ANAIS PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS DE FINANCIAMENTO À INOVAÇÃO: DISCUSSÕES INICIAIS SOBRE O PRIME MARCELO TREVISAN ( [email protected] ) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS ALISSON EDUARDO MAEHLER ( [email protected] ) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS MÁRCIO SAMPEDRO RAMOS ( [email protected] ) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM Resumo Este trabalho teve como objetivo identificar as percepções de diferentes atores envolvidos no Programa Primeira Empresa Inovadora (PRIME), programa que é promovido pelo governo brasileiro. Para o alcance dos objetivos, foi realizada uma pesquisa exploratória com análise predominantemente qualitativa. A análise dos resultados proporcionou uma visão da expectativa que os atores envolvidos têm a cerca do PRIME. De maneira geral, os fatores específicos do programa foram avaliados positivamente. No entanto, foi constatado que algumas ações precisam ainda ser monitoradas e ajustes devem ser realizados, fato que pode ser considerado normal por ser uma iniciativa que está em seu início. Palavras-chave: Inovação, programas governamentais, PRIME Introdução As empresas brasileiras, especialmente, após a abertura econômica iniciada no governo do presidente Collor (1990 – 1992), começaram a promover uma transformação interna, gerencial e tecnológica, necessária para se manterem em condições de competitividade. Apesar do início dessa transformação, observa-se que ainda existem carências de inovações. Entre as causas para essa dificuldade, destacam-se os insuficientes investimentos governamentais em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e a instabilidade das políticas públicas para esta área. Isso se reflete nos baixos indicadores de desenvolvimento científico e tecnológico da indústria brasileira, que por sua vez, geram reduzidos índices de inovação e diferenciação. A inovação é muito sensível às exigências da produção e do mercado, sendo que os governos podem influenciar os gastos em consumo, investimentos e serviços públicos e privados. As políticas estatais afetam a infraestrutura científica e tecnológica com a criação de laboratórios, universidades e institutos de pesquisas. Dessa forma, para que o Brasil se torne um país competitivo e alcance posições de liderança no cenário internacional, parece ser necessário que haja, entre outros aspectos, empreendedores capazes de planejar e gerenciar as suas empresas. E, que a partir da valorização da pesquisa, da ciência e da busca de soluções tecnológicas aos problemas ou lacunas da sociedade, possam contar com o apoio e o comprometimento das políticas governamentais, em especial aqueles que são empresários iniciantes. Nesse contexto, a Lei Federal nº. 10.973/2004 (BRASIL, 2004) é um marco na história do Brasil quando se trata do apoio do governo ao ambiente produtivo do país. Conhecida como Lei de Inovação, dispõe sobre incentivos à inovação, à pesquisa científica e tecnológica e, a partir de sua aprovação, tornou-se possível a aplicação de recursos públicos não1/14 ANAIS reembolsáveis diretamente em empresas. Antes da promulgação da referida legislação, o benefício era exclusivo para instituições científicas. A Lei de Inovação também oferece a possibilidade para um pesquisador licenciar-se de determinada instituição e abrir uma empresa de base tecnológica. Dessa forma, em vez de ser contratada a Universidade ao qual esse pesquisador está vinculado, o país passa a dar flexibilidade para que o profissional possa ter outras oportunidades para desenvolver seu talento. O objetivo é oferecer condições para que as pesquisas atualmente desenvolvidas possam ir para o mercado sem vinculação com as Universidades e sim, com o autor da pesquisa. Observa-se que o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro está à procura de diretrizes estratégicas de longo prazo definidas e legitimadas. Inserido nesse contexto, em 2009 foi lançado o edital de um programa governamental direcionado a novos empreendimentos com a expectativa de mudar o panorama da inovação e do empreendedorismo de pequenas empresas no país. Até 2011, o valor que deverá ser disponibilizado é de R$ 1,3 bilhão e supera os recursos que o Brasil investiu na área nas últimas duas décadas. Operando dentro das prerrogativas que a Lei de Inovação autorizou, pelo Programa Primeira Empresa Inovadora (PRIME), os empreendimentos comprovadamente inovadores e com até 24 meses de funcionamento terão a metade dos recursos subvencionada e a outra financiada a juro zero, sem necessidade de garantias reais. No entanto, a referida Lei concede possibilidades, mas não garante que as agências de governo incentivarão adequadamente as empresas beneficiadas e nem que as organizações contempladas com os valores atingirão aos propósitos estabelecidos no edital já mencionado. