XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE FÍSICA MÉDICA 17 A 20 DE AGOSTO DE 2014 GOIÂNIA – GO DISTRIBUIÇÃO INTRACELULAR E FOTOCITOTOXICIDADE DA NITROFURANTOÍNA EM CULTURA CELULAR NEOPLÁSICA Lucimara P.F. Aggarwal1, Gustavo G. Parra1, Roberto S. da Silva2,3 e Iouri Borissevitch1 1 Departamento de Física, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil. 2 Departamento de Física e Química, Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil. 3 Departamento de Química, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil. Resumo: Neste trabalho foi avaliada a dinâmica de distribuição e localização intracelular da nitrofurantoína (NFT) em células de melanoma murino B16F10. A acumulação da NFT nas células atinge a saturação após 12 horas de incubação. Este parâmetro está relacionado ao elevado grau de fototoxicidade da NFT induzido pela sua irradiação com luz UV (λ = 385 nm). As imagens da distribuição intracelular da NFT obtidas por microscopia de fluorescência indicam que ela se localiza preferencialmente na região das mitocôndrias. Palavras-chave: nitrofurantoína, fotoquimioterapia, melanoma murino, localização intracelular, microscopia de fluorescência. Abstract: In this work was evaluated the intracellular distribution of Nitrofurantoin (NFT) in cells of murine melanoma B16F10. The uptake of NFT in these cells reaches the saturation after 12 hours. This parameter is in agreement with the high photocytotoxicity of NFT induced by UV light irradiation (λ = 385 nm). The images of NFT intracellular distribution obtained by fluorescence microscopy show its preferential localization in the region of mitochondrias. Keywords: nitrofurantoin, photochemotherapy, murine melanoma, intracellular localization, fluorescence microscopy. Introdução: A Nitrofurantoína (NFT, figura 1) é um derivado de nitrofurano utilizada como agente bactericida no tratamento de infecções do trato urinário [1]. Recentemente constatamos que ela possui uma alta fotocitotoxicidade contra células neoplásicas induzida por irradiação com luz UV [2]. O mecanismo de ação da NFT em células neoplásicas provavelmente está relacionado à produção de óxido nítrico (NO) no meio intracelular, o qual foi detectado durante a irradiação da NFT. As espécies radicalares possuem um curto tempo de vida devido a sua alta reatividade em meio biológico [3]. Por isso é de grande relevância conhecer os parâmetros que definem a distribuição e a localização intracelular dos compostos fotoativos (fotossensibilizador, FS), uma vez que os mecanismos de morte celular (necrose e apoptose) são fortemente modulados pelo dano a estruturas celulares específicas como, por exemplo, membrana celular externa e mitocôndrias. A NFT absorve luz na região espectral <600 nm, o que limitaria sua utilização apenas no tratamento de lesões superficiais. Entretanto a NFT possui alta probabilidade de absorção de dois fótons [4] o que permite excitá-la com luz de >600 nm. Além disso, o aumento do comprimento da cadeia de conjugação presente na estrutura da NFT permite deslocar sua absorção para região de maiores , possibilitando a síntese deste composto com características espectrais mais adequadas. O interesse em utilizar FS que podem produzir espécies citotóxicas sob irradiação com luz UV-visível foi estimulado pelo sucesso obtido no tratamento de câncer com Fotoquimioterapia sob a forma de Terapia Fotodinâmica (do termo inglês Photodynamic Therapy – PDT). Entretanto, a PDT possui algumas limitações intrínsecas como, por exemplo, a formação de oxigênio singleto, espécie produzida pela transferência de energia do estado excitado do FS ao oxigênio molecular. Em alguns tumores a concentração de oxigênio é reduzida, o que diminui a eficiência desta terapia. Além disso, há possibilidade do FS e do oxigênio singleto dissipar a energia de excitação através de processos não radiativos que competem com a ação fototóxica. Estes fatos estimulam a busca de mecanismos alternativos da Fotoquimioterapia, baseados na produção de espécies reativas não excitadas como os radicais livres (ânion superóxido, óxido nítrico, radical hidroxila, etc). Neste trabalho foram avaliados os processos de internalização, distribuição e localização intracelular da NFT e sua relação com a citotoxicidade deste fármaco em células de melanoma murino B16F10. XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE FÍSICA