CONTRIBUIÇÕES DA ANTROPOLOGIA À FORMAÇÃO DO
EDUCADOR
Rouziane de Castro Santos1
Diana Sá Tompson de Melo2
Mitz Helena de Souza Santos3
RESUMO
O presente estudo analisou as contribuições da Antropologia na formação do educador,
confrontando concepções teóricas à compreensão dos docentes do Departamento de
Fundamentos Sócio-Filosóficos da Educação da UFPE acerca da importância desta
Ciência na formação do Educador, adotando a pesquisa de natureza qualitativa.
Utilizou-se pesquisa bibliográfica, análise documental e entrevistas. Percebeu-se o
reconhecimento das múltiplas contribuições da Antropologia à formação do educador,
predominando na compreensão dos docentes uma visão não propriamente pedagógica
da Antropologia, verificado em seus discursos e no próprio Programa da Disciplina
Antropologia da Educação, cujo debate sobre como incorporar as contribuições da
Antropologia em seu viés pedagógico à formação do educador parece ausente.
Palavras - chave: FORMAÇÃO DO EDUCADOR, RELAÇÃO EDUCAÇÃOANTROPOLOGIA, ANTROPOLOGIA E FORMAÇÃO DO EDUCADOR.
INTRODUÇÃO
Um dos principais objetivos da Educação, em todas as sociedades, é garantir sua própria
continuidade. Conseqüentemente, a natureza da principal instituição educacional desta
sociedade, a escola, é determinada pela natureza da própria sociedade, ou seja, pela
ideologia, pelas relações entre Estado e Sociedade Civil, dentre outros. Para compreender
com mais clareza a sociedade contemporânea, complexa e plural, “onde os conceitos são
muitas vezes mal interpretados, é bom considerar as influências da educação em grupos
sociais menos sofisticados" GRUBER (1963, p.26.).
No Brasil, a partir dos anos oitenta, as mobilizações da sociedade civil pressionaram o
Estado no sentido de sua própria democratização. Assim, os conteúdos da educação passaram a
ser fortemente questionados por diferentes movimentos, projetando para as décadas seguintes,
1
Graduanda em Pedagogia - CE/UFPE - [email protected]
Concluinte do curso de Pedagogia - CE/UFPE – [email protected]
3
Orientadora – Professora do DFSFE/CE/UFPE – [email protected]
2
uma demanda pela revisão dos eixos orientadores dos cursos de formação, os quais têm, na
atualidade,
[...] em seus discursos, o objetivo de formar profissionais que, além de
comprometidos com a educação e com a transformação social, possuam
uma visão holística da sociedade [...] devem levar em consideração suas
pecualiridades, suas subjetividades e suas diversidades, nos mais diversos
segmentos.(MAGALHÃES 2003; p.13).
Dessa
Nessa perspectiva, os conhecimentos das Ciências Sociais, passaram a ser fundamentais
na formação deste profissional, uma vez que se relacionam com a busca do conhecimento da
totalidade do ser humano, ou seja, em suas características biológicas e sócioculturais. Papel caro
à Antropologia, na medida em que ela busca compreender o universo psíquico, a relação entre os
indivíduos e culturas, suas histórias, linguagens, valores, crenças ou costumes; incluindo a
origem, a evolução e as ações da humanidade, fundamentais às práticas educativas. Nesse
sentido, como Ciência Aplicada, “... Antropologia e antropólogos estiveram, no passado e no
presente, preocupados com o universo das diferenças e das práticas educativas”.(GUSMÃO,
1997). Galli (1993) afirma que essas ciências convergem não apenas nos estudos sobre a cultura
(Antropologia) e dos mecanismos educativos (Pedagogia), mas também abre possibilidades
para a existência de uma nova ciência: a Antropologia da Educação que seria, conforme
Gusmão (1997), tema e produto de um grande diálogo entre presente e passado, uma vez que,
da relação entre ambas as ciências, emerge
[...] o debate teórico e metodológico das chamadas pesquisas educativas
relacionadas às diversas e diferentes formas de vida que, [...] estão ainda a desafiar
o conhecimento. Em jogo, as singularidades, as particularidades das sociedades
humanas de seus diferentes grupos em face da universalidade do social humano e
sua complexidade através dos tempos e em particular, num mundo que se globaliza.
(GUSMÃO, 1997; p.04).
O Curso de Pedagogia da UFPE, de acordo com o seu Manual Acadêmico e, em consonância com
o atual projeto de resolução das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, deve formar
profissionais para atuação com ênfase na docência na maior parte das modalidades de ensino da Educação
Básica, assim como atuar nas demais áreas que requeiram conhecimentos pedagógicos. No referido projeto de
lei ( 1º parágrafo, artigo 2), a docência deve ser entendida como
[...] ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais,
étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conhecimentos científicos e culturais, valores éticos
e estéticos inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de construção do conhecimento,
no âmbito do diálogo entre diferentes visões do mundo.
O atual projeto de lei aponta, como diversos teóricos da área, para a necessidade de uma formação integral
para estes profissionais. Em seu 3º artigo, o referido projeto de Lei, explicita que, em sua formação, o estudante
do Curso de Pedagogia
2
[...] trabalhará com um repertório de informações e habilidades composto por pluralidade de
conhecimentos teóricos e práticos, [...] fundamentando-se em princípios de interdisciplinaridade,
contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e
estética..
Para que esta formação seja integral, necessita se relacionar com diferentes áreas do
conhecimento. E, de acordo com Moysés (1976, p. 19), o campo antropológico se
configura enquanto um dos mais importantes, pois como é possível formar o homem
(papel da educação), se não o compreendemos (papel da antropologia)?.
Pretende-se aqui contribuir para a reflexão acerca das contribuições da
antropologia na formação do educador, além de entender como têm sido compreendidas
as relações Pedagogia e Antropologia, que no Curso de Pedagogia da UFPE se revela
através da disciplina Antropologia da Educação.
O PROBLEMA: SEU ENUNCIADO E SUA IMPORTÂNCIA
Antes de questionar qual o tipo ideal de formação para os educadores, deve-se
proceder como Kant4 e questionar: o que é o homem? Será ele educável?
Kant, ao indagar o que é homem, relacionava-a à Antropologia, advertindo,
desde então, que todo o mundo estaria nela contido, visto as questões filosóficas, morais
e religiosas, a ela se remetiam e a ela se reduziam. (MOYSÉS, 1976). Investigar o
homem é analisá-lo em todos os seus aspectos. E sendo a educação “o que forma o
homem”, o aspecto pedagógico estaria, também, contido na Antropologia, levando a
admitir uma forte relação entre as duas ciências. Daí, enunciar, então, o seguinte
problema: Quais as contribuições da antropologia na formação do educador e como os
docentes do DFSFE/UFPE as compreendem?
