a controlar a pressão sanguínea. Além da queda rápida da pressão nas arteríolas, ocorre nessa região uma alteração do fluxo, que passa de pulsátil a uniforme. O fluxo sanguíneo arterial pulsátil, provocado pela ejeção cardíaca intermitente, é amortecido nos capilares devido a distensibilidade das grandes artérias e da resistência friccional das arteríolas. Muitos capilares brotam de cada arteríola, de modo que a área transversal total do leito capilar é muito grande, apesar da área transversal de cada capilar ser inferior a de cada arteríola. Conseqüentemente, o fluxo sanguíneo fica bastante lento nos capilares, da mesma forma que a correnteza é mais lenta nas regiões largas de um rio. Como os capilares consistem em pequenos tubos com paredes finas (somente uma camada de celular de espessura), e o fluxo é lento, as condições nos capilares são ideais para troca de substâncias difusíveis entre o sangue e os tecidos. No retorno ao coração, o sangue proveniente das arteríolas passa por vênulas e , depois por veias de diâmetros crescentes. Quanto mais próximo do coração, menor é número de veias, a espessura e composição das suas paredes se alteram e menor é a área transversal total dos canais venosos e portanto, maior é a velocidade do fluxo sanguíneo. A maior parte do sangue circulante fica nos canais venosos. O sangue venoso penetra pelo átrio direito no ventrículo direito de onde é bombeado através do sistema arterial pulmonar (sob pressão média de aproximadamente 1/7 da existente nas artérias sistêmicas) para os pulmões. Nos capilares pulmonares, o dióxido de carbono é liberado e o oxigênio captado. O sangue rico em oxigênio retorna, pelas veias pulmonares, ao átrio e ao ventrículo esquerdos, para que um novo ciclo seja iniciado. Vários aspectos biofísicos podem ser abordados no estudo do sistema circulatório, contudo, em nosso estudo realizaremos uma revisão dos corpos figurados do sistema circulatório (sangue), as propriedades eletromecânicas da bomba cardíaca e a hemodinâmica. Finalmente, será realizada uma breve análise comparativa entre os sistemas circulatórios nos diferentes tipos de animais. 2. 2. O sangue O sangue é uma suspensão de vários tipos celulares em um meio aquoso complexo, o plasma. Os elementos do sangue desempenham múltiplas funções essenciais para o metabolismo e a defesa do organismo contra uma possível lesão. O plasma pode ser separado das células sanguíneas por centrifugação (um anticoagulante deve ser usado). No plasma estão dissolvidas eletrólitos, proteínas, lipídios, carboidratos (particularmente glicose), aminoácidos, vitaminas, hormônios, produtos de decomposição nitrogenada do metabolismo (tais como uréia e ácido úrico), oxigênio, dióxido de carbono e nitrogênio gasoso. As concentrações desses componentes podem variar como resultado do tipo de dieta, demanda metabólica, níveis hormonais e de vitaminas. Normalmente, a composição do sangue é mantida em níveis biologicamente seguros por inúmeros mecanismos de homeostasia. Esses níveis ficam comprometidos em distúrbios do organismo, particularmente aqueles que afetam os pulmões, a circulação, os rins, o fígado e os órgãos endócrinos. Durante sua circulação, o sangue desempenha o importante papel de captar o oxigênio que se difunde dos alvéolos pulmonares para o plasma nos capilares pulmonares e, daí, para as hemácias, onde se combina com a hemoglobina, o principal carreador de oxigênio no sangue. O dióxido de carbono, produzido nos tecidos por oxidação dos compostos carbônicos, difundese para os capilares periféricos , e a seguir, é carreado pelo sangue até os pulmões, onde é excretado. Na biofísica da respiração discutiremos com maiores detalhes esse tema. Os componentes iônicos do plasma mantêm o pH do sangue dentro dos limites fisiológicos. A osmolaridade do plasma é mantida pelos solutos iônicos e não iônicos. Os componentes iônicos no plasma de um homem adulto são : sódio ( 135-145 mEq/l); potássio (3,5- 5,0 mEq / l); cálcio ( 2,2 – 2,5 mEq / l); magnésio ( 1,5 – 2,0 mEq / l) ; hidrogênio ( pH entre 7,35 – 7,45); cloreto ( 95 – 107 mEq / l); bicarbonato (22 – 26 mEq / l); lactato (1,0 – 1,8 mEq / l); sulfato (1,0 mEq / l); fosfato ( 2,0 mEq / l). Entre os componentes não-iônicos encontram-se proteínas: albumina ( 3,5 – 5,0 g / dl ) ; globulina total ( 2,2 – 4,0 g / dl ); transferrina ( 250 mg / dl ) ; haptoglobina ( 30-205 mg / dl); hemopexina ( 50 – 100 mg / dl ) ; ceruloplasmina ( 25-45 mg / dl); ferritina ( 15- 300 g / l ). Componentes não-proteícos são também encontrados no plasma, são eles: o colesterol ( 140-250 mg/dl); glicose ( 70-110 