UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO – PPG
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS – PPGEL
NÍVEL MESTRADO
ANAÍRIS FEIRENSE DE CASTRO RAMOS
SOB A COPA DOS EUCALIPTOS: MEMÓRIA DE LEITURA DE
MULHERES DO CENTRO CULTURAL RÉCREO-EDUCATIVO MONSENHOR
AMÍLCAR MARQUES. FEIRA DE SANTANA, BAHIA, 1966-2010
Salvador - Bahia
2011
ANAÍRIS FEIRENSE DE CASTRO RAMOS
SOB A COPA DOS EUCALIPTOS: MEMÓRIA DE LEITURA DE MULHERES DO
CENTRO CULTURAL RÉCREO-EDUCATIVO MONSENHOR AMÍLCAR MARQUES.
FEIRA DE SANTANA, BAHIA, 1966-2010
Dissertação de Mestrado submetida à Universidade
do Estado da Bahia como requisito parcial exigido
pelo Programa de Pós-Graduação em Estudo de
Linguagens para obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Santos Silva.
Salvador - Bahia
2011
FICHA CATALOGRÁFICA
Sistema de Bibliotecas da UNEB
Ramos, Anaíris Feirense de Castro
Sob a copa dos eucaliptos: memória de leitura de mulheres do Centro Cultural
Récreo - Educativo Monsenhor Amílcar Marques. Feira de Santana, Bahia , 1966 2010 / Anaíris Feirense de Castro Ramos. – Salvador, 2011.
160f.
Orientador: Prf. Dr. Paulo Santos Silva.
Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de
Ciências Humanas. Campus I. 2011.
Inclui referências, anexos e apêndices.
1. Leitura - História. 2. Livros e leitura - História. 3. Mulheres. 4. Memória. I.
Silva, Paulo Santos. II.Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências
Humanas.
CDD : 028.9
ANAÍRIS FEIRENSE DE CASTRO RAMOS
SOB A COPA DOS EUCALIPTOS: MEMÓRIA DE LEITURA DE
MULHERES DO CENTRO CULTURAL RÉCREO-EDUCATIVO MONSENHOR
AMÍLCAR MARQUES. FEIRA DE SANTANA, BAHIA, 1966-2010
Dissertação de Mestrado submetida à Universidade do
Estado da Bahia como requisito parcial exigido pelo
Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens
para obtenção do título de Mestre.
Aprovada em ____ / ____ / ____ .
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________________
Professora Dra. Maria Helena Besnosik (UEFS)
Componente da Banca Examinadora – Instituição a que pertence
___________________________________________________________________________
Professora Dra. Verbena Maria Rocha Cordeiro (UNEB)
Componente da Banca Examinadora – Instituição a que pertence
___________________________________________________________________________
Professor Dr. Paulo Santos Silva (UNEB)
Componente da Banca Examinadora – Instituição a que pertence
A Deus, força suprema;
À minha família, muito amada, imperativa em todo esse processo, especialmente meus irmãos Antônio
Leilson e Francisco Leôncio, meus sobrinhos Davi e Bianca, e sobretudo, minha mãe Tereza Lourdes
(in memorian) e meu pai Antônio, ambos despretenciosamente precursores e inspiradores desta
pesquisa;
Ao CECREMAM e às cecremanas, narradoras/leitoras, desta pesquisa que compartilharam e tornaram
exequível essa empreitada e sem os quais essa dissertação não teria vida;
Ao meu noivorido Tobias Möller, amor da minha vida, sempre amigo, companheiro, confidente,
cozinheiro particular, sobretudo, intensamente presente mesmo quando separados por um oceano cuja
leveza e sorriso me serenavam e cuja força impediu-me de desistir;
Aos meus familiares brasileiros e alemãs que torceram por mim e ofereceram palavras de atenção;
Às minhas amigas e aos meus amigos de diferentes gerações e diferentes jornadas, Andréa Betânia da
Silva e suas irmãs Clemilta Carneiro da Cruz e Adriana Patrícia da Silva com “sua vida” Maurício
Pereira dos Santos e suas mães Josefa Carneiro da Silva e Maria Alaíde Cardoso Pereira, Alexandro
Jesus Santos, Fernanda dos Santos Cerqueira Campos e suas mãe e avó Valdete Dias dos Santos e
Carminda Dias dos Santos, Consuelo Pereira Sales, Eliana S. Souza e Maria Aparecida Bitencourt
Soares da Silva pelos empréstimos da filmadora para gravações das entrevistas, do computador e da
impressora em momentos cruciais, pelo auxílio à primeira versão das transcrições, por me
disponibilizarem o aconchego de seus lares, pela acolhida como irmã, filha e neta, pelos ouvidos
doados a mim, por alimentarem meu corpo com o carinho que sustentava a alma, pelas leituras
partilhadas, pelos sequestros que inúmeras vezes me salvaram, pelos silêncios e pelas palavras
oferecidos a mim, pelas orações, enfim, por todo afeto e presenças física, mental e espiritual;
Aos meus professores do PPGEL, especialmente, Verbena e Paulo e à professora Maria Helena luzes
de inquietação nesta pesquisa;
Às colegas colaboradoras, Leidinalva Amorim Santana das Mercês por orientar-me no anteprojeto e
Maria Ester Sousa e Marilda Andrade pela revisão;
À turma do PPGEL 2009, ímpar no coleguismo e unida em grande torcida mútua, especialmente
André Luis Santana Oliveira e às meninas: Margarete Nascimento dos Santos, Maria Ivone Souza
Melo, Maria de Fátima Santana de Oliveira, Cristian Souza de Sales e Manuela Cunha de Souza
sempre dispostos a escutar e incentivar a prosseguir;
A Camila e Danilo sempre dedicados e pacientes em seus trabalhos na secretaria do PPGEL perante
angústias e estresses de todos nós, mestrandos;
Ao Dep. de Educação − Campus XIV da UNEB, Conceição de Coité, à Escola Técnica Estadual Luiz
Navarro de Britto e aos meus respectivos alunos que entenderam minhas eventuais ausências;
A todos que entenderam meu isolamento, estresse, angústia e cansaço e ao final compartilharam a
alegria e o alívio do dever cumprido;
A todos vocês, dedico este trabalho realizado graças a várias mãos que me sustentaram.
AGRADECIMENTOS
Para realizar este trabalho contei com ajuda e colaboração de algumas pessoas de tal forma
importantes que considero um trabalho feito a várias mãos e corações. A todos meus cordiais
e sinceros agradecimentos.
Ao Programa de Pós-Graduação em Estudos em Linguagens
Ao meu orientador Professor Doutor Paulo Santos Silva
À Professora Doutora Verbena Maria Rocha Cordeiro
À Professora Doutora Maria Helena da Rocha Besnosik
Aos funcionários do PPGEL
À bibliotecária Sra. Jacira Mendes
Ao Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques
Às narradoras/leitoras Senhoras Nance da Costa Nogueira, Terezinha Lobo Ramos, Vanda da
Silva Dias, Maria da Purificação Silva de Andrade (in memorian), Iristelma da Silva Ribeiro
Oliveira, Judite Porto de Souza, Maria Mercês Batista dos Santos
A todos aqueles a quem dediquei este trabalho
“Se pudéssemos compreender como ele [o ser humano] tem lido, poderíamos nos aproximar
de um entendimento de como ele compreende a vida; e dessa maneira, da maneira histórica,
poderíamos até satisfazer parte de nossa própria ânsia de significado.”
(DARNTON, Robert, 1992)
RESUMO
Esta dissertação aborda práticas culturais de leitura de sete mulheres do Centro Cultural
Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques – CECREMAM, agremiação dos Eucaliptos
em Feira de Santana – Bahia. São mulheres, em sua maioria, casadas, mães e avós, donas de
casa e costureiras, moradoras ou com vínculos diretos e indiretos com o bairro dos Eucaliptos
e participantes do Centro Cultural em questão. É uma pesquisa realizada a partir de discussões
e reflexões no interior da História Cultural, da Sociologia da Leitura, dos estudos
(auto)biográficos e da memória. Resulta de fontes orais, uma vez que é composta por
entrevistas narrativas gravadas e/ou filmadas advindas dessas mulheres em encontros
individuais, compondo as fontes principais desse estudo. É instrumentalizada também por
outras fontes de natureza documental e iconográficas oriundas do acervo do CECREMAM.
Analisam-se histórias de leitura dessas mulheres e propõem-se reflexões sobre práticas de
leitura, buscando compreender os motivos de leitura desenvolvidos nesse Centro Cultural.
Palavras-chave: Mulheres. CECREMAM.
Práticas culturais de leitura.
Narrativas.
Memória.
Histórias de leitura.
ABSTRAT
This dissertation approaches the cultural practices of reading of seven women from the
Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques - CECREMAM, Eucalyptus
college in Feira de Santana - Bahia. They are women, mostly married, mothers and
grandmothers, housewives and seamstresses, residents in the Eucalyptus neighborhood or
with direct and indirect links to this local and participants of the Cultural Center in question.
It is a research based on discussions and reflections on the inside of the Cultural History, the
Sociology of Reading, the (auto)biographical studies and the memory. It follows from oral
sources, since it is composed of recorded and/or filmed narrative interviews coming from
those women in individual meetings, compounding the main sources of that study. It is also
instrumentalized by others sources with documental nature and iconographies originated from
the collection of CECREMAM. Those women histories of reading are analyzed and
reflections on reading practices are proposed, seeking to understand the reasons of reading
developed in the Cultural Center.
Keywords: Women. CECREMAM. Narratives. Memory. Histories of reading. Cultural
practices of reading.
LISTA DE SIGLAS
AIB – Ação Integralista Brasileira
CACICRE – Centro de Ações Cívicas e Culturais de Redenção
CECREMAM – Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques
CIPA – Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)biográfica
COLE – Congresso de Leitura do Brasil
IHTP – Instituto de História do Tempo Presente
PML – Projeto Memória de Leitura
TESRC – Templo-Escola Santa Rita de Cássia
TFP – Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade
UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana
UFBA – Universidade Federal da Bahia
UNEB – Universidade do Estado da Bahia
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
CAPÍTULO I: VIDAS EM TRAJETÓRIAS NO BAIRRO DOS EUCALIPTOS........... 21
1.1 O CECREMAM e suas leitoras: inserção no corpus ...................................................... 22
1.2 O pensamento conservador no CECREMAM: reverberações do catolicismo e do
civismo .................................................................................................................................. 36
CAPÍTULO II: LEITURAS NAS TRILHAS DE PRÁTICAS INSTITUCIONAIS:
APREENDER E ACOMODAR ............................................................................................ 53
2.1 Ofertas de leitura: família e escola.................................................................................. 57
2.2 Ofertas de leitura: CECREMAM .................................................................................... 66
CAPÍTULO III: LEITURAS NAS VEREDAS DE PRÁTICAS CONFRONTADAS:
CONSERVAR E RENOVAR ................................................................................................ 81
3.1 Outros tempos, outros modos, outras leituras ................................................................. 85
3.2 Mesmas leitoras, novas representações......................................................................... 100
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 110
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 114
ANEXOS E APÊNDICES .................................................................................................... 120
10
INTRODUÇÃO
Esse estudo aborda práticas culturais de leitura e toma como experiências o Centro Cultural
Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques (CECREMAM), fundado em 06 de março de
1966, no bairro dos Eucaliptos, em Feira de Santana, município do estado da Bahia. A análise
aqui desenvolvida se estende da fundação da entidade até a coleta dos dados orais narrativos,
em 2010, em meio a memórias de histórias de leitura de algumas das mulheres que o
integravam.1
A história da leitura é posta por Burke (2008) como uma “das formas mais populares da
história das ‘práticas’ ” e a história das práticas, por sua vez, como “uma das aréas dos
escritos históricos recentes mais afetados pela teoria social e cultural”, portanto, de interesse
da História Cultural.
A História Cultural apropria-se da amplitude antropológica que, segundo Burke (2008),
levava “em conta o conhecimento local ou não-oficial de seus informantes”, encorajando a
incorporação de infinitas práticas, objetos e sujeitos em seu interesse pelo cotidiano, pelo
local e por pessoas comuns. Nesse campo, Roger Chartier agrega o livro, a leitura e suas
histórias em diversas representações e práticas, tomando, especialmente, como locus a
França2.
A Sociologia da Leitura, por sua vez, considera a heterogeneidade como característica da
prática leitora, quer dizer, a diversidade em gênero, modo, motivos, posturas etc são
consideradas em distinções temporais, espaciais e culturais. Por isso, é melhor apropriada a
expressão práticas leitoras, pela justeza com o entendimento da leitura, enquanto prática
cultural, portanto não apenas individual. Por conseguinte, possibilita análises a partir da rede
1
O Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques será referido pela sigla CECREMAM ou
pela expressão Centro Cultural. Também serão usadas as palavras cecremanos e cecremanas – expressões usadas
pelos participantes do CECREMAM para si mesmos, seus companheiros de agremiação ou como referência a
tudo que dissesse respeito ao Centro Cultural.
2
CHARTIER, Roger (Org.). Leitores e leituras na França do Antigo Regime. São Paulo: Ed.UNESP, 2004,
entre outros trabalhos seus.
11
de sociabilidade de qualquer leitora ou leitor, além dessa mesma expressão fazer eco com a
história das práticas contidas na História Cultural.
Isso indica que a Sociologia da Leitura possui pontos de interseção com a História Cultural,
também por esta contemplar mudanças e diferenças nas práticas de leitura, inserindo as mais
diversas vertentes acerca do livro e do leitor, considerando sobretudo as práticas cotidianas e
pessoas comuns e historicamente marginalizadas da condição de leitoras. Os dois campos
analisam condições e tratamentos dados ao leitor, refletindo sobre as condições de circulação
do livro, modos e motivos da leitura em dado contexto social, avaliando suas relações.
Essa dissertação analisa histórias de leitura de mulheres do CECREMAM, através de
entrevistas narrativas, com o objetivo de discutir práticas de leitura, levantando questões
pertinentes a essas práticas e seu significado para cada uma das mulheres entrevistadas e para
o grupo. Reflete também acerca dos modos e motivos de leitura desenvolvidas nesse Centro
Cultural e como as representações cristalizadas socialmente da imagem dessas práticas
aparecem nas narrativas.
A temática e seu entorno metodológico, ou seja, leitura, história e práticas de leitura, bem
como entrevistas narrativas foram transformando-se paulatinamente em campo de interesse.
Isso por intermédio dos meus ingressos no curso de Letras Vernáculas da Universidade
Estadual de Feira de Santana (UEFS) e, especialmente, na docência da educação básica pela
rede estadual e posterior e concomitantemente no ensino superior na Universidade do Estado
da Bahia (UNEB). Também por participações em reuniões de núcleos de leitura, jornadas,
congressos e encontros acadêmicos que versavam sobre esse campo. Por exemplo, edições do
Congresso de Leitura do Brasil (COLE), do Congresso Internacional de Pesquisa
(Auto)biográfica (CIPA) e do Encontro Nacional de Leitura e Literatura Infanto-Juvenil da
Universidade Estadual do Sudoeste Baiano (UESB) com minicursos Leitura nas fumaças da
memória e Leitura e Crítica.
Todavia a interseção entre temática e sujeitos aqui referendados, ou seja, a definição por
mulheres do CECREMAM, assim como a resolução em pleitear uma vaga no Mestrado em
Estudo de Linguagens na seleção realizada em 2008 foram determinações que aconteceram às
vésperas da inscrição do anteprojeto na referida seleção e após falecimento de minha mãe.
12
Foram escolhas e decisões subjetivas, de certa maneira inconscientes e retrataram uma fuga
pessoal e ao mesmo tempo busca e reencontro – “eu, caçadora de mim” como cantaria Milton.
Nasci no CECREMAM, pois minha família dele participava. Acompanhva suas programações
e reuniões desde meses de idade,muitas vezes cochilando. Morei em Salvador até o vestibular,
então em férias escolares e feriados, lá estávamos também para estar com os parentes
paternos. Posteriormente, em Feira de Santana para cursar Letras Vernáculas, participei mais
intensiva e extensivamente. Assim deu-se minha aproximação com a agremiação e, por
conseguinte, com um elenco de participantes, associados ou não, contemporâneos a mim.
Todavia, até então, nunca havia pensado estar diante dele e dos seus como pesquisadora.
Embora meus pais e irmãos, eu e outras pessoas da família paterna, além de conhecidos e
pessoas próximas tivessem feito ou até então fizessem parte do Centro Cultural, decidir por
ele e defini-lo nesse contexto resumiu em tentar “resgatar” ou “reencontrar” minha mãe recém
falecida e participante deste mesmo grupo desde sua fundação. Ela era uma das mulheres
cecremanas cujo perfil poderia ter sido contemplado na pesquisa. Tal constatação consegui
perceber gradativamente e aos poucos em meio ao processo da pesquisa. Não tinha
consciência que tudo isso consistiria em deliberações e seleções complexas e que essa
pesquisa ganharia um tom terapêutico e elaborativo de várias outras questões pessoais que
agregadas à morte de minha mãe a tornaria difícil, penosa e especial.
A escolha de mulheres cecremanas como narradoras de suas histórias de leitura deveu-se ao
fato delas terem sido presenças constantes em comparação aos homens no decorrer das
décadas, segundo as listas de presença em reuniões e atividades do Centro Cultural. O
processo narrativo vinculou-se à memória de leitura dessas mulheres e considerando que
quem lembra, lembra no presente, o passado deve ser visto como reconstrução sempre, seja
pelo sujeito que lembra, seja pelo historiador. As análises sobre o passado e o que revela a
memória reconhecem e ressignificam o que fora vivido a partir das referências e das
solicitações e exigências do tempo presente, tempo esse em que vivem pesquisadora e
sujeitos.
Dentre as mulheres escolhidas para o corpus desta pesquisa, houve quem participasse do
grupo desde a formação do Centro Cultural e quem dele participasse em décadas distintas.
Contemplar períodos distintos de ingresso implicou em haver nessa pesquisa cecremanas que
13
fizeram parte da Ala Adulta e/ou Infantil do CECREMAM. Nos anos iniciais da sua
fundação, eram decididas e organizadas em reuniões que ocorriam separadamente para dois
grupos distintos de acordo com a faixa etária, denominados Ala Adulta e Ala Infantil, esta
com crianças entre 04 e 14 anos. Cada Ala possuía seu livro de Atas e, por vezes, atividades e
programações específicas. (apêndice B, pág. 125)
Uma delas fez parte da Ala Infantil e posteriormente Adulta, outras, da Ala Adulta, e outras,
ainda, passaram a fazer parte do Centro Cultural, quando não mais havia a divisão por Alas.
Logo, todas eram oficialmente associadas, quer dizer, tiveram seus nomes inseridos no livro
de registro de sócios até a década de 1990 com prioridade dada aos anos iniciais de sua
existência e, portanto, teriam mais de 45 anos de idade.
Foram escolhidas aquelas que tiveram frequência assídua em dado período; que moravam ou
tivessem morado ou se relacionado com o lugar de atuação marcante do CECREMAM, ou
seja, os Eucaliptos; terem tido ciência do projeto, além, é claro, de manifestarem interesse em
participar desse estudo. Houve uma pré-seleção contemplando dezenas de mulheres e,
posteriormente, abarcando treze que, pela impossibilidade de desenvolver esta pesquisa com
todas e conforme disponibilidade de tempo para os encontros, foi finalizada com sete. Elas
foram informadas a respeito dos ditames e orientações do Conselho de Ética, a partir de um
texto lido e assinado por elas, informando-as a respeito do direito ao sigilo e, se assim o
desejassem, à desistência e à liberdade de expressão.
Com base nos critérios postos, Nance da Costa Nogueira, Terezinha Lobo Ramos, Vanda da
Silva Dias, Maria da Purificação Silva de Andrade, Iristelma da Silva Ribeiro Oliveira, Judite
Porto de Souza, Maria Mercês Batista dos Santos foram as selecionadas para integrarem essa
pesquisa (apêndice A, pág. 124). Eram donas de casa e, com exceção da Srª. Maria Mercês,
todas casaram e tornaram-se mães e avós, sendo as senhoras Nance e Vanda também bisavós
à época das entrevistas narrativas. A maioria também costurava habitualmente, com exceção
das senhoras Vanda e Iristelma. Todavia, respectivamente, faziam tricô, crochê e bordados. A
Sra. Iristelma também trabalhava como comerciante em sua padaria e Sra. Maria da
Purificação como escrevente em cartório no fórum de Feira de Santana.
Todas estudaram ao menos até o Primário, ou seja, as séries iniciais do ensino fundamental,
no entanto, as senhoras Maria da Purificação e Maria das Mercês completaram o ensino
14
médio. Sra. Nance fez curso Normal incompleto, mas informou que na época não precisou
completar o ensino fundamental para ingressar nesse curso, e não soube explicar o porquê, e a
Srª. Iristelma fez licenciatura curta em Estudos Sociais pela UEFS.
As narrativas dessas mulheres foram convertidas nas principais fontes documentais deste
estudo. Embora as narrativas orais tenham sido a fonte principal, outras fontes como atas,
registro de sócios, lista de atividades, monumentos, souvenirs, canecas, camisas e flâmulas,
representaram um recurso documental significativo, fazendo-se presentes. O uso deste tipo de
documentação fundamenta-se nas renovadas concepções acerca das fontes históricas
propostas por estudiosos da cultura, em particular historiadores. Para Peter Burke “[...]
imagens, assim como textos e testemunhos orais, constituem-se numa forma importante de
evidência histórica” (BURKE, 2004, p.17). Tudo isso narra o CECREMAM, fornecendo
dados a seu respeito e evidencia que seu interesse sempre girava em torno de um mesmo eixo.
Ao se fazer uso de documentos dessa natureza, busca-se atender as sugestões de Jacques Le
Goff (1994) sobre as concepções e transformações históricas do registro, relatando a evolução
naquilo que os historiadores começam a considerar como status documental em seus estudos.
Considerava-se documento o texto escrito por uma determinada categoria social. Todavia,
essa concepção mostrou-se limitada. A crítica historiográfica reconheceu a importância de
outras fontes, bem como o interesse da história não mais apenas por quem está no topo da
hierarquia social.
Numa sociedade arquivista como a nossa, é importante ressaltar que os registros orais,
escritos, iconográficos, entre tantos outros, além de carregarem em si intencionalidade, são
também construção da memória. Memória, diria Halbwachs, é um “revelador do presente”.
Essa sinuosidade não impede que, apesar de toda revelação que a leitura dessas fontes pode
trazer, faz-se necessário observar
que elas também configuram interpretação dos fatos,
ressignificação do que aconteceu, recorte do que foi julgado com valor de registro por parte
de quem a fez e do grupo que a assina, dando-lhe legitimidade.
É possível presumir que todos os registros documentais de uma sociedade, grupo ou indivíduo
estão sob custódia da memória do que no presente deseja ser dito, escrito, pintado, esculpido,
enfim revelado e perpetuado. E ainda assim deixam lacunas por talvez não atentarem à
possibilidade de “leitores” não participantes do grupo e do tempo vigente; ou seja, tomando
15
emprestada a expressão de Fausto Colombo (1991), são todos os registros arquivos
imperfeitos.3
Contudo, investigar o acervo do CECREMAM auxiliou a conhecer melhor o “corpus” e,
assim, fundamentar o roteiro das entrevistas narrativas, estimulando o tema proposto, bem
como ajudou a adotar critérios para a seleção das narradoras e contextualizar e refletir a
respeito de itinerários possíveis sobre aquilo que as narradoras contaram sobre si e sobre o
Centro Cultural do qual fazem/faziam parte. Por outro lado, também deu margem ao
entendimento sobre as trajetórias das narradoras e do Centro Cultural, imbricados em
narrativas que dão sentido às experiências que se fizeram visíveis.
No processo de investigação do CECREMAM, aos poucos, foi possível descobrir uma linha
de conduta cívica e preocupações pedagógicas. Inicialmente, sem sede, mas desde o princípio
com hinos, bandeira e brasão. As atividades desenvolvidas pelo grupo sempre foram
permeadas por símbolos cívicos da entidade, da cidade, do estado e do país, e suas decisões e
encaminhamentos realizados nas Ala Adulta e Ala Infantil.
Além dos associados separados por alas, houve participações e colaborações sazonais,
cíclicas, mediante algum evento de maior repercussão, de pessoas que, apesar de não fazerem
parte dele regularmente, atuavam em eventos organizados pelo CECREMAM, porque as suas
programações sempre foram abertas ao público. Também houve colaboradores mais
frequentes, cujos nomes não foram formalmente registrados como cecremanos, porque a
ação de registrar não se configurou durante todos esses anos como prática contínua e
assídua.
A agremiação fundou duas pequenas bibliotecas: biblioteca Edna Laureana de Oliveira, na
residência da Sra. Hilda Ramos da Silva, nos Eucaliptos, em Feira de Santana, em 1966, e
biblioteca Sra. Lindomar Lima dos Santos, em Nova Redenção-Bahia, em 1983. Entre outras
atividades, promoveu semanas de cultura em Feira de Santana e em outras cidades, recitais de
poemas, encenações e jograis, encontros de poetas, exposições, principalmente sobre
invocações de Maria - Mãe de Jesus - e comemorações em diversos centenários de
3
COLOMBO, Fausto. Os Arquivos Imperfeitos – memória social e cultura eletrônica. São Paulo: Perspectiva,
coleção Debates, 1991.
16
personalidades históricas e religiosas, lançamentos de livros, excursões, cursos de Cidadania e
Civismo, plantação de árvores e distribuição de mudas diversas, especialmente palmeiras e
pau-brasil. (apêndice C, pág. 126)
E ainda, edificação de monumentos ao Centenário de Feira de Santana, ao seu titular
Monsenhor Amílcar Marques e ao cidadão Leôncio Ramos Gomes cuja família iniciou o que
viria a ser bairro dos Eucaliptos. Possuiu uma coluna no Jornal Folha do Norte, de Feira de
Santana, chamada O CECREMAM na FN. Nesse mesmo jornal, foram divulgados a Canção
dos Cecremanos, em 12/10/1968 e o Decálogo do CECREMAM, em 14/01/67. Em tudo isso,
temas cívicos e religiosos estiveram sempre presentes.
Para a implementação da pesquisa foi adotado o seguinte percurso: seleção, organização do
roteiro para as entrevistas narrativas,
realização das entrevistas narrativas individuais,
transcrição e análise temática, estabelecendo-se aspectos afins e trajetórias comuns sobre
histórias e práticas culturais de leitura. As entrevistas foram úteis enquanto instrumento para
coleta de dados e as narrativas compuseram a forma adotada para se alcançar os dados,
propiciando acesso à intersubjetividades. As mulheres desta pesquisa mais do que
entrevistadas foram narradoras. Para JOVCHELOVITCH e BAUER (2002, p. 110) “as
narrativas não estão abertas à comprovação e não podem ser simplesmente julgadas como
verdadeiras ou falsas; elas expressam a verdade de um ponto de vista, de uma situação
específica no tempo e no espaço.” A voz de quem conta é, portanto, legítima e tudo o que se
apresenta e como se apresenta nesse processo traduz a empiria e a fonte igualmente legítimas.
Com esse pensamento foi convocado um encontro para apresentação desse projeto às
integrantes do CECREMAM para que dele tomassem conhecimento. A reunião foi convocada
aproveitando atividade no Templo-Escola Santa Rita de Cássia onde havia cecremanos
presentes, sobretudo mulheres. Foi feita explicação prévia e solicitado que informassem aos
não presentes.
O encontro aconteceu ao ar livre, entre as copas de um pé de eucalipto, um pinheiro e um paubrasil, ao lado do monumento a Feira de Santana erigido pelo Centro Cultural, no jardim de
seu fundador, numa tarde de domingo, ensolarada e arejada, regada a chá de eucalipto,
conforme a tradição do grupo (apêndice D, pág. 127). O encontro deu-se em dois momentos
distintos, na mesma tarde, com opções de horários às convidadas. Naquele momento, o
objetivo foi explicar com mais detalhes a respeito do projeto, explicitar os critérios de seleção
17
e saber quais entre elas gostariam e poderiam participar. Ao final de cada encontro, foi lido o
documento de esclarecimento sobre o projeto e sobre a ética na pesquisa sob o título Termo de
consentimento livre e esclarecido (apêndice E, pág. 128). redigido como resultado das
orientações documentais do Comitê de Ética em Pesquisa da UNEB que aprovou a execução
desta pesquisa (anexo A, pág. 120).
Foi garantido o direito de esclarecimentos antes e durante esta pesquisa a todos que dela
participaram; as pessoas convidadas para fazerem parte desta pesquisa procederam de maneira
voluntária, sem nenhum ônus ou pagamento destinado a esse fim e com total liberdade de
expressão para falar e opinar sobre o que ou quem quisessem, bem como poderiam desistir de
participar desta pesquisa em qualquer momento que desejassem sem sofrer nenhum prejuízo
ou penalização por tais atitudes. Foi garantido também às participantes o sigilo quanto aos
dados confidenciais envolvidos na pesquisa, se porventura ocorressem e assim o desejassem,
assegurando a privacidade, bem como informado que as gravações das entrevistas narrativas
ficariam sob minha guarda pessoal. Ao término da pesquisa, elas tiveram acesso ao seu
produto final, e o Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques recebeu
uma cópia para seu arquivo.
A pesquisa em campo além de haver sido desenvolvida nas entrevistas narrativas, contou
também com orientações logísticas organizadas previamente a partir da leitura de Meihy e
Holanda (2007). Nessa bibliografia há indicações sobre: a) fichas de apresentação das
entrevistadas para arquivamento e para apresentação inicial de cada gravação por filmagem, a
fim de não haver riscos de nenhuma entrevista narrativa ser confundida com outra (apêndice
F, pág. 130); b) modelo de autorização para entrevistas; c) autorização de posse e uso delas,
para garantir possibilidade de reflexão para essa decisão; d) orientações sobre a acessibilidade
ao material escrito e realização das transcrições.
Nas transcrições feitas foram retiradas marcas excessivas da oralidade como, por exemplo,
frases cortadas e repetidas sucessivamente para adequar o oral ao escrito, porém sem
desvirtuar a produção narrativa original. E a análise dos dados a partir das narrativas foi
realizada entrecruzando histórias de leitura e histórias de vida. Foi tomado como base para o
roteiro das entrevistas narrativas: família, escola, CECREMAM versus o que, como, onde,
quando e por que liam. Tal roteiro exprime as categorias adotadas.
18
Assim surgem dois blocos de categorias: base da formação leitora e transgressões a formação
leitora inicial.4 Os blocos foram determinados devido a uma certa linearidade presente na
infância e juventude da maioria delas e a tendência transgressora na nova geração observadas
após entrevistas narrativas. A primeira categoria contemplou a formação leitora nos percursos
da infância influenciados principalmente pela família e pela escola, bem como atos de leitura
no CECREMAM, por este fazer eco com o perfil familiar e escolar em seus aspectos
moralizantes. A segunda categoria contemplou especialmente práticas leitoras que avançaram
no que diz respeito a novos temas lidos e aos mais diferentes modos, motivos e representações
da leitura e do leitor. Não mais em suas formações iniciais, embora em algumas das
narradoras ainda influenciadas pelos valores adquiridos em tenra idade.
Os encontros ocorreram em local e horário de acordo com a disponibilidade de cada uma,
dentro da semana sugerida, no intuito de evitar um período em que dentre elas houvesse
alguém fora do bairro, em viagem, por exemplo, uma vez que todas tinham pessoas na família
em outros bairros e cidades.
As entrevistas foram individuais de modo a evitar as interferências diretas que poderiam ser
provocadas pelas lembranças umas das outras. Em cada encontro foi estabelecida uma
conversa informal incluindo também o que estivessem fazendo e, na sequência, a gravação e
filmagem iniciavam-se com os dados pessoais e seguia em frente com as categorias citadas.
As entrevistas realizaram-se em encontros gravados e/ou filmados para garantir a efetividade
do registro. Com exceção de uma entrevistada, que, por motivos pessoais, permitiu apenas a
gravação em áudio. As entrevistas variaram entre cerca de 30 minutos a 4 horas. Essa
disparidade de tempo demonstrou a total liberdade e respeito a cada uma das narradoras no
desenvolvimento livre de suas histórias, de acordo com seus desejos e estilos narrativos.
As duas narradoras que ilustram esses extremos estavam vivenciando momentos e situações
peculiares. A primeira, Sr.ª Maria da Purificação, poucos meses antes havia enterrado seu
filho, morto em acidente de carro, tendo deixado uma filha de 1 ano de idade e, ainda
consternada, participou da pesquisa, informando querer contribuir com ela, mas sentindo-se
desmotivada para tal. Ela foi breve nas respostas, num comportamento fugidio, e não me senti
4
A expressão “transgressão” ilustra qualquer tipo de quebra normativa no que diz respeito ao uso do livro, a
forma de ler, ao que deveria e/ou poderia ser lido, considerando sutilezas modificadas em práticas de leitura.
19
à vontade para estimulá-la mais, embora tenha sido um encontro agradável. Devido a seu
abatimento, ela não autorizou a filmagem, no que foi respeitada. A segunda, Sr.ª Maria
Mercês, foi na verdade a primeira na agenda e muito solícita, envolveu-se bastante no ato de
narrar, tendo dificuldade em encerrá-la, descrevendo e comentando detalhes de sua biografia.
A participação desta depoente, na condição de primeira narradora, ou seja, como primeira
experiência,
muito contribuiu
para a pesquisa, porque a cada palavra, frase, tema ou
comentário que expusesse, ela desenvolvia amplamente.
As narradoras Maria da Purificação e Maria Mercês, assim como as demais, viveram relações
entre passado e presente, tempo e espaço. Essas relações estavam presentes nas narrativas de
suas histórias de vida, bem como especificamente em suas histórias de leitura e suas práticas e
recaem em itinerários subjetivos e intersubjetivos. “O exercício da intersubjetividade sobre a
subjetividade expressa na narrativa oral e escrita permite trabalhar a problemática da
compreensão de si e dos outros” (JOSSO, 2004, p.222). São, portanto, itinerários sobre os
quais as narradoras, por meio do que rememoram e narram, incidem, especialmente sob o
olhar interdisciplinar e transdisciplinar, nesta perspectiva, inseridos e dimensionados nos
capítulos abaixo sumariados.
O primeiro capítulo, Vidas em trajetórias no bairro dos Eucaliptos, anuncia o
CECREMAM a partir dos depoimentos das associadas participantes dessa pesquisa, uma vez
que todas as narradoras são ou foram vinculadas a ele, perfazendo um elo comum nos
Eucaliptos. Em consideração a esse elo, fez-se necessário apresentar o Centro Cultural
Récreo-Educativo, expondo sua fundação e seus objetivos para contextualizar suas práticas,
especialmente aquelas concernentes à leitura. Além disso, cidadania, civismo e religiosidade
católica são alguns dos interesses expressos pelo CECREMAM em eventos que promoveu.
Por isso nesse capítulo há explanação sobre quais princípios possivelmente nortearam o
Centro Cultural, trazendo em seus meandros a hipótese de haver em seu interior vestígios da
Ação Integralista Brasileira (AIB)5 e/ou da Sociedade Brasileira da Tradição Família e
Propriedade (TFP)6.
O segundo capítulo, Leituras nas trilhas de práticas institucionais: apreender e
acomodar, discute as práticas de leitura dessas mulheres em meio a suas famílias, escolas e
5
6
A Ação Integralista Brasileira – AIB também pode ser aqui registrado como Integralismo.
A sigla TFP sempre será usada referir-se à Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.
20
no CECREMAM, considerando motivos e modos presentes em suas práticas e percursos
formadores. Nesse contexto, práticas de leitura oferecidas, ensinadas e defendidas pela escola,
pela família e pelo Centro Cultural aparecem como valores e práticas aprendidos e
acomodados, ou seja, aprendizagens internalizadas e sedimentadas por elas.
O terceiro capítulo, Leituras nas veredas de práticas confrontadas: conservar e renovar,
aponta a associação e a contraposição às práticas de leitura exercidas pelas narradoras
naquelas e em outras ambientações. Nessa perspectiva, observam-se informações que elas
trazem de si sobre suas relações iniciais com a leitura em seu processo de aprendizagem na
escola e na família e o incentivo à leitura presente em ações cecremanas. Desse modo,
percebem-se manutenções de valores sedimentados segundo reflexões apontadas no capítulo
anterior, mas também rompimentos sobre condutas leitoras, práticas de leitura e sobre
representações a respeito da leitura.
Essa pesquisa contemplou vozes de mulheres que revelaram aspectos da agremiação e da
comunidade da qual fizeram parte, mesmo quando anterior a sua existência, quer dizer,
enquanto legado familiar e, sobretudo, contando um pouco de suas histórias. Muito tiveram a
dizer, embora nem sempre tenham tido o hábito de sentirem-se chamadas a isso. Tratou-se de
um trabalho marcado pela subjetividade, presente nas narrativas orais, na memória, na leitura
enquanto tema e, nessa interseção, apresentaram-se peculiaridades leitoras e representações
sociais sobre a leitura, uma influenciando a outra, a partir das referências e da formação
leitora das narradoras.
Circundada pela interdisciplinaridade, visou compreender histórias de leitura “entre a
subjetividade e o lugar social do indivíduo, com seus diferentes ritmos, formas de ler e
espaços de leitura os mais imprevistos” (CORDEIRO, 2008, p.197), mas nem sempre,
escutando e apresentando formas delas narrarem a si mesmas, seu lugar social enquanto
filhas, irmãs, vizinhas, donas de casa, religiosas, cecremanas, esposas, mães, mulheres e
representações dessa rede de relações.
21
CAPÍTULO I
VIDAS EM TRAJETÓRIAS NO BAIRRO DOS EUCALIPTOS
Este capítulo traz à baila as sete mulheres, o CECREMAM e a comunidade em que ele está
inserido. A partir das narrativas, todos – mulheres e CECREMAM tiveram suas trajetórias de
vida entrelaçadas e como locus principal – os Eucaliptos7.
O bairro dos Eucaliptos, em Feira de Santana teve esse nome dado pelo professor Antônio
Ramos da Silva, fundador do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques
- CECREMAM. A localidade não tinha denominação e sua via principal era uma estrada de
rodagem cujo trecho era o então Km 142, como era conhecido. Havia poucas casas, sendo as
primeiras casas de tios e dos pais de alguns dos sociofundadores, onde posteriormente iniciouse essa agremiação.
Por causa dessa agremiação, o nome Eucaliptos passou a identificar a comunidade, servindo o
Centro Cultural Récreo-Educativo como principal divulgador do nome Eucaliptos, e foi como
ela se tornou conhecida, firmando-se posteriormente como bairro e, sob esse olhar,
CECREMAM e Eucaliptos nasceram praticamente juntos. As árvores de eucaliptos
representavam bem o lugar, identificando-o ao longe pelas copas de tais árvores, que se
destacavam em relação às demais devido a sua altitude. Gradativamente, contudo, a maioria
delas foi ceifada, oferecendo seu espaço ao concreto.
Os eucaliptos também passaram a ser um dos símbolos da entidade, presentes em sua bandeira
e em seu brasão, caracterizando também as reuniões e os eventos promovidos pelo Centro
Cultural, quando frequentemente era oferecido chá de eucalipto para os participantes e
convidados, que também eram estimulados a levar suas folhas consigo para fins medicinais e
aromáticos. Os eucaliptos configuraram-se em um sinal distintivo de eventos do Centro
Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques.
7
Pouco tempo antes das entrevistas narrativas houve uma mudança no CEP, redimencionando o bairro dos
Eucaliptos e dessa forma o espaço em questão passaria a fazer parte do bairro Brasília. No entanto, nenhuma das
narradoras durante a pesquisa considerou tais mudanças. Nenhuma delas mencionou tal alteração nem titubeou
ou modificou o nome Eucaliptos; além do mais, o tempo desta pesquisa comporta predominantemente a
realidade anterior. Vale ressaltar que em conversas informais, após esta pesquisa, em momentos e circunstâncias
distintas com parte delas, o fundador do CECREMAM e várias outras pessoas de idades distintas e
especificamente da rua Senador Quintino e adjacências foi possível verificar que tal alteração não foi bem aceita
pela comunidade. Ninguém falou a favor, feliz e satisfeito, ao contrário, todos lamentaram.
