Universidade do Estado do Rio de Janeiro Campus Regional de Resende Engenharia de Produção Química II-B Poluição Atmosférica 1. ATMOSFERA 1.1. Composição Vivemos virtualmente no fundo de um oceano de ar. Estendendo-se por cerca de 1.600 km de altitude, este vasto e inquieto oceano de gases é muito mais turbulento e móvel do que os oceanos de água. Suas correntes e redemoinhos são os ventos. A composição da atmosfera tem mudado drasticamente desde a sua formação quando a Terra esfriou e condensou a partir dos gases solares. Muitos geoquímicos acreditam que a atmosfera terrestre primitiva era composta principalmente de hidrogênio e hélio, sendo centenas de vezes mais densa do que é hoje. A atual composição da atmosfera terrestre é única no nosso sistema solar. Este é o único lugar que conhecemos que possui oxigênio e vapor d’água livres na atmosfera. Todo o oxigênio é produzido pela fotossíntese das bactérias cianofíceas, algas e plantas verdes. As concentrações de vapor d’água variam de perto de zero a 4%, dependendo da temperatura e da umidade disponível. Composição Atmosférica* Gás % (v/v) 78,08 N2 20,94 O2 0,934 Ar 0,033 CO2 0,00182 Ne 0,00052 He 0,00015 CH4 0,00011 Kr 0,00005 H2 0,00005 N2O 0,000009 Xe *Composição média do ar seco e limpo. 1.2. Estratificação A atmosfera é dividida em 4 camadas ou zonas distintas de temperatura, devido à absorção diferenciada da energia solar. a. Troposfera: É a camada de ar imediatamente adjacente à superfície. Tem uma espessura média de 15 km e é onde ocorre a maioria dos eventos meteorológicos. Devido à força da gravidade e à compressibilidade dos gases, ela contém 75% de toda a massa da atmosfera. Sua composição é relativamente uniforme e é caracterizada por um gradiente negativo de temperatura, variando de 15°C (média na superfície) a –56°C (a 15 km de altitude). b. Estratosfera: Estende-se da tropopausa até cerca de 50 km de altitude. É caracterizada por um gradiente positivo de temperatura, de –56 até –2°C (a 50 km de altitude). Sua composição é semelhante á da troposfera com exceção de dois importantes componentes: H2O e O3. A % v/v da H2O é cerca de 1.000 vezes menor e a do O3 é cerca de 1.000 vezes maior do que as encontradas na troposfera. É nela que se encontra a camada de ozônio. c. Mesosfera: É uma camada intermediária (daí o seu nome). É caracterizada por um gradiente negativo de temperatura, de –2 até –92°C (a cerca de 80 km de altitude). d. Termosfera: É uma região de gases altamente ionizados, estendendo-se por cerca de 1.600 km. É caracterizada por um gradiente positivo de temperatura, podendo chegar a temperaturas de 1.200°C. 1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Campus Regional de Resende Engenharia de Produção Química II-B Poluição Atmosférica 2. POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA 2.1. Principais Poluentes Atmosféricos Os poluentes atmosféricos são classificados em dois tipos: primários e secundários. Os poluentes primários são aqueles emitidos diretamente das fontes para a atmosfera: • Monóxido de carbono (CO) • Dióxido de carbono (CO2) • Óxidos de enxofre (SOx) • Óxidos de nitrogênio (NOx) • Hidrocarbonetos (HC) • Material particulado (MP) • Clorofluorcarbonos (CFCs) Os poluentes secundários são os formados na atmosfera, através de reações químicas, a partir de poluentes primários. Entre esses, destacam-se os oxidantes fotoquímicos, resultantes da reação entre os hidrocarbonetos e os óxidos de nitrogênio, na presença de luz solar. Os principais são o O3, o peroxiacetilnitrato (PAN), o H2O2 e os aldeídos. Poluentes Fontes Conseqüências CO • Veículos automotores • Afeta a capacidade de oxigenação da • Combustão incompleta do carvão e do hemoglobina → asfixia petróleo CO2 • Queima do petróleo e do carvão • Efeito estufa • Queima de biomassa • Desmatamento SOx • Queima de combustíveis fósseis • Danos ao aparelho respiratório • Queima de carvão • Corrosão do ferro, aço, mármore • Processos industriais • Danos às plantas (amarelecimento e morte) • Chuvas ácidas NOx • Veículos automotores • Tóxicos ao homem; irritação da mu• Processos industriais cosa; carcinogênicos • Queima de combustíveis fósseis • Danos às plantas • Reagem com os HC produzindo oxidantes fotoquímicos • Chuvas ácidas HC • Veículos automotores • Carcinogênicos • Processos industriais • Reagem com os NOx produzindo