mg/dl); nitrogênio uréico ( 6-23 mg/dl); ácido úrico ( 4,1-8,5 mg/dl); creatinina (0,7-1,4 mg / dl) ; ferro ( 50-150 g / dl). A osmolaridade normal do plasma é de 280 a 300 m Osm / kg de água. As várias proteínas plasmáticas pertencem basicamente a albumina e as diversas imunoglobulinas. As proteínas plasmáticas (ou séricas) são caracterizadas por sua migração num campo elétrico com pH de 8,6. A albumina migra mais rapidamente na direção do ânodo e as espécies de globulina descritas como alfa-1, alfa-2 e beta migram cada vez menos rapidamente. A gamaglobulina migra muito lentamente. Esse método eletroforético permite a separação / identificação dessas proteínas plasmáticas. A albumina é sintetizada pelas células parenquimais do fígado. A albumina sendo pouco difusível através do endotélio vascular proporciona uma pressão coloidosmótica ou oncótica crítica que regula a passagem de água e dos solutos difusíveis através da parede capilar. A albumina, também, carreia substâncias por ela adsorvidas, como por exemplo, a bilirrubina, ácidos graxos (componentes normais do sangue) e agentes exógenos, como medicamentos. As imunoglobulinas (anticorpos) resultam da estimulação de linfócitos, em resposta a sua exposição a antígenos. As imunoglobulinas são sintetizadas pelos plasmócitos, nos órgãos linfóides, e são importantes como defesa contra as infecções. Outras proteínas também estão presentes no plasma, tais como fatores da coagulação (cujo mais abundante é o fibrinogênio), componentes do complemento (um grupo de proteínas que medeiam os efeitos biológicos das reações imunes); várias enzimas ou seus precursores e inibidores, carregadores específicos de componentes como o ferro e o cobre, os hormônios, as vitaminas , captadores da hemoglogina livre e de grupo heme. Os lipídios plasmáticos, dos quais os principais são os triglicerídios, o colesterol e os fosfolipídios, são transportados em combinação com as proteínas plasmáticas, as apolipoproteínas. As células sanguíneas Os componentes celulares do sangue incluem as hemácias (eritrócitos) , leucócitos e plaquetas. Os leucócitos são classificados em neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos e linfócitos. Devido a sua participação em vários mecanismos biofísicos, as hemácias serão tratadas mais detalhadamente que os outros componentes celulares do sangue. Hemácias A hemácia (eritrócito) madura é uma célula anucleada circundada por membrana deformável bem adaptada a necessidade de atravessar capilares estreitos. As hemácias são discos bicôncavos, cada um com diâmetro de aproximadamente 8 m, espessura de 2 m em sua borda e volume de aproximadamente 87 m3 . Nos adultos normais, as hemácias ocupam, em média, cerca de 48% do volume do sangue em homens e 42% em mulheres. Este percentual do volume do sangue representado pelas hemácias é definido como hematócrito. O principal componente protéico do citoplasma da hemácia madura é a hemoglobina. O sangue normal possui cerca de 15 g de hemoglobina / dl nos homens adultos e cerca de 13,5 g / dl nas mulheres adultas. O citoplasma e a membrana da hemácia também contêm enzimas que fornecem energia suficiente para preservar a integridade da célula, para manter as concentrações intracelulares de potássio acima e de sódio abaixo das existentes no plasma circundante, para converter o dióxido de carbono em íon bicarbonato e para prevenir a transformação oxidativa da hemoglobina em proteína não –funcional, a metaemoglobina. A hemoglobina , proteína sintetizada na medula óssea pelos precursores nucleados das hemácias , é uma molécula complexa com peso molecular de 68 K Da. É formada por dois pares desiguais de subunidades polipeptídicas “globina” - duas cadeias alfa e duas outras que podem ser beta, gama ou delta. Na hemoglobina F (prevalente no feto e recém-nascido) são duas cadeias alfa e duas cadeias gama. A hemoglobina A, prevalente no adulto, consiste de duas cadeias alfa e duas beta. Uma pequena proporção da hemoglobina é constituída por duas cadeias alfa e duas delta, ou hemoglobina A2 . Cada subunidade globina apresenta uma ligação covalente a um grupo prostético formado por um tetrapirrol, o heme. Uma enzima mitocondrial, a heme sintetase, introduz um átomo de ferro ferroso no anel tetrapirrol (na protoporfirina IX). O oxigênio fixa-se reversivelmente ao ferro incorporado a unidade heme. Detalhes deste mecanismo serão dados na biofísica da respiração. A vida média da hemácia na circulação é de 120 dias. A maior parte das hemácias senescentes é englobada pelos macrófagos do sistema reticuloendotelial, particularmente no fígado e no baço. Nos