22
A partir das falas das narradoras, a entidade foi apresentada como destaque em Eucaliptos.
Através de comentários e lembranças de suas atividades que dinamizavam e movimentavam o
lugar, depender da época. Além de suas memórias, estão registradas em atas e/ou em
produtos, como canecas, camisas, flâmulas, monumentos, entre outros. Nesse sentido, os
registros expostos nas falas dessas mulheres, sejam sobre si ou sobre o CECREMAM, assim
como os registros documentados pelo Centro Cultural, são reconhecidos como fontes. Por
outro lado, são construções da memória e configuram o recorte de algo, um recorte subalterno
a escolhas e à própria memória.
1.1 O CECREMAM e suas leitoras: inserção no corpus
As narradoras da pesquisa comentaram sobre o lugar, sobre o Centro Cultural, ambos
apresentados a partir de suas narrativas sobre si mesmas nesses contextos. Neste capítulo elas
são apresentadas, especialmente dentro de suas experiências no ato de narrar no interior desta
pesquisa, de seus pertencimentos familiares e comunitários via agremiação, numa relação
intrínseca.
Das entrevistadas que ingressaram no CECREMAM, em 1966, na Ala Adulta estão as
narradoras Nance, Terezinha, Maria da Purificação e Vanda. Srª. Nance, 80 anos, viúva, 2
filhos, nasceu em Salvador e foi para Feira de Santana com 3 anos de idade. Voltou a morar
em Salvador por cerca de 10 anos não consecutivos. Não morou na comunidade dos
Eucaliptos, mas esteve frequente via atividades cecremanas. Srª. Terezinha, 72 anos, casada, 1
casal de filhos, nasceu em uma fazenda em Bonfim de Feira e morou na comunidade dos
Eucaliptos há 53 anos, desde que casou. Srª. Vanda, 65 anos, casada, 2 filhos e 1 filha, irmã
de Maria da Purificação, também nasceu na mesma casa que a irmã. Ela afastou-se apenas por
algumas semanas, quando morou na Travessa Santa Maria no bairro Brasília, vizinho ao
bairro dos Eucaliptos, e por 7 meses, quando morou em São Gonçalo dos Campos, ambos no
início de seu casamento. Srª. Maria da Purificação, 60 anos, 2 filhas e 1 filho falecido em
2010, nasceu na comunidade dos Eucaliptos, especificamente em uma das primeiras casas do
lugar, casa essa usada pelo CECREMAM para algumas de suas atividades. Casada e,
prematuramente, viúva, sempre morou nos Eucaliptos. Fez parte da fundação do
23
CECREMAM, assumindo a função de secretária por um período e dele participou com mais
assiduidade até a década de 1980.
A narradora Iristelma, 48 anos, casada, 2 filhas, ingressou no CECREMAM, também em
1966, mas na Ala Infantil. Participou da Ala Infantil do CECREMAM entre final da década
de 1960 e início da década de 1970 e continuou depois até a decáda de 1980 quando se casou.
Seus pais também foram sociofundadores. Ela nasceu e morou nos Eucaliptos nos primeiros
20 anos de vida, depois mudou-se para Caraíbas e lá ficou por cerca de 20 anos, e há 7 anos
retornou para Feira de Santana, para o bairro Feira VII, limite com os Eucaliptos, que ela
frequentou quase que diariamente.
Por fim, ingressaram no CECREMAM, na década de 1990, quando não mais havia as
divisões por Alas as narradoras Judite e Maria Mercês. Srª. Judite, 70 anos, viúva, 2 filhos e 4
filhas, uma delas falecida, morou nos Eucaliptos desde 1962, quando se casou. Ela participava
de atividades organizadas pelo CECREMAM desde sua fundação como espectadora, por
serem abertas à comunidade, mas apenas filiou-se em 1990. Srª. Maria Mercês, 52 anos,
solteira, sem filhos, morou nos Eucaliptos desde alguns anos após ter concluído o ensino
médio, quando se mudou com o pai enfermo para a casa de sua irmã no bairro. Conheceu o
CECREMAM em 1992, por ocasião das comemorações do Bicentenário de Nascimento de
Maria Quitéria, atraída por um concurso de poesia, sobre o qual soube por meio de um
vizinho. Filiou-se no Centro Cultural em 1995.
Elas contaram um pouco de suas vidas e as intercalaram com o fazer narrativo e atividades
cecremanas que rememoraram. Dentre as que tiveram disponibilidade para depor, foram
selecionadas de maneira que houvesse representatividade na participação de distintos períodos
do CECREMAM, com ênfase às duas primeiras décadas de atuação desse Centro Cultural. O
vínculo das narradoras com o bairro dos Eucaliptos também foi considerado. Por isso, a maior
parte delas ainda morava nesse lugar. Houve narrativas sobre mudanças acontecidas na
localidade ao longo do tempo, bem como narrativas que apontavam para a interseção entre o
CECREMAM e seu locus.
Esse fazer narrativo perpassou pela reconstrução no ato de lembrar que consiste na
possibilidade viável de qualquer sujeito, assim como da história, para retomar algo do
passado. Retomar algo, porque não é possível retomar tudo, uma vez que o sujeito muda com
24
o tempo. Ainda que fosse considerada uma unidade nele mesmo, ele não é no presente o
mesmo do passado, pois, tem-se consigo, do presente, valores, perspectivas, tudo enfim que
facilite e desenvolva um julgamento, um olhar sobre o passado.
Sobretudo há a
impossibilidade da memória, quer dizer, a memória é naturalmente seletiva, o que significa
que ninguém consegue guardar tudo o que viveu, nem tudo o que ouviu do que os outros
viveram e, ainda, há os esquecimentos, saltos, os possíveis equívocos. Nada disso inviabiliza
sua riqueza. Riqueza essa que recebe subsídios de recuperações, reapropriações e
reconstruções que são ligadas e organizadas em narrativas, através da memória e através da
linguagem, no ato primoroso de contar e recontar.
Pela linguagem houve a demonstração entre as narradoras da idealização do passado, a
exemplo da Srª. Judite, quando disse “Foi tão bom! eu gosto de relembrar o passado, é
gostoso! O passado hoje está melhor que o presente (risos). O passado é gostoso! É no
passado que a gente já passou coisas boas, o que eu passei na minha vida, é tão gostoso. Até
as coisas ruins do passado é. Eh! se torna! É Deus, que a gente fala e se sente tão bem!”
(risos) (Judite). E, entre sorriso largo, Iristelma: “Já pensou, você agora me fez voltar no
tempo”, bem como declarações da impossibilidade ou limitação da memória quando disseram,
por exemplo: “Faz tanto tempo, não vou lembrar”, “será que vou lembrar?”, “não lembro de
nada”.
Às vezes, no tempo presente, distante, o passado é romantizado e por isso “o passado é bom”,
“gostoso”, “melhor que o presente... se torna” é satisfatório voltar a ele. Reconhecer a
memória como viagem no tempo enquanto oportunidade de resgatar e partilhar seu passado
somada à falsa ideia da completude da memória, tem-se a preocupação expressa na fala “não
lembro de nada”, sempre dita e de várias maneiras repetidas por todas, especialmente pela Srª.
Vanda, todas reconhecendo em si prováveis esquecimentos, saltos, lapsos que temem suceder
ou reconhecem que vai suceder em dada medida. Todavia, passado e memória são
naturalmente vastos de possibilidades e lacunas, independente de seus sujeitos narradores.
A dupla esquecimento/memória, portanto, é apenas uma aparente oposição. Numa
grande medida, estas oposições são instrumentos conjuntos e indispensáveis em
projetos narrativos que dão conta de eixos de conflito. Há também o caso de, na
própria narrativa, formarem-se núcleos em que lembrar é um fluxo, um processo, uma
razão de ser e então o ato de esquecer se faz o pivô daquilo que se desenvolverá,
detonando uma série de transformações ou a transformação (FERREIRA, 2004, p. 92,
93).
25
O medo de esquecer e os esquecimentos que ocorreram não impediram a produção narrativa.
Eles podem ocorrer por questões clínicas que comprometam a lembrança; pela
impossibilidade de se registrar tudo em absoluto na vida; como alternativa consciente ou
inconsciente de eliminar da narrativa o que o sujeito que narra julgar errado, equivocado,
indesejável e enquanto “pivô daquilo que se desenvolverá”. O esquecimento como também o
medo de esquecer tornam-se determinantes no preenchimento de lacunas nas narrativas.
Srª. Nance resolveu isso não intencionalmente, trazendo de seu quarto textos de sua autoria ou
de outrem e impressos diversos também do CECREMAM. Ela sabia que todas as narradoras
foram do CECREMAM e que o tema das entrevistas narrativas dizia respeito à leitura, por
isso ela compartilhou dentre seus pertences textos e poemas escritos por ela, um classificador
organizado por ela com certificados, convites e informações de parte das programações
idealizadas e promovidas pelo CECREMAM, cadernos que organizou, livros do Centro
Cultural e outros, forçando a memória a partir de suas lembranças julgadas por ela
importantes e, portanto, arquivadas e guardadas em seu quarto.
As narradoras, a exemplo da Srª. Vanda, preocupada com seus esquecimentos, e da Srª.
Nance, atenta a seus suportes materiais, sentiram-se na responsabilidade em presentificar o
passado imposto na participação dessa pesquisa.
Haveria, portanto, para o velho uma espécie singular de obrigação social, que não pesa
sobre os homens de outras idades: a obrigação de lembrar, e lembrar bem. Convém,
entretanto, matizar a afirmação de Halbwachs. Nem toda a sociedade espera, ou exige,
dos velhos que se desencarregem dessa função. Em outros termos, os graus de
expectativa ou de exigência não são os mesmos em toda parte. O que se poderia, no
entanto, verificar, na sociedade em que vivemos, é a hipótese mais geral de que o
homem ativo (independente de sua idade) se ocupa menos em lembrar, exerce menos
freqüentemente a atividade da memória, ao passo que o homem já afastado dos
afazeres mais prementes do cotidiano se dá mais habitualmente à refacção do seu
passado. (BOSI, Ecléa, 2009, p. 63)
Resgatar o passado é tão provocador quanto impulsionar a memória. Impossível recuperá-los
integralmente, pois estão sob a tutela do tempo. O sujeito tende a ocupar-se do passado em
intensidades diferentes, a depender da etapa em que está na vida. Segundo Ecléa Bosi (2009),
o velho
se ocupa mais dessa tarefa do que um adolescente, imprimindo-lhe a esse
26
comportamento também uma função social. Nessa perspectiva o velho possui importante
responsabilidade na sociedade, a partir seu núcleo familiar e social no que tange a
socialização de suas memórias.
No entanto, independente da idade, ou melhor, sem necessariamente todas elas serem idosas,
as entrevistas narrativas consistiram no auge deste trabalho e em uma experiência favorável a
elas. Por exemplo, Srª. Nance disse que “foi muito agradável”, Srª. Mercês, ao final, associou,
entre risos, a uma retrospectiva anual na televisão: “É divertido, é a retrospectiva 2010!” e
Srª. Judite contou sobre uma experiência anterior que julgou negativa, contrariamente a essa.
Uma vez eu tive uma entrevista na Unimed e pior que na Unimed foi um jornalista de
verdade...‚ “então vocês tem que falar só o que convém’, quer dizer, que se tiver uma
coisa que não era boa a gente não podia dizer. Tinha que falar que a Unimed é ótima,
tinha que falar tudo bem, porque eles estavam gravando [...] então primeiro diziam o
que a gente podia falar, mas a gente fez a entrevista, só não foi prolongada como essa.
Essa foi de amiga para amiga e foi ótima, ótima! (Judite)
Apesar da liberdade que tiveram ao narrar e apesar, ainda, de ser impossível reviver o passado
exatamente como fora vivido, percebido, sentido e reagido, muitos foram os dados revelados,
suficientes para inúmeras abordagens e vertentes temáticas no seio da Sociologia da Leitura.
É inviável atender a todas as demandas perceptíveis em cada narrativa em uma única
pesquisa. As entrevistas narrrativas caracterizaram-se pela multiplicidade simbólica do que
fora exposto e experienciado em suas vidas. Por tudo isso foi necessário seleção e recortes,
mas que não comprometeram a pesquisa e o aprofundamento de todos os dados, pois isso era
esperado.
Logo, em meio a uma seleção atenta à proposta inicial deste capítulo, foi importante associar
gradativamente depoimentos sobre a vida dessas mulheres e suas experiências no
CECREMAM, porém antecedidos pelo depoimento sobre o que fora evidenciado a respeito
do desenvolvimento do lugar que viria a ser os Eucaliptos:
Eu não sei se você sabe onde é o açougue São José! Eu alcancei somente mato, nem a
casa [casa dos avós] eu não alcancei, mas agora tinha muito arvoredo [pausa] [...] E
por sinal eu não conheci nenhum dos dois[avós paternos] nem por retrato. Agora de
mamãe eu conheci minha avó, meu avô também eu vi só uma vez por retrato, mas
conheci. E o de papai nem por retrato a gente[irmãos mais novos] não viu. [...] Eles
[irmãos mais velhos] alcançaram porque iam lá pra fazenda. O pai de mamãe tinha
27
fazenda no Tomba [bairro vizinho aos Eucaliptos] muito grande, muito arvoredo, gado
tinha muito lá. (Vanda)
Srª. Vanda narrou o lugar quando este era um pedaço de terra de propriedade de seus avós
paternos e maternos. Os moradores próximos a ela eram filhos de seus avós paternos que, ao
formarem seus novos núcleos familiares, construíram suas casas, onde agora vem a ser
especificamente os Eucaliptos: “[...] Antes do CECREMAM o bairro era mato puro, as casas
que eu tenho lembrança de quando era pequena eram somente a casa de papai, a casa de uma
tia aqui onde é a venda de Zequinha e a de Dona Cazuza [Sra. Maria Dias], que era casada
com o irmão de papai”.
A narrativa de Srª. Vanda, dirigida ao bairro, foi intercalada por lembranças de seus avós, pais
e tios, desenvolvida em meio a um tom de voz que remetia à saudade também do que não
conheceu, como dos avós e da casa que não visitou. Vale lembrar que ela nasceu em 1941 e,
naquela época, ainda não existia divisão em bairros, tal como conhecemos, nem limites mais
definidos, porque nessa parte da cidade de Feira de Santana havia predominantemente
fazendas, chácaras, roças e terras nativas, ainda sem muita ou nenhuma exploração e
povoamento, principalmente no período contemporâneo a seus avós.
A região à qual ela se refere como pertencente aos seus avós maternos e paternos equivale à
parte dos atuais bairros Tomba, Areal e Brasília, além dos Eucaliptos. Seus avós não se
preocuparam com escrituras nem com novos moradores que chegavam, tendo garantido
apenas terra para moradia e subsistência dos seus filhos quando casassem.
Ela, ao narrar, também reconstruiu um pouco dos Eucaliptos num cenário com árvores e
presença de mato: “[...] Aí onde é seu Moura mais ou menos, tinha um pé de caju enorme. O
pessoal só colocava porcaria lá embaixo, porque lá é uma encruzilhada, é só passar a Senador
e a João Durval. Era tudo mato, era tudo capim[...]” e retomou mudanças acontecidas
anteriormente ao seu nascimento e ao nascimento de seus irmãos, no que converge ao início
da urbanização do atual bairro:
Essa estrada aqui, quando a gente chegou [quando ela e seus irmão nasceram] já
achou por dentro do terreno do pai de papai, meu avô. A rua Senador Quintino passou
por dentro do terreno, aqui era tudo dele, essa parte do Areal [aponta para direção do
micro bairro vizinho] essa maior parte pertencia a ele. Ele tinha chácara. [E acrescenta
28
o caminhar do tempo, mencionando o CECREMAM] [...] O tempo passou, a
comunidade foi mudando, mudando... Na época em que o Centro Cultural foi fundado
já tinha mais casas, foi chegando mais pessoas pra aqui, aí foi melhorando,
melhorando... (Vanda)
Srª. Vanda inseriu como parâmetro espacial e temporal referência a poucas residências de
pessoas da época de sua infância e a residências de pessoas da atualidade antes de serem
construídas, como Senhor Moura e, na citação anterior, Senhor Zequinha, moradores atuais
dos Eucaliptos há algumas décadas, mas que ela colocou como referência atual para referir-se
a características físicas anteriores à chegada deles.
Ela se deteve em aspectos físicos do lugar, mas isso não comprometeu em nada a composição
de um cenário evolutivo da urbanização local, a exemplo da estrada citada. Essa estrada
marcou o início do processo de urbanização. Inicialmente como estrada de chão, depois por
décadas com paralelepípedos, recebeu em 2010 asfalto pela primeira vez. É uma das ruas
principais dos Eucaliptos, que leva ao fundo da Igreja Matriz da cidade. Era chamada de
estrada de rodagem, tendo como marco uma pedra que marcava Km 142, localizada no meio
fio em frente à casa de seus pais.
A estrada recebeu o nome de Rua Senador Quintino, seguindo o processo de urbanização, as
casas foram numeradas, o lugar foi oficialmente denominado de Bairro dos Eucaliptos depois
de ampla iniciativa, divulgação e campanha do CECREMAM, e aquela pedra perdeu sua
função como localizadora de um espaço, tendo sido guardada pelo irmão mais velho da
narradora, e atualmente está em frente à casa de seus pais, agora como marco histórico local.
Simultaneamente às mudanças de nome e à aparência física, transforma-se também a
movimentação da rua, uma vez que os veículos motorizados eram escassos em comparação a
2010 e utilizada como caminho para a boiada até a década de 1980.
A Rua Senador Quintino é cortada pela Avenida João Durval Carneiro, uma das avenidas
principais da cidade, a qual também corta o bairro dos Eucaliptos, que tinha como nome
anterior Avenida José de Anchieta, também lembrado pela Srª. Vanda “[...] Porque antes era
Anchieta, é... eu acho que era Anchieta sim, aí o pessoal se revoltou quando mudou para João
Durval”. Srª. Vanda foi quem mais narrou a evolução do bairro, ilustrando o percurso de seu
crescimento com base nas referências pessoais enquanto alguém que, além de ter nascido e lá
29
sempre ter morado, guardou e associou a esse espaço seus antepassados familiares, portanto,
históricos.
Ao traçar as mudanças físicas do lugar ao longo de gerações, deu margem à historicidade do
lugar. Inicialmente indicou um traço distintivo de evolução e desenvolvimento a partir de um
núcleo ou célula comum inerente ao interior desse lugar, do grupo e da entidade aqui
descritos. Com isso, apontou para um cunho de certo modo endógeno, caracterizando-os,
conforme será melhor explicitado por pistas nas narrativas e registro de sócios.
E nesse lugar o CECREMAM foi fundado em 1966, conforme informado anteriormente,
quando a rua Senador Quintino já estava povoada por moradores em toda a sua extensão, bem
como já havia a presença de pequenas casas comerciais, como quitandas, armazéns, açougue e
ao menos uma escola pública. O bairro se iniciou com uma classe economicamente baixa e
encontrou no CECREMAM a oportunidade da interação social, por intermédio das atividades
religiosas, culturais e recreativas que promovia, conforme lembranças das Senhoras Judite,
Vanda e Iristelma.
Srª. Judite, a seguir, ressaltou em suas lembranças atividades do CECREMAM nos
Eucaliptos, vinculando a sua participação e a da sua família, em que ambas interagiram:
Acompanhei tudo, porque quando eu cheguei pra aqui, não tinha nada disso [...]. Era
aí na casa da chácara da mãe dele [fundador do Centro Cultural]. [...] Ele fazia essas
coisas de religião e não podia ser dentro de casa, porque a casa era pequena. Então
fazia debaixo de um pé de cajá. Esse pé de cajá que tem aí [aponta para frente da
referida casa]. E criei os meus filhos aqui, minha filha chegou a fazer a primeira
comunhão aqui. Era muita festa, muita coisa boa, muita coisa boa [fala pausada com
tom de saudosismo]. [...] Ele fazia jogo, fazia coisa que eu não sei se lembro para te
contar. Era o ano todo e tudo era aí na casa da velha [mãe dele] porque esse terreno
era puro, aí, fazia quadrilha, festa de Natal, tudo aí. [...] Eu participava das atividades
religiosas que ele fazia: procissão pra Matriz... Ele fazia os cem anos... [referência aos
centenários diversos que foram comemorados no CECREMAM] (Judite)
Ela se reportou a festas e recreações, acrescentou às atividades religiosas a participação de
seus filhos como algo importante para si e no processo de formação deles e ressaltou que
quando chegou (1962), “não havia nada disso”.
30
Algumas atividades de cunho recreativo, muito presentes no início do Centro Cultural, foram
citadas mais de uma vez: corrida de ovo, corrida de saco, festas, pau de sebo com potes cheios
de doce e “nicas” (moedas), cabra cega, jóquei, como chamavam a corrida de cavalo feita
com pedaço de pau e cara de cavalo feita artesanalmente com feltro, jardim, que consistia
num quadrado cheio de flores plásticas “plantadas” com presentes para cada pessoa retirar
uma flor e achar um presente surpresa, e quadrilhas juninas - única atividade cujo fim foi
explicado pela presença de “gente que vinha de outro bairro para fazer arruaça” (Vanda).
“tinha tudo isso” e “tudo era muito bom” foram formas expressadas pelas senhoras Vanda e
Terezinha, respectivamente, com lamento e saudade ao lembrarem das atividades do passado.
A arrumação do presépio, realizada todo ano, pareceu algo muito importante, porque foi
recorrente em algumas memórias que se complementavam, na necessidade de narrarem-no em
detalhes, especialmente na fase anterior à construção do Templo-Escola Santa Rita de Cássia
(TESRC), quando era montado ao ar livre, em frente à casa da Srª. Hilda, sob a cajazeira. Por
ser ao ar livre, havia escala para resguardá-lo, com três rapazes de vigia a cada noite e
colocação de rede e/ou dormidas em cima da árvore em revezamento. Srª. Vanda explicou a
origem da tradição do presépio no lugar8:
O presépio era dentro [dentro da casa de seus pais, mesma casa das reuniões]. As
casas de barro, Du [Eduardo - um de seus irmãos] e mamãe[Sra. Hilda, que também
fazia panelas de barros para uso no lar] faziam, então tinha aquela noite de acender as
velas. Pegava as velas e ascendia em baixo da casa [de cada casa de barro], apagava a
luz e ficava um deserto. Vinha gente da cidade toda pra olhar o presépio. Depois ele
comprou este aí e mudou para o lado de fora, já que é grande. (Vanda)
Prática antiga de tradição católica, o presépio foi reportado à própria família e como
continuidade da família foi levado e mantido no CECREMAM, com a colaboração de outras
famílias participantes que também nutriam esse hábito naquela época. Eram várias famílias e
vários núcleos de uma mesma família residente nos Eucaliptos e participantes daquele
momento e de outros promovidos pelo Centro Cultural. É mais um exemplo que reproduz a
endogenia enquanto grupo em si mesmo, que reafirmava constantemente seu legado religiosocultural, bem como a fala a seguir pela narradora Iristelma:
8
O Templo-Escola Santa Rita de Cássia é uma capela particular pertencente ao fundador do CECREMAM. As
narradoras referem-se a esse espaço também com as expressões capela de Santa Rita ou simplesmente Capela.
(apêndice G, pág. 131)
31
Eu entrei bem pequenininha! Tinham aquelas reuniões, tinha ata. Era Celinha [Ana
Célia Lobo Ramos – secretária da Ala Infantil] que fazia sempre as atas, a letra que
tem lá é dela e ela assina. A gente gostava! Era uma maneira da gente se reunir, né?
Eu lembro vagamente de algumas coisas, dindinho organizava muitas. A gente não
tinha Capela [Templo-Escola Santa Rita de Cássia, fundada em 1978], eu lembro que
tinham reuniões que eram aqui em frente[referindo-se à frente da casa onde
aconteciam reuniões], tinha missa em baixo dos pés de árvore, eu lembro disso. [...]
Contribuiu muito, naquele tempo a gente assim jovem, a gente não tinha noção e
ensinou muito assim a conviver com as pessoas, a se comportar, a se relacionar, né?
Ajudou muito! (Iristelma)
Srª. Iristelma entrou no CECREMAM com 5 anos de idade e participou até seu casamento,
quando se mudou para outra cidade. Seus pais, como ela, também fizeram parte do
CECREMAM como sociofundadores. Celinha – Ana Célia Lobo Ramos (nome de solteira),
mencionada por ela, é sua prima, filha da entrevistada Terezinha, e exerceu a função de
secretária da Ala Infantil. Dindinho foi uma das formas que usou para tratar seu tio, padrinho
e fundador do CECREMAM. O local citado para reuniões era a casa de sua avó, Srª. Hilda
Ramos da Silva.
Percebeu-se uma relação genealógica apresentada no depoimento de Iristelma e estendida
entre outras entrevistadas, uma vez que as Senhoras Vanda e Maria da Purificação são irmãs,
tias da Srª. Iristelma e cunhadas da Srª. Terezinha, e os núcleos familiares constituídos por
elas participaram também. Srª. Terezinha também teve mais um filho, Tarcísio, que
igualmente participou da Ala Infantil. Marido e filho mais velho da Srª. Vanda, Sr. José
Nilton e Nilvan fizeram parte do Centro Cultural no início de sua existência como
sociofundadores, e sua filha nascida cerca de 10 anos depois, Nívea, também fez parte
ativamente do Centro Cultural. Os filhos das Sras. Purificação e Judite também participaram
de eventos do CECREMAM, principalmente, quando crianças e adolescentes, embora não
tenham sido associados oficialmente. O marido de Srª. Nance, Sr. Eduardo, também foi
associado ao Centro Cultural e, apesar do grande ciúme, que causava o impedimento dela em
sair com frequência de casa, permitiu que ela participasse da agremiação. As Senhoras Nance,
Judite e Maria das Mercês exemplificaram a presença de outras famílias no grupo.
Além da fala de Srª. Iristelma, o aspecto genealógico do grupo aparece diluído em outras
falas, mas também perceptível na lista de nomes dos sociosfundadores do grupo. O Centro
Cultural organizou um Livro de Registro de Sócio, e nele há uma lista de sociofundadores considerados assim, segundo esse mesmo registro, aqueles que ingressaram no grupo entre os
32
anos de 1966 e 1969. Todos os membros foram separados por Alas - Infantil e Adulta e, de
acordo com essa divisão, o registro foi feito, incluido-se nele dados pessoais. Foram
acrescidos ao nome completo, naturalidade, data de nascimento, profissão, estado civil, data
de inscrição, número e série da carteira de sócio (anexo B, pág. 121). Em apêndice consta
uma tabela com lista completa dos sociofundadores. (apêndice H, pág. 132)
Nesse registro de sociofundadores, há mulheres, homens, crianças e jovens – em sua maioria
naturais de Feira de Santana ou aí residentes. Estudantes, donas de casa, costureiras,
motoristas, mecânicos, professores, operárias, comerciantes aparecem como algumas das
ocupações profissionais desses sócios.
Os vários sobrenomes iguais dos sociofundadores na lista completa presente no livro de
registro apontam a possibilidade de relações familiares entre seus sócios. Elas foram
confirmadas entre muitos deles, por serem entre si esposas e maridos, pais e filhos, irmãos e
primos, tios e sobrinhos e, dentre as selecionadas para a pesquisa, fizeram-se presentes tais
relações.
Fazer reuniões regulares foi prática constante nos primeiros anos da CECREMAM, mas seus
registros nem sempre aconteceram. Nas Alas Infantil e Adulta ocorriam reuniões separadas e
registradas em dois livros distintos. O primeiro livro data de 1966, com registros de reuniões
da Ala Adulta e o segundo corresponde à Ala Infantil nos anos de 1967 até 1971. Em 1996,
mais de duas décadas depois, quando dos preparativos para as Bodas de Pérola do
CECREMAM, retornou a prática do registro de reuniões em atas num terceiro livro, não mais
havendo separação por Alas ou de outra ordem nem tampouco a explicação dessa nova
configuração. Fora as Atas, é possível encontrar informações em pastas, fotos, objetos
diversos e em um caderno o registro de alguns eventos organizados pelo Centro Cultural,
acompanhado por lista de presença (apêndice I, pág. 135).
As reuniões eram nos Eucaliptos, em residências de associados, sob as árvores, ou
principalmente na residência da mãe do fundador do grupo, Srª. Hilda Ramos da Silva, onde
posteriormente um dos cômodos serviria para abrigar uma pequena biblioteca,
especificamente um quarto que ele havia construído para si. Essa residência foi considerada,
inicialmente, sede provisória do grupo e, posteriormente, foi informado pela Srª. Hilda que
33
ficaria à disposição do Centro Cultural mesmo após a sua morte, o que de fato aconteceu,
passando a sediar um pequeno museu permanente com imagens de Nossa Senhora.
Entre o final da década de 1970 e o início da década de 1980, as reuniões passaram a ser no
Templo-Escola Santa Rita de Cássia e no jardim da casa do seu fundador, ambos récemconstruídos. Na residência da Srª. Hilda encontra-se o nome do CECREMAM inscrito em
placa de mármore na parede ao lado da porta e no chão em frente da casa, não havendo outro
lugar com tais identificações na fachada. Além disso é possível avistar um dos poucos
exemplares de pé de eucalipto sobrevivente no bairro, talvez o mais antigo do lugar, plantado
em 1932, e que pertence ao quintal de uma das filhas da referida senhora, a senhora Maria da
Purificação. Na frente dessa casa e embaixo de árvores próximas, realizavam as atividades
recreativas, religiosas, cívicas e culturais descritas pelas narradoras e/ou registradas no acervo
cecremano. As narradoras, ao se reportarem ao CECREMAM, vincunlando-o a um espaço
físico, apontavam para a localização da referida casa, às vezes, chamando-a de CECREMAM.
Toda essa genealogia e ligação com o espaço configurou o caráter familiar do Centro
Cultural. A maioria dos associados conheciam-se antes deste, por amizade e vizinhança e por
vínculos familiares e religiosos – todos eram Católicos Apostólicos Romanos. Tudo isso, por
sua vez, mostra o pertencimento comum entre várias relações presentes, configurando o
caráter endógeno do CECREMAM enquanto grupo em si mesmo, que reafirma
constantemente seu legado religioso-cultural.
Soma-se à endogenia do grupo e aos vários vínculos de pertencimento o fato da maioria das
entrevistadas nunca terem participado de outras entidades além do CECREMAM, segundo
elas mesmas afirmaram. Com exceção das senhoras Judite e Mercês, que participavam de
outros grupos religiosos da Igreja, Sra. Iristelma fez parte do Rotary Club, quando morou em
Caraíba, e Srª. Vanda lembrou de reuniões das quais participou do posto de saúde do bairro.
Isso ressalta o quanto o CECREMAM fora singular nas vidas delas.
Srª. Iristelma, conforme já indicado, disse: “A gente gostava. Era uma maneira da gente se
reunir”. Esse Centro Cultural teve destaque na vida delas por ter configurado espaço de
socialização e encontro, recreações e atividades para si e suas famílias, como extensão da casa
e da igreja, e especificamente para a Srª. Mercês, foi um espaço em que pode recitar, divulgar
e publicar poemas de sua autoria.
34
Srª. Mercês acrescentou, a partir de suas lembranças do período do seu ingresso no
CECREMAM, encontros de poetas dos quais participou, lembrando da presença do poeta
Franklin Machado; distribuição de mudas de pau-brasil; aniversários do Centro Cultural.
Lembrou também de concurso de poesia e desfiles em torno da comemoração a Maria
Quitéria, que durou um ano inteiro, assim como todas as comemorações de datas centenárias.
Em dado momento contou com a presença de duas professoras da escola Maria Quitéria de
Lages - Santa Catarina. Lembrou ainda de cursos cívicos e do livro Pórtico Poético, do qual
fez parte com alguns poemas, bem como reuniões desse período, registradas no segundo livro
de ata do Centro Cultural, algumas das quais secretariadas por ela. Ela enfatizou que, mesmo
nos anos em que o CECREMAM não desenvolveu muitas atividades, alguma comemoração
era realizada nos dias 06 de março, quando do aniversário da agremiação9.
Srª. Nance, por sua vez, durante a entrevista, resolveu buscar livros do CECREMAM e uma
das pastas organizadas por ela, com certificados e textos diversos referentes a algumas das
atividades desenvolvidas pelo CECREMAM em que foi passando página por página: “Eu
faço [arquivamento em pasta] das coisas bonitas do CECREMAM. Eu gosto muito, tanto que
eu fiz uma capa bonita e com coisas escritas, mas que já estragaram pelo tempo” (Nance).
Srª. Terezinha fez questão de falar sobre seu pertencimento ao CECREMAM e, rapidamente,
contou ter sido a primeira costureira a fazer sua primeira Bandeira. “Eu só fiz parte do
CECREMAM e estou desde a fundação.[...] resolveram fazer uma bandeira, e a bandeira
quem fez fui eu - a primeira bandeira do CECREMAM.”
A bandeira do CECREMAM foi aprovada em reunião do dia 27/03/1966, quando sua
heráldica foi formalmente apresentada, tendo seu significado explicado pela ilustração, em
formas e cores, segundo Ata lavrada por Maria da Purificação Ramos da Silva (sobrenome de
solteira)10.
Naquela mesma reunião foi aprovado como brasão da entidade o retângulo amarelo presente
na bandeira, com tudo o que compõe o seu interior, e foi decidido que o hino também passaria
9
Franklin Machado foi presença marcante em vários Encontros de Poetas promovidos pelo CECREMAM dada a
proximidade entre ele e o professor Antônio Ramos – fundador do Centro Cultural.
10
Em anexo consta a transcrição da ata em cujo trecho há a descrição heráldica e foto da bandeira e do brasão
em destaque para informar o “conjunto de sentidos” do CECREMAM aos seus símbolos. (anexo C, pág. 122)
35
pela aprovação em reunião, depois de composto por poetas a serem convidados para esse fim.
Logo, houve a preocupação inicial de desenvolver símbolos, como brasão, bandeiras e hinos
que apresentassem o Centro Cultural.
Os símbolos, segundo Schwarcz (2008), são eficientes quando configuram um conjunto de
sentidos no interior da abordagem comum a um grupo e quando se apropria da língua e da
história como fontes “naturais e essenciais”. Por conseguinte, idealizar, possuir e sustentar
hinos, bandeiras e brasões representativos de pertencimentos de tempo e lugar acalmam,
unificam a variabilidade identitária característica da modernidade ou por ela imposta e
refletida. Dessa forma, as primeiras reuniões do Centro Cultural priorizaram a criação de seus
símbolos. Urgia fazer-se representar por símbolos constitutivos de identidade em pretensa
unidade que visava a democratizar bens simbólicos, por exemplo, o livro e a leitura.
Os bens simbólicos de uma sociedade não chegam em todo lugar da mesma maneira, de
forma equitativa entre as diferentes classes. Por isso vias não institucionais surgem, na
tentativa de melhor democratizá-los, ainda que, como o CECREMAM, reproduzam afinidades
com valores e modelos do discurso oficial, ou ainda, ao que é considerado hegemônico.
Eles constituem um legado imaterial, como por exemplo educação, artes e manifestações
culturais em geral, religião e língua, cujas abordagens muitas vezes são socialmente
determinadas por um grupo que os normatiza. Bourdieu, ao tratar das produções simbólicas,
as associa, enquanto “instrumentos de dominação”, “relacionando-as com os interesses da
classe dominante” (BOURDIEU, 2010, p.10), que as afirmam como tal, legalizando uma
determinação e favorecendo a presença e a manutenção de hierarquias em que ela esteja no
topo e que aparentam uma integração coletiva.
É o que acontece com o sistema de ensino que traduz igualdade aparente de oportunidades e
integração social, mas que reproduz não apenas as diferenças de classes, mas muitas vezes a
determinação de permanência do sistema social dividido em classes hierarquicamente postas.
Dessa forma, como defenderia Bourdieu (2010), a cultura une e também separa,
hierarquizando distinções em relação ao instituído como cultura dominante.
Os bens simbólicos experimentados e vividos pela classe dominante são, portanto,
legitimados e como tal ambicionados. Por outro lado, vistos como forma de ingresso e
36
participação social numa sociedade classificatória, democratizá-los torna-se fundamental.
Nesse sentido, o CECREMAM, durante seus 45 anos, sempre promoveu ações culturais
dentro de perspectivas e abordagens católicas e cívicas, geralmente em comemoração a datas
e personalidades históricas e literárias, ecológicas e recreativas, conforme resgatadas das
lembranças e acervo de entrevistadas e do Centro Cultural.
O Centro Cultural, por um lado, recompôs os ditames impostos pela sociedade, ampliando
informações, conceitos, visões e valores de uma elite tradicional e católica e, por outro lado,
apresentou-se como oportunidade de inserção, ora desenvolvendo, ora desejando desenvolver
o leque de contato, a abordagem cultural de um grupo, cujos integrantes, em sua maioria,
tinham baixa escolaridade. Assim, apropriou-se da cultura hegemônica e a incorporou à
prática desse grupo, porém, também foi uma forma de inclusão social.
1.2 O pensamento conservador no CECREMAM: reverberações do catolicismo e do
civismo
Da observação das ações do CECREMAM em geral, a partir de temas recorrentes em torno
do civismo e da religião Católica Apostólica Romana, surgiu a hipótese do CECREMAM ter
resquício da Ação Integralista Brasileira (AIB) e/ou da Sociedade Brasileira de defesa da
Tradição, Família e Propriedade (TFP). É necessário ressaltar que, nos livros de Atas e demais
fontes do referido Centro Cultural, não aparece qualquer referência ao Movimento Integralista
ou TFP, contudo tornou-se importante refletir a respeito dado o caráter educador de cunho
moralizante do Centro Cultural que em determinada escala orientou leituras e práticas leitoras
a seus partícipes.
A Ação Integralista Brasileira foi um partido fundado em 1932, em São Paulo, pelo escritor
modernista, jornalista e político Plínio Salgado (1895-1975). Foi extinta, pelo Estado Novo
de Getúlio Vargas em 1937. Posteriormente Plínio Salgado candidata-se à presidência da
República em 1955, pelo PRP – Partido de Representação Popular, obtendo entre 7 e 8% dos
votos e, com o fim do PRP, tornou-se parlamentar pela ARENA.
37
O Integralismo foi um movimento de caráter cultural originário de pensamentos
ultranacionalistas, antiliberal, anticomunista, influenciado pela crise de 1929, pela Revolução
de 1930, pelo autoritarismo de cunho nacionalista e seguidor de um pensamento católico
tradicionalista, e não se pode esquecer a vertente Católica presente nesse Centro Cultural.
Possuidor do lema: Deus, Pátria e Família, ele foi de grande expansão na Bahia, incluindo
Feira de Santana.
O segundo movimento, na sequência cronológica, é o TFP. Foi fundado em 1960, em São
Paulo, pelo jornalista católico, político, professor, escritor e graduado em Ciências Jurídicas e
Sociais Plínio Correia de Oliveira (1908-1995). Seus pais eram de famílias renomadas de
Pernambuco e diplomou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em São Paulo. Após sua morte em
1995 a agremiação foi fragmentada entre grupos independentes, como Arautos do Evangelho,
Aliança de Fátima e Fundadores da TFP.
A TFP é uma organização que atuou principalmente contra o comunismo, a esquerda e a
reforma agrária, e cujos membros são católicos da elite reacionária. A TFP tem como lema a
Tradição, a Família e a Propriedade, e divulgou, em fevereiro de 2011, em seu site, artigos
da década de 1960 escritos por seu fundador e, entre vários comentários, houve a exposição
de seus objetivos:
A TFP tem por fim combater a maré-montante do socialismo e do comunismo, dois
sistemas que reputamos afins entre si, como a tuberculose simples o é com a
tuberculose galopante. Ambos estes sistemas repousam sobre a mesma base filosófica
errônea da qual deduzem toda uma série de máximas culturais, sociais e econômicas.
Não pode, pois, haver combate sério contra eles se não incluir o contra-ataque
filosófico, com suas respectivas implicações nos vários campos do pensamento
humano. (OLIVEIRA, Plínio, 1969, Não paginado) 11
A TFP e o CECREMAM surgiram na mesma década, e ainda estavam em exercício na
primeira década do século XXI, considerando as novas agremiações originárias da TFP,
enquanto a AIB já havia sido extinta quando os dois primeiros movimentos iniciaram suas
11
Segundo site oficial da TFP - http://www.tfp.org.br/ ou http://www.tfp.org.br/site-teste/tfp-artigo.php. (último
acesso em 22/02/2011) esse artigo foi retirado do Jornal Folha de São Paulo de 22 de janeiro de 1969, mas não
são informados ano do jornal, caderno e página.