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é identificar as percepções dos diferentes atores envolvidos no PRIME. O programa, que está em sua edição pioneira, é promovido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia do governo brasileiro através da empresa pública federal denominada de Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Procura-se conhecer como se dá a operacionalização do referido programa e, em especial, saber como o PRIME está sendo percebido por alguns elementos envolvidos com os seus desdobramentos em termos de adequação de critérios de seleção, limitações e potenciais de melhorias. A relevância desta pesquisa encontra-se na possibilidade de obter informações de uma atividade que está em desenvolvimento e permite a manifestação dos sujeitos no momento que ainda estão vivenciando o processo no intuito de avaliá-lo e, se necessário, aperfeiçoá-lo. Assim, os dados foram coletados junto a um representante da FINEP, aos empreendedores de uma empresa selecionada e com a pessoa encarregada pela gerência de uma incubadora parceira no desenvolvimento do referido programa. Por fim, este estudo está estruturado em seis partes, além desta breve introdução. A primeira aborda aspectos da inovação; a segunda refere-se a ações governamentais de financiamento e incentivo à inovação; a terceira parte contempla dados específicos sobre o PRIME; a quarta etapa trata do método; na quinta parte apresenta-se a análise dos resultados e, posteriormente, a sexta etapa é dedicada às considerações finais e recomendações. 1. Inovação O acesso ao conhecimento científico e tecnológico, assim como a capacidade de apreendê-los, acumulá-los e utilizá-los, é visto como definidor do grau de competitividade e desenvolvimento de nações, regiões, setores, empresas e indivíduos (LASTRES, 2000 apud MAEHLER; CASSANEGO JÚNIOR e SCHUCH JÚNIOR, 2009). É necessário que as organizações estejam atentas às possibilidades de inovação, caso contrário estarão assumindo riscos competitivos que poderão comprometer a própria sobrevivência (LEVITT, 2000). A busca por inovações em serviços aos clientes, em novos produtos ou em outros atributos de um produto já existente, é parte da orientação de mercado de uma empresa. 2/14 ANAIS Para a inovação são necessários, entre outros fatores, profissionais altamente qualificados, visão futura, aceitação pelo mercado da novidade e capacidade de gerenciamento. Constata-se que a inovação não está limitada a produtos ou à tecnologia; ela também pode surgir em um novo processo, numa nova abordagem do mercado, ou na gestão (CHRISTENSEN, 1997). Porém, é relevante destacar que ser uma empresa inovadora não depende apenas de recursos e acesso à tecnologia. Está vinculado à cultura organizacional, à capacidade de seus membros aceitarem novos paradigmas, de buscaram constantemente o novo e não se contentarem em apenas copiarem o que os outros criam. Coral (2008) enfatiza a necessidade de ser colocado em prática o planejamento estratégico da inovação, que tem como resultado a definição de uma visão inovadora e os passos necessários para alcançá-la. O planejamento estratégico da inovação possui interação com as etapas do projeto de produtos. Ao planejar, identificam-se as informações que devem ser monitoradas, bem como as necessidades por novos dados e investigações, que realimentarão as ferramentas e atividades do processo de planejamento. Já a etapa de projeto de produtos fornece subsídios em relação à plataforma tecnológica, oportunidades de desenvolvimento de novos produtos, status dos projetos em andamento e viabilidade técnica e econômica das idéias inovadoras. Constata-se a existência de fatores que tendem a afetar as atividades relativas à inovação. Dentre eles, podem-se citar a natureza e o escopo das oportunidades para a organização, o acesso à informação, a qualificação dos empreendedores, o tamanho da empresa e o grau de competição. Acrescentam-se os aspectos do ambiente econômico e político geral, que podem alterar os recursos, os incentivos e as recompensas para a atividade de inovação. Para Schumpeter (1961), a inovação ocorre de cinco formas diferentes: a) introdução de novos métodos de produção; b) introdução de novos produtos; c) abertura de novos mercados; d) conquista de nova fonte de matérias-primas e produtos semi-manufaturados, e e) introdução de nova organização de um setor industrial. Colaborando, Dosi (1988) observa que a inovação consiste na pesquisa, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, novos processos produtivos e formas de organizar os recursos. Bateman e Snell (1997) ratificam ao considerar inovação como uma mudança da tecnologia, um abandono das formas de se fazer as coisas. Acrescentam que as alterações tecnológicas podem ser radicais ou incrementais, tanto nos produtos como nos processos. Para Levitt (2000, p. 200), a inovação pode ser vista sob dois ângulos: “a novidade no sentido de que alguma coisa nunca foi feita antes, e a novidade que aquilo que não havia sido feito antes pela indústria ou pela empresa está sendo feito agora”. Dacorso e Yu (2004 apud MAEHLER; CASSANEGO JÚNIOR e SCHUCH JÚNIOR, 2009) observam a inovação não apenas como condição desejada, mas necessária à sobrevivência e ao crescimento de uma organização. Inovação é um processo de criação e desenvolvimento de uma idéia que resultará na disponibilização de um novo produto e/ou serviço no mercado ou em alterações de sistemas produtivos. Uma iniciativa inovadora bem sucedida pode significar a liderança ou a sobrevivência de uma organização no mercado, bem como modificar os hábitos de consumo e comportamento de uma sociedade. Lalkaka (2002), abordando a questão da inovação tecnológica, a coloca como o processo que transforma uma idéia em um produto ou serviço vendável. Contribui para o aumento da produtividade e da competitividade como os motores do crescimento econômico. Entretanto, uma questão pertinente é como passar de uma idéia a uma inovação que possa ser comercializada com um lucro atraente e com riscos reduzidos. Ter idéias não parece uma tarefa difícil. Ter idéias que gerem lucros, sim. Cooper (2001), um dos mais influentes pesquisadores do tema inovação, aborda os passos para a transformação de uma idéia em 3/14 ANAIS produto. A idéia principal é gerenciar o processo de modo a minimizar riscos e obter alto retorno, em meio a um ambiente de grande incerteza que permeia o lançamento de novos produtos. Cooper (2001) desenvolveu o modelo de Stage-Gate®, ou seja, um roteiro com os fatores críticos de sucesso e melhores práticas que visam a efetividade. Como as incertezas e o risco de se investir em um produto são consideráveis, a redução da incerteza se faz necessária. Conforme o autor, o processo de lançamento de produtos atravessa vários estágios e, a cada etapa, são reunidas informações que permitem decidir se é conveniente avançar ou não no processo. Constata-se que inovar vai além de conceber uma idéia. É necessário testála, verificar sua validade e aplicabilidade, a sua aceitação pelo mercado consumidor e, ainda, gerenciá-la nesse processo. 