É fato que a atual tendência da educação é a expansão em termos tanto
quantitativos, quanto qualitativos. Conforme a UNESCO, a reestruturação de um
sistema educacional se dá a partir do momento em que se prolonga a educação para
além da escola. É notória, há algumas décadas, a preocupação dos órgãos nacionais e
internacionais para com a expansão da Educação. Para que isso de fato ocorra, faz-se
necessária uma certa preocupação com as linhas de planejamento e administração
educacional (Moysés, 1976), mas, além disso, “... precisa-se de uma expansão no
campo do conhecimento e da informação, envolvendo, assim, o processo educacional e
4
KANT, I. Crítica de la razón pura y prolegómenos a toda metafísica futura. Buenos Aires, Ateneo, 1950.
3
suas implicações[...]” (MAGALHÃES, 2003; p. 84). Assim, de acordo com a referida
autora, sobretudo na atualidade, o educador precisa de uma formação que dê conta do
ser em sua totalidade. Por isso, deve incorporar em suas abordagens os diferentes
aspectos que constituem o ser. Para além da instrução, as práticas educativas deverão
levá-lo ao conhecimento de si, dos outros e, do conjunto da natureza, exigindo a
interface Educação com outras ciências que como ela reflitam sobre os homens em suas
várias dimensões, surgindo
[...].ao lado dos clássicos fundamentos da educação, contribuições
provenientes de outras áreas do saber, tornando mais amplo, mais
profundo e completo o estudo sobre a educação e a pedagogia”.
(MOYSÉS, 1979, p. 03)
Contribuições que, dentre outras, ainda conforme a referida autora, resultam da
aplicação de determinado campo de estudo à Pedagogia, a exemplo, da Economia, da
Filosofia, da História, da Estatística, da Psicologia e da Antropologia, por ser
fundamental à formação humana antes de qualquer outra coisa, conhecê-lo. A Educação
e a Pedagogia poderiam voltar-se para o modelo sociológico, psicológico, ou até mesmo
biológico, porém, estariam, como afirma Moysés (1979), correndo o risco de uma
distorção que resultaria num “sociologismo”, num “psicologismo” ou até num
“biologismo”. Para a autora, o antropológico excluiria essa unilateralidade, pois a
Antropologia garante entender a multiplicidade de aspectos que constituem o homem.
E, para entender o homem em seus múltiplos aspectos, possibilidades e limitações, a
Educação encontra na Antropologia muitas das explicações de que necessita, para, ao
compreendê-lo, saber como lidar, no ato pedagógico, com suas uniformidades e
singularidades, possibilitando lidar com o outro com a alteridade necessária.
BREVE HISTÓRICO DO SABER ANTROPOLÓGICO
Antes de abordar as relações entre Educação e Antropologia, pretende-se
elucidar o conceito desta última e traçar um breve histórico, pois diversos são os
significados atribuídos ao termo. Há mais de dois séculos, o referido termo tem tomado
sentidos diferentes e tem sido aplicado a realidades diversas.
Durantes anos, pela própria amplitude de áreas de estudos existentes na
Antropologia, houve crises quanto ao que seria a Antropologia e se esta seria, de fato,
uma ciência. Embora alguns autores, como Moonen (1988) e Pelto (1977), concorde
que a Antropologia se tenha definido enquanto ciência só depois da revolução
4
Iluminista, a partir de um debate mais claro acerca de objeto e método, as origens do
saber antropológico, de acordo com Quadros (2004), remontam à Antiguidade Clássica,
atravessando séculos, pois “Enquanto o ser humano pensou sobre si mesmo e sobre sua
relação com "o outro", pensou antropologicamente” QUADROS (2004; p.48).
Na antiguidade grega, pensadores como Homero, Hesíodo e os filósofos Présocráticos já questionavam o impacto das relações sociais sobre o comportamento
humano. Inclusive por perceberem este impacto como conseqüência dos caprichos dos
deuses5, ou como construções racionais, valorizando muito mais a apreensão da
realidade no dia a dia da experiência humana, como preferiam os Pré-socráticos. Sem
dúvida, como afirma Quadros(2004),foi na Antiguidade Clássica que a "medida
Humana" se evidenciou como centro da discussão acerca do mundo. Os gregos
deixaram inúmeros registros e relatos acerca de culturas diferentes da sua, assim como
os chineses e os romanos. Dessas produções nascia, de acordo com o referido autor, a
Antropologia, e no século V a.C. isto se revela na obra de Heródoto, que descreveu
minuciosamente as culturas com as quais seu povo se relacionava.
Em Roma, pode-se destacar o poeta Lucrécio, que realizou investigações sobre o
surgimento das religiões e das artes. Além dele, o historiador Tácito ao analisar os
povos germânicos, a partir dos diários de soldados, tentou relacionar seu modo de vida
ao modo de vida romano.
Ainda na antiguidade, Agostinho, descreveu as civilizações greco-romanas
“pagãs” como moralmente inferiores às sociedades ditas cristãs, fazendo uma análise da
vida sócio-cultural, embora enfatizasse o aspecto espiritual.
Apesar da Antropologia ainda não existir enquanto ciência específica, o saber
antropológico já participava das discussões da Filosofia, ao longo dos séculos. Na Idade
Média, muitos escritos contribuíram para a formação de um pensamento racional,
aplicado ao estudo da experiência humana.
Somente no século XVIII, de acordo com Pelto (1977), a Antropologia adquire
caráter de Ciência, partindo das classificações do naturalista Lineu e tendo como objeto
a análise das "raças humanas". O legado desta época foram os textos que descreviam as
terras e os povos “descobertos”. Servem de exemplos as obras que falavam dos
indígenas brasileiros: a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Debret, “Viagem
Pitoresca e Histórica ao Brasil”. Além destas, outras obras falavam das terras recém
5
Como pode ser visto em: A Odisséia, de Homero e A Teogonia, de Hesíodo.
5
descobertas, como a carta de Colombo aos Reis Católicos. A contribuição dos
missionários jesuítas na América auxiliou na criação e desenvolvimento da denominada
“teoria do bom selvagem”, defendendo a idéia de que uma cultura mais próxima do
estado "natural" serviria de remédio aos males da civilização.
Durante o século XIX, a Antropologia foi marcada pelo evolucionismo e, de
acordo com Moonen (1988), privilegiou o Darwinismo Social, que considerava a
sociedade européia da época como o apogeu do processo evolucionário e as sociedades
aborígenes como exemplares "mais primitivos", inferiores ou antíteses da civilização.
Esta interpretação usava o conceito de civilização para classificar, julgar e,
posteriormente, justificar o domínio de outros povos. Esta maneira de ver o mundo a
partir de uma suposta superioridade civilizacional, ignorava as diferenças em relação
aos povos tidos como inferiores e recebeu o nome de etnocentrismo. (QUADROS,
2004). É a partir dessa visão etnocêntrica de homem que se atribui o valor de
“civilizado”, fazendo crer que outros povos, como os das Ilhas da Oceania estavam
“situados fora da história e da cultura”. Em contraponto à Teoria Evolucionista,
fundamentadas nestas concepções, as primeiras grandes obras da Antropologia,
consideravam, por exemplo, o indígena das sociedades não européias como o antecessor
do homem civilizado. Assim, afirmava e qualificava o saber antropológico como
disciplina, centrando o debate no modo como as formas mais simples de organização
social teriam evoluído. Conforme essa abordagem, as sociedades caminhariam para
formas mais complexas como as da sociedade européia. Surge, então, o Difusionismo
que, se contemporâneo ao Evolucionismo, a ele reagiu, privilegiando o entendimento da
natureza da cultura, em termos de origem e extensão, de uma sociedade a outra. Para os
difusionistas, o empréstimo cultural seria um mecanismo fundamental de evolução
cultural, acreditando que as diferenças e semelhanças culturais eram conseqüência da
tendência humana para reproduzir e a absorver traços culturais, como se a humanidade
possuísse uma "unidade psíquica", o que lhes possibilitaria estabelecer relações de
troca, conforme explicitam as obras do antropólogo alemão, Adolf Bastian.