38
atividades na década de 1960. As AIB e TFP originam-se em São Paulo e o CECREMAM
em Feira de Santana, todavia, a despeito de suas diferenças temporais e espaciais, seus lemas
pareceram uni-los em alguns contextos.
O lema do CECREMAM está registrado no refrão e contextualizado nas demais estrofes de
seu hino, composto, respectivamente letra e música, pela professora e poetisa baiana Elza de
Melo e por Antônio Moraes, atendendo o pedido do Monsenhor José Gilberto Luna, então
pároco da Igreja de Senhora Santana em Salvador. Sr. Moraes foi autor das músicas do 4º
Centenário da Cidade de Salvador, celebrado em 1949.
Temos nós neste mundo adverso,
Uma série e nobre missão:
Trabalhar, tendo em mira o progresso,
Vendo em cada ser um nosso irmão.
Refrão: Este trio seja o nosso lema:
Educação, Trabalho, Amor.
Cecremanos sigamos em frente,
Demos prova do nosso valor.
Seja o nosso fanal a Verdade,
Seja a Fé nossa eterna defesa,
Abraçando a virtude, a ventura
Sorrirá, para nós, com certeza.
Oh! Feirenses, unidos, façamos,
Com esforço sincero e constante,
Que o Brasil abençoado por Deus
Seja sempre do Bem um gigante!
Os lemas Deus, Pátria e Família da AIB e A Tradição, a Família e a Propriedade da TFP
têm na família uma palavra comum, pois acreditavam que, a partir dela, seria possível a
sociedade se reerguer em nome da tradição que representam. Os dois primeiros associados ao
lema Educação, Trabalho, Amor do CECREMAM convergiram para as vertentes religiosa e
patriótica nas três entidades. São entidades que enalteciam o Brasil em seus discursos,
objetivando, cada um a seu modo, o progresso.
O CECREMAM idealizou o desenvolvimento de ações mais locais, tendo como foco Feira de
Santana ou pretensões de ações a partir dessa cidade, ou seja, do local para o global, ou, mais
especificamente, de Feira de Santana para o Brasil, conforme afirmado na primeira estrofe do
39
hino a sua bandeira a seguir (letra e música do seu fundador) e na última estrofe do hino do
CECREMAM. (anexo D, pág. 123)
Ó Bandeira cecremana,
Nos seja o teu desfraldar,
Nestas terras de Sant’Ana,
Um convite ao bom lutar.
O uso de “nós” presente em hinos nacionais e discursos oficiais foi ponto de reflexão em
Anderson (2008), por estimular o sentimento de pertença e fazer com que esse sentimento seja
superior à individualidade. O mesmo foi perceptível no hino do CECREMAM, por agregar
força e importância a cada participante do grupo e munícipe, personalizando, ao mesmo
tempo que agrega a todos. Assim, fala com cada um e com todos, ao transformar o eu em nós
e eliminar o eles. Lemas e hinos enalteceram suas entidades e seus propósitos para a pátria,
intermediados pelas ações que desenvolvem.
As ações do Integralismo, por sua vez, envolviam a educação e o escotismo como sendo duas
dentre suas inúmeras estratégias de divulgação e aliciamento adotadas. A influência da AIB
baseava-se em ações doutrinárias destinadas principalmente a crianças e jovens, como destaca
Ferreira (2009), por meio de palestras e visitas dos militantes integralistas em escolas
integralistas, mas também em escolas públicas. Mulheres responsáveis pelo trabalho com
crianças e jovens estavam sob a orientação do chamado Departamento Pliniano. Nele, dentre
outras divisões, havia a Divisão de Escotismo, porém com atuação masculina.
À parte as entrevistadas, em nosso estudo apareceu outra mulher. Professora primária e
responsável pelo primeiro grupo de escotismo em Feira de Santana – professora Edna
Laureana de Oliveira. Ela foi professora “primária” do fundador do Centro Cultural, deu
nome à biblioteca que funcionou no início de sua fundação e foi pessoa presente no início do
CECREMAM, quando ainda vivia. Não se sabe se ela fazia parte da Divisão de Escotismo do
Departamento dos Plinianos da AIB (subdivisão que agregava grupos de juventude). As
entrevistadas não souberam sobre a vida pessoal da professora Edna, que também não deixou
filhos nem netos, tampouco há biografias a seu respeito.
40
Além da inserção do Integralismo na educação formal, ou seja, em escolas, é sabido também
sobre sua inserção em correntes da Igreja, sendo que a TFP foi mais enfática nessa vertente,
visto que Plínio Correia de Oliveira da TFP foi claro ao tratar de sua relação com a Igreja
Católica, expondo seu vínculo, pertencimento e dever para com ela. Escreveu em outro
artigo:
Assim, declaro com imenso contentamento: qualquer coisa que possa haver de bom
em mim deriva do fato de ser membro da Igreja Católica. A fonte verdadeira e viva de
todo o bem é a Fé católica apostólica romana; é a submissão ao Santo Padre, Vigário
de Jesus Cristo na Terra. (OLIVEIRA,[196-?] década provável, Não paginado) 12
Ficou clara a origem elitizada da organização: o caráter contra o comunismo e o socialismo
enquanto grandes ameaças à família e à tradição, bem como o combate à reforma agrária,
considerada como “confisco” de bens, maculando assim o direito de propriedade.
Do mesmo modo e com mesmo empenho, a TFP e inúmeros artigos de Plínio Correia de
Oliveira declararam Maria − Mãe de Jesus − como alvo de sua veneração principal. A
veneração mariana talvez seja o elo usado entre suas ideologias e a população em geral. É
possível haver pessoas que conheçam essa organização como divulgadora e devota de Maria e
desconheça seus pensamentos políticos.
Isso indica que, pela religiosidade, valores e
ideologias foram transmitidos, nem sempre de forma clara a todos, ou seja, subliminarmente,
especialmente para quem encontrava no catolicismo sua sustenção de vida por meio da
supremacia divina e institucional.
No que diz respeito à Veneração Mariana, o Centro Cultural também a praticava. Conforme
dita a
primeira estrofe da Canção dos Cecremanos, também escrita por seu fundador,
aproveitando a música de uma canção popular não informada (anexo D, pág. 123):
Os cecremanos, os cecremanos
Na sua marcha para a perfeição,
12
Segundo site oficial da TFP - http://www.tfp.org.br/ ou http://www.tfp.org.br/materia.php?idmateria=53.
(último acesso em 22/02/2011), esse artigo foi publicado na Revista Dr. Plínio n° 100, mas não são informados
mês e ano da revista nem página.
41
Encontram a cada hora
E buscam todo dia,
Amor, Paz e Ventura
No Coração de Maria.
Nessa letra houve o uso da terceira pessoa, no entanto sem causar impessoalidade, dada sua
identificação: cecremanos. “Eles” poderia causar estranheza e o destaque a diferenças, mas
nesse caso houve personalização, e o hino conclama aos cecremanos para seguir em busca da
perfeição pela via da interseção do Coração de Maria - invocação de Nossa Senhora
promovida a padroeira do grupo.
O Centro adotou o Coração de Maria como Patrona e promoveu ações de divulgação das
invocações de Maria como exposições das mais diversas iconografias marianas, a exemplo da
exposição citada por Srª. Nance e dentre o que estava arquivado em seus pertences: materiais
diversos do Curso Conheça Melhor a Mãe de Jesus, 1987, encerrado com exposição com o
mesmo nome na prefeitura municipal de Feira de Santana, a pedido dela; relato sobre a visita
da imagem peregrina Maria de Fátima, em Feira de Santana, e mostra da programação feita
pelo CECREMAM para aquela ocasião, além de um livreto produzido pelo CECREMAM de
forma independente, intitulado Flores-Trovas a Maria.
Posteriormente, há cerca de três/quatro anos antes das entrevistas, teve início uma exposição
mariana permanente localizada na antiga casa da Sra. Hilda, onde havia reuniões do Centro
Cultural. Foi transformada num Mini Museu Mariano com mais de 100 imagens de Maria
Santíssima em diversas invocações pertencentes ao acervo particular do seu fundador. Eram
esculturas usadas periodicamente em exposições volantes em algumas cidades da Bahia, em
locais distintos de Feira de Santana como Quijingue e em Tobias Barreto no estado de
Sergipe.
Toda ligação entre as três entidades com o catolicismo - e vale ressaltar que o CECREMAM
registrou em uma de suas atas de 1966 a preferência por novos sócios católicos “para evitar
choques” -, especialmente entre o CECREMAM e a TFP, dado o exemplo da veneração a
Maria, como Mãe e esposa dedicada, atendem ao pensamento da mulher como espécie de
nova Maria. Com isso, percebe-se a tentativa de limitar a atuação da mulher na sociedade para
os papéis de filha, mãe, esposa e, às vezes, ampliando para professora, assistente social e
42
religiosa, como extensão das funções anteriores, num leque de expectativas que atinge a um
certo ideal masculino.
As três foram marcadas com ideais nacionalistas e discursos moralizantes, apoiadoras ou
apoiadas pela Igreja Católica, com participação feminina indireta ou direta, com ações
educativas ou catequéticas, vendo na mulher a corresponsabilidade pela formação familiar,
tendo como liderança central a figura de um homem. A figura central masculina nas três
instituições leva a uma abordagem sobre a mulher através de visão idealizada da mulher
“santa”, vinculando-a à perspectiva religiosa católica.
Afora os hinos comentados anteriormente e os exemplos de programações citadas acima pela
Srª. Nance, as ações do CECREMAM estiveram evidenciadas também em outros produtos,
como: a) cartazes e afins também sobre programações religiosas no/do Templo-Escola Santa
Rita de Cássia – ainda que não apareça o nome do CECREMAM, o grupo responsável e/ou
participante, por diversas vezes, é o mesmo em ambos; b) atas, registro de sócios, lista de
atividades; c) canecas, flâmulas, folhetos, souvenirs (camisas, chaveiros, lenços, marcadores
de página); d) livretos e livros do CECREMAM; e) monumentos, esculturas, entre outros.
Dentre esses, alguns serão descritos em mais detalhes adiante.
Constatou-se que o CECREMAM propiciou aos Eucaliptos produtos convencionais de leitura
- livros e livretos produzidos e lançados, demais materiais impressos, a exemplo de folhetos e
cartazes - encenações de peças, recitais e jograis, exposições. Também fez uso de camisas,
canecas, flâmulas, cartazes, desenhos, lenços, chaveiros, fotos e monumentos. Foram criados
pelo CECREMAM, a partir dele ou de outrem, para uso de seus membros, para venda ou
distribuição na comunidade e que compunham, todos, objetos de leitura, de divulgação de
suas ideias e programações. Textos carregados de imagens, e imagens que falaram através da
sua aparente mudez. Imagens, como expressa Burke (2004), são “testemunhas mudas” e isso
poderia dificultar a transposição desse testemunho em palavras. No entanto, a dificuldade em
traduzir imagem em palavra foi facilitada pelo CECREMAM, ao aliar ambas expressões em
parceria, ocasionando também o direcionamento da leitura. Foram, assim, colocadas palavras
em materialidades ágrafas, formando outros suportes de leitura.
Aqui, elas, palavras e imagens, foram mecanismos básicos disponibilizados para marcarem
alguma data ou evento geralmente idealizado para a comunidade dos Eucaliptos e adjacências.
43
Testemunham e representam a forma de pensar do grupo, por isso produzidas a favor das
premissas do CECREMAM, quer dizer, permeadas de caráter religioso e cívico-histórico. Tal
abordagem moralizante visou a normatizar comportamentos e rotinas. Em atas do início do
CECREMAM, verificou-se o objetivo formador que possuía, fazendo eco com a família e a
escola da época. E isso perpassou também a formação do leitor, por meio dos contatos de
leitura que foram oferecidos como suportes materiais e temáticos à constituição cidadã na
qual o CECREMAM acreditava, conforme as descrições a seguir.
Serão descrições ao longo de algumas páginas, porém necessárias para que o leitor visualize
melhor esses outros suportes de leitura. A sequência foi composta por flâmulas, camisas ao
longo de décadas, canecas, lencinhos, folhetos, livros e monumentos erigidos. Todos
intercalados com informações dos eventos dos quais esses produtos foram representativos.
Por vezes o mesmo evento produziu alguns produtos e por isso alguns produtos apresentam-se
em consonância com outros durante as descrições. Os temas, títulos, iconografias, frases
foram comprobatórios do viés cívico-religioso do Centro Cultural. (apêndice K, pág. 140)
O CECREMAM registrou com dois modelos de flâmulas a comemoração do Primeiro
Centenário de Morte de José de Alencar, em 1977, e com um modelo a comemoração pelos
20 anos do CECREMAM, em 1986, descritas a seguir, cujas imagens foram compostas, no
primeiro exemplo, pelos brasões de Feira de Santana e do CECREMAM e foto de José de
Alencar. (apêndice K 1, pág. 140)
A confecção de camisas (apêndice K 2, pág. 141) até a década de 1970 foi um dos recursos
muito utilizados pelo CECREMAM como divulgação e lembrança de suas atividades. Dentre
elas, foram encontradas camisas referentes à exclusiva divulgação do Centro Cultural, com
seu brasão ao centro e seu nome em torno, e, nas costas, a frase “Salve o CECREMAM”, sem
referência a datas, além de chaveiro com seu brasão. Camisas em referência a concentração
sociorreligiosa pelos 60 anos de aparição de Nossa Senhora em Fátima, em 13/10/1977, cuja
imagem principal é a iconografia da referida invocação, também gerou um chaveiro e o
Livrete de Nossa Senhora, cuja capa foi a mesma fotografia que inspirou a ilustração da
camisa e, em seu interior, foram postas mensagens escritas pelo Cônsul de Portugal, Bispo de
Feira, fundador do CECREMAM, além do resumo histórico sobre a invocação, do Rosário,
44
com todos os seus mistérios, dos hinos religiosos, principalmente em honra a Maria, do Hino
a Feira de Santana, da paraliturgia e da coroação de Maria.
Na década de 1980, foram confeccionadas camisas referentes ao grupo de jovens Santa Rita
de Cássia, também com o nome do CECREMAM inscrito. Estas tinham em destaque uma
cruz central com um livro aberto, ambos envolvidos por inúmeras estrelas douradas e,
fechando esse campo, uma fita branca superior com o nome do grupo e outra inferior verde e
amarela, com as palavras Amar, Servir, Crescer. No entanto, embora as fitas fechassem um
espaço, há linhas entre o desenho central que, sob as fitas, as extrapolam, lembrando raios de
luz. Em 1983, referente à Primeira Semana de Cultura em Nova Redenção, tendo na ocasião
ocorrido a fundação de outro Centro Cultural pelo mesmo professor fundador do
CECREMAM, chamado Centro de Ações Cívicas e Culturais de Redenção (CACICRE), e por
isso a imagem presente nessa camisa foi a do símbolo dessa nova entidade apresentada por
uma bandeira dividida em verde e amarelo e centralizada por um livro envolto em oito
estrelas e aberto ao meio, lendo-se em uma das páginas Deus super omnia (Deus acima de
tudo) e na outra página a presença de uma pequena palma. Em 1987, foi feita uma camisa
comemorativa ao I Encontro de Poetas, que também gerou livreto e lencinho, todos com a
mesma ilustração do livreto Lembrança do Encontro de Poetas, em cuja capa aparecem
jovens segurando de forma elevada uma lira, representando a arte poética, envolta por uma
pomba, uma borboleta e com uma estrela ao alto, tendo sido um livreto datilografado e
mimeografado, com apresentação escrita por Benjamim Batista, da Academia Feirense de
Letras, composto por pensamentos vários acerca do poeta e da poesia.
Na década de 1990, foram confeccionadas camisas comemorativas do Bicentenário de
Nascimento de Maria Quitéria, em 1992. Nas comemorações a Maria Quitéria, ainda houve
canecas em que havia uma foto dela e, no lado oposto, foi escrito: “Há 200 anos morreu um
Herói: / JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER / O Tiradentes / Nasceu uma Heroína: /
Maria Quitéria de Jesus / O Soldado Medeiros”. Além disso, foram feitos marcadores de
páginas em verde e amarelo, não por acaso com foto dela, um livreto comemorativo com o
nome Mimo literário à Maria Quitéria, que fora mimeografado e grampeado, contendo
registros de hinos e poemas em sua homenagem, escritos por autores contemporâneos de
estados diferentes e alguns dados bibliográficos, duas esculturas de Maria Quitéria, réplicas
do monumento a ela dedicado em Salvador, no Largo da Soledade, esculpidas em barro por
45
Sra. Maria, escultora conhecida por D. Sinhá, nascida em Ichu e residente em Feira de
Santana. (apêndice K 3, pág. 141)
Foram confeccionadas camisas, ainda, nos anos de 2002 e 2008, referentes, respectivamente
ao I Curso de Cidadania e Civismo, ocorrido em Itaparica, em 2002, com apoio da Biblioteca
local Juracy Magalhães Junior, cuja imagem principal é uma fita verde e amarela, havendo
nas pontas placas com o nome Bahia e Itaparica envolvem-se em torno do nome Brasil ao
centro. Vale ressaltar que esse mesmo curso também foi oferecido em Boa Hora – distrito de
Ribeira do Amparo, Feira de Santana - mais de uma vez -, Candeias, entre outros, no período
entre 1985/86 e 2002, com distribuição de materiais diversos pelo Centro Cultural aos
cursistas, configurando mais fontes de leitura. Foram confeccionadas camisas em referência
ao Curso comemorativo dos 30 anos de aniversário do Templo-Escola Santa Rita de Cássia,
em 2008, chamado O Coração Divino no Coração Humano, cuja imagem é o coração de
Jesus, que aparece envolto em círculo por 12 corações, tendo ao fundo uma esfera, e cada
coração indica uma estação da via-sacra na extremidade do círculo maior da circunferência.
As canecas (apêndice K 4, pág. 142) encontradas no acervo do CECREMAM foram de
tamanhos e formatos um pouco diferentes. Além das canecas descritas anteriormente,
associadas também a camisas como recurso de divulgação. Foram encomendadas outras
comemorativas dos seus 25 e 31 anos, com imagens de seu brasão e com a mesma ilustração
de Maria e a bandeira do CECREMAM, utilizada na flâmula comemorativa dos seus 20 anos
de aniversário, em adesivos colantes referentes aos seus 25 anos, marcador de página e
folheto com a programação e com o convite para as solenidades comemorativas das Bodas de
Prata do CECREMAM, em 1991. Ou seja, a imagem de Maria sob a iconografia da invocação
do Coração de Maria – Padroeira do CECREMAM, disposta num plano fotográfico superior à
Bandeira do Centro Cultural, acompanhado da frase “20 anos de idealismo, abnegação, fé e
serviço”. Tais conceitos de fé são representados pela personificação da proteção materna e
divinal de Maria, Mãe de Jesus, em relação à bandeira do CECREMAM.
Também fizeram canecas referentes ao IV Centenário de Morte de São Pascoal Bailão, 1992 e
ao Terceiro Encontro de Poetas, em 1997. As primeiras com ilustração de São Pascoal e, nas
canecas referentes a este último evento, foi inserido o brasão do CECREMAM de um lado e a
foto de Castro Alves com embarcações ao fundo no outro lado da caneca, por ter sido na
mesma ocasião do Sesquicentenário de Nascimento dele. Foi inscrito na caneca de São
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Pascoal: “São Pascoal, o calendário / Marca o IV Centenário/ Do teu voo à Eterna Luz /
Glória a Deus, felizes damos / Pelo evento te saudamos / Santo servo de Jesus”. Os
centenários sempre foram comemorados durante um ano inteiro, mas os Encontros de Poetas
foram em noites de 14 de março e sempre com Castro Alves figurando como nome principal,
por ocorrer no dia da poesia, que também é o seu dia. No entanto, ele dividiu esse destaque,
ora ao lado de Cora Coralina, ora ao lado da escritora baiana Amélia Rodrigues.
No I Encontro de Poetas, houve lencinho como lembrança, que em outra ocasião foi o recurso
usado como lembrança do VI Centenário de Nascimento de Santa Rita de Cássia, em 1981,
vinculando-se também ao livro intitulado Santa Rita na Lira dos Poetas, tendo na capa, assim
como em seu lencinho, a imagem de uma palma com três ilustrações que remetem a coroas ao
longo de sua haste e envolta em uma fita, com a inscrição Omnia Vincit Amor, ou seja, o amor
tudo vence (apêndice K 5, pág. 142). O livro foi composto por uma foto da imagem dela de
roca em tamanho natural, que se encontra na Capela de Santa Rita e fora esculpida pelo
escultor feirense Marcos Antônio Carneiro de Oliveira a pedido do CECREMAM, pela
ocasião da referida comemoração. O prefácio desse livro foi escrito pelo Professor Ildes
Ferreira de Oliveira e uma coletânea poética em homenagem à santa, entre hinos, cantigas e
poemas.
Outros impressos, como cartazes, folhetos, versos, santinhos e programação cultural de um
determinado período ou tema também foram meios usados pelo CECREMAM. Por exemplo,
foram feitos o Folheto lembrança da Abertura da campanha o Terço contra a violência, em
1984, e o folheto referente à Confraternização Luso-Brasileira, em 1994, composto por
poemas e hinos nacionais do Brasil e de Portugal, hino a Feira de Santana, uma trova e o
poema em homenagem a Portugal. A Confraternização Luso-Brasileira foi antecedida pela I
Semana de Cultura Portuguesa, em 1982, que, por sua vez, gerou também o livreto
comemorativo de mesmo nome, composto por poemas, hinos, programação e mensagens e
agradecimentos.
No entanto, além dos livros cecremanos anteriormente citados e dos que fizeram parte do
acervo da Biblioteca Professora Edna Laureana de Oliveira no início do CECREMAM, houve
também acesso, independente do Centro Cultural, a livros escritos por seu fundador e a outros
exemplos produzidos pelo Centro, sempre como produção independente e, em alguns
exemplos, quase artesanais. (apêndice L, pág. 143)
47
Dessa maneira, publicou-se um livreto comemorativo do XI aniversário, em 1977, com hinos
do CECREMAM e outros religiosos, compondo o formato de uma Missa ou Paraliturgia e do
XIV aniversário do CECREMAM, em 1980. Na ocasião, a Senhora Iristelma era 2ª secretária
do Centro Cultural, conforme informação no referido livreto, que foi composto por todos os
hinos do CECREMAM, com seus 10 mandamentos, fotos dos Padroeiros, além de foto e
explicação da sua Bandeira.
Outra publicação foi um livro de passatempo religioso, intitulado Conselhos de Santa Rita,
que consistia basicamente em 100 conselhos de Santa Rita, que podiam ser “pescados”, ou
seja, lidos de várias maneiras pelo leitor. Foi um livro publicado em duas edições, em 1985 e
em 2001, acompanhado de marcador de página. Tais publicações, cujas capas foram iguais
nas duas edições, eram compostas pela palma descrita anteriormente e acrescidos do brasão
do CECREMAM em sua base. No topo da palma havia um desenho da fachada da capela de
Santa Rita, com sua escultura em frente à porta. Na primeira edição foi fruto da Campanha
Vale a Pena Divulgar, também promovida pelo Centro Cultural.
Foram publicados ainda Deus e você em encontro ecológico, em 1999, e Mini coletânea de
hinos e canções cívicas para as comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil,
2000, o primeiro com programação do evento de mesmo nome realizado em Mataripe e com
hinos e canções populares de exaltação à natureza. No segundo, há na capa o busto de Pedro
Álvares Cabral ao alto, como grande observador, e no plano inferior da imagem dois índios
sentados atrás de um padre que está prostrado em frente a um altar católico, acompanhado por
duas outras pessoas não índias e, entre eles, outro europeu com espada em punho com a face
em direção ao céu. A espada, embora apontada para o chão, encontra-se em direção ao índios
e, no interior desse livro, além do que o título sugere especificamente, também há hinos
cívicos de cunho religioso, canções populares de caráter patriótico, como Aquarela do Brasil,
Onde o céu é mais azul e Meu país. Por fim, foram publicados Flores – trovas a Maria e
Pórtico Poético, que foram citados e denominados por narradoras.
Também houve três monumentos erigidos pelo CECREMAM. O primeiro em homenagem a
Feira de Santana, como o marco comemorativo do I Centenário da cidade, em 1973. O
segundo, ao Sr. Leôncio Ramos Gomes, esculpido por Jefferson R. Albuquerque, em 1988,
quando seria seu Centenário de Nascimento, que com sua família iniciou o que viria a ser o
48
bairro dos Eucaliptos onde se situa o CECREMAM. O terceiro em homenagem a seu titular,
Monsenhor Amílcar Marques, pelos 25 anos de seu falecimento, em 1990, que por sua vez
gerou uma excursão a Cachoeira – cidade em que esse Monsenhor nasceu – e a Salvador,
cidade em que fora sepultado e onde há outro Centro Cultural com seu nome no bairro do Rio
Vermelho. Também resultou num livreto para Celebração Eucarística em sua homenagem.
(apêndice M, pág. 144)
Igualmente, foi erigido um suporte para a colocação de três mastros para o hasteamento de
bandeiras. O hábito do hasteamento fez-se constantemente presente com ou sem solenidade,
sempre com o cuidado para arreá-las antes de escurecer ou mantê-las devidamente
iluminadas.
Tais construções foram marcos para mais testemunhos, por mais tempo, em contrapartida ao
caráter menos abrangente dos outros exemplos, uma vez que camisas rasgam, canecas
quebram e, ainda que conservados, estão mais restritos a um espaço, como sala, gaveta,
guarda-roupa. Ainda que, ao serem usadas por alguém, as camisas levem consigo a
divulgação de uma atividade e uma ideia por onde passarem, permaneceria uma
transitoriedade de ação, ou melhor, de testemunhos de outrem. Sob essa perspectiva, também
poderiam ser citadas a casa da Sra. Hilda e o Templo-Escola Santa Rita de Cássia.
As imagens e iconografias descritas, referentes a canecas, flâmulas, camisas, livros, museus,
monumentos, independentemente de sua associação com os textos que os acompanharam,
porém ao mesmo tempo em consonância com estes, configuraram mais uma forma usada pelo
CECREMAM para abordar e divulgar civismo e religiosidade. Isto possibilitou observar sua
relação de defesa a essas abordagens, numa postura doutrinária, como meio de ampliar sua
propagação. Assim, a divulgação de suas marcas tornou-se um marco ao menos para sua
historicidade.
Para definir mais e melhor o entendimento do perfil cecremano, a descrição de ao menos
alguns de seus produtos foi necessária para mostrar encaminhamentos adotados do que
inferiram seus hinos. Foram materialidades que configuravam e expressavam intervenções do
CECREMAM na vida social e cultural de sua comunidade, ao mesmo tempo em que
expressavam formas de preservação para conservação da entidade. Todo esse arsenal, por
49
conseguinte, produzia imagem e discurso de si. Também funcionava como estratégia de
visibilidade e sobrevivência, confluentes no discurso cívico-religioso, respaldando e
demonstrando, ainda que frágil e superficial, um elo na interseção entre o CECREMAM, a
AIB e a TFP.
Vale ressaltar que o nome do CECREMAM traz em si uma matriz religiosa católica muito
presente em seus símbolos, ações e em locais de encontro, a exemplo do Templo-Escola Santa
Rita de Cássia, a partir da inauguração, em 1978. Nome, símbolos, ações, local produções
textuais e imagéticas impõem a sacralização de comportamento, escolhas, condutas e, por
conseguinte, leituras.
O tradicionalismo católico da TFP converge com o catolicismo pregado no CECREMAM e é
de fácil visibilidade a adesão ao nacionalismo em ambos. Não podemos esquecer que o Brasil
passou por um processo de tentativa de construção de uma identidade nacional única, com
base em um ideário para o qual a AIB muito contribuiu. Tais projetos possivelmente
respingaram sobre o alicerce que envolveu o CECREMAM, por terem feito eco a ideias
nacionalistas e ao cristianismo católico, fruto de um processo sutil onde a ideologia opera.
Subjacente a tais legados, as entrevistadas evidenciaram a religiosidade de matriz católica sem
em nenhum momento citar vertentes políticas, partidárias ou não, apontando para maior
influência católica, como comenta a narradora Mercês: o CECREMAM “é muito ligado em
Igreja e aí, no CECREMAM, as pessoas quase não veem a diferença”. Por conseguinte, é
possível inferir que não houve envolvimento político denominado, porém houve religião
denominada. Isso em si já deemonstra vertente ideológica adotada.
O CECREMAM (fundado em 1966) constituiu agremiação nova, todavia com valores e
símbolos tradicionais, participantes de um ideário hegemônico, ou pensado como
hegemônico. Consequentemente, a entidade assumiu a postura de legitimar o que estava
legitimado, preservando-o como modelo. Em atas do período inicial da sua fundação,
registraram-se o valor da língua normativa; do conhecimento histórico-literário por meio de
personalidades como Tiradentes e Maria Quitéria e autores “canônicos”, como, por exemplo,
Rui Barbosa e José de Alencar, Castro Alves; da valorização de símbolos, como a bandeira do
Brasil, hinos Nacional, da Bandeira e ao Dois de Julho e a monumentos; além da biblioteca,
na época em formação, e da ideia de um pequeno museu.
50
Eleição e “construção” de personalidades literárias e históricas, valorização de símbolos,
importância dada a língua vernácula foram algumas das ocorrências no processo em busca do
ideário e construção da nacionalidade.
Recortes do passado foram selecionados,
ressignificados e enaltecidos, ainda que seja um passado recente. Anderson (2008) entende as
nações como “limitadas”, “soberanas”, “imaginadas” e como “comunidades”. Sendo assim,
prescreve-se a impessoalidade em nome do coletivo paradoxalmente, usando-se a
pessoalidade do “nós” mascarando diferenças, desigualdades e explorações existentes e
tecendo igualdades de toda ordem. Apesar ou por causa de: a) dos limites impostos e
definindos por fronteiras; b) de sua concepção, que surgiu quando o Iluminismo e a
Revolução Francesa anulavam a dinastia e, por isso, garantiam o ideal de liberdade quando
do Estado Soberano e c) da impossibilidade de todos os seus membros se conhecerem e, por
isso, a “imaginação” do que há em comum.
O nacionalismo, enquanto tema e reflexão no Brasil, foi evidenciado no século XIX, portanto
antecede e ultrapassa a AIB e a TFP, e entra em voga no ideário republicano que, entre outros
feitos, “construiu” heróis nacionais que se fizeram presentes em comemorações cívicas e
literárias promovidas pelo CECREMAM. A nação, enquanto “comunidade imaginada”
(ANDERSON, 2008), e o “nacionalismo”, como mote que a sustentava, além de antecedê-los,
são “maiores” do que a AIB, a TFP e o CECREMAM, no sentido de não fazerem parte apenas
deles, mas de inúmeros outros discursos. Um exemplo claro é o do Brasil republicano e da
ditadura, entre as décadas de 1960 e 1980.
Embora não houvesse ou fossem encontrados, por parte do CECREMAM, documentos
atacando ou apoiando explicitamente alguma vertente partidária ou corrente ideológica, como
fez a TFP, é sabido que não há instituições neutras nem discurso sem ideologia. Sua fundação
foi na plena ditadura, com a prática de atividades e a divulgação de um discurso cívico e
religioso, mantendo ensinamentos e comportamentos legitimados, de algum modo, o que
vinculava a entidade aos ideais políticos da época. Apesar disso internamente sempre houve,
conforme registros em atas, votação e palavra franqueada a todosque estivessem presentes em
suas reuniões.
Talvez não fossem oriundos de um processo ditatorial, mas, sendo resgastados, valorizaram
pensamentos nacionalistas vinculados à Pátria e à religião, como vinha ocorrrendo
gradativamente. A didatura resgatou tal pensamento exaustivamente, valorizando-o e
51
popularizando-o em supremacia a si mesma na tentativa de minar pensamentos opostos e
manter a “ordem nacional”. Nessa perspectiva, não seria difícil o convencimento em torno do
nacionalismo, do civismo, do valor hierárquico, do amor à Pátria, porque não eram expressões
inaugurais, pois configuravam conceitos a princípio bem aceitos no imaginário coletivo. No
entanto, nessa perspectiva, houve oficialmente um “único discurso de autoridade”, uma vez
que a imprensa e a arte estavam censuradas e, paralelamente, houve também grande apelo
emocional com o intuito de sensibilizar a população sobre seus objetivos, a exemplo do
famoso slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
Tais discursos estão para além dessas instituições, como fruto de um processo de construção
contínuo, geralmente visando à edificação e à sustentação da ideia de coesão, unidade,
perenidade, linearidade histórica, elegendo heróis e fatos que auxiliem ou não contradigam a
realização desse ideário. Esse ideário discursivo nacionalista presente na ditadura fez anunciar
em períodos anteriores também interferindo no perfil leitor. Um exemplo de análise nesse
viés vem de Araújo (1999), que, ao tratar de tendências leitoras do Brasil do século XIX,
associa às transformações da época a “um gosto nascente pela natureza da nacionalidade e [...]
de uma mais ampla vontade de saber, de ler, de informar-se” (p.150). No entanto, o leitor
continuava a ser homem de classe média e, entre outras características, “preso” à sua devoção
religiosa. Percebe-se que no Brasil houve um estreitamento longo e afinado entre
religiosidade cristã católica e ideias nacionalistas vistas sob um mesmo prisma. Nessa
conjuntura não surpreende que a oferta de leitura versam também ou principalmente sobre tais
temas. No entanto, no caso dos cecremanos ampliou-se o gênero e a classe social do leitor.
Logo o civismo e a religiosidade de cunho católico, vistos como padrões, permeavam valores
relacionados ao modelo considerado padrão, diante da imagem nacional que se pretendia
construir do Brasil. O povo foi chamado por décadas, atravessando séculos para essa
construção de ação, e muitos acreditaram nesse ideário. O CECREMAM pode ser
reminiscência histórica de um romantismo ideológico dessa natureza, como pertencente e
descendente de gerações em que tais crenças foram construídas, firmadas e legitimadas.
Participar de um tempo e espaço, em si, faz a uma pessoa, grupo, enfim, procurar maneiras de
sobreviver socialmente, inserindo em suas práticas pessoais e atuações coletivas aquilo que
seria pertinente ao momento e ao lugar que lhes sejam contemporâneos. Seria, assim, comum
o desejo de encontrar meios de usufruir e participar de valores e bens simbólicos da cultura
hegemônica.
52
Tudo isso deu a conhecer uma tradição e um legado de valor incontestável e imutável, ou
assim considerados, para seus membros, demonstrando o valor dado à representação cultural
da elite de uma época, que talvez adote mais a ideia de permanência e conservação também
presentes quando se trata da leitura, ou seja, se e quando há discriminação determinante de
como e o que ler, enfatiza-se a leitura como algo estereotipado e sagrado.
A cultura, forma de comunicação do indivíduo e do grupo com o universo, é uma
herança, mas também um reaprendizado das relações profundas entre o homem e seu
meio, um resultado obtido por intermédio do próprio processo de viver. (SANTOS,
Milton, 2007, p.81)
Assim, a interação do grupo, suas relações interpessoais, sua endogenia marcada nas relações
familiares, de vizinhança e comunitária, estendendo esse “meio” aos pertencimentos religioso
e nacional reafirmados em seus hinos e símbolos, sempre a citar ou indicar Eucaliptos, Feira
de Santana, Pátria, Deus, Nossa Senhora, tudo isso é fruto do “reaprendizado” e da construção
da nação e da inserção religiosa, tentando, entender seu lugar, implicados no contato com o
outro e, por conseguinte, em subjetividade e produções culturais.
Os produtos, tais como canecas, flâmulas, cartazes, brasão, bandeira, hinos e livros, além das
programações e objetivos do CECREMAM, simbolizaram seu entorno ou o que dele foi
eleito, tentando garantir a continuidade do seu legado histórico-cultural já aprendido, “por
intermédio do próprio processo de viver”, e ainda idealizado, por isso tão fortes o catolicismo
e o civismo em torno da pátria brasileira. O CECREMAM existiu reestruturado através dessas
raízes nacionais que possuiu.
53
CAPÍTULO II
LEITURAS NAS TRILHAS DE PRÁTICAS INSTITUCIONAIS: APREENDER E
ACOMODAR
Neste capítulo, as mulheres relatam fatos, lembranças do início do processo de formação
leitora e como fora essa aprendizagem apreendida e acomodada.13 A formação leitora foi
apreendida perceptivelmente nas práticas de leitura que demonstraram conservações, leituras
e práticas legitimadas por esse processo inicial. Sob esse panorama, há adoção das expressões
apreensão e acomodação inclusos no título, refletindo e reproduzindo a família, escola e
CECREMAM enquanto organizações que zelavam, a partir de práticas pedagogizantes, pela
manutenção de modos e formas leitoras sacralizadas, bem como de condutas evidenciadas
nessas instituições e entidade.
Todas, ao narrarem suas vidas e associarem seu contato com a leitura na infância e na escola,
com pessoas da família ou amigos e vizinhos, ou ainda ao CECREMAM, reportaram-se ao
escrito, mas foi perceptível também a presença da oralidade e de recursos imagéticos. Afinal,
há leitura/leitores em todas as trilhas seguidas. Não seria diferente com as narradoras/leitoras
Nance, Terezinha, Vanda, Maria da Purificação, Judite, Maria Mercês e Iristelma.
Ter, nesse estudo, a leitura na perspectiva do código escrito, e perceber tão amplamente
referências a livros, é óbvio pelo vínculo estabelecido entre o livro e a leitura. Por outro lado,
indica que nem sempre a possibilidade da leitura do não escrito é lembrada ou considerada.
Vale ressaltar a legitimidade social que esses suporte e código possuem, tornando livro e
escrita aspirações, pelo fato de mediarem a inserção social, de forma tão significativa, que
ocasionam a não leitura em público, se em voz alta, por vergonha, igualmente a atitude de
decorar a lição para não admitir não saber ler, além de considerar pessoas inteligentes aquelas
que leem bastante ou demonstram fazê-lo.
13
Apreender é posto aqui como assimilar, absorver, como aprendizagem internalizada, tornando-se algo tão
próprio e pessoal que tem-se a sensação de estar na veia e, por sua vez, acomodar é posto na qualidade de
compor, dispor comodamente como as camadas sedimentadas de uma rocha.
54
Nessa ótica, pensar em leitura sempre as remeteu ao livro e, em não sendo propriamente
livro, foram exemplificados por elas, principalmente, folhetos, revistas, cadernos.
Isso
demonstra a notoriedade do peso do livro e da escrita, bem como da materialidade do papel
como recurso evidenciado nas entrevistas. Foi importante, porque houve escrita e leitura de
atas, uma pequena biblioteca formada e práticas diversas que envolveram a leitura do escrito,
e sobretudo, porque nas narrativas o livro foi, como previsto, evidenciado. No entanto, isso
não significa considerar a supremacia da escrita em detrimento da oralidade, especialmente
porque aquilo que pertence à tradição oral, bem como “textos imagéticos”, quer dizer,
esculturas, pinturas, gravuras, enfim textos suscitados por imagens, permeiaram a vida das
entrevistadas.
De oito horas em diante eu já tinha feito o trabalho de meu pai e aí eu ficava com os
meninos pra estudar até mais ou menos umas onze horas. Que os horários de lá [São
João – distrito de Feira de Santana] era pelo sol, a gente olhava o sol. (Judite)
Lê-se o mundo por meio das observações feitas sobre ele, nele e a partir dele, no entanto é
fato que o livro é tido como melhor forma de sistematização do conhecimento humano ou a
forma mais prestigiada de registro. Entretanto, há expressões populares reconhecidas como
patrimônios imateriais da humanidade. Ao mesmo tempo, há preconceito em torno da
oralidade, ainda marginal. A oralidade também compõe “registro sistemático” eficiente de
comunicação e socialização, apesar de circunstancialmente ser marginalizada.