2. Ações governamentais de financiamento e incentivo à inovação Um dos papéis cruciais para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das nações no sentido de aprimorar o processo de inovação é o realizado pelo governo, sendo este responsável por estimular, integrar e regular o processo de inovação. O estímulo pode ocorrer por meio da criação de um conjunto de políticas e ações governamentais e pela formação de uma estrutura promovedora de inovação que auxiliará no processo do desenvolvimento científico e tecnológico do país. Por sua vez, a integração acontece por meio de parcerias entre o governo, iniciativa privada e institutos de pesquisa e universidades que podem criar condições legais necessárias e indispensáveis ao surgimento de novos e criativos arranjos institucionais. Já a regulamentação tem como principal função o estabelecimento da ordem com a finalidade de promover o desenvolvimento econômico e social. Dessa forma, o desenvolvimento tecnológico entraria como ferramenta de auxílio ao governo para desempenhar seu papel (LEMOS, 2000). O estímulo à pesquisa científica e tecnológica é iniciativa necessária para que um país passe a ter condições adequadas para fomentar seu desenvolvimento econômico (KRUGLIANSKAS e PEREIRA, 2005). No entanto, como a elevação do nível de utilização da ciência e da tecnologia não ocorre de forma espontânea, confirma-se a necessidade de políticas focadas no longo prazo. O aproveitamento pleno das vantagens que as novas oportunidades tecnológicas oferecem se relaciona diretamente com as mudanças estruturais, institucionais e sociais, tanto no nível da empresa, quanto no contexto econômico. Nesse sentido, o sistema nacional de inovação tem sua influência e importância reforçadas. Em uma economia desenvolvida, a inovação tecnológica deve ser resultado de um ambiente que produz ciência de ponta e influencia direta e indiretamente o setor produtivo. Verifica-se, entretanto, que o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil fez com que o país produza ciência de fronteira, mas que não consegue interagir de maneira satisfatória com o setor produtivo. É fundamental, além de mudanças institucionais e políticas, também uma mudança cultural (KRUGLIANSKAS e PEREIRA, 2005). Uma sinalização de mudanças foi a aprovação da Lei de Inovação - Lei nº. 10.973, de 2 de dezembro de 2004 (BRASIL, 2004) e do seu decreto de regulamentação - Decreto nº. 5.563, de 11 de outubro de 2005 (BRASIL, 2005). São normas legais que estabelecem medidas de incentivo à inovação e pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação e alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do país. Têm como principal objetivo flexibilizar as relações entre pesquisadores, institutos de pesquisa e empresas privadas no desenvolvimento de novas tecnologias para produtos, processos e serviços. São estabelecidas medidas de incentivo à pesquisa; mudanças na gestão das instituições científicas e ações de estímulo à criação das Empresas de Base Tecnológica 4/14 ANAIS (as chamadas EBTs). Por meio da Lei de Inovação, há a possibilidade de instituições científicas e tecnológicas dividirem seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais e instalações com empresas para o desenvolvimento de atividades dirigidas à inovação tecnológica. Kruglianskas e Pereira (2005) afirmam que com base na experiência de alguns países bem-sucedidos na implementação de políticas industriais e tecnológicas, a aprovação dessas normas representa um ponto de partida importante para fomentar a construção de um modelo de desenvolvimento tecnológico autônomo no Brasil. Existe a intenção de estimular e apoiar alianças estratégicas e o desenvolvimento de projetos de cooperação envolvendo empresas nacionais, instituições científicas e tecnológicas (ICTs) e organizações de direito privado sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa e desenvolvimento. Além disso, o apoio contempla redes e projetos internacionais de pesquisa tecnológica, assim como ações de empreendedorismo e de criação de ambientes de inovação, inclusive incubadoras e parques tecnológicos. O governo federal, as ICTs e as agências de fomento incentivam assim o desenvolvimento de produtos e processos em empresas nacionais para atender às prioridades de política industrial e tecnológica pré-definidas. A regulamentação prevê a prioridade para as instituições das regiões menos desenvolvidas do país e da Amazônia, destinadas à pesquisa e capacitação tecnológica, e também estabelece preferência na aquisição de bens e serviços pelo poder público às empresas que invistam em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia no país. Busca potencializar a aplicação de recursos em pesquisa e desenvolvimento, tanto nas instituições públicas quanto nas empresas, contribuindo para aumentar o