macrófagos, a hemoglobina é retirada das células e catabolizada em globina e heme. A globina é desintegrada por proteases celulares em seus aminoácidos componentes, que se unem ao reservatório de aminoácidos do plasma e são reutilizados na síntese protéica. O heme (tetrapirrol), é clivado enzimaticamente, liberando seu átomo de ferro e formando um tetrapirrol linear, a biliverdina. O ferro liberado é reutilizado, em sua maior parte, para formação de heme nos eritroblastos. A biliverdina é reduzida a bilirrubina, que é liberada no plasma, onde é fixada pela albumina e transportada para as células parenquimais do fígado. Nestas células, é acoplada ao ácido glicurônico, formando um conjugado hidrossolúvel que é excretado na bile. A bilirrubina perde seu ácido glicurônico nesse processo e parte dessa bilirrubina é reabsorvida como tal pela corrente sanguínea, para ser excretada pelo fígado. Entretanto, a maior parte é reduzida por enzimas bacterianas no intestino, formando sucessivamente tetrapirróis, os urobilinogênios ( que são incolores) e estercobilina e urobilina ( que emprestam a coloração castanha das fezes). Por sua vez, parte do urobilinogênio e da urobilina é reabsorvida pelo intestino. A seguir, podem ser reexcretados pelo fígado, nos canais biliares, ou excretados na urina. A outra parte das hemácias senescentes (10 a 20 %) são destruídas na corrente sanguínea, onde a hemoglobina liberada é fixada a uma proteína carreadora específica, a haptoglobina. Parte da hemoglobina plasmática é clivada na árvore vascular em globina e heme; este último fixa-se a outra proteína carreadora, a hemopexina. Os complexos hemoglobina-haptoglobina e hemehemopexinas são retirados da circulação pelo fígado e catabolizados pelas células parenquimais hepáticas. Quase todo ferro necessário para síntese da hemoglobina provém desse catabolismo dos compostos que contêm heme. O ferro é excretado dos macrófagos para o plasma, onde se une na forma férrica a uma proteína carreadora, a transferrina (globulina fixadora de ferro), que o transporta para células que dele necessitam para síntese do heme, basicamente os eritroblastos e reticulócitos. A transferrina une-se aos receptores específicos da membrana nessas células. O ferro, reduzido para o estado ferroso, é incorporado ao heme ou armazenado como ferritina. Este é um complexo de uma proteína hidrossolúvel (apoferritina) e hidróxido ferroso. Os macrófagos do sistema reticuloendotelial também armazenam ferro como ferritina, proporcionando, assim, uma reserva desse metal essencial. Parte da ferritina é aí degradada até uma forma insolúvel, a hemossiderina, que também pode fornecer ferro quando necessário. A ferritina é encontrada no plasma normal, assim como em certos órgãos como o fígado, o baço e o coração. A reciclagem do ferro é muito eficaz, porém pequenas quantidades são perdidas continuamente, em grande parte pela descamação da mucosa intestinal. Cerca de 1 mg de ferro / dia deve ser ingerido diariamente por um adulto normal. A absorção do ferro se processa nas células mucosas do duodeno e do jejuno. A quantidade de ferro absorvida é feita em quantidade suficiente para compensar a que foi perdida pelo organismo. Leucócitos O sangue normal contém entre 4000 e 100000 leucócitos em cada microlitro. Dessas células, aproximadamente 40 % a 75 % são neutrófilos; 20 % a 45 % são linfócitos; 2 % a 10 % são monócitos; 1 % a 6 % eosinófilos e menos que 1 % basófilos. Neutrófilos, eosinófilos e basófilos são descritos de maneira coletiva como granulócitos, são diferenciados pela natureza dos grânulos em seu citoplasma. Os neutrófilos possuem núcleos com 2 a 5 lobos e uma grande quantidade de minúsculos grânulos no citoplasma. Parte desses grânulos, denominados primários, contêm inúmeras enzimas, entre as quais a lisozima, enzima que digere as paredes de certas bactérias, e uma peroxidase que reduz o peróxido de hidrogênio. Ainda em maior quantidade, se encontra os grânulos secundários ou específicos que contêm uma proteína fixadora de ferro (lactoferrina), uma proteína catiônica bactericida e uma proteína fixadora de vitamina B 12 . Dentro de 12 horas ou menos após seu lançamento na corrente sanguínea pela medula óssea, os neutrófilos migram para os tecidos extravasculares onde sobrevivem por 4 ou 5 dias. A atração dos neutrófilos para os locais de lesão nos tecidos extravasculares é feita por agentes quimiotáxicos, entre eles os agentes liberados por microrganismos ou pelos tecidos lesados, pelos componentes do sistema de coagulação e do complemento. Os neutrófilos compõem uma das principais defesas