Por sua vez, a leitura também existe antes da aprendizagem do código escrito, concomitante e
posterior a ela, numa troca constante entre a leitura do mundo e a leitura escrita. É um
processo cujo olhar insere-se numa construção social, de modo que nossas leituras sempre são
direcionadas a partir dessa construção, independente de serem leituras livrescas ou não. Parte
da aprendizagem humana localiza-se na observação e tem na oralidade uma das formas de
expressão do que é aprendido. Leem-se os cenários, as pessoas, as reações do comportamento
humano, a natureza, as imagens, os sons, o que é dito por si e por outrem numa reciprocidade
constante, sobretudo enriquecida pelas e nas interações e percepções interpessoais.
Sras. Vanda e Mercês destacaram que ouviam histórias. Elas e a Srª. Nance também deram
destaque a televisão e Srª. Mercês ao rádio, além da televisão. Srª. Judite contou que foi
rezadeira desde menina, participando e “puxando-as” em novenas de residências em sua
55
comunidade de origem. Srª. Iristelma lia figuras na biblioteca do Centro Cultural antes de
aprender a ler o código escrito.
Os textos não existem em si mesmos, fora das materialidades (quaisquer que sejam)
que deles são os suportes e os veículos. Contra essa “abstração”, é preciso lembrar que
as formas que fazem com que os textos sejam lidos, ouvidos ou vistos participam
também da construção de sua significação. O mesmo texto, fixado pela letra, não é o
“mesmo” se mudam os dispositivos de sua inscrição ou de sua comunicação.
(CHARTIER, 1997, p. 67)
Em todos esses exemplos há influência de imagens sejam esculturas, gravuras, pinturas sejam
fotos, fontes televisivas e radiodifusoras. Nesses casos específicos, a oralidade e as ilustrações
de livros surgiram como facilitadoras e suportes de suas formações, também recurso de suas
inserções na leitura. Acrescenta-se que todas, sendo de famílias católicas praticantes,
frequentaram missas e outros atos religiosos em igrejas católicas ou em residências de
amigos, vizinhos e parentes. É perceptível, por esse caminho, a inserção social também farta
de oralidade e rica em estímulos imagéticos, que representavam outras formas de leitura,
independente da religião da qual fazem parte.
Srª. Vanda vinculou leitores a pessoas inteligentes, que sabem se expressar bem e
imprimindo-lhes significação de um sobre o outro. Ela exemplificou com o então ainda
presidente Lula:
Toda reportagem, eu nunca notei assim.... Meu estudo é pouco, eu penso assim, mas
eu nunca notei uma falha de Lula. Tudo que perguntava, Lula sabia. Eu notava que, se
ele parasse pra pensar quando faziam alguma pergunta, ainda assim ele respondia na
hora. Eu admiro muito ele. Eh! uma pessoa inteligente, eu admiro mesmo.
Enquanto isso Srª. Nance associou histórias bem humoradas e seu gosto pela natureza e por
histórias belas e românticas com o que assistia e ouvia:
Aquela música Planeta Água [Guilherme Arantes], Ave Maria!, aquilo é lindo demais!
Eu copiei, e as músicas de padre Zezinho que falam também da natureza. [...] No meu
quarto eu tenho meus DVDS e as coisas que eu gosto de ver. [...] Os que eu mais
gosto são de musicais orquestrados. [...] Um filme romântico ou um filme musical, eu
gosto muito. Essa novela “Passione” eu não assisto, não é o meu tipo. No entanto, Ti
56
Ti Ti aquela besteira cheia de brincadeira e todos aqueles costureiros brigando eu
acho graça. [...] Embora também essa história de humorista eu não goste, mas a novela
até agrada. Humorismo não é o meu fraco não [...]
Ainda Srª. Nance recordou-se de uma das Exposições Marianas (exposição com iconografias
das invocações de Nossa Senhora) do Centro Cultural, que aconteceu no salão de entrada da
Prefeitura da cidade, com muitas esculturas e cartazes, em 1987, mas também aconteceram
outras edições em Feira e em outras cidades baianas não citadas por ela. Ela ajudou a
organizar a edição de 1987 em Feira de Santana. Sua programação acompanhava o curso
Conheça Melhor a Mãe de Jesus, já mencionado. Ela considerou a exposição iconográfica
uma metodologia muito bonita, poética e, principalmente, significou-a importante como
forma de ensinar às pessoas que Maria é uma só.
O Centro Cultural, nesse aspecto, funcionou como um exemplo que propiciou aos Eucaliptos
produtos convencionais de leitura − livros e livretos produzidos e lançados, demais materiais
impressos, a exemplo de folhetos e cartazes −, encenações de peças, recitais e jograis,
exposições, mas também fez uso de camisas, canecas, flâmulas, cartazes, desenhos, lenços,
chaveiros, fotos, monumentos − produtos visuais carregados de imagem, também objetos de
leitura, mas que transgridem as materialidades do impresso, seja papel solto ou livro. Tais
produtos foram criados pelo CECREMAM, a partir dele ou de outrem, para uso de seus
membros, para venda ou distribuição na comunidade, e compunham objetos de leitura.
Embora narradoras/leitoras tenham feito referências, citando experiências orais e imagéticas
em sua formação e afetividade, ao pensarem a leitura, trouxeram, sobretudo, lembranças
vinculadas ao livro, ao impresso, conforme esperado, e a pessoas e instituições que
orientaram, ensinaram e com as quais compartilharam a existência, a exemplo da escola.
Segundo Hèbrard (2007), “historicamente, a escola não pode ser considerada o único lugar –
nem o lugar preponderante – onde se constroem e transmitem os equipamentos intelectuais de
uma sociedade.” Por isso, o domínio do escrito e a formação leitora antecedem as letras e a
escola e não findam em seu término e ausência. Significa que inicia na família, nos círculos
sociais que antecedem o ingresso escolar, independente de terem pais propriamente leitores ou
serem eles alfabetizados ou não.
57
A formação leitora é um processo contínuo, anterior, concomitantemente e posterior à escola,
e ultrapassa outros meios, materialidades e grupos pessoais, além de promover as influências
e contatos pessoais e institucionais, a exemplo da oralidade, da televisão, de imagens, num
processo composto por evolução de/para si e de geração a geração, configurando, portanto,
constantes trilhas que muitas vezes se tocam, se congrassam e, em outras, divergem, mas
sempre seguem adiante.
2.1 Ofertas de leitura: família e escola
As narradoras/leitoras, ao lembrarem do seu processo inicial de leitura, reportaram-se ao
processo em que aprenderam a ler. Falam da obediência “daquela época” e lembram de
dificuldades que tiveram no aprendizado, em manter os estudos, de práticas pedagógicas e
familiares e também situações outras que viveram.
Dentre as dificuldades no interior da escola, principalmente as relatadas pelas mais velhas,
encontram-se a falta de livros em geral, didáticos e não didáticos, e outros recursos que
diretamente atingiam a maioria das entrevistadas por causa dos recursos financeiros escassos
em suas famílias e da insuficiente infraestrutura da escola.
Além do material escolar e dos livros didáticos que suas famílias precisavam comprar, houve
relatos quanto a necessidade de comprar também folhas de papel pautado para copiar as
questões da prova ou, na falta de livros didáticos, a necessidade de possuirem dois cadernos,
a fim de copiarem apontamentos do quadro, sendo o outro para “passarem a limpo”.
Compensava-se a falta de livro, garantia-se o treino em cópia e, na sequência, treinava-se a
ortografia.
Livros para consulta também não havia ou eram poucos. Srª. Judite disse que na escola “tinha
uma estante com livros, mas era coisa muito pequena. Muito pequena, porque a professora
não tinha condição de ter”. Ela justificou a escassez de livros na escola pela falta de posses da
professora. Nessa declaração, a responsabilidade pela aquisição de material escolar para a
turma de alunos parece ser da professora, sem considerar a gestão escolar nem a
responsabilidade governamental, independente de qual instância, em dotar a escola e
58
desenvolver políticas públicas para a educação. Ao mencionar apenas a professora, a docente
é colocada como única, maior ou principal responsável em prover a escola, ao mesmo tempo
em que é redimida por não ter condições, inferindo-se, por conseguinte, as más condições
salariais vividas pelo professor.
Isso demonstrou o quão abstratas e distantes foram as
considerações e reflexões sobre políticas públicas de ensino e o quão determinante e íntima
foi considerada a figura da professora.
Por outro lado, a escassez de livros, independente dos responsáveis por isso, contribuía para o
hábito dos livros didáticos serem frequentemente reaproveitados durante anos seguidos.
Depois da carta de ABC, passei para a Cartilha do povo para aprender a soletrar.
Quando terminei, a professora disse que teria de comprar o livro. Eu fui pra casa toda
triste porque meu pai não podia comprar o livro. Minha vó chamou meu pai e disse:
Ela continua na escola, ela leva esse livro que está aqui e lá procura saber da
professora se serve pra ela estudar. Eu levei o livro, a professora olhou e disse que
podia continuar e marcou logo a lição. E eu estudei, dei a lição direitinha, nunca
tomei pau. ( risos ). [...] Era [o livro] de um tio mais novo que eu tinha, irmão de meu
pai, chamado Teófilo. [...] E naquele tempo a gente podia estudar por outro livro, até
a professora mesmo não exigia. O livro da criança servia pra todas as crianças da
família e hoje em dia, não. (Terezinha)
Reaproveitar livros foi um dado importante para que muitas famílias conseguissem manter
seus filhos na escola por algum tempo, foi assim também nas outras famílias. Além da Srª.
Terezinha, Sras. Mercês e Judite também relataram esse fato como algo economicamente
importante para suas famílias ou para outras, e afirmaram ser um hábito estimulado pelas
escolas. Srª. Terezinha afirma ter sido dessa forma que conseguiu estudar até o 4° ano.
“O privilégio desse gênero tão peculiar de livros [referência a livros escolares e às cartilhas
em especial] decorre de serem instrumento e apoio ao ensino e à aprendizagem, inclusive do
ensino e aprendizagem da própria leitura” (LAJOLO, 2007, p. 90), especialmente dos livros
didáticos de língua portuguesa, cujas lições muitas vezes eram único recurso do professor e do
aluno para demonstrar o que fora ensinado e aprendido em termos de leitura, cujos textos
eram lidos repetidas vezes. O uso do livro didático, conforme narrado, demonstrou
considerável supremacia nas práticas leitoras vividas por elas em período escolar, numa quase
exclusiva e total dependência desse recurso, principalmente para aquelas que não continuaram
59
seus estudos, fazendo eco com estudos realizados por Zilbermam e Lajolo (1999), que
afirmam a intensidade de seu uso e a obrigatoriedade de seu manuseio14.
Sras. Terezinha, Mercês, Judite e também Vanda, Maria da Purificação e Iristelma citaram a
relevância do livro didático em suas leituras e/ou enquanto recurso em práticas pedagógicas,
no entanto Srª. Nance afirmou ter estudado por apontamento.
Não, nada disso [nem biblioteca na escola, nem livros didáticos ou outros]. A gente
estudava mais por apontamento. Eram poucos livros. As professoras no quadro negro
escreviam e a gente tomava o apontamento, e tudo pra passar a limpo. Tinha caderno
de apontamento e tinha o caderno pra passar a limpo. Muitas coisas a gente estudava
por aquilo, tinham poucos livros, né?
Esse hábito tornou-se frequente ao longo de sua vida até então. Os apontamentos e cópias
receberam dela nova roupagem perante aqueles vestidos pela obrigatoriedade imposta pela
escola. Foram transformados em cadernos e classificadores de temas de seu interesse de
estudo, curiosodades ou como hobby.
Durante o tempo em que estiveram na escola, a autoridade da professora assumiu papel de
destaque na condução de suas leituras fossem em livros didáticos fossem em apontamentos ou
mesmo em uso do quadro negro e cadernos, a partir de práticas pedagógicas de ensino
vivenciadas pelas narradoras/leitoras: “e a gente não tinha problema na escola, porque a gente
tinha mesmo medo da professora, a gente respeitava mesmo.” (Judite).
Rezar e cantar o hino nacional antes da aula foram práticas envoltas por muito respeito,
indicadas e supervisionadas por professoras, comumente narradas por elas, como contou a Srª.
Judite: “Eu lembro bem que pra cantar o hino a gente só podia ler em pé e ou com as mãos
pra trás ou a mão no peito, e firme com o peito em pé. A gente não ficava olhando pra
ninguém, nem mexendo com as mãos e olhando para outro.” (grifo meu).
Além dessa, houve o exemplo da prática de “dar lição”, que sempre correspondia a algum
texto do livro didático, cuja leitura era feita aluno por aluno, apenas para a professora, em pé
14
Assunto também mencionado por Marisa Lajolo no livro Leitura, História e História da Leitura, organizado
por Márcia Abreu ao tratar sobre o PML - Projeto Memória de Leitura.
60
ao seu lado, com o livro em cima da mesa e, em menor incidência, com os alunos sentados, a
partir do acompanhamento da leitura de algum colega, que, ao comando da professora, era
interrompida para outro dar seguimento. As duas modalidades para “tomar a lição”
intimidavam e centralizavam o poder na professora, que determinava como a leitura seria
feita, quando começava e terminava, avaliando entonação, dicção, pontuação, enfim, o
domínio linguístico e o aparato mais técnico do ato de ler que, embora importante, não se
limita a essas ações. No entanto:
Eu lembro que demorei muito para aprender a ler. Eu não aprendi logo, tive
dificuldade. Um dia eu descobri que podia decorar (risos). A professora mandava
fazer a leitura e eu tinha decorado tudo em casa! Eu lia! Ela achava que eu lia! (risos)
Eu não dizia que decorei. Eu acho que ela compreendeu que eu não sabia ler e, um
dia, ela pulou a lição e me pegou no flaga (risos). Eu tive que confessar que não sabia
e daí foi que fui aprender. A gente tinha vergonha de dizer que não sabia ler. No final
da primeira série aprendi, e pronto, não deixei mais os livros. (Iristelma)
Nas descrições sobre esse momento, sempre houve a presença da professora “tomando a
lição”, porém Srª. Iristelma burlou um pouco o sistema intimidador impresso nas leituras
avaliativas tomadas pela professora usando a memorização da lição. A estratégia usada por
ela aponta para a percepção, em tenra idade, do valor da cultura letrada a sua volta e do quão
vergonhoso seria revelar-se como alguém que não sabia ler, contudo, ao mesmo passo, fez
surgir outros conhecimentos para proteger-se. O mundo que fez sentir-se constrangida foi o
mesmo que lhe ofereceu as armas para amparar-se. A faceta da Srª. Iristelma remeteu à
importância da memorização como recurso para a sobrevivência aos temores causados no
processo ensino-aprendizagem, mas também foi importante para esse processo em si,
independente das dificuldades advirem do medo ou de outros aspectos.
A leitura capacita a humanidade de modos, muitas vezes, inesperados. A memorização
da leitura, um tipo de sistema de arquivos cerebral, ajuda muitas pessoas a, por
exemplo, reter e organizar o conhecimento. (...) memorização da leitura chegou a
formar indivíduos com capacidades aparentemente “sobre-humanas” de recordar,
pessoas capazes de armazenar bibliotecas inteiras de leitura memorizada. (FISCHER,
p. 309 e 310)
A memorização foi importante para outras práticas pedagógicas que contaram, como ditados,
cópias, provas, geralmente escritas, às vezes orais, embora sempre estivessem associadas ao
61
medo. A oralidade esteve presente em duas outras atividades: poesias e canções recitadas e
cantadas em datas comemorativas e diante de visitas na escola, destacadas pela Srª. Mercês:
Eu não me lembro mais da poesia no todo, mas a última parte, como até hoje ainda se
fala, era “As crianças vão fazer o futuro do Brasil”, né? (...) Então me treinaram e me
colocaram pra dizer a poesia. Assim teve dia que tinha apresentação de poesia, poesia
no dia do professor, poesia no dia das mães.(...) Então todas as comemorações que
havia na escola, tinha aquela de poesia, chegava um visitante e você se levantava pra
cantar, né? Tinha de cantar o hino antes de começar a aula, tinha de rezar antes de
começar a aula. Eu nunca mais fui na escola para ver o seu dia a dia. Antes era esse o
processo que a gente passava, né? Então isso ia enriquecendo a gente e tinha aquela
preocupação...: Ah, não pró! eu quero dizer uma poesia! E todo mundo queria, né? [...]
Então assim, no dia do professor [por exemplo], a gente tinha aquela poesia, e até no
próprio livro já vinha alguma poesia referente àquele dia, certo?
As narradoras/leitoras Iristelma e Mercês também descreveram práticas que precisavam da
memorização como recurso didático. Mollier (2008) exemplifica a memorização do resumo e
a preparação dos ditados do professor como necessitados do mesmo recurso, comparando-os
metodologicamente à ladainha e ao catecismo, com suas respostas prontas e sempre iguais,
relacionando, de certa forma, práticas pedagógicas à memória e, por conseguinte, também a
práticas leitoras, embora nem sempre desse certo e, por isso, aumentasse a inquietação e a
insegurança dos alunos, como revelou a Srª. Judite: “Eu não estou lembrando o que a gente
lia. Era uma leitura que tinha que decorar e depois ler sem ler o livro. E agora que era o
problema, que a gente, por mais que decorasse, mas na hora que lia a gente não gravava a
leitura completa para ler. Aquilo ali era quase uma prova que ela fazia com a gente”.
Havia também seminários na 5ª série, quando alunos davam aulas diante de três professoras,
fato destacado pela Srª. Nance:
Imagine! Iam três professoras pra gente falar sobre o que ela escolhesse para a gente
estudar e dar aquela aula, isso na quinta série no primário! Eu toda acanhada, mas
tinha que fazer (risos). Quando era geografia, eu adorava, era a minha matéria
preferida, porque eu dizia que eu ia me formar e queria fazer geografia.
Por mais que houvesse a memorização como recurso para melhor desempenho nessa
atividade, havia associação com outro processo de elaboração para aprendizagem do assunto
em questão que propiciaria ou oportunizaria as palavras e entendimentos dos alunos.
62
As atividades descritas pelas narradoras/leitoras Mercês e Nance são desejadas pela primeira e
preferidas pela segunda, quando na área de geografia, e são menos comuns do que “tomar
lição”, mas também as intimidavam. Apesar do medo em determinadas ocasiões na escola, a
escola foi sempre enaltecida por todas as narradoras/leitoras e sempre acompanhada do
lamento de não terem continuado os estudos. Não foi fácil estar e\ou manter-se na escola por
mais tempo. Ainda mais difícil, para a maioria impossível ingressar em universidade porque
outras situações sociais interferiram no processo educativo formal.
Assim, elas alegaram alguns fatores que foram determinantes na interrupção de seus estudos.
a) A distância da casa para a escola: “Eu não tenho lembrança até que ano eu fiz.[...]
Admissão eu não fiz, porque meu pai já tinha dito que não deixaria, porque ficava longe, era
aquela dificuldade, aí eu não fiz. Só os meus irmãos foi que fizeram” (Judite). b) A
quantidade de irmãos: “O que minha vó dissesse a meu pai, ele atendia. Então quando eu
estava na escola [estudou até o quarto ano] ela disse a meu pai que já estava na hora de tirar
Terezinha e colocar Antares.[...] Cada momento um filho estudava um pouco, tirava e botava
outro. Foi assim, o nosso estudo foi esse.” (Terezinha). c) A falta de dinheiro para investir no
ensino particular, que, a partir de dado momento, seria a única opção de estudo: “Um ano eu
estudei no Asilo. É particular. Os meninos trabalhavam lá [referência aos irmãos mais
velhos], por isso a gente conseguiu. [...] A partir de um ano, a superiora achou que a gente não
devia, porque não tinha farda. [...] A gente não tinha farda. Quando chegou, já havia
demorado e, é claro, ela não aceitou, é particular” (Vanda).
Alegaram ainda outros fatores sobre tal interrupção. a) O casamento: “Entrei na UEFS e
abandonei, oh! Que horror! Eu fiz essa loucura! Eu casei e fui embora. Loucura! Pense em
uma coisa na minha vida que eu me arrependo amargamente!” (Iristelma) e “meu pai virou
pra ela [a mulher, madrasta de Nance] e disse assim: eu quero casar a minha filha o quanto
antes, porque ela não tem a mãe dela [...]Eu fiquei moça, aí ele disse logo isso: casa agora até
com doze anos. Então, com treze anos eu já estava ficando noiva” (Nance). Noiva de um
rapaz ciumento que não a deixaria sair sozinha. b) Cuidado de enfermos da família: “Então,
quando o meu pai ficou doente,[...] questionaram [a situação do pai em Salvador] sem me
questionarem, sabe? [...]: meu pai vai ficar com quem? Como? [...] Aí chegaram à conclusão,
os irmãos, que eu devia morar com meu pai na casa de Madre [apelido de uma das suas irmãs
em Feira de Santana, nos Eucaliptos]” (Mercês).
63
As dificuldades listadas também foram, muitas vezes, ligadas à falta de recursos materiais da
família e, por isso, a necessidade de seus pais em privar os filhos dos estudos, ou ainda, da
escola em relação à falta de livros, por exemplo. Porém, isso não se aplica a todas na mesma
medida, da mesma forma. Srª. Mercês completou o ensino médio e Srª. Iristelma ingressou na
Universidade Estadual de Feira de Santana e concluiu a licenciatura curta em Estudos Sociais.
E ambas, Sras. Judite e Nance exerceram a função de professora, sonho que nutriram para seus
futuros e que conseguiram realizar apenas informalmente, por um período, em suas
comunidades.
As narradoras/leitoras conseguiram estudar, ainda que ao menos apenas as séries iniciais, por
ser a escola pertencente a propostas vinculadas a políticas públicas da educação, e o livro
didático a propostas pedagógicas adotadas na escola. Apesar disso, nem sempre tais propostas
contemplavam a todos e por mais tempo. Ainda assim, é de fato uma revolução conseguir
estudar e “não levar pau”, como disse a Srª. Terezinha, mesmo para aquelas que o fizeram
apenas até o “primário”, vivendo em condições precárias, contando com a precariedade de
suas escolas, dificilmente com posse de livros que cobrissem as demandas sociais, escolares e
de seus interesses particulares.
Tais dificuldades sintetizaram algumas reflexões sociais nos âmbitos econômico, familiar e
escolar, e acrescentam novas perspectivas que se somam a essas: os encaminhamentos
familiares mediante as questões de gênero que, por sua vez, também perpassam os aspectos
socioeconômicos. Foram exemplos: a distância entre a casa e a escola, justificada pelo pai da
Srª. Judite para que ela não continuasse a estudar, mas que não impediu que os irmãos,
meninos, permanecessem na escola; o casamento, principalmente para a Srª. Nance, que, ao
contrário da Srª. Iristelma, foi, depois de casada, geralmente impedida pelo marido de sair de
casa sozinha, por causa dos ciúmes que sentia, mas que, segundo ela própria, era seu único
defeito; e o fato de ter de cuidar do pai doente, no caso da Srª. Mercês. Tais circunstâncias
comprovam as autoridades do pai, do marido e de irmãos mais velhos, que eram respeitados
em suas vozes reconhecidas como de autoridade.
A escola, apesar do grande peso e da responsabilidade colocada sobre ela para o ensino, nem
sempre ficou sozinha. Algumas delas, apesar dos inúmeros percalços, tiveram alguém da
família a responsabilizar-se por alfabetizar e orientar seus estudos.
64
Minha irmã mais velha era professora, então a gente já tinha uma coisa bem na base
que ela já dava. Minhas primeiras letras eu aprendi também com a minha irmã.
(Mercês)
Em casa eu estudava com Tonho [irmão mais velho, mais tarde fundador do
CECREMAM] [...] Me ensinava, hum! Tinha palmatória! Na época ele estudava.
Antes dele sair para o ginásio, tinha que ler aquela lição e eu já estava me tremendo.
Não sei se foi cartilha, acho que foi cartilha, coisa pouca também. Ele nunca usou a
palmatória. Era uma escova de roupa, mas também graças a Deus nunca aconteceu de
bater, não. Ele reclamava, assim, nervoso com a hora de ir para o colégio, porque ele
estudava de noite, mas, graças a Deus, deu tudo bem. E foi pouco tempo também. Ele
passava alguma coisa também além da escola, mas não tenho lembrança, já tem tanto
tempo que, meu Deus do céu! (Vanda)
Sras. Mercês e Vanda falaram da irmã mais velha, professora, e do irmão mais velho,
estudante nervoso com o horário da escola, que constituiram autoridades no processo de
ensino-aprendizagem. Autoridades extensivas às figuras dos pais e avós como ampliação da
família e da escola, por meio da professora. Tudo impunha algo a elas, geralmente a
obediência e a aceitação, ora a família e a escola, que viviam em comunhão na autoridade
sobre filhos e alunos, ora a estrutura social que, entre outros fatores, não propiciava políticas
públicas de educação que as comportasse na escola por mais tempo, nem recursos para que
suas famílias pudessem mantê-las como estudantes. Há alguém que manda − professor, pais,
irmãos mais velhos − e elas que, em sua infância e juventude, atendiam, na maioria das vezes,
ao que lhes fosse solicitado ou esperado que fizessem, pois o poder da escola e o da família
demonstravam consonância, e assim foram vistos como legítimos e inegáveis.
Em todas essas circunstâncias, fosse na família ou na escola, em que práticas pedagogizantes
coexistiam, ou fosse para “dar lição” para a professora, ler e recitar poemas em público em
comemorações na escola, a leitura limitava-se ao processo de decodificação. Fazia-se
necessário saber o código escrito e as peculiariadedes expressas na pontuação, na entonação e
na dicção e o respeito em torno dessas práticas fazia com que elas fossem vistas como muito
boas:
Menina, a gente fazia outras leituras, mas quase que não fazia outras. Lia mais era
coisa de escola mesmo. Tinha o recreio dez horas, a gente parava pra beber uma água
e lanchar. Tinha oração. O primeiro, quando chegava, asteava a bandeira, cantava o
Hino Nacional e depois a gente entrava e rezava o Pai Nosso. E aí, quando a
professora chegava, todo mundo se levantava. Não tinha esse negócio de chamar de
pró, era professora fulana de tal. E aí, depois que ela sentava era que a gente sentava.
65
Toda lição primeiro ela fazia, pra depois a gente fazer. Quando a gente precisava de ir
ao banheiro, saía pra falar com ela. A educação naquela época era um respeito muito
sério, muito bom. (Judite)
A importância do domínio do código escrito fez-se presente na vida delas. Além das
narradoras/leitoras Nance e Iristelma, as narradoras/leitoras Vanda e Judite evidenciaram em
suas narrativas a vergonha em arriscarem-se em público, embora a Srª. Judite o fizesse:
Eu mesma nunca li pra ninguém. Eu só rezava na Igreja, cada qual rezava um
mistério, aí pronto, mas eu não leio [em público]. Minha leitura é pouca. Eu fico
cismada de ler errado e depois servir de risada, então eu não gosto. (Vanda)
No tempo em que eu estudei, falavam muito em sílaba, ponto circunflexo, ponto final,
ponto interrogativo, ‘erres e esses’, falavam muito essas coisas. [...] Eu não leio em
público. Eu leio aqui na igrejinha [referência ao Templo-Escola Santa Rita de Cássia],
porque foi Seu Antônio [fundador do CECREMAM] que me ensinou a ler, que me
ensinou a ser o que eu sou hoje porque se eu ficasse só no que eu aprendi lá, eu não
era o que eu sou hoje, graças a Deus! [...] Só sei que lá fora eu faço alguma coisa [...].
Tem pessoas que leem e você se sente mal de ver a pessoa ler, e já tem outros que
você vê e se sente bem de ver a pessoa lendo. É o modo de falar, o modo de se
expressar. Pra tudo isso a pessoa tem que ter jeito. E tem pessoas que não têm aquela
meta de falar, de conversar, não tem. E o Português é uma coisa muito séria. Parece
que português é pior que Matemática! (Judite)
O que elas viveram no início de suas vidas na família e na escola muitas vezes lhes
determinaram a visão sobre a leitura, quando fora ditado o certo e o errado claramente,
estendendo-se a visão sobre o leitor como aquele que “lê bem”, conforme opinião de Srª.
Judite, ou seja, sem gaguejar, sem engolir palavras, com boa entonação e seguindo todos os
acentos e pontuações, supervalorizando tais características.
Ao domínio do código escrito atrelaram-se, mais uma vez, práticas pedagógicas engessadas e,
a partir delas, o julgamento de ser bom ou mau leitor. Logo, a escola primária reforçava essa
visão, e geralmente o professor ou alguém na família que fosse escolarizado ditava a leitura
correta, sempre visando à entonação e à pontuação. Nesse prisma, ler bem é decodificar bem
e, por isso, em tais circunstâncias não eram as escolhas por temas, autores ou quaisquer outras
classificações que fizessem sobre modalidades textuais que entravam no julgamento delas
sobre “bom leitor” ou “boa leitura”. A maioria delas não continuou os estudos e parou no
“ensino primário”, antes do “exame de admissão”. No entanto, claramente, aquelas que
avançaram no estudo ou se dedicaram à leitura um pouco mais por conta própria ampliaram o
66
estreitamento aparente e inicial desta visão, que no princípio de sua formação todas as
narradoras/leitoras carregavam consigo.
2.2 Ofertas de leitura: CECREMAM
A família e a escola enquanto autoridades não foram rebatidos pelo Centro Cultural RécreoEducativo Monsenhor Amílcar Marques. Ao contrário, o Centro Cultural adotou uma
abordagem moralizante, visando a acomodar comportamentos e rotinas em consonância com
as instituições citadas, principalmente pelo caráter educativo normatizador que adotou para si.
O panorama do que fora apreendido pelas narradoras/leitoras como concepções básicas e
normatizadoras na família, na escola em suas formações leitoras, e cujo Centro Cultural fez
eco, ofereceu a impresão de que nada mudaria, que a estabilidade não se tornaria indubitável e
que não haveria espaços para transgressões de nenhuma ordem, de nenhuma medida. Foi
apenas impressão, visto que este texto adotou uma sequência, orgnizando os caminhos
seguidos pelas narradoras/leitoras em suas vidas e narrativas.
Em atas do início do CECREMAM, verificou-se o objetivo formador que possuía, fazendo
eco com a família e a escola. E isso perpassou também na formação de leitura, por meio dos
contatos de leitura que o Centro Cultural oferecia em suportes materiais e temáticos à
constituição cidadã na qual o CECREMAM acreditava.
Dessa forma, ele configurou-se como espaço de leitura e, neste tópico, dois exemplos básicos
serão apresentados mais adiante para ilustrar intenções e pensamentos desse Centro Cultural
no viés da leitura, no início de sua fundação, no que concerne à leitura como formação e à
formação para o hábito da leitura: o livro Civilidade e a biblioteca cecremana Professora Edna
Laureana de Oliveira.
Sua pedagogia implicava em orientar sobre regras com rotinas pré-estabelecidas dentro de
ditames especialmente religiosos e visões enciclopédicas e normativas, conforme atas, sua
bandeira e seus hinos, ilustrados no primeiro capítulo, acusaram. Isso foi confirmado em
leituras feitas nas reuniões, tendo como exemplo o livro Civilidade, e nas diretrizes de uso da
67
sua biblioteca supracitados, além de produções realizadas, como encenações, recitais e jograis
a partir de livros infanto-juvenis e poemas diversos, como os de Maria Clara Machado e
Castro Alves, mas também, poemas que contemplavam temas religiosos e cívicos, como o dia
da Bandeira, dia de Tiradentes, além de flâmulas, camisas, livros etc. produzidos pelo Centro
Cultural. Para que tais ações fossem realizadas, houve organizações de momentos de trabalho
em grupo, conselhos sobre uso e encaminhamentos de cada uma dessas práticas e produtos,
especialmente nos primeiros anos de sua formação.
Em uma das atas de reunião do ano de 1967, especificamente de 09/04/67, da Ala Infantil,
houve a solicitação para que as crianças nas funções de bibliotecárias e arquivistas exigissem
dos bibliotecários da Ala Adulta a lista de livros da biblioteca em andamento, a cujos títulos
as crianças poderiam ter acesso. A lista de leituras proibidas para crianças não foi registrada
em ata, bem como as razões da sua existência. Ainda assim, tal atitude aponta claramente para
a impugnação da leitura, ou mais especificamente, de determinadas leituras para determinados
leitores. Poderíamos supor, portanto, posicionamentos ligados à moral, à religião e à
política15. Srª. Terezinha fez menção a isso, mas não lembra quais foram os livros autorizados.
Sobre biblioteca popular:
Eram juridicamente instituições públicas, abertas a todos os frequentadores. Elas
foram idealizadas a princípio para o público escolar e visavam garantir o acesso à
cultura impressa, sobretudo ao livro formativo. Mas não só. Ela também era vista
como uma instituição moralizadora e civilizadora, quer pelos seus conteúdos
intrínsecos, quer pelas potencialidades decorrentes da complementação da instrução
elementar. (SCHAPOCHNIK, 2005, p. 240)
Seja como for, a sacralização, a censura da leitura possível de ser prevista em espaço religioso
antecedeu as reuniões cecremanas no Templo-Escola Santa Rita de Cássia (idealizado e
construído por Antônio Ramos da Silva – fundador do CECREMAM) a partir de 1978, uma
vez que tal postura esteve presente desde o início do Centro Cultural, a exemplo da leitura do
livro Civilidade, que impôs o “sagrado” a partir das condutas cotidianas.
15
A expressão “sagrado” deseja aqui ilustrar o sentido normativo, formativo e educativo tradicional empregado
para orientações leitoras ou a partir dela, especialmente por tratar-se de uma instituição com o perfil adotado
pelo CECREMAM e por também tratar-se de um locus influenciado pela religiosidade católica, no caso do
Templo-Escola em questão.
68
Algumas entrevistadas lembraram vagamente do livro, mas observaram seus temas como
mote do CECREMAM. Ao ouvirem seus capítulos, lembraram que esses eram temas
recorrentes no CECREMAM, a exemplo de Iristelma:
Em cada livro falava sobre cidadania, coisas assim. Eh!, civilidade do país lembro,
lembro [...] e com isso a gente vai aprendendo desde pequeno a respeitar o espaço dos
outros, muito bom. [...] Eu lembro do Seu Antônio[risos] palestrando muito bem,
falando e fica na mente da gente, volta, vai pra casa... mas era justamente sobre isso,
muito sobre conduta, respeito ao próximo. Era muito bom! (Iristelma)
Os temas desse livro Civilidade versavam sobre “deveres para com Deus”, “deveres para com
os pais”, “deveres para com todos”, “deveres para conosco”, “deveres para com a Igreja”,
“para com as aulas” e sobre “comportamento à mesa”. Para leitura desse livro foram usadas as
expressões leitura de formação e leitura de Civilidade e Formação Moral - registradas em
atas, evidenciando um caráter pedagógico que autorizou a leitura em função formadora.
A indicação da leitura de caráter pedagógico e moralizante formadora de comportamentos e
condutas foi traço marcante nas reuniões durante o ano de 1966 na Ala Adulta e, em 1967, na
Ala Infantil, de acordo com o registro nas atas, por meio da leitura em voz alta e da leitura
coletiva do livro Civilidade, cuja autoria, editora, edição e ano não foram registradas em
nenhuma ata, mas seus temas, conforme citado, sim.
Vale ressaltar que a leitura em voz alta foi pertinente e frequente em muitos grupos sociais no
decorrer da história sempre conferindo ao ledor status e respeito por essa função. A leitura
auditiva, quer dizer, exercida coletivamente por intermédio de um ledor que oralmente lia
para um grupo de ouvintes retrata uma experiência vivida por muitos em diversos tempos e
lugares. Espaços como praças e mosteiros, cortes e residências, além de salas de aula foram
contemplados em filmes, novelas, contos, contemplando a leitura oral para um coletivo.
Estudiosos comentaram sobre isso. Borges e Besnosik (2007) fizeram uma sinopse
exemplificando estudos de Lyons, Manguel e Cascudo em relação ao século XIX, destacados
a seguir. Lyons (1999) informa que na zona rural francesa a leitura em voz alta de uma pessoa
para um grupo foi frequente ao contrário do que era predominante nas cidades. Também
carpinteiros eram adeptos dessa prática. Manguel (1997) lembra de trabalhadores cubanos de
uma fábrica de charutos que pagavam a um dos colegas para ler livros e jornais dos
69
trabalhadores no turno de trabalho. Eram ações proibidas pelo governo, mas não foram
extintas por causa dos trabalhadores que imigraram para os Estados Unidos. Também no
Brasil, segundo Cascudo (1953) havia em residências sertanejas serões para leituras
compartilhadas de cordéis.
Havia em cada reunião cecremana, segundo consta em ata, a leitura em voz alta, feita algumas
vezes por rodízio entre os leitores de um dos capítulo desse livro, seguida por comentários
ratificadores do que fora lido. Embora a prática utilizada no entorno dessa pesquisa seja a
leitura da escrita, os encaminhamentos dados a partir de Civilidade estão mais próximos das
práticas utilizadas por comunidades onde predominava a oralidade, pois a escrita
impulsionava a leitura silenciosa e individual, enquanto o grupo exercitava a leitura em voz
alta e coletiva. Por outro lado, nem todos exerciam o ato oral da leitura: “Eu mesma nunca li
pra ninguém [...] Só leio para mim.” (Vanda). Tem-se lado a lado a leitura silenciosa e
individual convivendo com a leitura oral e coletiva.
Sobre a leitura coletiva, Chartier (2009, p. 233) contribui, dizendo serem as “leituras que
manipulam o texto, decifrado por uns para outros, por vezes elaborado em comum, o que põe
em jogo alguma coisa que ultrapassa a capacidade individual da leitura”, podendo existir um
grupo em que todos saibam ler e fazê-lo de maneira individual e silenciosa. No entanto a
leitura oral e coletiva oportuniza a escuta e direciona, por meio dos recursos orais, as
entonações do que queira ser destacado por aquele que lê, interrompendo e socializando seus
pensamentos sobre o que lê no momento em que desejar e destacando o que lhe é conhecido e
oportuno. Assim, quem lê para o grupo tem o texto em primeira mão e autonomia para
explorá-lo segundo suas convenções. Tem-se, assim, o leitor que fala e o leitor que escuta,
embora quem escute também possa interferir na leitura feita e nas opiniões postas.
Em cada reunião havia o intuito de instruir a partir de um texto feito para ser lido enquanto
instrução normativa, objetivando a prática do “bom comportamento”, exemplificado no texto,
aprovado socialmente por um grupo, incluindo-se também o próprio ato da leitura que, ao ser
feita em voz alta, responsabilizava o entendimento do outro a quem a fizesse pelo exercício de
falar em público, mostrando-se o quão “bom leitor” era ou estava se tornando, tanto pelo
domínio do código escrito quanto pela apropriação do que fora lido. Nesse momento, entrava
em questão, mais uma vez, o domínio dos mecanismos do código escrito abordados
inicialmente e observados em falas supracitadas.
70
Maria Tereza Cunha (2006) comenta sobre os manuais cujo objetivo era propiciar a instrução
normativa como fora o livro Civilidade lido pelos cecremanos em suasreuniões nos idos de
sua fundação:
Colocavam à disposição conselhos e regras que visariam transmitir cuidados que
deveriam ser seguidas nos espaços públicos e privados e procuravam internalizar, pela
leitura (tanto obrigatória como de lazer) normas e preceitos de controle social tanto
pela gestão de corpos e almas como por um conjunto de regras como portar-se com
dignidade, cortesia e elegância, próprias de uma existência civilizada. Importa, em
especial, nessa abordagem, a associação de urbanidade com a idéia de civilizado e
deste com o sentido de “corpo são”. A produção e circulação regionais, nacionais e
internacionais desses textos, bem como seus usos e apropriações permitem entrever as
reverberações da civilidade com um dado ethos religioso/católico, sublinhando a
relação dessa moral com a polidez e a pureza das condutas que caracterizariam
‘alguém bem formado’.
Por meio das regras de etiqueta e civilidade, seria possível ensinar a convivência em grupo, os
valores ditos “verdadeiros”, controlar impulsos de qualquer natureza, ensinar, manter e
cultivar a ordem pública e familiar, respeitando-se sempre as hierarquias estabelecidas, enfim,
normatizar a vida. O livro Civilidade exerceu função de manual, foi objeto de leitura e ensino
nas primeiras reuniões do Centro Cultural, mostrou-se seguidor dessa premissa, bem como da
diretriz instituída pelo Centro aos seus sociofundadores.