desenvolvimento e a competitividade dos produtos brasileiros. Observa-se que a Lei nº. 10.973, de 2 de dezembro de 2004 (BRASIL, 2004), favorece a cooperação entre instituições científicas e tecnológicas e o setor produtivo, pois permite a participação do governo em iniciativas de base tecnológica junto com empreendedores, bem como estabelece incentivos tributários às empresas que inovam. Também define a forma de comercialização das inovações desenvolvidas nessas instituições e, em particular, cria os mecanismos que visam estimular o ambiente de criação e inovação dentro das empresas. Enfim, a Lei de Inovação apresenta-se como uma alternativa que dispõe ao país um instrumento de suporte à criação de ambiente propício a parcerias estratégicas entre universidades, institutos tecnológicos e empresas de diversos portes. Operando dentro das prerrogativas que a Lei de Inovação autorizou, o Programa Primeira Empresa Inovadora (PRIME), objeto de estudo neste artigo, teve seu primeiro edital divulgado em 2009 e seu detalhamento é realizado no próximo item. 3. Programa Primeira Empresa Inovadora – PRIME O PRIME baseia-se em convênios de cooperação institucional a serem firmados entre a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia e 17 incubadoras de empresas (neste caso denominadas de agentes ou operadores descentralizados) de todo o território nacional para atender à demanda por recursos de subvenção econômica à inovação de empreendimentos comprovadamente inovadores, com até 24 meses de funcionamento. O programa visa apoiar empresas iniciantes na consolidação de sua estratégia gerencial para o desenvolvimento e a inserção no mercado de produtos ou processos inovadores. Para tanto, almeja-se criar condições financeiras favoráveis aos empreendimentos selecionados para que possam enfrentar com sucesso os principais desafios de seus estágios 5/14 ANAIS iniciais de desenvolvimento, contribuindo para a criação de empregos altamente qualificados e geração de renda para o país (CEI-EDITAL, 2009). O processo de seleção das empresas candidatas, que foi coordenado por 17 incubadoras de empresas, realizou-se em três fases: i) apresentação de uma proposta simplificada; ii) treinamento (presencial e virtual), e iii) submissão da proposta detalhada. As incubadoras estruturaram o seu respectivo Comitê Avaliador (composto por consultores ad hoc por elas contratados) e escolheram as propostas simplificadas que obtiveram uma média ponderada superior a 6, de acordo com os critérios ilustrados no Quadro 01. Critério Nota Grau de inovação do produto/serviço 1-10 Vantagens competitivas da empresa 1-10 Consistência e viabilidade da proposta 1-10 Quadro 01 – Critérios de avaliação da proposta simplificada Fonte: CEI-Edital, 2009. Peso 3 1 1 Um representante de cada empresa selecionada na primeira etapa participou do treinamento que teve como objetivos: apresentar a FINEP e seus operadores descentralizados, orientar os empreendedores selecionados sobre o PRIME, apoiar as empresas na elaboração de suas propostas detalhadas e esclarecer as principais dúvidas. Foram 32 horas de treinamento presencial e 20 horas de forma virtual (CEI, 2009). Na última fase a proposta detalhada (plano de negócios) foi analisada considerando os critérios apresentados no Quadro 02. Critério Grau de inovação do produto/serviço Potencial de Mercado Retorno econômico-financeiro Importância do KIT PRIME para a empresa Qualidade e consistência da estratégia de marketing Qualidade da equipe, em particular do empreendedor e do gestor de negócios Qualidade e consistência das propostas de consultoria Quadro 02 – Critérios de avaliação da proposta detalhada Fonte: CEI-Edital, 2009. Nota 1-10 1-10 1-10 1-10 1-10 1-10 1-10 O Comitê de Avaliação das propostas detalhadas também foi coordenado pelas incubadoras e contou com a participação de um representante da FINEP, um representante do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) local, um representante do Banco do Brasil, um investidor de capital de risco, pelo menos um representante das instituições parceiras locais atuantes no PRIME e até três outros participantes indicados pela própria incubadora (CEI-EDITAL, 2009). Os empreendimentos selecionados receberão R$ 120.000,00 não reembolsáveis no primeiro ano e deverão apresentar contrapartida de, no mínimo, 5% desse valor. A transferência desses recursos ocorrerá em duas parcelas iguais de R$ 60.000,00. A primeira logo depois da contratação entre as partes e a segunda seis meses após essa data, mediante prévia visita técnica que assegure o bom andamento do projeto. As empresas terão 12 meses para a aplicação dos recursos do PRIME e, decorrido esse período, deverão prestar contas dos valores recebidos. As que atingirem suas metas nesse primeiro ano poderão se candidatar, após um processo de avaliação, a um empréstimo de outros R$ 120.000,00 para continuar seu projeto de inovação. O pagamento deste empréstimo será feito em 100 parcelas sem juros. Destaca-se que o uso dos recursos deverá ser exclusivamente para pagamento de: 6/14 ANAIS a) até dois empreendedores técnicos (pró-labore dos sócios) ou especialistas para a realização de atividades de natureza tecnológica; b) um gestor de negócios a ser contratado com carga-horária de no mínimo 20 horas semanais; c) serviços de consultoria especializada na área de mercado (estudos de mercado, plano de marketing, introdução do produto no mercado); d) serviço de consultoria (até três contratos) em áreas de gestão consideradas relevantes pela empresa, tais como recursos humanos, finanças e jurídica. 