contra a infecção por bactéria. Os mecanismos para destruição das bactérias começam com a fixação da bactéria a superfície do neutrófilo. Esse processo é mediado pela fibronectina e por opsoninas dos anticorpos e do complemento que estão aderidas a superfície bacteriana. Pseudópodos extruídos pelos neutrófilos circundam as bactérias aderidas e as envolvem formando vacúolos, os fagossomas, um processo denominado fagocitose. As bactérias são destruídas nesses vacúolos por enzimas liberadas pelos grânulos neutrofílicos que se fundem as membranas que revestem os fagossomas. Um aumento brusco dessas células constitui uma resposta característica a infecção por microorganismos. Esse aumento é causado tanto pela mobilização de neutrófilos do reservatório marginal (principalmente, baço e fígado) quanto pela estimulação da produção dessas células. Uma lesão tecidual não-bacteriana, por exemplo, um infarto do miocárdio também é acompanhado de uma leucocitose. Os eosiófilos possuem em sua grande parte, núcleos com dois lobos e contém no seu citoplasma grandes grânulos. Quando liberado na corrente sanguínea, a maioria dos eosinófilos migra, dirigido por agentes quimiotáxicos, dentro de 30 minutos, para os tecidos extravasculares, onde sobrevivem por 8 a 12 dias. Os eosinófilos são células fagocíticas e destroem os organismos por mecanismos oxidativos semelhantes (porém não idênticos) aos neutrófilos. Infestações parasitárias do tipo triquinose e esquistossomose ou certos estados alérgicos ou de hipersensibilidade (p.ex, asma), aumentam a presença dessas células no sangue periférico. Os basófilos possuem núcleos multilobado e grandes grânulos citoplasmáticos e são células móveis e fagocíticas. Após migrarem para os tecidos extracelulares podem ser estimulados por complexos de antígenos aderidos a imunoglobulina E (IgE) e que reagem com receptores específicos para IgE na superfície dos basófilos. As células estimuladas podem liberar histamina de seus grânulos para os tecidos circundantes e isso produz resposta anafilática sistêmica explosiva ou dilatação local e aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos, resultando num edema local. Como os basófilos, os mastócitos podem ser responsáveis podem ser responsáveis por alguns fenômenos associados a reações imunológicas localizadas. Por estimulação apropriada, os mastócitos também liberam histaminas de seus grânulos, produzindo reações imunológicas agudas ou vergões localizados. Os monócitos são maiores que os outros leucócitos, possuem diâmetro médio em torno de 15 a 20 m e apresentam núcleo entalhado (normalmente na forma de um rim) e minúsculos grânulos citoplasmáticos. Os monócitos são liberados para corrente sanguínea pela medula óssea. Após 1 ou 2 dias, migram para os tecidos, particularmente o fígado, baço, gânglios linfáticos e os pulmões. Aí, eles formam macrófagos do sistema reticuloendotelial, células com múltiplas funções que podem replicar-se in situ. Os monócitos e os macrófagos são células móveis, altamente fagocíticas, capazes de ingerir inúmeras partículas, incluindo microrganismos, células lesadas ou mortas e proteínas desnaturadas. Os monócitos também participam da resposta imune. Os linfócitos são células com grandes núcleos e a quantidade de citoplasma (sem presença de grânulos- exceção é a célula matadora natural) depende de seu tamanho, que varia de 6 a 20 m de diâmetro. Alguns linfócitos, denominados células B, são reconhecidos pela presença de imunoglobulinas na sua superfície. Quando estimuladas por antígenos, as células B são transformadas em plasmócitos que sintetizam e secretam as imunoglobulinas específicas que atuam como anticorpos. Outros linfócitos, denominados de células T , tem entre outras funções aquela de controlar (estimular / inibir) a transformação de linfócitos B em células produtoras de anticorpos. Alguns linfócitos não possuem características dos linfócitos T nem B e são descritos como células nulas. Algumas dessas células, denominadas de células matadoras naturais, conseguem destruir alguns tipos de células tumorais, células infectadas por vírus, células teciduais recobertas com anticorpo. Plaquetas As plaquetas são fragmentos citoplasmáticos anucleados de megacariócitos (grandes células poliplóides encontradas na medula óssea). Desempenham o importante papel de controlar o sangramento e na gênese da trombose (formação de coágulos dentro dos vasos sanguíneos). 