MÉDICA 17 A 20 DE AGOSTO DE 2014 GOIÂNIA – GO O O N O N N NH O O Figura 1. Estrutura molecular da Nitrofurantoína. Método: As análises da acumulação da NFT em cultura celular foram realizadas por espectroscopia de absorção ótica e fluorescência. As células B16F10 foram incubadas durante 4, 6, 12 e 24 horas com 50 µM de NFT em meio de cultura RPMI contendo soro fetal bovino (10%). Após o período de incubação o meio de cultura foi removido e as células foram lavadas 2 vezes com PBS. A lise celular foi realizada com a utilização de uma solução NaOH+SDS1% e os espectros de absorção e fluorescência da solução contendo células+NFT foram medidos. A distribuição intracelular da NFT foi obtida através de imagens de microscopia de fluorescência após incubação das células com NFT em RPMI nas concentrações de 20, 40 e 60 µM, utilizando o Microscópio Nikon Eclipse Ti. Foram utilizados marcadores de organelas celulares tais como Hoechst (núcleo) e Rodamina 123 (mitocôndrias) a fim de comparar os perfis de sua emissão nas células àquele obtido para a NFT. Os testes padronizados de citotoxicidade foram realizados na presença de luz, com doses de irradiação 2 de 2, 6 e 12 J/cm , utilizando uma placa de 96 LEDs com emissão em 385 nm. Os controles adotados foram poços contendo células tratadas com FS sem serem expostas à luz, poços contendo células sem FS e sem serem expostas à luz, poços contendo células sem FS e expostas à luz. O efeito citotóxico percentual (ECT%) foi obtido de acordo com a equação (1) pela análise da absorbância em 492 nm, utilizando o teste colorimétrico MTT e leitor de placas Thermoplate. Abs amostra ECT (%) 1 *100 Abs controle (1) Resultados: Foi observado que a acumulação máxima da NFT em células de melanona murino ocorre após 12 horas de incubação deste fármaco nas células. Os testes de citotoxicidade da NFT no escuro e na presença de luz demonstraram uma maior eficácia deste composto na destruição de células tumorais após 24 horas de incubação numa concentração 20 - 40µM. Isso indica que as caraterísticas temporais da acumulação intracelular da NFT estão relacionadas ao efeito fotocitotóxico deste composto. As imagens da distribuição intracelular da NFT mostram que ela se localiza preferencialmente numa região associada às mitocôndrias, evitando o espaço nuclear. Discussão e Conclusões: O efeito fotocitotóxico da NFT em células B16F10 provavelmente está relacionado à liberação de NO. A quantidade de fármaco internalizada aumenta com o aumento no período de incubação, o que aumenta a produção de NO intracelular. A morte celular foi maximizada quando foram utilizadas concentrações de NFT acima de 20 µM. Portanto, uma alta acumulação deste fármaco em células neoplásicas é o fator primordial para a obtenção do efeito citotóxico. A localização da NFT na região equivalente às mitocôndrias pode indicar o favorecimento da morte celular por apoptose. O NO possui caráter tanto tumorigênico como tumoricida. O último é favorecido quando existe uma alta concentração de NO no ambiente celular [5]. Desta forma, pode-se concluir que a NFT pode atuar como um eficiente agente fototóxico na destruição de células neoplásicas cujo mecanismo de ação envolve a formação de espécies radicalares (NO, principalmente). Estes resultados indicam que a fotoativação da NFT pode servir como método alternativo para o tratamento de neoplasias, o que faz deste composto um potencial FS para utilização em Fotoquimioterapia. Agradecimentos: À CAPES e FAPESP pelo suporte financeiro. Referências: 1. Cunha BA. New uses for older antibiotics: nitrofurantoin, amikacin, colistin, polymyxin B, doxycycline and minocycline revisited. The Medical Clinics of North America, 2006, 90: 1089-1107. 2. Aggarwal LPF, Parra GG, da Silva RS, Borissevitch IE. Light induced cytotoxicity of nitrofurantoin in murine melanoma. In XXXVII Encontro Nacional de Física da Matéria Condensada, 2014, Costa do Sauípe, Bahia, Brazil. 3. Oschner M. Photophysical and photobiological processes in the photodynamic therapy of tumours. J. Photochem. Photobiol. B:Biol., 1997,39(1), 1-18. 4. De Boni L, Correa DS et al. Experimental and theoretical study of two-photon absorption in nitrofuran derivatives: Promising compounds for photochemotherapy. J. Chem. Phys. 2011, 134: 014509-1. 5. Wink DA, Ridnour LA et al. The reemergence of nitric oxide and cancer. Nitric Oxide, 2008, 19(2): 65-67.