Conforme Moonen (1988), a Antropologia tal como conhecemos hoje, nasceu na
Europa, em meados do século 19, recebendo o título “de ciência das sobras’” (Moonen,
1988; p. 10), pelo fato estudar tudo o que não era de interesse das demais ciências.
Além disso, ainda de acordo com o referido autor, a Antropologia era considerada pelo
povo como algo que nada rendia e pra nada servia, a não ser para a satisfação dos
6
antropólogos. No intuito de romper com essa visão, surge, então, o que teóricos, como
Heusch (1975) e Laplantine (1988), denominam de uma linhagem francesa da
Antropologia. A referida tendência surge, segundo Heusch (1975), em 1901,com Émile
Durkheim. Durkheim6 começa, então, a definir os fenômenos sociais como objetos de
investigação socio-antropológica e, de acordo com o referido autor, é a partir da
publicação de sua obra “Regras do Método Sociológico”, em 1895, que se começa a
pensar que os fatos sociais seriam muito mais complexos do que se pretendia até então.
No século XX, surgem, então, correntes como o estruturalismo, que tem como
representantes Ferdinand Saussure, na lingüística; Lacan, numa abordagem psicanalítica
e, no campo da cultura, Claude Lévi-Strauss. Essa corrente, de acordo com Quadros
(2004), muito influenciou a educação que, ao lado do funcionalismo e da antropologia
interpretativa, promovem a desmistificação da objetividade da construção de narrativas
e descrições. Ela contribui, de acordo com Clifford (1998; p. 39), mais precisamente,
“... para uma visibilidade dos processos mais amplos... pelos quais objetos ‘culturais’
são inventados e tratados como significativos”.
A RELAÇÃO ENTRE ANTROPOLOGIA E EDUCAÇÃO
De acordo com Gusmão (1997), na atualidade, a Antropologia e a Educação
constituem
[...] um campo de confrontação em que a compartimentação do saber atribui
à antropologia a condição de ciência e a educação, a condição de prática.
Dentro dessa divergência primordial, profissionais de ambos os lados se
acusam e se defendem com base em pré-noções, práticas reducionistas e
muito desconhecimento.[...] (P.07)
Na relação entre Educação e Antropologia, de acordo com a referida autora, um
impasse existente é o como se “colocar no lugar do outro, de ver como o outro vê, de
compreender um conhecimento que não é o nosso” (Gusmão, 1997; p.07). Dessa forma,
a Antropologia e os antropólogos sentem sérias dificuldades ao tratar a Educação, seja
por não conhecerem ou por não legitimarem determinado percurso da Antropologia.
Sabe-se, porém, que uma ciência não se faz a partir do nada; além de ser fruto de
necessidades fundamentais postas pelo movimento das sociedades humanas, nasce
comprometida com seu tempo, sem ser jamais verdade absoluta. A ciência como
6
Com a obra “Algumas Formas Primitivas de Classificação”.
7
conhecimento é movimento que se constrói vinculada ao contexto histórico que a
origina. Nada mais legítimo, portanto, do que buscar conhecer os caminhos trilhados
pela Antropologia para dimensionar os caminhos em constituição em face de diferentes
campos. (GUSMÃO, 1977).
O diálogo entre Antropologia e Educação, de acordo com Gusmão (1997);
Magalhães (2003), Moysés (1976), não é algo novo, porém, só foi claramente percebido
a partir de 1970. Galli (1993), em seu estudo, afirma que antes disso, a Antropologia
tentava compreender uma possível cultura da infância e da adolescência. Eram temas de
suas pesquisas e debates, os processos interculturais infantis e os sistemas educativos
informais, segundo uma concepção mais ampla de Educação.
No início do século passado, segundo Gusmão (1997), diversos antropólogos
envolvidos nesses debates travaram embates com os pensamentos de Freud e Piaget. E
que segundo ela, muitos antropólogos tiveram atuação importantíssima no vasto
programa de reforma curricular promovida nos EUA.
Dessa forma, como afirma Galli (1993), tais questões fazem convergir os
estudos da cultura, no caso da Antropologia, e dos mecanismos educativos, no caso da
Pedagogia, possibilitando a existência de uma Antropologia da Educação - tema e
produto de uma grande conversa do passado -, isto também ocorre no presente, pois
Antropologia e Educação estabelecem um diálogo, do qual faz parte, também, o debate
teórico e metodológico das chamadas pesquisas educativas, relacionadas às diferentes
formas de vida que estão ainda a desafiar o conhecimento. Em jogo está a compreensão
das singularidades, das particularidades das sociedades humanas, de seus diferentes
grupos em face da universalidade do social humano e sua complexidade através dos
tempos em particular num mundo que se globaliza.
A antropóloga Margaret Mead foi uma das que mais se interessou por essa
relação7. Sem dúvida, sua contribuição é significativa para a Educação, sobretudo no
tocante às influências psicológicas da descontinuidade cultural sobre a formação da
personalidade. Mead defende que um conceito mais recente de Educação difere do
conceito das sociedades primitivas e para entender esse processo, precisa-se em alguns
casos recorrer à analise de materiais antropológicos, inclusive através de um estudo
intercultural, e comparativo, que, dessa forma, pudesse identificar os meios que os
fizessem chegar a um melhor conceito de educação. Para que se possa compreender a
7
Sobretudo em seu livro OUR EDUCATIONAL EM PHASES IN PRIMITIVE PERSPECTIVE.
8
educação e seu fim, KRUPPA (1997), afirma que é mais do que necessário recorrer ao
sentido amplo de cultura que, de acordo com Brandão (2001, p. 25) “[...] deve ser
entendida como compreendendo tudo o que existe transformando a natureza pelo
trabalho do homem e que, através de sua consciência, ganha significado”. Por isso,
embora objeto de estudo da Antropologia, a cultura encontra, na Educação, importante
espaço para sua reinvenção ao possibilitar, pela reflexão, a reconstrução de valores e
práticas e, assim, da própria cultura.
As contribuições que a Antropologia pode fornecer à Educação parecem ser
vastas e incontestáveis, daí a necessidade que os educadores tenham uma formação
consistente o suficiente para saber selecionar o que a Ciência Antropológica pode lhes
fornecer, no intuito da fundamentação necessária à reflexão e (re) direcionamento da
prática pedagógica.