4. Método O presente estudo pode ser considerado exploratório com análise predominantemente qualitativa. Para Malhotra (2001), as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade explorar um problema ou determinada situação para fornecer critérios e uma adequada compreensão para o pesquisador. Tais métodos estão pautados na descoberta de idéias e dados e caracterizam-se pela versatilidade e flexibilidade. Segundo Gil (1999), o estudo de cunho exploratório tem como principal objetivo clarificar, desenvolver e alterar conceitos e idéias buscando a formulação de problemas mais precisos que serão desenvolvidos em pesquisas posteriores. Por outro lado, Roesch (2005) argumenta que a pesquisa qualitativa e seus métodos de coleta e análise de dados são apropriados para uma fase exploratória da pesquisa. Nesse sentido, Godoy (1995) enfatiza que a pesquisa qualitativa faz do ambiente natural a sua fonte direta de dados e o pesquisador seu instrumento fundamental, tendo como preocupação essencial o significado que as pessoas dão às coisas e à vida. Além disso, utiliza o enfoque indutivo na análise dos dados. Manifestando-se sobre o estudo qualitativo Minayo, Deslandes e Neto (2001) afirmam que atende a questões muito particulares, se preocupando com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Assim, a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos. Com base nas argumentações dos autores anteriormente referidos, este estudo foi classificado como exploratório por tratar de temáticas emergentes no cenário social e econômico do Brasil e qualitativo por se tratar de uma abordagem voltada às percepções atribuídas pelos sujeitos da pesquisa ao tema central proposto no trabalho. Para a elaboração do presente estudo, utilizou-se como instrumentos de coleta de dados a consulta a documentos e a realização de entrevistas. Entre os diversos documentos consultados, destacam-se: a) edital do PRIME; b) site da FINEP; c) dados apresentados nas atividades do treinamento presencial (realizado de 03 a 06 de agosto de 2009, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS, em Porto Alegre) do qual o pesquisador participou parcialmente; d) site da incubadora que participou do estudo; e) informativos institucionais da incubadora pesquisada; e, f) material de divulgação da empresa candidata participante do estudo. Por sua vez, as entrevistas seguiram um roteiro semi-estruturado constituído de questões abertas e tiveram duração entre trinta e noventa minutos. Para garantir a confiabilidade, após a transcrição das mesmas houve o retorno aos entrevistados com o intuito de confirmar os dados coletados e de reduzir os riscos de má interpretação. Acrescenta-se que a coleta dos dados foi realizada no período de 27 de julho a 11 de agosto de 2009. Pode-se visualizar as etapas do estudo na Figura 01. 7/14 ANAIS Definição do problema de pesquisa e seus objetivos Elaboração do referencial teórico: inovação; ações governamentais de financiamento e incentivo à inovação; PRIME Definição dos entrevistados Elaboração dos instrumentos de pesquisa Coleta de dados Análise e discussão dos resultados Elaboração do artigo Figura 01 - Etapas do estudo Nesse sentido, o representante da FINEP entrevistado foi o Chefe Substituto do Departamento de Financiamentos. A Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia e foi criada em 24 de julho de 1967. Sua missão é promover e financiar a inovação e a pesquisa científica e tecnológica em empresas, universidades, institutos tecnológicos, centros de pesquisa e outras instituições públicas ou privadas, mobilizando recursos financeiros e integrando instrumentos para o desenvolvimento econômico e social do país (FINEP, 2009). Pela Elevata Tecnologia de Projetos Ltda., empresa que se inscreveu ao PRIME e foi selecionada na apreciação da proposta simplificada com a maior nota (8,90) entre os demais projetos recebidos pela incubadora encarregada de avaliá-los, foram entrevistados os seus dois sócios-proprietários (50% do capital social para cada um). Um dos empreendedores é graduado em Ciências Contábeis e mestre em Engenharia de Produção e responde pela área administrativa do negócio. O outro empresário é graduado em Engenharia Elétrica e possui mestrado em Eletrônica, além de uma especialização em Logística. É o responsável pela área técnica da empresa e foi quem participou do treinamento oferecido pelo PRIME. A Elevata foi fundada em 01 de novembro de 2007, em Santa Maria/RS, para desenvolver e implementar novos empreendimentos e produtos por meio da aplicação de tecnologias de gerenciamento de projetos. Busca oferecer aos empreendedores (clientes) assertividade no planejamento e na execução de suas iniciativas, com a racionalização dos recursos aplicados para o sucesso dos empreendimentos. Atualmente, as áreas em que está atuando incluem ensino à distância (EaD), administração de cartões de lojas e desenvolvimento de soluções web (sistemas integrados de gestão empresarial e website). No entanto, o principal projeto (e que foi o responsável pela união dos sócios para a abertura da empresa), trata-se do apresentado para concorrer aos recursos do PRIME. Cabe ainda destacar que a Elevata não foi incubada e, além dos dois sócios, possui cinco funcionários, todos de nível superior. 8/14 ANAIS Outra pessoa entrevistada foi a gerente do Centro de Empreendimentos do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEI/UFRGS), que ocupa esse cargo há 13 anos. O CEI é uma incubadora de base tecnológica que incentiva projetos com caráter inovador na área da tecnologia da informação e busca criar as condições necessárias para o desenvolvimento de produtos e serviços de informática de alta qualidade. No Rio Grande do Sul, atua como agente da FINEP para o PRIME. A análise interpretativa dos resultados é realizada a seguir e está estruturada de acordo com a seqüência das questões empregadas para a coleta de dados. 