Esse livro, com base nos títulos de seus capítulos registrados em atas, mostrou-se como
exemplo de conselhos e guias sobre como falar, cumprimentar, estudar, comer, higienizar-se,
como se portar em casa, na igreja, na escola, perante as autoridades dessas instituições, enfim,
como cada um deveria viver, sabendo exatamente os cuidados que deveria ter consigo e o
papel que lhe caberia na sociedade, fosse como homem ou mulher, pais ou filhos, professores
ou alunos e de quem (pessoa ou instituição) deveria ser adepto, seguidor e divulgador, para
que as diretrizes se mantivessem e se cumprissem.
Além do livro Civilidade, cujo conhecimento de sua existência deu-se apenas pelas atas dos
anos 1966 e 1967 das Alas Adulta e Infantil, outros livros fizeram parte do acervo do Centro
Cultural, por intermédio de uma biblioteca. O grupo a organizou no início de sua fundação:
Biblioteca Professora Edna Laureana de Oliveira. Vale ressaltar com atenção que, embora não
tenha sido encontrado registro sobre seu funcionamento, pelas entrevistadas foi possível saber
71
que a biblioteca permitia visitas,
fazia empréstimos, tinha listas de livros, entre outros
informes importantes. Srª. Maria da Purificação lembrou que “havia possibilidade de pegar os
livros emprestados; quem quisesse pegava”.
Sua titular estava viva no início do CECREMAM e participou dele como colaboradora e
incentivadora. Ela nasceu em Porto Seguro, em 01 de abril de 1907. Foi professora do curso
primário, chamado Séries Iniciais de 1a à 4a séries, e recentemente reformulado até a 5a.
Formou-se nos Perdões, em Salvador. Foi nomeada para exercer o Magistério na Fazenda do
Mocó em Feira de Santana e depois na escola General Osório que fundou e localizava-se nos
Olhos D’Água, na rua Araújo Pinho, nas proximidades dos Eucaliptos. Ela não casou e não
teve filhos. Morreu em Feira de Santana, em dezembro de 1975. Seu nome foi levado à
reunião de 17/07/1966 do CECREMAM, por seu ex-aluno, fundador do Centro Cultural,
pleiteando-o como nome da biblioteca, segundo acordo em reunião de 26/06/1966, quando foi
indicado que todos poderiam sugerir nomes à biblioteca em questão para que fosse apreciado
em votação.
Aproveitou o Sr. Presidente para ressaltar sua satisfação pela escolha do nome da
Professora, que muito fez por este Bairro [dos Eucaliptos], salientando ainda a criação
do Escotismo em Feira de Santana pela destemida Mestra, que não medindo sacríficio
tudo deu de si para o engrandecimento do Bairro e por conseguinte em prol da criança
pobre que ali reside. (Livro de Ata da Ala Adulta)
O grupo responsável pela biblioteca foi composto por cecremanos interessados em garantir a
si, aos seus filhos e à comunidade o acesso à leitura. A função de bibliotécario, sob orientação
do professor presidente do Centro, foi destinada a alguns de seus membros: o pintor, Sr.
Antônio de Jesus Coelho, para a Ala Adulta, e as crianças estudantes Railda Moreira de Jesus
e Auremita Santos Pereira, como 1a e 2a bibliotecárias da Ala Infantil, e como arquivista Edna
Maria Moreira de Jesus.
Houve campanha de doação de livros. Srª. Maria da Purificação informou também que
“alguns livros foram doados pela professora Edna [...] Não me lembro mais assim, não.”
Muitas daquelas doações foram identificadas, usando um carimbo com o nome da Biblioteca
nos livros recebidos, informando quem fez a oferta e quando, e isso propiciou a esta pesquisa
identificar referências pertencentes a essa biblioteca, bem como saber que muitas ofertas
vieram igualmente de outros professores, de cecremanos e de livrarias, e que naquela ocasião
72
uma
das maiores ofertas foi feita de fato pela Professora Edna Laureana de Oliveira,
conforme informou a Srª. Maria da Purificação.
Além das perdas de exemplares, não houve acesso total a todos os livros ainda existentes, por
estes estarem compremetidos pela ação do tempo. Muitos estavam sob efeito da humidade,
cupins, traças e por isso nem sempre foi possível identificar todas as informações para
referência bibliográfica completa. Apesar disso, foi possível perceber uma variedade de
opções de temas entre escritores e escritoras: religiosos, literários, didáticos, entre outros. No
entanto, alguns livros acusaram, por meio dos seus títulos, o destino específico aos públicos
infantil e feminino. Por exemplo: Coleção Didática Infantil, Biblioteca Infantil de Ouro,
Coleção Romântica, Coleção Rosa e Biblioteca das Moças. Títulos como Casar é bom,
Antologia bíblica feminina do novo testamento, Mãe exemplar, Meninos travessos, a
Turminha dos valentões parecem simbolizar o que esperar das mulheres e dos meninos.
Revistas Nosso amiguinho, Tiquinho, Pinguinho, Cirandinha, além de Tico-tico muito
referendada em Lajolo & Zilbermam (1999) por meio de autores famosos que o enalteceram
em suas lembranças, como Carlos Drummond de Andrade. Dentre as referências destinadas
especificamente ao público feminino, um bom exemplo foi a coleção Biblioteca das Moças,
bastante disseminada no Brasil no início do século XX, composta por romances leves e
escritos sob medida para formar as meninas dentro do “bom” comportamento cristão.
Apesar dessas estratificações, houve nos livros da referida biblioteca presença de mulheres na
qualidade de escritoras, a exemplo de Elisabeth Leseur, Helena Velasco, Alice Tisdale
Hobart, Laura Lopes, Maria Jacinta, Edna Ferber, além de tradutoras, como Maria Luisa de
Souza Alves, Marina Guaspari e Raquel de Queiroz também como tradutora. A biblioteca em
questão começou a ser desenvolvida no final da década de 1960. Na década anterior, o livro
didático começa a ganhar fôlego no Brasil, por isso a existência de muitos exemplares
didáticos.
Esses livros, autores e tradutores supracitados não compõem a totalidade das referências da
Biblioteca, apenas ilustram um recorte feito. A título de informação há uma tabela com mais
referências bibliográficas no apêndice (separadas por registro de doações). É importante
lembrar: trata-se de uma biblioteca desativada, tendo funcionado no mínimo nos primeiros
anos do Centro Cultural e na década de 1970. Além disso, muitos livros ou capas fotografadas
para transcrição nesta pesquisa encontravam-se estragados por causa da umidade e de cupins,
73
por isso, as referências em anexo não estão sempre completas e não compõem a totalidade do
acervo. (apêndice N, pág. 145)
A Srª. Vanda recordou-se de características sobre a infraestrutura da biblioteca Professora
Edna Laureana de Oliveira, e a Srª. Terezinha, do seu espaço físico:
A biblioteca funcionava em um armário ou estante. Não era, assim, um salão. Era
tudo pequeno e funcionava aí no Centro mesmo [casa da mãe-Sra. Hilda Ramos da
Silva, dona da primeira casa do bairro, espaço autorizado por ela para uso do
CECREMAM]. Até hoje tem a estante, [...] tinha uma estante de ferro... Toda vida o
CECREMAM foi aí, depois a única coisa que construiu foi a igreja [Templo-Escola
Santa Rita de Cássia]. A biblioteca ficava na casa de mamãe, não tinha outra casa,
não aumentou nada, ficou do mesmo jeito. (Vanda) (grifo meu)
Lembro da biblioteca, não tinha sede. A biblioteca era ali mesmo no quarto
[apontou para a direção da casa da Sra. Hilda]. Tinha um quarto ali do lado, ali na casa
de dona Maninha [apelido da Sra. Hilda], na sala tinha um quarto, o muro [da casa de
Maria da Purificação] ficou em cima [do espaço onde havia o quarto] do
quarto[...].(Terezinha) (grifo meu)
A biblioteca foi localizada numa “casa” do bairro, casa da Sra. Hilda – mãe das Sras. Vanda e
M. da Purificação, funcionando “ali mesmo no quarto” “em um armário ou estante”. O quarto
em questão, também possuidor de uma história, foi construído pelo professor Antônio, para si
mesmo e usado como dormitório pessoal e local de estudo, para não sofrer interferências dos
pais que não queriam que ele perdesse noites com estudo, pois isso poderia interferir em
noites mal dormidas e em seus dias de trabalho. Iluminava o quarto com “fifó” e fechava com
tecido todas as arestas da porta, para que a luz não passasse e fosse descoberto em sua tarefa
noturna. Há no apêndice foto da casa, mas o referido quarto não mais existe e seu terrreno
passou a pertencer à Sra. Maria da Purificação, posteriormente passou a fazer parte da
composição de sua casa. (apêndice P, pág. 159)
Casa, quarto, estante, a descrição demonstrou uma gradação que cada vez mais reduzia o
espaço. “Era tudo pequeno”. Tudo reportou a um lugar simples, humilde e familiar, no
entanto, a despeito das características físicas e da infraestrutura da biblioteca que comprovam
suas carências, a Srª. Iristelma lembrou que “a gente tinha muita reunião ao ar livre. Quando o
sol estava quente, a reunião era ao ar livre, não fazia na casa, não. Bacana, né?”. Certificam-se
oportunidades de outras práticas leitoras no que tange a outros espaços e posturas físicas do
leitor, uma vez que as reuniões ocorriam no mesmo espaço onde funcionava a biblioteca, e
74
estar ao ar livre com o livro significaria estar em meio a flores, embaixo ou em cima do
cajaeiro e/ou embaixo de mastros com bandeiras, aproveitando as sombras e possíveis brisas
entre outras possibilidades de interação com o ambiente e outras pessoas. Em outra passagem,
esta mesma narradora/leitora complementa o perfil da Biblioteca Professora Edna Laureana
de Oliveira, considerando a importância dessa biblioteca naquele tempo e lugar, ou seja,
principalmente, final da década de 1960 e década de 1970 nos Eucaliptos.
A única biblioteca que eu lembro foi montada aqui, depois foi a Municipal mesmo
que eu cheguei a usar, só, só. Mas era muito bom pra gente aqui, foi muito bom,
ajudou muito. A socialização, o relacionamento e a convivência com outras pessoas...
(Iristelma)
Não havia, portanto, política pública eficiente para todas as classes sociais em favor da leitura
e do acesso a livros. A declaração da Srª. Iristelma e outros depoimentos das Sras. Vanda,
Maria da Purificação, Judite e Terezinha inferem isso. Iristelma teve a oportunidade de com 4
anos de idade encontrar e usufruir a biblioteca do CECREMAM. Significou ter tido a
possibilidade de iniciar suas experiências leitoras ainda a partir de leituras de imagens,
conforme ela narrou, assim como outras crianças do lugar. Siginificou também a possibilidade
de ampliar e desenvolver essas mesmas experiências mais do que as Sras. Vanda, Maria da
Purificação, Judite e Terezinha cujo processo restou-lhes o acervo didático de escolas ainda
muitíssimo precárias também em se tratando de seus recursos bibliográficos.
Assim sendo, a comunidade dos Eucaliptos configurou mais um espaço de oportunidade
superior à que as narradoras/leitoras mais velhas encontraram disponíveis em suas infâncias e
adolescências. Ainda não havia Faculdades nem Universidade – espaços onde há bibliotecas
abertas ao público leitor em geral − no município de Feira de Santana. A Universidade
Estadual de Feira de Santana – UEFS foi a primeira instituição de nível superior da cidade,
fundada oficialmente em 31 de maio de 1976. Anteriormente era Faculdade de Educação, em
1968, e em 1970, Fundação Universidade de Feira de Santana – FUFS.
Em atas, do Livro de Atas da Ala Adulta, houve registro de conselhos para que seus
assosciados conseguissem tempo para leitura. Em atas, do Livro de Atas da Ala Infantil,
houve determinação de horários para leitura, confirmando e garantindo o uso da biblioteca
pelas crianças. A Srª. Iristelma falou da socialização, também das suas primeiras leituras antes
75
de aprender a ler e a escrever, antes de entrar na escola, que aconteceram nessa biblioteca por
meio de livros infantis com gravuras e ilustrações que ela gostava de ler antes de aprender as
letras. Também ratificou em nome do coletivo, provavelmente a Ala Infantil, que “era muito
bom pra gente aqui, foi muito bom, ajudou muito” (grifo meu).
Organizar um espaço de leitura demonstrou a preocupação com a formação leitora, garantindo
um lugar e um tempo para que ela ocorresse ou, ao menos, exprimisse tal tentativa, mas a
tentativa nem sempre configurou-se em garantia de leitura da forma como fora ou é
idealizada.
Vale considerar a relação traçada por Eco (2010) entre o bibliófilo e sua biblioteca particular.
Tal relação cabe aqui, embora a biblioteca em questão não tenha sido de caráter particular.
Ele acredita que uma biblioteca não é apenas um lugar para livros serem “juntados ou somar”,
mas “é também um lugar que os lê por nós” (ECO, 2010, 47). Exemplifica com o remorso
possível de ser sentido perante livros à mão e jamais lidos, porém o ato de tocá-los várias
vezes para mudar de lugar, organizar, desempoeirar, empurrar para pegar outros livros, enfim
resultaria na “leitura pelo tato”. Isso, ao contrário, não retiraria outras possibilidades como a
leitura casual de algumas páginas e leitura de características gráficas como “cores,
consistência do papel”, bem como da leitura de livros que mencionam aqueles não lidos que
seriam também leituras, ainda que indiretas.
Por tudo isso a biblioteca é um “organismo vivo” e não configura apenas o lugar da memória
de leitura de seu proprietário, fundador ou idealizador porque isso seria insuficiente e nem
sempre representaria a realidade de fato. Configuraria, sim, o lugar da memória universal.
Cada livro carrega consigo inúmeras leituras e essa conjectura foi necessária a sua existência
e para muitos seria mais importante estar acessível a isso, “examinar com olhos amorosos” do
que propriamente ler.
Essas idéia e sentimento confluem com Belo, uma vez que “não é por serem possuídos ou
comprados que os livros são necessariamente lidos” (BELO, 2002, p. 91). Criar ou estar em
algum espaço de leitura não significa por si só que ela aconteça de forma direta. Belo faz essa
provocação ao comentar a respeito de pesquisas sobre circulação e recepção de textos no
passado. Possuí-los também representa status de várias ordens: financeiro, intelectual,
estético, bem como caráter que atende a demenadas sociais e pessoais, por exemplo, herança
76
familiar recebida ou a ser deixada, sublimação por algum dia não ter tido condições de possuílos. Enfim, infindas possibilidades.
No entanto, a despeito de tudo isso, a Srª. Nance não lembrou da biblioteca, e acredita não têla visitado, por ter talvez sido um período em que ela não tenha frequentado muito as
atividades cecremanas, afinal dependia sempre do marido para sair. E embora a Sra. Iristelma
e as demais crianças da Ala Infantil frequentassem a biblioteca com alguma regularidade,
visto que havia tarefas para elas em que fez-se necessário seu uso, parte das
narradoras/leitoras contemporâneas e adultas daquele período, como as Sras. Judite e Maria da
Purificação, disseram não tê-la frequentado com assiduidade.
Lembro, lembro, agora eu não participava pra pegar nada lá pra ler. [...]Participava
mais de atividades, agora se pra entrar pra participar em pegar livro, biblioteca, essas
coisas, eu não participava muito. Eu gostava mais de frequentar o que tinha, as festas,
brincadeiras. Eh!, eu gostava mais dessas coisas. (Judite)
Muito difícil eu utilizar, né falar a verdade.[...] Porque com filho pequeno, dona de
casa, eu quase não tinha tempo para sentar para ler livros nem nada. Três filhos
pequenos pra criar e tudo. Então não tinha lá esses tempos todo disponível, aí
começou o relaxamento, né. (Silêncio) (Maria da Purificação)
As justificativas foram não ter tido tempo para ler, principalmente por causas das atividades
como dona de casa e mãe, embora participassem de atividades promovidas pelo
CECREMAM, especialmente a Srª. Judite que na época ainda não havia se vinculado como
sócia e declarou que preferia “as atividades” do que parar para ir à biblioteca. Nesses dois
casos, a leitura foi vista como algo que rouba tempo dos seus deveres e preferências. A Srª.
Vanda informou que a participação dela e do “pessoal” na biblioteca era “ difícil, só às vezes
quando tinha reunião, aí vinha o pessoal, aparecia uma ou outra pessoa assim. Não era um
negócio constante, não”. No entanto, nessa declaração, apesar da dificuldade posta, tem-se a
demonstração da regularidade de acesso à biblioteca a partir e em associação às reuniões do
grupo.
Apesar da frequência irregular desse grupo de narradoras/leitoras à biblioteca em questão, Srª.
Terezinha disse que “a gente pegava livro e tudo para ler [...]”, ratificando a informação de
Srª. Maria da Purificação, anteriormente posta, sobre a viabilidade de empréstimos de livros
para qualquer um que desejasse. A despeito dessas declarações, não foi encontrado registro no
77
acervo do CECREMAM informando sobre quem pegou quais referências para ler e quando.
Apenas foi sabido que havia tal possibilidade. Igualmente foi sabido que as crianças do
CECREMAM não tiveram acesso livre, como já fora mencionado, a quaisquer livros que
desejassem, embora também não tenha ficado o registro de tais referências bibliográficas. No
entanto, esses dois aspectos em si revelam bastante sobre o uso da biblioteca.
Nessa perspectiva coibitiva, Anne Chartier e Jean Hébrard (1995) abordam a censura advinda
de professores, padres e bibliotecários, colocando-se como tutores da leitura, mesmo em pleno
século XX, contrariando a ascensão de processos democráticos e da liberdade de expressão.
Essa atitude específica em relação às crianças pareceu como forma de resguardar, no então
presente, a criança, e protegê-la em nome do futuro da sociedade, sendo estes os motivos para
determinadas leituras serem coibidas ou, ao contrário, estimuladas, sob a inspiração advinda
da ideia de infância que ganha forma na modernidade.
Zilberman (2003) aborda sobre o surgimento da família estruturada de forma unicelular,
privativa e vinculada a relações afetivas como um processo iniciado no final da Idade Média
e sendo um acontecimento do Século das Luzes. Naquele período não havia distinção entre
crianças e adultos. “Na sociedade antiga, não havia ‘infância’: nenhum espaço separado do
‘mundo adulto’ ” (RICHTER apud, ZILBERMAN, 2003, p.36).
Zilbermam traz Dieter
Richter (1977) para descrever um cenário em que crianças eram testemunhas de todos os
processos e encaminhamentos sociais, como nascimento, doença, morte, guerras, execuções,
tradições culturais. Não eram defendidas ou protegidas em nenhum desses aspectos, ao
contrário, foram desprovidas e privadas de quaisquer privilégios e cuidados.
Esse quadro foi se modificando até que, no século XVII, surgem as primeiras reflexões
pedagógicas voltadas para as crianças, segundo a autora, escritas pelos protestantes franceses
e ingleses. No século XVIII, a infância sedimenta-se como alvo de reflexões e observações.
Isso também foi uma forma de preservá-la
para a conservação da família burguesa,
imperativa enquanto reduto nuclear, ou como conservação do sistema econômico que a teria,
quando adulta, como mão de obra.
No entanto, aos poucos foi-se considerando as
especificidades da criança e concebendo-se a infância, separando-a de assuntos sexuais e da
morte. Consequentemente foi-se configurando gradativamente a proteção também sobre o que
seria lido nessa fase da vida.
78
Essa análise informa que a formação moral para leitura infantil tornou-se uma constante,
portanto não foi preocupação apenas do CECREMAM. Por exemplo, os textos escritos pelos
irmãos Grimm que, atentos também a isso, modificaram histórias das quais tomaram
conhecimento pela tradição oral, usando-as como meios para ensinar algo ou atenuar ou não
revelar desvios de caráter de alguns personagens julgados impróprios à criança por sua
analogia com pais reais, por exemplo:
Eles não podiam aceitar a expulsão de Hansel e Gretel de seu lar por ambos os
progenitores. Ocorreu assim a invenção de um pai compreensivo e, na quarta edição
de seus contos que data de 1840, a mãe virou madrasta. Tais alterações fizeram com
que nenhum dos progenitores naturais figurasse como maldoso na história. (LYONS,
Martyn, 1998, p. 102)
A proteção funcionava como bom argumento para crianças e mulheres serem protegidas e
censuradas em suas leituras. Enquanto isso, adultos eram aconselhados a ler, a exemplo do
ano de 1966, na Ala Adulta, por ocasião da votação para decidir o nome da referida
biblioteca, na qual consta “observação no que diz respeito à leitura, dizendo que todos nós
precisamos ler; se não for costume de muitos, por vários motivos, mas que se faça sempre
que haja tempo”. Ratificava o ensino dessa conduta um quadro emoldurado, presente no
acervo pessoal do fundador do Centro Cultural, e que fora exposto em atividades cecremanas
com a imagem de uma face, cuja boca, nariz e olhos estão sob uma tarja semelhante à marca
d’água, acompanhada da frase: “Quem não lê mal fala, mal ouve, mal vê” , considerando a
leitura como algo supremo. (apêndice O, pág. 158)
Seja como for, independente de ações repressoras à leitura e seus motivos vinculados à
centralização do poder margeando a liberdade ou como proteção à infância, é inegável que
uma biblioteca oportuniza práticas leitoras, ainda que revestidas de limitações censoras, de
um pequeno acervo e da existência de modelos e conceitos preconcebidos do que deve ser
lido, de como ler e cuidar do livro. Perante esse panorama, foram criadas Horas de Leitura,
segundo Atas da Ala Infantil de 1967, e houve orientação para um rodízio de trabalho
composto pelas crianças da Ala Infantil “para melhorar a lista do movimento da biblioteca
Profa. Edna Laureana de Oliveira”, determinando os grupos responsáveis nos turnos matutino
e vespertino, segundo Ata da Ala Infantil, de 21/04/1967, lavrada por Ana Célia Lobo Ramos.
79
A Ala Infantil começou oficialmente suas reuniões em 23.03.67 com encontros quinzenais.
Iniciou, como a Ala Adulta, com processo eleitoral e habituou-se a escritura, leitura e
assinaturas das suas atas. A Ala Infantil também fez leituras do livro Civilidade, em rodízio,
pelos cecremanos mirins. Na Ala Infantil havia orientação para sempre estarem com papel e
lápis nas reuniões. Havia distribuições de cadernos e boletins O Eco que não foram descritos
nas atas, folhetos diversos, poemas, estampas religiosas além de terem sido programadas
noites literárias a partir do mês de abril - mês seguinte ao início das reuniões com esta ala cujo primeiro poeta homenageado foi Castro Alves.
Na sequência foi usado o pretexto de no mês seguinte, abril de 1967, ser aniversário da titular
da biblioteca, para serem propostas e planejadas as Horas de Leitura, diariamente, das 9 às
11h. Foi nessa ocasião que as crianças bibliotecárias e arquivista foram orientadas a exigirem
dos bibliotecários da Ala Adulta a relação dos livros que as crianças poderiam ler. Houve
também registro da existência de comentário sobre a peça Pluft, o Fantasminha, com leitura,
discussão e escolha dos personagens dessa peça teatral de Maria Clara Machado, escolha dos
personagens também para “Jesus Perdido” − versos que foram ao palco, homenagem a
Tiradentes com declamação da poesia “Libertas Quae Sera Tamem”, entre outras atividades
similares descritas em atas do Livro de Atas da Ala Infantil, mas sem descrição detalhada nem
transcrições dos textos literários.
Ir à biblioteca significava também realizar essas leituras e estudá-las para a apresentação,
além da indicação de fazerem outras leituras à parte dos compromissos firmados, uma vez que
fora solicitado para as bibliotecárias e a arquivista a relação de nomes de livros e de leitores
que constituíam as Horas de Leitura e a determinação dos grupos que ficariam responsáveis
pelos turnos da manhã e também da tarde, além de explicitação sobre o compromisso com as
Horas de Leitura, a fim de melhorar a lista do movimento da biblioteca, numa espécie de
registro que infelizmente não foi encontrado no acervo do CECREMAM. Foi esse, então, o
contexto das atividades iniciais da Ala Infantil.
Adultos tiveram liberdade na leitura, na presença na biblioteca, em ler ou não ler, usá-la ou
não, enquanto às crianças, além da censura, lhes foram determinados momentos para
frequentá-la, na tentativa de garantir ao menos a essse grupo o hábito do ato de ler. De uma
forma ou de outra, foi um espaço que promoveu a leitura a vários suportes. Guardadas as
devidas especificidades citadas anteriormente, e ainda que sob o julgamento de cristalizações
80
normativas, na comunidade dos Eucaliptos houve ações que demonstraram intenções claras
em socializar e ampliar conhecimento e o desejo de auxiliar em mudanças individuais e
coletivas a partir de atuações locais que propiciavam e estimulavam o ato de ler, embora o
grupo pequeno, a comunidade socialmente pobre, a biblioteca que funcionava no quarto de
uma pequena e humilde casa.
81
CAPÍTULO III
LEITURAS NAS VEREDAS DE PRÁTICAS CONFRONTADAS: CONSERVAR E
RENOVAR
Neste capítulo aparecem novas veredas, alguns rompimentos nos modos e temas de leitura,
bem como visões acerca da leitura, apesar de decorrer em intensidades e formas diferentes,
influenciados também pela idade de quem narra. Um bom exemplo disso é quando algumas se
escandalizaram e afastaram-se mais do que outras, quando, em suas lembranças, estiveram
diante de “literatura mais picante”, enquanto outras a procuravam. Logo, este capítulo aborda
tais rompimentos em contraposição a aspectos conservadores, no que se refere a práticas
culturais e representações de leitura vivenciadas pelas narradoras/leitoras.
Depois de uma fase na vida, marcada prioritariamente pela obediência na infância no que
tange à leitura, apareceram transgressões, às vezes de forma tímida, outras vezes não,
apontando, prioritariamente, para diferenças entre as gerações às quais as narradoras/leitoras
pertenciam. Foi assim no decorrer de suas vidas, no processo narrativo em geral, e por isso foi
assim na organização desses dois últimos capítulos.
Vale salientar que as ampliações de leitura e dos modos como acontecem e das interações
sociais, portanto também narrativas, alargam aos poucos e gradativamente as possibilidades
de rompimentos em práticas de leitura.
As narrativas fazem parte do legado cultural dos povos, das famílias, de quaisquer grupos
sociais que nos ensinam quem somos. Crescemos em meio a elas. Construímo-nos e
reconstruímo-nos; aprendemos, reaprendemos, apreendemos, desaprendemos por meio de
narrativas, por isso é difícil precisar quando nossa narrativa pessoal começou e quando
terminará. Elas são nosso recurso comunicativo mais importante, compõem nosso processo de
formação e estão em toda parte e nas formas mais simples às vezes podem passar
despercebidas, como, por exemplo, quando Sra. Mercês contou que
[...] Na casa em que eu nasci minha mãe disse que todos os partos foram normais e
alguns até de cócoras. [...] E eles contaram, quer dizer meus irmãos que já eram
grandes, contaram isso que a família de meu pai morava vizinho, próximo, né? E
82
ficavam na roça e tal, era próximo. [...] e eu ainda estava muito pequena e tem ainda
Iracema que é também minha irmã, que conta muito das amigas que ela tinha da
escola... (Mercês) (grifo meu)
Iniciaram e continuaram suas narrativas contando suas histórias também em rememoração a
histórias de outrem, como pais, avós e irmãos, com falas de memórias do que não viveram ou
do que foi dito por outro, por ser outro tempo, outro lugar, ou muito pequena. Foram, sob esse
aspecto, portanto, memórias do que não viveram ou vivenciaram, pois podem “se tornar um
discurso produzido em segundo grau, com fontes secundárias que não vêm da experiência de
quem exerce essa memória, mas da escuta da voz (ou da visão das imagens) dos que nela
estão implicados” (SARLO, 2007, p.92). Foram exemplos de lembranças de outrem
reapropriados pelas narradoras como pertencentes a si, inserindo-as em suas narrativas, como
rememoração de histórias de outras pessoas ou como suas próprias, dada a identificação das
imagens e/ou das fontes que as traduzem.
Para que a nossa memória se aproveite da memória dos outros, não basta que estes nos
apresentem seus testemunhos: também é preciso que ela não tenha deixado de
concordar com as memórias deles e que existam muitos pontos de contato entre uma e
outras para que a lembrança que nos fazem recordar venha a ser reconstruída sobre
uma base comum. [...] É preciso que esta reconstrução funcione a partir de dados ou
de noções comuns que estejam em nosso espírito e também no dos outros, porque elas
estão sempre passando destes para aquele e vice-versa, o que será possível somente se
tiverem feito parte e continuarem fazendo parte de uma mesma sociedade, de um
mesmo grupo. (HALBWACHS, 2006, p. 39)
Fizeram-se presentes memórias de outrem, memórias de um tempo anterior a elas ou anterior
as possibilidades de suas lembranças, quando muito pequenas, configurando um tempo
vivido, mas impossível de ser lembrado e apropriado por si mesmas. “Muitas lembranças, que
relatamos como nossas, mergulham num passado anterior ao nosso nascimento e nos foram
contadas tantas vezes que as incorporamos em nosso cabedal” (BOSI, 2009, p. 425). Nesse
caso nem sempre ficará explícita tal apropriação, portanto, tornando-se difícil a identificação.
Começamos a existir antes de existirmos devido à amplitude das narrativas. A história de cada
um pode ser marcada pelo nascimento, mas também, anteriormente a esse marco. “Ultrapassase o tempo presente, e o homem mergulha no seu passado ancestral. Nessa dinâmica,
memórias individuais e memórias coletivas encontram-se, fundem-se e se constituem como
possíveis fontes para a produção do conhecimento histórico” (DELGADO, 2006, p.41). A
83
história de nossa concepção, de nossa família, de nosso povo, da humanidade fazem parte da
existência individual de cada um e vice-versa. As histórias que vivemos, testemunhamos,
ouvimos, intuímos, inferimos fazem parte de nós. Elas, muitas vezes, imbricadas na memória
coletiva, mesmo não vividas pelo indivíduo, impõem-se como próprias, pessoais, inserindo-se
na memória individual, e ambas sempre pertencentes às experiências humanas.
Estudos de Halbwachs, Sarlo, Bosi, e Delgado estão em consonância entre si ao considerarem
as infindas possibilidades de lembranças anteriores a existência de alguém ou aos grupos
sociais a que pertença. Embora possivelmente em gradações e aspectos diferenciados, podem
ser encorporadas pelo indivíduo como sendo suas próprias e consciente ou inconscientemente
quando tal adoção acontece é manifestada pela linguagem.
A linguagem propicia o resgate da narrativa, expressando-a por meio, seja oral, seja escrito,
sem significar com isso que ela se manifeste apenas pela voz e pelas letras, pois a experiência
também é manifestada por outros meios como o corpo. Nessa perspectiva a linguagem
corporal também (re)constrói o passado, expressado por emoções às vezes reveladas.
Sarlo (2007) contribui para o entendimento sobre as experiências que, ao serem narradas
tomam, além da voz, o corpo como expressão para retomada do passado, muitas vezes
carregadas de emoção ou da emoção contida ou, ainda, da tentativa de contê-las. As diversas
formas de linguagem dão vida e forma às experiências narradas e, a cada vez que a narrativa é
produzida, atualiza-se, fundando, assim, uma temporalidade que antes seria apenas
pertencente ao momento real da experiência.
As narradoras em alguns momentos reviveram o passado, comunicando-o também pelo choro,
a exemplo das Sras. Vanda e Mercês. Elas, respectivamente, contaram a respeito de problemas
de saúde ocorridos com seu filho mais jovem e sobre a morte de sua mãe ainda em tenra
idade. Expressões corporais fizeram-se presentes como manifestação também de linguagem,
relacionadas a sentimentos suscitados nas lembranças das memórias: pelo olhar perdido, a
exemplo de Srª. Vanda, quando declarou arrependimento de não ter estudado mais; pelo riso e
pausas silenciosas presentes em inúmeros momentos nas narrativas de todas elas, dando vazão
a emoções.
84
O silêncio, o choro e o riso, manifestações de tristezas e alegrias, arrependimentos, frustrações
e os mais diversos sentimentos também tiveram o que dizer.
Fizeram-se presentes nas
narrativas, ao retomar o passado com a emoção que é conferida dentro da historicidade do
sujeito e do que lhe reporta o fato, a cena, pessoas, circunstâncias circunscritas no ato de
rememorar, conferindo-lhes emoções distintas no tipo, na forma e na intensidade.
Somam-se aos sentimentos mencionados acima outras declarações também cobertas por
emoções, mas que, ao contrário das anteriores, implicam explicitamente juízo de valor na
compreensão de si a exemplo da Sra. Judite, quando, ao final do nosso encontro, declarou:
“Se você tivesse procurado um intelectual, uma pessoa que fala, que lê e escreve... que lê,
escreve e é bom nas palavras...” (Judite). Ou ainda “o negócio é só a memória de gravar essas
coisas antigas”.
Antes das gravações começarem, expuseram preocupações sobre suas mémorias,
questionaram a importância sobre o que teriam a contar, como “dizer o quê?”. São opiniões
que, além de esboçarem dúvida sobre a importância do que se tem a dizer, quase afirmam que
não há o que dizer. Isso demonstra, ao menos, um quê de baixa autoestima perante uma
pesquisa. Saber-se ignorante sobre algo pode ser tomado como ato de consciência. No entanto
há outras pressuposições possíveis nessas falas: não valorização da própria voz, história,
pensamentos; reação fruto de preconceitos, ideias implícitas ou explícitas na sociedade em
geral, que interferem negativamente na representação pessoal.
Apesar, por parte de algumas, da transferência de intelectualidade para outrem, retirando-a de
si e, apesar da incerteza do ter ou não ter o que falar e do conseguir suscitar a memória, não
houve impedimento para declarações de felicidade no ato de voltar ao passado, para dividir
suas vidas em meio a revelações caras a elas.
A linguagem compondo a constante dinâmica de trocas e interferências subjetivas em torno
das narrativas e seu percurso vivido mostraram a experiência contínua do compartilhar o
processo metodológico, bem como as rememorações de cunho pessoal e coletivo. E em meio
a tudo isso histórias de leitura foram apresentadas com conservações e transgressões.
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As leituras invadem todos os espaços por meio das mais diversas linguagens, seja oral ou
gráfica, seja iconográfica ou pictórica, como as narrativas, estão em toda parte porque o
mundo é lido e expresso constantemente, a cada dia, em pequenos olhares e expressões.
3.1 Outros tempos, outros modos, outras leituras
As mesmas instituições que “protegem”, “aprisionam”, a exemplo da família, da escola e
entidades. Embora algumas narradoras/leitoras resistissem e preferissem a proteção da redoma
onde se sentissem confortáveis, às vezes, nessas mesmas instituições eram encontrados
estímulos para transgressões leitoras. Tais estímulos também poderiam ser encontrados fora, a
exemplo de grupos de amigas que trocavam Sabrina e liam individualmente, conforme relato
da Srª. Iristelma. Igualmente isso remete a uma prática possível, entre outros motivos por ter o
livro uma anatomia que permite ser carregado consigo. “De um lado, a longa história da
leitura mostra com firmeza que as mutações na ordem das práticas são geralmente mais lentas
do que as revoluções das técnicas e sempre em defasagem em relação a elas” (CHARTIER,
2002, p. 112).
Contudo, o surgimento da imprensa e todo seu avanço tornaram maior a acessibilidade da
leitura para a humanidade e alterou práticas leitoras que, associadas a outros fatores, tornaram
a leitura cada vez mais uma experiência individual, solitária e silenciosa com o papel
impresso, sobretudo com a materialidade do livro. Guardadas as devidas proporções,
a
família, a escola e o CECREMAM também não foram exatamente os mesmos depois de
décadas inteiras, e as práticas leitoras nas vidas das narradoras/leitoras também não o foram.
Ao longo das décadas algo ficou, mas algo também mudou, em processo contínuo, ainda que
às vezes tênue. Da leitura oral ou auditiva para a leitura silenciosa. Da escrita a lápis, a fim
de que o livro didático fosse reaproveitado por outra pessoa da família ou pela proibição de
escrever no livro de leitura pelo ultrarrespeito a esta materialidade impressa, conforme
lembrou a Srª. Terezinha: “não podia riscar o livro de jeito nenhum, ela [a professora] ainda
dizia: no dia em que eu vir uma letra aqui, eu vou dar castigo, viu? Você vai ficar de joelho!
Ela não deixava a gente fazer um riscozinho no livro, não!”, para o ato de escrever no livro
86
anotações livres nos espaços que desejasse como faziam Sras. Iristelma e Mercês, além de darse a possibilidade de cortá-lo, bem como a revistas e jornais como fazia Srª. Nance.
Ainda há outras mudanças. Da prática da leitura intensiva de cunhos didático e religioso,
para leituras extensivas de temas diversos. Da obrigatoriedade de ler para fins de
conhecimento, a fim de que fosse cumprido algum dever ou tarefa, para a leitura do
entretenimento, como as Sras. Judite, Maria da Purificação, Maria Mercês, Nance e Iristelma
também fizeram, dando-se a liberdade de interromper a leitura se quisessem, escolhendo
livros pelas capas e ilustrações como faziam respectivamente Sras. Iristelma e Purificação.
Das leituras na escola, na biblioteca da comunidade, em casa, para estudar a lição escolar,
para o estudo do catecismo também na igreja ou para o preparo dessas aulas, como as Sra.
Iristelma e Mercês, que foram catequistas no Templo-Escola Santa Rita de Cássia nos
Eucaliptos, para leituras embaixo de árvore, como mencionaram as Sras. Judite e Iristelma, ou
na cama, às vezes para fins escolares outras pela fruição do prazer. Foram “desvios” dos mais
“inocentes” e todavia significaram grandes mudanças de paradigma para quem viveu um
processo de formação mais engessado que livre e inicialmente não os havia cogitado.
Srª. Nance recortava revistas trazidas toda semana pelo marido, como O Cruzeiro e Manchete.
Segundo ela, “naquele tempo traziam reportagens maravilhosas sobre vários lugares, então
aquilo me interessava demais”. Também as embalagens de sabonete Gessy e Leve traziam
estampas de artistas de Hollywood e mais uma vez eram providenciadas por seu marido, que
saía pedindo aos amigos para que ela pudesse fazer seus classificadores, álbuns e cadernos –
todos como entretenimento. Ela declarou: “até hoje eu gosto! A todo tempo em que eu estou
lendo, eu estou escrevendo, passando a limpo as coisas que eu gosto. Eu viajo e onde eu vir
qualquer coisa bonita, eu já ando com caneta e papel na bolsa. Eu copio pra botar em meus
cadernos”.
Segundo ela, os temas eram vários: os papas e a igreja, o Brasil, sobre informações, como
prédios mais altos e de maior ponte, fauna e flora, misses e artistas do cinema. Ela, entre risos,
lembrou que o marido, embora muito ciumento, não via problemas nesse hobby. Ao contrário,
estimulava e não ciumava dos artistas, “já que eles nunca iam vir aqui me ver ”, disse ela.
Dessa forma, essa mania, conforme ela mesma chamou, de fazer cadernos, organizar albuns e
classificadores, ocupava suas horas vagas. “Nas horas vagas é a coisa com a qual eu mais
87
gosto de ocupar o meu tempo” ao ponto de ter tido em casa um guarda-roupa apenas para
guardar tais coisas.
Afora revistas e outros materiais, ela também recortava livros para seus classificadores - um
deles sobre o CECREMAM, que levou para nosso encontro. Dentre os vários arquivos que ela
havia guardado e organizado sobre o CECREMAM, estava um livreto do Centro Cultural,
escrito pelo professor Antônio, seu fundador, chamado Flores-Trovas a Maria, do qual ela
cortou e colou as trovas, anexando-as a outras gravuras por ela selecionadas e também coladas
no mesmo caderno. Ela rompeu, com a conservação de uma materialidade bastante valorizada
– o livro. Tomou posse e assim decidiu o destino, renovando o impresso em outra
configuração, de acordo com seu prazer, desejo e com a utilidade que vislumbrou.