O PAPEL DO EDUCADOR NA SOCIEDADE E O PAPEL DOS
CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Atualmente, tem-se vivido um momento de profundas crises e transformações
sociais. Não se sabe, com certeza, qual o melhor caminho a ser trilhado. Crises que
fazem repensar práticas, valores e discursos. Assim, a Educação, enquanto prática
social, de tempos em tempos elege o que lhe é prioritário. Na história desta Ciência, em
diferentes tempos, percebe-se suas diferentes finalidades e abordagens. Nesse processo,
a Educação e a escola, enquanto elementos desta sociedade, são, também, elementos
dessas transformações, incorporando suas crises, inclusive quanto à compreensão de um
certo declínio ou mesmo fracasso da escola enquanto instituição formadora.
De acordo com Monteiro (2002), as novas apostas que a sociedade vêm fazendo
no campo educacional “... elegeram o professor como fonte de superação deste
declínio..”.
Isso não implica dizer que o docente em outros momentos não foi
referendado nas questões da educação, mas o fato de as transformações mundiais,
sobretudo no campo da política e da cultura o terem afetado, tem implicações diretas
nas funções que lhes foram e ainda são tradicionalmente atribuídas. Dessa forma,
atualmente, o professor vem assumindo diferentes papéis no decorrer do debate
educacional e, de acordo com o referido autor, isso pode decorrer de várias razões.
[...] uma delas corresponde a uma certa tendência metodológica, própria de
nossa época, em considerar, sobretudo, os sujeitos da prática educativa, e
9
não só a instituição escolar, a partir de uma lógica de funcionalidade. Uma
outra, diz respeito às transformações sociais e políticas que vêm ocorrendo
em nossa atualidade e o impacto que elas vêm causando no campo da
educação e, especialmente no que diz respeito ao professor.
(MONTEIRO, 2002; p. 17)
Ainda conforme o referido autor, essas mudanças provêm de diversas ordens e
apontam para novos objetivos educacionais, que acabam refletindo no papel do
educador, seja a partir de suas responsabilidades sociais, seja pelas concepções que tem
de sua própria profissão. O debate sobre o papel e a profissão docentes passaram a
ocupar espaço importante na produção acadêmica, sobretudo no campo da pesquisa,
compondo um universo temático de discussão pedagógica atual. A ênfase a este aspecto,
dada por autores como Perrenoud (1999) e Martinez (1997), produziu diversos modelos
interpretativos da profissão docente, partindo cada um deles, de aspectos os mais
variados, pautados na compreensão de que o docente e a sua prática cotidiana são,
juntos, o resultado de um conjunto de relações e determinações que, indubitavelmente,
precisa ser levado em consideração.
E devido às mudanças que continuam a surgir nos campos mais relacionados
com a Educação, sobretudo o da cultura e o da política, é que diversos autores se
colocam diante da formação do professor como um dos problemas cruciais da
atualidade, inserindo-se, assim, na difícil condição de pensarem novos perfis
profissionais e “o estatuto identitário” do professor. (MONTEIRO, 2002)
Faz-se necessário compreender a importância do cruzamento dos fatores que
subjazem à formação profissional e ao papel docentes. E é dessa compreensão que
resultam as possibilidades de se entender o desenvolvimento de sua formação e de sua
prática pedagógica, para que dela germine a reflexão sobre os conhecimentos e as
posturas que fundamentam a atuação educativa e, nesta perspectiva,
[...] Sobre o sentido da prática pedagógica, dos fins cultural e político que
são atribuídos à educação, assim como os saberes que subsidiam seus
objetivos; a importância ou o papel do professor na realização e no
encaminhamento desses objetivos políticos e culturais da escola; os
diversos fatores ou aspectos que afetam essa atribuição e realização do
papel político e cultural do professor.(MONTEIRO, 2002; p.24)
Dessa forma, os educadores têm importante papel de intervenção nas questões
culturais e políticas de seu tempo e, por isso precisam problematizar a educação,
indagando o porquê e o para quê do ato educativo. Mais que isso, sua tarefa é a de quem
incomoda, de quem evidencia e trabalha o conflito, não o conflito pelo conflito, mas o
conflito para sua superação dialética. (GADOTTI, 1998)
10
De acordo com a com a LDB, os Referenciais para a formação do Professor
(SEF, 1999), afirmam que os professores são profissionais polivalentes, uma vez que
precisam, em suas práticas, dar conta de
[...] pautar-se no princípio da ética democrática ... gerir a classe, a
organização do trabalho, estabelecendo uma relação de autoridade e
confiança com os alunos; ... intervir nas situações educativas com
sensibilidade, acolhimento e afirmação responsável de autoridade; ...
desenvolver-se profissionalmente e ampliar seu horizonte cultural,
adotando uma atitude de disponibilidade para a atualização, flexibilidade
para mudanças. [...] ( SEF/MEC, 1999. p. 81 - 84)
Além de todas essas funções que o texto acima descreve, Gadotti (1998), ainda
nos mostra que o educador precisa, antes de quaisquer outras competências, “[...]
promover mudanças sociais [...] e observar as mazelas que a sociedade atual vem
criando: a fome, a miséria, as injustiças sociais, o desrespeito aos mais básicos direitos
humanos.” (GADOTTI, 1998; p. 87). O autor chama, ainda, a atenção para o papel
político do professor, visto que a educação, assim como a política, são elementos a
respeito dos quais não se pode apostar na neutralidade. É nessa perspectiva que se
evidenciam as diferenças entre o professor e o educador.
Por sua vez, Alves (1998) e Freire (1993), afirmam que o professor, além das
demais competências que lhe são atribuídas, precisa ser um profissional crítico e
reflexivo. Para tanto, precisa ser, também, um pesquisador, uma vez que os
conhecimentos advindos da teoria são elementos que podem subsidiar sua prática, a
qual, por sua vez, fornece material de reflexão à teoria no campo educacional.
Na esteira dos novos debates sobre a educação e o papel do educador na
sociedade, Alves (1998), afirma que compete ao “novo educador” refazer a educação,
reinventá-la, criar as condições objetivas para que uma educação realmente democrática
seja possível, criar uma alternativa pedagógica que favoreça o aparecimento de um novo
tipo de pessoas, solidárias, preocupadas em superar o individualismo criado pela
exploração do trabalho.
Percebe-se, então, o quão multifacetada é a profissão docente. O que representa
um duplo movimento, em que o educador precisa dar conta de contribuir para a
formação integral e crítica dos educandos e ser um profissional que está comprometido,
enquanto agente, com as transformações sociais de seu tempo; profissional crítico e
reflexivo, comprometido com a inclusão e o desenvolvimento de preceitos éticos.
Surge, então, uma preocupação: como pode o educador assumir um papel dirigente na
sociedade se a sua formação resume-se a uns poucos conhecimentos de métodos e
11
técnicas de ensino ou a uma história da educação que se perdeu no passado e nunca
chega aos nossos dias?
A delimitação da formação docente e de sua atuação na sociedade, sem dúvida,
deve estar relacionada com os saberes que ele deve possuir (FORQUIN , 1993; VILLA,
1998). E sendo assim, emerge, então, outra indagação: como os cursos de formação de
professores atuam para formar esse profissional?
