MESTRADO EM ECONOMIA E POLÍTICA DA ENERGIA E DO AMBIENTE 2006/2007 2º TRIMESTRE ECONOMIA DOS RECURSOS NATURAIS E DO AMBIENTE ISABEL MENDES I ECONOMIA DOS RECURSOS NATURAIS 1. Recursos Naturais e Conceito de Capital Natural 2. A Gestão dos Recursos Naturais Renováveis 2.1 Análise Económica do Uso dos Recursos Renováveis de Propriedade Comum e de Livre Acesso 2.2 Análise Económica e Ecológica do Uso dos Recursos Renováveis de Propriedade Comum e de Livre Acesso 2.3 A Gestão dos Recursos Renováveis 3. A Gestão dos Recursos Naturais Não- Renováveis 3.1 A afectação Óptima Intertemporal dos Recursos NãoRenováveis 3.2 Análise Económica do Uso dos Recursos Naturais NãoRenováveis 3.3 A Gestão dos Recursos Não-Renováveis: A Economia de Reciclagem 3. A GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS NÃO – RENOVÁVEIS 3.1 A afectação Óptima Intertemporal dos Recursos Não-Renováveis Que quantidade podemos usar no presente? Hipóteses de Base do Modelo de Afectação Intertemporal: • Quantidade limitada de recursos; • Dois períodos de tempo: presente (período 1) e futuro (período 2); • Concorrência Perfeita no mercado do recurso. ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 2 1. A Situação de Equilíbrio no momento presente Pd = 150 − 0.25Q1 inversa da procura ; Ps = 50 + 0.25Q1 inversa da oferta ; BML1 = Pd − Ps = 100 − 0.5Q1 beneficio marginal liquido Preço 150€ Ps=S P*=100€ Pd=D 50€ Q*=200 Quantidade FIGURA 1 Equilíbrio Estático do Mercado no presente ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 3 BML 100€ BML1= 100-0.5Q BST Q*=200 Quantidade FIGURA 2 BML e BST do Uso do Recurso Q 1* : P d = P s 2. O Equilíbrio Dinâmico com Dois Períodos HIPÓTESE: • O BM1 é igual BM2; • O stock existente de recurso deve ser consumida nos dois períodos ERNA 2006/2007 Q = 250 unidades fisicas ; Isabel Mendes 4 BML1 = VA BML [ ] n 2 • (1 + ρ ) . Sendo: B M L1 = 100 − 0 . 5 Q 1 e assumindo que: ρ = 7.25%: n =10 anos então: V A [ B M L2 ] = B M L1 (1 + ρ ) n = 1 0 0 − 0 .5Q 2 (1 + 0 . 0 7 2 5 ) 10 = 1 0 0 − 0 .5 Q 2 2 BML 100€ BML2= 100-0.5Q BML1= 100-0.5Q 100€ VA(BML2 )= 100-0.5Q 25€ 25€ Q1 → Q1=50 Q*1=150 Q1=200 Q2=200 Q*2=100 Q2=50 ←Q2 FIGURA 3 Afectação do Recurso nos Dois Períodos ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 5 Q1* ,Q2* : BML1 = VA[ BML2 ] e Q1 + Q2 = Q Resolvendo: 100 − 0.5Q2 * Q = 150 100 0 5 . Q − = 1 * * 1 Q1 ,Q2 : ⇔ * 2 Q2 = 100 Q1 + Q2 = 250 O Benefício Total da sociedade = área A + área B é maximizado: BML 100€ 100€ BML1 VA(BML2 ) 50€ A 25€ Q1 → B Q1=50 Q*1=150 Q1=200 Q2=200 Q*2=100 Q2=50 ←Q2 FIGURA 4 Afectação Óptima Intertemporal e Benefício Total ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 6 Suponhamos que Q1* = 200 e Q2* = 50 : o benefício social seria maior do que o anterior? BML 100€ 100€ BML1 VA(BML2 ) 50€ A1 B2 B1 A2 Q1 → Q1=50 Q*1=150 Q1=200 Q2=200 Q*2=100 Q2=50 ← Q2 FIGURA 4 Afectação Óptima Intertemporal e Benefício Total Na nova situação, ganha-se a área A2 e perde-se B2. Como B2 > A2 o benefício total é inferior ao da situação de equilíbrio dinâmico. Qualquer outra situação é sempre pior do que a situação de equilíbrio. ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 7 3. O Equilíbrio Dinâmico com Dois Períodos e Custos de Utilização Q = 250; • Considere-se novamente que • Se o recurso fosse usado no presente sem considerar o futuro ⇒ Q1 = 200 ⇒ sobrariam 50 unidades ( Q − Q1 = 250 − 200 = 50 ) para serem consumidas no futuro (ver FIGURA 1) ; • E se recurso fosse usado apenas no futuro ⇒ Q2 = 200 ⇒ sobrariam 50 unidades ( Q − Q 2 = 250 − 200 = 50 ) (ver FIGURA 3). Isto quer dizer que se se consumirem apenas 50 unidades (no presente ou no futuro) não há nenhum