5. Análise dos resultados Para facilitar a apresentação desta seção foram criadas subdivisões compatíveis com os propósitos do presente estudo. Inicia-se com a exposição de algumas informações do PRIME em âmbito do território nacional e do Centro de Empreendimentos de Informática (CEI/UFRGS), relativas à primeira etapa do processo de seleção (proposta simplificada). Os resultados divulgados pela FINEP (2009) dão conta que em todo o país se cadastraram 3159 empresas como candidatas ao programa. A meta estabelecida aos 17 agentes (incubadoras) era de 1895 propostas. Os três estados que mais apresentaram inscrições foram: São Paulo (692), Rio Grande do Sul (535) e Minas Gerais (466). Dos projetos inscritos, 75% originaram-se de empreendimentos incubados e 25% de não incubados. A partir desses dados, pode-se inferir que o fato de a empresa estar no interior de uma incubadora favorece sua adesão aos programas governamentais de incentivo à inovação. Concluída a primeira fase de seleção, 1878 negócios credenciaram-se para participar da etapa de treinamento. Com relação aos números obtidos pelo CEI, destaca-se que foram recebidas 209 inscrições e dessas, 136 foram pré-selecionadas para as próximas fases. Quanto ao tempo de fundação dos empreendimentos, percebe-se, por meio da Tabela 01, que 75,72% estão em funcionamento há menos de um ano. Entretanto, não foi possível obter os dados referentes à quantidade de negócios que foram criados com o intuito específico de atenderem ao edital do PRIME. Independentemente, o pesquisador considera como de maior relevância o cumprimento dos critérios de seleção, em especial aquele relativo ao grau de inovação do produto/serviço. Tempo Número Percentual 0 a 06 meses 62 empresas 45,58% 07 a 12 meses 41 empresas 30,14% 13 a 18 meses 26 empresas 19,11% Mais de 18 meses 07 empresas 5,17% Tabela 01 – Tempo de fundação das empresas candidatas Fonte: CEI, 2009. O CEI recebeu candidaturas oriundas de 40 cidades localizadas no Rio Grande do Sul. Porto Alegre, com 72 inscrições e, Caxias do Sul, com 08 propostas, foram os municípios com maior representação. Com referência às áreas de atuação dos projetos, a Tabela 02 evidencia 17 diferentes segmentos, sendo que os de Tecnologia de Informação, Administração, Engenharia Mecânica, Biotecnologia e Educação somados atingem um total de 73,93% dos setores escolhidos pelos empreendedores para desenvolver seus negócios. Área Tecnologia da Informação Administração Quantidade 43 24 9/14 Percentual 31,61 17,77 ANAIS Engenharia Mecânica 14 Biotecnologia 10 Educação 09 Meio Ambiente 05 Design 04 Engenharia Elétrica 04 Arquitetura 04 Agronegócios 04 Saúde/Médica 03 Veterinária 03 Engenharia de Alimentos 02 Engenharia Civil 02 Educação Física 02 Odontologia 02 Engenharia de Materiais 01 TOTAL 136 Tabela 02 – Áreas de atuação das empresas candidatas Fonte: CEI, 2009. 10,37 7,40 6,68 3,70 2,90 2,90 2,90 2,90 2,22 2,22 1,48 1,48 1,48 1,48 0,74 100% Os resultados ilustrados na Tabela 02 permitem observar a predominância de algumas áreas (Tecnologia da Informação e Administração) e a demonstração de que ainda há setores da economia com espaços para novas empresas inovadoras (Engenharia de Alimentos, Educação Física e Engenharia de Materiais), assim como de que podem necessitar de atenção e estímulos extras para crescerem. A seguir, são tratados fatores específicos sobre as percepções dos sujeitos entrevistados quanto à adequação de diversos aspectos do PRIME. São eles: 5.1. Adequação da estrutura do PRIME Perguntou-se aos participantes da pesquisa se a forma como o programa foi definido está adequada, ou seja, se ao operacionalizá-lo por meio das etapas estabelecidas - i) Proposta Simplificada; ii) Treinamento virtual/presencial; iii) Proposta Detalhada - é possível atingir seus objetivos. O representante da FINEP informou que foram investidos 24 meses de planejamento e discussões com outros órgãos, como as incubadoras, até a escolha da fórmula em vigor e destacou que a FINEP está atenta e disposta a analisar formas alternativas. Os dois empreendedores da Elevata disseram que antes do PRIME já haviam procurado uma instituição federal de ensino superior com a intenção de receber apoio ao projeto (pessoal multidisciplinar, uso de laboratórios, entre outros). No entanto, devido a questões burocráticas (como a necessidade de convênios) a negociação não evoluiu. Para ambos, a estrutura do PRIME está adequada. A respeito do treinamento disponibilizado pela FINEP, o empresário que o frequentou considerou produtiva a possibilidade de troca de experiências e oportuno o enfoque dirigido às áreas de marketing e de finanças. A gerente do CEI informou que foi realizado um convite pela FINEP para a participação da incubadora no PRIME e houve a oportunidade de apresentar sugestões e idéias para operacionalizar o programa. Acrescentou que um percentual do valor distribuído às empresas é concedido aos agentes e recomendou rever o excessivo tempo dedicado ao treinamento presencial (quatro dias). Dessa forma, percebe-se a manifestação positiva, até o momento, dos participantes do estudo em relação à estrutura proposta para o PRIME. Embora, na opinião dos entrevistados, alguns ajustes podem ser efetivados, como no caso do período de duração do treinamento presencial. 