Magalhães (2003) afirma que as “Faculdades de Educação”8 precisam, antes de
tudo, ter clareza de que profissional se pretende formar e, para isso, deixa claro que é
imprescindível existir uma proposta político-pedagógica, avalia que se apenas se faz
uma revisão das iniciativas no sentido de formar o professor, elas vêm assinadas por
alcunhas emergenciais, fragmentárias e com um caráter marcadamente conservador,
colocando-se distante das necessidades atuais. Se feitas apenas em atendimento às
exigências podem fugir ao domínio dos interesses, inclusive, nacionais. Isto significa
dizer que, embora nos últimos anos tenham se ampliado as vozes em defesa da
formação continuada, não se evidenciaram políticas públicas incisivas quanto à
qualificação docente, sobretudo, no que se refere à formação inicial. Se considerarmos o
processo de mudanças sociais em curso, sujeito à força das mudanças advindas dos
avanços científico e tecnológico, em que o conhecimento rapidamente torna-se obsoleto,
percebe-se que a provisoriedade se transforma numa ameaça que instiga uma
permanente busca de conhecimento; logo, isto exige que o cidadão esteja
constantemente revendo e reformulando seus saberes, sua forma de agir no mundo, e
nesse sentido, a escola passa a ter tarefa exponencial. Certamente esse desafio de
ensinar, cada vez mais complexo, esbarra-se no professor, dando maior visibilidade a
uma lacuna existente na formação e, certamente, tornando mais intensa a necessidade
dos cursos de formação de professores se colocarem em permanente revisão, além de
justificar a necessidade da educação continuada para os que já se colocaram no ofício de
ensinar. Este desafio não é pequeno para a dinâmica do trabalho docente, considerandose o processo por que passaram – e alguns ainda passam - os atuais professores da
Educação Básica e das Licenciaturas, estes oriundos em sua maioria das faculdades
isoladas, cuja formação, em alguns casos, concorreu para uma visão fragmentada e
muitas vezes anacrônica do método científico, da ciência e da tecnologia. Certamente,
no trabalho desses professores, estará refletida a formação recebida.
8
Na UFPE, chama-se de Centro, especificamente, Centro de Educação.
12
Alves (1998) e Magalhães (2003), deixam claro que os cursos de formação de
professores devem oportunizar aos discentes uma preparação holística e crítica da
realidade e, para tal, conforme Moysés (1979), o conhecimento das Ciências Sociais e,
sobretudo, da Antropologia são de extrema importância nesta formação, uma vez que,
de acordo com Brzezinski (1996; p.25),
[...] o educador enquanto profissional do ensino é aquele que domina o
conhecimento específico de sua área, articulado ao conhecimento
pedagógico, numa perspectiva de totalidade do conhecimento socialmente
produzido, que lhe permite perceber as relações existentes entre as
atividades educacionais e totalidade das relações sociais, econômicas,
políticas e culturais em que (no) processo educacional seja capaz de atuar
como agente de transformação da realidade em que se insere.
FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA PESQUISA E
ANÁLISE DE DADOS
Objetivando compreender as contribuições da Antropologia, confrontou-se
concepções teóricas à proposta oficial do curso de Pedagogia e a compreensão dos
professores sobre as contribuições da referida ciência na formação do Educador.
Pretendeu-se, ainda, analisar como e até que ponto, a importância do conhecimento
antropológico é reconhecida no Curso de Pedagogia da UFPE. Analisou-se, ainda,
semelhanças e discrepâncias entre o que dizem os professores do Centro de Educação
da UFPE e a proposta deste Curso e, para tal, adotou-se uma abordagem qualitativa de
pesquisa que, segundo Gamboa (1995), é a que melhor se adequa à pesquisa
educacional, pois através dela se pode aprofundar a compreensão e interpretação do
objeto da presente pesquisa. Além disso, ela procede, pelo fato de ser uma abordagem
que
[...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, com
valores, crenças, atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo
das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalidade de variáveis. (MINAYO, 2000, p. 22)
Pesquisar sobre as contribuições da Antropologia na formação do educador
pressupõe uma pesquisa que apreenda os diferentes aspectos da realidade em suas
particularidades. Pela própria natureza do objeto, o estudo preocupou-se em analisar
uma realidade que não pode ser mensurada. E, dessa forma, a abordagem qualitativa é a
mais adequada por ser a que permite
13
[...] uma conduta participante que partilhe da cultura, das práticas, das
percepções e experiências dos sujeitos da pesquisa, procurando
compreender a significação social por eles atribuída ao mundo que os
circunda e aos atos que realizam [...] (CHIZZOTI, 1998; p.82)
Procedeu-se, inicialmente, à pesquisa bibliográfica a qual possibilitou o
embasamento teórico necessário para o desenvolvimento deste estudo. Pois de acordo
com Cruz Neto (2000; p.53),
A pesquisa bibliográfica coloca frente a frente os desejos do pesquisador e
os autores envolvidos em seu horizonte de interesse... trata-se de um
confronto de natureza teórica que não ocorre diretamente entre
pesquisador e atores sociais que estão vivenciando uma realidade peculiar
dentro de um contexto social[..]
Os conceitos construídos nessa fase da pesquisa foram de suma importância ao
desenvolvimento do estudo pois possibilitou compreender, com mais clareza, a ciência
antropológica, suas relações e suas contribuições ao campo educacional.
Em seguida, procedeu-se à análise documental. Pretendia-se, inicialmente,
analisar o documento que regulamentou o curso de pedagogia da UFPE e/ou seu Projeto
Político Pedagógico. Porém, este último ainda está em fase de implementação e o
primeiro sequer foi fornecido pelos órgãos competentes. Restou, então, analisar,
enquanto documentos oficiais, o Projeto de Lei que regulamenta as Diretrizes
Curriculares para o curso de Pedagogia e o Programa da Disciplina Antropologia da
Educação9.
Outro instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista semi-estruturada.
Sua escolha deu-se pelo fato dela ter, conforme Cruz Neto (2000), um caráter de
interação que faz com que haja
[...] uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem
responde [...] como se realiza cada vez de maneira exclusiva, seja com
indivíduos ou com grupos, a entrevista permite correções, esclarecimentos
e adaptações que a tornam sobremaneira eficaz na obtenção das
informações desejadas. (LÜDKE e ANDRÉ, 1986; p.33).
As entrevistas foram realizadas com sete (07) docentes do Departamento de
Fundamentos Sócio-Filosóficos da Educação(DFSFE)-CE/UFPE. O que presidiu o
critério de escolha dos entrevistados foi o fato de terem ministrado, em algum momento,
a referida disciplina ou pertencerem a área de concentração da disciplina no referido
departamento.
Elaborou-se um roteiro composto de 06 questões, conforme o que segue:
9
Cedido pelo Departamento de Fundamentos Sócio-Filosóficos da Educação.
14
1- Qual a sua formação acadêmica?
2 – Leciona ou lecionou disciplina ? Sente-se sente apto ? Gostaria de ministrá-la?
