UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E HOTELARIA – MESTRADO ACADEMICO MINTER / UNIVALI / UNINORTE O TURISMO A PARTIR DA REQUALIFICAÇÃO DA PAISAGEM LOCAL DE MANAUS/AM: ESTUDO DE CASO CENTRO CULTURAL LARGO DO SÃO SEBASTIÃO E SEU ENTORNO Balneário Camboriú - SC 2012 ANDRESSA MARIA CRUZ DOS SANTOS O TURISMO A PARTIR DA REQUALIFICAÇÃO DA PAISAGEM LOCAL DE MANAUS/AM: ESTUDO DE CASO CENTRO CULTURAL LARGO DO SÃO SEBASTIÃO E SEU ENTORNO Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título de mestre do Programa de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Balneário Camboriú. Orientadora: Prof.ª Drª Josildete Pereira de Oliveira. Balneário Camboriú - SC 2012 ANDRESSA MARIA CRUZ DOS SANTOS O TURISMO A PARTIR DA REQUALIFICAÇÃO DA PAISAGEM LOCAL DE MANAUS/AM: ESTUDO DE CASO CENTRO CULTURAL LARGO DO SÃO SEBASTIÃO E SEU ENTORNO Proposta de pesquisa apresentada à banca examinadora abaixo em defesa no Programa de Mestrado Acadêmico Interinstitucional em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI / MINTER / UNINORTE. Área de Concentração: Planejamento e Gestão do Turismo e Hotelaria Balneário Camboriú, 30 de outubro de 2012. Aos meus amores incondicionais: André Bernardo, Maria da Luz e Moysés Israel. DEDICO. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, pela dádiva da existência e a oportunidade de trilhar um caminho repleto de experiências, ensinamentos e amizades. Ao Raimundo Maramaldo, no coração e nas doces lembranças, e à matriarca amada Elza Cruz, pelo começo de tudo isso! À minha mãe, mulher guerreira, que sozinha criou seus cinco filhos preparando-os para a vida! Ao meu filho amado, André Bernardo que, enquanto dedicava-me a este trabalho, precisou ouvir diversas vezes: filho, hoje mamãe não pode! Ao meu companheiro, incentivador incansável da busca de conhecimentos e amigo sem igual. Aos meus familiares que, nos encontros tradicionais, enviavam sempre a mensagem: mana, estou comendo (ou bebendo) esse aqui por você! À minha orientadora Josildete Oliveira pelas sábias contribuições tanto em termos técnicos referentes a esta dissertação quanto pelo exemplo de pessoa. Aos meus colegas de trabalho - UNINORTE, UFAM e FUCAPI - que contribuíram com informações, referências e motivações. Aos meus colegas, amigos e manos do MINTER por cada momento, cada viagem, cada aventura de voo, cada encontro informal, cada “frio na barriga”, cada angústia por resultados e cada laço de amizade consolidado. E, na oportunidade, parabenizo a família UNIVALI pela presteza e qualidade nos serviços oferecidos. Aos meus alunos e minhas sobrinhas que participaram das pesquisas, em especial: Raquel, Lícia, Sérgio, Nathália e Mônica. E aos demais que sempre procuraram saber do andamento desta destinando palavras de apoio e incentivo. À Secretaria de Estado de Cultura (SEC-AM), ao IPHAN na pessoa de Márcia Honda pelas imagens e sábias contribuições, à Igreja de São Sebastião e aos moradores do entorno do CCLSS que contribuíram com dados e relatos para o desenvolvimento desta. Esse mérito também é de vocês! Orgulhem-se! Andressa Maria Cruz dos Santos. RESUMO Partindo da prerrogativa de que a paisagem edificada apresenta a capacidade de atrair visitantes e promover destinos, o presente trabalho propõe-se a analisar a paisagem edificada, do CCLSS - Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu entorno, como consequência do processo de requalificação. Em um primeiro momento, apresenta-se a temática conceitual subjacente para sustentação da pesquisa direcionando os estudos em busca dos resultados que se propõem. Iniciando com um panorama do turismo e o estudo da paisagem – por ser o primeiro contato que o turista tem com o seu local visitado; em seguida com Patrimônio Cultural tentando alocar alguns conceitos que surgiram ao longo de sua trajetória, para então concluir com sua referência dentro do contexto turístico. Em um segundo momento, aplica-se a metodologia estudo de caso, caracterizada em uma pesquisa qualitativa, tendo como objeto de estudo o Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu entorno. As ferramentas - coleta de dados secundários, aplicação de questionários e entrevistas semiestruturas foram adotadas com o objetivo de compreender as implicações da requalificação da paisagem no contexto do turismo. Como resultado, percebe-se que a preocupação em oferecer atividades culturais e de lazer com frequência faz parte do planejamento de manutenção como consequência de um dos objetivos que foi proposto ao CCLSS e seu entorno – o turismo. Porém, a requalificação inebria os visitantes com o que lhes é aparente e o espaço imaginário retido em suas memórias é de uma realidade artificial, uma vez que desconhecem a constituição de suportes dessa nova memória e não possuem informações adequadas à dissociação do original ao reproduzido devido a homogeneidade arquitetônica. Sendo assim, um modelo de gestão direcionado à formatação específica do CCLSS e seu entorno e o desenvolvimento de um material promocional que divulgue como o processo de requalificação foi idealizado e desenvolvido são, além do conhecimento científico sobre essa paisagem, sugestões dessa pesquisa. Palavras-chave: Paisagem Urbana; Requalificação; Patrimônio Histórico; Centro Cultural Largo de São Sebastião. ABSTRACT Based on the prerogative that the built landscape has the capacity to attract visitors and promote destinations, this work analyzes the built landscape of the CCLSS Largo de São Sebastião Culture Center, and its surrounding area, as a consequence of the process of requalification. First, it presents the underlying contextual theme, to support the research, guiding the studies in search of the proposed results. It starts with a panorama of tourism and the study of landscape – as the first contact the tourist has with the place visited; next, it addresses the Cultural Heritage, seeking to assign some concepts that emerge during its trajectory, before concluding with its reference within the context of tourism. Secondly, it applies the case study methodology, characterized as qualitative research, taking as its object of study the Largo de São Sebastião cultural Center and the surrounding area. The tools – collection of secondary data, application of questionnaires and semistructured interviews were adopted in an attempt to understand the implications of the requalification of the landscape in the context of tourism. As a result, it is seen that the concern to offer cultural and leisure activities often form part of the planning of maintenance as a consequence of one of the objectives proposed for the CCLSS and its surrounding area – tourism. However, the requalification captivates visitors by what they see, and the imaginary space retained in their memories is an artificial reality, as they are not aware of the constitution of supports of this new memory, and do not have appropriate information to disassociate the original from what is reproduced, due to the architectural homogeneity. Thus, a model of management directed towards the specific formatting of the CCLSS and its surrounding area, and the development of a promotional material that divulges how the process of requalification was conceived are, along with a scientific knowledge of this landscape, suggestions of this research. Keywords: Urban Landscape; Requalification; Historical Heritage; Largo de São Sebastião Cultural Center. LISTA DE FIGURAS Figura 01: Estrutura da pesquisa – metodologia.............................................. 40 Figura 02: Área de influência do projeto ......................................................... 43 Figura 03: Localização Geográfica do Município de Manaus ......................... 47 Figura 04: Planta da Cidade de Manaus ......................................................... 48 Figura 05: Anúncio publicitário do século XX em Manaus – 1 ........................ 53 Figura 06: Anúncio publicitário do século XX em Manaus – 2 ........................ 53 Figura 07: Anúncio publicitário do século XX em Manaus – 3 ........................ 53 Figura 08: Imagem da cidade flutuante – Manaus .......................................... 56 Figura 09: Expansão territorial no ano de 1915 .............................................. 57 Figura 10: Expansão territorial no ano de 1968 .............................................. 57 Figura 11: Centro de Manaus em consequência da Zona Franca .................. 58 Figura 12: Projeto Casa das Sete ................................................................... 62 Figura 13: Área de abrangência do CCLSS e seu entorno ............................. 63 Figura 14: Monumento comemorativo – panorama do LSS. .......................... 66 Figura 15: Monumento em homenagem à abertura dos portos ...................... 68 Figura 16: Detalhe da fachada do Teatro Amazonas ...................................... 71 Figura 17: Teatro Amazonas – detalhes internos. .......................................... 72 Figura 18: Palácio da Justiça em 1898 ........................................................... 73 Figura 19: Palácio da Justiça em 2011 ........................................................... 74 Figura 20: Casa das Artes ............................................................................... 75 Figura 21: Casa Ivete Ibiapina ........................................................................ 76 Figura 22: Casa J. G. Araújo ........................................................................... 77 Figura 23: Galeria do Largo ............................................................................ 78 Figura 24: Área de abrangência do Projeto – vista aérea ............................... 80 Figura 25: As intenções adotadas pelo projeto ............................................... 81 Figura 26: Proposta de restauro da Rua Dez de Julho - 1ª quadra ................ 81 Figura 27: Proposta de restauro da Rua Dez de Julho - 2ª quadra ................ 82 Figura 28: Intervenção no imóvel nº 451 – antes da restauração ................... 82 Figura 29: Intervenção no imóvel nº 451 – depois da restauração ................. 82 Figura 30: Igreja de São Sebastião – dia ........................................................ 83 Figura 31: Igreja de São Sebastião – noite .................................................... 83 Figura 32: Proposta de restauro da Rua Costa Azevedo ................................ 83 Figura 33: Fotomontagem – casas geminadas da Rua Costa Azevedo ......... 84 Figura 34: Fachadas anteriores e após a intervenção .................................... 84 Figura 35: Fachada anterior ............................................................................ 85 Figura 36: Detalhe da fachada ........................................................................ 85 Figura 37: Vista da fachada atual .................................................................... 85 Figura 38: Fachadas da Rua Costa Azevedo – anteriores e atuais ................ 85 Figura 39: Proposta de intervenção para Rua José Clemente ....................... 86 Figura 40: Estacionamento presente – anterior à requalificação .................... 86 Figura 41: Rua José Clemente – vista aérea .................................................. 87 Figura 42: Rua José Clemente – paginação de piso ..................................... 87 Figura 43: Imóvel nº 634 – aspecto original .................................................... 88 Figura 44: Imóvel nº 634 – no início do projeto .............................................. 88 Figura 45: Imóvel nº 634 – obra de reconstituição ......................................... 88 Figura 46: Imóvel nº 634 – reconstituído ........................................................ 89 Figura 47: Imóvel Editora do Brasil – fachada original .................................... 90 Figura 48: Imóvel Editora do Brasil – fachada modificada .............................. 90 Figura 49: Imóvel Editora do Brasil – fachada modelo .................................... 90 Figura 50: Imóvel Editora do Brasil – fachada reconstituída ........................... 90 Figura 51: Detalhe do imóvel da área – fachada original ................................ 91 Figura 52: Detalhe do imóvel da área – fachada modificada .......................... 91 Figura 53: Prospecção da argamassa durante reconstituição da fachada ..... 91 Figura 54: Imóvel atual .................................................................................... 92 Figura 55: Habitação atualmente em obra ...................................................... 104 Figura 56: Imóvel com arquitetura original intacta .......................................... 105 Figura 57: Solo Plano ...................................................................................... 105 Figura 58: Detalhe da escadaria do TA - aproveitamento do terreno ............ 105 Figura 59: Detalhe da Rua Dez de Julho ....................................................... 107 Figura 60: Detalhe da Avenida Eduardo Ribeiro .......................................... 107 Figura 61: Tipos de pavimento presentes no CCLSS e seu entorno.............. 107 Figura 62: Detalhe das árvores que circundam a Praça São Sebastião ........ 110 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01: Público do Teatro Amazonas de 2001 a 2004.............................. 111 Gráfico 02: Atividades culturais no Teatro Amazonas de 2001 a 2004........... 112 Gráfico 03: Comparativo de público: TA (2001) e CCLSS (2010)................... 113 Gráfico 04: Registro de visitantes do CCLSS em 2011................................... 114 Gráfico 05: Turistas do CCLSS e seu entorno – sexo masculino.................... 117 Gráfico 06: Turistas do CCLSS e seu entorno – sexo feminino....................... 117 Gráfico 07: Origem dos turistas do CCLSS e seu entorno.............................. 117 Gráfico 08: Turistas do CCLSS e seu entorno – escolaridade........................ 117 Gráfico 09: Turistas do CCLSS e seu entorno – faixa de renda...................... 117 Gráfico 10: Turistas do CCLSS e seu entorno – razões da viagem................ 117 Gráfico 11 Turistas que já conheciam Manaus............................................... 117 LISTA DE QUADROS Quadro 01: Tipos de espaços segundo Boullón 23 Quadro 02: Síntese das tipologias do espaço 24 Quadro 03: Síntese dos elementos do espaço 26 Quadro 04: Variáveis que determinam a paisagem urbana 31 Quadro 05: Síntese dos bens tombados no Município de Manaus 37 Quadro 06: Protocolo de Estudo de Caso – CCLSS e seu entorno 42 Quadro 07: Obras publicadas no jornal A Federação 52 Quadro 08: Análise de autores aceca do declínio da borracha 55 Quadro 09: Quadro de Critérios de escolha do objeto de estudo 63 Quadro 10: Composição do CCLSS 70 Quadro 11: Serviços oferecidos pela cada das artes 76 Quadro 12: Atual do CCLSS - pavimentação 93 Quadro 13: Atual do CCLSS - estrutura 94 Quadro 14: Atual do CCLSS – cores e elementos plásticos 95 Quadro 15: Atual do CCLSS – sinalização e entretenimento 96 Quadro 16: Análise da paisagem – tipo de urbanização 101 Quadro 17: Análise da paisagem – tipo de urbanização e demais variáveis 102 Quadro 18: Análise da paisagem – nível socioeconômico. 103 Quadro 19: Análise da paisagem – estilo arquitetônico 106 Quadro 20: Análise da paisagem – tipo de rua e tipo de árvore 108 Quadro 21: Análise da paisagem – pavimento 109 Quadro 22: Síntese de questionários aplicados e respondidos 115 Quadro 23: CCLSS e seu entorno – análise de turistas 117 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS CCLSS Centro Cultural Largo de São Sebastião DEA Organização dos Estados Americanos EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo FAB Força Aérea Brasileira IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IGHA Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPTU Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana MISAM Museu da Imagem e do Som do Amazonas OMT Organização Mundial do Turismo OTCA Organização do tratado de Cooperação Amazônica. PIB Produto Interno Bruto SEAP Secretaria Especial de Agricultura e Pesca. SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEC – AM Secretaria de Estado de Cultura do Amazonas SENAI Serviço Nacional da Indústria. SUFRAMA Superintendência da Zonas Franca de Manaus. UEA Universidade do Estado do Amazonas UFAM Universidade Federal do Amazonas. UFSC Universidade Federal de Santa Catarina. UNINORTE Centro Universitário do Norte. UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí. URBAM Empresa Municipal de Urbanização. WTTC World Travel & Tourism Council ZFM Zona Franca de Manaus. 14 Sumário 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 19 1.1 Contextualização do tema ......................................................................................... 19 1.2 Definição do Problema de Pesquisa.......................................................................... 22 1.3 Objetivos ................................................................................................................... 23 1.3.1 Objetivo Geral ........................................................................................................... 23 1.3.2 Objetivos Específicos ................................................................................................ 23 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 24 2.1 Turismo ..................................................................................................................... 24 2.2 Turismo Cultural ........................................................................................................ 26 2.3 Espaço Turístico Urbano ........................................................................................... 27 2.4 Paisagem turística ..................................................................................................... 33 2.5 Patrimônio (monumentos) Histórico Cultural edificado no contexto do turismo.......... 37 3. METODOLOGIA ....................................................................................................... 44 3.1 Tipo de pesquisa e procedimento de coleta de dados ............................................... 44 3.2 Procedimento de análise de dados ........................................................................... 49 4. CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE DE MANAUS ................................... 51 4.1. Caracterização geográfica......................................................................................... 51 4.2. Caracterização Histórica ........................................................................................... 54 4.3. Caracterização socioeconômica e sociocultural ........................................................ 63 4.4. Estudo de Caso – Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu Entorno ............... 66 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................................. 70 5.1. Processo Histórico do CCLSS e seu entorno. ........................................................... 70 5.1.1. Teatro Amazonas ...................................................................................................... 74 5.1.2. Palácio da Justiça ..................................................................................................... 75 5.1.3. Casa das Artes.......................................................................................................... 77 5.1.4. Casa Ivete Ibiapina ................................................................................................... 78 5.1.5. Casa J. G. Araújo ...................................................................................................... 79 5.1.6. Galeria do Largo ....................................................................................................... 80 5.2. Processo de Requalificação do CCLSS e seu entorno como resgate histórico ......... 80 5.3. Mapeamento da configuração atual da paisagem ................................................... 100 5.3.1. Tipo de Urbanização ............................................................................................... 102 5.3.2. Nível Socioeconômico ............................................................................................. 102 5.3.3. Estilo Arquitetônico ................................................................................................. 106 5.3.4. Topografia ............................................................................................................... 107 15 5.3.5. Tipo de Rua ............................................................................................................ 110 5.3.6. Tipo de Pavimento .................................................................................................. 110 5.3.7. Tipo de Árvore......................................................................................................... 113 5.4. Implicações da requalificação urbana do CCLSS e seu entorno no contexto do turismo. .............................................................................................................................. 113 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 124 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 129 APÊNDICES ...................................................................................................................... 138 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIOS TURISTAS ................................................................. 139 APÊNDICE B – ENTREVISTA POR DOMICÍLIO: DOCUMENTOS E ROTEIRO ............... 141 APÊNDICE C – ENTREVISTA COM GESTORES: ROTEIRO e DOCUMENTOS. ............ 143 ANEXOS ........................................................................................................................... 144 ANEXO A – SÍNTESE DO PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DA SEC-AM ........................ 145 ANEXO B – CARTA DE APRESENTAÇÃO VIA UNIVALI.................................................. 148 ANEXO C – AUTORIZAÇÕES MORADORES................................................................... 149 ANEXO D – E-MAIL MARCANDO REUNIÃO COM SEC-AM ............................................ 151 ANEXO E – E-MAIL INFORMATIVO SOBRE SOLICITAÇÕES À SEC-AM. ..................... 152 ANEXO F – DADOS ESTATÍSTICOS TA E CCLSS. ......................................................... 153 ANEXO G - MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS - CCLSS................................ 160 16 ................ 158 17 ............ 159 ANEXO G – MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS – CCLSS. ............................. 160 18 19 1. INTRODUÇÃO O objetivo deste capítulo é apresentar ao leitor o universo envolvido pelo tema proposto através da contextualização do recorte temático usado para embasar a análise do turismo como consequência da requalificação da paisagem urbana que, por sua vez, está direcionado pelo problema de pesquisa. 