custo de utilização intertemporal. Mas se Q1 > 50, já se está a impor um custo de utilização às gerações futuras (estamos a privar as gerações futuras de parte do consumo que elas pretendem) ⇔ preço sombra de ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 8 utilização no presente de recursos que deveriam ser usados no futuro para satisfazer as necessidades futuras ⇔ EXTERNALIDADES TEMPORAIS. Poderemos então concluir que, no momento presente, não se pode ultrapassar o consumo de Q1 = 50, sob pena de se estar a impor um custo às gerações futuras? A Economia diz que esta solução não seria a eficiente, apesar de ela não incluir as externalidades temporais. A eficiência económica diz que o recurso deve ser usado no momento presente até que os benefícios de utilização no presente sejam iguais aos custos externos intertemporais. Voltemos à situação de equilíbrio dinâmico representada na FIGURA 3; • Na situação de equilíbrio, Q * 1 = 150 ⇒ ⇒ custo do utilizador = B M L1 ( Q 1* ) = 1 0 0 − 0 .5 ( 1 5 0 ) = 2 5 = = V A B M L 2 ( Q 2* = 1 0 0 ) = 5 0 − 0 .2 5 ( 1 0 0 ) = 2 5 ERNA 2006/2007 Isabel Mendes ; 9 Ou seja: no equilíbrio dinâmico, o custo externo de utilização do recurso no presente é 25 que é também igual ao benefício marginal da sua utilização no momento presente. Que implicações tem a inclusão dos custos externos intertemporais sobre o equilíbrio estático (definido na secção 1 – FIGURA 1 )? Os custos externos intertemporais têm de ser adicionados aos custos económicos normais de exploração do recurso ⇒ alteração da curva de oferta do recurso representada na FIGURA 1 ⇒ um novo equilíbrio no mercado do recurso no presente (FIGURA 5) e no consumo no futuro (FIGURA 6): ( ) *' *' ) No presente: Q1 = 150; P Q1 = 112.5€ ; ( ) = 125€ ) No futuro: Q2 = 100;P Q2 *' ERNA 2006/2007 *' Isabel Mendes 10 Preço S’ com custos de utilizador= Custo Social 150€ S EC P*=112.5 P*=100 D EP 50 Q1*=50 Q1*’=150 Q1*=200 Quantidade FIGURA 5 Equilíbrio Dinâmico do Mercado do Recurso no Presente Preço 150€ P2*’=125€ D 50€ Q2*’=100 Quantidade FIGURA 6 Equilíbrio no Mercado no Futuro ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 11 Podemos calcular os equilíbrios dinâmicos nos dois períodos, com os custos exernos intertemporais, usando as funções procura e oferta de mercado originais procedendo da seguinte forma: 1º) Calcular o equilíbrio dinâmico no mercado do recurso sem custos externos intertemporais: * BML1 = VA ( BML2 ) 100 − 0.5Q1 = 50 − 0.25Q2 Q1 = 150 ⇔ ⇔ * Q2 = 100 Q1 + Q2 = 250 Q1 + Q2 = Q ( BML1 ( Q1* ) = 100 − 0.5 × 150 = 25 = VA BML2 ( Q2* ) 2º) ); Cálculo dos custos externos intertemporais associados ao consumo no presente: Custo Externo = BML1 ( Q1* ) = 25 ; 3º) Cálculo do novo equilíbrio dinâmico com custos externos: PD' = 150 − 0.25Q1; PS' = Ps + custo marginal = ( 50 + 0.25Q1 ) + 25 = 75 + 0.25Q1 Q1*' : PD' = PS' ⇔ 150 − 0.25Q1 = 75 + 0.25Q1 ⇔ ⇔ Q1*' = 150; P1*' = 112.5; Q2*' = 100; P2*' = 150 − 0.25( 100 ) = 125 Os custos externos intertemporais, podem ser internalizados nas decisões das empresas de várias formas: • Aplicando às empresas uma taxa de exploração do recurso semelhante à taxa de poluição; • Controle directo da exploração por parte do governo. ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 12 4. O Equilíbrio Dinâmico com n Períodos – a Regra de Hotelling Em vez de 2 períodos temporais vamos considerar n períodos, por exemplo n = 10. Como calcular a quantidade de recursos que podemos consumir ao longo deste período de tempo? Nesta situação, a taxa de desconto tem um papel fundamental na decisão: • Se ρ = 0 ⇒ o consumo no presente tem o mesmo valor do consumo no futuro ⇒ os consumos intertemporais são repartidos em partes iguais ao longo do tempo, até se esgotar o recurso; • Se ρ > 0 ⇒ o consumo no presente é mais valorizado do que o consumo no futuro ⇒ consome-se mais no presente do que no futuro. Ver no QUADRO 1 um exemplo dos efeitos das várias ρ nos consumos intertemporais. ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 13 QUADRO 1 Taxa de desconto(%) (1 + ρ ) 10 Q1 Q1 0 1.0 125 125 2 1.2 132 118 5 1.6 143 107 7.5 2.0 150 100 10 2.6 158 92 15 4.0 170 80 20 6.2 179 71 50 57.7 198 52 Em geral, quanto maior for a taxa de desconto, maior é o peso dos benefícios no presente e menor os do futuro. ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 14 A relação entre a taxa de desconto e o preço do recurso não-renovável: A decisão do agente económico sobre a exploração/não exploração do recurso é feita através da comparação entre o preço líquido do recurso no presente ( = π0) e o valor actual do preço líquido do recurso no futuro ( = VA (π1) ), dependendo este último do valor de ρ que é igual à taxa de juro de mercado r (taxa de referência usada pelo agente): • Se π0 + r > VA (π1 ) ⇒ maior ganho com a exploração do recurso no presente, investindo posteriormente os ganhos ⇒ ↑ da exploração no presente; • Se π0 + r = VA (π1) ⇒ o ganho com a exploração do recurso no presente mais o investimento destes ganhos = aos ganhos no futuro obtidos com a exploração do recursos ⇒ é indiferente explorar agora o recurso ou preservá-lo para o futuro; ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 15 • Se π0 + r < VA (π1) ⇒ menor ganho com a exploração do recurso no presente ⇒ é mais lucrativo manter os reservas no presente para as explorar no futuro ⇒ ↓ da exploração no presente. Assim sendo, qual é a regra de equilíbrio intertemporal, a longo prazo, para a exploração do recurso? REGRA DE HOTELLING ⇒ em equilíbrio, a taxa de crescimento do preço líquido do recurso ao longo do tempo deve ser igual à taxa de desconto (ou seja, à taxa de juro do mercado). Ou seja, em termos genéricos e para o período t: • Pt =ρ Pt . Aplicando a Regra de Hotelling a apenas dois períodos como no exemplo: (P 2 ERNA 2006/2007 − P1 ) =ρ P1 Isabel Mendes 16 5. A Teoria Económica do Uso do Recurso Não-Renovável Qual é a taxa de exploração do recurso compatível com a eficiência económica? Seja: • mercado de um recurso não-renovável competitivo ⇒ a empresa é price taker; todavia, ela pode controlar a quantidade de recurso que vende para o mercado; • p = preço de mercado do recurso; Q = quantidade extraída e vendida do recurso; • Q*: p = CMg(Q); mas neste tipo de mercado, a empresa extractora típica opera com um output cujo preço é superior ao custo marginal de extracção ⇒ π >0 (FIGURA 7); ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 17 Preço CMg(Q ) P* π = p − CMg( q ) qt Output no período t • CMg(Q) é crescente ⇒ • dCMg( Q ) >0; dQ O valor actual dos fluxos de lucros de exploração ao longo do tempo são dados por: VA[π ] = π 0 + π1 π2 + (1+ r ) (1+ r ) + 2 π3 (1+ r ) + ... + 3 πn (1+ r ) n O objectivo da empresa é maximizar os fluxos de lucros de exploração intertemporais o que implica que: π0 = π1 = π2 (1+ r ) (1+ r ) ERNA 2006/2007 = 2 π3 (1+ r ) Isabel Mendes 3 = ... = πn (1+ r ) n 18 Se todas as empresas que exploram o recurso operarem de acordo com este princípio de maximização, então os lucros crescerão de acordo com o estipulado pela REGRA DE HOTELLING ⇒ equilíbrio económico dinâmico na exploração do recurso não-renovável, ao longo do período n. A justificação económica para que tal aconteça é a seguinte: ) enquanto a exploração for lucrativa no presente ⇒ ↑ exploração no presente ⇒ ↓ p no presente e ↓ das reservas económicas ⇒ ↑ Valor esperado do preço no futuro; ) este processo continua, até que a regra de Hotelling seja satisfeita. Factores que têm afectado a evolução dos preços do recurso e sua exploração: ) a descoberta continuada de novas reservas; ) melhoria da tecnologia de extracção de recursos; ) substituição de recursos. ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 19 A teoria económica de exploração de recursos nãorenováveis é compatível com a preservação dos stocks? • A teoria implica que qualquer recurso pode ser usado até à sua exaustão; • Apesar de existir um choke price para o recurso, quando este se verificar já as reservas economicamente viáveis do recurso estarão à beira da extinção; • Mesmo que se descubram novas reservas, os custos de extracção serão muito elevados ⇒ continuação dos preços elevados. ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 20 Efeito da internalização dos custos ambientais externos: Se estes custos forem internalizados ⇒ ↑ custos marginais de exploração ⇒ atingir-se o choke price mais cedo e com mais reservas económicas disponíveis (FIGURA 8). Preço Choke price CMgC CMgB CMgA Tempo t Figura 8 ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 21 3.3 A Gestão dos Recursos Não- Renováveis: a Economia da Reciclagem Teoricamente, a reciclagem pode aumentar temporalmente a oferta de reservas de recursos. No entanto existem limites económicos e físicos. ) Limites Físicos: Segunda lei da termodinâmica1 ⇒ em todos os processos físicos de transformação, existe degradação da energia de um estado viável para outro estado não – viável ⇒ a entropia aumenta à medida que os processos físicos de transformação continuam ⇒ degradação. ⇓ Não há reciclagem total: haverá sempre perda/degradação de materiais durante os processos de fabricação, uso e reciclagem. 1 A 1ª Lei da Termodinâmica diz que nem a matéria nem a energia podem ser criadas (a penas a matéria pode ser transformada em energia por processos nucleares) ⇒ todos os processos físicos, incluindo os económicos, podem ser interpretados como processos de transformação de matéria e de energia de um estado para outro. ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 22 ) Limites Económicos: A reciclagem tem custos de produção como qualquer processo produtivo ⇒ é preciso comparar os custos de reciclagem com os custos de utilização dos inputs primários, para determinar o nível de reciclagem economicamente eficiente. A FIGURA 9 mostra a economia da reciclagem na perspectiva do produtor. Custos Totais Custos Priv + Custos Amb Custos Priv Custos Amb e de Depósição Custos dos materiais reciclados 0% 40% Custos dos Inputs virgens 70% 100% Proporção de Inputs Reciclada FIGURA 9 Custos Totais de Reciclagem ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 23 Na FIGURA 9, à medida que aumenta o uso de materiais reciclados: • O custo total dos inputs virgens diminui; • Os custos dos inputs reciclados aumentam; • A quantidade económica eficiente de inputs reciclados e virgens é a que corresponde à minimização dos custos privados totais = 40% (na óptica privada); • A quantidade económica eficiente de inputs reciclados e virgens é a que corresponde à minimização dos custos sociais totais = 70% (na óptica social). ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 24 ANEXO 1. MODELO DE RECURSOS NÃO-RENOVÁVEIS COM DOIS PERÍODOS TEMPORAIS Considere-se: • Dois períodos: Período 1 e Período 2, • S • R t = quantidade de recurso extraída no período t; • P t = a − b R t = inversa da curva de procura de = O stock inicial do recurso; recurso no momento t com t = 1, 2; • Assumimos, por enquanto, que só há custos de extracção privados ⇒ custos sociais de exploração do recurso são iguais aos custos privados de exploração: C ( Rt ) = cRt onde c ≥ 0 = custo marginal de extracção que é constante. ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 25 Representação gráfica da procura do recurso por período (FIGURA A1): P a P = a-bR A Rt a/b R FIGURA A1 Função Procura de Recurso Não-Renovável para o Modelo com Dois Períodos Na FIGURA A1 a área sombreada A = Benefício Social Bruto – B - de se consumir Rt – B(Rt) - no período t, ao preço zero e algebricamente é calculado pelo seguinte integral: B ( Rt ) = ∫ Rt 0 ERNA 2006/2007 b 2 a − bR dR = aR − Rt ( ) t 2 Isabel Mendes 26 O Benefício Social Líquido do consumo de recursos no período t = diferença entre o Benefício Social Bruto do consumo de Rt - B(Rt) – e os Custos de Extracção do recurso – C(Rt) - no período t: BSLt = Bt ( Rt ) − Ct ( Rt ) ⇔ ⇔ BSL ( Rt ) = ∫ Rt 0 ( a − bR ) dR − cR t (1) b = aRt − Rt2 − cRt 2 A taxa de extracção óptima do recurso A que taxa deve ser extraído o recurso? A taxa de extracção deve ser igual à taxa de extracção socialmente óptima. A taxa de extracção socialmente óptima é a que maximiza o bem-estar social intertemporal. Seja: W = W (U0 ,U1 ) ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 27 a função de bem-estar social intertemporal que vai assumir a seguinte forma específica: W = U0 + U1 1+ ρ onde ρ = taxa de desconto da utilidade social = taxa de preferência pelo tempo da sociedade. Assumindo que a utilidade U é medida pelo BLS então o bem-estar social é dado pela seguinte equação: W = BSL0 + BSL1 1+ ρ A taxa de extracção socialmente óptima é uma das soluções do seguinte problema de máximo: m ax W = B S L0 + R 0 ,R1 B S L1 1+ ρ sujeita a: R 0 + R1 = S Usando a Função de Lagrange e o resultado dado pela equação (1) vem: ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 28 L ( R0 , R1 , λ ) = W − λ S − R0 − R1 = b 2 − − aR R cR (2) 0 0 0 b 2 = aR0 − R02 − cR0 + − − − λ S R R 0 1 2 1+ ρ As condições de 1ª ordem para a obtenção dos valores para R0 e R1 correspondentes ao máximo da função são: ∂L ∂ R = a − bR0 − c + λ = 0 ; (3) 0 ∂ L a − bR1 − c = + λ = 0 ; (4) 1+ ρ ∂ R1 R + R = S 1 0 Resolvendo (3) e (4) em ordem a λ e igualando os dois resultados obtém-se a seguinte equação: P a − bR1 − c P −c a − bR0 − c = ⇔ P0 − c = 1 1+ ρ 1+ ρ P 1 0 onde: ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 29 • P0 e P1 são os preços brutos do recurso; • P0 – c e P1 – c são os preços líquidos do recurso. Usando a equação Pt = a − bRt a equação anterior pode ser escrita da seguinte forma: P0 − c = Pt − c 1+ ρ E resolvendo para ρ vem: ρ= ( P − c) − ( P − c) ( P − c) 1 0 (5) 0 A equação (5) é equivalente ao resultado conhecido como a Regra de Hotelling a qual se define pela seguinte equação, em termos intertemporais genéricos: • Pt = ρ (6) Pt Análise económica de (5): • ρ = taxa de desconto da utilidade social que significa o valor do benefício que a sociedade atribui à exploração futura, valorizada em termos do benefício no presente; ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 30 • O lado direito de (5) é a taxa de crescimento proporcional do preço líquido do recurso: por exemplo, se a sociedade escolher uma taxa de desconto de 0.1 (= 10%) A REGRA DE Hotelling diz que o programa de exploração do recurso eficiente requer que o preço líquido do recurso deve crescer à taxa de 0.1; • Fica-se assim a conhecer o preço do recurso no futuro, compatível com a eficiência económica da extracção; • A partir daqui, podemos calcular o preço eficiente no presente através das equações de equilíbrio: P0 = a − bR0 ; P1 = a − bR1 ; R0 + R0 = R; P1 − c = (1 + ρ )( P0 − c ) ERNA 2006/2007 Isabel Mendes 31