3 - Qual o seu conceito de Antropologia ?
4 – Que relações estabelece entre Antropologia e Educação?
5 – Quais as contribuições da Antropologia na formação do/a educador/a?
6 – O que, em sua opinião, faz a Disciplina Antropologia da Educação, neste Curso
de Pedagogia?
A primeira questão objetivou identificar o percurso formativo do professor e, se
nessa formação, estaria contemplado o conhecimento necessário à docência da
disciplina, o que também possibilitaria identificar se no seu perfil o docente
demonstraria maior ou menor afinidade/aptidão para seu ministério. O que remete à
segunda questão sobre sua disponibilidade, habilitação e vontade de ministrá-la,
buscando identificar se dentre os docentes aptos seriam encontrados aqueles que de fato
sentissem afinidade com a área do conhecimento antropológico. Quanto à terceira
questão, buscou-se apreender a compreensão de cada docente, notadamente quanto à
clareza do conceito de Antropologia. A quarta questão remete a um dos aspectos
centrais da pesquisa, ou seja, se o docente compreende a dimensão pedagógica da
Antropologia e, como na quinta questão, se sua relação com a Educação é
suficientemente clara para que na docência se estabeleça a relação entre Antropologia e
Educação. E, finalmente, a sexta questão, pretende apreender se até que ponto os
docentes reconhecem a necessidade de sua permanência no currículo, como
contribuição importante para a formação da identidade/perfil do pedagogo, conforme as
atuais exigências legais, políticas, éticas e culturais.
Para efeito de análise, será obedecida a seqüência das questões anteriormente
apresentadas, esclarecendo que a definição dos conteúdos/temáticas existentes nas seis
(06) questões, correspondem às categorias analíticas da pesquisa que possibilitará a
construção de um quadro de referência para que se chegue a algumas considerações que
mesmo sendo provisórias, trazem, em si, aspectos avaliativos.
As respostas dos entrevistados serão analisadas seguindo-se a ordem de
entrevistas realizadas e a cada docente será atribuída uma letra do alfabeto, de forma a
não identificá-los por seus nomes, com o fito de resguardar suas identidades como
pessoas. Assim ao primeiro(a) docente será atribuída a letra A entre parênteses, ao
segundo B da mesma forma e assim por diante.
Dessa forma é que quanto à formação acadêmica pudemos identificar o que se
segue:
15
Relativamente ao Curso de Graduação, dos sete entrevistados apenas um (01)
tem formação em Pedagogia. Os demais têm formações diversas. Em nível de Mestrado,
também apenas um (01) cursou Antropologia. O que pode indicar, a princípio, não ter
havido, por razões variadas, um maior empenho, ou mesmo possibilidade, de o
Departamento absorver, em seus quadros, pessoas com a formação específica. É
possível que a escassez de docentes com formação antropológica tenha dificultado o
ministério da disciplina, o que poderá ser observado nas questões seguintes, inclusive
quanto à aptidão/vontade dos docentes do DFSFE ministrarem a disciplina
Antropologia da Educação. Isso se reflitirá também em questões de ordem conceitual,
quanto à definição do conceito de Antropologia, sua relação com a Educação, bem
como sua importância e contribuição para a formação do pedagogo.
Quanto aos entrevistados, no que se refere à docência, cinco (05) lecionaram a
disciplina, os demais, não. Sendo que destes, (B) afirmou não se sentir apto a lecioná-la,
por falta de sistematicidade dos estudos em Antropologia. Ainda dentre estes, nas
razões apresentadas para a aptidão, um (C) justificou que o fato de a ter lecionado o
tornaria apto para tal; um outro (E), cuja formação é especifica em Antropologia, afirma
estar apto por, nos últimos quinze (15) anos desenvolver estudos na área. Há, ainda,
quem afirme, de maneira genérica, que se sente apto por gostar da questão
antropológica e por, também, ter lecionado a disciplina. E por último (F), que define sua
aptidão pela formação, pela trajetória em pesquisa e pela importância que reconhece ter
a Antropologia na formação do pedagogo, quando olhada pelo viés pedagógico e não
propriamente antropológico. Dentre os que não lecionaram (D e G), disseram não se
sentirem aptos por reconhecerem não ter a preparação teórica necessária para realizar
essa docência com qualidade.
Quanto ao conceito de Antropologia, todas as falas coincidiram quanto à
centralidade da Cultura na análise antropológica. Mas, mesmo na definição, ao
refletirem sobre a Ciência Antropológica, algumas imprecisões teóricas, ficaram
evidentes quanto ao objeto da Antropologia. Ora ela se apresenta como “a ciência que
retrata o homem em suas relações sociais e como produtor de cultura” (Prof° A, B, E e
G), ora a Cultura é seu objeto de análise e, o homem aparece secundariamente como seu
produtor: “[...] estuda o homem a partir de sua cultura[...]”.(Profºs A, B, C, D e G). O
fato é que das entrevistas emerge uma compreensão de externalidade entre o homem e a
própria cultura da qual ele é seu produtor. Isso porque é objeto das Ciências Humanas e
Sociais estudar o homem. O que varia é sob que foco cada uma produzirá suas tentativas
16
de explicação. Além do que, invocar a análise dos humanos suas relações sociais, não é
objeto exclusivo da Antropologia. Além disso, atribuir à Antropologia o estudo “[...]
das manifestações dos grupos sociais, dos valores, e símbolos como formas de
expressão da cultura [...]” pode também obscurecer tanto o entendimento do objeto da
Antropologia , quanto em que medida e com quais matizes sua relação com a Educação
vai ser compreendida. Apenas o Profº(C) define com clareza a Antropologia como “...
Ciência da alteridade cultural...”, pois seu objeto de análise é “...por excelência o
estudo da cultura, que é o processo de interação entre os grupos humanos e o meio
físico e natural...”e por ser, ainda segundo ele, “um processo ao qual o homem
consegue sobreviver, extraindo os elementos que tira da natureza e depois a tradição
perpetua o conteúdo desse processo em termos de valores materiais e espirituais...”,
demonstrando uma compreensão de mutualidade das relações homem-cultura na qual
(Idem) “ os homens influenciam e são influenciados por ela...”. A imprecisão também
se revela quando (D) define a Antropologia, dizendo “eh..., ela tem uma interface muito
grande com a Sociologia...”. Majoritariamente, os docentes confundem o conceito de
Antropologia com o de Cultura. Como decorrência, alguns deles estabeleceram relação
entre Educação e Cultura e não entre Educação e Antropologia. Outro docente (F)
define com objetividade a Antropologia, seu objeto e métodos, indo além, pois
consegue deixar clara a sua relação para a Educação, não sob o ângulo da Antropologia,
mas ênfase da relação recai sobre o pedagógico, que deveria ser o foco de interesse e
preocupação do Curso de Pedagogia e demais Licenciaturas. Ainda nesse aspecto, dos
sete (07), só o docente (E) relaciona diretamente as implicações do conhecimento
antropológico sobre a educação, analisando como aspectos culturais interferem nas
práticas educativas, indagando como “... uma sociedade produz símbolos, valores,
religiões, etc que fazem diferenciar uma cultura das outras e qual o papel disso na
identidade de cada uma e como elas preparam suas futuras gerações...”.Dessa forma,
mesmo antes da análise das próximas questões, é possível perceber porque a disciplina
Antropologia da Educação aparece como algo sem organicidade no conjunto das
disciplinas do Curso de Pedagogia. Sua importância é unanimemente reconhecida pelos
entrevistados, mas sua relação com a Pedagogia se dá no nível de como a Antropologia
pode ser aplicada à Educação. Isso se diferencia da compreensão da Antropologia como
um instrumento auxiliar à Pedagogia, o que será abordado a seguir.