5.2. Adequação dos critérios adotados para selecionar as propostas 10/14 ANAIS Perguntados sobre a necessidade de mudanças nos critérios adotados para a seleção dos projetos, os pesquisados informaram o que segue: para o representante da FINEP o relevante é considerar o plano de negócios e isso está sendo feito. Os empreendedores afirmaram que o emprego das incubadoras tende a dar credibilidade ao processo, pois possuem experiência em orientar o início dos negócios. A gerente do CEI sugeriu incluir nos critérios de avaliação da proposta simplificada um quesito relativo à capacidade dos projetos em possuir a infraestrutura mínima necessária para que o produto/serviço possa ser desenvolvido. Neste item, ressalta-se a importância que adquire a definição de critérios coerentes com os objetivos do programa para que sejam investidos recursos públicos naqueles negócios que realmente possuem potencial de sobrevivência e crescimento. Já que, conforme alerta Lemos (2000), o incentivo financeiro é uma ferramenta de auxílio do governo às empresas para que desempenhem uma de suas principais funções, o desenvolvimento da inovação no país. 5.3. Adequação dos valores financeiros do PRIME A respeito da adequação dos valores concedidos pelo programa às necessidades das empresas, o representante da FINEP respondeu que foram realizadas pesquisas e os resultados demonstraram que R$ 120.000,00 é uma importância financeira média que permite atender aos objetivos propostos. Complementou que para determinados projetos uma quantia menor do que essa, desde que bem investida, já seria suficiente para alavancar um negócio. Ao serem questionados sobre esse tópico, os empreendedores afirmaram que consideram R$ 10.000,00 por mês, durante um ano, um valor significativo e que se o empreendimento não obtiver sucesso, certamente não deverá ter sido por questões relativas a recursos financeiros. A gerente da incubadora classifica como uma excelente quantia. Porém, que deverá ser bem empregada. Observa-se que os envolvidos no processo e sujeitos de análise neste estudo avaliam como um fator positivo a importância financeira que será destinada a cada empreendimento contemplado com o PRIME. 5.4. Sugestões para aperfeiçoamento do PRIME Solicitou-se aos participantes deste estudo que apresentassem potenciais de melhorias e sugestões para aperfeiçoar o programa analisado. O representante da FINEP optou por não se manifestar e aguardar as proposições de outras pessoas, reforçando que são bem-vindas. Os dois empreendedores expressaram preocupação, mesmo estando em uma cidade com considerável estrutura universitária, em encontrar no mercado de trabalho profissionais à altura da demanda do projeto que pretendem desenvolver. Segundo eles, além do PRIME, o governo deve atentar para a formação de pessoas com a adequada necessidade das empresas, em especial quando se trata de tecnologia de informação (TI). Complementando, afirmaram que existem lacunas entre o que é ensinado na graduação e o que é exigido na atividade de trabalho diária, principalmente quanto aos aspectos relacionados à gestão de um empreendimento. A gerente do CEI avalia como sendo muito longo o processo de seleção do PRIME. Defende que cinco meses já pode ser considerado um tempo exagerado quando se trata de inovação, ainda mais em informática. Ressalta-se que o programa teve suas inscrições encerradas em 30 de abril de 2009 e os resultados finais divulgados no dia 30 de setembro de 2009. Até o momento e com os sujeitos que participaram deste estudo, a edição pioneira do Programa Primeira Empresa Inovadora exige ajustes que variam de aspectos operacionais e aparentemente simples, passando por alguns que podem contribuir para o alcance de metas 11/14 ANAIS estratégicas do Brasil, até outros que evidenciam dificuldades históricas do país, como a educação. Como foi alertado no item sobre as ações governamentais de financiamento e incentivo à inovação, o aproveitamento pleno das vantagens que as novas oportunidades tecnológicas oferecem se relaciona diretamente com as mudanças estruturais, institucionais e sociais exigidas pelo contexto em que as empresas estão inseridas. O PRIME não está excluído dessa condição. Por fim, direcionaram-se algumas questões aos empreendedores da Elevata, considerando-os como o elemento-chave para o adequado funcionamento do programa em estudo. Inicialmente, foi solicitada uma breve descrição do produto apresentado, por quais motivos pode ser considerado inovador e o que fez com que a proposta da empresa alcançasse uma das notas mais elevadas entre os projetos avaliados pela incubadora que recebeu a candidatura. Naturalmente, sem poder acrescentar maiores detalhes, foi explicado que se trata de um produto não disponível no mercado (sem similar concorrente). Em um primeiro estágio, deverá ser comercializado no território nacional, mas possui potencial para ser exportado. Esses fatores já permitem classificá-lo como uma inovação. Os respondentes acreditam que a união do conhecimento técnico com o potencial empreendedor, a realização de pesquisas e a busca de informações confiáveis (sem suposições) foram os principais atributos que garantiram uma boa avaliação do projeto. Questionados sobre os principais desafios que a empresa enfrenta, responderam que são a captação de parceiros qualificados e de recursos financeiros para novos projetos, em especial para esse que foi apresentado ao PRIME e que originou a abertura da empresa em 2007. No início do negócio, a principal dificuldade relacionava-se com a necessidade de recursos próprios para subsidiar despesas com