1.1 Contextualização do tema As motivações para viajar crescem em paralelo à diversificação de destinos, ao rendimento disponível e aos mercados emergentes e tradicionais que, por sua vez, são acompanhadas pelas mudanças tecnológicas, sociais e demográficas. Tais motivações e o consecutivo ato de viajar estimulam a melhoria da qualidade de vida das pessoas e impactam no desenvolvimento da economia mundial e, principalmente na economia brasileira (CARVÃO, 2008; STOCK, 2009). Esta informação é evidenciada por dados estatísticos que, de acordo com a OMT (2011), as chegadas de turistas internacionais cresceram num ritmo anual de 6,2% onde, de 1950 a 2010 houve o aumento expressivo de 25 para 940 milhões de turistas. E ainda, cerca de 10% (US$ 700 bilhões) do produto interno bruto – PIB é gerado por este segmento econômico e mobiliza 12% dos investimentos do globo terrestre e ainda é responsável pela geração de 6% a 7% de empregos (diretos e indiretos) em todo o mundo. De acordo com os dados do Ministério do Turismo (2011), o Brasil recebeu em 2010 algo em torno de 5,1 milhões de turistas estrangeiros, o que representa um crescimento de cerca de 6,3% sobre o total de 2009, e aproximadamente 2% a mais do que nos anos de 2007 e 2008. As receitas dos hotéis apresentam significativo crescimento de cerca de 13% e o Lucro Operacional Bruto um crescimento de 28%. O desenvolvimento em questão é observado também nas altas taxas de crescimento da demanda pelo transporte aéreo que, segundo Bessa e Batista (2010), o desenvolvimento da aviação comercial pode ser considerado tanto causa quanto efeito da expansão turística e considera o aeroporto como “catalisador, integrador e multiplicador” da indústria do turismo, havendo uma integração que contribui com a demanda turística nacional e internacional. O Aeroporto Internacional Eduardo Gomes opera atualmente com capacidade de 2,5 milhões de passageiros anuais e, 20 por entender a importância deste modal ao turismo e, consequentemente, para o desenvolvimento local, está modernizando e ampliando suas instalações com a meta de 5 milhões de passageiros anuais. Essa ampliação é uma resposta ao estímulo de potencializar o turismo e foi encorajada por governos que agora investem em infraestrutura. De acordo com Barreto (2009, p.04), “o turismo brasileiro alcança resultados cada vez mais satisfatórios, com taxas de crescimento em todos os segmentos que compõem o setor” e afirma que o crescimento anual da participação da atividade na economia brasileira é fruto das políticas públicas desenvolvidas com parcerias pré-estabelecidas (entre estados, município e outros órgãos de governo) e também do trabalho - sociedade civil e iniciativa privada - para promover e qualificar os destinos brasileiros. Investir em infraestrutura impacta tanto na qualidade do produto turístico quanto em qualidade de vida do morador local que adquire uma consciência ambiental e cultural, ou seja, uma oportunidade única de “avançar no caminho da tolerância, respeito e compreensão” favorecida pela interação entre pessoas de diversas origens, tradições e modos de vida (WTTC, 2008). Porém, as transformações que a atividade turística ocasiona, podem ser boas, como o desenvolvimento da região, ou ruins (quando o planejamento turístico é deficitário ou inexistente); segundo Yázigi (2002), a ciência de vender as paisagens turísticas sem um planejamento leva à degradação e propõe a necessidade de leis municipais que limitem as construções particulares (todo o projeto e fachada) em harmonia com seu entorno. Para tanto, padrões mínimos de qualidade e estética são indispensáveis. Mas, apesar das modificações que sofre, a paisagem é o primeiro contato do turista com o local visitado. É o turista que a interpreta de forma única e peculiar às suas experiências, emoções e culturas; tornando-a possuidora de um papel relevante para o desenvolvimento do turismo. Oliveira et al (2007, p.83) afirma: “a paisagem é o que se vê em um determinado espaço, é um conjunto de elementos geográficos de um lugar .” No que diz respeito ao turismo e a paisagem urbana do Largo de São Sebastião e seu entorno, é possível encontrar trabalhos acadêmicos que abordam olhares, paradigmas e estudos específicos. Foram encontrados estudos sobre a divulgação em eventos culturais (SILVA, 2005); os impactos sociais que o Largo de São Sebastião para seus moradores e visitantes (BULÇÃO, 2007) e os fatores motivacionais na escolha do centro cultural Largo de São Sebastião como opção de 21 lazer (SILVA, 2009). Em paralelo, um relatório de estágio relata a relação entre a falta de tempo dos turistas e o não levantamento de dados no Teatro Amazonas (RAITZ, 2009) e, mais direcionado ao Patrimônio Histórico, Castro (2006) faz um acompanhamento do processo (antes e durante) de requalificação da paisagem contextualizando-o. Alguns artigos versam sobre as praças existentes em Manaus e fazem referência à Praça de São Sebastião. Apesar da quantidade e temática dos estudos analisados, não foi detectado um estudo que sustente o alcance de um dos objetivos da requalificação da Paisagem do Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu entorno: o desenvolvimento do turismo. Este fato evidencia a importância do presente estudo que, junto aos demonstrativos estatísticos confirmam tal desenvolvimento. Neste contexto aborda-se o escopo desta pesquisa que tem por objetivo Analisar o Processo de Requalificação da Paisagem do Centro Cultural Largo São Sebastião e seu entorno1 (CCLSS e seu entorno) e suas implicações sobre o espaço turístico de Manaus/AM, formatada como: objeto de estudo (Garcia, 2010; Mesquita, 1999, 2006; Duarte, 2010; Benchimol, 2006; Castro, 2006; Nascimento, 2003); conceitos a respeito do Espaço Turístico e da Paisagem (Lynch, 1997; Yázig, 2002; Boullón, 2002; Pires, 1999; Castro, 2002; Castogiovani, 2002 e Bertrand, 1971); a descrição da paisagem com suas categorias e conceitos (Boullón, 2002); patrimônio histórico com seus conceitos e contexto histórico (Braga, 2003; Curtis, 1981; Rodrigues, 2009; Abrahim, 2003; Mesquita, 2006; Segre, 1991) que são pontos norteadores à sustentar a importância da temática em estudo, finalizando com a inter-relação que existe entre Turismo e Patrimônio Histórico. Para o alcance dos objetivos optou por um estudo qualitativo (Godoi e Matos, 2006; Creswell, 2007; Oliveira, 1999) e como metodologia o estudo de caso e seus ferramentais: coleta bibliográfica, questionário com questões abertas e fechadas, entrevista: por domicílio e semiestruturada, direcionados ao levantamento de informações relevantes à analise do processo de requalificação da paisagem do CCLSS e seu entorno. Justificando a opção de uso do estudo de caso, Cullen (1971) afirma que o estudo de caso evidencia a paisagem urbana composta por recursos naturais e históricos culturais e foca a análise na percepção que o impacto visual da cidade exerce sobre seus habitantes ou visitantes. Tal evidencia e análise 1 Para Centro Cultural Largo de São Sebastião será adotado, a partir deste momento, a sigla CCLSS. 22 caracteriza o estudo de caso como predominantemente qualitativo (Yin, 2001; Cullen, 1971; Dencker, 1998; Labes 1998). O objeto desta pesquisa, o LSSE, além de estar localizado na cidade de Manaus, capital do Estado Amazonas, pertence a uma área de concentração de bens tombados (Estadual e Federal), é um elemento relevante do projeto de revitalização como tentativa do desenvolvimento cultural e turístico e alvo de interesse do poder público em área de interesse de preservação. A intenção da análise que aqui se propõe, visa identificar a relação da requalificação da paisagem local em prol do turismo. Justificando-se a escolha do objeto e da temática principal deste estudo. 1.2 Definição do Problema de Pesquisa Partindo da prerrogativa que a paisagem edificada apresenta a capacidade de atrair visitantes, promovendo o destino e, como consequência, contempla a cadeia produtiva do setor; fundamenta-se a preeminência dessa abordagem por ser considerada interessante referencial na análise do turismo. Propõe-se, portanto, analisar a etapa de Requalificação do CCLSS e seu entorno como um norteador do desenvolvimento turístico local. Contudo, investigar o antigo versus o novo, inerentes às questões de requalificação urbana que se manifestam dentro do contexto turístico e despertam atitudes reflexivas quanto às metodologias adotadas (também em relação ao fluxo turístico), posto que o valor histórico e a originalidade das construções, tão primados nesta experiência, tornam-se, por vezes discutíveis, comprometendo a identidade da memória coletiva. A partir dessa perspectiva apresentada, surge a formatação do problema de pesquisa: Quais são as implicações do processo de requalificação da Paisagem do Largo de São Sebastião e seu entorno sobre o espaço turístico de Manaus? Constitui esta pesquisa em um estudo de caso de abordagem qualitativa evidenciada pela relação entre Paisagem Urbana e Turismo, tendo como objetivo analisar o processo de requalificação do CCLSS e seu entorno, cuja metodologia encontra-se explicitada no capítulo 3. Desta forma, o presente trabalho encontra-se estruturado em 4 capítulos onde, o primeiro refere-se às delimitações pertinentes à pesquisa, no capítulo 2 contém a fundamentação teórica considerada o alicerce da 23 pesquisa, o capítulo 4 caracteriza espacialmente a cidade de Manaus com ênfase no objeto de estudo – o CCLSS e seu entorno, e no capítulo 5 encontra-se o resultado e discussões acerca do objeto de estudo. Para tanto, a pesquisa apresenta como objetivos: 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo Geral Analisar o processo de requalificação da paisagem do Centro Cultural Largo São Sebastião e seu entorno e suas implicações sobre o espaço turístico de Manaus/AM. 1.3.2 Objetivos Específicos Analisar o processo histórico de evolução urbana do CCLSS e seu entorno. Caracterizar o processo de revitalização da paisagem edificada como resgate da memória cultural. Mapear a configuração atual da paisagem edificada desta área da cidade. Analisar as implicações desta memória cultural urbana e do seu processo de requalificação sobre a atividade turística. 24 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Nesse item, faz-se necessário citar a temática conceitual subjacente para sustentação da pesquisa e direcionar os estudos em busca dos resultados que se propõem. Iniciando com um panorama do turismo e o estudo da paisagem – por ser o primeiro contato que o turista tem com o seu local visitado; em seguida com Patrimônio Cultural tentando alocar alguns conceitos que surgiram ao longo de sua trajetória, para então fazermos sua referência dentro do contexto turístico. 2.1 Turismo O ato de partir de um ponto e posteriormente retornar a ele é, etimologicamente, a definição de turismo2 apresentada por Theobald (2001), que deriva tanto do latim (tornare) quanto do grego (tornos) e significa uma volta, um círculo, ou seja, um movimento ao redor de um ponto central (ou de um eixo central). Podemos aqui considerar que a pessoa que realiza este percurso é chamada de turista uma vez que o sufixo ista sugere ação de um movimento circular, algo que sai de um ponto, dá uma volta e retorna ao mesmo. Barreto (1995, p.43) afirma que “turismo” vem da palavra de origem francesa tour, surgiu na Inglaterra no século XVI, refere-se a um tipo de viagem e significa volta. O turismo é, segundo Pinsky (2001), produto da sociedade capitalista industrial que se desenvolveu no século XVII, na França, sob o impulso de motivações como o consumo de bens culturais, por exemplo, quando as primeiras medidas de proteção aos monumentos de valor para a história das nações foram tomadas pelo poder público. Já Theobald (2001), acredita que a atividade turística iniciou durante a Revolução Industrial (na Inglaterra) e a consequente ascensão da classe média e dos meios de transportes, Ruschmann (2010) afirma que a palavra “turismo” surgiu “no século XIX, porém a atividade estende suas raízes pela história” e que certas formas de turismo existem desde as civilizações mais antigas e evoluiu após o século XX quando foi estabelecida a restauração da paz no mundo por consequência da Segunda Guerra Mundial - o que ocasionou a produtividade empresarial relacionada ao poder de compra e ao bem-estar da população afetada. 2 Foi adotado o termo “turismo” em português, porém a origem surgiu da palavra em inglês: tour. 25 Porém, o mais importante não é o quantitativo relacionado ao dinheiro que o turismo leva a certos destinos, nem o seu tamanho em termos de pessoas que viajam ou números de empregos que gera; o turismo exerce, segundo Hall (2004), enorme impacto na “vida das pessoas e nos locais em que elas vivem” por apresentar uma forma peculiar de ser significativamente influenciado pelo mundo que o rodeia visto que as motivações para viajar crescem em busca de novas culturas, de conhecer pessoas e destinos novos e, por consequência, ao rendimento disponível e aos mercados emergentes e tradicionais que, por sua vez, são acompanhadas pelas mudanças tecnológicas, sociais e demográficas. Ou seja, tais motivações e o consecutivo ato de viajar estimulam a melhoria da qualidade de vida das pessoas e impactam no desenvolvimento da economia mundial e, principalmente na economia brasileira (CARVÃO, 2008; STOCK, 2009). Importante citar que, frequentemente, o turismo encontra-se sujeito à intervenção governamental (direta e indireta) devido às possibilidades que apresenta em geração de emprego e renda e do seu potencial de diversificar e contribuir para as economias nacionais e regionais (HALL, 2004). A Empresa Brasileira de Turismo – EMBRATUR define turismo como uma atividade econômica representada pelo conjunto de transações de compra e venda de produto ou serviço turístico que são efetuadas entre agentes econômicos do turismo. É gerado pelo deslocamento voluntário e temporário de pessoas para fora dos limites da área ou região em que têm residência fixa por qualquer motivo, excetuando-se o de exercer alguma atividade remunerada no local de visita (EMBRATUR, 1992). Segundo a OMT (2001), turismo é: “o conjunto de atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas em lugares distintos ao seu ambiente habitual, por um tempo consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outros motivos”. OMT (2001, p.11). O turismo apresenta definições diversas segundo áreas do conhecimento. Porém, para análise do estudo de caso proposto nesta dissertação, faz-se necessário direcionar o estudo do turismo ao contexto cultural, ao espaço turístico urbano e à paisagem edificada. 26 2.2 Turismo Cultural Com o CCLSS e seu entorno como objeto de estudo, fez-se necessário entender o universo do turismo cultural iniciando por seus conceitos. Tais conceituações servem como base auxiliar no processo de diagnóstico do públicoalvo e a promoção dos recursos culturais existentes em uma localidade e reforça os aspectos de atratividade para o destino. Icomos (1976), afirma que turismo cultural é aquela forma de turismo que tem por objetivo, entre outros fins, o conhecimento de monumentos e sítios históricoartísticos. Segundo o autor, o turismo cultural exerce um efeito positivo sobre tal conhecimento e contribui para a manutenção e proteção na satisfação de seus próprios fins exigidos da comunidade humana, devido aos benefícios socioculturais e econômicos que comporta para toda a população implicada. Swarbrooke (2000, p.37) apresenta as múltiplas facetas do turismo cultural e os recursos utilizados3, porém não o conceitua como abrangente, apesar dos tipos de recursos culturais serem inter-relacionados. Nessa perspectiva, o Ministério do turismo “compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura” (RICHARDS, 1996, p.24). Barretto (2008) afirma que muitos turistas procuram o reencontro com o passado, com tradições e identidades, uma espécie de resposta ao processo de mundialização da cultura que acelerou a partir da segunda metade do século XX, acarretando na ressignificação de uma série de conceitos e valores. Talvez por essa razão, o turismo e a cultura tenham sido valorizados nos últimos anos corroborando ao desenvolvimento de cidades, estados, regiões e países. O certo é que a exploração da cultura como atrativo turístico contribuiu para o crescimento do turismo cultural em diversos ambientes, principalmente o urbano. Em Richards (1996, p.24) pode-se ter acesso à definição de turismo cultural publicado pela ATLAS4 onde aborda que o turismo cultural deve ser entendido como movimento de pessoas para atrações culturais fora da sua residência, com o 3 Atrações históricas, cultura popular, comidas e bebidas, festivais, tipos de arquitetura, artes, locais religiosos e linguagem dentre outros (SWARBROOKE, 2000, p. 37). 4 Association for Tourism and Leisure Education 27 objetivo de assimilar novas informações e experiências com vistas a atender suas necessidades culturais. Dentro do exposto, é oportuno registrar que o olhar do turista se volta para o que é especial, incomum, novo ou conservado, porém Chias (2007, p.45) afirma que o valor de uma civilização pode ser medido pelo o que se sabe conservar e não pelo que sabe criar. Essa linha de pensamento pode ser concluída ao afirmar que o turismo cultural permite a reconstituição da produção do patrimônio histórico-cultural e sua apropriação por sociedades específicas além de estabelecer ligações entre comunidades que o ocuparam no passado e aqueles que residem no presente, tornando possível, desse modo, examinar em que medida o patrimônio cultural representa uma continuidade cultural, colaborando para uma nova postura dos turistas que passa a ver a cultura como um insumo específico ao lado de atrativos naturais e dos serviços na concepção e formatação do produto turístico e, não como uma simples motivação de viagem (DIAS, 2006; CHIAS, 2007). O resgate histórico-cultural a partir da requalificação da paisagem considerado como base para a solidificação da identidade é um aspecto relevante dessa pesquisa, pois através do mapeamento da configuração atual da paisagem edificada podem-se analisar as implicações da memória cultural urbana e do seu processo de requalificação sobre a atividade turística. 2.3 Espaço Turístico Urbano Entender que o espaço físico pode “estender-se do universo a uma pequena parte da Terra” (BOULLÓN, 2002, p.73) pode ser um primeiro passo em direção ao entendimento do que vem a ser espaço urbano, ou seja, para compreendê-lo e representá-lo precisamos ter uma ideia das dimensões do todo e das partes em planejamento para intervenção. Podem-se apresentar três tipos diferentes de espaço: espaço plano, espaço volumétrico e espaço tempo, mesmo que sejam apreciados em duas diferentes formas: uma mediante o tamanho dos objetos materiais – dada por sua massa, e outra pelas distâncias que os separam. O espaço plano é delimitado pela largura e pelo comprimento, ou seja, é bidimensional. O espaço volumétrico, tridimensional, refere-se aos corpos com massa e, ao espaço tempo acrescenta-se o tempo que o observador demora em 28 percorrer o espaço anterior tridimensional (quadro 1). Boullón (2002) afirma que uma quarta dimensão pode ser adquirida, porém apresentaria um caráter subjetivo uma vez que dependeria da intervenção do homem como observador. Quadro 1 - Tipos de espaços. Fonte: segundo Boullón (2002, p. 74). Além do espaço físico, há outras acepções técnicas acerca do termo “espaço”, a saber: espaço econômico, espaço social e espaço político. A análise econômica do espaço o restringe como homogêneo e contínuo, onde o planejamento regional abrange todo o território do país e cada região abrange uma região que tenha propriedades iguais, Boullón (2002) descreve: “Como é possível dividir, fisicamente, um país em áreas nas quais cada metro seja idêntico ao resto, a ideia de região que os economistas utilizam refere-se a porções do território cujos indicadores econômicos (a produção, o transporte, o comércio etc.) e de desenvolvimento social (alfabetização, a moradia, a saúde, os salários etc.) são similares”. (BOULLÓN, 2002, p.71). A representação de dados, referentes ao grau de alfabetização, ao grau de mortalidade infantil ou de qualidade de vida peculiares a certas famílias, em mapas, caracteriza um análise social do espaço e por outro lado, a análise do espaço político pode ser claramente explicada pela simples divisão do mundo em norte e sul. “Definitivamente, a principal diferença entre o espaço físico e todos os demais é que não são tangíveis”. (BOULLÓN, 2002, p. 75). Através da linguagem do planejamento, os tipos de espaço podem apresentar-se em sete tipos diferentes de espaços: real, potencial, cultural, natural, virgem, artificial e vital conforme quadro 2. Analisando as definições e características das tipologias do turismo, percebe-se que o espaço físico transmite imagens parciais resultante da percepção 29 de uma cidade realizada no transcurso do tempo e que o homem a registra em sucessivas vivências. E em paralelo, o caráter subjetivo acrescido às dimensões do espaço, é de fundamental importância ao planejamento do uso dos atrativos turísticos, pois direciona as ações em prol de melhorias contínuas, otimização de tempo e treinamento do coorporativo envolvido na atividade turística. Quadro 2 - Síntese das Tipologias do Espaço. Fonte: adaptado de BOULLÓN (2002, p.77-79). A indefinição da força e do peso que a atividade turística exerce na produção do espaço, dificulta conceituar o espaço turístico. Tal espaço pode ser produzido pelo turismo e para o turismo, independente de fatores favoráveis para sua produção e evolui pelo processo de “ondas” de ocupação que ditadas pela moda ou padrão de consumo do espaço, ocasionam na sua degradação e, por consequência, na destruição dos recursos que os originaram. (RODRIGUES, 1997). Dentre as dificuldades e diversas vertentes para se definir o espaço turístico, Boullón (2002) conclui: O espaço turístico é consequência da presença e distribuição territorial dos atrativos turísticos que, não devemos esquecer, é a matéria-prima do turismo. Este elemento do patrimônio turístico, mais o empreendimento e a infraestrutura turísticas, são suficientes para definir o espaço turístico de qualquer país. (BOULLÓN, 2002, p.79). 30 Visando a determinação do espaço turístico, Boullón (2002) sugere a análise dos elementos que constituem o espaço turístico, a saber: Zona Turística; Área Turística; Centro turístico; Complexo Turístico; Unidade Turística; Núcleos Turísticos; Conjunto Turístico; Corredores Turísticos; Corredor Turístico de Translado e Corredor Turístico de Estada. Ao compará-los entre si, além se surgir a possibilidade de agrupá-los em categorias: as que abrangem superfícies relativamente grandes; as pontuais que abrangem superfícies relativamente pequenas e as longitudinais; surge também a ideia da flexibilidade de alguns elementos que compõem o espaço turístico e que podem evoluir pelo incremento do empreendimento turístico até alcançar categorias superiores. Cada um dos elementos se relacionam e surge como destaque a rentabilidade mais expressiva nos centros e nos corredores turísticos de estada por funcionarem com maior permanência. Em seguida os complexos os centros de distribuição e de escala, por exemplos. Todas as ações do setor do turismo podem ser organizadas de acordo com a teoria do espaço turístico por permitir a elaboração de políticas promocionais que trabalhem com base em produtos claramente definidos. Para uma projeção no exterior, a zona turística é a mais importante, por ser maior e por permitir apresentar um quantitativo expressivo de imagens do país quanto às zonas que tenham sido detectadas. Tais zonas e seus respectivos subsistemas e elementos do espaço turístico, são analisados em suas potencialidades e apresentados à empresas (iniciativa privada) para que esta utilize (com fins comerciais) informações técnicas elaboradas pelas repartições dos órgãos oficiais e possam ser preparados os pacotes turísticos de circuito e de estada por corredores, complexos e centros de distribuição. Para uma melhor compreensão dos elementos que compõem o espaço turístico, uma síntese (quadro 3) foi desenvolvida de acordo com Boullón (2002): 31 Quadro 3 - Síntese dos elementos do espaço turístico. Fonte: adaptado de BOULLÓN (2002, p. 80-101) Os entendimentos dos fragmentos facilitam a compreensão de um todo. Isso significa que a explanação dos elementos do espaço turístico pode facilitar o entendimento do que vem a ser o espaço turístico urbano aqui contextualizado. Após a adaptação e o controle frente ao ambiente natural que lhe serviu de base, o Homem - de origem, raça e credo diversificados, cria os centros urbanos com características personalizadas e, por consequência, a população urbana torna- 32 se a maior do mundo. A partir desta situação, pode-se afirmar que cada cidade apresenta um caráter diverso das demais a qual se pode, espontaneamente, “conhecer” (o que seria uma ação restrita aos moradores, pois seu conhecimento limita-se a algumas partes) ou “ler” (ato restrito aos turistas que precisam de ajuda e ensinamento para “ler” o que querem ver e, principalmente, informações precisas para que em todos os momentos de sua viagem tenha a oportunidade de escolher aonde ir e o que consumir). A leitura ou o ato de conhecer a cidade dá-se através das formas e da interpretação sobre os signos que melhor representam, captam a beleza do local e o resultado da viagem é considerado um acúmulo de experiências e lembranças dos lugares por que passou. (LYNCH, 1997; BOULLÓN, 2002). A interpretação depende das áreas que o turista percorre, geralmente nas áreas gravitacionais, ou seja, a área que o atrai e o motiva a permanecer ou voltar. Essas áreas gravitacionais são consideradas, de acordo com Boullón (2002), em quatro tipos. As estações terminais dos sistemas de transportes é o primeiro tipo e inclui áreas que compreendem, além dos modais, os ramos de hospedagem, bares, restaurantes, pontos de táxi e linhas de transportes urbanos. O segundo tipo são as zonas de concentrações do empreendimento turístico e de outros serviços urbanos onde, geralmente estão localizadas nos centros das cidades e em áreas de concentração de hotéis, agências, restaurantes, cinemas, teatros, comércio, galeria de arte e outros. O terceiro tipo são os atrativos turísticos urbanos que não apresentam um ponto fixo, porém os turísticos vão ao seu encontro. E o quarto tipo restringe-se às diversas saídas que conduzem os atrativos turísticos. As grandes cidades apresentam obstáculos para se conhecê-la que são apresentados em ordem crescente de intensidade: tamanho, traçado, topografia e tipo de arquitetura que, apesar de existirem, pode-se afirmar que o “interesse turístico é diretamente proporcional ao ordenamento das ruas, a monumentos, espaços verdes dentre outros” a fim de retê-los na memória, através de imagem, para interpretar e memorizar a paisagem urbana (BOULLÓN, 2002, p.194). Tais imagens se correlacionam na mente do turista e uma síntese do espaço urbano é elaborada mentalmente e ocorre com o passar do tempo, após o turista focar num esquema para familiarizar-se com o local. Boullón (2002) defende que a delimitação o espaço turístico urbano pode evitar os obstáculos a fim de conhecê-lo em sua totalidade. Essa delimitação colabora tanto para que as autoridades oficiais de turismo possam exercer sua 33 autoridade; quanto para concentrar os serviços turísticos separando-se assim os estabelecimentos turísticos dos não turísticos. 