3. A bomba cardíaca. O miocárdio é um tecido excitável de estrutura complexa, porque é tridimensional e porque suas células não têm propriedades elétricas uniformes em todas as regiões do órgão. Apesar disso, os impulsos elétricos podem espalhar-se pelo coração. A onda elétrica propagada serve para promover a contração das fibras miocárdicas, fazendo funcionar a eficiente bomba cardíaca. O coração é composto, na verdade, por duas bombas que se dispõe em série: o coração direito e o coração esquerdo. O coração direito fornece energia ao sangue para circular pelos pulmões e o esquerdo se encarrega de promover o movimento desse fluido através da grande circulação. A bomba cardíaca é um sistema eletromecânico. O ritmo cardíaco é gerado eletricamente no nódulo sinusal, onde na sua zona central são gerados impulsos elétricos. O acoplamento intercelular permite que elas funcionem de modo sincronizado e por esse motivo, o potencial marcapasso é gerado simultaneamente em todas as células centrais e é denominado de potencial de ação de membrana. Esse potencial, que não se propaga entre as células centrais, excita as células periféricas do nódulo e se transforma num potencial de ação propagado, de pequena velocidade (1 a 11 cm / s). Ao passar para células atriais ele ganha amplitude e velocidade (60 cm / s), e se espalha pelas paredes atriais até alcançar o anel valvar e o nódulo atrioventricular. Após percorrer o nódulo AV atinge o feixe de Hess, ganha velocidade (100-200 cm /s) e, através dele, chega aos ventrículos. A passagem pelo nódulo atrioventricular se faz de forma lenta (5 a 10 cm / s). A ativação mecânica do coração é sincronizada eletricamente pela ativação / desativação dos ventrículos produzindo força de contração miocárdica efetiva para expulsar o sangue em direção as artérias. O potencial de ação cardíaco. O potencial de ação do miocárdio se distingue do potencial de ação do nervo por possuir um longo platô de despolarização que determina a sua duração (150 a 500 ms). Esse potencial se caracteriza por possuir quatro fases: a fase 0 corresponde a despolarização da célula; a fase 1 , uma rápida, precoce e incompleta repolarização; a fase 2 , também chamada de platô , corresponde ao tempo durante o qual a célula permanece despolarizada e o seu potencial mantem-se quase constante; a fase 3 é a fase de repolarização propriamente dita, pois, durante esse intervalo de tempo, a célula recupera o nível inicial do potencial de repouso; a fase 4, finalmente, é aquela que corresponde a diástole elétrica. Com exceção das células nodais e das fibras de Purkinje, as células cardíacas são capazes de manter um potencial de membrana constante durante essa fase. A figura mostra as fases do potencial de ação cardíaco. O potencial de ação cardíaco é composto de dois componentes, que podem ser separados e cada resposta pode propagar-se isoladamente. O componente rápido muito se assemelha ao potencial de ação do nervo. Sua despolarização depende essencialmente da entrada de sódio pelos canais de cinética rápida. O componente lento é um tipo de resposta elétrica característica das células miocárdicas, apresenta uma taxa de despolarização muito menor do que aquela do componente rápido e sua velocidade de propagação no tecido cardíaco é pequena. Os potenciais de ação no coração apresentam formas diferentes (tipos A, B e C), dependendo da região onde a propagação ocorre. Os potenciais do tipo A são encontrados no miocárdio de trabalho e de condução ventricular. São caracterizados pela presença de componente rápido bem desenvolvido que é responsável pela amplitude do potencial de ação. Os potenciais do tipo B observados nos SA e AV, são caracterizados por ter o componente rápido pouco desenvolvido e a amplitude desses potencias é dada pela intensidade do componente lento. Os do tipo C não têm componente rápido e são encontradas nas células nodais. A condutância da membrana da célula do miocárdio varia durante a atividade elétrica aos íons sódio, potássio e cálcio. Após um estímulo despolarizante e supralimiar a condutância ao íon sódio aumenta cerca de 30 vezes em relação aquela do íon potássio. Contudo, ela não se mantém elevada, devido à inativação dos canais de sódio. Durante o platô, a membrana ainda apresenta uma permeabilidade aumentada para o sódio, que penetra na célula pelos canais lentos. Somente com a completa repolarização é que a condutância ao sódio retorna ao seu valor de repouso. A condutância da membrana ao íon potássio, apresenta um comportamento diferente daquele observado no nervo. Na célula cardíaca, a condutância da membrana reduz-se temporariamente, em resposta a despolarização. Essa diminuição da corrente transportada pelo potássio para fora da célula colabora para manter a célula despolarizada. Com o passar