a implantação e manutenção do empreendimento. Para tanto, passou-se a operar com outros projetos (que não o apresentado ao PRIME e causa da criação da empresa) envolvendo o desenvolvimento pontual de sistemas, o que viabilizou a manutenção do equilíbrio financeiro até hoje. No entanto, o volume de vendas alcançado ainda não permite que os sócios tenham um pró-labore que lhes permita dedicação integral à Elevata, motivo pelo qual ambos mantêm atividades paralelas. A última pergunta procurava saber como os recursos do PRIME podem ajudar na superação dos desafios apresentados. Tendo em vista que o projeto envolve conhecimentos especializados de diversas áreas, a impossibilidade de contar com uma equipe multidisciplinar limita o seu desenvolvimento. O programa em análise poderá contribuir nesse sentido. Em outras palavras, a consecução dos objetivos da empresa e do projeto apresentado passa pela disponibilização de recursos (materiais, humanos, financeiros e tecnológicos) e da integração desses para a criação de soluções que possam ser absorvidas pelo mercado. Algo que se espera que o PRIME possibilite. Além disso, os próximos editais do programa são percebidos como oportunidades e solução para os potenciais clientes da Elevata. Finalizando esta seção do estudo, parece que referente à intenção do Brasil em se tornar um país desenvolvido tecnologicamente em vários setores econômicos, a trajetória ainda é longa, pois as proposições governamentais ainda não se tornaram um conhecimento de domínio comum e é necessário enfrentar outros problemas que afetam essa intenção. Esta pesquisa representa uma primeira investigação sobre o assunto e não pretende ser conclusiva. Entretanto, os resultados denotam que este é um tema que merece ser aprofundado, o que pode ser feito ampliando-se o contexto de investigação. Considerações finais e recomendações Implementar políticas nacionais que estimulem o investimento no conhecimento para elevar a competitividade empresarial não é um desafio recente. O PRIME é um programa por si só inovador devido ao fato de ser pioneiro enquanto incentivo do governo brasileiro a 12/14 ANAIS empresas inovadoras nascentes. A destinação de recursos públicos, por subvenção econômica (não reembolsáveis), em empreendimentos geralmente criados por jovens com conhecimento técnico especializado e que tendem a manter relações próximas com a infraestrutura de instituições de ensino superior, parece ser uma alternativa viável de se tornar bem-sucedida. É perceptível a expectativa que os pesquisados do presente estudo demonstraram com a proposta disponibilizada pelo Programa Primeira Empresa Inovadora. Em especial, porque ela vem preencher algumas lacunas e necessidades comuns enfrentadas pelos idealizadores dos empreendimentos. A indicação é de que ações precisam ser monitoradas e ajustes deverão ser realizados, mas que tais procedimentos são naturais quando se trabalha com o desconhecido, com o futuro. Porém, incentivar a criação e apoiar o desenvolvimento de negócios que unem elementos como pessoas jovens e sagazes por novidades; produtos e serviços inovadores; institutos de pesquisa, incubadoras e universidades com equipamentos e pessoal qualificado desperta um processo de complexo gerenciamento. Assim, recomenda-se que os promotores do PRIME oportunizem meios para que os seus participantes tenham condições de compartilhar experiências e idéias. Embora atuem em diversas áreas do conhecimento e estejam inseridos em contextos distintos e distantes, enfrentam problemas cujas soluções podem surgir por freqüentes contatos virtuais ou presenciais. A etapa avaliativa das propostas candidatas pode ser elencada como uma das principais para garantir o sucesso do PRIME. Se os projetos não forem adequadamente selecionados a partir de critérios previamente definidos, além da possibilidade de ocorrência de injustiças, o risco de desperdiçar recursos é iminente. Então, torna-se fundamental a FINEP e seus agentes investirem atenção minuciosa nesse estágio do processo, especialmente na formulação de diretrizes que orientam a escolha de membros capacitados para a composição do comitê avaliador. Arrisca-se afirmar que as prerrogativas e metas estabelecidas pela Lei de Inovação poderão não se concretizar pela ausência de habilidade na condução dessa fase. Como estudos futuros a respeito do tema, sugere-se a realização de pesquisas de caráter quantitativo que incluam um universo mais amplo de empresas participantes, bem como das incubadoras e dos avaliadores das propostas, obtendo suas opiniões para possíveis aperfeiçoamentos do processo. Também é válido abordar questões específicas sobre os efeitos da etapa destinada ao treinamento dos empreendedores; a respeito das principais causas de reprovação dos projetos incluídos nessa situação e ainda, após os doze primeiros meses da liberação dos recursos, verificar como se encontram as empresas que foram contempladas. Em termos de limitações, o estudo apresenta o fato de não ter analisado o programa já concluído. Porém tal aspecto, enquanto limitador, também pode ser considerado como ponto positivo do trabalho, já que se buscou apreciar o PRIME ainda durante sua efetivação. Referências bibliográficas BATEMAN, T. S.; SNELL, S. A. Administração: construindo a vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1997. BRASIL. Presidência da República. Lei Federal nº. 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa cientifica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Disponível em: http://www.senado.gov.br. 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