2.4 Paisagem turística A paisagem turística aqui contextualizada além de um simples produto turístico (BENI, 1998; BOULLÓN, 2002) será também analisada como social cultural (YAZIGI, 2001; MENEZES, 2002), ou seja, deve-se incorporá-la à civilização para então compreender os aspectos de ética, cultura e moral que desempenham na vida social coletiva. Para os autores, a paisagem produz relações sociais entre moradores e turistas por apropriarem de seus respectivos espaços de maneiras diferentes. Tanto as relações sociais dos moradores de espaços turísticos como a paisagem física envolvida se alteram. Para Castrogiovani (2002, p.31): “a cidade é um mundo de representações. Pode ser pequena ou uma metrópole. Ela pulsa, vive, seduz. Agride, transforma-se e transforma aqueles que nela interagem”. Essas alterações que ocorrem na paisagem como consequência da atividade turística podem ser boas, como o desenvolvimento da região, ou ruins (quando o planejamento turístico é deficitário ou inexistente). Mas, apesar das modificações que sofre, a paisagem é o primeiro contato do turista com o local visitado. É o turista que a interpreta de forma única e peculiar às suas experiências, emoções e culturas; tornando-a possuidora de um papel relevante para o desenvolvimento do turismo. Oliveira et al (2007, p.83) afirma: “a paisagem é o que se vê em um determinado espaço, é um conjunto de elementos geográficos de um lugar” Existem muitas definições de paisagem e algumas se devem às exposições acima relacionadas. Petroni e Kenigsberg apud Boullón (2002, p.118) define paisagem urbana como: Conjunto de elementos plásticos naturais e artificiais que compõem a cidade: colinas, rios, edifícios, ruas, praças, árvores, foco de luz, anúncios, semáforos, etc,... Como o resultado de uma combinação dinâmica de elementos físicos, biológicos e antrópicos, a paisagem, segundo Bertrand (1971), não está determinada como uma simples porção do espaço e sim como um conjunto único e indissociável em perpétua evolução. Xavier (2007, p. 37) aponta: “para o turismo, a 34 paisagem deve ser interpretada. Interpretar a paisagem significa agregar valores ao que é percebido”. Seguindo esse pensamento, a paisagem deve ser encarada como uma combinação entre os fatores que se interrelacionam e formam uma única porção do espaço bem como um fenômeno em constante transformação (social ou natural) que influi direta e significativamente no turismo. É através da paisagem que o turista percebe a realidade de um local e sente-se atraído ou não. Boullón defende: “a paisagem se vai com o observador porque não passa de uma ideia da realidade que este elabora quando interpreta esteticamente o que está vendo [...] o que vale é que o turista comum capta por meio de seus sentidos, influenciados por seu estado de espírito” (BOULLÓN, 2002, p. 119-125). Para Yázigi (2001, p. 34), “ao se pensar na estrutura da personalidade do lugar, a paisagem assume especial destaque, pois é precisamente dela que nos chega muito da percepção”. Castro (2002) argumenta sobre a percepção da paisagem como resultado de um processo cognitivo mediado pelas representações do imaginário social de valores simbólicos. Podemos afirmar que cada expectador apresenta a paisagem de uma maneira única, de acordo com sua percepção e pode ser considerada como um resultado de uma interação complexa entre o meio (determinado lugar) e o indivíduo. É como uma testemunha visual de elementos estéticos e simbólicos que são construídos no decurso da história, despertando grande e renovado interesse no lugar visitado assim que identificados e apropriados pelo turista. A subjetividade aqui é essencial para a percepção humana, principalmente quando se trata da paisagem como um cenário (PIRES, 1999), permite-se descrevêla objetivamente destacando qualidades e fragilidades quando observada em sua condição de expressão espacial e visual do meio. A subjetividade, citada por Boullón (2002), impossibilita a descrição da paisagem uma vez que os conceitos de beleza variam de indivíduo para indivíduo e de cultura para cultura. Porém, a definição da paisagem proposta pelo autor dá-se pela necessidade de combinar uma série de variáveis (quadro 4) apresentadas em sete grupos: tipo de urbanização; nível socioeconômico das edificações; estilo arquitetônico, topografia, tipo de rua, tipo de pavimento e, tipo de árvore. Cada grupo apresenta também subdivisões que totalizam trinta elementos básicos formando uma tipologia da paisagem urbana. 35 Como a linguagem de uma cidade são as formas, sua leitura se apoia naqueles signos que melhor a representa (BOULLÓN, 2002). O arranjo das variáveis supracitadas encontra-se espacialmente localizado e, de certa forma, espacialmente determinado ocasionando numa característica peculiar a cada lugar distinguindo-o dos outros. Este arranjo está mudando, com ou sem fluxo. Reforçando o arranjo das variáveis, Lynch (1997) afirma que uma cidade só é legível se puder ser “imaginável”, ou seja, a clareza física da imagem é relevante e indispensável. A imagem mental é descrita quando ocorre a percepção dos usuários às variáveis da cidade. Além das variáveis descritas, faz-se necessário também o conhecimento do clima que, segundo Boullón (2002), serve para que o turista conheça a época do ano e a hora do dia que a paisagem concentra sua plenitude estética. 36 Quadro 4 - Variáveis que determinam a paisagem urbana. Fonte: adaptado de BOULLÓN (2002, p. 214-215). A relação entre a paisagem urbana e a proximidade das construções que existe no espaço urbano é descrita por Cullen (2009) e pode-se afirmar que uma construção é arquitetura, já duas seriam paisagem urbana. Já a relação entre paisagem e turismo ressalta uma solidificação cultural desse com o patrimônio cultural, o que condiz na configuração da história e do meio ambiente em um recurso econômico. A paisagem urbana, quando é resultante da interação da visão e da atuação do homem no espaço, é vista como um reflexo da sociedade (YÁZIGI, 2002) e é considerada como um conjunto de formas num dado momento e período histórico e possuidora de papel relevante a partir da existência de uma interface entre paisagem e percepção, de uma sociedade que herda e se apropria daquilo que suas necessidades requerem e praticam. Segundo Boullón (2002), é como uma 37 qualidade que os diferentes elementos de um espaço físico adquirem apenas quando o homem surge como observador, animado de uma atitude contemplativa dirigida a captar suas propriedades externas, seu aspecto, seu caráter e outras particularidades que permitam apreciar sua beleza ou feiura. 2.5 Patrimônio (monumentos) Histórico Cultural edificado no contexto do turismo O lançamento da ideia de patrimônio monumental é uma consequência da iniciativa de proteção aos monumentos antigos, que surgiu entre os séculos XVI e XVIII, quando a nobreza europeia enviou jovens com objetivos educacionais a fim de resgatar a identidade greco-romana. Essa ideia é defendida por Dias (2006) que acredita que essa iniciativa pode ser considerada como uma forma primitiva do que hoje chamamos de turismo. Esse estudo realmente poderia ter sido iniciado a partir da cidade grega, pois possibilitaria contribuições notáveis ao significado do monumento e da estrutura urbana em si que apresenta solução indissolúvel com o modo de ser e com o comportamento das pessoas. Do ponto de vista da teoria do conhecimento, o passado é parcialmente experimentado agora e do ponto de vista da ciência urbana, “pode ser esse o significado de dar às permanências: elas são um passado que ainda experimentamos”. Rossi (1995, p.49). Essa referência ao “passado” deve-se ao fato de que as cidades permanecem em seus eixos de desenvolvimento, mantendo a posição de seus traçados, crescendo de acordo com a direção e com o significado dos fatos antigos. Respondem por essa permanência: as ruas e o plano que, mesmo sob níveis diversos deforma-se, porém não se desloca, ou seja, “a forma da cidade é sempre a forma de um tempo da cidade, e existem muitos tempos da cidade. No próprio decorrer da vida de um homem, a cidade muda de fisionomia em volta dele, as referências não são as mesmas, [..] vemos como incrivelmente velhas as casas na nossa infância; e a cidade que muda apaga com frequência nossas memórias” (ROSSI, 1995, p. 57) A própria ideia da cidade já transmite a união entre o passado e o futuro e percorre tentando fixar-se na memória da humanidade através da sua permanência em fatos únicos, em monumentos ou até mesmo na simples impressão que se possa formar dela (da união). Isso pode ser considerado uma explicação ao fato de 38 que, na antiguidade, o mito era colocado como fundamento das cidades; sendo assim, é provável que o valor da história como memória coletiva - própria transformação do espaço, a cargo da coletividade - nos auxilie na compreensão do significado da estrutura urbana e, consequentemente, da arquitetura da cidade. Compreender a estrutura da cidade ou mais precisamente os monumentos expressivos de uma determinada cultura nos remete às áreas de proteção patrimonial que são, por seu contexto histórico, econômico e cultural, atrativos turísticos. É importante registrar que o crescimento descontrolado de turistas interessados em valores culturais já geraram perdas irreversíveis de grande parte do patrimônio arquitetônico das cidades e sua redução deu-se a partir da implantação de normas destinadas a proteger as zonas históricas monumentais ainda de pé (BOULLÓN, 2002). Com base nas normas de proteção às zonas históricas, faz-se necessário contextualizar e conceituar Patrimônio Cultural e para tanto, seguimos os estudos de Braga (2003) e nos portamos às primeiras tentativas de sua definição, onde podemos perceber que esta é posterior às tentativas de eleição e proteção aos seus bens. Antes de 1936, onde Gustavo Capanema (1934). Ministro da Educação solicita ao escritor Mário de Andrade (na ocasião, diretor do Departamento de Cultura do Município de São Paulo) a elaboração de um projeto do Patrimônio Artístico Nacional5, já havia tentativas de salvaguardar o patrimônio através de leis estaduais que acabaram sendo ineficazes por sua inconstitucionalidade. No projeto referido, consta que Patrimônio Cultural: são todas as obras de arte pura ou de arte aplicada, popular ou erudita, nacional ou estrangeira, pertencentes aos poderes públicos, e a organismos sociais e a particulares nacionais, a particulares estrangeiros, residentes no Brasil. Consideremos aqui, que o termo “arte” assume ampla significação de cunho estético e também se reporta à produção artesanal. Com o surgimento do decreto Lei n° 25 de 30 de novembro de 1937 (após o golpe político de Getúlio Vargas) o SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional é organizado e define-se oficialmente o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional como: 5 De acordo com Braga (2003, p.14), o projeto referido inspira a criação do SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional sob direção de Rodrigo Mello Franco de Andrade (1937-1967). Este distingue os bens históricos dos bens artísticos. 39 O conjunto e bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. (BRASIL. Decreto-Lei n. 25 de 30 de novembro de 1937, Art. 1º). O referido decreto argumenta Curtis (1981, p.16), “reconhece que poucos são os privilegiados com registros e reconhecimentos oficiais através do instrumento de tombamento o que lhes incidiria a proteção legal”. No ano de 1988, consta no artigo 216 da Constituição de 88 a primeira referência à denominação e à definição de Patrimônio Cultural, vinculando-o a diversos interesses, como: artísticos, estéticos, históricos, de caráter coletivo ou excepcional; a saber: “Constituem o patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artísticoculturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico” (BRASIL, 2001, p. 200). Em 2000, através do Decreto n° 3551 (04/08/2000) em ser Art. 1º, o patrimônio imaterial é inserido ao Patrimônio Cultural como nova categoria e pode ser definida como: As práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas e também os instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes serão associados e as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos que se reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural (DECRETO Nº 3551 DE 04/08/00). Independente de ser patrimônio material ou imaterial faz-se necessário destacar que recursos destinados aos mesmos não garantem sua proteção efetiva, mas corroboram para reconhecê-los como componentes integrantes de um acervo oficial e atribuir-lhes o amparo legal. A proteção efetiva plena poderá ser alcançada se, em sincronia com às demais legislações patrimoniais, haja uma ampla divulgação que esclareça os objetivos, os benefícios deles advindos, inclusive os descontos nos incentivos monetários, que podem chegar à isenção total do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), podendo auxiliar na manutenção ou na conservação dos imóveis. Após breve contexto acerca da origem e definições de Patrimônio Cultural podemos citar que o mesmo - ao ser representado por museus, monumentos e 40 locais históricos - pode passar a existir e ser mantido a partir do turismo cultural. Somamos, ao turismo cultural, a oferta de espetáculos ou eventos. O Patrimônio é considerado como algo construído para ser uma representação do passado histórico e cultural de uma sociedade e, depende das concepções que cada época tem a respeito do que, para quem e por que preservar. Com as definições anteriores, podemos entender que os remanescentes materiais da cultura são reflexos de experiências vividas (sejam individuais ou coletivas) que permitem ao homem a lembrança e a ampliação do sentimento de pertencer a um mesmo espaço, partilhando uma mesma cultura e aguçando a percepção de ícones que fornecem sentidos de grupo compondo uma identidade comum para, em fim, “acreditarmos que preservar o patrimônio cultural garante maiores oportunidades para que a sociedade perceba a si própria” (RODRIGUES, 2009, p.15 a 17). Rodrigues (2009) abre pertinente discussão a respeito do contexto histórico do Brasil onde narra que negros e brancos pobres eram vistos nos livros escolares como trabalhadores, mas não como construtores de cultura. Contudo, é compreensível a lacuna que inicialmente existiu entre o patrimônio cultural e a população brasileira. Lacuna esta que perdurou até o momento em que os conjuntos dos movimentos sociais tornaram-se mais ativos em busca da democratização do país e o efetivo exercício dos direitos da cidadania e quando os segmentos sociais e étnicos, com seus respectivos papéis, foram reconhecidos como construtores da sociedade, da história e da cultura brasileiras (década de 1980). A partir de 1964, a intervenção do Estado na cultura cresce ao ponto do departamento de assuntos culturais da Organização dos Estados Americanos (OEA) promover um encontro com diversos países para que os projetos de valorização do patrimônio fizessem parte dos planos de desenvolvimento nacional e fossem realizados simultaneamente com o equipamento turístico das regiões envolvidas; recomendando ainda a “cooperação dos interesses privados e o respaldo da opinião pública para o desenvolvimento desses projetos” (RODRIGUES, 2009, p.15 a 17). A valorização turística do patrimônio passa então, não só a manipular um universo simbólico de grande importância para o civismo, mas também a divulgar a cultura local por meio de seu patrimônio e, mais especificamente, através de seus monumentos históricos. O turismo enquanto prática cultural poderá representar o elo entre o legado histórico-cultural e o tempo presente, podendo – se praticado com critérios – “ressignificar o patrimônio mantendo-o vivo”. HORTA (2009, p.83). 41 Em Manaus, o primeiro imóvel a ser tombado foi o Teatro Amazonas (Registrado no Livro Histórico, em 1966) e muito posteriormente (quase 20 anos) o Reservatório do Mocó (Registrado no Libro das Belas-Artes e no Livro Histórico, em 1985). Com a finalidade de “apresentar a capital do estado do Amazonas à própria instituição federal, bem como aproximá-lo da natureza específica desse patrimônio regional” (ABRAHIM, 2003, p. 64) foi instalado em Manaus um Escritório Técnico do SPHAN/Pró-Memória. A partir de então, o grande acervo arquitetônico de Manaus para ser visto pelo país e acarreta em outras unidades tombadas, a saber: o Mercado Adolpho Lisboa e as Instalações Portuárias. Em decorrência do crescimento que a ZFM proporcionou e em nome da tendência à verticalização e à modernidade, muitos prédios antigos localizados no centro de Manaus foram descaracterizados ou desaparecidos. Tal situação contribuiu para a consolidação de uma consciência a respeito do patrimônio preservado e motivou o Estado a eleger, oficialmente, seus patrimônios (quadro 5). 42 Quadro 5 - Síntese dos bens tombados no município de Manaus. Fonte: Andressa Santos (2011). Todo entendimento acerca do patrimônio é importante para a compreensão do processo histórico da Amazônia. Mesquita (2006, p.21) conclui “… são documentos materializados que testemunham uma época, entendendo que, por estas razões, devam ser estudadas no sentido de lhes descobrir valores para preservá-las, resgatando a memória da cidade”. Em paralelo, Segre (1991) revela: “a conservação da cidade histórica não é um problema arquitetônico, técnico ou estético, mas um problema de caráter essencialmente econômico e social” e como solução aponta: “a cidade deve conservar seu passado, mas ao mesmo tempo 43 revitalizá-lo, torná-lo compreensível em novos tempos expressivos ou através de novas funções” (SEGRE, 1991, p. 286 a 289). A cidade de Manaus como qualquer cidade, por constituir-se em patrimônio de uma coletividade, deve ser objeto de estudos interdisciplinares para que se possa entender melhor a sua identidade cultural e, com isso, propor novos caminhos para sua sustentabilidade e manutenção da qualidade de vida de seus habitantes. 44 3. METODOLOGIA Neste capítulo apresenta-se a metodologia cuja função é delimitar os procedimentos que nortearão a apreciação crítica na busca de acontecimentos e princípios, a realização dos instrumentos de coletas de dados, o processo de coleta e a interpretação dos dados. 3.1 Tipo de pesquisa e procedimento de coleta de dados Para desenvolvimento da pesquisa, os métodos devem ser desenvolvidos, selecionados e ajustados de acordo com a compatibilidade da natureza do fenômeno estudado e a pesquisa em si guiada pela dinâmica da procura de evidências e da abertura de horizontes aliados a sua obtenção de entendimentos mais profundos da natureza ou significado das experiências vividas oferecendo ao pesquisador percepções aceitáveis que, através dela, o colocam em constante contato com os informantes através da entrevista. A abordagem aqui utilizada é a qualitativa que, quando analisada de forma agregadora, induz o pesquisador a perceber o fenômeno a ser estudado, sob as perspectivas das pessoas nele envolvidas, ponderando os pontos de vista mais relevantes (GODOI E MATOS, 2006). Segundo Van Maanen (1979), a expressão “pesquisa qualitativa” apresenta denotação diversificada no campo em que o turismo está inserido, ou seja, das ciências sociais que se resumem em técnicas interpretativas que visam descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo de significados a fim de reduzir distâncias entre teoria e dados; contexto e ação; indicador e indicado. A pesquisa qualitativa, segundo Creswell (2007), envolve o pesquisador e suas suposições permitindo-o investigar significados dos indivíduos (ou grupos sociais) e compreender o problema social. Ou seja, estudam coisas em seu cenário natural sincronizando sentidos ou interpretando fenômeno como resultado do que as pessoas lhe trazem. Mediante a profundidade da pesquisa, o estudo de caso será a base metodológica empregada neste por apresentar uma alavanca empírica capaz de investigar fenômeno contemporâneo dentro de um contexto real, quando a fronteira 45 do fenômeno e o contexto não são claramente evidentes e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas. Visando dinamizar esta pesquisa, fez-se necessário dividi-la em duas etapas com seus respectivos desdobramento como mostra a figura 1 a seguir: Figura 1 - Estrutura da pesquisa – metodologia Fonte: adaptado de Stock, 2009. A coleta de informações acerca do universo do tema central deste estudo define a primeira fase do processo metodológico e apresenta como objetivo compreender o estado da temática Requalificação Urbana no Contexto do Turismo para, consequentemente, contextualizá-la. A pesquisa bibliográfica foi iniciada no mês de abril de 2011 e estabelecida num recorte temporal a partir de 2000 até o ano de 2012 para concretizar a base teórica e estabelecer a discussão da temática central nos níveis mundial, nacional e local. Para artigos e periódicos, como referencia de busca, optou-se por base de dados de fontes científicas a nível internacional relevante ao Turismo, à 46 Requalificação da Paisagem e ao Patrimônio Histórico e Cultural. Vale aqui citar que: Paisagem, Paisagem Urbana, Patrimônio Histórico, Patrimônio Cultural, Turismo, Paisagem Turística e Espaço Turístico foram palavras-chave aplicadas nos sites de buscas comerciais ora em língua pátria e ora em língua inglesa - devido à base da pesquisa. A seleção dos artigos foi de acordo com a metodologia aplicada, a temática explanada e os resultados obtidos e seu foco restringe-se à reflexão estabelecida da paisagem urbana no espaço turístico proposta pelos autores e pela análise dos resultados de suas respectivas pesquisas desenvolvida entre 2002 e 2012. Em paralelo, projetos de graduação, relatório de estágio (UNINORTE, UFAM e UEA), dissertações, teses (UEA, UFAM, UNIVALI, UFSC, UFPE) e livros de acervo pessoal e de universidades e faculdades (UFAM, UEA, UNINORTE e UNIVALI) também foram consultados a fim de gerar consistência nas investigações e consolidar o referencial teórico deste projeto nas áreas de turismo, paisagem urbana e patrimônio Histórico – Cultural. Reforçando a opção de uso de estudo de caso – o que determina a segunda fase, Yin (2001, p.27) ressalta que este tem a “capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidências – documentos, artefatos, entrevistas e observações”, focando no entendimento das dinâmicas presentes num contexto ímpar que visa identificar padrões e inter-relações entre as variáveis existentes que permitam melhor entendimento do fenômeno estudado. Em paralelo, Flick (2009, p.109) descreve “o termo genérico campo pode designar uma determinada instituição, uma subcultura, uma família, um grupo específico de pessoas com uma biografia especial, tomadores de decisão em administrações de empresas e assim por diante”. Cullen (1971) afirma que o estudo de caso evidencia a paisagem urbana composta por recursos naturais e histórico-culturais e foca a análise na percepção que o impacto visual da cidade exerce sobre seus habitantes ou visitantes. Tal evidencia e análise caracteriza o estudo de caso como predominantemente qualitativo – reafirma a abordagem aqui aplicada. Duarte (2005) destaca que o método é eficiente (estrategicamente) no momento em que se busca resposta para “como?” e “por quê?”; no momento em que o pesquisador [observador] encontrar-se sem controle dos eventos e, quando o foco encontrar-se nos fenômenos contemporâneos. 47 A realização do estudo de caso será guiada pelo protocolo proposto por Yin (2001, p.80) por ser “uma maneira especialmente eficaz de se lidar com o problema, de se aumentar a confiabilidade dos estudos de caso”. O protocolo aqui apresentado foi formatado em quatro etapas de acordo com os objetivos desta pesquisa e o procedimento de coleta, análise e apresentação de dados. Quadro 6 - Protocolo do estudo do CCLSS e seu entorno em Manaus – AM. Fonte: adaptado de Yin, 2001. 