do tempo, no entanto, a condutância ao potássio retorna ao seu valor de repouso. Nesse instante ocorre um grande fluxo de saída de potássio, movido gradiente eletroquímico favorável a saída desses íons. A saída do íon potássio contribui para negativar o citoplasma, produzindo, assim, a repolarização das células. A condutância da membrana ao íon cálcio, muito pequena no potencial de repouso, aumenta discretamente durante o platô. Esse pequeno aumento da condutância ao íon cálcio permite que ocorra um grande influxo desse íon, em virtude do seu elevado gradiente de concentração (com uma alta concentração extracelular e baixa no interior da célula). As células marcapasso, encarregadas de promover a auto-estimulação do coração, e portanto o seu ritmo, são caracterizadas pela variação contínua do potencial de membrana durante a diástole elétrica (fase 4), fenômeno denominado despolarização diastólica lenta(DDL) , que ocorre devido a uma progressiva redução da permeabilidade da membrana ao íon potássio (ver figura). Como o efluxo de potássio diminui, o influxo lento dos íons sódio e cálcio despolarizam lentamente a célula e conduz o potencial de membrana até o limiar de excitação. Quanto maior for a taxa de variação da DDL maior será a freqüência de disparo das células marcapasso. Esses potenciais são encontrados principalmente nos nódulos e nas bordas do anel valvar e vários estudos mostraram que, dessas células as que possuem maior freqüência intrínseca são as do nódulo AS, depois delas em ordem decrescente estão as células do nódulo AV , feixe de His e fibras de Purkinje. O acoplamento excitação-contração permite o funcionamento do coração como uma bomba eletromecânica. Esse fenômeno ocorre em várias etapas, inicia-se com o potencial de ação cardíaco que ao se propagar pelo sarcolema do miocárdio, também se propaga para o interior das células pelos túbulos T (invaginações das fibras cardíacas nas regiões das linhas Z). Devido à presença desse potencial, íons cálcio podem entrar, via canais, no interior da célula miocárdica tanto pelos túbulos T como pelo sarcolema. Esses íons cálcio não são suficientes para induzir a contração das miofribilas, mas serve como um ativador para liberar íons cálcio das suas reservas intracelulares , o retículo sarcoplasmáticos. A concentração de íon cálcio livre no citosol aumenta cerca de duas a três ordens de grandezas, durante a atividade elétrica do miocárdio, e isto permite sua ligação a troponina C. O complexo íon cálcio- troponina interage com a tropomiosina para desbloquear os locais ativos entre os filamentos de actina e miosina. Essa interação permite a contração das miofibrilas (sístole). O relaxamento das miofibrilas (diástole) ocorre como uma conseqüência da captação do íon cálcio pelo retículo sarcoplasmático, através da bomba de cálcio e a eliminação do íon cálcio intracelular pelo trocador eletroneutro sódio-cálcio. 4. Hemodinâmica O problema de tratar o fluxo sanguíneo, ao longo do sistema circulatório, em termos formais (matemáticos) precisos é muito difícil. O coração é uma bomba bastante complexa e seu comportamento é influenciado por inúmeros fatores físico-químicos. Os vasos sanguíneos são condutos elásticos auto-reguláveis e com múltiplas ramificações. O sangue é uma suspensão de glóbulos vermelhos e brancos, de plaquetas e de glóbulos lipídicos suspensos em solução coloidal de proteínas. Apesar desses fatores complicadores, pode-se obter considerável compreensão do seu funcionamento através do entendimento dos princípios básicos da mecânica dos líquidos ou hidrodinâmica. Velocidade da corrente sanguínea A velocidade (V) de um líquido num conduto de área de secção transversal A quando sujeito a um fluxo estacionário J , é dado pela seguinte expressão: V= J / A A velocidade de um líquido em qualquer ponto de um conduto depende do fluxo e da área da secção transversal da via de condução. O fluxo depende do gradiente de pressão, das propriedades do líquido circulante e das dimensões de todo sistema hidráulico. A velocidade de um líquido ao passar por um tubo de área de secção transversal variável varia inversamente com a área da secção transversa. Isto ocorre para manter o fluxo constante. Esta regra é válida independente do aumento de área de secção transversal ocorrer devido ao aumento do diâmetro de único tubo ou pela presença de vários tubos menores em paralelo. No sistema circulatório a velocidade do sangue diminui progressivamente quando o sangue flui da aorta pelas artérias e arteríolas até atingir um valor mínimo nos capilares. Observe que apesar de individualmente os