3ª REUNIÃO SUL-BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO 23 A 25 DE AGOSTO DE 2000 INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE MANEJO EM ATRIBUTOS FÍSICO-MECÂNICOS DE UM ARGISSOLO Silvio Aymone Genro Junior (1), Vanderlei Rodrigues da Silva(2), Dalvan José Reinert (3), José Miguel Reichert(3), Flávio Fontinelli(4) Deonir Secco (2) & Fernando Perobelli Ferreira(5) (1)Mestrando do Programa de Pós-graduação em Agronomia (PPGA), UFSM, Santa Maria, RS. CEP 97105-900. (2) Doutorando do PPGA, UFSM. (3) Professor Titular do Departamento de Solos. (4) Funcionário do Lab. de Física de Solos & (5) Bolsista do Departamento de Solos. A compactação dos solos é um processo que ocorre no tempo, com maior ou menor intensidade, de acordo com as técnicas de cultivo empregadas e com as características intrínsecas do solo. No plantio direto, a movimentação do solo é restrita à linha de semeadura, mas a ocorrência sistemática do tráfego causa compactação na superfície do solo (Tormena, 1998). A densidade do solo tem sido utilizada para relacionar o estado de compactação e o desenvolvimento das plantas (Hakansson, 1992). A compactação reduz ou elimina os poros de uma determinada camada do solo, dificultando as trocas gasosas, a retenção e/ou drenagem da água, reduzindo o desenvolvimento de raízes e a produtividade das culturas. Para Voorhees (1983), as modificações na estrutura do solo podem levar à redução no conteúdo de água disponível e/ou a má aeração. Já para Lal et al. (1989), a compactação em sistemas de mínima movimentação do solo pode contribuir parcialmente com as possíveis reduções de produtividade das culturas nesse sistema. Leguminosas de verão possuem sistema radicular pivotante, e de um modo geral, são capazes de penetrarem em solos compactados ou adensados. A raiz cresce através de poros e pontos de menor resistência, enquanto que aparelhos, como o penetrômetro, avaliam a resistência média que o solo oferece à introdução do cone, sendo esta a relação entre a força exercida para fazer penetrar um cone metálico no solo e sua área basal (Bradford, 1986). Entretanto, a utilização desses aparelhos pode 294 3ª REUNIÃO SUL-BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO 23 A 25 DE AGOSTO DE 2000 apresentar uma boa correlação com o desenvolvimento das raízes. O objetivo desse trabalho foi relacionar a resistência mecânica à penetração de um Argissolo com a densidade do solo, porosidade e conteúdo gravimétrico de água. O solo utilizado no trabalho é um ARGISSOLO VERMELHO Distrófico arênico (Embrapa, 1999), localizado na área experimental do Departamento de Solos da UFSM, em Santa Maria (RS). O experimento consistiu de 3 tratamentos: 1) soja em plantio direto; 2) soja em preparo conservacionista (escarificação mecânica) e; 3) cultivo mínimo (gradagem leve) com Crotalaria spectabilis. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com 4 repetições. As amostras de solo para densidade e porosidade do solo foram coletadas 136 dias após a semeadura da soja, quando a cultura estava no estágio de maturação e, 130 dias após a semeadura da crotalária, na fase final de enchimento de grãos, nas profundidades de 3 a 5 cm, 13 a 15 cm e 35 a 37 cm, sendo coletadas 2 amostras em cada profundidade por parcela, com cilindros de 5,37 cm de diâmetro por 3,0 cm de altura, após foram saturados, e levados à mesa de tensão e equilibrados à tensões de -1, -6, e no conjunto de panelas de pressão onde foram equilibrados à tensões de -33, -100 e 500 kPa. Após a colheita da soja e rolagem da crotalária, fez-se a determinação da resistência mecânica à penetração com a utilização de um penetrógrafo SOILCONTROLR - PENETROGRAPHERPAT. SC-60, onde o índice de cone foi obtido conforme norma ASAE R313, utilizando-se um cone de diâmetro na base de 12,83 mm e ângulo de 30°. Juntamente com determinação da resistência mecânica à penetração, foram coletadas amostras para determinar a umidade gravimétrica do solo nas mesmas profundidades. As leituras nas fichas foram obtidas através da interpolação de profundidades. Os valores de densidade do solo, macroporosidade e microporosidade não diferiram significativamente entre si, para os