Chartier (2003) retoma à lembrança o livro impresso enquanto legado do manuscrito. Aquele
tal qual é concebido assemelha-se a este por sua organização em cadernos, pelo formato. A
Srª. Nance, sob a perspectiva desse avanço, ou seja, do manuscrito para o impresso, fez o
caminho de volta, retornando ao caderno. Além disso, organizava álbuns e classificadores,
sempre com a presença de manuscritos seus em associação com o impresso presente no que
fora selecionado, recortado e colado ou perfurado e arquivado. Assim configurando um
pequeno gesto de grande ruptura em pequenas revoluções. Gesto que, em dado momento,
contribuiu com o Centro Cultural quando este promoveu nos Eucaliptos um curso sobre
hábitos culturais no Natal e, entre outros elementos, houve a culinária, cujo tema fora
abordado pela Srª. Nance que, ao final, entregou para cada participante, como lembrança,
duas cadernetas pequenas em espiral, contendo receitas práticas para almoço e sobremesa,
copiadas a mão por ela em cada cadernetinha que fora entregue a cada um dos participantes.
A Srª. Nance não restringiu suas leituras, conforme suas práticas ilustraram. Ainda assim, a
leitura religiosa cristã católica apareceu com frequência na ilustração de seus temas, gostos
das narradoras/leitoras, mesmo quando agregados a outros assuntos. Para Fischer (2006,
p.285), os textos religiosos constituíram-se em grande transformação na leitura cultural e
foram “a principal fonte de leitura da maioria das pessoas no Ocidente até final do século XIX
quando, em virtude da introdução do ensino geral, a literatura secular começou a
predominar”.
88
Apesar das narradoras/leitoras terem nascido num novo século com mais possibilidades de
ofertas para leitura, a Bíblia e, também, outros livros de orações e
folhetos católicos
apareceram com majoritária frequência . Mas isso não impediu a combinação com livros
didáticos no início da vida escolar e, posteriormente, com livros de piadas, revistas em
quadrinho, romances e revistas de moda, entre outros.
Toda essa combinação fora lida intensivamente e/ou extensivamente a depender dos interesses
e das práticas de cada uma mediante cada leitura desejada. A leitura intensiva consistia na
leitura de um mesmo texto inúmeras vezes. Foi uma prática muito vinculada à escassez de
livros e quaisquer outros materiais impressos e à fase da leitura oral feita por um ledor para
um grupo geralmente não escolarizado. A leitura extensiva consistia na diversidade de leitura
a vários textos e livros, portanto é uma prática predominante após maior desenvolvimento,
domínio e acesso a materiais impressos. No entanto é possível ainda encontrar pessoas cujo
caráter intensivo de leitura permanece, por exemplo, no sentido de habituar-se ou desejar ler
sempre um mesmo livro ou tema seja por opção ou por falta dela.
Eis alguns exemplos de caráter mais intensivo:
Ganhei de presente do Dindinho o Mundo da criança, uma coleção com quinze
volumes [...] A coleção não é só de história, tem uma parte que é de Ciências que me
ajudou muito na escola e tal, tem uma parte que é de e Geografia e tudo mais, mas eu
lembro os três primeiros, os volumes eram só de história eu lia e relia muito, aí fui
embora; gosto muito de leitura.[...] Eu lembro que ele me deu e eu nunca esqueci esse
livro, depois Dindinho me deu alguns livros “Esta juventude magnífica e os temores
nem sempre maravilhosos” de Padre Zezinho. Eu tenho esse livro. Ele me ajudou
muito, nessa idade louca, né? Meio louca. Muito bom esse livro, li várias vezes.
(Iristelma) (grifo meu)
Tem um livro aí de padre Léo, As coisas do alto, eu já li e reli. Ele fala das coisas do
alto, que a gente não deve se apegar a nada, até mesmo família, porque um dia você
perde e você vai sentir uma grande depressão. [...] Eu gosto de ler e reler Quando eu
gosto do livro, eu leio, mas eu não vou decorar o livro todo que nem a Bíblia, aí
depois, quando eu não estou fazendo nada eu torno a ler. Volto lendo tudo de novo,
vou me lembrando... Ah! eu me lembro disso! Eu gosto. (Judite) (grifo meu)
Eu dizia que eu iria me formar e queria fazer geografia porque era uma coisa que eu
sempre admirei. Foi tanto que eu comprei uma coleção de geografia pra ler. Imagina
como é gostar de geografia desse jeito e é uma coisa que você tem que ter outras para
está atualizada, não adianta. Eu tinha uma coleção com seis livros e eu sempre lia, eu
gostava. (Nance) (grifo meu)
89
As narradoras/leitoras Iristelma, Judite e Nance e as demais narradoras/leitoras assumem essa
mesma postura quando se referem a temas religiosos, incluindo-se a Bíblia e outros livros e
folhetos, como novenas e orações. A narradora/leitora Vanda destacou:
Orações ao Santíssimo é o um livro, é muito bacana, depois eu pego assim, leio. [...]
Às vezes eu pego uma oração de Nossa Senhora do Desterro e leio pra mim, eu gosto.
Eu tenho Nossa Senhora do Desterro em casa. Tonho [irmão mais velho, fundador do
Centro Cultural] já me deu o livro, já me deu imagenzinhas, tenho folheto, tenho o
livro de Nossa Senhora do Desterro que ele me deu. Nossa Senhora da Cabeça
também. Eu sempre tinha dor de cabeça e depois que eu conheci Nossa Senhora da
Cabeça, todos os dias antes de dormir eu me apego a ela, e todo dia antes de levantar
eu rezo um Pai Nosso e uma Ave Maria.
No caso ainda da narradora/leitora Terezinha, por ser costureira ainda na ativa, estivera
costumeiramente lendo e relendo suas revistas de moda e de figurino, embora no início de sua
fala ela não tenha reconhecido essa leitura, e por isso a “esqueceu” e afirmou não ler por falta
de vontade, quando, por sua vez, lê bastantes revistas em sua área de atuação: “eu nunca tive
vontade de ficar assim lendo, não. Preferia bordar, costurar. [...] Meu tema preferido para ler
sempre foi ligado à costura”.
A leitura extensiva também fez parte de suas práticas de leitura, especialmente pelas leituras
das narradoras/leitoras Maria da Purificação, Nance, Iristelma e Mercês que extrapolaram o
escolar, o religioso e o profissional, rememorando vários exemplos de leitura. A seguir um
cenário de suas leituras:
Srª. Maria da Purificação lembrou que na juventude rendeu-se aquela febre de negocio das
revistas Capricho, Sétimo céu, Sonho essas coisas de revista de romances,” Também lia
revista Época e outras, mas apenas o qaue lhe chamasse atenção, algumas reportagens, “mas
não era fanática nesse negocio de pegar e ler toda a revista. É alguma coisa que me chamava
atenção, alguma reportagem, mas não era de me aprofundar a ter tudo não”. Queixou-se não
lembrar com precisão sobre suas leituras. “Já li antigamente cada final de romance de uma
revista era um diferente do outro, tanto tempo que aí não me lembro”, porém em meio ao
esquecimento lembrou-se do livro A noiva do ano e embora não lembrasse do enredo, sabia
ter gostado e disse “É tipo um romancizinho”. Mostrou um livro que estava lendo e outros
dois na fila da cabeceira. O primeiro A cabana: “estou no início ainda no início do primeiro
capítulo e pelo início já estou começando a gostar, não sei se vou até o final gostando”. O
90
segundo e o terceiro foram selecionados por seus títulos e gravuras. Foram eles: O anjo de
quatro patas de Walcyr Carrasco e Um gato entre livros.
Srª. Nance lia sobre Geografia porque era seu tema preferido. Queria formar-se nessa área.
Comprou depois de casada uma coleção sobre Geografia e a coleção Barsa. Gostava das
revistas “O Cruzeiro” e “Manchete”. Leu poemas de José de Anchieta sobre a Virgem
Maria. Gostava de poesias, provérbios e materiais do CECREMAM e trabalhos de Antônio R.
da Silva. Gostava de temas românticos. “Então um livro bom eu gosto, uma vez eu li um O
Sentido da Vida eu nunca esqueci eu não lembro mais o conteúdo do livro, eu gostei muito do
livro”. Ela leu outros livros a exemplo de Flores-Trovas a Maria e Pórtico Poético, Presente
do mar de Hebert Salvador de Lima, Contemplação e vida de Ana Paula S. Coutinho. Ela
mostrou materiais seus em que havia copiado poemas e letras de músicas de autores e
intérpretes diversos que gostava de ler a exemplo de Cecília Meireles, Epitáfio de Titãs, Você
é Linda de Caetano Veloso, Ricardo Azevedo, Guilherme de Almeida, Elza Beatriz, dentre
outros, além de alguns poemas seus. Também versos de canções e poemas religiosos como
Nossa Senhora de Roberto e Erasmo Carlos. “Tem até canção de Milton Nascimento “Maria é
um dom’’, as igrejas às vezes cantam Maria Maria pensando na igreja. [...] Um romance bom
vale a pena.( risos )”.
Srª. Iristelma afirmou: “[...]Ganhei de presente de Dindinho [Antônio] o “Mundo da criança”
uma coleção com quinze volumes [...]” Segundo ela, a coleção não era apenas de estória, mas
lembrava de uma parte de Ciências e outra de Geografia que a auxiliavam na escola. Leu
contos de fadas e gostou de ler figuras. Depois de adolescente passou para os livros de
Sabrina e outros desse gênero. “Eu lembro que ele me deu eu nunca esqueci esse livro, depois
Dindinho me deu alguns livros: Essa juventude magnífica e os temores nem sempre
maravilhosos de Padre Zezinho. Confessou tê-la ajudado “nessa idade louca”. Leu ainda
Pequeno Príncipe, Poliana menina, Poliana mulher. Também livros de Monteiro Lobato e
“gostava muito.” Aí depois passei para Paulo Coelho (risos), O Alquimista, As Valquírias eu
tenho alguns deles [...] muita ficção, mistério, magia”. Gostou.
Ela leu também Antônio Cury, O futuro da humanidade. “Pense em um livro bom, muito
bom!” Mentes perigosas e outros de psicologia. Gostou de livros de Zíbia, embora fizesse
ressalva de serem de cunho espírita. “ Li Ningúem é de ninguém e muitos livros assim [...]
Feliz ano velho. “Já me deram algum evangélico eu leio também”. O poder da palavra, a
91
Bíblia, em especial Salmos..“Eu sempre tenho um bordado começado ou um livro começado”.
Outras referências dadas por ela foram A Cabana, Eclipse e Lua Nova. Estes dois despertados
pelo interesse em saber o que os jovens estavam lendo, bem como mais antigos como A
Moreninha, Cinco minutos, A Viuvinha, Ateneu. Ela informou gostar também de Paulo
Coelho e Sidney Sheldon.
Srª. Mercês lia a revista O cruzeiro e Sétimo Céu e começou a ler romances literários por
causa de sua professora Lurdinha de Língua Portuguesa e Literatura no ensino médio. Leu A
moreninha, Vidas Secas, O feijão e o sonho, O guarani, Escrava Isaura, Olhai os lírios dos
campo que ela afirmou querer ler de novo, Escaravelho do diabo e quase todos da série
Vagalumes, A pata da gazela que ela não esquece do fetiche pelos pés na época em que as
mulheres só usavam vestido longo e os homens nunca os viam porque elas sentavam com os
pés recolhidos para não mostrarem. Vidas Secas, Éramos Seis também leu, entre outros. [...]
Leu Eça de Queiroz, José de Alencar, Graciliano Ramos. Sra. Mercês lembrou com carinho do
livro didático da época e que acredita ter sido da Ática, pois lá havia o poema Marília de
Dirceu que ela recitou na escola e fazia encenações por meio dele. Ela ainda lembrou de uma
parte deste poema. Lembrou de Navio Negreiro de Castro Alves. “Depois eu li Cora Carolina
também”.
Leu ainda, independente do currículo escolar, Cristiane F, drogada e prostituida. “Na época
eu achei tão forte e de certa forma foi [...]” Ela leu de Jorge Amado Quincas berros d água e
Capitães de Areia que informou não ter lido todo. “[...] e fora outros outros livros assim como
minha amiga que levou algum tempo sendo espírita, então ela também trazia livros que eram
diferentes, né?“ Um exemplo lido por ela foi Nosso lar sobre o qual desejou assistir ao filme
de mesmo nome. Citou duas leituras de Paulo Coelho: O Alquimista e o outro sobre o qual
esqueceu o nome. “Já li dois livros dele e não gostei dele ele tem uma linha diferente, não é
bem da minha, é interessante...” Ela descreveu um pouco o que há de diferente em sua
literatura e ela não gostou: ”Eu não sei se é a linguagem dele, mas é a maneira como ele
escreve, pelo menos acho que O Alquimista é assim tipo vai e volta. Ele relata um fato, vai e
volta e outro... Mas eu li e gostei do relato em si. É a maneira como ele coloca. Eu não sei
como fazer essa diferença de explicar.”
Ela leu também O crime do Padre Amaro de Eça de Queiroz e sobre ele fez algunas
comentários contagiantes e bem humorados sobre ele. Ela fez menção dele ter sido
92
mencionado na telenovela Gabriela por meio da personagem que ela acredita ter sido
Malvina. Ela não lembra se a personagem leu ou não, mas houve burburinhos em torno desse
livro. Segundo ela, esse livro foi censurado na sociedade na época em que ela era estudante
secundária. Lembra de sua curiosidade em lê-lo e de te-lo procurado e não encontrado na
biblioteca da escola. Foi encontrá-lo depois dele esquecido em sua memória, em Rondônia,
por acaso, na casa de irmã e sobrinhas, em 2006 ou 2007. “Quando eu pego o livro, sentei e
estou olhando O Crime do Padre Amaro! eu digo: Eu vou olhar, agora é a hora! Aí vi que
realmente era história de um pe. que engravidou uma menina e na época foi uma história
muito interessante”.
Foram experiências demonstrativas de práticas extensivas de leitura. A extensividade leitora
também é apontada na diversidade de temas e modalidades da Srª. Judite, pois gostava de
revista em quadrinho, livros de piada, romances e livros religiosos, entre outros. Também pela
seletividade feita pela narradora/leitora Maria da Purificação: “Já fiz assinatura de Época e de
outras revistas, mas eu só lia assim o que mais me chamasse atenção, algumas reportagens...,
mas não era fanática nesse negócio de pegar e ler
toda a
revista” ou ainda quando
selecionava suas leituras pelas capas dos livros.
A depender das escolhas individuais, as combinações foram várias, intercalando com hábitos
intensivos e extensivos de leitura e escolhas a partir de tema, autoria ou capa, ora em nome do
conhecimento – motivo bastante citado –, ora para a distração.
Gosto muito de ler à noite antes de dormir, quando o livro é meu, gosto de ler
marcando com o marcador, mas como eu leio muito livro emprestado... Mas só os
meus eu gosto de ler marcando [...]Também escrevo no próprio livro quando é uma
coisa que marca mesmo. Eu gosto de passar assim, às vezes, na agenda eu coloco
algum verso, alguma coisa que me chamou atenção. Eu gosto, é ruim, né?, mas eu
sempre estudei assim. Quando não é seu, é ruim; mas quando é seu, acho que pode, é
bom, né? (risos) Pode ser que estrague o livro, alguma coisa assim. Eu acho bom.
Ah, quando eu acho uma palavra difícil, eu coloco em baixo para depois procurar o
significado. Se você leu e não entendeu, não adiantou, perdeu tempo, você tem que
entender. Quando não entende, volta. Mas tem livro que é chato, né? Você começa e
não consegue terminar. Ah, tem uns assim. (Iristelma) (grifo meu)
O direito de riscar o próprio livro apareceu como transgressão, algo que foi inconveniente,
mas que traduzia o modo preferido de sua leitura. Assim, “é ruim”, mas “é bom”; “acho que
pode”. Houve dúvida, mas ela fazia. Conservações e mudanças em conflito ou a tendência à
93
predominância de uma prática sobre outra mais ou menos confortável e desejada para si
surgem no depoimento da Srª. Iristelma. Uma das atitudes da Srª. Iristelma é reiterada pela
Srª. Mercês – grifar a palavra para ir ao dicionário, justificado por ela “porque eu gosto de
escrever e, às vezes, a gente vai escrever uma frase e coloca uma palavra que não combina
com o sentido que a gente quer dar àquilo.’’ Quanto maior o hábito da leitura, mais
interferências são passíveis de fazer vir nos livros, salvo aquelas pessoas que os sacralizam e
acham tal atitude errada, no entanto as Senhoras Iristelma e Mercês apresentaram-se mais
tranquilas quanto a esse respeito. Apesar da dúvida sentida pela primeira, a outra confirma
essa premissa: “Então eu grifava muito e agora eu grifo menos, porque também estou lendo
menos” (Mercês). Podemos entendê-las à luz do que diz Chartier quando diz que:
(...) o leitor não pode insinuar sua escrita a não ser em espaço em branco do livro. O
objeto impresso lhe impõe sua forma, sua estrutura, seu espaço e não supõe de
maneira alguma sua participação. Se o leitor pretende, mesmo assim, marcar sua
presença no objeto, só pode fazê-lo ocupando (...) quase clandestinamente, os lugares
do livro deixados de lado pela escrita: a contracapa da encadernação, folhas deixadas
em branco, margens do texto etc. (CHARTIER, 2003, p. 41 e 42).
Srª. Iristelma transgredia e ampliava esse gesto, inserindo em suas práticas leitoras a leitura na
cama para o seu deleite e, supostamente, numa leitura silenciosa, certamente não para atender
a objetivos escolares do conhecimento, mas para atender a sua total liberdade, o mesmo
quanto a Srª. Mercês.
“O fato de a maioria dos países desenvolvidos terem reconhecido o princípio da leitura livre
como uma verdade irrefutável revela-se, até o momento, como mais um dos recentes ‘triunfos
silenciosos’ da história” (FISCHER, 2006, p.284, 285). Esse reconhecimento resulta em
muito da comunicação, informação e conhecimento ser veiculado pela leitura. Em folhetos e
livros, em bibliotecas, escolas, livrarias, mas também em casas, televisão, salões de beleza,
consultórios, enfim toda parte, tornando inevitável a leitura.
Porque até mesmo um programa que parece não ser bom, uma informação que não vai
ser boa, é bom separar, né? [..] pra gente ficar olhando, lendo e se informando... Em
alguma coisa que tem pra ler eu estou lendo, eu estou querendo ver. E mais: nunca
deixar de ah!, ouvir por ouvir... li, rasguei, joguei fora e passou!? Não, eu guardo. Eu
não perco nenhum [papel] até aqueles que eles dão no dentista, e não sei o que eu li.
Se não vai me servir mais, dobro e não vou jogar fora na rua pra sujar, né? Coisa de
94
cidadão: boto na bolsa e quando chegar em casa, se for pra dispensar, se não for
guarda mais... não é? Mercês
Não significa, porém, que cada pessoa e que todas as narradoras/leitoras desta pesquisa
lessem sobre todos os temas que lhes chegassem em mãos, sem passar por um crivo pessoal
que estivesse atrelado a suas escolhas e gostos, e também referendadas pelo processo de
formação leitora que tiveram e do quanto gostariam, precisavam e desejavam romper com ele.
Sob esse prisma, observou-se, nas narradoras/leitoras, experiências e reações distintas sobre a
proibição ou não de livros e suas reações ao depararem-se com livros cujos conteúdos não
fossem consensualmente aceitos, a exemplo de romances não católicos e de romances mais
sensuais.
Para algumas, a censura leitora direta não existiu porque não havia acesso suficiente a livros
que justificassem tal atitude, pois tinham apenas livros escolares. A narradora/leitora Vanda
lembrou que o único material para ler era “a lição”, e que “não tinha nada de biblioteca” e
complementou a narradora/leitora Maria da Purificação: “na adolescência, a gente não tinha
acesso a livro que fosse impróprio, não”. A despeito de todas as reflexões possíveis, pela falta
de acesso ao livro, havia a segurança sobre o que elas liam, por isso não havia motivos para
serem vigiadas ou censuradas em suas leituras. A exceção de livros didáticos, havia livros do
irmão mais velho. Porém, segundo a Srª. Vanda, não havia “aquela curiosidade de ficar assim
querendo ver as coisas, não” e por isso nem sabia quais eram.
Houve a necessidade por parte das narradoras/leitoras Mercês, Nance e Iristelma justificarem
suas escolhas por leitura quando romances espíritas foram exemplificados. “Minha amiga
levou algum tempo sendo espírita, então ela também trazia livros que eram diferentes. [...],
tem algumas coisas que eu li. É pra gente também entender a maneira de outro escrever”
(Mercês). “Outro dia eu peguei um livro espírita que por sinal não é o meu lado. Por sinal eu
gostei, não ficou falando dos espíritas, tratou de uma história bonita de amor, aí eu achei até
bonita” (Nance). “Gosto dos livros de Zíbia. Eu perguntei a Dindinho [padrinho católico
fundador do CECREMAM], mas ele disse que é espírita. [...] Eu gosto dos livros de Zíbia, eu
adoro, eu ainda não achei livro dela ruim. Não tem a ver com a minha religião, né?”
(Iristelma).
95
Foi imprescindível a todas que os citaram explicar os motivos de terem realizado essas
leituras. “Entender a maneira de outro escrever” foi para a Srª. Mercês justificativa plausível,
dada sua condição de escritora. O exemplar lido pela Srª. Nance “tratou de uma história bonita
de amor” que era um de seus temas favoritos. E no caso da Srª. Iristelma, que relatou ter
comentado sua leitura com outro católico, em seu caso “Dindinho”, que por sua vez, pareceu
indicar recusa ou cautela. Elas também reafirmaram seu catolicismo, mesmo quando as
declarações vieram com a afirmação de terem gostado do enredo, do estilo ou da questão: “e
se de repente for verdade?” (Iristelma). São comportamentos quase confessionais, e o fato de
serem católicas as influenciou nessas atitudes, independente de suas gerações.
No entanto, outras experiências surgem. Em destaque seguem transcrições mais longas, no
entanto pertinentes das narrarrativas das narradoras/leitoras Judite, Nance e Terezinha:
Uma vez uma criatura me deu o livro de coisas indecentes. Eu comecei a ler e vi que
não era coisa boa e que ela só me deu pra ler por maldade mesmo. [...] Eram palavras
de homem e mulher, aquelas coisas assim de sexo. Eu não entendia nada, nada. Eu
tinha uns 14 anos e já tava quase paquerando, mas eu não quis ler. Assustei [...] Eu
guardei esse livro em baixo do colchão e fiquei com medo, quase que não dormia de
noite, pensando que se alguém pegasse e no outro dia falasse com meu pai e com
minha mãe... era muito medo mesmo! [...] Olha, no outro dia eu entreguei e fiquei
livre! [...] Quando eu sabia que uma coisa não podia, eu não fazia porque eu tinha
medo de fazer e alguém contar. O medo impedia, eu não sei se era medo ou se era
respeito, eu não sabia o que era. (Judite) (grifo meu)
Uma vez me foi ofertado um livro de Jorge Amado: Dona Flor e seus Dois Maridos.
Eu comecei a ler e desisti. Aquilo não é tipo de leitura, eu não gosto. Embora quando
eu comentei que não gostei, as pessoas: ah!, se você ler todo, você vai gostar. Eu disse
que não é o tipo de leitura que vai me agradar, aí dei pra outra pessoa e nem sei. As
pornografias, as coisas dele, eu não gostei. (Nance) (grifo meu)
Havia proibição, porque nem todo livro a gente pega pra ler. Porque às vezes tinha um
livro que não era pra gente ler e a gente não podia pegar. [...]. Continuou a proibição,
sim, mesmo depois de moça. Às vezes tinha um livro lá guardado na casa de minha vó
e eu era muito miúda, então eu ia pegar pra ver. Depois eu ouvia: deixe esse livro lá,
não pegue nesse livro não! (risos). Então não era coisa boa, se ela proibia! Isso não
acontecia sempre. Era só curiosidade, ficava curiosa naquela hora, mas depois
passava. Naquele tempo as crianças e até adolescentes não eram como hoje em dia. Se
uma vó reclamasse, a gente obedecia igual a mãe. [...] Não tinha questionamentos.
Tinha leitura proibida, mas não sei quais eram, não conseguia nem ver a capa!
(Terezinha) (grifo meu)
Julgar o teor das leituras como “coisa indecente”, “pornográfica” e como algo que “não era
coisa boa” fez parte de um processo de construção a posteriori em relação a quando tais fatos
sucederam. Foram expressões usadas em 2010 sobre experiências vividas por elas em tenra
96
idade, e que não seriam elencadas no tempo real ao fato, porque o julgamento que essas
expressões reproduziram foram frutos de um aprendizado ao longo da vida, sob várias
interferências. Quer dizer que, apesar da intuição ou saber daquelas leituras terem algo de
pecaminoso, serem um erro, e do medo em torno do ato de ler tais coisas, outras expressões
surgiriam. E até mesmo opiniões poderiam ser outras, se a inquirição a respeito se desse no
momento real e/ou em outros contextos de interlocução. Afora isso, também os sentimentos
causados sob aquelas leituras e sob a curiosidade perante elas foram, no momento das
entrevistas narrativas, construções da memória em meio a valores e referências
contemporâneos e desenvolvidos ao longo do tempo, e não estagnados numa data.
As narradoras/leitoras Judite, Nance e Terezinha haviam falado sobre o pouco acesso a livros
em que viveram, no entanto tiveram a oportunidade de ler livros não escolares e não
religiosos e, a depender do tema, não o fizeram. Srª. Judite recusou-se, por medo de alguma
punição, por ser “indecente” e por julgar “maldade” de quem lhe emprestou, induzindo-a a ler
narrativas sobre sexo. Sra. Nance recusou a leitura de Jorge Amado, por ser “pornográfico”.
Srª. Terezinha foi proibida de ler um livro ignorado por ela, pois não soube qual foi, e não
teve acesso sequer à capa, apenas teve o alerta e a advertência da avó, ao suspeitar do risco de
leitura, mas a censura foi aceita como obediência à curiosidade “engolida”.
A falta de curiosidade, muitas vezes atrelada à obediência aos mais velhos, e o respeito,
atrelado ao medo, levaram-nas à autocensura, reprimindo a si próprias e a suas leituras. Foi o
que aconteceu com essas três, que preferiram atender a uma demanda de censura à leitura de
romances.
Imaginava-se que elas [mulheres] eram governadas pela imaginação e inclinadas ao
prazer e, como não tinham ocupações sólidas, nada as afastaria das desordens do
corpo, que são as piores. Muitas caricaturas associavam infidelidade e leitura[...]
Mulheres leitoras eram um perigo (ABREU, 2006, p.102 e 103).
O perigo estivera muito associado à leitura de romances que haviam conquistado o público
feminino. Temiam que as mulheres se desvirtuassem e esquecessem sua função no lar como
filha e esposa.
97
Convém não esquecer que a emergência da família burguesa [Brasil, séc. XIX], ao
reforçar no imaginário a importância no amor familiar e do cuidado com maridos e
com filhos, redefine o papel feminino e ao mesmo tempo reserva para a mulher novas
e absorventes atividades no interior do espaço doméstico. Percebe-se o endosso desse
papel por parte dos meios médicos, educativos e da imprensa na formulação de uma
série de propostas que visavam ‘‘educar’’ a mulher para o papel de guardiã do lar e da
família[...]. (D’INCAO, Maria, 2008, p.230)
Os papéis da mulher como supervisora da casa e responsável e guardiã do bem-estar da
família e da educação dos filhos foram valorizados e estimulados para que ela se comportasse
atendendo a esses anseios e fosse educada visando a sair-se bem diante desses objetivos.
Nessa intenção, o ócio feminino foi condenado porque ela precisava se ocupar de tarefas
domésticas ou estar em formação para isso, mesmo quando estivesse fora de casa, a exemplo
da escola. Saber fazer as atividades domésticas e casar era o objetivo da família para a jovem
mulher da casa, ainda que não fosse sempre um consenso exatamente, como no caso da Srª.
Nance. Ao final, era o comum a sobrevir:
Eu aprendi a bordar logo, desde cedo, no convento [...] Eu, quando em casa, quando
não estava estudando, eu estava fazendo os trabalhos domésticos, costurando,
bordando... Ela [a madrasta depois que Sra. Nance voltou a morar com o pai] só me
maltratava, às vezes, com palavras, com coisa que eu não ia me formar, que eu não ia
casar, que eu ia viver como empregada dela... aquelas coisas [...] Eu sei que eu não
pude estudar, me tiraram da escola normal [naquela época acontecia logo após a
admissão] e eu só vivia como empregada mesmo e meu pai não percebia [...]. Ela não
foi o tipo de madastra que convenceu não, só teve uma bondade que até hoje eu falo:
me ensinou a fazer as coisas. Me ensinou o que é a vida, por isso hoje eu sou uma
pessoa que estou aceitando tudo e tudo está bom. Isso eu agradeço a ela. [...] Eu fiquei
moça, aí ele [o pai] disse logo isso, casa agora até com doze anos! (Nance)
Por tudo isso, a leitura era vigiada e os romances – novidade em gênero – eram condenados e
vistos como perda de tempo e corruptores do gosto e dos valores morais em voga. Por
exemplo, ao descrever cenas de crime e sedução, independente de serem praticados por
mulheres que as tivessem lido, sua leitura poderia incitar o desejo e oferecer novas visões a
comportamentos considerados indecorosos e deploráveis. Leituras que ensinassem valores
morais e religiosos eram indicados a todos, pela família, Igreja, escola, especialmente às
mulheres, para as quais eram acrescentadas leituras outras que as preparassem para uma
respeitosa e atenciosa vida no lar, dentro das perspectivas e expectativas masculinas.
No entanto houve quem lesse livremente, por conta própria, o que quisesse na adolescência, a
exemplo do romance Sabrina. Contudo a Srª. Mercês inicialmente não lê, mas quando cresce
98
mais um pouco e faz essa leitura sem que seu pai a proíba, tem dúvida a respeito da
consciência dele sobre o teor desse romance. Já a Srª. Iristelma foi probida por sua mãe,
todavia não abriu mão de ler e, para isso, lia escondido em sua cama:
Irá [irmã mais velha] comprava também aqueles romances Sabrina e não sei o quê. Eu
não lia, não, porque era uma leitura muito forte. Eu li Sabrina [depois]. [...] Meu pai
não brigava assim, acho que ele nem ligava.[...] Eu acho que ele nem via o que a gente
estava lendo, mas não era uma coisa assim de censura. Graças a Deus nunca peguei
algum livro que [alguém] dissesse: olhe, isso não pode; olhe, isso não deve. [...]
(Mercês)
Depois de adolescente, já passei para os livros de Sabrina, esses livros assim. Mainha
não gostava da gente ler, não, mas eu lia. Conseguia emprestado. Trocava com as
colegas na escola, a gente trocava muito. Eu e aqueles romances! [suspiro e riso] [...]
Relaxava, coisas de amor! Minha mãe me achava criança pequena para isso. [...]. Eu
tinha doze, treze anos. É livro bom, a gente começava a ler e não queria mais parar.
Lia, guardava em baixo do travesseiro, depois folheava, bom demais! Ela [mãe] não
gostava muito não [...]. Tem um livro que eu tenho vontade de ler, mas eu ainda não
achei para ler - A carne. Acho que é A Carne. Foi proibido esse livro. Eu ainda vou
ler, acho que era esse título do livro. Acho que é um livro mais forte, foi proibido
quando eu era jovem, só ouvia o tititi das colegas, mas eu nunca conseguia ler esse
livro! Vou procurar e ainda vou conseguir ler. Está na minha lista de livros pra ler.
(Iristelma)
O rompimento instituído nas leituras de Sabrina, feitas pelas narradoras/leitoras Iristelma e
Mercês, simbolizou outros cortes conquistados por essas narradoras/leitoras mais novas
impostas à mulher. “A leitura não é apenas uma operação intelectual abstrata : ela é uso do
corpo, inscrição dentro de um espaço, relação consigo mesma ou com os outros” (CAVALLO
& CHARTIER, 2002, p. 08).
Assim, é interessante observar algumas diferenças possíveis de serem inferidas por meio dos
relatos entre gerações, especialmente contrapondo experiências dentre as vivenciadas pelas
Sras. Judite e Iristelma. Contudo, antes de dar prosseguimento a esse comentário, é importante
salientar o uso da palavra geração. A entidade CECREMAM poderia identificar uma única
geração dentre seus 44 anos, ou assim ser entendida ao ser considerada, por exemplo, que
todos os seus participantes, associados ou não, foram contemporâneos entre si. Portanto,
retrataria e (re)significaria experiências de um grupo específico, incluindo-se aí as
narradoras/leitoras dessa pesquisa, Não obstante, desejando retirar a substancialidade que a
expressão geração exprime, nessa dissertação, ela é colocada para tão somente apontar
distinções entre as narradoras/leitoras observáveis internamente em suas diferenças etárias.
99
Sob essa conjectura, foi percebido que a Srª. Judite, com 14 anos de idade, em 1954, guardou
o livro embaixo do colchão para escondê-lo por medo, e quase não dormia à noite. Por sua
vez, a Srª. Iristelma, com 12/13 anos de idade, em 1974/75, guardou-o embaixo do
travesseiro, portanto mais facilmente à mão para lê-lo, “folheá-lo”, e o medo fora, nesse caso,
substituído por relaxamento e pelo desejo de “não parar” a leitura. Soma-se a isso o desejo de
Iristelma em satisfazer uma leitura não realizada, censurada na adolescência e que, por isso,
foi inesquecível.
As narradoras/leitoras Maria da Purificação, Vanda e Judite disseram não lembrar terem sido
tolhidas de fazerem alguma leitura, embora tenham associado isso à falta de livros,
justificando a não censura ou proibição em ler porque os livros dispostos eram os escolares, e
também porque “naquela época” a obediência era maior, a curiosidade era contida e
carregavam isso consigo. Apesar disso, as duas últimas relataram diferenças entre a
permissividade entre homens e mulheres. Vale lembrar que algumas das narradoras/leitoras,
especialmente as mais velhas, viveram muitas experiências de tolhimento à mulher, que
fizeram eco com as reflexões aqui postas sobre a leitura feminina de romances em relação ao
seu entorno social referente às distinções de gênero.
Sobre isso, Srª. Judite declarou: “existia mais coisas proibidas para as meninas do que para os
meninos” [...] “Pra gente sair, tinha que ir com as velhas. Ele [o pai] não gostava que a gente
dançasse e a gente não dançava” e também mais para crianças do que para adultos: “Ele não
gostava que os meninos jogassem bola, pra não se misturar com outros colegas”. Ela lembrou
ainda que ajudava irmãos a saírem de casa escondidos dos pais: “Os meninos pulavam a
janela e eu ficava de vigia, deixava as janelas fechadas e uma outra aberta. Quando os
meninos chegavam, saltavam a janela, entravam e meu pai não via”. A mulher apresenta-se
conivente e colaboradora do sistema masculino.
Vanda lembrou: “a gente nem podia assobiar, senão era moleque macho. Os meninos podiam
assobiar, já que eram homens” e declarou que o pai era muito rígido: “naquela época, sair de
casa, só se fosse casada”, no entanto segundo ela mesma, ela e o marido entenderam a saída
de sua filha solteira, quando lhes informou sobre a decisão de sair de casa, ilustrando
mudanças e entendimentos trazidos com o tempo.
100
Todo esse mundo em que estiveram inseridas, mesmo não se dirigindo especificamente à
leitura, moldaram e direcionaram, em alguma medida, seus gostos, concepções, modos e
temas de leitura. Consequentemente, a autocensura leitora acompanha e coexiste com outras
escolhas na vida, dentro do mesmo parâmetro preconcebido.
As narradoras/leitoras Mercês e Iristelma foram exemplos de pertencimento a outra geração.
Portanto o tempo contemporâneo à adolescência delas se encarregou de somar àqueles outros
discursos novas possiblidades que essas duas captaram, e com os quais se identificaram, ao
ponto de comportarem-se diferentemente de suas “mães”, pois já não cabiam o mesmo rigor e
obediência. Como resultado fizeram leituras sem absterem-se ou punirem-se perante outro
credo ou comportamentos.
3.2 Mesmas leitoras, novas representações
O valor da leitura foi indiscutível entre as narradoras/leitoras, sempre associando-o à
importância do conhecimento e o colocando como motivo para a realização de leituras. Elas
consideraram sua importância algo incondicional e de suma relevância ao desenvolvimento
intelectual e pessoal, conforme defende a narradora/leitora Iristelma: “A leitura em si, eu acho
que é um universo assim diferente, que acrescenta. A leitura sempre vai lhe acrescentar mais e
mais aprendizado”. Observa-se um discurso edificante à leitura, embora simples e sem
aprofundar no tema.
O conhecimento como motivo para leitura evidenciado por elas indicou a visão socializada da
leitura para o conservadorismo, que, por sua vez, esteve muito atuante no viés pedagógico das
instituições aqui contempladas e destacadas. No entanto nem o conservadorismo,
especialmente aceito e adotado em geral pelas mais velhas, característico em tantas ações nas
vidas das narradoras/leitoras que compartilhavam de instituições e da comunidade, nem o
entendimento coletivo da leitura atrelada ao conhecimento significaram unidade sem
distinções nas concepções, representações e práticas experenciadas por e entre elas.
Em contrapartida, outras tantas leituras foram citadas pelas narradoras/leitoras com
tranquilidade, sem o frisson ocasionado pela rememoração do medo ou do desejo perante
101
determinadas leituras. Foi o caso quando falaram de leituras para o entretenimento e a fruição,
como especificamente revistas em quadrinho, piadas, romances românticos, entre outros, bem
como quando trataram da leitura para o conhecimento em geral ou aprendizagens pessoais.
A leitura concebida e associada em prol do conhecimento e do crescimento pessoal pode levar
mais facilmente a classificações estigmatizadas e maniqueístas sobre ela e/ou sobre os
leitores. Também por isso nem todas se sentiram à vontade para realizar leituras em suas
vidas ou em fases dela sobre quaisquer temas indiscriminadamente, por exemplo, ‘leituras
picantes’. Essa resistência é reforçada historicamente pelas instituições Igreja, família e
outras, que procuravam classificar o conteúdo das leituras, indicando e distinguindo entre
“boas” e “más”:
[...] os poderes, fossem eles civis ou eclesiásticos, senhoriais ou coloniais,
monárquicos ou republicanos, revolucionários ou contra-revolucionários, paroquiais
ou familiares, sempre tiveram consciência de que a relação do leitor com o texto tinha
qualquer coisa de incontrolável e sempre defenderam a idéia de que existem boas e
más leituras, boas e más interpretações dos textos, dos livros, das imagens, dos
discursos, do teatro, dos filmes. (BELO, 2002, p. 55 e 56)
Sob essa opinião, apontavam resquícios cristalizados a partir da sua formação, como os
informados pelas Sras. Nance e Judite. A narradora/leitora Nance associou boa leitura às boas
escolhas: “Leitura é você ler alguma coisa importante. Ler um livro bom” que para ela, por
exemplo, não seriam “pornografias de Jorge Amado”, mas “lindas histórias de amor”. A
narradora/leitora Judite classificou o modo de expor oralmente a leitura e pensou no domínio
do código escrito e na leitura ideal enquanto aquela que não faltassem “os erres e esses”, a
sílaba, o ponto, que não “engula a pontução”, e completou: “você não sabe onde está vírgula,
não sabe nada”. A opinião da Srª. Nance reproduziu seu gosto pessoal que, por sua vez, fez
eco com o que fora construído historicamente, ajustando a leitura a um molde normativo
preconcebido.
No entanto, a narradora/leitora Iristelma afirmou que não há leituras ruins, pois as leituras
acontecem de acordo com o gosto de cada leitor. Todavia também alertou para a necessidade
das pessoas fazerem escolhas que lhes acrescentassem algo “que lhe trouxesse ensinamentos
para o seu dia a dia e melhora como pessoa”, porque “aprende-se com a experiência do outro
ou com aquela leitura”. A narradora/leitora Vanda refletiu nesse aspecto mais sobre o leitor do
102
que sobre a leitura, associou a necessidade de ser inteligente para ser bom leitor e disse:
“quando ouço a palavra leitores acho que é uma pessoa inteligente, muito inteligente que sabe
se expressar bem. O leitor, eu acho que é isso.”