capilares terem menor secção transversal, devido ao grande número dessas vias, a área da secção transversal do conjunto de vias aumenta e portanto a velocidade do sangue diminui. Quando o sangue passa pelas vênulas em direção a veia cava, a velocidade novamente aumenta progressivamente. Desta forma, é possível explicar o comportamento do fluxo sanguíneo fazendo uso da dinâmica dos fluidos. É óbvio que esta abordagem é muito simplista e não visa explicar processos reguladores do fluxo sanguíneo. Relação entre pressão e velocidade Numa região de um sistema hidráulico onde a energia total permaneça praticamente constante, a pressão depende da velocidade, como segue: Pd = V2 / 2, onde é a densidade do líquido e V a sua velocidade. A pressão P d na expressão acima se refere ao componente dinâmico da pressão total. A pressão total num local do interior de um conduto por onde flui um líquido é a soma da pressão lateral ou estática mais um componente de pressão associado à energia cinética do líquido que flui (componente dinâmico). Considere um tubo mais estreito na região central e de um mesmo diâmetro maior nas regiões laterais. Se forem introduzidos, perpendicularmente as suas paredes, nas três regiões tubos de Pitot (sondas para medir pressão) até atingirem o mesmo nível do tubo, as mesmas pressões serão registradas nas duas regiões laterais e uma pressão menor será observada na região central. No entanto, se a pressão estiver sendo registrada com as extremidades dos tubos de Pitot colocados paralelamente as paredes do tubo (considerando-se a perda de energia devido a viscosidade negligenciável) as pressões nas três regiões serão iguais. Portanto, na região mais estreita o componente dinâmico da pressão ( V2 / 2), deve ser maior que nas regiões laterais. Desta forma, quanto maior a velocidade do fluído circulante maior a pressão dinâmica no interior do tubo. A pressão medida pode variar significativamente, dependendo da orientação da sonda de pressão. Na aorta torácica descendente, a velocidade máxima é aproximadamente metade daquela na aorta ascendente e velocidades menores ainda podem ser registradas nas regiões arteriais mais distais. Desta forma, a pressão dinâmica varia nessas diferentes regiões da circulação sanguínea. Nas diferentes regiões arteriais, os componentes dinâmicos das pressões são desprezíveis e nesse caso a orientação da sonda de pressão não influenciará a pressão registrada. No caso de uma constrição, o componente da pressão dinâmica pode atingir valores substanciais. Relação entre pressão e fluxo A pressão P a uma distância de h abaixo da superfície de um líquido é P = gh onde é a densidade do líquido, considerado aqui homogêneo, e g é aceleração da gravidade. Para qualquer que seja a diferença de pressão entre as duas extremidades de um tubo, o fluxo dependerá das dimensões do tubo. A lei que governam o fluxo de líquidos por tubos cilíndricos, foi derivada empiricamente, há mais de um século, por Poisseuille, um médico francês. As suas observações recebem o nome de leis de Poisseuille. Esses estudos de Poisseuille, basicamente mostraram que: 1. O fluxo é diretamente proporcional a diferença de pressão entre dois pontos do tubo onde o líquido flui ou seja : J - P. 2. O fluxo é inversamente proporcional ao comprimento do tubo, ou seja: J 1/ L, onde L é o comprimento do tubo. 4. O fluxo é diretamente proporcional a quarta potência do raio do tubo, ou formalmente: J R 4 , onde R é o raio do tubo. 5. O fluxo de um líquido homogêneo num tubo cilíndrico varia inversamente com a sua viscosidade . Em resumo, a lei de poisseuille estabelece que um fluxo laminar, contínuo de um líquido newtoniano por um tubo cilíndrico, relaciona-se com a diferença de pressão e a geometria do tubo e a viscosidade do líquido através da seguinte expressão: J = - P R 4 / 8 L, onde / 8 é uma constante de proporcionalidade. O termo fluxo contínuo significa que o fluxo não varia no tempo. Fluxo laminar refere-se a um tipo de movimento no qual o líquido se move como uma série de camadas individuais, cada camada se movendo com velocidade diferente de suas camadas vizinhas. No caso do fluxo laminar no interior de um tubo, o líquido flui como se fosse tubos concêntricos com paredes infinitesimalmente finas deslizando uns sobre os outros. Líquidos newtonianos são líquidos homogêneos e não-newtonianos são líquidos nãohomogêneos (como o sangue). É interessante observar que a aplicação da lei de Poisseuille ao fluxo sanguíneo é simplesmente um modelo aproximado da realidade, uma vez que o sangue é um líquido não-newtoniano e o seu fluxo nem sempre é