48 Com a intenção de apresentar as diretrizes gerais que serão seguidas no protocolo, a primeira etapa está organizada com o plano e objetivo geral, pois segundo Yin (2001, p.79), “uma boa preparação começa com as habilidades desejadas por parte do pesquisador do estudo de caso”. A segunda etapa, estabelecida, como procedimento de campo foi subdividida em aplicação de questionário, entrevista – pesquisa por domicílio e entrevista semiestruturada. Na aplicação de questionários (apêndice I) com turistas foi possível verificar sua visão acerca da paisagem em estudo, seu entusiasmo com as mudanças que a requalificação proporcionou e as sugestões de melhorias. Os questionários foram formatados em português e em inglês visando atender à diversificada procedência dos turistas e aplicados nos meses de janeiro a julho de 2012 em períodos de grande circulação de pessoas como Festival Amazonense de Ópera, e em dias aleatórios sem eventos de grandes proporções. As entrevistas por domicílio (apêndice II) visaram formatar um contexto histórico do processo da requalificação, pontuar as ações executadas durante o processo da requalificação e, principalmente, traçar um panorama atual como consequência da requalificação. As entrevistas foram feitas com todos os moradores do entorno que aceitaram colaborar com esta pesquisa conforme figura 2: Figura 2 - Área de influência do Projeto Fonte: Programa Manaus Belle Époque, 2000. 49 As entrevistas semiestruturadas (apêndice III) restringem-se aos Órgãos, Instituições e Entidades envolvidas no processo de requalificação do CCLSS e seu entorno e na sua administração atual, conforme identificado no protocolo. O objetivo destas entrevistas é colher informações técnicas e motivação das escolhas para a formatação que hoje se encontra bem como a dinâmica de administração e conservação do espaço direcionado à atividade turística. Seguindo o protocolo proposto, a terceira etapa foi delimitada de acordo com os objetivos específicos e apresentam-se em questões que norteiam esta pesquisa. Tais questões estão fundamentadas no referencial teórico o que assegura a relevância desta pesquisa. Como forma a propiciar o entendimento da Paisagem Urbana no CCLSS e seu entorno no que se refere à formação socioeconômico e sociocultural e aos aspectos relacionados à ocupação e ordenamento do espaço a análise está fundamentada pelos estudos realizados por Santos (1982) que os discutem a partir da lógica do capitalismo e usa categorias de análise do espaço por meio de verificação do que denomina de forma, função, estrutura e processo. O autor conceitua espaço como “um sistema onde diversos elementos interagem e se correlacionam”; dessa forma, compreender as variáveis que compõem o Largo de São Sebastião e seu entorno assim como suas inter-relações enriquecerá esse estudo. 3.2 Procedimento de análise de dados Eduardo Yázigi (2001), afirma ser preciso reconhecer uma multiplicidade de formas e tempos presentes na paisagem. Geomorfologia, vegetação, sistema hidrográfico, arquitetura, publicidade e outras entidades paisagísticas que possuem tempo e dinâmica próprios. Equivale entender que, na perspectiva do planejamento, cada item requer estratégia diferenciada para intervenção, com técnicas, tempos e políticas adequados. Porém, a análise dos dados para a compreensão da paisagem edificada e suas implicações sobre o desenvolvimento do turismo no CCLSS e seu entorno estão embasadas nas propostas de leituras do espaço turístico de Roberto Boullón (2002) por fazer referência à qualidade estética e aos diferentes elementos da paisagem urbana sobre a experiência turística, podendo esta qualidade estética 50 despertar o interesse do observador em apreciá-la e contemplá-la, tornando a experiência turística enriquecedora. Para consolidar tal análise, o autor enfatiza que, para a definição mais precisa da paisagem urbana, faz-se necessário combinar as seguintes variáreis: tipo de urbanização, nível econômico das edificações, estilo arquitetônico, topografia, tipo de rua, tipo de pavimento e tipo de árvores. 51 4. CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE DE MANAUS Este capítulo da dissertação visa, primeiramente, apresentar a cidade de Manaus por conter, em seu contexto histórico, cultural, econômico e social, o CCLSS e seu entorno. Em seguida, trazer resultados e propostas em termos da real significação histórica, dos resultados da estratégia política de propaganda da cidade, da restituição de um logradouro dotado de segurança e infraestrutura à sociedade e as diretrizes para a verificação do alcance de um dos objetivos pré-determinados – o desenvolvimento do turismo a partir da requalificação da paisagem urbana. 4.1. Caracterização geográfica A cidade de Manaus é a capital do Estado do Amazonas encontra-se localizada na Região Norte do Brasil e, mais especificamente na confluência dos Rios Negro e Solimões; é pertencente à mesorregião do Centro Amazonense e à macrorregião Amazônia. O acesso a essa cidade, via terrestre, dá-se pelas Rodovias BR – 174 e BR319 que liga Manaus a Boa Vista (capital de Roraima) e a Porto Velho (capital de Rondônia), respectivamente. E, pela AM-010 que liga ao Município de Rio Preto da Eva e Itacoatiara e AM-070 que a liga ao Município de Iranduba. O acesso aéreo dáse através do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes e sua extensão “Eduardinho” próprio para aeronaves de pequeno porte e o Aeroporto de apoio Ponta Pelada que é de base militar e está sob a responsabilidade da FAB – Força Aérea Brasileira. No que diz respeito ao transporte fluvial, o Porto de Manaus recebe embarcações de pequeno, médio e grande porte tanto nacionais quanto internacionais. 52 Figura 3 - Localização geográfica do Município Fonte: http://www.amaconsultoria.com.br/manaus/index.asp, Acesso em 28.04.2011. O seu território ocupa uma área de 11.401,077 Km 2 com Densidade Demográfica 158,06 hab/ Km2 (IBGE, 2010) e limita-se, ao Norte, com o Município de Presidente Figueiredo; ao Sul com os Municípios Careiro e Iranduba; ao Leste com o Município de Rio Preto da Eva e Amatari e a Oeste com o Município de Novo Airão (PREFEITURA MUNICIPAL DE MANAUS, 2011). Manaus apresenta clima equatorial úmido peculiar da Região Norte, com chuvas no verão e temperatura média anual de 32°C. Chove quase todos os dias do mês de dezembro ao mês de junho e costumam ser em fortes pancadas de pouca duração. Nos demais meses caracteriza-se pela época da seca e sol intenso na qual a temperatura chega a 38°C e em setembro chega em torno de 40°C. (INPE, 2011). Com uma altitude média inferior a 100 metros, Manaus é caracterizada por planícies constituídas por sedimentos da Era Antropozoica, baixos planaltos e terras firmes (PREFEITURA MUNICIPAL DE MANAUS, 2011). Em 1819, Karl von Martius e Johan von Epix citados por Mesquita (2006) descreveram Manaus como “lugar situado num terreno desigual cortado por córregos”. Tal descrição assinala a característica do relevo local. 53 Figura 04 - Planta da Cidade de Manaus (1852 – topografia acidentada e cortada por córregos). Fonte: Jorge Herrán, 1990. Durante o período provincial, Manaus era bastante recortada por igarapés (figura 04), muitos dos quais aterrados na última década do século 19 (MESQUITA, 2006). O autor registra que o período era propício ao aproveitamento das boas águas, visto que Manaus ocupa uma posição eminentemente aquática. Na ocasião, chafarizes foram facilmente instalados no centro da cidade – o que servia para abastecimento da população. Tal sistema de abastecimento durou cerca de dez anos e, em 1865 foi observado que a água do rio não era apropriada para consumo. Um Código de Posturas Municipais foi promulgado e em 1872 era proibido tirar água de igarapé do Aterro para comercializá-la ou ser usada para lavagem de roupas ou animais (cavalo, na época). Em 1883 a lei que dava autorização ao presidente a dar início às obras de canalização da água potável foi aprovada. Atualmente, o sistema de abastecimento de água no Município, apresenta uma produção com base em três captações no Rio Negro, sendo uma no Mauazinho e duas na Ponta do Ismael e conta com 121 poços que captam a água do aquífero subterrâneo (ÁGUAS DO AMAZONAS, 2011). O Rio Negro citado ocupa uma posição importante em volume de água perdendo apenas para o Rio Amazonas – do qual é afluente. O Rio Negro é também 54 o rio mais extenso de água negra do mundo. O Rio Negro e o Rio Solimões são os dois rios que passam pelo município de Manaus. Manaus apresenta diversidade e, consequentemente, extraordinário recurso natural e por esse motivo é conhecida como “Capital Ambiental do Brasil”. O Município está localizado na maior reserva do país (IBGE, 2011), apresenta vegetação densa e flora diversificada. 4.2. Caracterização Histórica A “narração” do histórico do Município de Manaus em seus principais períodos é o objetivo desse subcapítulo, pois identificará os trâmites políticos, econômicos, sociais e culturais como norteadores do repertório edificado remanescente ou não. Fortaleza do Rio Negro, Fortaleza da Barra, Lugar da Barra, Barra do Rio Negro, Barra e Vila da Barra foram algumas denominações que a cidade de Manaus recebeu no decorrer de sua evolução histórica. Tais denominações surgiram a partir do processo de ocupação inicial que se dá na fundação do forte de São José da Barra do Rio Negro ao período de instalação da Província e consolidou-se em 4 de setembro de 1856 quando a Lei n. 68 mudou para cidade de Manaus. O termo Manaus faz homenagem à nação indígena manaós e significa “mãe dos deuses” (MESQUITA, 2006; GARCIA, 2010). No processo inicial supracitado é possível descrever o uso da força e da fé para subjugar o conquistado, caracterizando o sistema de colonização lusitana o qual é materializado e demarcado através de ícones que eram as construções típicas do cenário como a Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro6 e a Igreja. O primeiro, que representa forte denominação militar, erguida sobre um cemitério indígena tem como objetivo proteger o lugar contra incursões estrangeiras e o segundo, construído por volta de 1695, reporta-se à fé que, localizada próximo ao forte, era tida como a construção mais importante do Lugar da Barra apesar de sua aparência simples e de ter sua obra atribuída aos religiosos carmelitas (Castro, 2006). 6 Em 1669, o Capitão Francisco da Mota Falcão ergue Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro atendendo a ordens do general Antônio de Albuquerque Coelho. 55 Os dois ícones estabelecidos influenciaram na ocupação do território visto que as aglomerações surgidas partiram do seu entorno até a beira do rio; o que registra a ausência de um planejamento urbano. Por volta de 1786, o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira narrado por Mesquita (2006, p.24) “observou que a população se dividia em dous bairros, ao longo da margem boreal: ambos elles ocupam uma porção de barreira que medeia entre os dous igarapés da Tapera dos Maués, e dito dos “Manaós””. Inicialmente pequena, com cerca de 301 habitantes sendo a maioria de nativos, Manaus vivia de produtos extrativos oriundos da floresta ou dos rios, visto que o município ocupa uma posição estratégica para trabalhar e gerar riqueza (MESQUITA, 1999, p. 24). Ainda no século 18, algumas melhorias foram estabelecidas e diversos estabelecimentos industriais passam a funcionar. Pano, algodão, fécula de anil e cordoalha são algumas benfeitorias resultante desse progresso que só foi possível com a ousadia7 do governador Manoel Lobo D’Almada que mandou construir prédios para serviços públicos. Do período colonial até o período de instalação da província é registrado como uma fase de poucas alterações. O lugar recebeu inúmeros portugueses e brasileiros de outras províncias que passaram a construir casas mais confortáveis; os primeiros tornaram-se comerciantes apesar do tímido comércio local. Na ocasião, “faltava médico, boticário e professor primário. (MESQUITA, 2006, p. 26). Em 1833, como consequência da promulgação do Código Criminal que acarretou na divisão do governo paraense em três comarcas (Grão-Pará, Baixo Amazonas e Alto Amazonas), o Lugar da Barra após ser promovido à condição de vila, assume a denominação de Vila de Manaós na posição de capital da comarca do Alto Amazonas. A respeito do crescimento da capital, Antônio Ladislau Baena descreveu: O lugar era composto por pequenas ruas e uma praça, e a maioria de suas casas era coberta com palha, mesmo o Palácio dos Governadores, a Provedoria e o quartel. Havia duas igrejas, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição e uma outra pequenina, além do Hospital Militar, dos armazéns da Provedoria, Armas e Pólvoras e uma pequenina Ribeira de construções de canoas e batelons. (BAENA, 1839, p.380). 7 A ousadia refere-se ao ato de transferir a sede do governo da Vila de Barcelos (onde funcionava desde 1758) para o Lugar da barra sem autorização do governador do Grão-Pará, ao qual ele (D’Almada) era subordinado. (MESQUITA, 2006). 56 A Vila de Manaós passa a ser cidade em 1848 e a denominar-se Barra do Rio Negro e, com base em sua posição geográfica, o Imperador D. Pedro II, em 5 de setembro de 1850, criou a Província do Amazonas e introduziu a navegação comercial a vapor na calha do Rio Amazonas o que posteriormente (1866) foi determinado como abertura dos Portos do Rio Amazonas ao Comércio Internacional. (GARCIA, 2010). Nessa nova perspectiva, a região passa a ser de interesse internacional e a atrair grande número de viajantes das mais diversas habilidades e origens. Pesquisadores, cronistas, cientistas e até simples aventureiros, após conhecer a região, divulgavam relatos sobre vários aspectos observados. Na ocasião, o registro da paisagem passa a ser descrito: As casas eram geralmente de um só piso, cobertas de telhas e assoalhos com tijolos. As paredes eram quase sempre pintadas de branco e amarelo e as portas e janelas de verde. A cidade era assentada num terreno irregular cortada por dois igarapés onde, em cada um deles havia uma ponte de madeira regular” (MESQUITA, 2006, p. 29). Em 1856, obedecendo à Lei n. 68, a Barra do Rio Negro muda de nome e passa a ser cidade de Manaós. Nesse tempo, a descrição da paisagem foi pelo francês François Auguste Biard citado por Otoni Mesquita (2006): Naquela pequena localidade cheia de subidas e descidas, onde as ruas eram esteiradas de capim, testemunhavam-se mexericos e maledicências (...). O ritmo das pessoas deixa-me impaciente e faz o dia parecer ter 48 horas (MESQUITA, 2006, p. 33). E, na passagem do século XIX para o XX, no período republicano, Eduardo Gonçalves Ribeiro (1893 – 1896) em sua administração favorecida por circunstâncias e por seu espírito empreendedor, alcançou transformações urbanas significativas com influências do modelo parisiense as quais subjugam o cenário provinciano herdado. Tais investimentos só foram possíveis através do recurso oriundo da comercialização da borracha (fato econômico importante que destacou o Estado no âmbito internacional), da fase republicana consolidando a influência política e cultural, onde a sociedade cosmopolita necessita atualizar-se de acordo com os grandes centros. A repaginação urbana foi a estratégia adotada pelo governador supracitado para deixar apenas na história o ar provinciano que se instalou em Manaus. A 57 cidade começou a ser transformada e no fim do século XIX e início do século XX tornou um verdadeiro canteiro de obras (MESQUITA, 2006, p.198). Em 30 de setembro de 1898 uma lista de obras (quadro 7) de Eduardo Ribeiro (MONTEIRO, 1990, p. 96-97) foi publicada no jornal A Federação e reproduzida na revista italiana L’Amazzonia (no mês seguinte). Quadro 7 - Obras publicadas no jornal A Federação. Fonte: adaptada de Monteiro (1990, p. 96-97). 58 Segundo Monteiro (1990), para essa nova fase de transformações, fez-se necessário buscar na Europa (portugueses, italianos e franceses) e em outras cidades brasileiras mão-de-obra especializada como técnicos, operários, mestre-deobras e construtores que enriqueceram de luxo e requinte uma parte da paisagem edificada. Tal situação pode ser notada na publicidade da época onde alimentos, vestuários, cosméticos, sapatos, artigos de decoração, bebidas e materiais de construção eram oferecidos à população (figuras 05, 06 e 07). A justificativa da parcialidade da paisagem edificada referida anteriormente deve-se à imagem, talvez ilusória, da riqueza e luxo, narrada, pois essas transformações limitava-se a uma restrita área da capital e a um seleto grupo da elite, o que acirra a divisão de classes. O centro, por ser cenário das lucrativas relações comerciais, foi configurado como foco dos melhoramentos facilitando o livre comércio de produtos e acesso de mercadorias (CASTRO, 2006). Figuras 05, 06 e 07 - Anúncios publicitários século XX em Manaus. Fonte: Anuário de Manaus 1913-1914. Assim, edificações nobres e a repaginação da infraestrutura são configuradas a partir dessas transformações. Igarapés com pontes duvidosas são aterrados dando lugar às vias públicas; sendo que algumas pontes permanecem e recebem estrutura metálica. População mais carente tem seus humildes imóveis desapropriados e, consequentemente “convidados” a instalarem-se em zonas mais distantes do centro. Diante do exposto percebe-se a clara divisão da forma de acordo com a classe econômica sendo a predominância da simplicidade das residências de pessoas menos favorecidas e os sobrados destinados aos que detinham maiores condições financeiras. 59 Com visível crescimento populacional, fez-se necessário estabelecer e impor um Código de Posturas com o objetivo de erradicar qualquer tentativa que comprometa os costumes, a família, o trabalho, a ordem, a moral e os bons costumes. Em tamanha exigência, visto que o desacato a qualquer determinação gerava multas e ou até prisões e, na consequente impossibilidade de pessoas menos favorecidas a seu atendimento, surgem aglomerados protestando essa nova realidade e, posteriormente, organizam-se em movimentos com direitos a cartazes, propostas de greves e até passeatas que ocorriam no dia 1° de maio. Essas manifestações davam-se nos logradouros (Praça de São Sebastião e Teatro amazonas), de divulgação e consolidação da cultura popular, frequentados pela elite e que acabou sendo referência de partida e largada nas futuras comemorações do dia do trabalhador em todo 1° de maio de 1914 a 1920: Localizada em frente ao Teatro Amazonas, ela se constitui como alternativa de apreensão da monumentalidade externa do mesmo. Não só os trabalhadores, como também outros segmentos despossuídos de Manaus, não vivenciavam esse lugar do luxo, dos chamados “barões da borracha”. Mas a bonita praça, construída à mesma época do teatro como seu complemento, tendo ao centro um monumento comemorativo da abertura dos portos do Amazonas ao mundo, por ter uma dimensão pública, era utilizada pelos trabalhadores para manifestarem-se contra o patronato local. (COSTA, 1998, p. 70). O período seguinte é marcado pelo declínio da produção gomífera - o que influencia diretamente na manutenção do patrimônio edificado devido à falta de recursos. Essa fase perdura até a concretização da Zona Franca de Manaus (ZFM) que marca uma nova fase de desenvolvimento econômico para o Município. Com novas tecnologias e novos nichos de mercado, a ZFM contribui para uma nova característica edificada. Foi a partir de 1910 que o declínio da borracha passou a se estabelecer e diversos fatores contribuíram para a situação; para dinamizar o entendimento segue abaixo (quadro 8), de forma explicativa: 60 Quadro 8 - Análise de autores acerca do declínio da borracha Fonte: Andressa Santos (2011). Ainda Oliveira (2003), na profunda análise do período considerado como “período da cidade em crise” (1920 a 1967) onde descreve as consequências do declínio da borracha e o saudosismo ao Governador Eduardo Ribeiro que, apesar das duras críticas, propiciou grande desenvolvimento ao município. O autor faz referência a dois marcos históricos sendo o primeiro caracterizado pelo apogeu e declínio da borracha e o segundo pela criação da Zona Franca de Manaus e seu Distrito Industrial, sendo ambos influenciadores das modificações na paisagem urbana onde, conclui o autor (2003, p.30), “a cidade é produto das relações sociais que se especializam como resultado do modo de ser de uma sociedade em espaços-tempos específicos”. O declínio assinalado faz com que muitas famílias abandonem seus imóveis almejando melhores perspectivas em outros Estados. Segundo Loureiro (2001, p.98), em 1913 existia mais de 2500 casas abandonadas no Centro de Manaus. E, com os seringais falidos, uma expressiva população oriunda do interior se estabelece em condições precárias. Oliveira (2003, p.82) registra que “cerca de 10 mil migrantes vindos da zona rural (vales dos Rios Seringueiros: Madeira Purus e Juruá) agravando ainda mais o problema da habitação”. 61 Figura 08 – imagem da cidade flutuante – Manaus Fonte: http://www.biblioteca.ibge.gov.br, acesso em 13/05/ 2011. A figura 08 mostra a cidade flutuante que surgiu em decorrência do contingente populacional que Manaus recebeu, pois, sem emprego e sem dinheiro, precisaram instalar-se sob condições precárias na entrada da cidade e posteriormente se estendendo até a foz do Igarapé de Educandos. Essa situação marca um triste cenário estético e social. Apesar desse cenário estabelecido, tímidos melhoramentos urbanos surgem, mesmo que restrito ao centro da cidade; e várias praças passam a ser recuperadas, o asfalto introduzido e o calçamento macadame experimentado como atitude de valorização das pedras da região (OLIVEIRA, 2003, p.106 a 108). As cidades flutuantes perduram até 1965 quando a Capitania dos Postos retira os flutuantes por tornar a navegação dificultosa. Os moradores com melhores condições estabeleceram-se nos Conjuntos8 Residenciais de Flores e da Raiz e os mais desprovidos de recursos receberam pequena ajuda para o desmonte e transporte do material para a construção de outro em outro local da cidade. Essa situação deixa claro a estratégia política em manter essa camada popular distante da elite e a expansão urbana. A partir de 1967, com a criação da ZFM, a expansão urbana é notória, as imagens 07 e 08 registram-na e fazem uma comparação com o território ocupado em 1915. Ao norte, surgem os bairros Jardim Amazonas, Chapada; a leste, o Adrianópolis, São Francisco, Petrópolis e a estrada do Aleixo; a Nordeste a rua 8 Conjuntos construídos com recursos do BNH - Banco Nacional da Habitação. 62 Recife até o Parque 10 de Novembro; a sudeste, os bairros de São Lázaro, Colônia Oliveira Machado e o aeroporto Ponta Pelada; a oeste, os bairros de São Jorge até a estrada da Ponta Negra e a sudoeste os bairros de Santo Antônio e São Raimundo (OLIVEIRA, 2003, p. 94 a 95). Figuras 09 e 10: Comparação da expansão territorial nos anos de 1915 e 1968, respectivamente. Fonte: OLIVEIRA, José Aldemir de. Manaus de 1920-1967: A Cidade Doce e Dura em Excesso, 2003. Adiante no contexto histórico, o século XX é registrado com expressivo desenvolvimento. O serviço público (transporte, porto, água e luz) apesar de terceirizado e explorados por empresas estrangeiras, não dispunham de qualidades desejadas, alvo de críticas e reprovações. Vale registrar um avanço na coleta de lixo com o uso de caminhões adaptados (que até 1926 era em carroças movidas a tração animal), nos logradouros públicos9 e no sistema de transporte. Esse último é marcado com o surgimento do primeiro ônibus urbano (década de 30) que atendia, inicialmente, os bairros de Educandos e cachoeirinha e, posteriormente, estendendo-se às demais áreas da cidade e reforçando os bondes e as catraias (via igarapés) que, até antão, eram os únicos meios de transportes. No final da década de 40, o serviço de bondes decai e os ônibus predominam no transporte. Esses avanços tímidos, como citados anteriormente, é o registro direto da crise da borracha que perdura, apesar das tentativas do governo central em reverter tal situação. Mesquita (2006, p.162) descreve: 9 Araújo Lima (1926-1929), em sua administração, valoriza praças do centro e proporciona tratamento permanente aos parques e jardins. Ergue o Relógio Municipal na Avenida Eduardo Ribeiro, cria o Bosque Tarumã era dimensiona o Bosque Municipal. Na administração de Antônio Botelho Maia criou-se o Balneário do Parque 10 de Novembro, o Aquaviário Municipal, o Horto Florestal e o Castanhal de Manaus. 63 Decididamente, o primitivo sistema extrativista fora derrotado e não dispunha de recursos capazes de acompanhar a rapidez e a qualidade da produção asiática. A Amazônia despedia-se definitivamente de sua fase áurea e mergulhava numa estagnação econômica que manter-se-ia por várias décadas, surgindo nova demanda somente por um curto espaço de tempo durante a 2ª Grande Guerra, quando o produto oriental encontrava-se inacessível (MESQUITA, 2006, p.162) Foi a partir da Zona Franca de Manaus e seu Polo Industrial que a recuperação econômica se efetivou alavancando o turismo de compras (figura 08). Figura 11 - Centro de Manaus em consequência da ZFM. Fonte: Robério Braga, 1990. Diante dos acontecimentos supracitados, podemos citar como conclusão a respeito do declínio da borracha, a situação de passiva “espera” de intervenções que poderiam vir do Governo Nacional. Oliveira (2003, p.53) pontua que “essa talvez seja a principal característica da temporalidade e espacialidade amazônicas. (…) Aqui se está sempre a espera de migalhas que se possam vir dos de fora”. 