Nas considerações anteriores, de certa forma, emergiram aspectos relativos à
relação Educação-Antropologia. Confundir o conceito de Cultura com o de
17
Antropologia, pode produzir, em grande medida, dificuldades de se estabelecer uma
relação clara entre as duas áreas de conhecimento. Assim, a Antropologia surge na
compreensão dos docentes como algo aplicado para entender problemas que emergem
do/no cotidiano das práticas educativas, confundindo-se os problemas específicos do
campo cultural (objeto da Antropologia), com o conhecimento que instrumentaliza o
docente para pedagogicamente lidar com a linguagem, os valores, os símbolos enfim,
com a diversidade cultural dos alunos. Assim é que para (G), por exemplo,
“[...] a formação do pedagogo demanda uma articulação de todos os tipos
de conhecimentos possíveis, principalmente os do campo da sociologia e
da política, sem desprezar a economia, mas eu acho que tudo aquilo que
tem a ver com as relações que os seres humanos estabelecem na sua
produção cultural, na sua produção material ou não material, [...] esse
conjunto de conhecimentos é fundamental na formação do educador, pois
[...] você não está sendo formado aqui só para uma atividade em uma
escola ou empresa, ou seja, só para a atividade profissional específica. Eu
acho que você está sendo formado como um ser integral, político, social,
na sua dimensão mais ampla”.
Genericamente, no depoimento anterior, invoca-se outras áreas do conhecimento
para a formação do educador, compreendendo que por ser a realidade rica em aspectos,
todos deveriam estar presentes, de alguma forma, no currículo de Pedagogia. A
formação integral, no entanto, precisa ser compreendida não pelo volume ou
diversidade de conhecimentos, mas por uma concepção de formação que esclareça no
projeto político-pedagógico do Curso como estão sendo respondidas às questões
fundamentais: educa-se quem, para quê e como. Por isso, é fundamental eleger um
projeto formativo que defina claramente o perfil do Pedagogo. Propor os conteúdos que
fundamentarão a formação significa eleger um projeto de construção de sujeitos, os
quais lidarão com realidades distintas da sua e sobre a qual, a depender dessa formação,
lançará olhares e práticas diversos. Afinal por que é importante o conhecimento da
sociologia, da política e, até mesmo da antropologia, se o educador não reconhece como
as diferentes ciências podem contribuir para uma crítica à própria cultura, sem que isso
represente uma imposição, e não uma necessidade de seus alunos? A formação do
pedagogo não o instrumentaliza apenas para instruir. Ao contrário, o ajuda a
construir/destruir mundos, o que não deve ocorrer sem que se tenha objetivos claros do
que se pretende com um ou outro projeto educacional.
Para os entrevistados (D e F), a contribuição fundamental do conhecimento
antropológico reside no fato de que, enquanto Ciência da Alteridade, a Antropologia
permitiria ao educador entender as diferenças culturais “para que ele possa atuar numa
18
sala de aula, compreendendo que ali há grupos e subgrupos com os quais o educador
deverá aprender a não tratar o diferente como desigual”.Na mesma direção vão as
reflexões de (A B e E), conforme explicitado em (B):“É preciso entender os
fundamentos culturais do fazer educação. De aumentar a capacidade de entender o
contexto” Por isso, ainda para (B), ela“ Deve ser vista nessa dimensão do cotidiano, para
entender a pluralidade do humano, então vai ajudar a entender o diferente, ajudando a quebrar
uma visão hegemônica, às vezes autoritária de valores culturais, a ter tolerância com o outro ”
Ou para o docente (A):
“Se você não tem elementos que permitam entender como se dá esse
processo de construção do próprio homem em seu fazer histórico, na
interação com sua cultura, com os outros, como o educador vai exercer
uma prática pedagógica compatível com aqueles traços culturais ou
mesmo que possa oferecer ao aluno condições de uma visão crítica, de
intervenção na realidade, se lhe faltam elementos do que ele entende
ser a dimensão do ser, do homem como sendo cultura? Por isso é
fundamental que o professor tenha clareza e conhecimento da dimensão
cultural do aluno”.
Ou seja, segundo aponta (D):“[...] não há apenas aprendizagens formais e que têm
muitas ligações com as culturas, as práticas sociais, as formas de manifestações dos
grupos”.
Dos entrevistados, ( E, F ) explicitaram com clareza as relações Antropologia e
Educação, embora sob enfoques divergentes. A exemplo disso revela o docente (E)
“ [...] é uma relação muito estreita, [...] profunda, porque a educação é
nitidamente um processo cultural, um fenômeno cultural, um fato cultural
e a Antropologia é a ciência que estuda a cultura. E a Antropologia vai
além para ver a mentalidade, os costumes, os hábitos, o imaginário, aquilo
que alguns chamam de fatores imponderáveis, o espírito daquela
sociedade, [...] para descobrir a lógica interna da cultura, a identidade,
para que a educação não seja apenas teórica, descontextualizada, é preciso
que ela seja trabalhada [...] numa perspectiva antropológica e sempre
atenta ao tempo antropológico [...] a educação precisa emergir dos valores
daquele contexto cultural onde vai atuar, então a Antropologia da
Educação é muito importante para a educação, tanto do ponto de vista
coletivo, da cultura quanto do ponto de vista individual de acordo com a
pedagogia da autonomia de Paulo Freire [...]”.
E, dentre os dois, apenas (F) coloca, o que teórica e praticamente, de fato,
interessa à Pedagogia: a Antropologia na Educação que se distingue de Antropologia da
Educação conforme visto em E, na medida em que a primeira se coloca como um
instrumento auxiliar à Ciência Pedagógica. Assim explicita o entrevistado (F): “Eu vejo
a Antropologia na Educação como sendo um saber pedagógico (...), e não como um
saber antropológico...”, pois ainda conforme (F), a Antropologia da Educação qualquer
antropólogo pode fazer, “ porque ele estuda o objeto da educação como seu ponto de
19
análise, assim como faz a Antropologia da Saúde, a Antropologia Econômica”. Assim,
para (F), a Antropologia da Educação levaria o antropólogo a olhar o fenômeno
educacional “...com uma interpretação que também é importante para a educação, mas
que é um olhar de fora...”. Pois para (F), o objetivo da Antropologia na Educação,
“Não é fazer crescer a ciência antropológica e sim a ciência pedagógica,
no sentido de ser subsídio para o educador poder organizar o processo
com o seu grupo de educandos, se ele não expressa o momento social,
seria inválido. [...]. Antropologia lhe fornece uma sensibilidade cultural,
na medida em que ele vai selecionar aspectos da cultura, para que a
gente pudesse transitar melhor naquilo que é o objeto da educação e
entender a problemática cultural para dela contribuir para a formação do
sujeito humano”.