contínuo e, também, considerar-se o fluxo sanguíneo laminar é uma aproximação bastante grosseira. Resistência ao fluxo A resistência hidráulica é definida pela razão entre a queda de pressão e o valor fluxo, ou seja: R = (Pi – Pe ) / J Para um fluxo laminar, contínuo, de um líquido newtoniano por um tubo cilíndrico, a lei de Poisseuille pode ser aplicada e neste caso a resistência pode ser expressa em função da viscosidade do líquido e da geometria do tubo, como segue: R = 8 L / r 4. Portanto, quando se aplica a lei de Poisseuille, resistência hidráulica ao fluxo depende apenas das dimensões do tubo e das características do líquido. O principal determinante da resistência ao fluxo sanguíneo por qualquer vaso individual, no sistema circulatório, é o seu calibre. A resistência ao fluxo sanguíneo nos pequenos vasos do mesentério do gato foi medida. A resistência é maior nos capilares e diminui quando os vasos aumentam de diâmetro nas partes arteriais e venosas. Os valores de R / L são, aproximadamente, inversamente proporcionais a quarta potência do diâmetro para os vasos maiores nos dois lados dos capilares. É interessante notar que a lei de Poisseuille descreve bem o comportamento da resistência ao fluxo sanguíneo oferecidas pelos vasos do sistema circulatório. Alterações das resistências vasculares, provocadas por estímulos naturais, ocorrem por variações de seus raios. Essas alterações são obtidas pelo grau de contração das células musculares lisas que circulam as paredes dos vasos. As alterações da pressão interna também alteram a resistência ao fluxo sanguíneo por esses vasos. Resistências hidráulicas em série e em paralelo Resistências em série: a característica de resistências hidráulicas associadas em série é que o fluxo deve ser o mesmo em qualquer um dos componentes do sistema e a soma das quedas de pressão de cada componente do sistema deve ser igual a queda total de pressão no sistema. Desta forma, a resistência total (R t) deve ser igual a soma de cada resistência que compõe o sistema. Se o sistema é constituído por três resistências hidráulicas R 1, R2 e R3 , então Rt = R1 + R2 + R3. A demonstração da afirmativa acima é bastante simples. Sabe-se que a queda total de pressão é igual a soma das quedas de pressão de cada componente do sistema: Pi –Pe = (Pi - P1 ) + (P1 – P2 ) + ( P2 – Pe) (1) Dividindo-se a expressão (1) pelo fluxo, obtém-se: ( Pi –Pe ) / J = (Pi - P1 ) / J + (P1 – P2 ) / J + ( P2 – Pe) / J . Portanto Rt = R1 + R2 + R3. Resistências em paralelo: o que caracteriza resistências hidráulicas em paralelo é que a queda de pressão é a mesma em todos os tubos e o fluxo total é igual a soma dos fluxos individuais. Como base nessas características pode-se mostrar que: 1/Rt = 1/ R1 + 1/ R2 + 1/ R3. Fluxo turbilhonar O fluxo laminar como definido anteriormente, é caracterizado pelo movimento do líquido em camadas individuais, onde cada camada se move com velocidade diferente de suas camadas vizinhas. No caso do fluxo laminar no interior de um tubo, o líquido flui como se fosse tubos concêntricos com paredes infinitesimalmente finas deslizando uns sobre os outros. O fluxo turbilhonar é caracterizado pelos movimentos irregulares do líquido. Nesse caso, o líquido não permanece se movendo restrito as diferentes lâminas, porém ao contrário ocorre uma rápida mistura radial desse líquido. É necessária uma pressão muito maior para fazer fluir um líquido em condição de turbilhonamento que numa condição laminar. O número de Reynold ( NR) permite prever se haverá fluxo turbilhonar ou laminar num tubo sob determinadas condições. Esse número que está relacionado com a presença de forças inerciais e viscosas no fluido é calculado pela seguinte expressão: NR = D Vm / , onde D é o diâmetro do tubo , Vm é a velocidade média, é a densidade e é a viscosidade do líquido. Para NR < 2000, o fluxo será em geral laminar e para NR > 3000 haverá geralmente turbilhonamento. Na faixa de transição haver desenvolvimento de várias condições intermediárias.É interessante observar que grandes diâmetros e baixas viscosidades predispõem ao desenvolvimento de turbilhonamento. No sistema cardiovascular o fluxo turbilhonar pode ser detectado por um som (sopro) e são usados na clínica. Na anemia grave, os sopros cardíacos funcionais (não causados por anormalidades estruturais) são freqüentemente detectáveis. A base física para esses sopros reside diminuição da viscosidade sanguínea causada pelo baixo conteúdo de hemácias e nas altas velocidades do fluxo associadas ao aumento significativo do débito cardíaco, que geralmente ocorre nos pacientes anêmicos.