4.3. Caracterização socioeconômica e sociocultural Manaus possui uma área de 11.401,077 km 2 e população de 1.802.014 habitantes sendo 1.792.881 no perímetro urbano e 9.133 no perímetro rural. De economia acelerada é a sexta maior cidade brasileira em Produto Interno Bruto. Com PIB de R$ 38.116 milhões, o município ocupa a 6ª posição do Brasil (IBGE, 2011). Toda zona econômica do município apresenta isenção de tributos para industrialização e para o consumo, os quais objetivam o desenvolvimento da 64 Amazônia Ocidental e a preservação da natureza. O setor secundário é a base de sua economia, ou seja, as indústrias de transformação onde os sub-setores eletroeletrônico e de veículos de transporte (bicicletas, motocicletas, triciclos e quadriciclos) são predominantes. Tais subsetores são sustentados pelas grandes empresas transnacionais, basicamente de origem asiática, americana e/ou européia e alimentam, em sua maior parcela, o mercado brasileiro (SUFRAMA, 2011). Em 2010, o município apresentou estabilidade econômica e crescimento industrial de 60% tornando-o responsável por 55% da economia da Região Norte e 98% da economia do Amazonas (PREFEITUMA MUNICIPAL DE MANAUS). Dos centros indústrias do Brasil, Manaus é um dos maiores por abarcar a Zona Franca de Manaus. Porém a construção civil, o ecoturismo e os serviços predominam. Como infraestrutura da economia do município citamos: o aeroporto internacional, terminais portuários, rodovias municipais, estaduais e federais, oferta de gás natural (gasoduto Urucu-Coari-Manaus), energia elétrica, saneamento básico e sistema de comunicação (IBGE, 2011). É nas rodovias (BR-174 E AM-010) que a atividade agropecuária está concentrada. Cupuaçu, abacaxi, guaraná, arroz, tucumã são itens da agricultura que apresenta crescimento (SUFRAMA, 2011). No que diz respeito ao turismo, Manaus oferece, em sua área urbana, uma expressiva rede hoteleira e em sua região metropolitana alguns Hotéis de Selva. Durante o World Travel Market Manaus recebeu (Londres, 2009) o prêmio destino verde da América Latina. O Teatro Amazonas é um de seus principais pontos turísticos, assim como o Encontro das águas (encontro dos Rios Negro e Solimões). (OTCA, 2011). Remontamos agora à época da Borracha, onde nordestinos migraram para a Amazônia em busca de uma oportunidade, para registrarmos a contribuição destes na cultura local, pois junto com os povos nativos da região formam a miscigenação cultural ampla e diversificada – cultura mestiça e indígena. Tal miscigenação é divulgada através do Museu do Homem do Norte, referência étnica do país. Em relação à música, artes visuais, literatura e artes plásticas, Manaus apresenta a “A Casa das Artes” localizada no Largo de São Sebastião (MESQUITA, 2006). Boi-Bumbá, samba, forró e ópera são os gêneros musicais de destaque na cultura manauara e são influências do Boi-Bumbá de Parintins, do festival de samba do Rio de Janeiro, dos estilos nordestinos e da tentativa de resgate da época áurea 65 da Borracha, respectivamente. Esse último acontece durante os meses de abril e maio e transformou Manaus da capital brasileira de ópera através do Festival Amazonas de Ópera (SEC-AM, 2011). Também importante evento cultural (internacional), o Amazonas Film Festival, promovido pelo Governo do Estado em parceria com a rede Globo e Record (através da participação de seus atores, recebe também atores internacionais - de Hollywood), destaca os filmes de aventura em suas manifestações e retratam a realidade local em seus diversos temas: moradia, população, desmatamento, ... Os cursos de artes cênicas e música são oferecidos pelo Liceu de Artes e Ofício Cláudio Santoro e a Universidade Federal do Amazonas (primeira universidade do Brasil, criada em 1909). Museu de Ciências Naturais da Amazônia (marca presença japonesa no Amazonas, atualmente fechado por falta de apoio financeiro), Museu do Índio (citado anteriormente), Museu do Homem do Norte, Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas, Palacete Provincial, Pinacoteca do Estado, Museu da Imagem e do Som do Amazonas – MISAM, Museu Numismática Bernardo Ramos, Museu Tiradentes, Museu de Arqueologia, Museu do Porto, Museu Tiradentes, Museu Casa Eduardo Ribeiro e Museu do Seringal Vila Paraíso formam o rol de opções culturais do município. Vale ressaltar que seus respectivos horários de funcionamento devido a carência de recursos humanos dificultam a visitação em massa. Geralmente estão fechados nos fins de semana e feriados. (SEC-AM, 2011). Suas noites são movimentadas e há muitas bandas jovens de diversos estilos e para todas as preferências. No que diz respeito à moda, o evento Estética & Moda, realizado anualmente divulga as marcas e modelos de Manaus. É a oportunidade de mostrar, em nível nacional, uma expressão predominantemente local. Os acessórios se apresentam numa composição de sementes e pedras semipreciosas e podem ser encontradas em diversas lojas de artesanato da cidade. (SENAI/AM, 2011). A grande variedade de peixes proveniente da bacia do Rio Amazonas é o cargo chefe da culinária manauara, de acordo com dados da SEAP – Secretaria Especial de Agricultura e Pesca, 14% da população de Manaus consome peixe diariamente. Pirarucu à casaca, caldeirada de tambaqui e jaraqui frito são pratos que demostram essa culinária em poucas palavras e gosto delicioso. Somada aos peixes, a tapioca também merece lugar de destaque, pois é altamente consumida 66 acompanhando os cafés (manhã ou da tarde). Tapioquinha simples, com queijo coalho e/ou com tucumã são as mais pedidas. A respeito de tucumã, o “xcaboquinho” é o sanduíche genuinamente manauara (SEBRAE/AM, 2011). 4.4. Estudo de Caso – Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu Entorno O atual Centro Cultural “Largo” de São Sebastião é uma proposta recente de espaço público em prol da cultura local - resgate dos encantos que um dia a cidade proporcionou aos seus habitantes e visitantes - e do turismo. Surgiu como consequência de um Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e da Praça de São Sebastião que pertencem ao Programa Manaus Belle Époque 10. Portanto, para entender a sua história faz-se necessário conhecer, primeiramente, o Programa Manaus Belle Époque. No fim no ano de 1996, com o sucesso das festividades do Centenário do Teatro Amazonas, verificou-se o grande potencial que o Estado apresentara em espetáculos e demais ações culturais. Após conversa entre o Governador do Estado11 e o Secretário de Cultura12, algumas decisões foram tomadas e metas estabelecidas. A primeira providência foi organizar formalmente a Secretaria de Estado de Cultura do Estado do Amazonas, a SEC-AM13, estabelecer suas ações, delimitar seu raio de atuação e planejar as melhorias que possibilitasse tornar Manaus em um destino cultural e turístico. Em seguida promover a qualificação técnica ao pessoal envolvido através de programas e projetos específicos. As demais ações restringiram-se em preparação e formatação dos espetáculos da ópera em si: corpo técnico, formalização de contratações, estabelecimento de programas e divulgação. Todas essas ações iniciais obtiveram um resultado positivo, porém o Festival de Ópera, a cada ano, cresce em público, em dimensão e em repercussão com intensidade maior à capacidade do Teatro Amazonas. Uma vez o Teatro Amazonas com sua programação se solidificando, a SECAM iniciou as articulações para promover demais localidades tanto pela possibilidade de sustentação dos espetáculos e dessa nova demanda quanto para 10 Nome dado em homenagem à Época Áurea da borracha que sofreu influência da Bélle Époque Parisiense. Na ocasião, o Sr. Amazonino Mendes. 12 Sr. Robério Braga, Secretário de Estado da ocasião e que permanece no cargo até os dias atuais. 13 Para Secretaria de Estado da Cultura do Amazonas, usar-se-á, a partir desse momento, a sigla SEC-AM. 11 67 torná-las condizentes com a imponência do Teatro Amazonas. Iniciou-se assim a Revitalização do Centro Histórico de Manaus. Para SEC-AM, a Revitalização do Centro Histórico de Manaus, por ser uma ação inovadora, fez-se necessário, primeiramente, a capacitação14 de trabalhadores em Técnicas de Restauração onde, seiscentos profissionais da construção civil (de todos os níveis) participaram. Formou-se então, em 1997, mão de obra qualificada para intervir nas obras de revitalização. No ano seguinte, em 1988, através do Projeto Canteiro-Escola Casas da Sete15 (figura 9), deu-se a primeira experiência prática dessa qualificação de mão de obra consolidando as diretrizes norteadoras das atividades subsequentes como a busca pela originalidade das construções e, quando necessárias, as adequações de uso. Figura 12 – Projeto Casa das Sete – antes e depois da intervenção. Fonte: Casa do Restauro, com adaptações, 2002. Com a mão de obra qualificada e com a experiência em revitalizações se fortalecendo, o Programa Manaus Belle Époque começou, em 1999, a ser idealizado com a intenção de revitalizar as demais áreas históricas significativas da Cidade de Manaus. Portanto, o Programa Manaus Belle Époque compreende em um conjunto de projetos de revitalização de áreas estratégicas do Centro Histórico de Manaus, a saber: Projeto de Revitalização da Área de Entorno do Mercado Adolpho Lisboa; Corredor Especial de Turismo (Rua Marcílio Dias), Projeto de Revitalização de Imóveis Históricos (Igreja do Pobre Diabo, Cemitério São João Batista); Restauração 14 O Programa de Capacitação foi um resultado de parceria entre o Governo do Estado, a Fundação Getúlio Vargas e o ISAE onde os módulos trabalhados forma: Introdução às “Técnicas de Restauro, Conservação e Recuperação de Bens Imóveis e Elementos Integrados” e “Recuperação de Pinturas Decorativas e Elementos Decorativos na Arquitetura.” (SEC, 2002). 15 Projeto de recuperação de onze fachadas dos imóveis vizinhos ao Palácio Rio Negro (bem tombado estadual), localizado entre as pontes romanas, na Avenida Sete de Setembro. 68 da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, Casa da Cultura e Teatro da Instalação, já concluídos; Projeto de Revitalização do Entorno da Matriz, concluída a 1ª. Etapa; Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião. Com o exposto, o CCLSS e seu entorno foi o objeto de estudo proposto nesse projeto e sua escolha apresenta como base os seguintes critérios: Quadro 09 – Quadro de critérios de escolha do objeto de estudo. Fonte: Andressa Santos, 2012. O CCLSS e seu entorno compreende o quadrilátero formado pelas ruas Costa Azevedo, José Clemente, Dez de Julho e pela Avenida Eduardo Ribeiro e, originalmente era formado pelo Teatro Amazonas, pela Galeria do Largo, pela praça e a Igreja de São Sebastião e o monumento em homenagem à abertura dos portos, pelo Palácio da Justiça, pela Casa Ivete Ibiapina, pelo Bar do Armando, pela Casa do Restauro, pela Casa J.G. Araújo e pelo Centro Cultural Cláudio Santoro (figura 06). É uma área que, por si só, transmite elegância, imponência e um imenso acervo de história e cultura justificando ainda mais uma análise com sua posterior descrição dos setores que se desenvolveram a partir de então. Figura 13: Área de abrangência – LSSE. Fonte: adaptada de Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003. 69 O Projeto supracitado consagra o local como o cartão-postal do Estado revelando-o como o mais expressivo símbolo da cultura a qual pertence. É a imagem que o país e o mundo recebem através da mídia e, sobretudo a partir do Manaus Film Festival, Festival Amazonense de Ópera e o Amazonas Jazz Festival – programas da cultura local que entraram para o calendário de eventos oficiais. Com base no exposto, o CCLSS e seu entorno foi alvo de discussão e análise de resultados que, com base na metodologia pré-estabelecida e apresentada no capítulo 3, formatarão o capítulo a seguir. 70 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Este capítulo 5 propõe a análise do resultado da pesquisa apresentada no capítulo 1 e desenvolvida segundo a proposta formatada no protocolo explanado no capítulo 3. Essa análise visa o alcance dos objetivos pré-determinados para este projeto onde, respaldados pelo referêncial teórico, foram analisados os dados que caracterizam o objeto de estudo, frente a cada objetivo específico: analisar o processo histórico de evolução urbana do CCLSS e seu entorno; caracterizar o processo de revitalização da paisagem edificada como resgate da memória cultural; mapear a configuração atual da paisagem edificada desta área da cidade e analisar as implicações desta memória cultural urbana e do seu processo de requalificação sobre a atividade turística. Ao final, os dados foram analisados conjuntamente resultando na resposta do problema da pesquisa: Quais são as implicações do processo de requalificação da Paisagem do Largo de São Sebastião e seu entorno sobre o espaço turístico de Manaus? Para tanto, a análise da paisagem foi conduzida a partir das variáveis propostas por Boullón (2002) e suas implicações, no contexto do turismo, respaldadas pelos dados coletados através de entrevistas e questionários. 5.1. Processo Histórico do CCLSS e seu entorno. O processo histórico contextualizado nos permitiu afirmar que Manaus apresenta um valor cultural inestimável que é contado através dos imóveis tombados. Este capítulo descreve o contexto histórico do CCLSS e seu entorno definido pelo quadrilátero formado pelas ruas Costa Azevedo, José Clemente, Dez de Julho e pela Avenida Eduardo Ribeiro localizado no Centro da Cidade de Manaus – AM. 71 Figura 14 – Monumento comemorativo - Panorama do Largo de São Sebastião. Fonte: Vida, Revista de Cultura, Saúde e Qualidade de Vida, da Unimed Manaus, Ano 2, no. 4, maio/2005. O marco inicial é dado através da existência da Praça de São Sebastião, no ano de 1867, devido a instalação de uma coluna de pedra16 representando a Abertura dos Portos às Nações Amigas (figura 14). Porém, antes mesmo de tornarse Praça, a área referida, doada pelo tenente-coronel Antônio Lopes Braga ao Município, era apenas uma rocinha. Seu nome, “Praça de São Sebastião”, refere-se à Irmandade de São Sebastião17. Importante citar que a Praça de São Sebastião tornou-se o Largo do centro do Bairro São Sebastião - como a área foi denominada na ocasião e que se tornou o quinto bairro de Manaus (MONTEIRO, 1998, p.640). Paralelo ao Largo, as tratativas para construção de um teatro estavam sendo cogitadas como consequência de exigências da sociedade manauara por um local mais adequado para as apresentações cênicas. Para tanto , em 1881, o Sr. Alarico José Furtado sancionou uma lei18 que o autorizava a dispor da quantia de cento e vinte contos de réis para aquisição e um terreno e a construção de um teatro de alvenaria nesta cidade. Em 10 de janeiro de 1884 foi escolhido 19 o local para construção do teatro – ao lado da Praça de São Sebastião - e desapropriado pela importância de Cr$ 20.000,00; e em 14 de fevereiro de 1884, apesar de ter havido o lançamento da pedra fundamental sob a responsabilidade do então presidente José Paranaguá, o Teatro Amazonas teve suas obras paralisadas e só foram retomadas em 1892 na administração de Eduardo Ribeiro. (MONTEIRO, 1998, P.640). Já em 8 16 A coluna de pedra apresentava uma altura de 6 metros e foi uma iniciativa do Sr. Antônio Davi de Vasconcelos Canavarro, diretor de Obras Públicas da ocasião (DUARTE, 2009). 17 De origem religiosa, a Irmandade de São Sebastião se instalou na Cidade em meados de 1859. Era formada por missionários franciscanos (DUARTE, 2009). 18 Lei No. 546 de 14 de junho de 1881, Artigo 1o. In: Provincia do Amazonas. Colleção das Leis de 1881. Parte Primeira. Tomo XXIX. Manaós. 19 Inicialmente o local seria à confluência da Avenida Eduardo Ribeiro com a Avenida Sete de Setembro e a Rua Henrique Martins, porém o local foi descartado pela insegurança que o terreno proporcionava (área de igarapé). (GARCIA, 2005, p. 99). 72 de setembro de 1888, construída sob a direção de Francisco Frei Gesualdo Macchetti de Lucas, a Igreja de são Sebastião20 foi entregue ao povo (IGHA, 1985). Voltando à Praça de São Sebastião, apesar do ano 1867 ser considerado o marco inicial, suas obras de melhorias em prol da primeira formatação de “praça” em si iniciaram-se trinta anos mais tarde, ou seja, só foram contratadas em dezembro de 1896 através de Marcolino Rodrigues resultando em um desaterro que passou a ser “traduzida” como um descampado de terra batida. Porém, com o Teatro Amazonas 21 – contíguo ao logradouro – com obras inconclusas, mas já apresentando a sua imponência na área, fez-se necessário que a Praça de São Sebastião acompanhasse a sua beleza. Por esse motivo, o descampado de terra batida só perdurou até o final do século XIX, pois em 8 de agosto de 1899, o contrato22 para a execução do serviço de calçamento da Praça de São Sebastião e seu entorno (abrangendo as ruas Dez de Julho e José Clemente) foi assinado e, como consequência, a área central do logradouro recebeu a sincronia das pedras portuguesas brancas e pretas formatadas, em 1901, em uma calçada com desenho em formato de ondas e com extremidades de paralelepípedos de asfalto (IGHA, 1985; MESQUITA, 1999; DUARTE, 2009). Entre uma inauguração e outra, em 1894, as obras do Palácio da Justiça se iniciam, ainda no Governo de Eduardo Ribeiro; porém, foi inaugurado em 1900 na administração de seu sucessor, o Sr. José Cardoso Ramalho Júnior (GARCIA, 2005). Com inaugurações acontecendo e mudanças para acompanhar a beleza do TA, o monumento de abertura dos portos também sofreu modificações. Em 1897 foi apresentado pelos engenheiros Raimundo Hipólito Girard e Guilherme Capretz um novo estudo para substituí-lo. Porém, a construção do atual modelo (figura 15) devese a Domenico de Angelis que foi contratado em 14 de março de 1899 e entregou a obra em 5 de setembro de 1900 (IGHA, 1985). Em 15 de janeiro de 1901, marca a construção do passeio dos imóveis do entorno “anunciada pelo Governador Silvério Nery” (MESQUITA, 1999, p.294). 20 A Igreja de São Sebastião foi “contratada com Leonardo Malcher, orçada inicialmente em 8 contos de réis” (IGHA, 1985, p. 96). 21 Para Teatro Amazonas será adotada, a partir desse momento, a sigla TA. 22 O contrato citado foi firmado entre Antônio Augusto Duarte e a Diretoria de Obras Públicas (MESQUITA, 2005). 73 A partir dessa data, a Praça de São Sebastião recebeu melhoramentos apenas nos anos de 1914 e 1915 na administração de Dorval Porto onde, na ocasião, mudas de Fícus-benjamin foram plantadas ao seu redor. Em 1920, dezesseis bancos de madeira com armação de ferro foram colocados ao longo do logradouro, além de alguns outros reparos. Confere-lhe ao superintendente Franco de Sá a responsabilidade desse último. Em 29 de agosto de 1924, o governador Alfredo Augusto Ribeiro Júnior foi deposto de seu cargo e, por essa razão, a Praça de São Sebastião passou a ser chamada de Praça Ribeiro Júnior. A homenagem foi iniciativa do superintendente municipal Francisco das Chagas Aguiar por meio do decreto nº. 28, de 29 de agosto de 1924. Em 1925 foi instalado um coreto para que as bandas militares apresentassem suas obras. Atribui-se essa iniciativa ao prefeito Hugo Carneiro. Figura 15 – Monumento em homenagem à abertura dos portos do Rio Amazonas às nações amigas. Fonte: Andressa Maria Santos, 2011. A alteração seguinte relacionada ao nome da praça deu-se no ano de 1930 por meio do decreto municipal nº. 2, de 31 de outubro. A partir desse momento, a Praça 24 de Outubro faz referência ao dia em que Getúlio Vargas ascendeu à presidência do Brasil, porém, através do Decreto Municipal nº. 49, de 9 de setembro de 1931 volta, oficialmente, à denominação inicial, ou seja, Praça de São Sebastião (DUARTE, 2009). Somente em 1974, na gestão do prefeito Frank Lima, a Praça de São Sebastião passa por uma recuperação total. Na ocasião, manteve-se o formato retangular com cantos arredondados fazendo harmonia com as árvores de Fícus- 74 benjamin que circundam a praça. Em 1995, em parceria da Prefeitura de Manaus com a empresa Xerox do Brasil, o piso bicolor e o monumento em homenagem à Abertura dos Portos foram recuperados e as lâmpadas comuns dos postes de iluminação foram substituídas por lâmpadas apropriadas ao ambiente externo – lâmpadas a vapor de sódio de cor alaranjada. Em 1999, foi iniciada uma restauração sob a coordenação da Empresa Municipal de Urbanização (URBAM), onde o monumento central recebeu limpeza apropriada e houve a “reposição do calçamento, com pedras trazidas de Belo Horizonte/MG”. (DUARTE, 2009, p. 38). Nos anos de 2003 e 2004, o Projeto Manaus Belle Époque contempla a Praça de São Sebastião e seu entorno consolidando o Centro Cultural Largo de São Sebastião. O Centro Cultural Largo de São Sebastião, por sua vez, é um complexo inaugurado em 7 de maio de 2004 e era formado pela Praça de São Sebastião, pelo TA, pela Casa Ivete Ibiapina, pelo Bar do Armando, pela Casa do Restauro, pela Casa J.G. Araújo, pela Casa das Artes, pela Galeria do Largo e pelo Centro Cultural Cláudio Santoro. Atualmente (vide quadro 10), o Bar do Armando, a Casa do Restauro, o Centro Cultural Cláudio Santoro não estão mais vinculados. 5.1.1. Teatro Amazonas O Teatro Amazonas é a obra de maior símbolo cultural e turístico do nosso Estado cuja história é traçada a partir do dia 21 de maio de 1881 com a apresentação de um projeto que solicitava verba para a construção de um teatro em alvenaria à Assembleia Provincial. Tal apresentação, de responsabilidade do deputado Antônio José Fernandes Júnior, surtiu efeito ao ponto do presidente da Província, Alarico José Furtado (em menos de um mês depois), por meio da Lei 546, autorizar cento e vinte mil réis para a compra do terreno e o início da obra. (DUARTE, 2009; MESQUITA, 2006). Após extrema discussão acerca do local, aprovação em assembleias e repasse de verbas, lança-se, em 14 de fevereiro de 1884, a pedra fundamental do Teatro Amazonas no terreno que enfim, seria edificado. O terreno foi uma desapropriação e pertencia ao tenente-coronel Antônio Lopes Braga. As obras foram iniciadas somente em 2 de junho do mesmo ano. 72 73 Com estrutura construtiva convencional, o teatro adota o tradicional formato de caixa com quatro paredes que remete à tradição arquitetônica desenvolvida pelos gregos e difundida pelos romanos, entretanto, a superposição de pavimentos destaca sua grandiosidade. Com pouca evidência no uso ferro em sua construção, marcado apenas no guarda-corpo da sala de espetáculo, algumas escadas e corrimão, destaca os desenhos sinuosos do estilo art nouveau. Figura 16 – Detalhe Teatro Amazonas Fonte: Andressa Maria Santos, 2011. Ornamentação barroca é a predominância na fachada do teatro, porém verifica-se a presença de alguns elementos do vocábulo clássico. O ecletismo surge na majestosa cúpula de ferro e vidro revestida com telhas coloridas de verde, amarelo, azul e vermelho. Há uma verdadeira mistura de estilos históricos que, integrando-se em harmonia, proporcionam beleza ímpar e se destacam através dos tons rosa e branco (figura 16). Sua sala de espetáculos é apresentada em planta baixa com formato de lira (ou ferradura) com três entradas para plateia. Em seu entorno há quatro andares de camarotes sendo o primeiro pavimento bem acima da plateia e entre os camarotes há colunas jônicas que dão sustentação aos lustres. Os demais apresentam capitéis coríntios estilizados. Em torno do palco, há uma profusão de elementos decorativos em estuque e latão, esculturas carótides barrocas e querubins rococós, cortinas decoradas, festão com folhagens e frutos; máscaras e mascarões de aspecto 74 barroco, compondo um rico colorido em rosa, dourado, verde e vermelho (figura 17). Destacamos aqui o fosso móvel da orquestra onde o mesmo pode ser elevado, ampliando espaço do palco. A pintura do pano de boca é de autoria de Crispim do Amaral e apresenta o tema encontro das águas. Figura 17 – Teatro Amazonas –detalhes internos Fonte: Fotomontagem de Andressa Maria Santos, 2011. O teto abobadado registra pinturas em telas desenvolvidas em Paris pela Caza Capezot e registram alegorias à Música, Dança, Tragédia, homenagem a Carlos Gomes e em uma representação da Torre Eiffel vista de sua base. O Salão Nobre (Salão de Honra) apesar de apresentar confusa data inicial, janeiro de 1898, de contratação de um artista para sua decoração; foi inaugurada somente em junho de 1901. Seu teto é destacado com a pintura A Glorificação das Belas-Artes na Amazônia projetada por De Angelis em 1897 e realizada em 1899. As onze pinturas fixadas nas paredes do salão retratam paisagens amazônicas, ressaltando a fauna e a flora. “Características italianas podem ser percebidas e refletem o gosto estético da época e sua concepção de espaço civilizado e requintado” (MESQUITA, 2006, p. 223-225). O Teatro Amazonas, até os comemorativos de seu centenário, oferecia uma vasta programação cultural além da disponibilidade de locação para eventos 75 particulares ou de terceiros (formaturas, aniversários de Instituições, mostras culturais realizadas por organizações entre outros). Visando formatar um leque de opções culturais mais selecionado, a SEC-AM procurou investir em demais estruturas no entorno do TA para suprir a demanda de pequenos espetáculos. Atualmente o Teatro Amazonas integra o Centro Cultural do Largo de São Sebastião, contém 701 lugares divididos em plateia, frisas e camarotes e não apresenta disponibilidade de pauta até o ano de 2014. O subcapítulo seguinte desta dissertação visa contextualizar o processo de requalificação do CCLSS e seu entorno como consequência do Programa Manaus Belle Époque em prol da cultura e do turismo. 