Ressalte-se que o tempo antropológico deve, na prática pedagógica, coincidir
com o tempo pedagógico. Compreende-se que, de fato, o tempo do ser cultural estará
sempre subjacente ao tempo pedagógico, mas como lidar com ele de forma a torná-lo
elemento central da Pedagogia, isto é, da aprendizagem, da reflexão, da crítica, os quais
subsidiarão o repensar da própria cultura?
É plenamente factível refletir sobre as possibilidades e limites das contribuições
que disciplina Antropologia da Educação oferecer à formação do pedagogo.
Anteriormente, falou-se da ausência de organicidade do conteúdo antropológico face ao
conjunto das áreas de conhecimento presentes no currículo de Pedagogia, reforçada na
análise de (F):
“Isso é muito problemático, pois fica ao sabor de cada professor. Se eu
fosse caracterizar o que tem sido a Antropologia no Curso de Pedagogia
da UFPE, você vai ver momentos muito distintos. No final se ensina
Antropologia como um saber antropológico e esquece a dimensão da
Educação. A Educação fica sendo um elemento da história e como sendo
o objeto da discussão antropológica”.
A presente pesquisa também levou a indagar se esse seria um problema
exclusivo da Antropologia ou se, de fato e até que ponto, o mesmo não ocorreria com as
outras disciplinas, na medida em que cada uma delas também poderia estar produzindo
uma leitura segundo sua ótica e não a da Pedagogia. Embora isso seja objeto de outros
estudos que não esse, vale ressaltar a possibilidade de se pensar um currículo para o
Curso de Pedagogia que efetivamente articule uma visão multidisciplinar da formação,
o que não se efetiva apenas por considerar que tudo é importante na formação do
educador por serem educandos e educadores constituídos de várias dimensões. É
fundamental compreender em que medida cada área do conhecimento possibilita
ampliar e facilitar o entendimento das problemáticas que emergem do/no processo de
20
formação e de como esses conhecimentos darão suporte consistente para o educador
investigar, explicar e mesmo redirecionar suas práticas, com vistas ao tipo de sujeitos
com o qual pretende contribuir para que a formação os transforme em pessoas
diferentes, quando elucida Brandão (2001) ser papel da Educação transformar as
pessoas em algo melhor.
Quanto à análise do projeto de Lei que implementa as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Curso de Pedagogia, percebe-se que ele é tão vago e impreciso,
conforme sintetizado em seu 2º Artigo, no inciso II, quanto o que diz a maior dos
entrevistados, quando determina que por meio de estudos teórico-práticos, investigação
e reflexão crítica, o Curso de Pedagogia deverá propiciar
“A aplicação ao campo da educação, de contribuições, entre outras, de
conhecimentos como o filosófico, o histórico, o antropológico, o
ambiental-ecológico, o psicológico, o lingüístico, o sociológico, o
político, o econômico, o cultural”.
E, finalmente, a Ementa e o Programa da Disciplina, que por sua vez,
contemplam a ciência antropológica, sem, porém, revelar-se nela um olhar
predominantemente pedagógico. O que tangencialmente, pois somente após definir
quatro tópicos e dezoito subtópicos, propõe discutir no antepenúltimo o papel da
educação no processo de mudança cultural. O conjunto do conteúdo programático versa
sobre os paradigmas em Antropologia; A Educação e o Processo Civilizatório, e Cultura
e Civilização; A Educação na Formação do Homem e na Cultura Brasileira; Educação e
Mudança Cultural no Brasil; As implicações políticas do ato pedagógico e A
Possibilidade da transcedência e o sentido humanístico da educação. Predominando,
nesse sentido, uma concepção de Antropologia da Educação e não um olhar pedagógico
da Antropologia ou uma Antropologia na Educação, visto que num curso de pedagogia
a finalidade da Antropologia é servir de instrumental à ação do professor, de forma a
torná-lo capaz de perceber os intricados do cotidiano, da cultura, da vida dos grupos e
indivíduos. Pelo exposto, o debate em torno disso parece não ter sido travado
consistentemente nem no Departamento ao qual pertence a disciplina e, nem no Centro
de Educação da UFPE, que deve discutir o currículo em seu conjunto, pois se o
conhecimento antropológico é importante para a formação do educador, ele assim o é
por ser antropológico, em sua especificidade e não por ser, segundo Moonen (1988,
p.10) “ [...] uma ciência das sobras”. Mas, no que tange especificamente à Pedagogia, o
21
conhecimento especificamente antropológico,
certamente não dará conta da
compreensão do objeto da Pedagogia e da prática de seus profissionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Antropologia é uma Ciência que se constitui em importante área de formação
acadêmica no campo educacional, visto que permite ao educador apreender que apenas
os aspectos pedagógicos do ato de ensinar não são suficientes para que ele interprete o
mundo de seus alunos, pois o ato de ensinar é um ato de escolhas, inclusive quanto à
construção do conhecimento, o que o obriga a apreciar, julgar e avaliar seu lugar e o de
seus alunos no curso desta história.
Em tempos passados, a participação da Antropologia na área da Educação,
resumia-se aos estudos dos papéis sociais e dos padrões de comportamento, com o fito
de orientar a prática docente para a apreensão de como diferentes aspectos da cultura e
de formas de vida social incidem sobre a vida escolar. Na atualidade, a influência dos
aspectos antropológicos presentes à Educação, sem a devida atualização crítica de
pressupostos para a formação do educador, pode ser um dos motivos da permanente
atração dos educadores por conceitos e teorias da Antropologia e da Antropologia da
Educação como chave das explicações dos problemas que emergem em sua prática
profissional. É fundamental deixar claro que o grau indiscriminado de interesse
despertado pelas tradições culturalistas e funcionalistas no educador relaciona-se a
tentativas de fugir de uma reflexão mais cuidadosa a respeito das correlações existentes
entre os processos cognitivos vivenciados por seus alunos, e os constrangimentos
sociais aos quais são submetidos. São, ambos, elos da cadeia do ensino-aprendizagem e
as práticas culturais que orientam a construção do conhecimento no interior escola, não
podem prescindir de uma Antropologia na Educação, cujo olhar pedagógico o auxiliará
a superar uma visão etnocêntrica para com seus alunos, de forma a não tratar os
diferentes como inferiores. O fato é que, em geral, o educador utiliza-se do olhar
antropológico como instrumento auxiliar à Pedagogia, talvez na formação transpareça
ser adequada a mera transposição de conhecimentos de outras áreas para a sua prática,
sem que reconheça a necessidade de uma concepção eminentemente pedagógica sobre
ela. O que repercute na relação ensino-aprendizagem e pode ser utilizado para justificar
22
abusos na disseminação da cultura letrada e erudita oriundas do social e, à revelia dos
diversos universos simbólicos que ele também contempla.
23
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26
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