Observa-se acima falas contaminadas pela ideia do livro e leitura sacralizados, ainda assim
não há nesta pesquisa o julgamento de haver opiniões e entendimentos errados ou indevidos,
acertados ou equivocados em nenhuma das narradoras/leitoras, em nenhum momento, pois
“não há obras boas e ruins em definitivo. O que há são escolhas e poder daqueles que o
fazem. Literatura não é apenas uma questão de gosto: é uma questão política” (ABREU, 2006,
p.12). Classificar as obras como boas ou más e também leitores e interpretações, que, por
extensão, não devem ser tratados nessa visão simplista e reducionista, acarreta a censura e
implica em representações e concepções mais engessadas a respeito disso. São escolhas de
posicionamento e classificação a partir dos próprios critérios que passam por vertentes
também subjetivas e sujeitas à construção histórico-cultural.
Apesar da ecleticidade leitora referente a opiniões e interesses entre elas, as
narradoras/leitoras Vanda e Terezinha, no início do encontro para a entrevista narrativa,
acusaram-se no interior do “discurso da ausência da leitura” (ABREU, 2001) ao temerem o
que dizer e julgarem-se equivocadamente como não leitoras: Srª. Vanda, por afirmar não ler, e
Srª. Terezinha, ao assumir ler as revistas de moda e, a princípio, não reconhecer nesse ato
leituras.
Essa reação converge com reações de outras mulheres entrevistadas por Anne-Marie Thiesse
na França e por Lyons e Taksa em Sidney (LYONS, 1998): “Elas renegavam sua própria
competência cultural”. Segundo Lyons, elas aceitavam as opiniões que defendiam que as
mulheres eram “intelectualmente inferiores e de pouca leitura” ao ponto de qualificarem suas
leituras de ficção como “ ‘lixo’ ou ‘baboseira’ ”.
Apesar da insegurança demonstrada no início de suas narrativas, no decorrer do processo
foram sentindo-se mais à vontade e reconhecendo suas leituras enquanto leituras de fato e de
direito, especialmente na ordem do religioso e, no caso da Srª. Terezinha, também em relação
ao seu trabalho como costureira, mostrando, ao longo das narrativas, superação em relação a
imagens leitoras preconcebidas. Apesar dessa superação, faz sentido tentar entender os
motivos dessa reação inicial.
103
Las lecturas poco legítimas, las que no son literárias, las que están al servicio de otras
actividades, las lecturas cortas o discontinuas y/o documentales y/o informativas son
totalmente omitidas por los encuestados si no se toma la preocupación de redactar
preguntas que apunten a este fin. Lo que hace que estas prácticas sean imperceptibles
y no recordables como “verdaderas prácticas de lectura” es lo que las transforma en
no declarables en las encuestas. (LAHIRE, 2004, p. 171)
Uma das explicações, portanto, para essa insegurança estaria na própria entrevista narrativa
para fins acadêmicos que, para elas, poderia resultar no confronto e na perpetuação de alguns
tabus. Ou seja, se por um lado essa situação pode levar a “respostas” supostamente desejadas
pelo entrevistador aos olhos do entrevistado, por outro lado pode-se levar à minimização dos
seus atos leitores por vergonha, nervosismo ou medo de ser flagrado em uma “mentira”. Na
internalização dessa visão, que pode ser inconsciente, torna-se “mais garantido” dizer-se não
leitor.
Além disso, foi naturalmente necessário tempo para adaptar-se aos recursos
audiovisuais presentes – gravador e filmadora.
Iniciar o processo narrativo estimulando as memorizações da época da escola e não encerrar,
obviamente, a entrevista narrativa mediante a primeira negação leitora oportunizaram, no
decorrer do encontro, a confiabilidade necessária para expressarem-se e, assim, propiciaram
uma melhor consideração sobre as práticas de leitura das narradoras/leitoras, revelando as
descobertas das leituras didáticas, em vista da garantia de que haviam feito tais leituras, pois
previamente se sabia que todas estudaram as séries iniciais.
Outra explicação, contudo, à demonstração desse sentimento pode ser seu entendimento como
fruto de um discurso que atravessa gerações no Brasil, colocando como base o cenário
europeu sob a ótica de viajantes seus para o Brasil a partir de relatos/denúncias sobre
brasileiros, como Luccock, no início do século XIX, influenciando opiniões de escritores e
intelectuais que sedimentam a ideia da ausência da leitura no Brasil, conforme exemplifica
Abreu (2001).
É um discurso que ainda vinga, constrange e afeta a forma de ver-se enquanto leitor. Ele está
presente também na escola, na mídia, na boca do povo e, consequentemente, requer um
investimento maior também de ordem pessoal para derrubar esse mito, pois atinge
negativamente nas representações das leituras em geral e de si mesmo. “A leitura mítica nos
cega para as práticas de leituras cotidianas” (ABREU, 2001, p.152). O obstáculo em romper
104
com esse mito mais a obrigatoriedade enquanto dona de casa e mulher, de cumprir
determinadas funções e tarefas que muito lhes exigiam, dificultaram verem-se ou serem vistas
como alguém em que basta a “admissão” e, consequentemente, comprometeu, em dado
momento, a visão de si enquanto leitoras. Assim, não poderiam suas revistas de costura serem
vistas como leituras.16
No entanto o desenvolvimento da leitura, depende do quanto cada um se debruça para esse
fim, embora também “condicionado aos processos sociais, produzindo sentidos e se inserindo
em uma dinâmica social na qual o leitor tem um lugar e uma referência de si, do outro e do
mundo que o circunda” (CORDEIRO, 2008, p.197). Assim os encaminhamentos adotados
por cada uma em relação à leitura em suas vidas e a percepção e a representação que
reproduziram de si e da leitura diziam respeito aos investimentos feitos e sentidos, que foram
oriundos do confronto entre diversos olhares e concepções sociais e individuais.
Portanto, também foram atitudes condicionadas aos processos sociais experimentados,
sentidos e reagidos por cada sujeito: rompimentos gradativos às concepções aprendidas,
aceitas e acomodadas internamente; (não) investir-se, investir-se menos do que sua
capacidade. “Las prácticas de lectura o de escritura, al igual que otros comportamientos
sociales, no pueden seperarse del contexto en el que se desarrollan” (POULAIN, 2004, p.45).
As atitudes das narradoras/leitoras quando desprovidas de preconceito também se aplicam
aqui, quando
se tratou da assiduidade leitora a temas diversos, independente de sua
quantidade, bem como quando assumiram a postura de escritoras como as Sras. Nance e
Mercês.
As narradoras/leitoras Iristelma, Nance, Mercês, Judite e Maria da Purificação foram assíduas
em um leque maior de leituras diferentes, enquanto as narradoras/leitoras Vanda e Terezinha
foram assíduas dentro de um recorte temático. No entanto, elas têm um quadro comum de
leitura: livros didáticos, livros religiosos católicos, os livros e materialidades afins do
CECREMAM.
16
“Teste de admissão” foi um exame em que estudantes que estavam no final do “primário”, equivalente ao
Ensino Fundamental I, eram submetidos e se aprovados estariam aptos a cursar o “ginásio”, equivalente ao
Ensino Fundamental II. Todas as narradoras/leitoras foram contemporâneas desse recurso.
105
Aqui do CECREMAM mesmo eu já li muitos livros religiosos, são mais religiosos e
revistas que seu Antônio traz, revista que eu recebo. Eu já li muitos livros. Agora, para
eu lhe dizer os texto, eu não lembro assim pra lhe dar. Teve também um de poesia que
até como Mercês e o padre que agora é faleceu a poucos dias, padre Antonio
Elias[referência a Pórtico Poético]. Tem livro de Santa Rita de poesias [referência a
Santa Rita na Lira dos Poetas] e aquele livro outro Conselhos de Santa Rita. (Judite)
Eu lembro do [livro] de Tonho[irmão mais velho,fundador do CECREMAM], acho
que tinha Mercês livro com ambos é Pórtico Poético]. Acho que teve mais alguém
que lançou livro, eu só não estou lembrada quem. (Vanda)
...Ah, sim!, Flores-Trovas a Maria..[...] E aqui foi uma coletânea que o CECREMAM
organizou com alguns autores[ela mostra ambos, o segundo é Pórtico Poético].
(Nance)
Foram citados do Centro Cultural materiais impressos diversos. Dentre eles o livro Pórtico
Poético recebeu destaque, talvez por agregar valores em torno do seu contexto de produção.
Quer dizer, ter cunho mais profissional, inclusive se for usado como parâmetro o fato de haver
ficha catalográfica, ser livro de poemas, haver poemas de cecremanos, ou ainda por ter sido o
último livro lançado pelo Centro Cultural, embora há cerca de 15 anos. O lançamento
aconteceu em meio a um evento que chamava mais atenção, como o caso dos Encontros de
Poetas.
De Civilidade para Pórtico Poético também houve transformações evidentes. Enquanto o
primeiro teve um caráter estritamente formador de comportamento e não foi produto do
CECREMAM, o segundo foi um livro de poemas organizado pelo Centro Cultural em que
houve a presença de estilos diferenciados, cujos autores não faziam parte do que seria
considerado canônico na literatura. Segundo Srª. Mercês:
Foram convidadas pessoas que gostam de poesia, que gostam de Literatura, que
tivessem alguma coisa pra dizer, que tivessem alguma coisa pra mostrar, aquele
sentimento... aquelas coisas. Reuniu algumas pessoas que ele [professor Antônio]
conhecia e outros que a gente também conhecia, então foi uma forma de idealizar, de
integrar outra maneira do outro escrever e do outro fazer.
Os autores dessa coletânea de poemas foram de idades, escolaridades, profissões e
naturalidades diferentes. Entre eles, a cecremana entrevistada Maria Mercês que, em sua
narrativa, descreveu assim a poesia: “a poesia está no dia a dia, a poesia está em tudo,
106
entendeu? Mesmo que seja meio forte ou meio revoltada, você está ali expressando um
sentimento e eu acho que poesia é isso. Você dá àquela visão um sentimento (risos).” 17
Srª. Maria Mercês contou sobre aspectos do processo de divulgação e financiamento desse
livro:
[...] diante da dificuldade que se é pra publicar um livro, houve uma campanha que
nós fizemos aqui também com o professor [fundador CECREMAM] e os que
participaram [do livro]. [...] Foi dividido pra gente ir pagando a impressão, a digitação
e essas coisas todas, porque mesmo a Universidade [UEFS] ajudando, tem outras
coisas. [...] Assim foi feito um folhetozinho [...]pra ajudar no custo da publicação do
livro. [...] Os folhetos eram pequenos, margeados com bordas vermelhas. As pessoas
recebiam um grupinho daqueles folhetinhos e de cada um autor [...] cada um [poeta
do livro] teve o seu em quantidades iguais pra distribuir, cada um tinha de se virar,
entendeu? [...]em função da publicação do livro. [...] Éh! de centavinho, em
centavinho, um ajudava mais, outro ajudava menos, mas a união, sabe, né?, faz
crescer. [...] Dessa forma também foi uma maneira de divulgar boca a boca, pois ao
distribuir os folhetos ou ao pedir colaboração para esse folheto, a gente ia falando: tal
dia vai ter o lançamento e eu aviso a vocês. [...] Então isso ajudou a divulgar mais,
porque a gente não teve, assim, um apoio da imprensa ou de um outro jornal pra
divulgar ou uma emissora de rádio, não teve. Eu acho até que seria mais interessante e
mais forte, mas isso não deixou que acontecesse, mas ajudaria, vamos dizer assim, né?
[...] embora o boca a boca ainda seja arte mais fácil e mais barata [risos].
Assim, o livro foi produzido pelo CECREMAM de forma autônoma, independente em quase
todas as etapas e, posteriormente, contou com o auxílio da gráfica da UEFS para a reprodução
do material já pronto. Sua capa foi uma foto, sugerida pelo seu fundador, do portal de entrada
no interior da prefeitura de Feira de Santana, escolhido por causa da sua beleza arquitetônica.
Sobre isso, disse ainda a narradora/leitora, e também escritora, Mercês:
O nome Pórtico Poético foi sugerido pelo seu Antônio [fundador do CECREMAM]
que falou sobre Pórtico, então seria uma entrada para os novos poetas, digamos assim,
na maneira de mostrar o seu trabalho [...]. Ele lembrou que o pórtico da prefeitura não
17
Autores da coletânea Pórtico Poético: A Sra. Maria Conceição Drumonnd Alves e o Sr. Nilton Geraldo Vieira,
ambos de Minas Gerais. Os Senhores Antônio Elias dos Santos, já falecido, que era padre da Paróquia Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro no bairro do Tomba, em Feira de Santana; Ilário de Azevedo, também falecido, e
professor Antônio Ramos da Silva, fundador do CECREMAM, ambos da Academia de Letras de Feira de
Santana. Os jovens Bruno Fabrício de Almeida da Silva, de Salvador, que na época era estudante de Letras da
Universidade Federal da Bahia – UFBA; Flávio Antônio Alves de Lima, de Salvador, apresentado por seu
amigo Geovane Satorno, que auxiliou em organizações do CECREMAM, comemorativas ao Bicentenário de
Nascimento de Maria Quitéria – época em que o referido livro fora idealizado. Hosanah Costa Araújo,
comerciante da extinta livraria Mirim em Feira de Santana.
107
é visto pelas pessoas porque nem todo mundo entra na prefeitura. [...] usando o
“pórtico” da Prefeitura e “poético” em relação aos que estavam fazendo parte dele. Foi
sugerido e todo mundo aceitou, né?
O livro Pórtico Poético foi completamente repassado, sendo por venda ou oferta, e cerca de
10 livros foram entregues para cada um dos seus autores. A comunidade em questão e os
cecremanos tiveram acesso ao livro, tenha sido pela compra, pelo empréstimo ou pela audição
de muitos dos poemas ali presentes, ocorrida quando do seu lançamento. Dessa forma, houve
o “consumo cultural” do que foi fabricado no próprio grupo, contrariando as “perspectivas
que consideram os consumos culturais como forma de “produção” que, certamente, não
fabrica objetos” (CHARTIER, 2007, p. 31).
A narradora/leitora/escritora Mercês não apenas participou de Pórtico Poético, mas também
do livro Poetas Feirenses. Uma coletânea, tendo sido, segundo ela própria informou, “uma
ação conjunta da Rádio Nordeste FM, acho que a Rádio Subaé e o Jornal Feira Hoje” na
década de 1990. As narradoras/leitoras Iristelma e Nance também não devem ser preteridas
dessa terceira categoria, quer dizer, escritoras, embora sem livros lançados. A primeira, com o
hábito de ler escrevendo em agendas, no interior do livro lido, inserindo suas opiniões,
dúvidas ou reescrevendo o que mais tenha chamado sua atenção. A segunda, também
produtora textual de poemas e mensagens diversas em prosa, ao organizar seus cadernos,
álbuns e classificadores. Srª. Nance falou, entre sorrisos, sobre o desejo de escrever um livro
sobre sua vida. Ela possuia a prática de escrever poemas e mensagens sobre e para seus filhos,
netos, noras, amigos, demais parentes, situações do seu cotidiano, às vezes, atendendo o
pedido de alguém para que escrevesse algo em casamento ou aniversário, por exemplo.
Logo, é possível inferir, com base nas falas ao longo deste capítulo, que a escola cumpriu
papel importante na inserção delas na leitura. Foi o local principal do processo de
alfabetização e do contato com os livros, embora basicamente didáticos, pois nas famílias da
maioria delas o livro foi um bem escasso. “Em nossa cultura, quanto mais abrangente a
concepção de mundo e de vida, mais intensamente se lê, numa espiral quase sem fim, que
pode e deve começar na escola, mas não pode (nem costuma) encerrar-se nela” (LAJOLO,
Marisa, 2000, p.7). Do mesmo modo as entrevistadas não liam apenas na escola e na ausência
dela não puseram fim a essa prática, apesar de terem tido os sonhos de ampliação dos estudos
ceifados pela vida. As relações interpessoais e pessoais versus instituicionais foram
108
importantes no desenvolvimento e no avanço que elas tiveram, na inserção e prosseguimento
da leitura, independente se no viés intensivo ou extensivo, aqui apresentadas sobretudo em
categorias familiares, profissionais e comunitárias em torno do CECREMAM, da família e da
escola.
Independente das características formadoras e formais presentes nessas instâncias e ainda que
tenha havido declarações ou expressões minimizadoras desse efeito e por, em dado momento,
algumas não terem se considerado com segurança como leituras e suas leituras como leituras,
elas tiveram um ponto de partida. As práticas de leitura envolveram aspectos sociais e
históricos do indivíduo e, por isso, igreja, família, escola, associações, a exemplo do
CECREMAM, exerceram influência, embora tais práticas superassem o espaço, a dominação
e a determinação dessas instituições e tivesse sido impossível a essas instituições controlar
totalmente as escolhas e os modos de leitura de cada indivíduo dentro do arcabouço
sacrossanto.
Portanto, a tutela, a vigilância e a guarda ou determinados encaminhamentos e diretrizes para
a leitura dessas naturezas não asseguram total controle do(a) leitor(a), porque, além destas e
de outras instituições, houve pessoas, como as colegas da escola, para estimular e trocar
Sabrina ou, a exemplo de Srª. Judite, que segundo ela própria, descendentes suas leram livros
que ela recusou por seu teor. Dessa maneira, ao longo da vida de cada uma, direta e
indiretamente pessoas exerceram influências dentro de perspectivas e expectativas, sobretudo
pessoais, ocorridas nas escolhas de leitura.
Por meio do acesso às opções existentes, das necessidades, imposições e transgressões, as
escolhas foram feitas, bem como reflexões foram acontecendo sobre instituições e pessoas
influenciáveis até dado momento. As instituições, as entidades, as pessoas, as práticas e os
modos em um período da vida não estão fadados ipsis litteris a serem os da vida inteira ou da
mesma forma a vida inteira, e os leitores, mesmo pertencentes ao mesmo grupo, mesma
“geração”, são leitores diferentes, compondo histórias diferentes.
Para tudo isso ser alcançado nesta pesquisa, foi importante e necessário ouvir suas histórias e
perceber que, embora sejam do mesmo gênero e compartilhem ou tenham compartilhado do
mesmo Centro Cultural,
tenham em geral a mesma profissão e pertençam à mesma
comunidade ou com ela se relacione, também, mesmo quando revelam características
109
escolares e nível de escolaridade próximos, há distinções entre gerações, e no interior de cada
geração as diferenças continuam. Nem sempre as diferenças apareceram, contudo cada leitora
e cada leitura são únicas.
110
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Basear este trabalho de pesquisa em pressupostos da História Cultural e da Sociologia da
Leitura demonstrou ser mais um estudo sobre a leitura. Possibilitou reconhecer representações
e a diversidade que constituíram a vida de sete mulheres pertencentes ao Centro Cultural
Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques, além de valer-se das reflexões sobre a
leitura e suas práticas, no que concerne aos espaços e redes de socialização em que elas
aconteceram, segundo vivências dessas sete mulheres que teceram narrativamente suas
leituras.
Portanto foi uma pesquisa importante para o fortalecimento dos estudos sobre a leitura e
histórias de leitura, especialmente por ter contemplado leitoras populares comuns, costureiras
em sua maioria e algumas também bordadeiras, tornando visivéis leitoras à margem dos dados
oficiais. Leitoras que censuravam a si mesmas, leitoras que transgrediam a censura de outrem.
Também estudos sobre narrativas cooperaram para o melhor entendimento sobre o dito e o
não dito, memória e temporalidade, o revelado e o silenciado, enfim, subjetividades humanas,
sobre o objeto de pesquisa e pesquisadora juntos no tempo presente, especificando o
tratamento dado aos sujeitos da pesquisa na metodologia escolhida.
Vale ressaltar ainda que as subjetividades que marcaram a construção desse estudo
intercalaram vozes desdobradas em processos narrativos e pessoais diretamente implicados na
pesquisa, marcados por atos de escolha. Escolhas por um tema de pesquisa, por sujeitos e, por
outro lado, a escolha das entrevistadas do que seria contado especificamente sobre o tema e
do como seria narrado que, por sua vez, geraram novas escolhas subjetivas para o viés das
análises feitas. O ato de escolha implica em rupturas presentes no processo de (re)construção
dentro do arcabouço que perpassou na dinâmica da ordem do pessoal, coexistindo em ambos
os lados da pesquisa, ou seja, pesquisadora e entrevistadas, a partir de uma demanda de
expectativas natural de existir.
Sujeito e experiência também (re)apareceram dentro de uma nova visão da narrativa – na
relação entre as narradoras e as suas realidades narradas, especialmente suas realidades
leitoras. Ao contarem sobre fatos de suas vidas, lembrando seus pais, irmãos, escola, infância
111
e juventude, casamento, retomaram as dificuldades vividas, geralmente de ordem
socioeconômica, especialmente na infância e juventude, bem como outras, de caráter mais
pessoal, que dificultaram a continuação dos estudos e intrinsicamente relacionaram-se a suas
formações leitoras.
Esta pesquisa referendou histórias de leitura, escutando e apresentando formas das
entrevistadas narrarem a si mesmas, seu lugar social enquanto filhas, irmãs, vizinhas, donas
de casa, religiosas, cecremanas, esposas, mães, mulheres e representações dessa rede de
relações. Nas representações que construíram, apesar das aproximações marcantes, houve
diversidades entre elas, principalmente observáveis pelas faixas etárias distintas, que,
associadas a outros fatores sociais, econômicos e culturais, fizeram com que algumas delas
nem sempre tivessem se percebido como leitoras, enquanto outras, por sua vez, se
reconhecessem para além de leitoras, escritoras.
Temas, gostos, necessidades e hábitos conferiram a elas possibilidades de inúmeras práticas
de leitura, dando-lhes o direito de desistir, de reler, de dormir, de desejar ou não a leitura.
Leitoras ouvintes, leitoras orais, leitoras silenciosas, leitoras escritoras, escritoras ocasionais
ou frequentes. Duvidar-se como leitora, aceitar-se como leitora, ver-se como leitora.
Antes filhas e alunas envoltas em uma gama de dificuldades, que em determinados momentos
e circunstâncias as podaram, limitaram e frustraram. Depois, mães e profissionais em casa
e/ou fora. Conservação e rompimentos a partir do que liam e como liam e por que liam
apontaram possibilidades de convivência, afinidades, equalizações e distinções entre o
conservador e o moderno em suas práticas leitoras, em suas vidas, em seu legado.
Percebeu-se em gradações diferentes que, assim como as práticas e intenções de leitura, o
leitor, ou especificamente, as leitoras mudaram ao longo de suas vidas, a despeito do caráter
rígido característico em seu processo formador enquanto leitoras. Enfim, houve avanços em
suas caminhadas como leitoras que foram: a) Seja no ato da leitura, na diversidade de temas e
de autores que agregaram a outras leituras, de livros didáticos a não didáticos, de leituras
religiosas a não religiosas, de textos não literários a literários; b) seja no entendimento de si
enquanto leitoras, independente de uma intelectualidade idealizada e imposta em uma
composição de imagem de leitor, embora duas tenham demonstrado insegurança quanto a isso
no início de suas narrativas; c) seja no fato de transgredir a materialidade livro, riscando-o ou
112
cortando-o d) seja por habituar-se a escrever mensagens e/ou poemas quando inicialmente
eram copistas.
Nas histórias de leitura, os livros e os impressos em geral ganharam visibilidade nas
narrativas, mas eles não falaram por si sós. Todo o aparato em torno falou também: a) a
materialidade e o suporte, a apresentação do livro; b) as condições internas e externas ao ato
de ler, fossem aspectos cognitivos e emocionais, fossem aspectos sociais, culturais; c) e ainda
locais (igreja, escola, família; cama, sofá, cadeira, em baixo de árvore) e motivos
(conhecimento, entretenimento ou outros) que as levaram à leitura.
Da mesma forma, a visibilidade comumente posta no conhecimento como finalidade principal
da leitura concordou com as narradoras/leitoras, pois o conhecimento foi motivo destacado
por elas para a leitura, no entanto ele não se apresentou como única finalidade possível e
válida. Entretenimento e prazer também apareceram. Em meio a motivações para a leitura,
elas foram apresentando-se em ressonância com modos e lugares, afinal Sabrina, por
exemplo, não fora lida nos bancos escolares em voz alta na presença da professora. Houve
desdobramentos para além desse Centro Cultural, no que diz respeito a aspectos formativos e
a práticas leitoras.
Mesma sociedade, mesma comunidade e instituições e agremiações implicadas em suas vidas,
enfim, grupos sociais com valores e ensinamentos homogeinizantes enredados no
conservadorismo e na leitura atrelada ao conhecimento não impediram distinções. Houve
diversidades em meio a ambientes cujas vozes foram uníssonas.
Assim, embora elas conservassem valores, conceitos e imagens idealizadas e aprendidas sobre
a leitura, sacralizando-a especialmente na escola e no CECREMAM, ao mesmo tempo
algumas conseguiram superar outros valores e imagens sobre a leitura. Por outro lado, o
Centro Cultural, conservador, dessacralizava a leitura, ao sugerir que elas acontecessem e que
podiam ocorrer ao ar livre, embaixo de árvores, em outras materialidades afora o livro, como
em canecas e camisas, entre outros. Esse tipo de dessacralização da leitura não é inaugural ao
Centro, já ocorria no século XIX. No entanto, independente disso, ele contribuiu para o
ingresso e o hábito da leitura, representando o acesso a um capital simbólico representativo
em uma cultura livresca.
113
Por tudo isso, o leitor que somos está em frequente (re)construção ao longo dos séculos e no
decorrer de cada biografia. Dessa forma essa pesquisa apresentou-se como superação e
aprendizagem, e assim o trajeto se preencheu. O trajeto da leitura, da narrativa, da
pessoalidade, da vida transforma-se e modifica-se a cada contexto e temporalidade, porque
plurais são os textos que lemos e nos leem, que narramos e nos narram, que construímos e nos
constroem. Plurais são nossas andanças, plurais somos nós.
Tamanha pluralidade corrobora para que o olhar posto aqui não desse conta de todas as
possibilidades que essa pesquisa, com seus elementos e fontes − tema, agremiação e seu
acervo, mulheres, narrativas −
perspectiva
de
uma
suscitaram. Afinal ela foi o recorte de um todo, sob a
pesquisadora
em
dado
momento,
demanda,
circunstância,
amadurecimento e propensa a um assunto e a uma abordagem. As lacunas, porém, foram bem
vindas porque propõem e inspiram novos estudos e traduzem a esperança de despertar
interesses em novos pesquisadores. Além da leitura como abordagem temática, a exemplo
desta pesquisa, o Centro Cultural e seu acervo propiciariam outras possibilidades de estudo,
por exemplo, em história institucional, comunitária e religiosa; liderança comunitária;
literatura e produção literária por meio das publicações cecremanas; recepção; imagens
gráficas, fotos, ilustrações e heráldica; linguagens e semiótica; (auto)biografia em novas
intercorrências com outros ou mesmos sujeitos envolvidos e classificáveis em outras distintas
ou iguais categorias. O convite para novas andanças na tessitura do que há de vir está feito.
114
FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Marques. Arquivo do CECREMAM, Feira de Santana-BA, 1967-1971.
Registro de Sócios do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques.
Arquivo do CECREMAM, Feira de Santana-BA, 1967-1971.
Livrete lembrança do XI aniversário do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor
Amílcar Marques. Acervo do CECREMAM, Feira de Santana, 1977.
Livrete de Nossa Senhora do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar
Marques. Acervo do CECREMAM, Feira de Santana, 1977.
Livrete comemorativo do XIV aniversário do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor
Amílcar Marques. Acervo do CECREMAM, Feira de Santana, 1980.
Livro Santa Rita na Lira dos Poetas do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor
Amílcar Marques. Acervo do CECREMAM, Feira de Santana, 1981.
Livreto da I Semana de Cultura Portuguesa do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor
Amílcar Marques. Acervo do CECREMAM, Feira de Santana, 1982.
Livreto Lembrança do Encontro de Poetas do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor
Amílcar Marques. Acervo do CECREMAM, Feira de Santana, 1987.
Livreto para Celebração Eucarística em homenagem de Mons. Amílcar Marques do Centro
Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques. Acervo do CECREMAM, Feira de
Santana, 1990.
Livreto Flores – Trovas a Maria do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar
Marques. Acervo do CECREMAM, Feira de Santana, 1998.
Livreto Deus e Você em Encontro Ecológico do Centro Cultural Récreo-Educativo
Monsenhor Amílcar Marques. Acervo do CECREMAM, Feira de Santana e Mataripe, 1999.
Livreto Mimo Literário à Maria Quitéria do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor
Amílcar Marques. Acervo do CECREMAM, Feira de Santana, 1992.
Livro Conselhos de Santa Rita do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar
Marques. Acervo do CECREMAM, Feira de Santana, 1985 e 2001.
115
Livro Pórtico Poético do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques.
Arquivo do CECREMAM, Feira de Santana, 1996.
Livreto Mini Coletânea de Hinos e Canções Cívicas para as comemorações dos 500 anos do
descobrimento do Brasil do Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques.
Acervo do CECREMAM, Feira de Santana, 2000.
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LE GOFF, Jacques. Documento-Monumento in História e memória. Campinas: UNICAMP,
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LIMA, Luiz Costa. A literatura e o leitor: textos de estética da recepção. São Paulo: Paz e
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LIMA, Rita de cassia Brêda Mascarenhas. Nas malhas da leitura: perfil leitor e práticas
culturais de leitura de professores e professoras rurais da comunidade de Arrodeador –
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Contemporaneidade. Universidade do Estado da Bahia, Salvador, BA, 2008.
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CAVALLO, Guglielmo e CHARTIER, Roger (orgs). História da leitura no mundo ocidental.
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MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Trad. Pedro Maia Soares. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
MATOS, Consuelo Almeida. A Bahia de Hildegardes Vianna: um estudo sobre a
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Pós-Graduação em Estudo de Linguagens. Universidade do Estado da Bahia, Salvador, BA,
2008.
MEIHY, José Carlos Sebe B.; HOLANDA, Fabíola. História Oral: como fazer, como pensar.
São Paulo: Contexto, 2007.
MOLLIER, Jean-Yves. A leitura e seu público no mundo contemporâneo: ensaios sobre
História Cultural. Trad. Elisa Nazarian. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
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OLIVEIRA, Plínio Correia de. Luz, água ou lenha? in. site oficial da TFP. Disponível em:
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______. Creio na Santa Igreja Católica Apostólica Romana – I Profunda adesão à Igreja in.
site oficial da TFP. Disponível em: <http://www.tfp.org.br/materia.php?idmateria=53>.
Último acesso: 22 fev. 2011.
119
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CONDINI, Paulo (org). A Formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999.
SANTOS, Boaventura de Sousa (Org.) Para uma sociologia das ausências e uma sociologia
das emergências in Conhecimento prudente para uma vida decente: um discurso sobre as
ciências revisitado. São Paulo: Cortez, 2004.
SANTOS, Milton. O espaço revelador: alienação e desalienação in O espaço do cidadão.
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SARLO, Beatriz. Tempo Passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Trad. Rosa Freire
d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2007.
SCHAPOCHNIK, Nelson. A leitura no espaço e o espaço da leitura in ABREU, Márcia;
SCHAPOCHNIK, Nelson (org). Cultura letrada no Brasil: objetos e práticas. Campinas, SP:
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SCHWARCZ, Lilia Moritz. Apresentação in ANDERSON, Benedict. Comunidades
Imaginadas. Trad. Denise Bottman. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
SILVA, Patrícia Vilela da. Ser leitor na roça: histórias de leituras na Caatinga do Moura.
Brasil, 2009. 125f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Estudo de
Linguagens. Universidade do Estado da Bahia, Salvador, BA, 2009.
SOUSA, Denise Dias de Carvalho. Do caixote à prateleira: um olhar investigativo sobre
mulheres-leitoras do curso de letras. Brasil, 2008. 166f. Dissertação (Mestrado) – Programa
de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens. Universidade do Estado da Bahia, Salvador,
BA, 2008.
ZILBERMAM, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003.
120
ANEXO A
APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA DA UNEB PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA
EM CAMPO (REFERÊNCIA NA PÁG. 17)
OBS.: O TÍTULO DA PESQUISA FOI MODIFICADO, MAS ISSO FOI PREVISTO NO PROJETO
ENTREGUE AO COMITÊ, BEM COMO NO DOCUMENTO ENTREGUE ÀS ENTREVISTADAS.
121
ANEXO B
MODELOS ESCANEADOS DAS CARTEIRAS DE SÓCIO-FUNDADOR (ACERVO DO
CECREMAM)
(REFERÊNCIA NA PÁG. 32)
FRENTE
VERSO
122
ANEXO C
BANDEIRA DO CECREMAM: TRANSCRIÇÃO DE ATA COM DESCRIÇÃO
HERÁLDICA E FOTOS TIRADAS DO ACERVO DO CECREMAM
(REFERÊNCIA NA PÁG. 34)
Fragmento retirado do livro de Atas da Ala Adulta do CECREMAM, segundo Ata lavrada por Maria da
Purificação Ramos da Silva, referente à reunião de 27 de março de 1966 quando a bandeira do CECREMAM foi
aprovada posterior a explicação de sua heráldica:
“[...] As cores verde, amarelo, azul, branco e vermelho homenageam ao Brasil e ao estado da Bahia
com as mesmas significações que tem nas bandeiras do país e do estado em apreço. O amarelo, além
da supracitada significação, simboliza também o ouro da boa vontade e do esforço apreendidos pelo
homenageado – Monsenhor Amilcar Marques – pela causa do Bem e ainda o ouro da boa vontade, do
esforço e da dedicação que também serão apreendidos por todos os componentes do Centro, pela
mesma nobre causa do Bem comum. As três árvores é uma homenagem a flora brasileira através dos
Eucaliptos pelo seu alto valor nas indústrias madeireira, medicinal e perfumista do País, e ainda
homenagem ao Bairro dos Eucaliptos, onde o Centro está situado. A disposição das árvores em sentido
ascendente simboliza o sadio ideal dos cecremanos em constante ascensão em busca da perfeição. O
círculo branco simboliza o círculo da paz, harmonia e compreensão que deve envolver o Centro nas
pessoas e nas atividades de seus componentes. A esfera azul é o Centro por excelência apresentando
os símbolos de seus objetivos: A Cultura simbolizada no livro aberto, a Recreação simbolizada na
tocha acesa, as duas estrelas que separam a sigla da data de fundação no círculo branco representam os
olhos de cada cecremano que deve estar sempre alerta para o mal, a fim de o combater, e para o bem, a
fim de o defender.[...] As faixas multicores em suas linhas retas horizontais simbolizam a retidão do
caráter de cada cecremano em todos os seus empreendimentos e na igualdade de suas dimensões, a
igualdade de condições dos cecremanos perante direitos e deveres do Centro”.
Fotos da Bandeira com brasão em destaque, sendo que na segunda o brasão apresenta-se com detalhes alusivos
ao aniversario de 30 anos do CECREMAM:
123
ANEXO D
HINO DO CECREMAM, HINO À BANDEIRA DO CECREMAM e CANÇÃO DOS
CECREMANOS (REFERÊNCIAS NAS PÁG. 39 e 40)
OBS.: PÁGINAS ESCANEADAS DO LIVRETO: LEMBRANÇAS DAS COMEMORAÇÕES DO XI
ANIVERSÁRIO DO CECREMAM, FEIRA DE SANTANA, 06/03/1977.
124
APÊNDICE A
AS NARRADORAS LEITORAS (REFERÊNCIA NA PÁG. 13)
Nance da Costa Nogueira
Terezinha Lobo Ramos
Vanda da Silva Dias
Maria da Purificação Silva de Andrade
(in memorian)
Iristelma da Silva Ribeiro Oliveira
Judite Porto de Souza
Maria Mercês Batista dos Santos
PS : Todas fotos dos apêndices foram tiradas pela própria pesquisadora.
125
APÊNDICE B
LIVROS DE ATAS (REFERÊNCIA NA PÁG. 13)
Livro de Atas da Ala Adulta
Livro de Atas da Ala Infantil
126
APÊNDICE C
FOTOS PAU BRASIL (REFERÊNCIA NA PÁG. 16)
127
APÊNDICE D
LOCAL DA REUNIÃO COLETIVA COM CECREMANAS E O FUNDADOR DO
CECREMAM – SOB COPAS
(REFERÊNCIA NA PÁG. 16)
..
128
APÊNDICE E
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (REFERÊNCIA NA PÁG. 17)
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, Anaíris Feirense de Castro Ramos, venho por meio deste apresentar a pesquisa que
ora realizo e solicitar consentimento para que eu possa fazer a entrevista narrativa. Após a
leitura deste texto, quem consentir com a própria participação na qualidade de entrevistado
deverá ao final assinar e datar, confirmando seu aceite.
Estou realizando a pesquisa Formação leitora: práticas narrativas em memória nível
– Mestrado na Linha Leitura, Literatura e Identidades do Programa de Pós-Graduação em
Estudos de Linguagens – PPGEL da Universidade do Estado da Bahia – UNEB sob
orientação do professor Dr. Paulo Santos Silva.
O título Formação leitora: práticas narrativas em memória poderá sofrer alteração,
caso ocorra informarei. Justifica-se por tratar de práticas de leitura de um determinado grupo,
em determinado local e época apresentadas em narrativas orais por meio de entrevistas
narrativas, embora também sejam consideradas outras narrativas, ou melhor, outras fontes,
tais como atas, registros de sócios, produções variadas do grupo. Trata especificamente de
histórias de leitura de pessoas pertencentes ao Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor
Amílcar Marques – CECREMAM, da comunidade dos Eucaliptos, na cidade de Feira de
Santana – Bahia.
Esse estudo pretende discutir práticas de leitura; elucidar sobre valores da leitura para
o indivíduo e por conseguinte para o grupo; refletir como se concebe os modos e motivos de
leitura desenvolvidas ou não nesse Centro Cultural; refletir se e como as representações
cristalizadas socialmente da imagem leitora aparecem nas narrativas, considerando a
subjetividade presente nesse método que entre outros elementos é alicerçado na memória;
analisar as concepções apresentadas, levantando questões pertinentes a leitura.
As entrevistas narrativas serão gravadas e/ou filmadas para que eu possa transcrevê-las
com fidelidade. As gravações e as filmagens ficarão sob minha guarda em minha residência à
Rua São Francisco de Paula, 5 , bairro Lapinha, na cidade de Salvador- Bahia.
129
Eu me comprometo em seguir a Resolução número 196 de 10 de outubro de 1996 do
Conselho Nacional de Saúde segundo a orientação do Comitê de Ética em Pesquisa Científica
da Universidade do Estado da Bahia. Isso significa que está garantido o direito de
esclarecimentos antes e durante esta pesquisa a todos que delas participarem; que as pessoas
convidadas para fazerem parte desta pesquisa farão de maneira voluntária sem nenhum ônus
ou pagamento por sua colaboração e com total liberdade de expressão para falar e opinar
sobre o que ou quem quiserem, bem como desistir de participar desta pesquisa em qualquer
momento que desejar sem sofrer nenhum prejuízo ou penalização por tais atitudes. É
garantido também aos participantes o sigilo quanto aos dados confidenciais envolvidos na
pesquisa, assegurando assim a privacidade e o anonimato de cada um. Qualquer mudança que
ocorra na metodologia diretamente ligada aos sujeitos da pesquisa será devidamente
informado e solicitada aprovação do Comitê de Ética e da pessoa entrevistada.
Tudo será feito para que não ocorra desconforto durante as entrevistas narrativas. Elas
acontecerão em local e horário de acordo com a disponibilidade dos(as) entrevistados(as).
No término da pesquisa os participantes terão acesso ao seu produto final e o Centro
Cultural Récreo-Educativo Monsenhor Amílcar Marques receberá uma cópia.
Ao final espero que este trabalho seja útil e some a outros existentes, contribuindo
com a discussão acadêmica.
Desde já agradeço!
Atenciosamente,
___________________________
Anaíris Feirense de Castro Ramos
Feira de Santana, ___ / ___ / ___.
Eu, _______________________________________________, aceito participar desta
pesquisa, consentindo ser entrevistada.