5.1.2. Palácio da Justiça Atrás do Teatro Amazonas, percebemos o Palácio da Justiça (figura 18) - uma herança do governador Eduardo Ribeiro – previsto no “plano de orçamento” onde havia a justificativa de conveniência de um “edifício vasto com a função de Palácio da Justiça de Manaus (MESQUITA, 2006). Sua construção tem uma história longa cujo início data no ano de 1893 e término em 1898 no governo seguinte (Ramalho Júnior). Figura 18 – Palácio da Justiça em 1898. Fonte: Acervo pessoal de Otoni Mesquita O Palácio da Justiça apresenta elegância tão imponente que nem o glamour do Teatro Amazonas pode ofuscar. De arquitetura eclética, linhas estruturais com tradição renascentista e localizado na mais tradicional artéria de Manaus, a Avenida Eduardo Ribeiro, o Palácio foi erguido sobre uma área acima do nível da rua, tratado por um forte muro com pedra jacaré arrematado por balaustradas. A elegância de 76 sua construção dá-se pela sincronia entre proporção, simetria e simplicidade das linhas horizontais e verticais retratando a exigência de um projeto racional e vigoroso comprometido com o Classicismo. Sua fachada em tons de amarelo (figura 19) apresentam elementos decorativos, cuja aplicação é bastante comedida, que derivam do repertório clássico. Figura 19 – Palácio da Justiça em 2011. Fonte: Andressa Maria Cruz, 2011. De acordo com os relatos de Duarte (2010), o edifício é composto por cinco corpos, sendo o central e os extremos um pouco mais proeminentes. O arco pleno impera nas portas de entrada e janelas do primeiro pavimento, já no segundo pavimento podemos perceber que todas as janelas apresentam púlpito, com verga reta, emolduradas por edículas com frontões curvos e triangulares. O primeiro pavimento é de ordem toscana e o segundo de ordem compósita; cada um dos corpos laterais possui quatro janelas em cada pavimento, enquanto que os corpos das extremidades, duas somente. O interior do Palácio apresenta um aspecto bastante eclético contrastando com sua fachada. Há colunas e pilastras de ordem dupla no vestíbulo e a parte inferior do fuste apresenta tratamento de ordem toscana contrapondo com a parte superior e o capitel que são de ordem compósita. Uma bela escada com guardacorpo de metal conduz ao segundo pavimento, cuja entrada é recortada por três arcos sustentados por colunas cuja decoração lembra carótides gregas. Tanto o primeiro quanto o segundo andar do Palácio são profusamente decorados: balaustradas, óculos, tetos revestidos com estuques, colunas compósitas, cartelas decoradas, e as paredes originalmente marmorizadas. A fachada sóbria e austera 77 do edifício revela uma dualidade de estilos característico da arquitetura do século 19 – eclética. 5.1.3. Casa das Artes Por aparecer em algumas fotografias do século XIX, pode-se afirmar que a Casa das Artes é uma das mais antigas casas23 pertencentes à área em estudo. Fato importante para o resgate de seu aspecto original modificado ao longo de sua existência. Figura 20 – Casa das Artes Fonte: Andressa Santos, 2012. A Casa das Artes foi criada pelo Governo do Estado através da SEC-AM com a função de oferecer à população um espaço de uso múltiplo com atividades culturais diárias e atuar como suporte e estímulo para a contemplação, criação e valorização da produção artística espontânea. No momento da inauguração do CCLSS, a Casa das Artes oferecia os seguintes serviços (quadro 11): 23 Nesse imóvel morou, por mais de 40 anos, o Dr. Thalmaturgo de Albuquerque Sapha, advogado, delegado do IAPI – Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários – e procurador federal. Posteriormente seus filhos Hugo Moreira Sapha – Oficial de Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores - e Flávio Moreira Sapha – atual Embaixador do Brasil nos Emirados Árabes – moraram no imóvel. 78 Quadro 11 – Serviços oferecidos pela Casa das Artes Fonte: adaptado de SEC-AM, 2012. 5.1.4. Casa Ivete Ibiapina A Casa Ivete Ibiapina – casa de música – restaurada através do Programa Manaus Belle Époque foi inaugurada em 4 de novembro de 2001 (figura 21). Figura 21 - Casa Ivete Ibiapina Fonte: Marcia Honda, 2009. O imóvel, somado ao Patrimônio Histórico Amazonense, marcou a vida da pianista amazonense Ivete Ibiapina24 como um lugar em que viveu sua grande paixão pela música – começou a estudar música com a professora Maria Antonieta 24 Ivete Ibiapina nasceu em 1932, é professora normalista graduada em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Conceituada como virtuosa, mestra do teclado e a figura mais importante da cultura musical amazonense. 79 Marinho aos cinco anos de idade e aos seis apresentou-se pela primeira vez em público. A Casa Ivete Ibiapina foi idealizada para apresentar: Teatro de Bonecos 25, Sala de Concertos Carlota Ribeiro26 e Espaço Musical Lindalva Cruz27 com estrutura específica: estúdio de gravação, estúdio de áudio, sala de vídeo. 5.1.5. Casa J. G. Araújo O imóvel recebe a denominação em homenagem ao Comendador Joaquim Gonçalves de Araújo28 que nele residiu por mais de cinquenta anos e no qual esteve em companhia de figuras influentes à política, à igreja e ao empresariado. Figura 22 - Casa J. G. Araújo. Fonte: Andressa Santos, 2012. A Casa J. G. Araújo foi recuperada pelo Programa Manaus Belle Époque para tornar-se um equipamento cultural e turístico do Centro de Manaus abrigando em seu interior o Liceu de Ofícios, a Arena das Artes, a Galeria de Artes Renato Araújo, a Oficina de Entalhes e o núcleo de Produção de Ópera. 25 Teatro de títeres – bonecos articulados e fantoches. Sala com programações temáticas, acústicas, recitais de piano, conjuntos de jazz, blues e de câmara e canto lírico em homenagem à Carlota Ribeiro, também pianista, nasceu em Manaus em 1912. Era tia e principal incentivadora de Ivete Ibiapina. 27 Espaço para música instrumental, rock, forró, boi e música popular em homenagem à Lindalva Cruz que nasceu em Manaus em 1908 e organizou o Instituto Amazonense de Música. 28 Joaquim Gonçalves de Araújo é considerado um “consolidador da economia amazonense” por instalar a primeira fábrica de beneficiamento e produção de artefatos de borracha no Amazonas – a Brasil Hévea. 26 80 5.1.6. Galeria do Largo Local específico para obras de artistas locais, a Galeria do Largo (figura 23) oferece exposições permanentes e temporárias. Sua administração está vinculada ao Governo do Estado através da SEC – AM que, além de descobrir talentos, organiza as exposições, prepara o material de divulgação e gerencia a visitação do público. Sua inauguração está vinculada à do CCLSS. O imóvel que atualmente funciona a Galeria do Largo é um dos exemplos de reconstituição total da fachada. A Galeria do Largo oferece também a Cafeteria do Largo com guloseimas regionais e contemplar tardes agradáveis no CCLSS. Figura 23 - Galeria do Largo. Fonte: Andressa Santos, 2011. 5.2. Processo de Requalificação do CCLSS e seu entorno como resgate histórico Em análise à caracterização histórica da cidade de Manaus, pôde-se perceber que as mudanças na Praça de São Sebastião e seu entorno ocorreram ao longo da história da Cidade de Manaus onde cada governador (ou prefeito) teve a oportunidade de trabalhar em prol de um majestoso cenário urbano que pudesse ser usufruído até os dias atuais. Porém, com mudanças permanentes e as construções do entorno da Praça de São Sebastião receberam influências dos estilos 81 subsequentes e da nova dinâmica da cidade resultando numa área com diversos estilos, padrões e problemas urbanos e sociais. No que diz respeito às mudanças sociais e ou urbanas, a área passou por um período de descaso por parte do poder público e foi alvo de concentração de flanelinhas, prostituição, moradores de ruas e vândalos, inexistindo, por um período de tempo, segurança e manutenção constantes. Portanto, com essas transformações, a Praça de São Sebastião e seu entorno tornaram-se peças estranhas frente à beleza e imponência do TA e, por essa razão, o Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e da Praça de São Sebastião surgiu com a intenção de preservar os monumentos inseridos nessa área do LSSE e devolver à sociedade esse espaço do centro de Manaus dotado de infraestrutura e segurança adequadas remetendo-se ao contexto histórico da cidade. De iniciativa do Governo do Estado29 e considerado como uma “decisão política inadiável,” o Programa Manaus Belle Époque30, idealizado em 1999, visa, a partir da revitalização de algumas áreas históricas significativas de Manaus (incluindo o LSSE), “a transformação do Amazonas em efetivo polo de turismo31”. Compreende o Programa Manaus Belle Époque: O Projeto de Revitalização da área de Entorno do Mercado Adolpho Lisboa, o Corredor Especial de Turismo (Rua Marcílio Dias), o Projeto de Revitalização de Imóveis Históricos (Igreja do Pobre Diabo, Cemitério São João Batista), a Restauração da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, Casa da Cultura e Teatro da Instalação, já concluídos; Projeto de Revitalização do Entorno da Matriz e o Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião onde destacamos esse último, a área de estudo nesta dissertação. O Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, formado pelo quadrilátero das ruas Costa Azevedo, José Clemente, Dez de Julho e pela Avenida Eduardo Ribeiro (figura 24), foi iniciado em 2003 no governo subsequente, dotado de estratégias de intervenções organizadas em etapas de 29 O Governador da ocasião, o Sr. Amazonino Mendes, relatou na Apresentação do Programa Manaus Belle Époque estar consciente de que o turismo é a indústria para a qual devemos voltar todos os esforços com a convicção de que este conjunto de Programas e Projetos permitirá o alcance dos primeiros resultados de longo desenvolvimento que o turismo propicia. 30 SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA E TURISMO DO AMAZONAS. Programa Manaus Belle Époque. Manaus: Governo do Estado do Amazonas, 2000. 31 O Secretário de Estado da Cultura e Turismo, Sr. Robério Braga (ainda em exercício), na Introdução do Programa Manaus Belle Époque informa: era uma “decisão política inadiável, e seu advento será representativo para a melhoria da qualidade de vida das suas populações”. 82 desenvolvimento e implantação. O primeiro passo foi estabelecer contato com os proprietários dos imóveis para então direcionar a natureza das intervenções. Esse primeiro contato foi de responsabilidade do Departamento de Patrimônio Histórico e Turístico32 da Secretaria de Cultura e Turismo33, que primeiramente apresentou todas as diretrizes do projeto a cada um dos proprietários, orientando-os acerca da relevância histórica, sanando eventuais dúvidas no que diz respeito à dinâmica da implantação e tranquilizando-os sobre as vantagens da implementação. Figura 24 – Área de abrangência do Projeto: vista aérea. Fonte: Programa Manaus Belle Époque, 2000. Nessa fase de apresentação e aprovação por parte dos proprietários, os resultados positivos dos demais projetos que também integram o Programa Manaus Belle Époque - entorno do Palácio Rio Negro e o entorno da Matriz - contribuíram para tranquiliza-los e deram-se por convencidos da importância, orgulho e vantagens na adesão ao Projeto de Revitalização do Entorno do TA e da Praça de São Sebastião. Importância por contribuir com essa ação em prol do fomento do turismo, orgulho em fazer parte dessa história e vantagens por receberem a recuperação da fachada e telhado de seus respectivos imóveis sem ônus, além da possibilidade da total isenção do IPTU conforme lei nº. 181 de 30 de abril de 1993. Após dúvidas sanadas e consentimento dos proprietários, por escrito, o levantamento foi direcionado ao resgate das fachadas originais através de entrevistas e acesso possibilitado ao acervo fotográfico de cada um e às medições e projeções cromáticas visando uma representação gráfica das possíveis modalidades 32 33 A partir desse momento, para Departamento de Patrimônio Histórico e Turístico, usar-se-á a sigla DPHT. A partir desse momento, para Secretaria de Cultura e Turismo, usar-se-á a sigla SEC-AM. 83 e profundidade de cada intervenção. Cada intervenção foi discutida, planejada, aprovada e implementada com aval de ambas as partes34. A figura 25 demonstra as intervenções adotadas pelo projeto nos imóveis do entorno do TA numa escala de 1 a 6 em ordem decrescente de profundidade de intervenção. Porém, acrescentam-se aqui pontos específicos não inseridos nessas escalas, a saber: recomposição de calçadas, meios-fios, sarjetas, arborização, equipamentos de prestação de serviços e espaço de convivência. Figura 25 - As intervenções adotadas pelo projeto. Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003. Cada intervenção foi estabelecida de acordo com a situação que o imóvel se encontrava e com as modificações que sofrera da época de sua construção até então. As figuras 26 e 27 nos mostram a situação na qual os imóveis da Rua 10 de Julho foram encontrados e a proposta da intervenção. Figura 26 – Proposta de restauro da Rua 10 de Julho. Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003. 34 Sendo uma parte representada pelos proprietários e outra pelo DPHT através de sua equipe de funcionários formada por arquitetos, engenheiros civis e restauradores, com seus respectivos estagiários. 84 Figura 27 – Proposta de restauro da Rua 10 de Julho. Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 Na referida Rua 10 de Julho foram realizadas as intervenções de todas as tipologias, os imóveis 435, 439 e 579 precisaram de adequações para o resgate das características originais; o imóvel 459 passou por pequenas reconstruções. Os imóveis 427, 451, 593 e o imóvel localizado à confluência das ruas Tapajós e Dez de Julho (números 491/495 e 502/509) receberam serviços de manutenção, porém importante citar, segundo Castro (2009), que a retirada de elementos não originais presentes em algumas fachadas possibilitou o resgate de elementos visuais encobertos. Nessa situação, cita-se o imóvel de número 451 onde houve a necessidade da retirada do toldo, localizado sobre o porão, revelando “os gradis originais dos guarda-corpos das janelas do pavimento superior” (CASTRO, 2009, p.133). O imóvel citado refere-se à atual Casa Ivete Ibiapina em momento anterior à intervenção e os resultados obtidos. É possível, através das figuras 28 e 29, acompanhar a descaracterização através do elemento extraído e o resgate das características originais. Figuras 28 e 29 – Intervenção no imóvel nº. 451 da Rua 10 de Julho: antes e depois. Fonte: Acervo Casa do Restauro e Márcia Honda N. Castro, 2009. 85 Além de cada intervenção recebida para o processo de resgate das características originais, cada imóvel recebeu também um profundo estudo de cromatização o qual possibilita preservar as informações arquitetônicas35 e históricas referentes à transição do século XIX para o século XX. As cores ora diferenciadas e ora contrastantes permitiram a valorização de detalhes e a orientação espacial. A Igreja de São Sebastião recebeu o serviço de limpeza de sua fachada e projeto de iluminação que realça sua beleza durante as noites. Figuras 30 e 31 – Igreja de São Sebastião – dia e noite. Fonte: Wikipédia e http://www.eujafui.com.br/3663517-manaus/770-igreja-sao-sebastiao/fotos/. Acesso em 20/08/2012. A proposta de intervenção da Rua Costa Azevedo, apesar de contempladas em todas as tipologias, apresenta casos específicos com alterações pontuadas que se tornaram possíveis após um registro iconográfico conferindo-lhe a restituição da fachada original (figura 32) e casos onde os imóveis não foram restaurados com base no aspecto primitivo “por coerência a novas demandas de utilização” (CASTRO, 2009, p 144). Figura 32 – Proposta de restauro da Rua Costa Azevedo. Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003. 35 Imóveis ecléticos com ornamentação rebuscada e neoclássicos com ornamentação mais elegante. 86 Os imóveis geminados localizados na rua em análise apresentam mesma tipologia, porém, apenas um apresentava o pequeno frontão (figura 33 detalhe F) que coroava a platibanda - o que serviu de modelo para recomposição do outro inexistente (figura 33 detalhe A). No detalhe A há um exemplo de imóvel que manteve alterações decorrentes de novas demandas de uso, ou seja, sua fachada principal foi prolongada ao que deveria ser recuo comportando mais um cômodo. Porém, houve a continuidade dos ornamentos, molduras e barramento do porão. Figura 33 – Foto montagem - Casas geminadas (em detalhe) da Rua Costa Azevedo. Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 e Andressa Santos, 2012. Os imóveis 272 e 250 (figura 34) correspondem à tipologia 3 onde serviços de reforma da fachada e cromatização foram realizados. Os imóveis apresentavam suas respectivas fachadas escondidas por muro e vegetação. Contempladas pelo Projeto, as fachadas possibilitam uma integração dos imóveis à Praça de São Sebastião e também são exemplos de imóveis que resguardaram algumas modificações decorrentes da demanda de uso. Figura 34 – Fachadas anteriores; fachadas após a intervenção. Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 e Andressa Santos, 2012. 87 Ao imóvel número 290, a intervenção correspondeu aos serviços de reconstituições necessárias para o retorno das características originais da fachada e recomposição cromática. A fachada original foi totalmente descaracterizada ao logo de seu contexto histórico (figura 35) e precisou ser totalmente reconstituída (figuras 36 e 37). Figura 35, 36 e 37 – Fachada anterior, detalhe da fachada constituída e vista da fachada atual, respectivamente. Fonte: 35 - Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 e 36 e37 Andressa Santos, 2012. Aos demais imóveis, da Rua Costa Azevedo, inseridos no Projeto Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e da Praça de São Sebastião, foram atribuídos os serviços de manutenção e recomposição cromática, vide (figura 38). Figura 38 – Fachadas anteriores e fachada atual na Rua Costa Azevedo. Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 e Andressa Santos, 2012. As intervenções referentes à Rua José Clemente apresentam reconstituições totais de fachada e adequações necessárias para retornar as características 88 originais de outras e recomposição cromática. A figura 39 apresenta detalhes das fachadas como resultados das mudanças que sofrera ao longo da história e, de acordo com as intenções do Projeto, a proposta da intervenção. Figura 39 – Proposta de intervenção para Rua José Clemente. Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003. Importante registrar que na Rua José Clemente havia grande fluxo de veículos (figura 40) e desordenado estacionamento dos mesmos, fato este gerador de grande concentração de flanelinhas36. A proposta do Projeto para o problema foi a “requalificação” da área, atribuindo nova forma e função à via. Figura 40 – Rua José Clemente - estacionamento antes da requalificação. Fonte: www.tyba.com.br, acesso em março de 2012; destaque nosso. Apesar de ter sido utilizado o termo “revitalização” no projeto acima citado, é importante justificar, nesse momento, que o termo “requalificação” foi adotado nesta dissertação por entender que o mesmo corresponde à intervenção regeneradora e à constituição dos espaços degradados física e socialmente com a intenção de propor a remodelação (ou criação) espacial, formal e social dos espaços (no caso, o Largo 36 Em linguagem coloquial, flanelinha refere-se à pessoa que toma conta de carros nas ruas em troca de pequena gorjeta. 89 de São Sebastião e seu entorno) dotando-o de usos requalificadores, como a valorização da vivência coletiva e de uma estreita relação com seus entornos, “como estruturas que possam propiciar a permanência e o encontro, e que, ao mesmo tempo, representem novas referências na estrutura do território” (TARDIN, 2010, p.193). Após a requalificação da Rua José Clemente o tráfego de veículos da área foi reformulado, sua amplitude original resgatada e o retorno da denominação Largo de São Sebastião foi provocado (figura 41). A camada de asfalto foi substituída por pavers simulando paralelepípedos de granito originais (figura 42). Figuras 41 e 42 – Rua José Clemente – vista aérea (destaque nosso) e paginação do piso do Largo de São Sebastião, respectivamente. Fonte: http://viagem.uol.com.br/manaus.jhtm#fotoNav=13, acesso em abril de 2012 e Andressa Santos, 2011. Além do resgate do Largo de São Sebastião, a Rua José Clemente apresentou intervenções intituladas de reconstituições totais e construções fantasiosas (CASTRO, 2009). O imóvel de número 634, apesar de sinalizado do projeto como intervenção correspondente ao serviço de manutenção, necessitou passar por um processo de resgate às características através de pesquisas iconográficas e tentativas, com sucesso, de resgate de fotografias que pudessem pontuar a forma original. 90 Figuras 43 e 44 – Imóvel número 634: aspecto original e como se apresentava no início no projeto Fonte: Acervo da Casa do Restauro, 2011. De acordo com a figura de aspecto original, o imóvel apresentava fachada simples, com quatro portas de verga reta, térrea colonial. No friso, o letreiro “AFRICAN HOUSE” pintado. Para integrar o imóvel ao espaço que o projeto está propondo, sua fachada foi totalmente reconstituída (figura 45). Figura 45 – Imóvel número 634: obra de reconstrução. Fonte: Acervo da Casa do Restauro, 2004. O resultado alcançado foi uma fachada reconstituída, geminada ao imóvel lateral onde, de forma proporcional fora integrada ao espaço proposto pelo projeto. As quatro portas e o letreiro foram resgatados (figura 46). 91 Figura 46 – Imóvel número 634: reconstituído. Fonte: Andressa Santos, 2012. O imóvel da Editora Brasil é o exemplo de reconstituição fantasiosa, onde foi possível detectar que sua fachada original era térrea a partir de informações iconográficas (CASTRO, 2009). No levantamento de informações iniciais do projeto, percebemos que a fachada foi totalmente descaracterizada para dois pavimentos, porém, essa tipologia foi mantida por considerarem (gestores do projeto e proprietário) inviáveis sua demolição tanto pela nova demanda de uso quanto pela integração da unidade com o seu entorno. Essa reconstituição foi acompanhada e registrada por Castro (2009) que descreve a processo de inspiração a esse novo imóvel: “A estratégia foi inspirar-se em um antigo sobrado (não mais existente), vizinho à Igreja de São Sebastião, e adotar seu partido, compondo-se uma nova fachada, com janelas em arcos, balcões em gradis e platibanda com balaustrada” (Castro, 2009, p.148). As figuras de 47 a 50 representam, respectivamente, a fachada original térrea e de tipologia simples; o imóvel modificado e como se encontrava no início do Projeto, o imóvel que serviu de inspiração à intervenção que propuseram e o imóvel atual, após a intervenção. 92 47 48 49 50 Figuras 47, 48, 49 e 50 – Imóvel Editora do Brasil: fachada original, modificado, modelo e reconstituído, respectivamente. Fonte: Acervo de Robério Braga e Andressa Santos, 2012. As figuras 51 a e 52 representam modificações que o imóvel 626 localizado na Rua José Clemente recebera ao longo do tempo, onde se pode perceber a sua fachada modificada e compará-la ao aspecto original. A fachada original, figura 51, foi descrita por Castro (2009): “as bandeiras eram em arco pleno, daqueles modelos mais simples, com duas folhas de vidro e guarnição em madeira; as janelas eram duas, do tipo abrir, duas folhas, sendo que a parte superior estava aberta, a mediana, fechada, em venezianas, e a inferior, por detrás dos guarda-corpos entalados, também estava fechada, mas da qual não se conseguia precisar detalhes; abaixo de cada janela, a abertura retangular do porão; a porta e o seu portãozinho estavam a comprovar a sua autenticidade; a cobertura era em duas águas, com telhas capa-canal; percebiase um tom escuro para o plano de fundo (era o revestimento cerâmico, em verdemusgo), contrastante às cores dos demais elementos; a edificação era geminada, por fim, às suas adjacentes” (CASTRO, 2009, p.128). 93 Figuras 51 e 52 – Detalhe do imóvel da área: fachada original e fachada modificada, respectivamente. Fonte: Acervo da Casa do Restauro, 2004. E, na figura 52 podemos perceber que as bandeiras, a cobertura e as guarnições das janelas e seus guarda corpos foram retirados; porém, ainda podemos identificar alguns detalhes arquitetônicos originais, tais como: resquícios do revestimento cerâmico, um dos gradis retangulares do porão, cimalha, barramento, platibanda e a ombreira. Uma particularidade desse imóvel dá-se na reconstituição da fachada (figura 53), em fase de retirada do reboco, onde as estruturas originais dos vãos dos arcos das esquadrias foram descobertas. Fato importante para sua fiel reconstituição. Figura 53 – Prospecção da argamassa durante a reconstituição da fachada Fonte: Acervo da Casa do Restauro,2004. 