tratamentos e profundidades, à exceção para a macroporosidade, onde na profundidade de 3 a 5 cm o cultivo mínimo com crotalária apresentou menores valores de resistência mecânica à penetração em relação aos demais tratamentos (Tabela 1). Na figura 1 a, são apresentados os valores de resistência 295 3ª REUNIÃO SUL-BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO 23 A 25 DE AGOSTO DE 2000 mecânica à penetração, salientando-se que não houve diferenças significativas entre os tratamentos. A soja em plantio direto apresentou a maior resistência mecânica à penetração, evidenciado na profundidade de 5 a 13 cm. O preparo conservacionista com soja proporcionou os menores valores de resistência mecânica à penetração na profundidade de 0 a 5 cm, mas tornou-se semelhante aos demais tratamentos com aumento da profundidade. O cultivo mínimo com crotalária foi o que obteve os valores intermediários de resistência à penetração. O conteúdo de água (Figura 1 b), foi um dos fatores que influenciaram a resistência mecânica à penetração do solo. O efeito benéfico na redução da resistência mecânica à penetração evidenciou-se maior no preparo conservacionista, pois a resistência mecânica à penetração na profundidade de 0 a 7 cm foi menor. Evidenciou-se uma tendência do efeito da crotalária em reduzir a resistência à penetração em relação ao tratamento com soja no plantio direto. Esses dados não caracterizam o solo a ser considerado como compactado. 296 3ª REUNIÃO SUL-BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO 23 A 25 DE AGOSTO DE 2000 Tabela 1. Valores de densidades do solo (Ds), porosidade total (PT), macroporosidade (macro) e microporosidade (micro) para três profundidades em solo sob diferentes sistemas de manejo localizado em área experimental do Departamento de Solos da UFSM, Santa Maria (RS), 1999. PT Macro Micro ----------------------cm3 .cm-3 -------------------------Profundidade 3-5 cm 1 PD-soja 1,62 a 0,38 a 0,13 a 0,25 a Esc-soja 1,62 a 0,40 a 0,12 ab 0,26 a CM-crotalária 1,72 a 0,37 a 0,10 b 0,27 a Profundidade 13-15 cm PD-soja 1,64 a 0,39 a 0,12 a 0,26 a Esc-soja 1,68 a 0,38 a 0,12 a 0,26 a CM-crotalária 1,65 a 0,39 a 0,12 a 0,27 a Profundidade 35-37 cm PD-soja 1,64 a 0,39 a 0,11 a 0,28 a Esc-soja 1,55 a 0,40 a 0,15 a 0,25 a CM-crotalária 1,59 a 0,39 a 0,14 a 0,26 a 1 - Médias, seguidas de mesma letra na coluna, não diferem significativamente pelo teste DMS a 5% de significância. Tratamento Ds Mg m-3 297 3ª REUNIÃO SUL-BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO 23 A 25 DE AGOSTO DE 2000 Figura 1. Valores de resistência mecânica à penetração em profundidade, nos diferentes sistemas de manejo (a). Valores de conteúdo gravimétrico de água em profundidade, nos diferentes sistemas de manejo (b). PD-soja (plantio direto com soja), Esc-soja (escarificação mecânica com plantio de soja e CM-crotalária (cultivo mínimo, uma gradagem, com plantio de crotalária spectabilis). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRADFORD, J. M. Penetrability. In: KLUTE, A., ed. Methods of soil analisys, physical, chemical and mineralogical methods. Madison, America Society of Agronomy, 1986. p. 463-478. EMBRAPA. CNPS. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília: Embrapa, 1999. 412 p. HAKANSSON, I. The degree of compactness as a link between technical, physical and biological aspects of soil. In: Proceeding of internacional conference on soil compaction and soil management, 8-12 june, 1992, Tallinn, Estonia, p. 75-78. LAL, R.; LOGAN, T. J. & FAUSEY, W. R. Long term tillage and wheel traffics effects on a poorly drained Mollic Ocharaqualf in Nortwest Ohio. I. Soil physical properties, root distribution and grain yield of corn and soybean. Soil Till. Res. 14:341-355, 1989. 298 3ª REUNIÃO SUL-BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO 23 A 25 DE AGOSTO DE 2000 TORMENA, C. A.; ROLOFF, G. & SÁ, J. C. M. Propriedades físicas do solo sob plantio direto influenciadas por calagem, preparo inicial e tráfego. R. Bras. Ci. Solo, 22:301-301, 1998. VOORHEES, W. B. Relative effectivenen of tillage and natural forces in alleviation wheel induced soil compaction. Soil Sci. Soc. Am. J., 42:129-133, 1983. 299