oxi• Queima de combustíveis fósseis dantes fotoquímicos MP • Veículos automotores • Redução da visibilidade • Processos industriais • Doenças ocupacionais (perda da capacidade respiratória) • Carreiam poluentes tóxicos para os pulmões • Destruição da camada de ozônio CFCs • Refrigeração • Câncer de pele • “Sprays” • Catarata • Fabricação de espumas plásticas • Solventes usados na limpeza de cir- • Danos à vegetação cuitos eletrônicos 2 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Campus Regional de Resende Engenharia de Produção Química II-B Poluição Atmosférica 2.2. Unidades de Concentração Existem diferentes maneiras de se expressar as concentrações dos poluentes atmosféricos: • ppm (v/v) • ppb (v/v) • mg/m3 • mg/Nm3 (Nm3 = m3 normal, ou seja, nas CNTP, T = 273 K e P = 101,3 kPa) O m3 normal é importante se a temperatura da emissão for maior do que a ambiente, já que um mol do gás emitido não ocupará 22,4 L. Fora das CNTP, devem ser feitas correções. 2.3. Deposição Ácida De acordo com a figura abaixo, as emissões de SOx, NOx e HC vindas das indústrias, transportes, casas e produção de energia, são transformadas na atmosfera em partículas de SO42– e NO3–. A combinação destas com a luz solar e o vapor d’água é uma reação química complexa que resulta na formação de H2SO4 e HNO3. Estes ácidos retornam à superfície na forma de orvalho, garoa, neblina, geada, neve ou chuva. Uma chuva não poluída tem um pH ≅ 5,6. Na Escandinávia e no leste dos Estados Unidos, o pH das chuvas tem estados regularmente abaixo de 5,0, algumas vezes em torno de 4,0 e raramente de 3,0. A deposição ácida tem um sério efeito negativo sobre as florestas, a vida aquática e alguns materiais de construção. A maior parte da deposição ácida é transnacional. Por exemplo, 77% do enxofre depositado na Holanda vem de outros países, assim como 64% na Dinamarca. Da mesma forma, a maioria da deposição ácida no Canadá vem do meio-oeste dos Estados Unidos. É obviamente desejável a redução das emissões de SOx e NOx. Entretanto, poucos avanços têm sido alcançados nesta área nas últimas décadas. 3 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Campus Regional de Resende Engenharia de Produção Química II-B Poluição Atmosférica EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1. Os padrões de 1 h, de acordo com a OMS (1987), para o CO, NO2 e SO2 são 30 mg/m3, 400 µg/m3 e 350 µm/m3, respectivamente. Calcule estas concentrações em ppm nas CNTP. 2. Considere uma termoelétrica de 915 MW de capacidade total com um fator de carga (ou capacidade anual) de 72,5% e uma eficiência de 40%. Determine a quantidade produzida de particulados, CO2 e SO2 se o carvão for usado como combustível. A análise elementar e o poder calorífico do carvão são os seguintes: Umidade 8% Cinzas 7,7% Carbono 77,0% Hidrogênio 3,0% Nitrogênio 1,25% Enxofre 1,0% Oxigênio 2,05% Poder calorífico 29,7 MJ/kg 3. Uma termoelétrica de 915 MW de capacidade e um fator de carga de 72,5%, usa o gás natural com fonte de combustível e possui uma eficiência de 40%. Determine a produção anual de CO2, vapor d’água e NOx. Os parâmetros do gás natural são os seguintes. A composição está em percentagem por volume. Não existem emissões de particulados ou de SOx. CO2 0,1% N2 0,6% CH4 98% C2H6 1,0% C3H8 0,2% 4 C4H10 0,1% Densidade (kg/m3) 0,72% Poder calorífico 40 MJ/kg Universidade do Estado do Rio de Janeiro Campus Regional de Resende Engenharia de Produção Química II-B Poluição Atmosférica 2.4. Mudança Climática Global — Gases do Efeito Estufa Os principais gases do efeito estufa, do mais para o menos impactante, são: CO2, CFCs, CH4, N2O e O3. Estes gases têm a propriedade de absorver parte da energia radiante da Terra nos comprimentos de onda longos (> 4 µm, no infravermelho), aquecendo, portanto, a atmosfera e, subseqüentemente, radiando esta energia de volta para a Terra e para o espaço. As conseqüências do aquecimento global incluem: • Tornar o clima mais seco em regiões críticas para a produção de alimentos do planeta; • Derretimento das calotas polares, causando a submersão das cidades costeiras e afetando cerca de metade da população do planeta; CFCs • Aumento dos fenômenos atmosféricos violentos. 