94 Atualmente o imóvel (figura 54) encontra-se em composição cromática contrastante dando ênfase aos detalhes e remendo à sua característica original. Figura 54 – Imóvel atual Fonte: Andressa Santos, 2012. Aos demais imóveis dessa rua, estudo de composição cromática e alguns pequenos reparos em suas respectivas fachadas foram realizados visando o resgate fiel às cores e aspecto originais. Junto à recuperação das fachadas, as pavimentações das vias e dos passeios também receberam atenção e, consequentemente, tratamento específico os materiais originais foram mantidos recebendo serviços de manutenção ora nivelando as áreas comprometidas e ora fixando as peças soltas. Nas ruas Costa Azevedo e José Clemente, como citado anteriormente, a camada asfáltica foi substituída por pavers. Nas demais áreas de passeio, devido à tonalidade próxima ao lioz, foram aplicadas pedras Miracema (quadro 12). O mobiliário urbano (quadro 13), composição cromática (quadro 14), placas de identificação e algumas atividades de recreação (quadro 15) foram desenvolvidos resgatando características da época áurea da borracha. 95 Local do quadro 12. 96 Local do quadro 13. 97 Local do quadro 14. 98 Local do quadro 15. 99 Como ação complementar à requalificação, um levantamento dos flanelinhas e vendedores ambulantes da área foi desenvolvido pela SEC-AM. O resultado desse levantamento, primeiramente, possibilitou uma organização dos dados de cada um: ficha cadastral, foto de identificação, habilidades pessoais e profissionais; e o controle de quem desejava permanecer na área. Optando em permanecer trabalhando na área, o trabalhador passava por treinamento e a SEC-AM tentava reorganizá-los ou reinseri-los. Alguns flanelinhas ou vendedores ambulantes tornaram-se funcionários da própria SEC-AM (condutor da charrete, organizador de instrumentos musicais, monitor de brincadeiras, entre outros) ou de empresas do entorno (restaurantes ou bar). Os vendedores de pipoca e churro permaneceram na função, porém com carrinho estilizado da própria SEC-AM com horários e locais definidos para retirada, comercialização e armazenamento. O vendedor de guloseimas (comidas típicas) também permaneceu na área, mas recebeu barraca adequada, fixa e a liberação da venda de tacacá, água ou refrigerante, somente. Essas definições e, de certa forma, limitações na comercialização desses produtos sugere organização dos vendedores, controle de quem exerce função na área e segurança de um produto de qualidade oferecido aos transeuntes e admiradores do local. O Projeto de Revitalização do CCLSS e seu entorno foi uma consequência de estudos e testes. Programas e projetos similares consolidados em outros Estados serviram de inspiração e orientação para evitar eventuais falhas de execução e ou gerenciamento. O Governo do Estado não desapropriou os imóveis envolvidos no projeto, permitindo que os mesmo continuassem com suas funções, porém, fez-se necessário celebrar um estatuto de conduta dos moradores e gestores assinados pelos proprietários. Nesse estatuto, em poder da SEC-AM com cópia em mãos de cada proprietário, há regras quanto aos horários de tráfego e estacionamento de veículos particulares, de coleta de lixo, tráfego de veículos comerciais (manutenção ou serviço de entrega) e outras particularidades a respeito de eventos. Há também - por haver residência e por se tratar de uma área de bens tombados - o controle de eventos culturais e comerciais no logradouro. O Governo do Estado através da SEC-AM, que gerencia o logradouro, criou um Manual (anexo F) de Normas e Procedimentos – Largo São Sebastião com o objetivo de apresentar a normas de uso do CCLSS e seu entorno “como espaço cultural e de 100 entretenimento e, ainda, de facilitar a operacionalização das atividades de turismo e produção de eventos” (SEC-AM, 2010, p.10). Essas ações tornam o espaço seguro e organizado que, segundo Boullón (2002), além de conservar a história e a cultura do local, apresenta uma paisagem atraente aos turistas que querem ver a rua, a praça e as construções arquitetônicas. Com base nessa particularidade turística, um mapeamento da configuração atual da paisagem do local será apresentado no subcapítulo seguinte. 5.3. Mapeamento da configuração atual da paisagem A paisagem urbana é formada por meio de uma série de elementos formais que o homem consegue identificar e reter em sua memória no transcurso do tempo. Funciona como uma soma de imagens parciais que o homem consegue registrar em suas experiências. Boullón (2002) cita seis pontos focais urbanos (Logradouro, Marcos, Bairros, Setores, Bordas e Roteiros) importantes para uma orientação direcionada na cidade, porém, para a definição da paisagem o autor sugere a combinação das seguintes variáveis: tipo de urbanização, nível socioeconômico das edificações, estilo arquitetônico, topografia, tipo de rua, tipo de pavimento, e tipo de árvore. Apesar da proposta central deste projeto está direcionada à análise da paisagem segundo as variáveis propostas por Boullón (2002), faz-se necessário registrar que o CCLSS e seu entorno é composto por um logradouro – a Praça de São Sebastião – onde o turista pode transitar livremente e visualizá-lo de vários pontos fixos sem a necessidade de deslocamentos importantes. É um espaço que permite a formação da imagem turística da cidade e facilita o conhecimento de locais importantes como casas comerciais de venda de artigos ou peças artesanais e galerias de arte sem a necessidade de um guia turístico ou um mapa para tal condução. A programação do logradouro também colabora para atividade turística, pois o turista tem a oportunidade de encontrar um bar ou um restaurante com mesas na rua para sentar-se e fazer uma escala pequena, mas importante, nesse espaço aberto. Pela sua característica peculiar de dimensão ou qualidade da forma, os “Marcos” se destacam dos demais objetos, artefatos urbanos ou edifícios que o rodeiam. O CCLSS e seu entorno apresenta como marco o Teatro Amazonas pelo 101 seu porte, imponência e valor cultural; a Igreja de São Sebastião pelo seu valor estético, arquitetônico e simbólico que tem para a população católica; o Monumento de Abertura dos Portos às Nações Amigas que se destaca pela sua beleza escultórica e localização central além do valor histórico. Localizado no Centro Histórico de Manaus, o CCLSS e seu entorno sobressai no conjunto pela igualdade das formas e pela forte unidade temática que predomina na maioria das edificações, calçadas, árvores, placas de sinalização e postes de iluminação pública. Sua arquitetura foi resgatada e atualmente preservada transformando-se num setor facilmente conhecido. É um setor do bairro frequentemente visitado porque tem a vantagem de possibilitar que, em seu interior, vejam-se outros atrativos turísticos, como uma igreja ou uma Praça (marco e logradouro citados anteriormente) e por servir para mostrar como foi, um dia, a cidade e a população na época áurea da borracha. Uma vez que o CCLSS é definido pelo quadrilátero formado pelas ruas Costa Azevedo, Dez de Julho, José Clemente e pela Avenida Eduardo Ribeiro, pode-se considerar que os imóveis do entorno funcionam como uma borda fraca que o separa das demais construções “ainda” não revitalizadas37 ou totalmente descaracterizadas. Fraca, pois apesar de possibilitar a definição do que foi restaurado ou não, permite a passagem fluida de um lado para outro, seja visual ou física. Para visitar os atrativos turísticos ou para entrar e sair da cidade, os Roteiros precisam ser bem definidos, pois são vias de circulação selecionadas pelo trânsito turístico de veículos e de pedestres, ou seja, todo centro turístico deve esclarecer qual é a melhor forma de circular por ele e assim permitir que os turistas (nacionais ou internacionais) possam admirar o muito ou o pouco de bom que se tenha para oferecer. O CCLSS apresenta um roteiro importante tanto pelos pontos que une no mesmo setor num trajeto que pode ser feito a pé quanto pela estrutura de transporte urbano e frota de táxi, com central no local, que facilita o acesso à visitação aos atrativos. Esses pontos podem ser facilmente identificados e servem para orientar-se na cidade com a função limitada de destacar quais são as formas nítidas de uma cidade. Porém, para definir a paisagem, faz-se necessário, segundo Boullón (2002), 37 O Programa Manaus Belle Époque está sendo desenvolvido por etapas, justificando o uso de “ainda” com destaque. 102 combinar as variáveis. Cada uma das variáveis, citadas anteriormente, se subdivide e ao combiná-las podem-se obter trinta elementos básicos para calcular o número de paisagens urbanas possíveis. 5.3.1. Tipo de Urbanização O CCLSS é compreendido por imóveis específicos e, somando ao limite do entorno, resulta num total de 38 imóveis com características e histórias particulares localizados no centro da Cidade de Manaus. No que se refere ao tipo de urbanização, a Praça de São Sebastião e o TA estão ao centro da área hoje denominada CCLSS e seu entorno (quadro 16). Tais habitações são residenciais e ou comerciais; de um até quatro andares com jardim e sem jardim. As habitações residenciais se apresentam em número reduzido atualmente. A requalificação respeitou a função de cada imóvel, porém, com os atrativos culturais mais frequentes e, consequentemente, o aumento no número de público, a função residência está sendo tomada, total ou parcialmente, pelas funções comercial e cultural (quadro 17). 5.3.2. Nível Socioeconômico Em relação ao nível socioeconômico, os imóveis são valorizados por pertencerem tanto a famílias tradicionais quanto a um setor turístico qualificando-os como imóveis de classe média (quadro 18). Alguns proprietários, impossibilitados de acompanhar a dinâmica do local ou por passar por uma reestruturação familiar colocaram suas propriedades a venda. E outros, com a expectativa da Copa do Mundo de 2014, investem em grandes oportunidades comerciais38. 38 Novas propostas foram encaminhadas ao IPHAN e à SEC-AM para avaliação, uma vez que se trata de área Patrimonial. Por essa razão, maiores informações a respeito nos foram preservadas. 103 Local para quadro 16. 104 Local para quadro 17. 105 Local para o quadro 18. 106 Figura 56 – Habitação atualmente em obra. Fonte: Andressa Santos, 2012. Somente para informação, visto que há um pedido de sigilo, alguns imóveis, através de seus proprietários, enviaram à SEC-AM e ao IPHAN projetos contendo novas propostas referentes à forma e a funções relacionadas ao local e aos eventos futuros que vislumbram para a cidade. 5.3.3. Estilo Arquitetônico O estilo arquitetônico eclético é predominante (quadro 19) por se tratar de imóveis construídos no fim do século XIX e início do século XX, com exceções. As características antigas que ainda prevalecem tiveram origem no Código Posturas de 1893 que apresentou como objetivo normatizar tipologias arquitetônicas. Porém, a ornamentação ficou a critério de cada proprietário e seu poder aquisitivo que, como consequência dos costumes da sociedade da época houve o predomínio do ecletismo. Ainda de acordo com o Código, os imóveis são alinhados, as esquadrias das janelas com altura mínima de dois metros de altura e um metro e trinta centímetros de largura; ainda pode-se perceber a largura dos passeios de um metro e meio a dois metros proporcionais a largura da via. Vale ressaltar que algumas características foram perdidas no decorrer do tempo e, com o Projeto de Revitalização, houve todo o resgate das características 107 arquitetônicas originais peculiares ao Código acima citado. O imóvel abaixo é um exemplo de construção que perdura no tempo que, com manutenções sucessivas permanece intacta. Figura 56 – Exemplo de imóvel cuja arquitetura encontra-se intacta. Fonte: Andressa Santos, 2012. 5.3.4. Topografia A área que hoje é ocupada pelo CCLSS já apresentou ondulações num passado distante, cerca de cem anos atrás. As escadarias e rampas do TA aproveitam bem essa particularidade. Após a decisão de formatar o entorno à altura da imponência do TA, pequenos trechos foram aterrados. Atualmente a topografia do CCLSS é formatada por solo plano. Para uma melhor visualização da topografia, vide quadro 18. Figuras 57 e 58 – Solo plano e detalhe da escadaria como aproveitamento do terreno original, respectivamente. Fonte: Andressa Santos, 2012. 108 Local para o quadro 18. 109 Local para o quadro 19. 110 5.3.5. Tipo de Rua As ruas que compõem o CCLSS apresentam extensões normais, principalmente a via de grande tráfego como a Rua Dez de Julho que, além dos veículos apresenta algumas árvores no decorrer de sua extensão; e a Avenida Eduardo Ribeiro que, além do fluxo, apresenta passeios largos, com árvores. As ruas Costa Azevedo e José Clemente também apresentam extensão normal, porém, são diferenciadas no trecho que compreende ao CCLSS, pois o fluxo de automóveis limita-se aos proprietários do entorno havendo controle de entrada e saída e pavimentação diferenciada. Para uma melhor visualização dos tipos de rua, vide quadro 20. Figuras 59 e 60 – Detalhes das ruas - Rua Dez de Julho e Avenida Eduardo Ribeiro, respectivamente. Fonte: Andressa Santos, 2012. 5.3.6. Tipo de Pavimento O pavimento é normal com pequena porção de empedrado (ver quadro 21). Porém, percebe-se a variação dos pavimentos mais recentes tentando equipar-se com os antigos. Figura 61 – Tipos de pavimento presentes no CCLSS e seu entorno. Fonte: Andressa Santos, 2012. 111 Local para o quadro 20. 112 Local para o quadro 21. 113 5.3.7. Tipo de Árvore Apesar dessa variável não ser muito expressiva por ser apresentada com um tipo de árvore predominante, fez-se sua abordagem como uma forma de seguir todas as determinações de análise de variáveis da paisagem segundo Boullón (2002) e, pelo fato dessas espécies de Fícus-benjamin terem sido plantadas nos anos de 1914 e 1915. Há uma área de predominância de árvores médias e duas situações particulares altas (vide quadro 20). Figura 62 – Detalhe das árvores que circundam a Praça São Sebastião. Fonte: Andressa Santos, 2012. As subvariáveis analisadas nos permite apontar detalhes exclusivos da intervenção do homem que ali o habitou ou governou porém, se combinadas, não nos proporcionará uma quantidade expressiva de paisagem devido a limitação da espécie. 5.4. Implicações da requalificação urbana do CCLSS e seu entorno no contexto do turismo. Ao relembrar a paisagem que a Praça de São Sebastião ofereceu há 10 anos, por exemplo, pode-se adotar o termo “abandono” ou “medo” para descrevê-la. Abandono por parte das autoridades municipais e estaduais que não valorizaram, por um período de tempo, o entorno do Teatro Amazonas (considerado ícone da cultura local) e medo, pois o local foi concentração de flanelinhas, jovens com o vício do álcool e do fumo. 114 Segundo o Secretário de Estado da Cultura, o turismo foi a estratégia utilizada para reverter tal situação. Nas festividades do centenário do Teatro Amazonas, o secretário analisou o quantitativo e o perfil dos frequentadores dos espetáculos e, posteriormente, os resultados das comemorações e percebeu que o Teatro encontrava-se numa localização privilegiada da Cidade de Manaus, porém seu entorno apresentava-se inadequado para sua imponência, suas atrações culturais e seu público-alvo. O primeiro passo foi providenciar um projeto para restaurar o entorno e, dentro dele, buscar alternativas para sanar os problemas de insegurança e não conformidade com o Teatro e depois oferecer um espaço dotado de infraestrutura visando o fomento do turismo. O Projeto de Revitalização da Praça de São Sebastião e seu entorno propôs a restauração dos imóveis, a requalificação do espaço e a possibilidade de inserir as pessoas que, direta ou indiretamente, estabeleciam um vínculo com o local. Como área de patrimônio público, o novo espaço restaurado e requalificado passou a contar com segurança patrimonial ininterrupta; os moradores, uma vez que não tiveram seus respectivos imóveis desapropriados, passaram a conviver com a cultura de forma cotidiana. As pessoas que viviam em situação de risco e que optaram por permanecer no local passaram por treinamentos específicos e alguns foram contratados por proprietários/empresários e outros pela própria SEC-AM. Além desses fatores, foi possível organizar a agenda do Teatro destinando-o aos eventos de maior porte e, aos eventos de médio e pequeno porte aos espaços do entorno que compõem o CCLSS. Apesar do CCLSS ter sido inaugurado em maio de 2004, o Teatro Amazonas recebeu, nesse mesmo ano, mais de 70 mil pessoas. Isso significa um aumento de cerca de quase 100% em relação ao ano de 2003. Considerou-se aqui, como valor de referência, o quantitativo registrado em 2001 por ser o ano inicial do recorte temporal dessa análise (gráfico 1). 115 80000 148% 70000 60000 100% 50000 84% 40000 71% 30000 20000 10000 0 2001 2002 2003 2004 Gráfico 1 – Público do Teatro Amazonas de 2001 a 2004. Fonte: SEC-AM, 2012. A impressão registrada da coordenadora do setor de turismo do Teatro Amazonas, revela que o aumento no número de frequentadores do Teatro Amazonas foi uma consequência do Projeto de Revitalização da Praça de São Sebastião e seu entorno, pois as pessoas tinham a Praça como um ambiente sombrio e inseguro e temiam ser abordadas por pessoas que ali mantinham alguma atividade (as pessoas consideradas em situação de risco). Somam-se a isso as atividades que alguns bares e casas de shows noturnos mantinham, fazendo com que os “apreciadores da cultura” se distanciassem da área. Segundo a coordenadora, o projeto foi além, requalificou espaços, melhorou a infraestrutura, ofereceu segurança, restaurou monumentos, fez o resgate arquitetônico como forma de integrar o público (seja turista ou morador) ao contexto histórico da cidade de Manaus e propôs um espaço específico para que a família pudesse usufruir, ou seja, inativou o trecho da Rua José Clemente para o trânsito de veículos requalificando-o como Largo e promoveu o resgate de brincadeiras de roda, dos passeios de charrete e outras já esquecidas pela dinâmica do cotidiano. As atividades do Teatro Amazonas (gráfico 2) também cresceram em virtude do aumento de público. A SEC-AM achou importante promover atividades para mostrar aos não frequentadores da área que os eventos culturais são acessíveis a todos os públicos, e aos frequentadores uma maior diversidade de eventos. 116 250 136% 200 150 100% 90% 74% 100 50 0 2001 2002 2003 2004 Gráfico 2 – Atividades Culturais do Teatro Amazonas de 2001 a 2004. Fonte: Setor de Planejamento da SEC-AM, 2012. Na Praça de São Sebastião, antes do Projeto de Revitalização ao qual passou, aconteciam alguns eventos isolados como missa campal em devoção ao São Sebastião ou de Natal. Com a problemática ao qual passava, não havia um controle mais rígido de fluxo ou de eventos. O pároco da Igreja de São Sebastião lembra que os condicionadores de ar foram instalados tanto pela temperatura interna quanto pela segurança, havendo a necessidade em permanecer com as janelas e portas fechadas. Os frequentadores da Igreja eram limitados aos moradores do entorno ou de ocasiões específicas. O auxílio às pessoas que “habitavam” a Praça era frequente, sempre abordavam algum membro da Igreja na esperança de dinheiro ou alimentação. Para a promoção de eventos, uma equipe de policiais civis e militares, agentes de trânsitos e voluntários era sempre escalada e contava-se com a fé inabalável de que tudo daria certo. Como não havia um controle de fluxo de turistas, transeuntes e eventos na Praça de São Sebastião, fez-se necessário a análise de dados do Teatro Amazonas que, por ser um imóvel tombado, monitora todos os seus dados; e, para acesso ao mesmo faz-se necessário passar pela Praça de São Sebastião. Então, no ano de 2001 o Teatro Amazonas registrou 50.330 visitantes e, no ano de 2010 registrou 58.239, ou seja, houve um aumento de 15,7%. Com o CCLSS consolidado, pôde-se registrar um quantitativo de todas as atividades desenvolvidas no entorno do Teatro Amazonas e no próprio Teatro Amazonas alcançando total de 167.115 visitantes, ou seja, um aumento de 232%. 117 350% 300% 250% 200% 150% 100% 50330 50% 167115 0% TA - 2001 CCLSS - 2010 Gráfico 3 – Comparação de público TA-2001com o público do CCLSS-2010 Fonte: Setor de Planejamento da SEC-AM, 2012. Analisando os registros do CCLSS do ano de 2011, foi possível concluir que o número de público é expressivo em duas situações específicas do ano: no mês de maio quando acontece o Festival Amazonense de Ópera e no mês de dezembro com as festividades do Natal onde há a inauguração da ornamentação de Natal, a chegada do “Papai Noel” e as festividades religiosas da ocasião (gráfico 4). Gráfico 4 – Registro de Público do CCLSS - 2011. Fonte: Setor de Planejamento da SEC-AM, 2012. Nos 10 meses do ano há encontros e eventos considerados de pequeno porte e a visitação ao TA que sempre foi por si só, um ícone da cultura local e parada considerada obrigatória aos turistas. Porém, nem todo turista que visitava o TA tinha 118 interesse em circular pela Praça São Sebastião ou conhecer de perto o Monumento de Abertura dos Portos. Então, consolidar o CCLSS foi oferecer um espaço para que a população pudesse usufruir, mas também oferecer segurança e despertar o interesse dos turistas. Ainda segundo a impressão da coordenadora de turismo do TA, o turista que o conhece geralmente fica no Largo, aprecia a paisagem, registra a arquitetura e pode usufruir de iguarias da culinária ou do artesanato locais. Vale registrar que há sempre exposições e eventos culturais como opção. Para uma análise mais específica quanto ao turismo, questionários foram aplicados junto aos turistas que se encontravam no local entre os meses de janeiro a julho de 2012. Como há certa sazonalidade dos eventos, os questionários formam aplicados em situações determinadas, o quadro 22 apresenta o somatório de questionários aplicados e respondidos: Quadro 22 – Síntese de questionários aplicados e respondidos Fonte: Andressa Santos, 2012. Dentre os 300 questionários aplicados, 83% foram respondidos, dentre os quais 51% são turistas do sexo feminino e 49% do sexo masculino (vide gráficos 5 e 6 em quadro 23). Do total, 62,6% são turistas nacionais e 37,4% internacionais (vide gráfico 7 em quadro 23) com tempo de permanência entre 3 e 30 dias. No que se refere à escolaridade (vide gráfico 8 em quadro 23) 2,8% turistas possuem mestrado ou doutorado, 6,4% são pós-graduados, 18,5% com ensino superior incompleto, 44,2% com superior completo, 25,3% turistas com ensino médio e 2,8% com ensino fundamental. Quanto à faixa de renda (vide gráfico 9 em quadro 23), 35% turistas recebem entre 1 a 3 salários mínimos, 39,3% recebem de 4 119 a 6 salários mínimos, 12,8% turistas de 7 a 10 salário, 10,5% recebem salário acima de 10 salários mínimos e 2,4% turistas responderam não possuir renda. As razões das viagens são diversas (vide gráfico 10 em quadro 23), sendo citadas por 67% turistas, porém 33% preferiram ou não quiseram responder. Destacam-se as viagens para passeio/turismo com 36,1%; a negócios 30 % e, visando conhecer a cultura local 16,8%. Dos turistas de origem internacional, cerca de 60% responderam estar em Manaus em busca da cultura local e assinalaram, por conseguinte, as opções indicações de amigos, Teatro Amazonas e Festival Amazonense de Ópera. Os demais expressaram a admiração pelo verde e pela floresta e assinalaram, na sequencia, as opções internet como motivação do destino e atividades de pesca e encontro das águas como motivos da viagem. Ao perguntar se o turista já conhecia a cidade Manaus, houve 66,7% respostas negativas e 33,3% positivas, dentre os quais 65% revelaram ter conhecido a Praça de São Sebastião e entorno antes da requalificação (vide gráfico 11 em quadro 23). Dos respondentes que não conheciam Manaus, 5,2% revelaram ter imaginado a cidade menos desenvolvida, menos urbana e com floresta nativa mais acessível e que índios poderiam ser vistos com facilidade. Segundo os mesmo, essa ideia deve-se às imagens que circulam na mídia. Ao questionar como ficou sabendo sobre Manaus, 29% revelaram receber indicação de amigos e 23,3% através da internet. Importante citar que 60% dos respondentes que assinalaram indicação de amigos, assinalaram também internet, o que pode ser concluído que houve interesse em maiores informações. Dentre os 65% respondentes que conheceram a Praça de São Sebastião e seu entorno antes da requalificação, o fato de não haver mais o tráfego de veículos na Rua José Clemente e a segurança constante foram os pontos de destaque para 59% respondentes. Quanto aos demais respondentes, 35% destacaram a arquitetura preservada como forma de manter a cultura de uma época áurea, 32,5% destacaram o policiamento patrimonial por oferecer segurança em transitar a qualquer momento qualificando-o como ambiente familiar. O Teatro Amazonas é o destaque de 27,7% respondentes, quer pela sua imponência e ou quer por sua história e 19,2% destacam a amplitude do espaço destinado a passeio. 