_______________________________________________
Feira de Santana, __ / __ / ___
130
APENDICE F
QUADRO INFORMATIVO PARA INÍCIO E FIM DE CADA FILMAGEM PARA
DEMARCAR ESPAÇOS NA GRAVAÇÃO EVITANDO EVENTUAIS DIFICULDADES
DE IDENTIFICAÇÃO DAS ENTREVISTADAS
(REFERÊNCIA NA PÁG. 17)
PESQUISA: Formação leitora: práticas narrativas em memória
Obs.: título possivelmente provisório
INSTITUIÇÃO RESPONSÁVEL: Centro Cultural Récreo-Educativo Monsenhor
Amilcar Marques – CECREMAM
LOCAL: Comunidade dos Eucaliptos, cidade de Feira de Santana – Bahia
PESQUISADORA/ENTREVISTADORA: Anaíris Feirense de Castro Ramos
ORIENTAÇÃO: Professor Dr. Paulo Santos Silva
MOTIVO PESQUISA: Mestrado na Linha Leitura, Literatura e Identidades do
Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens – PPGEL da Universidade do
Estado da Bahia – UNEB
APRECIAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UNEB: Pesquisa
Aprovada. Processo número – 0603100242121
ENTREVISTA:
ENTREVISTADA:
___________________________________________________________
LOCAL:
_____________________________
INÍCIO:
____:____
TÉRMINO:
____:____
OBSERVAÇÕES:
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
DATA:
____/____/____
DURAÇÃO
PREVISTA:
Hora(s)
DURAÇÃO
REALIZADA:
Hora(s)
131
APÊNDICE G
FOTO DO TEMPLO-ESCOLA SANTA RITA DE CÁSSIA
(REFERÊNCIA NA PÁG. 30)
Rua Senador Quintino, Eucaliptos
Localizado quase em frente a casa da Sra. Hilda e do Sr. Leôncio. Ver último apêndice.
132
APÊNDICE H
TABELA COM NOMES DOS SÓCIO-FUNDADORES DO CECREMAM DIVIDIDOS
NAS ALAS ADULTA E INFANTIL
(REFERÊNCIA NA PÁG. 32)
DATA ESPECÍFICA DO INGRESSO DE CADA UM, NÚMERO E SÉRIE DA CARTEIRA
DE SÓCIO FORAM AQUI DISPENSADAS. DEMAIS INFORMAÇÕES SÃO IDÊNTICAS
AO REGISTRO DE SÓCIO-FUNDADORES
ALA ADULTA
Nome
Nascimento Naturalidade
Profissão
Estado Civil
Antônio Ramos da Silva
20.11.28
Feira de Santana
Professor
Casado
Antônio Fernandes Pereira
23.06.33
Santo Estevão
Público Federal
Solteiro
Antônio de Jesus Coelho
13.03.41
Feira de Santana
Pintor
Casado
Ana Maria Lobo Queiroz
21.03.51
Feira de Santana
Doméstica
Solteira
Antônio Raimundo Santana
27.08.35
Feira de Santana
Bancário
Casado
Alda Marques de Oliveira
01.03.05
Cachoeira
Professora
Solteira
Armando Antonio dos Santos
03.11.06
Madre de Deus
Escriturário
Solteiro
Camilo de Potenza Picena
17.09.33
Potenza;Picena; Itália
Sacerdote
Solteiro
Carlito Ribeiro de Oliveira
14.09.45
São Gonçalo dos Campos
Estufador
Solteiro
Carlos Alberto Barbosa
20.09.46
Feira de Santana
Estufador
Solteiro
Catarina Ribeiro de Oliveira
30.04.28
São Gonçalo dos Campos
Dona de casa
Casada
Clodoaldo Oliveira Ribeiro
10.01.38
Feira de Santana
Sapateiro
Casado
Eduardo Gomes Nogueira
13.10.18
Sto.Amaro da Purificação
Comerciante
Casado
Geraldo Fernandes de
19.12.28
Conceição da Feira
Gráfico
Solteiro
Gregório Francisco Lima
12.03.16
Anguera
Comerciante
Casado
Grinaldo Lima e Silva
09.01.43
Anguera
Mecânico
Solteiro
(nome Queiroz, ata5)
Almeida
133
Helena dos Reis Coelho
01.12.45
São Gonçalo dos Campos
Doméstica
Casada
Hilda Ramos da Silva
07.05.07
Feira de Santana
Doméstica
Viúva
Ivete Ramos da Silva
10.01.49
Feira de Santana
Estudante
Solteira
Jonas Silva de Lima
09.12.48
Anguera
Estudante
Solteiro
José Nilton Pereira Dias
16.03.42
São Gonçalo dos Campos
Motorista
Casado
José Santos Cardoso
19.04.41
Conceição do Almeida
... Técnico
Solteiro
25.09.48
São Gonçalo dos Campos
Mecânico
Solteiro
José Joaquim Santana
12.11.46
Feira de Santana
Estudante
Solteiro
Leôncio Gonçalves da Silva
12.10.38
Anguera
Mecânico
Casado
Maria da Purificação Ramos
29.01.46
Feira de Santana
Datilógrafa
Solteira
19.01.39
Feira de Santana
Doméstica
Casada
Maria Cardoso dos Santos
10.08.49
Elísio Medrado
Comerciante
Solteira
Maria Dalva de Oliveira
18.04.47
Muritiba
Operária
Solteira
Maria de Lourdes Lima Silva
18.01.44
Anguera
Doméstica
Casada
Maria Lúcia de Jesus
14.11.49
Irará
Operária
Solteira
Milton Valdomiro de Oliveira
14.12.36
Feira de Santana
Militar ;Polícia
Casado
Moysés Barreto dos Santos
06.10.28
Lustosa; Santo Amaro
Professor
Solteiro
Nance da Costa Nogueira
23.07.30
Sto.Amaro da Purificação
Doméstica
Casada
(nome Cardoso, ata 5)
José Carlos Ribeiro de
Oliveira
da Silva
Maria Lúcia da Silva
Conceição
ERRATA: Salvador
Nelson Nascimento
31.01.46
Feira de Santana
Mecânico
Solteiro
Sérgio Alberto Borges
21.01.57
Ipirá
Estudante
Solteiro
Sílvia Santos Almeida
04.08.50
Feira de Santana
Estudante
Solteira
Telma da Silva Ribeiro
10.09.44
Feira de Santana
Doméstica
Casada
Tereza Lourdes Castro Ramos
31.10.35
Sto. Amaro da Purificação
Costureira
Casada
Sílvia Santos Sampaio(no reg)
(pode ser a mesma pessoa!)
da Silva
Profissional
Teresinha Lobo Ramos
09.04.34
Feira de Santana
Costureira
Casada
Vanda da Silva Dias
02.02.41
Feira de Santana
Doméstica
Casada
Vitélio Suzart Carneiro
14.07.33
=============
============ Solteiro
134
ALA INFANTIL
Nome
Nascimento
Naturalidade
Ana Célia Lobo Ramos
30.05.57
Feira de Santana
Ana Maria Gonçalves da Silva
01.02.56
Feira de Santana
Ana Maria Santos Sampaio
30.09.55
Feira de Santana
Antônio Ribeiro de Oliveira
30.03.54
São Gonçalo dos Campos
Antonieta de Jesus Carvalho
07.06.55
Feira de Santana
Antônio Leilson de Castro Ramos
08.04.60
São Francisco do Conde
Auremita Santos Pereira
30.01.54
Feira de Santana
Ana Marta Santos Sampaio
30.09.55
Feira de Santana
Ana Maria J. Almeida
22.09.54
Coração de Maria
Dinalva Rodrigues Lima
18.09.54
Feira de Santana
Edna Maria Moreira de Jesus
15.01.57
Feira de Santana
Elias Ribeiro de Oliveira
25.07.52
São Gonçalo dos Campos
Iristelma da Silva Ribeiro
05.06.62
Feira de Santana
José Carlos Ferreira
02.10.54
Feira de Santana
José Cardoso dos Santos
04.10.55
Feira de Santana
Maria Eliete Santos Pereira
04.10.52
Feira de Santana
Maria Lúcia Conceição da Cruz (no reg. Sócios Maria
14.12.55
Muritiba
Nilton Lobo de Almeida
10.06.55
Feira de Santana
Nilvan José da Silva Dias
07.02.62
Feira de Santana
Railda Moreira de Jesus
22.06.55
Feira de Santana
Rita Maria da Silva Conceição
24.05.59
Feira de Santana
Tarcísio Lobo Ramos
10.02.59
Feira de Santana
(no reg. sócios Ana Maria, nas atas Ana Marta)
Lucia C. da Silva, nas atas Cruz no lugar de Silva)
135
APÊNDICE I
PARTE DAS PROMOÇÕES CULTURAIS DE CUNHO CÍVICO, RELIGIOSO,
EDUCATIVO E RECREATIVO DO CECREMAM DURANTE SEUS 45 ANOS
(REFERÊNCIA NA PÁG. 32)
Excursões
para Alagoinhas, Itapuã, Santo Amaro
para cidade de Itapicuru com passeio, almoço e palestra sobre a história,
a geografia do município
Antônio Conselheiro, na década de 1960
para Salvador, em 1990
Atividades recreativas
bingos, leilões dançantes
tarde de folguedos, em 1966, com grupo de capoeira e o conjunto The
Naisys dirigido por Frank Caribé
São João
Festejos juninos e quadrilhas juninas nas décadas de 1960 e 1970.
Em 1966 recebeu o nome de Arraiá do Siri-Buxudo e em outras
ocasiões Arraiá do Funga-Funga.
Concursos
Nós e a Lua, 1969
Trovas, ao longo do tempo
Frases, ao longo do tempo
Campanhas
Vale a pena divulgar
Terço contra a violência
Arrecadação produtos para pessoas que sofrem em período de seca
136
Idealização
Marco do centenário de emancipação de Feira de Santana, erigido em
e/ou
1973
construção de
monumentos e museus
Marco comemorativo em homenagem ao Monsenhor Amílcar Marques
Marco comemorativo do centenário de nascimento de Leôncio Ramos
Gomes, em 1988
Museu Mariano para exposição permanente de imagens de invocação de
Maria, nos anos 2000, ambos no bairro dos Eucaliptos - Feira de
Santana
Exposições classificadas Exposição Mariana comemorativa dos 70 anos das Aparições de Nossa
como cívicas, religiosas, Senhora em Fátima – Portugal e do Ano Mariano em 22/09 a
histórico-comemorativas
02/10/1987
Inúmeras outras exposições marianas a exemplo da VII Exposição
Mariana do CECREMAM inserida na programação preparatória do 30°
aniversario do Centro Cultural em 06 a 13 da maio de 1995
Exposição
Fragmentos
Feirenses
como
item
da
programação
preparatória das Bodas de Pérola a 06/03/96 e homenagem à Feira de
Santana pelos seus 122° aniversário a 16/03/95, de 10 a 26 de junho de
1995
Produção de flâmulas, como divulgadores e/ou fontes de recursos e/ou souveniers dos eventos
camisas, canecas, lenços, promovidos
folhetos e materiais afins
Palestras e cursos
Curso Castro Alves, 1971, 1997
Curso canto à Bahia, 1973
Curso Cidadania e Civismo em algumas edições e cidades
Curso básico de língua e cultura espanhola, 1991
Curso Deus e você em encontro ecológico, 1999, entre outros
Plantações de árvores pau brasil e palmeira, entre outros, em programações diversas
entre outros
137
Sessões comemorativas Sessão Comemorativa do 5° aniversário da Biblioteca Professora Edna
e palestras
Laureana de Oliveira do CCREMAM em 17/07/1971
Sessão solene de abertura do curso Castro Alves em 20/11/1971
Palestra do vice-cônsul da Espanha – Sr. Plácido Cerrada – Pascoal
Bailão - honra da Espanha e glória da Igreja, dentro da programação da
Semana da Hispanidade e IV Centenário de morte de Pascoal Bailão.
Início década 1990.
comemoração do 28° aniversário do CECREMAM - Celebração de
Missa e palestra do Senhor Manoel Evangelista dos Santos (“Manuca”),
06/03/1994
Sessão comemorativa da morte de Castro Alves, com palestra do
Professor e Poeta Franklin Maxado: O CECREMAM e os imortais, em
6 de junho de 1995
Sessão Especial para recepção ao Prof. Pierre Lenhardt e audição de sua
palestra sob o tema Judaísmo e Cristianismo em 10 de novembro de
1995
tarde de oração e conscientização cristã, como parte das comemorações
dos 30 anos de fundação do CECREMAM, em 6 de janeiro de 1996
primeiro dia da programação especial comemorativa do 30° aniversário
do CECREMAM com palestra do Dr. Fernando Pinto de Queiroz:
CECREMAM - Oásis do civismo, em 1° de março de 1996
encontros comemorativos do IV centenário da Morte de José de
Anchieta entre 1996 e 1997
41° aniversário do CECREMAM: paraliturgia e exposição de livros
cecremanos em 4 de março 2007
Tais informações foram encontradas em atas, livro de presença de eventos promovidos
pelo Centro Cultural, folhetos, livretos, canecas, camisas, certificados e outras fontes. Nem
sempre as informações estão registradas por completo e ele não desenvolvia atividades com a
mesma freqüência entre a primeira década e a última. Ainda assim o que fora encontrado
oferece um quadro representativo desse Centro Cultural.
138
APÊNDICE J
ALGUMAS PROMOÇÕES LEITORAS DO CECREMAM
(REFERÊNCIA DILUÍDA EM VÁRIAS PÁGINAS)
orientação a seus membros para leitura em família e para que
Leitura na ala adulta:
procurassem tempo para ler, respectivamente em registro nas atas de
08.05.66 e 26.06.66 - mesmo dia em que se tratou da formação da
biblioteca e iniciou assinatura de Jornal Local - Folha do Norte
comemoração do Dia do Livro em 22.11.66 com incentivo a ofertas de
livros para biblioteca e na mesma época compra das revistas Conhecer
e Tecnirama e recebimento de ofertas de 27 fascículos de A Bíblia mais
bela do mundo
distribuição de boletins o “Eco” e cadernos, 1967
Leitura na ala infantil:
Obs.: distribuição de cadernos, canetas, lápis, pastas, folhetos, estampas
religiosas, orações, poemas... foi uma prática sempre constante
programação de Noites literárias a partir do mês de abril cujo primeiro
poeta homenageado foi Castro Alves
comentário sobre a peca Pluft, o Fantasminha
escolha entre os membros de cada ala para serem bibliotecários na
biblioteca Edna Oliveira, bem como arquivistas e secretários
orientação para horas de leituras também a partir do mês de abril - mês
de aniversário da titular da biblioteca, de 9 às 11, diariamente
orientação para as bibliotecárias e arquivista para que exigissem dos
bibliotecários da ala adulta a relação dos livros que elas e as outras
crianças poderiam ler e solicitação da relação de nomes de livros e de
leitores que constituíram as Horas de Leitura
orientação para melhorar a lista do movimento da biblioteca e
determinação dos grupos que ficaram responsáveis pelos turnos da
manhã e da tarde
no segundo semestre, decidiu-se que as “leituras de formação” por meio
do livro Civilidade seriam feitas pelos cecremanos mirins, um de cada
vez, em cada reunião, estabelecendo um rodízio
Semanas de cultura:
Semana de Cultura Portuguesa, 1982
I Semana de Cultura em Redenção, 1983, entre outras
139
Fundação de bibliotecas
Biblioteca Prof. Edna Laureana de Oliveira, FSA, 1966
Biblioteca Sra. Lindomar Lima dos Santos, em Nova Redenção - Bahia,
1983
Recitais de poesias e em homenagem a Maria – Mãe de Jesus
em homenagem a Bandeira do Brasil
canções populares
em festas juninas
em encontros de poetas
entre outros eventos
Encenação
peças para o 2 de Julho, Páscoa e dia da Bandeira, 1966
de
peça Pluft, o Fantasminha de Maria Clara Machado e “Jesus Perdido” -
infantis
versos que foram encenados, em 1967. Não há informação da autoria.
em 14 de março de 1987, 1995, 1997, 1999 e 2003.
Encontro de poetas
Lançamento de livros e Livrete de Nossa Senhora – comemorativa dos 60 anos de aparição de
livretos Nossa Senhora de Fátima, Gráfica Record, 1977
pequenos
geralmente de produção XIV aniversário do CECREMAM. Hinos, gráfica ENGRAF, 1980
independente, simples e Coletânea poética Santa Rita na Lira dos Poetas, Bahia Artes Gráfica,
com tiragem pequena 1981
geralmente em Feira de Mimo Literário à Maria Quitéria comemorativo do bi-centenário do
Santana
cujos
temas
nascimento, datilografado e fotocopiado, 1992
versavam sobre eventos Coletânea de versos Pórtico Poético, composição e impressão Núcleo
promovidos pelo Centro, de Editoração Gráfica da UEFS, 1996
hinos cívico-religiosos e Flores – Trovas a Maria, digitado e impresso em Candeias, 1998
poemas – a exemplo.
Mini Coletânea de hinos e canções cívicas, digitado e impresso, 2000
OBS.: As impressões desses livros, ou melhor, a forma de produção, divulgação e distribuição
– os dois últimos, principalmente nos eventos que os originavam - mostraram-se a margem do
mercado editorial e ao mesmo tempo livre deste. Foi lentamente beneficiado pelo avanço
tecnológico, gradualmente usava-se máquina de escrever, mimeógrafo, clichês, fotocópias,
computador nas formas mais recentes de produção.
140
APÊNDICE K
FOTOS DE ALGUNS EXEMPLARES DE PRODUTOS LANÇADOS PELO CECREMAM
(REFERÊNCIA NAS PÁG. 43 a 46)
1. FLÂMULAS ENTRE OUTROS (REFERÊNCIA NA PÁG. 43)
141
2. CAMISAS (REFERÊNCIA NAS PÁG. 43 E 44)
3. ESCULTURAS E OUTROS OBJETOS REFERENTES A MARIA QUITÉRIA
(REFERÊNCIA NA PÁG. 45)
142
4. CANECAS (REFERÊNCIA NA PÁG. 45 E 46)
5. LENCINHOS (REFERÊNCIA NA PÁG. 46)
143
APÊNDICE L
FOTOS DE LIVROS LANÇADOS PELO CECREMAM (REFERÊNCIA NA PÁG. 46)
144
APÊNDICE M
FOTOS DOS MONUMENTOS (REFERÊNCIA NA PÁG. 48)
FOTOS DO MONUMENTO DEDICADO A FEIRA DE SANTANA
No Jardim da residência do prof. Antônio Ramos da Silva – fundador do CECREMAM
FOTOS DO MONUMENTO DEDICADO AO SR. LEÔNCIO RAMOS GOMES
Em frente à residência do titular – Ver apêndice P
FOTOS DO MONUMENTO DEDICADO AO MONS. AMÍLCAR MARQUES E DO
MOLDE DA SUA ESCULTURA
Em frente à Igreja Matriz de Feira de Santana
145
APÊNDICE N
LIVROS DA BIBLIOTECA – REGISTRO POR AMOSTRAGEM
A TÍTULO DE INFORMAÇÃO, A TABELA FOI ORGANIZADA POR SEUS
DOADORES)
(REFERÊNCIA NA PÁG. 32 ENTRE OUTRAS NO DECORRER DA DISSERTAÇÃO)
Muitos livros ou capas fotografadas para transcrição nesta pesquisa encontravam-se
estragados por causa da umidade e de cupins. Por isso, e também por falta de nitidez
fotográfica, as referências não foram sempre completas. Houve referências bibliográficas sem
identificação de quem as doou seja pela falta de registro seja pelo estrago da página onde o
carimbo se encontrava ou do seu não preenchimento. Vale ressaltar que dentre os livros
acessíveis nem todos foram carimbados, embora o carimbo tenha sido um dos critérios
adotados para o registro preferencial de referências bibliográficas nesta tabela.
Professora Edna Laureana de Oliveira
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
A vida espiritual (pequenos
Elisabeth Leseur
Rio de Janeiro: 1925
James Ramsey Ullman Trad.
Editora do Brasil S.A
tratados de vida interior)
A terra branca
de Oliveira Ribeiro Neto
A
casa
Maldita
(As
sete
Earl Derr Biggers
Coleção Os maiores êxitos da
chaves)
tela da editora Vecchi
A crônica dos Foryste
volume 2
A filha do diretor do circo
Baroneza
Ferdinande
von
Petrópolis: Vozes, 1927
Brackel
Trad. livre por Isocrates
A turminha dos valentões
Pio Ottoni Junior
Vozes, série Bando Valente
(literatura juvenil) vol. 1, 1942
O pão dos pobres
Henrique Perez Escrich
146
A flor oculta
Pearl
Sydenstricker
Buck
Coleção Catavento
(prêmio Nobel)
Bertha d`Allemanha
Traduzido
do
francês
por
Bahia: Tip. São Francisco,
Maria Luisa de Souza Alves
Bahia
Alice Tisdale Hobart Trad. de
Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti,
Marina Guaspari
1946
Cartas sobre sofrimento
Caem as penas do pavão
Coração de Amacis
Livraria Francisco Alves
Cartilha avícola brasileira
São Paulo: Edição de Chácaras
e Quintais, 1953
Ciências físicas e naturais
Rio
de
Janeiro:
Editora
Francisco Alves, 1948
Duas irmãs
.
Geografia da Bahia
Laura R. Lopes
Geografia do mundo Atual
José Olympio, 1944
Em 6 volumes: América do
Norte
e
América
Central,
América do Sul, Europa, África,
Ásia,
Oceania
e
regiões
populares.
História de Cristo
Giovanni Papini,
Cia Editora Nacional, 1929
Trad. Pe. Lindolpho Esteves
Iracema
José de Alencar
Irene
Jonh Galsworthy
José Olympio, 1946
Trad. de Raquel de Queiroz
Luiz de Camões - romance
Antônio de Campos Junior
histórico
Nossa primeira história (com 5
Lisboa: Tipografia Empresa do
Século, 1901
Assis Cintra
gravuras)
Companhia
Melhoramentos,
1922
O coração nas mãos
Perez Escrich
Os tiques na criança
Serge Lebovici
Rio Janeiro: Andes Ltda.
O segredo de Luzette
M. Delly
Coleção Romântica, Progresso
Editora
O duelo
Roger Pla
Rio de Janeiro, São Paulo e
Porto Alegre: Editora Brasileira,
1951
O moinho do pó -”Deus te
Ricardo Bacchelli, Trad. de N.
São Paulo e Rio de Janeiro:
salve”
Lacerda
Editora Mérito, 1951
O sol é minha ruína
Marguerite Steen
José Olympio
147
Padre Dehon
P. Rinaldo Guimarães da Silva
Fortaleza: Vice postulação da
casa do Pe. Dehon
Prisioneiros do Destino
Xavier de Montépin
São Paulo: Editora Companhia
Pérolas Esparsas - seleta de
São Paulo: Casa Publicadora
contos mariais
Brasileira
Santa Mônica...
Teresa
Neumann
–
a
Frei Pedro Sinzig, Butzon e
Kevelaer- Rhenania, Editores da
estigmatizada de Konnersreuth
Bercker
Santa Sé Apostólica
Um mártir de nossos dias
Pe. Miguel Pró de Karlheinz
Riedel, Paulinas
Vida de Santa Inês
Helena Velasco
Livraria Católica, 1933
Vida de Margarida Sinclair
Coleção A mulher do realejo
O maneta
Julgado pela filha
O assassino
mesma
autoria
para
coleção:
toda
São Paulo: Empresa Editora
Brasileira, 1942
Xavier Montepin
Arruinado
O oráculo
A armadilha
São Paulo: Companhia Editora
Coleção Biblioteca das Moças
Nacional, 1955-1956
Magali
M. Delly
O passado
M. Delly
Orieta
M. Delly
Alma em flor
M. Delly
Lady Shesbury
M. Delly
A casa dos rouxinois
M. Delly
Corações inimigos
M. Delly
O grande momento
Elinor Glyn
Seis dias de amor
Elinor Glyn
A eterna Eva
May Christie
Jardim do desejo
May Christie
Coração Ardente
Sarah Elisabeth Rodger
Dúvidas de um coração
Jane Abott
O querido inimigo
Jean Webster
Felicidade inesperada
Concordia Merrel
Merrel (apenas encontrada a
A vendedora de romance
Janifer Ames
capa)
A passageira vol2
Guy de Chantepleure
148
Beijo ao luar
Guy de Chantepleure
A sarracena
Germaine Acremant
Casar é bom
Germaine Acremant
As solteronas dos chapéus
Germaine Acremant
verdes
Coleção Jabuti
São Paulo: Saraiva, 1953-1967
Helena
Machado de Assis
Memórias póstumas de Brás
Machado de Assis
Cubas
O Sertanejo vol 1 e 2
José de Alencar
Diva
José de Alencar
Til
José de Alencar
A dama das Camélias
Alexandre Dimas Filho
Othon, o arqueiro
Alexandre Dimas
A tulipa negra
Alexandre Dimas
Amor de perdição
Camilo Castelo Branco
Majubira
J.B. de Melo e Souza
Serões da província vol 1e2
Júlio Diniz
As pupilas do Senhor Reitor
Júlio Diniz
Lucrécia Borges
Silveira Bueno
Beleza negra
Anna Sewell
Quo Vadis? Vol1
Henryk Sienkiewicz
Recordações
da
casa
dos
Dostoieviski
mortos
São Paulo: Edição Saraiva
Coleção Rosa – uma coleção
para as moças do Brasil
O solar dos Schillings
Eugênia Marliu
Primaveras perdidas
Kathleen Harris
Revelação
Alice Lent Covert
Equívoco sentimental
Margaretta Brucker
A Rainha do Rádio
Isa Silveira Leal
Arco sem flecha
Cyntia Millburn
O amor pode esperar
Watkins E. Wright
A filha do mestre-escola
Eugênia Marliu
Rosas e espinhos
Bette Allan
Romance no circo
Peggy Dern
Flor da neve
Myonne
149
Família da professora Edna Laureana de Oliveira
TÍTULO/COLEÇÃO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
Jânio - A face cruel
David Nasser.
Livros de bolso
Professoras Edna Laureana de Oliveira e Ester A. de Freitas
TÍTULO
AUTOR
Lisboa: Edição Romano Torres,
Coleção Azul
A
biblioteca
CIDADE/EDITORA/ANO
ideal
1950 – 1955
das
famílias
Romance de uma noite
Max du Veuzit
Os herdeiros do tio Milex
Max du Veuzit
Filha do Príncipe
Max du Veuzit
Amor é sempre amor
Magali
Milagre de Amor
Magali
O amor tomou parte na viagem
Magali
Professora Ester A. de Freitas
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
Ariadna
Henry Grévillle
1925
Trad. de Eugênio Libonatti
Uma história e depois outras
Rafael Gris
Coleção Didática Infantil - série
a criança e o livro p/ o 4. Grau
Jornada romântica
João Grave
Porto: Livraria Chardron de
Lello e Irmão, 1913
Primeiras noções de gramática
Maria Lígia L. Magalhães e
portuguesa
Olga Pereira Mettig
Editora do Brasil, 1959
150
Doadores diversos. Registrados ao lado de cada referência.
TÍTULO
Coleção
AUTOR
Os
CIDADE/EDITORA/ANO
São Paulo: Edições Paulinas,
grandes
1957-1964
romances do cristianismo
A Ferro e fogo 10 e 20 vol.
Henryk Sienkiewicz
por Sindicato dos Motoristas
Quo Vadis?
Henryk Sienkiewicz
por Eurico Nelson de Andrade
Octávio
Ennio
por Antônio Ramos da Silva
A árvore da vida
Louis de Wohl
por
Valdir
Guimarães
do
Espírito Santo
Átila
Louis de Wohl
por Antônio Ramos da Silva
Coração inquieto
Louis de Wohl
por Antônio Ramos da Silva
A lança
Louis de Wohl
por Antônio Ramos da Silva
O mensageiro do rei
Louis de Wohl
por Antônio Ramos da Silva
A rede dourada
Louis de Wohl
por Antônio Ramos da Silva
O cavaleiro do amor
Louis de Wohl
por Antônio Leilson de Castro
Ramos
Assim declinou o sol
Louis de Wohl
por
Tereza
Lourdes
Castro
Ramos da Silva
A libertação do gigante
Louis de Wohl
por Joana da Silva Cruz
O mártir do Gólgota
Henrique Perez Escrich
por Àdla de Castro Neves da
Silva
Papai Falot
Raoul de Navery
por José Augusto de França
Os noivos
Alexandre Manzoni
por Alda Marques de Oliveira
Sem famíla
Hector Malllot
por Édilo Simões da Silva
Bem – Hur
Lewis Wallace
por Antônio Gabriel de Araújo
Perseguidores e mártires
Tito Casini
por Brasílio Santana
Os últimos dias de Pompéia
Edward Bulwer
por Brasílio Santana
Ricardo - coração de leão
Walter Scott
por José Luiz de Oliveira
Fabíola
Cardeal Wiseman
por Enlina de Aquino Oliveira
A cabana de pai Tomás
H. Beecher Stowe
por Sérgio D Maior de Aragão
A consciência do Rei
Marguerete Bartschmid
Sem registro de doador
151
O último cruzado
Louis de Wohl
Por vários:
Antônio de Souza Cruz
Adilson dos Santos
Antônio Carvalho da Silva
Roque Soares da Silva
Creuza Batista Lima
Adolfo Dimas Santos
Isaías de Jesus
Zenildes França Argolo
Antônio R. Santana – sócio-fundador do Centro Cultural
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
O tronco do Ipê
José de Alencar
São Paulo: Indústria Gráfica
Bentivegna Editora, 1959
O gaúcho
José de Alencar
Antônio Ramos da Silva - fundador do Centro Cultural
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
M. Delly
Edições Paulinas
A humilde Santa Bernadete
A fada das flores
A grande aventura de Luís e
Edições Paulinas
Eduardo
História da Salvação
Pe. José de Anchieta
História do Povo Brasileiro.
Volumes:
o
império,
o
escravismo e o unitarismo
político
História do Povo Brasileiro.
Volumes:
A
república,
as
oligarquias estaduais
Lagos dos Indos
Sérgio Antônio Raupp
Edições Paulinas
Mãe exemplar
P. Claudio Mascarello
Edições Paulinas
O comboio de Veneza
Georges Simenon
Livraria Bertrand
Uma canção russa
Eliana
Rio de Janeiro: Minerva Ltda.
História do povo brasileiro vol
Jânio Quadros e Afonso Arinos
São Paulo: Quadros editores
1-6
de Melo Franco
culturais s.a, 1967
152
Edições Paulinas
Coleção
Cartas do meu moinho
Alphonse Daudet
Contos extraordinários
? Hello
Tempos difíceis
Charles Dickens
O Doutor Jekvll...
Robert Stenvenson
Em má companhia
Vladimir Korolenko
A floresta dos enforcados
L. Rebreanu
Justiça
? Lucas Caranguale
A felicidade é simples
Pierre L’Ermite
Antônio Augusto de Almeida
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
Mickey Trovador e Pedrinho e
Walt Disney
Editora Brasil-América
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
O escândalo dos Kostkas
Afonso de S. Cruz
Coleção em busca do ideal
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
História das Américas para
Antônio José Borges Hermida
Editora do Brasil
Irmão Mario Mariano
F.T.D.,
o Lobo
Aureliana Santana
Antônio Pinheiro Monteiro
segunda série ginasial
Física para a primeira série
colegial
Alves,
Livraria
Francisco
Coleção
de
livros
Editora
do
Brasil,
didáticos
Química para primeira série
Irmãos Maristas
F.T.D.,
Coleção Didática, 1958
153
Dr. Carlos Augusto Monteiro
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
História Geral
Alcindo Muniz de Souza
Companhia Editora Nacional, 3.
série ginasial, 4. série
História da América
Alcindo Muniz de Souza
Companhia Editora Nacional,
segunda série ginasial
História Antiga e Medieval
Haddock Lobo
Edições
Melhoramentos,
3.
série do curso ginasial
Horizontes do Poder Atômico
Introdução à pré- história
G. Wendt editora
Glyn Daniel
Zahar editores
No reino da boneca encantada
Na
terra
dos
demônios
vermelhos
O fio da barba do anão mágico
Hilda Ramos da Silva – sócia honorária, mãe e avó de alguns dos participantes do Centro Cultural
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
Conflito
Maria Jacinta
Edições
Meridiano,
coleção
Tucano
Senhores do Sonho - Ficção
científica
Pedro Daltro
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
A cabeça do papa
Macedo Miranda
Rio de Janeiro: Edições GRD
1962
Livraria São Paulo
TÍTULO
AUTOR
Luz do céu – curso de religião
CIDADE/EDITORA/ANO
Editora Salesiana
para o ginásio
O pequeno lorde
F. H. Burnett, Primavera
Distribuidora de livros Salvador
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
A roupa nova do imperador e
Coleção
muitos outros contos
Biblioteca Infantil de Ouro
Largada para o Infinito - A
história do cabo canaveral
William Roy Shelton
de
Andersen
da
Brasil-Portugal: Edt. Fundo de
Cultura, 1964
154
Livraria e papelaria LIP
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
Barquinho Amarelo
Ieda Dias da Silva
Ed. Vigília, pré-livro
Ciências para crianças
Terezinha Nardelli Cambraia
Ed. Vigília, livro 4. e 2.
Meninos Travessos
Maria Yvonne Atalécio de
Ed. Vigília e MEC, 1973,
Araújo
volumes
para
pré-livro,
primeiro livro de leitura e
leitura intermediaria
Pipoca - o cabritinho travesso
leituras intermediárias
DESC – Prof. Remy de Souza e Antônio Ramos
Departamento de Educação Superior e da Cultura
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
Salvador
Coleção Baiana
–
Bahia:
Editora
Itapuã, 1969, 1970
Linguagem médica popular no
Prof. Fernando São Paulo
Brasil vol. 1 e 2
Souza
A Bahia no século XVIII
Presença
por DESC – prof. Remy de
francesa
no
Luís dos Santos Vilhena
por Antônio Ramos da Silva
Kátia M. de Queiros Mattoso
por DESC
movimento democrático baiano
de 1798
Mestre de capoeira e de muitas
por DESC
artes
Presença Francesa
Povoamento
da
por DESC – prof. Remy de
cidade
do
Thales de Azevedo
Salvador
Feira de Santana
Rollie Poppino
Capoeira Angola
W. Rego
A Bahia no século XVIII vol 1,
2e3
Souza
155
DESC\SESC
Dep. de Educação Superior e de Cultura da Sec. de Educação e Cultura do Estado da Bahia
TÍTULO
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
Páginas escolhidas
Mons. Ápio Silva
DESC\SEC, 1971
AUTOR
CIDADE/EDITORA/ANO
Rainer Maria Rilke
Buenos Aires: Dintel, 1957
homenagem ao 60. aniversário
de sacerdócio
Doadores desconhecidos
TÍTULO
Los
cuadernos
de
Malte
Lauridos Brigge
A vingança dos peixes
Edições
Melhoramento,
Coleção Primavera
Aventuras de uma andorinha
A guerra acabará se você
Editora do Brasil
D. Paulo Evaristo Arns
quiser
Ed. Paulinas
subsídios e reflexões para o
início da década de 1970-1980,
consagrada ao desarmamento
Antologia bíblica feminina do
Pe. Santo Armelin
Paulinas
Edna Ferber e , introdução de
Coleção
Adonias Filho
contemporâneos
Paulo Setubal
São
novo testamento
Cimarron
Confiteor
escritores
Paulo:
Livraria
Carlos
Pereira
Destinos
Humberto Campos
Rio de Janeiro, São Paulo, Porto
Alegre:
W.M.
Jackson
Inc
editores
Felicidade inesperada
Concordia Merrel,
São
Paulo:
CIA
Editora
Trad. de Jerônimo Monteiro
Nacional, Biblioteca das Moças
Grito da terra (caatinga)
Ciro de Carvalho Leite
Lux
História da Salvação
Mons. Negromonte
Rio de Janeiro: Editora Rumo
1961
Inocência
Juventude
Visconde de Taunay
Gloriosa
(Santos
Pedro Mota Lima
Rio de Janeiro: Editorial Andes
Prof. Gualandi
Paulinas
Dumont)
Mãe Assunta – mãe de Santa
156
Maria Goretti
Manual das almas interiores
Pe. Grou
Petrópolis: Vozes, 1929
O Rosário na eloquência de
Salvador: Edição da Oficina de
Vieira
Rosário
Os enforcados
Fernando Ramos
Vidas secas
Graciliano Ramos
Record\Martins
Inúmeros exemplares
Revistas para crianças
Pinguinho
Tico-Tico
Cirandinha
Tiquinho
A Bíblia
Editora Brasil
A nova música
Gráfica Record Editora
E ainda:
TÍTULO
AUTOR
A bela adormecida no bosque
CIDADE/EDITORA/ANO
Contos divertidos da livraria
Agir, 1964
Aventuras de Pinocchio
Idem
Branca de Neve
Idem
Aladin
Idem
Robson Crusoé
Idem
Ali Babá e os 40 Ladrões
Idem
Pedacinho de Gente
Idem
Branca
de
Neve
e
Rosa
Idem
Vermelha
Chapeuzinho Vermelho
Idem
O pequeno polegar
Idem
O gato de Botas
Idem
Sindbad
Idem
História de um quebra-nozes
Idem
Guilherme Tell
Idem
Os três porquinhos
Idem
O pássaro azul
Idem
Os cabritinhos e o lobo
Idem
As aventuras de Pintarroxo
Idem
Os três ursos
Idem
157
Totó - o cachorro de Botas
Idem
A pastora e o Limpa -chaminés
Idem
O rouxinol
Idem
Meu amigo lobo
Idem
Alice no país dos animais
Idem
O pequeno polegar na corte do
Idem
Rei Artur
Gata borralheira
Idem
Meu amigo lobo
Idem
Os músicos improvisados
Idem
A quem me lê,
para mostrar que é educado,
não me deixe cair,
não me suje,
não me rasgue.
O Livro
158
APÊNDICE 0
FOTO DO QUADRO LEITURA (REFERÊNCIA NA PÁG. 78)
Inscrição no quadro:
Contribuição Cultural da Editora Civilização Brasileira
Rua Sete de Setembro, 97 – Rio de Janeiro
159
APÊNDICE P
FOTO DA RESIDÊNCIA DO CASAL HILDA RAMOS DA SILVA E LEÔNCIO RAMOS
GOMES (REFERÊNCIA NA PÁG. 73 E TAMBÉM NA 21)
Local onde aconteceram reuniões do CECREMAM. Há inscrição do nome na frente da casa colocada
nos primeiros anos da agremiação e ao lado da porta colocada quando das comemorações das suas
Bodas de Prata.
Outros destaques:
Parte de uma das árvores de Eucaliptos. Uma das poucas ainda existentes no bairro. Ela está visível ao fundo da
casa em cima da copa de uma mangueira;
Busto do Sr. Leôncio Ramos Gomes - homenagem do CECREMAM quando do seu centenário de nascimento (in
memorian), em 25/03/1988;
Marco que ficava à frente da casa para marcar o km 142, provavelmente nas décadas entre 1930 e 1950;
Base para hasteamento das Bandeiras ao fundo do referido busto construído pelo CECREMAM;
Em cima da porta faixa nas cores de Feira de Santana também presentes na bandeira do CECREMAM.
Observações:
A cajazeira sobre a qual as entrevistadas mencionam ainda existe, mas não é avistada nessa foto porque está
localizada ao lado do muro direito do leitor. O espaço em frente é o local onde aconteciam várias atividades
recreativas, religiosas e cívicas. Não havia muro nem casas laterais, por isso o espaço era mais amplo.
A biblioteca Professora Edna Laureana de Oliveira funcionava num cômodo da casa não mais existente
localizado ao lado da janela esquerda do leitor. Agora há um muro e parte da casa da Sra. Maria da Purificação –
uma das entrevistadas.
Alguns anos depois a morte de Sra. Hilda Ramos da Silva a casa passou a guardar as esculturas das exposições
marianas que o CECREMAM organizava. Acervo de Antônio Ramos da Silva, por isso a inscrição “Mini Museu
Mariano” em cima da porta.
160
E aprendi que se depende sempre de tanta, muita,
muita, diferente gente.
gente.
Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas.
Gonzaguinha
Muito obrigada!
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Texto completo em - PPGEL