20% CH4 16% CO2 50% N2 O 6% 5 O3 8% Universidade do Estado do Rio de Janeiro Campus Regional de Resende Engenharia de Produção Química II-B Poluição Atmosférica 2.5. Buraco na Camada de Ozônio Os seres humanos liberam uma variedade de moléculas cloradas na atmosfera. As que estão mais relacionadas com as perdas de ozônio são os CFCs e os Halons. Os CFCs são atóxicos, nãoinflamáveis, quimicamente inertes, de produção barata e úteis em uma ampla variedade de aplicações. Entretanto, devido a estas moléculas serem tão estáveis, elas persistem por décadas ou mesmo séculos uma vez liberadas. Quando elas difundem para a estratosfera, a intensa radiação UV libera radicais livres (Cl•) que destroem o O3. Uma vez que os cloro radicais não são consumidos nestas reações, eles continuam a destruir o ozônio por anos, até que finalmente difundam para o espaço. A cada ano o buraco na camada de ozônio cresce. Em 1995, cerca de 70% do O3 estratosférico antártico havia sido destruído acima de uma área do tamanho da América do Norte. Este fenômeno tem se espalhado para outras partes do mundo. Cerca de 10% de todo o O3 estratosférico mundial foi destruído durante o inverno de 1995 e as perdas acima do leste dos Estados Unidos e do Canadá alcançaram 20%, enquanto na Sibéria elas ultrapassaram 35%. 3. CONTROLE DAS FONTES POLUIDORAS O controle nas fontes visa a reduzir a concentração dos poluentes, antes do seu lançamento na atmosfera. Isso é conseguido através das seguintes medidas: • altura adequada das chaminés das indústrias, em função das condições de dispersão dos poluentes; os modelos de dispersão podem ser usados na determinação de alturas apropriadas para as chaminés; • uso de matérias-primas e combustíveis que resultem em resíduos gasosos menos poluidores; • modificação dos processos industriais, objetivando reduzir a emissão de poluentes; • operação e manutenção adequadas dos equipamentos, visando a garantir o bom funcionamento dos mesmos, diminuindo-se o lançamento de poluentes atmosféricos; • melhoria da combustão; quanto mais completa a combustão, menor a emissão de poluentes. • controle da emissão de poluentes nos veículos; • uso de combustíveis menos poluidores, nos veículos (exemplo: gás natural); • instalação de equipamentos de retenção de partículas e gases. 3.1. Poluentes Particulados a. Ciclones: Para partículas de tamanho maior do que 10 µm de diâmetro, o coletor a ser escolhido é o ciclone. Ele é um coletor inercial sem partes móveis. O gás carregado de partículas é acelerado através de um movimento espiralado, que impõem uma força centrífuga às partículas. As partículas são projetadas para fora do 6 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Campus Regional de Resende Engenharia de Produção Química II-B Poluição Atmosférica gás e chocam-se com as paredes cilíndricas do ciclone. Elas então deslizam para o fundo do cone, onde são removidas através de um sistema de válvulas herméticas. Os ciclones são empregados somente para pós grosseiros. Algumas aplicações incluem o controle de emissões de pó de madeira, fibras de papel e de polimento. b. Filtros-manga: Quando se deseja um controle altamente eficiente de partículas menores do que 5 µm, um filtro deve ser selecionado como o método de controle. As mangas são feitas de fibras naturais ou sintéticas. As fibras sintéticas são amplamente utilizadas como tecido de filtração devido ao seu baixo custo, às melhores características de resistência térmica e química e ao pequeno diâmetro das fibras. A vida útil das mangas varia de um a cinco anos. Um período de dois anos é considerado normal. O diâmetro das mangas varia de 0,1 a 0,35 m. O comprimento varia entre 2 e 10 m. Os filtros-manga são usados em várias aplicações. Exemplos incluem a indústria de negro de fumo, moagem de cimento, manuseio de grãos e de alimentos, gipsita, moagem de calcário e lixadeiras mecânicas. c. Lavadores: Quando o material particulado a ser coletado é úmido, corrosivo ou muito quente, o filtro-manga pode não funcionar. Nestes casos usa-se a lavagem com líquidos. Aplicações típicas da lavagem incluem o controle das emissões de pó de talco, névoa de ácido fosfórico, poeira de fornos de fundição e fumos de fornalhas de aço de soleira aberta. Os lavadores variam em complexidade. Câmaras de “spray” simples são usadas para partículas de tamanho relativamente grande. Para uma remoção altamente eficiente de partículas finas, deve ser selecionada a combinação de um lavador Venturi seguido de um