120 Local para quadro 23 121 Os dados quantitativos citados não configuram o objetivo central desta pesquisa, porém sustentam a implicação da requalificação do CCLSS na atividade turística. Em paralelo, os proprietários do entorno que aceitaram fazer parte desta pesquisa contribuíram com informações relevantes ao alcance dos objetivos préestabelecidos. Porém, dos 38 imóveis da localidade, os imóveis 481 e 439 da Rua Dez de Julho encontram-se em reforma no momento e os respectivos proprietários não foram identificados. O imóvel 489 da Rua Dez de Julho e o imóvel 538 da Rua José Clemente encontram-se à venda limitando as informações ao processo de compra e venda através do acesso restrito aos corretores. Os cinco imóveis de responsabilidade da SEC-AM apresentaram nova função a partir do Programa Manaus Belle Époque e atualmente integram o CCLSS e oferecem um repertório de atividades culturais. Por fim, sete moradores ou responsáveis aceitaram participar desta pesquisa e os demais não retornaram o primeiro acesso ou não quiseram responder. Dos moradores ou responsáveis respondentes, seis são do sexo feminino e apenas um do sexo masculino. Dentre os quais, dois são inquilinos e quatro são proprietários com 35, 22, 89 e 12 anos no imóvel. Dois apresentam faixa etária entre 18 e 25 anos, dois entre 35 e 50 e três estão com idade acima de 60 anos. No que se refere à escolaridade, um apresenta-se com ensino fundamental completo ou cursando, quatro com ensino médio completo ou cursando e dois são pós-graduados. Sobre a faixa de renda, dois respondentes alegam receber entre 4 e 6 salários mínimos e três recebem entre 7 e 10 salários mínimos. Dois não responderam. Ao solicitar que escolhessem um ou mais itens que demonstrasse o que mais os atrai no CCLSS, quatro respondem Teatro Amazonas e expressaram a alegria em admirá-lo pela janela de seus respectivos imóveis. Um respondente fez um conjunto de itens: Teatro Amazonas, Igreja e árvores que entornam a Praça, pois como foram criados à mesma época não poderiam ser analisados ou admirados de forma isolada. Outro respondente combina a Praça de São Sebastião e as árvores e declara ser agraciado por esse “pátio” ser como uma extensão de sua residência. Por fim, o outro não escolhe um item da lista, porém cita a alegria pelo fluxo de pessoas, a magia do encontro em família que o CCLSS proporciona, a diversidade 122 do público que o frequenta e admira e a busca por atividades culturais bem representada nas constantes gravações que ocorrem no entorno do TA. Quanto aos problemas que enfrentam na área, quatro revelam ter problemas com estacionamento, dois reclamam do ruído nos eventos e um respondente aponta que a poda das árvores não é tão frequente e nem do mesmo formato da década de 90. Esses problemas quanto ao estacionamento e a poda das árvores poderiam ser resolvidos se o estatuto celebrado entre os moradores e a SEC-AM fosse mais claro e objetivo ou, se tivesse havido a desapropriação dos imóveis do local. Como qualidades, as edificações residenciais e comerciais do entorno, a infraestrutura, o calçamento e a beleza peculiar do local foram itens citados por todos os respondentes. Porém, um respondente acrescentou o item vizinhança, uma vez que são moradores antigos e mantêm laços de amizade há anos. Como sugestões de melhoria, o controle de som dos eventos atrelado ao horário de encerramento dos mesmos foi citado por todos; dois citam a necessidade de banheiro público, um gostaria de ter horários mais flexíveis quanto ao trânsito de veículos comerciais e outro cita a necessidade de pinturas constantes das residências históricas. Após a requalificação do logradouro em análise, a presença de turistas tornou-se frequente. A estrutura agora permite e procura manter essa presença constante durante o ano todo, porém, o início da manhã e o fim da tarde são os momentos de fluxo de excursões ou grupos particulares devido à temperatura. Os respondentes citam perceber a presença diária de turistas no local. Ao comparar com o logradouro anterior à requalificação, os respondentes lembram que flanelinha e jovens com o vício do álcool e ou do fumo se apropriavam do espaço e por suas características transmitiam insegurança e medo aos transeuntes. O monumento de abertura dos portos era inacessível, o poder público chegou a providenciar uma grade de proteção para evitar que tomassem banho ou fizessem orgias na água do chafariz. “Havia muitos pontos negativos e por isso os turistas visitavam o TA, mas não vinham com muita frequência à Praça” (informação verbal).39 O IPHAN, através do setor de restauro (anexo x), fala do Programa Manaus Belle Époque e do Projeto de Revitalização da Praça de São Sebastião e seu 39 Informação fornecida pelo proprietário do imóvel 224 da Rua Costa Azevedo, em 28 de agosto de 2012. 123 entorno com propriedade, pois acompanha toda e qualquer ação que envolve legislação e restauração do patrimônio público. Afirma ser um projeto positivo por restituir, ao cidadão, o direito à cidade, por favorecer o aspecto econômico e por fomentar o turismo através da revitalização da área; além de reconhecer a valiosa estratégia da recuperação da estrutura edificada, ao invés de negligenciá-la. O órgão aponta a preservação da memória de cada imóvel como um fato merecedor de discussão (e não de reprovação), pois há fachadas não originais reerguidas à semelhança das tipologias primitivas que não dão a possibilidade ao visitante deter informações para dissociar o original da reprodução, ou seja, as alterações sofridas pela cidade, decorrentes da ausência de um planejamento eficaz que pudesse ter melhor orientado sua evolução natural, com novos costumes, usos, economias e tecnologias podem ter sido negligenciadas. Porém, independente desse ponto de discussão, a receptividade por parte da população é notória, resgatou-se as idas às praças, reviveu-se o habito de frequentar locais públicos necessários para a fruição do urbano e do patrimônio e para o bem estar psíquico do cidadão. Isso se deve aos serviços disponíveis, à programação cultural, à infraestrutura e à qualidade estética que o logradouro oferece. 124 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS As principais contribuições desta pesquisa serão expostas nesse capítulo. São contribuições para o meio acadêmico, no que se refere ao segmento do turismo que parte da prerrogativa de que a paisagem edificada apresenta a capacidade de atrair visitantes, promover destinos e, como consequência, contemplar a cadeia produtiva do setor. Porém, como a paisagem produz relações sociais entre moradores e turistas por apropriarem de seus respectivos espaços de maneiras diferentes, cita-se aqui a importância em ter analisado as alterações que ocorreram na paisagem visando a atividade turística, pois segundo Yázigi (2002), a divulgação das paisagens turísticas sem um planejamento leva à degradação e propõe a necessidade de leis municipais que limitem as construções particulares (todo o projeto e fachada) em harmonia com seu entorno. Tais contribuições evidenciam o estado da arte das pesquisas teóricas do segmento citado, incentivam a busca por melhorias no processo de alterações da paisagem, sugerem pesquisas futuras e finaliza com as devidas considerações. Esta dissertação objetivou descrever as implicações da requalificação da paisagem do CCLSS e seu entorno por meio da análise de seu processo histórico e de evolução urbana; da caracterização do processo de revitalização da paisagem edificada como resgate da memória cultural; através do mapeamento da configuração atual da paisagem edificada desta área da cidade e, principalmente, pela análise das implicações desta memória cultural urbana e do seu processo de requalificação sobre a atividade turística. Para o alcance desses objetivos foi necessário, primeiramente, a coleta de dados, conforme protocolo, acerca do processo histórico do local tornando possível a descrição das primeiras articulações e registros de origem dos imóveis que hoje integram o CCLSS às últimas movimentações de promoção e manutenção da estrutura que atualmente apresenta. Através de toda essa contextualização, foi possível reviver estudos de Geografia e História do Amazonas há tempos internalizada e, de certa forma, vagando no universo da memória. Também com a coleta de dados, o processo de requalificação do CCLSS e seu entorno foi contextualizado como resgate histórico. É notório o resultado positivo alcançado através da intenção da SEC-AM em restaurar e, em alguns casos, reconstituir os imóveis do entorno do Teatro como resgate da história de uma época 125 áurea resultando em um conjunto harmônico que oferece à população e para promoção da atividade turística. Porém, o turista acredita ser esta uma realidade preservada ao longo do tempo e não imagina que é consequência de um “cenário” produzido para tal objetivo. Para o mapeamento da configuração atual da paisagem edificada desse logradouro, foi realizada uma análise das variáveis sugeridas por Boullón (2002) por defender que a paisagem é uma qualidade que os diferentes elementos de um espaço físico adquirem no momento que o homem surge como observador, animado de uma atitude contemplativa dirigida a captar suas propriedades externas, seu aspecto, seu caráter e outras particularidades que permitam apreciar sua beleza ou feiura. Em paralelo, defende que o arranjo das variáveis supracitadas encontra-se espacialmente localizado e, de certa forma, espacialmente determinado ocasionando numa característica peculiar a cada lugar distinguindo-o dos outros. As variáveis analisadas nos permite afirmar que paisagem do CCLSS e seu entorno é única e se destaca pelos elementos que a integram. A particularidade do Teatro Amazonas com sua imponência frente aos demais imóveis é visível, somamse às características particulares de cada elemento, a citar: pavimentos, fachadas, tipo de urbanização, tipo e porte das árvores, topografia, nível socioeconômico, tipos de ruas e estilo arquitetônico. Os questionários aplicados e entrevistas desenvolvidas nos permite afirmar que houve implicações diretas da requalificação da paisagem urbana do CCLSS no contexto do turismo. A paisagem anterior à requalificação, segundo o resultado das pesquisas, oferecia riscos aos transeuntes, pois a iluminação era deficitária, havia grande fluxo de veículos, a segurança patrimonial era restrita ao Teatro Amazonas e a presença constante de flanelinhas e viciados era uma constante. Atualmente, em oito anos do CCLSS, pode-se comparar o ano de 2004 – ano de sua inauguração (uma vez que o único registro que se teve foi de público do Teatro Amazonas com 50.330 visitantes) com o ano de 2011, que com um controle mais abrangente na área dos números do Teatro Amazonas somados à estimativa de público que frequentou o Largo resulta o somatório de 204.144 visitantes. Para a sustentação dos números de visitantes (moradores ou turistas), a SEC-AM procurou formatar algumas atividades culturais e de lazer determinadas e articular junto aos moradores do entorno a viabilidade de mantê-las. Atividades para todos os gostos e para todas as idades: comer pipoca, algodão-doce, churros (todos 126 os vendedores credenciados pela SEC-AM), tomar tacacá e sorvete. Ou, brincadeiras, jogos antigos e palhaços com pernas de pau, bolinhas de sabão; peças e musicais infantis encenados em palcos alternativos no Largo ou na Casa Ivete Ibiapina. Para o público adulto as opções de cafés, pizzarias, restaurantes, contemplar exposições na Galeria do Largo ou no próprio Teatro. Em datas específicas, o Teatro, sedia os consagrados eventos como: Festival Amazonense de Ópera, o Manaus Film Festival, dentre outros se tornando palco de celebridades nacionais e internacionais, oferece espetáculos a preços acessíveis e a céu aberto tomando o Largo como cenário. Algumas das atividades deveriam ser, ao longo do tempo, mantidas pelos empresários do entorno. Atualmente, apenas o Tacacá da Bossa é realizado por proprietários; algumas atividades permanecessem sob responsabilidade da SEC-AM, porém, em datas programadas; e outras foram desativadas como: empréstimo de instrumentos musicais, brincadeiras antigas e passeios de charrete. Em paralelo, houve a retirada do bonde que por alguns anos serviu de viagem ao mundo imaginário infantil. Todos os eventos e atividades culturais e de lazer citadas merecem cuidados específicos e atenção especial, pois são realizados numa área de resgate histórico, arquitetônico e cultural e por isso são monitorados e administrados pelo Governo do Estado por intermédio da SEC-AM. Para um melhor controle, criou-se um Manual de Normas e Procedimentos do Largo de São Sebastião (em anexo) que normatiza o uso do CCLSS como espaço cultural e entretenimento e facilita a operacionalização das atividades de turismo e a produção de eventos. No que se refere ao acesso dos moradores do local, um estatuto foi estabelecido entre ambas as partes (SEC-AM e moradores) e visa normatizar algumas ações e até movimentações que cobram uma conduta de “atores desse novo cenário”, pois há hora determinada para o trânsito de veículos comerciais e particulares e para a coleta de lixo, especificações de intensidade e horário para ruído nos bares e restaurantes. Talvez seja esta uma situação consequência da não desapropriação do local e que gera, em alguns momentos um estranhamento entre as partes pela adaptação de uma nova rotina. Rotina esta nem sempre obedecida devido a particularidade de cada seio familiar frente a uma localidade e postura exigida mais direcionada ao comércio e ao turismo. Soma-se aqui a necessidade, estabelecida pela SEC, de cada proprietário de imóvel mantê-lo em perfeitas 127 condições – o que nem sempre é possível devido as condições financeiras de cada um. O problema de pesquisa definido pela pergunta central “Quais são as implicações do processo de requalificação da Paisagem do Largo de São Sebastião e seu entorno sobre o espaço turístico de Manaus?”, foi apresentado no capítulo 5, subitem 5.4 Implicações da requalificação urbana do CCLSS e seu entorno no contexto do turismo. Dessa forma, o objetivo geral “Analisar o processo de requalificação da paisagem do Largo São Sebastião e seu entorno e suas implicações sobre o espaço turístico de Manaus/AM” foi plenamente atingido através da exposição de dados quantitativos e qualitativos como consequência da aplicação de questionários e de entrevistas com pessoas envolvidas ao logradouro (moradores, turistas e gestores). Os aspectos mais interessantes e que merecem destaque como resultado do desenvolvimento de cada etapa desta dissertação são os seguintes: a preservação da memória coletiva através da arquitetura local, no Estado do Amazonas, depende de governantes, grandes empresários e da Associação Comercial local, porém, a população precisa ser mais incentivada, questionada e convidada a participar desse processo. Com o Projeto de Revitalização da Praça de São Sebastião e seu entorno demostra-se a viabilidade e a possibilidade de integração política; a busca pela originalidade dos imóveis é questionável em seu valor histórico onde todo um cenário antigo foi reconstituído, contrapondo, em certas situações, às recomendações da legislação patrimonial e a preocupação em oferecer atividades culturais e de lazer, com frequência, faz parte do planejamento de manutenção como consequência de um dos objetivos que foi proposto ao CCLSS e seu entorno – o turismo. Dessa forma, baseado nos resultados obtidos, algumas contribuições foram percebidas neste trabalho de dissertação. A principal contribuição diz respeito ao tema central desse estudo, implicações da paisagem no contexto do turismo, pouco explorados academicamente e que oferece um acervo de informações históricas, através da análise da paisagem segundo Boullón (2002); quantitativas, apesar de não ser o foco principal desta pesquisa, mas consideramos relevantes à consistência dos resultados; e qualitativos onde foi possível traçar o perfil do turista que aprecia a beleza amazonense, identificando suas respectivas impressões à respeito da paisagem em foco. 128 A segunda contribuição refere-se à constatação da necessidade de um modelo de gestão direcionado à formatação específica do CCLSS uma vez que os imóveis do entorno não foram desapropriados e há conflitos entre o poder público e particulares. Como uma terceira contribuição, sugere-se o desenvolvimento de um material promocional que divulgue como o processo de requalificação foi idealizado e desenvolvido, uma vez que uma nostalgia de algo desconhecido à nossa geração foi criada na intenção de recompor o fausto de uma época não vivenciada na atualidade. Ou uma exposição permanente que contemplasse todas as fases do projeto em questão. A requalificação inebria os visitantes com o que lhes é aparente e o espaço imaginário retido em suas memórias é de uma realidade artificial, uma vez que desconhecem a constituição de suportes dessa nova memória e não possuem informações adequadas à dissociação do original ao reproduzido devido a homogeneidade arquitetônica. Essa sugestão deve-se a algumas unidades do entorno não originais e construídas semelhantes às tipologias primitivas da proximidade. Por fim, vislumbra-se que estudos futuros sejam desenvolvidos com base nesta dissertação, pois é possível observar diversos temas relativos à paisagem edificada no contexto do turismo, muitos deles inebriantes e de grande relevância para a compreensão do patrimônio histórico edificado e da atividade turística para a população. O CCLSS é um campo vasto que vai desde estudos dos impactos de um evento isolado como o Festival Amazonense de Ópera, até pesquisas amplas sobre a percepção de estudiosos da área a respeito da autenticidade das características arquitetônicas resgatadas. 129 REFERÊNCIAS ABRAHIM, Ana Lúcia Nascentes. O Processo de Construção do Patrimônio Cultural no Amazonas. Manaus: UFAM, 2003. Dissertação (Mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia), ICHL, 2003. ÁGUAS DO AMAZONAS. Disponível em <http://www.aguasdoamazonas.com.br/> Acesso em abril de 2011. AMAZONAS. Câmara Municipal de Manaus. Lei Orgânica do Município de Manaus. Manaus: Câmara Municipal, 1990. AMAZONAS. 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Qual o meio de transporte usado para chegar a Manaus? 11. Já conhecia Manaus? Sim. Não. 12. Em caso negativo, como você imaginava Manaus? não Teatro Amazonas Localização 13: Por qual razão? 14. Ficou sabendo de/sobre Manaus através: TV Internet Indicação de agência Indicação de agente Jornal Indicação de amigos Revista Outros: 15. Se já conhecia Manaus, visitou o Largo de São Sebastião? Sim. Não. 16. Se já o conhecia, foi antes ou depois da reforma (requalificação). Antes. Depois. 17. Em caso de ter conhecido antes da reforma, quais os aspectos positivos ou que merecem ser destacados? 18. Quando penso em Manaus, penso em: (se houver mais de uma opção, favor numerá-los) Verde/floresta. Teatro Amazonas. Encontro das águas Zona Franca de Manaus. Rio Amazonas. Rio Negro. Ribeirinhos. Festival de Ópera. Belle Époque Manauara Localização. Prosamin. Monumento de abertura dos portos. Porto Boi-Bumbá. Cultura. Fauna Flora Algum animal? Qual seria? Outros 140 Mestrado Acadêmico Interinstitucional em Turismo e Hotelaria – UNIVALI/SC Mestranda: Andressa Maria Cruz dos Santos Theme: Tourism through a historical-cultural from the redevelopment of the local landscape of Manaus/AM: Case Study Largo de São Sebastião and its surroundings. Questionnaire – tourist 1.Sex: Male 3.Source: 6.Faixa etária: Date: Female 2.Profession: 4.Residence time: 18-25 anos 5. Stay overnight? 26-34 anos 35-50 anos 51-65 anos yes not Acima de 65 anos 7. Education Full or attending elementary School. Complete High School or Attending. Graduate Complete Higher education Incomplete Higher education Master or Doctorate 1 to 3 minimum wages 7 to 10 minimum wages 4 to 6 minimum wages 10 above minimum wages 8. Income range: 9. Reasons for travel Culture Meeting of the Waters Boi-Bumbá sightseeing Green/forest Other: 10. What means of transport used to reach Manaus? 11. I already knew Manaus? Yes. 12. If not, how you imagined Manaus? Business Visiting relatives Teatro Amazonas Location Not. 13: For what reason? 14. He learned fron/about Manaus through: TV Internet Statement of agency Indication Agent Newspaper Refer a Friend Magazine Other: 15. If L so, I knew the Largo de São Sebastião? Sim. Não. 16. If you already knew it was before or after the renovation/rehabilitation Before After 17. In case you have known before the reform, which the positive or that they deserve to be highlighted? 18. When I think of Manaus, think about: Green/forest Teatro Amazonas. Meeting of the waters Manaus Free Zone. River Amazon Rio Negro. Riverside. Festival de Ópera. Bélle Époque Manauara Location Prosamin. Monument opening the ports. Port Boi-Bumbá. Culture Fauna/Flora. Same animal? What would it be? Other: 141 APÊNDICE B – ENTREVISTA POR DOMICÍLIO: DOCUMENTOS E ROTEIRO Ao proprietário do imóvel nº _____ Largo de São Sebastião, Centro. Manaus - AM Senhor (a) Proprietário (a), Pela localização de seu imóvel e após analisar trabalhos acadêmicos desenvolvidos a respeito da mesma, pode-se imaginar a quantidade de solicitações de dados e entrevistas que já recebera. Permita incluir-me nessa lista. Participo do Programa de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí – SC (carta de apresentação em anexo) e atualmente trabalhando na dissertação cujo tema: Turismo e resgate histórico-cultural através da requalificação da paisagem local de Manaus/AM: Estudo de Caso Largo de São Sebastião e seu Entorno. Para a fase de análise de resultados, a sua opinião acerca do espaço é de fundamental importância. Para tanto, envio em anexo um questionário contendo perguntas necessárias à conclusão do projeto, a qual o (a) senhor (a) poderá responder pessoalmente ou através de entrevista; necessitando para a segunda opção a disponibilidade e o agendamento de horário específico. Importante informar que este projeto está pautado na ética e no profissionalismo e que os dados fornecidos serão tratados sigilosamente e divulgados de acordo com sua autorização (parcial ou total). Certa de contar com sua colaboração que é, sem dúvida, um incentivo direto à cultura, à pesquisa e ao turismo local. Respeitosamente, Andressa Maria Cruz dos Santos Mestranda em Turismo e Hotelaria – UNIVALI-SC Contato: [email protected] ou (92) 8152-5289 Rua Mário Assayag, 34 - Shalon Tower Bl. 1 Apto 504 Compensa – Manaus – AM 142 143 APÊNDICE C – ENTREVISTA COM GESTORES: ROTEIRO e DOCUMENTOS. Mestrado Acadêmico Interinstitucional em Turismo e Hotelaria – UNIVALI/SC Mestranda: Andressa Maria Cruz dos Santos Tema: Turismo e resgate histórico-cultural através da requalificação da paisagem local de Manaus/AM: Estudo de Caso Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu Entorno. Secretário, gestores, historiadores e apreciadores do LSSE. Data: 1.Sexo: Masc. Fem. 2. Naturalidade: 3.Faixa etária: 18-25 anos 26-34 anos 35-50 anos 51-65 anos Acima de 65 anos 4. Escolaridade Ens. Fundamental completo ou cursando. Ens. Superior Incompleto Ens. Médio completo ou cursando. Ens. Superior Completo Pós-graduado Mestrado e/ou Doutorado 5. Faixa de Renda: 1 a 3 salários mínimos 4 a 6 salários mínimos 7 a 10 salários mínimos Acima de 10 salários mínimos 6. Cargo que ocupa: 7. Há quantos anos está no cargo? 8. A atividade que você atualmente exerce, envolve o LSSE? 9. Você já exerceu alguma atividade ou desenvolveu algum trabalho (científico) relacionado ao LSSE? Qual? Por qual motivo? 10. Você acompanhou o Programa de Requalificação/revitalização do LSSE? 11. Como se deu a requalificação revitalização e requalificação da área? 12. Para você, o que motivou a revitalização? 13. O que você recorda da paisagem urbana do LSSE, anterior à requalificação (revitalização)? 14. Para você, qual o ponto da revitalização mais expressivo? 15. Quais os benefícios que o Projeto de revitalização trouxe para o LSSE? 16. Quais problemas você aponta na área? 17. Há algum ponto, no LSSE, que poderia ser mais trabalhado ou destacado com o projeto de revitalização? Que melhoria você sugere? 18. No LSSE, o que pode ser considerado o símbolo da cultura Manauara? Por quê? 19. Como você descreve a atual paisagem (o local) do LSSE? Agradeço o apoio nas pesquisas e, principalmente, sua disponibilidade em torná-la possível. Atenciosamente, [email protected] 144 ANEXOS 145 ANEXO A – SÍNTESE DO PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DA SEC-AM 146 147 148 ANEXO B – CARTA DE APRESENTAÇÃO VIA UNIVALI 149 ANEXO C – AUTORIZAÇÕES MORADORES 150 151 ANEXO D – E-MAIL MARCANDO REUNIÃO COM SEC-AM 152 ANEXO E – E-MAIL INFORMATIVO SOBRE SOLICITAÇÕES À SEC-AM. 153 ANEXO F – DADOS ESTATÍSTICOS TA E CCLSS. 154 155 156 157 158 159 160 ANEXO G – MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS – CCLSS. 161 162 163 164