ciclone. Quando se deseja a remoção de partículas secas de uma corrente de gás aquecido com uma alta eficiência, usa-se a precipitação eletrostática. Os precipitadores eletrostáticos são construídos de placas e fios que se alternam. Um alto potencial (corrente contínua) de 30 a 75 kV é aplicado entre as placas e os fios. Isto resulta na criação de um plasma entre o fio e a placa. As partículas presentes na corrente de gás passam entre o fio e a placa, ficando negativamente carregadas. d. Precipitador eletrostático: 7 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Campus Regional de Resende Engenharia de Produção Química II-B Poluição Atmosférica As partículas então migram para a placa positivamente carregada onde ficam presas. As placas são agitadas periodicamente e os aglomerados de partículas caem em um funil. 3.2. Poluentes Gasosos a. Absorção: Os dispositivos de controle baseados no princípio da absorção tentam transferir o poluente da fase gasosa para a fase líquida. Este é um processo de transferência de massa no qual o gás se dissolve em um líquido. A dissolução pode ou não ser acompanhada por uma reação com um ingrediente do líquido. Estruturas tais como as câmaras de “spray” e as torres ou colunas, são duas classes de dispositivos empregados para absorver os gases poluentes. Nos lavadores, que são um tipo de câmara de “spray”, gotículas de líquido são usadas para absorver o gás. Nas torres, um filme fino de líquido é usado como meio absorvente. Independentemente do tipo de dispositivo, a solubilidade do poluente no líquido tem quer ser relativamente alta. Se a água é o líquido, isto geralmente limita a aplicação a uns poucos gases inorgânicos, tais como NH3, Cl2 e SO2. Os lavadores são relativamente ineficientes, mas possuem a vantagem de serem capazes de remover simultaneamente o material particulado. As torres são absorvedores muito mais eficientes, mas ficam obstruídas pelo material particulado. Torre de Pratos Câmara de “spray” Torre Empacotada b. Adsorção: É um processo de transferência de massa no qual o gás é ligado a um sólido. É um fenômeno superficial. O gás (o adsorbato) penetra nos poros do sólido (o adsorvente), mas não no retículo propriamente dito. A ligação pode ser física ou química. Forças eletrostáticas retêm o gás poluente quando a ligação física é significativa. A ligação química ocorre por uma reação com a superfície. São usados vasos de pressão com leitos fixos para sustentar o adsorvente. Carvão ativo, peneiras moleculares, sílica gel e alumina ativada, são os adsorventes mais comuns. A propriedade comum destes adsorventes é uma grande área superficial “ativa” por unidade de volume. Eles são muito eficazes para hidrocarbonetos. Além disso, eles podem capturar H2S e SO2. Uma forma especial de peneira molecular pode também capturar o NO2. Com exceção do carvão ativo, os adsorventes têm a desvantagem de adsorverem primeiramente a água antes de qualquer outro poluente. Portanto, a água tem que ser removida do gás antes dele ser tratado. Todos os adsorventes estão sujeitos à destruição em temperaturas moderadamente altas (150°C para o carvão ativo, 600°C para as peneiras moleculares, 400°C para a sílica gel e 500°C para a alumina ativada). 8 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Campus Regional de Resende Engenharia de Produção Ciclo de Adsorção Química II-B Poluição Atmosférica Ciclo de Dessorção Em contraste com as torres de absorção onde o poluente coletado é continuamente removido pelo fluxo de líquido, o poluente coletado permanece no leito adsorvente. Portanto, enquanto o leito não estiver saturado, nenhum poluente será emitido. Quando o leito fica saturado, ele deve ser então regenerado. c. Combustão: Quando o contaminante na corrente gasosa é oxidável a um gás inerte, a combustão é um possível método de controle alternativo. Tipicamente, o CO e os hidrocarbonetos caem nesta categoria. Tanto a combustão com chama direta por pósqueimadores quanto a catalítica têm sido usadas em aplicações comerciais. A incineração com chama direta é o método a ser escolhido se dois critérios forem satisfeitos. Primeiramente, a corrente gasosa tem que possuir um poder calorífico maior do que 3,7 MJ/m3. Acima deste valor, a chama se torna auto-sustentável após a ignição. O segundo requisito é que nenhum dos subprodutos seja tóxico. 9